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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA – UFJF

Eduardo Valente Vasconcelos Sousa - 200808008

MONOGRAFIA BACHARELADO EM FILOSOFIA

Cinco escritos sobre Educação

Professor: Mário José dos Santos

Juiz de Fora
2010
Agradecimentos

Em primeiro lugar, a Nossa Senhora de Fátima, esteio eterno;

A Nossa Senhora Aparecida e a Notre Dame de Lourdes.

Aos ancestrais pela origem e herança. Em especial a Balbina Maria, pela beleza.

Honoravelmente aos progenitores José e Maria pelo fundamental apoio.

A irmã pela compreensão do meu lado sensível.

Ao irmão pela bondade dos olhos e pela palavra medida.

A tia Glória pela ternura e pelo carinho.

Aos Padrinhos de batismo.

Aos Primos Maternos, pela lembrança salutar da lúdica infância.

Aos Primos Paternos; A Marlene, a Mariana e André pelo apoio.

A Anunciatta pelo entusiasmo. A Dra. Márcia Campelo pelo auxílio.

Ao Exmo. Reitor. Ao Exmo. professor Mário José pela mestria e pela valiosa

contribuição para que o percurso deste trabalho pudesse ocorrer com a devida

consistência.

Ao Exmo. professor José Carlos; Ao Exmo. professor Juarez; Ao corpo

docente da Faculdade de Filosofia; Ao Exmo. professor Luís Dreher,

A Exma. professora Regina Coeli; Ao Colégio Cristo Redentor; A Maria

Rinaldi; Ao professor Paulo Buzan ; Pela felicidade que proporcionam a todos,

em especial a mim.

Aos amigos; Vitor Lopes, pelo incentivo e companheirismo; A Stefânia Masotti;

A Rosa Maria Marangon pelo conhecimento e amizade. Ao Dr. Heid Iasbik;

Aos meus queridos alunos do intercâmbio. Em especial ao Rodrigo

Pelo privilégio de ter tanto e tantos a agradecer.

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Apresentação

O Presente trabalho tem como intuito a abordagem da educação como despertar.


A possibilidade de transformar o ensino e suas diretrizes, como as plantas na sua labuta,
assim os homens pela educação. O espetáculo de uma única fórmula, a moral e o
artístico de uma nação, o seio da pátria regida sobre os honrosos ditos do educar-se.
Essa coisa que convenientemente chamamos de educação, é ela a nossa escolha
determinada.

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Capítulo I - Disposições Gerais

Ao nos depararmos com a lamentável situação das políticas públicas de


manutenção do espaço social, sendo cidadãos de um lugar, questionamos a fundamental
legalidade do estado: a educação.

É fato, que por muitos séculos, a perspectiva da educação tem sido ligada às
práticas ultraelitistas, das quais o Brasil tem dificuldade em se programar.
Historicamente a elite educava seus filhos em escolas religiosas ou em públicas que
atendiam uma parcela muito pequena da população.

Sendo assim, o sistema de baixíssima qualidade pelo qual milhares de pessoas


do ensino básico público tem incorporado, um fenômeno de desnível que agrava as
desigualdades evidentes. Não obstante, fazer com que todas as crianças brasileiras
estejam matriculadas é um avanço.

Se os governos alegam que não há dinheiro para tudo, é preciso priorizar. Do


ponto de vista do cidadão, educação básica é uma obrigação legal do estado.

Constata-se, que no Brasil, a expectativa de conclusão do ensino fundamental é


de apenas 54%1. Sendo quantitativamente pouco significativo.

Contudo, dados e disparidades levam-nos a uma indagação nacional. É possível


melhorar a educação e buscar novas experiências que mude o quadro do analfabetismo
brasileiro? Seria realizável legitimar bons professores sendo bem-pagos? E quanto ao
papel das instituições? Poderíamos comprometê-las a envolver as esferas
orgânicossociais para um acesso mais humano? Há de se pensar evidentemente em
racionalização de gastos e diversificação do sistema.

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Dados - Fundação Lemann

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Esclarecer e Transformar
Sapere Aude

Em face da obtusa realidade educacional brasileira faz-se necessário, desde


então, reapreciar o conceito de nação em seu sentido de construção e edificação.
Considerando não somente a lógica do lucro, mas ainda a lógica da realização da pessoa
humana, enquanto indivíduos e enquanto grupamentos. Abrir os olhos da pátria deste
sono profundo que acomete os homens e caminhar expressiva e integrada na realização
de uma educação dialógica.

Diz-se dos fatos em sua concepção prescritiva que durante muito assegura
somente informações em vez da luz do entendimento. O aclaramento, que por sua vez
faz pensar e libertar o sujeito de sua facticidade. Portanto, o lema de uma educação
dialógica deve pautar-se numa perspectiva de crescimento, que agrega consciência e
cidadania. Como em um tabuleiro de xadrez, não basta apenas dar informações sobre
como o jogo se desenvolve, é preciso antes entendê-lo e articular o panorama das regras,
recriando o conhecimento.

A matéria-prima para tanto, segundo Kant, é a razão. É nela que reside a


coragem de fazer uso do próprio entendimento. Ousar saber, aventurar-se no alfabeto e
nele ressignificar o corpo das letras. Através do esclarecimento, arriscamos sair da tutela
do invariável e passa-se a examinar o conhecimento difuso de maneira a realizar a
elucidação entre os homens. Ora, poderemos um dia viver em uma era de esclarecidos?
Se o pensamento livre e a razão redirecionar a organização do trabalho político então
caracterizaríamos um contexto de apoio e interesse orgânico-constitucional. Onde
esferas e instituições estejam envolvidas pela micro-política cotidiana, estimuladora de
transformações sociais e orientada por anseios humanos de liberdade, justiça, igualdade
e felicidade.

Cientes do processo, assim como o verbo latino sapere originou sapore, a


inteligência logo se assemelha ao paladar da crítica no sentido da distinção. Desta
maneira, julgaremos breve a importância da integração racional pela via do
entendimento entre os indivíduos para erigir a educação de forma intencional e com
objetivos determinados. A educação é a melhor provisão para a jornada rumo à velhice.

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Da Modernidade Iluminista
Autonomia da Razão

Os pensadores iluministas tinham como ideal a extensão dos princípios do


conhecimento crítico a todos os campos do mundo humano. Supunham poder contribuir
para o progresso da humanidade e para a superação dos resíduos de tirania e superstição
que creditavam ao legado da Idade Média. A maior parte dos iluministas associava
ainda o ideal de conhecimento crítico à tarefa do melhoramento do estado e da
sociedade.

O uso do termo Iluminismo na forma singular justifica-se, na ênfase às idéias de


progresso e perfectibilidade humana, assim como a defesa do conhecimento racional
como meio para a superação de preconceitos e ideologias tradicionais.

O Iluminismo é, para sintetizar, uma atitude geral de pensamento e de ação. Ele


admite que os seres humanos estão em condição de tornar este mundo um mundo
melhor - mediante introspecção, livre exercício das capacidades humanas e do
engajamento político-social. Descrever a atitude que o iluminismo representa é desenhar
o entendimento independente da direção de outrem, em outras palavras: a saída dos
seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos impuseram a si.

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Capítulo II – Ufanismo, Exacerbação e Exortação.

Brasil amado não porque seja minha pátria,


Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der...

Brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso,


O gosto dos meus descansos,
O balanço das minhas cantigas amores e danças.

Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,


Porque é o meu sentimento pachorrento,
Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.

QUINTANA, Mário: “O Poeta come Amendoim”, in Poesias Completas, São Paulo, Martins Editora,
1955. p. 157-158)

Para um país de cidadanias

Através do Poema de Mário Quintana pode-se ambicionar o país que se deseja


através da expressão do nacionalismo cidadão. Infelizmente o Brasil é Pátria que ainda
não assegura aos seus cidadãos as necessidades mais básicas do ser humano, como o
imperativo do comer, vestir e dormir. Ainda se vê no circo dos miseráveis armado nas
ruas, a imagem poeirenta do homem da vida, o homem enlameado e gastado da
existência, a fila empobrecida, as crianças analfabetas.

Portanto, para além da obrigação do pão, do teto e do homem de sapatos


calçados e barba-feita, é preciso almejar o bem-estar. Para abrolhar, a educação precisa
do solo da amenidade. A exemplo da causa, se pode citar a produção automobilística da
Volkswagen, quando vinda para o Brasil na década de 70; sua fábrica regeu uma
comunidade de pais de família comprometidos com o trabalho e com a educação dos
filhos. Uma vez garantida a subsistência, a afinação do homem e o inclinar-se a
instrução são processos naturais na teia de possibilidades de transformações da nossa
triste cidadania nacional, pobre e miserável.

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Da Inserção

“O objetivo da educação é ensinar a pensar. Não é dar informações. As informações


são como as peças de um jogo de xadrez. Quem só tem as peças não sabe coisa alguma.
O que importa é a dança das peças nos espaços vazios”.
Rubem Alves

O indivíduo se insere ao grupo social e sociedade através do recebimento de


heranças culturais, a socialização ocorre desde que nasce, pois no parto existe um
conjunto de pessoas e técnicas que se comunicam e trazem consigo uma herança
cultural, intelectual que são frutos das relações humanas.

A educação se apresenta não apenas na escola, mas a partir da inserção no


mundo, que inicia com a família na qual é ensinado valores, costumes e regras.
A educação tem como princípio a transferência cultural, para que as pessoas se adaptem
a sociedade, a capacidade de desenvolver suas potencialidades, e como resultado a
evolução da sociedade.

O processo educativo transcende a formalidade escolar, pois uma criança ao


falar as primeiras palavras e dar os primeiros passos já consegue assimilar várias
aprendizagens através do contato com o mundo, à medida que há aumento na
aprendizagem mais complexa a educação se torna, e isso acompanha o indivíduo por
toda a vida.

A educação não pode ser um processo passivo, pois quando aprende o educando
desenvolve sua potencialidade, sua capacidade de pensar e ver o mundo e
automaticamente cresce como indivíduo que compõe e pode transformar a sociedade.

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Capítulo III – Sob Matiz
Patriotismo, Nacionalismo

Muito além de uma simples questão de civismo ao qual se propõe o presente


trabalho, os aspectos que permeiam a realidade na sua contingência de mito e símbolo
são relevantes ao conceber a alegoria principal que dá forma e conteúdo a uma nação.

Um exemplo histórico, tal como a bandeira do Brasil e o seu simbolismo. O


círculo central em azul, que representa a esfera celeste, é herança do culto português
pela esfera manuelina, simbolizando as grandes viagens de exploração marítimas.

Neste globo celeste, porém, uma faixa branca sintetiza um mote positivista de
Auguste Comte: "o amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim;
famoso à época e através do qual muitos republicanos se reviam.

A faixa branca já foi interpretada como simbolizando o rio Amazonas. Contudo,


tal como na faixa equivalente da esfera manuelina, ela aparece representando o zodíaco,
a região do céu percorrida pelo Sol em seu movimento anual aparente.

O relacionamento entre o verde e as matas, o amarelo e as riquezas e o azul do


céu nunca existiu historicamente. O amarelo, por exemplo, recorda o período imperial e
é, poeticamente, a representação do Sol. Tanto o azul quanto o verde ou o branco
remontam a nacionalidade lusitana.

O retângulo e o losango estão presentes com as mesmas cores na bandeira


imperial, mostrando que a bandeira republicana não rompeu definitivamente com o
Império. O losango representa a mulher, na posição de mãe, esposa, irmã e filha. A
esfera é o antigo símbolo do mundo, unindo o Brasil a Portugal através de D. Manuel,
em cujo reinado se deu o descobrimento.

Vale destacar a ausência do vermelho e do preto, excluindo da bandeira


lembranças das guerras, ameaças e agressões. A bandeira do Brasil é um pendão
idealista e limpo, estando próxima aos antigos estandartes, erguidos para coreografar o
bem-estar e o júbilo aos deuses.

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Sobre o Quantitativo Populacional

Convém neste capítulo retomar o tema educação através da concepção gregária


do homem. Este viés que pressupõe enxergar-nos como grupo e caracterizar-nos como
comunidade é passível de importante observação para adotar-se uma reflexão filosófica
acerca da educação para a população.

Para tanto, ressalta-se o papel do filósofo, como aquele que acende uma candeia
para alto iluminar, conjecturando a reflexão que se é tomada diante da verdade e do
tempo.

Neste convir, ousa-se olhar para a perspectiva da contemporaneidade. Não no


sentido de apreciá-la, ou tomá-la como admiração, mas com a finalidade com a qual
Milton Santos reflete as cidades brasileiras: “Centros urbanos modernos não destroem
a experiência humana. O que a destrói é a civilização que adotamos.”

O ponto de vista que o geógrafo apresenta é permeado pelo sentido da guerra e


da destruição, uma vez tratando a pós-utopia, contudo nota-se que o significado maior
da citação consiste em aperceber que é a univocidade de nossas expressões que adjetiva
a civilização em arrasar-se.

Desta forma, o dualismo entre qualitativo e quantitativo é posto em xeque para


uma breve e distinta análise a respeito do país sobre suas populações. De que maneira
pensar a educação, sem conceber a nação e sua geografia humana?

Prontamente, inicia-se uma discussão bastante controversa e polêmica: O


Controle de Natalidade. Presumivelmente, pesquisadores e cientistas demonstram
relatórios que incentivam o controle de natalidade.

No entanto, esse controle é esperadamente direcionado aos países do sul, em


desenvolvimento e não aos países do norte. Nos países desenvolvidos, os estudiosos
aconselham controlar a natalidade, mas não praticam, pelo contrário, nesses países
ocorrem incentivos para que as famílias tenham mais filhos.

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Essa questão desenvolve-se substancialmente pelo fato da densidade
demográfica dos países do norte está em declínio, diferentemente do sul que possui alto
índice de crescimento natural-vegetativo.

Efetivamente, medidas de implantação de controle de natalidade pode ser o


alicerce para a solução de inúmeros problemas que colocam a sociedade atual, como
disse Milton Santos, assoladas por suas mazelas. Isso seja nos países do norte ou do sul.

Quanto às citações, consideremos, a priori, os problemas ambientais. Neste


quesito podem-se encontrar algumas soluções caso diminuíssemos a quantidade de
pessoas automaticamente diminuiríamos o consumo. A água, por exemplo, que é um
dos grandes amálgamas da contemporaneidade, poderia ser mais poupada e
consequentemente, se diminuíssemos a quantidade de pessoas que necessitam desse
recurso teríamos mais reservas e lançaríamos menos detritos na natureza, reduzindo a
poluição.

Para o campo energético, não seria necessário construir novas usinas


hidrelétricas, já que suas instalações provocam profundos impactos ambientas e sociais.
Ainda, as emissões de gases seriam amenizadas, o que de certa forma, iria contribuir
para neutralizar o processo do aquecimento global. Com essas medidas, não seria
necessário abrir novas áreas de cultivo para produção de alimentos.

No campo social o controle de natalidade serviria para diminuir o crime, uma


vez que o governo poderia assistir melhor aos jovens, a quantidade de empregos
possivelmente aumentaria. Haveria diminuição da fome devido aos programas sociais
que poderiam atender melhor a população, a saúde, a educação e mais uma série de
outros problemas contemporâneos poderiam ser observados de maneira mais
qualitativa, mapeados e solucionados. Também, a problemática do lixo, em sua
quantidade poderia ser reduzida.

De fato, a discussão leva-nos a refletir sobre aspectos da educação sexual para o


país, e pensar o planejamento familiar contíguo ao controle de natalidade.

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Capítulo IV: A Herança Intelectual nas Perspectivas do Ensino e Suas Diretrizes
Reflexões in: Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire

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À propósito do capítulo subseqüente às palavras em defesa do controle de


natalidade, onde foi sugerida uma leitura descontínua e remota do tema ‘educação’ com
o intuito em demonstrar o alcance do tema ‘educação’, convém neste tópico tratá-la
como a abordagem própria do homem desperto em sua consideração possível de
melhoria do ensino. O problema da Educação no País é feito êxodo rural que abriga na
cidade a ânsia-pirueta de não sentir-se parte no todo fragmentado. Retrato alado de
ombros cansados que tomam pílulas de políticas globalizantes. Conformismo douto e
pachorrento das dores lançadas em armário-livro. Arrogância miserável de meliante-
elitista. Canção sentimental de narrar jogo de mesa. Pulada de cerca felina. Rio
intermitente. Perene pensar

Para tanto, iniciarei uma pedagogia crítica quanto ao sentido da prática educativa
em seu sentido transformador. Não obstante, a figura preponderante do majestoso Paulo
Freire reluz na contemplação e apreciação de sua obra “Pedagogia da Autonomia”. De
tal maneira a ressaltar a ética e o respeito à dignidade do educador.

De fato, de nada adiantaria enfatizar um discurso competente se a ação


pedagógica for impermeável à mudanças. Quero dizer das questões relevantes ao
assumir a postura de professor e nela nos humanizarmos. Necessário à prática, inerente
à competência.

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Diante da perspectiva da majestosa obra de Paulo Freire, podemos refletir sobre
o educador enquanto parte psíquico-integrante do processo de ensino e aprendizagem.
Para tanto, consideremos o conhecimento como possibilidade de sua própria produção
em seu patamar próprio de construção e não como transferência de conhecimentos.
Desta maneira, é-nos possível declarar o questionamento crítico ao qual o pensador se
refere diante do fato de estar lidando com o ser inacabado na sua presença no mundo
enquanto sujeito e objeto.

Educar é abrir possibilidades; Até mesmo entender o mundo como inacabado e


ver possibilidade de atuação neste mundo real, não como busca de sentido, mas como
razão para a vida.

O ser humano não deve inserir-se no mundo como apenas um objeto e sim como
sujeito de mudanças. Deveras, a economia, a cultura e outras esferas sociais sejam
muitas vezes determinantes. De toda forma, é preciso lembrar que os obstáculos não são
eternos.

Assim sendo, torna-se precioso a valorização da realidade social e cultural do


aluno para que o educador tenha autonomia de ser criativo e de ser colaborador. Não
obstante deve-se suscitar a curiosidade do educando, tal como orientá-la com o olhar
perspicaz do educador. O aluno em sua reflexão deve ser capaz de observar e apreciar a
dignidade e a beleza do professor, pois são através destes atributos que o ensino e sua
regência são conduzidos de forma a considerarmos motor e possível estrutura de
transformação. A expectativa deve co-relacionar conhecimento, ação e diálogo.

Neste sentido, o bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno
até a intimidade do movimento de seu pensamento.

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Não há docência sem discência
Ensinar exige pesquisa e rigorosidade metódica

Outro ponto ao qual nos atentaremos é abordado por Paulo Freire e


majestosamente refletido. Não há docência sem discência. Ensinar exige rigorosidade
metódica e pesquisa. Neste aspecto, o educador deve incitar a curiosidade do aluno, ao
passo que o conhecimento não pode ser simplesmente transferido e isso deve ser claro
para o educando.

O educador deve trabalhar rigorosa e persistente a curiosidade dos alunos. A


relação entre os educadores e educandos deve ser a de construção mútua do
conhecimento. O educador que ensina a pensar é necessariamente um leitor crítico,
refletindo sobre a realidade ao seu redor.

O educador mecanicista, memorizador, debate sobre uma realidade idealizada,


que não é dado concreto. O educador que quer ensinar a pensar precisa mostrar suas
posições – mesmo que as vezes se posicione de forma errada. Precisa posicionar-se
diante do que é ensinado e sobre o que ensina. E sobretudo, sempre refletir sobre suas
próprias posições.

É importante demonstrar aos educandos que sua atuação perante o conhecimento


também gera conhecimento. Defende ainda, que o ensino pode exigir um rigor. Rigor
esse que não se relaciona com mera aplicação de um ensino impositivo e sim com a
capacidade de se aprofundar no ensino, que deve ser crítico e não ingênuo (senso
comum)

Ensino e pesquisa estão intrinsecamente ligados – ambos nascem da indagação e


reflexão sobre o conhecimento. A curiosidade a qual Freire se refere é a curiosidade
epistemológica, uma curiosidade crítica, diferente da ingenuidade do senso comum. É
importante que o professor entenda sua função como pesquisador por sua própria
capacidade crítica e criadora em relação ao aluno de modo a superar o senso comum.

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Capítulo V – O Capitel Grego
Sobre os Relativismos Democráticos

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O desenho em nanquim metrifica traços gregos ideais. Antagônico aos


apinhados seres desta sociedade e sua decadente herança romana. A considerar a área
de ciências nas últimas décadas, as inovações com caráter duradouro ocorridas no
ensino escolar no Brasil, não têm correspondido ao número considerável de
propostas/projetos de ensino produzidos/divulgados nessa área. E nem mesmo os
resultados, já significativos, de pesquisas específicas sobre ensino têm, aparentemente,
provocado alterações na prática pedagógica qualitativa e quantitativamente
correspondentes.

Possibilidades, equívocos e limites no trabalho do professor/pesquisador. Nesse


sentido, foram propostas mudanças que compreenderam a reformulação de provas
visando a inclusão no ensino superior em algumas das universidades do país. Não existe
um único caminho para se desvelar a dinâmica escolar, e, qualquer que seja o escolhido,
é fundamental que o investigador se perceba como construtor de um conhecimento,
como alguém que evidencia uma realidade antes encoberta. Se essa realidade inclui as
próprias ações, como no caso do professor, os resultados da investigação são, quase
sempre, geradores de uma reflexão que pode alterar não apenas as ações, mas também
as suas concepções.

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Noções do estudo teórico são fundamentais para a reflexão do professor sobre a
especificidade da escola em que está atuando, e para que ele crie referencial que lhe
permita olhar mais diretamente para o modo como ocorre a mediação dos conteúdos na
relação com cada aluno. Com as idéias de autoconstrução do conhecimento pelo aluno,
e da contribuição da interação social para essa construção, dá-se uma alternativa
evidente para um ensino pautado na idéia de que o aluno é modelado apenas pelo meio.
Registrando, que o pensamento possui idéias coerentes e objetivas, mas diferentes se
comparadas ao pensamento mais elaborado, - são idéias que não dependem de ligações
abstratas e lógicas, e sim de ligações concretas, factuais.

Nada é isolado. Isolar um fato, um fenômeno, e depois conservá-lo pelo


entendimento nesse isolamento, é privá-lo de sentido, de explicação, de conteúdo. É
imobilizá-lo artificialmente, matá-lo. É transformar a natureza - através do
entendimento metafísico - num acúmulo de objetos exteriores uns aos outros, num caos
de fenômenos.

A ponderar palavras de Rubem Alves, poderemos assertivamente compor


pensamentos que reverberam a invocação do nome de Deus como fundamento da ordem
política. Mas este ‘Deus’ foi exilado e o ‘povo’ tomou seu lugar: a democracia é o
governo do povo. Considerações acerca dos benefícios desta perspectiva, não se pode
assegurar a confiabilidade da vontade enquanto manifestação do bem-comum. Poderá
ler-se através de uma de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de TV que
o povo prefere.

Há de constar neste sentido, a ditadura do relativismo pela qual a sociedade


ordinária constitui sua leitura ou mesmo sua i-leitura. Propriamente a indagação do
relativismo moral quanto as questões pertinentes a política e a liberdade. Diz-se nesta
abrangência de filosofias que contemporaneamente se intitulam progressistas e que na
verdade são um retrocesso se averiguadas enquanto teorias.

A Teologia da Libertação sacraliza o povo como instrumento de libertação


histórica. Nada mais distante dos textos bíblicos. Na Bíblia, o povo e Deus andam
sempre em direções opostas. Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha para
que o povo, na planície, se entregasse à adoração de um bezerro de ouro.Voltando das
alturas, Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.

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E a história do profeta Oséias, homem apaixonado! Seu coração se derretia ao
contemplar o rosto da mulher que amava! Mas ela tinha outras idéias. Amava a
prostituição. Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a
perdão. Até que ela o abandonou. Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário
pelo mercado de escravos. E o que foi que viu? Viu a sua amada sendo vendida como
escrava. Oséias não teve dúvidas. Comprou-a e disse: "Agora você será minha para
sempre." Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa parábola do amor de
Deus.

Deus era o amante apaixonado. O povo era a prostituta. Ele amava a prostituta,
mas sabia que ela não era confiável. O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros,
porque os falsos profetas lhe contavam mentiras. As mentiras são doces; a verdade é
amarga.

Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo. No tempo
dos romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões. E como o povo
gostava de ver o sangue e ouvir os gritos! As coisas mudaram. Os cristãos, de comida
para os leões, se transformaram em donos do circo.

O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges sendo queimados em


praças públicas. As praças ficavam apinhadas com o povo em festa, se alegrando com o
cheiro de churrasco e os gritos. Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu
livro "O Homem Moral e a Sociedade Imoral" observa que os indivíduos, isolados, têm
consciência. São seres morais. Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem. Mas
quando passam a pertencer a um grupo, a razão é silenciada pelas emoções coletivas.

Neste sentido é que se torna relativista quanto aos grupos e suas idéias.
Indivíduos que, isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta, se
incorporados a um grupo tornam-se capazes dos atos mais cruéis. Participam de
linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar uma bomba no
meio da torcida do time rival. Indivíduos são seres morais. Mas o povo não é moral. O
povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.

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O risco deste subjetivismo dos grupos leva o filósofo à margem da
hermenêutica. É ela a ferramenta da plena distinção entre a verdade e a não-verdade.
Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a verdade e segundo os
interesses da coletividade. É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia na
frente da ciência.

Uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado. O povo
é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão. Quem decide as eleições e
a democracia são os produtores de imagens. Os votos, nas eleições, dizem quem é o
artista que produz as imagens mais sedutoras. O povo não pensa. Somente os indivíduos
pensam. Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à
coletividade.

Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.


Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo. Jesus foi crucificado
pelo voto popular, que elegeu Barrabás. Durante a revolução cultural, na China de Mao-
Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade proletária. Não sei que outras
coisas o povo é capaz de queimar. O nazismo era um movimento popular. O povo
alemão amava o Führer.

Tenho vários gostos que não são populares. Alguns já me acusaram de gostos
aristocráticos. Mas, que posso fazer? Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa,
de Nietzsche, de Saramago, de silêncio; não gosto de churrasco, não gosto de música
estridente, não gosto de música sertaneja, não gosto de futebol. Tenho medo de que,
num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus
gostos e a engolir sapos e a brincar de "rebolation", à semelhança do que aconteceu na
China.

De vez em quando, raramente, o povo fica bonito. Mas, para que esse
acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute:
"Caminhando e cantando e seguindo a canção." Isso é tarefa para os artistas e
educadores. O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.

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19
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