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QUANDO O SOM É LUZ

a música e o equilíbrio da luz no palco

fotografias DEWIS CALDAS


QUANDO O SOM É LUZ
a música e o equilíbrio da luz no palco
QUANDO O SOM É LUZ

É impossível dissociar a imagem do palco com o tipo de música de quem está no palco. E é justamente no palco que
a indumentária é um importante aspecto da identidade de um artista. É no equilíbrio do som e da imagem que o rocks-
tar é um rockstar, que um jazzista é um jazzista, que um sambista é de fato um sambista e que tudo pode ser transfor-
mado, misturado e reprocessado. Fotografar é a oportunidade de documentar um segundo da vida. Quando estou em
campo, analisando o território do palco e do artista, em minha mente, nunca penso em ângulos, nem naquele instante
decisivo e tambem nunca conseguir ser aquele que busca a subjetividade no olhar fotográfico. Comecei a fotografar
concertos por acaso. Já estava a quase dez anos me dedicando aos textos e depois em dirigir documentários musicais
e meu único interesse nas fotos era apenas documental. E foi justamente por aí que entrei, pela vontade de documentar
os muitos aspectos da performance artística, ampliar a minha forma de ver aquele fenômeno cultural. Minhas fotos são
duras, documentais, mas nunca distantes da energia de quem se apresenta. Gosto do detalhe incomum no rosto, me in-
teresso em apresentar o que está em torno da cena, o contexto em que estamos vivendo aquela experiência musical,
muitas vezes minha cabeça passa longe de uma coisa do tipo uma bela foto de um artista. Embora também penso
muito no aspecto artístico, nestas fotografias há algumas experimentações destes momentos. A maioria destas fotos
fiz ou gravando os documentários, por meio da Maranhas Filmes, ou fazendo crítica para jornais de música ou mesmo
como contratado de um artista, acredito que trinta por cento destas fotografias eu estava naquele momento como fo-
tógrafo do artista, desempenhando um papel institucional, o que para mim é maravilhoso, me dá mais liberdade nas nar-
rativas e nas estéticas que quero seguir. Nestas fotografias de concertos abro o baú de inesquecíveis momentos, seja
com grandes estrelas mundiais ou como músicos em início de carreira, todos ligados pela vontade de se expressar por
meio de 12 notas. E eu lá perto clicando. As fotografias são de 2012 a 2019.
Yamandu Costa
Portugal, 2016

Jorge Palma
Portugal, 2015
Kraftwerk
Lisboa, Portugal, 2019

Desde que a música se tornou eletrônica e o mercado de artistas cada vez mais digitais, os Kraftwerk são os pilares do que
veio, do que se solidificou e do que está por vir. Com estas fotografias me permito colocar um check no quesito ''ver a monu-
mentalidade dos lendários Kraftwerk ao vivo'' da minha lista de coisas para fazer até o final da vida. E como se não bastasse
os três telões e as quase duas horas de concerto, tudo foi em 3D com os óculos da banda, quer dizer, além de criarem as
bases do passado, ainda estão afim de apontar para o futuro. Sacou? Não vamos esquecer que ano que vem a banda completa
50 anos. Lembrei das primeiras vezes que ouvi a sério os alemães da ''Usina de Energia'', isso foi na época do UnderLab que a
Quantik Djs fazia em Cuiabá. Entre uma fotografia e outra me veio uma lembrança engraçada, de quando o Astronauta Pinguim
mandou um e-mail me chamando para defender o contrabaixo no seu concerto, no MISC, durante a Convenção de Moda de
Cuiabá 2008. O Pinguim é um grande produtor e um ativo representante do MOOG no Brasil, além de um eficiente pesquisa-
dor das tralhas eletrônicas gravadas pelo mundo. Quando me mandou o set list foi uma loucura, me fez eu ouvir de tudo: Ner
Order, Devo, Pink Floyd na fase mais sintetizadora e umas boas do KRAFTWERK. Yes, yes! Na hora do show, com Rubão na
bateria, o deboche foi imenso, até Madonna rolou, Cyndi Lauper também, referências a Win Wenders e Natasha Kinski, lem-
bram da Natasha Kinski? A imagem do Pinguim (Fabricio Carvalho) feliz pulando de calça de oncinha fazendo o pessoal todo
pular junto, não esqueço. Depois voltei para a realidade e continuei a fotografar o concerto das lendas, foi no Edp Cool Jazz
Festival em Cascais essa semana, um convite especial de surpresa do meu amigo Gustavo. Só alegria!
Arthur Maia
Pernambuco Brasil 2013

Sting
Lisboa Portugal 2015
Rodrigo Amarante
Lisboa, 2016

Hélio Flanders
Lisboa, 2018
O último dia das tradicionais festas populares de
Lisboa foi também o último dia da seleção portu-
guesa no Mundial de Futebol. A Torre de Belém era
o campo de jogo e o público começou a chegar
assim que o juiz assoprou o apito final, uma hora
antes do espetáculo. Neste exato momento em que
escrevo, Gil está no backstage fazendo seu aqueci-
mento para entrar em palco: se alongou, preparou as
chuteiras e observou atentamente o início do con-
certo, onde no palco toda a banda já preparava a
festa para a sua chegada, capitaneados pela Mayra
Andrade, o sanfoneiro Mestrinho e um dos idealiza-
dores do projeto, o guitarrista Bem Gil. O golo que
ficou entalado no jogo de Portugal saiu forte e em
coro quando Gil entrou, todo de branco, ao som de
agogôs e com os braços aberto sob o Tejo. A mul-
tidão se espreitava e sacudia.

Poucas horas antes daquele momento apoteótico,


durante o jogo de Portugal x Uruguai, Gil acompa-
nhava tudo bem perto da televisão, comentava os
lances, batia palmas e ficou pensativo e calado nos
dez minutos finais do jogo a espera do golo portu-
guês. Após o apito final, não teve outra escolha, Gil
levantou-se, sacudiu a poeira e bola para a frente.
«Viva a seleção portuguesa, viva os meninos de
Portugal», disse já no palco, enquanto a festa acon-
tecia. E que festa diferente, com uma banda forma-
da por familiares e por amigos de infância dos filhos.
Quando Bem, filho de Gil, apresentava os integran-
tes, o que se ouvia naturalmente era, «esse é o meu
amigo de infância, esta outra é minha irmã, ali do
outro lado minha sobrinha…», e o patriarca Gil com-
pletou, em tom emocionado. «É bom ver as crian-
ças crescerem, novos rostos surgirem, filhos
nossos, de amigos, realmente a velhice compensa»,
o público gritava.
Durante o concerto percorri até o final o público
Essa questão familiar é o DNA deste projeto. inteiro. Vi pessoas chorando, outras caladas atentas
Nasceu com a ideia de celebrar esta importante fase aos detalhes e muita gente em grupo, vendo o con-
do Gil nos anos 70. Todo o disco foi tocado na certo em família. Cheguei perto de uma senhora, de
íntegra, com a adição de músicas gravadas na nome Lúcia, que estava com sua filha e neta. Ela
época, como continuou Bem, ao explicar os porquês ainda estava emocionada com a frase de Gil, sobre
e os contextos das músicas do pai. «Este concerto a velhice ter sua recompensa. «Vi dois concertos
tem, além de todo o Refavela (1977), muitas canções do Gil na vida, isso foi há mais de trinta anos, e hoje,
importantes deste período, e estamos aqui hoje com minha filha e neta, me sinto honrada por estar
para celebrar junto com vocês», dizia de forma aqui e agora, poder ouvir uma das músicas que mais
calma. E como um bom pai, Gil completava sempre. me acompanhou na vida, Sandra, hoje mostrei para
«Sim, quando os meninos vieram com essa ideia eu minha neta», falava ofegante, em tom de choro.
achei que era o momento de conectar o hoje, o Além de “Sandra”, outros grandes temas do imagi-
momento que estamos vivendo, com o que se vivia nário musical brasileiro surgiam, ”Aqui e Agora”, ”No
e sentia nessa época passada. E estamos aqui Norte da Saudade”, ”Three Little Birds” do Bob
recriando o disco e esta fase, dando novos sentidos Marley… Até acabar, em grande estilo, com ”Sítio do
aos temas musicais, e puxando um pouco desses Pica Pau Amarelo” em grande festa no palco e na
40 anos depois do disco», Gil falava e o público de- plateia. Viva o Brasil, Viva Gil. Viva o ontem e Viva o
lirava. hoje!
Gilberto Gil Refavela Lisboa, Portugal, 2018
Richard Bona
Montreau, Suíça, 2016

LIBE - Lisbon Buskers Ensemble


Lisboa, Portugal, 2018
ˆ
Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo Lisboa, Portugal, 2019
Cante Alentejano
Odemira, Portugal, 2015

Edgar Valente
Lisboa, Portugal, 2019

Lisboa, Portugal, 2015


Costa da Caparica
Portugal, 2015
Lisboa
Portugal, 2018

Malu Magalhães Bruno Massy


Lisboa, Portugal, 2015 Lisboa, Portugal, 2017
sala de casa e antes mesmo do primeiro ”boa noite” já
começa os versos “Minha Embaixada chegou / Meu
povo deixou passar / Ela agradece a licença / Que o
povo lhe deu para desacatar.” Era a caravana se insta-
lando bem ali, na frente de todos. A canção, escrita
por Assis Valente e cantada com grande sucesso pela
luso-brasileira Carmen Miranda não foi colocada ali por
ser óbvia, mas serviu como um prenúncio de um con-
certo a partir de uma carreira que se debruçou entre
fados, sambas e fonemas comuns e vulgares do
Br’asile e de Purtugali.

O público, como era de se esperar, não se controlava


na cadeira e começou a gritar alto antes mesmo do
Chico entrar, no momento que o locutor apresentou a
ficha técnica do espetáculo. A cada músico que era
pronunciado ouvia-se os gritos da torcida. Como
estamos a uma semana do Mundial de Futebol, des-
porto que Chico adora desde sempre, a leitura da
apresentação da equipa de músicos mais pareceu a
apresentação da equipa principal no estádio em dia
de grande final. Isso tudo era Chico Buarque e sua
íntima relação com o povo português, que remota
antes mesmo do 25 de Abril. A própria revolução dos
cravos, vivida por Chico, também foi cantada e lem-
brada durante todo o tempo, o público suspirava.

As canções de Chico pertencem à memória colectiva


do idioma português, isso explica facilmente porque,
em 2018, o músico carioca tenha lotado seis coliseus
(duas noites do Porto, e quatro em Lisboa). Mas é
preciso lembrar que isso não é de hoje. Há doze anos,
Chico Buarque Enquanto estou no saguão principal do Coliseu para em 2006, quando veio pela última vez tocar e cantar
por aqui, apresentando o até então recém lançado
assistir um concerto de um artista brasileiro, minha
Lisboa, Portugal, 2018 primeira dúvida é se há mais brasileiros ou portugue- disco “Carioca”, Chico lotou nove vezes o Coliseu
ses na grande fila de entrada. Esta questão é impor- (três concertos no Porto, uma apresentação no
tante. É neste momento que descobrimos duas parti- Casino de Espinhos e nada mais do que seis concer-
cularidades sobre o artista que vai se apresentar: Se tos em Lisboa). Isso é um feito que não é para qual-
há mais portugueses, quer dizer que o artista é muito quer Chico.
mais que o músico brasileiro, é um estandarte da
lusofonia, daqueles que tem uma obra que deixou de Além dos grandes músicos que pertencem a banda,
ser apenas em função da brasilidade, mas é sobretu- Chico ainda trouxe muito mais Brasil nas suas baga-
do dedicada ao idioma português e aos fonemas gens, trouxe Tom Jobim, Vinicius, Edu Lobo e ainda
lusófonos. Se há mais brasileiros, é porque o artista homenageou o grande sambista Wilson das Neves,
sobreviveu ao tempo e consegue representar o Brasil um grande companheiro de Chico, ”nas estradas, nos
no tempo de hoje e no imaginário coletivo dos camarins, na vida, nos bares, na alegria…” como ele
brazucas que vivem aqui. E ontem, a presença de mesmo disse ao lembrar do velho amigo. Das Neves
Francisco Buarque de Hollanda no palco provou estas faleceu ano passado. Ao final, depois de sucessivos
duas singularidades. clássicos da sua obra, Chico ainda deu seu beijo de
boa noite com uma das canções que representam
Quando as cortinas abriram, os aplausos, as batidas bem suas ”coisas portuguesas”. Entoou aos quatro
de pé e os gritos foram estrondosos. No meio das ventos “Tanto Mar”, feita sobre o 25 de abril e censu-
fortes ondas sonoras, surge um senhor de 73 anos, rada pelo governo brasileiro em 1975. O público não
andando devagar, rindo sem muito alarde, cumpri- conseguia sair do Coliseu. Era o cheirinho de alecrim
menta o público de forma calma, parece que está na que ninguém queria deixar de sentir.
Ron Mael
Lisboa, Portugal, 2015

Manel Cruz
Lisboa, Portugal, 2016
Marcelo Camelo Gilberto Gil
Lisboa, Portugal, 2015 Exu, Brasil, 2012
Yamandu Costa
Renato Borghetti
Lisboa, Portugal, 2015
Grupo Coral e Etnográfico
da Casa do Povo de Serpa
Lisboa, Portugal, 2016
Caetano Veloso e Gilberto Gil, Lisboa, Portugal, 2015
Paulo Novaes
Lisboa, Portugal, 2015

Carlos Garcia
Lisboa, Portugal, 2018
Benjamin Clementine
Lisboa, Portugal, 2015
Nazaré Pereira
Lisboa, Portugal, 2017
Sinto muita honra em ter feito esta fotografia desse senhor que faria hoje 79 anos. Era seu último concerto público,
meses antes de falecer e foi especialmente emocionante vê-lo vencer todas as dificuldades de uma saúde já frágil para
poder homenagear o seu grande mestre, Luiz Gonzaga, no dia de seu centenário, na cidade de Exú, Pernabuco, terra que
viu nascer o rei do baião. E a vida lhe deu este destino, de se apresentar pela última vez ''aos olhos'' daquele que tudo
lhe deu, de poder fechar sua contirna da vida onde tudo começou há cem anos. Inesquecível!

Dominguinhos Pernambuco, Lisboa, 2012


EMICIDA
Lisboa, Portugal, 2015
Karina Burh
Lisboa, Portugal, 2018
Desta vez quero começar a história pelo final. O público Caetano Veloso e filhos
está agora de pé, cantando e com os telemóveis na
mão, estamos no encore, Caetano Veloso começa a
Lisboa, Portugal, 2018
cantar ”Amar pelo Dois” e o Coliseu inteiro canta junto. É
interessante como esta canção tão portuguesa soa tão
brasileira, faz-me lembrar aquela sensação de brasilida-
de que sentimos no fado, ou aquele sabor europeu que
existe no samba, ou no choro. Talvez por isso que o
próprio Caetano, que nesta noite canta com os filhos,
tenha sido convidado para se apresentar na final do Fes-
tival da Eurovisão, ao lado do próprio Salvador Sobral. É
uma canção que não se limita ao grande oceano Atlânti-
co que separa os dois países irmãos. Esta sensação luso
brasileira esteve em todo o concerto, inclusive, foi
nesse dia em que o calor chegou a cidade.

Muito do que se escreve sobre este concerto e esta


tournée é narrativamente o aspecto de Caetano estar
em palco com os filhos e das vivências de um pai com
filhos de gerações diferentes. Mas o concerto é muito
mais que isso. Primeiro porque os rapazes são bons mú-
sicos e segundo, eles entendem o seu papel de filhos de
Caetano, netos de dona Canô. Mas entre eles, Caetano, o
filho de Dona Canô, é o que mais entende seu papel em
cima deste palco. Desde o início, quando a cortina se
levantou já estavam todos lá sentados, Caê começa a
falar ao microfone já de forma calma, como se estives-
se em casa.

De repente, não era mais o grande Caetano, mas um pai,


com toda insegurança que acompanha um pai, foi ao
longo do concerto apresentando os muitos aspectos
dos filhos, desde quando eram miúdos, das muitas
vidas que trocaram juntos, da religiosidade de todos e E quando falo desse ”universo” de Caetano, estou a falar «Todo este concerto e esta tournée é dedicada às
até mesmo das coisas que não gostam. «Ele não gosta de uma figura com alcance mundial e todas as coisas nossas mães, mas semana passada ocorreu um duro
de cantar, mas agora vai cantar sim», diz Caetano sobre que isso acarreta. Eles, os filhos, sempre com os olhos golpe.», Caetano fez questão de homenagear Hélio
Tom, que logo em seguida cantou ”Clarão”, de sua auto- direccionados e seguindo o raciocínio do pai, conse- Eichbauer, o cenógrafo que o acompanhou em muitas
ria. Ou então, mais tarde, quando ele disse, «Zeca não guem se impor enquanto estrutura musical e brilham tours e discos, além de um grande amigo. «Esta tournée
gosta de dançar mas ele não vai ser o único que não vai individualmente e juntos. Não posso deixar de mencio- é toda em homenagem a ele», finalizou. Algum tempo
dançar hoje aqui», e o papai só se aquietou quando viu nar o facto de Paula Lavigne, casada com Caetano há depois, Moderno, que contou a sua relação de trinta
o filho do meio dar alguns passinhos de samba para quase quarenta anos, mãe de Zeca e Tom, é a produtora anos com Hélio, que foi casado com sua mãe, Dedé Ga-
todos aplaudirem. Caetano completou, «é maravilhoso da tour e da carreira do marido, estando ali, próximo do delha, «Foi um grande homem, meu padrasto, que foi
estar aqui com meus filhos, Moreno tem quase 20 anos palco, acompanhando tudo com os olhos de mãe e de casado com minha mãe por trinta anos, até a semana
que toca, o Tom pouco mais de dois anos, eu toco há produtora, o papel dela é, embora não visto pelo públi- passada, onde veio a falecer», o tom de todos era triste.
já não sei quanto tempo e agora o Zeca, que é estrean- co, fundamental em todo a engrenagem que faz isto
te…», o orgulho do pai só era ofuscado pela vergonha tudo funcionar. Além dos inúmeros clássicos e algumas inéditas, a famí-
do filho, é aquela coisa que os pais pedem para nós lia veloso ainda reservou um lindo momento onde
fazermos na frente dos outros, é puramente um lindo A noite estava especialmente quente. As grandes portas Moreno canta “Noite de Santo António”, tendo Caetano e
momento. de fora do Coliseu estão abertas. As grandes janelas Tom ao violão. Depois de tudo, se abraçaram fraternal-
também. Os camarotes, lá em cima, quase todos com mente, bem colados, como pai e filhos, e se despedi-
É espantoso como eles são absolutamente naturais, portas abertas, e lá dentro, todo mundo se abanando. O ram. E os aplausos eram tantos e constantes que ainda
como que se a ideia fosse realmente não fazer disso um calor chegou de surpresa. Mas não tão de surpresa tiveram que voltar duas vezes durante o encore, nin-
projecto, uma carreira ou um business, mas realmente como a passagem deste concerto, confirmado há pelo guém queria deixar a família ir embora.
uma experiência de um pai que apresenta o seu universo menos cinco meses, tendo tempo para esgotar o
ao filhos. primeiro dia e preencher uma segunda data extra.
Quinteto Violado
Recife, Brasil, 2012

Terrakota
Fuseta, Portugal, 2016
Gilberto Gil, Mayra Andrade e Bem Gil Russell Mael e Alex Kapranos
Lisboa, Portugal, 2018 Lisboa, Portugal, 2015
Elba Ramalho
Lisboa, Portugal, 2018

Mancines
Lisboa, Portugal, 2015
Noel Ghallangher António Zambujo
Lisboa, Portugal, 2015 Lisboa, Portugal, 2015
Imaginem um grande muro de cimento chamado música
brasileira, Alceu Valença é um dos tijolos importantes que
reforçam esta estrutura. E sem nenhum medo de se rein-
ventar, desempenha esse papel há quase 50 anos com
ainda muito a dizer. As pessoas se espantam quando digo
que Alceu Valença tem dez concertos diferentes», disse o
Alceu homem, sobre o Alceu artista, explicando no palco a
sua inquietude mesmo depois dos 70 anos de vida. E con-
tinua: «É porque minha vida é tudo isso, uma hora eu sou
forró, outra baião, aí vem xote, frevo, maracatu, samba
meia bossa, depois sou carvanalesco, me adentro nas
toadas de boi, tudo isso com blues usando guitarra, ou
com orquestra, com trio, com banda de rock, e ainda
mais…», dizia de jeito elétrico, com a beleza de quem fala
sem pensar, para um Mercado da Ribeira lotado e animado
não só de brasileiros, mas também de muitos portugue-
ses.

Pelo menos quatro destes dez concertos foram apresen-


tados em Portugal nos últimos três anos, evidenciando
não só o carinho que Alceu usufrui nos corações lusos,
como também reforça a intensidade desta relação de dé-
cadas em que o artista caminha por aqui, culminando nos
quase dez anos que Alceu plantou morada na misteriosa
zona em redor do Castelo de São Jorge. É lá que o poeta
da música nordestina descansa e escreve sobre sua luso-
brasilidade. «Eu estava vendo as ruas daqui de Lisboa,
nessa atmosfera da chuva, e me veio esta canção», en-
quanto começa os versos de “Loa de Lisboa”: Chove
chove chuva fria/Chove na Cidade Alta/Chove sobre a
Mouraria/Chove na Cidade Baixa. Esta intrínseca relação
Alceu Valença
com a cidade de Lisboa foi a grande questão levantada Lisboa, Portugal, 2017
pela imprensa portuguesa na intensa “Semana Alceu” que
tivemos ao vê-lo constantemente em programas de Tv,
jornais impressos, rádios e pelas redes sociais.

O concerto “Forró Lunar”, que é o nome destas duas apre-


sentação de Alceu em Portugal (a segunda no Hard Club
no Porto) revelam toda a pluralidade estética do qual
Alceu amparou toda a sua discografia. É um concerto
onde apresenta o Brasil profundo, baseado na musicalida-
de proveniente das áreas rurais da região Nordeste. «Can-
ções inspiradas em cantos de trabalho, desenvolvidos nas
antigas lavouras de algodão, sob influência árabe e medi-
terrânea, que marcam a música e a cultura da chamada
civilização do couro», conta. Toda estas influências – jun-
tando às referências portuguesas – somaram-se aos clás-
sicos como “Vem Morena”, “Xote das Meninas”, “Olha pro
Céu”, “Asa Branca”, “Sabiá, Juazeiro”, “O Canto da Ema” e
ainda os grandes sucessos desta aventura musical que
Alceu se lançou desde 1971 como “Coração Bobo”, “Táxi
Lunar”, “Belle de Jour”, “Cabelo no Pente”, “Embolada do
Tempo”, “Solidão”, “Anunciação” e “Tropicana”. O público
não deixou passar uma música em branco, cantou e pulou
todas elas. Uma noite com sotaque brasileiro e sabor por-
tuguês, linda de se viver em pleno coração de Lisboa.
Boogarins Lisboa, Portugal, 2015
Martinália
Fuseta, Portugal, 2019
Ana Moura
Odemira, Portugal, 2015
SBTRKT
Lisboa, Portugal, 2015

O Grande Encontro
Lisboa, Portugal, 2018
Zeca Pagodinho
Lisboa, Portugal, 2016
Luca Argel
Lisboa, Portugal, 2019
Mestrinho
Lisboa, Portugal, 2018
Ivan Lins e Ana Lains
Lisboa, Portugal, 2015

Raquel Tavares
Lisboa, Portugal, 2015
Um registro engraçado do Blur em terras
portuguesas. Eu estava de cabeça baixa
ajustando alguma coisa no equipamento,
tentando aproveitar as famosas três
primeiras músicas permitidas pela produ-
ção aos fotógrafos e de repente o Damon
Albarn correu em minha direção, me
assustei, coloquei a câmera no rosto e fui
pegando o momento. Ele cantava enquan-
to quase subia em cima de mim para se
agarrar na grade na frente do público. Saí
de lá e corri para trás da arena, na ultima
cadeira da parte de cima e completei
fazendo algumas fotos do mais longe
onde era possível ver o concerto, e juntei
as duas: a mais perto possível junto com
a mais longe possível. Isso foi o Blur no
Super Bock Super Rock 2015, Lisboa.

Blur
Lisboa, Portugal, 2015
Miguel Kopke
Lisboa, Portugal, 2015

Carlinhos Sete Cordas


Lisboa, Portugal, 2015
João Gil Andre Rio
Lisboa, Portugal, 2015 Zurich, Suíça, 2016
Fernando Catatau Chambinho do Acordeon
Lisboa, Portugal, 2015 Exu, Brasil, 2012
The Drumms
Lisboa, Portugal, 2015

Cláudio César Ribeiro e Lilian Raquel


Porto, Portugal, 2018
Pedro Mestre
Lisboa, Portugal, 2015

Zenilton
Exu, Brasil, 2012
Even Parker Luciano Magno
Lisboa, Portugal, 2016 Lisboa, Portugal, 2014
Lisboa, Portugal, 2015
Vasco Ribeiro Casais DUQUESA
Lisboa, Portugal, 2015 Lisboa, Portugal, 2015
Gilberto Gil
Lisboa, Portugal, 2015

Banda do Mar
Lisboa, Portugal, 2015
Luso Baião
Lisboa, Portugal, 2015
Criatura
Lisboa, Portugal, 2016
Anastácia Lisboa, Portugal, 2019
QUANDO O SOM É LUZ

DEWIS CALDAS
é jornalista, músico e documentarista,
conheça a MaranhasFilmes.com

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