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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação

32º Encontro Anual da Compós, Universidade de São Paulo (USP). São Paulo - SP. 03 a 07 de julho de 2023
.

VIVA LA SWAN QUEEN? Rupturas e toxicidade na


shippagem de fãs de Swan Queen da série Once Upon a
Time1
VIVA LA SWAN QUEEN? Disruptions and toxicity in the
shipping of Swan Queen fans from the Once Upon a Time
series
Enoe Lopes Pontes 2
Edson D’Almonte3

Resumo: Em um processo de descoberta de suas sexualidades e identidades, mulheres fãs de


séries de TV se aproximam de fandoms voltados para pares românticos não
heterossexuais, a fim de encontrar acolhimento e troca de experiências (WALTON,
2018). No entanto, elas encontram um ambiente hostil, preenchido de toxicidade
(PROCTOR, 2017; ESTÁBLES, 2018; AROUH, 2020). Através da realização de
grupos focais (FLICK, 2010; FONTANA; FREY, 2000), dez mulheres foram
entrevistadas e relataram desconforto e um espaço tóxico no fandom do seriado
Once Upon a Time. Dentro deste contexto, nosso objetivo foi o de compreender as
imbricações destas relações tóxicas e as suas prováveis consequências para o
consumo e a experiência destas fãs como indivíduos e na coletividade. A partir
deste estudo, notamos que estas mulheres se deparam com uma profunda
frustração, que as fazem mudar suas práticas enquanto fãs e até mesmo se afastar
deste universo, a fim de protegerem suas integridades emocionais.

Palavras-Chave: Fandoms. Shippagem. Toxicidade.

Abstract: In a process of discovering their sexualities and identities, female fans of TV series
approach fandoms aimed at non-heterosexual romantic couples, in order to find
acceptance and exchange experiences (WALTON, 2018). However, they encounter a
hostile environment filled with toxicity (PROCTOR, 2017; ESTABLES, 2018; AROUH,
2020). Through focus groups (FLICK, 2010; FONTANA; FREY, 2000), ten women were
interviewed and reported discomfort and a toxic space in the fandom of the series
Once Upon a Time. Within this context, our objective was to understand the
overlapping of these toxic relationships and their likely consequences for the
consumption and experience of these fans as individuals and in the community.
From this study, we noticed that these women are faced with a deep frustration,
which makes them change their practices as fans and even move away from this
universe, in order to protect their emotional integrity.

Keywords: fandoms. Shipping. Toxicity.

1
Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Estudos de Televisão do 32º Encontro Anual da Compós.
Universidade de São Paulo (USP). São Paulo, 03 a 07 de julho de 2023.
2
Enoe Lopes Pontes: doutoranda Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas,
pela Universidade Federal da Bahia, mestre, enoelopespontes@gmail.com
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Edson Fernando D’Almonte: Universidade Federal da Bahia, Professor do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação e Cultura Contemporâneas, edsondalmonte@gmail.com

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1. Introdução

Nos estudos de fãs existem conceitos inseridos dentro do campo que foram divididos em
grupos, que vão estabelecer a mentalidade dos autores em relação aos fandoms e aos
indivíduos participantes deles. Estas subdivisões de pensamentos foram chamadas de ondas
(EINWÄCHTER, 2013; GRECO, 2019). Na primeira onda, quando os teóricos passaram a
considerar fãs como grupos que poderiam ser estudados, havia uma ideia de que estas
comunidades eram locais apenas de pertencimento e sensações boas. Esta é a era do “Fandom
é lindo4 (JENKINS, 1992; SANDVOSS et al, 2007). Progressivamente, autores do campo
passaram a notar a presença de tensões, de disputas de sentido, animosidades ou qualquer
outro traço que não fosse exatamente positivo.
Este novo olhar da chamada segunda onda evocou uma perspectiva mais plural e/ou
provocativa, deixando nítido que no universo de fandoms existe a parte do encontro, da
aceitação, das boas relações, mas também há o outro lado desta participação, que pode
acontecer em menor ou maior grau, a depender do grupo de fãs. É nesta parte ruim das
relações que entram os comportamentos chamados de tóxicos. Os ânimos podem ficar mais
aflorados dentro de discussões de fãs e isso não significar que a toxicidade vai permear os
relacionamentos entre os fãs (PROCTOR; KIES, 2018). Todavia, existem linhas que são
ultrapassadas, com ações mais agressivas e intensas, como preferir ameaças de morte ou se
reunir com um grupo para agredir verbalmente uma única pessoa em uma rede social.
É por esta razão que é possível entender que a toxicidade é uma das marcas
comportamentais de fandoms, ainda que este não seja um traço presente em todas as
comunidades fãs e que seja preciso considerar que o teor de comportamento tóxico irá variar
de comunidade para comunidade. Além disso, é relevante observar que este tipo de prática já
era comum mesmo antes da presença do ambiente digital como espaço de encontro, tendo
acontecido práticas ofensivas e tóxicas em ambientes off-line, como em convenções de fãs ou
fã-clubes (BACON, 1992; AROUH, 2020). Todavia, o que passou a ser notado foi que, após
a inserção dos fãs na internet, a partir do fenômeno do espalhamento (JENKINS et al, 2014),
da amplitude de ferramentas e das materialidades oferecidas por sites e redes sociais, o que

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Termo original: “Fandom is beautiful “

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ocorreu foi uma intensificação dessas práticas. Neste sentido, foram as redes que também
trouxeram consigo algumas nomeações para fenômenos, por exemplo, bem como o aumento
das mesmas ações que já aconteciam anteriormente, mas de forma mais intensa ou permeadas
de transformações de suas características, como a interação em fóruns de sites, na década de
1990 (MITTEL, 2015; LATOUR, 2015; LEMOS, 2019).
Desta maneira, é importante compreender que os embates dentro de fandoms e as
consequências deles “não são recentes nem surpreendentes, mas, de fato, antecedem os
ambientes online”, (AROUH, p.69, 2020). O que há, todavia, são estas reformulações dentro
dos processos comunicações, que angariam novas dinâmicas para comportamentos
semelhantes ou iguais. É por esta razão que algumas nomenclaturas surgem. No universo dos
fandoms, elas chegam não apenas para amparar o embate discursivo, porém também para
sanar certa necessidade dos fãs em nomear padrões e marcas dos produtos midiáticos, bem
como comportamentos dos envolvidos nas realizações dos mesmos (produtores, atores,
roteiristas etc).
Um exemplo de fenômeno da indústria que recebeu uma denominação apenas em 2010 é o
Queerbaiting. Em uma tradução literal, o termo poderia ser chamado de isca para as pessoas
Queer. Esta é uma estratégia comercial de empresas e produtores que estão à frente de obras
midiáticas, administrando o conteúdo das narrativas. A ação em si se baseia em passar a ideia
de que um casal homoafetivo está se formando, seja ele ficcional ou não. Mas, a prática
ocorre principalmente na ficção e sempre em narrativas seriadas (BRENNAN, 2019)5. Este
fato acontece porque segurados por um gancho, os consumidores aguardam que o par
romântico seja formado. No entanto, o casal homoafetivo fica apenas no subtexto, sem gestos
ou textos explícitos, fazendo com que o consumidor conservador seja mantido, mesmo que a
custo do engano de parte do público (NORDIN, 2018; BRENNAN, 2019). Além disso, esta
prática também pode estar relacionada às celebridades, que demonstram proximidades com
pessoas do mesmo gênero, com o objetivo de engajar seus produtos com a comunidade
Queer. Assim:

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O Queerbaiting pode ser uma prática realizada entre celebridades também, quando duas pessoas do mesmo
gênero dão a entender que fazem parte da comunidade Queer ou que possuem um relacionamento homoafetivo,
deixando a dúvida se há um relacionamento de cunho romântico ou não sendo vivido. Um exemplo recente é o
da cantora Taylor Swift.

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Queerbaiting descreve uma tática da indústria em que aqueles que estão
oficialmente associados a um texto de mídia são visualizadores interessados em
narrativas LGBT...sem que o texto jamais confirme definitivamente a não
heterossexualidade dos personagens relevantes. (BRENNAN, 2019, p. 17).

Esta tática ganhou um nome cunhado por fãs, que utilizavam a rede social Tumblr,
aproximadamente em 2010 (NORDIN, 2018). Pensando no entendimento desta terminologia
é que chegamos a um ponto relevante e crucial do presente trabalho. A nossa amostragem,
como será detalhada mais adiante, conta com a presença de mulheres não heterossexuais, que
torcem por um par romântico ficcional, que foi e é acusado de ser um Queerbaiting. O que
aconteceu, dentro desta esfera de consumo e na interação delas dentro e fora das redes, foi o
estabelecimento de expectativas, vindas da espera por uma representatividade que não
ocorreu como previsto, frustrações, construções de relações com outras fãs e distanciamentos
e, por fim, a sensação de que fizeram parte de uma comunidade tóxica.
A partir deste contexto, nosso enfoque vem justamente do relato destas fãs, que dizem ter
sofrido com comportamentos negativos dentro do grupo que faziam parte, chegando até
mesmo a reproduzirem algumas práticas que elas consideram nocivas, a partir desta interação
na qual a toxicidade fazia parte das interações entre elas. Dentro do estudo sobre o grupo que
analisamos, cogitamos a possibilidade da presença do Queerbaiting ser um atenuante para o
clima hostil instalado no grupo de fãs que observamos, visto que um dos elementos
denominativos do Queerbaiting é a presença de disputas de sentido (BRENNAN, 2019).
Algo que fomentou esta lógica foi a constatação, vinda de observações participantes, de
que tensões e disputas são comuns, mas em fandoms que contam com torcidas por um par
romântico “rival”. Desta maneira, encontramos comportamentos tóxicos vindos do embate
causado pela divergência de ships, algo chamado por fãs de ship wars. Mas, o que notamos
dentro da nossa análise foi a presença de confrontos entre shippers do mesmo casal. Desta
maneira, o que investigamos neste estudo é como estas fãs, partindo do pressuposto de que
encontrarão um espaço acolhedor, pois possuem um desejo idêntico dentro de suas práticas
de shippagem, encontram um ambiente hostil, que traz consigo ações tóxicas, bem como
entender as possíveis consequências deste fenômeno.
Para realizar tal intento, partimos para o uso do método de entrevistas, no formato de
grupos focais. A escolha por este formato partiu do intuito de poder observar também a

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interação entre o grupo analisado, olhando para as suas interações e reações diante das falas
de cada participante. Neste sentido, é relevante apontar que este artigo parte de uma pergunta
primeva, que acabou gerando reflexões, novas hipóteses e questionamentos, após a realização
de entrevistas, sendo ela: Como o fenômeno do Queerbaiting afeta as práticas de fandom
em comunidades de fãs sáficas6? Partindo desta questão é que seguimos para os a realização
dos grupos focais. Este método consiste em fazer entrevistas coletivas, utilizando de 6 a 8
participantes, conduzindo a conversa através de perguntas, deixando espaços que todos os
integrantes possam sempre responder o que desejam, bem como estabelecer um diálogo entre
si (FONTANA; FREY, 2000; FLICK, 2010).
Nesta lógica, a nossa coleta aconteceu dentro da plataforma Zoom. Ao total, foram feitas
duas entrevistas, sendo uma em agosto de 2022 e a outra em outubro do mesmo ano, com 12
brasileiras, entre 19 e 28 anos, que são fãs de seriados de TV. As primeiras seis entrevistadas
foram escolhidas a partir de um grupo de Whatsapp voltado para fãs da série Once Upon a
Time (ABC, 2011-2018), em uma chamada que convocava integrantes para a entrevista.
Depois, o segundo grupo foi formado a partir do método da bola de neve, que consiste, de
maneira bem geral, em criar uma rede de pessoas, a partir de referências e indicações de
outros indivíduos (ALBUQUERQUE, 2009; BIERNACKI e WALDORF, 1981).
Assim, as seis primeiras integrantes do Grupo 01 indicaram colegas de fandom, que se
tornaram as seis participantes do Grupo 02. Como as primeiras entrevistadas faziam parte de
outras comunidades de fãs, elas não integrariam necessariamente o fandom de Once Upon a
Time (OUAT). Por isso, ao serem questionadas sobre suas presenças e práticas de fãs e de
shippagem, 10 das 12 participantes se declararam fãs de OUAT e shippers do casal Swan
Queen (Emma Swan e Regina Mills). Dentro deste contexto, notamos que a marca central da
comunidade analisada é a de que elas torcem por um par que não acontece na obra original.
Este é m tipo de casal que fãs de produtos midiáticos – e autores da área – nomeiam como
fanon, pois está apenas na ordem do desejo de parte do fandom, porém não é algo que ocorre
na trama oficial (BUSSE and HELLEKSON, 2006; WALTON, 2018). Todavia, este ship
fazia parte do imaginário de alguns dos fãs desta série, o que resultou em construção de
afetos, engajamentos, novas obras – como fanfictions, fan arts, vids etc. Algo importante
neste universo é que o seriado foi acusado da prática de Queerbaiting, provocando disputas

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Mulheres sáficas são todas as mulheres não heterossexuais. O termo vem para homenagear a poetisa Safo e
surge como uma forma de cunhar um termo único e inclusivo para lésbicas, bissexuais, pansexuais etc.

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de sentido e rupturas dentro da comunidade de fãs da série (GONZALES, 2016; STRAUCH,
2017).
A partir da compreensão deste contexto vivido pelas shippers de Swan Queen, no qual
uma tensão entre expectativa e frustração pela ausência da formação de par romântico entre
as personagens dentro de Once Upon a Time, fizemos a seguinte pergunta, durante a
realização dos grupos focais: Você acredita que o fenômeno do Queerbaiting interfere nas
relações entre os fãs? Partindo deste questionamento, as entrevistadas discorreram em suas
falas sobre o fato de que dentro do fandom do seriado existiam ship wars e um ambiente
tenso, no qual as disputas de sentido era comuns e extensas. Mas, o que as surpreendeu, na
verdade foi o fato de que, dentro dos embates discursivos com os shippers de outros pares
românticos, elas não encontravam o auxílio que desejavam das torcedoras por Swan Queen.
Pelo contrário, em vez de se unirem contra aqueles que discordavam delas, brigas internas
eram instauradas e comportamentos tóxicos eram estabelecidos.
Por este motivo, algumas delas relataram um afastamento do fandom de OUAT e até
mesmo da própria prática de fãs. Como este tipo de fala surgiu nas duas entrevistas dos
grupos focais, passamos a acreditar que este poderia ser um fenômeno a ser investigado,
justamente porque o que há, geralmente, dentro destas comunidades são comportamentos
tóxicos a partir de situações como: discordâncias voltadas para os encaminhamentos
narrativos, comportamentos ou declarações da equipe e torcidas múltiplas para que
personagens ou celebridades fiquem juntas, mas cada uma destas pessoas (ficcionais ou não)
tem mais de um pareamento possível, o que ocasiona as ship wars.
Um exemplo que pode ser destacado para ilustrar estas brigas constantes entre shippers
vem do fandom de The Vampire Diaries (The CW, 2009-2017). A protagonista Elena possuía
dois interesses românticos: os irmãos Damon e Stefan. Através dos desenvolvimentos do
enredo original, as comunidades voltadas para esta série se dividiram em duas: os Delena e os
Stelena (PONTES e SANTOS, 2016). As discussões acirradas passaram a se intensificar a tal
ponto dentro de redes sociais, como Twitter e Tumblr, que assédio moral e ameaças se
tornaram parte da interação entre estes fãs. Assim, a prática da shippagem pode conter ações
nocivas ou não, sendo que “'Shippagem é uma experiência comum de fãs e sua capacidade de

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criar toxicidade depende do contexto, como o fandom em questão e os personagens que estão
sendo enviados”, (WALTON, 2018, p.232)7.
No entanto, neste contexto, existiam opiniões divergentes sobre o destino romântico final
da personagem principal da série, com dois grupos de shippers que disputavam para
decidirem qual seria o melhor casal dentro de The Vampire Diares. Já no caso apresentado
neste artigo a situação muda de figura. Apesar do fandom de Once Upon a Time possuir este
ambiente hostil em termos de divergências entre os fãs, vindos de discordâncias
interpretativas, incluindo questões sobre shippagem (STRAUCH, 2017; PONTES, 2018), o
que as participantes do grupo focal relataram foi uma toxicidade vinda das próprias fãs do
mesmo ship delas. Durante os anos de exibição do seriado, entre as diversas tensões entre os
fãs e a equipe, os showrunners Adam Horowitz e Edward Kitsis também foram acusados de
estarem fazendo Queerbaiting.
A partir disso, em termos gerais, pode-se dizer que os membros da torcida de Swan Queen
começaram a se unir em prol de mobilizações on-line (criação de hashtags, fanarts, mutirões
em votações dentro de sites e redes sociais etc) e off-line (perguntas em convenções e
cartazes) (PONTES, 2017). Apesar deste engajamento cuidadoso para procurar alcançar ver o
casal pelo qual torciam sendo realidade na tela, as dez das doze integrantes dos grupos focais
que realizamos afirmam ter vivido momentos difíceis e traumáticos no local que, de acordo
com elas, foi procurado com o objetivo de encontrar consolo e para serem escutadas.
Observando estes relatos durante as entrevistas, veio a motivação para a escrita do presente
artigo, que tem o objetivo de tentar compreender em que sentido a toxicidade dentro destes
grupos afeta o consumo destas mulheres sáficas, visto que esta relação é pautada.
Se o que acontece é a entrada em fandoms voltados para a shippagem de casais
homoafetivos para um encontro de seus iguais, entender como as rupturas ou
prosseguimentos dentro da prática de fãs acontecem é o nosso foco. Além disso, é também
nosso objetivo olhar para a relação estabelecida entre jovens não heterossexuais ao entrar em
uma comunidade voltada para a torcida de um par romântico não heterossexual, sendo ele
canônico ou não dentro da obra original. A nossa hipótese é de que há uma quebra de
expectativa destas fãs, que recorrem a estes grupos para se sentirem aceitas em relação as

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Original: ‘Shipping’ is a common fan experience and its capacity for creating toxicity is dependent on context,
such as the fandom in question and the characters being shipped”, (WALTON, 2018, p.232). (Tradução nossa).

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suas sexualidades, mas que acabam encontrando comportamentos tóxicos, fazendo com que
elas se sintam rejeitadas em um espaço que supostamente iriam recebê-las bem.
Assim, a pergunta de pesquisa deste estudo é: mesmo que possuam interesses em
comum tão centrais para a prática de fãs, é possível que haja comportamento realmente
tóxico vindo da shippagem entre iguais? Para realizar tal debate, o trabalho organiza as
informações coletadas nos grupos focais em três tópicos do presente artigo:

a) Entrada no fandom e no universo da shippagem;


b) Comportamentos tóxicos;
c) Afastamentos e outras consequências.

Tomando por base a pesquisa qualitativa, temos a intenção de compreender as relações e


os efeitos causados pela toxicidade dentro da comunidade de fãs do ship Swan Queen. Em
termos éticos, é importante colocar que foram entregues formulários nos quais as integrantes
deste estudo concordaram em ceder as informações fornecidas em entrevista e em um
questionário enviado antes da chamada de Zoom, para este e futuros trabalhos. Neste
documento, as fãs também informaram como gostariam de ser chamadas quando citadas,
selecionado se desejariam indicar o nome completo, nome com o sobrenome abreviado, em
uma abreviação total ou anônima. Desta forma, utilizaremos a alcunha solicitada pelas
entrevistadas.
Com estas informações postas, partimos para a primeira parte do texto, na qual são
elencadas e discutidas as questões para a entrada destas fãs nos grupos de shippers de casais
homoafetivos, principalmente no que se referem aos pares vindos da ficção.

2. Entrada no fandom e no universo da shippagem

A toxicidade e as reações ao ambiente tóxico podem aparecer em comunidades de fãs. No


entanto, antes de situações negativas ganharem a chance de tomar conta de um grupo, há o
desejo de fazer parte de um fandom. Durante a nossa pesquisa, escutamos das participantes de
nossas entrevistas alguns dos motivos pelos quais elas passaram a fazer parte de comunidades
especificamente voltadas para a shippagem de pares românticos homoafetivos,
principalmente, os formados por mulheres (os ships femslash) As respostas que recebemos

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foram relatos de que a ideia destas fãs era a de encontrar um ambiente no qual se sentiriam
seguras e aceitas, com a chance de poderem compreender as suas sexualidades e identidades,
sem julgamentos de uma sociedade heteronormativa. Para Thaynara Martins, por exemplo,
ser membro deste tipo de grupo foi um divisor de águas em sua vida. Desta maneira, ela
aponta: “Eu comecei nos fandoms por causa dos ships Queerbaiting [...] isso mudou a minha
personalidade”, (Thaynara Martins, 23 anos).
O que acontece neste universo de aproximação com fandoms, no geral é que este se torna
também um processo de libertação. No caso da entrada em comunidades de shippers
homoafetivos há, ainda, a aceitação para estas mulheres, que encontram nestes espaços uma
possibilidade de descobertas e uma chance de tomar coragem para se assumirem para suas
famílias e para a sociedade como um todo (CRAIG; MCLNROY, 2018, ESTÁBLES, 2018).
Na fase da adolescência e início da juventude, este processo se torna ainda mais relevante,
devido ao fato destas fases serem momentos de compreensão de identidade e de construção
de visão do mundo, para além da própria redoma familiar. Assim:

Em particular, a importância da representação LGBTQ em conteúdo direcionado a


jovens é baseada nos potenciais benefícios pró-sociais que ela pode ter no
desenvolvimento da auto-estima, auto-entendimento, formação de identidade e no
processo de 'sair do armário’ (ESTÁBLES et al, p.314, 2018).

Esta sensação se dá porque a entrada em comunidades de fãs vem também de uma procura
por sanar objetivos individuais, que acabam se transformando em coletivos, algumas vezes.
Uma gama de fatores aproximam fãs de uma produção ou celebridade. Em um público geral,
esta conexão com algum fandom pode surgir por questões que vão desde a própria
identificação, passando pela vontade de encontrar informação ou pelo desejo de debater sobre
um tema com pessoas que realmente conhecem o assunto (a série, o filme, o game, a
telenovela etc) de forma engajada e mais profunda (ORTIZ, 2017). Informar-se, convocar
desabafos, organizar mobilizações e discutir teorias sobre os projetos com os quais estão
engajados também são motivos para a entrada em grupos voltados para produtos midiáticos
(ORTIZ, 2017).
Todavia, um dos elementos que move mulheres sáficas, que decidem participar de grupos
voltados para casais femslash é algo que está diretamente ligado com as questões de gênero e
sexualidade, porque, nesta procura para entender mais sobre elementos constitutivos de suas

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personalidades e sensações, bem como na tentativa de encontrar seu lugar no mundo, estes
espaços são, em alguns casos, os únicos que elas encontram8. Assim:

O fandom tem o potencial de promover a auto-reflexividade, a construção de identidade e o


funcionamento social dos jovens, especialmente para aqueles que lutam com pertencimento e
conexão em seus contextos de socialização primários (ou seja, off-line), (CRAIG; MCLNROY, 2018,
p.3).

É pensando nesta lógica que é possível compreender que, para além do engajamento
afetivo vindo da conexão específica para com a produção, produto ou celebridade que é
objeto de admiração delas enquanto fãs, há também um desejo de pertencer a um grupo no
qual seriam supostamente aceitas e encontrar seus pares. Neste sentido, estas mulheres
estariam em busca de um apoio e de algumas respostas para perguntas internas. Sarah
Amorim relata, por exemplo, como entendeu a sua sexualidade através do consumo de
fanfictions e debates com outras integrantes do fandom de Swan Queen. A partir da entrada
nesta comunidade, Sarah passou a acompanhar outros grupos de fãs de ships femslash, guiada
pela vontade de ter representatividade em narrativas ficcionais, mas também por este
encontro com outras mulheres que ela sentia serem suas semelhantes. Desta maneira, ela
conta:
Você para e pensa: caramba, eu descobri a minha sexualidade através de um ship
Queerbaiting. (Sarah Amorim, 28 anos).

Esta entrada acaba acontecendo e se expandido para além do consumo da obra, porque,
teoricamente, este local da comunidade de fãs é também um espaço acolhimento e o
encorajamento para uma provável exploração de identidade (CRAIG; MCLNROY, 2018). O
fato de um fandom ser direcionado para a shippagem de um par romântico sáfico, desta
maneira, deixava implícito para estas torcedoras que a receptividade seria ainda mais intensa,
pois encontrariam ali outras iguais a elas. Todavia, no fandom do ship Swan Queen disputas
internas começaram a acontecer. O desejo de ter uma voz que se sobressaiam às outras,
prevaleceu e foi mais forte do que esta própria procura por conexão e aceitação. O ambiente
se tornou, assim, tóxico para algumas delas.

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Acreditamos que esta afirmação poderia ser utilizada para falar sobre a comunidade Queer em geral ou, até
mesmo, sobre diversos outros grupos que fazem parte de minorias sociais. No entanto, nosso foco são as
mulheres não heterossexuais e, por isso, individualizamos esta sensação, sobretudo por termos dados empíricos
e teóricos para referenciar tais afirmações.

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3. Comportamentos tóxicos

[...] eu vejo que desperta o pior das pessoas, quando a gente entra em um debate
em que todo mundo é bastante apaixonado por um mesmo personagem e cada um
tem uma visão diferente de cada um, (Luana F, 28 anos).

A gente era punitivo até entre a gente, mas isso era uma coisa que a gente absorvia
das outras pessoas. Eu lembro que a gente fazia mutirão, cara, pra brigar no
Twitter, no Facebook. (Beatriz Martins, 24 anos).

Unidas pelo desejo de torcer pelo par romântico Emma Swan e Regina Mills, da série
Once Upon a Time (ABC, 2011-2018), as fãs do ship Swan Queen foram surpreendidas por
ambiente hostil que, para elas, tornou-se um espaço tóxico, de certa rejeição interna e até
mesmo disputas que passavam do limites, por apresentarem agressividade e confrontos
diretos. No entanto, ainda que para estas mulheres, dentro de um contexto específico, seja
uma surpresa o encontro de um ambiente tóxico dentro de comunidades de fãs, é importante
ressaltar que a toxicidade dentro deste tipo de grupo não é algo novo e precede a era da
internet. A toxicidade já vem desde as primeiras articulações para a formação de fandoms,
algo já analisado e comentado pelos estudos de fãs, por exemplo, desde o início dos anos
1990 (AROUH, 2020).
Todavia, a temática é uma pauta que se alastra nas observações e pesquisas do campo,
ganhando cada vez mais espaço em discussões presentes em trabalhos acadêmicos da
contemporaneidade. Esta elevação da discussão sobre o tema vem justamente pelo fomento
da possibilidade da criação de encontros plurais, ampliado pelo advento internet, que trazem
as redes sociais como um novo local de estabelecimento de proximidades e novos contatos
(PROCTOR; KIES, 2018). É nesta gama plural de conexões possíveis, na qual
relacionamentos e interações são estabelecidos, que nossas entrevistadas fazem parte deste
universo de práticas de shippagem, com teor tóxico vindo de outras fãs que estabeleciam
contato com elas, nesta prática de torcida por um ship, bem como na existência de uma
toxicidade que vinha delas mesma.
De acordo com algumas entrevistadas, a reação ao ambiente negativo era reproduzir
padrões comportamentais agressivos em seus discursos. Neste sentido, foi possível observar
em seus relatos, a oposição entre adentrar e se engajar com grupos de fãs e de shippers, nesta

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lógica de encontrar seus pares e, ao mesmo tempo, a sensação de que estavam sendo
repelidas por seu próprio grupo, por questões de poder e autoafirmação. O que existe de
relevante para elas dentro desta surpresa é justamente a identificação de uma luta entre suas
iguais, algo que lhes soou inesperado. Há, dentro de fandoms brigas, disputas e criação de
atmosfera tóxica. Na comunidade geral de fãs de Once Upon a Time, elas sabiam que existia
uma chance intensa de se depararem com conteúdos negativos, como comentários
homofóbicos ou machistas. O choque foi notar que esta também era uma realidade entre as
Swan Queen e que existia um engajamento em provocar estas rupturas entre elas mesmas,
através de ações que elas consideram nocivas e desnecessárias.
Os atos iam desde de comentários ácidos dentro de grupos do Facebook, bem como a
união de subgrupos para publicações coletivas no Twitter para expor outras fãs. Os motivos
eram variados, mas os mais citados pelas entrevistadas foram: descontentamento com
encaminhamentos de fanfictions e discordâncias sobre ações para a mobilização em redes
sociais para defender o próprio ship – como levantamento de hashtags e mutirões para
votações em sites. A pergunta que rondava alguma destas fãs era como os limites eram
ultrapassados sem filtro por algumas destas shippers.
De acordo com elas, havia uma coragem para realizar este tipo de prática nociva. Este tipo
de desinibição ocorre dentro de fandoms, justamente pelo poder trazido pela possibilidade do
anonimato, promovido pelo espaço digital, que faz com que os indivíduos criem uma
sensação de distanciamento da realidade (PROCTOR; KIES, 2018; WALTON, 2018) . Por
esta razão, se cria uma sensação de que é possível derrubar algumas barreiras, como a do
discursivo mais agressivo e/ou incisivo. Assim: “[...] o princípio do anonimato está no cerne
dessa desinibição, incluindo exibições benignas e tóxicas”, (PROCTOR; KIES, p.137, 2018).
No entanto, o fervor dentro das interações entre fãs não são necessariamente todas tóxicas.
Portanto, é preciso compreender que:

Os fãs participarão de debates apaixonados e resistirão a escolhas criativas de


maneiras extremas, mas se isso é realmente tóxico ou simplesmente uma questão de
resistência dos fãs dentro do contexto mais amplo de participação dos fãs, requer
delineamento cuidadoso” (AROUH, p.71, 2020).

Partindo desta lógica de que existem comportamentos apaixonados, mas que alguns deles
ultrapassam o limite do apaixonado e se direciona para um ataque direto e amplo, criando um

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ambiente tóxico, elementos relevantes que apareceram nas falas das 10 entrevistadas, dos
dois grupos focais, foram levados em consideração para estabelecer que dentro da shippagem
de Swan Queen existia, assim, um ambiente fortemente caracterizado pela toxicidade. O
primeiro fator observado foi a dinâmica de Receptividade inicial X Exclusão posterior.
As participantes deste estudo contam que se aproximaram da comunidade por serem
recebidas de maneira positiva, gerando uma sensação de acolhimento e pertencimento, algo
que, geralmente, é a razão inicial para esta entrada em grupos de fãs (JENKINS, 1992;
BACON, 1992; EINWÄCHTER, 2013; ORTIZ, 2017; GRECO, 2019). Contudo, elas
também deixaram nítido que os locais que frequentavam, principalmente on-line, passaram a
trazer desconfortos, seja por disputas de poder ou silenciamento. Em seguida, novas aberturas
eram criadas, fazendo com que elas permanecessem no fandom.
Este processo de envolvimento, que mescla aproximações e aberturas, com tensões e
agressões são características que fazem parte do que é considerado um relacionamento tóxico
e/ou abusivo, considerando tanto as esferas das amizades como as de romances (ALBERTIM
e MARTINZ, 2018). É neste sentido que tomamos o conceito de relações tóxicas para
empregá-lo aqui, para tratar sobre as interações dentro da shippagem entre as shippers de
Swan Queen. Isadora Vargas, por exemplo, cita em sua fala que integrou comunidades
digitais voltadas para este ship quando ainda era adolescente, justamente por estar na etapa de
descoberta de sua sexualidade e acreditar que aquele era um local seguro, no qual poderia se
entender e também ser aceita.
Estas experiências são cruciais em processos de descoberta da sexualidade,
principalmente, em idades menos avançadas, como na adolescência e início da juventude
(ESTÁBLES, 2018). Mas, nestes encontros e nestas interações virtuais, aos poucos, Isadora
passou a questionar se aquele ambiente era, de fato, apropriado para ela, pois já não se sentia
bem-vinda. Desta forma, a jovem explica que passou a se sentir pressionada, pois não
conseguia encontrar apoio de forma alguma. De um lado, existia o fandom geral de Once
Upon a Time, no qual a homofobia se fazia presente, criando uma sensação de rejeição em
Isadora, principalmente em grupos de Facebook. Assim, Isadora Vargas comenta que:

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Eu era novinha na época de Swan Queen. Então, já foi uma entrada do tipo: eu
sou do vale9, mas já sabendo que muita gente queria que eu morresse (Isadora
Vargas, 22 anos).

No entanto, Isadora revela que, ao se direcionar as shippers de Swan Queen não


encontrava o que procurava: um suporte para se sentir melhor consigo mesma. Ao invés
disso, ela relata que se deparava com disputas de poder e comentários negativos sobre seus
desabafos. Já para Diana Werneck, havia uma questão que a prendia, de certa maneira, ao
grupo, que eram as produções de fanfictions. Durante o tempo que passou acompanhando as
comunidades voltadas para Swan Queen, Diana passou a escrever fanfics com frequência,
chegando a publicar um livro, em 2018, ao lado de uma colega de ship.
Para poder divulgar sua obra e trocar ideias para novos projetos, Diana continuou fazendo
parte de alguns grupos. No entanto, ela acredita que a sua experiência mais negativa dentro
de fandoms foi com o contato com as shippers de Swan Queen. Assim:

Com toda certeza, estar no fandom de Once upon a time e no ship de swan Queen
foi super tóxico, de todas as formas possíveis, (Diana Werneck, 28 anos).

Mas, este processo de toxicidade não envolvia apenas vítimas diretas de discursos
opressivos. Algumas das entrevistadas relataram que reproduziram essa linguagem que
consideram ofensiva, bem como participaram de ações contra outros fãs que as
desagradavam, incluindo shippers de Emma e Regina. Beatriz Martins acredita que através de
sua fanpage, do Facebook, utilizada entre 2015 e 2018, ela agiu de forma incisiva com
participantes que discordavam dela em suas publicações. Além disso, Beatriz conta que
deletava comentários de fãs que possuíssem ships dissonantes de Swan Queen e tentava
convencer o fandom sobre as suas opiniões. Apesar de considerar seu comportamento tóxico
dentro da sua fanpage, Beatriz Martins procurou ressaltar que somente naquele espaço que
ela agia de tal maneira, pois considerava um local seguro para expor um lado menos bondoso
seu.

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O “Vale” que a entrevistada se refere é o “vale dos homossexuais”. Esta é uma gíria utilizada pela comunidade
Queer para se autorreferenciar. Entrar no vale seria, neste contexto, sair do armário e entrar para a comunidade
Queer/de mulheres sáficas Por si só, o termo “Vale” representa uma mudança de narrativa no interior da
comunidade LGBTQIAP+, pois originalmente foi usado de modo pejorativo, em contexto de extremismo
religioso.

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Já a entrevistada Eva Assunção não possuía uma página específica na internet. A jovem
utilizava espaços como o Facebook e Twitter para expor os seus pensamentos e sentimentos a
cerca de Once Upon a Time ou, especificamente, de Swan Queen. Ao comentar sobre a sua
entrada no fandom da série, Eva explica que procurava encontrar comunidades de shippers de
casais sáficos, pois esta inserção em grupos de fãs aconteceu na época em que ela estava
descobrindo a sua sexualidade. Durante a sua busca, ela acabou se encontrando dentro da
shippagem por Swan Queen.
Quando a fã narra toda a sua experiência no que se refere a shippagem voltada para Emma
e Regina, ela repete em alguns momentos que, inicialmente, ela sentia uma espécie de
empolgação, principalmente quando ela estava em contato com questões vindas das práticas
de fãs, como escrever e ler fanfics. Para ela, ambos os mundos eram uma novidade: o de
pertencer a um fandom e o da aceitação da sexualidade. Ao se deparar com mulheres
assumidas e que lidavam com as suas homoafetividades com orgulho e tranquilidade, Eva se
sentiu acolhida, respeitada e entusiasmada.
Dentro de todo este contexto, a entrevistada ainda fez um adendo, explicando que além de
descobrir e entender a sua sexualidade e encontrar seus pares dentro da prática da shippagem
por casais homoafetivos da ficção, Eva também se sentia emocionalmente conectada com as
figuras das personagens Emma Swan e Regina Mills. Eva Assunção narra que observava o
comportamento da dupla e sentia que existia uma dinâmica entre elas que se assemelhava ao
que ela vivia em seus relacionamentos ou que gostaria de experienciar ao lado de uma
mulher. Este relato revela algo que acontece é comum no que se refere ao consumo da
comunidade LGBTQIAP+ de produtos midiáticos: através das representações que aparecem
nestas produções, este grupo pode pautar as escolhas para as suas próprias vidas, absorvendo
também os comportamentos convocados nestas obras (ESTÁBLES, 2018).
Estas relações da comunidade LGBTQIAP+ com a representatividade e a representação é
delicada também por este fator de, em uma ausência de explicação ou exemplos sobre a
vivência Queer, a ficção se torna uma ferramenta de entendimento sobre si mesmo.
A dinâmica consumo de uma obra, juntamente ao compartilhamento de ideias e emoções,
dentro de uma comunidade de fãs, é um processo fundamental no que se refere à construção
de identidades destas mulheres. É justamente pela relevância deste espaço que, muitas vezes,
é o único local de interlocução que elas possuem, que a rejeição dentro deste ambiente que
deveria ser de troca ou até mesmo proteção, merece ser analisado e debatido

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No que tangem as entrevistadas do presente trabalho, a maior consequência que ocorreu
foi o afastamento da prática de fãs. Algumas das participantes dos grupos focais narraram que
apenas mudaram de fandom e procuraram estabelecer contato apenas com pessoas receptivas
e que estivessem dispostas a debater sem criar subgrupos para expor umas as outras ou
dizerem palavras ofensivas.

4. Afastamentos e outras consequências

O período de permanência das fãs entrevistadas em nossos grupos focais têm variações,
sendo que algumas delas continuaram acompanhando os conteúdos publicados on-line
durante o período de exibição da série e outras foram gradativamente se afastando, mesmo
antes do seriado acabar. O que fica como marca dos relatos é que havia uma combinação de
frustrações dentro do processo de shippagem de Swan Queen, que criou este desejo de
mudança de fandom ou, até mesmo, do encerramento de atividades que envolvessem práticas
de fãs.
De um lado, a existência do Queerbaiting em Once Upon a Time criava tensões e
decepções entre as shippers. Do outro, as brigas relacionadas às mobilizações para que Swan
Queen acontecesse ou discordâncias sobre os materiais artísticos produzidos nesta
comunidade, criavam uma sensação para elas de que não valia mais a pena o engajamento
com a produção ou com o fandom. Neste sentido, Isadora Vargas, Luana F., Diana Werneck,
Júlia S, Thaynara Marques, Giovana Garcia e Sarah Amorim contam que ainda participaram
de outras comunidades voltadas para a shippagem por casais ficcionais que foram
Queerbaiting e acabaram por despertar um lado tóxico entre as fãs, como foi, para elas, o
caso de Supercorp, fandom que torcia para o casal Lena Luthor e Kara Danvers, da série
Supergirl (The CW, 2015-2021).
Todas afirmam que mesmo com o fato do ship não ter acontecido e do ambiente de
toxicidade ser intenso, muitas vezes superando até mesmo o que acontecia entre as Swan
Queen, elas ficaram até o final da série dentro do fandom, por questões de pertencimento e
conexão com a história de Lena e Kara. Neste sentido, Beatriz Martins e Letícia Moreira não
se envolveram com outras shippagens, mas ambas afirmam que coletaram experiências

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positivas torcendo por Swan Queen, mesmo que tenha visto comportamentos negativos
vindos de outras fãs.
Por fim, Eva Assunção foi a única que pontuou que não se envolve mais com fandoms,
justamente por conta da vivência um tanto traumática dentro da shippagem por Swan Queen.
A sua presença dentro do grupo do whatsapp, no qual foi feita a chamada para a entrevista,
por exemplo, acontece caso ela seja convocada ou quando o grupo comenta outro assunto,
não relacionado ao seriado. Eva ainda acompanha produções midiáticas, porém parou de
seguir contas voltadas para fãs, principalmente, dentro do Instagram e do Twitter, não
participa mais de grupos de Facebook sobre shippagem e até mesmo o seu consumo de
fanfiction vem diminuindo cada dia mais. Para ela, a possibilidade de se engajar novamente
com alguma produção ou em uma comunidade de fãs não é impossível, porém ela ainda não
se sentiu confortável para retornar para este universo.
Desta maneira, é possível observar que as frustrações com o universo da shippagem e da
relação entre as shippers de Swan Queen trouxeram consequências futuras para o consumo
destas espectadoras. Em menor ou maior grau, durante a exibição da série ou após o desfecho
dela, a inserção em fandoms e até a seleção do que assistir é pautada tanto pelo o que aparece
em termos de narrativa, quanto com a própria relação que é estabelecida entre shippers. Um
exemplo constantemente citado nos grupos focais foi o fandom do casal Gabilana, Gabriela e
Ilana, da telenovela Um Lugar ao Sol.
Os relatos eram positivos quando as fãs abordavam a produção em si, mas também quando
estas tratavam sobre como funcionava a comunicação e o comportamento das shippers de
Gabilana. Analisar este fandom já seria uma nova tarefa, que não nos cabe aqui, porém
escutar como há uma diferença na interação das fãs com o casal homoafetivo canônico pode
ser uma pista para entender como o Queerbaiting, em toda a sua provocação de disputas de
sentido (BRENNAN, 2019), pode mergulhar uma comunidade voltada para a shippagem em
um ambiente tóxico.

5. Conclusão

A partir dos relatos das shippers de Swan Queen, entrevistadas em nosso grupo focal,
podemos compreender que a entrada em comunidade de torcidas por pares românticos

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femslash se dá, principalmente, pela procura em encontrar acolhimento, pelo pertencimento e
para a compreensão de suas sexualidades e identidades. No entanto, após esta entrada no
fandom voltado para o ship Swan Queen, as fãs notaram que essa busca sofreria alterações
devido à presença de um comportamento tóxico dentro daquela comunidade.
Este ambiente tóxico trouxe surpresa para estars shippers, que não esperavam encontrar
toxicidade em um grupo voltado para o mesmo ship. Para as entrevistadas, os
encaminhamentos das brigas internas e disputas de poder criavam uma atmosfera pesada, que
acabou por afastá-la da comunidade Swan Queen ou até mesmo da própria prática de fãs. Em
alguns casos, a reprodução de atitudes negativas foram realizadas, o que também gerou uma
sensação de incômodo entre as fãs que aderiram a uma prática discursiva mais agressiva, pois
elas notaram que estavam se afastando de seus propósitos iniciais.
Visto que as entrevistadas fazem parte de uma comunidade que busca por
representatividade e representação dentro dos espaços midiáticos, bem como pertencimento
dentro da sociedade (ESTÁBLES, 2018), surgiu a hipótese de que há uma quebra de
expectativa destas fãs, que recorrem a estes grupos para se sentirem aceitas em relação as
suas sexualidades, mas que encontram comportamentos tóxicos, fazendo com que elas se
sintam rejeitadas em um espaço que supostamente iriam recebê-las bem.
Esta hipótese foi guiada através de uma pergunta de pesquisa que surgiu a partir da
realização destes grupos focais, sendo ela: mesmo que possuam interesses em comum tão
centrais para a prática de fãs, é possível que haja comportamento realmente tóxico
vindo da shippagem? Através de uma análise das respostas das participantes dos grupos
focais, através de divisão de temáticas, subtemáticas e de um mapa de palavras, foi possível
notar que sim, existe um comportamento tóxico dentro de grupos voltados para a torcida de
um mesmo casal.
Em ciclo que mescla recepção e rejeição, algumas fãs se sentem frustradas e incomodadas
por não encontraram o local de proteção que almejavam. Além disso, duas participantes
relataram a reprodução de atitudes negativas, dentro das redes sociais, fomentando a
toxicidade dentro da comunidade de shippers para Swan Queen. Cabe, no entanto, pensar, a
partir destas constatações, em perguntas e análises futuras. Uma delas é compreender em que
medida a realização do Queerbaiting pode interferir no atrito entre fãs e shippers de produtos
midiáticos e artistas.

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Uma das condições fundamentais para se apontar um caso de Queerbaiting são as disputas
de sentido (NORDIN, 2018; BRENNAN, 2019). Desta maneira, investigar quais efeitos deste
fenômeno em fandoms é uma possibilidade para entender como, mesmo com objetivos, gosto
e, mais importante, lutas em comum rupturas tão intensas podem ocorrer. Além disso,
observar estruturas de poder e vozes dentro de comunidades interpretativas, pode ser
determinantes para a quebra do pacto de companheirismo dentro destes grupos, bem como a
instalação de um ambiente tóxico.

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