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EU VI UMA ÁRVORE MORTA

Enorme... esgalhada... velha... tombada...


Talvez cansada de viver
Coloquei-me em seu lugar
E revivi o percurso da sua vida.
Momentos de incerteza, quando era semente
à espera da germinação
Momentos de angustia, quando floresci como pequeno arbusto,
sem conhecer ainda o meu território
Momentos de fragilidade, quando me sentia pequena
e agredida por alguns insetos
Momentos de marginalização, pelo tratamento indiferente
e pelo descaso dos que nem me enxergavam
Momentos de poluição, com as queimadas dos agricultores
e dos vândalos que visitavam a floresta
Momentos de solidão, quando, na escuridão das noites sem luar,
esperava ansiosa o amanhecer do dia
Momentos de esperança, quando conversava com o sol
e absorvia suas energias
Momentos de orgulho, quando me sentia criatura de Deus,
protegida pela mãe natureza
Momentos de agressão, quando rodeada pelos lenhadores
ou pelos enamorados a me tatuarem
Momentos de nutrição, quando era banhada pelas chuvas
que sempre me garantiam a seiva
Momentos de auto-estima, quando admirava o meu porte
e me via como frutífera e útil à humanidade
Foi esse percurso, expresso nessas poucas linhas,
que a minha imaginação conseguiu criar
para a árvore morta que eu vi.

Maria Luceni de A. Cysne.


ADOÇÃO

Que queres menino triste


Que me pares no farol Se não tens mãe, tens madastra
Que sonhos escuros vistes? E que madastra... a que tens...
Pois teus olhos não têm sol? Tua madastra é a rua
Com tuas longas madrugadas...
Quem te largou no mundo E de noite, nem a lua
Para catares esmola? Te dá um olhar, nas calçadas...
Se roubas... és vagabundo...
Mas... quem te negou escola? Menino triste, da rua
Teu sorriso só dá dó...
Quem te arrancou da mão Minha poesia já chora...
O brinquedo... a esperança...? O mundo te deixou só...
E quem te tirou, de todo
O direito de ser criança? E como tu há milhões...
De caras sujas e em trapos...
Que queres menino triste Brasil... não jogues no asfalto...
Me responda... não demores... A alma dessas crianças!!
O teu olhar me implora
Muito mais que um favor Menino triste e insistente...
Que a muitos incomoda.
O teu semblante demonstra Implore aos bem sucedidos
Que desconheces o amor... Pra que adotem um mendigo...

Dora Imontri
O HOMEM NO ESPELHO

Quando conseguir tudo o que quer na luta pela vida,


E o mundo fizer de você rei por um dia,
Procure um espelho, olhe para si mesmo
E ouça o que AQUELE homem tem a dizer.

Porque não será de seu pai, mãe ou mulher


O julgamento que terá que absolve-lo.
O veredicto mais importante em sua vida
Será o do homem que o olha do espelho.

Alguns podem julgá-lo um modelo,


Considera-lo um ser maravilhoso,
Mas ele dirá que você é apenas um impostor,
Se não puder fita-lo dentro dos olhos.

É a ele que deve agradar, pouco importam os demais,


Pois será ele quem ficará ao seu lado até o fim.
E você terá superado os testes mais perigosos e difíceis
Se o homem no espelho puder chamá-lo de amigo.

Na estrada da vida, você pode enganar o mundo inteiro,


E receber palmadinhas no ombro ao longo do caminho,
Mas seu último salário será de dores e lágrimas,
Se enganou o homem que o fita no espelho.
Dale Winbrow.
DILEMA

Ir ou não ir Trocar a prova


À escola... Pelo vento?
Que dilema
Que eu sinto... Trocar a mochila
Pelo sol?
Fazer da Terça Trocar o futuro
Domingo? Pelo momento?
Fazer da tarde
Recreio? Trocar a carteira
Fazer da classe Pela rua
Preguiça? Pra não ficar
Fazer da aula Só sentado
Passeio?
Trocar a prova
Fazer da Terça Pelo vento
Domingo E assim
Que é dia Sonhar acordado
De brincar
Trocar a mochila
Fazer da tarde Pelo sol
Recreio E ficar bem
Pra escapar de Bronzeado
Estudar
Trocar o futuro
Fazer da classe Pelo momento
Preguiça Isso sim
Que é bom de É complicado
Se curtir
Ir ou não ir
Fazer da aula À escola
Passeio Que dilema
Passear até Mas cruel
Sumir
Aprendo a fazer
Ir ou não ir Na escola
A escola? Aprendo a falar
Dilema que a mim Lá também
Perturba Sei até que
Na escola
Trocar a carteira Eu aprendo
Pela rua? A questionar
A curtir camaradagem Descobrir
Bons amigos Que na escola
Tenho lá. Todos querem
Nosso bem.
Ir ou não ir
À escola Quando isso acontecer
É decisão complicada!!! Nunca mais
Isso porque Eu vou deixar
Veio à mente De acordar
O que a mãe Bem cedinho
Diz em casa: Com vontade
- Quem não valoriza estudo De ir pra escola
Fica com orelhas grandes!!! Com vontade
Iguais as orelhas de burro. De estudar
Tudo que a profa
Mas sabe Ensinar
O que eu E se tudo eu não consiga
Quero mesmo O resto à vida
E é o que você Me ensina.
Quer também

Carlos Queiroz Telles


Sem futuro é você?
Luceni de Alencar Cysne

(Para leitura dramática)

- Narrador: Nas vésperas de São João


Em noites de lua cheia
Uns mateiros proseavam
Ao redor de uma fogueira

Sem dificultar a prosa


E entre goles de cachaça
Desafiado, o mateiro
Tinha que dizer com graça

Tinha que dizer em rima


Nem que fosse pelejando
O que sem futuro via
No mundo que conhecia

Com versos improvisados


Ouçam só o que saía
Ali, naquele terreiro
Na hora da agonia

Mateiro é cabra sabido


Vai falando... vai falando...
Sabido e bem informado
Mesmo no mato morando

O desafio era assim:


Todos cantavam o refrão
E cada um assumia
A sua vez de falar
E falando ele rimava
Rimava se defendendo
Falando pros companheiros
O que sem futuro achava

Se a platéia presente
Também quiser partilhar
Do refrão que dá a pausa
Em rima assim, vai cantar:

Refrão:

Sem futuro
Sem futuro é você
Sem futuro é você

Se achar que não é


Se defenda e me diga
Se defenda e me diga quem é

Versos de cada mateiro:

- Mateiro 1: Sem futuro, eu não...


Sem futuro
Pra mim é o exagerado
Que aumenta sempre um ponto
Em toda história que conta
Fica desacreditado

Refrão: Sem futuro...

- Mateiro 2: Eu? Sem futuro?


Sem futuro
Pra mim é o preguiçoso
Até pra comer tem preguiça
Pega o prato com comida
E só olhando ele fica

Refrão: Sem futuro...

- Mateiro 3: Eu não sou sem futuro...


Sem futuro
Pra mim é o mal-educado
Que não respeita os mais velhos
Fala alto, toma a vez
Por todos é rejeitado

Refrão: Sem futuro...

- Mateiro 4: Não!... Eu mesmo não sou sem futuro!


Sem futuro
Pra mim é o sugismundo
Tem unhas de cavador
Não sabe o que é tomar banho
Tudo nele é um fedor

Refrão: Sem futuro...

- Mateiro 5: Me respeite! Sem futuro eu não sou!


Sem futuro
Pra mim é o egoísta
Que só sabe dizer eu
Que nunca pensa no outro
É sempre individualista
Refrão: Sem futuro...

- Mateiro 1: Quem disse que eu sou sem futuro?


Sem futuro
Pra mim é o cafona
Que passa a noite acordado
Decidiu não se deitar
Porque perdeu o pijama

Refrão: Sem futuro...

- Mateiro 2: Eu não sou sem futuro!


Sem futuro
Pra mim é o supersticioso
Que dá valor a crendice
13 é número de azar
Gato preto é perigoso

Refrão: Sem futuro...

- Mateiro 3: Sem futuro pra mim é o dorminhoco


Que não gosta de acordar
Mesmo estando xixizado
Vira o bumbum pro outro lado

Refrão: Sem futuro...

Refrão: Sem futuro...

- Mateiro 4: Vamos ver quem é sem futuro!


Sem futuro
Pra mim é o político
Que em vésperas de eleição
Vive dando a mão à gente
Mas vive lavando a mão

Refrão: Sem futuro...

- Mateiro 5: Sem futuro? ...Não diga isso comigo


Sem futuro
Pra mim é o eleitor
De cabresto de jumento
Vende o voto por dois tostões
E fica sem argumento

Refrão: Sem futuro...


Se
Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;

Se és capaz de esperar sem te desesperares,


Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
Sem parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar — sem que a isso só te atires;


De sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores;
E encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas


Em armadilhas as verdades que dissestes,
E vendo as coisas, porque destes a vida, estraçalhadas,
Ir refazê-las com o bem pouco que te restes;

Se és capaz de arriscar numa única parada


Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;

Se és capaz de forçar coração, nervos, músculos, tudo


A dar seja o que for que neles ainda exista,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persista!";

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes


E, entre reis, não perderes a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,

E se és capaz de dar, segundo por segundo,


Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que és muito mais — és um homem, meu filho!
Rudayard Kiplig
PROFESSOR(A), NUNCA ME CASTIGUE

Quando eu estiver mal-humorado, em sala de aula,


Fale comigo, se possível, em particular.
Descubra o que estou sentindo
Mas nunca me castigue.

Descubra se estou doente


Se tenho onde morar,
Se tenho alimento..., brinquedos...
Mas nunca me castigue.

Descubra se tenho família


Ou se sou criado por parentes ou instituições
E se essas pessoas me dão carinho
Mas nunca me castigue

Use sua sabedoria


Descubra meus talentos... minhas fragilidades...
Respeite sempre meus limites
Mas nunca me castigue.

Seja paciente e tolerante comigo


Me aceite, me oriente para o caminho do bem
Lembre-se que sou aluno
Que acredita e confia em você
E que a sua imagem será perpetuada
EM MINHA MEMÓRIA. Portanto:
NUNCA ME CASTIGUE.

Soledade Muniz.
(Adaptação: Luceni Cysne)

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