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É impossível dissociar a imagem do palco com o tipo de música de quem está no palco. E é justamente no palco que
a indumentária é um importante aspecto da identidade de um artista. É no equilíbrio do som e da imagem que o rocks-
tar é um rockstar, que um jazzista é um jazzista, que um sambista é de fato um sambista e que tudo pode ser transfor-
mado, misturado e reprocessado. Fotografar é a oportunidade de documentar um segundo da vida. Quando estou em
campo, analisando o território do palco e do artista, em minha mente, nunca penso em ângulos, nem naquele instante
decisivo e tambem nunca conseguir ser aquele que busca a subjetividade no olhar fotográfico. Comecei a fotografar
concertos por acaso. Já estava a quase dez anos me dedicando aos textos e depois em dirigir documentários musicais
e meu único interesse nas fotos era apenas documental. E foi justamente por aí que entrei, pela vontade de documentar
os muitos aspectos da performance artística, ampliar a minha forma de ver aquele fenômeno cultural. Minhas fotos são
duras, documentais, mas nunca distantes da energia de quem se apresenta. Gosto do detalhe incomum no rosto, me in-
teresso em apresentar o que está em torno da cena, o contexto em que estamos vivendo aquela experiência musical,
muitas vezes minha cabeça passa longe de uma coisa do tipo uma bela foto de um artista. Embora também penso
muito no aspecto artístico, nestas fotografias há algumas experimentações destes momentos. A maioria destas fotos
fiz ou gravando os documentários, por meio da Maranhas Filmes, ou fazendo crítica para jornais de música ou mesmo
como contratado de um artista, acredito que trinta por cento destas fotografias eu estava naquele momento como fo-
tógrafo do artista, desempenhando um papel institucional, o que para mim é maravilhoso, me dá mais liberdade nas nar-
rativas e nas estéticas que quero seguir. Nestas fotografias de concertos abro o baú de inesquecíveis momentos, seja
com grandes estrelas mundiais ou como músicos em início de carreira, todos ligados pela vontade de se expressar por
meio de 12 notas. E eu lá perto clicando. As fotografias são de 2012 a 2019.
Yamandu Costa
Portugal, 2016
Jorge Palma
Portugal, 2015
Kraftwerk
Lisboa, Portugal, 2019
Desde que a música se tornou eletrônica e o mercado de artistas cada vez mais digitais, os Kraftwerk são os pilares do que
veio, do que se solidificou e do que está por vir. Com estas fotografias me permito colocar um check no quesito ''ver a monu-
mentalidade dos lendários Kraftwerk ao vivo'' da minha lista de coisas para fazer até o final da vida. E como se não bastasse
os três telões e as quase duas horas de concerto, tudo foi em 3D com os óculos da banda, quer dizer, além de criarem as
bases do passado, ainda estão afim de apontar para o futuro. Sacou? Não vamos esquecer que ano que vem a banda completa
50 anos. Lembrei das primeiras vezes que ouvi a sério os alemães da ''Usina de Energia'', isso foi na época do UnderLab que a
Quantik Djs fazia em Cuiabá. Entre uma fotografia e outra me veio uma lembrança engraçada, de quando o Astronauta Pinguim
mandou um e-mail me chamando para defender o contrabaixo no seu concerto, no MISC, durante a Convenção de Moda de
Cuiabá 2008. O Pinguim é um grande produtor e um ativo representante do MOOG no Brasil, além de um eficiente pesquisa-
dor das tralhas eletrônicas gravadas pelo mundo. Quando me mandou o set list foi uma loucura, me fez eu ouvir de tudo: Ner
Order, Devo, Pink Floyd na fase mais sintetizadora e umas boas do KRAFTWERK. Yes, yes! Na hora do show, com Rubão na
bateria, o deboche foi imenso, até Madonna rolou, Cyndi Lauper também, referências a Win Wenders e Natasha Kinski, lem-
bram da Natasha Kinski? A imagem do Pinguim (Fabricio Carvalho) feliz pulando de calça de oncinha fazendo o pessoal todo
pular junto, não esqueço. Depois voltei para a realidade e continuei a fotografar o concerto das lendas, foi no Edp Cool Jazz
Festival em Cascais essa semana, um convite especial de surpresa do meu amigo Gustavo. Só alegria!
Arthur Maia
Pernambuco Brasil 2013
Sting
Lisboa Portugal 2015
Rodrigo Amarante
Lisboa, 2016
Hélio Flanders
Lisboa, 2018
O último dia das tradicionais festas populares de
Lisboa foi também o último dia da seleção portu-
guesa no Mundial de Futebol. A Torre de Belém era
o campo de jogo e o público começou a chegar
assim que o juiz assoprou o apito final, uma hora
antes do espetáculo. Neste exato momento em que
escrevo, Gil está no backstage fazendo seu aqueci-
mento para entrar em palco: se alongou, preparou as
chuteiras e observou atentamente o início do con-
certo, onde no palco toda a banda já preparava a
festa para a sua chegada, capitaneados pela Mayra
Andrade, o sanfoneiro Mestrinho e um dos idealiza-
dores do projeto, o guitarrista Bem Gil. O golo que
ficou entalado no jogo de Portugal saiu forte e em
coro quando Gil entrou, todo de branco, ao som de
agogôs e com os braços aberto sob o Tejo. A mul-
tidão se espreitava e sacudia.
Edgar Valente
Lisboa, Portugal, 2019
Manel Cruz
Lisboa, Portugal, 2016
Marcelo Camelo Gilberto Gil
Lisboa, Portugal, 2015 Exu, Brasil, 2012
Yamandu Costa
Renato Borghetti
Lisboa, Portugal, 2015
Grupo Coral e Etnográfico
da Casa do Povo de Serpa
Lisboa, Portugal, 2016
Caetano Veloso e Gilberto Gil, Lisboa, Portugal, 2015
Paulo Novaes
Lisboa, Portugal, 2015
Carlos Garcia
Lisboa, Portugal, 2018
Benjamin Clementine
Lisboa, Portugal, 2015
Nazaré Pereira
Lisboa, Portugal, 2017
Sinto muita honra em ter feito esta fotografia desse senhor que faria hoje 79 anos. Era seu último concerto público,
meses antes de falecer e foi especialmente emocionante vê-lo vencer todas as dificuldades de uma saúde já frágil para
poder homenagear o seu grande mestre, Luiz Gonzaga, no dia de seu centenário, na cidade de Exú, Pernabuco, terra que
viu nascer o rei do baião. E a vida lhe deu este destino, de se apresentar pela última vez ''aos olhos'' daquele que tudo
lhe deu, de poder fechar sua contirna da vida onde tudo começou há cem anos. Inesquecível!
Terrakota
Fuseta, Portugal, 2016
Gilberto Gil, Mayra Andrade e Bem Gil Russell Mael e Alex Kapranos
Lisboa, Portugal, 2018 Lisboa, Portugal, 2015
Elba Ramalho
Lisboa, Portugal, 2018
Mancines
Lisboa, Portugal, 2015
Noel Ghallangher António Zambujo
Lisboa, Portugal, 2015 Lisboa, Portugal, 2015
Imaginem um grande muro de cimento chamado música
brasileira, Alceu Valença é um dos tijolos importantes que
reforçam esta estrutura. E sem nenhum medo de se rein-
ventar, desempenha esse papel há quase 50 anos com
ainda muito a dizer. As pessoas se espantam quando digo
que Alceu Valença tem dez concertos diferentes», disse o
Alceu homem, sobre o Alceu artista, explicando no palco a
sua inquietude mesmo depois dos 70 anos de vida. E con-
tinua: «É porque minha vida é tudo isso, uma hora eu sou
forró, outra baião, aí vem xote, frevo, maracatu, samba
meia bossa, depois sou carvanalesco, me adentro nas
toadas de boi, tudo isso com blues usando guitarra, ou
com orquestra, com trio, com banda de rock, e ainda
mais…», dizia de jeito elétrico, com a beleza de quem fala
sem pensar, para um Mercado da Ribeira lotado e animado
não só de brasileiros, mas também de muitos portugue-
ses.
O Grande Encontro
Lisboa, Portugal, 2018
Zeca Pagodinho
Lisboa, Portugal, 2016
Luca Argel
Lisboa, Portugal, 2019
Mestrinho
Lisboa, Portugal, 2018
Ivan Lins e Ana Lains
Lisboa, Portugal, 2015
Raquel Tavares
Lisboa, Portugal, 2015
Um registro engraçado do Blur em terras
portuguesas. Eu estava de cabeça baixa
ajustando alguma coisa no equipamento,
tentando aproveitar as famosas três
primeiras músicas permitidas pela produ-
ção aos fotógrafos e de repente o Damon
Albarn correu em minha direção, me
assustei, coloquei a câmera no rosto e fui
pegando o momento. Ele cantava enquan-
to quase subia em cima de mim para se
agarrar na grade na frente do público. Saí
de lá e corri para trás da arena, na ultima
cadeira da parte de cima e completei
fazendo algumas fotos do mais longe
onde era possível ver o concerto, e juntei
as duas: a mais perto possível junto com
a mais longe possível. Isso foi o Blur no
Super Bock Super Rock 2015, Lisboa.
Blur
Lisboa, Portugal, 2015
Miguel Kopke
Lisboa, Portugal, 2015
Zenilton
Exu, Brasil, 2012
Even Parker Luciano Magno
Lisboa, Portugal, 2016 Lisboa, Portugal, 2014
Lisboa, Portugal, 2015
Vasco Ribeiro Casais DUQUESA
Lisboa, Portugal, 2015 Lisboa, Portugal, 2015
Gilberto Gil
Lisboa, Portugal, 2015
Banda do Mar
Lisboa, Portugal, 2015
Luso Baião
Lisboa, Portugal, 2015
Criatura
Lisboa, Portugal, 2016
Anastácia Lisboa, Portugal, 2019
QUANDO O SOM É LUZ
DEWIS CALDAS
é jornalista, músico e documentarista,
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