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Junho de 2006
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(1) Suponha que P3 é uma crença verdadeira. transmitida de outra ou outras crenças jus-
Para termos P3 como conhecimento é ne- tificadas. Os sistemas filosóficos, em grande
cessário que a crença em P3, além de ver- número, são fundacionalistas, partindo de
dadeira, seja justificada; princı́pios indubitáveis básicos, a partir do qual
todas as demais crenças [não-básicas] são jus-
(2) Esta justificação será, por sua vez, outra tificadas. A versão cartesiana do fundaciona-
proposição — chamamo-la de P2; de forma lismo proclama a possibilidade em justificar as
que P2 justifica P3; crenças a cerca do mundo exterior [empı́rico]
a partir das crenças sobre os estados mentais
(3) Mas para P2 ser uma justificação satis-
imediatamente experimentados, ou seja, a par-
fatória para P3, devemos saber que é o
tir da experiência sensória e da introspecção.
caso que P2;
(4) Para ser o caso que P2, P2, por sua vez, II.I. As objeções ao fundacionalismo
deve também estar justificado;
Temos, então, duas importantes objeções5 ao
(5) Esta justificação será uma outra pro- fundacionalismo: A primeira objeção (1) diz
posição — chamamo-la de P1; de forma respeito ao fato de que o conteúdo de nos-
que P1 justifica P2; sas experiências sensoriais não são nem pro-
posicionais, tampouco conceituais6 . Ou seja,
(6) Estamos novamente às voltas com a “não são relações lógicas, visto que sensações
mesma situação em (3), mas neste caso não são crenças ou outras atitudes proposi-
com P1 no lugar de P3. cionais. [. . . ] a relação é causal”, ou seja,
“sensações causam algumas crenças e desta
Isso nos leva à três possibilidades: forma são a base ou o fundamento destas
crenças. Mas uma explicação causal de uma
(a) ou a seqüência de justificações nunca ter-
crença não mostra como ou porque a crença é
mina;
justificada [p.200][BonJour 2002]”.
(b) ou algumas proposições não precisam de A segunda objeção (2) diz respeito à
justificação; consciência e sobre o próprio conteúdo expe-
riencial, ou seja, a crença a cerca dos próprios
(c) ou a cadeia de justificação, de forma cir- estados mentais.
cular, retorna a si mesma.
“Uma possibilidade é que o
Em (a), temos o regresso ao infinito; em caráter especı́fico da experiência sen-
(b), temos uma parada arbitrária, geralmente
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a partir da proclamação de um conhecimento Em [pp.199-202][BonJour 2002].
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“Imagine trying to describe such an experienced
auto-evidente; já em (c), temos a simples
sensory content to someone else, perhaps over the
aplicação de um argumento circular, portanto phone. One problem is that our vocabulary in this area
inválido. is obviously very inadequate. But even if you did have
and adequate vocabulary, isn’t clear that it would be
very, very, difficult to actually give anything close to
II. A proposta fundacionalista a complete description, and—the real point—that the
sensory content of which your are conscious and which
A proposta fundacionalista baseia-se em (b), you are attempting to describe does not itself already
ou seja, de que algumas crenças são básicas e involve or consist of such a conceptual or classificatory
que portanto não necessitariam de justificação description [p.200][BonJour 2002]”.
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