LIGA DOS ESCRITORES, ILUSTRADORES E

AUTORES DE JUIZ DE FORA

MARÇO 2024 Nº 49

ESPAÇO MINIMALISTA

TEMA: MULHER
JR Amorim

Aldravia
provedora
amante
mãe
mulher
mil
EDITORIAL facetas

Quinta
O mês de março é o mês da mulher. Co- Universo feminino
memorar sempre a mantenedora desse segredo guardado
mundo, aquela a quem Deus deu a graça
pobre homem
da maternidade. A mulher é a ordem, a or-
tenta desvendar
ganização e é ela quem manda e faz até coitado.
mesmo o homem achar que ele é o dono
do mundo. A LEIAJF deseja que todos os Haicai
meses e todos os dias sejam delas. Que Adão veio primeiro.
sejam amadas, protegidas e a cada dia
Mulher sempre foi gentil,
mais valorizadas em casa ou no trabalho.
desde a criação.
Parabéns, mulheres!
Trova
Nesse mês ainda se comemora: O homem mais inteligente
05 TER Dia Nacional da Música Clássi- não precisa de diploma.
ca Mas se revela silente
08 SEX Dia Internacional da Mulher
com o que a mulher lhe soma.
15 SEX Dia de São Longuinho
20 QUA Dia Internacional da Felicidade Miniconto: Coração feminino
20 QUA Equinócio de Outono Naquela sexta-feira achou o homem de
20 QUA Dia Nacional do Teatro para a
Infância e Juventude sua vida. Viveu intensamente aquela pai-
20 QUA Dia do Contador de Histórias xão até terça. Na quarta jurou amor eterno
21 QUI Dia Mundial da Poesia e se despediu. Depois de trinta anos, bem
25 SEG Dia Internacional em Memória -casada com outro, mantém seu juramen-
das Vítimas da Escravidão e do Comércio to regando lembranças daquele carnaval.
Transatlântico de Escravos
27 QUA Dia do Circo
27 QUA Dia Mundial do Teatro
28 QUI Dia do Diagramador e do Revi-
sor ORGANIZAÇÃO: LEIAJF

ARTUR LAIZO
A LEIAJF deseja felicidades à todas as
mulheres! Telefone: 32 988093705
Artur Laizo
e-mail: artur93@hotmail.com

1
FALAS FEMININAS
Seleção: Alice Gervason
“É preciso ter a simplicidade de aprender
com os erros e fazer-se aprendiz com o
inesperado.” Alice Gervason
“Recria tua vida, sempre, sempre. Remove
pedras e planta roseiras e faz doces. Re-
começa.” Cora Coralina
“O amor não é louco. Sabe muito bem o
que faz, e nunca, nunca age sem motivo.
Loucos somos nós, que insistimos em
querer entendê-lo no plano da razão.” Ma-
rina Colasanti
“Todas as nossas palavras serão inúteis se
não brotarem do fundo do coração. As pa-
lavras que não dão luz aumentam a escu-
ridão.” Madre Teresa de Calcutá

“O que é verdadeiramente é ter desistido “A imagem que o espelho quer fazer crer
de si mesmo.” Clarice Lispector que é minha, lança um sorriso desconfia-
do.” Cecy Barbosa Campos
“Se finda não é amor ainda.” Joseani Netto
“A verdade não é sempre bela, mas a fo-
“Falam que o tempo apaga tudo. Tempo me por ela é.” Nadine Gordimer
não apaga, tempo adormece.” Raquel de
Queiroz
MULHER
“Há mundos submersos, onde só o silên- Alessandra Riveli
cio da poesia penetra.” Conceição Evaristo
Tic tac tic tac
“Quando o dia finda e a noite se aproxima, Detalhista, precisa como um relógio
jamais me sinto sozinha: tenho ela, a poe- Bummmm
sia.” Cláudia Lundgren Contrariada, estressada, pode explodir
Mansa, meiga, autoritária, feliz, zangada,
” Buscando saídas, abri portas para dentro que esmorece, vai à luta
de mim.” Jurema Gervason Mulher de fases como a lua
Brilha como o Sol
“Aprendi com as primaveras a deixar-me Que acolhe, repele
cortar e voltar sempre inteira.” Cecília Mei- Simples de se entender?
reles Não!
Complexa!
“Um mero professor apenas aponta o ca- Com certeza!
minho das estrelas; um professor de ver- Feliz dia da mulher!
dade ajuda a alcançá-las.” Lídia Vasconce-
los
ALDRAVIAS
“Não quero faca, nem queijo. Quero a fo- Alessandra Riveli
me.” Adélia Prado
mulher
“A beleza não está nem na luz da manhã, guerreira
nem na sombra da noite, está no crepús- explosiva
culo, nesse meio tom, nessa incerteza.” calma
Lígia Fagundes Telles intensa
complexa
“Não desejei nem desejo nada mais do
que viver sem tempos mortos.” Simone de mulher
Beauvoir ousada
aventureira
“No ócio, nos sonhos, emerge por vezes batalhadora
esta verdade que estava submersa.” Virgí- feliz
nia Woolf ansiosa

2
 TESSITURA
CUIDADO, MULHERES! Marisa Pontes
Mário Porto
Há mais coisas em mim
Mulheres meninas, do que no mundo que enxergo.
Qual será sua sina? Emergem, em teias entrelaçadas,
Mulheres meninas, os fantasmas que me habitam,
Meninas mulheres, imigrantes persistentes
Solteiras ou casadas, das ruínas de um antanho
Reajam, acordem! que teimam em se fazer destino.
Não se maltratem Sucumbo ao encantamento,
Nem sejam maltratadas! ao destempero que a alma carrega,
Mulheres, ao misterioso talento de manter
De todas as raças, cores, em palavras o que oculto em
Diversos amores, devaneios encenados.
Partam para a premissa A linguagem da noite
De não serem submissas. permeia meus dias;
Não deixem que o medo por trás de suas portas,
Rasguem a pele, as ilustrações do amor
Provoquem hematomas. que me dessedentaram
E na alma, e que se fizeram sementes
Profundas marcas, cicatrizes, sintomas! em rebentos germinados.
Mulheres sofridas, reprimidas, oprimidas, Compartilho as distâncias
Ricas e estudadas, palmilhadas de ponta a ponta
Pobres, analfabetas ou letradas. e continuo a ser o que sempre serei:
Não ajam só com o coração! velha mulher de silêncio abissal
Peçam ajuda, e existências outras
Mas não permitam a cantar a beleza do agora.
Que machões, valentões,
Manchem sua honra
Deixem feridas sua pele
Desnuda, arranhada, rasgada.
Mulheres,
Se respeitem e sejam respeitadas!
Sejam o que quiserem ser,
Usem a capacidade, o querer.
Sejam independentes
Não se façam escravas do trabalho, do
sexo,
Do poder!
Nascerem para serem felizes, LUA CRESCENTE
E assim hão de ser! Marcela Hallack
Mulheres precisam de flores,
Carinho Densa noite escura
Homens violentos guarda raio clarão da lua crescente,
Precisam de Marias… da Penha, contida em espartilho de aço.
Camburão, correção! A palavra sufocada no peito
Aos machos, então, atenção, preso em sutiã de arame.
Se não suportam mulheres, A fogueira queima
Partam para outra opção! os corpos frágeis de carne.
E deixam-na viverem sem violência Inflama e corta a noite escura, ó lua,
Cuidando do coração! rompe o silêncio,
a palavra consumida na garganta.
Com o orvalho, lava o breu da noite,
limpa da face a lágrima crua,
gera uma nova placenta...
Do ventre, a palavra, a mulher, ó lua,
e a coragem por essa aurora amarela.
3
QUAL O TEU SONHO, MULHER? BELA MULHER BELA
Marcela Hallack Luiz Maurício

Desce a ladeira a dona preta; a criança sobre os Por dentro e por fora
ombros, segurando-se ao pescoço e outros dois Mulher
meninos, tentando acompanhar os passos fir- Na superfície e no interior
mes. É séria, talvez triste. Deixa os meninos na Bela
creche pública. Ainda bem que servem café e Com a pele e nas entranhas
almoço! – pensa, latejando o estômago. Sobe a Mulher
ladeira, entra no barraco pequenino, lava o rosto Bela mulher bela
num suspiro de mergulho no mar que não co- Calando pensando
nhece, troca a blusa e sai firme. Junta-se a um Bela
grupo de outras mulheres, a maioria de pele es- Ouvindo falando
cura, que segue para o condomínio, onde lim- Mulher
pam as casas e as latrinas, para sobreviver. Vestida seminua nua
As senhoras que moram nos condomínios apru- Bela
mam-se também para trabalhar, outros traba- Bela mulher bela
lhos, tantas demandas ... unhas pintadas, cabe- Traz a brisa
los pintados, bocas pintadas, peitos siliconados, Mulher
corpos defraudados pelo silêncio e a imensa ne- Tem a aura do imáculo
cessidade de atender aos padrões estabelecidos Bela
e engendrados há tantos séculos de espartilhos, A pureza e a beleza
que condicionam o próprio estar no mundo. Mulher
De corpo e alma
Quando serão livres os peitos e as vozes e os Bela
sentires e os desejos? ... Subindo a ladeira, des- Bela mulher bela.
cendo a ladeira, há mulheres com a fome do pão
material que lhes falta à mesa; outras, com a CANTAR
fome das ondas generosas que quebram na Luiz Maurício
areia e transformam-se em espuma leve, como a
refletir a beleza das formas e a grandeza dos Cantar a vida
ideais. Muitas com fomes de sonhos, outras, não Todas as vidas
raras vezes, com fomes inconscientes. Qual o De toda essa gente
teu sonho, mulher? Qual o teu sonho? O que Bilhões de gentes
nutre tuas manhãs de esperança? Do que quer Cantar o amor
preencher teus dias, tuas noites, tua cama? Todos os amores
O subir e descer a ladeira é o que vejo do meu Sem dissabores
quarto frio, emoldurado pelas estruturas do tem- De muitos licores
po, que tateia brutal o barulho da invigilância. O De muitos odores
quanto dói a cobrança e sufoca e mutila ainda? Cantar a natureza
Quão poucas cientistas, poucas deputadas, pou- De todas as belezas
cas senadoras, parca representatividade!... Ain- De todas as belas
da está distante uma composição paritária para De todas as feras
a implantação de políticas públicas igualitárias e De todas as flores
acolhedoras para este universo feminino, famin- Cantar o homem
to. Quantos feminicídios e estupros e violências De tudo um bem
estúpidas subnotificadas? E uma sistemática e Da vida do amor
conveniente incompreensão, num processo en- Da natureza
surdecedor que insiste em romantizar o patriar- Cantar a mulher
cado. Não há romantismo nas sobrecargas e nas Só ela a mulher
injustiças e desigualdades sociais estruturadas Plantio e colheita.
para manter um status quo de opressão. Não há
romantismo nos sonhos abafados, sepultados e
esquecidos. Não há romantismo na percepção DEDICATÓRIA
de que ainda somos violentamente queimadas Luiz Maurício
nas fogueiras cotidianas.
Quem sabe um dia ... essa faísca de esperan- Pelo encontro que suas presenças
Provocam em meu ser
ça ... há um século, os peitos estavam presos
Pelo belo sentir em minh’alma
em espartilhos de aço, hoje, nos sutiãs, mais Que nem o tempo e a distância apagam
sutis, é verdade, mas s não deixam de ser pri- Para vocês
são, não ainda. Mulheres
Que tanto me afagam
Do escriba solitário sonhador
Para vocês
Que apagam a minha dor.

4
COMEMORAÇÃO DO DIA INTER- EIS SER MULHER
NACIONAL DA MULHER Esther Aguillar
Telma Regina
Eis a mulher,
Segundo o Dicionário do Aurélio, come- eis o homem,
morar é: eis a vida.
- Trazer à memória, fazer recordar, lem- Eis o direito de amar,
brar, festejar, celebrar. eis o direito de se ser como é….
Trazer à memória, fazer recordar, lembrar Eis a mulher,
a trajetória de inúmeras mulheres que, ao eis o homem,
longo dos anos, vieram através de lutas eis o ar que enche os pulmões,
contínuas, conquistando os avanços que de quem é mulher, homem, branco, preto,
hoje desfrutamos como mulheres do Sécu- pobre, rico, e até obsoleto…
lo XXI. Eis a vida,
Festejar e celebrar esse legado deixado como ela é,
por valentes mulheres do mundo inteiro, dentro de cada um sentimento e pensa-
que quebraram tabus e entregaram em mentos…
nossas mãos, em nossas vidas estas con- na dança dos corpos, no vai e vem do ser.
quistas para que, acrescidas de nossas Eis ser mulher no mundo cão,
lutas, possamos enriquecer essas con- de quem domina e é dominado,
quistas e entregar às novas gerações, no- odiado ou amado,
vos padrões de comportamento, onde se vencido ou achado…
reconheçam MULHERES e HOMENS co- Eis ser mulher no mundo amor,
mo companheiros de caminhada, na dire- de quem tem valor,
ção de um mundo mais sensível, de novas por ter, como todos, um coração.
possibilidades e assim feliz. Eis a mulher,
Mas todas as conquistas demandam mu- eis o homem,
dança do comportamento do ser humano. eis a vida,
E essa mudança está ligada à educação – e, quem sabe,
não só educação acadêmica, mas das di- um dia,
versas área do conhecimento, nas diver- para todos,
sas áreas de atuação do ser humano. a evolução,
Como poeta, afirmo que a Literatura é um de simplesmente
campo fértil de criação de novos pensa- viver,
mentos, realização de grandes sonhos e amar
empoderamento. Precisamos de uma e ser feliz.
ação conjunta e planejada geradora de
transformação social, de muitos escritores,
de muitos e bons leitores e de bons livros.
Como era o desejo de Rosa Luxemburgo: DESEJO
“Não devemos esquecer que a história não Marisélia Souza
é feita sem grandeza de espírito, sem mo-
ral elevada, sem gestos nobres”. Sonhei com um momento muito bonito.
Sonhei que ele era infinito.
Dormi.
Sonhei.
Fui desejada.
Desejei.
Fui beijada.
Beijei.
Fui amada.
Amei.
Acordei transbordando alegria.
Parar de sonhar?
Não queria!

5
MULHER, FEMININO SINGULAR
Rosângela Rossi
No patriarcado o Sol dominou
A mulher foi colocada em segundo
Muitas não se quedaram
Restaram seu lugar
Femininas
Assumiram suas deusas
Ternas, delicadas, amorosas,
Trabalhadoras, inteligentes,
Parceiras…
Competir é valorizar o poder
Do homem solar
Lutar enfraquece
Assumir seu Ser luminoso
Negar a submissão
Impor seu valor
Trabalhar sua autoestima
Acreditar que é possível
Ter seu lugar ao lado do homem
Coloca a mulher
No seu lugar de direito
Sem duvidar de sua potência
Assumindo se lugar de
Mulher, feminino singular
Vão semeando amor
É possível
Vejam as grandes mulheres
Brasileiras e potentes:
Adélia Prado, Conceição Evaristo, Nísia
Trindade,
Esther Dweck, Luciana Santos,
Marina Silva…
Escritoras e ministras
É possível ser mulher plena
Lunar no mundo Solar
A MULHER DE MARÇO
Fernando Raine
a mulher de março é um mistério
uma lembrança que fica na mente
uma tempestade que varre o passado
uma força que se manifesta na gente
essa bela mulher é um raio de sol
que aquece os corações mais frios
um abraço apertado que conforta
um ombro amigo nos momentos vazios
ela é a poesia que nasce da alma
a música de um nobre sonhador
a dança que liberta a mente
a arte que renova o amor
A MULHER E O MAR
Maria Elizabeth Sacchetto (Beth Sacchet-
to)
Não sei o porquê da associação que faço
entre você, Mulher, e o mar.
Para o observador passivo e desavisado,
você, Mulher, no visível de seu ser,
lembra as ondas tranquilas e suaves
que se quebram na areia cristalina e bran-
ca
em pura musicalidade, mansidão e beleza.
Impossível perceber que, no invisível, você
abriga
segredos incontáveis na imensurável e im-
precisa
profundidade de sua sutil e plena nature-
za.
Ao mesmo tempo em que você, Mulher,
embala
sonhos e anseios nessa calmaria aparen-
te,
também alimenta a impulsividade revolta
que oculta.
Seus mistérios, você os mantém impene-
tráveis,
e nem o mergulhador mais ousado e des-
temido
consegue descortiná-los com total preci-
são.
Seu fascínio seduz quem se entrega a vo-
cê, Mulher,
e, descuidadamente, naufraga sem se dar
conta
de seu poder, de sua força, de seu encan-
tamento.
Quem sobrevive à correnteza do seu in-
tenso amor
nunca poderá descrever a sua real gran-
deza
e nem se sentir um triunfante e orgulhoso
vencedor.
Você, Mulher, é navegadora incansável e
corajosa,
aventureira e audaz, que enfrenta todos os
desafios,
as terríveis tempestades, as incontroláveis
ventanias,
a fúria dos tufões, dos ciclones e dos tsu-
nâmis,
com fé e certeza, à espera do bom tempo.
Que sempre haja ventos para as suas ve-
las, MULHER!