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O verdadeiro custo da Academia

Ao longo de décadas, o Movimento Associativo Nacional tem-se vindo a pronunciar sobre


o custo do Ensino Superior. Entre estudos e inquéritos, tem sido patente o peso que o custo
do Ensino Superior representa para os Estudantes e para as suas famílias.

No inquérito realizado pela Associação Académica de Coimbra (AAC)1 e apresentado a 6 de


junho deste ano, estima-se que os alunos deslocados, em Coimbra, despendam 519€ por
mês para suportar o custo do alojamento, das propinas, transportes, material escolar e
despesas pessoais. Já um estudo realizado pela Uniarea, em agosto de 2023, estima que
“ser estudante deslocado na Universidade do Porto custaria, aproximadamente, 441,06€
para bolseiros, 537,50€ para não-bolseiros que optem por alojamento universitário e
707,50€ para não-bolseiros que optem por alojamento privado. Em Lisboa, os valores são
superiores, custando 454,88€ para bolseiros, 602,30€ para não bolseiros alojados em
residências e 831,30€ para não-bolseiros que aluguem quarto/casa privados.”2

Entre os dias 7 e 17 de novembro, a Federação Académica de Lisboa recolheu 1092 respostas


(1077 respostas válidas) num inquérito que permitiu aferir os verdadeiros custos do Ensino
Superior, em Lisboa. Este inquérito revelou que 51% dos estudantes que respondeu era
estudante deslocado e apenas 13% beneficiava de algum tipo de apoio social, sendo que
63% dos que beneficiavam, consideram-nos insuficientes ou muito insuficientes. No que
toca aos custos mensais no Ensino Superior, estes equiparavam-se aos dados apresentados
pela Uniarea, referidos anteriormente. Nesse sentido, importa-nos salientar vários dados
referentes aos apoios sociais direcionados aos estudantes e refletir sobre a sua adequação:

• 32% dos estudantes que responderam candidataram-se à bolsa da DGES, sendo que
destes, 40% foram indeferimentos e 19% ainda aguardam resposta.

• 136 dos estudantes que beneficiam de bolsa da DGES, apenas 38 beneficiam de


complementos.

• Relativamente à possibilidade de abandonar o Ensino Superior, 22% dos inquiridos


confessou que já tinha ponderado sobre isso, sendo que as principais causas
apontadas foram as questões relacionadas com a saúde mental (ex. ansiedade,
depressão, etc) e os custos relacionados com a frequência do curso.

Tendo em consideração todas as dificuldades que atualmente um estudante do Ensino


Superior atravessa, importa também focar as medidas que têm sido implementadas para
aliviar esta realidade. No último ano letivo, para além do limiar de elegibilidade para
candidatura a bolsa de ação social ter aumentado para os 23 IAS (Indexante de Apoios
Sociais), as bolsas de estudo passaram a ser atribuídas na fase de colocação dos candidatos
e a atribuição automática da bolsa a quem já era bolseiro no ano anterior, manteve-se.
Outra medida implementada foi o reforço dos complementos de alojamento, em termos
do valor máximo atribuído.3

Apesar de todas as medidas tomadas, continua a existir um grande desfasamento entre as


medidas e os recetores das mesmas. Consultando os dados disponibilizados a 6 de
novembro, pela DGES, foram submetidos 108.130 requerimentos para obtenção de bolsa
de estudos. Destes, apenas 57.626 processos têm já a decisão final, dos quais 38.769 são ao

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abrigo da atribuição automática.4 Estes valores demonstram que apesar dos progressos
implementados, os problemas continuam a ser identificados a jusante, desde logo na
atribuição célere da bolsa de estudos. Adicionalmente, importa referir que a atribuição da
bolsa é fundamental para o estudante beneficiar de outros complementos,
nomeadamente o complemento de alojamento e o complemento de deslocação.

Assim, e por quererem ser parte da solução, as Federações e Associações Académicas e de


Estudantes, reunidas em sede de Encontro Nacional de Direções Associativas, dias 2 e 3 de
dezembro, em Coimbra, propõem:

1. Relativamente à atribuição automática da bolsa de estudo, deve continuar a


promover-se a simplificação de procedimentos, bem como o melhoramento dos
critérios de atribuição automática e a correção de erros nos processos. Deste modo
deve:

o Passar a atribuição automática a efetuar-se por ciclos de estudo, isto é, a


candidatura é realizada apenas no início de cada ciclo de estudos. O
processo de cada estudante bolseiro deve ser revisto anualmente pelos SAS
mas com dispensa de candidatura anual por parte do estudante.

o Melhorar os critérios de atribuição automática para estudantes que


ingressam no primeiro ano, de modo a que, após a avaliação definitiva, não
se verifique o número significativo de casos de cancelamento.

o Estudantes cuja análise definitiva da candidatura revele uma perda ou


diminuição do valor definido pela atribuição automática, não deverão ter de
repor o valor já atribuído.

2. Tendo em conta o impacto para os Estudantes do elevado custo associado ao


alojamento, importa repensar o Complemento de Alojamento, devendo:

o Permitir o usufruto do complemento de alojamento a todos os estudantes


deslocados até aos 33 IAS de rendimentos per capita. Esta medida
desagrega o complemento ao alojamento da bolsa de ação social, visto que
o acesso à habitação e os custos elevados com a mesma são problemáticas
que transcendem a disponibilidade financeira dos estudantes bolseiros;

o Alargar a atribuição deste complemento aos estudantes que recusaram o


alojamento que lhes foi concedido em residências dos SAS. Este
complemento deve ter um valor máximo igual ao custo médio que um aluno
teria numa residência dos SAS.

3. A (re)introdução de mecanismos de majoração das bolsas de estudo, que tenham


em conta as diferentes tipologias familiares, considerando nomeadamente o
número de elementos do respetivo agregado familiar que frequentam o Ensino
Superior.

4. Além disso, reiteramos ainda algumas das medidas que têm sido por nós propostas:

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o Aumento do valor da bolsa de referência e, consequentemente da bolsa


base anual de forma que, mais eficazmente, faça face aos custos do Ensino
Superior. Deste modo, propomos:

a) Aumento da bolsa de referência, alterando a fórmula para 12X IAS, ou


para 6x no caso dos estudantes em regime de tempo parcial;

b) Aumento do valor mínimo de bolsa base anual para 150% do valor da


propina efetivamente paga para os estudantes inscritos em cursos
técnicos superiores profissionais, em ciclos de estudos conducentes ao
grau de licenciado e em ciclos de estudos integrados conducentes ao
grau de mestre;

Destinatários:
Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Partidos Políticos com assento
parlamentar, Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, Conselho Coordenador
dos Institutos Superiores Politécnicos

Referências:
1 - Quarenta por cento dos estudantes da UC já consideraram abandonar Ensino Superior |
RUC, consultado a 10 de novembro 2023

2 - Quanto custa ser estudante universitário em Portugal? - Uniarea, consultado a 10 de


novembro 2023

3 - Ensino superior para todos: mais apoios, mais cedo - XXIII Governo - República
Portuguesa (portugal.gov.pt), consultado a 10 de novembro 2023

4 - Informação Estatística - Bolsas de Estudo para Estudantes do Ensino Superior | DGES,


consultado a 10 de novembro 2023

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