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 ABERTURA

França, pela primeira vez


ZINEDINE ZIDANE
Exatos 20 anos depois de a Argentina conquistar seu
Desde Michel Platini a França não
primeiro título mundial, a Copa do Mundo conheceu tinha um jogador como o meia
outro campeão inédito. Zinedine Zidane.

Técnico e hábil, Zidane comandou


com muita inteligência o meio-
Reuters campo francês e garantiu o título
com exibição impecável contra o
Brasil.

Zidane começou a Copa de forma


discreta. Não apareceu muito;
jogava para o time e liderou a
França nas vitórias sobre a África
do Sul (3 a 0) e Arábia Saudita (4
a 0).

Contra os árabes, quase pôs tudo


a perder. Pisou em um adversário
caído no chão e foi expulso.
Acabou suspenso por dois jogos.
Jogadores da França Sem Zidane, a França quase caiu.

comemoram com Ainda pela primeira fase, sofreu


para vencer a Dinamarca (2 a 1).
a torcida em frente ao Arco do Nas oitavas, só bateu o Paraguai
Triunfo na prorrogação, com um sofrido
gol.
Jogando em casa, a França
levou a taça. E não deixou De volta nas quartas, deu
confiança ao time francês para
espaço para qualquer superar rivais mais fortes, como
Itália e Croácia.
contestação: chegou ao título
com a melhor defesa e o Especialista na armação das
jogadas ofensivas, Zidane marcou
melhor ataque, feito inédito na apenas dois gols durante a Copa,
história dos Mundiais. ambos de cabeça, ambos na final,
ambos contra o Brasil.

A Copa de 1998 foi a maior de


todas. Nada menos que 32
seleções disputaram o torneio,
tornando sua primeira fase
mais difícil. Seleções como a
da Espanha e a da Colômbia
foram embora mais cedo, já ao
fim da primeira fase.

Mas as principais candidatas ao


título, Brasil, Argentina,
França, Itália, Holanda e
Alemanha, não tiveram
grandes problemas para
avançar no torneio.

O destaque da primeira fase foi


a partida entre Irã e EUA, dois
países que têm uma relação
política conturbada. Não houve
hostilidade e violência. As duas
equipes atuaram limpo e
posaram para fotos juntas. Os
iranianos venceram por 2 a 1
e, mesmo eliminados, foram
recebidos como heróis em seu
país.

Número de
Participantes - 32
Jogos - 64
Gols - 171
Média de gols - 2,67
Sedes - Montpellier, Saint-
Denis, Paris, Bordeaux,
Marselha, Nantes, Lens,
Saint Etienne, Toulouse,
Auxerre, Lyon
Média de público -
43.366 pessoas
Artilheiro - Suker (CRO) -
6 gols
Campeão - França
Vice-campeão - Brasil
Terceiro colocado -
Croácia
Nas oitavas-de-final,
Argentina e Inglaterra
fizeram um dos melhores
jogos da Copa. Os ingleses
mostraram ao mundo o
futebol do jovem atacante
Michael Owen, mas, ao fim,
os argentinos levaram a
melhor na disputa de
pênaltis.

A surpresa foi a seleção da


Croácia. Disputando o
torneio pela primeira vez,
os croatas não se
intimidaram e chegaram ao
terceiro lugar. No caminho,
venceram rivais poderosos
como a Alemanha e a
Holanda. Além disso,
tiveram o artilheiro da
Copa: o atacante Davor
Suker, com seis gols
marcados.

Coube à França, anfitriã,


eliminar a Croácia, em uma
semifinal emocionante, com
dois gols de Thuram no
segundo tempo.

Na decisão, encontraram-se
as seleções que todos
esperavam ver: Brasil x
França. Defendendo o
título, o Brasil sofreu com o
episódio envolvendo
Ronaldo e uma convulsão
no dia da final.

Foram, no entanto, as
deficiências da equipe que
determinaram a derrota
para a França. Empurrados
pela torcida, os franceses
não deixaram escapar a
chance de ganhar um
Mundial. Com Zinedine
Zidane em um dia
inspirado, a França entrou
para o seleto grupo dos
campeões mundiais.

 CAMPEÃO

Show para francês ver


Voltando a disputar uma
Copa do Mundo depois de
12 anos, em casa, a França
finalmente deixou de ser a
seleção do "quase".

Arquivo Folha Imagem


Melhor ataque e melhor defesa
do torneio,
França conquista o seu
primeiro título
Em suas três melhores
participações em Mundiais, a
França foi eliminada nas
semifinais. Em 58, perdeu por
5 a 2 para o Brasil, que seria o
campeão. Com Michel Platini,
caiu duas vezes diante da
Alemanha, em 1982 e 1986.

Depois de nem passar pelas


eliminatórias para os torneios
de 1990 e 1994, os franceses
fizeram uma preparação
minunciosa para não
decepcionar a torcida jogando
em casa.

O trabalho do técnico Aimé


Jacquet deu tão certo que a
França acabou ficando com o
título. Exatos 20 anos depois
da conquista argentina, em
1978, a Copa do Mundo voltou
a ser vencida por uma seleção
que jamais havia sido campeã.
Outra coincidência: a mesma
Argentina havia sido a última
seleção a vencer um Mundial
jogando em casa.

Eleito o melhor jogador do


torneio, Zinedine Zidane foi o
retrato do time campeão
mundial. De origem argelina,
personificou o futebol sóbrio e
de alta qualidade técnica
praticado pela França durante
a Copa do Mundo.

Além dele, 12 jogadores da


seleção campeã eram de
origem estrangeira ou
nasceram no exterior.
No caminho rumo ao título, a
França derrubou três técnicos
brasileiros. O primeiro a cair foi
Carlos Alberto Parreira, da
Arábia Saudita, goleado por 4
a 0, na primeira fase.

Em seguida, os franceses
derrotaram na prorrogação, o
time de Paulo César
Carpegiani, então treinador do
Paraguai, em partida
emocionante válida pelas
oitavas-de-final.

Na grande decisão, nem


mesmo a tradição brasileira
assustou os franceses, que
superaram o Brasil de Mario
Jorge Lobo Zagallo, o único
homem a conquistar quatro
títulos mundiais.

Os gritos de "allez, les bleus!"


empurraram os comandados
de Aimé Jacquet para a vitória
mais importante da história do
futebol francês: um 3 a 0
incontestável sobre o Brasil,
com dois gols do carrasco
Zidane e um de Petit.

 CURIOSIDADES

Adeus às madeixas
O atacante argentino Gabriel
Batistuta teve que cortar os
longos cabelos para ir à Copa.
Tudo porque o técnico Daniel
Passarella não aceitava atletas
cabeludos na seleção
argentina.

Gol de ouro
O zagueiro francês Laurent
Blanc foi o autor do primeiro
"gol de ouro" da história das
Copas. Foi ele quem marcou o
gol da vitória da França nas
oitavas-de-final, sobre o
Paraguai, decretando a morte
súbita do adversário na
prorrogação.

Batigol
Com os três gols marcados na
goleada de 5 a 0 da Argentina
sobre a Jamaica, Gabriel
Batistuta tornou-se o primeiro
jogador a marcar três gols em
uma mesma partida em duas
Copas. Em 1994, ele havia
feito três gols na vitória
argentina sobre os gregos.

Indisciplina
O camaronês Rigobert Song
conseguiu um recorde negativo
ao receber o cartão vermelho
no empate em 1 a 1 diante do
Chile, pela primeira fase.
Tornou-se o primeiro jogador
da história a ser expulso em
duas Copas. Em 94, foi expulso
no jogo contra o Brasil.

Do céu ao inferno
Treinador campeão quatro
anos antes, Carlos Alberto
Parreira tornou-se o primeiro
técnico a ser demitido durante
uma Copa do Mundo. Ele caiu
após ver sua equipe, a Arábia
Saudita, perder os dois
primeiros jogos na primeira
fase.

Rapidinho
O dinamarquês Ebbe Sand foi o
autor do gol mais rápido de um
reserva na história das Copas.
Apenas 16 segundos após
entrar em campo, marcou um
gol na vitória por 4 a 1 sobre a
Nigéria.
Dupla nacionalidade
Ao marcar um gol na vitória da
Croácia por 3 a 1 sobre a
Jamaica, Robert Prosinecki
tornou-se o primeiro jogador a
marcar gols por dois países
diferentes em Copas do
Mundo. Em 1990, jogando pela
Iugoslávia, Prosinecki fez um
dos gols da vitória por 4 a 1
sobre os Emirados Árabes
Unidos.

Só dá ele
O meia alemão Lothar
Matthaeus bateu recorde de
participações em Mundiais. Em
sua quinta Copa, Matthaeus
completou 25 jogos pela
Alemanha. O alemão chegou a
três finais (1982, 1986 e 1990)
e ganhou um título.

Vôo da alegria 2
No início de junho, cerca de 60
convidados da CBF, entre eles
cinco desembargadores do
Tribunal de Justiça do Estado
do Rio de Janeiro, embarcaram
para assistir à Copa do Mundo
na França com todas as
despesas custeadas pela
entidade.

Em branco de novo
O Brasil completou sua
segunda final seguida sem
marcar gols. Em 1994,
empatou em 0 a 0 com a
Itália. Em 1998, perdeu de 3 a
0 da França. O tabu, que
durava desde os 4 a 1 sobre a
Itália em 1970, só terminou
em 2002, quando a seleção
balançou as redes duas vezes
contra a Alemanha.

Número de sorte?
O técnico Mario Jorge Lobo
Zagallo sempre alardeou que o
número 13 lhe dava sorte. Em
1998, não foi bem assim. A
derrota na final foi a 13ª do
Brasil em Copas. A seleção
voltou para casa no dia 13 de
julho.

Barba e cabelo
A França foi a primeira campeã
da história a terminar a Copa
com o melhor ataque (15 gols)
e a melhor defesa (2 gols).

Fim do tabu
A derrota do Brasil terminou
com uma tradição holandesa
em Copas. Desde 1974, a
seleção que eliminava a
Holanda acabava campeã,
como foi o caso de Alemanha
(1974), Argentina (1978),
Alemanha (1990) e Brasil
(1994). Em 1998, o Brasil tirou
a França nas semifinais, mas
caiu na decisão.

Síndrome dos pênaltis


A Itália foi eliminada nos
pênaltis pela terceira vez
seguida. Perdeu para a
Argentina na semifinal em
1990, para o Brasil na final em
1994, e para a França nas
quartas-de-final em 1998.

Boa estréia
Estreante, a Croácia conseguiu
um surpreendente terceiro
lugar. Com isso, igualou o feito
de Portugal em 1966.

Recordistas
Dunga e Taffarel tornaram-se
recordistas de participações em
Copas pela seleção brasileira.
Foram 18 jogos disputados em
três Mundiais (1990, 1994 e
1998). Taffarel igualou ainda o
recorde de atuações entre os
goleiros, colocando-se ao lado
do alemão Sepp Maier (18
jogos).

 FRASES

"Você sempre quer dar uma


de bom moço."
Edmundo, a Leonardo, em
discussão após um jogo
amistoso

"Se eu fosse técnico da


Noruega, ela já estaria
classificada para a próxima
fase da Copa."
Zagallo, polemizando com o
técnico norueguês antes do
confronto

"A Copa começa na partida


contra o Chile."
Zagallo, após a derrota para a
Noruega por 2 a 1

"Pôr a responsabilidade
pelo sucesso ou fracasso
nas costas do Ronaldo não
é bom nem para ele nem
para a seleção."
Zico, sobre as críticas ao
futebol de Ronaldo ao final da
primeira fase

"Era preciso cair pela


esquerda, onde o lateral era
improvisado, aquele Cocô,
quer dizer, Cocu."
Zagallo, sobre o ataque diante
da Holanda

"Ninguém tira essa Copa do


Mundo do Brasil. Eu,
Zagallo, tenho a certeza de
que o Brasil vai ganhar da
França."
Zagallo, ao saber que pegaria
a França na final

"Estou satisfeito com meu


desempenho nesta Copa. Se
me faltou algo até agora, foi
marcar um gol, e espero
marcá-lo na final contra o
Brasil."
Zidane, pouco antes de marcar
dois no Brasil

"Ele amarelou mais


do que a camisa."
Roberto Carlos, sobre Ronaldo
na final

"O Ronaldo é uma pessoa


sozinha. Ele tem que se
abrir mais."
Roberto Carlos, sobre o
episódio envolvendo o atacante
Ronaldo antes da final da Copa

"Acho que não deveria ter


jogado, mas entendo a
situação, de como é difícil
analisar isso. Como não
escalar o melhor do mundo
em uma final de Copa, com
ele querendo jogar? É muito
difícil."
Leonardo, sobre a polêmica
escalação de Ronaldo contra a
França

"Só se pensava em algo


pior. Ninguém dormiu mais.
Aí, começamos a perder a
Copa. Não houve
tranquilidade nem para os
reservas."
Emerson, sobre o ambiente
após Ronaldo ter passado mal

"A questão é que toda a


equipe jogou mal; e, de
repente, arrumaram em
mim, por causa de um
problema que aconteceu
antes do jogo, a desculpa
para a nossa derrota."
Ronaldo, explicando
a derrota brasileira

"A verdade é que não


respeitaram a saúde do
Ronaldinho. Naquele
momento, tinham de pensar
no lado humano. Chegamos
a temer que Ronaldinho
viesse a cair em campo a
qualquer momento."
Dunga, sobre a escalação de
Ronaldo para a final

"Se ele não entrasse, iriam


falar também. Tem que ter
peito para falar na hora. A
decisão foi minha. Faria de
novo."
Zagallo, sobre a escalação de
Ronaldo

"Não estava nervoso,


absolutamente. Já joguei
muitas decisões. Essa era a
que eu mais esperava. Não
iria amarelar. A única coisa
que aconteceu foi a
indisposição. Não fiquei
com medo de jogar contra a
França."
Ronaldo, sobre o problema de
saúde que sofreu no dia da
final

 ÉPOCA

A globalização
e os seus efeitos
A globalização foi a marca do
final dos anos 90.
Impulsionada pelo rápido
desenvolvimento das
telecomunicações, ela vinha
alterando drasticamente
importantes setores da
atividade humana.

Encurtou distâncias, afetou as


nações das mais variadas
formas e acentuou
interdependências entre países
e organizações.

Criada nos EUA, a Internet


explodiu no mundo todo como
um meio de comunicação e um
novo canal de negócios, agora
não só para cientistas e
universidades, também para o
público em casa.

O ano de 1998, como não


poderia deixar de ser, teve
muitos de seus principais
acontecimentos relacionados
ao fenômeno global.

Com a economia mundial cada


vez mais interligada, a crise
iniciada em Hong Kong no final
de 1997 atingiu vários países
no ano da Copa da França,
entre eles o Brasil, o México e
a Rússia.

Lutando para manter a


estabilidade do Real, o governo
brasileiro elevou os juros. O
país entrou em um período de
recessão que agravou o
desemprego.

Mesmo assim, Fernando


Henrique Cardoso, beneficiado
por uma manobra considerada
por muitos pelo menos
suspeita que em 1996 alterou
a Constituição, conseguiu ser
reeleito para o cargo de
presidente da República em
1998.

Fora, a Europa assustou-se


com o recrudescimento das
rivalidades na região dos
Bálcãs. O conflito, que anos
antes havia dividido a
Iugoslávia em várias outras
nações, como Croácia e
Bósnia, estava longe do fim.
Rivalidades étnicas e
intolerância religiosa
mantiveram aceso o fogo da
guerra, que ficaria ainda mais
sangrenta nos anos seguintes
à Copa.

 CAMPANHA DO BRASIL

Vice com sabor de fracasso


Atual campeão mundial, o
Brasil não disputou as
eliminatórias para o Mundial. A
preparação da equipe e a
definição dos 22 jogadores que
iriam à França foram feitas
durante jogos amistosos, sem
o calor de uma competição
importante.

Ormuzd Alves/Folha Imagem

Goleiro Taffarel voa para


defender pênalti na semifinal
contra a Holanda
Depois de um bom ano em
1997, quando perdeu só um
jogo e ganhou a Copa América
na Bolívia, a seleção brasileira
perdeu o pique em 98. Durante
a disputa da Copa Ouro, nos
EUA, amargou empates com
Guatemala e Jamaica. Pior que
isso, acabou sendo derrotada
pelos norte-americanos.

A vitória por 2 a 1 no amistoso


contra a Alemanha, fora de
casa, deu a impressão que o
time estava no caminho certo.
Mas, um mês depois, a derrota
para a Argentina em pleno
Maracanã abalou a confiança
da torcida.

Pressionado, o técnico Mario


Jorge Lobo Zagallo teve que
engolir a inclusão de Zico no
cargo de coordenador. Já na
Europa, o Brasil ficou no
empate em 1 a 1 com o
Athletic Bilbao, da Espanha, e
venceu a frágil seleção de
Andorra, formada por
amadores, 3 a 0.

A menos de dez dias da Copa,


o atacante Romário foi cortado
por causa de uma lesão na
panturrilha. Quando
diagnosticada pelos médicos da
seleção, a contusão foi
considerada leve, e Romário
teria condições de se recuperar
a tempo de disputar o torneio.

Alguns dias depois, a comissão


técnica caiu em contradição.
Desta vez, disse que a lesão
era grande e que não seria
curada em tempo hábil.
Cortado, Romário voltou a
jogar pelo Flamengo bem antes
do fim da Copa. Foi a primeira
das três mentiras brasileiras.
Sem Romário, a briga por um
lugar no ataque aumentou.
Cobrando uma vaga entre os
titulares, Edmundo entrou em
atrito com os tetracampeões
Bebeto e Leonardo, cobrando
um lugar no time e acusando
os companheiros de boicotá-lo
em treinos e amistosos.

A estréia contra a Escócia não


foi das melhores. O Brasil saiu
na frente logo no início,
aliviando a tensão, mas não
mostrou um futebol
convincente. Só garantiu a
vitória com um gol contra.

No segundo jogo, Ronaldo,


Rivaldo e Bebeto marcaram os
gols brasileiros na fácil vitória
sobre Marrocos, o que garantiu
a classificação para a fase
final.

A segunda mentira do Brasil


apareceu após a terceira
partida na Copa. A derrota por
2 a 1 para a Noruega mostrou
que a união da equipe,
alardeada por jogadores e
comissão técnica, não era
tanta assim. Após o resultado,
inútil dentro da competição, os
jogadores trocaram farpas e
críticas publicamente.

Nas oitavas-de-final, uma


goleada tranqüila sobre o
Chile, com dois gols de
Ronaldo e outros dois de César
Sampaio, até então o melhor
jogador brasileiro na Copa.

Ormuzd Alves/FI
Atacante brasileiro
Ronaldo
comemora gol
marcado
Diante da Dinamarca,
brilhou a estrela de
Rivaldo, que marcou
dois gols na apertada
vitória por 3 a 2. Na
semifinal, contra a
Holanda, Ronaldo fez
seu melhor jogo no
torneio. Abriu o placar
para o Brasil e perdeu
muitas chances de
matar o jogo na
prorrogação.

O papel de herói,
todavia, ficou para o
goleiro Taffarel, que
defendeu duas
cobranças holandesas
na decisão por pênaltis
e colocou o Brasil na
final.

No dia da decisão, o
atacante Ronaldo sofreu
uma convulsão horas
antes da partida.
Examinado em uma
clínica francesa, foi
liberado para atuar
pelos médicos. O
episódio abalou a
seleção brasileira, que
ficou assustada e
dividida sobre a
escalação do jogador.

Para o público, Ronaldo


primeiro teve
problemas no tornozelo.
Depois, uma convulsão.
Mais tarde, uma crise
nervosa, disseram que
teria "amarelado". A
verdade jamais foi
esclarecida totalmente.
Foi a terceira e última
mentira do Brasil na
Copa.

O que aconteceu na
final não é mistério
para ninguém. Diante
dos donos da casa, o
Brasil não conseguiu
enganar. Comandada
por Zinedine Zidane, a
França gastou a bola e
venceu fácil por 3 a 0.

Antes disso, o Brasil


jamais havia perdido
um jogo de Copa do
Mundo por tamanha
diferença de gols. Com
os três gols sofridos, a
defesa brasileira levou
10 gols no total,
terminando a
competição como a
mais vazada entre as
32 seleções.

Foi também a primeira


vez, desde 1974, que o
Brasil perdeu dois jogos
no mesmo Mundial. O
título ficou em muito
boas mãos.

 OS BRASILEIROS

Ronaldo vai
de
astro a
culpado
Eleito o melhor jogador
do mundo pela Fifa em
1996 e em 1997, o
atacante Ronaldo era a
grande estrela
brasileira para a Copa.
Em seus pés, o Brasil
depositava toda a
esperança do
pentacampeonato.

Sofrendo com dores nos


dois joelhos, causadas
por tendinite, o
atacante não conseguiu
fazer os lances
sensacionais e todos os
gols que a torcida
esperava (ou cobrava).
Para muitos, Ronaldo
foi a maior decepção da
Copa do Mundo.

De fato, Ronaldo não foi


fantástico. Apesar de
ter sido eleito pela Fifa,
não foi, nem de longe,
o melhor jogador da
Copa. Mas a verdade é
que o Brasil não teria
ido tão longe sem ele.

Ronaldo marcou quatro


gols, sendo o artilheiro
da seleção no torneio.
Sua presença no ataque
brasileiro atormentou
as defesas rivais,
abrindo mais espaços
para os avanços de
Rivaldo e Bebeto.

No entanto, o que ficou


marcado para sempre
na memória dos
torcedores foi a
convulsão, uma suposta
crise nervosa, sofrida
pelo atacante no dia da
final contra a França.

Sem condições físicas,


Ronaldo jogou mal a
decisão, e o Brasil
perdeu. De candidato a
herói, passou a vilão da
derrota.

 ENTREVISTA

"Vejo o
Zidane
cabeceando
e marcando
o gol", diz
Cafu
Por Murilo Garavello

Criticado e vaiado antes


do início da Copa de
1998, Cafu deu a volta
por cima. Teve grandes
atuações e foi um dos
principais responsáveis
pela boa campanha
brasileira. A primeira
imagem que vem à
cabeça do jogador
quando lembra da Copa
de 1998, porém, é
negativa: o francês
Zinedine Zidane
cabeceando e marcando
os dois primeiros gols.

A entrevista abaixo foi


feita antes do Mundial
de 2002, em meio às
dúvidas sobre o
desempenho do Brasil
de Felipão que, por fim,
conquistaria o
pentacampeonato
mundial. E com Cafu
como capitão.

Qual a diferença da
seleção de 1994 para
a de 1998?
Em união e amizade, o
grupo de 1994 não tem
comparação com o de
1998. Não que em
1998 fôssemos
desunidos, mas em
1994 era um clima
especial, talvez porque
passamos três meses
juntos nas
eliminatórias. Isso criou
uma harmonia maior
entre os jogadores.

Os jogadores sempre
disseram que havia
união no grupo em
1998, mas algumas
discussões tornaram-
se públicas, como a
entre Bebeto e
Dunga. Havia
problema de
relacionamento?
Não, de maneira
nenhuma. Não houve
nenhum problema.

Não havia "panelas"


e "grupos" dentro do
elenco?
Dentro de seleção, não
existe panela ou
grupinho. São palavras
que estão riscadas do
cotidiano da seleção.
Aconteceram, claro,
discussões, como a do
Bebeto com o Dunga,
mas foi dentro de
campo. O Dunga, com
aquele jeito dele, queria
acertar. O Bebeto
também. Tanto que a
discussão morreu ali.

Qual a sua opinião


sobre o corte do
Romário? Ele voltou
a jogar pelo
Flamengo antes do
final da Copa; não
poderia ter ajudado o
time nas fases finais?
Prefiro não opinar. A
decisão foi tomada
pelos médicos e pela
comissão técnica. A
gente não tem muito o
que dizer sobre isso.

Que imagem vem à


cabeça quando pensa
na Copa de 1998?
A derrota é sempre
uma coisa difícil de
esquecer. É a primeira
coisa que vem à minha
cabeça, a cena que
permanece, insistente:
o Zidane cabeceando e
marcando o gol. Acho
que é uma cena que
está na mente de
muitos brasileiros.
Qual foi o maior erro
do Brasil naquela
partida?
Erramos na maneira
como tomamos os dois
gols. Erramos no
posicionamento. Mas a
França jogou muito
melhor do que o Brasil
durante toda a partida.
Foi justo.

O Zagallo conhecia os
adversários durante
a Copa? Ele dava
informações sobre os
jogadores que você
teria de enfrentar?
Antes dos jogos,
víamos vídeos das
seleções rivais. Além
disso, tínhamos uma
pessoa que a CBF
pagava para ver todos
os jogos, fazer
anotações, filmar e
outras coisas. Então, a
menos que no dia do
jogo a seleção rival
entrasse com outros
jogadores, a gente
tinha uma boa noção do
que ia encontrar.

Antes de ir à Copa,
você era um dos mais
contestados pela
torcida. Na França,
foi um dos destaques
da seleção. Como
você recebeu as
vaias da torcida?
Esperava ter um bom
desempenho na
competição?
Antes da Copa, eu era
aquele que os
jornalistas eram quase
unânimes em dizer que
não deveria ir para a
Copa. Lidei
normalmente com isso,
vaias e aplausos fazem
parte do cotidiano do
jogador. Trabalhei
muito, não fiz mal para
ninguém e mostrei que
tinha condições. Depois
da Copa, os mesmos
jornalistas mudaram de
opinião e disseram que
eu fui muito bem.

A experiência de ter
jogado em 1994
ajudou em 1998? Em
que a experiência em
Copas ajuda o
jogador?
Ajudou muito, muito
mesmo. Eu estava mais
tranqüilo, tinha mais
noção das coisas que
iriam acontecer. É difícil
explicar. São coisas que
apenas o dia a dia de
Copa pode te ensinar.
Você sabe o que pode
ou não fazer. Sabe lidar
com todas as coisas.
Com certeza, terei boas
condições nesta Copa
devido a essa
experiência de já ter
passado por coisas
semelhantes duas
vezes.

Nome: Marcos Evangelista de


Moraes
Data de nascimento:
19/6/1970
Local: São Paulo (SP)
Clubes: São Paulo (1989 a
1994), Zaragoza-ESP (1995),
Juventude (1995), Palmeiras
(1995 a 1997), Roma-ITA
(desde 1997)
Títulos: Campeão da Copa do
Mundo (1994 e 2002) e da
Copa América (1997 e 1999)
pela seleção; Mundial
Interclubes (1992 e 1993),
Libertadores (1992 e 1993), da
Recopa Sul-Americana (1993 e
1994) e da Supercopa da
Libertadores (1993) pelo São
Paulo; Recopa Européia (1995)
pelo Zaragoza; Brasileiro
(1991) e paulista pelo São
Paulo (1989, 1991 e 1992) e
pelo Palmeiras (1996)

Feitos: Pela seleção, tem


experiência. Na Copa de 1994,
era reserva de Jorginho, mas
disputou a final após a contusão
do titular. Não decepcionou. Em
1998, era criticado pela torcida,
mas teve boa participação no
vice-título. Foi capitão da
seleção na conquista de 2002 e
é o titular absoluto da lateral
direita há sete anos. Em clubes,
foi uma das peças fundamentais
do São Paulo de Telê Santana.
Na Itália, ajudou o Roma a
ganhar, no ano passado, o
título nacional pela primeira vez
em 18 anos.

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