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Nota Técnica

Base Nacional Comum Curricular - EM

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Sumário
Introdução 2
Linguagens 3
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas 6
Matemática 8

Ciências da Natureza 10

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Introdução

Atentos às mudanças que estão previstas para o segmento do Ensino Médio,


apresentamos nossas considerações a respeito da versão em debate da Base
Nacional Comum Curricular. Tais considerações têm como objetivo fomentar a
importante discussão a respeito do documento normativo em questão e suscitar
reflexões a respeito das possibilidades de avanço que ainda são verificadas.
Pretendemos, ainda, fortalecer o canal de comunicação entre o Brasil Marista -
aqui representado pela Província Marista Brasil Centro-Sul - e os órgãos
governamentais e reguladores do Ensino Básico brasileiro de forma a ampliar os
debates e contribuir com uma educação cada vez mais ampla,justa e eficiente.

De forma a tornar a leitura mais organizada e fluida, dividimos este documento em


áreas do conhecimento, a saber; Linguagens, Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas, Matemática e Ciências da Natureza.

O documento disponibilizado para apreciação demonstra alguns retrocessos em


sua base conceituai podendo gerar dualidades e equívocos de interpretação
necessitando de avaliações devidamente apuradas. O Ensino Médio deve ser
compreendido como etapa integrante á Educação Básica e complementar para o
desenvolvimento das dez competências gerais que pretendem assegurar a
qualificação do processo de aprendizagem bem como a formação humana integral.
Entretanto a ênfase á interdisciplinaridade pode fragilizar o desenvolvido dos
conceitos específicos e fundantes dos diferentes componentes curriculares.

Destacamos ainda que a ausência de sistematização ou orientações específicas


para a organização dos itinerários formativos podem configurar o esvaziamento da
proposta. É imprescindível a definição conceituai de itinerários formativos para
garantir a articulação entre as áreas do conhecimento e a flexibilidade do currículo
atendendo aos interessantes dos estudantes.

Por fim, ressaltamos nosso apreço por Inomentos de partilha como este,
reforçamos nossa total abertura ao diálogo e ao compartilhamento de informações,
saberes e práticas e agradecemos pela oportunidade de sermos ouvidos de
maneira tão democrática e rica.

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Linguagens

Como descreve a própria apresentação do documento da Base Nacional Curricular


Comum, ela não pretende ser um currículo, mas antes um norteador que deverá
fornecer os preceitos para a formulação desse currículo em cada localidade.
Entretanto, é possível a partir disso problematizar a exclusão do estudo da Língua
Espanhola no Ensino Médio, que havia sido considerada obrigatória com a Lei
11.161/2005, mas revogada com a Lei 13.415/2017, que já tornava tal ensino
facultativo.

Acreditamos que tal exclusão contradiz o próprio preceito que visa ao respeito da
diversidade, das características locais e regionais, no apreço ás diferentes culturas.

Na parte que diz respeito aos estudos em Língua Portuguesa, o documento


estabelece que deve haver a inclusão de obras da tradição literária brasileira e de
suas referências ocidentais em:

"[...] a inclusão de obras da tradição literária brasileira e de suas referências


ocidentais - em especial da literatura portuguesa -, assim como obras mais
complexas da literatura contemporânea e das literaturas indígena, africana e latino-
americana.".

BRASIL. BNCC Ensino Médio, 2018. p. 492.

Nesse sentido, ao compreendermos o estudo da língua como uma forma de acesso


á cultura e á visão de mundo de cada povo e que se expressa por meio dela, o
estudo de sua literatura seria muito mais proveitoso, além de aproximar a cultura
nacional dos demais países que circundam as fronteiras nacionais, no continente
sul-americano.

A questão do "saber fazer", enquanto competência necessária à mobilização de


conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para a resolução de problemas da
vida cotidiana, para o pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho só teria
a ganhar com o ensino de outra língua estrangeira que apresenta em território

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brasileiro, empresas, bancos e diversas outras instituições de origem espanhola e
latino-americana.

Outro ponto a ser observado na atual versão do documento, diz respeito ao ensino
de Arte, Educação Física e Literatura que aparecem como habilidades a serem
apreendidas por meio da atuação no campo artístico e do trabalho das
competências específicas de número 3,5 e 6 da área de Linguagens. Dessa forma,
pode-se questionar de que forma a prática integrada das três frentes irá garantir a
transmissão dos conceitos básicos de cada componente curricular, uma vez que
eles não são mais explicitados.

Compreende-se que tais componentes estejam sendo vistos dentro da área de


Linguagens, tal como os demais componentes das demais áreas do conhecimento
e que devem ser trabalhadas de forma integrada. Entretanto, tal como pairam as
dúvidas no trabalho dos demais componentes, esbarra-se, nesse momento, na
questão de como os professores especialistas trabalharão seus conteúdos, por
mais que o currículo escolar seja desenvolvido com base em projetos integradores.
Quais conteúdos serão eleitos, quais as possibilidades de trabalho em conjunto
dentro de cada área, de forma mais proveitosa e que, ao mesmo tempo,
instrumentalize e leve o aluno ás práticas das habilidades, de forma a desenvolver
as competências previstas?

O trabalho de capacitação dos professores, nesse sentido, deve fazer parte das
mudanças previstas no documento, já que partimos da formação docente
específica para um ensino plural, que integra mais de um componente e pode
abranger mais de uma área. Sente-se falta, assim, de mais exemplos e sugestões
de trabalho que auxiliem o profissional da educação nas formas de condução desse
processo de integração dos conteúdos, para um ensino que possa abrir
efetivamente o diálogo entre os diversos componentes que compõem a grade
curricular.

Em relação ao trabalho com as TDICS essa formação também se faz necessária,


já que parte dos professores também não é contemporânea ao surgimento das
novas tecnologias, como acontece com os alunos. Fontes de pesquisa e tutoriais

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que auxiliem o professor podem compor o texto do documento, como forma de
conduzir o estudo docente autônomo.

No âmbito do estudo de Língua Portuguesa, falta a introdução de práticas em que


se evidencie como o aprendizado dos conteúdos previstos pode auxiliar o aluno na
formação de seu projeto de vida, seja ele mais voltado para a área de Linguagens,
seja para as áreas de Ciências da Natureza, de Humanas ou de Matemática.

Sendo assim, a BNCC do Ensino Médio pretende transformar a educação nessa


fase, procurando integrar conteúdos de componentes diferentes com vistas à
formação integral, interdisciplinare plural do jovem, cujo aprendizado deverá deixar
de ser segmentado. Entretanto, é preciso ao mesmo tempo, observar os desafios
relacionados á formação docente, cuja formação é específica e também muitas
vezes não familiarizada com as TDICS.

Outro ponto a ser observado na área de Linguagens é a exclusão do ensino de uma


língua estrangeira falada pela maior parte dos países da América Latina, com as
quais o Brasil deve manter relações estreitas e cuja própria produção cultural está
prevista entre as habilidades artístico-literárias de Língua Portuguesa. Nesse
mesmo sentido, o ensino de Arte, Educação Física e Literatura podem apresentar
mais exemplos de projetos que possam nortear um pouco mais o trabalho docente.

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Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

A BNCC para as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas propõe uma profunda


alteração na forma de estudo dos conteúdos curriculares previstos para esse
segmento. Ao deixar de tratar cada disciplina de modo singular e privilegiar a
interdisciplinaridade, a Base, para ser aplicada nas escolas, precisa contar com
maior participação de todos os atores envolvidos no processo educacional, como
as instituições responsáveis pela formação de professores, as secretarias
municipais de educação, as escolas, os alunos e os professores.

A interdisciplinaridade proposta pela BNCC prevê maior participação dos alunos e


maior ênfase nas habilidades e competências a serem desenvolvidas, de modo que
o estudante relacione conhecimentos, aprenda a indagar e seja protagonista,
construindo desde os anos escolares um projeto de vida próprio.

A área de Ciências Humanas contribuiria para essa proposta trazendo aos


estudantes a relação entre o "Eu" e o "Outro" como ponto de partida para
desenvolver uma visão crítica da sociedade e para formar cidadãos que saibam
agir eticamente com base nas relações de identidade entre as pessoas.

A exploração de problemáticas específicas de História e Geografia impactaria na


ampliação da capacidade cognitiva dos jovens, no desenvolvimento do "Eu" e no
reconhecimento do "Outro" que, de acordo com as novas bases curriculares, já
estaria em desenvolvimento desde os anos finais do Ensino Fundamental.

As orientações da BNCC para a área de Ciências Humanas exigirão dos estudantes


maior nível de abstração e simbolização, o questionamento a partir de observação
e metodologias de análise e a problematização da realidade, identificando nela
ambigüidades e contradições. Também é proposto que os alunos construam
hipóteses, argumentos e estabeleçam diálogos, tanto com base na percepção
crítica quanto na produção científica, sem deixar de lado a prática da dúvida
sistemática, que orienta os alunos ao uso crítico dos diversos meios de
comunicação.

Nesse contexto, é importante ressaltar a relação entre os estudantes do Ensino


Médio com as novas tecnologias para criar novas formas de leitura do mundo.

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assim como novas práticas de convívio, produção de conhecimento e participação
política, sempre levando em consideração os diversos grupos que compõem a
sociedade.

As competências propostas na área de Ciências Humanas deverão formar alunos


capazes de estabelecer relações, de analisar, de comparar e de compreender
contextos e identidades para formar a própria crítica e se posicionar frente à
diferentes situações.

Para contemplar as iniciativas descritas anteriormente, a área de Ciências


Humanas foi organizada nas seguintes categorias: tempo e espaço; territórios e
fronteiras; indivíduo, natureza, sociedade, cultura e ética; e política e trabalho.

O tratamento interdisciplinar e o protagonismo dos alunos são propostas


relevantes, mas exigem uma nova postura tanto dos familiares quanto dos
educadores para sair da exposição didática clássica e abrir espaço para a maior
participação dos alunos. Estabelecer esses espaços de autonomia pode exigir a
construção de uma nova forma de dar aula, assim como a ampliação de
conhecimentos entre as áreas de conhecimento de cada educador para assegurar
o desenvolvimento de novas habilidades por parte dos estudantes.

Outro ponto a ser levado em consideração nessa nova perspectiva é a ausência de


definição dos conteúdos requeridos para trabalhar as categorias traçadas na
BNCC.

Por fim, a possibilidade de abertura de ensino de diversos conteúdos impacta nos


exames vestibulares, pois a ausência de conteúdos pré-estabelecidos em nível
nacional poderá ser uma preocupação em uma realidade na qual o vestibular e o
ingresso nas universidades se apresentam no horizonte ao final do Ensino Médio.

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Matemática

A proposta que está desenhada para área de Matemática na presente versão da


BNCC visa ir além da resolução de problemas, como é proposto para o Ensino
Fundamental. Para o Ensino Médio, é esperado que os estudantes continuem
empregando conceitos, procedimentos e estratégias não apenas para resolver
problemas, mas também para formulá-los e descrevê-los, selecionar modelos
matemáticos e desenvolver o pensamento computacional possibilitando, assim,
que os estudantes construam uma visão mais integrada da Matemática na
perspectiva de sua aplicação á realidade.

O texto defende, de forma adequada, que os estudantes usem ferramentas


tecnológicas, como calculadoras e planilhas eletrônicas, para desenvolverem o
pensamento computacional por meio da interpretação e da elaboração de
fluxogramas e de algoritmos. Observa-se, destacado no texto, a importância de o
trabalho com o pensamento computacional estar alinhado com as vivências
cotidianas dos estudantes envolvidos, como as condições socioeconômicas, as
exigências do mercado de trabalho e a potencialidade das mídias sociais que os
rodeiam, para promover ações que os estimulem.

O potencial dessas abordagens promove processos de reflexão e de abstração,


sustentação a modos de pensar criativos, analíticos, indutivos, dedutivos e
sistêmicos, possibilitando que os estudantes tomem decisões orientadas pela ética
e o bem comum contrapondo-se à aquisição de técnicas e de algoritmos
mecânicos. Assim, percebe-se que é necessária uma atenção especial do
professor para o ensinar.

O corpo docente deverá dar ênfase a processos de resolução de problemas,


investigação, modelagem matemática e desenvolvimento de projetos como
metodologia. É importante destacar que, além dessas metodologias serem vistas
como estratégia de ensino e de aprendizagem, elas devem ser oferecidas como um
conteúdo para favorecer o letramento matemático dos estudantes.

Percebe-se que o texto carece de orientações referentes às integrações dos


campos da Matemática, ou seja, ás orientações metodológicas são apresentadas

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de maneira genérica, não deixando claro quais os caminhos que os docentes
devem percorrer para garantir que os estudantes proponham ações de intervenção
especificadas para essa etapa.

Percebe-se a importância que essa versão do texto dá á história da Matemática


quando enfatiza que se deve proporcionar aos estudantes a visão de que a
Matemática não é um conjunto de regras e técnicas, mas que faz parte da cultura
e da história humanas. Entretanto, a falta de orientações metodológicas para o
pleno desenvolvimento desse assunto pode gerar obstáculos para docentes
habituados com metodologias tradicionais.

O tema interdisciplinaridade está presente de forma muito incipiente no documento;


entretanto, o conceito aparece fortemente na descrição de competências
específicas e habilidades. Então, faz-se necessário que as orientações de como
trabalhar a interdisciplinaridade estejam explícitas no documento para que o
docente tenha subsídios para trilhar sua formação continuada.

Finalmente, chama-nos a atenção a ausência de uma discussão sobre processos


seletivos para o Ensino Superior e o futuro dos materiais didáticos destinados ao
Ensino Médio. Como verificado, o documento propõe a reformulação de toda a
estrutura da escola e, por isso, é interessante indicar para a população estudantil
como será realizado esse movimento.

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Ciências da Natureza

Embora na BNCC não sejam nominalmente referidos como componentes, a


Biologia, a Física e a Química são mencionadas como integrantes da área Ciências
da Natureza.

Mesmo assim, a descrição dessa área do conhecimento é feita de forma integrada


sem referências aos componentes individualmente, sugerindo que o
desenvolvimento dos estudos nessa área deverá ser idealmente feito de modo que
as fronteiras entre as disciplinas não sejam perfeitamente discerníveis.

Apesar disso, é possível observar temas abordados no Ensino Fundamental II que


serão expandidos no Ensino Médio por meio dos componentes de Ciências da
Natureza:

• Matéria e Energia (Química e Física);


• Vida e Evolução (Biologia, Química e Física);
• Terra e Universo (Física, Química e Biologia).

O texto da BNCC sugere uma relação mais forte entre o Ensino Fundamental II e o
Ensino Médio, com o desenvolvimento em espiral dos temas, especificamente
expandindo conceitos, diversificando as situações-problema, aplicando modelos
mais abstratos, apresentando contextos mais complexos que possibilitem aos
estudantes propor intervenções.

Particularmente, o texto indica que os dois últimos temas (Vida e Evolução e Terra
e Universo) podem ser unificados no Ensino Médio, fazendo referência aos
processos históricos de evolução geológica e biológica e às relações ecológicas
entre a vida e o planeta.

Basicamente as Competências e as Habilidades listadas nos Parâmetros


Curriculares Nacionais foram aglutinadas e sintetizadas na BNCC. Em sua
essência, as competências tratam da capacidade de (1) análise dos fenômenos
naturais e das tecnologias, (2) interpretação da dinâmica da vida, da Terra e do

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Cosmo, de seus mecanismos e evolução, e(3)apropriação da linguagem científica
para propor intervenções de interesse humano.

Assim, o texto parece sugerir que o Ensino Médio deva apresentar a expansão e
particularmente a aplicação dos conceitos científicos e do letramento desenvolvidos
no Ensino Fundamental II para o entendimento dos fenômenos naturais e de seus
modelos para a formulação de argumentos e de propostas de intervenção.

Nesse cenário é possível perceber que a BNCC sugere uma seqüência de ensino
integrada entre as três disciplinas, que tradicionalmente são desenvolvidas de
modo independente. Embora livros didáticos dos três componentes sejam
absolutamente independentes em seus projetos gráficos e editoriais, sistemas de
ensino tendem a apresentar uma unidade visual em vista do projeto gráfico único.
Contudo, mesmo em sistemas de ensino, a concepção, elaboração e edição do
texto costuma se dar de forma muito independente, com pouca ou nenhuma
conversa entre autores e editores.

Assim, estruturalmente os sistemas de ensino já apresentam certo grau de coesão


entre as três disciplinas, ainda que seja essencialmente gráfica, faltando a
elaboração de um projeto que integre melhor de modo a fornecer aos professores
da área um sistema mais coerente aos ditames da BNCC.

Alterações na progressão didática tradicional nas três disciplinas ê notoriamente


mal recebida pelo corpo docente, familiarizado com uma seqüência já bem
sedimentada na prática de ensino de cada componente de Ciências da Natureza.
Assim, o desafio ê construir sistemas de ensino que garantam a integração das três
disciplinas de Ciências da Natureza com o mínimo de impacto na independência e
particularmente na progressão didática dessas disciplinas.

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