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Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal.

Lá, onde estiver


vaga-mundo: poéticas nômades
Lá, onde estiver
vaga-mundo: poéticas nômades
março e abril de 2023
Caixa Cultura Brasília

Exposição Coordenação Catálogo


administrativa
Artistas Elisa Mattos Conselho editorial
César Becker (Desvio Produções) tuîa editora
Íris Helena André Parente
Júlia Milward Assessoria de imprensa Agnaldo Farias Lá, onde estiver
Agenda kb Bruna Neiva
Karina Dias
Levi Orthof Cristiana Tejo
vaga-mundo: poéticas nômades
Ludmilla Alves Gestão de redes Edson Luiz de Sousa
Tatiana Terra Laura Papa Regina de Paula
— Mediação Simone Osthoff
com a participação de
Gabriel Menezes
Geovana Freitas Organização César Becker
Giovanna Palatucci Júlia Milward
Luciana Paiva Lara Likidah Karina Dias
Íris Helena
Luiz Olivieri
Montagem Projeto gráfico
Júlia Milward
Coordenação artística C2
Karina Dias Gabriel Menezes Karina Dias
Montagem de luz (Molde.cc)
Produção executiva Jó Capoliteo
Levi Orthof
Fontes
Bruna Neiva
(tuîa arte produção) Fotografia Archivo e Pensum Pro Ludmilla Alves
Produção
Diego Bresani Papel Tatiana Terra
Joana França Offset 120g/m²
Nina Maia Nobre Matheus Velloso —
(tuîa arte produção) Impressão
Pintura com a participação de
Assistente de produção Athalaia Gráfica e Editora
LM Montagem de Cenários Gabriel Menezes
Gustavo Haeser Tiragem Luciana Paiva
(tuîa arte produção) Plotagem
WL Serviços e Comunicação
500 unidades Luiz Olivieri
Design Visual
Gabriel Menezes
(Molde.cc)

tuîa arte produção


Brasília
ISBN 978-65-994654-6-8 2023

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7 Boas-vindas

17 Introdução

23 Do impulso da viagem

73 Baldeações
onde também estivemos

123 Das vistas e outras elaborações dos viajantes


o que fica da viagem

209 Finisterra
os confins da viagem e o desejo de repartir

241 A bordo dos dias

271 Dar a volta ao mundo: quantos mundos


compõem essa viagem?
Fabrícia Jordão

295 Artistas, curadores e milhas


Raphael Fonseca

305 O grupo
Boas-vindas
Afio mai
akeyi
Akwaaba
allinlla chayaykamuy
Amukela
Aski jutäwi
baga nagaan dhufte
barka da zuwa
benvenuta/ benvenuto
Benvenuto
Benvingut
bienvenidas
bienvenue
boa vindas nisqa
boas vindas
boyei malamu
Chào mừng
Chibai
croeso
Dobrodošli

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Dobrodošli TONGA SOA
fáilte txais tos
fáilte Üdvözöljük
herzlich willkommen Välkommen
Hoş geldin velkominn
hoş geldiňiz Velkommen
i danse Vítejte
kaabo Wamkelekile
Kaale Wamukelekile
karibu welcome
laipni lūdzam Welina
Merħba welkom
Mirë se vini Wëllkomm
murakaza neza wɛlkɔm
naragsak nga isasangbay Willkommen
nau mai haere mai wilujeng sumping
nowata Witamy
Olandiridwa Xoş gəldiniz
ongi etorria xush kelibsiz
selamat datang καλως ΗΡΘΑΤΕ
soo dhawoow καλως ΗΡΘΑΤΕ (kalos irthate)
sugeng rawuh боа виндас
Sveiki боа виндас
tapeg̃uahẽporãite боас виндас
tere tulemast Вітаем
tervetuloa добре дошли

10 11
Добредојде /वागत छ
добредојден (dobredojde) /वागतम ्
добро пожаловать �াগত
добро пожаловать �াগতম
Добродошли ਸੁਆਗਤ ਹੈ
Кош келдиңиз ସ"ାଗତ
қош келдіңіз !ಾ#ಗತ
Ласкаво просимо സ"ാഗതം
рəхим итегез සාදරෙය' ()ග+,
тавтай морил ยินดีต ้อนรับ
Բարի գալուստ !ကိ$ဆိပ& ါတယ်။
ბოას ვინდას !"#គមន'
いらっしゃいませ እንኳን ደህና መጣህ
‫באַגריסן‬ 보아스 빈다스
‫הבא ברוך‬ 欢迎
‫وﻧداس ﺑوا‬
‫ري ﭜﻠﻲ‬ü ‫آﯾﺎ‬
‫آﻣدی ﺧوش‬
‫راﻏﻼﺳت ©ﮫ‬
ً ‫ﻣرﺣﺑﺎ‬
बोआ $व&दाः
बोआस $वंदास ह- नांव
/वागत
/वागत
/वागत
/वागत

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14 15
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Introdução
Lá, onde estiver

Ao longo de 6 anos, 4 meses e 8 dias, o grupo de artistas


“Vaga-mundo: poéticas nômades” teve como objetivo rea-
lizar uma volta ao mundo, a pé, sem sair de Brasília, o que
compreendeu expedições aos Setores de Embaixadas Sul
e Norte da cidade. Munidos da noção de que a viagem ex-
pande a compreensão que temos dos lugares, a proposta
do grupo é manter o espírito viajante no cotidiano mais
absoluto, aquele que entorpece porque se repete dia após dia,
que anestesia porque não vemos mais os espaços que nos
envolvem, o que nos faz esquecer que uma cidade-mundo
está sempre lá, disponível.
Em nossa expedição às embaixadas encaramos as bordas
e fronteiras dos países visitados. Andamos entre muros,
cercas, estacionamentos, câmeras de vigilância, guaritas,
seguranças, torres de controle, pesados portões de entrada/
saída com seus brasões, monumentos sobre pedestais cujos
heróis das pátrias distantes desconhecemos. As escolhas do
paisagismo de cada país, a terra do chão que sujou nossos sa-
patos e dedos nos contaram destes lugares. A invisibilidade
dos prédios cercados de muros, onde grandes mastros com

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bandeiras flamulando lentamente no alto, foram, muitas Agradecemos à Jules Verne, Phileas Fogg, Passepartout, Fra
vezes, tudo o que pudemos ver do lugar. Mauro, ao intruso, aos autonautas da cosmopista, à Nellie
Caminhamos numa volta do lado de fora do mundo, Bly, Georges Perec, Xavier de Maistre, Frederick Marryat,
em que um outro mapa se desenha. Nessa geopoética/ Ella Maillart, Alexandra David-Néel, Isabelle Eberhardt,
geopolítica, a Áustria faz fronteira com a Austrália que Austerlitz, Avalovara, Alejandra Pizarnik, Orides Fontela,
faz fronteira com o Reino Unido que faz fronteira com o Silvia Baron Supervielle, Edmond Jabès, Michel Butor, Gê
Panamá, e, ao cruzarmos o território iraquiano, durante Orthof, Lino Valente, Gisel Carriconde, Ádon Bicalho, Vera
o período de seca em Brasília, observando os tons pastéis Lúcia Dias, Fernando Salis, Bianca Tinoco, Ana Gita de
das paredes e colunas dos prédios, tocando a vegetação Oliveira, Maria Helena Alves Ferreira, Ana Carla de Andrade
árida que resiste em volta, e às vistas para o Lago Paranoá, Matos, Cecilia Aprigliano, Breno Noronha, Gabrielly de Farias,
estivemos direcionados à uma planície síria, adornada de Claudia Orthof, Taygoro Kudo, Silvino Mendonça, Marina
espécies desérticas ante ao Rio Murat. É possível estar num Mestrinho, Gioconda Caputo, Tassia Latorraca, Marcos
lugar onde nunca pisamos. Sfredo, Elza Maria da Costa e Silva Lima, Octavio Aprigliano,
Como então contar essa viagem coletivamente? Com Nina Raquel de Brito Akaboci Magero, Camyla Serpa, Lucas
quantos relatos se narra uma volta ao mundo? Criar em e Petalla, Cybelle Costa Felipe, João Almeida Neto, Elisa
grupo um pensamento-em-viagem solicita muitos pontos Mariana Santos, Thayran Pacheco, Olivia Orthof, Emille
cardeais, uma rosa dos ventos que dê conta, a um só tempo, Catarine, Mundo trans mundo livre, Pedro Sávio Orthof
de muitos vocábulos, de muitos lugares. Em “Lá, onde estiver” Pereira Lima, Gustavo Lopes, Renata Maria de Oliveira
propomos, a partir de nossas anotações, croquis, registros Azevedo, Danielle Cruz Barros, Fernanda Hakme, Marguerite
fotográficos e videográficos, compor uma exposição como Duras, Francis Alÿs, Yoko Ono, Jeanne Baret, Hermes, Arthur
um diário de bordo coletivo, uma maneira de responder à Rimbaud, Gaston Bachelard, Robert Smithson, Nancy Holt,
pergunta diga, o que você viu?1 Ítalo Calvino, Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira,
Gilles Deleuze, Emily Dickinson Michel Collot, Laura Riding,
Grupo Vaga-mundo: poéticas nômades Ingeborg Bachmann, Agnes Denes, James Turrel, Robert
Irwin, Sophia de Mello Breyner Andresen, Giuseppe Penone,
Lucio Costa, à cidade inventada, ...
1 Questão proposta por Baudelaire no poema “A viagem iii” (1861).

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aos ventos, às estações e viajantes … lá onde estiverem.

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Do impulso da viagem
Enquanto cruzamos fronteiras imaginadas na geografia
vivida inventamos uma marcha-vaga, uma medida-vaga,
um eixo-vaga, uma bandeira-vaga, um anuário-vaga, um
território-vaga:

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Escalar o montinho, fincar a bandeira, roubar a bandeira
e correr.

vaga-mundo: poéticas nômades,


Marcha-vaga, 2019, vídeo, 15m.,
Tablet Emoldurado.
A vídeo-projeção Marcha-vaga
apresenta um corpo-coletivo
em movimento que, para se
deslocar, necessita manter
a cadência dos passos, o
equilíbrio dos corpos e o desejo
de permanecer junto.

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A contra vento, imóveis a 15° até que os corpos se desequi-
librem vagamente.

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Medir vagamente o terreno no fracasso da linha reta.

vaga-mundo: poéticas nômades,


15°, 2019, vídeo, 15m., Tablet
emoldurado.

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Ocupar e desocupar vagamente.

vaga-mundo: poéticas nômades,


Medida-vaga, 2019, Vídeo, 15m,
Tablet Emoldurado.

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O que aconteceu no mundo enquanto nele dávamos a volta?

vaga-mundo: poéticas nômades,


Bandeira-vaga, 2019, Vídeo,
loop, Tablet Emoldurado.

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2016 ■ Segundo turno das eleições municipais no Brasil. ■ O ex-governa- Estados Unidos. ■ Morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da
dor do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, é preso pela Polícia Federal, na Silva. ■ Crise de Segurança no Estado do Espírito Santo. ■ Terremoto de
Operação Chequinho. ■ O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral magnitude 6,1 atinge o norte do Chile. ■ Emma Morano morre aos 117
Filho, foi preso pela Polícia Federal, na 37ª fase da Operação Lava Jato. ■ anos. Considerada a pessoa mais velha do mundo, decana da humanida-
A crise de refugiados bateu seu recorde de mortos – mais de 7 mil, de de e a última pessoa nascida em 1899. ■ É lançado o primeiro satélite
acordo com a Organização Internacional de Migrações (OMI). ■ Dilma brasileiro, que entra em operação em junho. ■ Aos 39 anos, Emmanuel
sofre golpe de estado. ■ A Síria entrou em seu quinto ano consecutivo de Macron é eleito como 25º Presidente da França. ■ São encontrados fósseis
guerra. ■ Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos. ■ A humanos com mais de 300 mil anos em Djebel Irhoud, Jebel Ighoud ou
Colômbia assinou um acordo de paz com as Forças Revolucionárias da Adrar Ighud, no Marrocos. ■ O ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi
Colômbia (Farc). ■ O furacão Matthew deixou 900 mortos em sua passa- condenado a 9 anos e 6 meses pelo juiz Sérgio Moro. ■ A China inaugura
gem pelo Haiti. ■ Surto de Zika. ■ Reino Unido decidiu deixar o bloco da a Base de Apoio do Exército de Libertação Popular da China em Djibouti,
UE. Essa saída foi aprovada por 52% dos eleitores. ■ Terremotos na Itália sua primeira base militar em território estrangeiro. ■ Eclipse lunar parcial.
atingiram 6,5 graus e deixaram entre 30 e 40 mil pessoas. ■ Governo ■ Deslizamento de terra em Serra Leoa. ■ Primeiro eclipse solar total do
colombiano assina acordo de paz com as FARC. ■ O Iraque deu início à século XXI na América do Norte visto também da América Central e ao
ofensiva mais importante desde o início da guerra contra o Estado Islâ- norte da América do Sul. ■ Sismo na ilha de Ísquia, Golfo de Nápoles. ■
mico: a batalha por Mosul. ■ O furacão Matthew deixou centenas de Furação Irma se forma perto da costa de Cabo Verde, seguindo em direção
mortos. ■ Aos 90 anos, o líder da Revolução Cubana de 1959, Fidel Castro, ao Caribe como Tempestade Tropical. ■ A sonda Cassini mergulha em
faleceu. ■ No Sudão do Sul 3,7 milhões de pessoas estão passando fome. Saturno e encerra sua missão, sendo destruída na atmosfera após estar
■ A presidente da Coreia do Sul, Park Geun-Hye, foi destituída do cargo em órbita do planeta desde 2004. ■ Terremoto de magnitude 7,1 no Mé-
após se envolver no grave escândalo no qual uma das pivôs recebeu o xico. ■ A Catalunha, declara unilateralmente, sua independência da Es-
apelido de “Rasputina coreana”. ■ Embaixador russo na Turquia, Andrey panha. ■ As igrejas protestantes e evangélicas comemoram os 500 anos
Karlov, foi morto a tiros durante a abertura de uma exposição de fotos da Reforma. ■ Centenário da Revolução de Outubro pelo calendário
em Ancara. ■ A tradicional feira natalina de Berlim foi alvo de atentado. gregoriano. ■ Terremoto no Irã de magnitude 7,3. ■ Seca grave no sul da
12 pessoas morreram e quase 50 estão feridas. ■ 2017 ■ Queda do avião Europa, principalmente na Península Ibérica. Várias nascentes ficam sem
Beechcraft King Air prefixo PR-SOM em Paraty (Rio de Janeiro) com 4 água. ■ Diário Oficial da União publica última edição impressa depois de
pessoas a bordo, entre elas, o ministro do STF e relator da Lava a Jato, 155 anos. ■ Donald Trump reconhece Jerusalém como capital de Israel e
Teori Zavasscki. ■ Donald Trump é empossado como 45º Presidente dos anuncia mudança de embaixada. ■ 2018 ■ O ex-presidente Luiz Inácio

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Lula da Silva tem a sua condenação confirmada por unanimidade na ções atingiu os três andares do prédio do Museu Nacional do Brasil, na
segunda instância e a pena ampliada para 12 anos e 1 mês de prisão. ■ Quinta da Boa Vista, zona norte do Rio de Janeiro. Estima-se que 80% do
Ocorreu a lua “Super Lua Azul de Sangue”, a última vez que aconteceu acervo localizado no museu tenha se perdido no incidente. ■ O candida-
esse fenômeno raro foi há 150 anos atrás. ■ Lançamento do foguete to à presidência da república Jair Bolsonaro é vítima de uma tentativa de
Falcon Heavy, da SpaceX ■ A vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco assassinato à faca durante campanha eleitoral em Juiz de Fora, Minas
é assassinada a tiros. ■ A OMS aufere a incidência de casos de febre ama- Gerais. Nunca se viu facada sem sangue. ■ O Partido dos Trabalhadores
rela e inclui o estado de São Paulo em área de risco. ■ Início da crise da anuncia a candidatura de Fernando Haddad à presidência, após a candi-
Guiana de 2018 após informações de planos de invasão da Venezuela datura de Luiz Inácio Lula da Silva ser indeferida pelo Tribunal Superior
contra a Guiana. ■ Beija-Flor de Nilópolis é, pela décima-quarta vez, cam- Eleitoral. ■ Manifestações populares acontecem em mais de 100 cidades
peã do grupo especial do Carnaval do Rio de Janeiro. ■ Início da interven- pelo Brasil, contra o candidato à presidência Jair Bolsonaro. ■ Primeiro
ção federal no Rio de Janeiro, a primeira intervenção federal desde a turno das eleições gerais para presidente, passam para o segundo turno
constituição de 1988. O general Walter Souza Braga Netto é nomeado os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). ■ Segundo
interventor do estado. ■ Governo decide suspender a tramitação da re- turno das eleições gerais: Jair Bolsonaro é eleito presidente do Brasil. ■
forma da Previdência. ■ O ministro Edson Fachin inclui o presidente Atentado suicida na Catedral Metropolitana de Campinas. ■ A Justiça
Michel Temer em inquérito da Operação Lava Jato. ■ Apagão que durou Brasileira condena o médium João de Deus, pelos escândalos de abusos
mais 5 horas atinge a Região Nordeste e a Região Norte e algumas cidades sexuais. ■ O ex-agente duplo russo Serguei Skripal e sua filha, Yulia, são
de todas as regiões parcialmente. ■ Durante visita à cidade de Guarapua- encontrados inconscientes na cidade inglesa de Salisbury, envenenados
va, no Paraná, dois ônibus da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula por um agente nervoso, o Novichok. ■ Cuba marcou o fim de uma era com
da Silva foram atacadas. ■ Terremoto de 6,8 graus que atingiu a Bolívia a substituição dos irmãos Fidel e Raúl Castro na Presidência do país por
é sentido em cidades do Brasil. ■ O habeas corpus solicitado pela defesa Miguel Díaz-Canel, um homem nascido depois de 1959. ■ Donald Trump
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é rejeitado por 6 votos a 5. ■ anuncia a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear assinado em 2015
Após manifestação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o ex-presiden- entre o Irã e as grandes potências. ■ Inauguração da embaixada ameri-
te Luiz Inácio Lula da Silva é preso. Chega a Curitiba para começar a cana em Jerusalém, que supõe o reconhecimento por Washington desta
cumprir a pena de 12 anos e 1 mês de prisão. ■ Edifício de 24 andares do cidade como capital de Israel, deflagra um banho de sangue na Faixa de
Largo do Paiçandu desaba em incêndio no Centro de São Paulo. Ele era Gaza. Sessenta palestinos morrem atingidos por disparos israelenses. ■
ocupado por cerca de 90 famílias. ■ Caminhoneiros entram em greve Matteo Salvini, chefe da Liga (extrema direita), ministro do Interior, blo-
nacional durante cinco dias seguidos. ■ Um incêndio de grandes propor- queia dois portos italianos às embarcações humanitárias que resgatam

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migrantes no Mediterrâneo. ■ Primeiro-ministro húngaro de extrema ■ Após 124 anos, a escritora Ângela Gutiérrez se tornou a primeira mulher
direita, Viktor Orban obteve vitória esmagadora de seu partido nas legis- a presidir a Academia Cearense de Letras. ■ Chuvas fortes no estado do
lativas. ■ O socialista Pedro Sánchez assume o poder na Espanha depois Rio de Janeiro matam pelo menos 6 pessoas. ■ Dez pessoas morrem em
de desbancar o conservador Mariano Rajoy (2011-2018). ■ O presidente um incêndio no Ninho do Urubu, a maioria atletas do sub-15 e sub-17 do
americano, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, reúnem- Flamengo. ■ Queda de helicóptero na Rodovia Anhanguera em São Pau-
-se em uma cúpula em Singapura. ■ Forças pró-governamentais, apoiadas lo mata o jornalista Ricardo Boechat e o piloto da aeronave Ronaldo
pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos, lançaram um ataque Quattrucci. ■ Incêndio atinge alojamento do Bangu, e três pessoas são
contra os rebeldes huthis em Hodeida, principal porta de entrada da encaminhadas para o hospital. ■ Incêndio atinge galpão da Usina Hidrelé-
ajuda humanitária no Iêmen. ■ O candidato da esquerda Andrés Manuel trica de Belo Monte. ■ Incêndio em um supermercado no Jacaré, no Rio
López chega à Presidência do México, com mais de 30 milhões de votos, de Janeiro. ■ Supremo Tribunal Federal debate criminalização da homo-
um resultado histórico. ■ Termina a evacuação dos 13 membros de uma fobia e transfobia no Brasil. ■ Com o tema “História pra ninar gente
equipe juvenil de futebol que passou 17 dias presos em uma caverna grande”, a Estação Primeira de Mangueira é campeã do Carnaval do Rio
inundada na Tailândia. ■ A Europa vive asfixiada por uma onda de calor, de Janeiro pela vigésima vez em sua história. A Imperatriz Leopoldinen-
que chega com incêndios florestais mortais na Grécia, na Espanha e em se é rebaixada para a Série A após 40 anos na elite. ■ Enchente na cidade
Portugal. ■ A Ásia é vítima do forte calor, assim como o oeste dos Estados de São Paulo provoca alagamentos e bloqueia vias de acesso na capital
Unidos, onde a Califórnia sofre com vários incêndios de grandes propor- paulista, provocando 12 mortos e 4 feridos. ■ Armados, dois jovens come-
ções. ■ Segundo a ONU, o ano de 2018 se anuncia como o quarto mais tem um massacre numa escola de Suzano, São Paulo, e cometem suicídio.
quente já registrado. ■ O jornalista saudita Jamal Khashoggi, crítico do ■ O ex-presidente do Brasil Michel Temer, e o ex-ministro e ex-governa-
príncipe-herdeiro Mohamed bin Salman e exilado nos Estados Unidos, dor Moreira Franco são presos no Rio de Janeiro pela força-tarefa da Lava
desapareceu depois de entrar no consulado de seu país em Istambul. ■ A Jato. ■ Chuva atípica causa deslizamento de terra, alagamentos e pelo
União Europeia e o Reino Unido selaram um histórico acordo de divórcio, menos 10 mortes no Rio de Janeiro. ■ O Presidente Jair Bolsonaro assina
após 17 meses de duras negociações. ■ 2019 ■ Para nossa tristeza, Jair um decreto que revoga o horário brasileiro de verão. ■ Um apostador leva
Bolsonaro toma posse como 38.º Presidente do Brasil. ■ Governo envia sozinho o prêmio de R$ 289 420 865 do concurso 2150 da Mega-Sena. ■
Força Nacional ao estado do Ceará, após onda de ataques realizadas por O Supremo Tribunal Federal aprova a criminalização da homofobia pela
organizações criminosas. ■ Eclipse lunar em todo o território nacional. ■ Lei de Racismo. ■ Um ônibus é sequestrado na ponte Rio-Niterói, o se-
O rompimento de uma barragem de rejeitos de minério de ferro na cida- questro teve seu desfecho com o sequestrador morto. ■ Manchas de óleo
de de Brumadinho, Minas Gerais, deixa 186 mortos e 122 desaparecidos. aparecem em dez praias da Paraíba, no Nordeste, de acordo com o Ibama.

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■ Em Fortaleza, o desabamento de um prédio residencial causa morte de Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo confirma a primeira morte
9 pessoas. ■ O ex-Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, é liber- pelo novo coronavírus no Brasil. ■ Em 2020 em plena pandemia, sem
tado por decisão judicial após 580 dias de prisão, mediante decisão do vacina, morrendo aos milhares, escutamos em cadeia nacional: ■ “Brasi-
Supremo Tribunal Federal por considerar a prisão em segunda instância leiro pula em esgoto e não acontece nada” ■ “Eu não sou coveiro” ■ “E
inconstitucional. ■ Invasão da Embaixada da Venezuela em Brasília: ■ daí, lamento. Quer que eu faça o que” ■ “Cloroquina” e “Tubaína” ■ ‘Quem
Ilha recém-nascida dá pistas que levam a marte: ■ Há 50 anos o homem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda, Tubaína’ ■ ‘[a morte]
pisou na lua ■ Há 100 anos, era oficialmente encerrada a Primeira Gran- É o destino de todo mundo’ ■ “Tudo agora é pandemia, tem que acabar
de Guerra ■ Comemoração dos 150 anos da Tabela Periódica ■ 50 anos da com esse negócio [...] Tem que deixar de ser um país de maricas” ■ ‘Se
primeira edição do festival de Woodstock ■ 30 anos da queda do Muro você virar um jacaré, é problema seu’, sobre a vacina Pfizer. ■ A CBF de-
de Berlim ■ 30 anos da morte de Salvador Dalí ■ 10 anos de surto do vírus termina a paralisação da Copa do Brasil, da Copa do Nordeste, do Cam-
H1N1 ■ 60 anos da Revolução Cubana ■ 2020 ■ Tempestade subtropical peonato Brasileiro de Futebol Feminino, do Campeonato Brasileiro Sub-
Kurumí se forma. ■ Chuvas em Belo Horizonte e região metropolitana 17 e da Copa do Brasil Sub-20 devido a pandemia do novo coronavírus. Os
deixam pelo menos 45 mortos, mais de 13 000 desalojados e 3 354 desa- Campeonatos Estaduais também são paralisados. ■ Luiz Henrique Man-
brigados. ■ Enchentes na cidade de São Paulo e região metropolitana detta é demitido do Ministério da Saúde e o oncologista Nelson Teich é
interditam as principais vias da região, ■ O Ministério da Saúde alerta nomeado para o cargo. ■ Sergio Moro pede demissão do Ministro da
uma possível epidemia de dengue, após 57 485 casos notificados entre Justiça e Segurança Pública e faz críticas ao Presidente da República Jair
janeiro e fevereiro. ■ De 18 de fevereiro a 24 de fevereiro, são registrados Bolsonaro, o acusando de interferência política na Polícia Federal. Horas
147 homicídios no estado do Ceará enquanto a Polícia Militar realiza depois, Bolsonaro rebate o ex-ministro em pronunciamento ao afirmar
motim. ■ Senador Cid Gomes é baleado em Sobral no Ceará durante um que o ex-ministro pediu a ele para que a troca do comando da PF ocor-
motim realizado pela Polícia Militar. ■ Após 20 dias em greve, os petro- resse depois de Moro ser indicado ao Supremo Tribunal Federal. Após o
leiros suspendem o ato após acordo com o Tribunal Superior do Trabalho. pronunciamento, Moro expõe conversas pessoais com o Presidente da
■ A Unidos do Viradouro é campeã do Carnaval do Rio de Janeiro. ■ O República. ■ Brasil chega a marca de 100 mil casos confirmados de CO-
Ministério da Saúde confirma o primeiro caso do novo coronavírus no VID-19. [21] ■ Com 330 mil infecções, o Brasil supera a Rússia e se torna
Brasil. ■ O naufrágio do navio Anna Karoline III no sul do estado do 2º país com mais casos confirmados de COVID-19 no mundo. ■ Um homem
Amapá deixa 39 mortos. ■ Chuva e deslizamento de terra nas cidades da armado com uma faca e uma Bíblia invadiu a sede da Rede Globo no Rio
Baixada Santista deixam 42 mortos. ■ Dólar atinge 5,00 reais pela pri- de Janeiro e fez a repórter Marina Araújo de refém. ■ O Brasil chega a 1
meira vez na história, em razão da pandemia de COVID-19 no Brasil. ■ A milhão de casos confirmados de COVID-19. ■ “Ciclone bomba” deixa ao

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menos dez mortos na região sul do Brasil. ■ Promulgada emenda cons- Justiça ordenasse o confisco do navio e a evacuação das pessoas a bordo.
titucional que adia as eleições municipais, em decorrência da pandemia ■ Prefeitos e vereadores eleitos em 2020 tomam posse em mais de 5 mil
de COVID-19. ■ Wilson Witzel, Governador do Rio de Janeiro, é afastado municípios brasileiros. Em virtude da pandemia de COVID-19, grande
sob a acusação de desvios na área da saúde durante a pandemia de CO- parte das cerimônias foram transmitidas e sem convidados. ■ Governo
VID-19 no Rio de Janeiro. O vice-governador Cláudio Castro, também do Estado de São Paulo e o Instituto Butantan divulgam o calendário do
investigado, assume o cargo de governador interino. ■ Terremoto de 4.6 Plano Estadual de Imunização contra a COVID-19. ■ Agência Nacional de
atinge a Região do Recôncavo Baiano, com epicentro em Amargosa e Vigilância Sanitária (Anvisa) aprova, com unanimidade, os pedidos de uso
Mutuípe ■ Incêndios históricos ocorrem no Pantanal ■ Casos pela covid-19 emergencial das vacinas CoronaVac. ■ A enfermeira Mônica Calazans,
no Brasil chegam a 5.000.000, e os falecimentos 148.300. ■ O ministro do funcionária do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, recebe a primeira
Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse o seguinte na reunião ministerial dose da CoronaVac no país. ■ O prefeito Eduardo Paes anuncia o cance-
de 22 de abril: ■ “Então pra isso precisa ter um esforço nosso aqui en- lamento do carnaval de 2021 no Rio de Janeiro devido a pandemia do novo
quanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cober- coronavírus. ■ A Prefeitura de São Paulo anuncia o cancelamento do
tura de imprensa, porque só fala de covid, e ir passando a boiada e mu- carnaval de 2021 na cidade devido à pandemia do novo coronavírus. ■ O
dando todo o regramento e simplificando normas. De IPHAN, de deputado federal Daniel Silveira (PSL/RJ) é preso por decisão do ministro
ministério da Agricultura, de ministério de Meio Ambiente, de ministério Alexandre de Moraes após parlamentar ter publicado o vídeo onde ele fez
disso, de ministério daquilo...” ■ Tempestade subtropical Mani se forma. ataques, aos ministros da corte em suas redes sociais. ■ “Tem alguns
■ Um grande apagão atinge o Estado do Amapá. ■ Primeiro turno das idiotas que até hoje ficam em casa”, disse o presidente em conversa com
eleições municipais no Brasil. ■ Um homem negro é assassinado, espan- apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada. ■ Durante uma entrevista
cado por seguranças em um estabelecimento do Carrefour em Porto a ativistas de extrema-direita alemães, o presidente disse: ■ “...então a
Alegre. ■ Segundo turno das eleições municipais no Brasil. ■ Tempesta- Covid apenas encurtou a vida delas por alguns dias ou algumas semanas”.
de subtropical Oquira se forma ■ 2021 ■ Agricultor belga move fronteira ■ “Algumas morreram? Sim, morreram, lamento profundamente, mas é
que estava atrapalhando e torna a Bélgica maior que a França: ■ São di- um número insignificante “, declarou o presidente, ao se manifestar
vulgadas as imagens dos primeiros 100 dias de robô da Nasa em Marte. ■ contra a aprovação da Anvisa para a vacinação infantil. ■ O ministro do
O líder da sigla antissistema italiana Liga, Matteo Salvini, responderá STF, Edson Fachin anulou todas as condenações do ex-presidente Luiz
legalmente por sequestro devido à sua decisão de impedir que 147 imi- Inácio Lula da Silva, relacionadas à Operação Lava-Jato. A decisão tornou
grantes desembarcassem no país em 2019. Salvini, então ministro do o ex-presidente a voltar a ser elegível. ■ A 2ª Turma do STF decidiu, por 3
Interior, deixou os imigrantes no mar por quase três semanas até que a votos a 2, que o ex-juiz Sérgio Moro agiu parcialmente ao condenar o

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ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do triplex do Guarujá. ■ Fortaleza, Ceará. ■ Fortes chuvas causam inundações em municípios do
O Senado Federal abre uma CPI para investigar gastos e omissões do Sul da Bahia. ■ Tempestade subtropical Ubá se forma. ■ Justiça condena
Governo Federal em relação a pandemia de coronavírus. ■ Tempestade os 4 réus acusados pelo incêndio na boate Kiss em 2013. ■ Manifestantes
subtropical Potira se forma. ■ É aprovado por unanimidade o impeachment invadem o Capitólio. ■ Crise da falta de oxigênio atinge Manaus. ■ Pazuel-
do governador do estado do Rio de Janeiro Wilson Witzel. Cláudio Castro, lo deixa Ministério da Saúde e Marcelo Queiroga assume. ■ Presidente
assume o cargo em definitivo. ■ Morre aos 42 anos o ator e humorista do Haiti é assassinado em casa. ■ Olimpíadas são realizadas sem público.
Paulo Gustavo por complicações da COVID-19 e de uma infecção bacte- ■ Talibã retoma o poder no Afeganistão. ■ Vulcão Cumbre entra em
riana. ■ Após a desistência de Argentina e Colômbia devido à pandemia, erupção em La Palma. ■ Mundo se preocupa com o surgimento de novas
a CONMEBOL anuncia o Brasil como sede da Copa América de 2021. ■ variantes e ondas de Covid-19 ■ 2022 ■ Jardineiro naufraga a 1,5 km da
Começam as buscas pelo serial killer Lázaro Barbosa, que matou uma praia e é resgatado por surfistas. ■ Imagem inédita do buraco negro no
família na área rural de Ceilândia, no Distrito Federal. ■ Ricardo Salles centro da via láctea é divulgada por cientistas. ■ James Webb, super te-
deixa o Ministério do Meio Ambiente. ■ Após 20 dias de buscas, o assas- lescópio divulga sua primeira imagem de um planeta fora do sistema
sino Lázaro Barbosa é preso em Goiás depois de ser baleado pela polícia. solar. ■ Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, anuncia o cancelamen-
■ Uma severa onda de frio atingiu o Brasil. O fenômeno foi causado por to do carnaval de rua na cidade. ■ Devido à pandemia, o carnaval de rua
um vórtice polar, um ciclone extratropical e a tempestade subtropical de São Paulo é cancelado pela prefeitura. ■ Um dique da Mina Pau
Raoni. 13 pessoas morreram por conta do evento climático. ■ O presiden- Branco transborda em Nova Lima devido ao excesso de chuvas. ■ Queda
te Jair Bolsonaro é diagnosticado com uma obstrução intestinal e é inter- de um cânion atinge quatro lanchas com turistas que passeavam no Lago
nado em Brasília. ■ Um incêndio atinge um galpão da Cinemateca Bra- das Furnas em Capitólio, sudoeste de Minas Gerais, deixando dez mortos
sileira, em São Paulo. ■ Após quase seis anos fechado em reforma, o e 32 feridos. ■ Um deslizamento de terra destrói um casarão do século
Museu da Língua Portuguesa é reinaugurado em São Paulo. O local sofreu XIX no centro histórico de Ouro Preto, Minas Gerais. ■ O futebolista
um incêndio em 2015, que destruiu parte do prédio. ■ Os ex-deputados Robinho é condenado em última instância a 9 anos de prisão por estupro,
Roberto Jefferson e Flordelis são presos no Rio de Janeiro. ■ Protestos na Itália. ■ Dois homens invadem o Aeroclube de Manaus e ateiam fogo
pelo Brasil contra e a favor ao Governo Jair Bolsonaro ocorreram com em um helicóptero do IBAMA que estava estacionado no local. ■ Morte
tentativa de invasão à praça dos Três Poderes. ■ A Câmara de Vereadores do imigrante congolês Moïse Kabagambe na Barra da Tijuca, Rio de Ja-
de São Paulo protocola uma CEI para investigar a prestadora de serviços neiro. ■ Fortes chuvas que atingiram o estado de São Paulo matam ao
médicos Prevent Senior. ■ A cantora Marília Mendonça morre em queda menos 24 pessoas e deixam 660 famílias desabrigadas. ■ Uma obra da
de avião. ■ Incêndio atinge área de vegetação no Parque do Cocó em Linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo desaba e abre uma cratera na

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Marginal Tietê. ■ É comemorado o centenário da Semana de Arte Moder- magnitude 6,5 atinge a fronteira do Acre com o Peru. ■ Em São Paulo, é
na no Brasil. ■ Fortes chuvas causam inundações e deslizamentos de confirmado o primeiro caso de varíola dos macacos no Brasil. ■ É confir-
terra em Petrópolis ■ No Conselho de Segurança da ONU, o Brasil e outros mado o assassinato do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista
10 países votam a favor da resolução que condena a invasão da Ucrânia inglês Dom Phillips ■ Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação, é preso
pela Rússia. ■ O aplicativo Telegram é bloqueado no Brasil por decisão pela Polícia Federal em operação que investiga desvio de verbas no MEC.
do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. ■ Touro ■ Boi Caprichoso conquista o título do 55° Festival Folclórico de Parintins.
invade a arquibancada de um rodeio em Patrocínio, interior de Minas ■ Pedro Guimarães pede demissão da presidência da Caixa Econômica
Gerais. 16 pessoas ficaram feridas. ■ O deputado federal Daniel Silveira Federal diante de denúncias de assédio moral e sexual contra funcionárias.
(PTB/RJ) é condenado pelo STF à 8 anos e 9 meses de prisão e a perda dos ■ Chuva forte provoca inundações em pelo menos 50 municípios de
direitos políticos por estímulo a atos antidemocráticos. ■ O presidente Alagoas. ■ O guarda municipal Marcelo Aloizio de Arruda, dirigente mu-
Jair Bolsonaro assina um indulto concedendo o perdão da pena a Daniel nicipal do Partido dos Trabalhadores, é assassinado durante a festa de
Silveira. ■ Com o enredo “Fala, Majeté! Sete Chaves de Exu”, Acadêmicos seu aniversário em Foz do Iguaçu, Paraná. Ele foi baleado pelo policial
do Grande Rio conquista o título do Carnaval do Rio de Janeiro pela penal federal Jorge José da Rocha Guaranho, que invadiu o local da festa
primeira vez. ■ Por unanimidade, Assembleia Legislativa de São Paulo gritando palavras de ordem a favor do presidente Jair Bolsonaro. ■ Uma
cassa o mandato de Arthur do Val (UNIÃO) por quebra de decoro parla- operação policial no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro, deixa 17 pessoas
mentar. O ex-deputado foi denunciado em março após o vazamento de mortas. ■ Morre o apresentador e humorista brasileiro Jô Soares, aos 84
áudios onde profere falas machistas e sexistas sobre refugiadas ucrania- anos. ■ Atos marcam a leitura da carta em defesa da democracia e do
nas. ■ Tempestade subtropical Yakecan atinge o Rio Grande do Sul. ■ Uma sistema eleitoral elaborada pela USP. ■ Início da campanha eleitoral para
operação policial na Vila Cruzeiro, Rio de Janeiro, deixa 23 pessoas mortas. as eleições gerais. ■ Alexandre de Moraes toma posse como o 55º presi-
■ Um homem é torturado e assassinado durante uma abordagem de dente do Tribunal Superior Eleitoral do Brasil. ■ Após quase nove anos
policiais em Umbaúba, Sergipe. Agentes utilizaram uma viatura da Polí- fechado em reforma, o Museu do Ipiranga é reinaugurado em São Paulo.
cia Rodoviária Federal como uma câmara de gás improvisada e prenderam ■ Uma embarcação clandestina naufraga próximo à Ilha de Cotijuba, no
a vítima no porta-malas. ■ Fortes chuvas causam inundações e desliza- Pará, deixando 22 mortos. ■ Primeiro turno das eleições gerais. Para
mentos de terra em municípios do Grande Recife, deixando ao menos presidente, passam para o segundo turno os candidatos Luiz Inácio Lula
129 mortos. ■ Começam as buscas pelo paradeiro do indigenista Bruno da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). ■ Um adolescente de 15 anos armado
Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, que desapareceram atira em três alunos numa escola pública de Sobral, no Ceará. ■ A Polícia
enquanto viajavam para Atalaia do Norte, no Amazonas. ■ Sismo de Civil do Rio Grande do Sul abre investigação para apurar ofensas racistas

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contra o cantor Seu Jorge durante uma apresentação do artista no Grêmio intervenção federal na segurança devido aos atos terroristas de Bolsona-
Náutico União, em Porto Alegre. ■ O ex-deputado Roberto Jefferson é ristas à sede dos três poderes. O governador Ibanez é afastado do cargo.
preso após atirar uma granada e ferir com tiros dois agentes da Polícia ■ Sonia Guajajara toma posse como primeira indígena a comandar o
Federal cumprir um mandado de prisão do Supremo Tribunal Federal Ministério dos Povos Indígenas do Brasil. ■ Anielle Franco toma posse
contra ele por ofensas à ministra da corte Carmen Lúcia. Jefferson se como ministra da Igualdade Racial. ■ Silvio Almeida toma posse como
entregou a polícia após resistir a prisão por cerca de oito horas. ■ Segun- ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil. ■ Cometa verde
do turno das eleições gerais. Luiz Inácio Lula da Silva é eleito presidente vai passar pela Terra pela primeira vez em 50 mil anos. ■ TOI 700, novo
do Brasil pela terceira vez. ■ Em protesto contra a vitória de Lula no se- planeta que pode ser habitável é descoberto pela Nasa. ■ Sobre a invasão
gundo turno da eleição presidencial, caminhoneiros promovem bloqueio às sedes dos Três Poderes brasileiros em Brasília por grupos criminosos
de rodovias em 23 estados. ■ A 3ª Vara Criminal de Niterói condena a e terroristas bolsonaristas: cerca de 1.418 pessoas foram presas até o
ex-deputada federal e pastora Flordelis a 50 anos e 28 dias de prisão. ■ O momento. ■ Asteroide passa mais perto da Terra do que alguns satélites
cantor Milton Nascimento promove o último show de sua carreira no de telecomunicações. ■ O núcleo interno da Terra pode ter começado a
Estádio do Mineirão, em Belo Horizonte. ■ Um navio à deriva bate em um girar em sentido oposto. ■ No Irã as mulheres são protagonistas dos
dos pilares da Ponte Rio-Niterói, causando o fechamento da via por mais protestos desde a morte de Mahsa Amini que tinha apenas 22 anos e foi
de 3 horas. ■ Um homem ataca duas escolas em Aracruz, Espírito Santo, presa pela polícia moral do país. Seu crime: uma mecha de cabelo fora de
matando 4 pessoas e ferindo outras 13 ■ Por 6 votos a 5, a corte do Supre- seu hijab. ■ Mulher, vida, liberdade: esse é grito que ecoa nos protestos,
mo Tribunal Federal declara a inconstitucionalidade do Orçamento se- reprimidos violentamente, no Irã. Mulher, vida, liberdade.
creto. ■ 2023 ■ No dia 1 de janeiro Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse
como 39º presidente do Brasil. ■ O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
subiu a rampa do Palácio do Planalto acompanhado pelo cacique Raoni
e outros representantes do povo brasileiro. ■ Uma semana depois da
posse, terroristas bolsonaristas invadiram o Palácio do Planalto, o Con-
gresso Nacional e Supremo Tribunal Federal vandalizando o patrimônio
público. ■ Entre as obras vandalizadas ou destruídas pelos golpistas no
ataque aos Palácios estão uma tela de Di Cavalcanti que recebeu 7 golpes
de faca. ■ Manifestantes golpistas foram escoltados pela polícia militar
enquanto se deslocavam até a Praça dos Três Poderes. ■ Brasília sofre

70 71
vaga-mundo: poéticas nômades,
Anuário, 2016-2023, Vídeo, loop,
Tablet Emoldurado.

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Baldeações:
onde também estivemos
Entre a Grécia, a Macedônia e a Albânia, girar em uma
tríplice fronteira.

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Uma diminuta bandeira passando de mão em mão.

vaga-mundo: poéticas nômades,


Giro, 2019/2022, 2 TVs, 1m30s /
5m42s.

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80 81
Para onde olha o monumento?
Sob quantas quedas se ergue um monumento?

vaga-mundo: poéticas
nômades, Avenida Brasília-
Lisboa, 2019, Vídeo Projeção,
15min, dimensões variáveis.

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90 91
Ludmilla Alves

O Monumento aos Descobrimentos pode ser visto em po-


sição destacada na margem direita do rio Tejo.

Leio, numa enciclopédia virtual, que este monumento foi


pensado inicialmente como uma homenagem ao Infante
Dom Henrique. É ele a figura de proa do monumento.

Esculpido e posicionado ali como quem diz avante, como


quem olha para além do rio e já está em travessia no mar,
com os olhos em outras terras e o anseio de conquista.

Ele tem nas mãos uma caravela, semelhante aos modelos


que partiram, séculos antes, indo adiante, rumo às célebres
descobertas de novos mundos.

Um oceano de distância.

vaga-mundo: poéticas nômades,


Penso, olhando o monumento, sua proporção, imponência,
Monumento, 2019/2022, Vídeo
Projeção, 60min, dimensões suas figuras e a forma como se projeta, parecendo avançar
variáveis. sobre o rio, sobre a água. Adiante.

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Observo as ondas de gente que vai e vem, aproximando-se, ao Infante Dom Henrique, construída para representar a
em duplas, trios, grupos maiores ou menores, às vezes marcha da civilização e do progresso. Seis anos depois de
solitários. sua inauguração, o Correio Braziliense publica uma foto
do monumento, declarando-o “totalmente abandonado,
Vieram ver o monumento. coberto de mato, com a base rachada e a placa de bronze
roubada”.
Mas o que vêem, quando olham as figuras retratadas ali?
Gosto de reler essas palavras e imaginar outra manchete:
Será que alguém, em algum momento, viaja no tempo,
através da direção dos olhos de Dom Henrique, percorrendo Dom Henrique foi encontrado perdido dentro de um ma-
suas rotas de navegação, imaginando os detalhes e aconte- tagal.
cimentos de uma cena maior, atrelada a essa?
O ano da inauguração da nova capital brasileira, 1960, era,
Chegariam, nesse movimento, às consequências dessas também, o ano da celebração dos 500 anos da morte de
rotas e navegações? Dom Henrique. Há quem o descreva como homem “cuja
visão levou tão longe a língua e a civilização portuguesas,
Imagino ficar diante do monumento por tempo suficiente em busca de novos mundos”.
até começar a ver, brotando ali, o que está fora da cena,
aquilo que ele não descreve, mas que no fundo dessa história Há quem diga que Brasília é, de certa forma, consequência
toda o alimenta, e para mim se impõe como uma pedra. daquela visão.

Penso na primeira vez que vi uma estátua de Dom Henrique, A visão enraizada pelo monumento à beira do Tejo, esse que
distante um atlântico e mais um pouco dali, terra adentro. agora vemos. Dom Henrique na proa, homenageado, para
Foi no setor de embaixadas sul, em Brasília, quando avistei homenagear a era de ouro das navegações.
a Praça Portugal, ao lado da embaixada homônima.
Olho as pessoas na praça olhando o monumento. Estou
No centro da praça encontra-se a estátua em homenagem ali. Penso em dispensar os comentários sobre a origem do

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ouro. Mas não consigo, eles se impõem como o monumento. De onde vêm?
Como uma pedra maior que o monumento.
O que vêem ali, além das palavras que o monumento insiste
Então penso na origem do ouro, no peso desse ouro trans- em manter vivas, mas não estou certa se podemos mesmo
portado aos montes, no peso de tantas outras matérias vê-las: progresso, civilização, avanço?
extraídas. Imagino a quantas centenas de monumentos
desse porte equivaleriam e quantas vidas teriam sido atra- Imagino uma máquina do tempo que avançasse em direção
vessadas por essa história. ao passado.

Tento, mas não consigo, parar de pensar nos termos que Imagino também que dificilmente essa máquina permitiria
descrevem o monumento: era de ouro, era das descobertas, mudar o curso da história, mas poderíamos trocar palavras
grandes navegações. e algumas crenças enraizadas a partir delas. Nunca houve
descobrimento.
Alguém ali estaria também pensando nos lugares de onde
foram extraídos os recursos, materiais e simbólicos, que Não era novo aquele mundo.
fizeram o nome desses homens e dessa era? Alguém ali
teria vontade de dizer aos grupos de turistas que seria mais A utopia das descobertas foi a distopia de outros povos.
adequado trocar o nome descobertas por invasões?
Anoitece. O rosto de Dom Henrique é o primeiro a escurecer.
Seriam grupos desavisados?

O que vêem, quando olham o monumento, além dos 17


homens, alguns objetos, Dom Henrique na ponta avistando
outros mundos?

Mais um grupo se aproxima, depois dispersa.

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César Becker

D. Afonso V de Portugal (rei);

Vasco da Gama (navegador/descobridor do Caminho Ma-


rítimo para a Índia);

Afonso Baldaia (navegador);

Pedro Álvares Cabral (navegador/descobridor do Brasil);

Fernão de Magalhães (navegador/Viagem de Circum-na-


vegação);

Nicolau Coelho (navegador);

Gaspar Corte-Real (navegador/Península Labrador);

Martim Afonso de Sousa (navegador);

João de Barros (cronista/historiador);

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Estêvão da Gama (capitão); Luis Vaz de Camões (poeta épico, o maior de Portugal);

Bartolomeu Dias (navegador/descobridor do Cabo da Boa Nuno Gonçalves (pintor);


Esperança);
Gomes Eanes de Zurara (cronista);
Diogo Cão (navegador);
Pêro da Covilhã (viageiro);
António de Abreu (navegador);
Jácome de Maiorca (cosmógrafo);
Afonso de Albuquerque (Vice-rei da Índia/governador);
Pêro Escobar (navegador/piloto);
São Francisco Xavier (missionário/evangelizador);
Pedro Nunes (matemático);
Cristóvão da Gama (capitão).
Pêro de Alenquer (navegador/piloto);
Infante D. Pedro, Duque de Coimbra (filho do rei João I de
Portugal); Gil Eanes (navegador);

Dona Filipa de Lencastre (Rainha, Mãe dos Infantes, mulher João Gonçalves Zarco (navegador);
de D.João I);
Infante D. Fernando, (o Infante Santo, filho do rei João I
Fernão Mendes Pinto (escritor e aventureiro do Oriente); de Portugal).

Frei Gonçalo de Carvalho (Dominicano); Na margem direita do rio Tejo, o Padrão dos Descobrimentos
é tal como os rochedos em beira-mar. Os nomes dos desco-
Frei Henrique de Coimbra (Franciscano); bridores representariam esta força rochosa que, diante das
rebentações, se enraízam profundamente no abismo e se

100 101
multiplicam para além das fronteiras marítimas. As águas Íris Helena
se tornam seu veículo. Seus nomes não designam mais um
indivíduo, mas, multiplicam-se no curso da história como
se fossem a primeira e a última palavra da Terra.

Na dimensão oceânica profunda, as águas se revoltam,


confabulam tempos em que o mundo era submerso à sua
vontade. Elas planejam o seu contragolpe. Quando todos Léxico para o Monumento
tiverem estabelecido sobre ela, seus percursos e caminhos;
Quando todos os descobridores tiverem esculpido seu so- O monumento, o que lembra, o patrimônio, o megalítico,
brenome em pedra; Então ressoará novamente o estrondo. o vertical, o fálico, o menir, o dólmen, o obelisco, o me-
morial, o tótem, o túmulo, o ídolo, o patriarca, o busto, o
O desabamento de um teto que se dobrará sobre os alicer- religioso, o sagrado, o funerário, o que gera alerta, o que
ces dos continentes. E as águas carregarão as suas casas, sinaliza, o traz o dedo em riste, o que se aproxima do céu,
arrancarão suas raízes, dissolverão as suas fronteiras e o que se distância do chão, o sobre-humano, o monstro, o
tombarão todos seus monumentos. Então elas voltarão a que revive, o que morre para existir, o que assusta pelo
ser calmas e tranquilas. E das arvores partidas, crescerão tamanho, o extraordinário, o eterno, o atemporal, o status,
novas mudas. E o Padrão dos descobrimentos deixará de o importante, o político, o homem, o santo, o merecido, o
ser o monumento que havia sido. E dos seus restos, de sua durável, o austero, o educativo, macho, o conquistador, o
ruína, de toneladas de material rochoso que afundarão que é público, o que é exposto, o que é visível, o enorme, o
no mar, surgirão novas planícies. E ninguém nunca mais que homenageia, o mnemônico, o fácil de ser lembrado, o
lembrará dos seus sobrenomes. ponto de referência, o que vem à memoria, o idealizado, o
simbólico, o materializado, o metafórico, o militar, o poder,
o de bronze, o de pedra, o do mais branco mármore, o que
ruiu, o que foi vandalizado, o incendiado, o impressionante,
o impressionado, o documento, o histórico, o arquitetônico,
o sitio arqueológico, o natural, o geológico, o substituído,

102 103
o contestado, o invisível, o destronado, o hegemônico, o Tatiana Terra
cultural, o desmistificado, o ideológico, o vil, o protegido,
o vingado, o justo, o carrasco, o explorador, o destruído, o
que vê a terra, o que toma conta, o que escraviza, o que
passa, o fake, o embuste, o engano.

Chegamos na terra que parte


O barco diante do rio
Ultrapassa a margem entre terra e mar
E vai
Como quem explora a mata com um facão
O navegante vai ao desconhecido
Vão os navegantes para onde estamos nós
Nós que ali os vemos partir
Quem descobre quem?

104 105
Levi Orthof

Diz tua língua.


Diz teu nome.
Diz tua nacionalidade.
Diz tua raça.
Diz teu gênero.
Diz tua religião.
Diz teu partido.
Diz tua cidade.
Diz teu bairro.
Diz tua rua.
Diz teu cpf.
Diz teu banco.
Diz teu número.
Diz tua família.
Diz tua vizinhança.
Diz tua flora.
Diz tua fauna.
Diz tua noite.
Diz tuas palavras.
Diz teus gestos.

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Diz teus livros de bolso. sacanagem do bom português. Foi chegando aqui diante
Diz teu céu. de você que percebi que ainda não deixaram as caravelas
fantasmas voltarem para casa.
Diz as águas que te banham.
Diz as fronteiras que te adornam (contornam). Estão sempre indo, em busca… de quê?
Diz os caminhos que te abrem.
Diz os ventos que te rondam. Estou aqui, frente ao Tejo. Frente a você, monumento. Ouvi
Diz de quem te acompanhas. qualquer pedaço de conversa, um guia talvez, adjetivando a
Diz quem vem lá. ti e aos seus companheiros navegantes como ‘desbravadores’.
Diz de onde vens. “Saíram para desbravar outras terras” era o comentário. Olhei
no dicionário para confirmar. Desbravar é verbo transitivo.
Na revoada das migrações, a que terra pertenço? Significa preparar terreno para cultura; explorar lugares
ou terras desconhecidas. Significa: tornar manso, amansar.
Diz-se tempo.
Diz-se espaço. E que susto ao ancorar as caravelas… Afinal, como disse Ney,
Diz-se que ouviram do ipiranga. “suave coisa nenhuma”.

Um país inteiro cujo hino nacional parte de um rumor. Aliás, lembra do susto que você levou quando desembarquei
no aeroporto de Lisboa e compreendi pouca coisa do bom
Escrevo para você na língua que fui ensinado. Escrevo, mas português? Mesmo depois de tantos séculos. Você, petrifi-
provavelmente não deveria. Afinal, desde nosso último cado, voltava a me dizer: que eu precisava aprender o bom...
encontro, você me deu instruções para aprender o bom Afinal, você conhecia e entendia muito bem o “português-
português. -brasileiro”. Como o contrário não poderia ser verdadeiro?
Obviamente, você escutou as músicas, viu infinitos vídeos
O bom português desembarca em looping nas praias in- no youtube, as telenovelas. O som, a fala, as gírias. Tudo
dígenas. Exigindo que todos saibam do bom português. A contaminando a pele do tambor dos seus ouvidos.
língua no bom português. A cultura do bom português. A

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Você já sabe que não há frota portuguesa que dê conta dos Correria. Os passos, os gritos, as saudades, os desejos, mais
milhares de navegantes brasileiros da internet. gritos. O brilho do ouro, o rastro das caravelas no mar.

Escrevo na altitude do cerrado de terra vermelha do centro- Escuto sons de palmas, batendo forte, se misturam com as
-oeste e envio minha carta aos seus navegantes. Lentamente, águas feito flechas em direção ao chão. O que são?
as palavras chegaram, 1.172m descendo, descendo. Até pousar
em Lisboa, pouco mais de 2m acima do nível do mar. Escrevo para você no idioma que me foi ensinado. Traduzo
meus pensamentos em português, minha língua. Na minha
Não se preocupe, para mim alto e baixo não demarcam pele e pêlos fica a denúncia de tantos caminhos e descami-
qualquer hierarquia. Enquanto escrevo, imagino as palavras nhos que colidiram e chegam aqui e agora.
rolando para baixo, arrastando vestígios de um percurso
inverso ao dos idos 1500. Até atingirem as areias úmidas no Me pergunto: quais são os navegantes que não querem
velho mundo. À origem dos navegantes agora congelados, nada do mar além do próprio mar?
diante do Tejo.
Me pergunto:
Escrevo em língua estrangeira-nativa. Escrevo entre sons como criar um texto que desobedeça esse
de idiomas conhecidos e lembranças de diversos sotaques,
outros idiomas, outros espaços e tempos. Escrevo essas pa- monumento-língua
lavras mas meu pensamento se banha em idiomas unidos
por gambiarras de afetos e desafetos. Palavras que ressoam movimento-língua
e se misturam com outras e tantas.
espaço-língua
Tenho sonhado com esses outros sons. São nomes de plantas,
árvores, rios, nomes dados ao mundo antes de chegar aqui, marco-língua
antes de vocês chegarem aqui. Nomes que não conheço. Que
não me pertencem. Nomes que se refugiam nos meus sonhos, De Brasília a Lisboa.
assim como meus antepassados um dia se refugiaram aqui.

110 111
Escrevo a partir de um lago artificial no topo de um planalto. Karina Dias
velejando rio abaixo até desembocar no mar.

A ida a Lisboa foi uma descida aérea.


Um salto no espaço,
até o fim da historia-continente,
do começo de um divisor de águas,
de uma floresta inteira, Aviso aos navegantes:
de mil e tantos povos, Para onde olham as estátuas? Vêem o que eu vejo?
descer até lisboa, meus ouvidos ainda escutarão a revolta do rio, no momento
foi estranho… em que passaram?
Encontrar vocês
apontando para cima. Quantas ondas viram suas embarcações?
Para cá. Não há volta.
Para essas terras de variadas altitudes.
Encontrar vocês, Por que demoramos tanto a escutar as palavras submersas
mansos. na areia?
O que se perdeu na lama da mata?
Para onde foram os estilhaços do choque do mar com a terra?
Onde estão os olhos que viam?
Onde foram parar os anônimos?
O que sussurrou a árvore ao vento?
Como estaria o céu na hora da chegada?
O abismo ronda.

Para os Selk`Nam toda pessoa era conhecida pela terra


em que havia nascido e pelo céu com o qual se iden-
tificava. Há tempos o céu não é o mesmo.
112 113
Terra à vista. Não esquecer que a vida se escreve na seiva das árvores, nos
De onde se vê a terra? lembra o poeta do deserto.
Avistar da terra aquele que à distância vê a terra. O vento sopra permanentemente na copa das árvores.
Neste instante preciso, saber que não há mais terra firme. Começo sem fim.
O mar não tem remorso, escreve o poeta do exílio, Quanto tempo é preciso para se habituar à noite, indaga a
Tampouco as areias por onde chegaram. poeta das distâncias.
O mundo naufraga, Olhar a noite,
Entre areia e vento. reconhecer as estrelas,
As sombras não se encontram. não temer as tormentas,
Na noite da história, Aprender a viver no vento.
não há estrelas. Perder a geografia,
Ao Sul, o sol arde, a língua queima e o futuro é sempre adiado. Ativar correntezas.
O que é um monumento na solidão da noite, quantas rondas
terão sido dadas? Habitar os confins, circular pelas margens e lembrar que
Palavras explodem, as bordas também são lugares de esperança, escreve o
naufragam em silencio em sua morada. jardineiro.
Nossa morte é coletiva.
O que diria a montanha que tudo viu? ... Insurreições seculares...
O que registraram os rios daquelas vozes estrangeiras?
Onde estão as mãos que tocavam a paisagem? Não há olhar sem origem.
Como teria sido o instante preciso da colisão dos mundos? Voltar-se para o sul da paisagem e indagar: por onde andam
Sabemos bem onde foram parar os estilhaços desta implosão. as árvores da liberdade?
Quem somos nós? Quantas são as distâncias que nos formam? A história nos espreita.
É preciso conseguir viver depois do choque, desejar a vida, Eclipses nos lembram que
saber-se metamorfose. Não há horizonte sem aquilo que nos liga a ele.
Do lado de cá do horizonte, não há abrigo e as mãos agora De que é feita então a nossa paisagem?
são estrangeiras.

114 115
Sonhos insubmissos, ingovernáveis mundos. Júlia Milward
*
Hoje se foi a última Yagana,
Há alguns anos a última Selk`Nam,
Em 2021 o último Juma,
E agora o último Tanaru.
Com eles sumimos um pouco também
“Escrevi minha carta ao mundo Car_s,
Que nunca me respondeu” penso em Emily Dickson
* Fiquei feliz em receber notícias da viagem.
Sob quantas quedas se ergue um monumento? O tempo me apareceu agradável
na sequência celestial de tons
que conduzem até o azul profundo
pontilhado pela intermitência das luzes artificiais
brancas
amarelas
Nesse cartão-postal
animado
sem verso
Vejo
o tempo enquanto projeto as horas
Vejo
o vento no içar das mechas, no abalofar das vestes, no
fremir das sacolas, nas pestanas frenéticas.
Vejo
agrupamentos de pessoas que lembram montinhos.
Vejo

116 117
um olhar amical. Vejo
Vejo que são poucos os que olham sem capturar.
sombras movimentadas antes da penumbra. Uma de- Vejo
las de uma boniteza rendada e circular. Uma coroa-balão na base do monumento os traços da arquitetura mo-
sobre um totem. Uma colagem de mundos na terra dos dernista da nossa cidade.
colonizadores. Vejo
Vejo o rosto do rei ser engolido pela boca da noite.
que o indeterminado permite a invenção.
Vejo Em Brasília, 19 horas.
hordas Quechua-Decathlon.
Vejo E na Avenida Brasília?
o traçado de um mapa involuntário de uma ilha não
descoberta no cocuruto masculino que não se sabe calvo.
Vejo
um senhor branco de boina preta com o celular na mão
como se estivesse à busca de algum sinal, olhando para a
pequena tela, ele se desloca cegamente pelo espaço que
ocupa. Quando encontra o posicionamento vislumbrado,
tira o chapéu.
Vejo
pela ilusão perspectiva um avião atravessar a carave-
la-souvenir portada pelo homem na proa do monumento.
Vejo
a imobilidade voluntária e instantânea dos passantes
que se incrustam no monumento pelo plano fotográfico.
Vejo
um homem que observa.

118 119
120 121
122
Das vistas e outras
elaborações dos viajantes:
o que fica da viagem
Vaga-mundo: poéticas nômades
89 notas: um diário de bordo.

125
Volta ao mundo Marcamos de sair da França. Sentamos e ficamos olhando as
27.10.2016 a 28.01.2019 Começamos a andar águas. Serão pacíficas? Muitas

126
folhas no chão
No Reino Unido nos impediram
de tirar fotografias. Operação Do Canadá avistamos o México.
arriscada. E se fotografarmos No Canadá vimos aves exóticas.
um agente secreto? Nos Entre o Canadá e o Líbano, um
afastamos abismo. Vendo como contornar

Ao sul do Chile tantos pássaros. Conseguimos atravessar e


Na Argentina vi corujas. chegar ao Líbano. Lud achou um
Austrália, silêncio dos ventos telefone.

Do Uruguai rumamos para Do Líbano avistamos as colinas


a Sérvia, rápida travessia. Da do México. Vi velas vermelhas
Sérvia seguimos para o Canadá, no Lago
a vegetação mudou. Chegamos
ao Canadá. Muitos carros. Chegamos ao México. Para
Decidimos parar e descansar chegar aqui, passamos pelo Irã,
perto dos pinheiros nos perdemos um pouco

Descansando no México. Na Hungria vemos o Lago. Da Índia avistamos a Alemanha.


Receptivo, acolhedor, ventilado. Sofremos o segundo controle: Atravessamos um bosque e
Ninguém quer sair do México dois policiais chegamos na Alemanha. Está
frio. A Alemanha é enorme.
No México li em uma parede: Chegamos na Eslováquia. O Encontramos o grupo em um
“soube bem essa arte que vento se acalmou. Vemos 1 Lago dos montes entre a Índia e a
nenhum outro abarcou, nem e 2 pontes Alemanha. Chegamos à Itália. O
Simbad nem Ulisses, que é sol apareceu. Lanchamos
passar de um a outros países e Quantas consoantes
estar internamente em cada um cabem numa palavra? Passamos rapidamente pelo Irã.
deles” (Borges). Combinamos de VEL’VYSLANECTVO Chegamos na Bélgica. Depois
nos reencontrarmos aqui para de uma longa caminhada,
juntos sairmos do México. Ah... chegamos na Grécia! Tão chegamos em Israel
perto da Eslováquia!. Quase não
Saindo do México. Venta muito. havia ninguém. Ainda vendo o Não vemos mais o Lago.
Inesperadamente, Hungria Lago. Na Grécia o vento é doce.
Chuvisca. Não é época de chuva
Passamos rapidamente pela aqui
Indonésia
Entrando na Turquia. O Lago
ainda nos acompanha
127
Do Japão seguimos para a Do Peru fomos para Espanha. Chegamos ao Senegal, está seco.
Áustria. Na Áustria ficamos A Espanha para nós foi uma A água do lago está tão azul e a

128
algum tempo mirando uma finisterra. Só nos restou casa tão branca
piscina que separa a entrada dar a volta para continuar.
da saída. Um fosso. Da Áustria Contornamos a Espanha Passa um homem caminhando.
rumamos para Suiça. Da Suiça para reencontrar o caminho. Ele anda alguns passos de
chegamos na Bolívia Contornando a Espanha, costas. Não há vento. Decidimos
encontramos sombra sair dali. Indo em direção à brisa
O vento sopra. A bandeira
andina também Indo em direção à brisa Na sombra do muro

Fomos remar no Lago Depois de algumas voltas. Passamos pelo Egito.


Chegamos na China. Muitas Encontramos Tatiana no Egito.
No Peru tem uma praça com pedras na China. Depois de ficar Era Ramadam. Todos muito
bustos dourados de poetas. Íris um pouco, seguimos para o hospitaleiros, recebemos vários
gostou e Júlia Também Iraque convites para voltar

Águas internacionais Chegamos à Tailândia. Da grade


olhamos pequenas esculturas
No Iraque está muito quente.
Não há grades ostensivas

Na Costa do Marfim, três Em Portugal fizemos nado Na Guiné nos disseram que
pessoas vieram saber o que sincronizado o Congo muda sem cessar de
fazíamos por lá lugar. Estávamos atrás do Congo
Nos EUA só pudemos chegar e chegamos em Barbados. O sol
Na Bulgária tem cachorro. até os cones. Fomos convidados arde no Suriname
Pensando no céu da Romênia. a olhar araras. No quiosque
Segundo o Levi, a Romênia tem muitos homens comiam. Estava Com muita névoa chegamos
o menor poste do mundo muito quente. Horas meridianas em Cabo Verde. Há países que
parecem desaparecer. E outros
Entre o Senegal e a Coréia do Da Síria, passamos pela Rússia. que só encontramos no último
Sul, elevações No Vaticano, tudo silencioso instante

César e Lud entraram em Na Guatemala o céu azul, uma Passamos pelo Paquistão,
Trinidad Tobago. Tatiana leve brisa. Depois de passar Nepal, avistamos o Bahrein. Não
também. Para chegar ao marco- pela Croácia, onde um cão encontramos o Sudão nem a
zero nos mostrou os seus dentes. Albânia
Estamos à procura do Burundi
Chegamos ao Marrocos. Não e do Congo. Enquanto isso, Depois de 6 horas chegamos ao
achamos a Palestina chegamos em Cuba Azerbaijão. No dia seguinte, Luiz
teve insolação
Pensar nos países que não estão
129
Decidimos percorrer um pouco Ao longe, os lobos da Hungria Estamos pisando ao redor de
mais. Vaga-volta ao mundo não oferecem perigo cada embaixada. Pisar, como um

130
corpo erguido apoiado sobre
À sombra do muro. Em nossa Na volta, combinamos um jantar o chão, é “estar no mundo”:
direção com pratos belgas invisível limite entre os corpos
atados na Terra
Inventar uma língua nômade. Coisas vermelhas no caminho:
Uma moeda nômade. Uma pedaços de ferro, algumas folhas Proximidade e distância: as
embaixada nômade. Uma secas, flamboyants em outubro, coisas descobrem-se e definem-
bandeira vaga o tecido das bandeiras e de se para mim estando a certa
nossas roupas naquele dia distância de mim. Os muros
O país que não está marcam seus territórios. Em
Um trajeto está entre dois todo esse percurso, nada senão
Eslováquia, 9h20. Os prédios são pontos, mas o entre-dois tomou distâncias
térreos e parecem imprensados consistência e autonomia bem
pelos muros. As grades como direção de nossa viagem Nunca partimos e nunca
sobrepostas reticulam a visão chegamos. O tempo todo
Espalhados pelos largos em modo de deslocamento.
Avistamos os tigres cinzentos da descampados, ocupamos, Agarrados entre fronteiras, onde
Polônia seguimos. Um talvez princípio os muros recuam e abrem-se
territorial; descompassado e espaços vacantes
nômade

Um pensamento no Uma nota, uma mirada, um Sobreposições cartográficas


descampado: terras vazias não esboço, uma página para um inimagináveis de um mapa
têm dono; terras vazias têm atlas. Possuir as direções, mundial fantasioso e ao mesmo
dono guardar as distâncias, tempo, oficial e registrado como
abandonar o mapa o endereço das embaixadas.
No setor de embaixadas, subir Países vizinhos estão realocados
numa árvore torna-se uma Ter visto o mundo através de dentro da cidade onde tudo é
operação complicada muros, grades, vidros estilo inventado: ruas, lago, prédios,
blindex, portões mais ou coordenadas
Flamboyants, Mangueiras, menos ornamentados, grades
Patas‑de-Vaca, Cactos, Agaves. esporadicamente disfarçadas de Uma nota longínqua sobre a
Uma lista indeterminadados jardins preparação da viagem: fazer
vegetais e suas nacionalidades provisões de água, lembrar
Mr. Fogg atravessou o mundo dos óculos escuros e sapatos
Raízes expostas, pedaços de em 80 dias para comprovar que confortáveis
asfalto revirado, montes de a revolução dos transportes
piche, buracos negros das estreitou distâncias pela Dar uma volta: um movimento
redes de telefonia, carros, velocidade. Dispostos a viver redondo, um círculo. Mas o
vigias e câmeras e placas. Um nossa própria volta ao mundo, desenho de nossos passos,
mundo estipulado. Vizinhanças caminhamos em lentidão pelas se traçado, é mais próximo
impossíveis margens do irregular, descontínuo,
131

segmentado
Montinho: um muro entre Os canhões no brasão do Haiti. Uma lista aparece dentro
muros. Corpo-muro, embaixada Uma frase em outro idioma da outra: começo a notar

132
vagamunda. indica: a união faz a força a ocorrência de animais,
caravelas, estrelas. No Suriname,
Será que nosso pequeno grupo Malawi. Honduras. Flores dois indígenas desenhados
de caminhantes amontoados vermelhas, bandeira azul. com arcos e flechas a tiracolo.
pode ser pensado como um Tanzânia. Botsuana. Nova O Kasaquistão é dourado. No
continente se deslocando de Zelândia. O sol nos desafia Benim há máscaras, coqueiro,
forma errante? castelo, onças. Pássaros e cabras
No Congo nenhuma nuvem no em Namíbia
Contornamos cada um dos céu. A bandeira está imóvel.
países do lado de fora, espaço Janelas fechadas. Portão Nossa caminhada-contorno
negativo do território alheio, trancado a cadeado e corrente recorta o espaço sem marcas
inverso do mundo rígidas: algumas pegadas,
Um gato no telhado da olhares lançados e desviados.
Enquanto algumas embaixadas residência de Burkina Faso Medimos a extensão do
oferecem acolhimento, outras, caminho em cansaço e algumas
nos fazem sentir infratores por Na República Socialista do horas, horas que viraram dias
vagar Vietnã, “a embaixada informa que, por sua vez, viraram anos
que estará fechada de 4 a 8 de
fevereiro de 2019, devido ao Ano
Novo Lunar”

133
134 135
César Becker

p. 125 a 135
vaga-mundo: poéticas nômades,
Notas de viagem, 2019/2022,
89 notas, impressão sobre vinil
adesivo, dimensões variáveis.

136 137
138 139
140 141
142 143
144 145
Íris Helena

p. 138 César Becker, continentes,


2023, Terra, pedra, compensado
naval /escultura, dimensões
variáveis.

p.142 César Becker, volta ao


mundo, 2023. Terra/escultura,
60 cm de altura e 250 cm de
diâmetro.

146 147
148
150 151
153
154 155
Júlia Milward

p.148 Íris Helena, Apagando


Colombo, 2021/2023. Foto/
instalação. 13 pergaminhos
de papel térmico contendo
impressões térmicas, madeira e
parafusos. Dimensões Variáveis.

p. 153 Íris Helena, Teatro


de Brasões, 2023. Instalação.
16 hastes de aço escovado e
impressão PS. Dimensões
Variáveis.

156
p.157 Júlia Milward, Lembranças de
souvenires | Vistos de entradas, 2023,
94 chaveiros, 190 fotografias impressas
em papel fotográfico.

Júlia Milward, Lembranças de souvenires |


Agora, lembro, 2020-2022, Vídeo, projeção,
dimensões variadas, 3m58s.

158 159
p.159 Júlia Milward, Lembranças de
souvenires | O souvenir de viagem
Magritte, 2023, Fotografia impressa
em canvas, 60x45cm.

Júlia Milward, Demarcações, 2023,


2 fotografias, impressão uv, acrílico/
adesivo, 50x70 cm (cada).

160 161
p.161 Júlia Milward, Partilhas, 2023,
5 fotografias, impressão uv sobre ps,
110x30 cm (cada).

Júlia Milward, “Aos vencedores, a placa”,


2023, 1 fotografia, impressão uv sobre pvc,
placa de mdf, 40x65 cm.

162 163
Karina Dias & Albert Ambelakiotis

p. 163 Júlia Milward, campeão,


2023, 1 fotografia, impressão uv
sobre pvc, tinta acrílica com
detergente, 40x50 cm.

p. 163 a 165 Júlia Milward,


Raspadinhas novacap, 2023,
5 fotografias, impressão uv
sobre pvc, tinta acrílica com
detergente, 40x50 cm (cada).

166
168 169
p.167 a 171
Karina Dias & Albert Ambelakiotis,
Globo terrestre, Globo celeste, 2016-
2021, madeira, papel machê, instruções,
30 × 18 cm (altura x diâmetro).
Vitrine 160 × 90 × 40 cm.

170 171
volta ao mundo - 1080 dias

Síria 27/10/2016 - 28/01/2019


Romênia Karina Dias & Albert Ambelakiotis

Malta
Senegal
Costa
do Marfim
orte Lago
Asa N
Norte

Coréia Nigéria
do Sul Bulgária
Filipinas Lago
China Norte Omã Coréia
Palestina do Norte
Tailândia Marrocos Fidji
El Bangladesh
Argélia Salvador
Egito
Trinidad Singapura
Nicarágua
aranoá
Tobago Honduras
Lago P
Catar Albania

Luxemburgo Barbados
Guiné Equatorial Irlanda Haiti

Sérvia Zambia Cabo Verde


Polônia Uruguai Sta Sé Portugal Quênia Bahrein
Espanha Gana Sudão
Bélgica Canadá Venezuela
Bolívia Rússia
EUA Timor Leste
Georgia Equador Nepal
Líbano Argentina
França Togo
Panamá ul
Israel Irã
l Lago S Suriname
Burkina
Asa Su
Benin
Chile Cazaquistão Faso
Itália México Países Baixos Koweit
Japão
Peru Gabão
África do Sul Namíbia
Suécia Colômbia Reino República
Azerbaijão
Noruega Indonésia Eslovênia Mauritânia ul Democrática
Unido
Lago S do Congo
Áustria Austrália
Croácia
Finlandia Arábia
Hungria República Saudita
do Congo Belarussia Tanzânia Chipre
Dinamarca República
Suíça Tcheca Guiné Bissau
Alemanha
Vietnã
Malawi
Eslováquia Myanmar Emirados Nova
Paraguai Índia Árabes Zelandia Argélia
Unidos Etiópia

Iraque Grécia Guiana


República
Dominicana Mali
Turquia Camarões Tunisia
Jordânia
Angola
Moçambique Guiné
Malásia Botsuana
Ucrânia
Paquistão
Líbia
Guatemala Cuba

172 173
volta ao mundo - 1080 dias e

Virgo
Leo Ursa Major
Leo Minor

27/10/2016 - 28/01/2019
Karina Dias & Albert Ambelakiotis
Corona Borealis a a
Serpent Caput a

Crater

Lua Sextans
Corvus

Draco
Libra
Hercules
Cancer
a Lynx a

Ophiuchus b
Hydra a
a
Antlia
Centaurus o Cameleopardalis
Lyra a nd Gemini
Cepheus mu Canis Minor
Júpiter g a-
Lupus Va b
Serpens Cauda Pyxis
Cygnus Vénus y
Scorpius b g a
Auriga
b Crux a1 Monoceros
a Vela
Sagitta
Sagittarius l Norma
Scutum Puppis b
q a
Vulpecula Aquila Circinus d d
a e Musca g a a Cassiopeia
Ara Karina Perseus
Saturno Triangulum Australe
Lacerta
a b e Canis Major b
z g
Plutão Corona Australis
Delphinus Apus Andromeda
Orion a
Chamaleon Volans
Telescopium a Lepus b Triangulum
Equuleus Taurus

Pavo Columba
Sol Mercúrio Octans Mensa
Pictor
a Aries
Pegasus Dorado
Capricornus
Microscopium Caelum
Indus
Hydrus
Recticulum
Cetus

Aquarius Urano
Eridanus
a Tucana
Horologium Pisces
Piscis Austrinus Grus Marte

Netuno
a

Fornax

174 175
177
178 179
Levi Orthof

p.172 a 175
Karina Dias & Albert Ambelakiotis,
Mapa mundi, Mapa celeste, 2016-
2021, Impressão sobre papel algodão
Hahnemühle, 110 × 60,5 cm cada.

p. 176 a 179
Karina Dias, Diário de bordo (volta ao
mundo), 2016-2019, Caderno Moleskine
com 60 páginas sanfonadas,
9 × 14 cm (fechado) e cerca de 270 × 14 cm
(aberto). Vitrine 85 × 292 × 40 cm.

180 181
182 183
184 185
Luciana Paiva

p. 181 a 185
Levi Orthof, 17 polegadas, 2023,
impressão sobre acrílico/
instalação, 300×300 cm.

186 187
188 189
190 191
Ludmilla Alves

p. 187 a 191
Luciana Paiva. Duplo e fenda,
2023. Páginas impressas com
globo terrestre recortados,
luz de led, suporte de acrílico,
mapa do plano piloto e objeto
de metal sobre mesa de
160 × 80 cm.

192 193
194 195
197
198 199
Tatiana Terra

p.193 a 195
Ludmilla Alves, Vistas do
caminho e outras cenas para ler
em voz alta, 2023, acrílica sobre
tela / 54 pinturas de 17 × 24 cm
cada.

p.196 a 199
Ludmilla Alves, Re-volta ao
mundo, 2023, relógios e texto /
instalação, dimensões variáveis

200
Tatiana Terra. Nenhum lugar
entre oceanos, 2022. Instalação
em madeira, poliéster e vídeo

202 203
p. 205 Tatiana Terra, Espaço
próximo e estrangeiro, 2018. 20
fotografias, 30 × 32 cm (cada)
sobre placa de pvc.

204 205
206 207
p. 206 Tatiana Terra. Vista
aérea com os pés no chão, 2019.
9 fotografias, 40 × 60 cm (cada)
sobre placa de pvc

208
Finisterra:
os confins da viagem
e o desejo de repartir
De muro em muro se constituiu um trajeto. Entre-muros
nos distribuímos pelos largos descampados, habitamos as
frestas nesse espaço entre fronteiras, o único lugar possível
onde os muros desabam, recuam e se abrem os espaços
vacantes.

211
212 213
O tapete azul oceânico é a nossa finisterra.

vaga-mundo: poéticas nômades,


Muro, 2023, trabalho em site
specific, 800 tijolos e cimento.

214 215
216 217
218 219
220 221
Panorâmicas da exposição

vaga-mundo: poéticas nômades,


Você está aqui, 2023, Capacho
em borracha vulcanizada,
4,30 × 4,20 m.

222 223
224 225
226 227
228 229
230 231
232 233
234 235
236 237
238 239
240
A bordo dos dias
Do impulso da viagem

J.M. Partir de um vocábulo interior, fixar um início, andar


sobre nomes. A viagem começa com a palavra-partida, aque-
la que propulsiona, que projeta, que faz girar. “O desejo da
viagem se alimenta dos fantasmas literários e poéticos”1,
“começa na biblioteca”2, no espaço plano da página, do mapa,
da imagem. Emocionados (do latim emovere: e-, variante de
ex, significa fora; movere: significa movimento), os viajantes
trancam o espaço fixo e se lançam para o fora. Transformam
a palavra-partida em palavra-ponto no globo terrestre de
imagens aglomeradas, uma massa esférica composta de
coisas, suspensa no horizonte oceânico3. O vislumbre do
início foram nomes de alhures ancorados nos geométricos
Karina Dias K.D. terrenos de solo vermelho das vias expressas de Brasília. A
Levi Orthof L.A.O. organização das embaixadas parece orientada pela receita
Ludmilla Alves L.A.
Júlia Milward J.M.
Luiz Olivieri L.O.
1 ONFRAY, 2012, p.23
Tatiana Terra T.T. 2 ONFRAY, 2012, p.25
César Becker C.B. 3 Le voyageur, René Magritte, 1937

243
de Tristan Tzara “para fazer um poema dadaísta”4 e nesse
mapa-múndi o México faz fronteira com o Líbano, a Áfri-
ca do Sul com o Reino dos Países Baixos, a França com os
Estados Unidos da América.

L.A.O. Como posso te contar sobre essa viagem? Os vistos


e não vistos. Descrever os titubeios das fronteiras. Sim!
Embarcamos em tempo-maré: 3, 7, 11 voltas. Nessa volta ao
mundo, saltamos na medida-janela. Uma distância inter-
nacionalmente acordada a um metro e vinte centímetros
do chão. As embaixadas não têm janelas. Andar-mundo
sem bordas, sem margem? Acionamos a fotografia para
margear nossa caminhada. Como nos ensina Wim Wenders
em “A Janela da Alma5”, olhamos através da moldura dos
óculos. O tempo e os meridianos renovam-se a cada noite.
Caminhamos sobre as linhas das fronteiras, é preciso o
aprimoramento da língua para dar conta desse outro modo
de viagem. o artifício das fronteiras quase rompe. Mundo-

4 “Para fazer um poema dadaísta. Pegue num jornal. Pegue numa tesoura.
Escolha no jornal um artigo que tenha o tamanho que pensa dar ao
Figura 1: Volta ao mundo seu poema. Recorte o artigo. Recorte seguidamente com cuidado as
realizada pelo grupo Vaga- palavras que formam o artigo e meta-as num saco. Agite com cuidado.
mundo: poéticas nômades Seguidamente, retire os recortes um por um. Copie conscienciosamente
entre 2016-2019. Setor de segundo a ordem pela qual foram saindo do saco.” (TZARA, 1987, p.42)
Embaixadas. Brasília, DF. 5 JANELA DA ALMA. Direção: João Jardim, Walter Carvalho. Produção de
Foto: Íris Helena Ravina Filmes. Brasil: Copacabana FIlmes e Produções, 2001. 1 DVD.

244 245
-mapa. Dobrado em tantas voltas que países e continentes ram e as asas se ergueram sem ruídos”8 . Numa volta ao
criam uma vizinhança impossível e, no entanto, estão ali, mundo, nunca viajamos sós, levamos sempre a sombra dos
diante de nós. Como dar conta dessa volta ao mundo? Conto: lugares habitados. A viagem impõe um ritmo: conhecer
1080 dias. 40 luas. 12 nós de vento. 9 pernas. 5 olhos. 1 pé territórios, caminhar sob o sol estrangeiro, estar do lado
que sobra e salta. 3 anos a escalar vagalhões. Abrir clareiras de fora, avistar bandeiras e brasões. Responder às mesmas
como rodovias para o vento. Escutar estranhas vibrações. perguntas: o que fazem aqui? “O espaço é [sempre] uma
Olhar-Sul. Abre-te sésamo entre as rotas das raízes. Terra, dúvida”9, cuja questão que não cessa de nos provocar é a do
capim, areia, água e a noite sempre à espreita. Notações lugar que ocupamos, o onde estamos. Poderia contar das
sobre dragões no mar. Passamos por embaixadas que, com o lendas, descrever detalhadamente a paisagem, contar sobre
correr do tempo, deixaram de existir. Sacudir as pedrinhas os lugares, expor nossas intenções, fazer anotações diárias,
e outros vestígios do bolso durante a volta para casa. Quem contar aonde não ir e o que fazer. Porém “indomesticável
é você no vento? é o destino”10. Não se abandona a viagem. Aprender que os
tempos são distintos, que os passos se perdem em meio às
K.D: Seria essa faísca inquieta eternamente presente em fronteiras esfumaçadas. É surpreendente quando um país
nós que nos põe a caminho? Se temos o mesmo sangue aparece, quando desponta em nossa direção. Há países
das estrelas6, esse cosmos que está em nós nos lembra que que só encontramos no último instante e tantos outros
estamos em movimento. Talvez resida aí o desejo de espaço, que desapareceram no horizonte. Há aqueles que parecem
de espaçar-se, distanciar-se, “ganhar terreno”7. “Caminhei, mudar de lugar. Há países que não existem. Descobri que
despertando os hálitos vivos e mornos, e as pedrarias olha- as árvores também são estrangeiras. Seguir as rotas piratas.

L.A. Às vezes tenho a impressão fugidia de que o que fizemos,


e ainda fazemos, foi, é: voltar. Dar voltas em torno de onde
6 A poeta Geneviève Clancy escreve que uma consciência nuital seria
“capaz de dar corpo ao elo carnal que nos faz parte do universo, e nos dá
o mesmo sangue que as estrelas. Méditations sur La nuit in ESPINASSE,
Catherine, GWIAZDZINSKI, Luc, HEURGON, Edith (coord.) La nuit en 8 RIMBAUD, 2009, p.306
question – Colloque de Cerisy. Éditions de L’aube, 2005, p.161. 9 PEREC, 2000, p.179
7 HOCQUARD, 1997, p.11 10 FONTELA, 2015, p.237

246 247
não chegamos a ir. Uma volta ao mundo pelas embaixadas, a (re)quirição do espaço, interferir na sintaxe espacial.11 A
realizada do lado de fora das embaixadas. A caminhada palavra do desejo da escuta, de inventar sons. Deixar terri-
acontecia ao largo dos países todos e, por isso, o diário tórios sonoros e atravessar barreiras, tocar distâncias. Como
da viagem é, para mim, o diário da margem da viagem. A Roland Barthes diz: “a escuta não tem mais a obrigação de
palavra “volta”, substantivo feminino, convoca em geral compreender os sons, mas de tocar em espaços desconheci-
um movimento redondo, um retorno. Mas o desenho de dos”12. Grafar-gravar esses sons, ter a experiência tátil dos
nossos passos, se traçado, seria mais próximo do irregular, países, mapear a viagem em sons, sondiar13.
descontínuo, segmentado. Nossos segmentos de volta eram
então espécies de rounds passando por vistas, gramados, T.T. Uma viagem impulsionada pelo imprevisto. Percorrer
placas e a sensação de volta-e-meia, andar por indícios de o mundo em uma cidade, caminhar por entre países, an-
uma cidade extinta ou por lugar nenhum. Ter visto o mundo dar ao encontro do imprevisível, orientados pelo céu, pelo
através de muros, portões mais ou menos ornamentados, chão e pelos rastros, na vastidão. Ir por onde os caminhos
cercas esporadicamente disfarçadas de jardins e alguns convidam. Pisar territórios estrangeiros e deixar que eles
fragmentos de jardins entre grades. Nossos passos rodea- se apresentem a partir do movimento do corpo andante.
vam fronteiras. Um mundo não menos inventado que outro. Cartografar vazios e matérias reveladas. Construir, dissolver,
Do lado de fora, o mundo era mesmo outro: mistura de conceber rotas. Atravessar fronteiras por passadas, cruzando
cosmos, restos, árvores e rios subterrâneos que apareciam continentes no mar de terra vermelha.
com a indiferença das coisas só encontradas no aberto e
cujos nomes, ao mesmo tempo, nos espreitam e escapam. C.B. Um lugar que guarda todos os países e territórios do
mundo é constituído principalmente de muros. Países
L.O. Uma viagem que seria a busca por uma escrita, a bus- como pontos de fuga. Inalcançáveis. Os muros marcam suas
ca por uma palavra que se fizesse respiração, um querer
poesia, um desejo de encher de vida os ouvidos, de abrir
novos caminhos na cidade, novas frestas. Querer os espaços,
11 DEGUY, Michel, P.12. Reabertura após obras. Campinas-SP: Editora da
requerer a posse, solicitar os espaços, investigar, espionar,
Unicamp, 2010.
(in)quirir o lugar, por meio do desejo da palavra, a palavra-ar, 12 BARTHES, 1998
13 OLIVIERI, 2021

248 249
distâncias e territórios, guardam o lado de fora, o exterior. Do ponto em que as coisas nos tocam
Em todo esse percurso nada se possui, nunca se chega em
lugar algum, carregamos apenas a nossa própria distância14.
A única coisa possível de possuir daqueles que nunca partem
e nunca chegam. De muro em muro então se constituiu um
trajeto; um entre-muros que se tornou o propósito e única
direção possível desta viagem. Nos distribuímos pelos largos
descampados, ocupamos, habitamos as frestas e as fissuras
como possibilidade de atravessar fronteiras. Seguimos. E K.D: “Vocês, palavras, levantem, sigam-me e quando tiver-
aí residiu nosso princípio territorial; descompassado, en- mos ido longe demais, iremos ainda mais longe, isso não
trecortado, deslocado e vago. Nos agarramos nesse espaço tem fim…”15 escreve a poeta Ingeborg Bachmann. O que
entre fronteiras da ordem da imaginação, da especulação resta quando a linguagem silencia? O vento, a respiração, a
e do absurdo; lugar onde os muros desabam, recuam e se distância entre os corpos que se movem, os muros brancos
abrem os espaços vacantes. que nos acompanharam ao longo da viagem como se pere-
nes fossem. Palavras miúdas ditas pelo caminho, inaudíveis
porque, em movimento, são como os invisíveis detalhes que
compõem um percurso. Como as flores que ficam na beira
da estrada sem nome ou prestígio e que nos lembram que
o próximo pode ser um vasto mundo. Quantas palavras
contém o horizonte e guardam a paisagem vivida? Reen-
contrar a língua do espaço. Formular efêmeros enunciados.
Lembrar que mover exige coragem. Das coisas às palavras,
sempre em movimento, sempre movediças. “Como os no-

14 Como afirma Deleuze e Guattari na obra Mil Platôs: “(...) não possuo
senão distâncias.” (DELEUZE & GUATTARI, 134, 2012) 15 BACHMANN, 2020, p.127

250 251
mes suportam portar os anônimos?”16, indaga novamente
a poeta. Ficar com as palavras que tocam. Anotei palavras
e gestos. Durante 1080 dias me inclinei para pegar um
pouco de terra. Cada país é um pedaço de terra vermelha
impressa em um moleskine. Cada país tem o tamanho do
meu polegar.

C.B. Um ponto. O ponto é a origem. Na Teoria das Formas,


de Kandinsky, o ponto seria o equivalente ao Zero, uma
ideia de concisão absoluta, uma expressão do silêncio, nas-
cida na escrita. Algo que interrompe. Uma pausa. Quais os
pontos, os intervalos e as pausas que nos guiam através
dos caminhos? Pontos de interesse? Pontos de encontro?
Pontos de vista? Em volta de muros, me orientava sempre
em direção aos descampados, ali meus olhos se detinham
nas pedras encontradas no caminho. Como escultor, estas
pedras convocavam minhas mãos forçosamente à sua coleta.
Ao retirá-las, parcialmente submersas da terra, o chão se
revelava marcado pelo seu peso, textura e densidade; como
se, na verdade, estas pedras brotassem ali diretamente des-
tes moldes na relva. E no limiar dos territórios e fronteiras,
coletando estas pequenas pedras passo a ser acometido por
Figura 2: Volta ao mundo uma grande descoberta: tão diferentemente de qualquer
realizada pelo grupo Vaga- um daqueles territórios que guardavam países inteiros,
mundo: poéticas nômades
entre 2016-2019. Setor de
Embaixadas. Brasília, DF.
Foto: Íris Helena 16 BACHMANN, 2020, p.25

252 253
estes pequenos moldes vazios preservavam uma noção de com arcos e flechas a tiracolo. O Kasaquistão é dourado.
território distante dos cantos dos hinos, dos muros erguidos No Benim há máscaras, coqueiro, castelo, onças. Pássaros
e das bandeiras hasteadas. Pois, não há limites e imposi- e cabras no brasão da Namíbia. Na República Socialista do
ções de territórios que separam estas pedras da Terra. Suas Vietnã, “a embaixada informa que estará fechada de 4 a 8
fronteiras repousam sobre um conjunto de correlações: do de fevereiro de 2019, devido ao Ano Novo Lunar”. Escrevo
que a pedra, com seu peso, comunica ao chão. Território no dia 2 de fevereiro de 2021 e me pego assaltada pela coin-
como este invisível limite, que nos lembra dos nossos laços cidência de que, numa outra espécie de volta, estamos de
atados com a Terra. novo à porta do ano novo do oriente.

L.A. Nome após nome, o mundo de nossa volta ao mundo J.M. As placas de orientação veicular posicionadas na entra-
continua a aparecer de tal forma que o relato se aproxima da do estacionamento público de cada embaixada são sem
dos gestos de “nomear constelações – submeter os astros à verso ou anverso. São sinalizações retangulares, de largura
palavra”, “fixar estrelas num mapa móvel”17. A constelação panorâmica, divididas em dois campos desiguais: o do lado
ainda-não-formada por essas vistas teria algo do que des- esquerdo, com fundo branco e 1/3 da superfície destinada à
creve o personagem Austerlitz, a respeito de uma pintura18 inserção da bandeira representativa da embaixada; o do lado
na qual “o pequeno acidente, que passou despercebido da direito de base azul corresponde aos 2/3 restantes da placa,
maioria dos espectadores, continuasse a se repetir mais e uma área reservada às letras brancas que formam o nome
mais vezes”19. Re-vejo anotações, fotografias, camadas acu- da nação traduzido para o português. O estacionamento é o
muladas. Imaginando compor uma pintura onde as coisas entre, a delimitação, a borda. Apesar de não haver placas de
não deixam de aparecer, re-torno à viagem: noto animais, proibido estacionar, trata-se de uma zona de tensão. Nessa
caravelas, estrelas. No Suriname, dois indígenas desenhados faixa de terra vermelha, os de dentro espreitam os de fora
e observam possíveis movimentos aberrantes.

L.A.O. As viagens colidem, há desastres e perigos tão logo


17 FONTELA, 2006, p.106
saímos da casa. Entre voltas podemos nos acostumar a
18 Em referência à pintura View of Antwerp with Frozen Scheld (1593), de
Lucas von Valckenborch desabitar. A primeira paisagem, uma nuvem de poeira
19 SEBALD, 2008, p.18 cega por um ou dois segundos. Primeiros desastres sobre

254 255
pequenas matérias. As tempestades de areia, vento ou Das baldeações
água viram o tabuleiro e o mundo demora-se em retornar.
Apontar o dedo para o caminho; apontá-lo para o vento.
Abrir espaço e caminhar.

L.O. Não se chega nunca. Palavras não chegam, talvez, nunca


chegariam, permanecíamos margeando longe, depois de
alguns dias de vazio, não havia sons dos países, estávamos
sempre margeando as palavras, de estacionamento a esta- K.D. Todo mapa é uma sombreada paisagem. Uma nota.
cionamento, de vazios em vazios, de silêncios em silêncios, Um esboço. Uma mirada. Uma mirada forasteira. Uma vista
que tentávamos preencher20. Um rol de sons indecifráveis, intrusa ao nome. Possibilidade de medida e efêmero con-
os países se fortalecem pelos seus enigmas, pelos seus sons torno. Uma página para um atlas. O projeto para um globo.
burocráticos, por uma voz de interfone, que não papeia, Quantos são os percursos, as horas vividas, os dias habitados,
que não quer saber o que você tem a dizer, que não lhe dá as luzes meridianas21, o que não está posto? Qual o centro do
espaços. O país não permite que a gente se escute, torna mapa? Nesse desejo de [não] fixar a viagem seguir o rastro de
o horizonte seco suficiente para que qualquer hipótese de sua paisagem, embaralhar vizinhanças, percorrer o mundo
grito não ecoe, para que não possamos ressoar, para que … mapa-odisseia. A terra não cabe num mapa, tampouco
a natureza não seja sonoridade, para que as palavras en- as palavras não ditas e a história abandonada como um
viadas não retornem. A burocracia controla o brio, o país mato selvagem que encobre toda paisagem esquecida. O
é um cartório. que dizem as vizinhanças silenciosas aos ruídos que vem
do Sul? De terra em terra, percorrer os lugares como se
intrusos não fôssemos, nessa impossibilidade permanente,
somos estrangeiros aos espaços, mesmo os mais fraternais.

20 CORTAZAR, Julio; DUNLOP, Carol. Os autonautas da cosmopista. São 21 Ver o capítulo Luzes meridianas in MALDONADO, Mauro. Raízes
Paulo: Brasiliense, 1991. errantes. São Paulo: Ed. 34, 2004.

256 257
Nessa cidade que se tornou mundo, há muitos nomes para
os ventos, há muitos nomes para os lugares. O movimento
foi sempre o mesmo, atravessar uma faixa de terra, estar à
margem, entrever um continente imaginado, caminhar de
um lado para o outro, repetidamente, num ritornelo, sem
começo nem fim. Dar a volta ao mundo sem sair do lugar,
cartografar distâncias oceânicas, fronteiras longínquas e
estranhos nomes. Somos uma coordenada, um ponto (i)
móvel? Estar sempre à beira dos lugares para quem sabe
encontrar um país, colocá-lo em movimento, encontrar a
sua geografia, nomear montes, rios, montanhas, lagos, um
pedaço de terra. Nesse mundo “da proximidade que recua,
do longínquo que [se] aproxima num instante”22, noturnas
são as distâncias. Se a sombra dos lugares parece conter
todas as estações, “bastaria um movimento de distração
para afogar os cinco continentes. O mar não tem remorso
…”23. Fabriquei dois globos, um terrestre e um celeste. No
terrestre o dia tem 12 horas, no celeste é possível observar
uma constelação, uma constelação vaga.

L.A. Os trabalhos são como ideias cometidas por acidente.


Tropeços, elevações, considerações e delírios na/da ca-
Figura 3: Volta ao mundo minhada. Refaço a viagem entre anotações e fotografias.
realizada pelo grupo Vaga-
mundo: poéticas nômades
2016-2019. Setor de
Embaixadas. Brasília, DF. Foto: 22 MARQUES, 2009, p.64
Íris Helena 23 JABÉS, 2004, s/p

258 259
Chamo-as capturas. Suspeito: contêm alguma coisa que apenas a opção de estar às suas margens. Margeando com
está à margem do meu próprio relato e, por isso mesmo, a expectativa da fissura: em algum momento a palavra há
os episódios daquilo que, dentro da viagem, foi “a porção de desmoronar e a terra retornará à Terra.
confiada aos acasos, dos menores aos maiores, capazes de
introduzir-me num mundo como que proibido, que é o das L.A.O. Vento. Permanecemos de bombordo a boreste nesses
aproximações repentinas, das petrificantes coincidências, oceanos baldios. Sobram passos e falta água. Alguns portões
de clarões”24. Essas capturas, vou reconhecendo-as como fecham-se antes da nossa chegada. Outro se abriu sem es-
marginais, imagens das margens, enquanto me percebo forço (esse portão estava no muro das bandeiras agitadas).
também clandestina no percurso. Sim, “há alguém no vento”25 como nos alertou Guillevic.
Novos músculos descobertos nas orelhas, minúsculos ajus-
L.O. Passei a entender a experiência de caminhar pelas tes para alcançar outros ruídos e pistas no vento manso. O
fronteiras como uma disputa, uma guerra de espionagens: vento dessas terras gira muito e, portanto, solicita atenção.
tínhamos a sensação de estarmos sempre vigiados para
que eles não fossem vigiados por nós. Eu procurava me
camuflar para poder continuar escutando. Abrir parênteses,
mudar a maneira para ouvir, dar outros sentidos ao espaço,
criar pontuações estranhas, interferir e vivificar os espaços
baldios, a paisagem era cacofônica.

C.B. Solo compartilhado. Uma terra habitável. Há uma


terra em comum? Penso na palavra “terra” e suas traduções
nas línguas dos países visitados. Em torno delas, dá-se
voltas, podemos contorná-las de inúmeras maneiras e
não chegamos em lugar nenhum. Palavra-muro. Nos resta

24 BRETON, 2007, p.27 25 GUILLEVIC, 1942, p.71

260 261
Dos baldios

C.B. A pedra de Trindad e Tobago, pesada ilusão de solidez:


marco de uma não existência. A ausência e abolição de mu-
ros dá lugar ao mato edificante. O capim, ao ter o espaço
a sua volta suprimido de tudo que o impedia de deslizar e
irromper entre as coisas, faz do monumento, marco de uma
terra livre. Processo de desterritorialização de Trindad e
Tobago que estende seu território em retorno e direção ao
próprio solo. O chão deixa de apenas servir como simples
suporte para demarcação de fronteiras e passa a devir forças
da terra. A pedra de Trindad e Tobago compreende a criação
de um novo, porém, antigo território de um tempo ante-
rior às fronteiras que ali teriam se erguido e desaparecido;
dissolvidas pela erosão, fraturadas e esmagadas. Trindad e
Tobago está em outro lugar.26

26 Referência à Smithson em seu artigo Incidents of mirror-travel in the


Yucatan : “Yucatan está em outro lugar” (SMITHSON, pg. 133, 2018)

262 263
L.A. “Os passos perdidos? Mas não existe passo perdido”27,
diz Nadja, enquanto toma um livro de mesmo título entre
as mãos. Penso nos passos deixados em terrenos baldios. Na
fala dos passos baldios. Esses desertos-descampados que
L.A.O. um dia chamou de oceanos e assim tornaram-se des-
campados-desertos e oceanos baldios. Os baldios. Passar por
eles era como atravessar de uma margem a outra. Grandes
águas. O que diriam nossos passos? Uma língua pode ser feita
da fala de passos? Passos-palavras? Passos como palavras
nômades formando não toda uma língua vaga (imagino
feita de muitas outras), mas talvez um tronco de língua?

L.O. Na escuta dos sons silenciosos, na liberdade de ouvir


os sons proibidos, recriar o mundo por esses novos sons, se
misturar a esses sons e ao seu aspecto viajante. Dar vida a
novas palavras, e com novas palavras, novos lugares. Tor-
nar-se os novos lugares. Recuperar a experiência valiosa,
compartilhar novos países.

J.M. O baldio é um ponto de projeção, o futuro do presente


do indicativo do pensamento.

Figura 4: Volta ao mundo K.D. E o futuro, onde está? Num terreno vago, em ações
realizada pelo grupo vagas, em uma pontuação-vaga, em uma língua-vaga, em
Vaga-mundo: poéticas
ideias vagas, numa moeda-vaga, em uma embaixada-vaga,
nômades 2016-2019. Setor
de Embaixadas. Brasília, DF.
Foto: Tatiana Terra
27 BRETON, 2007, p.71
264 265
em uma bandeira-vaga, em um tempo-vaga, em uma pon- Finisterra
tuação-vaga, em uma marcha-vaga. em todos os lugares
não visitados, em todas as latitudes não percorridas, no sul,
no extremo sul, no sul extremo. No alto da montanha, na
beira do rio, no jardim selvagem, nas 4 cidades de 3 países
diferentes percorridas em um único dia. na viagem que
não acaba, no não visto, no não dito, na fronteira avistada.
no desencontro entre a palavra e a imagem, nos ventos Um diário de bordo é um caderno nômade que abre mil e
catabáticos, nos “sonhos feitos de maré, areia e navios”28, um lugares. Nessa abertura para o infinito há paisagens, pa-
“na pedra [que] não está morta, [no] pavio que se ergue lavras, quilômetros, fronteiras sobrepostas, climas descom-
quando um olhar o inflama”29, nas palavras corajosas30, no passados, fusos horários desacordados, países equalizados
grito de alerta, no livro aberto aleatoriamente todos os dias. pela página-solo, sob uma mesma estação, sob o mesmo sol
nas cicatrizes do atlas31, na flor-de-todo-ano, na mesa do estrangeiro. Percorrer as páginas como se recorre aos mapas,
poeta32, na beleza das coisas, lá, onde estiver. Os buracos reencontrar nelas o movimento pelo que permanece como
nos mapas dão realmente em lugar nenhum?33 rastro e que, quem sabe, seja um convite à viagem. Fechar
o diário para abri-lo infinitas vezes.

28 BACHMANN, 2020, p.154


29 BACHMANN, 2020, p.75
30 Em referência ao que escreve a poeta Alicia Gallienne: Não sou eu que
sou corajosa, são as palavras. Ver L’autre moitié du songe m’appartient
poèmes. Paris: Gallimard, 2020.
31 Em referência ao título do livro do poeta Tahar Ben Jelloun, As cica-
trizes do atlas. Brasília: Ed. UnB, 2003.
32 Em referência ao título do livro do poeta Francis Ponge, A mesa. São
Paulo: Iluminuras, 2002.
33 Em referência a Laura Riding quando escreve em seu poema O mapa
dos lugares que buracos nos mapas dão em lugar nenhum. Riding,
Laura. Mindscapes - Poemas. São Paulo: Iluminuras, 2004, p.101.

266 267
Referências bibliográficas

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268 269
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270
Dar a volta ao mundo:
quantos mundos
compõem essa viagem?

Fabrícia Jordão
1. Prólogo

Ítaca
Quando partires de regresso a Ítaca,
deves orar por uma viagem longa,
plena de aventuras e de experiências.
Ciclopes, Lestrogónios, e mais monstros,
um Poseidon irado - não os temas,
jamais encontrarás tais coisas no caminho,
se o teu pensar for puro, e se um sentir sublime
teu corpo toca e o espírito te habita.
Ciclopes, Lestrogónios, e outros monstros,
Poseidon em fúria - nunca encontrarás,
se não é na tua alma que os transportes,
ou ela os não erguer perante ti.

Deves orar por uma viagem longa.


Que sejam muitas as manhãs de Verão,
quando, com que prazer, com que deleite,
entrares em portos jamais antes vistos!
Em colónias fenícias deverás deter-te

273
para comprar mercadorias raras: xadas Sul e Norte – tão esplendida viagem, de aventuras
coral e madrepérola, âmbar e marfim, e de experiências – que nos deu Lá, onde estiver, nos faz
e perfumes subtis de toda espécie: compreender o sentido de Ítaca.
compra desses perfumes quanto possas.
E vai ver as cidades do Egipto,
para aprenderes com os que sabem muito.

Terás sempre Ítaca no teu espírito,


que lá chegar é o teu destino último.
Mas não te apresses nunca na viagem.
É melhor que ela dure muitos anos,
que sejas velho já ao ancorar na ilha,
rico do que foi teu pelo caminho,
e sem esperar que Ítaca te dê riquezas.

Ítaca deu-te essa viagem esplêndida.


Sem Ítaca, não terias partido.
Mas Ítaca não tem mais nada para dar-te.

Por pobre que a descubras, Ítaca não te traiu.

Sábio como és agora, senhor de tanta experiência,


terás compreendido o sentido de Ítaca1
Pensar que foi a longa expedição aos Setores de Embai-

1 Cavafy, Constantin. 90 e mais quatro poemas. Tradução, prefácio,


comentários e notas de Jorge de Sena. Coimbra: Centelha, 1986.

274 275
2. Do impulso da viagem

Condenados a habitar a Terra,


redefinimos a finitude do planeta pelo impulso de viagem.
Convertemos o mundo em uma extensão infinita.

Impulso de viagem como ato de imaginação.


Imaginação como ação rumo à realização do desconhecido.

Impulso de viagem como potência de agir.

“Tomar o impulso
Impulsionar com coragem”2

Viagem como ímpeto do amor que endereçamos ao mundo


que ainda não existe. Viagem que age em nós.

Impulso de viagem que fez Odisseu, mais de 600 anos a.C.,


lançar-se ao mar. Que o fez realizar a mítica travessia ma-

2 Verso de Julia C. Hansen

276 277
rítima que, dez anos depois, o conduziria, agora feito herói, 3. Baldeações
à Ítaca3. Impulso que fez o grupo Vaga-mundo, seis anos
atrás, se lançar, a pé, em uma viagem de volta ao mundo,
sem sair de Brasília.

Foi também sem sair de Londres, com os pés plantados no


cenário da gigantesca centrífuga Discovery, que Stanley
Kubrick nos fez viajar a uma Ítaca sideral.

Embarcamos, maravilhados, na missão Júpiter.

No caminho, não encontramos ventos, tempestades, ondas


gigantes.
Nada de Ciclopes ou do colérico Poseidon.
Nada de Tirésias para nos indicar o caminho.

Em 2001: uma odisseia no espaço4, habitamos a experiência


do olhar
A beleza do silêncio absoluto na imensidão cósmica5.

4 2001: Uma Odisseia no Espaço. Direção Stanley Kubrick. [Reino Unido,


Estados Unidos]: 1968, (141 min)
5 O filme tem menos de quarenta minutos de palavras faladas em seus
141 minutos de duração. Não há diálogo algum nos primeiros vinte
3 Homero. A odisseia. São Paulo: Editora Ubu, 2018. minutos e nem nos vinte finais do filme. Os 2 minutos e 58 segundos

278 279
O que teria feito o astuto Odisseu diante desse insólito “Não sabemos o que fazer com outros mundos. Não preci-
encontro? samos de outros mundos. Precisamos de um espelho”, nos
Como teria reagido – “o homem feito astúcia”6 – diante de diz o ébrio personagem Snaut.
sereias que não entoavam canto algum?
Diante do espelho, o inconsciente – “Ferida narcísica que
Depois de 2001: Uma Odisseia no Espaço, e da Apollo 11 ater- nos causou Freud quando expulsou a consciência humana
rissar na Lua, eis que Andrei Tarkovski, de pés plantados em de sua posição central”9.
solo soviético, nos levou para orbitar a gelatinosa e oceânica
paisagem de Solaris7, o crepúsculo do sonho de Kubrick. Sonho, delírio, alucinação, realidade?

Solaris, monstro pensante. “Estou ficando louco?”, se pergunta Chris Kelvin, o psicó-
Incapturável e inescrutável.8 logo-cosmonauta.

Uma estação orbital para abrigar a arrogância e a soberba humana. Não sabemos e nunca saberemos10
Habitamos a experiência do limite do pensamento diante
da alteridade radical. Um planeta, uma estação espacial, cobertos por uma enti-
dade-oceano, feito fogo purpúreo e mistério.

iniciais do filme têm apenas uma tela preta e a música György Ligeti- “[...] nunca saberei como você vê o vermelho e você nunca
-Overture Atmosphères. Para a história do processo de construção do
roteiro, dos cenários e das filmagens do filme, ver Benson, Michael.
2001: Uma Odisseia no Espaço: Stanley Kubrick, Arthur C. Clarke e a 9 Latour, Bruno. Diante de Gaia: oito conferências sobre a natureza
criação de uma obra-prima. São Paulo: Todavia, 2018. no antropoceno. São Paulo/Rio de Janeiro: Ubu Editora/Ateliê de
6 Detienne, M. & Vernant, J-P. (2008) Mêtis: as astúcias da inteligência, Humanidades Editorial, 2020, p. 133-134.
São Paulo. 10 Parafraseando a expressão ignoramus et ignorabimus, elaborada pelo
7 Solaris. Andrei Tarkovski. União Soviética, 1972, 167’. fisiologista alemão Emil du Bois-Reymond na sua obra Über die Gren-
8 Stanislaw Lem. Solaris. Tradução Eneida Favre. São Paulo: Editora zen des Naturerkennens de 1872, acerca dos limites do conhecimento
Aleph, 2021. científico.

280 281
saberá como eu o vejo [...]” fêmea, morena, erótica.
no entanto, “negar a existência do vermelho é como negar
a existência do mistério [...]”11 Terra como exterioridade absoluta
Terra como interioridade comovente
Mistério azul
Terra para o pé, firmeza?
“Vejo a Terra. Ela é azul”
Foi com os pés enfiados na lama do mangue que Josué de
O áudio-retrato nos chegou em 1961, via transmissão ra- Castro se embrenhou, ainda menino, em uma odisseia
diofônica, na voz fragmentada do cosmonauta Iuri Gagarin, pelos alagados, as baixadas, as planícies inundáveis que
primeiro ser humano a orbitar a Terra. margeiam os rios-irmãos – Capibaribe e Beberibe. Ao final
da expedição nos narrou, entre maravilhado e orgulhoso,
“Mistério coberto de nuvens [...] 12 todo nascimento da cidade de Recife como “uma obra ci-
Ninguém supõe a morena clópica dos mangues”.13
Dentro da estrela azulada”
Mangue. Estranha vegetação, mistura incerta de terra e água,
Nos cantou, da cela de uma cadeia, o terráqueo Caetano Veloso, cresce em uma terra frouxa, constantemente alagada. Sua
“quando viu, pela primeira vez, as tais fotografias” ... firmeza vem do entrelaçamento amoroso de suas raízes e
da dança promíscua que faz ora com as marés, ora com os
Completamente enfeitiçado, ele a canta viva, encarnada, ventos alísios.14

Oceano de lama, monstro negro pensante, Solaris anfíbio.


11 Carson, Anne. Autobiografia do vermelho. São Paulo: Editora 34, 2021. Em movimento inverso ao de seu parente cósmico, fez para
p. 128 e 129.
12 TERRA. [Compositor e intérprete]: Caetano Veloso. In: Muito (Dentro
da estrela azulada). [S.l]: Universal Music Group, 1978. 1 CD, faixa 1. 13 Castro, Josué de. Homens e Caranguejos. São Paulo: Editora Brasiliense,
Sobre o contexto de criação da composição, ver VELOSO, Caetano. 1967, p.14.
Verdade Tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. 14 Ibid.

282 283
si um ser humano à sua imagem e semelhança: o homem E foi por se saberem roubados e expropriados que – qua-
caranguejo. renta anos antes dos versos de Chico Science serem escri-
tos – camponeses do nordeste úmido, na zona da mata
“Seres anfíbios - habitantes da terra e da água, meio homens pernambucana, começaram a se organizar.
e meio bichos. Alimentados na infância com caldo de ca-
ranguejo: este leite de lama. Seres humanos que se faziam É a história como sincronicidade. Aberta. Inconclusa.
assim irmãos de leite dos caranguejos. Que aprendiam a
engatinhar e a andar com os caranguejos da lama [...]”15 Com os pés vermelhos, fincados igual às pontas de cana-de-
e que dificilmente escapariam do Ciclo do Caranguejo, a -açúcar e às patas de bois no lamaçal massapê18, começaram
não ser “saltando para a morte e, assim, se afundando para o levante das ligas camponesas no Galileia, engenho de
sempre dentro da lama”16, também nos contou Josué de fogo morto.
Castro, entre revoltado e inconformado.
Movimento revolucionário para desorganizar a oligarquia
Quase trinta anos depois, atravessado por essa expedição, latifundiária extrativista da monocultura açucareira.
Chico Science, gabiru que virou entidade manguebeat,
cantou para Josué de Castro: Pernambuco, Paraíba, Alagoas.

“Posso sair daqui para me organizar Nordeste rural, terra vermelha, convulsionado, revoltado.
Posso sair daqui para desorganizar Nordeste bárbaro, de Zumbi e de Iniguaçu, se levanta novamente.
Da lama ao caos, do caos à lama
Um homem roubado nunca se engana”17 “A bandeira que adoramos
Não pode ser manchada
Pelo sangue de uma raça
Presa ao cabo da enxada”
15 Ibid., p. 12.
16 Ibid., p.13.
17 Da lama ao caos. [Compositor e intérprete]: Chico Science, Nação 18 Freyre, Gilberto. Nordeste: aspectos da influência da cana sobre a vida
Zumbi. In: Da lama ao caos. Rio de Janeiro: Chaos, 1994. 1 cd, faixa 7. e a paisagem no nordeste do Brasil. São Paulo: Global, 2004.

284 285
desarticulação, assassinatos.
[...] “Não queremos viver na escravidão
Nem deixar o campo onde nascemos “[...] Nunca esmoreci,
Pela terra, pela raiz, pelo pão nunca esqueci a luta
Companheiros, unidos venceremos!”19 A luta que não para.
A mesma necessidade de 64 está aí.
Entoavam, em coro, camponeses e operários no Recife de 1960. Ela não fugiu um, um, um milímetro.
Como extensão do corpo, foices, fogo, faixas e estandartes. A mesma necessidade está na fisionomia do operário e do
Che Guevara, Francisco Julião, João Pedro Teixeira, Gregório homem do campo.
Bezerra, Partido Comunista, Ligas Camponesas, Reforma A luta não pode parar.
Agrária. Era a tal da revolução. Enquanto existem fome e salário de miséria, o povo tem
que lutar.
Era a Recife de 1935. Recife da Intentona Comunista. Recife [...] É preciso mudar o regime, ter um regime do povo.
da Revolta Vermelha, que novamente se levantava20. Foi Que enquanto tiver esse regime, essa democracia, não [...]
por participar dessa revolta comunista que Osvaldo Cabral, Democracia sem liberdade,
meu avô, foi preso pela primeira vez. democracia com um salário de miséria,
democracia com o filho do operário, do camponês, sem
É a história como sincronicidade. aberta. inconclusa direito a estudar
[...] Não pode, ninguém pode.”21
Reação. 1964.
Golpe civil-militar. Apoio norte-americano. É Elizabeth Teixeira, revolucionária, militante combativa,
Prisões, torturas, cassações, clandestinidade, criminalização, perseguida pela ditadura, despedindo-se de Eduardo Cou-
tinho nas cenas finais de Cabra marcado para morrer, de
1981. É Elizabeth Teixeira, viúva de João Pedro, organizador
19 Verso do Hino camponês (Hino das Ligas Camponesas), Francisco
Julião e Geraldo Menucci, 1960.
20 Santiago, Vandeck. Pernambuco em chamas. A intervenção dos EUA 21 Elizabeth Teixeira em Cabra marcado para morrer, Eduardo Coutinho,
e o golpe de 1964. Recife: Cepe editora, 2016. 1981.

286 287
da Liga Camponesa de Sapé na Paraíba, assassinado pela 4. Das vistas e outras
oligarquia latifundiária na redemocratização. É Elizabeth
Teixeira, retomando a identidade e a voz. É Elizabeth Teixeira
elaborações dos viajantes
retomando a palavra: Luta. É Elizabeth Teixeira retomando
a revolução: É preciso mudar o regime, ter um regime do
povo. É Elizabeth Teixeira incendiando o tempo. É Elizabeth
Teixeira, terra vermelha, solo fértil da revolução.

É a história como sincronicidade. aberta. inconclusa


Pensar em com que prazer, com que deleite, os artistas de
Vagas promessas de um dia chegar ao porto. Vaga-mundo: poéticas nômades estiveram juntes, em
comunidade, em comunhão, e que agora compartilham
conosco tantos lugares onde nunca pisaram, nos faz pen-
sar no artista vaga-mundo como uma versão não heroica
de Odisseu. Enquanto aquele que, como Odisseu, carrega
em si o impulso de viagem, mas que deste se diferencia
na medida em que sua busca por experiências se constitui
como parte do impulso de construção de uma identidade
poética compartilhada e consentida.
Logo trata-se da construção de uma poética que se pauta
em experiências compartilhadas, mas não homogeneizadas;
em sentidos comuns, mas não necessariamente consensuais.
Que se propõe a um percepcionar o mundo em conexões
horizontais, não monetizadas e não instrumentalizadas.
Que imagina e reimagina permanentemente formas de
vida, de estar uns com os outros. Pensar o processo artístico
dessa forma é situar a arte como uma recusa às formas de

288 289
sociabilidade capitalista, pautadas na produção de valor, no mundo da vida, significa poder pensá-los como esforços
na forma mercadoria, no fetiche e na apatia narcísica22. para reimaginar, reencantar, reanimar o mundo. Ou seja,
Pensar no impulso de construção de uma identidade como proposições que recusam as forças racionalizantes
poética compartilhada é pensar a possibilidade de um fazer do projeto capitalista de desencantamento do mundo.
artístico que se dá desde, no e como encontro. Que privi- Considerar também que os trabalhos aqui apresentados
legia o estar em comunidade e o habitar o mundo da vida23, são formas artísticas decorrentes de experiências de vidas
duas dimensões político-afetivas do existir em relação que compartilhadas, durante a expedição de volta ao mundo,
o complexo internético do capitalismo 24/7 tanto trabalha entre artistas que também possuem uma relação de amizade,
para erodir24. É também pensar o fazer artístico como um nos autoriza a pensar que, nestes trabalhos, as forças dos
endereçamento amoroso ao mundo – o amor mundi de vínculos poéticos encontram correspondência na ideia de
que nos fala Hannah Arendt25. É pensar o fazer artístico amizades artísticas26.
compartilhado como um espaço de exterioridade genera- As amizades artísticas são uma forma de amizade que
tivo no qual os artistas estão comprometidos e assumem mais do que compartilhar uma ideologia da intimidade,
responsabilidades políticas, afetivas e artísticas pelo mundo. uma sociabilidade da interioridade e individualidade, uma
Considerar que os trabalhos aqui presentes se constituí- subjetividade voltada para si, performam uma forma-de-
ram na interdependência do estar em comunidade e do estar -vida exteriorizada e fundada no amor mundi arendtiano.
Desse modo, essas são amizades que endereçam ao mun-
22 Elena Pulcini. The Individual whitout Passions. Lanham: Lexington, do da vida novos gestos de imaginação artística e política27,
2012. que se efetivam por meio de uma sociabilidade exteriorizada
23 Edmund Husserl, A crise das ciências europeias e a fenomenologia consoante com a dimensão pública, política e criadora da
transcendental: uma introdução à filosofia fenomenológica [1936].
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.
24 Jonathan Crary. Terra arrasada: além da era digital, rumo ao mundo 26 Desenvolvi esse conceito em Jordão, Fabricia. Amizades substanciais,
pós-capitalista. São Paulo: Ubu Editora, 2023. afetos fundacionais: resistências e transformações na arte brasileira.
25 Ver ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo Art&Sensorium, Curitiba, v.8, n.2, p. 157– 168 Jul.- Dez. 2021
(Revisão de Adriano Correia). 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 27 O termo gesto, enquanto um conceito operativo, deve ser compreen-
2010. Ver ainda Nunes, Igor Vinicius Basílio. Amor mundi e espírito dido em consonância com a acepção agambiana. A esse respeito ver
revolucionário: Hannah Arendt entre política e ética. Cadernos de Agamben, Giorgio. Por uma ontologia e uma política do gesto. Caderno
Filosofia Alemã | v. 21; n. 3 | pp.67-78, Dez. 2016. de Leituras, n.76. Série Intempestiva. Chão de Feira.

290 291
arte. Isso significa dizer que nessas proposições, a amizade 5. Finisterra
ocupa o centro de uma política de transformação do mundo.
Isso também é recusar o projeto capitalista.
Pensar que os artistas do Vaga-mundo estão vinculados
a um grupo de estudos e a pesquisas de uma universidade
pública é pensar que os trabalhos aqui apresentados tam-
bém se afirmam como formas compartilhadas de produção
de conhecimento. Isso nos autoriza a situá-los como formas Essas são algumas elaborações que pude fazer como via-
de recusa à ideologia racionalizante, à mercantilização e à jante a partir do convite para compor com essa expedição.
monopolização do conhecimento que regem a economia E desde essa imensidão terrena azul oceânica posso
do conhecimento capitalista. contar algumas coisas que vi:

vi o mundo, ele começava no Recife vermelho28.

vi a alegria, a beleza e a força de um grupo de artistas que


diante da lógica narcísica capitalista, a qual individualiza
homogeneizando todos, procura construir uma comunidade
não homogeneizada, que enaltece a singularidade do outro,
não como uma diferença consumível, mas porque reconhece
que esta não é uma abstração, uma generalidade interna
ao indivíduo, mas, sim, uma construção que decorre da
relação com a exterioridade.
vi que a singularidade aqui é celebrada como um im-
pulso de viagem para o indeterminado e para o desconhe-

28 Cícero Dias. Eu vi o mundo...Ele começava no Recife, 1926.

292 293
cido. como uma forma de expedição à humanidade do
outro. como a possibilidade de instaurar uma forma de vida
compartilhada, em estado permanente de transformação.
como a única possibilidade de praticar a arte como pura
abertura geradora.
vi que os quatro pontos cardeais são três: o sul e o norte29.

29 Versos de Vicente Huidobro. Agradeço a Marilá Dardot por compar-


tilhá-los comigo.

294
Artistas, curadores e milhas

Raphael Fonseca
Convidado para escrever um texto a respeito das relações a
ideia de “volta ao mundo” e algumas experiências minhas
como curador, a primeira coisa que me veio à memória foi
um curador com bastante experiência com quem colaborei
por um período significativo em 2015. Discutindo sobre
nomes de artistas para um projeto, mostrei o trabalho de
uma artista jovem que, naquele momento, estava em plena
ascensão institucional. Ele me disse uma frase inesquecível:
“Não gosto do trabalho dela, essa é uma artista-milhas”.
Intrigado com essa observação, perguntei a ele o que exa-
tamente ele queria dizer e prontamente recebi a resposta:
“Ela viaja demais... ‘artista-milhas’ são esses artistas que
pulam de residência e residência. Parece que essas pessoas
só querem viajar e fazer arte vira uma desculpa para isso”.
Tenho a impressão de que não apenas a exposição ao
qual esse projeto se relaciona, mas o Grupo Vaga-Mundo
como um todo, são uma excelente provocação a esse irônico
conceito proferido de maneira tão direta por este curador.
Em lugar de se deslocar fisicamente pelo mundo por meio

297
de aviões, por que não pensar a noção de viagem dentro de Zoom e de um uso inteligente de ferramentas de pesquisa
uma cidade tão politicamente central e ao mesmo tempo como o Google e sites que são bancos de dados de artistas,
internacional como Brasília? Parece-me especialmente mas nada se compara ao privilégio do deslocamento físico.
curioso ver a realização da exposição após tanto tempo de Mesmo ciente do caráter pouco ecológico desse viajar – vide
seu planejamento inicial, justo em um momento que já tantas discussões recentes sobre as pegadas de carbono que
se considera “pós-pandêmico”; se há algo que a pandemia acompanham um número cada vez maior de aviões pelo
do covid-19 pode ensinar para um grupo privilegiado de ar –, quando se adentra um lugar não conhecido abre-se
pessoas, é que é mais do que possível dar muitas voltas um espaço para a surpresa e para uma sobreposição de
ao mundo do sofá de nossas casas e pelas telas de nossos tempos e situações que o clicar e o digitar não são passíveis
computadores. de comparação.
No que diz respeito a uma equação entre esse “vagar pelo Quando me refiro ao deslocar-se, ele não se dá apenas
mundo” e a curadoria, me parece importante lembrar que, internacionalmente. Gostaria de trazer para este texto uma
antes de tudo, toda pessoa que se diz curadora também é lembrança de minha infância sobre a importância do va-
espectadora. Se somos pesquisadores de artistas, imagens gar. Nascido e criado no sub-bairro da Taquara, no gigante
e contextos artísticos, deveríamos ter uma curiosidade bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, no primeiro ano de
que nos leva não apenas a visitar qualquer tipo de exposi- meu Ensino Médio meus pais efetivamente se divorciaram
ção, mas também a assistir uma ampla gama de filmes, a fisicamente – minha mãe seguiu na casa onde fui criado
se debruçar sobre diferentes tipos de escrita e mesmo se e meu pai se mudou para Copacabana, o icônico bairro na
entregar à escuta do mais variado no campo da música. Zona Sul da cidade. A cada quinze dias passava um final de
A curadoria, a meu ver, deveria ser um grande atestado semana com meu pai e isso me levou a, pela primeira vez,
de curiosidade – mesmo que essa possa ser direcionada não apenas me deslocar mais de metrô pela cidade, mas a
a tópicos específicos, curadores deveriam ser pequenas ter contato com uma cultura visual com a qual não tinha
esponjas que admitem suas ignorâncias e acolhem o até nenhuma intimidade.
então desconhecido. Lembro-me perfeitamente da sensação de, ao sair na
Neste sentido, como se deve imaginar, viajar desempe- estação Cardeal Arcoverde pela primeira vez, ficar choca-
nha um papel crucial. Sim, novamente, pode-se deslocar do com as muitas paredes coloridas que acompanhavam
por meio do uso de computadores, dos studio visits por o corpo dos passantes do metrô da plataforma até a rua

298 299
– mal sabia que se tratava de uma instalação de 1998 da espanto ao ver enormes chapas de aço que sugeriam for-
grande Amelia Toledo. Ao chegar no lado externo do metrô, mas de esferas. Fui me aproximando do centro de tamanha
a sensação de olhar para cima e sentir aquele cheiro do mar monumentalidade e, na ausência de qualquer identifica-
– uma experiência estésica bem diferentes das que eu tinha ção de autoria e título, fiquei ligeiramente ansioso – seria
em Jacarepaguá – marcou meu corpo para sempre. Tinha possível? Percorri o seu interior, tomei atenção às suas
consciência de que estava em um mundo que não era o texturas, notei a sua escala em relação ao corpo humano
meu e, pouco a pouco, criei intimidade com um bairro cujas e não resisti: comecei a tirar fotos com meu celular. Notei
histórias, paisagens e privilégios econômicos me fizeram que, ao lado dessas esculturas, havia uma série de lojas de
perceber que, sim, existem muitos Rios de Janeiro dentro do caríssimas grifes. O nome da Burberry foi o que mais ficou
Rio de Janeiro. Se essa experiência que me constitui como em minha memória.
viajante dentro da minha cidade natal foi divisora de águas, Após esse impacto inicial, fui ao Google e concluí o que
viagens de pesquisa curatorial são oportunidades únicas suspeitava – sim, se tratava de uma obra de Richard Serra
de termos uma sensação semelhante em cidades e bairros chamada Esferas inclinadas, de 2004. Rapidamente enviei
até então desconhecidos pelo curador-pesquisador-turista. imagens do trabalho para diversos amigos via Whatsapp e
Há algumas semanas, convidado a dar um workshop, pude um deles ironicamente comparou a escultura com a pre-
passar cerca de dez dias no Canadá. Diferente de outros lu- sença de obras de Romero Britto nos aeroportos brasileiros.
gares que sempre imprimiram sobre mim e grande parte da Independentemente de qualquer escala de comparação de
humanidade um efeito de imaginação e ansiedade – como, qualidades artísticas ou de importância para uma narrativa
por exemplo, Paris, Hong Kong ou Luxor, no Egito –, não nacional das artes visuais, não poderia crer que algum co-
possuía grandes expectativas a respeito de uma viagem ao lecionador – esse foi meu pensamento imediato – poderia
país mais acima da América do Norte. Uma vez lá, além do ter comprado uma obra da magnitude arquitetônica e peso
enorme aprendizado a respeito das várias culturas Inuit e institucional de Serra e tê-la levado para dentro de um
seus processos de institucionalização nas narrativas sobre espaço tão inóspito e de passagem como um aeroporto.
as artes visuais no Canadá, tive uma experiência extrema- Depois de pesquisar mais, descobri que estava comple-
mente inusitada em um clássico não-lugar: o aeroporto. tamente equivocado: em verdade, o projeto foi desenhado
No Aeroporto Internacional Pearson, em Toronto, logo por Serra especialmente para aquele lugar do aeroporto e,
após todas as checagens de segurança, qual não foi o meu devido à sua complexidade de instalação, a obra teve de ser

300 301
montada antes de toda a estrutura de consumo de luxo ao rados que nos imprimem marcas mais duradouras – assim
seu redor. Tinha aos meus olhos, portanto, aquilo do que como a primeira vez que senti o cheiro da maresia lá em
mais duvidei desde o início: um Richard Serra de aeroporto. Copacabana.
A sensação deste encontro foi muito semelhante àquela Vivas – mesmo que aquele tal curador nos odeie – aos
da passagem do meu corpo pela policromia escondida em artistas-milhas e curadores-milhas.
um metrô carioca feita por Amelia Toledo; na distância de
vinte anos entre as situações, ambas me ensinaram que o
nosso olhar para as imagens e, claro, para as artes visuais,
pode ser despertado nas situações mais banais e mais dis-
tantes dos anseios objetivos de se pesquisar um artista,
uma coleção e/ou as narrativas histórico-artísticas em
torno de um lugar. A sobreposição de materiais, tempos
e símbolos dada pela equação entre o que representavam
tanto Richard Serra quanto a ideia de aeroporto em meu
imaginário particular foi um desses encontros inesperados
que dão um pequeno e necessário curto-circuito intelectual.
Por que isso está ali? Mas, ao mesmo tempo, por que não?
Vagar o mundo é necessário – mesmo que esse ato de
viagem se dê a partir das muitas embaixadas distribuídas
por Brasília. Talvez seja justamente no ato de turismo em
torno de edifícios que, comumente, não são vistos como
marcos, e cuja relação com países que não são hegemônicos
nas nossas expectativas turísticas, que outros curtos-cir-
cuitos se sucedem. Assim, podemos dar prosseguimento à
maravilhosa prática de se estranhar as imagens e convidar
o público a nos acompanhar. Seja como artistas visuais,
seja como curadores, talvez sejam esses encontros inespe-

302 303
304
O grupo
Vaga-Mundo: poéticas nômades
Brasília, 2014

O Grupo de Pesquisa Vaga-Mundo: Poéticas Nômades (CNPq),


fundado em 2014 e coordenado pela Profa. Dra. Karina
Dias, reúne artistas-pesquisadores, ligados ao Instituto
de Artes da Universidade de Brasília. O que reúne o grupo
é o desejo de investigar as noções de viagem, horizonte,
paisagem, olhar, geopoética, escrita, processos e métodos
de produção poética, lugar e modos de imaginação, aliando
a prática artística, a reflexão teórica e a experiência em
espaços-extremos. Nossa intenção é construir uma poética
nômade surgida do movimento, de nossos deslocamentos a
partir de expedições artísticas em vários lugares do mundo.
Desse movimento surgem as coordenadas vaga: viagem,
exposição e escrita.

cargocollective.com/vaga-mundo

307
César Becker Íris Helena
Brasília, 1987 João Pessoa, 1987

César Becker é formado em Artes Visuais pela Universidade Iris é uma artista multidisciplinar licenciada em Artes
de Brasília. Mestre em Poéticas contemporâneas e doutor na Visuais pela Universidade Federal da Paraíba, Mestre em
linha de Deslocamentos e espacialidades pelo ppgav-UnB. Poéticas Contemporâneas e doutoranda em Deslocamentos
Atualmente é professor de escultura do Departamento de e Espacialidades em Arte Contemporânea pela Universidade
Artes Visuais da UnB - vis. de Brasília. Sua pesquisa caracteriza-se pela investigação
crítica, filosófica, estética e poética da paisagem urbana
@cesarfloresbecker a partir de uma abordagem dialógica entre a imagem da
cidade e as superfícies/suportes escolhidos para materia-
lizá-la. Os suportes precários e ordinários são muitas vezes
retirados de seu consumo cotidiano e possibilitam a (re)
construção da memória atrelada ao risco, a instabilidade, à
memória coletiva e sobretudo, ao desejo do apagamento. Iris
Helena é uma artista contemporânea atuante, ganhadora
de diversos prêmios na área como Prêmio foco Bradesco
2017, Prêmio pipa categoria Online 2018, Menção Honrosa
no II Prêmio edp Tomie Ohtake, entre outros. Participa de
exposições nacionais e internacionais desde 2008. Vive e
trabalha em Brasília (DF).

www.irishelena.net
@iris.helena

308 309
Gabriel Menezes Júlia Milward
Brasília, 1985 Rio de Janeiro, 1983

Designer e pesquisador em artes visuais. Mestre em Poéticas Autora-pesquisadora-educadora. Doutora em Artes Visuais
Contemporâneas pela Universidade de Brasília – UnB (2016) pela Universidade de Brasília [2021]. Mestre em Artes Visuais
e Bacharel em Desenho Industrial pela mesma instituição pela UnB [2014] e em Fotografia Contemporânea pela École
(2009), com intercâmbio de graduação na Universidade de Nationale Supérieure de la Photographie [2011]. Bacharel
Buenos Aires, Argentina. Atua na área de Programação Visual, em Artes Plásticas (opção Fotografia) pela Université Paris
com ênfase em projetos de Design Editorial e Identidade VIII [2008] e em Comunicação Social (opção Jornalismo)
Visual para eventos culturais e exposições nos principais pela Universidade Federal de Juiz de Fora [2007]. Atua na
centros culturais do Brasil. Participou das coletivas Grand- área de Artes Visuais, com ênfase em ensino e pesquisa
-tour (Alfinete Galeria, 2014), ilha (Elefante Centro Cultural, em Fotografia, História das Artes, Métodos e Processos de
2016), Espaços da Escrita (Galeria Ponto, 2017), O Olho e a criação. Sobre a pesquisa artística, explora outras formas
Rua e Dialogia em Cena (galeria Espaço Piloto, 2013 e 2014). de re-apresentação do fotográfico, propondo uma conversa
Em 2018, fundou o estúdio Molde.cc, onde desenvolveu entre a técnica da reprodutibilidade com a escrita, a per-
e participou de projetos selecionados no Latin American formance, a escultura e a instalação.
Design Award 2021, e premiados pelo Brasil Design Award
2020 e Clap Platinum 2020. www.juliamilward.com
@j.m.producoes
www.gabrielmenezes.com.br
@gabriel.b.menezes

310 311
Karina Dias Levi Orthof
Brasília, 1970 Rio de Janeiro, 1987

Artista visual e professora do Departamento de Artes Vi- Artista visual e professor. Doutor (2021) em Artes na linha
suais da Universidade de Brasília, atuando na graduação de pesquisa Deslocamentos e Espacialidades pela Univer-
e pós-graduação. Doutora em Artes pela Université Paris I sidade de Brasília (ppgav/UnB). Investiga sombras, cosmos,
– Panthéon Sorbonne. Pós-doutora em Poéticas Contempo- modos de navegação e a relação poética entre o pensamento
râneas (UnB). Trabalha com vídeo e intervenção urbana. É científico e artístico.
autora do livro: Entre visão e invisão: paisagem (por uma
experiência da paisagem no cotidiano). Desde o final dos www.leviorthof.com
anos 90, sua pesquisa está centrada nas poéticas da paisa- @levi_orthof
gem e da viagem, na geopoética, nos processos de produção
artística, no lugar e seus modos de imaginação.Coordena o
grupo de pesquisa vaga-mundo: poéticas nômades (CNPq).
Coordena também o Desloca - Laboratório da linha de
pesquisa Deslocamentos e Espacialidades - ppgav/UnB.

www.karinadias.net
@karinadias.paisagem

312 313
Luciana Paiva Ludmilla Alves
Brasília, 1982 Taguatinga, 1987

Luciana Paiva é artista, participa de exposições regulares Artista, pesquisadora e professora. Doutora em Deslocamen-
desde 2004 atuando também como professora e na orga- tos e Espacialidades e mestre em Poéticas Contemporâneas
nização e curadoria de eventos em arte. Bacharel em Artes pela Universidade de Brasília (PPGAV/UnB), com a tese Rotas,
Visuais, mestre em Poéticas Contemporâneas e doutora em Raízes e Devorações – re-voltar a pintura e outras histórias
Métodos e Processos em Arte pela Universidade de Brasília selvagens (2021), e a dissertação Noite Oblíqua (2016). Ba-
(ppgav/UnB). Desde 2017 integra o grupo de artistas vincu- charel em Comunicação Social (FAC/UnB). No ensino, atua
lados ao Pé Vermelho Espaço Contemporâneo em Planaltina nas áreas de teoria, história da arte, métodos e processos
– DF. Em 2011 cursou o Programa Aprofundamento da Escola de criação em arte contemporânea. Sua pesquisa prática
de Artes Visuais do Parque Lage e participou do Rumos de transita por transformações da matéria, gestos, natureza,
Artes Visuais 2011-2013. Foi uma das artistas selecionadas ficções, experiências com o tempo. Trabalha com as pos-
para o 29o Programa de Exposições do Centro Cultural São sibilidades de expansão do campo da pintura, em diálogo
Paulo apresentando a exposição individual Cidade Partida com proposições, escrita, intervenção, instalação, entre
(2019). Em 2022 realizou a exposição individual Ar-reverso outras linguagens. Expõe e publica regularmente desde 2013.
no Espaço Cultural Renato Russo em Brasília. Seu trabalho
lida com a visualidade e materialidade do texto, o uso de cargocollective.com/ludmillaalves
materiais impressos e elementos da escrita como matéria @ludmillaalvs
e procedimentos construtivos e desconstrutivos, tanto de
elementos visuais da paisagem urbana, quanto da organi-
zação dos códigos da escrita.

cargocollective.com/lupaiva
@luciana_paiva_

314 315
Luiz Olivieri Tatiana Terra
Brasília, 1980 Brasília, 1974

Bacharel em Artes Visuais, Mestre em Poéticas Contem- Artista visual nascida em Brasília/DF registra suas primeiras
porâneas e doutor em Métodos e Processos em Arte pelo obras formais - pinturas à óleo de paisagens - em 1986.
PPG-UnB. Artista-pesquisador integrante do grupo de pes- Da infância entre papéis, tintas e recortes às produções
quisa vaga-mundo: poéticas nômades. Trabalha com arte atuais, o caminho percorrido foi sempre entre os mundos
sonora, videoarte e escultura. Em 2017, realizou a exposição possíveis, pela percepção e criação de formas de existir.
individual “Espaço Ressonante”, na Alfinete Galeria, em Formada em Artes Plásticas (1997) e Doutora em Arte (2019)
Brasília. Participou de diversas exposições coletivas em pela Universidade de Brasília, apresentou seus trabalhos
espaços como Alfinete Galeria, Espaço Cultural Elefante, que permeiam o campo da paisagem entre temas que con-
Museu da República, Espaço Cultural Marcantonio Vilaça templam a arquitetura, as cidades, o horizonte e as coisas
e Espaço Piloto da UnB. Em 2016, foi selecionado para o em exposições no Brasil e no exterior, passando pela Itália,
I Prêmio Vera Brant e para o Prêmio Transborda, em Brasília. Estados Unidos, Espanha, Portugal, Grécia, França e Paraguai,
No exterior, participou da exposição Obranome no Mostei- neste último, selecionada para a II Bienal Internacional de
ro de Alcobaça, em Portugal. Recebeu o segundo lugar no Asunción 2017 (BIA) - “Significar lo imposible – Ikatu’yva
Salão de Arte Contemporânea do Iate Clube de Brasília. Em com exposição individual.
Gramado, recebeu o Kikito de melhor trilha sonora.
www.tatiterra.com
@luizolivieri_ @terratati

316 317
ISBN 978-65-994654-6-8

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Câmara Brasileira do Livro. São Paulo, Brasil

Lá, onde estiver: Vaga-mundo: poéticas nômades


Organização Júlia Milward, Karina Dias.
Brasília, DF: Tuîa Arte Produção, 2023.
Vários autores.
ISBN 978-65-994654-6-8

1. Brasília (DF) – Descrição


2. Descrição e viagens – Fotografias
3. Viagens – Narrativas pessoais
I. Milward, Júlia. II. Dias, Karina.

23-153351 CDD-910.4

Índices para catálogo sistemático: 1. Viagens: Narrativa pessoais 910.4


Henrique Ribeiro Soares (Bibliotecário) – CRB-8/9314
ISBN 978-65-994654-6-8

Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal.

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