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10 LENDAS CUIABANAS MUITO CONHECIDAS

Há várias versões para a origem do nome Cuiabá. Uma delas é de que o nome tem origem na palavra
bororo Ikuiapá que significa “lugar da Ikuia” (ikuia: flecha-arpão, flecha para pescar, feita de uma espécie
de cana brava; pá: lugar), o nome designa uma localidade onde os índios bororos costumavam caçar e
pescar, no córrego da Prainha (que corta a área central de Cuiabá). Outra explicação possível é a de que
Cuiabá seria uma aglutinação de Kyyaverá (que em guarani significa ‘rio de lontra brilhante’). Uma
terceira hipótese conta que a origem da palavra está no fato de existirem árvores produtoras de cuia à beira
do rio e que Cuiabá significaria “rio criador de vasilha”. Há ainda outras versões menos embasadas
historicamente, que mais se aproximam de lenda do que de fatos.

1. Minhocão do Pari
Acima do porto da capital, no Rio Cuiabá, existe um sítio denominado Pari. A água do rio naquele trecho,
corre muito forte e tem muitos poços que formam rebojos. Diz a lenda que em um desses poços mora o
Minhocão do Pari, uma grande serpente que em épocas remotas, diziam que atraía casais de namorados,
pescadores e banhistas para o fundo das águas para morrerem afogados.
Vários canoeiros que já navegaram pela região afirmam já terem visto a fera, segundo relatos, um animal
de mais de 20 metros de comprimento e dois metros de diâmetro.

Minhocão do Pari, esculpido por Jonas Correa e exposto no Shopping 3 Américas.(Foto: Reprodução/ ZF Press)

Uma das conversas de pescadores que ajudou a espalhar a história, conta a história de uma linda moça
que apaixonou-se por um pobre pescador, porém o pai a obrigou a se casar com um poderoso compadre.

Na noite do casamento, vestida de noiva, ela foi até o rio despedir-se do seu amado. Inconformados com
a situação, os dois resolveram fugir pelas águas do Rio Cuiabá. O pai, orgulhoso demais para aceitar ficar
desmoralizado diante dos parentes e amigos, saiu espalhando por aí que a filha foi engolida pelo Minhocão
do Pari.
2. Troá Troá

Existem várias versões conhecidas sobre o Troá. No livro “Retratos dos Seres da Noite” ele é descrito
como um tronco de árvore velha, aveludado e desgalhado, que durante a madrugada, de 00h em diante, se
arrasta pela escuridão das matas provocando um sinistro ruído: “troá troá troá”

Diz a lenda que quando um casal de viúvos se casa, após a morte a mulher vira um Troá.

Troá Troá, acrílico sob tela, Marlene Kirchesch. (Foto: Nathalia Okde/ Primeira Página)

Muitas pessoas de Mato-Grosso contam que já escutaram o roncar de um Troá de madrugada,


principalmente em noites de sexta-feira, quando ficam mais agitados. Alguns relatos dizem que o silêncio
da natureza, durante os momentos que antecedem e vem em seguida dos gritos é de arrepiar a espinha.

Existe também uma versão da história que retrata esse ser como um guardião da floresta: um homem baixo
e muito peludo que carrega um grande galho, utilizado como arma para proteger a floresta de caçadores e
malfeitores.
3. O Muro Arrombado do Quilombo

Quando o Bairro Quilombo ainda tinha as características de origem, em um certo ponto mais afastado,
havia um muro com uma parte arrombada, onde o matagal crescia e encobria restos de taipas socadas.
Durante as cheias, as águas nesse bairro eram abundantes, mas na seca, lavadeiras e engomadeiras
precisavam fazer longas caminhadas até o Ribeirão; desciam o tanque do Baú, ou logradouros do Pito
Aceso. Com isso, levavam muito tempo para concluir o percurso de ida e volta à cidade, passando sempre
pelo muro arrombado quando iam devolver as trouxas para os moradores.

Conta-se que Siá Joaninha, uma lavadeira que morava por aquelas bandas, sempre ouvia de Sinhá Dona,
sua patroa: um dia, essa sua mania de trazer roupa de noitinha lhe traría surpresas desagradáveis. Mas ela
retrucava afirmando que com o rosário de Nossa Senhora na mão e a companhia do seu cachorro,
Ventania, não tinha medo.

O arrombado do quilombo, acrílico sob tela, Marlene Kirchesch. (Foto: Nathalia Okde/ Primeira Página)

A lavadeira sempre voltava para casa por volta das 20h, um horário considerado tarde, naquela época. Foi
então que em uma dessas noites, já distante de casa, o vento lhe trouxe aos ouvidos ruídos surdos de
cochichos e ladainhas mal-entoadas.

Sem se intimidar, ela continuou apressando o passo, mas quanto mais andava, mais alto os ruídos ficavam,
como se estivesse indo de encontro ao vozeirio.
Em uma curva do caminho deu de encontro com um enterro. Todos os participantes estavam vestidos de
preto e de cabeça baixa, numa toada monótona, acompanhando um caixão preto. O andar era em direção
ao muro arrombado, onde entravam e sumiam mata adentro.

As pernas de Joaninha tremeram de cima abaixo e ela correu o mais rápido que pôde pra casa.
4. Tibarané

O Tibarané se trata de um pequeno passarinho encantado. A lenda conta a história de uma (ou um)
indígena idosa (o) que vivia vagando pelas florestas atormentando a vida das pessoas que moram no
campo.

Em uma das versões do conto, a indígena sai logo cedo em busca de fumo pela vizinhança. Bate de porta
e em porta e quando atendem ela faz o pedido. Se a pessoa dá o fumo, ela apenas agradece e entra de volta
para a floresta.

Tibarané, acrílico sob tela, Marlene Kirchesch. (Foto: Nathalia Okde/ Primeira Página)

Porém, se a pessoa não tem fumo, ou não quis dar a ela, fica muito brava e sai correndo para as matas.
Durante a noite, ela então volta em forma de pássaro, pousa em cima da cumeeira da casa e canta um
piado muito forte. Segundo a crença, logo em seguida morre alguém naquela casa.

Dizem os mais antigos que nas roças perto do Rio Cuiabá, a presença dela era constante há alguns anos
atrás.
Outra versão do conto diz que seria um homem, maltrapilho, que se transforma em pássaro ao anoitecer.
Se alguém necessita de algo, um favor ou benefício, a pessoa deve fazer o pedido a ave enquanto ela
estiver cantando, lhe prometendo comida, bebida ou fumo.

Realizado o pedido, se em alguns dias um homem estranho aparece na porta da casa, é o Tibanaré vindo
buscar o pagamento.
5. A Visão

No ano de 1926, falava-se muito pelas calçadas de Cuiabá sobre uma moça bonita e simpática, muito
estimada pela sociedade cuiabana, por seu gênio alegre e gentil.

Dizem que no carnaval daquele ano, ela brincou animadamente durante os três dias dedicados ao reinado
do Momo. Entretanto, depois dos festejos, ela adoeceu e dentro de poucos dias, veio a falecer.

Quando ninguém mais falava da sua existência, pessoas começaram a relatar que no bairro do Porto, uma
“visão” começou a aparecer para alguns foliões. Diziam ser de uma mulher vestida de branco e que o
espírito ou a alma da morta, se aproximava tanto que dava para reconhecer sua fisionomia como sendo a
daquela moça. Em seguida, o vulto desaparecia.

A lenda evoluiu para narrações de que a jovem, dançava em bailes de carnaval e depois, ao sair, se levava
o par que lhe fez companhia na brincadeira até o portão do Cemitério da Piedade, onde se despedia,
desaparecendo na madrugada, rumo as sepulturas.

Cemitério de N. S. da Piedade
6. O Pé de Garrafa

Diz a lenda que o Pé de Garrafa é um ser místico peculiar. Ele habita as florestas mais densas e as
montanhas mais altas do estado de Mato Grosso.

Pé de Garrafa, acrílico sob tela, Marlene Kirchesch. (Foto: Nathalia Okde/ Primeira Página)

Muitos que afirmam já terem visto a criatura, ou tiveram a oportunidade de conhecer alguém que já o viu
o descrevem como muito alto, medindo mais de três metros de altura, e que possui um pé só, em forma
de fundo de garrafa. Seu pêlo é preto e se espalha por todo o corpo, deixando branco só a parte do umbigo,
onde fica o seu ponto fraco.

Dizem que ele dá gritos muito fortes que arrebentam os tímpanos de quem o escuta e vive espantando e
seguindo pessoas que se aventuram pelas estradas e florestas à noite.

Normalmente grita para alguém pedindo informação sobre o caminho da mata. Aqueles que ouvem seu
pedido não devem responder, pois ele costuma seguir a pessoa. Relatos afirmam que ele tem um único
olho e um chifre e que para para escapar dele é necessário atingir seu umbigo branco, sua única fraqueza.
7. A Alavanca de Ouro

Na Colina do Rosário, nas proximidades da Igreja do Rosário, apareceu aflorando da terra e despertando
a cobiça de todos, uma alavanca de ouro
Todos a queriam, mas um rico português, senhor ambicioso que possuía muitos trabalhadores, a queria à
todo custo. Para tê-la, ordenou que fizessem uma grande escavação no local, sob sua orientação.

No desespero pelo ouro, os homens trabalhavam sem parar sob sol e chuva. A ganância pelo ouro era tão
grande que ninguém parava de trabalhar nem um minuto, e o buraco atrás da alavanca ficava cada vez
mais fundo. Dessa forma, os trabalhadores estavam ficando cada vez mais nervosos e brigando entre si,
nem se falavam um com o outro mais.

A Alavanca de Ouro, acrílico sob tela, Marlene Kirchesch. (Foto: Nathalia Okde/ Primeira Página)

Certo dia, apareceu por ali um senhor bem velho que parecia estar muito cansado e com sede. Ele pediu
água, mas ninguém se importou, continuaram cavando. Apenas um deles, se sentindo tocado ao ver o
idoso naquela situação de sofrimento, saiu do buraco e o deu um pouco d’água. Após bebe-la com grande
dificuldade, o senhor agradeceu ao trabalhador, dizendo: “Meu filho, trabalhe sempre com satisfação que
seu trabalho se tornará menos penoso”.

Em seguida, a terra ao redor do buraco começou a desmoronar, enterrando vivos todos os ambiciosos que
estavam à procura da alavanca, sendo que único que se salvou, foi o homem que deu água ao velhinho.
Quando as pessoas se aproximaram para ver o que aconteceu, o trabalhador estava ali de olhos arregalados
contando o que aconteceu. Alguns afirmam que o velhinho seria Jesus Cristo e que por este motivo a
Igreja do Rosário foi construida ali por perto.
8. A mão negra

A história é muito conhecida pela região ribeirinha da baixada cuiabana. Dizem que sob um grande
barranco que havia na margem do Rio Cuiabá, morava uma idosa, muito doente que roubava peixes dos
pescadores distraídos e que ela se transformava em uma enorme mão negra quando ia roubar os peixes.

Nos dias santos e feriados, sempre havia alguém pescando sobe aquele barranco. A lenda conta que certa
vez, um pescador que se considerava muito esperto por não acreditar nas histórias dos mais velhos, sobre
o aparecimento daquela mão misteriosa, arrumou suas coisas e foi para o ponto, com o objetivo de passar
o dia e a noite pescando.

A Mão Negra, acrílico sob tela, Marlene Kirchesch. (Foto: Nathalia Okde/ Primeira Página)

Animado, rumou para o barranco e sem perder muito tempo, colocou a isca no anzol e ficou à espera de
uma fisgada. Ao meio dia, ele já tinha conseguido capturar inúmeros pescados de todos os tamanhos.
Quando ele decidiu sair para almoçar e descansar, ele decidiu dar uma espiada em sua cesta e para o
espanto dele, ela estava totalmente vazia. Com medo, ele juntou rapinho as coisas mas antes de conseguir
sair correndo, foi surpreendido por uma grande mão negra, emergindo à beira d’agua procurando por algo.

Ao avistar a cena ficou pálido e desesperado. Correndo como louco, acabou se enroscando em um
emaranhado de cipó e ali ficou gritando até aparecer outro pescador para salvá-lo. Ele chegou à cidade
em estado de choque contando o causo para os demais.
9. A Princesa Branca do Vestido Azul

No tempo em que aconteceu o fato que originou a lenda, a vila de Livramento era rodeada por densos
bosques, extensões de matas virgens e nas proximidades se erguiam grandes propriedades, que exibiam o
poder latifundiário de antigos posseiros.

Diz a lenda que uma criança de 4 anos, encantada com a variedade de borboletas e com o canto dos
pássaros que haviam por ali, entrou no bosque. Ele se distanciou tanto da própria casa que acabou se
perdendo e começou a sentir medo, fome e sede. Tomado pelo desespero, ele começou a chorar e a chamar
pela mãe.

A Princesa Branca de Vestido Azul, acrílico sob tela, Marlene Kirchesch. (Foto: Nathalia Okde/ Primeira Página)

Exausto, o menino se sentou à beira de um riacho onde foi surpreendido por uma linda moça de vestido
azul. O conto diz que ela pegou a mão dele carinhosamente e o conduziu até o povoado.
“Se lhe perguntarem quem o trouxe aqui, diga que foi a melhor amiga de todas as mães, a Princesa Branca
de Vestido Azul”, afirmou a mulher.

O retorno da criança à vila trouxe uma grande satisfação a todos da família que o procuraram pelas matas,
nas correntezas dos ribeirões e mas como não o encontravam já o julgavam morto e desaparecido.

Para comemorar o grande acontecimento, os pais dele mandaram celebrar uma missa na capela da vila.
Ao entrar na igreja acompanhado dos pais e de toda a família, o menino exclamou animadíssimo:
“Olha mãe! Veja aí, a moça que me trouxe pra casa. O mesmo vestido azul, é ela!”.

Disse a criança apontando para a imagem de Nossa Senhora do Livramento, que estava sobre o altar toda
enfeitada de flores
10. O Candimba

Lá pelos anos 30, Candimba era um rapaz que fazia sucesso entre as jovens de Cuiaba, porém notavam
que ele era um muito nervoso, principalmente com sua mãe. Após certo tempo, ele começou a maltratá-
la cruelmente, não apenas com palavras mas também com pontapés.

As agressões de Candimba à mãe foram se intensificando com o tempo e a medida que mais aumentavam,
ele foi mudando sua forma física. Foi se encolhendo e ficando corcunda, suas pernas iam ficando cada
vez mais finas e sua cabeça adquirindo uma forma esquisita.
Quanto mais deformado ficava, mais se escondia das pessoas, não gostava do contato com ninguém, só
da mãe.

O
Candimba, acrílico sob tela, Marlene Kirchesch. (Foto: Nathalia Okde/ Primeira Página)

Segundo relatos que corriam pelas ruas da baixada cuiabana, houve uma época em que a sua coluna ficou
completamente encurvada e seus ossos à flor da pele de tanta magreza. Diziam que os dedos do rapaz
tinham unhas longas e sujas, e seus cabelo embolados e embaçados, pareciam cabelos de milho.

Ele tinha apenas um único amigo que o levava para tomar sol. Quem passava e o via, acreditava ser coisa
de outro mundo e as pessoas diziam que aquilo era castigo por maltratar e espancar a própria mãe.

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