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DewisCaldas

umaviagemaouniversodo

reidobaião
Estasfotografiasforamproduzidasduranteasgravaçõesdodocumentário
"Óia eu aqui de novo - na terra de Luiz Gonzaga no ano do centenário"
no estado de Pernambuco, nordeste brasileiro, em dezembro de 2012.
"Todomúsicobrasileiroquequertocarforró,baiãoouxote
emqualquerpartedomundo,éobrigadoatocaralgumacoisadeLuizGonzaga,
nãotemjeito,mesmoqueelenãoqueira»

compositoreprodutorJoãoSilva,
ementrevistanoseuapartamentonapraiadoPina,CidadedoRecife,2012.
OLuizGonzagaquesurgenestasfotografias

É pra mim impossível dizer a primeira vez que ouvi Luiz Gonzaga na vida. Na minha infância, no
interiordoEstadodoMaranhão,oforróeratãocomumquantoaluzdodia,tocandosempreno
volumemáximonumacasadovizinho,ounasruas,nasfestaspopularesouelitistas,natv,noradio.
E ouvir forró e não enxergar o grande criador e máximo expoente do ritmo é como ouvir bossa
nova e não reconhecer João Gilberto ou Tom Jobim. Esses dois, por exemplo, eram fãs de
carteirinha e assumiam sempre a influência que tiveram ao ouvir as músicas de Luiz. Mas o
momentoexatoemqueouniversogonzagueanoesuaterritorialidadechegouamimfoiaostreze
anos, viajando com a família de Chapadinha para Campina Grande, na Paraíba masculina, onde
moreiporumano.AoatravessaroCeará,meutioteveaideiadedescermaisprabaixodomapa,
ao sul, e passarmos por Exu, a primeira cidade depois da fronteira do Estado, já em terras
pernambucanas.

Comoessedesviorenderiamuitashorasamaisaotrajeto,decidiu-sequeaidaaoberçodoreido
baião seria impossível, mas em mim, no fundo do desejo, a viagem um dia aconteceria. E assim
fiquei, na cabeça matutando durante toda a minha adolescência. Quase quinze anos depois, já
emCuiabá,nomeuMatoGrosso,ondevivipordezanos,mevolteinovamenteparatodaaobra
deLuizGonzaga,agoracomopesquisadormusical.Jáerajornalistaetinhapassadoosúltimosseis
anos publicando dezenas de textos sobre música, resenhas de shows, análise de discos para
veículosde16EstadosnoBrasiletambémnoexterior.Comotambémeramúsico-umaarteque
comeceiaaprenderpoucoantesdaviagemquecontonoprimeiroparágrafo-procuravasempre
juntar o ofício de escrever com a música, mas não queria escrever sobre o seu sentido técnico,
massimaoincrívelaspectomusicalquerepresentaumpovo,umpaís,umanação.Osestudiosos
chamamesteaspectodeetnomusicologia.

Trabalheiemmuitosfestivaisderock,tivebandadebrega,fizfestasdesamba,chegueipertoda
músicafolclórica,dorap,trabalheinumabandagospel,depoisnumaorquestraerealizeiminha
monografiasobreolambadão,nacontramãodoqueera"debomgosto"vigentenumasociedade
quejulgaestegênerotãopeculiarcomoumritmoperiférico.Masqueriamesmoeraireouviras
canções que saiam dos povoados, das pequenas aldeias, viver o mundo delas, apresentar estes
personagens. Durante as muitas pesquisas, o audiovisual facilitou este objetivo, e passei a gravar
vídeos para dar suporte ao que eu escrevia, o que me levou ao mundo dos documentários.
E como num piscar de olhos, aquele velho desejo dos meus treze anos voltou fervorosamente e
explodiu como uma bomba. Arquitetei a ida para Exu, na Serra do Araripe, na fronteira do
Pernambuco com o Ceará e idealizei a digreção por todo o Estado do Pernambuco.

Inicialmente busquei um sentido mais amplo, como tema o "forró", levando apenas os
equipamentos e meu violão, tudo o que precisava. Mas por onde avançava minha pesquisa,
sejaforró,sejabaião,sejamúsicanordestina,sejaopróprioNordeste,euchegavaemLuizGonzaga.
Foi aí que iniciei uma pesquisa minuciosa sobre a vida e obra do sanfoneiro. Li biografias,
documentários,vídeosereportagenseescuteitudooqueelegravou,de1941a1989,anodesua
morte. Quando chegou o ano de 2012, época em que o mito sanfoneiro completa cem anos de
nascimento, o país inteiro e boa parte do mundo começou a homenageá-lo: o carnaval foi todo
dedicadoàele,foitambémtemadeumaescoladesambadecarnavalnoRiodeJaneiro,asfestas
juninas foram todas dedicadas à ele, tinha filme na tv, pequenos documentários, muitas
reportagens, discos em homenagem de diferentes artistas e projetos de todos os tipos
lembrandoocentenáriodorei.

Ainda naquele ano eu trabalhei numa campanha politica e decidi destinar boa parte do dinheiro
queganheicomoassessordeimprensaparacomprarumaboacâmera,umgravadorefinalmente
as passagens aéreas. Pensei: se o Brasil inteiro passou o ano fazendo tantas coisas, imagine só o
rebuliçoqueserianodia13dedezembro,odiadoaniversáriodoReidobaião.Nahorasurgiua
primeira problemática: como fazer um documentário sobre alguém que já foi tema de tantos
filmes e biografias lançadas? que temas eu poderia levantar num universo de 48 anos de vida
ativanomercadomusicalbrasileiro?Quetipodenovidadeacrescentarparaqueotrabalhofosse
relevante?Ufa!MatuteiepercebiquesefalavamuitonoLuizGonzagahistórico,dacronologiade
suavida,dosmuitosacontecimentosemblemáticos,echegueinaquestão:QueméLuizGonzaga
hoje?
Quem é Luiz Gonzaga hoje se não aqueles que levam o seu legado, a sua obra, suas histórias e
suas lembranças para os quatro cantos do mundo 23 anos depois de sua morte. Fui atrás destes
personagens e montei um perfil jornalístico do rei do baião composto por vendedores de
camisetasedeobjetos,pessoasquetocamsuasmúsicas,fãclubes,pessoasquevãoanualmente
para Pernambuco homenageá-lo, também pessoas da família, amigos de infância, a cozinheira,
o vaqueiro, parceiros musicais de todas as épocas, e quem mais fosse que tivesse participado da
vidaecontríbuidodaobradesdehomemquemudouamúsicabrasileira.Fiquei27diasnoEstado
doPernambuco.Passeiporquatrocidades,realizei49entrevistaseperdi7kg.Estasfotografiassão
u m  d i á r i o  d e  b o r d o  i m p e s s o a l  f e i t o  d u r a n t e  a s  g r a v a ç õ e s  d o  d o c u m e n t á r i o
Óia eu aqui de novo - Na terra de Luiz Gonzaga no ano do centenário, em 2012, que contam
bastidores desta aventura fantástica na obra e no universo deste que é o brasileiro do século.
Entrenesteuniverso.

SINOPSEDOFILME
"ÓiaEuAquiDeNovo"-NaTerradeLuizGonzaganoAnodoCentenário

O jornalista e pesquisador musical Dewis Caldas correu o sertão pernambucano em meio as
comemorações do centenário do sanfoneiro Luiz Gonzaga para desvendar o legado cultural e a
relaçãodaspessoascomouniversodavidaedaobradoreidobaião.Oresultadoestáagoraem
suasmãos.Óiaeuaquidenovo-NaterradeLuizGonzaganoanodocentenárioéumaviagem
fantástica sobre as homenagens oficiais e as não-oficiais feitas por quem viveu ao lado de Luiz e
milhares de seguidores anônimos , que movimentou todo o Nordeste em dezembro de 2012.

Um perfil jornalístico com mais de trinta depoentes ao longo de quatro cidades - Recife, Olinda,
CaruarueExu--querevelamhistóriasdeamor,saudadeeespiritualidadetãocantadasnascanções
de Gonzaga, o pernambucano do século. O documentário conta com imagens exclusivas de
entrevistas e homenagens, que vão desde um show na tradicional casa de forró pé-de-serra,
SaladeRebôco,atéaapresentaçãointimistadoQuintetoVioladonumcasarãonocentrohistórico
dacapital,etambémdepoimentosinéditosdeOnildoAlmeida,compositordeAFeiradeCaruaru,
da biógrafa francesa Dominique Dreyfus e do maior colecionador de Luiz Gonzaga que se tem
notícia,ocaruaruenseAdemárioKing.
Em Exu, cidade natal de Luiz, as homenagens de boiadeiros, sanfoneiros mirins, vendedores de
camisetas,cordelistasefamiliaresdeGonzagacorremasruaseperegrinamatéaFazendaCaiçara,
nopovoadodoAraripe[localexatoondeomúsiconasceu]paraagradeceresentir-sepróximodo
homemqueéumdosemblemasdaculturanordestina.Compoucomaisde30milhabitantes,a
cidade recebeu 40 mil pessoas na grande festa da noite de 13 de dezembro, no dia do seu
aniversário.Eestesentimentoestáaqui,nestedocumentárioquevocêvêagora.
ashomenagens
Exúemfesta
lembranças
deumrei
meuararipe,
meurelicário
olegadoque
nuncamorre
parque
azabranca
voumostrar
pravocês
comosedança
umbaião

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