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Ao longo dos seus 78 anos, Reginaldo Souza, mais conhecido como Seu Regi ou Seu

Regi de Itapuã, criou centenas de músicas. Começou aos 13 anos de idade. Nas suas contas,
são mais de 300 composições. “A última vez que contei eram 319. Sempre fiz música
porque gosto. E encontrei pessoas que se juntaram comigo, parceiros de samba, e
acreditaram no meu trabalho”, diz Seu Regi, animado que o seu primeiro disco, Minha
Caminhada, chega ao mundo nesta terça, 31 de agosto, nas plataformas digitais.
O álbum tem produção executiva e idealização do jornalista e produtor cultural
André Carvalho e direção artística de Pedrão Abib (Grupo Botequim) e Amadeu Alves
(Ganhadeiras de Itapuã). O lançamento será celebrado com Seu Regi e os participantes do
projeto em live gratuita transmitida no canal É Samba da Bahia!, no YouTube, às 20h.
Em uma extensa caminhada de mais de 50 anos de trajetória musical, o samba é o fio
condutor. O gênero musical, aliás, era presença constante no seu espaço cultural, Rumo do
Vento, na Praça do Coreto, em Itapuã, onde ocorria todo mês, antes da pandemia, o saudoso
Samba da Resistência - em homenagem à resistência do espaço cultural que chegou a ser
demolido durante reforma no bairro e que, com forte mobilização da comunidade, foi
reconstruído. Diversos grupos locais, musicistas, sambistas, já passaram por lá.

Conexões
Entre as conexões tecidas em Itapuã, bairro onde vive desde 1973 e que, para o
artista, “é uma fonte muito grande de inspiração”, estão parcerias com as Ganhadeiras de
Itapuã, grupo do qual participou da fundação. “Fiz parte e tenho três músicas gravadas pelo
grupo”, conta, orgulhoso. Compositor de mão cheia, Seu Regi tem músicas gravadas por
artistas como Juliana Ribeiro, Margareth Menezes e o grupo Barlavento.
Em Minha Caminhada, Seu Regi passeia diversos ritmos nas treze faixas que dão
forma ao trabalho. Tem ciranda, maxixe, bolero, ijexá, baião e, evidentemente, o samba em
toda sua diversidade.
O disco também traz participações de vários artistas, como a cantora Juliana Ribeiro,
em Lição de Vida - abrindo o disco com um samba que já pode ser considerado um clássico
da música baiana -; Tonho Matéria, em Oração de Pescador; Roberto Ribeiro, em No Vai e
Vem da Maré; e Maria Pinheiro, em Pé de Juá, um maxixe. A gravação foi feita na Casa do
Músico, em Itapuã.
“O álbum foi feito em um ambiente familiar, todo mundo estava torcendo para dar
certo, todos que participaram procuraram ajudar. O meu negócio era compor e ver minhas
músicas cantadas por outras pessoas. E agora foi muito bom ver todo mundo se envolver no
álbum. Não esperava que ficasse tão bonito”, diz.

No clima da roda
Como numa roda de samba, o disco é conduzido pela voz de Seu Regi, mas sempre
acompanhada do coro, presente na maior parte das músicas. Nas letras, narra experiências e
compartilha conhecimento sobre a vida. Trata das puxadas de rede, das lavadeiras, do mar
do cotidiano em Itapuã em faixas como No Vai e Vem da Maré, Oração de Pescador e Festa
de Itapuã), recuperando temas presente na cultura popular e nas histórias do bairro.
Já no bolero, em clima da sofrência, É hora de falar de amor, apresenta suas visões
sobre o amor, vida e a sua própria trajetória, tal como no samba Aprendiz do Mundo, no
qual afirma: “Já não sou mais quem eu era / quem eu era já não sou / se eu mudei foi para
melhor / o mundo que me ensinou". Em Mestre, outro samba, recusa a alcunha que dá título
à faixa e afirma: “vivo a vida toda aprendendo a lição”.
O resultado de Minha Caminhada é primoroso. Os arranjos foram construídos pelos
diretos artísticos e musicais, Pedrão Abib e Amadeu Alves, em sintonia com a beleza que as
canções convocam. “Já conhecia Amadeu há muito tempo, aqui em Itapuã, participei das
Ganhadeiras. E Pedrão veio conversar comigo depois que me viu cantando. Fizemos nossa
amizade assim. Também são grandes parceiros de composição. Já André Carvalho é um
grande incentivador da cultura popular. São pessoas que têm me ajudado muito”, conta.
Para Pedrão Abib, professor, compositor e integrante do Grupo Botequim, Seu Regi é
um dos grandes cronistas de Itapuã. “O Seu Regi fala do seu lugar como ninguém e tem esse
reconhecimento. Ele é um narrador dessa cultura tão ancestral e tão profunda. Nós ficamos
muito felizes por ele ter depositado na gente essa confiança”.
Já o produtor André Carvalho conta que Seu Regi traz uma sabedoria da experiência
de vida, da simplicidade e da solidariedade: “Ele é um griô, um Caymmi do nosso tempo,
que conta as histórias da vivência, do cotidiano dele em Itapuã, em Salvador”, completa.

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