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Luís XVI, por Jean Duplessis, o pintor da corte, 1780.

Antecedentes da Revolução Francesa


Para compreendermos as causas da Revolução Francesa, é necessário que, antes de qualquer
coisa, estabeleçamos um breve quadro sobre as transformações ideológicas experimentadas
nesse período. Durante o século XVIII uma série de pensadores contribuiu para a consolidação
do movimento iluminista, que no conjunto de suas idéias, realizava uma consistente crítica
contra os privilégios e problemas causados pelo modelo centralizador das monarquias
nacionais.
Muitos desses pensadores viam na figura do rei uma situação política contrária ao exercício das
liberdades e legitimadora da desigualdade que atingia o homem em sociedade. Dessa forma,
estes pensadores iriam propor um novo regime fragmentado em três novos poderes que
poderiam exercer justiça através de um conjunto de leis válido a qualquer indivíduo,
independente de sua posição política, condição econômica ou prática religiosa.
Sem dúvida, é por meio dessa argumentação que compreendemos as origens do bordão
revolucionário francês “Liberte, Egalité, Fraternité” (Liberdade, Igualdade, Fraternidade). No
entanto, não podemos nos limitar em conceder à “força das idéias” toda a motivação desse
acontecimento histórico. As questões políticas e sociais devem ser igualmente consideradas
para que possamos compreender o meio em que o ideário iluminista teria encontrado terreno
fértil.
De fato, a França vivia uma situação bastante contraditória no período em que antecede a sua
revolução liberal. A burguesia, responsável pelo desenvolvimento financeiro e comercial do
país, passou a encontrar sérias dificuldades para garantir o atendimento de seus interesses
particulares. A nobreza e o clero se sustentavam por meio da cobrança de pesados impostos
que comprometiam seriamente a expansão da atividade comercial burguesa do país.
Paralelamente, retrocedendo algumas décadas do século XVIII, vemos que a derrota na Guerra
dos Sete Anos (1756 - 1763) e os gastos na guerra de independência dos EUA (1776 - 1781)
gerou uma expressiva quantia de gastos que enfraqueceram a economia francesa. Em resposta
a difícil situação, a monarquia francesa decidiu aumentar os tributos e a fiscalização visando
ampliar as fontes de arrecadação que sustentavam o regime monárquico.
Como se não bastassem tais problemas com relação à burguesia, a França ainda tinha grande
parte de sua população vivendo no campo, sob antigas tradições e exigências medievais. A
opressão dos nobres proprietários de terra (protegidos pela monarquia) contra a classe
campesina abriu outro foco de tensões que viria a ser agravado com a crise de abastecimento
que atingiu a França um pouco antes da revolução. A partir de 1787, as más colheitas
provocaram um grande aumento no valor dos alimentos.
Dessa maneira, percebemos que o grupo social mais numeroso (camponeses) e o mais
próspero (burguesia) se encontravam insatisfeitos com o regime. Apesar da insatisfação, estes
dois grupos não tinham condições de ter suas demandas atendidas pelo governo. Somente os
membros do chamado Primeiro Estado (clero) e o Segundo Estado (nobreza) tinham influência
suficiente para ter seus interesses atendidos pela figura do rei. Com isso, uma grande
possibilidade de mudança viria a tomar conta de toda a França, no final do século XVIII.

Guerra dos Sete Anos


A Guerra dos Sete Anos foi uma série de conflitos internacionais que ocorreram entre 1756 e
1763, durante o reinado de Luís XV, entre a França, a Monarquia de Habsburgo e seus aliados
(Saxônia, Império Russo, Império Sueco e Espanha), de um lado, e a Inglaterra, Portugal, o
Reino da Prússia e o Eleitorado de Hanôver, de outro. Vários fatores desencadearam a guerra: a
preocupação das potências europeias com o crescente prestígio e poderio de Frederico II, o
Grande, Rei da Prússia; as disputas entre a Monarquia de Habsburgo e o Reino da Prússia pela
posse da Silésia, província oriental alemã, que passara ao domínio prussiano em 1742 durante
a Guerra de Sucessão Austríaca; e a disputa entre a Grã-Bretanha e a França pelo controle
comercial e marítimo das colônias das Índias e da América do Norte. Também foi motivada pela
disputa por territórios situados na África, Ásia e América do Norte.
A fase norte-americana foi denominada Guerra Franco-Indígena (ou Guerra Francesa e
Indígena), da qual participaram a Inglaterra e suas colônias norte-americanas contra a França e
seus aliados algonquinos. A fase asiática iniciou o domínio britânico nas Índias.
Foi o primeiro conflito a ter carácter mundial, e o seu resultado é muitas vezes apontado como
o ponto fulcral que deu origem à inauguração da era moderna. A Guerra foi precedida por uma
reformulação do sistema de alianças entre as principais potências europeias, a chamada
Revolução Diplomática de 1756, e caracterizou-se pelas sucessivas derrotas francesas na
Alemanha (Rossbach), no Canadá (queda de Québec e Montreal) e na Índia. O conflito terminou
com a vitória da Grã-Bretanha e seus aliados.
A guerra deu continuidade a disputas não apaziguadas pelo Tratado de Aquisgrão (1748) e
tinha relação com a rivalidade colonial e econômica anglo-francesa, e com a luta pela
supremacia nos Estados Alemães entre a Monarquia de Habsburgo e o Reino da Prússia. A
guerra prosseguiu na América do Norte, com a expedição de Braddock, que entre 1695 e 1755
comandou as forças britânicas contra os franceses e indígenas. Cada facção estava insatisfeita
com seus antigos aliados. A Inglaterra tomou a iniciativa quando capturou trezentos navios
franceses sem declarar guerra, e em seguida, com o Acordo de Westminster (1756), pelo qual
estabelece uma aliança militar com Frederico II da Prússia para defender Hanôver de um
possível ataque francês.
A França, por sua vez, com os dois tratados de Versalhes (1756 e 1757) obteve a promessa de
aliança de Maria Teresa de Áustria e de seu ministro Kaunitz. Maria Teresa também se aliou
com Isabel da Rússia.
Ao longo dos sete anos, 1756-1763, as grandes potências europeias levam a guerra às suas
possessões em todo o mundo. Enquanto nas colônias americanas e da Índia os sucessos
pertencem aos Ingleses, e apesar da tentativa do Pacto de Família com os Bourbons da
Espanha, na Europa, numa fase inicial, a aliança franco-austríaca é bem-sucedida, contando
com a ajuda dos príncipes alsacianos, da Suécia e do Império Russo.
A guerra na Europa teve início no verão de 1756, quando Frederico II da Prússia resolveu,
preventivamente, atacar o Eleitorado da Saxônia, estado do Sacro Império Romano-Germânico
aliado da Áustria de Maria Teresa, e ocupar a capital, Dresda. Em poucas semanas, ele logrou
capturar a totalidade do exército saxônico (18 mil homens) em Pirna. Adiantava-se, assim, ao
iminente ataque preparado contra o Reino da Prússia pela coalizão formada pela Monarquia de
Habsburgo, Império Russo, Suécia, Eleitorado da Saxônia e França.
Embora tivesse o melhor exército da Europa, a situação estratégica da Prússia era preocupante.
A Prússia, como um todo, estava ameaçada ao norte pela Suécia (que dispunha de um exército
pequeno) e pela Áustria ao sul. A oeste, um punhado de príncipes alemães, fiéis a Maria Teresa,
formara um exército contrário a Frederico e que viria a operar na Saxônia. A noroeste, o
Hanôver, apoiado por tropas britânicas, oferecia uma ilusória proteção aos prussianos. A leste,
a neutra Polônia era uma nação permeável às tropas russas que, em um primeiro momento,
estavam interessadas em ocupar a Prússia Oriental.

Operações da Guerra dos Sete Anos em 1756


Durante o ano de 1756, as tropas prussianas conquistaram uma série de vitórias. Frederico II
invadiu a Boêmia e, em 6 de maio de 1757, bateu os austríacos na disputada Batalha de Praga.
Mas no dia 18 de junho, Frederico acabou sendo derrotado pelo marechal austríaco Daun em
Kolin, o que o obrigou a abandonar a Boêmia. A Prússia, a partir de então, foi obrigada a
enfrentar uma guerra defensiva em três frentes: a Suécia atacou a Pomerânia; as tropas russas
invadiram a região oriental do território prussiano, obtendo uma importante vitória; a França
penetrou na Prússia ocidental e os austríacos marcharam sobre a Silésia.
Apesar da inferioridade do exército de Frederico ante as tropas inimigas, o rei obteve duas
grandes vitórias em 1757: em 5 de novembro infligiu uma esmagadora derrota a um exército
franco-germânico em Rossbach e, em 5 de dezembro, esmagou os austríacos em Leuthen, na
Silésia, salvando a Prússia de uma invasão.
Frederico foi muito pressionado em 1758, mas derrotou, em Zorndorf, as tropas russas, que
ameaçavam Berlim, e fez com que recuassem para Landsberg e Königsberg. Ferdinando de
Brunsvique protegeu seu flanco ocidental com um exército anglo-hanoveriano. Na Batalha de
Hochkirch, no entanto, o inesperado ataque dos austríacos obrigou o rei prussiano a recuar até
Dresda. Em agosto de 1759, Frederico sofreria a sua mais terrível derrota, em Kunersdorf, ao
atacar uma força austro-russa reunida a leste do rio Oder. Apenas o desentendimento entre as
tropas austríacas e russas e a logística podem explicar a salvação de Berlim naquele ano.
Em situação precária, o rei recuperou sua capacidade ofensiva graças a um novo tratado com a
Inglaterra, que lhe forneceu a ajuda financeira necessária ao prosseguimento da guerra. Em
1760, as tropas prussianas iniciaram seu avanço em direção à Silésia, onde venceram os russos
e os austríacos. As forças militares do monarca prussiano, embora prodigiosas, começavam a
mostrar sinais de esgotamento. Nesse mesmo ano seria travado o último grande combate de
Frederico II: a Batalha de Torgau, em que prussianos e austríacos sofreram pesadas baixas.
Ocorreu então o que é chamado pelos historiadores austríacos de o milagre da Casa de
Brandemburgo: com a morte da czarina Isabel, em 1762, subiu ao trono russo seu sobrinho,
Pedro III, que nutria grande admiração por Frederico e pela Prússia. Rompeu-se assim a
coalizão antiprussiana. O novo czar não apenas reverteu sua política e assinou um armistício
com Frederico II (deixando o rei livre da frente oriental), como também atuou como mediador
entre prussianos e suecos. Pôs seu exército à disposição do rei e se juntou aos prussianos para
expulsar os austríacos da Silésia. Pedro III foi assassinado meses depois de subir ao trono, mas
sua viúva e sucessora, Catarina II da Rússia, manteve a paz com a Prússia.
Em 1761 a Espanha entra na guerra ao lado da França e, no ano seguinte, um exército franco-
espanhol invade Portugal, até então um país neutro, mas importante aliado comercial da
Inglaterra (ver: Invasão espanhola de Portugal). Por três vezes franceses e espanhóis invadem
Portugal e em todas as três tentativas são expulsos pelos exércitos anglo-portugueses
comandados pelo Conde de Lippe.
Paralelamente aos conflitos nos campos de batalha da região central da Europa, os combates
travados entre a Inglaterra e a França pela posse das colônias da América do Norte e das Índias
estenderam-se às Índias Ocidentais, oeste da África, Mediterrâneo, Canadá e Caribe.
A ocupação da ilha de Minorca, então possessão inglesa, pelos franceses, em 1756, provocou o
bloqueio inglês às costas da França em Toulon e Brest, o que deixou indefeso o Canadá francês
diante dos ataques lançados pelos ingleses às colônias ao sul do rio São Lourenço.
Em julho de 1757, o primeiro-ministro Pitt, o Velho, subiu ao poder na Inglaterra e conduziu a
guerra com habilidade e vigor. Enquanto a França via-se limitada pelos seus compromissos
continentais, a Grã-Bretanha tomava o controle do Atlântico e isolava as forças francesas na
América do Norte. Precisando de reforços, Louisbourg caiu em 1758. O ano de 1759 foi de
vitórias britânicas — Wolfe capturou a cidade de Québec, Ferdinando derrotou o exército
francês em Minden e Hawke destruiu a frota francesa na baía de Quiberon. Com a tomada de
Montreal, em 1760, depois das vitórias navais britânicas da baía de Quiberon e Grandes Lagos,
todas as possessões francesas no Canadá passaram às mãos dos ingleses, que conquistaram
ainda alguns portos do Mediterrâneo.
Na Índia, Robert Clive havia conseguido o controle de Bengala em Plassey. Os franceses se
renderam nas Índias em 1761. O almirante Boscawen atacou com sucesso as Índias Ocidentais
francesas. Em 1761, a Espanha entrou na guerra e Pitt renunciou. A França assinara com a
Espanha o chamado Pacto de Família, o que provocou a invasão de Cuba pela Inglaterra e a
ocupação de Manila, nas Índias Ocidentais. Até o ano de 1763, os britânicos controlavam a
Havana espanhola e todas as ilhas francesas, com exceção de Santo Domingo.
Um dos objetivos da Espanha, nessa guerra, era atacar Portugal, até então um país neutro, mas
importante aliado comercial da Inglaterra. Em 9 de maio de 1762, a Espanha invadiu o
território português na Europa e também decidiu atacá-lo na América do Sul, e em particular
tomar a colônia portuguesa de Sacramento, no Rio da Prata. Enquanto isso, na Inglaterra, um
plano de invasão do Rio da Prata estava sendo elaborado desde o início de 1762, contando com
a Colônia do Sacramento como base de apoio. Esse plano envolvia o governo português,
liderado pelo Marquês de Pombal, o gabinete inglês de Thomas Pelham-Holles e a Companhia
Britânica das Índias Orientais. De acordo com o plano, a Banda Oriental (Uruguai) ficaria para
os portugueses e a Banda Ocidental (Argentina) para os ingleses (territórios até então
pertencentes ao Vice-Reino do Peru).
A tentativa de invasão anglo-portuguesa ao Rio da Prata falhou. A Colônia do Sacramento foi
ocupada pelas forças espanholas em 2 de novembro de 1762 e, em reposta à tentativa de
invasão, os espanhóis invadiram o sul do Brasil tomando quase toda a Capitania de Rio Grande
de São Pedro, que permaneceu ocupada pelos espanhóis durante 14 anos até ser reconquistada
pelos portugueses na Guerra Hispano-Portuguesa de 1776-1777.[9]

A paz
Todos estavam dispostos a um acordo de paz. No cômputo global do conflito, a Inglaterra e o
Reino da Prússia foram os grandes vitoriosos.
Em 1762, o Tratado de São Petersburgo devolveu a Pomerânia ao Reino da Prússia, antigo
território Germânico, tomado pelos Suecos na Guerra dos Trinta Anos. Pelo Tratado de Paris,
firmado em 1763, franceses, austríacos e ingleses assinaram a paz. No acordo firmado, os
ingleses ganham o Canadá e parte da Louisiana, Flórida (que foi cedida pela Espanha), algumas
ilhas das Antilhas (São Vicente e Granadinas, Tobago, Granada, São Luís), e feitorias costeiras
do Senegal, na África, além de ter de reconhecer todas as conquistas inglesas nas Índias
Ocidentais. A favor da Espanha, para compensá-la dos prejuízos advindos da guerra, a França
cedeu o resto da Louisiana e Nova Orleans. Os franceses também perderam toda a influência na
Índia.
Finalmente, em 15 de fevereiro de 1763, foi firmada a paz definitiva em Hubertusburgo. Pelo
Tratado de Hubertsburg, a Áustria renunciou definitivamente à Silésia e a cedeu à Prússia,
enquanto a Polônia era dividida pela primeira vez, ocupada pelo Reino da Prússia, Império
Russo e Monarquia de Habsburgo.
A Prússia se afirma como concorrente da Áustria na liderança dos estados alemães, lançando as
bases do futuro Império Alemão. As importantes vitórias inglesas sobre a França, solidificadas
no Tratado de Paris, lançam as bases do futuro Império Colonial Britânico.
Na América do Sul, de acordo com o Tratado de Paris, a Espanha devolveu a Colônia do
Sacramento a Portugal, porém manteve os territórios ocupados no sul do Brasil, aumentando a
frustração dos portugueses.

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