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Pela defesa do alojamento estudantil público

Sendo o Ensino Superior um direito, a Acção Social Escolar é o garante da sua


democratização. Para isso, é necessário garantir as condições necessárias ao
cumprimento da sua função, isto é, um financiamento adequado.
2023 foi o ano com maior número de estudantes a ingressar no Ensino
Superior. Dos 446 mil estudantes que actualmente frequentam o Ensino Superior, 119
mil são deslocados. Tendo em conta que apenas existem 15547 camas em residências
públicas, encontrar alojamento a preços acessíveis e em condições é desesperante.
Em 2018, foi anunciado o Plano Nacional para o Alojamento no Ensino
Superior, que previa a construção de 18 mil camas, chegando a 2026 com mais de 26
mil camas.
Ora, em 2018, havia apenas 13.971 camas e cerca de 113 mil estudantes
deslocados. Desde aí até agora aumentaram cerca de 2000 camas e, no entanto, o
número de deslocados aumentou em cerca de 6000, comprovando uma vez mais a
insuficiência da oferta de alojamento público. Face a esta realidade, os jovens são
deixados à mercê dos preços do mercado privado, que, como se verifica nos dados do
Observatório do Alojamento Estudantil, o preço médio de um quarto em 2021 subiu
de 268€ para 337€ em 2023 e a variação de preço médio nos últimos doze meses foi
de 8,7%. Considerando estas acentuadas oscilações, fica cada vez mais claro que a
única solução estável é, de facto, a oferta de alojamento público.
As insuficiências de alojamento estudantil público, representam então uma
enorme barreira ao acesso e frequência do Ensino Superior, já que na ausência de um
lugar para viver que consigam pagar, os estudantes optam, muitas vezes, por desistir
do ingresso na universidade. O próprio site do PNAES alega que “a oferta existente,
de cerca de 15 mil camas nas instituições de ensino superior, (...)” se revela
“manifestamente insuficiente para as necessidades existentes e particularmente
crítica para os estudantes social e economicamente mais vulneráveis, num cenário de
aumento acentuado dos custos com habitação sobretudo nos maiores centros
urbanos, onde as instituições de ensino superior estão mais concentradas.”.
Porém, os problemas a nível do alojamento estudantil revelam-se ainda no
que toca aos complementos de alojamento e deslocação. Muitos são os estudantes
que, por não terem um contrato de arrendamento, veem vedado o seu direito ao
complemento de alojamento, já que não podem assim comprovar, através de recibo,
o seu encargo com o alojamento.
Consequentemente, não sendo beneficiários deste apoio, não têm também
acesso ao complemento de deslocação. Urge, assim, o aumento do valor do
complemento de alojamento, quer para bolseiros com cama em residência, quer para
aqueles que não obtiveram lugar em residência.
Mas também as residências já existentes apresentam debilidades - as
precárias condições das infraestruturas e a falta de materiais (nomeadamente
eletrodomésticos e mobília) não garantem a habitação digna a que os estudantes têm
direito.
Alegando a importância da intervenção nas residências de forma a resolver os
problemas já enumerados, muitas têm fechado. São exemplos disso a residência
Fraústo da Silva, em Almada (para reabilitação) e a residência Rafael Bordalo
Pinheiro, nas Caldas da Rainha. Com o fecho das residências durante o período
lectivo, muitos estudantes precisam de ser realojados, tendo como opção outras
residências, que se encontram já lotadas, ou então encontrar solução no mercado
privado. Independentemente da solução, é importante garantir que os estudantes
sejam dotados de todos os apoios de forma a que, nem eles, nem os seus estudos
fiquem prejudicados.
A par disto, há exatamente 5 anos foi anunciado, pelo Governo, que iria abrir
no antigo edifício do Ministério da Educação, na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa,
uma residência com 600 camas. Hoje, 5 anos depois, esta residência não só continua
por abrir, como mesmo por construir. Fica assim evidente a necessidade de,
conhecendo a existência de outros espaços que pudessem servir para alojamento
público, elaborar um plano de intervenção nesses imóveis, de forma a que a sua
utilização seja possível a partir do ano letivo 2024/25.
Além do mais, é comum que as residências fechem antes de terminar a época
de exames, obrigando a que os estudantes paguem a última mensalidade na
totalidade, ou ainda, que paguem uma taxa diária que pode chegar aos 20€. É por
isso necessário que se alargue o período de funcionamento das residências para que
os estudantes possam terminar os seus estudos sem prejuízos económicos
acrescidos.
Nunca se viram tantos casos de estudantes que, apesar de estudarem em
Lisboa, continuam a morar nas Caldas da Rainha, em Santarém, em Coimbra, tendo
que fazer estas viagens de horas quase diariamente para poder frequentar o seu
curso, sendo a alternativa o abandono dos estudos. Muitos também se queixam de
não terem conseguido lugar em residências e, que, por causa disso, moram em
quartos sem condições, em casas sobrelotadas, nas periferias das cidades, porque só
nestas condições é possível encontrar uma renda acessível.
Deste modo, para dar resposta ao número de estudantes deslocados e para se
ver cumprido o direito à igualdade de oportunidades consagrado na Constituição da
República Portuguesa, é essencial que a cada estudante deslocado corresponda uma
cama numa residência pública, faltando por isso a construção de 105 mil camas.
Apesar de se prever que em 2026 existirão 26 mil camas, este apoio é necessário já
hoje, considerando o elevado número de estudantes deslocados (119 mil).

Assim, o Movimento Associativo Estudantil, reunido em Coimbra nos dias 2 e 3 de


Dezembro de 2023, defende:

● Elaboração de um plano de intervenção em equipamentos públicos não


utilizados, com vista à sua utilização como alojamento público universitário no
início do ano letivo 2024/2025.
● O alargamento do complemento de deslocação a todos os estudantes
deslocados bolseiros;
● O reforço do valor do complemento de alojamento, tendo em conta o actual
preço médio dos quartos, e o seu alargamento a todos os estudantes
deslocados;
● O cumprimento efectivo do PNAES com um carácter de máxima urgência,
assim como o seu alargamento.
● A alocação de mais verbas para Ação Social Escolar;
● Realização de obras nas residências públicas em que existam carências
assinaláveis, no entanto, nunca em período de aulas ou exames.
● Possibilidade de provar o encargo com o alojamento por outros meios que não
o recibo, para efeitos de candidatura aos apoios;
● A possibilidade de abertura de todas as residências na época de exames, sem
qualquer custo adicional para os estudantes.
● Que se seja dada uma solução a todos os estudantes que actualmente residem
em residências, cujo encerramento esteja perspectivado no decorrer deste
ano lectivo, nomeadamente através do adiamento das obras para um período
não lectivo.

Preponentes: AEFLUL
Destinatários: MCTES, grupos parlamentares, IES

Referências

https://www.publico.pt/2018/05/17/sociedade/noticia/so-ha-camas-nas-residencias-
para-12-dos-estudantes-deslocados-1830354
https://wwwcdn.dges.gov.pt/sites/default/files/documentos_internos/alfredo_stude
nt_report_20210917.pdf

https://pnaes.pt/wp-content/uploads/2023/09/alfredo_student_report_2023_09_05
.pdf

https://www.portugal.gov.pt/download-ficheiros/ficheiro.aspx?v=%3D%3DBAAAAB%
2BLCAAAAAAABAAztTCzBADaetAaBAAAAA%3D%3D

https://pnaes.pt/wp-content/uploads/2023/09/Brochura_PNAES_082023.pdf

https://pnaes.pt/

https://pnaes.pt/wp-content/uploads/2022/09/Site_Lista-de-projetos-financiados-e-
contratualizados.pdf

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