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XVIII
No Século XVIII, o exercício do poder ficou limitado, pois o sistema não toleraria
tentações hegemónicas.
Como é que o equilibro do poder pode ser prejudicado?
Se um dos grandes países aumenta o seu poderio ao ponto de ameaçar
conseguir a hegemonia
Quando um dos Estados (até então secundário) procura alcandorar-se ao
nível das grandes potências
O sistema vestefaliano enfrentou ambas as provas ao longo do séc. XVIII:
Contrariando o ímpeto hegemónico de Luís XIV
Reajustando o sistema em resposta às exigências de equiparação do
estatuto por Frederico, O Grande, da Prússia
A primeira metade do séc. XVIII foi marcada pelo esforço de contenção da
França e a segunda foi moldada pelo esforço da Prússia para encontrar um lugar
entre as grandes potências.
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A política internacional de Luís XIV teve então dois objetivos básicos:
Consolidar a hegemonia francesa na Europa
Estender os seus domínios até à fronteira do Reno
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A Guerra da Sucessão Austríaca (1740-1748) escalou e acabou por envolver a
maioria dos poderes da Europa.
Aliados:
Áustria Grã-Bretanha, República Holandesa (inimigos da França), Reino da
Sardenha, Eleitorado da Saxônia
França Prússia, eleitorado da Baviera
Frederico:
Renovou a sua aliança com os Franceses (Prússia <3 França)
Invadiu a Boémia em 1744 iniciando a Segunda Guerra da Silésia
(1744-1745)
Não obteve sucesso, mas a pressão francesa sobre o aliado da Áustria (a Grã-
Bretanha), levou a uma série de tratados e acordos, culminando em, 1748,
com o Tratado de Aquisgrão restaurou a paz e concedeu à Prússia a
maior parte do território da Silésia
Humilhada pela cessão da Silésia, a Áustria buscou uma aliança segura com a
França e a Rússia (“a Revolução Diplomática”). A Prússia buscou uma
aproximação com a Grã-Bretanha.
Quando Frederico invadiu a Saxônia e a Boémia, em apenas poucos meses
de 1756-1757, deu início à Guerra dos Sete Anos (1756-1763).
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- Estimulou o ensino básico, tendo ele mesmo baixado o princípio de instrução
primária obrigatória para todos.
- Apesar da expulsão dos jesuítas de quase todos os países da Europa, pelas
suas ligações com o papado, atraiu-os para a Prússia por causa das suas
qualidades como educadores.
- A tortura foi abolida e um novo código de justiça foi organizado. Exigia
obediência total às ordens, mas permitia liberdade de expressão e de culto.
- Procurou estimular a economia da Prússia, adotando medidas protecionistas,
contrárias, às ideias iluministas. No entanto, preservou a ordem social existente.
- A Prússia permaneceu um Estado Feudal, com servos sujeitos à classe
dominante dos proprietários, chamados junkers.
Os junkers constituíram-se como uma classe aplicado às técnicas modernas da
produção económica e paralelamente foram alçados por Frederico II da Prússia
a um monopólio absoluto sobre os quadros civis e militares do reino. Nesse
sentido, a versão prussiana do despotismo esclarecido desenvolveu-se com a
combinação trazida pelos Junker entre grandes avanços técnicos para a
burocracia estatal e contribuições quase nulas no plano da cultura cosmopolita
e das liberdades cívicas.
Na Prússia do séc. XVIII, as classes mercantis urbanas não ganharam destaque
político e predominou na construção do Estado a posturado autoritária e
fechada da aristocracia Junker.
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De acordo com tais visões, grande parte das guerras ocorridas após o início da
Revolução Francesa (1789-1799) e durante a Era Napoleônica (1799-1815)
resultou numa tentativa da França de se tornar a potência hegemônica na
Europa, mas acabou derrotada por uma coalizão liderada pela Inglaterra.
Ainda assim, os ideais das Revolução deixaram legados importantes para as RI,
em especial com as noções de Estado-Nação e de autodeterminação nacional.
Revolução = mudança política brusca, geralmente violenta (mas nem sempre),
com a derrubada de um regime e a luta pela construção de outro novo. Esta
rotura na ordem vigente busca efetuar alterações estruturais nos ordenamentos
jurídico-político e socioeconómico.
“A passagem do Ancien Régime para a sociedade moderna é consumada na Franca com uma
rutura e uma brutalidade únicas. Do outro lado do Canal da Mancha, na Inglaterra, o regime
constitucional foi instaurado progressivamente, as instituições representativas advêm do
parlamento, cujas origens remontam aos costumes medievais. No século XVIII e XIX, a
legitimidade democrática substitui-se à legitimidade monárquica sem a eliminar totalmente, a
igualdade dos cidadãos apagou pouco a pouco a distinção dos "Estados" (Nobreza, clero e
povo). As ideias que a revolução francesa lança em tempestade através da Europa: soberania
do povo, exercício da autoridade conforme a regras, assembleias eleitas e soberanas,
supressão de diferenças de estatutos pessoais, foram realizadas em Inglaterra, por vezes mais
cedo do que em França.” – Raymond Aron
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tributário ineficiente e os custos de várias grandes guerras (Guerra dos Sete
Anos e Guerra Revolucionária Americana).
As consequências foram trágicas para as classes mais baixas e a corte real
mantinha-se isolada e indiferente à crise crescente na nação.
- Má gestão política do rei Luís XVI: o rei governava com poderes absolutos
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Inglaterra) temendo que o exemplo francês se refletisse nos seus territórios,
fortaleceu a coligação contra a França
1794: Robespierre foi executado e acusado de tirania
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A palavra “Nação” já existia sob o Antigo Regime, mas é com a Revolução
Francesa que passa a ocupar um lugar central no novo direito público.
A ideia de nação é, portanto, beneficiária da transferência, jurídica e emocional,
dos atributos da soberania da pessoa do rei para esta nova entidade coletiva.
São os primórdios do moderno conceito de Estado-Nação, a partir do qual se
concebe que os laços nacionais devem garantir coesão e administração de uma
população linguística e culturalmente unificada e motivar a aquiescência
(consentimento) dos seus membros a instituições baseados numa identificação
presumida entre governantes e governados.
Substituiu-se a legitimação do poder através da origem divina dos
mandatos régios pela legitimação através da vontade da maioria que se
impunha juntamente com a conceção de um contrato social entre
governantes e governados. Ou seja, uma das implicações políticas mais
relevantes do evento revolucionário de 1789 foi a substituição da noção
de soberania absoluta do monarca pela construção gradativa da ideia de
soberania popular.
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Em 1794, os africanos escravizados que trabalhavam nas lavouras de cana do
açúcar no Haiti conseguiram o fim da escravidão após uma sanguinária guerra
de independência. Era o primeiro país do continente a pôr fim à escravidão.
No Brasil, a Conjuração Baiana (ou Revolta dos Alfaiates) de 1798 também foi
fortemente influenciada pelos acontecimentos da Revolução Francesa.
A Era Napoleónica
Napoleão queria reverter a multipolaridade – que tinha sido elemento definidor
do sistema internacional europeu – e instalar um império.
Ele desejava, assim, limitar a independência dos demais Estados e não procurar
ajustar o equilíbrio de poder, mas antes abandonou-o, desejando um poder
imperial. Napoleão propôs-se o domínio e a unificação da Europa.
Ano de 1809 – sob a sua brilhante liderança militar, os exércitos franceses
teriam esmagado toda a oposição na Europa Ocidental e Central, recompondo o
mapa do continente segundo uma nova conceção geopolítica.
Napoleão anexaria territórios fundamentais à França e estabeleceu em outras
repúblicas satélites, muitas governadas por familiares ou marechais do seu
exército.
Em toda a Europa passou a vigorar um código jurídico comum. Foram
promulgadas dezenas de disposições sobre assuntos económicos e sociais.
Tornar-se-ia Napoleão o unificador de um continente dividido desde a queda de
Roma? Dois obstáculos permaneciam: a Inglaterra e a Rússia.
Com a expansão e o crescimento económico e militar, a França passava a
representar uma ameaça cada vez maior para a Inglaterra. Efetivamente, o
conflito fundamental foi travado por Inglaterra e França:
a Revolução trouxe ao poder em França uma burguesia com apetites
ilimitados, e a sua vitória pressupunha a destruição do comércio inglês e
uma salvaguarda contra uma recuperação futura da Inglaterra.
Do ponto de vista dos ingleses, o conflito era quase totalmente
económico. No entanto, o Reino Unido também não estava feliz com as
várias ações tomadas pela França após a assinatura do Tratado de
Amiens.
Napoleão Bonaparte havia anexado:
- Piemonte e a Ilha de Elba
- Proclamou-se presidente da República Italiana (Estado criado pela França)
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A Inglaterra, protegida pelo Canal da Mancha, esperou por Napoleão e por
algum erro que permitisse aos ingleses regressar militarmente ao continente
como defensores do equilíbrio do poder.
Uma nova coligação procurava conter as ambições de Napoleão Bonaparte, que,
em 1804, se tornara o imperador Napoleão I. Estas ações provocaram a entrada
da Inglaterra na guerra, seguida pela Áustria, Nápoles, Rússia e Suécia.
Ao contrário do fracasso com os ingleses, os franceses venceram os outros
inimigos da coligação: Áustria em 1805, Prússia em 1806 e Rússia em 1807.
Com o Bloqueio Continental de 1806, Napoleão determinava que os
Estados europeus fechassem os seus portos ao comércio com Inglaterra,
enfraquecendo as suas exportações. Na política da armadilha e da
intimidação, Estados neutros foram explorados e atacados. Nápoles e
Hanover foram ocupados em 1803; Portugal em 1807.
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O imperador francês foi novamente exilado, desta vez na distante ilha de
Santa Helena, onde viria a morrer em 1821.
Luís XVIII reassumiu o trono francês com o apoio do Congresso de
Viena.
Chegaram ao fim as Guerras Napoleônicas.
O falhanço da Europa, isto é, de várias e sucessivas coligações, para conseguir
um equilíbrio contra Napoleão, ficou-se a dever não apenas à destruição, por
parte de Napoleão, das potências que se lhe opunham, mas também ao facto de
ele querer estar nas boas graças dos Franceses, algo que, Napoleão sabia,
estava dependente no facto de ele conseguir aparentar, bem como na
realidade, ter um poder hegemónico.
Mas as guerras de Napoleão, apesar de envolverem grandes massas de homens,
e muitas vezes, baixas pesadas, destinavam-se a serem rápidas e não a
prolongarem-se:
- Tecnicamente, os velhos exércitos eram mais treinados e disciplinados e, onde
essas qualidades eram decisivas (como na guerra naval), os franceses foram
sensivelmente inferiores.
Porém, eles eram imbatíveis em organização improvisada, mobilidade,
flexibilidade, coragem ofensiva e moral de luta.
Os governos franceses tiraram vantagem das linhas internas de comunicação e
de transporte, recursos novos conquistados e inovações como o levante em
massa.
“A batalha ideal Napoleônica era manipular o inimigo numa posição não favorável através de
manobras e ardis, forçando-o a mandar as suas principais forças e reservas para a batalha
principal e depois realizar um ataque envolvente com as tropas não comprometidas ou as
reservas no flanco ou por trás. Tal ataque surpresa ou daria um duro golpe na moral inimiga ou
o forçaria a quebrar as suas linhas. Ainda assim, a própria impulsividade do inimigo começava
o processo onde um pequeno exército francês poderia derrotá-los um a um. “Donald
Sutherland”
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sobretudo na Rússia de 1812 e, mais tarde, quando o resto da Europa se uniu
contra ele.
- Existia diplomacia durante o conflito, que era seguida por acordos que
adiantavam os seus objetivos.
A Arte da Guerra
A guerra está no centro das RI e da disciplina das RI.
O seu estudo mais conhecido é o de Carl von Clausewitz (1780-1831), Da
Guerra (publicado posteriormente e inacabado em 1831).
Clausewitz é famoso pela sua máxima “a guerra não é mais do que a
continuação da política por outros meios”.
Este procurou apresentar a arte da guerra não como moral ou imoral, mas como
um fenómeno presente através da História que podia ser estudado, não como
uma ciência exata, porque o papel do acaso e do que ele chamava uma
imprevista “fricção” no combate, mas sim como um campo da atividade
humana. Para Clausewitz, a guerra é uma atividade social como o comércio, a
litigação ou a política.
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O Congresso de Viena: importância nas Relações Internacionais
De setembro de 1814 a julho de 1815
No fim de vários anos de um quase constante estado de guerra e do “fazer” e
“refazer” das “nações”, os antigos regimes ficam muito alterados, exceto a
autocracia russa, pela necessidade de mobilizar os seus povos.
Iniciaram a difícil tarefa de restaurar a Europa dos tradicionais estados
dinásticos brutalmente equilibrada através da diplomacia e da guerra limitada.
O Congresso de Viena, tal como os que se lhe seguiram operaram num contexto
radicalmente novo: a velha Europa na qual um soberano podia reivindicar ser o
Estado, tinha sido erradicado e quando a paz foi restaurada as “velhas garrafas”
do passado tinham de conter o “novo vinho” dos exércitos de cidadãos, política
popular e nacionalismo.
Nesta época, os Estados parecem menos bolas de bilhar da teoria das RI que
teorias maleáveis e políticas de divisão, e a soberania doméstica algo dúbio e
desafinada.
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Este momento foi também o do regresso à paz e a uma certa “doçura de
viver”, em torno de festas brilhantes, mesas sumptuosas e alcovas que
não guardaram todos os segredos. O congresso não anda, dança” gracejou
injustamente o príncipe de Ligne.
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Clemens von Metternich (1773-1859), o ministro austríaco, figura central
nos assuntos europeus não apenas na conferência, também nas décadas
subsequentes
Metternich afirmou: “Não é necessária muita perspicácia política para se verificar que este
Congresso não podia seguir o modelo de nenhum outro que já tivesse tido lugar”.
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Viena não tentou restaurar, de forma fac-similada, a Europa que Napoleão tinha
destruído. As questões-chave envolviam o destino da Saxónia, o futuro de
outros estados alemães, outrora parte do defunto Sacro Império Romano
Germânico e o caráter da associação dos que sobreviveram numa nova Bund
(União) ou federação.
As reivindicações, incluindo as do Papa, ou dos Bourbon espanhóis
legitimistas, acerca de partes da Itália, a disposição de grandes territórios
da Europa central outrora parte do dividido Reino da Polónia.
Os Países Baixos tornaram-se um amortecedor entre a França e a Prússia
ao juntar a Bélgica e a Holanda num único estado. Os estados alemães da
Saxónia e da Baviera faziam a mesma função entre a Áustria e a Prússia.
Em vez de uma restauração contenciosa de um Sacro Império Romano
Germânico dominado pelos Habsburgo, criou-se uma nova
“Confederação Germânica” que ficou sob a presidência da Áustria –
suficientemente forte para desencorajar a agressão francesa, mas muito
fraca, ela própria, para ameaçar o equilíbrio europeu.
Tal como a Paz de Vestefália mais de um século e meio antes, Viena foi um
exemplo pouco usual de multipolaridade mais do que negociações bilaterais,
uma conferência deliberando sobre vastas questões.
A multipolaridade de Viena era largamente restrita às Grandes Potências,
dificilmente influenciada por muitos dos estados menos importantes, cujos
destinos foram decididos à volta das mesas do Congresso.
O Congresso de Viena traçou as linhas do tabuleiro político da Europa da
primeira metade do séc. XIX.
Teve o grande mérito de conseguir obter a paz mediante o acordo entre as
diversas potências, incluindo o país vencido, no que constituiu um assinalável
sucesso da diplomacia. No entanto, as expetativas da cimeira eram limitadas e
não correspondiam a uma resposta para os novos desafios do séc. XIX.
Uma vez que envolveu a vitória das monarquias europeias sobre a França
revolucionária, correspondeu, portanto, a um reforço dos modelos políticos
tradicionais, ou seja, das monarquias absolutas, rejeitando os princípios do
liberalismo emergente e preconizando o regresso à velha ordem social e
política do séc. XVIII.
Desse modo, não resolveu a questão dos nacionalismos europeus, que vieram
a despontar por toda a Europa pouco depois e que viriam a marcar e a definir
toda a história europeia do séc. XIX.
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Novidades resultantes do Congresso
- Conceito de equilíbrio do poder, através de uma hegemonia coletiva que dará
origem ao Concerto Europeu (sistema de conferências periódicas para proceder
aos ajustamentos necessários à ordem e a evitar a guerra generalizada,
constituindo-se como um sistema de segurança coletiva).
- Princípio das Nacionalidades, que ao longo do séc. XIX teve o apoio do
movimento romântico, apologista dos critérios da raça e da língua
- Liberdade de circulação nos rios Reno e Danúbio
- Condenação do tráfico de escravos, sob proposta da Grã-Bretanha. Esta
atitude antiescravagista marcou toda a política externa britânica ao longo do
séc. XIX. Ao apoiar as lutas independentistas e o movimento antiescravagista, a
Grã-Bretanha viria a controlar por completo as economias destes países.
- Formação da Santa Aliança: formada em setembro de 1815, aliança
conservadora entre as monarquias da Prússia, da Rússia e da Áustria (7 A
Inglaterra, embora tenha participado de todas as coligações formadas para combater
Napoleão Bonaparte, nunca aderiu à Santa Aliança em razão da ideologia antiliberal que
estava no centro do grupo, bem como pelo facto de ter interesses no comércio com as jovens
nações (colónias), que defendia o princípio da legitimidade monárquica e que se
revestia de um caráter contrarrevolucionário.
Estes Estados Conservadores procuravam erguer barreiras contra a nova vaga
de revoluções, defendendo a adoção de mecanismos para a preservação da
ordem legítima, ou seja, da monarquia.
Foi, assim, uma forma de garantir a realização prática das medidas que foram
aprovadas pelo Congresso de Viena, bem como impedir o avanço corruptor das
ideias liberais e constitucionalistas, muito espalhadas com a Revolução Francesa
e que haviam criado revoltosos um pouco por toda a Europa.
- Formação da Quadrupla Aliança: firmada em novembro de 1815, entre o
Império Austríaco, Grã-Bretanha, Reino da Prússia e Império Russo *(PRAG) e,
com admissão da França em 1818, tornou-se a Quíntupla Aliança.
*O negociador inglês, Lord Castlereagh, por entender que a Santa Aliança tinha por finalidade
última colocar a Inglaterra à margem das questões políticas europeias, garantindo a
proeminência da Rússia na Europa, propôs a criação da Quádrupla Aliança, reunindo a
Inglaterra e as três potências signatárias da Santa Aliança, com o objetivo de realizar consultas
quando a situação política do continente exigisse.
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A ideia de uma garantia territorial não tinha a mesma relevância para
cada um dos signatários. O grau de urgência com que as ameaças eram
percebidas variava substancialmente. A Grã-Bretanha, protegida pelo seu
domínio dos mares, sentia-se suficientemente segura para se abster de
compromissos definitivos em relação a meras contingências. A margem
de segurança dos países continentais era mais estreita, pois
consideravam que a sua sobrevivência podia ser posta em risco por
iniciativas menos dramáticas, como qualquer revolução que ferisse a
questão da legitimidade
O Direito de Intervenção foi defendido pelo ministro austríaco, príncipe
Metternich, segundo o qual as nações europeias interviriam onde quer
que as monarquias estivessem ameaçadas ou onde fossem derrubadas. A
aliança visou a manutenção dos Tratados de 1815, tendo em vista
reprimir as aspirações liberais e nacionalistas dos povos oprimidos*
*Espanha e Portugal faziam parte do acordo, por isso a Santa Aliança tinha o direito de
intervir nas colónias desses países caso se tentassem libertar
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- Ajustamentos Territoriais
Alemanha: ganhos territoriais da Prússia (territórios na margem esquerda
do Reno);
Criação da Confederação Germânica com os 37 Estados Alemães, com
uma Dieta, sob presidência austríaca e vice-presidência prussiana. A
Confederação Germânica era demasiado fragmentada para ações
ofensivas e, no entanto, suficientemente coesa para resistir a invasões
estrangeiras contra o seu território. Assim, este arranjo constituía um
obstáculo a invasão da Europa Central, sem, no entanto, criar uma nova
ameaça nos flancos das duas maiores potências, a Rússia a leste e a
França a ocidente
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Apesar do seu sucesso inicial, o Concerto Europeu foi corroído pelos levantes
revolucionários de 1848, com as suas demandas de revisão do Congresso de
Viena, deixando-o num caminho para a solução de sucessivas guerras que
eclodiram na metade do séc. XIX, como a Guerra da Crimeia (1854-1856),
Guerra de Independência Italiana (1859) e a Guerra Franco-Prussiana (1870-
1871).
Entretanto, ocorreu uma conquista significativa durante o Congresso de Berlim
em 1878, que redesenhou o mapa político dos Balcãs, alterando o velho
equilíbrio de poder e substituindo-o por um sistema de alianças flutuantes. No
início do séc. XX, as grandes potências foram organizadas em duas coligações
opostas. A última conferência foi a Conferência de Londres convocada para
discutir a guerra nos Balcãs. Em 1914, a Grã-Bretanha propôs uma conferência,
mas a Áustria-Hungria e a Alemanha recusaram-se a participar.
Este foi o ano em que a Primeira Guerra Mundial começou.
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O sistema desafiado e reconstruído
Se o Concerto Europeu tinha vindo a perder importância desde 1822 com a
saída inglesa, os acontecimentos seguintes contribuíram para o
enfraquecimento da Santa Aliança, que ainda assim só acabará em 1856, com o
fim da Guerra da Crimeia, onde os ingleses conseguiram opor os seus membros.
Será que o nacionalismo mudou a maneira como o sistema de estado
cooperava? Será que mudaram as razões pelas quais se vai para a guerra?
O nacionalismo étnico foi a segunda grande ideia da política ao longo do
séc. XIX, juntamente com a ideia de revolução.
O longo séc. XIX prolonga-se desde 1815 com o Congresso de Viena, e a
1914, início da I Guerra Mundial.
Este nacionalismo constituiu um poderoso instrumento na criação da Grécia,
na unificação da Itália e na criação do Império Alemão (que deixa de ser
dominado pela Áustria, ao ficar fora das fronteiras do Império Alemão).
É esta a visão de Bismarck, numa ideia de “pequena Alemanha” longe do
domínio da Áustria. O nacionalismo, tal como o patriotismo, tornou-se uma
força enorme, em toda a Europa.
A Década de 20
A partir de 1820 há uma nova vaga de Revoluções Liberais com cariz
nacionalista – Nápoles, Portugal e Espanha.
O objetivo da Santa Aliança é posto em causa.
Em 1821, o Concerto Europeu reúne-se e a Áustria é autorizada a intervir
para suster as revoluções italianas. No ano seguinte, o Concerto aprova a
intervenção francesa em Espanha.
Como consequência, a Grã-Bretanha retira-se da Quadrupla Aliança, já que
a intervenção “esplendido isolamento”.
A campanha francesa é bem-sucedida e Fernando VII é reinstalado como rei
absoluto em Espanha, embora não consiga evitar as revoluções da América
do Sul.
Esta década é ainda marcado por dois grandes acontecimentos:
Doutrina Monroe: proclamada pelos EUA que passam a não admitir
intervenções externas no Hemisfério Ocidental
Vaga de Independências sul-americanas: a Doutrina Monroe, mesmo
com o apoio da Santa Aliança, impede a intervenção das potências
europeias.
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A Década de 30
As Revoluções Liberais voltam à Europa na década de 30:
1829: Os Gregos revoltam-se, com o apoio inglês, contra o Império
Otomano. Após o longo período de conflito e com a ajuda das Grandes
Potências, a independência foi finalmente garantida por meio do Tratado
de Constantinopla em julho de 1832.
O povo grego foi o primeiro a adquirir o estatuto de Estado Soberano frente
ao Império Otomano, sob forma de uma República.
1830: A Revolução em França contra a Restauração dos Bourbon abriu
fissuras através da Europa: o povo de Paris e as sociedades secretas
republicanas, liderados pela burguesia liberal, realizaram uma série de
levantes contra *Carlos X que culminaram com a sua abdicação e o fim
do período conhecido como Restauração Francesa. Luís Filipe subiu ao
trono, num reinado conhecido como a “Monarquia de Julho”.
* Sucedeu o irmão Luís XVIII e reinou de 1824-1830. Se o governo de Luís XVIII foi marcado
pela moderação, a ascensão de Carlos X reviveu o absolutismo de direito divino, o
favorecimento à nobreza e a sufocação da burguesia.
A Década de 40
Em 1842, há uma revolta nos Balcãs, contra o Império Austríaco e apoiada pela
Rússia, que apadrinha os movimentos pan-eslavistas, como meio de
enfraquecer a Áustria e conquistar uma posição na região. Inicia-se um campo
de batalha nos Balcãs: que vai durar até à I Guerra Mundial e de novo em 1990.
A “Questão Oriental” iria atormentar a política europeia de finais do séc. XIX.
1848 é o ano da “Primavera dos Povos” com as revoltas nos Impérios Centrais:
- Como consequência da revolta húngara, o Império Austríaco transforma-se
numa monarquia dualista. Surge o Império Austro-Húngaro.
Surge um acordo da Áustria com a Hungria, passando esta a ter representação
no governo. O Imperador Francisco José e a Imperatriz Elisabete são coroados
na Hungria.
Ainda assim, a Áustria é uma potência em decadência, principalmente face à
Rússia.
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- Restauração da República em França:
A revolução em França de 1848 abriu também fissuras através da Europa, se
bem que por um breve período de tempo.
A desordem revolucionária em Paris em 1848-1849 levou ao aparecimento de
um regime neo-plebiscitário Bonapartista sob o comando de um dos sobrinhos
de Napoleão I, o futuro Napoleão III.
O Segundo Império (1852-70) aumentou os medos tradicionais de um regresso
do Expansionismo francês. Napoleão III procurou não apenas avançar com os
tradicionais objetivos, mas também avançar com o papel hegemónico francês
na Europa. Com a derrota na Guerra Franco-Prussiana, em 1870-1871, chegou
ao fim o Segundo Império Francês.
A Guerra Franco-Prussiana foi um conflito ocorrido entre o 2º Império Francês e o Reino da
Prússia no final do século XIX. O grande objetivo de Bismarck era remover a ameaça da França
à unificação da Alemanha. Durante o conflito, a Prússia recebeu apoio da Confederação da
Alemanha do Norte. A vitória incontestável dos alemães marcou o último capítulo da
unificação alemã, a queda de Napoleão III e do sistema monárquico na França, com o fim do
Segundo Império e sua substituição pela Terceira República Francesa. Também como resultado
da guerra, ocorreu a anexação da maior parte do território da Alsácia-Lorena pela Prússia.
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1859: Napoleão III derrotou a Áustria na Itália.
Nem a Grã-Bretanha, nem a Rússia absolutista queriam “manter o equilíbrio”
contra a França. A derrota na península italiana enfraqueceu a Áustria e
preparou o caminho para o aparecimento de uma Itália unida.
1870: Unificação Italiana; Início da Guerra Franco-Prussiana, onde a Áustria se
mantém neutra.
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1866: Prússia declara guerra à Áustria (guerra das sete semanas), que tem
agora de lutar em duas frentes: a Sul da Itália e a Norte da Prússia. A norte, a
Prússia sai vencedora, conquistando a presidência da Confederação Germânica.
Depois da vitória na Guerra das sete semanas, faltava a Bismarck neutralizar o
seu arqui-inimigo Napoleão III.
A Europa discutia a nomeação de um candidato ao trono espanhol. Bismarck
propôs um príncipe da casa da Prússia, o que era uma clara afronta à França,
tradicional protetora dos interesses espanhóis e aliada da coroa.
Como resposta, Napoleão III, em 1870, declara guerra à Prússia, que acaba em
1871 com a vitória prussiana e a assinatura do Tratado de Frankfurt.
Dava-se início ao processo reformador conducente à total unificação dos
territórios alemães.
O novo Império Alemão corria o perigo de ser olhado como uma espécie de
hegemonia na Europa e que, tal como no passado, urgia um equilíbrio contra
esta nova potência.
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Hungria foi intensificada, tal como as questões de nacionalidade dos
Balcãs.
Em 1884, Bismarck convoca uma segunda Conferência de Berlim que tinha por
objetivo: definir os princípios que iriam presidir à ocupação dos territórios
coloniais.
Estiveram presentes as nações imperialistas do séc. XIX: EUA, Grã-Bretanha,
Dinamarca, Portugal, Espanha, França, Bélgica, Holanda, Itália, Império Alemão,
Suécia, Noruega, Império Austro-Húngaro e Império Turco-Otomano.
Oficialmente, a reunião serviria para garantir a livre circulação e comércio na
bacia do Congo e no rio Níger; e o compromisso de lutar pelo fim da escravidão
no continente.
Contudo, a ideia era resolver conflitos que estavam a surgir entre alguns países
pelas possessões africanas e dividir amistosamente os territórios conquistados
entre as potências mundiais – o “Scramble for Africa”.
Como consequência, o território africano foi dividido entre os países integrantes
da Conferência de Berlim. Um dos resultados finais foi a atribuição de
possessões coloniais a países sem tradição na área – caso da Bélgica e da
Alemanha.
Grã-Bretanha: as suas colônias atravessavam todo o continente e ocupou
terras desde o Norte com o Egito até o Sul, com a África do Sul
França: ocupou basicamente o norte da África, a costa ocidental e ilhas
no Oceano Índico
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Portugal: manteve as suas colônias como Cabo Verde, São Tomé e
Príncipe, Guiné e as regiões de Angola e Moçambique
Espanha: continuou com as suas colônias no Norte da África e na Costa
Ocidental Africana
Alemanha: conseguiu território na costa Atlântica, atuais Camarões e
Namíbia e na costa Índica, a Tanzânia
Itália: invadiu a Somália e a Eritreia. Tentou estabelecer-se na Etiópia,
mas foi derrotada
30
1898-1899: Incidente de Fachoda ou Crise de Fachoda foi um episódio ocorrido
entre 1898 e 1899, quando a França e o Reino Unido decidiram construir
ferrovias para conectar as suas colónias africanas. O cenário de confronto foi a
cidade de Fachoda, hoje no Sudão do Sul, cidade que é situada na interseção
das linhas.
Uma expedição militar francesa foi enviada a Fachoda antes que a força
expedicionária britânica, originária do Egito, chegasse à cidade.
Porém, os franceses tiveram de se retirar da cidade por conta da sua
inferioridade militar. Embora o exército francês continental fosse considerado
maior e mais poderoso que o britânico, nada poderia fazer no contexto africano
sem o devido apoio naval, sendo que a Grã-Bretanha possuía a mais poderosa
marinha do planeta.
Alguns historiadores consideram que este incidente e o aumento da
influência da Alemanha na região foram os precursores do acordo
chamado “Entente Cordiale” (1904), no qual a França reconhecia o
domínio britânico no Egito e, em troca, recebia o domínio sobre
Marrocos e um condomínio anglo-egípcio no Sudão.
Conclusion:
O sistema europeu, em última análise, fracassou por causa da rivalidade entre
as Grandes Potências. A guerra tornou-se inevitável, não por causa dos
compromissos existentes em Tratados secretos e tempos de mobilização, mas
porque os públicos nacionais a esperavam e até a queriam.
Todas as potências assistiram a uma explosão de agitação popular a favor da
guerra.
A crise de julho e o aumento da tensão pode ser descrito como “o medo do
aumento da população, produtividade industrial e poder militar da Alemanha”.
Para alguns académicos a guerra tornou-se inevitável não devido às guerras nos
Balcãs ou por causa do assassinato, mas em 1905, quando a severa e inesperada
humilhação dos russos pelos japoneses, bem como a revolução que se lhe
seguiu danificou fatalmente as perspetivas da eficácia do equilibrado sistema de
alianças na Europa.
O sistema europeu multilateral tornou-se um sistema bipolar armado
A separação das potências europeias em campos opostos tinha sido
evitada durante gerações; o colapso deveu-se à intensa diplomacia
alemã, ameaçadora e de alto risco, designadamente pela aliança França-
Rússia e pela necessidade de os britânicos terem apoio para sustentarem
os seus compromissos mundiais.
31
Quando a guerra geral começou, foi a Áustria-Hungria e a Rússia que
proporcionaram o “Armagedão” – a luta final numa área que muitos
estadistas do séc. XIX pensaram ser vital para os seus interesses nacionais
(os Balcãs).
32
Esta influência resultou em vários problemas para os defensores do livre-
cambismo (livre circulação de bens, sem tarifas alfandegárias) – como a Grã-
Bretanha- em contraste com as potências protecionistas (altas tarifas
alfandegárias como forma de desenvolvimento de uma economia através de
outra economia mais forte) – como a Alemanha.
Conclusion:
A Guerra está cada vez mais dependente da tecnologia industrial das armas e da
capacidade de as pagar – foi graças à sua política protecionista que a Alemanha
pôde desempenhar um papel preponderante na Primeira Guerra Mundial.
É precisamente esta corrida às armas que vai destabilizar o equilíbrio europeu
nos inícios do séc. XX.
Na outra face da moeda, uma economia industrial avançada também significava
um proletariado industrial numerosos, a lealdade do qual era uma preocupação
crescente. Claro que houve quem pensasse que com uma guerra patriótica teria
a vantagem para as elites governantes de distrair as classes proletárias do
internacionalismo socialista.
33
Nos primeiros anos do séc. XX contava mais ter um título académico da Escola
Francesa de Ciência Política, do que ser descendente da aristocracia.
As reformas do serviço público britânico não foram completamente
implementadas no MNE, onde os contactos continuavam a ser uma
forma importante de entrar e pertencer a uma família rica e importante
era pré-requisito.
Na Rússia o processo continuou profundamente aristocrático, apesar de
claros sinais de início de uma tímida meritocracia. Os nobres eram
admitidos por direito pessoal.
34
sobre os territórios e povos não europeus. (apesar de ser uma república, a
França teve o seu império colonial).
Nos finais do séc. XIX, o “Imperialismo” das nações europeias era uma ideologia
expansionista e competitiva*. Era a época dos Impérios.
*As potências aumentavam o seu lucro. As colónias não só aumentavam os recursos que estas
potências podiam empregar dentro do teatro europeu e criaram outra dimensão do conflito e
da negociação.
35
Diplomacia do Imperialismo
- Final do séc. XIX competição intensa na África e na Ásia entre as potências
imperiais por territórios soberanos e esferas de influência.
O Weltmacht (poder mundial) começou a ser visto como algo que definia o
estatuto de Grande Potência. Surgimento de lobbies. (busca interferir diretamente
nas decisões do poder público)
36
povo, sendo que, isso danificou as perspetivas da eficácia do equilíbrio das
alianças com a Europa.
A Situação Económica
A divisão da Europa em dois blocos:
Tríplice Aliança [1882-1915] Tripla Entente
Alemanha, Áustria-Hungria e Itália Grã-Bretanha, França e Rússia
37
Os dois blocos dispunham de clientes na Europa central e oriental.
A Causa Imediata
A 28 de Junho de 1914 o arquiduque herdeiro da Áustria, Francisco Fernando,
e a sua esposa em visita a Sarajevo, durante manobras militares que tem lugar
na Bósnia, território austríaco, são assassinados.
O Despoletar da Guerra
Com o assassinato do Arquiduque Francisco Fernando, a Áustria declara, em
Agosto de 1914, guerra à Sérvia.
Isto aconteceu depois de esta ter aceite apenas parte do ultimato que lhe foi
feito no mês anterior (o ultimato exigia a condenação do estudante e a
repressão dos movimentos anti-austríacos).
A Guerra começa, então, por força das alianças:
- A Áustria é apoiada pela Alemanha, que, face à intensa mobilização interna
russa, lança um ultimato à Rússia para que não entre na Guerra. O ultimato é
recusado e a Rússia decide apoiar a Sérvia.
- Face ao compromisso assumido em 1894, a França alinha-se com a Rússia
(note-se que em julho de 1914, a Alemanha lançou um ultimato à França,
exigindo a sua neutralidade no caso de um conflito entre a Alemanha e a Rússia)
- A Alemanha decide, depois da entrada da França e da Rússia na guerra,
invadir a França, através da Bélgica (levando à entrada da Grã-Bretanha na
guerra) e, numa segunda fase, invadir a Rússia, passando a debater-se com uma
guerra em duas frentes.
- Com a Grã-Bretanha no conflito, os Aliados concertam posições –
inicialmente a 3: Grã-Bretanha, França e Rússia – e depois a 4 com a Itália em
1915.
- Em 1915, o Império Otomano e a Bulgária entram na Guerra ao lado da
Alemanha e da Áustria: o primeiro decide-se a confrontar a Rússia devido às
suas pretensões balcânicas; a Bulgária quer conquistar território perdido na
conferência de Berlim de 1878.
O Ano de 1917
O ano de 1917 é essencial no estudo da 1ªGuerra Mundial.
38
Foi neste ano que o equilíbrio de forças demonstrou que a vitória não poderia
ser assumida como uma certeza pelos Aliados, graças a uma série de
acontecimentos:
A Rússia assina com a Alemanha o Tratado de Brest-Litovsk e sai da
Guerra, devido à Revolução Bolchevique de outubro
Os EUA, com todo o seu poderio militar, entram na guerra ao lado da
Tríplice Entente, assim como Portugal e China*.
O Império Austro-húngaro está em clara fragmentação e a Itália que
combatia ao lado dos Aliados desde 1915, foi derrotada na batalha de
Spoleto, pelas tropas alemãs.
*Além da Tríplice Entente, juntaram-se aos Aliados: a Itália que pertencia a Tríplice Aliança, fez
um acordo com a Inglaterra; os Estados Unidos, pois a Alemanha afundou um navio inglês com
americanos e perdeu o apoio russo, devido as guerras civis internas. Os Estados Unidos
também chegaram a participar da guerra porque viram que os Aliados estavam a perder e
como tinham vendido mercadorias (armas, capacetes, canhões, etc.) que só seriam pagas caso
os Aliados vencessem a guerra, entraram nesta para garantir a vitória dos seus compradores.
Em 1917 também Portugal entrou na guerra ao lado dos aliados, pois via as suas colónias
ameaçadas pelos estados que sairiam vencedores e consequentemente reforçados na
discussão internacional, além de que, as forças alemãs eram uma constante ameaça ao
domínio português nas suas colônias na África. O Brasil, em 1917, também se juntou aos
Aliados no conflito.
39
A Construção da Paz e a Conferência de Paris
O fim das hostilidades no Outono de 1918 fora precedido por declarações e
diligências com vista ao mundo que se havia de forjar na paz.
A diplomacia de guerra empreendida pela Entente gerou uma série de
compromissos secretos pontuais e divergentes principalmente a respeito do
futuro da Europa central e oriental, bem como da Próximo Oriente.
Na Europa, o principal beneficiário das iniciativas franco-britânicas foi a
Itália que, recebeu em troca da sua participação na guerra compensações
territoriais (sul do Tirol, Península da Ístria, Albânia, parte da Dalmácia e
as ilhas do Dodecaneso).
A Roménia juntar-se-ia aos esforços de guerra depois do Tratado de 17
de agosto de 1916, com o compromisso de anexar a Transilvânia e o
Banato de Temesvar.
O futuro do Próximo Oriente ficaria difusamente comprometido ao sabor
de acordos de diferentes partes.
A partilha secreta do Próximo Oriente entre Londres e Paris, mediante os
acordos Sykes Picot de 4 de março e de 16 de maio de 1916, foi contra as
promessas britânicas da criação de um Estado nacional árabe; e o
compromisso de Londres em relação à causa sionista e um lar árabe
judeu na Palestina, assumida na Declaração Balfour a 2 de novembro de
1917
40
A Sociedade das Nações era uma entidade supranacional e a mais inovadora
das propostas.
- O princípio da autodeterminação dos povos, que devia ser consagrado e
garantido pela Sociedade das Nações, era uma das noções prioritárias sobre a
qual se devia organizar a nova vida internacional.
A Grã-Bretanha chegaria à mesa das negociações com a pretensão de preservar
um certo equilíbrio de poder continental e defender as suas aspirações
ultramarinas. O primeiro-ministro britânico, David Lloyd George, tornou-se no
primeiro padrinho oficial da Sociedade das Nações.
O realismo que impregnou as teses francesas sobre a ordem do pós-guerra
encontrava-se, não apenas, nos antípodas do idealismo wilsoniano, mas
também a uma notável distância do pragmatismo e a noção de equilíbrio de
poder de Londres.
A Itália, a mais débil das grandes potências aliadas, encarou as conversações
de paz com o ânimo de conseguir as suas ambições territoriais no
Mediterrâneo Oriental e na África apoiando-se na legitimidade das promessas
assumidas por franceses e britânicos nos Tratados.
Não menos decisivo, entre os condicionantes da paz, foi a convulsão provocada
pela Revolução Bolchevique de 1917 e a maré vermelha noutros locais da
geografia europeia, como os capítulos da revolução espartaquista na Alemanha
e a República de Radomir, na Bulgária. A ameaça revolucionária geraria uma
grande desconfiança no mundo capitalista. A revolução bolchevique propunha,
e não apenas a partir da teoria, um modelo de sociedade alternativa ao
capitalismo a partir de uma lógica internacionalista.
O fim da Grande Guerra na frente oriental pela paz de Brest-Litovsk (tratado
de paz – 3 de março de 1918 – assinado entre a Alemanha, Áustria-Hungria,
Bulgária, Império Otomano e a Rússia Soviética que renunciava à Polónia e aos
Países Bálticos) de 3 de março de 1918, não deixaria de ter importantes
consequências nas RI do pós-guerra.
O problema das nacionalidades e das minorias nacionais foi outro dos
condicionantes essenciais à paz. As minorias nacionais, como resultado do novo
mapa europeu Pós-Versalhes, viviam divididas por inúmeros novos Estados,
patrocinando assim, o aumento da instabilidade.
O princípio das nacionalidades tinha sido utilizado como uma arma
propagandística por ambos os lados:
Polacos – o anseio independentista era encarnado na figura do marechal
Pilsudski (1867-1935)
Checos e sérvios – a atividade dos emigrados checos Edvard Benes (MNE
e depois presidente da República) e de Tomas Masaryk (1ºpresidente da
41
Républica checoslovaca) em França e nos países anglo-saxónicos foi
importante para atrair os meios políticos, diplomáticos e universitários
para a sua causa.
Sérvios – eficaz foi também a ação dos seus diplomatas em Paris e, em
especial, a Comissão Nacional constituída em Londres por políticos
sérvios, croatas e eslovenos.
O Congresso das Nacionalidades Oprimidas reunido em Roma em abril de
1918, sob os auspícios franco-britânicos.
70 delegados – 25 países
Quatro Grandes
EUA, Reino Unido, França e Itália
O Tratado de Versalhes
Uma “paz imposta” – diktat segundo a perceção alemã – pelo seu conteúdo e
pelo seu protocolo como se encenou quando da sua assinatura na Galeria dos
Espelhos do Palácio de Versalhes.
Consequências da Alemanha:
Cedência à França da Alsácia e da Lorena
Cedência à Polónia da Alta Silésia
Perda do império colonial
42
Redução substancial do exército
Obrigação de pagar pensões às famílias das vítimas da Guerra
Obrigação de indemnizar os Aliados
Considerada a única culpada da guerra
Embora uma das figuras centrais tenha sido o Presidente Wilson, as suas ideias
de paz e segurança coletiva, embora incluídas no articulado final do Tratado de
Versalhes, na forma da Sociedade das Nações, nunca chegaram a funcionar
corretamente, desde logo pela rejeição por parte do Senado dos EUA do
Tratado de Versalhes e do Pacto da S.D.N, a 19 de março de 1920.
43
- A organização do trabalho toma outra forma
- O comércio internacional segue à distância a evolução da produção
- Existiam vários aspetos negativos: desemprego, dificuldades na agricultura,
multiplicação das barreiras alfandegárias
44
Na *Conferência de Cannes (janeiro de 1922), Briand recebeu a ordem do
Presidente da República, Millerand, para não fazer quaisquer concessões em
matéria de reparação e demite-se.
* A Conferência de Cannes de 1922 foi um encontro entre Lloyd George, representante da
Alemanha e Briand, representante francês que tinha como objetivo uma aproximação franco-
alemã e a negociação das indemnizações saídas do Tratado de Versalhes.
45
O resto da Europa
- A Polónia está no centro da Revolução leste-europeia.
- As fronteiras orientais não foram fixadas pelo Tratado de Versalhes. A *paz de
Riga (1921) estabeleceu a fronteira russo-polaca a leste da linha Curzon.
* Também conhecida como Tratado de Riga, foi assinada entre a Polónia, a Rússia Soviética e a
Ucrânia soviética. O tratado acabou com a guerra polaco-soviética. As fronteiras soviético-
polacas estabelecidas pelo tratado permaneceram em vigor até a Segunda Guerra Mundial.
Estas seriam mais tarde redesenhadas durante a Conferência de Yalta e a Conferência de
Potsdam.
Alemanha, EUA, França, Reino Unido, Itália, Bélgica, Japão, Polónia, Canadá,
Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Irlanda, Índia (ainda sob mandato
britânico) e Checoslováquia.
O pacto afirmava que os signatários:
47
Condenavam “o recurso à guerra para a solução das controvérsias
internacionais e a ela renunciavam como instrumento de política nacional
nas suas relações mútuas”.
Além disso, comprometiam-se a que a solução para a “superação ou a
resolução de controvérsias ou conflitos” que viessem a surgir devia ser
encontrada por meios pacíficos.
1929: Os Acordos de Haia determinam um novo plano de pagamento de
reparações
1929-1933: A crise dos anos 30 e as suas consequências
Esta crise é um dos fatores essenciais do período entre guerras.
Uma das primeiras manifestações sensíveis foi bolsista (o krach da bolsa de
Nova Iorque de outubro de 1929).
A Quinta-feira Negra refere-se ao dia 24 de outubro de 1929, quando
ocorreu o crash da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Começou nesse dia e
continuou até 29 de outubro, quando o preço das ações em NY entrou em
colapso.
48
1933: Tóquio rejeitou a condenação da SDN e deixa esta instituição a 27 de
março de 1933.
A Alemanha retirou-se da Conferência do Desarmamento e da SDN em outubro
de 1933.
As crises de 1935-1936
A questão etíope
O acordo germano-britânico de junho de 1935, foi um golpe nos acordos de
Stresa e a questão etíope ainda deteriorou mais as relações:
- 1935: Conferência de Stresa
Faz face ao rearmamento alemão
entre: França, Grã-Bretanha e Itália
Não teve futuro no seguimento da recusa pela França e pela Grã-Bretanha do
reconhecimento da conquista italiana da Etiópia
- A Guerra Ítalo-etíope foi um conflito ocorrida em 1935-1936, quando a Itália
invadiu a Abissínia (atual Etiópia).
Apesar do protesto formal da Liga das Nações, nenhuma ação foi tomada contra
a Itália, nem mesmo depois do discurso do Negus (Haile Selassie).
A guerra fez mais de meio milhão de mortos entre os africanos, face a cerca de
5.000 baixas do lado italiano.
- A invasão italiana da Abissínia, realizada a partir de outubro de 1935, teve
consequências drásticas para a política europeia dos anos de 1930 e provocou
um amplo movimento de opinião pública a nível mundial.
49
- A Etiópia foi anexada a Itália, a 9 de maio de 1936. A partir de 4 de julho, a
Assembleia da SDN votava o levantamento das sanções e aceitava a situação
etíope.
A remilitarização da Renânia
Hitler tinha de se dotar de meios para suportar um conflito a Oeste e para isso
tinha de rearmar a marguem esquerda do Reno.
No final da década de 20 (?), a Alemanha retira-se da Conferência de
Desarmamento (Genebra).
Em 1935, anuncia o rearmamento e renuncia às cláusulas militares de
Versalhes. No mesmo ano, reforça o investimento na aviação militar e institui o
serviço militar obrigatório.
As crises de 1938-1939
Encorajado pela tranquilidade que prevalece, na diplomacia britânica ao longo
de 1937, Hitler vai, durante 1938-1939, retomar o controlo sobre os territórios
dependentes, antes da 1ªGuerra Mundial, da soberania Austro-húngara.
Março de 1938: as tropas alemãs entram na Áustria e o ministro do
interior nazi é nomeado chanceler.
A Alemanha anuncia oficialmente a anexação da República Austríaca e
converte-a numa província do Terceiro Reich, o Anschluss.
A França aceita a anexação da Áustria. // Na sequência do Anschluss, o caso
checo rebentou.
Setembro de 1938: Invasão da Checoslováquia
A questão dos Sudetas, região de minoria alemã, serve de pretexto a Hitler.
Como resultado, Mussolini convoca o Encontro de Munique, onde estão
presentes Hitler, Chamberlain (UK), Mussolini e Deladier (França), todos os
territórios reivindicados por Hitler passam para a Alemanha.
Março de 1939: devido a novas dificuldades internas (a autonomia da
Eslováquia reclamada por Monsenhor Tiso) e o seu desmembramento, os
50
polacos apoderam-se da região de Teschen (cidade checa) e os húngaros
obtêm cerca de 12.000 km no sul.
Assim, o conjunto da Checoslováquia desaparece.
A Boémia e a Morávia ficavam sob “protetorado” alemão.
A Eslováquia proclamava a sua independência e pedia proteção de Berlim
51
- Os países eslavos e balcânicos, com exceção da Grécia, converteram-se em
“democracias populares”.
Existe agora um Diretório dos “Três Grandes” (EUA, URSS, UK), que vão decidir
o destino do mundo do pós-guerra nas conferências de Ialta e de Potsdam.
52
O milagre da reconstrução pode explicar-se, em parte, pelo facto de os
Europeus quererem esquecer, o quanto antes, a tragédia e também pela ajuda
norte-americana aos países livres da Europa materializada pelo:
European Recovery Program Plano Marshall
Tão milagrosa como a reconstrução foi o desaparecimento imediato dos ódios,
incompreensões e vinganças. Ao contrário do que ocorrera depois da 1ªGM,
ninguém pensou em vinganças, nem em fazer mal aos derrotados, nem em
reparações propriamente ditas.
No entanto, pouco a pouco foi-se observando outra forma de guerra.
53
Os Estados que disputam a primazia da Europa e do mundo – o Reino Unido, a
França, a Alemanha e a Itália – não mais voltarão a ser grandes potências,
independentemente de terem ganho ou de perdido a guerra. Os novos Grandes,
os verdadeiros vencedores, são os Estados Unidos da América do Norte e a
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
56
- O Conselho de Segurança articulou-se com base em 11 membros, os “Cinco
Grandes” e outros seis países que se iriam sucedendo nele por rotação. A
Apenas os “Grandes” teriam direito de veto: ou seja, que para que uma
resolução do Conselho fosse aprovada seria necessário o voto dos 5.
No início (Conferência de Dumbarton Oaks) tinha-se pensado numa
partilha das zonas de influência no mundo pelos 4 “Grandes” (EUA, URSS,
UK, China).
No entanto, este conceito geopolítico foi ligeiramente alterado pelas
contínuas pressões de França, que queria ser contada entre as
superpotências. No final foi decidida a existência de um Conselho que seria
dirigido pelos “Cinco Grandes”.
- À medida que o ambiente de apaziguamento entre o Leste e o Oeste se
afirmava, mas, sobretudo depois do desaparecimento da URSS em 1989, o
Conselho de Segurança aumentou consideravelmente a sua operacionalidade e
eficácia.
57
Da Colaboração Aliada à Guerra Fria
A 12 de março de 1947, o presidente norte-americano Harry Truman dirigiu-se
ao Congresso dos Estados Unidos para anunciar uma mudança importante nos
objetivos e estratégia da política externa.
Deste discurso destacamos: «Um dos objetivos fundamentais da política externa dos
Estados Unidos é a criação de condições com as quais nós e as outras nações possamos forjar
uma maneira de viver livre de coação […]. Contudo, não alcançaremos os nossos objetivos a
menos que estejamos dispostos a ajudar os povos livres na manutenção da sua instituição livre
e da sua integridade nacional […] À população de toda uma série de Estados foi-lhes imposto,
contra a sua vontade, um regime totalitário […] Se deixarmos de ajudar a Grécia e a Turquia
nesta hora decisiva, as consequências, tanto para o Ocidente como para o Oriente, seriam de
profundo alcance […] Por isso, peço ao Congresso autorização para ajudar a estes dois países
com a quantia de 400 milhões de dólares durante o período que termina a 30 de Junho de
1948 […].»
58
O vazio do poder deixado pelos britânicos vai ser ocupado pelos Estados Unidos.
A desmobilização das forças norte-americanas na Europa tinha continuado e nos
inícios de 1947 apenas havia no continente europeu 391.000 soldados.
Face a eles na Europa de Leste encontravam-se mais de 6 milhões de soldados
do Exército Vermelho.
No Departamento de Estado depressa começaram a estudar-se as respostas que
se tinham de adotar ante a decisão britânica, pois o comunismo começa a ser
percebido como uma forma de ameaça. Esta era a perceção de *George F.
Kennan, encarregado de negócios dos Estados Unidos em Moscovo.
*George Frost Renan (1904 - 2005) foi um diplomata, cientista político e historiador norte-
americano sendo uma figura central aquando do surgimento da Guerra Fria). No final da
década de 1940, os seus escritos inspiraram a Doutrina Truman e a política externa norte-
americana de "contenção" da União Soviética.
No chamado «Grande Telegrama» enviado, a 22 de fevereiro de 1946, para
Washington, valorizava-se de forma muito diferente à dos soviéticos os seus
objetivos uma vez finalizada a Segunda Guerra Mundial recomendava, pois,
firmeza e aumento dos recursos militares e a adoção de uma política de
contenção contra a URSS. Este telegrama foi publicado na revista Foreign Affairs
(julho de 1947), sob o pseudónimo de «Mister X».
O Presidente e o Secretário de Estado, general Marshall, começaram a planificar
uma nova estratégia frente à União Soviética.
A Doutrina Truman foi o primeiro anúncio oficial acolhido com reações diversas
e desencontradas nos EUA e na Europa e teve a oposição da URSS.
Persistia, contudo, um grave problema na Europa:
Escassez de alimentos
Escassez de combustível
Falta de recursos financeiros (para tornar o que impedia de pôr a
funcionar a maquinaria industrial, o que podia ser um grave obstáculo
aos planos norte-americanos)
Apesar da ajuda financeira norte-americana, a situação económica não
melhorava e os índices de produção agrícola e industrial desceram em todos os
países.
A situação da população era muito grave, depois a fome, a desnutrição e as
doenças de milhares de europeus estavam a criar uma situação limite.
Tudo isto fez com que se começasse a planificar uma grande operação de ajuda
económica.
59
A 5 de Junho de 1947, o Secretário de Estado *George Marshall expôs na
Universidade de Harvard, para onde tinha sido convidado para ser investido
Doutor Honoris Causa, os objetivos da sua proposta:
a) A necessidade de ajudar a Europa para que se superasse as
consequências sofridas pela guerra
b) A importância de dar confiança aos cidadãos europeus no futuro
c) O papel chave que os EUA tinham na realização destes objetivos, não
apenas pelo seu poder económico e as repercussões que a situação
europeia podia ter no país, mas também a sua posição no mundo
d) A ajuda era oferecida a todos os países e não era dirigida contra ninguém
e) As petições de ajuda deviam fazer-se desde a Europa e pelos europeus.
Plano Marshall
Assinado a 3 de abril de 1948 por Truman
*George Marshall (1880-1959) general e político americano. Chefe do Estado-Maior do
Exército (1939-1945), Secretário de Estado do Presidente Truman (1947-1949), deu o seu
nome ao plano americano de ajuda económica à Europa (Prémio Nobel da Paz em 1953).
60
1948: A Conferência de Haia = Congresso da Europa
7 a 10 de maio de 1948
750 delegados
Exigiam uma Europa unida onde primasse:
Livre circulação de bens, homens e ideias
Carta de Direitos do Homem, que garantisse as liberdades de
pensamento, reunião e expressão, assim como o livre exercício da
oposição política
Tribunal de Justiça, capaz de aplicar as sanções necessárias para que a
Carta fosse respeitada
Assembleia Europeia, representando todas as forças vivas das nações
Objetivo: criar uma união mais estreita entre os seus membros, a fim de
salvaguardar e promover os seus ideais e princípios, assim como favorecer o seu
progresso económico-social.
Criação da Nato
Estas iniciativas também tiveram o seu complemento militar.
Desta forma surgiu a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), criado,
por sua vez, sobre a base dos compromissos militares já existentes na Europa
Ocidental (Tratado de Dunquerque de 4 de março de 1947 e União Ocidental de
17 de março de 1948).
A 4 de abril de 1949, assinava-se em Washington o Tratado do Atlântico Norte,
que entraria em vigor a 24 de agosto. Nele se incorporarão doze Estados, dez
europeus mais o Canadá e os Estados Unidos, que posteriormente foram
ampliados para 19. A Espanha foi aceite em maio de 1982.
Resposta da URSS
Estas iniciativas norte-americanas cedo tiveram a sua resposta na URSS de
Estaline. O comunismo, devido também ao seu trabalho nos movimentos de
Resistência, saiu da guerra com muito prestígio e inclusivamente com um forte
apoio eleitoral em especial em alguns estados europeus. O Exército Vermelho
61
tinha «libertado» do nazismo a maioria dos territórios da Europa de leste, com a
exceção da Jugoslávia e Albânia.
A política externa soviética iniciava uma nova face na sua evolução: já não
pretendia apenas a expansão de uma ideologia, mas também a expansão
territorial.
Apesar do acordado em Ialta e Potsdam, os soviéticos desafiaram os aliados
ocidentais, através do que poderíamos denominar como «provas de força»,
para comprovar a sua capacidade de reação e se superava os limites
estabelecidos na partilha.
Os pontos nos quais se baseavam eram os seguintes:
a) Considerava-se o bloco capitalista ocidental, liderado pelos EUA, o
inimigo fundamental do sistema socialista, o qual era necessário vencer e
superar
b) A URSS era considerada como uma fortaleza assediada pelo imperialismo
agressivo e militarista, e para a proteger era necessária uma luta de
classes a nível internacional e estabelecer um “glacis de segurança” em
volta dela
c) Era necessário também utilizar nessa luta os ideais revolucionários (paz,
segurança, socialismo, etc), para conseguir o máximo apoio da opinião
pública internacional na ação exterior soviética
d) Deveriam relativizar-se as alianças e os compromissos internacionais com
a comunidade internacional, utilizando-os mais como um meio que como
um fim
e) Objetivo final da política externa soviética: criação de um sistema
socialista mundial, que pudesse fazer frente, com a URSS à cabeça, às
agressões imperialistas e à ingerência nos assuntos internos dos Estados
soberanos.
A Doutrina Truman e, em especial, o Plano Marshall foram considerados por
Estaline e pelos soviéticos como as primeiras ameaças diretas contra os
objetivos da URSS e o socialismo internacional. A primeira resposta foi político-
ideológica; modelou-se na criação do Kominform ou Repartição de Informação
dos Partidos Comunistas.
- O encarregado de pôr em marcha esta iniciativa foi o dirigente e ideólogo
soviético A. A. Jdanov, que pronunciou um discurso duro. Este é considerado
como o primeiro texto no qual se analisa a Guerra Fria e o seu significado desde
a perspetiva soviético-marxista.
A partir do Kominform colocou-se em marcha uma operação bem planificada
para sovietizar de forma rápida a Europa central e oriental.
A URSS deu um impulso aos processos da revolução mundial, protegidos pelos
partidos e movimentos comunistas.
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Em 1949 a URSS de Estaline podia estar satisfeita com o objetivo de ter
conseguido criar o que se denominou oficialmente de sistema socialista
mundial, que chegaria a ser formado por 16 estados em todo o mundo, que se
estavam a desenrolar na China, Coreia e Indochina.
A URSS não podia afastar o uso da força e o papel que os recursos militares iam
ter neste novo enfrentamento, especialmente ao facto de os Estados Unidos
contarem nesses primeiros momentos com o monopólio nuclear. A utilização de
uma diplomacia de poder converteu-se em algo necessário para a consecução
dos objetivos previstos.
− A 23 de Setembro de 1949 anunciou-se que a URSS tinha realizado a sua
primeira explosão atómica. Iniciava-se assim a corrida armamentista e a
dissuasão nuclear.
− O processo de respostas fechar-se-ia com uma nova iniciativa para
fortalecer o bloco socialista: a 1 de janeiros de 1949 criava-se o Conselho de
Ajuda Mútua Económica.
− A criação do Pacto de Varsóvia chegaria mais tarde, em 1955.
O conjunto de iniciativas/respostas norte-americanas e soviéticas poriam em
marcha o que já se convencionalmente chamava como Guerra Fria, ou seja, um
confronto entre duas superpotências, dois blocos de estados e dois sistemas
globalizados, que durará até 1991 quando uma das potências – a URSS – e um
dos blocos – o socialista – fracassaram nos seus objetivos e inclusivamente
desapareceram territorial e politicamente.
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