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terrompido, pois o local entrou em férias todavia, reforçava novos abusos por parte
e a terapeuta se formou, não podendo dar deles. Esse padrão comportamental inas-
continuidade à psicoterapia. sertivo apresenta-se de forma generalizada
e extrapola o contexto familiar, sendo ob-
Formulação Comportamental: Ao longo
servado no grupo religioso e no trabalho,
das sessões, a partir das informações ini-
nos quais se comportava fazendo o que
cialmente trazidas pela cliente a respeito
lhe era solicitado e preocupando-se com a
do próprio comportamento e/ou de seu
opinião dos outros, evitando, assim, críti-
ambiente (físico, familiar, social, etc.),
cas, reclamações e confrontos. Do mesmo
formulavam-se hipóteses funcionalmente
modo, nesses contextos, o comportamento
estruturadas, a partir das quais informa-
inassertivo servia também como estímulo
ções adicionais eram requisitadas pelo reforçador para o comportamento de fa-
terapeuta a fim de validar ou refutar tais miliares e colegas, favorecendo o aumento
hipóteses. Hipóteses confirmadas consti- da frequência de novos pedidos ou solici-
tuíram o conjunto de análises funcionais tações. A exposição frequente a contingên-
de comportamentos isolados da cliente cias coercitivas de reforçamento negativo e
(análise micro). A partir desse conjunto de de punição gerava a eliciação de respoden-
análises funcionais, chegou-se a uma sínte- tes: lágrimas, enrijecimento dos músculos,
se comportamental, na qual inter-relações sudorese, taquicardia e queda de pressão.
comportamento-ambiente e comporta- Além dos respondentes, o operante – cho-
mento-comportamento foram exploradas, ro – acompanhava o comportamento inas-
constituindo a formulação comportamen- sertivo.
tal (análise macro). Diante desse histórico, em que houve
Apresenta-se, no Quadro 10.1, as aná- construção de um repertório comporta-
lises funcionais (micro) de comportamen- mental passivo, consequenciado pela es-
tos isolados. Ao final do quadro, tais aná- quiva de contingências aversivas no pas-
lises são apresentadas de forma integrada, sado e, no presente, pela impossibilidade
constituindo-se na formulação comporta- de contracontrolá-las de modo efetivo,
mental do caso estudado. Foram necessá- desenvolveu-se um quadro de depressão
rias 12 sessões para se chegar a uma versão caracterizado por um repertório compor-
final da formulação, a qual foi formalmente tamental “disfuncional” mantido por con-
devolvida e discutida com a cliente. tingências coercitivas (Ferster, Culbertson,
A cliente vinha de uma família conser- Boren e Perrot, 1977/1982). Questiona-
vadora, muito religiosa e repleta de regras -se, portanto, o diagnóstico psiquiátrico
que contribuíram para a formação de au- de Transtorno Bipolar, pois, independen-
torregras, tais como: “se sou uma boa fi- temente da terapia medicamentosa, não se
lha, não contrario meus pais”; “se me man- tem, a partir do relato da cliente, histórico
tenho casta, preservo o nome da família”. de episódios de mania/euforia intercala-
Sua história de vida foi marcada por um dos com depressão.
controle rígido, em que pessoas ordena- No seu contexto familiar, teve mode-
vam e/ou indicavam o que fazer. No pas- los de passividade (pai e, algumas vezes, a
sado, houve abusos sexuais pelo irmão e mãe – com comportamentos permissivos
pelo cunhado, aos quais ela se submetia, ao filho abusador) e de agressividade (ir-
evitando assim outros tipos de violência mão abusador e mãe) que contribuíram
física/verbal e esquivando-se da descober- para o seu comportamento passivo, haven-
ta do ocorrido por familiares. Esse com- do algumas situações nas quais oscilava
portamento inassertivo, de submissão, da passividade para a agressividade. Vale
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