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LER E DORT: BASES DIAGNÓSTICAS E TERAPÊUTICAS

Alessandra Quintiliano1
AriélBrambilla Oltramari1
Carla Waldeck Santos1
Elke Kreuscher Gumpl1
Mariana Sbrana dos Reis1
Leandro Rozin2

RESUMO

LER/DORT é uma das principais doenças ocupacionais existentes, uma vez que é a
segunda maior causa de afastamento de trabalhadores no Brasil, sendo assim o
foco principal deste artigo é o estudo de LER/DORT visando seu tratamento. Para
isso foi realizada uma revisão integrativa, onde foram utilizados artigos e teses
publicadas entre 2000 e 2010, normas e cartilhas do Ministério da Saúde sobre o
assunto. LER/DORT geram altíssimo gasto para Previdência Social todo ano.
LER/DORT é de origem multifatorial, sendo cada segmento necessário para
compreensão da patologia. Hoje em dia, já há normas técnicas a serem seguidas
para seu diagnóstico e tratamentos. Entre as formas de tratamento, uma das
melhores opções é o uso da Medicina Tradicional Chinesa, principalmente a
acupuntura. Os objetivos desse artigo visam descrever as lesões por esforço
repetitivo causadas pelos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho;
apresentar uma visão multidisciplinar das LER causadas pelos DORT; entender a
ação da acupuntura no tratamento de pacientes com LER causados pelos DORT.
Além da descrição das causas que levam ao desenvolvimento de LER/DORT e as
patologias relacionadas.

Palavras-chave: lesão por esforço repetitivo (LER), distúrbios osteomusculares


relacionados ao trabalho (DORT), acupuntura

INTRODUÇÃO

As Lesões por Esforço Repetitivo (LER) ou Distúrbios Osteomusculares


Relacionados ao Trabalho (DORT), são doenças que apresentam um número
elevado de incidências em várias categorias de profissionais, caracterizando-se
como uma doença ocupacional decorrente das transformações no mercado de
trabalho e assumindo o primeiro lugar na estatística de doenças profissionais nos
países industrializados. (BRASIL, 2009).

1
Acadêmicos do 5º período do Curso de graduação em Biomedicina da Faculdades Pequeno Príncipe – FPP.
2
Professor do Momento Integrador e orientador do estudo clínico.
2

De acordo com peritos do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), a


lesão por esforço repetitivo (LER), teve um aumento de aproximadamente 600%
entre 2006 e 2008. Os casos passaram de 20 mil em 2006 para 117,5 mil em 2008.
Segundo Lobato, redator da folha de São Paulo, para 2009 estimava-se que
a Previdência Social teria um gasto de R$ 2,1 bilhões com doenças trabalhistas.
As LER/DORT são afecções que podem acometer tendões, sinóvias,
músculos, nervos, fácias, ligamentos, de forma isolada ou associada, com ou sem
degeneração de tecidos, atingindo, principalmente, mas não tão somente, os
membros superiores, região escapular e pescoço, com origem ocupacional (MERLO
et al, 2001).
Essa patologia caracterizada por inflamações osteomusculares traz danos
ao trabalhador devido a dor, perda de força e movimentação, além de edema, que é
responsável por uma parcela significativa das causas da queda da performance no
trabalho (FILHO; MICHELS E SELL, 2006).
O que suscitou a vontade de nos aprofundar neste assunto, foi o fato destes
distúrbios serem a segunda maior causa de afastamento de trabalhadores no Brasil
(ESTEVES, 2008). De acordo com um levantamento de dados realizado em 2007,
70% a 85% dos trabalhadores acometidos por LER/DORT, estão entre a faixa etária
de 20 a 49 anos, o que sinaliza um efeito social grave: o afastamento precoce do
trabalho na fase mais produtiva do profissional (PEGATIN, 2007).
Nesse sentido, o presente artigo tem como finalidade entender LER/DORT
sob seus vários aspectos; conhecer as doenças relacionadas às lesões por esforço
repetitivo causadas pelos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho,
relacionando sinais e sintomas comuns entre estas doenças e estudar a relação da
acupuntura, como tratamento alternativo, para melhorar a qualidade de vida do
paciente.
Diante de toda a literatura consultada, observamos que são várias causas e
fatores que interferem no aparecimento das LER/DORT e com base nessas
informações questionamos: Quais são os aspectos patológicos das afecções
provocadas por LER/DORT e qual o efeito da acupuntura sobre elas? Para
responder tal questão pretendemos atingir os seguintes objetivos: descrever as
lesões por esforço repetitivo causadas pelos distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho; apresentar uma visão multidisciplinar das LER causadas
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pelos DORT; entender a ação da acupuntura no tratamento de pacientes com LER


causados pelos DORT.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a realização deste trabalho foi uma Revisão


Integrativa (RI), que segundo Galvão et al (2008), consiste na produção de uma
análise ampla da literatura, contribuindo para discussões sobre métodos e
resultados de pesquisas. Este método de pesquisa permite a síntese de múltiplos
estudos publicados, reduzindo incertezas, permitindo generalizações precisas sobre
o fenômeno a partir das informações disponíveis limitadas, facilita a tomada de
decisões com relação às intervenções que poderiam resultar no cuidado mais efetivo
e de melhor custo/benefício, possibilitando também conclusões gerais a respeito de
uma particular área de estudo.
Segundo Souza et al (2010), os passos utilizados para a realização de uma
Revisão Integrativa estão relacionados ao desenvolvimento do problema e
elaboração de uma hipótese estabelecidos pelos autores; elaboração do projeto que
garante que a revisão seja desenvolvida com o rigor de uma pesquisa; busca e
seleção dos estudos a serem avaliados, previamente estabelecidos; avaliação crítica
dos estudos selecionados e escolha daqueles passíveis de inclusão na RI; extração
dos dados do material selecionado; síntese descritiva dos dados selecionados; por
último a apresentação e interpretação dos resultados da síntese.
Nesse sentido, as fontes bibliográficas utilizadas foram artigos científicos
publicados entre 2000 e 2010, sobre as lesões por esforços repetitivos causadas por
distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho, na busca de evidências para o
uso da acupuntura nas Lesões por Esforço Repetitivo com origem ocupacional.

DESENVOLVIMENTO

Bernardino Ramazzini, em 1717 relatou as primeiras lesões por esforços


repetitivos, provenientes de movimentos violentos e irregulares ou posturas
inadequadas no trabalho, provocando assim lesões no corpo humano. Apesar de
ultrapassado, esse paradigma que está relacionado ao trabalho é impactante,
principalmente no que diz respeito ao trabalho repetitivo (MELO, 2007).
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Em 1919, foi apresentada a primeira norma jurídica, através de um decreto


legislativo n°. 3.724, de 15 de janeiro e 1919, sendo editadas através de outras
normas, até chegar a edição da lei n°. 8.213, de julho de 1991. A L.E.R foi
considerados acidente de trabalho, por estar dentre os casos previstos no artigo 20
da lei 8.213/91. Consideram-se acidentes de trabalho, nos termos deste artigo, as
seguintes entidades mórbidas (COLMAN, et al, 2007):
I – doença profissional, assim entendida, produzida ou desencadeada pelo
exercício de trabalho peculiar a determinada atividade e constante da perspectiva
relação elaborada pelo ministério do Trabalho e da Previdência Social (COLMAN, et
al, 2007);
II – doença do trabalho, assim entendida, adquirida ou desencadeada em
função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione
diretamente constante da relação mencionada no inciso I (COLMAN, et al, 2007).
A partir do Decreto 611, de julho de 1992, a LER entra para lista de agentes
patogênicos causadores de doenças ocupacionais (OLIVEIRA, 2001).
No ano de 1993, o INSS elaborou uma norma técnica sobre a LER dispondo
os procedimentos de avaliação de incapacidade de trabalhadores afastados do
trabalho, para orientação aos médicos peritos (OLIVEIRA, 2001).
Em 1998, com a renovação da norma 91, foi introduzida a expressão
Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (DORT). Sendo assim, há
normas técnicas que tratam especificamente desta moléstia, que é o caso da Ordem
de Serviço n° 606, de agosto de 1998 do INSS, onde expões seus aspectos
epidemiológicos, os fatores de risco, o diagnóstico, os procedimentos administrativos
e periciais, atribuindo à LER quatro estágios evolutivos (COLMAN, et al, 2007).
No Brasil, são utilizados Graus para categorizar os pacientes com quadros
clínicos inespecíficos, mas, considerados como portadores de LER/DORT. São eles:
Grau I – caracterizado pela sensação de peso e desconforto no membro
afetado, dor localizada sem irradiação nítida, geralmente leve e fugaz. Ausência de
sinais clínicos, porém piorado com o trabalho e melhora com o repouso tendo bom
prognóstico com tratamento adequado (PRZYSIEZNY, 2000).
Grau II – caracterizado por dor tolerável, porém persistente e intensa.
Formigamentos, calor e dor localizada, piorada com a jornada de trabalho e algumas
atividades domésticas. São leves distúrbios de sensibilidade, porém geram redução
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na produtividade, apresentam prognóstico favorável com recuperação, embora seja


demorada mesmo com repouso (PRZYSIEZNY, 2000).
Grau III – caracterizada por dor persistente e forte, pouco atenuada com o
repouso, dor com irradiação mais definida, redução da força muscular, perda de
controle dos movimentos, com hipertonia muscular constante e alterações de
sensibilidade quase sempre presentes. Redução da produtividade ou
impossibilidade de executar funções. Prognóstico reservado (PRZYSIEZNY, 2000).
Grau IV – caracterizado por dor forte, contínua, insuportável, que se acentua
aos movimentos levando o paciente a intenso sofrimento. É irradiada para todo o
segmento afetado; há perda de força muscular, de sensibilidade. Apresenta
incapacidade para executar tarefas do trabalho e no domicílio. São comuns
deformidades e atrofias. O prognóstico é bastante sombrio. Sendo que este grau
induz anulação e total incapacidade para o trabalho (PRZYSIEZNY, 2000).
A origem de LER/DORT é multifatorial, o que dificulta o diagnóstico tanto
pelo adoecimento quanto pelo histórico do profissional, e está associada a fatores
relacionados ao uso de equipamentos, ambiente físico, contrato de trabalho e uso de
ferramentas, e por fatores de risco subdivididos em fatores psicossociais
(insatisfação, percepção negativa do trabalho) e, fatores biomecânicos
(repetitividade, esforço, posturas e gestos), que atuam sobre o organismo no
sistema osteoarticular e muscular, afetando também os tendões, ligamentos,
cartilagens e o tecido sinovial (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA, 2004).
Neste sentido que, hoje a terminologia utilizada como DORT não é o termo
mais adequado já que “osteo – osso” e “musculares – músculo” deixam de fora
tendões e nervos que estão presentes em grande parte dos acometimentos
trabalhistas tais como, “tendinite” e “síndrome do túnel do carpo”, sendo mais
adequado “osteoneurotendinomusculares” (ARAÚJO; QUEIROZ, 2003).
São doenças relacionadas com LER/DORT:
Tendinite Inflamação aguda ou crônica dos tendões
Tenossinovite Inflamação aguda ou crônica das bainhas dos
tendões
Epicondilite Inflamação de músculos e tendões do
cotovelo
Bursite Inflamação das bursas
Miosites e síndrome miofascial Inflamação de grupos musculares de forma
isolada ou em várias regiões do corpo
Síndrome do túnel do Carpo Compressão do nervo mediano no túnel do
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carpo
Síndrome cervicobraquial Dor difusa em membros superiores e região
cervical
Síndrome do desfiladeiro Compressão do plexo braquial (nervos e
torácico vasos) na região da primeira costela
Cisto Sinovial Espessamento da capsula articular, que
armazena o líquido sinovial
Doença de Quervain Constrição dolorosa da bainha comum dos
tendões do longo abdutor do polegar e do
extensor curto do polegar

Os sistemas biológicos reagem de modo específico, conforme o tipo de


agressão produzida, seja interna ou externamente, fazendo com que o organismo
busque a homeostasia, caso esta não seja alcançada pode haver um colapso em
forma de lesão podendo levar também a morte. “O sistema musculoesquelético
mantém sua função até que seja alcançado algum limite de fadiga [...]”, mantendo-se
a exposição o sistema desencadeará uma reação inflamatória, como principal
componente, a dor, que tem por função prevenir das lesões (BRASIL, 2009).
O comprometimento se dá pela continuidade do esforço mesmo na
presença da dor, pois o processo inflamatório pode evoluir para um fenômeno
degenerativo das estruturas musculoesqueléticas. Segundo Brasil, (2009, 45),
“ambas as condições patológicas [...] resultam de um fenômeno mecânico de origem
ocupacional, cuja evolução depende dos fatores sociais e econômicos.”
Conforme a carga mecânica exercida, ocorrem alterações no equilíbrio e na
recuperação do sistema osteoarticular e muscular, sendo que o processo reativo
está diretamente associado à intensidade e força das pressões exercidas, e com
relação ao tempo de exposição. Existem quatro tipos de cargas relacionadas a
LER/DORT, estando relacionadas a tensão da contração prolongada, o estiramento
do tendão, a pressão sobre os tecidos moles e o atrito entre as estruturas moles.
Todas essas cargas podem hipercontrariar o músculo, estirar o tendão e prejudicar a
circulação. (BRASIL, 2009)
Movimentos repetitivos podem gerar fadiga longitudinal sobre o nervo
danificando sua fibra desencadeando alterações estruturais que pode ser uma
degeneração nos envelopes conjuntivos dos nervos em que há modificações
histológicas, gerando bloqueio, mesmo que parcial, da microcirculação sanguínea
nos vasos do tecido conjuntivo-vascular do nervo, ocorrendo perturbações dos
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potenciais de ação gerando alterações motoras e sensitivas (BRASIL, 2009;


WICZICK, 2008).
A hipersolicitação muscular pode ser de forma dinâmica, referente a
sequencia rítmica de contração e extensão da musculatura em trabalho ou estática,
referente a contração muscular forte e continua. Sob estas condições ocorrem as
alterações fisiológicas que advêm das modificações bioquímicas geradas pela
hipersolicitação muscular, em que há o acúmulo de lactato, insuficiência de
glicogênico e transformações das concentrações iônicas intra e extracelulares
(BRASIL, 2009; WICZICK, 2008).
Para se obter um diagnóstico preciso de LER/ DORT precisa-se fazer uma
investigação detalhada da doença, que segundo as Normas e Manuais Técnicos do
Ministério da Saúde dá-se pela investigação da história clínica detalhada, realizada
pela análise das queixas e sintomas dos trabalhadores, variando em grau de
severidade, sendo caracterizadas pelo tempo de duração, localização, intensidade,
entre outros aspectos. Além disso, existem queixas, sinais e sintomas mais comuns,
sendo estes a dor localizada, irradiada ou generalizada, o desconforto, a fadiga, a
sensação de peso, o formigamento, a parestesia, a sensação de diminuição de
força, o edema e enrijecimento articular, o choque, a falta de firmeza nas mãos, a
sudorese excessiva e a alodínea; Investigação dos diversos aparelhos devido a
existência de situações que podem causar ou agravar sintomas do sistema músculo-
esquelético e do sistema nervoso periférico, entre elas estão a diabetes mellitus,
gravidez, trauma e artrite reumatóide; Comportamentos e hábitos relevantes,
relacionados ao uso do computador em casa, ato de dirigir, tricotar, carregamento de
sacolas, entre outros. Os quadros de LER/DORT podem ser agravados por essas
atividades, mas não são as causas determinantes para que ocorra esta patologia,
devido a flexibilidade de ritmo e tempo que estas atividades são exercidas;
Antecedentes pessoais, como traumas, fraturas ou quadros mórbidos que possam
ter provocado ou acentuado o quadro de dor crônica em uma paciente com suspeita
de LER/DORT; Antecedentes familiares, relacionando distúrbios hormonais,
reumatismos ou diabetes em parentes co-sanguíneos; Anamnese Ocupacional e
exame físico, baseado em como e onde o trabalhador desenvolve seu trabalho
através do relato da rotina no trabalho, sendo necessário observar: duração da
jornada de trabalho, existência de pausa, execução e frequência dos movimentos de
repetição, existência de sobrecarga estática, formas de pressão de chefias,
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mudanças no ritmo, insatisfação, condições do local de trabalho, presença de ruído,


mobiliário inadequado, desconforto térmico, iluminação. O exame físico ocorre na
tentativa de identificação do comprometimento de músculos, tendões, nervos,
articulações, problemas circulatórios nos membros mais atingidos (MAENO et al,
2001; OLIVEIRA, 2001).
Além disso, os exames complementares podem auxiliar no diagnóstico,
através de imagens, as radiografias simples auxiliam para avaliar a parte óssea,
bem como desgastes articulares; as radiografias contrastadas não são muito
requisitadas; a ressonância magnética é mais utilizada por ter maior precisão e
menos risco para a visualização das partes moles; a ultra-sonografia apresenta
baixa sensibilidade e especificidade para grande parte das alterações de estruturas,
sua maior indicação é para o manguito rotador ou calcificações de partes moles,
sendo que evidencia as alterações apenas na fase aguda, com espessamento dos
tendões e aumento do líquido sinovial. A tomografia computadorizada é indicada
para a coluna vertebral em alguns casos e a ressonância nuclear magnética para
avaliar partes moles, ambos os exames são de custo muito alto e sua indicação é
muito específica. Outro exame que pode ser solicitado é a eletroneuromiografia, este
é indicado quando há suspeita de comprometimento de nervos com intuito de
comprovar e estabelecer o nível das neuropatias periféricas compressivas (BRASIL,
2009).
Os exames utilizados são avaliados através de provas de atividade
inflamatória, imunológica e bioquímica, os quais mostram a existência de um
processo inflamatório, metabólico, infeccioso ou imunológico pelo aumento na
concentração sérica das proteínas de fase aguda. Sendo os mais utilizados para a
avaliação de atividade inflamatória a Velocidade de Hemossedimentação (VHS),
mucoproteínas e eletroforese de proteínas. Nas provas de atividade imunológica o
fator reumatóide (FR), proteína C reativa (PCR), anticorpos Anti Estreptococos – Anti
– estreptolisina O (ASLO OU ASO) e fatores anti nucleares (FAN). E, para as provas
bioquímicas o líquido sinovial, ácido úrico, enzimas nucleares, metabolismo ósseo,
função tireoidiana e glicemia (BRASIL, 2009).
O tratamento e reabilitação de um paciente com LER/DORT deve ser
realizado por uma equipe multidisciplinar, que mantenha trocas constantes de
opinião sobre a evolução do paciente, abrangendo aspectos informativos, de
tratamento físico e apoio psicológico, esta deve ser composta por médicos,
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biomédicos, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos,


terapeutas corporais e acupunturistas (ROSA et al, 2008).
As atividades que visam a reabilitação do paciente, como as de terapia
ocupacional, hidroterapia, e às vezes bloqueios anestésicos, devem ser combinadas
entre si. Sendo que nenhuma delas é totalmente eficaz isoladamente, cada paciente
deve ter seu programa estabelecido pela equipe (JUNIOR REPULLO, 2006).
Um método utilizado para tratamento dos sintomas da doença é a
acupuntura, que visa à terapia e cura das enfermidades pela aplicação de estímulos
através da pele em regiões chamadas de acupontos. Os acupontos são locais de
concentração energética, com elevada condutividade elétrica e função específica.
Um conjunto de acupontos alinhados seguindo um determinado trajeto ao longo do
corpo é chamado de meridiano (SILVA, 2010).
O estímulo nesse ponto principalmente o estímulo nociceptivo promove a
liberação de neurotransmissores e de hormônios que vão ter efeitos nos órgãos
internos e promovendo uma maior irrigação sanguínea, liberação de substâncias que
vão beneficiar o alívio da dor. Ysao Yamamura explica que existem dois
mecanismos de atuação da acupuntura: a teoria chinesa dos meridianos, e a do Qi
(energia) que circula neles e que estariam na origem das doenças (SCOGNAMILLO-
SZABÓ; BECHARA, 2001).
A acupuntura baseia-se em várias técnicas sendo uma destas a de Akabane
que é a introdução de agulhas curtas intradérmicas, inseridas na superfície da
derme, 1 ou 2 mm, na horizontal, com as pontas direcionadas uma para a outra, com
uma distância mínima de 2 tsun anterior e posterior à lesão, seguindo o trajeto do
Meridiano afetado (AUTOR, ANO BARI)
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é uma medicina energética sendo
única em origem e múltipla na sua manifestação como qualidades funcionantes do
Yin/Yang. sendo yin as correspondentes aos órgãos internos e as yang, às vísceras.
(CORDEIRO, 2001).
As patologias do trabalho referem-se aos fatores de desestabilização do Qi,
Yin e Yang, dentro do organismo. Isso é sem dúvida o sistema causal de todas as
LER/DORT’s (SILVA,2010).
A repetição constante de determinados movimentos durante o trabalho, por
exemplo, causa a Estagnação de Qi e Xue (sangue) na área forçada. Coadjuvante
com esses movimentos se houver uma condição de Deficiência latente de Qi, Yin,
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Yang e/ou Xue, haverá má nutrição dos Meridianos e Sistemas Internos, que em
última análise poderá provocar LER e DORT. Segundo o pensamento chinês, as
funções se correlacionam conforme os seus movimentos, através de um ciclo de
geração e dominação, correlacionados aos cinco elementos da natureza Fogo,
Terra, Metal, Água, Madeira. Os elementos geram-se mutuamente na seguinte
ordem: a madeira gera o fogo; o fogo gera a terra (sua combustão produz cinzas); a
terra gera o metal (estes nascem na terra); o metal gera água (quando se liquefaz);
a água gera a madeira (pois a nutre); e a madeira gera o fogo (ao se queimar)
fechando o ciclo, Ao elemento gerador, denominamos de "elemento mãe", e ao
elemento gerado denominamos de "elemento filho" (SILVA,2010).
Baço (Pi) – de acordo com a MTC relaciona-se com o elemento Terra, tem a
função de controlar os músculos e os quatro membros, é considerado a “residência”
do Pensamento. Ele recebe o “Qi dos alimentos” do Estômago (Wei) para nutrir os
tecidos do organismo. Na debilidade do Qi do Baço (Pi) a musculatura enfraquece
predispondo a pessoa ao acometimento de LER E DORT, como por exemplo as
miosites (inflamação dos músculos) e pode afetar a capacidade de concentração do
empregado em seu trabalho, predispondo-o a acidentes. Sinais que podem estar
presentes no paciente: Insônia, memória fraca, palpitações, face pálida,
formigamento nas mãos e nos pés, tonturas apenas pela mudança de posição, pele
seca, cabelos fracos, o apetite pode estar ou não fraco, extremidades frias. Língua:
Pálida e fina. Pulso: Instável ou Fino (SILVA,2010).
Rim – Quando o trabalho exige horas de permanência em pé, sem intervalos
para sentar ou deitar, tendo que carregar excesso de peso prejudica e enfraquece o
Qi do Rim (Shen), que predispõe o trabalhador a perda do vigor físico e mental, além
do que, o Rim (Shen), controla a qualidade dos ossos que é um fator importante nas
epicondilites, por exemplo. Sinais que podem estar presentes no paciente: Insônia,
memória fraca, fadiga, anorexia, debilidade física, dor de cabeça migratória,
ansiedade e baixa energia sexual. Língua: Pálida. Pulso: Vazio (SILVA;
Esses são apenas alguns exemplos de como algumas "posturas",
infelizmente muito frequentes nas sociedades industrializadas, podem favorecer o
surgimento de desequilíbrios energéticos que, por conseguinte predispõem o
organismo às LER e DORTs. (SILVA,2010).
A terapêutica inicial no processo consiste em avaliar qual a Síndrome de
Desequilíbrio Energético que está presente no quadro clínico da pessoa lesada.
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Para acometimentos Osteoneurotendinomusculares essa técnica é extremamente


eficaz, pois trabalhando na adjacência do local afetado, atuam restabelecendo o
fluxo do Qi Estagnado, promovendo a desobstrução energética local através de um
estímulo fixo e a longo prazo. Os tratamentos tradicionais ocidentais são mantidos,
pois esta técnica é coadjuvante no processo de recuperação do paciente e não
substituta. Entretanto a não obtenção de um resultado favorável neste tratamento
convencional prescreve cirurgia corretiva para solucionar o problema. (SILVA,2010).
O tratamento medicamentoso em pacientes com LER/DORT, como em
qualquer recurso terapêutico, pode ser um forte aliado no alívio das dores, se for
utilizado e prescrito corretamente. É importante que o paciente seja muito bem
orientado para que ocorra adesão ao tratamento preconizado sem que ocorra a
interrupção unilateral no uso do medicamento, também é importante considerar o
acesso do paciente à medicação, considerando a condição financeira e o tempo
prolongado de tratamento, pesando assim quais os medicamentos mais adequados
para cada situação (JUNIOR REPULLO, 2006).
Em geral os analgésicos e antiinflamatórios não hormonais (AAINH), são
utilizados como primeiro recurso, sendo eficazes nas crises álgicas agudas ou em
casos iniciais. Quando utilizados isoladamente, não respondem ao controle da cor
crônica, sendo inadequado o uso continuo e prolongado dessas medicações
(JUNIOR REPULLO, 2006).
Como esquema medicamentoso de base, aos AAINH devem ser associados
aos psicotrópicos. Os anti-depressivos tricíclicos ou alifátidos, associados às
fenotiazinas, proporcionam efeito analgésico e ansiolítico. Os benzodiazepínicos
devem ser evitados em esquemas prolongados, pois causam depressão,
dependência e tolerância (JUNIOR REPULLO, 2006).
Analgésicos e antiinflamatórios não hormonais (AAINH): englobam várias
categorias de medicamentos. Tem sua ação na inibição de sistemas enzimáticos
envolvidos no processo inflamatório e na sensibilização nociceptiva do sistema
nervoso central. São indicados na agudização e processos de curta duração. Tem
metabolização nos rins e no fígado e apresentam como efeitos colaterais mais
freqüentes gastrite, úlcera, náuseas, vômitos, hepatopatia tóxica, insuficiência renal,
retenção hídrica, entre outros (JUNIOR REPULLO, 2006).
Os antidepressivos apresentam efeito analgésico e podem ser utilizados em
associação com analgésicos, neurolépticos e anticonvulsivantes. Os antidepressivos
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tricíclicos são utilizados no controle da dor. São indicados para dor crônica,
especialmente a dor neuropática, são administradas doses mais baixas e o tempo
do início da ação analgésica é de aproximadamente cinco dias. Apresentam como
efeitos colaterais mais freqüentes sonolência, taquicardia, obstipação intestinal,
retenção hídrica e sialosquese (MAENO et al, 2010).
Os neurolépticos são geralmente utilizados em associação a analgésicos e
antidepressivos no controle da dor. Apresentam como efeitos colaterais sonolência,
hipotensão postural e retenção urinária (MAENO et al, 2010).
Os anticonvulsionantes são utilizados para o tratamento da dor paroxística
que acompanha as neuropatias periféricas e centrais. Causam efeitos colaterais
como sonolência, erupções cutâneas e epigastralgias (MAENO et al, 2010).
Os narcóticos ou opióides são analgésicos potentes. Possuem mecanismo
de ação que atua diretamente em diversos sítios do sistema nervoso central
envolvidos na percepção da dor e bloqueiam a transmissão dos sinais de dor. Entre
os mais utilizados estão os derivados de morfina, codeína e tramadol. Apresentam
como efeitos colaterais tontura, náusea, vômito e obstipação intestinal além de
causar, com o uso contínuo, dependência (MAENO et al, 2010).
Os tranqüilizantes são indicados quando o estado ansioso e a insônia
causam a piora das contraturas musculares (MAENO et al, 2010).
Os bloqueios da cadeia simpática com anestésicos locais, ultra-som ou
medicação endovenosa são utilizados em casos de distrofia simpático-reflexa
visando analgesia, condição importante ao se realizar programas de exercícios de
recuperação do trofismo. Esses medicamentos dever ser utilizados em ambiente
hospitalar ou em serviços de saúde onde haja condição de se socorrer o paciente,
caso haja complicações (MAENO et al, 2010).
A distrofia simpático-reflexa pode ser a forma evolutiva de muitos pacientes
com histórias crônicas ou longas imobilizações que causam dor, edema,
palidez/eritema, hipotemia/hipertemia, cianose, sudorese e alterações tróficas das
partes moles. Deve receber terapia precoce, com base no princípio fundamental de
evitar-se a imobilização, condição que frequentemente acarreta piora dos sintomas
(MAENO et al, 2010).
Como é possível observar, o processo terapêutico dos pacientes de
LER/DORT pode ser extremamente diferenciado um do outro. Por este motivo é
muito importante que a equipe de saúde seja capaz de avaliar os sintomas caso a
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caso, propondo a melhor opção e mudar o curso, se necessário, conforme a


evolução (MAENO et al, 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As lesões causadas por esforço repetitivo infelizmente não possuem um


diagnóstico preciso que as caracterizem como acidente de trabalho, o que prejudica
a relação do empregado com a empresa que trabalha e principalmente seus direitos
prescritos pela Previdência Social. Uma vez que o INSS demora no diagnóstico de
LER/DORT, faz com que o trabalhador fique muito tempo afastado do seu trabalho
sem remuneração ou trabalhando em condições não salubres, o que faz com muitas
vezes o funcionário muitas vezes não procure ajuda agravando o quadro clínico.
LER/DORT trazem grandes prejuízos ao Ministério da Saúde, bem como as
empresas públicas e privadas todos os anos. As pessoas acometidas por estas
patologias enfrentam grandes dificuldades devido aos problemas físicos, psíquicos e
financeiros. Por este motivo é tão importante que sejam tomadas medidas de
prevenção contra este tipo de doença ocupacional Esse artigo mostra que o
diagnóstico e o tratamento das LER e DORT depende do trabalho de uma equipe
multidisciplinar. Cabendo ao profissional Biomédico, interagir a profissão de
pesquisador, ao diagnóstico, não se detendo somente atuar na área da acupuntura,
que por sinal é um tratamento muito significativo no caso dessas lesões.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, M. A., QUEIROZ, M. V. P. LER/DORT: Um Grave Problema de Saúde


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