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Índice

Introdução p. 4
Capitulo I
O Monstro que domina as Águas do Rio Paraguai p. 6
Capitulo II
A Mulher Enferrujada de Porto Esperança, MS p. 09
Capitulo III
Um Homem que vira em Porto Esperança p. 11
Capitulo IV
O Pé de Caco da Região do Pantanal, MS p. 12
Capitulo V
O Negrinho Brincalhão do Rio Paraguai, MS p. 13
Capitulo VI
A Mãe D’água que encanta a todos p. 15
Considerações Finais p. 18
Referências p. 19
4

Introdução

Neste livro apresentamos as narrativas das lendas pantaneiras. Existe muito ainda que
registrar com relação a esta temática, pois existem poucos trabalhos publicados.
Assim sendo, a lenda do Minhocão no Pantanal de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, o minhocão
é bem popular, principalmente, pelos pescadores da região.
Sabe-se que o minhocão é uma gigantesca minhoca, de cor marrom e preta, com detalhes de
ossos sobre seu corpo. Muitos dizem que esses ossos são de pessoas que provavelmente tenha sido
engolido por esse monstro. Ainda relatam que o minhocão tenta afundar barcos e canoas, revoltado
pelo excesso de barulho causado por estes ou a falta de respeito dos homens pela natureza.
Também essa criatura é a grande culpada pela erosão dos barracos (desbarrancamento), da
margem do Rio Paraguai. Muitas pessoas dizem que já se depararam com este monstro, mas o medo
não os deixou registrar através de fotografias o abominável Minhocão. No entanto, o mistério
continua nas águas do Rio Paraguai e ainda existe muito que descobrir sobre o terrível minhocão.
Assim, como o Minhocão, O Negrinho d’água também é bem conhecido entre os pescadores.
Eles contam que o Negrinho é uma criatura que parece com um menino e também com peixe ou
lagarto.
E quando os pescadores estão no rio ou lagoa no Pantanal, ele aparece e sobe na canoa e dá
um sorriso querendo aparentemente brincar. Já existem outros relatos que falam sobre a tentativa de
um pescador em bater no negrinho e foi emborcado, ou seja, o negrinho virou a canoa e nunca mais
o pescador foi visto. O pé de Caco mora nas matas do Pantanal, assim como o Mãozão.
Mas, o Pé de Caco adora atrair crianças para a mata. Muitos casos de desaparecimento de
crianças foram registrados no Pantanal, MS.
Um deste aconteceu com um menino que tinha 5 anos, onde foi atraído por essa criatura
misteriosa, meio lobo, menino/menina com pés de garrafa. O menino em questão sumiu nas matas e
depois de 3 horas a família começou a procurar por ele na mata. Eles ouviram um assobio
encantador, e acreditam que era uma das formas que a criatura chamava as crianças para segui-lo.
O menino teve sorte e foi resgatado pela sua família, que o encontrou sem fala. Depois de 6
meses o menino voltou a falar, mas ficou cago para o resto de sua vida.
A Mulher de Branco é uma das lendas mais populares no Brasil, e aqui no Pantanal também
esta ocorre. Dizem que essa mulher que aparece para os homens era uma noiva que morreu antes de
concretizar se casar. E agora ela busca por um noivo, mesmo após a morte. Dizem que ela é muito
bonita e sempre está com seu vestido longo branco. Porém ninguém conseguiu falar com ela, pois
sempre que a avistava, corriam.
Então, relatam que o homem que conseguir falar com ela sem ter medo, este será seu noivo e
também morrerá. Já o Lobisomem apareceu em muitas matas próximas às casas no Pantanal. Muitas
pessoas relatam aparições de um grande lobo preto, com enormes garras, dentes e com apetite voraz
em comer galinhas.
Um dos moradores relata que encontrou esse lobo dentro do seu galinheiro a meia-noite, na
lua cheia, comendo suas galinhas e também as fezes dela. Ele fez disparos com sua arma, e o animal
saiu correndo e de repente o animal foi se transformando em um vulto humano. Mas, o morador não
ficou para ver o restante da transformação, pois saiu correndo, benzendo o corpo e rezando para não
ser mordido pela fera.
Portanto, faz-se necessário o registro das lendas pantaneiras para que as próximas gerações
conheçam nosso tesouro cultural, pois sem este, nos tornamos povos sem identidade. Assim sendo,
este livro serve para resgatar nossa cultura e contribuir também com o ensino aprendizagem nas
escolas.
Capítulo I
O MONSTRO QUE DOMINA AS ÁGUAS DO RIO PARAGUAI

2015.
Ilustração: Flaviane Vilanova Rodrigues,

Retrato falado do monstro temido “O Minhocão”.

Uma senhora chamada Vitu viajava pelo Rio Paraguai, Pantanal, MS em uma pequena
embarcação “puk-puk” sem cobertura, daquelas lanchas antigas que serve para levar frete para as
regiões do Pantanal, mas não é tão adequada para o transporte de pessoas. Nesta embarcação,
mesmo sem as devidas condições, havia várias pessoas indo para região do Castelo. E essas pessoas
armaram um mosquiteiro utilizando cordas de nylon. Esse mosquiteiro era para se proteger dos
mosquitos e também do sereno da noite.
Para descansar um pouco, o “comandante” do barco resolveu parar na margem do rio
Paraguai, em um hotel fazenda chamado de Califórnia, por volta das 4h30min. da madrugada.
Todos os passageiros subiram para tomar café na casa da tal fazenda, na qual ficava longe da
margem do rio, onde estava atracada a pequena lancha, mas a minha avó não foi e talvez por
“intuição feminina”, pegou a sua bíblia sagrada e começou a ler, mesmo não enxergando direito
naquele horário.
Quando ela estava lendo o Salmo 23, ouviu um tremendo e horroroso barulho nas águas do
Rio Paraguai vindo em direção ao barco. Minha avó ficou muito assustada, mas continuou lendo a
bíblia. O barulho horripilante persistiu e minha avozinha com muito medo e trêmula gritou:
― Socorro! Alguém me salve!
Mas sua voz quase não saiu e ninguém ouviu, pois a embarcação estava distante. E o barulho
se aproximou do barco, quando de repente, ela ouviu um barulho diferente, como se fosse o barulho
de uma faca afiada, cortando as cordas de nylon que estava amarrando o mosquiteiro nas bordas do
barco.

2015.
Ilustração: Flaviane Vilanova Rodrigues,

O temido monstro revela seus perigosos dentes afiados


O barulho era tremendo, dando a impressão de ser um “monstro”, querendo afundar a
embarcação.
No momento em que o “monstro” cortava as cordas do mosquiteiro, minha avó aterrorizada,
começou a orar, pedindo auxílio divino para que essa terrível criatura desaparecesse, mas durante a
oração, ela teve um segundo de coragem e deu uma rápida olhadela em direção ao terrível barulho
que parecia um grande temporal. Quando se deparou com um animal, semelhante a uma gigante
minhoca: preta, brilhosa, nodulosa e sobre ela, vários ossos humanos.
Mesmo com muito medo e sem voz para gritar, a vovozinha fechou novamente os olhos e
continuou a orar desesperadamente.
Como num passe de mágica, a grande criatura denominada de “Minhocão” se afastou do
pequeno barco, indo em direção a margem do Rio Paraguai, onde provocou um grande
“desbarrancamento” na margem e muitas bolhas surgiram na água por onde ela passou.
A água “fervilhava” próxima da margem e em seguida, a criatura desapareceu não se sabe se
ela “varou” o barranco ou se afundou nas águas do Rio Paraguai.
A minha avó diz que provavelmente, a criatura abominável não afundou a pequena
embarcação por causa de suas orações pedindo proteção a Deus.

Vocabulário Pantaneiro
Varou: atravessou, entrou
Desbarrancamento: erosão das margens do rio
Minhocão: minhoca gigante
Fervilhava: água quente, fervendo, ebulindo e fazendo bolhas
Puk-Puk: barulho emitido pelas pequenas embarcações
Capítulo II

A MULHER ENFERRUJADA DE PORTO ESPERANÇA, MS


Porto Esperança é um distrito do município de Corumbá, Pantanal, MS. Neste lugar
acontecem coisas inexplicáveis. Como por exemplo, a vez que meu pai e eu fomos a uma festa de
aniversário de um amigo, próxima de uma empresa de minério de ferro. Chegando à festa, nos
divertimos muito e meu pai e os outros convidados bebiam cerveja, mas a bebida estava acabando e
meu pai se ofereceu para buscar mais.

2015.
Ilustração: Flaviane Vilanova Rodrigues,

Para fazer companhia ao meu pai, resolvi ir junto para comprar a bebida, já era meia-noite. A
noite estava sombria, sem luar, ventava muito (vento sul), neblinava e com “cerração”. Quando
estávamos próximo da mineração, algo aconteceu.
Olhamos para o topo da “montanha” de minério de ferro e nos deparamos com uma linda mulher
que estava trajada de um lindo vestido branco “avoano”, mas um pouco manchado de vermelho
(enferrujada) pelo minério de ferro. Ficamos pálidos, sem voz e com tremor no corpo inteiro. Não
sabemos ao certo se era por causa do frio ou medo. Mesmo sem contar muito com as pernas
trêmulas, meu pai saiu correndo e gritando:
― Meu Deus! Corra filhhhhhhhhhooooo! É uma assombração!
E eu corri, corri, corri “duro”, não sabia nem para qual direção, mas corri “duro” e meu pai que já
estava “baqueado” pela bebida, ficou na hora sóbrio.
Alguns turistas ouviram a gritaria e foram correndo ao nosso encontro. Contamos a eles o que havia
acontecido e voltamos ao local, aonde vimos a
assombração.

2015.
Ilustração: Flaviane Vilanova Rodrigues,

Para nossa surpresa, a mulher havia desaparecido. Os turistas começaram a rir e um deles nos falou:
― Deve ser o efeito das cervejas que o senhor bebeu! E pelo seu “bafo de onça-pintada” não foi
pouco!
Revoltei-me logo e o contestei dizendo:
― Mas, eu não bebi cerveja, apenas refrigerante e também vi a mulher no topo da “montanha”!
E logo eles ficaram quietos e pensativos.
Meu pai e eu até nos esquecemos da bebida e fomos para casa. No caminho, ficamos pensando
naquela mulher misteriosa. Seria mesmo o efeito da bebida em meu pai ou uma visão destorcida
causada pelo medo?
Não sei ao certo o que realmente aconteceu, mas não me contaram nada, eu vi!
Vocabulário Pantaneiro
Avoano: esvoaçante, voando (tecido leve que sobe com o vento)
Cerração: névoa com gotículas de água
Correr Duro: correr rápido, ligeiro
Bafo de onça-pintada: mau hálito, boca com cheiro de bebida.
Capítulo III
UM HOMEM QUE VIRA EM PORTO ESPERANÇA
Contam que mora em uma estação de trem abandonada. Mas toda noite de lua cheia, esse
homem simples “vira” uma enorme fera com: olhos vermelhos, barbas negras, unhas grandes e
afiadas, enormes orelhas peludas, mas tem um detalhe que chama a atenção de todos que o viram. A
fera é completamente peluda, exceto em uma parte do corpo, na região do bumbum.

2015.
Ilustração: Flaviane Vilanova Rodrigues,

Essa fera noturna sempre foi vista atacando o galinheiro, tentando comer as galinhas, quando
não consegue comer as galinhas, ele come as fezes do galinheiro. E algumas pessoas daqui, dizem
que quando ele acabar com todas as galinhas da região, comerá os cães e posteriormente, as pessoas
que cruzarem o seu caminho.
Temos muito medo do que nos possa acontecer, pois com essa enorme fera aterrorizando
nossa região, ficamos presos dentro das casas, sem poder sair à noite. Muitos já tentaram matar a
temível fera, mas seus esforços foram em vão, pois os cães que os ajudaram na difícil caçada,
começaram a uivar e a urinar nas pernas.
Até hoje, ninguém sabe ao certo de onde veio essa aberração da natureza. Não sabemos se é
um lobisomem ou uma anomalia genética. Mas, esperamos que um dia possamos nos libertar de
alguma forma, desta criatura que assombra nossas lindas noites de lua cheia.

Vocabulário Pantaneiro
Vira: Transforma-se
Capítulo IV

O PÉ DE CACO DA REGIÃO DO PANTANAL, MS

2015.
Ilustração: Flaviane Vilanova Rodrigues,

Fiquei sabendo que uma mulher na região do Castelo que tinha três filhos. E um deles, o
caçula que na época tinha 5 anos, estava brincando próxima a mata e desapareceu misteriosamente.
Quando a mãe percebeu que seu filho havia sumido, ficou muito “afobada” e gritou
desesperadamente:
― Meu filhinho Noemio sumiu! Por favor, me ajudem a procurá-lo!
Todos os seus vizinhos vieram e trouxeram alguns cães para ajudar na busca. Adentraram a mata e
tiveram que fazer uma longa “picada”, pois a mata era muito fechada e não podiam enxergar quase
nada.
Passaram o dia inteiro em busca do pequeno menino e nada encontraram. Mas continuaram
procurando, quando de repente, uns dos homens que era caçador de onças da região, chamado
Alicio disse:
― Parem! Vocês perceberam algo estranho? E os outros homens responderam:
― Não! O que houve? E o caçador lhes respondeu:
― Vocês não perceberam, mas acho que estamos andando em círculos, ou seja, fizemos a “picada”,
mas em círculo e não em linha reta!
O senhor Alício era o único homem que tinha um olhar mais “apurado” por causa de suas
caçadas.
Quando o caçador acabou de falar, eles ouviram um forte e longo assovio no meio da mata.
Todos ficaram arrepiados e suando frio com aquele assovio que estremeceu toda a mata e até
mesmo os arancuãs pararam de cantar.
Depois disso, não se ouviu mais nenhum barulho na mata, ficando assim um tremendo silêncio.
Os corajosos homens prosseguiram na caçada e novamente ouviram o tenebroso assovio.
Andaram mais um pouco em direção ao assovio.
E para a surpresa deles, o assovio estava agora bem mais perto. O caçador que ia a frente fazendo a
“picada” disse:
― Esperem um pouco! Psiuuuuuuuuiii! Silêncio!
O senhor Alicio ficou de “croque” e começou a “espiá” dentro da mata e viu: um menino ou menina
assoviando, sentada em uma pedra, de cor parda, meio peluda e aparentava ter uns 14 anos. O
caçador notou que uma de suas pernas era reluzente e semelhante a uma garrafa de vidro. Ao lado
deste menino estranho estava o pequeno Noemio que estava brincando com o menino assoviador.
Atordoado o caçador deu um forte grito:
― Larga dele!
E correu para dentro da mata. Ninguém viu e não entenderam nada o que havia acontecido, somente
o caçador.
O senhor Alicio, depois de ter se embreado na mata, conseguiu salvar o pequeno Noemio. O menino
Noemio ficou 10 anos sem falar nada.
O caçador diz que o Noemio foi enfeitiçado pelo pé de garrafa que provavelmente não sabia falar e
somente assoviar, roubou a fala do menino.
Até hoje o Noemio não consegue falar direito, apenas gagueja.

Vocabulário Pantaneiro
Embreado: no meio da mata
Picada: corte de mato para abertura de caminho

≥ Saiba mais!
Pantanerês
Dicionário Pantanerês
Capítulo V

O NEGRINHO BRINCALHÃO DO RIO PARAGUAI, MS

2015.
Ilustração: Flaviane Vilanova Rodrigues,
Os moradores da região do Castelo, MS, contam que já ouviram causos do Negrinho d' água,
principalmente o senhor Brandão, um pescador nato que viu esse “bichano”. Ele contou que saiu de
madrugada para pescar na Lagoa Castelo, primeiro foi averiguar nas cevas que havia feito no dia
anterior se conseguia pegar algum pacu, como de costume, depois foi para o Rio Paraguai quase na
“boca da lagoa” e lançou novamente o anzol com isca de Laranjinha de pacu e ficou esperando por
quase uma hora e nada, mas, de repente, o caniço ficou selado e quase quebrou, e ele disse:
— Esse animá é grande! Parece que é um pacu gamela! Então, ele ouviu um barulho “horrivi”
que vinha das profundas que parecia uma locomotiva, e de repente uma coisa preta, peluda, metade
guri e metade “peixe” ou “lagarto”, “meio escamoso” apareceu no meio do rebojo segurando o
anzol e sorrindo com uma boca vermelha.
2015.
Ilustração: Flaviane Vilanova Rodrigues,
E ele ficou sem ação, mas sabia que se ele tentasse fazer alguma aquela criatura
provavelmente afundaria a sua canoa. Ele ficou parado e imóvel sem qualquer reação esperando que
a criatura fosse embora ficando nessa situação por cerca de duas horas, até que ele ouviu o barulho
de uma avoadeira se aproximando era o compadre Vinino, e de repente a criatura se assustou e
sumiu no rebojo.
Quando o encontraram perceberam a sua palidez e perguntaram:
— O que aconteceu? Parece que o senhor viu a mãe água?
E ele lhes respondeu:
— Não! Eu vi o fio! Mas me ajudem a voltar para casa que depois lhes contarem tudo o que
aconteceu! E daí ele pegou carona de reboque. E quando chegou em casa contou tudo para sua
esposa Tonita e para os outros. O senhor Brandão acredita que foi uma providência divina que
enviou aqueles homens para o salvar.
Mas, o mistério continua, pois não sabemos o que a criatura queria com o senhor José
Brandão, se queria o levá-lo para as profundezas do rio Paraguai ou apenas brincar com ele.
Vocabulário Pantaneiro
Cevas: galhos quase quebrados para dentro da água ou casca de mandioca que serve para atrair
peixes para aquele local
Caniço: vara de pescar
Selado: curvado de tanto peso
Fio: filho
Laranjinha de pacu: Fruto de uma planta que serve de isca para pacu

≥ Saiba mais
Culinária Pantaneira > Paçoca de carne seca
Cururu > Viola de cocho
Capítulo VI

A MÃE D’ÁGUA QUE ENCANTA A TODOS

Muitas pessoas já ouviram falar de Sereias, mas poucas pessoas sabem que nas águas do
Pantanal existe também. Meu avô Alicio me contou que há uma criatura no Rio Paraguai que
encanta as pessoas, com sua beleza e canto, principalmente os homens.

2015.
Ilustração: Flaviane Vilanova Rodrigues,

Ele disse que uma vez, um homem estava limpando peixe na tábua no Rio Paraguai, quando
foi surpreendido por uma criatura que ninguém sabe ao certo, mas a viúva afirma que foi a Mãe
d'Água, pois ela relatou que ele estava sozinho limpando os peixes, enquanto ela varria a casa,
quando de repente ouviu um grito e ela saiu correndo em direção ao rio para socorrer o seu marido.
Porém, como o barranco era alto ela não conseguiu ver direito o que aconteceu, ela só viu
uma criatura metade mulher e metade peixe que pulou no rio e fez um grande rebojo. E seu marido
desapareceu naquele enorme rebojo.
A mulher ficou aterrorizada e ainda tentou salvar o marido pulando na água, mas de nada
adiantou. Ela pensou também em desaparecer nas profundezas em busca do seu amado, porém, ela
pensou no seu bebê que ficaria sozinho no mundo, sem pai e nem mãe.
Infelizmente essa história não teve um final muito feliz, tem outra que teve um final
parcialmente feliz. Nesta um homem chamado Nerso foi enfeitiçado pela Mãe d'água. Ele
estava pescando na margem do Rio Paraguai, quando ouviu um canto lindo que vinha de trás de um
pé de figueira, largou tudo e foi atrás daquela linda voz.
Para sua sorte havia uma pescadora chamada Rosa que estava próximo ao local, em sua canoa
e percebeu que algo estava errado e começou a chamar:
- Ala Vôte!!! Nerso, Nerso, a aonde você vai? Gritou a Rosa. Mas ele não lhe respondeu e
continuou caminhando em direção a voz encantadora. Entretanto, essa voz não enfeitiçava a Rosa,
provavelmente, por ela ser do sexo feminino. Então, ela atracou a canoa na margem do rio, levando
consigo uma cuia e correu para socorrer o Nerso, que nem ligava para os apelos da Rosa. Que dizia:
- Seu bestão, não está percebendo que é a mãe d'água que está te enfeitiçando?!
Ela então correu e pegou um balde com água e atiçou na cara do Nerso, que imediatamente
acordou do feitiço. E perguntou a Rosa:
- O que está acontecendo? Como vim para aqui? Cadê a minha linhada?
E a Rosa lhe respondeu:
- Você foi enfeitiçado pela Mãe d'água! Vamos embora daqui!
E chegando em casa, o Nerso ficou triste e com os olhos vidrados e nunca mais foi o mesmo.
Ele ainda teve sorte, pois outros homens já sumiram da tábua e nunca mais apareceram. Muitos
dizem que quando a pessoa escapa das garras da Mãe d' água fica abobalhado para o resto da sua
vida.
Vocabulário Pantaneiro
Cuia: vasilha feita com um fruto da cabaça
Abobalhado: Louco, cara de bobo
Tábua: pedaços de madeira que serve para lavar roupas, vasilhas e limpar peixes, estes pedaços são
fixados sobre cavaletes em uma espécie de jirau sob a água.
Rebojo: redemoinho na água
Ala: Sinal de espanto, de admiração
Vôte: sinal de espanto, de negação, de medo

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Considerações Finais 18
Percebemos no decorrer do desenvolvimento do REA - Livro digital de lendas, que esta
temática é de difícil definição, assim, como folclore e cultura.
São patrimônios imateriais que se assemelham em muitos aspectos e carregam em suas
narrativas semelhanças de caráter social e simbólico para mostrar as tradições dos povos que deram
origem a eles.
Para De SÁ (2012, p.28), o patrimônio significa: herança paterna, bens de família, bens
necessários para ordenar um eclesiástico, dote dos ordinandos, propriedade”, mas atualmente são
considerados também patrimônios: a vida, corpo, a linguagem, as coisas (arquitetura, artesanato,
música, literatura), os sonhos, as histórias.
Dessa forma, o patrimônio e folclore possuem significados semelhantes, pois estão
interligados com a construção de saberes e hábitos de um povo.
Contudo estão caindo no esquecimento, e deixados de lado, como sendo parte integrante de
uma cultura inferior. Muitas lendas têm a inter-relação do homem e meio ambiente, assim trazem
em suas narrativas, seres que simbolizam o bem, ações corretas, e as consequências de ações que
venham prejudicar o meio ambiente, demonstram extrema relevância na sociedade para
perpetuarmos nossas heranças culturais.
Referências
DE SÁ, A. Aprendendo a conhecer: Patrimônio Cultural do Município de Manaus. Manaus:
Editora Ltda ME, 2012.
BAYARD, J. P. História das lendas. Tradução de Jeanne Marillier. [S. l.]: Virtual Books.1978.
Disponível em:. Acesso em: 17 de março. 2019.
WILLIS, R. Mitologias: Deuses, heróis e xamãs nas tradições e lendas de todo o mundo. Tradução
de Thais Costa e Luiz Roberto Mendes Gonçalves. [S.l.]: Virtual Books. 2007.
Disponível em: <http://www.isciweb.com.br/revista/270-a-importancia-do-resgate-de-mitos-e-
lendas-regionais-na-educacao-infantil>. Acesso em: 17 de março. 2019.
Disponível em: <https://pescadordopantanal.blogspot.com/2012/05/mitos-pantaneiros-contos-e-
causos.html>. Acesso em: 17 de março. 2019.
Disponível em: <https://pantanalpescaecia.blogspot.com/2014/11/lendas-pantaneiras-e-causos-do-
mato.html>. Acesso em: 17 de março. 2019.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=28iQXDXA7YQ>. Acesso em: 17 de março.
2019.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IhZWqInq8mw>. Acesso em: 17 de março.
2019.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ReIyxpMpOJw >. Acesso em: 17 de março.
2019.

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