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As Relações Internacionais no séc.

XVIII
No Século XVIII, o exercício do poder ficou limitado, pois o sistema não toleraria
tentações hegemónicas.
Como é que o equilibro do poder pode ser prejudicado?
 Se um dos grandes países aumenta o seu poderio ao ponto de ameaçar
conseguir a hegemonia
 Quando um dos Estados (até então secundário) procura alcandorar-se ao
nível das grandes potências
O sistema vestefaliano enfrentou ambas as provas ao longo do séc. XVIII:
 Contrariando o ímpeto hegemónico de Luís XIV
 Reajustando o sistema em resposta às exigências de equiparação do
estatuto por Frederico, O Grande, da Prússia
A primeira metade do séc. XVIII foi marcada pelo esforço de contenção da
França e a segunda foi moldada pelo esforço da Prússia para encontrar um lugar
entre as grandes potências.

1ªmetade do séc XVIII: a França de Luís XIV


Luís XIV obteve o pleno controlo da coroa de França em 1661. Governava
mediante um funcionalismo real inteiramente dependente dele.
Com o reino unificado e poupado à devastação de guerras, dotado de uma
burocracia proficiente e de forças militares que ultrapassavam as de qualquer
Estado vizinho, a França embrenhou-se numa tentativa de dominar a Europa:
envolveu-se numa série de guerras, que só acabaram por resultarem em
alianças contra a sua ação (ex: a Grande Aliança)

Constituída pela Inglaterra, Holanda e Áustria. Mais tarde juntaram-se a


Espanha, Prússia, Dinamarca e vários principados alemães.
Esta oposição não era de natureza ideológica ou religiosa: o francês permanecia
como língua da diplomacia e da alta cultura e a França era considerada tanto
por católicos como por protestantes como aliado na guerra que os dividia.
Luís XIV prosseguia uma hegemonia em nome da glória da França, mas foi
contido por uma Europa que buscava a ordem na diversidade e pluralismo
europeu.

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A política internacional de Luís XIV teve então dois objetivos básicos:
Consolidar a hegemonia francesa na Europa
Estender os seus domínios até à fronteira do Reno

Para isso, o rei manteve uma eficiente atividade diplomática e um poderoso


exército, com o qual empreendeu várias guerras durante o seu reinado:
1. Guerra da Devolução (1667-1668): após a morte de Filipe IV de Espanha,
Luís XIV reclamou direitos sobre territórios nos Países Baixos.
Derrotou o exército espanhol, mas teve de enfrentar uma colisão
formada pela Inglaterra, Holanda, Áustria e Suécia.
Em 1668, assinou a Paz de Aquisgran, através da qual a França obteve
algumas regiões nos Países Baixos.

2. Guerra Franco-Holandesa (1672-1678): A Holanda, centro da economia


mundial europeia, rivalizava com a França.
Luís XIV invadiu-a sem fazer uma declaração de guerra. Para se
defenderem, os holandeses quebraram os diques e inundaram toda a
região. No final do conflito, a França ocupou o Franco Condado, território
que disputou com a Espanha durante um século.

3. Guerra dos Nove Anos (1688-1697): as pretensões de Luís XIV sobre o


rico território do Palatinado, na Alemanha, provocaram a formação da
Liga de Augsburgo, composta por Espanha, Inglaterra, Suécia, Holanda e
alguns principados alemães.
Na Paz de Ryswick, em 1697, a França devolveu os territórios
conquistados desde 1680 e reconheceu Guilherme de Orange como rei
da Inglaterra.

4. Guerra da Sucessão Espanhola (1702-1713): foi marcada pela disputa


pelo direito de sucessão da coroa espanhola depois da morte do último
monarca da casa de Habsburgo, Carlos II de Espanha.
O trono de Espanha era pretendido por Filipe d’Anjou, neto de Luís XIV
que ganhara o trono por testamento de Carlos II, e pelo arquiduque
Carlos, da casa de Áustria.
Os opositores da disputa definiram-se como a França, em apoio a Filipe
de um lado, e a Grande Aliança (Inglaterra, Holanda, Prússia, Portugal e
casa de Saboia) contra Luís XIV e a favor do príncipe Carlos, do outro.
Uma vez que os Bourbon poderiam ter o poder na França e na Espanha,
as demais potências europeias temeram a união de dois Estados tão
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poderosos, tanto quanto a França temia uma reunião da Espanha e da
Áustria sob as mãos de um membro da dinastia dos Habsburgos.
Carlos da Áustria foi eleito imperador do Sacro Império Romano-Germânico,
com o nome de Carlos VI, mas para os ingleses, não convinha que o príncipe
austríaco centralizasse tanto poder.
A questão da sucessão na Espanha, foi solucionada em favor de Filipe,
que conservou a coroa da Espanha e as respetivas colónias, mas
renunciou ao direito de sucessão ao trono francês.
Assim, o neto de Luís XIV foi nomeado herdeiro de Espanha, mas uma aliança
insurgiu-se para evitar a união dinástica de França e Espanha.
A paz foi assinada no Tratado de Utrecht, em 1713.

2ªmetade do séc. XVIII: A Prússia de Frederico II

Situada na parte mais agreste da planície do norte da Alemanha e estendendo-


se do Vístula até à Alemanha, a Prússia cultivou a disciplina e a administração
pública como forma de compensar a população mais numerosa e os maiores
recursos dos países mais bem-dotados.
A Prússia imiscuía-se no raio de influência da Áustria, Suécia, Rússia e Polónia.
Tinha uma densidade populacional relativamente baixa; a sua força residia na
disciplina com que geria os magros recursos.
Quando ascendeu ao trono em 1740, Frederico II tinha a sua autoridade
pessoas como absoluta, mas considerava que a sua prática política era
conformada pelos princípios da raison d’état de Richelieu.
Frederico concluiu que o estatuto de grande potência exigia para a Prússia
continuidade territorial, logo expansão.

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A Guerra da Sucessão Austríaca (1740-1748) escalou e acabou por envolver a
maioria dos poderes da Europa.
Aliados:
Áustria  Grã-Bretanha, República Holandesa (inimigos da França), Reino da
Sardenha, Eleitorado da Saxônia
França  Prússia, eleitorado da Baviera

O exército prussiano provou ser uma força poderosa e, finalmente, a Prússia


reivindicou a vitória na Primeira Guerra da Silésia (1740-1742).
Os termos de paz do Tratado de 1742 de Breslau deram à Prússia:
 Toda a Silésia (os austríacos mantiveram apenas a parte Alta da Silésia
chamada “Silésia austríaca ou tcheca)
 Condado de Glatz
Anexação da Silésia = aumento da população em 60% = aumento dos
rendimentos do Estado em 40% = expansão do exército prussiano

Frederico:
 Renovou a sua aliança com os Franceses (Prússia <3 França)
 Invadiu a Boémia em 1744  iniciando a Segunda Guerra da Silésia
(1744-1745)
Não obteve sucesso, mas a pressão francesa sobre o aliado da Áustria (a Grã-
Bretanha), levou a uma série de tratados e acordos, culminando em, 1748,
com o Tratado de Aquisgrão  restaurou a paz e concedeu à Prússia a
maior parte do território da Silésia
Humilhada pela cessão da Silésia, a Áustria buscou uma aliança segura com a
França e a Rússia (“a Revolução Diplomática”). A Prússia buscou uma
aproximação com a Grã-Bretanha.
Quando Frederico invadiu a Saxônia e a Boémia, em apenas poucos meses
de 1756-1757, deu início à Guerra dos Sete Anos (1756-1763).

Primeira guerra mundial (pois foi travada em três continentes: incluindo as


colónias francesas e britânicas)
Guerra dos Sete Anos:
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Foi uma luta desesperada para o exército prussiano e a forma como ele a
conduziu causou na Europa um respeito pelas habilidades militares de
Frederico.
Os seus êxitos deveram-se à sua rapidez de ação e à sua persistência face
a desigualdades avassaladoras – assumindo que no fim, todos os que se
aliavam contra ele, concluíram que não valia a pena um esforço
prolongado para o derrotar

Enfrentando simultaneamente a Áustria, Rússia, França e Suécia, e tendo


apenas como aliados Hanôver (e a Bretanha não continental), Frederico II
conseguiu evitar importantes invasões até outubro de 1760.
Aí o exército russo ocupou por um curto período de tempo Berlim e
Conisberga. Porém, a situação ficou progressivamente mais severa,
principalmente até à morte da imperatriz Isabel da Rússia (o Milagre da
Casa de Brandemburgo).
A ascensão do simpatizante das causas prussianas, Pedro III no trono
russo aliviou a pressão na frente oriental. A Suécia também encerrou a
guerra nessa mesma ocasião.

Derrotando o exército austríaco na Batalha de Burkersdorf e confiando


no continuado sucesso britânico contra a França no palco da guerra
colonial, a Prússia foi finalmente capaz de forçar um status quo ante
bellum (o estado em que as coisas estavam antes da guerra) no continente.
Este resultado confirmou o papel principal da Prússia dentro dos Estados
alemães e firmou o país definitivamente como grande potência
europeia.

Ao sucesso e à sobrevivência nas duas guerras contra a Áustria


adicionou-se o benefício de enfraquecer a posição dos Habsburgos
austríacos no interior do Sacro Império Romano Germânico.

Frederico II, o déspota esclarecido


O despotismo esclarecido, é o termo mais comum utilizado para designar a
prática dos monarcas que, apesarem de reinarem de forma absoluta, ainda
implementam reformas político-económicas baseadas nas ideias iluministas
vigentes no período.

- Na Prússia, Frederico II, indiferente à religião, deu liberdade de culto.

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- Estimulou o ensino básico, tendo ele mesmo baixado o princípio de instrução
primária obrigatória para todos.
- Apesar da expulsão dos jesuítas de quase todos os países da Europa, pelas
suas ligações com o papado, atraiu-os para a Prússia por causa das suas
qualidades como educadores.
- A tortura foi abolida e um novo código de justiça foi organizado. Exigia
obediência total às ordens, mas permitia liberdade de expressão e de culto.
- Procurou estimular a economia da Prússia, adotando medidas protecionistas,
contrárias, às ideias iluministas. No entanto, preservou a ordem social existente.
- A Prússia permaneceu um Estado Feudal, com servos sujeitos à classe
dominante dos proprietários, chamados junkers.
Os junkers constituíram-se como uma classe aplicado às técnicas modernas da
produção económica e paralelamente foram alçados por Frederico II da Prússia
a um monopólio absoluto sobre os quadros civis e militares do reino. Nesse
sentido, a versão prussiana do despotismo esclarecido desenvolveu-se com a
combinação trazida pelos Junker entre grandes avanços técnicos para a
burocracia estatal e contribuições quase nulas no plano da cultura cosmopolita
e das liberdades cívicas.
Na Prússia do séc. XVIII, as classes mercantis urbanas não ganharam destaque
político e predominou na construção do Estado a posturado autoritária e
fechada da aristocracia Junker.

A Revolução Francesa: reflexos nas relações


internacionais

As visões predominantes na área de Relações Internacionais acerca das


relações entre as grandes potências europeias de 1713 a 1789 apontam
que esse foi um momento predominantemente caraterizado pelo
equilíbrio de poder entre elas e, nessa estrutura mais ampla do
equilíbrio de poder, pelo funcionamento da sociedade internacional por
meio de instituições.

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De acordo com tais visões, grande parte das guerras ocorridas após o início da
Revolução Francesa (1789-1799) e durante a Era Napoleônica (1799-1815)
resultou numa tentativa da França de se tornar a potência hegemônica na
Europa, mas acabou derrotada por uma coalizão liderada pela Inglaterra.
Ainda assim, os ideais das Revolução deixaram legados importantes para as RI,
em especial com as noções de Estado-Nação e de autodeterminação nacional.
Revolução = mudança política brusca, geralmente violenta (mas nem sempre),
com a derrubada de um regime e a luta pela construção de outro novo. Esta
rotura na ordem vigente busca efetuar alterações estruturais nos ordenamentos
jurídico-político e socioeconómico.
“A passagem do Ancien Régime para a sociedade moderna é consumada na Franca com uma
rutura e uma brutalidade únicas. Do outro lado do Canal da Mancha, na Inglaterra, o regime
constitucional foi instaurado progressivamente, as instituições representativas advêm do
parlamento, cujas origens remontam aos costumes medievais. No século XVIII e XIX, a
legitimidade democrática substitui-se à legitimidade monárquica sem a eliminar totalmente, a
igualdade dos cidadãos apagou pouco a pouco a distinção dos "Estados" (Nobreza, clero e
povo). As ideias que a revolução francesa lança em tempestade através da Europa: soberania
do povo, exercício da autoridade conforme a regras, assembleias eleitas e soberanas,
supressão de diferenças de estatutos pessoais, foram realizadas em Inglaterra, por vezes mais
cedo do que em França.” – Raymond Aron

O séc. XVIII europeu testemunhou o desenvolvimento do significado do


“autónomo próprio”, entre as classes médias que se sentiam crescentemente
desconfortáveis com os sistemas hierárquicos de subserviências (seguir as
regras cegamente; fazer as vontades de outrem) e dependência pessoais.

Causas da Revolução Francesa


- Aumento da desigualdade social e económica: os grupos privilegiados (clero e
nobreza) vs. Terceiro Estado (burgueses, camponeses sem terra) vs. Sans-
Culottes (artesãos, aprendizes e proletários).
Os impostos e contribuições recaiam sobre os dois últimos, visto que o clero e a
nobreza tinham isenção tributária, além de que usufruíam de pensões e cargos
públicos.
- As novas ideias políticas emergentes do iluminismo: razão como principal
fonte de autoridade e legitimidade; defendia a liberdade, fraternidade, governo
constitucional e separação da Igreja do Estado; liberdade individual
- Instabilidade económica e a dívida nacional incontrolável: más colheitas,
sistema de transporte inadequado tornaram os alimentos mais caros; sistema

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tributário ineficiente e os custos de várias grandes guerras (Guerra dos Sete
Anos e Guerra Revolucionária Americana).
As consequências foram trágicas para as classes mais baixas e a corte real
mantinha-se isolada e indiferente à crise crescente na nação.
- Má gestão política do rei Luís XVI: o rei governava com poderes absolutos

As fases da Revolução Francesa


 Maio de 1789: O Rei Luís XVI convoca a Assembleia dos Estados Gerais,
com o objetivo de acalmar uma revolução de que já falava a burguesia,
que contavam com os 3 Estados da sociedade francesa.

 Julho de 1789: Tomada da Bastilha, que marca o início do processo


revolucionário (a prisão política era o símbolo da monarquia francesa).

 Agosto de 1789: Aprovação pela Assembleia a Declaração dos Direitos do


Homem e do Cidadão. Assegurava os princípios da liberdade, igualdade e
fraternidade e o direito à propriedade.

 Junho de 1791: tentativa de fuga da família real para a Áustria, terra


natal de Maria Antonieta, tendo sido detidos a poucos quilómetros da
fronteira e presos sob a acusação de conspiração contra o Estado.
O poder passa para as mãos do Conselho Executivo Provisório, liderado
por George-Jacques Danton. A Assembleia Nacional foi dissolvida e
substituída pela Convenção Nacional, controlada pelos jacobinos,
defensores da República.

 Setembro de 1791: Constituição que transforma a França numa


monarquia Constitucional e, entre outras coisas, suprime os privilégios da
nobreza e do clero e estabelece a divisão entre os 3 poderes do Estado.

 “O Terror” 1793-1794: Aumento da divisão entre os revolucionários –


girondinos (moderados) vs. jacobinos (radicais).
Estes últimos, liderados por Robespierre, instalam a ditadora jacobina,
responsável pela morte de todos os inimigos da Revolução incluindo o rei Luís
XVI e a rainha Maria Antonieta.
Foi criado o Comité de Salvação Pública, que convocaria 300mil homens para a
guerra. Uma série de Estados europeus (Áustria, Prússia, Holanda, Espanha e

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Inglaterra) temendo que o exemplo francês se refletisse nos seus territórios,
fortaleceu a coligação contra a França
 1794: Robespierre foi executado e acusado de tirania

 “O Diretório” 1794-1799: ascensão dos girondinos ao poder.


Aumenta a antipatia da população francesa e o descontentamento dos vários
países europeus, como a Inglaterra e a Áustria que ameaçavam invadir a França
para conter os ideais revolucionários.
O governo sofreu ataques internos de jacobinos e monarquistas. Para conter
essas manifestações, o Diretório pode ajuda ao exército.
 1795: Napoleão Bonaparte foi escolhido para organizar a defesa interna
do país. O seu êxito foi tanto que, em 1799, foi convidado a fazer parte
do Diretório (regime político adotado nesse tempo, cujo poder executivo
era exercido por 5 membros, os Diretores).

 1799: No golpe conhecido como “18 Brumário”, Napoleão Bonaparte


sobe ao poder, dissolve o parlamento e instala o Consulado. Era o início
da Era Napoleónica.

O Legado da Revolução Francesa


A Revolução Francesa resolveria o paradoxo da soberania ao substituir a
majestade do rei pela da Nação.
Os jacobinos radicais achavam que o Juramento à Nação devia suplantar a
lealdade não apenas ao sagrado e paternal monarca, mas aos pays (as
localidades tradicionais) também.
A estas questões juntavam-se teorias iluminadas da Filosofia e da cultura, de
uma nação como povo ou Volk com a sua própria linguagem e um caráter
historicamente desenvolvido, e um conceito de “direitos” – os direitos, talvez,
também como os direitos do cidadão.

 O conceito de Nação, independentemente de todas as definições criadas


a partir do séc. XIX, está irremediavelmente vinculado a uma dimensão
pragmática, cumprindo um papel decisivo para “formar a base da
organização política dos Estados territoriais”.

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 A palavra “Nação” já existia sob o Antigo Regime, mas é com a Revolução
Francesa que passa a ocupar um lugar central no novo direito público.
A ideia de nação é, portanto, beneficiária da transferência, jurídica e emocional,
dos atributos da soberania da pessoa do rei para esta nova entidade coletiva.
São os primórdios do moderno conceito de Estado-Nação, a partir do qual se
concebe que os laços nacionais devem garantir coesão e administração de uma
população linguística e culturalmente unificada e motivar a aquiescência
(consentimento) dos seus membros a instituições baseados numa identificação
presumida entre governantes e governados.
 Substituiu-se a legitimação do poder através da origem divina dos
mandatos régios pela legitimação através da vontade da maioria que se
impunha juntamente com a conceção de um contrato social entre
governantes e governados. Ou seja, uma das implicações políticas mais
relevantes do evento revolucionário de 1789 foi a substituição da noção
de soberania absoluta do monarca pela construção gradativa da ideia de
soberania popular.

Que significado deveriam as Relações Internacionais encontrar na


Revolução de Paris de 1789 que inicia a era que vai da Revolução
Francesa à I Guerra Mundial, ou a de Moscovo e Sampetersburgo que
em 1917, de algum modo a conclui?
 A questão central para a disciplina levantada pelo conceito de nação e da
soberania popular, pela revolução e pela perspetiva da revolução, não é
apenas porque se torna um fator no cálculo da Realpolitik dos estadistas,
mas se interage de alguma forma significativa com o funcionamento do
sistema internacional.
 A revolução, que resgatou a positividade histórica do conceito de nação e
o inseriu na fala do Estado, também se caraterizou, pelo menos nos seus
primeiros anos, pela reivindicação da sua universalidade.
Não apenas os “Direitos do Homem e do Cidadão” eram vistos como um
património de todos os povos civilizados, como também, mais tarde,
legitimavam o apoio dos revolucionários franceses a todos os povos
submetidos à autoridade de governos absolutos fora das suas fronteiras.

A Revolução Francesa influenciou ainda outros processos de independência no


continente americano.

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Em 1794, os africanos escravizados que trabalhavam nas lavouras de cana do
açúcar no Haiti conseguiram o fim da escravidão após uma sanguinária guerra
de independência. Era o primeiro país do continente a pôr fim à escravidão.
No Brasil, a Conjuração Baiana (ou Revolta dos Alfaiates) de 1798 também foi
fortemente influenciada pelos acontecimentos da Revolução Francesa.

Estado de Guerra e Política Internacional: Uma Revolução Militar?


O estado de guerra foi transformado pela República Francesa numa luta armada
(primeiro defensiva e depois ofensiva) contra a contrarrevolução e pelo
emprego da “levée en masse” (política nacional de recrutamento militar em massa),
um exército de cidadãos conscritos (alistados/recrutados).
Diz-se que a era da Revolução viu uma mudança cultural de um “etos” militar de
paciência para um de ataque. A articulação internacional das potências
aristocráticas contra a Revolução Francesa na sequência da captura de Luís XVI
em junho de 1791, consagrada na Declaração austro prussiana de Plinitz (27 de
agosto de 1791), empurrou a França Revolucionária para uma guerra, de facto,
contra o mundo aristocrático europeu.
Naquele contexto, o agravamento crescente das tensões entre o governo
revolucionário e as forças do Ancien Régime no âmbito internacional preparou o
terreno para a livre manifestação das tendências “internacionalistas” no seio da
Assembleia Nacional Francesa.
Em novembro de 1792, a Assembleia Nacional Francesa desafiou toda a Europa
com um par de extraordinários decretos:
 Apoio militar ilimitado da França à revolução popular em qualquer parte
do mundo
 Fraternidade e socorro a todos os povos que queiram recuperar a
liberdade
 Guilhotinou o Rei Luís XIV e declarou guerra à Áustria e aos Países Baixos
Em dezembro de 1792 foi publicado um decreto com proclamações ainda mais
universais:
- Todo o movimento revolucionário que considerasse que o decreto era
aplicável era convidado a “preencher o espaço em branco” que prometia auxílio
na supressão de todas as autoridades civis e militares que os tivessem
governado.
- Para alcançar estes objetivos, os líderes da Revolução Francesa empenharam-
se em limpar o país de toda a possibilidade de oposição interna. O “Terror”
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matou milhares de membros das antigas classes dominantes e todos os
suspeitos de oposição, mesmo os que tinham apoiado a Revolução (Motivações
comparáveis, dois séculos mais tarde, presidiram as purgas de 1930 na Rússia e a Revolução
Cultural Chinesa das décadas de 1960 e 1970).

A Era Napoleónica
Napoleão queria reverter a multipolaridade – que tinha sido elemento definidor
do sistema internacional europeu – e instalar um império.
Ele desejava, assim, limitar a independência dos demais Estados e não procurar
ajustar o equilíbrio de poder, mas antes abandonou-o, desejando um poder
imperial. Napoleão propôs-se o domínio e a unificação da Europa.
Ano de 1809 – sob a sua brilhante liderança militar, os exércitos franceses
teriam esmagado toda a oposição na Europa Ocidental e Central, recompondo o
mapa do continente segundo uma nova conceção geopolítica.
Napoleão anexaria territórios fundamentais à França e estabeleceu em outras
repúblicas satélites, muitas governadas por familiares ou marechais do seu
exército.
Em toda a Europa passou a vigorar um código jurídico comum. Foram
promulgadas dezenas de disposições sobre assuntos económicos e sociais.
Tornar-se-ia Napoleão o unificador de um continente dividido desde a queda de
Roma? Dois obstáculos permaneciam: a Inglaterra e a Rússia.
Com a expansão e o crescimento económico e militar, a França passava a
representar uma ameaça cada vez maior para a Inglaterra. Efetivamente, o
conflito fundamental foi travado por Inglaterra e França:
 a Revolução trouxe ao poder em França uma burguesia com apetites
ilimitados, e a sua vitória pressupunha a destruição do comércio inglês e
uma salvaguarda contra uma recuperação futura da Inglaterra.
 Do ponto de vista dos ingleses, o conflito era quase totalmente
económico. No entanto, o Reino Unido também não estava feliz com as
várias ações tomadas pela França após a assinatura do Tratado de
Amiens.
Napoleão Bonaparte havia anexado:
- Piemonte e a Ilha de Elba
- Proclamou-se presidente da República Italiana (Estado criado pela França)

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A Inglaterra, protegida pelo Canal da Mancha, esperou por Napoleão e por
algum erro que permitisse aos ingleses regressar militarmente ao continente
como defensores do equilíbrio do poder.
Uma nova coligação procurava conter as ambições de Napoleão Bonaparte, que,
em 1804, se tornara o imperador Napoleão I. Estas ações provocaram a entrada
da Inglaterra na guerra, seguida pela Áustria, Nápoles, Rússia e Suécia.
Ao contrário do fracasso com os ingleses, os franceses venceram os outros
inimigos da coligação: Áustria em 1805, Prússia em 1806 e Rússia em 1807.
 Com o Bloqueio Continental de 1806, Napoleão determinava que os
Estados europeus fechassem os seus portos ao comércio com Inglaterra,
enfraquecendo as suas exportações. Na política da armadilha e da
intimidação, Estados neutros foram explorados e atacados. Nápoles e
Hanover foram ocupados em 1803; Portugal em 1807.

 Em 1808, Napoleão substituiu a Bourbon em Espanha por uma


bonapartista.

 Com o Tratado de Tilsit de 1807, o czar russo Alexandre I chegou a um


acordo que deixou Napoleão dominante na Europa Ocidental e Central,
mas, em 1812, a aliança franco-russa foi quebrada pelo czar, que rompeu
o bloqueio contra os ingleses e Napoleão empreender então a campanha
contra a Rússia. Napoleão entrou em Moscovo e, durante a retirada, o
frio e a fome dizimaram o Exército francês.
 Em 1813, Napoleão defrontou-se com os exércitos da Rússia, Prússia,
Áustria e Suécia em Leipzig. A batalha terminou com a derrota de
Napoleão.
 Napoleão exilou-se na Ilha de Elba em 1814, de onde fugiu no ano
seguinte. Entretanto, a monarquia francesa foi restaurada com Luís
XVIII, irmão de Luís XVI.
Os membros da Coalizão reuniram-se, então, no Congresso de Viena
para restaurar as monarquias na Europa.
 No entanto, enquanto era traçado o novo mapa europeu, em março de
1815, Napoleão fugiu de Elba, voltou à França, e iniciou a formação de
um novo exército, num Governo dos Cem Dias. O rei enviou uma
guarnição de soldados para o prenderem, mas estes aderiram a
Napoleão.
Luís XVIII fugiu para a Bélgica.
 A Europa coligada retomou a luta, e Napoleão invadiu a Bélgica em junho
de 1815, mas foi derrotado pelos ingleses na Batalha de Waterloo.

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O imperador francês foi novamente exilado, desta vez na distante ilha de
Santa Helena, onde viria a morrer em 1821.
 Luís XVIII reassumiu o trono francês com o apoio do Congresso de
Viena.
Chegaram ao fim as Guerras Napoleônicas.
O falhanço da Europa, isto é, de várias e sucessivas coligações, para conseguir
um equilíbrio contra Napoleão, ficou-se a dever não apenas à destruição, por
parte de Napoleão, das potências que se lhe opunham, mas também ao facto de
ele querer estar nas boas graças dos Franceses, algo que, Napoleão sabia,
estava dependente no facto de ele conseguir aparentar, bem como na
realidade, ter um poder hegemónico.
Mas as guerras de Napoleão, apesar de envolverem grandes massas de homens,
e muitas vezes, baixas pesadas, destinavam-se a serem rápidas e não a
prolongarem-se:
- Tecnicamente, os velhos exércitos eram mais treinados e disciplinados e, onde
essas qualidades eram decisivas (como na guerra naval), os franceses foram
sensivelmente inferiores.
Porém, eles eram imbatíveis em organização improvisada, mobilidade,
flexibilidade, coragem ofensiva e moral de luta.
Os governos franceses tiraram vantagem das linhas internas de comunicação e
de transporte, recursos novos conquistados e inovações como o levante em
massa.
“A batalha ideal Napoleônica era manipular o inimigo numa posição não favorável através de
manobras e ardis, forçando-o a mandar as suas principais forças e reservas para a batalha
principal e depois realizar um ataque envolvente com as tropas não comprometidas ou as
reservas no flanco ou por trás. Tal ataque surpresa ou daria um duro golpe na moral inimiga ou
o forçaria a quebrar as suas linhas. Ainda assim, a própria impulsividade do inimigo começava
o processo onde um pequeno exército francês poderia derrotá-los um a um. “Donald
Sutherland”

- Além disso, a Grande Armee de Napoleão, alimentada pelo recrutamento


obrigatório até nos países anexados, abastecia-se e mantinha-se com os bens
dos inimigos e das populações conquistadas, através de pesados tributos
financeiros. O resultado foi um enorme aumento da dimensão do exército e a
sujeição de regiões inteiras.
Só quando sucumbiu à tentação de invadir territórios cujos recursos eram
insuficientes para o abastecimento de um grande exército – Espanha e Rússia –
é que Napoleão conheceu a derrota, primeiro ao exceder as suas capacidades,

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sobretudo na Rússia de 1812 e, mais tarde, quando o resto da Europa se uniu
contra ele.
- Existia diplomacia durante o conflito, que era seguida por acordos que
adiantavam os seus objetivos.

As Guerras Napoleônicas tiveram um impacto significativo no cenário


geopolítico europeu:
 a dissolução do Império Romano-Germânico
 a ascensão de novas ondas de patriotismo e nacionalismo pelo
continente, que ajudaram os processos de reunificação na Alemanha e
Itália ao final do séc. XIX.
Além disso, o outrora poderoso Império Espanhol entrou em rápido declínio
após a ocupação francesa, abrindo caminho para revoluções pela
independência em toda a América Espanhola.
Assim, o Império Britânico tornou-se a maior potência mundial, de forma
incontestável, nas décadas seguintes, dando início à chamada Pax Britannica.
O fim das guerras napoleônicas marcou o início de um sistema internacional
baseado no equilíbrio de poder entre as potências europeias que durou 100
anos, até à Primeira Guerra Mundial.

A Arte da Guerra
A guerra está no centro das RI e da disciplina das RI.
O seu estudo mais conhecido é o de Carl von Clausewitz (1780-1831), Da
Guerra (publicado posteriormente e inacabado em 1831).
Clausewitz é famoso pela sua máxima “a guerra não é mais do que a
continuação da política por outros meios”.
Este procurou apresentar a arte da guerra não como moral ou imoral, mas como
um fenómeno presente através da História que podia ser estudado, não como
uma ciência exata, porque o papel do acaso e do que ele chamava uma
imprevista “fricção” no combate, mas sim como um campo da atividade
humana. Para Clausewitz, a guerra é uma atividade social como o comércio, a
litigação ou a política.

15
O Congresso de Viena: importância nas Relações Internacionais
De setembro de 1814 a julho de 1815
No fim de vários anos de um quase constante estado de guerra e do “fazer” e
“refazer” das “nações”, os antigos regimes ficam muito alterados, exceto a
autocracia russa, pela necessidade de mobilizar os seus povos.
Iniciaram a difícil tarefa de restaurar a Europa dos tradicionais estados
dinásticos brutalmente equilibrada através da diplomacia e da guerra limitada.
O Congresso de Viena, tal como os que se lhe seguiram operaram num contexto
radicalmente novo: a velha Europa na qual um soberano podia reivindicar ser o
Estado, tinha sido erradicado e quando a paz foi restaurada as “velhas garrafas”
do passado tinham de conter o “novo vinho” dos exércitos de cidadãos, política
popular e nacionalismo.
Nesta época, os Estados parecem menos bolas de bilhar da teoria das RI que
teorias maleáveis e políticas de divisão, e a soberania doméstica algo dúbio e
desafinada.

O Congresso de Viena tentou recriar o “sistema” do séc. XVIII.


Os participantes no Congresso de Viena foram: Prússia, Áustria, Rússia, Inglaterra, Suécia,
Espanha e Portugal (PARISEP) e Franca. Apenas as questões processuais eram decididas em
conjunto; as questões substantivas eram tratadas em Petit Comité pelos quatro grandes a
quem se juntaria a Franca. Posteriormente, todos os restantes são admitidos na mesa de
negociações, mas a Pentarquia continua a dominar.

Sob a direção das 4 principais potências – Inglaterra, Rússia, Prússia e Áustria –


e sob a presidência do chanceler Metternich (estadista austríaco), várias
centenas de representantes de todos os Estados, entre os quais uma brilhante
delegação francesa conduzida por Charles Maurice de Talleyrand-Périgord:

 Trabalharam para restabelecer um equilíbrio e uma estabilidade das


forças no continente garantidas e colocadas sob a vigilância daquilo que
batizaram como: o “concerto europeu”

Congresso de Viena  Concerto Europeu

 Procuraram redesenhar um mapa sintetizando o antigo e o novo, a


redefinir as zonas de influência, a instituir princípios de legitimidade e
de soberania reconhecidos por todos os participantes.
No fundo, reverter as alterações causadas pelo governo de Napoleão,
com a restauração de diversas monarquias e o regresso ao poder de
várias casas reais.

16
 Este momento foi também o do regresso à paz e a uma certa “doçura de
viver”, em torno de festas brilhantes, mesas sumptuosas e alcovas que
não guardaram todos os segredos. O congresso não anda, dança” gracejou
injustamente o príncipe de Ligne.

As negociações não se desenrolaram sem complicações, disputas e graves crises


à volta dos tapetes verdes. Esteve-se mesmo muito perto da guerra acerca do
futuro da Polónia e da Saxónia. Depois de se ter perdido muito tempo em
confrontos souberam concluir os trabalhos, sob a ameaça do regresso de
Napoleão.
 Os termos de paz foram estabelecidos com a assinatura do *Tratado de
Paris (30 de maio de 1814), em que se estabeleciam as indemnizações a
pagar pela França aos países vencedores.
Mesmo diante do regresso do imperador Napoleão I do exílio, tendo
reassumindo o poder da França em março de 1815, as discussões
prosseguiram.
O Ato Final do Congresso foi assinado 9 dias antes da derrota final de
Napoleão na Batalha de Waterloo a 18 de junho de 1815.
*O Tratado de Paris, assinado em 30 de maio de 1814, termina a guerra entre a França e a
Sexta Coligação, composta por Reino Unido, Rússia, Áustria, Suécia e Prússia.

Tal como Vestefália em 1643 – e Paris depois em 1919 – o Congresso de Viena é


um acontecimento icónico na história da política e da diplomacia da Europa, um
dos grandes momentos para o funcionamento do sistema multipolar das
grandes potências.
Às 4 grandes potências aliadas – Reino Unido, Áustria, Prússia e Rússia – e à
França Borbónica juntaram-se potências mais pequenas como a Suécia, a
Espanha e Portugal (mas devido à insistência da Rússia não estiveram
representantes do Império Otomano), enquanto levados pela ambição ou pelo
medo, um grande número dos envolvidos acorreram a Viena para apresentar os
seus casos: os grandes e pequenos estados Alemães (o rei da Saxónia não foi,
contudo, convidado).
Entre os atores principais, as figuras que se impõem foram:
 O autocrata de Todas as Rússias, O Czar Alexandre I (1777-1825)
 Charles Maurice Talleyrand (1754-1838), sobrevivente representante de
Luís XVIII, restaurado como rei de França
 Robert Stewart, Lord Castlereagh (1769-1822), ministro dos negócios
estrangeiros e plenipotenciário do governo britânico que se contentava
em o deixar exercer uma quase completa independência de julgamento

17
 Clemens von Metternich (1773-1859), o ministro austríaco, figura central
nos assuntos europeus não apenas na conferência, também nas décadas
subsequentes
Metternich afirmou: “Não é necessária muita perspicácia política para se verificar que este
Congresso não podia seguir o modelo de nenhum outro que já tivesse tido lugar”.

O seu objetivo era o de ser abrangente e a sua organização refletia isto.


Além das questões territoriais que requeriam atenção, devido ao colapso do
regime imperial francês, a conferência tinha 2 objetivos principais:
1. A vigilância contra o ressurgimento da França no futuro
2. Consolidar não apenas o “equilíbrio” entre as outras Grandes Potências,
mas a sua ativa e duradoura colaboração na preservação da ordem
futura.

Alguns meses antes da queda de Napoleão, Castlereagh tinha negociado uma


aliança (da Grã-Bretanha, Áustria, Rússia e Prússia), a última das sucessivas
coligações contra a França, não apenas para assegurar a derrota final do
imperador francês, mas para conseguirem juntos fazer e valer uma paz estável.
 O Tratado de Chaumont (cessar-fogo proposto pelos membros da Sexta
Coligação a Napoleão em 1814) incluía uma explícita declaração que
tinha como seu objetivo: a manutenção do equilíbrio da Europa, para
garantir o repouso e a independência das Potências.
Subsequentemente, aquando da restauração da monarquia dos Bourbons,
os dois Tratados de Paris (antes e depois do Império dos Cem Dias) tratavam
separadamente com as fronteiras e reparações territoriais francesas.

As potências em Viena ocuparam-se de questões mais amplas envolvendo o


próprio sistema de estados:
- Inumeráveis “ajustamentos” territoriais
- Restauração dos soberanos “legítimos”
- Reivindicações e contra reivindicações dos desalojados ou ambiciosos
- A construção de um sistema de segurança coletiva (o Concerto ou,
subsequentemente, o Sistema do Congresso) pelo qual as Grandes Potências se
encontrariam periodicamente ou/e em tempos de crise.

18
Viena não tentou restaurar, de forma fac-similada, a Europa que Napoleão tinha
destruído. As questões-chave envolviam o destino da Saxónia, o futuro de
outros estados alemães, outrora parte do defunto Sacro Império Romano
Germânico e o caráter da associação dos que sobreviveram numa nova Bund
(União) ou federação.
 As reivindicações, incluindo as do Papa, ou dos Bourbon espanhóis
legitimistas, acerca de partes da Itália, a disposição de grandes territórios
da Europa central outrora parte do dividido Reino da Polónia.
 Os Países Baixos tornaram-se um amortecedor entre a França e a Prússia
ao juntar a Bélgica e a Holanda num único estado. Os estados alemães da
Saxónia e da Baviera faziam a mesma função entre a Áustria e a Prússia.
 Em vez de uma restauração contenciosa de um Sacro Império Romano
Germânico dominado pelos Habsburgo, criou-se uma nova
“Confederação Germânica” que ficou sob a presidência da Áustria –
suficientemente forte para desencorajar a agressão francesa, mas muito
fraca, ela própria, para ameaçar o equilíbrio europeu.

Tal como a Paz de Vestefália mais de um século e meio antes, Viena foi um
exemplo pouco usual de multipolaridade mais do que negociações bilaterais,
uma conferência deliberando sobre vastas questões.
A multipolaridade de Viena era largamente restrita às Grandes Potências,
dificilmente influenciada por muitos dos estados menos importantes, cujos
destinos foram decididos à volta das mesas do Congresso.
O Congresso de Viena traçou as linhas do tabuleiro político da Europa da
primeira metade do séc. XIX.
Teve o grande mérito de conseguir obter a paz mediante o acordo entre as
diversas potências, incluindo o país vencido, no que constituiu um assinalável
sucesso da diplomacia. No entanto, as expetativas da cimeira eram limitadas e
não correspondiam a uma resposta para os novos desafios do séc. XIX.
Uma vez que envolveu a vitória das monarquias europeias sobre a França
revolucionária, correspondeu, portanto, a um reforço dos modelos políticos
tradicionais, ou seja, das monarquias absolutas, rejeitando os princípios do
liberalismo emergente e preconizando o regresso à velha ordem social e
política do séc. XVIII.
Desse modo, não resolveu a questão dos nacionalismos europeus, que vieram
a despontar por toda a Europa pouco depois e que viriam a marcar e a definir
toda a história europeia do séc. XIX.

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Novidades resultantes do Congresso
- Conceito de equilíbrio do poder, através de uma hegemonia coletiva que dará
origem ao Concerto Europeu (sistema de conferências periódicas para proceder
aos ajustamentos necessários à ordem e a evitar a guerra generalizada,
constituindo-se como um sistema de segurança coletiva).
- Princípio das Nacionalidades, que ao longo do séc. XIX teve o apoio do
movimento romântico, apologista dos critérios da raça e da língua
- Liberdade de circulação nos rios Reno e Danúbio
- Condenação do tráfico de escravos, sob proposta da Grã-Bretanha. Esta
atitude antiescravagista marcou toda a política externa britânica ao longo do
séc. XIX. Ao apoiar as lutas independentistas e o movimento antiescravagista, a
Grã-Bretanha viria a controlar por completo as economias destes países.
- Formação da Santa Aliança: formada em setembro de 1815, aliança
conservadora entre as monarquias da Prússia, da Rússia e da Áustria (7 A
Inglaterra, embora tenha participado de todas as coligações formadas para combater
Napoleão Bonaparte, nunca aderiu à Santa Aliança em razão da ideologia antiliberal que
estava no centro do grupo, bem como pelo facto de ter interesses no comércio com as jovens
nações (colónias), que defendia o princípio da legitimidade monárquica e que se
revestia de um caráter contrarrevolucionário.
Estes Estados Conservadores procuravam erguer barreiras contra a nova vaga
de revoluções, defendendo a adoção de mecanismos para a preservação da
ordem legítima, ou seja, da monarquia.
Foi, assim, uma forma de garantir a realização prática das medidas que foram
aprovadas pelo Congresso de Viena, bem como impedir o avanço corruptor das
ideias liberais e constitucionalistas, muito espalhadas com a Revolução Francesa
e que haviam criado revoltosos um pouco por toda a Europa.
- Formação da Quadrupla Aliança: firmada em novembro de 1815, entre o
Império Austríaco, Grã-Bretanha, Reino da Prússia e Império Russo *(PRAG) e,
com admissão da França em 1818, tornou-se a Quíntupla Aliança.
*O negociador inglês, Lord Castlereagh, por entender que a Santa Aliança tinha por finalidade
última colocar a Inglaterra à margem das questões políticas europeias, garantindo a
proeminência da Rússia na Europa, propôs a criação da Quádrupla Aliança, reunindo a
Inglaterra e as três potências signatárias da Santa Aliança, com o objetivo de realizar consultas
quando a situação política do continente exigisse.

Porém, a Grã-Bretanha não tardou em proclamar o seu “esplêndido isolamento”


e em definir uma ordem mundial hegemónica que ficaria conhecida como a Pax
Britannica.
 O grande objetivo era vencer qualquer desafio à ordem territorial saída
do Congresso.

20
 A ideia de uma garantia territorial não tinha a mesma relevância para
cada um dos signatários. O grau de urgência com que as ameaças eram
percebidas variava substancialmente. A Grã-Bretanha, protegida pelo seu
domínio dos mares, sentia-se suficientemente segura para se abster de
compromissos definitivos em relação a meras contingências. A margem
de segurança dos países continentais era mais estreita, pois
consideravam que a sua sobrevivência podia ser posta em risco por
iniciativas menos dramáticas, como qualquer revolução que ferisse a
questão da legitimidade
 O Direito de Intervenção foi defendido pelo ministro austríaco, príncipe
Metternich, segundo o qual as nações europeias interviriam onde quer
que as monarquias estivessem ameaçadas ou onde fossem derrubadas. A
aliança visou a manutenção dos Tratados de 1815, tendo em vista
reprimir as aspirações liberais e nacionalistas dos povos oprimidos*
*Espanha e Portugal faziam parte do acordo, por isso a Santa Aliança tinha o direito de
intervir nas colónias desses países caso se tentassem libertar

- Inovações nas práticas diplomáticas:


 Formação de comités de caráter técnico, onde todos participavam, o que
denota uma maior flexibilidade e informalidade relativamente a
Vestefália
 Abolição da figura do mediador, embora Metternich e Talleyrand tenham
desempenhado figura igualmente central no Congresso
 Delineou-se um sistema organizado de normas e práticas diplomáticas,
estabelecendo-se a hierarquia de representação e agentes diplomáticos,
respetiva precedência e estatuto (feita com base na antiguidade da
apresentação das credenciais), pondo assim termo às complexas regras
existentes e contribuindo para a afirmação do princípio da igualdade
soberana entre Estados e para uma profissionalização da diplomacia.

- Êxito da diplomacia multilateral: designadamente pela institucionalização do


sistema de negociação multilateral, com congressos periódicos, embora esta
inovação tenha resultado na consagração de um procedimento de legitimação
das intervenções das potências nos conflitos.
 Laybach (1821): a Áustria é encarregada de impor a ordem na Península
Itáloca, ou seja, repor o absolutismo em Nápoles e na Sardenha
 Verona (1822): a França debelou a Revolução Espanhola e restituiu o
poder de Fernando VII.

21
- Ajustamentos Territoriais
 Alemanha: ganhos territoriais da Prússia (territórios na margem esquerda
do Reno);
Criação da Confederação Germânica com os 37 Estados Alemães, com
uma Dieta, sob presidência austríaca e vice-presidência prussiana. A
Confederação Germânica era demasiado fragmentada para ações
ofensivas e, no entanto, suficientemente coesa para resistir a invasões
estrangeiras contra o seu território. Assim, este arranjo constituía um
obstáculo a invasão da Europa Central, sem, no entanto, criar uma nova
ameaça nos flancos das duas maiores potências, a Rússia a leste e a
França a ocidente

 Itália: sofre uma reorganização – no Norte, as regiões do Véneto, da


Lombardia e o Grão-ducado da Toscânia ficaram sob a tutela austríaca;
no Sul, o antigo reino de Nápoles torna-se Reino das 2 Sicílias, com uma
dinastia Bourbon.

 Suíça: transforma-se em Confederação Helvética

 Portugal: perde Olivença e a Guiana, mas recupera dos espanhóis Santa


Catarina e Rio Grande do Sul

 França: cede territórios aos ingleses, nomeadamente a colónia do Cabo e


as Seychelles.

A Santa Aliança e o Concerto Europeu


Concerto da Europa = Sistema do Congresso

após o Congresso de Viena, foi o equilíbrio de poder que existia na Europa


desde o fim das Guerras Napoleônicas de 1815 a 1914 quando eclodiu a
Primeira Guerra Mundial, embora com grandes alterações após as Revoluções
de 1848.
Fundadores  Áustria, Prússia, Império Russo e Grã-Bretanha (juntos como
membros da Quádrupla Aliança, responsável pela queda do Primeiro Império
Francês.
Com o tempo, a França foi aderida como um quinto membro do Concerto. No
início, as principais personalidades foram o secretário de relações exteriores da
Grã-Bretanha Robert Stewart, o chanceler austríaco Klemens Wenzel von
Metternich e o czar russo Alexandre I.

22
Apesar do seu sucesso inicial, o Concerto Europeu foi corroído pelos levantes
revolucionários de 1848, com as suas demandas de revisão do Congresso de
Viena, deixando-o num caminho para a solução de sucessivas guerras que
eclodiram na metade do séc. XIX, como a Guerra da Crimeia (1854-1856),
Guerra de Independência Italiana (1859) e a Guerra Franco-Prussiana (1870-
1871).
Entretanto, ocorreu uma conquista significativa durante o Congresso de Berlim
em 1878, que redesenhou o mapa político dos Balcãs, alterando o velho
equilíbrio de poder e substituindo-o por um sistema de alianças flutuantes. No
início do séc. XX, as grandes potências foram organizadas em duas coligações
opostas. A última conferência foi a Conferência de Londres convocada para
discutir a guerra nos Balcãs. Em 1914, a Grã-Bretanha propôs uma conferência,
mas a Áustria-Hungria e a Alemanha recusaram-se a participar.
Este foi o ano em que a Primeira Guerra Mundial começou.

O sistema policiado: 1815-1822


Nos anos que se seguiram a Viena, os homens de Estado conservadores olharam
para trás, para a confusão que a Revolução Francesa e as ambições de Napoleão
trouxeram ao sistema europeu de estados e esperaram conseguir alianças e um
processo que atuaria para conservar o status quo.
O regime de equilíbrio do poder do séc. XVIII marcado por frequentes guerras
limitadas seguidas por acordos de paz negociados e equilibrados, podia já não
ser adequados.
 O Czar Alexandre I olhado por muitos como um “libertador” iluminado
que tinha anteriormente exprimido sentimentos liberais e não era
particularmente simpatizante da legitimidade dos Bourbon, tornou-se
obcecado por uma espécie de messianismo evangélico determinado a
resistir à ímpia revolução e a preservar o papel da Santa Aliança da
Rússia, Prússia e Áustria.
 A preocupação de Metternich depois de Viena foi a de instituir um
processo através de congressos periódicos das Grandes Potências a fim
de evitar a guerra entre elas.
 A Quádrupla Aliança (Áustria, Grã-Bretanha, Rússia e Prússia) continuou
com uma série de congressos subsequentes. Por volta de 1822 quando já
tinham tido lugar cinco, o sistema de reuniões regulares foi abandonado
largamente devido à relutância britânica em intervir nos assuntos
internos dos estados.
 Os congressos serviram para sustentar a ideia da regulamentação pelas
Grandes Potências, como um “concerto da Europa” num tempo de
iminentes crises de guerra.

23
O sistema desafiado e reconstruído
Se o Concerto Europeu tinha vindo a perder importância desde 1822 com a
saída inglesa, os acontecimentos seguintes contribuíram para o
enfraquecimento da Santa Aliança, que ainda assim só acabará em 1856, com o
fim da Guerra da Crimeia, onde os ingleses conseguiram opor os seus membros.
Será que o nacionalismo mudou a maneira como o sistema de estado
cooperava? Será que mudaram as razões pelas quais se vai para a guerra?
 O nacionalismo étnico foi a segunda grande ideia da política ao longo do
séc. XIX, juntamente com a ideia de revolução.
O longo séc. XIX prolonga-se desde 1815 com o Congresso de Viena, e a
1914, início da I Guerra Mundial.
Este nacionalismo constituiu um poderoso instrumento na criação da Grécia,
na unificação da Itália e na criação do Império Alemão (que deixa de ser
dominado pela Áustria, ao ficar fora das fronteiras do Império Alemão).
É esta a visão de Bismarck, numa ideia de “pequena Alemanha” longe do
domínio da Áustria. O nacionalismo, tal como o patriotismo, tornou-se uma
força enorme, em toda a Europa.
A Década de 20
A partir de 1820 há uma nova vaga de Revoluções Liberais com cariz
nacionalista – Nápoles, Portugal e Espanha.
O objetivo da Santa Aliança é posto em causa.
Em 1821, o Concerto Europeu reúne-se e a Áustria é autorizada a intervir
para suster as revoluções italianas. No ano seguinte, o Concerto aprova a
intervenção francesa em Espanha.
Como consequência, a Grã-Bretanha retira-se da Quadrupla Aliança, já que
a intervenção “esplendido isolamento”.
A campanha francesa é bem-sucedida e Fernando VII é reinstalado como rei
absoluto em Espanha, embora não consiga evitar as revoluções da América
do Sul.
Esta década é ainda marcado por dois grandes acontecimentos:
Doutrina Monroe: proclamada pelos EUA que passam a não admitir
intervenções externas no Hemisfério Ocidental
Vaga de Independências sul-americanas: a Doutrina Monroe, mesmo
com o apoio da Santa Aliança, impede a intervenção das potências
europeias.

24
A Década de 30
As Revoluções Liberais voltam à Europa na década de 30:
 1829: Os Gregos revoltam-se, com o apoio inglês, contra o Império
Otomano. Após o longo período de conflito e com a ajuda das Grandes
Potências, a independência foi finalmente garantida por meio do Tratado
de Constantinopla em julho de 1832.
O povo grego foi o primeiro a adquirir o estatuto de Estado Soberano frente
ao Império Otomano, sob forma de uma República.
 1830: A Revolução em França contra a Restauração dos Bourbon abriu
fissuras através da Europa: o povo de Paris e as sociedades secretas
republicanas, liderados pela burguesia liberal, realizaram uma série de
levantes contra *Carlos X que culminaram com a sua abdicação e o fim
do período conhecido como Restauração Francesa. Luís Filipe subiu ao
trono, num reinado conhecido como a “Monarquia de Julho”.
* Sucedeu o irmão Luís XVIII e reinou de 1824-1830. Se o governo de Luís XVIII foi marcado
pela moderação, a ascensão de Carlos X reviveu o absolutismo de direito divino, o
favorecimento à nobreza e a sufocação da burguesia.

 1831: Na Holanda, os flamengos revoltaram-se e com o apoio francês e


inglês nasce a Bélgica.
O Tratado de Londres, em 1839, assinado entre as potências europeias
(Reino Unido, Império Austríaco, França, Reino da Prússia e Império
Russo) e o Reino Unido dos Países Baixos, deu a independência à Bélgica.

A Década de 40
Em 1842, há uma revolta nos Balcãs, contra o Império Austríaco e apoiada pela
Rússia, que apadrinha os movimentos pan-eslavistas, como meio de
enfraquecer a Áustria e conquistar uma posição na região. Inicia-se um campo
de batalha nos Balcãs: que vai durar até à I Guerra Mundial e de novo em 1990.
A “Questão Oriental” iria atormentar a política europeia de finais do séc. XIX.
1848 é o ano da “Primavera dos Povos” com as revoltas nos Impérios Centrais:
- Como consequência da revolta húngara, o Império Austríaco transforma-se
numa monarquia dualista. Surge o Império Austro-Húngaro.
Surge um acordo da Áustria com a Hungria, passando esta a ter representação
no governo. O Imperador Francisco José e a Imperatriz Elisabete são coroados
na Hungria.
Ainda assim, a Áustria é uma potência em decadência, principalmente face à
Rússia.

25
- Restauração da República em França:
A revolução em França de 1848 abriu também fissuras através da Europa, se
bem que por um breve período de tempo.
A desordem revolucionária em Paris em 1848-1849 levou ao aparecimento de
um regime neo-plebiscitário Bonapartista sob o comando de um dos sobrinhos
de Napoleão I, o futuro Napoleão III.
O Segundo Império (1852-70) aumentou os medos tradicionais de um regresso
do Expansionismo francês. Napoleão III procurou não apenas avançar com os
tradicionais objetivos, mas também avançar com o papel hegemónico francês
na Europa. Com a derrota na Guerra Franco-Prussiana, em 1870-1871, chegou
ao fim o Segundo Império Francês.
A Guerra Franco-Prussiana foi um conflito ocorrido entre o 2º Império Francês e o Reino da
Prússia no final do século XIX. O grande objetivo de Bismarck era remover a ameaça da França
à unificação da Alemanha. Durante o conflito, a Prússia recebeu apoio da Confederação da
Alemanha do Norte. A vitória incontestável dos alemães marcou o último capítulo da
unificação alemã, a queda de Napoleão III e do sistema monárquico na França, com o fim do
Segundo Império e sua substituição pela Terceira República Francesa. Também como resultado
da guerra, ocorreu a anexação da maior parte do território da Alsácia-Lorena pela Prússia.

As revoluções de 1848, a queda de Metternich, e a ascensão de Napoleão III em


França e de Bismarck na Prússia viram chegar uma era de Realpolitik, na quak a
guerra era outra vez um meio de revisão do sistema.
A Guerra da Crimeia (1853-1856) foi a responsável pelo permanente
desmembramento da Santa Aliança, para além de ter confirmado o fim do
Concerto Europeu, instituições que já vinham acusando sinais de fragilidade,
principalmente a partir de 1842 (ano das revoluções nacionalistas nos Balcãs,
onde tanto a Rússia como a Áustria tinham interesses).
O conflito é desencadeado pela França do Segundo Imperador. Ao pedir ao
Sultão do Império Otomano que lhe conceda o título de “Protetor dos cristãos”,
Napoleão III faz com que a Rússia declare guerra ao Império Otomano.
Numa tentativa conciliadora, a Áustria propõe, então, que os imperadores de
França e da Rússia sejam declarados “Protetores dos Cristãos”.
Como consequência, a França e a Grã-Bretanha declaram guerra à Rússia,
apoiando, portanto, o Império Otomano. A Áustria, preocupada por um lado
pela manutenção da Santa Aliança e, por outro, pela intervenção russa nos
Balcãs, decide não tomar partido.
Entretanto, os ingleses e os franceses ocupam a Crimeia. Tendo a Rússia a
combater dentro e fora do seu território, a Áustria lança-lhe um ultimato e exige
a retirada russa dos territórios ocupados. A Guerra da Crimeia chega então ao
fim e, com ela, a Santa Aliança extingue-se e a França ganha um papel na cena
internacional.

26
1859: Napoleão III derrotou a Áustria na Itália.
Nem a Grã-Bretanha, nem a Rússia absolutista queriam “manter o equilíbrio”
contra a França. A derrota na península italiana enfraqueceu a Áustria e
preparou o caminho para o aparecimento de uma Itália unida.
1870: Unificação Italiana; Início da Guerra Franco-Prussiana, onde a Áustria se
mantém neutra.

Bismarck e Napoleão III; a unificação da Alemanha


A mais dramática mudança de jogo nas RI do séc. XIX foi o aparecimento do
Império Alemão construído sobre as guerras e a diplomacia de Bismarck e
ameaçando, com a sua numerosa população, progresso industrial e proezas
militares, o equilíbrio que o sistema mantivera desde a derrota de Napoleão I
em 1814/1815.
Bismarck e Napoleão III tinham espíritos opostos.
Brismarck: génio da política internacional, adepto da Realpolitik, preocupado
apenas com os interesses nacionais da Prússia.
Napoleão III: ótimo político a nível interno, mas menos dotado a nível externo,
constantemente preocupado com a opinião pública.
Os interesses da época:
 Os ingleses queriam manter o equilíbrio de forças europeu
 O Império Austro-húngaro detinha a presidência da Confederação
Germânica
 Napoleão III tinha desejos de protagonismo internacional
 O poderio militar da Rússia e os seus interesses na Polónia
Há quem diga que Bismarck violou o Concerto da Europa para fortalecer a
Prússia, e que depois tentou recreá-lo, de forma a proteger a Alemanha.
O processo de unificação dos territórios alemães era o sonho de Bismarck e do
seu Rei. De modo que isso acontecesse, contudo, era preciso que a Prússia
afastasse, ou pelo menos, neutralizasse momentaneamente dois grandes
inimigos: França e Áustria.
1863: Bismarck faz uma aliança com a Rússia, na sequência da revolta
nacionalista polaca. O acordo garantia à Rússia o controlo da Polónia e o apoio
russo à Alemanha face a uma ameaça austríaca.
1865: A Prússia firma uma aliança com a Itália contra a Áustria

27
1866: Prússia declara guerra à Áustria (guerra das sete semanas), que tem
agora de lutar em duas frentes: a Sul da Itália e a Norte da Prússia. A norte, a
Prússia sai vencedora, conquistando a presidência da Confederação Germânica.
Depois da vitória na Guerra das sete semanas, faltava a Bismarck neutralizar o
seu arqui-inimigo Napoleão III.
A Europa discutia a nomeação de um candidato ao trono espanhol. Bismarck
propôs um príncipe da casa da Prússia, o que era uma clara afronta à França,
tradicional protetora dos interesses espanhóis e aliada da coroa.
Como resposta, Napoleão III, em 1870, declara guerra à Prússia, que acaba em
1871 com a vitória prussiana e a assinatura do Tratado de Frankfurt.
Dava-se início ao processo reformador conducente à total unificação dos
territórios alemães.
O novo Império Alemão corria o perigo de ser olhado como uma espécie de
hegemonia na Europa e que, tal como no passado, urgia um equilíbrio contra
esta nova potência.

A anexação da Alsácia-Lorena é anexada ao Império Alemão, criando uma


eterna inimizade com a França que duraria de 1870 a 1914.
O objetivo de Bismarck nos 20 anos seguintes foi o de evitar um desequilíbrio
contra a Alemanha ao encorajar um concerto de potências conservadoras – a
Liga dos Três Imperadores: Alemanha, Rússia e Áustria-Hungria (1873-1881) –
para controlar os contratantes e impedir uma aproximação da Rússia à França,
aumentando assim, o isolamento da França na Europa.
Este é o último período clássico de um sistema de diplomacia de gabinete
operado ao nível das negociações, tanto públicas como secretas – entre as
grandes potências como forma de ajuste do equilíbrio europeu capaz de
preservar a paz geral. Para Bismarck, a Alemanha tinha de ser vista como uma
potência satisfeita e sem ambições ameaçadoras dos países vizinhos.

A questão dos Balcãs e a Conferência de Berlim de 1878


O Congresso de Berlim de 1878 foi o grande acontecimento da diplomacia
europeia multilateral dos finais do séc. XIX. Evitou a guerra entre as grandes
potências e realçou o valor intermediário do sistema europeu.
 Na sequência da Guerra Russo-Turca de 1877-1878, o objetivo da reunião
foi o de reorganizar os países dos Balcãs. Otto von Bismarck, que
conduziu o Congresso, comprometeu-se a equilibrar os diferentes
interesses da Grã-Bretanha, Rússia e Áustria-Hungria. Como
consequência, no entanto, as diferenças entre a Rússia e a Áustria-

28
Hungria foi intensificada, tal como as questões de nacionalidade dos
Balcãs.

 A Guerra entre a Rússia e o Império Otomano tinha resultado no Tratado


de São Stefano que retirou muito do território dos Balcãs ao Império
Otomano, deixando a Bulgária sem acesso ao mar egeu. Desta forma, a
Rússia poderia desenvolver-se. Ao mesmo tempo, o possível colapso do
Império Otomano preocupava a Grã-Bretanha e a Áustria, preocupada
com a possível destabilização da região com a independência dos Balcãs.
Estas preocupações resultaram na realização do Congresso de Berlim.

 Da Conferência resultam 4 novos Estados: Roménia, Sérvia, Montenegro


e Pequena Bulgária (a Grande Bulgária foi dividida como resultado da
Guerra entre a Rússia e o Império Otomano).
A convocação da Conferência demonstra claramente o peso de Bismarck na
cena política europeia e o contínuo descrédito do Império Otomano –
transforma-se no árbitro da Europa, conseguindo desviar as atenções dos
inimigos.

Em 1884, Bismarck convoca uma segunda Conferência de Berlim que tinha por
objetivo: definir os princípios que iriam presidir à ocupação dos territórios
coloniais.
Estiveram presentes as nações imperialistas do séc. XIX: EUA, Grã-Bretanha,
Dinamarca, Portugal, Espanha, França, Bélgica, Holanda, Itália, Império Alemão,
Suécia, Noruega, Império Austro-Húngaro e Império Turco-Otomano.
Oficialmente, a reunião serviria para garantir a livre circulação e comércio na
bacia do Congo e no rio Níger; e o compromisso de lutar pelo fim da escravidão
no continente.
Contudo, a ideia era resolver conflitos que estavam a surgir entre alguns países
pelas possessões africanas e dividir amistosamente os territórios conquistados
entre as potências mundiais – o “Scramble for Africa”.
Como consequência, o território africano foi dividido entre os países integrantes
da Conferência de Berlim. Um dos resultados finais foi a atribuição de
possessões coloniais a países sem tradição na área – caso da Bélgica e da
Alemanha.
 Grã-Bretanha: as suas colônias atravessavam todo o continente e ocupou
terras desde o Norte com o Egito até o Sul, com a África do Sul
 França: ocupou basicamente o norte da África, a costa ocidental e ilhas
no Oceano Índico

29
 Portugal: manteve as suas colônias como Cabo Verde, São Tomé e
Príncipe, Guiné e as regiões de Angola e Moçambique
 Espanha: continuou com as suas colônias no Norte da África e na Costa
Ocidental Africana
 Alemanha: conseguiu território na costa Atlântica, atuais Camarões e
Namíbia e na costa Índica, a Tanzânia
 Itália: invadiu a Somália e a Eritreia. Tentou estabelecer-se na Etiópia,
mas foi derrotada

A Conferência de Berlim foi uma vitória diplomática do chanceler Bismarck.


Com a reunião, ele demonstrava que o Império Alemão não podia ser mais
ignorado e era tão importante quanto o Reino Unido e a França.
Igualmente, não solucionou os litígios de fronteiras disputados pelas potências
imperialistas na África e levariam à Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
A elaborada estrutura que Bismarck construiu iria eventualmente falhar: pela
ascensão de líderes alemães mais agressivos.
Em 1887, Bismarck consegue firmar uma aliança com a Rússia – o Tratado de
Confirmação de Garantias – que garante à Alemanha que a Rússia não fará uma
aliança com a França, em troca do apoio alemão às pretensões russas nos
Balcãs.
plot twist: Só em 1894 é que a França se alia à Rússia, como resultado da
Welpolitik de Guilherme II, radicalmente diferente da visão calma e europeísta
de Bismarck.

30
1898-1899: Incidente de Fachoda ou Crise de Fachoda foi um episódio ocorrido
entre 1898 e 1899, quando a França e o Reino Unido decidiram construir
ferrovias para conectar as suas colónias africanas. O cenário de confronto foi a
cidade de Fachoda, hoje no Sudão do Sul, cidade que é situada na interseção
das linhas.
 Uma expedição militar francesa foi enviada a Fachoda antes que a força
expedicionária britânica, originária do Egito, chegasse à cidade.
Porém, os franceses tiveram de se retirar da cidade por conta da sua
inferioridade militar. Embora o exército francês continental fosse considerado
maior e mais poderoso que o britânico, nada poderia fazer no contexto africano
sem o devido apoio naval, sendo que a Grã-Bretanha possuía a mais poderosa
marinha do planeta.
 Alguns historiadores consideram que este incidente e o aumento da
influência da Alemanha na região foram os precursores do acordo
chamado “Entente Cordiale” (1904), no qual a França reconhecia o
domínio britânico no Egito e, em troca, recebia o domínio sobre
Marrocos e um condomínio anglo-egípcio no Sudão.

Conclusion:
O sistema europeu, em última análise, fracassou por causa da rivalidade entre
as Grandes Potências. A guerra tornou-se inevitável, não por causa dos
compromissos existentes em Tratados secretos e tempos de mobilização, mas
porque os públicos nacionais a esperavam e até a queriam.
Todas as potências assistiram a uma explosão de agitação popular a favor da
guerra.
A crise de julho e o aumento da tensão pode ser descrito como “o medo do
aumento da população, produtividade industrial e poder militar da Alemanha”.
Para alguns académicos a guerra tornou-se inevitável não devido às guerras nos
Balcãs ou por causa do assassinato, mas em 1905, quando a severa e inesperada
humilhação dos russos pelos japoneses, bem como a revolução que se lhe
seguiu danificou fatalmente as perspetivas da eficácia do equilibrado sistema de
alianças na Europa.
O sistema europeu multilateral tornou-se um sistema bipolar armado
A separação das potências europeias em campos opostos tinha sido
evitada durante gerações; o colapso deveu-se à intensa diplomacia
alemã, ameaçadora e de alto risco, designadamente pela aliança França-
Rússia e pela necessidade de os britânicos terem apoio para sustentarem
os seus compromissos mundiais.

31
Quando a guerra geral começou, foi a Áustria-Hungria e a Rússia que
proporcionaram o “Armagedão” – a luta final numa área que muitos
estadistas do séc. XIX pensaram ser vital para os seus interesses nacionais
(os Balcãs).

As Relações Internacionais na Europa e noutros locais depois de


1870
A narrativa da diplomacia europeia desde a época de 1870 até ao início da
Primeira Guerra Mundial girou em torno dos esforços tensos para dominar o
reconstituído sistema das nações.
Enquanto as grandes potências competiam por territórios e esferas de
influência na África e na Ásia, os sucessores de Bismark quiseram preservar os
ganhos da Alemanha dentro do sistema equilibrado da Europa.
Por outro lado, o sistema europeu de finais do séc. XIX teve um papel
preponderante para o estudo da diplomacia.
Um historiador britânico afirma que “o equilíbrio do sistema diplomático europeu
funcionou melhor na primeira parte do século XIX quando os ministros dos negócios
estrageiros não tinham de se preocupar com a opinião publica”.

De facto, na década de 1870, a maior parte das potências europeias, com


exceção da Rússia, se não eram democracias, eram regimes parlamentares.
A opinião pública tornou-se importante na política externa: mesmo na
autocrática Rússia ocorreu uma preocupação crescente para captar o equilíbrio
eslavo e amparar as bases não liberais.
À medida que a classe média ia tendo mais interesse na política do Estado, os
seus próprios interessem tornaram-se fundamentais. Nesse contexto, o
nacionalismo romântico era especialmente poderoso entre a próspera classe
média leitora de jornais. Além disso, nesta época há cada vez mais europeus
alfabetizados.
A Guerra e o Império tornaram-se notícias de uma impressa barata, ilustrada e
popular de massas. Esta imprensa era perigosa: era capaz de fazer funcionar o
nacionalismo. A classe média baixa e operária ganhou também o voto na Grã-
Bretanha, na Alemanha e na França.
O desenvolvimento maduro de uma economia industrializada e exportadora na
Europa Ocidental teve uma influência de longo alcance na prática das RI:
 Crescente influência dos interesses comerciais e financeiros
 Crescente influência nos interesses estatais de segurança e prestígio nas
RI

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Esta influência resultou em vários problemas para os defensores do livre-
cambismo (livre circulação de bens, sem tarifas alfandegárias) – como a Grã-
Bretanha- em contraste com as potências protecionistas (altas tarifas
alfandegárias como forma de desenvolvimento de uma economia através de
outra economia mais forte) – como a Alemanha.
Conclusion:
A Guerra está cada vez mais dependente da tecnologia industrial das armas e da
capacidade de as pagar – foi graças à sua política protecionista que a Alemanha
pôde desempenhar um papel preponderante na Primeira Guerra Mundial.
É precisamente esta corrida às armas que vai destabilizar o equilíbrio europeu
nos inícios do séc. XX.
Na outra face da moeda, uma economia industrial avançada também significava
um proletariado industrial numerosos, a lealdade do qual era uma preocupação
crescente. Claro que houve quem pensasse que com uma guerra patriótica teria
a vantagem para as elites governantes de distrair as classes proletárias do
internacionalismo socialista.

O “establishment” do séc. XIX


O sistema diplomático do séc. XIX e os seus profissionais permaneceram
cosmopolitas e elitistas.

Os diplomatas de topo continuaram a ser recrutados entre a elite social.


No entanto, caminha-se para a meritocracia: começa a ser escolhido para
diplomata quem tem mais mérito.
A Prússia ia à frente em direção à meritocracia: no início do séc. XIX a admissão
à carreira diplomática era feita através de exames, tinham de ter 3 anos de
estudos universitários, desempenhar 18 meses de funções em governos
provinciais; se fossem escolhidos pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros
tinham de trabalhar 1 ano sem remuneração. A verdade é que, apesar de o
processo de recrutamento parecer minimamente democrático, apenas os mais
ricos conseguiam aceder a esta condição.

 Os diplomatas alemães tinham no seu nome “Von” e “Zu”, indicação da


pertença à classe aristocrática
 Francês: idioma da diplomacia
 Em França, o pessoal diplomático e do MNE mudou, na sua maior parte,
na Terceira República, depois da queda de Napoleão em 1870.

33
Nos primeiros anos do séc. XX contava mais ter um título académico da Escola
Francesa de Ciência Política, do que ser descendente da aristocracia.
 As reformas do serviço público britânico não foram completamente
implementadas no MNE, onde os contactos continuavam a ser uma
forma importante de entrar e pertencer a uma família rica e importante
era pré-requisito.
 Na Rússia o processo continuou profundamente aristocrático, apesar de
claros sinais de início de uma tímida meritocracia. Os nobres eram
admitidos por direito pessoal.

Na maior parte das Grandes potências a burocracia a nível doméstico aumentou


significativamente, tal como o corpo diplomático no estrangeiro.
- Viena era um importante centro da diplomacia internacional
- O Império Russo também constrói edifício para o MNE
Conclusion:
O caráter daqueles que eram recrutados para diplomatas não mudou muito,
apesar da introdução de exames no processo de recrutamento.
Antes da Primeira Guerra Mundial todos quantos trabalhavam nos ministérios
dos negócios estrangeiros e no corpo diplomático estavam marcados por um
etos – espírito caraterístico de uma comunidade ou de um povo – de
superioridade aristocrática e de riqueza.

Imperialismo e as relações internacionais entre os impérios (Europeus )


- A Inglaterra foi o maior Império colonizador já conhecido.
O aço foi um motor de desenvolvimento do armamento para a construção civil
e naval e caminhos ferroviários. Nos inícios do séc. XX desenvolvem-se os
submarinos que irão já ajudar na Primeira Guerra Mundial.
- As pretensões imperiais e o caráter multilateral das autocracias pré-modernas
da Rússia da Áustria e do Império Otomano subsistiram com dificuldade. Apesar
de compostos por diferentes e enormes territórios e povos, estes impérios
interagiram no sistema europeu como teóricos Estados unitários e soberanos
quando de facto eram aglomerações grosseiras.
Os Impérios Europeus globais do período moderno eram muito diferentes.
Eram extensões de Estado-nação unitários, ou seja, eram Estado nações que
tinham conseguido exportar colonos para as áreas e adquirir controlo direto

34
sobre os territórios e povos não europeus. (apesar de ser uma república, a
França teve o seu império colonial).
Nos finais do séc. XIX, o “Imperialismo” das nações europeias era uma ideologia
expansionista e competitiva*. Era a época dos Impérios.
*As potências aumentavam o seu lucro. As colónias não só aumentavam os recursos que estas
potências podiam empregar dentro do teatro europeu e criaram outra dimensão do conflito e
da negociação.

 A Grã-Bretanha tinha várias possessões coloniais em África e na Ásia


 A França para além de África estava presente na Indochina
 A Alemanha tinha aspirações coloniais. Neste cenário, Guilherme II
adotou a Weltpolitik – elaborada por Von Bulow – que defendia um
“Império irrestrito”. Estavam convencidos de que a rivalidade anglo-russa
tenderia a aumentar e que ingleses e franceses jamais se poderiam
entender, já que a França continuaria interessada no seu Império
Colonial

De forma a hostilizar (embirrar) os ingleses, a Alemanha decide apoiar os Bóer


(que controlavam dois Estados na atual África do Sul) na sua luta contra o
Império.
O sistema de Congressos permitiu uma estabilidade para regularizar os
problemas existentes.
- Os britânicos e os franceses em 1904 resolveram os seus diferendos na
África através de uma Entente Cordiale. O pensamento geopolítico adquiriu
dimensões globais.
- O oficial da marinha americana e professor Alfred Mahan, tinha escrito um
estudo sobre o poder naval da história e as suas estratégias geopolíticas que
adquirem uma dimensão global: o poder assentava nas potências que tivessem
a capacidade de exercer poder sobre outros Estados, (dominar os mares e
outros povos). Ascensão de uma potência adicional fora da Europa, os EUA.
- Halford Mackinder cria o conceito de Heartland

Socializar-se-ia no centro do Euro-Ásia, com grande quantidade de recursos


naturais e grandes reservas petrolíferas, no entanto estava longe do oceano,
região de difícil acesso pelo mar e difícil controlo sendo que nunca foi
controlada por nenhuma potência europeia. Foi ocupada por povos
seminómades, apenas foi controlada por uma unidade política: Rússia

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Diplomacia do Imperialismo
- Final do séc. XIX competição intensa na África e na Ásia entre as potências
imperiais por territórios soberanos e esferas de influência.
O Weltmacht (poder mundial) começou a ser visto como algo que definia o
estatuto de Grande Potência. Surgimento de lobbies. (busca interferir diretamente
nas decisões do poder público)

- Competição entre as grandes potências, para além da Europa no fim de um


círculo de acentuada ansiedade sobre segurança económica e geopolítica,
pareceu menos marginal para a política dos multi-poderes da Europa.
- Diplomacia do Imperialismo toma o lugar central. As décadas que se seguem
testemunham crises no estrangeiro que ameaçaram o sistema centrado na
Europa:
-- Reconhecimento da França à Grã-Bretanha sobre o Egito (caminho mais
rápido para chegar à Índia). Em troca recebeu Marrocos compartilhado com
Espanha. Fachoda: acidente entre França e Inglaterra em 1898, que culminou na
assinatura da Entente Cordiale em 1904, reconhecimento do Egito.

Grande guerra iminente:


Muita da concorrência imperial no ultramar pode ser sintomática da rivalidade
das grandes potências. Fracasso europeu.
O sistema europeu fracassou por causa da rivalidade entre as Grandes
Potências.
A Guerra tornou-se inevitável porque os públicos nacionais a esperavam e
muitos a queriam.
A Alemanha queria não só uma guerra geral como também sangrenta para um
“status quo” estável  Obter maior equilíbrio económico e militar
Aumento também do medo alemão, da produção e do poderio militar de modo
a mostrar superioridade para com os outros Estados.
A Áustria-Hungria dependia da proteção alemã.
A Itália tal como a Alemanha não tinham colónias e, por isso, mantiveram-se à
parte por estarem demasiado ocupados em África.
Todas as potências assistiram a uma explosão da agitação popular a favor da
guerra.
A guerra tornou-se inevitável em 1905 (com a Guerra Russo-japonesa) e de
seguida uma Revolução Russa, onde o Czar foi obrigado a ceder poderes ao

36
povo, sendo que, isso danificou as perspetivas da eficácia do equilíbrio das
alianças com a Europa.

A Primeira Guerra Mundial


Causas Profundas
Devem-se procurar nas velhas oposições nacionais e nas recentes rivalidades
políticas e económicas que levaram à formação de dois blocos.
A questão marroquina esteve duas vezes quase a causar uma rutura
O problema dos Balcãs opôs a Áustria à Sérvia e à Rússia
As nacionalidades do Império Austro-húngaro ameaçavam a monarquia
de se desintegrar
A oposição anglo-alemã aumentou desde que a Alemanha decidiu dotar-
se de uma poderosa marinha de guerra
- A situação económica da Alemanha levou-a a procurar saídas para
absorver a sua produção excedentária, ou a ver a guerra como solução
- As relações externas francesas são, em parte, comandadas pelos
investimentos de capitais

A Situação Económica
A divisão da Europa em dois blocos:
Tríplice Aliança [1882-1915] Tripla Entente
Alemanha, Áustria-Hungria e Itália Grã-Bretanha, França e Rússia

Postura antibritânica (influenciada Sistema de alianças baseada nos


pela Alemanha, que rivalizava com a acordos bilaterais concluídos a partir
Grã-Bretanha pelo lugar de de 1907 entre os países
1ªpotência mundial)
Renovada em dezembro de 1912 por
6 anos E completada por uma
Convenção naval ítalo-austríaca

A Inglaterra não está ligada senão ao Japão; ela própria empenhou-se, em


1912, em negociações com a Alemanha sobre a base da limitação dos
armamentos.
O chanceler da Alemanha, Benthmann-Hollweg, pedia em troca um
compromisso de neutralidade em caso de guerra. Lord Grey, MNE da Grã-
Bretanha recusou.

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Os dois blocos dispunham de clientes na Europa central e oriental.

A Causa Imediata
A 28 de Junho de 1914 o arquiduque herdeiro da Áustria, Francisco Fernando,
e a sua esposa em visita a Sarajevo, durante manobras militares que tem lugar
na Bósnia, território austríaco, são assassinados.

O Despoletar da Guerra
Com o assassinato do Arquiduque Francisco Fernando, a Áustria declara, em
Agosto de 1914, guerra à Sérvia.
Isto aconteceu depois de esta ter aceite apenas parte do ultimato que lhe foi
feito no mês anterior (o ultimato exigia a condenação do estudante e a
repressão dos movimentos anti-austríacos).
A Guerra começa, então, por força das alianças:
- A Áustria é apoiada pela Alemanha, que, face à intensa mobilização interna
russa, lança um ultimato à Rússia para que não entre na Guerra. O ultimato é
recusado e a Rússia decide apoiar a Sérvia.
- Face ao compromisso assumido em 1894, a França alinha-se com a Rússia
(note-se que em julho de 1914, a Alemanha lançou um ultimato à França,
exigindo a sua neutralidade no caso de um conflito entre a Alemanha e a Rússia)
- A Alemanha decide, depois da entrada da França e da Rússia na guerra,
invadir a França, através da Bélgica (levando à entrada da Grã-Bretanha na
guerra) e, numa segunda fase, invadir a Rússia, passando a debater-se com uma
guerra em duas frentes.
- Com a Grã-Bretanha no conflito, os Aliados concertam posições –
inicialmente a 3: Grã-Bretanha, França e Rússia – e depois a 4 com a Itália em
1915.
- Em 1915, o Império Otomano e a Bulgária entram na Guerra ao lado da
Alemanha e da Áustria: o primeiro decide-se a confrontar a Rússia devido às
suas pretensões balcânicas; a Bulgária quer conquistar território perdido na
conferência de Berlim de 1878.

O Ano de 1917
O ano de 1917 é essencial no estudo da 1ªGuerra Mundial.

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Foi neste ano que o equilíbrio de forças demonstrou que a vitória não poderia
ser assumida como uma certeza pelos Aliados, graças a uma série de
acontecimentos:
 A Rússia assina com a Alemanha o Tratado de Brest-Litovsk e sai da
Guerra, devido à Revolução Bolchevique de outubro
 Os EUA, com todo o seu poderio militar, entram na guerra ao lado da
Tríplice Entente, assim como Portugal e China*.
 O Império Austro-húngaro está em clara fragmentação e a Itália que
combatia ao lado dos Aliados desde 1915, foi derrotada na batalha de
Spoleto, pelas tropas alemãs.

*Além da Tríplice Entente, juntaram-se aos Aliados: a Itália que pertencia a Tríplice Aliança, fez
um acordo com a Inglaterra; os Estados Unidos, pois a Alemanha afundou um navio inglês com
americanos e perdeu o apoio russo, devido as guerras civis internas. Os Estados Unidos
também chegaram a participar da guerra porque viram que os Aliados estavam a perder e
como tinham vendido mercadorias (armas, capacetes, canhões, etc.) que só seriam pagas caso
os Aliados vencessem a guerra, entraram nesta para garantir a vitória dos seus compradores.
Em 1917 também Portugal entrou na guerra ao lado dos aliados, pois via as suas colónias
ameaçadas pelos estados que sairiam vencedores e consequentemente reforçados na
discussão internacional, além de que, as forças alemãs eram uma constante ameaça ao
domínio português nas suas colônias na África. O Brasil, em 1917, também se juntou aos
Aliados no conflito.

A articulação do Sistema Internacional de Versalhes


A 1ªGuerra Mundial teria efeitos decisivos nas RI e na fisionomia da sociedade
internacional contemporânea, especialmente depois da entrada dos EUA.
Até aí centradas na Europa, com a 1ªGuerra Mundial as RI mundializaram-se e
a Europa perdeu o seu lugar central na condução da política mundial.
Um dos principais motivos para esta transformação das RI foi a entrada dos EUA
na guerra.
Desde 1823, com a adoção da Doutrina Monroe que os EUA tinham uma
postura isolacionista em relação à Europa e ao mundo. Embora tenham
regressado a tal atitude no período pós-guerra, não entraram na S.D.N, os EUA
passaram a ser, desde essa altura, um dos atores principais das RI.
O período entre as duas Grandes Guerras foi igualmente marcado por um
movimento anti colonização, que haveria de vingar depois da 2ªGM.
Os anos 30, marcados pelo crash da bolsa de Nova Iorque, contribuíram para a
decadência europeia e para o início do fim dos impérios coloniais.
O fim da 1ªGM contribuiu para o crescimento dos movimentos políticos
extremistas.

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A Construção da Paz e a Conferência de Paris
O fim das hostilidades no Outono de 1918 fora precedido por declarações e
diligências com vista ao mundo que se havia de forjar na paz.
A diplomacia de guerra empreendida pela Entente gerou uma série de
compromissos secretos pontuais e divergentes principalmente a respeito do
futuro da Europa central e oriental, bem como da Próximo Oriente.
 Na Europa, o principal beneficiário das iniciativas franco-britânicas foi a
Itália que, recebeu em troca da sua participação na guerra compensações
territoriais (sul do Tirol, Península da Ístria, Albânia, parte da Dalmácia e
as ilhas do Dodecaneso).
 A Roménia juntar-se-ia aos esforços de guerra depois do Tratado de 17
de agosto de 1916, com o compromisso de anexar a Transilvânia e o
Banato de Temesvar.
 O futuro do Próximo Oriente ficaria difusamente comprometido ao sabor
de acordos de diferentes partes.
 A partilha secreta do Próximo Oriente entre Londres e Paris, mediante os
acordos Sykes Picot de 4 de março e de 16 de maio de 1916, foi contra as
promessas britânicas da criação de um Estado nacional árabe; e o
compromisso de Londres em relação à causa sionista e um lar árabe
judeu na Palestina, assumida na Declaração Balfour a 2 de novembro de
1917

Sistema inequívoco da mundialização das RI estimulado pelo próprio conflito, as


grandes potências extraeuropeias desempenhariam um papel inédito numa
Conferência de Paz junto aos europeus.
A incorporação dos EUA nos esforços de guerra aliados teria, em troca,
consequências decisivas, não apenas no decurso da guerra, mas também na
própria conceção do novo sistema internacional.
Idealismo e escrupulosa moralidade do projeto, personificado pelo presidente
Woodrow Wilson:
- Em maio de 1916, o presidente Wilson propunha pela 1ªvez um plano para
criar uma organização mundial. Nos famosos Catorze Pontos, um dos
documentos mais determinantes no esboço da paz, evocava uma série de
princípios elementares para a convivência internacional.
A supressão das barreiras comerciais, a liberdade dos mares, a redução dos
armamentos, as virtudes da diplomacia aberta e o princípio de
autodeterminação dos povos.

40
A Sociedade das Nações era uma entidade supranacional e a mais inovadora
das propostas.
- O princípio da autodeterminação dos povos, que devia ser consagrado e
garantido pela Sociedade das Nações, era uma das noções prioritárias sobre a
qual se devia organizar a nova vida internacional.
A Grã-Bretanha chegaria à mesa das negociações com a pretensão de preservar
um certo equilíbrio de poder continental e defender as suas aspirações
ultramarinas. O primeiro-ministro britânico, David Lloyd George, tornou-se no
primeiro padrinho oficial da Sociedade das Nações.
O realismo que impregnou as teses francesas sobre a ordem do pós-guerra
encontrava-se, não apenas, nos antípodas do idealismo wilsoniano, mas
também a uma notável distância do pragmatismo e a noção de equilíbrio de
poder de Londres.
A Itália, a mais débil das grandes potências aliadas, encarou as conversações
de paz com o ânimo de conseguir as suas ambições territoriais no
Mediterrâneo Oriental e na África apoiando-se na legitimidade das promessas
assumidas por franceses e britânicos nos Tratados.
Não menos decisivo, entre os condicionantes da paz, foi a convulsão provocada
pela Revolução Bolchevique de 1917 e a maré vermelha noutros locais da
geografia europeia, como os capítulos da revolução espartaquista na Alemanha
e a República de Radomir, na Bulgária.  A ameaça revolucionária geraria uma
grande desconfiança no mundo capitalista. A revolução bolchevique propunha,
e não apenas a partir da teoria, um modelo de sociedade alternativa ao
capitalismo a partir de uma lógica internacionalista.
O fim da Grande Guerra na frente oriental pela paz de Brest-Litovsk (tratado
de paz – 3 de março de 1918 – assinado entre a Alemanha, Áustria-Hungria,
Bulgária, Império Otomano e a Rússia Soviética que renunciava à Polónia e aos
Países Bálticos) de 3 de março de 1918, não deixaria de ter importantes
consequências nas RI do pós-guerra.
O problema das nacionalidades e das minorias nacionais foi outro dos
condicionantes essenciais à paz. As minorias nacionais, como resultado do novo
mapa europeu Pós-Versalhes, viviam divididas por inúmeros novos Estados,
patrocinando assim, o aumento da instabilidade.
O princípio das nacionalidades tinha sido utilizado como uma arma
propagandística por ambos os lados:
 Polacos – o anseio independentista era encarnado na figura do marechal
Pilsudski (1867-1935)
 Checos e sérvios – a atividade dos emigrados checos Edvard Benes (MNE
e depois presidente da República) e de Tomas Masaryk (1ºpresidente da

41
Républica checoslovaca) em França e nos países anglo-saxónicos foi
importante para atrair os meios políticos, diplomáticos e universitários
para a sua causa.
 Sérvios – eficaz foi também a ação dos seus diplomatas em Paris e, em
especial, a Comissão Nacional constituída em Londres por políticos
sérvios, croatas e eslovenos.
 O Congresso das Nacionalidades Oprimidas reunido em Roma em abril de
1918, sob os auspícios franco-britânicos.

1919: A Conferência de Paz de Paris e o Tratado de Versalhes


Começou a 18 de janeiro de 1919

70 delegados – 25 países
Quatro Grandes
EUA, Reino Unido, França e Itália

Os preparativos e as discussões para estabelecer a paz iniciaram-se no Outono


de 1918, devido ao fim das hostilidades.
A Conferência de Paz (Paris) seria o fórum no qual se prepararia um mecanismo
para desenhar o novo sistema internacional, sancionando o novo equilíbrio
resultante da 1ª Guerra Mundial.
- Durante a Conferência constataram-se as dificuldades para harmonizar o
desenho de um novo sistema baseado no respeito dos princípios liberais e
democráticos e no direito de autodeterminação dos povos, assim como a
estruturação dos assuntos mundiais a partir de uma organização internacional.
Da Conferência de Paris sairia o 1º dos Tratados de Paz

O Tratado de Versalhes
Uma “paz imposta” – diktat segundo a perceção alemã – pelo seu conteúdo e
pelo seu protocolo como se encenou quando da sua assinatura na Galeria dos
Espelhos do Palácio de Versalhes.
Consequências da Alemanha:
 Cedência à França da Alsácia e da Lorena
 Cedência à Polónia da Alta Silésia
 Perda do império colonial

42
 Redução substancial do exército
 Obrigação de pagar pensões às famílias das vítimas da Guerra
 Obrigação de indemnizar os Aliados
 Considerada a única culpada da guerra

As consequências sociais na Alemanha que daí advieram foram grandes:


o povo alemão passou a apoiar partidos como o Nacional Socialista, em 1919

Embora uma das figuras centrais tenha sido o Presidente Wilson, as suas ideias
de paz e segurança coletiva, embora incluídas no articulado final do Tratado de
Versalhes, na forma da Sociedade das Nações, nunca chegaram a funcionar
corretamente, desde logo pela rejeição por parte do Senado dos EUA do
Tratado de Versalhes e do Pacto da S.D.N, a 19 de março de 1920.

1919-1939: O período entre as duas guerras mundiais: da segurança


coletiva à rutura
O período entre as duas guerras mundiais do séc. XX tem um caráter
intermédio, pelo menos no que diz respeito aos mecanismos de ordem
internacional. As perspetivas de universalização estão presentes na S.D.N.
- As tendências provenientes do séc. XIX e do conflito mundial afetam os
comportamentos dos principais atores europeus.
- Recuo nos terrenos políticos e diplomáticos, dos EUA depois de 1919
- O período oferece claramente um aspeto transitório

1919-1939: O ambiente socioeconómico e político


O período é caraterizado pela aceleração de um processo em curso já antes da
guerra: o aumento da importância das potências extraeuropeias, com os EUA à
cabeça.
Ao curto período de crise de 1920-1921 sucedeu um tempo de prosperidade
relativa, de que não beneficiam todos os Estados e que não marca, de maneira
igual, todos os setores de atividade.
- O fenómeno da concentração marca as empresas: o poder financeiro
controla este processo. As fusões, as absorções multiplicam-se nos EUA e na
Alemanha, na Grã-Bretanha e em França.

43
- A organização do trabalho toma outra forma
- O comércio internacional segue à distância a evolução da produção
- Existiam vários aspetos negativos: desemprego, dificuldades na agricultura,
multiplicação das barreiras alfandegárias

A guerra levou a um colocar entre parêntesis o funcionamento democrático


dos regimes políticos de orientação liberal. Entra-se num período de crise das
democracias, sendo que a democracia resiste melhor nos países onde tem
bases sólidas como a Grã-Bretanha e tem mais dificuldades nos locais onde a
crise é mais dura e onde as tradições democráticas não existem.
 A Grã-Bretanha continua a ser a potência mais importante, mas com
meios cada vez mais limitados
 A França, enfraquecida, esforça-se por conseguir a sua segurança, ao
mesmo tempo que procura reforçar uma política de força e de expansão
 Os EUA regressam ao isolacionismo
 Entre os vencidos, a Rússia, depois de uma fase revolucionária e de
isolamento procura o reconhecimento
 A Alemanha, insatisfeita, esforça-se por obter uma modificação dos
resultados dos Tratados de Paz, no que lhe diz respeito.

O nacionalismo é uma dominante no seio de todos os Estados europeus e todas


as esperanças são postas na Sociedade das Nações, maioritariamente europeia
e onde muitos dos Grandes estão ausentes.
A Europa de Versalhes parece pouco segura: a ausência, na conferência de paz,
de Estados como a Rússia ou a Alemanha não permitiu construir uma ordem
internacional equilibrada. Além disso, a não participação dos EUA constitui
outra deficiência.

As relações com a Alemanha


Aristide Briand, o Tratado de Rapallo e o Caso de Ruhr
1.A segurança aparece como o elemento central das políticas seguidas.
A França está interessada numa aplicação estrita dos tratados, mas não obteve
a garanta esperado dos britânicos e dos americanos.
A política exigente da França em relação à Alemanha atenua-se até certo ponto
com de Aristide Briand (presidente do Conselho Partidário de uma política de
reconciliação com a Alemanha).

44
Na *Conferência de Cannes (janeiro de 1922), Briand recebeu a ordem do
Presidente da República, Millerand, para não fazer quaisquer concessões em
matéria de reparação e demite-se.
* A Conferência de Cannes de 1922 foi um encontro entre Lloyd George, representante da
Alemanha e Briand, representante francês que tinha como objetivo uma aproximação franco-
alemã e a negociação das indemnizações saídas do Tratado de Versalhes.

2. O Tratado de Rapallo (16 de abril de 1922)


Convence a França da necessidade de uma ação preventiva e contribui para
reforçar as exigências francesas. O Tratado de Rapallo foi um pacto firmado na
cidade italiana de Rapallo entre a Alemanha e a URSS, pelo qual os dois países
renunciavam a todas as reivindicações territoriais e financeiras entre ambos,
provenientes do Tratado de Brest-Litovsk e da 1ªGuerra Mundial.
Era o fim do isolamento soviético: a Alemanha era o 1º país ocidental a
restabelecer as relações diplomáticas com a URSS.
3.A determinação francesa manifesta-se de novo. O *Ruhr é ocupado por tropas
franco-belgas em janeiro de 1923.
Foi a resposta ao fracasso da Alemanha na sua obrigação de assumir a
compensação financeira aos Aliados após a 1ªGuerra Mundial.
* Em Ruhr localizava-se o centro da produção alemã de carvão, ferro e aço localizado no Vale
do Ruhr.

As relações com a Rússia


As transformações internas, que a Rússia conheceu, em 1917, devido às
revoluções de fevereiro e de outubro, também tiveram repercussões no
exterior, como por exemplo a assinatura do armistício, a 5 de dezembro de
1917, enquanto que a paz foi assinada a 3 de março de 1918 em Brest-Litovsk.
A Revolução Bolchevique e o estabelecimento de um regime soviético na Rússia
colocaram aos Aliados problemas muito complexos: que relações manteriam os
Aliados com o governo soviético?
 Durante a guerra civil russa, o medo do contágio revolucionário
desempenhou um papel importante na atitude da Entente que conduziu
à política do “cordão sanitário”. O comunismo, contudo, triunfou.
 Isto não impede uma certa abertura: Tratado com a Turquia (16 de
março de 1921), Tratado de Rapallo (1922), pacto de não agressão
germano-soviético (2 de fevereiro de 1924), seguidos de tratados com
outros países.

45
O resto da Europa
- A Polónia está no centro da Revolução leste-europeia.
- As fronteiras orientais não foram fixadas pelo Tratado de Versalhes. A *paz de
Riga (1921) estabeleceu a fronteira russo-polaca a leste da linha Curzon.
* Também conhecida como Tratado de Riga, foi assinada entre a Polónia, a Rússia Soviética e a
Ucrânia soviética. O tratado acabou com a guerra polaco-soviética. As fronteiras soviético-
polacas estabelecidas pelo tratado permaneceram em vigor até a Segunda Guerra Mundial.
Estas seriam mais tarde redesenhadas durante a Conferência de Yalta e a Conferência de
Potsdam.

- A antiga Polónia de 1772, não é restaurada.


- O recurso à guerra vai permitir uma evolução que num primeiro tempo, vai ter
a força como base.
- A Lituânia, a Estónia, a Letónia e a Finlândia chegam, durante o ano de 1920, a
um acordo de paz com a Rússia que reconheceu a sua independência.
- A Itália teve de renunciar a vários territórios como a Albânia, a Dalmácia, etc.

Questões extraeuropeias: imperialismos


O imperialismo colonial torna-se uma realidade depois da 1ªGuerra Mundial.
A África não conhece quase nenhuma evolução sensível. A partilha não é
realmente posta em causa.
Na Ásia, pelo contrário, as perspetivas transformam-se.

 As riquezas petrolíferas continuam a ser controladas pelas potências


ocidentais.
 O Japão e a China afirmam-se, sobretudo o primeiro, no Extremo-Oriente
 Contestação na Índia

1924-1929: Um período de entendimento


- Desanuviamento a partir de 1924
- Os franceses aceitam o princípio de evacuação do Ruhr
- Os capitais estrangeiros apoiam a Alemanha

1924: O Plano Dawes


46
Plano económico formulado, em 1924, pelos vencedores da 1ªGuerra Mundial,
para regulamentar o pagamento das indemnizações de guerra aplicadas à
Alemanha.
Recebeu este nome em homenagem a Charles Gates Dawes, financeiro e
político americano, que chegou a ser vice-presidente dos EUA (1925-1929).
Relações Franco-alemãs
 O papel do ministro francês dos negócios estrangeiros Aristide Briand
 O pacto renano é um sinal de desanuviamento (16 de outubro de 1925)
 Garantias para as fronteiras germano-belgas e germano-francesa
Em 1926, a Alemanha foi admitida na Sociedade das Nações e é-lhe atribuído
um lugar permanente.
As relações com a URSS
- Retrocesso no melhoramento anteriormente verificado nas relações entre o
Ocidente e a URSS. A URSS continua de certo modo isolada.
- A Sociedade das Nações conhece êxitos nos assuntos:
 greco-búlgaros
 nos projetos em matéria de desarmamento
 no comércio internacional (bem como noutros projetos)

pelo que a ilusão da paz internacional se mantém


1928: O Pacto Briand-Kellogg
Também conhecido como Pacto Multilateral contra a Guerra, teve origem
numa proposta apresentada por Aristide Briand, ministro dos negócios
estrangeiros da França, a Frank Billings Kellogg, secretário de Estado dos
EUA.
Assinado: a 27 de agosto de 1928
Assinado por: 15 países

Alemanha, EUA, França, Reino Unido, Itália, Bélgica, Japão, Polónia, Canadá,
Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Irlanda, Índia (ainda sob mandato
britânico) e Checoslováquia.
O pacto afirmava que os signatários:

47
Condenavam “o recurso à guerra para a solução das controvérsias
internacionais e a ela renunciavam como instrumento de política nacional
nas suas relações mútuas”.
Além disso, comprometiam-se a que a solução para a “superação ou a
resolução de controvérsias ou conflitos” que viessem a surgir devia ser
encontrada por meios pacíficos.
1929: Os Acordos de Haia determinam um novo plano de pagamento de
reparações
1929-1933: A crise dos anos 30 e as suas consequências
Esta crise é um dos fatores essenciais do período entre guerras.
Uma das primeiras manifestações sensíveis foi bolsista (o krach da bolsa de
Nova Iorque de outubro de 1929).
A Quinta-feira Negra refere-se ao dia 24 de outubro de 1929, quando
ocorreu o crash da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Começou nesse dia e
continuou até 29 de outubro, quando o preço das ações em NY entrou em
colapso.

A crise tornou-se económica e atingiu o conjunto da sociedade.


Redução dos créditos, diminuição dos investimentos e do consumo (quebra
de produção)

Falências, desemprego e miséria

Esta crise bolsista de origem americana vai repercutir-se na Europa e noutros


locais:
Á parte da URSS, todos os Estados são mais ou menos atingidos,
nomeadamente a Áustria e a Alemanha. // A França e a Grã-Bretanha são
menos atingidas.
Os efeitos desta crise far-se-ão sentir no plano internacional e vai levar ao
aparecimento de políticos extremistas.
- O comunismo e o fascismo aparecem como as respostas face ao fracasso do
capitalismo.
Tocado pela crie, o Japão, que nos anos 20 tinha dado a impressão de caminhar
em direção à democracia e de aceitar uma política externa pacífica, encontrou
uma saída numa política de força, através da ocupação da Manchúria.

48
1933: Tóquio rejeitou a condenação da SDN e deixa esta instituição a 27 de
março de 1933.
A Alemanha retirou-se da Conferência do Desarmamento e da SDN em outubro
de 1933.

1933-1938: O aumento da tensão. As origens da Segunda Guerra Mundial


A ascensão de Hitler. O reino das ditaduras
30 de janeiro de 1933: Hitler é nomeado chanceler da Alemanha
A paisagem política europeia está largamente ocupada por regimes ditatoriais.
Estes regimes, de que o Nazismo representa o mais extremo, desenvolvem uma
política nacionalista que não deixa de influenciar a política externa.
A assinatura do pacto-alemão de não-agressão, em janeiro de 1934,
testemunha esta vontade alemã de separar a França das suas alianças e assim
evitar o cerco.

As crises de 1935-1936
A questão etíope
O acordo germano-britânico de junho de 1935, foi um golpe nos acordos de
Stresa e a questão etíope ainda deteriorou mais as relações:
- 1935: Conferência de Stresa
Faz face ao rearmamento alemão
entre: França, Grã-Bretanha e Itália
Não teve futuro no seguimento da recusa pela França e pela Grã-Bretanha do
reconhecimento da conquista italiana da Etiópia
- A Guerra Ítalo-etíope foi um conflito ocorrida em 1935-1936, quando a Itália
invadiu a Abissínia (atual Etiópia).
Apesar do protesto formal da Liga das Nações, nenhuma ação foi tomada contra
a Itália, nem mesmo depois do discurso do Negus (Haile Selassie).
A guerra fez mais de meio milhão de mortos entre os africanos, face a cerca de
5.000 baixas do lado italiano.
- A invasão italiana da Abissínia, realizada a partir de outubro de 1935, teve
consequências drásticas para a política europeia dos anos de 1930 e provocou
um amplo movimento de opinião pública a nível mundial.

49
- A Etiópia foi anexada a Itália, a 9 de maio de 1936. A partir de 4 de julho, a
Assembleia da SDN votava o levantamento das sanções e aceitava a situação
etíope.

A remilitarização da Renânia
Hitler tinha de se dotar de meios para suportar um conflito a Oeste e para isso
tinha de rearmar a marguem esquerda do Reno.
No final da década de 20 (?), a Alemanha retira-se da Conferência de
Desarmamento (Genebra).
Em 1935, anuncia o rearmamento e renuncia às cláusulas militares de
Versalhes. No mesmo ano, reforça o investimento na aviação militar e institui o
serviço militar obrigatório.

1936: A Guerra civil de Espanha


A evolução interna da Espanha, que viu o exílio do Rei e a proclamação da
República, desembocou, em 1936, na vitória eleitoral da Frente Popular.

As crises de 1938-1939
Encorajado pela tranquilidade que prevalece, na diplomacia britânica ao longo
de 1937, Hitler vai, durante 1938-1939, retomar o controlo sobre os territórios
dependentes, antes da 1ªGuerra Mundial, da soberania Austro-húngara.
 Março de 1938: as tropas alemãs entram na Áustria e o ministro do
interior nazi é nomeado chanceler.
A Alemanha anuncia oficialmente a anexação da República Austríaca e
converte-a numa província do Terceiro Reich, o Anschluss.
A França aceita a anexação da Áustria. // Na sequência do Anschluss, o caso
checo rebentou.
 Setembro de 1938: Invasão da Checoslováquia
A questão dos Sudetas, região de minoria alemã, serve de pretexto a Hitler.
Como resultado, Mussolini convoca o Encontro de Munique, onde estão
presentes Hitler, Chamberlain (UK), Mussolini e Deladier (França), todos os
territórios reivindicados por Hitler passam para a Alemanha.
 Março de 1939: devido a novas dificuldades internas (a autonomia da
Eslováquia reclamada por Monsenhor Tiso) e o seu desmembramento, os

50
polacos apoderam-se da região de Teschen (cidade checa) e os húngaros
obtêm cerca de 12.000 km no sul.
Assim, o conjunto da Checoslováquia desaparece.
 A Boémia e a Morávia ficavam sob “protetorado” alemão.
 A Eslováquia proclamava a sua independência e pedia proteção de Berlim

1939-1945: A Segunda Guerra Mundial – repercussões para as RI


O mundo que emerge da 2ªGuerra Mundial é profundamente diferente do que
existia antes da guerra.
Este período é um período virgem na história da humanidade e, mais ainda, na
história das RI.
Começo da era das superpotências
No que se refere aos “acordos” de paz e ao mapa da nova Europa existe uma
decisão semelhante às de 1918 e duas determinações diferentes:
 Semelhantes:
Não existiu nem se pretendeu um acordo entre vencedores e vencidos
 Diferentes:
1.Nada que se assemelhe aos atos solenes da assinatura do Tratado de
Versalhes, foram todos assinados de maneira discreta
2.O mapa da Europa, no que se refere a novas fronteiras ou a surgimento de
novos Estados, sofreu muito menos modificações do que depois da 1ªGM.
- A URSS foi a potência que mais se engrandeceu territorialmente
- A Polónia foi a grande sacrificada em termos territoriais
- Os outros países eslavos, assim como a Áustria e a Hungria viram apenas
modificadas as suas fronteiras
- A Alemanha perdeu a Prússia Oriental, a Posnânia (Polónia), parte da
Pomerânia e Silésia
- A Alsácia e a Lorena passaram de novo para a França
- A Alemanha foi totalmente ocupada pelos vencedores, perdeu a sua
soberania, a sua condição de Estado e, por conseguinte, deixou de existir como
sujeito internacional

Foi então dividida em 4 zonas de ocupação: EUA, URSS, Grã-Bretanha e França

51
- Os países eslavos e balcânicos, com exceção da Grécia, converteram-se em
“democracias populares”.

A Europa tornou-se assim, mais pequena, diminuída politicamente e


economicamente pelos grandes vencedores: a URSS e os EUA
O poder desloca-se do Velho Mundo para os mundos extraeuropeus.
Em 1945, a supremacia dos EUA e da URSS está bem patente nas forças que têm
espalhadas pelo globo.  Americanos: estão por todo o lado na Europa e Ásia;
Soviéticos: Europa Oriental e Extremo Oriente
As Grandes Potências Europeias eram Estados médios, agora as novas potências
são gigantes.
A Europa perdeu o seu prestígio junto dos povos coloniais, o que favoreceu a
implantação dos movimentos de emancipação.

Existe agora um Diretório dos “Três Grandes” (EUA, URSS, UK), que vão decidir
o destino do mundo do pós-guerra nas conferências de Ialta e de Potsdam.

A Paz Falhada (1945-1947)


O nascimento de uma nova hierarquia mundial não significa por si só o regresso
à paz, porque se é verdade que a aliança americano-soviética permite algumas
decisões comuns, não é menos verdade que em pouco tempo se instala a
desconfiança.
Setembro de 1946, Genebra: reuniu-se um grupo de intelectuais, filósofos,
escritores, ensaístas de várias nacionalidades (franceses, ingleses, alemães,
italianos, austríacos, húngaros, suíços), naquilo que era o primeiro ato de
reconciliação europeia.
A guerra converteu a Europa num campo de ruínas:
 Algumas zonas da Rússia e da Polónia sofreram horrivelmente
 Os bombardeios aéreos fizeram o maior dano possível, sobretudo nos
últimos meses, às cidades alemãs (Berlim, Hamburgo, Colónia, Dresden)
No entanto, a reconstrução foi rápida e se muitas cidades não puderam
recuperar a sua antiga fisionomia, anos apos o fim do conflito, era difícil
encontrar, na maioria delas, vestígios da guerra.
No leste da Europa, contudo, a reconstrução não foi tão rápida.

52
O milagre da reconstrução pode explicar-se, em parte, pelo facto de os
Europeus quererem esquecer, o quanto antes, a tragédia e também pela ajuda
norte-americana aos países livres da Europa materializada pelo:
European Recovery Program  Plano Marshall
Tão milagrosa como a reconstrução foi o desaparecimento imediato dos ódios,
incompreensões e vinganças. Ao contrário do que ocorrera depois da 1ªGM,
ninguém pensou em vinganças, nem em fazer mal aos derrotados, nem em
reparações propriamente ditas.
No entanto, pouco a pouco foi-se observando outra forma de guerra.

Levantou-se a “cortina de ferro” e a Europa ficou mais dividida do que nunca:


ficou dividida em duas, e esta divisão contribuiu para a sua decadência ao sofrer
dos rigores da “Guerra Fria”.

Consequências da Segunda Guerra Mundial: mapa do mundo


- Não aparece nenhum Estado novo, no entanto, desaparecem a Lituânia, a
Letónia e a Estónia
- A URSS foi a potência que mais se engrandeceu territorialmente.
À parte dos Estados Bálticos, ocupou algumas zonas da Finlândia, o Leste do que
tinha sido a Polónia até à Linha Curzon, grande parte da Prússia Oriental (com a
sua capital Konigsberg, atual Kalininegrado), Ruténia, Moldávia e Valáquia.
- A Polónia foi a grande sacrificada. Perdeu um terço dos territórios que tinha
possuído em 1939, e como troca permitiu-se-lhe avançar à custa da Alemanha
até à linha Oder-Neisse.
- Os países eslavos, assim como a Áustria e a Hungria viram apenas modificadas
as suas fronteiras.
− A Alemanha perdeu a Prússia Oriental, a Posnânia, parte da Pomerânia e a
Silésia. A Alsácia e a Lorena passaram de novo para a França.
A Alemanha foi totalmente ocupada pelos vencedores, perdeu a sua soberania,
a sua condição de estado, e deixou de existir como sujeito de direito
internacional. O acordo de Ialta sobre uma ocupação conjunta não se cumpriu e
a Alemanha foi dividida em quatro zonas de ocupação.
Os países eslavos e balcânicos, com exceção da Grécia, converteram-se noutras
tantas «democracias populares» muito pouco democráticas, como regimes
comunistas ditatoriais e de ocupação militar permanente.

53
Os Estados que disputam a primazia da Europa e do mundo – o Reino Unido, a
França, a Alemanha e a Itália – não mais voltarão a ser grandes potências,
independentemente de terem ganho ou de perdido a guerra. Os novos Grandes,
os verdadeiros vencedores, são os Estados Unidos da América do Norte e a
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

1941: Carta do Atlântico


Um conflito das dimensões e da transcendência da II Guerra Mundial tinha de
desembocar logicamente numa nova realidade também planetária.
No verão de 1941, quando o resultado da conflito era incerto (os EUA ainda
nem tinham entrado na guerra)
reuniram-se os líderes máximos dos países anglo-saxónicos:
Franklin Roosevelt (presidente dos EUA)
Winston Churchill (primeiro-ministro britânico)
para fazer uma declaração de princípios a aplicar depois da guerra.
Daí, saiu a Carta do Atlântico em que se previa que o mundo futuro teria de se
edificar sobre os seguintes valores:
 Democracia Condena todas as
 Tolerância e respeito entre os povos espécies de ditaduras
Mais tarde, quando a União Soviética se contava entre os Aliados, este
propósito comum ficou um tanto obscurecido; mas Estaline deixou entender
vagamente que o seu país, uma vez terminada a guerra, se abriria à democracia.

1943: Conferência de Teerão (Irão)


Aqui reuniram pela primeira vez os 3 grandes estadistas do mundo da época:
- Josef Stalin (URSS)
- Winston Churchill (UK)
- Franklin Roosevelt (EUA)
->> Além de lançarem bases de definição de partilhas, decidiu-se que as forças
anglo-americanas interviriam na França, completando o cerco de pressão à
Alemanha, juntamente com as forças orientais soviéticas, o que se concretizou
com o desembarque dos Aliados na Normandia no Dia D.
->> Deliberou-se ainda sobre a divisão da Alemanha e as fronteiras da Polónia
ao terminar a guerra, além de se formularem propostas de paz com a
colaboração de todas as nações. Os EUA e o Reino Unido reconheceram ainda, a
54
fronteira soviética no Ocidente, com a anexação da Estónia, Letónia, Lituânia e
do Leste da Polónia.
Na Conferência de Teerão o presidente Roosevelt declarou:
«A Grã-Bretanha, a União Soviética, a China e os Estados Unidos representam mais de três
quartas partes da população mundial. Enquanto essas quatro nações permanecerem, juntas e
decididas a manter a paz, não haverá possibilidade de que uma nação agressora desencadeie
uma guerra».

Os principais temas discutidos foram:


 O plano de ataque em solo europeu, que se efetivaria tanto pelo flanco
ocidental (capitaneado pela Inglaterra e pelos EUA) quanto pelo oriental
(capitaneando, por sua vez, pela URSS). Os alvos eram as regiões
dominadas por nazis e fascistas
 A futura situação geopolítica da Europa após a eventual vitória dos
Aliados, tendo em vista que os países ocidentais e a URSS possuíam
projetos políticos diversos, apesar de o inimigo ser comum
Os EUA reativaram a sua política europeia.
O eixo central desta nova estratégia foi a elaboração de um grande programa de
ajuda económica destinado a recompor o tecido económico-financeiro da
Europa, situar de novo o continente dentro do sistema mundial de intercâmbios
e combater eficazmente os fatores que, como a fome, o frio e a pobreza,
desestabilizavam as suas sociedades, tornando-as vulneráveis aos movimentos
comunistas.

1945: Carta das Nações Unidas


Abril-junho de 1945 Conferência internacional de 51 países
em São Francisco
redigiram uma Carta das Nações Unidas
A Carta de São Francisco previa a formação de um organismo mundial:
 Assembleia representante de todas as nações membros
 Secretaria-Geral
 Conselho de Segurança, formado apenas pelas grandes potências e,
eventualmente, por algumas representações das pequenas

Fevereiro de 1945: Conferência de Ialta


55
Também conhecida como Conferência da Crimeia, foi a segunda das três
conferências em tempo de guerra entre os líderes das principais nações aliadas
(a anterior em Teerão e a posterior em Potsdam).
Os chefes de governo dos EUA (Roosevelt) e da URSS (Josef Stalin), e o primeiro-
ministro britânico (Churchill) reuniram-se em segredo em Ialta para decidir o
fim da 2ªGM e a repartição das zonas de influência entre o Oeste e o Leste.

Julho/Agosto de 1945: Conferência de Potsdam


Os “Três Grandes” (UK, EUA, URSS) reuniram-se na Alemanha para decidir como
administrar a Alemanha, que se tinha rendido incondicionalmente 9 semanas
antes, no dia 8 de maio, Dia da Vitória na Europa.
Acordo de Potsdam – Estabelecia a divisão da Alemanha e da Áustria em zonas
de ocupação, como anteriormente decidido na Conferência de Ialta, a similar
divisão de Berlim e Viena em 4 zonas (americana, britânica, francesa e
soviética).
Posteriormente, em 1961, a zona aliada (americana, britânica e francesa) em
Berlim seria isolada do resto da Alemanha Oriental pelo Muro de Berlim, que
completou a fronteira interna alemã.
Ratificaram-se a Carta das Nações Unidas como garantia da futura paz universal.
Os aliados ocidentais concederam pleno direito à Rússia, porque figurava entre
as grandes potências vencedoras e porque também esperavam uma evolução
do seu regime.
- Na Assembleia, todos os Estados-membros tinham direito igual de voto, mas
passou a existir um diretório das grandes potências, que já se tinham atribuído,
desde a guerra, as iniciativas sobre a organização da paz.
A Assembleia Geral reunia-se cada vez com menor frequência sem outra função
senão a de ser meramente consultiva.
- Decidiu-se que para as decisões importantes, assim como para o ingresso de
novos membros, seria preciso o voto de 2/3 dos membros da Assembleia.
Desde cedo que a Assembleia foi perdendo capacidade executiva em benefício
do Secretário-Geral e do Conselho de Segurança.
O cargo de Presidente da Assembleia foi desde o primeiro momento mais
honorífico que executivo.
O Secretário-Geral tomou um grande relevo e para este foram sempre eleitos
representantes de países pouco poderosos, mas homens dotados de alta
capacidade de gestão. Aos poucos o Conselho de Segurança ganhou atribuições.

56
- O Conselho de Segurança articulou-se com base em 11 membros, os “Cinco
Grandes” e outros seis países que se iriam sucedendo nele por rotação. A
Apenas os “Grandes” teriam direito de veto: ou seja, que para que uma
resolução do Conselho fosse aprovada seria necessário o voto dos 5.
 No início (Conferência de Dumbarton Oaks) tinha-se pensado numa
partilha das zonas de influência no mundo pelos 4 “Grandes” (EUA, URSS,
UK, China).
No entanto, este conceito geopolítico foi ligeiramente alterado pelas
contínuas pressões de França, que queria ser contada entre as
superpotências. No final foi decidida a existência de um Conselho que seria
dirigido pelos “Cinco Grandes”.
- À medida que o ambiente de apaziguamento entre o Leste e o Oeste se
afirmava, mas, sobretudo depois do desaparecimento da URSS em 1989, o
Conselho de Segurança aumentou consideravelmente a sua operacionalidade e
eficácia.

À sombra das Nações Unidas criaram-se ou reestruturaram-se múltiplas


organizações internacionais, destinadas a tarefas de desenvolvimento e
promoção no mundo inteiro:
- UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
− FAO - Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
− OMS - Organização Mundial de Saúde.
− Banco Mundial.
− Tribunal Internacional de Justiça.
Estas instituições, nas quais se depositou no início uma enorme esperança, não
resultaram, embora tivessem prestado serviços com importância relevante.
No geral, as Nações Unidas foram incapazes de salvaguardar a paz mundial e de
assegurar o desenvolvimento, a cultura e o exercício dos direitos humanos em
todos os países do mundo. Seria, no entanto, injusto não reconhecer a utilidade
das suas atuações: evitaram muitos conflitos e resolveram outros.
O facto da ONU ter conseguido prevalecer desde 1945 até aos nossos dias,
parece ser uma prova da solidez da sua posição e das ilimitadas possibilidades
que lhe podem estar reservadas no futuro.

57
Da Colaboração Aliada à Guerra Fria
A 12 de março de 1947, o presidente norte-americano Harry Truman dirigiu-se
ao Congresso dos Estados Unidos para anunciar uma mudança importante nos
objetivos e estratégia da política externa.
Deste discurso destacamos: «Um dos objetivos fundamentais da política externa dos
Estados Unidos é a criação de condições com as quais nós e as outras nações possamos forjar
uma maneira de viver livre de coação […]. Contudo, não alcançaremos os nossos objetivos a
menos que estejamos dispostos a ajudar os povos livres na manutenção da sua instituição livre
e da sua integridade nacional […] À população de toda uma série de Estados foi-lhes imposto,
contra a sua vontade, um regime totalitário […] Se deixarmos de ajudar a Grécia e a Turquia
nesta hora decisiva, as consequências, tanto para o Ocidente como para o Oriente, seriam de
profundo alcance […] Por isso, peço ao Congresso autorização para ajudar a estes dois países
com a quantia de 400 milhões de dólares durante o período que termina a 30 de Junho de
1948 […].»

O Presidente, neste discurso, expunha 3 ideias:


1. Tinham sido suspensos na Europa os compromissos de Ialta e Potsdam
2. Do confronto bélico próprio da guerra tinha-se passado ao confronto
ideológico entre modelos, o que defendia e protegia a “liberdade” e o
que impunha o “totalitarismo”
3. Os acontecimentos na Grécia e na Turquia representavam a primeira
prova de força, o primeiro lugar no qual se estava a produzir um novo
tipo de confronto, que exigia uma imediata resposta por parte da URSS
de Estaline

Assim se anunciava a Doutrina Truman.

Origem da Guerra Fria


A 21 de Fevereiro de 1947 o Governo britânico comunica, ao Secretário de
Estado norte-americano, general Marshall, a decisão de suspender a ajuda
militar à Grécia e Turquia.
Esta decisão tem, pelo menos, três interpretações:
1. A retirada britânica da linha de resistência ocidental na Grécia e Turquia,
supunha também a saída das potências europeia-ocidentais dos assuntos
internacionais a favor dos EUA.
2. O símbolo mais claro da decadência da Europa
3. O fim do Império Britânico

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O vazio do poder deixado pelos britânicos vai ser ocupado pelos Estados Unidos.
A desmobilização das forças norte-americanas na Europa tinha continuado e nos
inícios de 1947 apenas havia no continente europeu 391.000 soldados.
Face a eles na Europa de Leste encontravam-se mais de 6 milhões de soldados
do Exército Vermelho.
No Departamento de Estado depressa começaram a estudar-se as respostas que
se tinham de adotar ante a decisão britânica, pois o comunismo começa a ser
percebido como uma forma de ameaça. Esta era a perceção de *George F.
Kennan, encarregado de negócios dos Estados Unidos em Moscovo.
*George Frost Renan (1904 - 2005) foi um diplomata, cientista político e historiador norte-
americano sendo uma figura central aquando do surgimento da Guerra Fria). No final da
década de 1940, os seus escritos inspiraram a Doutrina Truman e a política externa norte-
americana de "contenção" da União Soviética.
No chamado «Grande Telegrama» enviado, a 22 de fevereiro de 1946, para
Washington, valorizava-se de forma muito diferente à dos soviéticos os seus
objetivos uma vez finalizada a Segunda Guerra Mundial recomendava, pois,
firmeza e aumento dos recursos militares e a adoção de uma política de
contenção contra a URSS. Este telegrama foi publicado na revista Foreign Affairs
(julho de 1947), sob o pseudónimo de «Mister X».
O Presidente e o Secretário de Estado, general Marshall, começaram a planificar
uma nova estratégia frente à União Soviética.
A Doutrina Truman foi o primeiro anúncio oficial acolhido com reações diversas
e desencontradas nos EUA e na Europa e teve a oposição da URSS.
Persistia, contudo, um grave problema na Europa:
 Escassez de alimentos
 Escassez de combustível
 Falta de recursos financeiros (para tornar o que impedia de pôr a
funcionar a maquinaria industrial, o que podia ser um grave obstáculo
aos planos norte-americanos)
Apesar da ajuda financeira norte-americana, a situação económica não
melhorava e os índices de produção agrícola e industrial desceram em todos os
países.
A situação da população era muito grave, depois a fome, a desnutrição e as
doenças de milhares de europeus estavam a criar uma situação limite.
Tudo isto fez com que se começasse a planificar uma grande operação de ajuda
económica.

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A 5 de Junho de 1947, o Secretário de Estado *George Marshall expôs na
Universidade de Harvard, para onde tinha sido convidado para ser investido
Doutor Honoris Causa, os objetivos da sua proposta:
a) A necessidade de ajudar a Europa para que se superasse as
consequências sofridas pela guerra
b) A importância de dar confiança aos cidadãos europeus no futuro
c) O papel chave que os EUA tinham na realização destes objetivos, não
apenas pelo seu poder económico e as repercussões que a situação
europeia podia ter no país, mas também a sua posição no mundo
d) A ajuda era oferecida a todos os países e não era dirigida contra ninguém
e) As petições de ajuda deviam fazer-se desde a Europa e pelos europeus.
Plano Marshall
Assinado a 3 de abril de 1948 por Truman
*George Marshall (1880-1959) general e político americano. Chefe do Estado-Maior do
Exército (1939-1945), Secretário de Estado do Presidente Truman (1947-1949), deu o seu
nome ao plano americano de ajuda económica à Europa (Prémio Nobel da Paz em 1953).

A 16 de abril de 1948 assinava-se, em Paris, o convénio consultivo que criava a


Organização Europeia de Cooperação Económica (OECE), uma instituição que a
partir desse momento se encarregaria de aplicar a ajuda norte-americana.
Foi a 1ªorganização europeia de cooperação e o primeiro passo para a
integração dos movimentos europeus.
- O Plano Marshall esteve vigente de 1948 a 1952, se bem que até 1955 a
ajuda direta continuava a chegar.
- No princípio o interesse maior teve a ver com o aprovisionamento de
artigos alimentares, forragens e fertilizantes e, posteriormente foram ganhando
prioridade as matérias-primas industriais e os produtos sem manufaturados.
A ajuda militar aumentaria, por sua vez, de forma substancial, a partir de 1950.
- O Plano Marshall correspondia a um dos pilares de um projeto estratégico
superior.
Os círculos dirigentes americanos estavam decididos a restabelecer um
equilíbrio de poderes na Europa. Apoiando-se não só na assistência financeira,
mas também na normalização da Alemanha e no desenvolvimento do
movimento europeu.

1947: Congresso da União Europeia dos Federalistas em Montreux (Suíça),


constitui o contributo dos federalistas europeus para a conceção de uma Europa
federal e, por conseguinte, para a preparação do Congresso de Haia.

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1948: A Conferência de Haia = Congresso da Europa
7 a 10 de maio de 1948
750 delegados
Exigiam uma Europa unida onde primasse:
 Livre circulação de bens, homens e ideias
 Carta de Direitos do Homem, que garantisse as liberdades de
pensamento, reunião e expressão, assim como o livre exercício da
oposição política
 Tribunal de Justiça, capaz de aplicar as sanções necessárias para que a
Carta fosse respeitada
 Assembleia Europeia, representando todas as forças vivas das nações

1949: Depois de intensos debates, que duraram um ano, o Congresso aprovou a


5 de maio de 1949  Estatuto do Conselho da Europa

Objetivo: criar uma união mais estreita entre os seus membros, a fim de
salvaguardar e promover os seus ideais e princípios, assim como favorecer o seu
progresso económico-social.

Criação da Nato
Estas iniciativas também tiveram o seu complemento militar.
Desta forma surgiu a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), criado,
por sua vez, sobre a base dos compromissos militares já existentes na Europa
Ocidental (Tratado de Dunquerque de 4 de março de 1947 e União Ocidental de
17 de março de 1948).
A 4 de abril de 1949, assinava-se em Washington o Tratado do Atlântico Norte,
que entraria em vigor a 24 de agosto. Nele se incorporarão doze Estados, dez
europeus mais o Canadá e os Estados Unidos, que posteriormente foram
ampliados para 19. A Espanha foi aceite em maio de 1982.

Resposta da URSS
Estas iniciativas norte-americanas cedo tiveram a sua resposta na URSS de
Estaline. O comunismo, devido também ao seu trabalho nos movimentos de
Resistência, saiu da guerra com muito prestígio e inclusivamente com um forte
apoio eleitoral em especial em alguns estados europeus. O Exército Vermelho

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tinha «libertado» do nazismo a maioria dos territórios da Europa de leste, com a
exceção da Jugoslávia e Albânia.
A política externa soviética iniciava uma nova face na sua evolução: já não
pretendia apenas a expansão de uma ideologia, mas também a expansão
territorial.
Apesar do acordado em Ialta e Potsdam, os soviéticos desafiaram os aliados
ocidentais, através do que poderíamos denominar como «provas de força»,
para comprovar a sua capacidade de reação e se superava os limites
estabelecidos na partilha.
Os pontos nos quais se baseavam eram os seguintes:
a) Considerava-se o bloco capitalista ocidental, liderado pelos EUA, o
inimigo fundamental do sistema socialista, o qual era necessário vencer e
superar
b) A URSS era considerada como uma fortaleza assediada pelo imperialismo
agressivo e militarista, e para a proteger era necessária uma luta de
classes a nível internacional e estabelecer um “glacis de segurança” em
volta dela
c) Era necessário também utilizar nessa luta os ideais revolucionários (paz,
segurança, socialismo, etc), para conseguir o máximo apoio da opinião
pública internacional na ação exterior soviética
d) Deveriam relativizar-se as alianças e os compromissos internacionais com
a comunidade internacional, utilizando-os mais como um meio que como
um fim
e) Objetivo final da política externa soviética: criação de um sistema
socialista mundial, que pudesse fazer frente, com a URSS à cabeça, às
agressões imperialistas e à ingerência nos assuntos internos dos Estados
soberanos.
A Doutrina Truman e, em especial, o Plano Marshall foram considerados por
Estaline e pelos soviéticos como as primeiras ameaças diretas contra os
objetivos da URSS e o socialismo internacional. A primeira resposta foi político-
ideológica; modelou-se na criação do Kominform ou Repartição de Informação
dos Partidos Comunistas.
- O encarregado de pôr em marcha esta iniciativa foi o dirigente e ideólogo
soviético A. A. Jdanov, que pronunciou um discurso duro. Este é considerado
como o primeiro texto no qual se analisa a Guerra Fria e o seu significado desde
a perspetiva soviético-marxista.
A partir do Kominform colocou-se em marcha uma operação bem planificada
para sovietizar de forma rápida a Europa central e oriental.
A URSS deu um impulso aos processos da revolução mundial, protegidos pelos
partidos e movimentos comunistas.
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Em 1949 a URSS de Estaline podia estar satisfeita com o objetivo de ter
conseguido criar o que se denominou oficialmente de sistema socialista
mundial, que chegaria a ser formado por 16 estados em todo o mundo, que se
estavam a desenrolar na China, Coreia e Indochina.
A URSS não podia afastar o uso da força e o papel que os recursos militares iam
ter neste novo enfrentamento, especialmente ao facto de os Estados Unidos
contarem nesses primeiros momentos com o monopólio nuclear. A utilização de
uma diplomacia de poder converteu-se em algo necessário para a consecução
dos objetivos previstos.
− A 23 de Setembro de 1949 anunciou-se que a URSS tinha realizado a sua
primeira explosão atómica. Iniciava-se assim a corrida armamentista e a
dissuasão nuclear.
− O processo de respostas fechar-se-ia com uma nova iniciativa para
fortalecer o bloco socialista: a 1 de janeiros de 1949 criava-se o Conselho de
Ajuda Mútua Económica.
− A criação do Pacto de Varsóvia chegaria mais tarde, em 1955.
O conjunto de iniciativas/respostas norte-americanas e soviéticas poriam em
marcha o que já se convencionalmente chamava como Guerra Fria, ou seja, um
confronto entre duas superpotências, dois blocos de estados e dois sistemas
globalizados, que durará até 1991 quando uma das potências – a URSS – e um
dos blocos – o socialista – fracassaram nos seus objetivos e inclusivamente
desapareceram territorial e politicamente.

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