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CAMINHO TRANQUILO?

Com histórico de títulos após ciclos conturbados, Seleção Brasileira chega à reta final da
preparação com experiência, novos ares e grandes números ao seu favor

Vinte anos após a conquista do penta, em 2002, começa hoje a última etapa da preparação do Brasil
para a Copa do Mundo do Qatar. O local exato é o Centro de Treinamento da Juventus, em Turim,
na Itália, onde a Seleção Brasileira vai treinar durante uma semana antes de embarcar em busca do
hexa no Qatar. A equipe da CBF e a comissão técnica estão, desde o final de semana, organizando
a recepção dos jogadores, que chegam hoje a Turim.

A Copa do Mundo do Qatar, inevitavelmente, será um marco na trajetória do Brasil nessas


competições. Se vencer, a Seleção conquista pela sexta vez a competição mais importante do
futebol e se isola, novamente, na liderança do ranking com mais títulos em copas. A Itália e a
Alemanha estão atualmente coladas, em segundo lugar, cada uma com quatro.

Por outro lado, se não for campeã, o futebol brasileiro voltará aos tempos mais difíceis de sua
história: 24 anos sem levantar a taça da Copa do Mundo. Isso ocorreu no intermédio de 1970 a
1994.

Nesse período, o Brasil amargou derrotas dolorosas. A maior delas foi em 1982. Com toda a
expectativa, a seleção comandada por Telê Santana, formada por Sócrates, Júnior, Falcão e Zico,
considerada, por muitos, a melhor de todos os tempos, foi eliminada para a Itália por 3 a 2 já na
segunda fase em uma espécie de quartas de finais da época.

Porém, na história, a repetição nunca ocorre da mesma maneira. Geralmente, há elementos comuns
que podem até levar a resultados parecidos ou mesmo iguais, mas o percurso é sempre diferente, já
que os participantes, aqueles que fazem a história, e o próprio contexto mudam. É preciso observar
as condições em que cada situação se estabelece.

Quando se trata de Copa do Mundo, uma regularidade marca a história brasileira. Nas últimas
décadas, as seleções mais criticadas pela torcida, às vezes com campanhas sofridas, aos trancos e
barrancos nas eliminatórias, e grandes instabilidades e mudanças, são aquelas que tiveram maior
sucesso.

Ao menos foi assim que ocorreu nas últimas duas conquistas, em 1994, quando a seleção não
apresentava um futebol tão criativo e gerava muita desconfiança dos torcedores, e em 2002, por
conta de uma pré-temporada conturbada.

Em 2002, por exemplo, Luiz Felipe Scolari tornou-se técnico apenas um ano antes do início da
competição. Naquele ciclo, Vanderlei Luxemburgo e Emerson Leão já tinham comandado o Brasil.
A equipe se classificou em terceiro lugar, no último jogo nas eliminatórias, com apenas três pontos
a menos do que Uruguai e Colômbia, que ficaram de fora. A participação de Ronaldo, artilheiro da
equipe, chegou a ser uma dúvida por conta das suas sucessivas lesões no joelho.
Renovação

Ao contrário de 1994 e 2002, a preparação da Seleção foi marcada pela tranquilidade e excelentes
números. Até mesmo as altas expectativas sobre Neymar, a tal da "Neymardependência", frequentes
nas análises da equipe nos últimos dois ciclos, colocando o foco no principal jogador do Brasil até
então, estão relativamente dissipadas neste período pré-Copa.

Outros atletas ganharam destaque merecido pelas atuações nos seus clubes, a exemplo de Vinicius
Júnior e Rodrygo, no Real Madrid, e Raphinha, atualmente no Barcelona. Sobre esse aspecto, Tite,
na entrevista coletiva após convocação, falou sobre a renovação do grupo.

“Uma seleção depende dos seus grandes atletas. Ela depende do Antony, do Raphinha, do Alisson,
do Neymar. Se não tivesse essa qualificação, não criaria uma expectativa maior. Talvez por essa
nova geração, principalmente do meio para frente, tenha sido dado enfoques a outros atletas. De
outros que estão aí aparecendo. A gente precisa de todos”, afirmou.

Nas eliminatórias, o Brasil fez grande campanha, 14 vitórias e 3 empates, terminou invicto e na
liderança. Já no ano passado, conquistou o bi olímpico. No ciclo como um todo, o aproveitamento
foi de 82%, com 38 vitórias, 9 empates e 3 derrotas.

Outro fator positivo é que o técnico Tite teve a oportunidade de ganhar mais experiência e fazer um
trabalho de longo prazo com a equipe. Afinal, são seis anos a frente da Seleção. Assumiu em 2016,
substituindo Dunga, dois anos antes da Copa do Mundo. Foi eliminado nas quartas de final pelo
timaço da Bélgica que contava com a habilidade do trio De Bruyne, Hazard e Lukaku e o paredão
do goleiro Courtois.

O técnico evita comparar a Seleção de 2018 com a atual. “Hoje é um processo inteiro de quatro
anos. É injusto fazer a comparação (com 2018). É outra situação. Aqueles dois anos contam a favor.
Agora, sim, chega com todo esse processo de trabalho muito mais tranquilo, muito mais em paz,
muito mais confiante, por esses quatro anos de trabalho associados àqueles dois. Sim, ela chega
mais forte, mais firme, mais consistente, para o mundial”, falou Tite.

De lá para cá, Tite mudou o jeito de jogar da Seleção, que atualmente tem uma característica mais
ofensiva, com uma média de idade no ataque de 24 anos, além da maior parte do elenco renovado.
Apenas 9 dos 26 jogadores convocados estiveram na Rússia em 2018.

No caso da Copa do Mundo do Qatar, a Seleção Brasileira continua entre as favoritas por conta do
futebol que vem apresentando e pela campanha nas eliminatórias. O que resta saber é se, diferentes
das duas últimas conquistas, esse histórico recente se traduzirá no tão esperado título. Que venha o
hexa.

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