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FACULDADE CAMPO LIMPO PAULISTA

MARIO CEZAR ANDREOTTI (P4204)


RENATO CARDOSO (P4286)

Sizão Machado: a escola do contrabaixo brasileiro

Campo Limpo Paulista


2015
MARIO CEZAR ANDREOTTI (P4204)
RENATO CARDOSO (P4286)

Sizão Machado: a escola do contrabaixo brasileiro

Artigo apresentado a Faculdade Campo Limpo


Paulista como parte das exigências do Curso de
Pós-Graduação Lato Sensu em Música Popular
para obtenção do título de especialista sob a
orientação da Profa.Dra Liliana Harb Bollos.

Campo Limpo Paulista


2015
Sizão Machado: a escola do contrabaixo brasileiro

mcandreotti@uol.cm.br - Mario Cezar Andreotti


renatocardsobass@gmail.com- Renato Cardoso
Faculdade Campo Limpo Paulista

Resumo: Este artigo procura retratar a biografia do músico, contrabaixista Sizão Machado.
Momentos importantes de sua vida como seus primeiros contatos com a música, com músicos e
artistas o transformaram em um contrabaixista de primeira linha. O artigo também mostra como ele
transformou seus conhecimentos práticos na sua carreira como educador. Além disso, contém
exemplos musicais extraídos de seu material editado.

Palavras-chave: Contrabaixo. Sizão Machado. Levadas. Música Brasileira.

1. INTRODUÇÃO

Fernando de Jesus Machado, no meio musical conhecido como Sizão


Machado, é um dos principais contrabaixistas brasileiros que atuou com artistas
como Elis Regina, Djavan, Joyce Moreno, Dori Caymmi entre outros. Ele deixou sua
assinatura em todos os trabalhos que fez ao longo de sua carreira. Desenvolveu um
estilo próprio através de sua concepção rítmica melódica nos acompanhamentos.
Este artigo fala sobre o desenvolvimento de sua carreira, desde o despertar de seu
interesse pela música, ainda na infância, até tocar com diversos artistas da MPB e
do cenário internacional, como por exemplo Chet Baker, trompetista e cantor de
jazz. A experiência adquirida através dos anos resultou em 2 CDs solos, onde além
de instrumentista validou também seu lado como arranjador e compositor.
O conhecimento técnico do instrumento, a visão harmônica e o domínio
de diversos estilos fazem com que Sizão Machado, hoje também trabalhando na
área da educação como professor de contrabaixo e de prática de grupo, consiga
transmitir tais informações com muita propriedade e seriedade, contribuindo dessa
maneira, eficazmente, na formação de novos músicos. Sua forma de criar as
conduções e também sua maneira de transmitir seu conhecimento aos alunos serão
brevemente exploradas neste texto.
O objetivo deste artigo é abordar a carreira de Sizão Machado no aspecto
biográfico, como a música passou a fazer parte de sua vida; sob o aspecto do
educador como se tornou professor de contrabaixo e de prática de grupo; e a
respeito da sua performance, como se tornou um exímio contrabaixista tanto
nacional como internacionalmente, elevando assim a importância de sua figura na
música popular brasileira e sua inquestionável contribuição à sua qualidade.

2. SIZÃO MACHADO: O CRIADOR DE UMA LINGUAGEM MUSICAL

Nascido em 1954, Sizão Machado teve na infância o avô materno como


seu primeiro incentivador. O avô, flautista, tocava em uma orquestra de amadores
que ensaiava aos sábados. O garoto o acompanhava e ficava ouvindo os sons e
absorvendo naturalmente, através dos ensaios, o repertório orquestral clássico.
Também às sextas-feiras aconteciam saraus e roda de choro na casa do
avô, onde morava com seus pais. Nessas ocasiões ele ouvia um repertório de
música brasileira tradicional como sambas, choros da década dos anos 20, 30 com a
participação de grandes músicos dessa época, como por exemplo “Os Titulares do
Ritmo”, enriquecendo assim, quase que de forma lúdica, seu universo musical.
Aos seis anos iniciou seus estudos de piano, que se prolongaram até
seus doze anos. Sobre isso, Sizão Machado disse “Fiquei de mal com o piano”
(MACHADO, 2015) argumentando que era difícil para ele aceitar o método de ensino
tradicional da professora.
Quando ganhou um violão do pai, ele começou a aprender a tocar o
instrumento observando alguns amigos. Pouco tempo depois, tornou-se o guitarrista
de um conjunto formado com os colegas de escola. Entre o intervalo das aulas eles
ensaiavam e logo passaram a se apresentar em festas, bailes na escola.
Como a música, cada vez mais, estava se tornando parte importante em
sua vida, entre os anos 1969 e 1970 Sizão Machado decidiu aprimorar-se. Para isso
procurou o professor Ricardo Rizek, com quem teve aulas de percepção. Além de
continuar a ouvir rock, rock progressivo, pois era o que estava acostumado a tocar,
Ricardo Rizek o apresentou a outros estilos de música. Isto lhe despertou a vontade
de estudar violoncelo, porque pensava que assim conseguiria um emprego numa
orquestra. Ao conversar com Olivier Toni - na ocasião professor do departamento de
Música da ECA-USP, sobre a possibilidade de indicar-lhe um professor de
violoncelo, foi completamente desestimulado devido a sua idade (17 anos), mas
encorajado a estudar contrabaixo. Um aluno da própria USP começou a lhe dar
aulas.
Nessa época Sizão Machado tinha uma profissão paralela, desenhista
técnico. Determinado a seguir carreira na música, ele vendeu todo seu material de
trabalho e comprou um contrabaixo acústico, além de já ter em mãos um baixo
elétrico emprestado. Isto lhe proporcionou dominar gradualmente os instrumentos.
Gerson Frutuoso, grande contrabaixista, assistiu Sizão Machado e
perguntou se ele gostaria de ter aulas com ele. Como suas aulas com o outro
professor não eram constantes, ele aceitou de bom grado o convite. Durante dois
anos estudou com Gerson Frutuoso no CLAM (Centro Livre de Estudos Musicais)
escola fundada pelo grupo instrumental Zimbo Trio.
Foi um período de muitas e variadas oportunidades. Sizão Machado fazia
parte, já como contrabaixista, do Grupo Macuco. Esse grupo, juntamente com o
Grupo Raízes e o Grupo Tarancon fundaram uma cooperativa. Reunidos,
conseguiram aprovar um projeto pela Secretaria de Cultura, o que abriu as portas
para muitos shows.
Paralelamente, ele tocava na peça teatral Gota D’Agua. Havia ainda outro
grupo do qual participava, o Platô Esse conjunto tinha uma proposta mais voltada ao
fusion brasileiro, influenciados pela música de Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti,
Quarteto Novo e Airton Moreira.
Certo dia Sizão Machado recebeu um convite para tocar. César Camargo
Mariano e sua equipe eram os responsáveis por toda organização. A pessoa que lhe
fez o convite para participar desse projeto, o baterista Dudu Portes, já tinha assistido
Sizão Machado com o grupo Platô. Sem que ele soubesse, sua performance estava
sendo avaliada para a escolha de um novo baixista para o próximo show que Elis
Regina e César Camargo Mariano estavam preparando. E foi assim que, aos 22
anos, Sizão Machado foi convidado para tocar no show “Transversal do Tempo”, que
fez turnê pelo Brasil e Europa.
Na volta da turnê, o show ficou em cartaz durante aproximadamente seis
meses no Rio de Janeiro. Segundo ele, um dos motivos que o ajudou a conseguir
esse trabalho foi por ouvir muito o baixista Luizão Maia, que já havia tocado com
Elis, e estudar as linhas gravadas por ele. Através desse estudo e observação
familiarizou-se com o estilo adotado e o repertório cantado por Elis Regina.
No decorrer dessa temporada no Rio, Sizão Machado foi apresentado a
Luizão Maia, e ambos tornaram-se amigos. Luizão Maia passou a indicá-lo para
muitos trabalhos: gravações, shows, incluindo uma turnê com o cantor e compositor
Djavan. Em nossa entrevista, Sizão Machado afirmou “Luizão me colocou na cara do
gol várias vezes” (MACHADO, 2015). A maioria dos contatos estabelecidos nesse
período, diz ele foram facilitados pelo fato de estar tocando com Elis Regina e Cesar
Camargo Mariano.
Com o passar dos anos, Sizão Machado passou a ser um contrabaixista
reconhecido nacional e internacionalmente em virtude de suas grandes atuações ao
lado de Elis Regina, Cesar Camargo Mariano, Chet Baker, Herbie Mann, Jim Hall,
Chico Buarque, Dori Caymmi, Djavan, Milton Nascimento, Dionne Warwick, Ivan
Lins, Joyce, Guilherme Vergueiro, Flora Purim & Airton Moreira, Roberto Menescal,
Noite Ilustrada, Jean & Paulo Garfunkel, Família Jobim, Paulo César Pinheiro,
Heraldo do Monte, Paul Winter, Hendrick Merkins e muitos outros, imprimindo
sempre sua marca, seu estilo próprio de criar suas linhas de contrabaixo.
Sizão Machado participou da gravação de mais de uma centena de discos
com os mais variados artistas, brasileiros e internacionais. O CD Worlds Together,
com os saxofonistas Jerry Bergonzi e Billy Pierce, o baterista Bob Kaufman e o
guitarrista Lupa Santiago, com quem fez shows em Boston, nos EUA. Participou do
Festival de Spoletto, em Charleston, na Carolina do Sul e gravou o trabalho do
saxofonista Paul Winter, o CD Crestone, ganhador do Grammy de melhor álbum,
categoria New Age de 2008. Foi Sizão Machado quem gravou o contrabaixo elétrico
e acústico de todas as faixas do álbum Randy in Brasil, do trompetista Randy
Brecker, produzido pelo maestro Ruriá Duprat, ganhador do Grammy 2009, na
categoria Contemporary Jazz. Em 2008 participou das gravações dos CDs do Regra
de Três – ao lado de Lupa Santiago e Bob Wyatt –, do CD Lumina – com Fábio
Fernandes e Johny Murata –, do trabalho do violonista Alessandro Penezzi, dos
shows de lançamento do CD do pianista cubano Yaniel Matos, do sambista Wilson
das Neves e do renomado guitarrista Heraldo do Monte.
Ressaltamos os dois trabalhos que levam o nome de Sizão Machado: o
seu primeiro CD intitulado Quinto Elemento, que começou a ser gravado em 1990 e
lançado somente em 2001. Sobre ele, Sizão Machado esclarece “Eu não tinha
elaborado esse disco. Só sabia que precisava gravar porque todo mundo gravava e
eu também tinha que ter um disco” (MACHADO, 2015).
Figura1 – Capa do CD

Em 1990, a oportunidade surgiu inesperadamente quando estava tocando


no Rio de Janeiro. Um amigo lhe ofereceu algumas horas em seu estúdio. Como
primeira faixa a ser gravada, Sizão Machado escolheu uma música de Léa Freire e
Joyce Moreno, “Vatapá”. Convidou alguns amigos e foi para o estúdio, onde
ensaiaram e gravaram a música. Nessa gravação, ele destaca um solo do
saxofonista Ion Muniz, assegura que é maravilhoso e que vale a pena ser transcrito.
Também ressalta que nessa mesma música Luizão Maia tocou a primeira metade e
ele da segunda metade para o fim.
Em 1992 gravou em São Paulo a segunda faixa de seu disco, a música
Anu Preto, de sua autoria. Gravaram a base, os metais, fizeram a mixagem e
masterizaram no mesmo dia. A partir de então, começou a pensar mais no projeto.
Ele conta que algumas pessoas lhe diziam que o disco não teria unidade por ser
gravado dessa forma, mas era somente desse modo que ele podia fazer na época,
já que precisava dividir-se entre a gravação e diversos e constantes trabalhos.
Outra faixa que ele destaca é uma composição de Moacir Santos. Sizão
Machado estava em Los Angeles e teve a oportunidade de passar um dia ao lado do
maestro. Aproveitou para pedir-lhe uma composição inédita e o maestro respondeu
que estava compondo, mas que a música ainda não estava terminada. Naquele
mesmo dia Moacir Santos a terminou e a entregou para Sizão. Esta música chama-
se “Stanats”. Isto aconteceu uma década antes do lançamento do CD Quinto
Elemento, que ocorreu em 2001.
Em 2014 Sizão Machado lançou Bênção, seu segundo CD, uma
homenagem ao Maestro Moacir Santos.

Figura 2 - Capa do CD

No seu site pessoal há uma breve explicação sobre o CD Benção: “Para


esse álbum Sizão planejou uma formação inédita e fez os arranjos da maioria das
composições. A gravação do CD traz ainda o diferencial de ter o compromisso com
o áudio direto, puro, não editado, sem overdubs, onde a sonoridade acústica e o
ambiente natural estão preservados, mostrando a espontaneidade e a criatividade
de cada músico em seu instrumento” (MACHADO, 205.).
A influência de Moacir Santos é predominante na distinção de Sizão
Machado como compositor e também como arranjador.

3. EDUCADOR

Na entrevista que fizemos com Sizão Machado, quando perguntamos a


respeito de sua carreira como educador, ele revelou que iniciou como professor por
acaso, por necessidade. Estava sem trabalho, sem perspectiva, então preparou uns
panfletos oferecendo aulas de contrabaixo e distribuiu em lugares estratégicos,
como lojas de instrumentos, e assim começaram a surgir alunos. Porém, ele não
tinha ideia sobre como transformar sua experiência em conteúdo prático e também
como aplicá-lo.
Durante nossa entrevista comentamos que lemos no site da Faculdade de
Música Souza Lima uma matéria escrita pelo produtor musical Homero Ferreira onde
ele inicia o texto dizendo “Artista autodidata, criador de uma linguagem musical
única...” (FERREIRA. Site Souza Lima.) Sizão Machado negou essa afirmação e
explicou que nem sempre temos as informações suficientes para conseguir resolver
todos os problemas musicais que surgem na prática. Por exemplo: quando se
deparava com uma música desconhecida, umas das formas que desenvolveu para
aprendê-la rapidamente e tocá-la quando não havia nenhuma partitura, foi pensar
em graus. Então, para ele, tudo era dó. Era dessa maneira que conseguia entender
as cadências e tocá-las em qualquer tom.
Mas ele também precisava encontrar uma fórmula para explicar tudo aos
alunos. Logo com o primeiro aluno, na estreia como professor, ele precisou
descobrir como fazê-lo entender o que tocava, pois não era um iniciante, atuava no
mercado. Diante disso, utilizou uma fórmula muito prática para ensinar a respirar
entre as notas, aprender a respeitar a função do instrumento, pensar na qualidade
das notas tocadas e não na quantidade. Para que o aluno entendesse esses
conceitos, juntos ouviram o disco de baladas de John Coltrane com Johnny
Hartman. Dali ele extraiu a lição e conseguiu com que o aluno entendesse o tema da
aula.
Sizão Machado conseguiu transformar o conhecimento adquirido durante
anos tocando com grandes artistas em material didático. Seus ensinamentos devem
ser levados muito a sério, pois poucos educadores têm a seriedade com a música
que ele possui, além de um lado prático, próprio de um profundo conhecedor do
assunto.
Ainda durante a entrevista, Sizão Machado citou uma frase dita para ele
por Moacir Santos: “Você quer estudar música? Você precisa ter rigor, respeito e
reverência com a música” (MACHADO, 2015).
Em 2010 foi lançado pela Editora Souza Lima, seu livro de cunho
didático, Contrabaixo Brasileiro.
Figura 3 - Capa do Livro

O livro traz transcrições de linha de contrabaixo executadas por ele, com


comentários esclarecedores sobre o conteúdo.
Atualmente Sizão Machado é professor de contrabaixo e de prática de
grupo na Faculdade de Música Souza Lima e também na Escola de Música do
Estado de São Paulo, onde leciona as mesmas matérias.

Muitos músicos, especialmente contrabaixistas, têm sido influenciados


pela sua música, incluindo os autores deste artigo, que a seguir falam sobre sua
experiência como aluno e colega de trabalho de Sizão Machado. Segue o
depoimento de Renato Cardoso:

Em 2006 estudei com Sizão Machado na Faculdade Souza


Lima. Pude perceber sua visão musical e seu ponto de vista
prático na aula de instrumento e prática de conjunto. Em suas
aulas ele aborda tópicos como estética, dinâmica e execução,
utilizando repertórios de compositores consagrados como Tom
Jobim, Moacir Santos, J.T. Meireles entre outros, possibilitando
ao aluno executar as composições em suas tonalidades
originais levando-o a adquirir conhecimento prático e elevando
seu rendimento. (CARDOSO, 2015).

Segue o depoimento do autor Mario Cezar Andreotti:

Trabalho com Sizão há quase 7 anos. Costumamos nos falar


semanalmente. Às vezes nos encontramos em situações fora
da escola, como por exemplo, para estudarmos juntos em sua
casa. O que sempre me surpreende é o fato de ele ser prático
para solucionar problemas inesperados no contrabaixo, sua
percepção de um arranjo. Ele tem muito conhecimento dos
estilos e também de repertório. Quando faço parte de uma
banca de avaliação nas provas de final de semestre, observo
como seus alunos absorvem esta forma prática de
aprendizado, através das transcrições feitas e tocando ao
mesmo tempo com o CD. Respeito muito Sizão Machado, seu
conhecimento abrangente e sua humildade. Salve Sizão
Machado! (ANDREOTTI, 2015).

4. ASPECTOS: ESTILO DE CONDUÇÃO

Quando decidiu que seria músico profissional, Sizão Machado pensou o


seguinte “Não posso recusar trabalho, não posso ter limitação técnica. Não posso
dizer que esse determinado tipo de som não é bom enquanto eu não experimentar.
Trabalho é dinheiro e eu vivo disso. Preciso estar preparado para encarar qualquer
trabalho que surgir”. (MACHADO, 2015).
Perguntamos a ele sobre as gravações da época que tocou com Djavan,
gravações essas que influenciaram muitos contrabaixistas. Ele contou que,
especificamente sobre o disco Seduzir, não houve cobrança para padronização do
som. Havia liberdade para produzir um som diferente de tudo o que era veiculado no
mercado. A banda, juntamente com Djavan, experimentava à vontade sonoridades
diferentes. Segundo ele, foi um processo tranquilo e agradável.
Sizão Machado também comentou que além de escutar Luizão Maia
ouvia Jaco Pastorius e Marcus Miller, que eram ícones do som de contrabaixo da
época. Foi desta forma que ele incorporou esses estilos à sua maneira de tocar. O
resultado são ótimas gravações, como por exemplo a música “Pedro Brasil” de
Djavan gravado no Disco Seduzir 2001.
A seguir apresentamos uma análise sobre a linha de contrabaixo gravada
e transcrita por Sizão Machado para a música “Peter B”, contida no livro Contrabaixo
Brasileiro, de sua autoria.
Na figura 4 Sizão Machado utilizou a técnica de harmônicos naturais. Os
harmônicos naturais são produzidos se colocando levemente, um dedo da mão
esquerda exatamente sobre o traste sem apertar a corda, em seguida tocando a
mesma corda com o indicador da mão direita próximo a ponte obtemos, então, o
harmônico.

Figura 4 - Transcrição Peter B.

Na introdução da música Peter B. Sizão Machado consegue trazer um


efeito muito interessante com harmônicos nos quatro primeiros compassos. O
primeiro harmônico acontece no primeiro compasso na nota sol, em seguida no final
do segundo compasso para o terceiro na nota ré e no quarto compasso na nota si.
Na figura 5, a seguir, Sizão Machado utiliza uma levada com elementos
de samba com o funk. O baixo e a bateria criam o contraste executando um Funk,
enquanto a percussão reforça o sentido samba gerando uma fusão.

Figura 5 - Transcrição Peter B.

Nos compassos 10 para 11, 12 para o 13, 14 para 15 e 15 para 16, Sizão
Machado utiliza antecipações das semicolcheias na mudança de cada acorde, uma
característica muito presente na maneira de tocar Samba Funk.
Na figura 6, a seguir, Sizão Machado aplica acordes no contrabaixo.
Utilizando intervalos de tônica e sétima menor. Segundo Sizão Machado, essa
maneira de tocar utilizando acordes, veio da influência do violão transposta para o
baixo.
Figura 6 – Transcrição Peter B.

No compasso 35 Sizão Machado utiliza intervalo harmônico de tônica e


sétima no acorde de sol menor e no compasso 36 substitui a tônica do acorde
dominante de dó com sétima, pelo sub V sol bemol utilizando também um intervalo
harmônico de tônica com sétima.
A figura 7, a seguir mostra, a aplicação de uma levada com pizzicato e
Slap. Nessa técnica segundo Sizão Machado, influenciado por Marcus Miller,
encontrou a sua própria forma para aplicar no samba, resguardando a puxada da
corda para embelezamentos estéticos sem exageros.

Figura 7 - Transcrição Peter B.

No compasso 53, 55 e 56 Sizão Machado aplica a técnica do Slap,


utilizando intervalos de tônica e oitava nos acordes FMA7, C6/9 e E7(#5). No
Compasso 54 Sizão Machado aplica uma frase cromática na mudança do acorde de
Bb7(9) para o acorde de C6/9.

5. CONCLUSÃO

Sizão Machado ficará marcado na história da música e do contrabaixo,


mostrando que técnica, bom gosto, respeito a si mesmo e a seus pares, com quem
divide o palco ou leciona, são juntos fatores muito importantes para atingir uma
carreira bem-sucedida.
Queremos destacar alguns pontos que pela nossa ótica são importantes:
A seção 3 deste artigo expõe um pouco a sua metodologia de ensino,
como desenvolveu sua maneira pessoal para dar aulas, aplicadas através de um
vasto repertório de maneira consistente e coerente devido à sua formação prática.
A seção 4 mostra uma pequena analise musical utilizando a música Peter
B. Essa partitura faz parte do livro editado pela editora Souza Lima. Um pouco do
conteúdo musical desenvolvido em sua carreira e transcrito para a forma de notas
musicais em poucas linhas pautadas, com breves comentários
Aos leigos, que este artigo possa mostrar a trajetória de um dos grandes
músicos brasileiros, que hoje é reconhecido internacionalmente. Aos músicos, que
seja um incentivo a continuar a pesquisa, para progressivamente adquirir condições
e acumular conteúdo para uma performance musical ampla, aproveitando a
oportunidade de se espelharem na trajetória de Sizão Machado,o que certamente
vai enriquecê-los musicalmente e contribuirá para uma música de qualidade.

REFERÊNCIAS

ANDREOTTI, Mario Cezar. Depoimento. 09/11/2015.

CARDOSO, Renato. Depoimento. 07/11/2015

MACHADO, Sizão. Contrabaixo Brasileiro. São Paulo: Editora Espaço Cultural


Souza Lima, 2010.

FERREIRA, Homero. Sizão Machado-baixo: A música gosta dele. Site Souza Lima.
<http://www.souzalima.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=55:si
zaomachado&catid=9&Itemid=543&lang=pt> Acesso em 20/10/15.

________. Benção. Sizão Machado (Contrabaixo), Nenê (Bateria), Joabe Reis


(Trombone), Josué dos Santos (Saxofone Soprano, Alto, Tenor, Baritono, Flautas
em Dó e Sol), Dudu Pontes (Bateria), Nailor Proveta (Clarinete), Arthur Decloedt
(Contrabaixo Acústico), Ivan Decloedt (Contrabaixo Acústico), Marinho Andreotti
(Contrabaixo Acústico). São Paulo: Tratore, 2014. CD.

________. Entrevista concedida aos autores Mario Cezar Andreotti e Renato


Cardoso em 05/11/2015. São Paulo. Gravação digital. Emesp-SP 2015. Parte 1
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Hu_9YZ0v5os&feature=youtu.be

________. Entrevista concedida aos autores Mario Cezar Andreotti e Renato


Cardoso em 05/11/2015. São Paulo. Gravação digital. Emesp-SP 2015. Parte 2
Disponivel em: https://www.youtube.com/watch?v=BLs4pUvvny4&feature=youtu.be
________. Entrevista concedida aos autores Mario Cezar Andreotti e Renato
Cardoso em 05/11/2015. São Paulo. Gravação digital. Emesp-SP 2015. Parte 3
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yc0W4hIyQW8&feature=youtu.be

________. Entrevista concedida aos autores Mario Cezar Andreotti e Renato


Cardoso em 05/11/2015. São Paulo. Gravação digital. Emesp-SP 2015. Parte 4
Disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=KMBKGhxSSPo&feature=youtu.be

________. Sizão Machado: biografia. Site Sizão Machado, 2015. Disponível em:
<http://www.sizaomachado.com.br/biografia.html>. Acesso em: 10 Nov 2015.

________. Quinto elemento. Sizão Machado (Contrabaixo, Violão), Luizão Maia


(Contrabaixo), Bruno Cardoso (Teclado), Pepe Cisneros (Piano, Teclado), Fernando
Moraes (Piano), Christianne Neves (Piano), Edson José Alves (Violão), Webster
Santos (Bandolim),Yamandú Costa (Violão 7 Cordas), Jayme Saraiva (Bandolim),
Cuca Teixeira (Bateria), Edu Ribeiro (Bateria), Wilson das Neves (Bateria), Edson
Ghilardi (Bateria, Percussão), José Carlos Silva (Bateria), Beto Angerosa
(Percussão), Pirulito (Percussão),Luiz Carlos Coelho Pinto (Percussão), François de
Lima (Trombone),Bocato (Trombone),NailorProveta (Saxofone Alto), David Richards
(Saxofone Tenor),Chico Oliveira (Flugelhorn), Daniel D’Alcântara (Trompete,
Flugelhorn),Luis Cabrera (Sax Tenor), Vitor Alcântara (Flauta, Saxofone Tenor, Alto),
Ion Muniz (Saxofone Tenor), Felipe Lamoglla Martins (Saxofone Tenor), Paulo
Garfunkel (Flauta, Voz), Francine Lobo (Voz). São Paulo: Rainbow Records, 2001.
CD.

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