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Época Da Segunda Guerra Mundial
Época Da Segunda Guerra Mundial
O IMPERIALISMO SEDUTOR: A
AMERICANIZAÇÃO DO BRASIL NA
ÉPOCA DA SEGUNDA GUERRA
de Antonio Pedro Tota
São Paulo : Companhia das Letras, 2000. 235 p.
© 2001,
RAE v.RAE
41 - Revista de Administração
n. 2 Abr./Jun. 2001 de Empresas/FGV/EAESP, São Paulo, Brasil. 79
Kane foi chamado a produzir um filme sobre a como o café. O governo brasileiro chegou a pa-
América Latina. Imbuído dessa nobre missão, de- trocinar noticiários de rádio para falar do nosso
sembarcou no Rio de Janeiro em 1942, como um manganês, quartzo, aço, reserva de ferro, indis-
dos embaixadores do Pan-americanismo. pensáveis à vitória contra o Eixo. Os Estados
Com a chegada ao Brasil de astros de Unidos precisavam de nossa matéria-prima. O
Hollywood, entre eles o próprio Walt Disney, ga- Brasil precisava dos produtos manufaturados
rantimos também nossa presença, sem dúvida norte-americanos. Justificava-se, assim, a coo-
muito mais modesta, nos Estados Unidos. Par- peração, cujo objetivo era impedir a expansão do
ticipamos da Feira Internacional de Nova York nazismo sobre o continente. Os programas de
(1939), exibindo nossas riquezas naturais e artís- rádio que veiculavam a Política de Boa Vizinhan-
ticas, sob a batuta de Romeu Silva, e a música de ça faziam referências diretas a essa solidarieda-
Ernesto Nazareth, no pavilhão do Brasil, projeta- de: sempre que você tomar um café brasileiro,
do por Oscar Niemeyer. O Museu de Arte Moder- você estará comprando a Política de Boa Vizi-
na de Nova York promoveu, em 1940, o Festival nhança, repetiam os comentaristas do noticiá-
of Brazilian Music irradiado pela NBC para to- rio News of the World, em 1940.
dos os Estados Unidos. Ary Barroso foi tão popu- Segundo Tota, os meios de comunicação im-
lar no Brasil quanto naquele país, após a Aqua- perialistas não devem ser responsabilizados por
rela do Brasil ter sido cantada no filme Alô Ami- uma inoculação sorrateira de culturas estranhas
gos de Walt Disney. em nosso meio. A mídia foi usada como instru-
Justamente durante a ditadura do Estado Novo mento pedagógico para americanizar o Brasil, o
período da História do Brasil mais associado aos que comprova a existência de um plano articula-
modelos totalitários europeus , nasceu e disse- do para promover a americanização. Esse projeto
minou-se a influência norte-americana por aqui. estava, contudo, imbricado às forças de mercado,
O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e não apenas à política de Estado, ou seja, o mer-
colaborou estreitamente com o OCIAA, chegan- cado foi um dos caminhos percorridos para a ame-
do a ceder parte do tempo do programa a Voz do ricanização. Entretanto a assimilação cultural se
Brasil para divulgar notícias sobre a guerra e os fez não por pura imitação, mas por recriação, se-
Estados Unidos. guindo a antiga tendência de antropofagia na cul-
Segundo Tota, o fetiche dos gadgets, os fil- tura brasileira.
mes de Hollywood atuaram como tropa de van- Finalizando, vale a pena destacar a epígrafe de
guarda que prepara uma invasão. A difusão en- um dos capítulos do livro. Trata-se da entrevista
tre nós do espírito norte-americano (elogio ao pro- com uma brasileira que, ao vencer o Concurso
gresso técnico e material) ocorreu justamente du- Eugin em 1940, declarou: desde pequena ima-
rante a guerra, que abriu a oportunidade de alar- ginava-me a bordo de um grande transatlântico a
dear o sucesso e a superioridade da industriali- rumar para o país dos arranha-céus. O cinema só
zação norte-americana. Tais idéias foram veicu- fez aumentar o meu desejo. De lá para cá, muita
ladas nos programas de rádio produzidos nos Es- coisa mudou. No lugar do transatlântico, os bra-
tados Unidos e divulgados na América Latina sileiros sonham com um avião, e São Paulo, que,
com apoio do DIP, no caso do Brasil na tentati- certamente, tem mais arranha-céus do que a maio-
va de atrair nossa simpatia. ria das metrópoles norte-americanas, perdeu a
Mas a entrada dos Estados Unidos no Brasil capacidade de atrair nossa população migrante.
não foi uma via de mão única. Vargas também Contudo, o cinema norte-americano e os demais
tirou proveito da Política de Boa Vizinhança para meios de comunicação ainda são capazes de atra-
divulgar naquele país uma imagem positiva do ir para aquele país centenas de milhares de brasi-
Brasil e, especialmente, de nossos produtos, leiros. Agora mais do que nunca! m