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FOZ DO IGUAÇU
2018
O presente estudo tentará apresentar uma abordagem quali-quantitativa sob a perspectiva
da teoria da estabilidade hegemônica, identificando o exercício de hegemonia militar não
tradicional pelo Reino Unido durante o período de 1816-1830. No período escolhido
notamos a ausência de guerras centrais e localizadas, a redução dos efetivos militares do
Reino Unido, o entusiasmo decrescente pelas intervenções militares na Europa e no mundo
extra europeu e um notável grau de predomínio global em 1815, graças à sua combinação
de domínio naval, crédito financeiro, habilidade comercial e diplomacia de alianças.
Utilizaremos do método de abordagem hipotético dedutivo e empregando quadros e revisão
bibliográfica (artigos internacionais, nacionais, livros, teses e dissertações). O estudo apoia-
se numa pesquisa descritiva, da interação entre os recursos econômicos e militares e
buscaremos demonstrar que o Reino Unido exerceu uma forma não tradicional de
hegemonia militar, principalmente, a partir de critérios não tradicionais: exército permanente
de pequenas proporções, força naval robusta, império colonial em expansão e sem rival,
controle e domínio das finanças.
Podemos, então, afirmar que o fim das guerras napoleônicas marcou o início de um
sistema internacional baseado numa multipolaridade e no equilíbrio de poder entre as
Potências europeias que durou cem anos até a Primeira Guerra Mundial. Sem dúvida, foi o
mais longo período de paz da história da Europa.
Para Kissinger (1999, p. 81):
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O mentor da Santa Aliança foi o Czar Alexandre. Imbuído de certezas conservadoras e “iluminado”
pelo misticismo, o czar russo articulou a Santa Aliança em contraposição a Quádrupla Aliança.
O segundo é o tratado conhecido como o da Quádrupla Aliança, entre os 4 Grandes
(Inglaterra, Rússia, Áustria e Prússia) em 20 de novembro de 18155.
Na visão de Kissinger (1999, p. 86-87):
No início do século XIX, a França era olhada com a mesma apreensão que
viu a Alemanha do século XX – como potência cronicamente agressiva e
inerentemente desestabilizadora. Devido a isso, os estadistas em Viena
forjaram a Quádrupla Aliança, com o objetivo de cortar no nascedouro, pela
força incontrastável, quaisquer tendências francesas ainda em brotação. Se
os vencedores reunidos em Versalhes, em 1918, criassem uma aliança
igual talvez o mundo não tivesse uma Segunda Guerra Mundial.
A Santa Aliança era totalmente diferente; a Europa não assistira coisa igual
desde que Ferdinando II deixara o trono do Sacro Império Romano, quase
dois séculos antes. Foi proposta do czar russo, que não conseguiu
esquecer a missão auto imposta de revisão do sistema internacional e a
reforma de seus participantes (...) A Santa Aliança foi o aspecto mais
original do acordo de Viena.
A partir de 1815, a ação dos países europeus intensificou-se em escala mundial. Por
exemplo, os objetivos da política externa britânica eram pela ampliação do liberalismo
político-econômico, comércio e constitucionalismo. Os britânicos atuaram – direta e
indiretamente – na independência das colônias espanholas e portuguesas na América e na
organização dessas novas nações americanas. De forma estratégica, anexou territórios
ultramarinos que lhe garantiam uma maior integração entre os centros de seu crescente
império global (Colônia do Cabo e Ceilão, e vantagens geoestratégicas no controle do
Mediterrâneo, como Gibraltar e as Ilhas Iônicas).
Os russos estavam atentos e interessados na decadência e da fragmentação
territorial do Império Otomano. A saída para as águas quentes era uma obsessão russa de
expansão e desenvolvimento da força naval. Isso explica a rivalidade entre a Inglaterra e
Rússia no século XIX.
Na concepção de Fernandes (2011, p. 81): “A tradição inglesa na política externa,
marcada pela cautela e o pragmatismo, não poderia ser conciliada ao milenarismo russo,
que viria a se manifestar de forma secular no século seguinte na forma do comunismo
soviético”. A Guerra da Crimeia seria um reflexo desse choque de interesses.
Por fim, a Europa que emergiu do Congresso de Viena era legitimista, clerical,
desigual, aristocrática e, principalmente, reacionária. Vale frisar que os movimentos ligados
ao “fantasma da revolução de 1789” não desapareceram.
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Houve três ondas revolucionárias: 1820, 1830 e 1848.
Entre 1760 e 1830, o Reino Unido foi responsável por cerca de “dois terços
do crescimento da produção industrial da Europa”, e sua parcela da
produção mundial de manufatura pulou de 1,9% a 9,5%, nos 30 anos que
se seguiram, a expansão industrial britânica elevou esse número para
19,9%, apesar da difusão da nova tecnologia a outros países do Ocidente.
Mais ou menos em 1860, provavelmente a época que o país alcançou seu
zênite em termos relativos, o Reino Unido produziu 53% do ferro do mundo,
e 50% do carvão e lignita, tendo consumido pouco menos da metade do
algodão bruto produzido pelo mundo. “Com 2% da população mundial e
10% da população da Europa, o Reino Unido parece ter evidenciado uma
capacidade, nas indústrias modernas, igual a 40-45% do potencial do
mundo, e 55-60% do potencial da Europa. Seu consumo de energia de
fontes modernas (carvão, lignita, petróleo) em 1860 era cinco vezes o dos
Estados Unidos ou Prússia/Alemanha, seis vezes o da França e 155 vezes
o consumo da Rússia! A Grã-Bretanha, sozinha, era responsável por um
quinto do comércio mundial, mais de dois quintos do comércio e bens
manufaturados. Mais de um terço da marinha mercante do mundo usava a
bandeira britânica, e essa parcela aumentava constantemente (KENNEDY,
1989, p. 151).
Esses dados, essas estatísticas evidenciam uma posição de domínio sem igual pela
Grã-Bretanha, mas vale ressaltar uma observação que se apoia na análise de Kennedy
(1989, 151-152):
1816 1830
Fonte: Elaboração do autor (Augusto César Dall’Agnol) a partir de dados de CORRELATES OF WAR-
COW (2016a).
Fonte: Elaboração do autor (Augusto César Dall’Agnol) a partir de dados de CORRELATES OF WAR-
COW (2016a).
1864 1826
Grã-Bretanha
1862 1828
Rússia
1860 1830 França
Áustria/Áustria-Hungria
1858 1832 Prússia/Alemanha
Piemonte/Itália
1856 1834
1854 1836
1852 1838
1850 1840
1848 1842
1846 1844
Fonte: Elaboração do autor (Augusto César Dall’Agnol) a partir de dados de CORRELATES OF WAR-
COW (2016a).
4) Considerações finais
Consideramos que o Reino Unido exerceu uma forma especial de hegemonia não
tradicional. Com poucos recursos utilizados para as forças militares e pouca população em
comparação com as demais potências, os britânicos optaram por manter uma força naval
irresistível, um império colonial em expansão, e tendo o domínio das finanças. Notamos que
a teoria da estabilidade hegemônica se aplica em virtude dos britânicos buscarem assegurar
uma ordem liberal, implementação de comércio livre de barreiras e impedimentos de toda
sorte e até mesmo a garantia de uma moeda de troca internacional (ouro).
5) Referências
GONÇALVES, Joanisval Brito; ODON, Tiago Ivo; FILHO, Dario Alberto de Andrade.
Introdução às Relações Internacionais: teoria e história. Brasília, Senado Federal, Instituto
Legislativo Brasileiro, 2009.
HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988.
JACKSON, Robert; Sorensen, George. Trad. Bárbara Duarte. Rio de Janeiro, Jorge Zahar
Ed. 2007.
SARAIVA, José Flávio Sombra (org). História das relações internacionais contemporâneas:
da sociedade internacional do século XIX à era da globalização. São Paulo, Saraiva, 2008.