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 ABERTURA

Sem Pelé; com


Garrincha, Didi...
GARRINCHA

Duas características marcam a Copa de 1962 na Manchete do jornal "El Mercurio",


memória dos brasileiros: 1) foi a Copa do bicampeonato do Chile, durante a Copa de
1962: "Garrincha, de que planeta
mundial; 2) foi a Copa que vienes?". O ponta-direita, que já
Número de Participantes - 16 Pelé não jogou. havia sido campeão quatro anos
antes, teve atuação brilhante no
Jogos - 32
bi mundial. Fez quatro gols e foi
Gols - 89 um dos artilheiros.
Pelé se contundiu logo na
Média de gols - 2,78
segunda partida, mas o Manoel dos Santos (que mais
Sedes - Arica, Rancagua, Santiago e
Viña del Mar
elenco brasileiro, tarde passou a assinar Manoel
Francisco dos Santos em
Média de público por jogo - 24.205
praticamente o mesmo do homenagem a um tio homônimo)
nasceu em 28 de outubro de
pessoas título mundial conquistado 1933, em Pau Grande, distrito de
Artilheiros - Albert (HUN), Garrincha quatro anos antes, Magé, no Rio. Seu apelido veio
do nome de um passarinho que
(BRA), Ivanov (URS), Jerkovic (IUG), conseguiu seguir exibindo ele caçava quando criança.
Sanchez (CHI) e Vavá (BRA) - 4 gols um futebol de altíssimo
Campeão - Brasil nível. Imbatível. Garrincha jogou 60 vezes pela
seleção, das quais só perdeu
Vice-campeão - Tchecoslováquia uma: para a Hungria, por 3 a 1,
pela Copa de 1966, na sua
Terceiro colocado - Chile Amarildo teve a honra -e a despedida da seleção.
enorme responsabilidade- de substituir Pelé; não
decepcionou. Além dele, Djalma Santos, Nilton Santos, Disputou a maior parte de sua
carreira pelo Botafogo -foram
Zito, Didi, Vavá... Todos com apresentações históricas. 232 gols e 581 jogos. Defendeu
ainda Corinthians, Flamengo,
Olaria e clubes de Colômbia e
E, em meio a esse elenco histórico, quem mais se Bolívia.
destacou foi Garrincha, com seu futebol ofensivo,
Uma das características mais
irriquieto e completamente irreverente. Foi um dos seis marcantes de Garrincha eram
artilheiros da Copa, mas isso por si só não demonstra suas pernas tortas -diferença de
seis centímetros entre uma e
todo o peso que teve para o time, a ponto de disputar a outra. Também era conhecido
grande final com uma febre de 39ºC. pelo drible preciso, "impossível"
de ser evitado, e por seu futebol
alegre, imprevisível.
A Copa do bicampeonato brasileiro começou com uma
característica negativa: a violência. O excesso de A única vez que foi
expulso em sua carreira
pontapés e lances desleais foi tal que antes mesmo da
foi justamente em 1962,
segunda rodada o Comitê Disciplinar da Fifa teve uma na semifinal, quando
reunião com todos os árbitros para combater o teria respondido a uma
problema. cusparada e um tapa
com pontapé na bunda -
há quem diga que tenha
Ao final da primeira fase, o saldo foi de disputas
sido um lance do jogo.
violentas -como o jogo entre Chile e Itália, que ficou De qualquer maneira, ele
conhecido como "A Batalha de Santiago". foi absolvido pela Fifa e
pôde disputar a final.
Mesmo assim, o juiz do jogo entre Tchecoslováquia e
Iugoslávia, pela semifinal, interrompeu a partida com apenas quatro minutos
de bola rolando para dizer que expulsaria os 22 atletas se a violência
continuasse.

Além da violência, houve equilíbrio na fase inicial, como a partida entre


Colômbia e União Soviética de 3 de junho. Os soviéticos venciam por 4 a 1 até
os 22min do segundo tempo, mas os colombianos marcaram três vezes em
dez minutos e empataram.

Os jogos da fase final continuaram apresentando equilíbrio. O da Iugoslávia


contra a Alemanha nas quartas-de-final, por exemplo, teve seu único gol
marcado a três minutos do final.

A exceção foram as partidas do Brasil. Foram três vitórias incontestáveis: 3 a 1


na Inglaterra pelas quartas-de-final, 4 a 2 no Chile na semifinal e 3 a 1 na
Tchecoslováquia no jogo decisivo.

Os placares elásticos demonstraram uma diferença técnica que de fato existiu.


Sem Pelé, mas com Garrincha comandando um elenco excepcional, o Brasil
chegou ao bi com uma superioridade incontestável sobre as demais equipes.

 CAMPEÃO

Brasil, bicampeão incontestável


A seleção brasileira que conquistou e encantou o mundo quatro anos antes na
Suécia foi ao Chile com a mesma base do torneio anterior. Dos 11 jogadores
que atuaram na final contra os anfitriões, 9 estavam na equipe que estreou no
dia 30 de maio de 1962, contra o México: Gilmar, Djalma Santos, Nilton
Santos, Zito, Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo.
Arquivo Folha Imagem

Vavá comemora o último gol


contra o Chile

Após vencer o México na estréia, por


2 a 0, o Brasil sofreu um revés no
segundo jogo, contra a
Tchecoslováquia. Pelé chutou uma
bola de fora da área aos 28min do
primeiro tempo, deu um grito e caiu
no chão. Estiramento.

Como substituições não eram


permitidas, Pelé ficou no campo até o
final -equilibrado, o jogo terminou
sem gols. Mas, daí em diante, a
equipe de Aymoré Moreira não pôde
mais contar com o Rei.
A partir da partida seguinte, contra a
Espanha, Pelé foi substituído por
Amarildo. A seleção precisava
empatar para continuar no torneio.
Os espanhóis saíram na frente e
quase abriram vantagem em um
pênalti cometido por Nílton Santos.
Esperto, o lateral deu dois passos
para fora da área após derrubar
Collar, e o árbitro chileno Sergio
Bustamante marcou apenas falta.

Os jogos seguintes foram palcos de


grandes atuações de craques como
Djalma Santos, Nílton Santos, Zito,
Didi e Vavá. Em meio a esse forte
elenco, Amarildo conseguiu ter uma
participação de grande destaque.
Foram duas grandes vitórias a
caminho da final: 3 a 1 sobre a
Inglaterra (dois gols de Garrincha e
um de Vavá) e 4 a 2 no Chile (dois
gols de Garrincha e dois de Vavá).

Exatos 15 dias depois do 0 a 0, o


Brasil voltou a enfrentar a
Tchecoslováquia, agora valendo o
título. A imprensa classificou a
partida como uma das mais técnicas
do torneio. Masopust colocou os
tchecos em vantagem aos 15min.
Amarildo empatou dois minutos
depois, e o primeiro tempo terminou
empatado.

Zito colocou o Brasil em vantagem


aos 24min da etapa final. O golpe de
misericórdia saiu aos 33min: Djalma
Santos cruzou, e o excelente goleiro
Schrojf cometeu uma de suas poucas
falhas e soltou a bola no pé de Vavá.
Artilheiro nato, o atacante fechou o
placar do jogo em 3 a 1. A seleção
brasileira se juntou à italiana e à
uruguaia no seleto grupo dos
bicampeões mundiais de futebol.

 CURIOSIDADES

Banho vestido
Contundido, Pelé não participou da
vitória contra a Espanha por 2 a 1,
que valeu ao Brasil a classificação
para as quartas-de-final. Após a
partida, emocionado, Pelé foi ao
vestiário abraçar seu substituto,
Amarildo. Quando chegou lá,
Amarildo estava tomando banho.
Pelé não teve dúvidas: mesmo
vestido, e ainda chorando, entrou
debaixo da ducha para abraçar
Amarildo.

Homenagem ao torcedor
O chileno Manuel Molina Gonzalez, de
17 anos, estava ouvindo pelo rádio a
partida entre Uruguai e Iugoslávia.
Gonzalez torceu pelos uruguaios, que
perderam por 3 a 1. Pouco antes do
fim do jogo, o rapaz sofreu um
ataque cardíaco e morreu. Ao ser
informada do caso, toda a delegação
uruguaia deixou a concentração e foi
à casa de Gonzalez prestar-lhe
homenagens. No dia seguinte, os
jogadores ainda compareceram ao
enterro.

Gol rapidinho
Antes do turco Hakan Sukur marcar
aos 11 segundos da decisão do 3º
lugar de 2002, contra a Coréia do
Sul, o gol mais rápido da história das
Copas, cabia ao tcheco Vaclav Masek
tal honraria. Na partida entre México
e a Tchecoslováquia, no dia 7 de
junho, pelo Grupo 3, ele colocou os
tchecos em vantagem com apenas 15
segundos de bola rolando. A vitória,
entretanto, ficou com os mexicanos:
3 a 1. Apesar do resultado, o México
não passou de fase, enquanto a
Tchecoslováquia chegou à final.

Aposta infeliz
Gina de Venegas, uma chilena de 30
anos, apostou contra seu próprio país
na partida contra a União Soviética.
Como os chilenos venceram, Gina
teve de pular, de roupa e tudo, na
fonte da praça Bulnes, no centro de
Santiago, sob uma temperatura de
5ºC.

Vira casaca
A Copa teve três jogadores
disputando o torneio por uma
segunda seleção: o italiano Mazzola e
os espanhóis Puskas e José
Santamaria. Mazzola defendeu o
Brasil em 1958, enquanto Puskas e
José Santamaria jogaram em 1954
por Hungria e Uruguai,
respectivamente. Hoje não é mais
permitido que um atleta atua em
uma Copa por uma seleção após ter
defendido outra pelo torneio.

Do campo ao banco
Aymoré Moreira foi o primeiro ex-
jogador da seleção a assumir o cargo
de técnico. Quando atleta, atuava
como goleiro.

Batalha de Santiago
A partida entre Chile e Itália, no dia 2
de junho, pelo Grupo 2, foi uma das
mais violenta da história das Copas e
ficou conhecida como a "Batalha de
Santiago". Os 70 mil torcedores
assistiram a uma sucessão de
agressões que resultou em apenas
duas expulsões. Uma briga entre o
chileno Leonel Sanchez e o italiano
Tumburus teve de ser apartada pelo
próprio árbitro, o inglês Kenneth
Aston. As duas equipes saíram de
campo escoltadas.

Selo do Mundial
A Fifa promoveu um concurso para
escolher o desenho do selo
comemorativo da Copa do Mundo. O
vencedor foi um jovem chileno de
apenas 14 anos: Eduardo Berroeta
Reyes.

 FRASES

"Você está protegido por Deus."


Pelé, ao saber que sua contusão o tiraria de pelo
menos três jogos da Copa, a seu substituto
Amarildo, em 3 de junho

"Nem sempre vencem os melhores,


principalmente nesta Copa do Mundo."
Karl Rappan, técnico suíço, após a eliminação

"Não constituiu surpresa a notável


performance dos avantes brasileiros, e o
mesmo digo com relação à capacidade da
defesa, que jogou esplendidamente."
Walter Winterbottom, técnico inglês, após derrota
para a seleção

"A Inglaterra sucumbiu, mas de cabeça


erguida. Um quadro valoroso que foi
eliminado pelo Brasil, campeão do mundo,
composto de 11 diamantes -o maior
conjunto da Terra."
Joe Richards, então o presidente da Liga Inglesa
de Futebol

"Estamos prontos para dar uma surpresa,


porque todos acreditam que o Brasil é
favorito absoluto. Confio em minha equipe.
Ela se encontra em condições físicas,
técnicas e espirituais bem melhores do que
no primeiro jogo contra os brasileiros."
Rudolf Vytlacil, técnico tcheco, dois dias antes de
sua equipe perder por 3 a 1 para o Brasil na final
da Copa do Mundo

"Garrincha é incomparável. Vavá é também


um fenômeno, como Zagallo, como Didi,
como Amarildo. Para nós, o essencial é
conseguir um bom resultado, expondo o
valor de nosso futebol."
Suatopluk Pluskal, atleta tcheco, no dia da
decisão

"É mais difícil assistir do que jogar. Espero


nunca mais ficar contundido e ter que passar
por uma situação semelhante."
Pelé, um dia depois da conquista do título

 ÉPOCA

Um planeta
dividido ao meio
O mundo que assistiu às pernas
tortas de Garrincha dançando na
frente de um "joão" atrás do outro
estava em 1962 dividido em dois
blocos geopolíticos antagônicos: o
ocidental/capitalista, liderado pelos
Estados Unidos; e o comunista,
liderado pela União Soviética.

O símbolo maior dessa divisão foi


erguido em 1961, um ano antes da
Copa: o Muro de Berlim. A
representação máxima da Guerra Fria
foi criada com o objetivo de impedir a
passagem de alemães da porção
oriental para a ocidental -até 1961,
cerca de 2,7 milhões haviam fugido
de lá.

Em 1962, o presidente norte-


americano John Kennedy decretou
bloqueio naval a Cuba para forçar a
retirada de mísseis nucleares
soviéticos instalados na ilha. O
episódio, que quase terminou em
guerra nuclear, ficou conhecido como
a "crise dos mísseis".

Enquanto isso, o Chile enfrentava


seus próprios problemas. Em maio de
1960, o país sofreu com um violento
terremoto que causou mais de 5.000
mortes e deixou a nação devastada,
combalida financeiramente e sem
estádios adequados.

O esforço chileno foi heróico. Com o


lema "porque nada temos, tudo
faremos", conseguiram prepara-se a
tempo e tornar a sétima edição da
Copa, uma das mais organizadas da
história.

Em 1961, Jânio Quadros assumira a


presidência, mas renunciou em
agosto do mesmo ano. O vice, João
Goulart, o Jango, seria seu substituto
natural. Mas os três ministros
militares lançaram um manifesto
denuciando Jango como "subversivo"
e prometendo impedir sua sucessão à
presidência.

Para solucionar a crise gerada pelo


debate sobre se Jango deveria ou
não assumir, ficou acertado que ele
de fato seria o novo presidente, mas
com os poderes reduzidos -o país
passou a ser governado sob um
sistema parlamentarista.

Quando a seleção viajou para o Chile,


o Brasil era governado por um
presidente populista, sustentado por
uma base política instável e com
poderes parlamentares limitados
contra os militares.

 CAMPANHA DO BRASIL

O caminho do
bicampeonato
A seleção brasileira que conquistou o
título no Chile era marcada pela
experiência -a maior parte do elenco
conquistara o título de 1958- e por
um elenco de altíssimo nível. Graças
a esses dois fatores, conseguiu
reverter placares adversos em dois
jogos decisivos do torneio -inclusive
na final, contra a Tchecoslováquia,
que acabou com vantagem de 3 a 1
para o Brasil.

A seleção estreou na Copa do Chile


conta o México. Se o primeiro rival
não chegava a ser uma equipe de
expressão, contava com uma grande
arma embaixo dos três paus: o
goleiro Carbajal. Ao fim do primeiro
tempo, nem o forte ataque formado
por Garrincha, Pelé, Vavá e Zagallo
havia conseguido ultrapassá-lo.

Os gols saíram na etapa final. Zagallo


aproveitou cruzamento de Garrincha
aos 11min e abriu o placar. Aos
28min, o mesmo Zagallo passou para
Pelé, que driblou o zagueiro
Sepúlveda e fechou o placar em 2 a
0.

A partida seguinte, contra a


Tchecoslováquia, teve sérias
conseqüências para o elenco
brasileiro: Pelé se machucou e não
pôde jogar até o fim do torneio. O
jogo terminou 0 a 0 e, além da
ausência de seu principal jogador, o
elenco brasileiro teve que lutar
contra o desânimo que essa ausência
causou.

Amarildo estreou no lugar de Pelé


contra a Espanha, no jogo seguinte.
Já começou sob pressão: o Brasil
precisava empatar para continuar na
Copa. Aos 35min, Abelardo colocou
os espanhóis na frente. O empate
veio apenas aos 27min da etapa
final, pelos pés do próprio Amarildo.
E, aos 41min, Amarildo marcou de
novo, selando a vitória brasileira por
2 a 1.

Se no jogo contra a Espanha brilhou


a estrela ascendente de Amarildo,
nas quartas-de-final, contra a
Inglaterra, quem mais se destacou
foi um astro que já brilhava na
equipe: Garrincha. O imprevisível
ponta-direita do Botafogo marcou
duas vezes, e o Brasil venceu por 3 a
1 -Vavá também fez o seu, e
Hitchens marcou o dos ingleses.

Garrincha continuou comandando o


forte ataque brasileiro na semifinal
contra os anfitriões. Marcou aos 9min
e aos 32min, abrindo 2 a 0 para a
seleção. Toro descontou aos 42min, e
o primeiro tempo terminou com
vitória parcial do Brasil por 2 a 1.

A etapa final começou com Vavá


marcando já aos 2min. Leonel
Sánchez fez mais um para os
chilenos aos 16min, cobrando pênalti.
Aos 33min, Didi lançou Garrincha,
que driblou dois e cruzou para Vavá
fazer mais um e fechar o marcador.

Na decisão, o Brasil teve pela frente


a única equipe que não conseguira
vencer no torneio: a Tchecoslováquia
-"aquela equipe com a camisa do São
Cristóvão", segundo Garrincha. O
jogo não começou como o esperado
para os brasileiros. Aos 15min,
Kadabra driblou Mauro e Djalma
Santos e tocou para Masopust fazer 1
a 0.

Os brasileiros já haviam conseguido


reverter um placar na primeira fase e
repetiram o feito. Amarildo empatou
dois minutos depois, chutando quase
sem ângulo. Aos 24min do segundo
tempo, Amarildo cruzou para Zito
fazer de cabeça. Coisa rara no
torneio, o goleiro tcheco Schrojf
falhou ao deter um cruzamento, aos
33min, e soltou uma bola no pé de
Vavá, que marcou o terceiro do Brasil
na partida e o quarto dele na Copa.

A vitória por 3 a 1 coroou a bela


campanha do Brasil: cinco vitórias e
um empate em seis jogos, com 14
gols marcados e 5 sofridos. Dois dos
seis artilheiros do torneio estavam no
ataque brasileiro: Vavá e Garrincha,
com quatro gols.

 OS BRASILEIROS

Amarildo, que
responsabilidade!
Amarildo pode ser considerado um
jogador de azar. Craque de bola,
raçudo, ídolo no Botafogo, teve um
"defeito" que o atrapalhou em suas
convocações para a seleção
brasileira: jogava na mesma posição
de Pelé, o melhor do mundo.

Por outro lado, pode ser considerado


um jogador de sorte. Na Copa de
1962, Pelé se machucou no segundo
jogo, e sobrou para Amarildo a
responsabilidade de entrar em seu
lugar. E este foi seu triunfo: não
decepcionou. Jogou bem até a
grande decisão e foi um dos
destaques do Mundial.

Seu primeiro clube foi o Goytacaz, de


Campos, sua cidade-natal. Além dele,
defendeu Flamengo, Botafogo, Vasco
e, na Itália, Milan, Fiorentina e Roma.
Amarildo marcou nove gols em suas
24 partidas pela seleção. Seu grande
ano foi 1962: além do título mundial,
ainda sagrou-se campeão estadual e
do Rio-SP pelo Botafogo.

 ENTREVISTA

"O Amarildo
ganhou a Copa no
último jogo",
conta Zito
Por Lello Lopes

Com muita garra e habilidade, Zito


foi titular absoluto na campanha do
Brasil na Copa de 1962. Em
entrevista ao UOL Esporte, o
jogador falou sobre o Mundial e
reconheceu a importância de
Amarildo para a conquista do
bicampeonato.

Como o grupo reagiu com a


notícia da contusão de Pelé? A
equipe ficou mais unida?
Para nós foi um choque, porque o
Pelé representava muito para a
equipe. Enfim, o reserva dele (o
Amarildo) era um bom jogador e a
gente acreditou que ele fosse
corresponder, como de fato
correspondeu. O grupo já era unido,
porque a maioria dos jogadores tinha
sido campeã em 1958. Mas é claro
que a lesão do Pelé serviu para unir
ainda mais.

Depois da contusão do Pelé, o


Garrincha tomou a
responsabilidade para si e se
tornou o maior destaque da Copa.
Ele ganhou o título sozinho?
O Garrincha teve um desempenho
importante, mas não ganhou a Copa
sozinho, não. Na partida decisiva, ele
praticamente não jogou. O Amarildo
ganhou a Copa no último jogo. Mas
de uma maneira geral o título foi
conquistado mesmo pelo grupo.

Como foi enfrentar na final a


única equipe que o Brasil não
conseguiu vencer na primeira
fase?
A Tchecoslováquia tinha um bom
time. Nós entramos tateando um
pouco, com aquele negócio de
campeão do mundo. O empate (na
primeira fase) foi um alerta de que
precisaríamos melhorar. Mas o Brasil
era muito melhor, eles só tinham um
ou outro jogador de talento, além de
um grande goleiro.

Qual é a sensação de fazer gol na


final de uma Copa?
Nossa Senhora, é a coisa mais divina
na carreira de um futebolista. Vibro
até hoje com aquilo. Já vi aquele gol
um milhão de vezes. Tenho até um
pôster grande com ele.

Quem eram e como atuavam os


líderes da equipe brasileira?
Bellini, Mauro, Nilton Santos, Didi,
esse pessoal de maior lastro
desportivo. Na época correu um
boato que o Nilton Santos e o Didi
pediram pra trocar determinados
jogadores, mas eu duvido que isso
tenha acontecido.

Qual era a principal diferença da


equipe de 62 para a de 58?
A de 1962 era mais velha. O nosso
time já tinha um monte de
veteranos. Mas a seleção de 1958 era
melhor, viu. É normal que a de 62
tenha sido menos falada do que as
outras.

A Copa foi marcada por muita


violência. Os jogadores
brasileiros chegaram a sentir isso
na pele?
Não, acho que não. O problema do
Pelé não foi com outro jogador. Ele
sofreu um estiramento sozinho,
depois de dar um chute. Os outros é
que podem acusar o Brasil de
violento, já que o Garrincha foi
expulso na semifinal. Mas ele não era
um jogador violento, não. Ele deu um
chute na bunda do adversário de
brincadeira.

Qual foi a partida inesquecível na


Copa?
Para mim foi a última, porque foi
quando conquistamos o
bicampeonato e porque eu fiz um gol.
Foi emocionante.

Quando os jogadores sentiram


que seriam campeões do mundo
pela segunda vez seguida?
Depois que nós passamos pela
Espanha, que foi o jogo mais duro,
nós percebemos que tínhamos
condições de chegar. Aquele jogo foi
o mais difícil. O técnico espanhol
escalou um time bem jovem e nós
estávamos preparados para jogar
contra o time tradicional. Foi um
Deus nos acuda.

Como era a concentração do


Brasil na Copa?
O clima era excelente. Nós sempre
ficávamos em locais aprazíveis, em
hotéis-fazendas longe das cidades.
Isso unia bem o grupo. Mas era uma
época diferente, hoje o pessoal não
gosta muito de concentração.

Você esteve nas campanhas


vitoriosas de 58 e 62 e também
no fiasco de 66. Por que o Brasil
não conseguiu repetir na
Inglaterra o mesmo desempenho
nos Mundiais anteriores?
Aí eu acho que ocorreu uma mudança
de comportamento da comissão
técnica. Nós não fomos muito bem
orientados na época.

Nome: José Eli de Miranda


Data de nascimento: 8/8/1932
Local: Roseira (SP)

Clubes: Taubaté-SP e Santos (1952 a 1965)


Títulos: Bicampeão mundial pela seleção
brasileira (1958 e 1962), bicampeão mundial
interclubes pelo Santos (1962 e 1963),
bicampeão da Copa Libertadores da América pelo
Santos, (1962 e 1963), pentacampeão da Taçã
Brasil pelo Santos (1961, 1962, 1963, 1964 e
1965), e dez vezes campeão paulista pelo Santos
(1955, 1956, 1958, 1960, 1961, 1962, 1964,
1965, 1967 e 1968)

Feitos: Participou de três Copas do Mundo (1958,


1962 e 1966) e fez parte do time do Santos que
ganhou dezenas de títulos nas décadas de 50 e 60

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