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14/04/2023, 16:24 ConJur - Credidio: Projeto de Lei nº 4723/2020 traz melhorias à LGPD

OPINIÃO

Projeto de Lei nº 4723/2020 representa


importante aperfeiçoamento da LGPD
6 de outubro de 2020, 10h35

Por Guilherme Simões Credidio

Na última sexta-feira (25/9), o deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança


apresentou o Projeto de Lei nº 4723/2020, que acresce dispositivos à LGPD (Lei nº 13.709,
de 2018) determinando principalmente a preservação de dados pessoais no Brasil. Por
constituir uma proposta de enorme potencial de inovação legislativa e que apresenta amplo
impacto sobre estratégias empresariais e sobre o dia a dia dos operadores do Direito, esse
trabalho visa a esclarecer as mudanças desejadas e suas consequências práticas.

Primeiramente, o PL amplia as exigências


referentes aos dados pessoais. A introdução do
inciso IV ao artigo 3º da LGPD traz a exigência de
que os dados tratados na LGPD sejam
armazenados e mantidos fisicamente em
repositório situado em território nacional.
Justifica-se a introdução do inciso IV pela redação
atual de a LGPD não ser explícita acerca do local
de guarda e armazenamento físico ou virtual dos
dados pessoais. Ademais, a alteração garantiria que os dados estivessem sob jurisdição da
lei brasileira e pudessem estar efetivamente disponíveis para a garantia dos direitos dos
titulares.

Também no artigo 3º é proposta a inserção do paragrafo 3º, que proíbe o uso da


computação em nuvem para todas as operações de tratamento de dados quando a
armazenagem se encontrar fisicamente fora do território nacional. Em outras palavras,
quando houvesse armazenamento de dados no exterior, a computação em nuvem passaria a
ser vedada para todas as operações de coleta, produção, recepção, classificação, utilização,
acesso, reprodução, transmissão, distribuição, processamento, arquivamento,
armazenamento, eliminação, avaliação ou controle da informação, modificação,

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comunicação, transferência, difusão ou extração. Os fundamentos para o parágrafo 3º


seriam a soberania do povo brasileiro, a segurança nacional, a proteção da população e a
disponibilidade de provedores de data warehouse que possam atender à demanda resultante
da alteração proposta.

Do ponto de vista da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), órgão


responsável pela regulamentação da LGPD, o PL transforma a redação do §2º do artigo 55-
D para prever a aprovação dos membros do seu Conselho Diretor por comissão de
sindicância de vida pregressa e investigação social. Segundo o PL, a composição da
comissão que ficaria responsável por esse escrutínio seria: "I – Diretor-geral da Polícia
Federal; II - Diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência; III - Ministro da Defesa;
IV - Ministro da Justiça e Segurança Pública; V - Ministro-chefe do Gabinete de
Segurança Institucional da Presidência da República; VI - Procurador-Geral da
República; VII – um membro da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados; VIII – um
membro da Mesa Diretora do Senado Federal" [1].

O PL atribui à comissão de sindicância de vida pregressa e investigação social a


possibilidade de dispor de meios de investigação suficientes de cada órgão de seus
membros para que decida se os indicados aos cargos do conselho diretor da ANPD estariam
aptos ou não ao exercício dos cargos para os quais seriam nomeados. Legitima-se a
investigação e a aprovação de membros do conselho diretor da ANPD pela necessidade de
assegurar que profissionais que teriam o grau máximo de poder e domínio dos dados de
toda a população estejam à altura das suas incumbências e possam reforçar os direitos
fundamentais e os princípios constitucionais da soberania e segurança nacional na sua
atuação.

Compreendidas a formação e as atribuições da comissão de sindicância de vida pregressa e


investigação social, são apresentadas restrições à nomeação de membros do conselho
diretor da ANPD. O PL prevê vedação à nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em
linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, de autoridades do Poder
Legislativo, Executivo e ministros do Judiciário. Com essa proposição, os diretores na
ANPD não estariam ligados a mandatários de nenhuma esfera de poder e toda nomeação
negocial seria evitada.

É essencial rememorar que a LGPD autoriza à Administração Pública o tratamento


compartilhado de dados pessoais sem consentimento dos titulares para a execução de
políticas públicas — artigo 11, II, "b". Também é primordial recordar que o termo
"políticas públicas" comporta certa amplitude semântica. Ademais, não é demais relembrar
que a ANPD zelará pelo controle da LGPD e que se espera que seja uma autoridade de
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proteção de dados autônoma, técnica e atuante [2]. Por conseguinte, propostas que possam
aperfeiçoar a governança do seu conselho diretor devem ser louvadas e estudadas.

No que concerne à proposta de guarda e armazenamento de dados pessoais em território


nacional e à vedação de tratamento de dados armazenados fora do país, a análise deve ser
jurídico-estratégica. Do ponto de vista jurídico, o primeiro benefício seria que os dados ao
estarem em território nacional deixariam de estar sob jurisdição alienígena e estariam
menos suscetíveis à violação, assegurando a preservação de um direito fundamental
amparado constitucionalmente. O segundo benefício jurídico faz menção à segurança
nacional que seria melhor tutelada pela proteção da população acerca de seus dados físicos.
Do ponto de vista estratégico, o estímulo à contratação de provedores de data warehouse
em território nacional poderia gerar maior arrecadação aos cofres públicos, além de mais
empregos no Brasil.

Por todas as razões expostas, o Projeto de Lei nº 4723/2020 representa importante


aperfeiçoamento na redação da LGPD. É fundamental que seja mantido o debate público
que coopere para o constante aprimoramento da Lei de Proteção de Dados Pessoais
nacional. Por conseguinte, oferto minha contribuição na expectativa de que possamos
construir nossos cenários à luz das inovações legislativas e ao aprofundarmos nossos
conhecimentos com a riqueza da prática possamos promover a melhoria contínua da LGPD
e da governança da ANPD.

[1] Cf. BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei PL 4723/2020. Acresce
dispositivos à Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018, determinando a preservação no País
de dados pessoais e dá outras providências. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?
codteor=1932527&filename=PL+4723/2020. Acesso em 30 de setembro de 2020.

[2] Cf. LÓPEZ, Nuria; MARANHÃO, Juliano; CAMPOS, Ricardo; ABRUSIO, Juliana. A
vigência da LGPD e o desafio de adequação no Brasil e do Brasil. Consultor Jurídico. 23
de setembro de 2020. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-set-23/direito-
digitala-vigencia-lgpd-desafio-adequacao-brasil-brasil . Acesso em 30 de setembro de
2020.

Guilherme Simões Credidio é mestre em Administração pela USP, especialista em Direito


Administrativo pela FMU e docente na Uninove.

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Revista Consultor Jurídico, 6 de outubro de 2020, 10h35

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