Pa MPFCS 1996 1

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pa ee oy fore liciece [900.7 44249 FASS See FAG UNIVERSIDADE TECNICA DE LISBOA Instituto Superior de Economia e Gestio FACTORES DETERMINANTES DO COMERCIO INTERNACIONAL: A ABORDAGEM EMPIRICA Ligdo Sintese (De acordo com as disposiges legais relacionadas com a obtengdo do grau de agregado em Economia constantes do decreto-lei n° 301/72, de 14 de Agosto) Maria Paula Fontoura Carvalhao Sousa 1996 Nota Prévia E imperativo legal das provas de agregaglo a apresentagao de um sumério pormenorizado de uma “Ligdo Sintese” dada no contexto da disciplina proposta. A Tigao que se segue insere-se na aula n° 10 da disciplina “Teorias do Comércio ¢ Investimento Internacional” (secc&o 3 do Programa) que é objecto do meu Relatério para as provas de agregago em Economia O tema escolhido é a abordagem empirica das teorias relativas aos factores determinantes do comércio internacional. A escolha deste tema enquadra-se no objectivo, que penso transparecer em algumas vertentes do meu trabalho cientifico © pedagogico, de interligagdo entre a teoria eo real Tratando-se de um assunto vasto, pretende-se proporcionar uma abordagem genérica mas articulada, dando destaque a alguns artigos “chave” para uma visio de sintese do “estado da arte” deste tépico. Uma apresentago sucinta do plano deste tema é feita nas referencias para esta aula incluidas no Relatério da disciplina (pontos 1-5). Dada a vastidao do tema, € sobretudo atendendo ao objectivo que sublinhémos de proporcionar uma visio coerente ¢ articulada dos diversos t6picos, optémos, em altemativa a dar a estes um maior desenvolvimento pontual, por redigir um texto de apoio que possa servir de suporte a ligo. Pressupde-se que as teorias mencionadas so conhecidas dos estudantes, conforme decorre do Relatrio da disciplina. Mesmo assim, a extenséo do tema nao permite abordar 0s assuntos referidos em profuundidade. Espera-se, porém, que na fase do curso em que esta aula é transmitida, os alunos estejam aptos, a partir das pistas fornecidas e do apoio bibliografico incluido, a desenvolver 0 seu proprio estudo de uma forma relativamente aut6noma, aprofundando alguns dos temas quer por sugesto do docente, quer por motivagao propria. ‘A ligdio proposta reparte as teorias segundo a perspectiva tradicional de | “teorias ortodoxas” e “novas teorias do comércio”. As primeiras ocupam um espago razodvel na ligfo, em particular as que se relacionam com 0 modelo Heckscher-Ohlin, © que reflecte a preponderancia que este tem tido no contexto das teorias do comércio internacional, mas sobretudo © facto de, por dispor de um referencial teérico em equilibrio geral, ter facultado estudos empiricos estreitamente articulados com a teoria. Quianto a0 segundo bloco de teorias, a maioria dos modelos empiricos no segue uma abordagem estrutural, derivada da teoria, o que reduz o seu interesse do ponto de vista do nosso tema, Na parte final da ligio, formulamos alguns comentarios sobre novos rumos para a investigaglo. Apés verificarmos que os resultados slo decepcionantes, sobretudo eth relago ao segundo grupo de teorias, destacamos a percepgao de que o problema poderé residir, em parte, numa inadequagio do “paradigma” actual destas teorias, SUMARIO DA LICAO 1. Introdugao 2. Anélise empirica dos modelos de vantagem comparativa 2.1. A medigéo da vantagem comparativa 2.2. A explicago empirica da vantagem comparativa 2.2.1. O modelo ricardiano 2.2.2. O teorema H-O 2.2.2.1. Anilise empirica do teorema H-O na versio “contetido em bens” 2.2.2.2. Anilise empirica do teorema H-O na versio “conteiido em factores” 2.2.3. Da estranha “resisténcia” do teorema H-O a “anarquia” das “novas teorias do comércio” 3. Anélise empirica das “novas teorias do comércio” 3.1. O impacte da procura 3.2. A influéncia da tecnologia 3.3. Modelos empiricos de comércio intra-ramo 4, Rumos para a investigag&o empfrica 5. Comentirios finais Bibliografia 1. Introdugao 4 Factores determi i | “I'm always surprised that any model works” (Helpman, cit. por Dodwell, 1994, p. 9) Dispomos actualmente de um conjunto vasto de artigos de andlise empirica relativos as teorias do comércio internacional (TCI) explicativas dos padrdes de comércio observados. Alguns referem explicitamente objectivo do teste destas teorias, outros, menos ambiciosamente, limitam-se a sua andlise empirica. O objectivo deste texto reside no balango da literatura existente com vista a seguinte problematica: teré 0 trabalho empirico relativo as teorias explicativas dos factores determinantes do comércio internacional tido algum impacte na forma como 0s economistas pensam sobre 0 assunto? Uma questo prévia refere-se & possibilidade de as teorias serem “testadas”. Os modelos das TCI incorporam hipéteses que raramente tém em consideragio as complexidades do mundo real. A anilise empirica no segue, consequentemente, 0 tradicional percurso da formulago de hipéteses, teste, rejeigio € reformulacéo. Leamer resume o problema afirmando que um modelo, sendo um instrumento poderoso para organizar o pensamento, néo ¢ literalmente verdadeiro, e conclui que, por isso, no existe razo para o testarmos. Em vez disso, deveriamos determinar a sua “accuracy and usefulness” , donde a sua sugestio de: estimate, not test” (Leamer,1994, pg. 66 ¢ 67) papel da analise empirica nas TCI s6 pode ser devidamente compreendido se enquadrado em opgdes de natureza metodologica. O raciocinio de Leamer exprime o apriorismo que remonta & década de 30, nomeadamente a opinido metodolégica de que a economia «é essencialmente um sistema de dedugdes puras a partir de uma série de postulados (...) que no esto eles proprios abertos a verificagdo exterior” (Blaug, 1994,p.139). Em 1953, Friedman formulava a sua tese, ainda hoje dominante 1 de que ‘0s economistas ndo se deviam incomodar em tomar o seus pressupostos “realistas” (tese da irrelevncia dos pressupostos) e que “o ‘nico teste relevante da validade de V., por exemplo, Schupack (1994) uma teoria ¢ a comparagdo das suas previsdes com a experiéncia” (Friedman, 1953, pp. 8-9). Neste sentido, a andlise empirica deveria ser dirigida sobretudo correlagio entre as previsbes tebricas e os dados empiricos. O que nfo abona a favor dos resultados empiricos porque, mesmo admitindo que as previsdes acuradas s4o 0 Unico teste relevante da validade das teorias, sto conhecidas as dificuldades de distinguir entre correlagdes genuinas ¢ espirias. Esta atitude metodolégica teré tido como principal objectivo “proteger a economia contra as criticas continuas dos seus pressupostos irrealistas” (Blaug, op. cit, p. 157) e explicard a atracgio dos economistas pela metodologia de Lakatos, com seu conceito de micleo duro, ou seja, um conjunto de hipéteses irrefutaveis. Verificam- se ainda, e continuando a citar Blaug, diversas reacgdes contra uma “estridente exigéncia de testes severos das previsdes”, promovendo-se, em consequéncia, uma certa permissividade dentro das “regras do jogo”: quase qualquer modelo serve, desde pe eee que formulado rigorosamente, construido com elegancia, e prometa ser potencialmente relevante para situagdes do mundo real”. Neste contexto, compreende-se que o papel da andlise empirica na | confirmagéo das TCI seja secundirio. Isto é verdade sobretudo quando as teorias do comércio internacional dispunham de um corpo tedrico solide ¢ coerente (teoria neoclissica ortodoxa) | 0 balango ¢ outro, porém, quando referido evolucdo das teorias. De facto, conforme procuraremos evidenciar, a questo da relevancia dos pressupostos tem sido frequentemente invocada ¢ explorada sempre que a evidéncia empirica ndo é conforme as previsbes das teorias. Recorde-se, a propésito, 0 célebre paradoxo de Leontief eo facto de grande parte das tentativas de o superar residirem em provar que os pressupostos da teoria nfo se verificavam nos EUA no periodo do “teste”. Esta reacglo traduz 0 que Redman (1993) designou de “striving to be objective” (p. 124), e explica que mesmo os que professam as dificuldades do falsificacionismo na ‘economia salientem, simultaneamente, a sua necessidade. Este “inconformismo” dos analistas “empiricos” tem conduzido a que a anélise empirica tenha proporcionado importantes insights a anilise teérica, mesmo quando os seus objectivos iniciais se limitavam a confirmag&o ou refutago das previsdes das teorias disponiveis. 2V, Blaug, op. cit, p. 171 ‘A. andlise que se segue € dividida em quatro seogdes. Na secgo 2, aborda-se 0 caso das teorias da vantagem comparativa (teoria ortodoxa), modelizadas para explicar ‘© “comércio do lado da oferta” em contextos de concorréncia perfeita com rendimentos constantes & escala. A primeira dificuldade empirica com que nos defrontamos nestes modelos refere-se @ medig&o da vantagem comparativa, t6pico com o qual iniciamos esta secglo. Seguidamente, destacam-se algumas dificuldades metodégicas na anélise empirica da teoria ricardiana e do teorema Heckscher-Ohlin (H-0). Acentuado destaque € dado ao segundo por se ter tornado dominante, sick preponderdncia que suscita alguns comentarios no final da secglo. Na secedo 3, sto abordadas as “novas teorias do comércio”, designagdo que abrange uma série de modelos diversos que tém como caracteristica comum o facto de se basearem em hipoteses diferentes das da teoria ortodoxa: teorias da procura, da tecnologia, © modelos de comércio intra-ramo. Na sec¢do 4, perspectivamos alguns rumos para a investigagdo empirica. Finalmente, na secgdo 5, formulamos algumas consideragdes finais. 2. Andlise empirica dos modelos de vantagem comparative | “Economic doctrines are usually tested, not by systematic methods, but by @ | DARWINIAN struggle for survival in the arena of history” (Niehans,1981,p. 174), 3 2.1, Amedigso da vantagem comparativa’ As tentativas de quantificago das diferencas internacionais na vantagem | comparativa tém sido sujeitas a severas criticas. O problema central & 0 conceito ser | definido em termos dos pregos relativos em situago de autarcia. Assim, medir a vantagem comparativa a partir desses precos ¢ tarefa obviamente impossivel e, quanto aos pregos observaveis, esto ja influenciados pelo comércio. Em geral, adopta-se a solugfo de Balassa (1965) que, atendendo a Lei da ‘vantagem comparativa, sugeriu a construgo de indicadores de vantagem comparativa 2 Bete topico é analisado na aula n° 4, mas decidimos inseri-lo a fim de reforgar alguns pontos de vista cexpressos no texto, revelada (VCR) com base nos valores dos fluxos de comércio. Para 0 efeito propés “indicador das exportagdes relativas” © a “razio exportagdo-importagdo”, mas | recomendou que fosse preferencialmente utilizado 0 indicador baseado somente nas exportagdes‘, devido a existéncia de mecanismos protectores das importagdes de incidéncia no uniforme entre os diversos sectores. De facto, a evidéncia empirica tem comprovado que, por enquanto, o problema é mais acentuado do lado das importagbes. Outros indicadores baseados em dados pés-comércio tém entretanto sido ‘usados, principalmente inspirados nos de Balassa’. Estas medidas tém sido aplicadas tanto em termos cardinais como ordinais, sobretudo aos produtos de um determinado pais; podem também ser calculadas em termos do grau de vantagem comparativa de um produto em diversos paises. problema central com qualquer indicador de VCR é, porém, nfo termos uma relagio deterministica entre 0 padrio de vantagem comparativa e o padrio de comércio, Por exemplo, no modelo ricardiano, a direcgdo do comércio depende dos pregos autércicos, mas a quantidade exportada depende da procura mundial ou da capacidade produtiva, consoante o que for menor. Os mesmos factores so decisivos no caso do teorema H-O, ¢ sabe-se, desde Baldwin (1979), que, se o modelo tiver muitos factores, a direcgdio do comércio é indeterminada A solugdo tem consistido em considerar que, com algumas restrigbes, 0 padrio de comércio observado é explicado pela vantagem comparativa’, concentrando-se a investigagdo na apreciagio critica da abordagem tradicional, ic., 0 uso do “indicador das exportagdes relativas” para medir a vantagem comparativa ao nivel de um pais’, Estes contributos permitem-nos questionar resultados e conclusies de estudos baseados nesta medigo, sendo as altemnativas construidas “intuitivamente”, sem adequada discusséo teérica, ou igualmente passiveis de contestagao. Hillman (1980) foi pioneiro ao mostrar, num referencial gréfico, que | preferéncias interas diferentes ¢, portanto, pregos relativos autércicos diferentes, 4 (Xa/Xi)/(Xe/Xq), em que i,k © w se referem respectivamente a0 produto, pais ¢ mundo. 5-V_ a este propésito, Ballance, Forstner e Murray (1987). * Deardorff provou-o em termos da versio fraca da Lei da vantagem comparativa (v. seogao 2.2.2.1.) "Para comparagdes da VCR de um produto entre paises, existe um contributo de Hillman (1980) no quadro das hipdteses do modelo H-O. -O autor mostra que, para que a correspondéncia entre a medida de VCR € os pregos relativos autiircicos esteja assegurada, ¢ preciso que [0X )VKa/K) XK) podem estar associados & mesma medida de exportacdes relativas, nfo sendo, portanto, o indicador apropriado para comparagées entre bens ao nivel de um pais. Conclusio idéntica é retirada por Yeats (1985), que analisou as propriedades deste indicador num interessante estudo empitico. © autor confrontou, em termos da VCR medida com o “indicador das exportagdes relativas”, a posigdo de um produto (indastria) num pais com a que esse produto ocupa relativamente a outros paises. Para © efeito construiu a referida medida de VCR para 127 indistrias e 47 paises, e procedeu a dois ordenamentos: (i) o dos valores da VCR das diversas industrias em cada pais, (ii) 0 dos valores da VCR de uma industria nos diversos paises. Finalmente, comparou a posigio relativa de cada industria nos dois ordenamentos, ¢ concluiu que essa posigo apresenta, geralmente, grandes diferengas. Por exemplo, Portugal aparece como o pais com a medida de VCR mais clevada na produgao de olaria. Contudo, este valor esta 229.06 pontos (98.6 %) abaixo do valor méximo registado em Portugal. O problema reside no facto de, para cada industria, serem diferentes as distribuigbes dos valores da VCR relativos aos diversos paises, ¢ € tanto ‘mais grave quanto maior for essa diferenga Refira-se, finalmente, Bowen (1983) que, tendo igualmente concluido que 0 valor cardinal do indicador nao permite retirar conclusdes sobre vantagem comparativa (idem, p. 465), findamentou a utiizago alternativa de indicadores de VCR construidos com dados relatives a produgdo e a0 consumo. Bowen comegou por mostrar que 0 indicador de Balassa pode ser expresso em termos do referencial de Kunimoto, que define a vantagem comparativa de um bem como a razio entre o comércio observado € 0 comércio “esperado” * (i.e. 0 que ocorreria num mundo hipotético em que no existisse especializagdo geogrifica do comércio internacional) | Ora, para que as exportagdes mundiais do bem estejam distribuidas entre paises na proporgdio do peso destes nas exportagdes mundiais (interpretago econdmica do denominador) € preciso assumir que todos os produtos séo exportados por todos os paises, 0 que ¢ absurdo ¢ contrario ao concéito que se procura medir. Em alternativa, | assumiu preferéncias idénticas e homotéticas ¢ construiu o indicador da “intensidade * Xa/eXa, em que eXy=(X/Xe).Xne, €M que eX, € 0 comeércio esperado. do comércio liquido”(NI), baseado na relagdo entre 0 comércio liquido € 0 valor esperado do consumo (que mais realisticamente assume sempre valores positivos). A. este propésito, existem, porém, dois estudos dignos de mengao: - O estudo empirico de Ballance, Forstner & Murray (1987), que mostraram que © grau de consisténcia entre as diversas medidas de VCR (avaliado pelos coeficientes de correlagdo entre pares de indicadores para cada bem) sendo baixo, & mais elevado no caso dos indicadores que utilizam unicamente dados relativos a0 comércio (provavelmente por dificuldades de conciliago das classificagées estatisticas para a produgdo e 0 comércio); - Vollrath (1991), que ctiticou 0 uso do comércio liquido por exprimir melhor a vantagem absoluta do que a comparativa, e mostrou que o denominador da fracgao (0 “consumo esperado”) ndo € equivalente ao “comércio esperado” da versio de Kunimoto, que Bowen alega respeitar. Para que isso fosse possivel, seria preciso introduzir restrigdes suplementares do lado da oferta '°, 0 que agrava a inconsisténcia com a observagao empirica e neutraliza em boa medida a capacidade explicativa da teoria™’ 2._A explicacdo empirica da vantagem comparativa 2.2.1.0 modelo ricardiano ‘A teoria ricardiana considera apenas um factor de produg&o variavel, o trabalho, e tecnologias diferentes em paises diferentes. O comércio reflecte, portanto, diferengas na produtividade do trabalho entre paises, para alguns ou todos os bens. ‘A andlise empirica do modelo ricardiano nao tem despertado muita atengio”, provavelmente pelas implicagdes irrealistas do modelo ao nivel da especializagao. O ° NIg=Ta/eCa em que eCu=(v/¥e)Qne Tx"Qa-eCx, eC 0 consumo esperado (pela hipétese de preferéncias homotéticas idénticas), y 0 rendimento, Qa produsio, ¢ os indices i, ke w se referem, ‘respectivamente, ao bem, pais ¢ mundo. NI;=(PIa-1), sendo Pls=Qu/eCix © Vollrath argumenta que o indicador de Bowen poderia ser tornado consistente com o referencial de Kunimoto se fosse construido assim: Nl=Ty/eTa, em que eT3=eQuneCa, € €Qs.€ a produce que ‘ocorreria se 0s paises fossem idénticos relativamente 4 dotagao factorial ¢ tecnologia... " Procedendo a um survey das diversas medidas disponiveis, Vollrath (op. cit.) concluiu que 0 indicador das exportagées relativas (na sua versio original ou numa verdo logaritmizada proposta pelo autor) parece ser, apesar de todas as criticas, o mais indicado, "2 Cf. Leamer (1994) | | 10 “teste” mais referido continua a ser 0 estudo pioneiro de MacDougall (1951). A sua hipétese de trabalho consistiu em verificar se as industrias americanas com capacidade exportadora maior que as do RU (quando confrontadas as respectivas capacidades num terceiro mercado de destino) eram as que tinham uma produtividade relativa do trabalho superior. Como a razo salarial entre os EUA ¢ 0 RU era considerada igual a dois , na pratica o teste consistia em verificar se Xa/Xim>I sempre que qu/qix>2 (Sendo X as exportagdes, q a produtividade do trabalho e i,j* e k respectivamente os indices para os EUA, RU e 0 terceiro mercado). O teste mostrou que de 25 produtos analisados, 20 satisfaziam a previsio. Outros autores constataram, contudo, que estes resultados empiricos podem ser encontrados no contexto de outros modelos". Por exemplo, ¢ facil mostrar que, num mundo em que os pregos dos factores no so igualizados, a produtividade relativa do trabalho tenderd a ser maior nos paises abundantes em capital. Assim sendo, os resultados podem ter captado simplesmente os efeitos no comércio da abundincia em capital dos EUA e a abundancia em trabalho do RU. © teste de MacDougall foi retomado em Balassa (1963), que estimou um modelo em que a produtividade do trabalho e os salérios dos EUA relativamente a0 RU s&0 variaveis explicativas da VCR (medida pelo indicador das exportagdes relatives). Estranhamente, ambas as varidveis tém sinal positivo (¢ sao significativas), indicando que para a vantagem comparativa contribui néo s6 a produtividade como também selérios elevados. A par dos problemas de medigdo inerentes & variavel dependente, este modelo confronta-nos de novo com a auséncia de controlo dos ais de outros factores determinantes do comércio (provavelmente efeitos poten trabalho qualificado /capital humano), o que retira relevancia aos resultados. 2.2.2..0 Teorema H-O O modelo H-O assume que as mesmas técnicas de produgio esto disponiveis, em todos os paises mas, para cada bem, existe um conjunto de téenicas possiveis (combinagdes alternativas dos factores produtivos), com as quais 0 bem pode ser produzido. No contexto deste modelo, 0 teorema H-O, formulado inicialmente para 3 V. por ex., Marlasen et al. (1995) u um mundo 2x2x2 segundo uma versio posteriormente designada de “‘conteido em bens”, afirma que um pais exporta os bens que utilizam intensivamente os factores relativamente abundantes e importa os bens que utilizam intensivamente os factores relativamente escassos. A analise empirica deste teorema ¢ tradicionalmente associada ao célebre paradoxo de Leontief, que concluiu que a razo capital-trabalho nas importagdes excedia a das exportagdes em 23 por cento, resultado considerado paradoxal atendendo ao facto de os EUA serem na altura (1949), indiscutivelmente, a nagéo do mundo mais abundante em capital. Uma forma de reagir a0 paradoxo é questionarmo-nos sobre se ele podera ser interpretado como um teste do teorema H-0, tal como este foi formulado na sua versio inicial. Leontief nfo analisou o contetido em bens do comércio, mas a sua composigzo em termos de capital ¢ trabalho incorporados nas exportagdes € nas importagées. Em 1968, Vanek propés a formulagéo do teorema H-O explicitamente definida em termos dos servigos dos factores incorporados no comércio (nas exportagées liquidas), Esta versio, conhecida por “contetido em factores”, afirma que um pais, através do comércio de bens, exporta os servigos dos factores relativamente abundantes e importa os servigos dos factores relativamente escassos. Este teorema, conhecido por Heckscher-Ohlin-Vanek (H-O-V), ¢ sintetizado no seguinte modelo para o pais j: AT;=E}-jE., em que A é a matriz man dos coeficientes técnicos de produgii, idéntica para todos os paises, T; € 0 vector nx1 das exportagGes liquidas, E; €0 vector mx] da dotagdo em factores do pais, Ew é 0 vector mx1 da dotagéo mundial do factor ¢ 0; 0 racio entre a despesa interna de j e a mundial (0; = (yj-bj)/yw, em que y indica o rendimento e b o saldo comercial). Sé se pode garantir que os sinzis de T séo iguais aos de AT no modelo “base” de dois bens e dois factores. As implicagdes destes desenvolvimentos tedricos para 0 célebre paradoxo foram decisivas. Tornando-se evidente que o teste de Leontief deveria ser enquadrado na segunda versio, Leamer (1980) demonstrou que os resultados de Leontief eram afinal compativeis com o facto de os EUA serem abundantes em capital. O paradoxo residiria numa formulagao errada do teste Leamer verificou que os EUA eram um exportador liquido dos servigos do capital e do trabatho no periodo estudado por Leontief. Isto podia ter ocorrido ou r 2 | | porque 0 comércio no estava equilibrado, ou porque outros factores, para além do | capital e do trabalho, eram relevantes. Com um contra-exemplo mostrou que, quando isto acontece, um determinado ordenamento da composig&o factorial das exportagdes e das importagdes ¢ compativel com qualquer ordenamento da abundancia desses factores (e um pais abundante em capital pode incorporar uma razo mais elevada de | | | trabalho em termos do capital nas suas exportagdes do que nas suas importagdes), | Leamer mostrou que, no caso tipificado pelos EUA, a anélise correcta consiste em | verificar, assumindo-se preferéncias idénticas e homotéticas, se um pais consome | relativamente menos (€ por isso exporta em termos liquidos relativamente mais) dos seus factores abundantes’, Aplicando esta abordagem aos dados de Leontief, nao se confirmou 0 paradoxo. Brecher & Choudhri (1982) assinalaram, todavia, um paradoxo nos dados utilizados por Leontief. Com base no modelo de Vanek, um pais so pode ser um exportador liquido dos servigos do trabalho se a sua despesa interna por trabalhador i \ | i { | | for inferior & do mundo. De facto, se considerarmos a equago de Vanek relativa a0 | factor trabalho (L):Lx-Lm=L-aL,, teremos que Lx-Lm>0= (y-b)/L0,Lx-Lm<0, ()Kx-Km>0,Lx-Lm>0,(Kx-Km)/(Lx-Lm)>KelLe, (Kx-Km<0,Lx-Lm<0,Kx-Km)/(Lx-Lm)(T/Ep) se ¢ 86 se Ew/E,>-Ew/Ep, ou de forma equivalente, se Ei/Eq>E3/Ev 19 de Vanek para o trabalho, mas os segundos mostraram que a exportagio liquida dos | servigos do trabalho no é mais que uma consequéncia do excedente comercial em 1947. Para o provar, os segundos corrigiram a componente do conteiido em factores da equagio de Vanek deste desequilibrio, enquanto os primeiros integraram desequilibrio comercial na componente relativa & dotago factorial, como na versio original de Vanek". Como os dois procedimentos so algebricamente equivalentes, as diferentes conclusdes podem ser interpretadas como uma manifestagao da auséncia de robustez. A persisténcia de paradoxos nos dados sobre comércio nao deve, contudo, surpreender. Em ultima andlise podem simplesmente indicar que as hipdteses subjacentes ao teorema H-O-V nfo descrevem adequadamente a realidade. Recentemente, Trefler (1993) deu um contributo diferente para os insucessos dos sucessivos testes empiricos” ao sugerir que o problema residiré na considerago da igualizagdo do prego relativo dos factores e da existéncia de tecnologias idénticas nos diversos paises (2 matriz A) que the esta subjacente. Se estas diferengas forem incorporadas através da hipdtese de que existem diferengas de produtividade para o mesmo factor nos paises considerados, torna-se possivel explicar, com base nas dotagdes factoriais, uma parte significativa do conteido em factores do comércio. O método usado consistiu em calcular as diferengas internacionais nas produtividades que tomam possivel a igualdade de Vanek ¢ na confirmagdo se s4o consistentes com as diferengas observadas no prego dos factores. Por exemplo, se for preciso assumir que a produtividade do trabalho no RU ¢ 2/3 da produtividade do trabalho nos EUA para que se verifique a equagdo de Vanek, entio 0s salarios no RU devem ser cerca de 2/3 dos salérios americanos. Uma aplicagdo curiosa destes célculos ¢ a confirmagao da explicagio originariamente dada por Leontief para o seu paradoxo, com base no facto de a produtividade do factor trabalho nos EUA ser tripla da do resto do mundo. Gaisford (1995) argumentou que um problema central dos estudos referidos sobre © contetdo em factores do comércio é considerarem que o capital ¢ um factor 21 Kohler mostra que Brecher & Choudri fizeram um teste de sinais para a equaco de Vanek relativa ao factor trabalho (Lj): Ij=L-o%]-y, em que 1=Lx;-Lm, ¢ o:=(y-by yw, enquanto Casas & Kwan Choi fizeram outro teste de sinais para o lado direito de duas equagies relativas as exportagSes liquidas do factor que ocorreriam com um equilibrio hipotético da balanga comercial (dadas por I*): @) ItpLpvpveLe; ¢ (i) I*ypbyyeLy (que relaciona I*j com lj pela equagio de Vanek). jém dos trabalhos citados, vejam-se ainda Maskus (1985), Brecher & Choudhri (1988) ¢ Staiger (1988). | 20 imével, De facto, quando o capital tem mobilidade internacional, os testes tradicionais, que focam exclusivamente 0 comércio indirecto dos factores (através do conteiido em factores do comércio de bens), desprezam 0 capital que € exportado directamente (através do investimento estrangeiro), © que pode explicar os paradoxos a Leontief encontrados em paises abundantes em capital como 0 caso dos EUA. Gaisford examinou esta questo com base no teorema H-O-V adaptado de forma a contemplar a mobilidade internacional dos factores, e prova que um pais abundante em capital pode { ter exportagies indirectas liquidas negativas de capital desde que as suas exportagdes directas de capital sejam suficientemente significativas. O seu raciocinio ¢ comprovado empiricamente para os EUA na década de 60*. 2.2.3._Da estranha “resisténcia” do teorema H-O a “anarquia” das “novas teorias do comércio” © balango acima feito conduz-nos a legitima questio das razdes da permanéncia do dominio tedrico (ou, pelo menos do apelo ao estudo, nas décadas mais recentes) de uma teoria que nao consegue ser cabalmente confirmada, nem mesmo pds Leamer (1980). 0 teorema H-O despertou, conforme se pode confirmar pela exposigo feita, tum interesse estranhamente duradouro. De facto, resistiu no s6 as contradigbes © insucessos da anélise empirica, como A consciéncia precoce da importancia dos rendimentos crescentes a escala, presentes, por ex, em Ohlin, e inclusive & constatagao cempirica nos anos 60 de um fenémeno frontalmente oposto as previstes do teorema H-O: © comércio intra-ramo (CIR) crescente na Comunidade Europeia, como consequéncia da liberalizagao do comércio, ao invés do crescimento do comércio inter- ramo postulado pela teoria, Na década de 60 alguns economistas, principalmente da area empresarial, procuraram construir modelos alternativos ao modelo H-O em termos da dinémica das inovagdes de produto e das vantagens de marketing dos produtores de paises de altos ® Wood (1994) sugere que o capital, pela sua mobilidade, seja excluido dos testes recentes da teoria HO, e prova o seu raciocinio mostrando que comércio Norte-Sul € melhor explicado pela ‘abundincia relativa em trabalho qualificado do primeiro grupo de paises relativamente ao segundo, ddo que por diferencas relativas na dotago em capital 2 rendimentos (teorias do gap tecnolégico, ciclo do produto e overlapping demand), Tratam-se, contudo, de modelos “frouxamente construidos™, cujo sucesso so pode ser explicado pela pertinéncia das questdes focadas. A raziio da “resisténcia” do teorema H-O as criticas, incompatibilidades com a observagio empirica ¢ analise factual da realidade, pode ser encontrada na protecgaio da teoria ortodoxa referida na secc&o 1. Bensel e Elmslie (1992) mostraram como 0 teorema H-O (¢, mais genericamente, o modelo que Ihe esta subjacente), constitui um caso tipico de “programa de investigagao cientifica” 4 Lakatos, enquadrével na preocupagio mais geral de reduzir a teoria pura a um caso especial da teoria do equilibrio geral (EG). O pensamento tedrico apegou-se, consequentemente, 20 “niicleo duro” do modelo H-O, proscrevendo as tentativas de explicago do comércio que no apelassem para a teoria do EG segundo as proporgdes factoriais. Assim sendo, 2 acuidade factual da teoria tornou-se uma questo secundéria. Peter Kenen (1975, p. 22), um eminente tedrico do comércio internacional, sumariou a situagéo nestas palavras: “(...).A teoria era julgada imutavelmente verdadeira. A tarefa do tedrico do comércio internacional era, ento, apenas soletrar as suas implicagdes para o bem-estar para as politicas’™* ‘A partir de 1979 e ao longo da década de 80, por razdes que Krugman (1994) atribuiu basicamente a “descoberta” das vantagens decorrentes da introdugio das hipéteses simplificadoras da “simetria” e dos “grandes nimeros” em modelos de concorréncia monopolistica e que, mais genericamente, se relacionam com a utilizagao pelas TCI de modelos da organizago industrial desenvolvidos nessa altura, comegaram a surgir diversos modelos de concorréncia imperfeita que se revelaram capazes de explicar o CIR. Estes modelos tém a vantagem de utilizarem hipdteses mais realistas, que reflectem melhor as caracteristicas das empresas envolvidas no comércio. internacional Depois dos trabalhos pioneiros de Krugman (1979a,1980) e Lancaster (1980) construidos em contexto de concorréncia monopolistica, a investigagdo seguiu dois rumos einstein st ee aA RUE RRR ENTRAR NING 2 Blaug,1994,p 269, 2 V. th, Blaug, idem. * Cit. por Blaug, idem. 2 (@ Continuar 0 “programa de investigagiio” do modelo H-O, incorporando a problemética da diferenciagéo dos produtos. Esta abordagem, iniciada por Helpman (1981) e mais desenvolvidamente exposta em Helpman & Krugman (1985), foi Gesignada_de“Chamberlin-Heckscher-Ohlin"(C-H-O), e visou reformular a teoria tradicional incorporando economias de escala, concorréncia monopolistica e comércio intra-ramo, sem abandonar 0 “niicleo duro” do programa de investigacdo anterior. Conforme o proprio Helpman (1981a, p. 306) explicou, “a teoria emergente (...) é a generalizagio adequada da teoria Heckscher-Ohlin..”, pois permite manter a explicagio de um padrio de comércio inter-ramo, com base na dotagdo factorial, ¢ relacionar © comércio intra-ramo também com a dotagdo factorial (a diferenga nos récios capital-trabalho em cada pais reduzem a parte do comércio intra-ramo no volume total de comércio)”. (ii) Desenvolver abordagens do CIR num contexto diferente do C-H-O. Sao de salientar os estudos pioneiros no contexto de oligopdlio de Brander (1981) & Brander & Krugman (1983), que estipulam que economias idénticas, produtoras de bens homogéneos, penetram no mercado do parceiro porque discriminam os pregos, © 0s de Eaton & Kierzkowski (1984) e Shaked & Sutton (1984), que inserem na andlise 1 diferenciagao horizontal e vertical dos bens, respectivamente, A regra desta investigagfio tebrica é porém, citando Bensel & Elmslie (1992), a “anarquie”, no sentido em que deixamos de dispor de um teoria geral dos padrées de comércio. De uma forma geral, os modelos com entrada restringida siio muito sensiveis as hipoteses de partida (condigbes de entrada, comportamentos estratégicos, natureza da diferenciago do produto), conforme a sua aplicagéo teoria da intervengio estratégica tem provado. Frequentemente, revelam-se néo robustos & modificagao das, hipéteses consideradas, A anélise empirica decorrente dos desenvolvimentos indicados seguiu, também, naturalmente, um de dois rumos. Encontramos estudos ligados 20 modelo H-O da dotagao factorial, ou pelo desenvolvimento de versdes mais “fracas” do teorema H-O, como referimos a propdsito de Trefler e Gaisford, ou pela tentativa de “testar” o 7 Nao 96 se salvaguarda o teorema H-O, como se acrescenta a explicagio de um facto novo, ‘confirmado empiricamente. Neste sentido, segundo Bensel &: Elmslie (1992), estes desenvolvimentos ‘permitem classificar , no contexto da terminologia de Lakatos, o “Programa de Investigacéo Cientifica” do modelo H-O como “Progressivo”. T 2 modelo C-H-O, como referiremos a propésito do estudo de Helpman (1987). Em geral, contudo, os estudos empiricos desenvolveram um percurso relativamente independente da teoria mais formalizada. Assim, para além de diversos estudos relativos as teorias dindmicas e da procura dos anos’ 60, dispomos de uma vasta literatura sobre modelos de comércio intra-ramo que utilizam algumas varidveis inspiradas na teoria, outras na simples observagio ou bom-senso do investigador. Na secgfo que se segue fazemos um balango destas iniciativas, de forma a concluirmos ‘com uma apreciagio global do “estado da arte” e de novos rumos para a investigagao empiric. 3. Anilise empirica das “novas teorias do comércio” “We have an enormously theoretical enterprise with a very little empirical confirmation” (Krugman, cit. por Dodwell, 1994, p. 10) 3.1O impacte_da procura ‘A maior parte da literatura sobre factores determinantes do comércio concentra-se no lado da oferta, neutralizando a procura pela introdugo das hipoteses de preferéncias idénticas e homotéticas. Sendo, contudo, 0 comércio, a diferenga entre a produgéo € © consumo, devemos esperar significativa influéncia por parte da procura. A anélise pioneira do impacte da procura no comércio é usualmente associada & anilise de Linder (1961) ¢ & sua teoria da overlapping demand. Linder argumentou que os bens manufacturados séo produzidos onde a procura for maior. A exportagio é uma ampliagio do mercado interno e, consequentemente, dirigida a paises com semelhangas na procura. Paises com condigdes da procura semelhantes terfo, portanto, niveis de comércio mais intensos, ¢ relacionado com produtos semelhantes. Esta andlise tem sido interpretada como significando que a intensidade do comércio bilateral esta positivamente correlacionada com semelhangas no rendimento per capita. Este ¢ um resultado oposto ao que se espera no contexto do teorema H-O, que subentende que paises com rendimentos per capita semelhantes terio, 4 provavelmente, dotagdes factoriais semelhantes e, consequentemente, fluxos comerciais pouco significativos. A observagio empirica do comércio internacional sanciona, aparentemente, @ teoria de Linder, na medida em que o comércio de bens manufacturados se desenrola sobretudo entre paises desenvolvidos e, consequentemente, com niveis de rendimentos per capita semelhantes. Os resultados das regressbes em que os fluxos de comércio bilateral so explicados pela semelhanga nos rendimentos per capita so, porém, inconclusivos. Em diversos casos a relagio nio ¢ estatisticamente significativa (Kohlagen,1977, Ellis,1983) ou € mesmo negativa (Michaely,1981). Hoftyzer (1984) argumentou que a confirmago de uma relago positiva pode ser uma consequéncia da | proximidade geogréfica ¢ participagio em associagdes regionais de comércio. De facto, controlando os factores indicados néo detectou evidéncia empirica da tese de Linder**, Greytak & Tuchinda (1990) mostraram que utilizando uma proxy altemnativa para semelhangas no rendimento (com base nas semelhangas nos padrées de consumo) € uma especificagio nio-linear, os resultados se alteram, 0 que permite suspeitar de auséncia de robustez em estudos anteriores. ‘A auséncia de formalizagio matemética em Linder, compromete a apreciagéo empirica da sua tese””. O papel da procura como determinante do comércio tem sido, todavia, confirmado pela rejeigio empirica da hipotese de as preferéncias serem idénticas e homotéticas. Ballance, Forstner & Murray (1985) utilizaram uma equagéo derivada dos dois indicadores de VCR propostos por Bowen (1983) (construidos com a referida | hipdtese) (v. nota n° 9) TaleCa= A+B(Qu/eCi)+Us, em que eCu=(yi/yn)Que, T € 0 comércio liquido, Q a produgdo, Y 0 rendimento, e i,k ¢ w se referem ao bem, pais e mundo, respectivamente. Se as preferéncias forem idénticas homotéticas, A=-1 e B=+1. Os autores estimaram a equago para 13 bens e rejeitaram uniformemente esta hipotese. Outros estudos que procuraram minizar a influéncia da distancia geogréfica, seja pela construgo de testes intertemporais em que a distancia ¢ uma constante ( Kennedy & McHugh, 1980), seja pela sclecgdio de paises com proximidade geogrifica (Shelburne, 1987), rejeitaram também a tese de Linder. ® Diferengas nos rendimentos per capita podem exprimir também uma influéncia do lado da oferta resultante de diferengas nas dotacto factoriais. Bergstrand (1990) fornece alguma evidéncia empirica ) neste sentido ao acrescentar esta segunda influéncia num modelo gravitacional (parte do poder | explicativo da primeira variavel ¢ transferido para a segunda), 25 Hunter (1991) propés um método contrafactual de medio do volume de comércio ocasionado por preferéncias nio-homotéticas. A anélise de Hunter & desenvolvida em duas etapas: 1) comega por “neutralizar a procura”” determinando 0 consumo que ocorreria se todos os paises tivessem uma estrutura da procura idéntica € homotética; 2) compara, seguidamente, os fluxos comerciais observados com os valores do consumo neutralizado. A discrepancia entre estas duas estimagdes de fluxos de comércio define o volume de comércio causado por preferéncias diferentes e nao- homotéticas. Os resultados empiricos mostram que estas contribuem para mais de 1/4 dos fluxos de comércio analisados (34 paises, com uma desagregagdo em 11 bens), sendo este efeito mais acentuado no caso dos paises com maiores rendimentos. 3.2._A influéncia da tecnologia par Ren primeiro esforgo tedrico para explicar 0 padriio de comércio com base em factores relacionados com a tecnologia ¢ atribuido a Posner (1961) e ao seu modelo do gap tecnolégico. Posner questionou 0 modelo H-O por este nao apresentar respostas & questo pertinente de um pais que dispde de um avango tecnologico produzir produtos novos que Ihe asseguram um monopélio temporario da produgo € exportacao. Ora, isso contradiz. a hipdtese do modelo H-O de que as fungdes de produgio séo idénticas ‘em todos os paises. Posner nfo construiu um modelo formal, mas a sua teoria foi posteriormente recuperada por Cheng (1984) com contributos interessantes™. ‘Ao modelo do gap tecnolégico foram formuladas diversas limitagdes, em particular o facto de nao responder & questio fulcral: porque ¢ que uma inovagdo nao é explorada na localizago de menor custo? As teorias do ciclo do produto revelaram-se mais aptas a responder a esta questéo, Hirsch (1967) explica a localizagéo da produgao basicamente aplicando o modelo H-O as diversas etapas do ciclo: a tecnologia estaré disponivel em todo 0 lado, mas 0 produto novo surge onde se verifica abundancia de trabalho qualificado, pasando o trabalho menos qualificado a ser determinante medida que 0 produto se torna maduro ¢ estandartizado, Vernon (1966) argumenta, % Cheng desenvolve um jogo dindmico de concorréncia internacional em I&D. A existéncia de um ‘gap tecnol6gico ¢ influenciado pela duracdo da renda de monopélio da inovario , pelas reacgées das ‘empresas ao aumento de 1&D das rivais, e pela natureza da vanlagem tecnol6gica (dotago tecnolégica versus eficiéncia em 1&D), 26 fora do contexto do modelo H-O, baseando-se na teoria de Linder, que 0 produto novo deve emergir quando exista mercado/procura para ele, o que em geral acontece ‘em paises com consumidores de elevados rendimentos”! Estas teorias tém-se revelado pouco adequadas a explicagdo do comércio mais recente, sobretudo a partir dos anos 80. As razées relacionam-se com a expansio das multinacionais (EMN), e 2 possibilidade de deslocalizagao répida da produg&o, que tende a eliminar o ciclo referido pela teoria. Neste sentido, um teste adequado da teoria do ciclo do produto deveria ter em consideragéo a existéncia e crescimento das EMN, procurando explicar as razdes da sua implantagdo. Ora, até ao momento isto tem sido feito de forma muito insuficiente em termos tedricos™ e é praticamente inexistente em termos empiricos"®, A nfo ser que concluamos, ¢ parafraseando Markusen et al. (1995, p. 230) que, apesar de modelos formais adequados ao teste dos modelos de ciclo do produto estarem ainda por delinear e, na sua formulagdo inicial, a aplicabilidade do modelo 20 comércio mundial ser pequena, a propria existéncia das EMN seja entendida como uma validagao indirecta da teoria, Apesar das insuficiéncias te6ricas, 0s economistas nfo abdicam de considerar que a tecnologia é uma influéncia empirica relevante no padrio de comércio de um pais, Diversos estudos empiricos o sugerem, apesar de o balango revelar, também, diversas incongruéncias na anélise, basicamente decorrentes da pouca articulaglo com a teoria. Entre os problemas encontrados nos estudos empiricos, salientamos: () A evidéncia relaciona-se, sobretudo, com os EUA. Para outros paises, os resultados sdo geralmente no significativos quando se utiliza uma variével tecnolégica baseada nos valores dos EUA. Esta é a opgao mais vulgar resultante, por um lado, de ‘0s EUA fornecerem uma base estatistica adequada e de, apés a Segunda Guerra, 0 seu papel de lider tecnologico ser durante muito tempo incontestado. Surpreendentemente, 5 posteriormente, Krugman (19796) ¢ Jensen & Thursby (1986) explicaram formalmente o comércio [por um processo continuo de inovagdo no Norte e transferéncia tecnolégica para o Sul. Em Krugman, 2 inovagio ¢ a transferéncia tecnolégica slo exogenas, enquanto em Jensen & Thursby slo 0 resultado de uma relagio estratégica entre a decisio de inovar do Norte ¢ a de imitar a inovagdo, planeada pelo Sul * V, Helpman (1981b, 1984) ¢ Helpman &Krugman (1985). 25 Brxistem estudos empiricos que fornecem alguma informacdo ttl sobre esta questo, no Ambito do impacte das EMN no comércio internacional ( Hipple,1990a ¢ 1990b) ¢ na transferéncia tecnoldgica (Patel e Pavitt, 1991), 27 porém, em estudos que utilizaram, para paises da OCDE, variaveis relatives & tecnologia do proprio pais, os resultados so, em diversos casos, ndo significativos™. (i Quase todos os estudos utilizam como proxy para a tecnologia um indicador de input, geralmente as despesas em I&D. Ora, a 1D pode ser expressio simplesmente da abundancia relativa de trabalho qualificado/capital humano e, portanto, explicada no contexto de teorias neo-factoriais. Soete (1987) testou um indicador tecnologico de output, como & 0 caso das patentes, altemativo & 1&D, ¢ concluiu que a utilizagdo deste indicador apresenta resultados empiricos bastante diferentes dos que so obtidos com indicadores de input tecnolégico. (ii) Finger (1975) sugeriu que a verificagao empirica de uma relagao positive entre inovagio e comércio nfo seja devida aos efeitos da inovagdo na introdugao de produtos novos, mas antes & redugo do custo de produgo dos produtos existentes. Lee & Stone (1994), no entanto, concluiram que ambos os efeitos parecem estar presentes no que se refere a 1&D nos EUA entre 1974-88. Uma sugestio importante para a anélise tebrica foi despoletada a propo ito do sinal encontrado para a proxy tecnologica em estudos do padrio de comércio portugués entre 1973-82 (Courakis & Moura Roque,1986). No contexto das teorias indicadas, a inovagio é uma caracteristica dos paises lideres. Quanto aos restantes paises, as condigdes determinantes so as intensidades factoriais e as dotagdes relativas em factores produtivos. No caso de Portugal, pais de desenvolvimento intermédio, a teoria sugere, portanto, que o sinal esperado para a proxy tecnolégica nacional tenha sinal negativo, ou pelo menos, no seja significativa, Ora, 0 sinal encontrado foi positivo e o pardmetro estimado revelou-se significativo. A explicago dada para 0 controverso resultado consistiu em insistir na relevincia da proxy para a tecnologia nacional, mas sugerindo que exprimia diferengas entre industrias na “propensio a adaptar” o produto, ou processo de inovagio, iniciado em paises mais avancados tecnologicamente, Deste ponto de vista pode argumentar-se ‘que 08 sectores tecnologicamente mais avangados da economia portuguesa, apesar de ocuparem um lugar baixo no ordenamento em termos tecnologicos quando comparados com os mesmos sectores nos principais parceiros de Portugal, esto mais aptos 2 adaptar c/ou tém mais capacidade de o fazer do que os sectores menos >Y., por exemplo, Soete (1987) . sofisticados tecnologicamente. Esta proposigio foi testada introduzindo no modelo estimado a distingdo entre varidveis tecnolégicas de um pais lider e do pais seguidor (Portugal). No primeiro caso, seria de esperar que os coeficientes tivessem sinal negativo e, no segundo caso, sinal positive, o que foi confirmado pelos resultados empiricos. Ou seje, os resultados so consistentes com a hipotese de que o padrio de comércio de um pais seguidor deve ter coeficientes negativos e significativos relativamente as varidveis tecnolégicas do pais lider, conjuntamente com coeficientes positivos e significativos das variaveis para a tecnologia interna. Esta interpretagZo particular extravasa a teoria sobre este tépico e, nessa medida, conduz & necessidade do seu aprofundamento, direccionando-a para a distingao entre propensdo a inovar ¢ propenséio a adaptar. 3. Modelos empiricos de comércio intra-ramo Dispomos de diversas referéncias tedricas para a explicagéo do fenémeno do CIR. De facto, a diversidade de comportamentos estratégicos nas situagdes de concorréncia imperfeita no permite a utilizagao de um modelo iinico. © modelo mais divulgado de equilibrio geral para explicar 0 comércio intra- ramo € 0 de concorréncia monopolistica de Krugman (19794), alargado de forma a incluir também 0 comércio inter-ramo (Krugman, 1981) ¢ posteriormente desenvolvido e generalizado em Helpman & Krugman (1985). A esséncia deste modelo € a existéncia de uma procura agregada dirigida a bens diferenciados, sendo a produgdo de cada variedade do bem sujeita a rendimentos crescentes intemos a ‘empresa, O namero de variedades™ é determinado endogenamente pela relacao entre economias de escala e dimensio do mercado. Em autarcia, 0 nimero de variedades produzidas em cada pais ¢ limitado pelas economias de esoala, enquanto com 0 ‘comércio os consumidores acedem a um niimero de variedades maior. Se 0 comércio aumentar a elasticidade da procura dirigida a cada variedade, produziré adicionalmente ganhos inerentes a exploragio das economias de escala No contexto desta abordagem, Helpman & Krugman (op. cit) integraram ainda o fenémeno das > Devido & auséncia de custos na diferenciagdo dos produtos e gosto pela variedade, nao existem duas ‘empresas a produzir a mesma variedade do bem, sl 29 multinacionais que, na versio mais simples, se formam quando a empresa-mae localiza 0 servigos centrais (actividades de I&D, marketing e distribuigdo) num pais e parte das actividades produtivas no outro, gerando-se comércio intra-ramo entre variedades produzidas em paises diferentes e comércio intra-firma entre empresas da mesma EMN.** Note-se, contudo, que nestes modelos se verifica: = Auséncia de teorizagao sobre factores considerados decisivos na formagao do CIR, como a proximidade geogrifica, factores culturais, linguisticos, redugdo de barreiras a entrada nas actividades de marketing e distribuigao nos mercados externos; ~ Dificuldade em explicar 0 fenomeno da multinacionalizagio do processo produtivo: Schiatarella (1993) mostrou como no modelo de Helpman & Krugman existem importantes contradigdes entre as hipoteses de partida e os artificios introduzidos para explicar o fenémeno””, para além de nfo se revelar capaz de explicar aspectos importantes da realidade como é 0 caso do investimento directo estrangeiro entre paises desenvolvidos Quanto aos modelos de equilibrio parcial em contextos de concorréncia oligopolistica, que traduzem a dimensio estratégica do comportamento empresarial, sfo de uso limitado na construgdo de hipéteses relativas as caracteristicas gerais de um pais, pelas razdes tedricas assinaladas. Que contributo podem estas teorias dar construgdo de modelos empiricos que vvisem abarcar as diversas hipéteses sobre a explicagio do CIR? Pouco mais do que sugestdes sobre alguns factores relevantes Sobretudo economias de escala e grau de diferenciagao do produto- que so adicionados de uma forma ad hoc a outras variéveis cexplicativas baseadas na observagdo empirica. Existem, todavia, alguns escassos estudos, de que Helpman (1987) foi pioneiro™, que procuram seguir uma abordagem estrutural, investigando implicagdes empiricas relativas ao CIR rigorosamente derivadas da teoria da concorréncia monopolistica em equilibrio geral de Helpman & Krugman (1985). 6 Na mesma obra, 0s autores exploram também as consequéncias da integragio vertical do processo tivo no contexto das EMN. ” As empresas procuzindo bens diferenciados so, por hipétese, idénticas em cada sector. Ora, as ‘empresas que decidem produzir no estrangeiro incorrem em custos de multinacionalizagdo, o que arse incompativel com 2 hipétese da homogeneidade das fungtes de custo, Para uma aplicacdo empirica mais recente da metodologia de Helpman, v. Hirschberg, Sheldon & Dayton (1994) 30 Estando, portanto, confrontados com duas metodologias de anilise, procedemos a uma avaliagto separada dos seus resultados. No que se refere ao primeiro tipo de modelos, os resultados empiricos no so encorajadores. Verifica-se que diferem substancialmente consoante os estudos, sobretudo se 0 objectivo é explicar a variagio inter-industrial do CIR® (Greenaway & Milner, 1986), e que a capacidade explicativa dos modelos é, em geral, baixa (v., por exemplo, um citado estudo de Loertscher & Wolter,1980, que apresenta um R? ajustado de 0.07), Outra caracteristica destes modelos é no confirmarem a relagdo positiva esperada entre CIR e economias de escala/ diferenciagdo do produto . A. maioria dos estudos identifica, inclusivamente, uma relagdo negativa entre o CIR e ‘economias de escala. Também a relagaio empirica entre CIR e diferenciaglio do produto no é clara. Resultados to decepcionantes tém produzido dois tipos de reaogées. No campo teorico, parece verificar-se, recentemente, uma reavaliaglio dos modelos disponiveis. No modelo de concorréncia monopolistica de Krugman (1980), Bralhart (19952) € Torstensson (1995) fizeram variar diversos pardmetros (dimensio relativa das economias, economias de escala e custos de transporte) de forma a avaliar © respectivo impacte no CIR“'. Os resultados sao ilustrados com simulagdes numéricas, e mostram que, fixando os restantes parémetros, o CIR varia inversamente com as economias de escala (e diferenciagio do produto”). Isto decorre da concentragao progressiva da produgao no mercado interno de maior dimensto, devida qualquer nivel de produgio. Estes resultados sugerem que os modelos de regressio | | a hipétese do modelo de os custos marginais serem inferiores aos custos médios para | linear miltipla explicativos do CIR devem considerar, pelo menos, os restantes | factores identificados nestes modelos. ® Existe maior homogeneidade em andlises que visem explicar a variaglo do CIR entre paises. “© V, por exemplo, Clark (1993), Tybout (1993) e Torstensson (1995). “* Torstensson acrescentou ainda a hipétese de fungbes de custo diferentes na produgo do bem diferenciado. © Neste tipo de modelos existe uma relago monotonica positiva entre o grau de economias de escala € ‘gran de diferenciagdo do produto, conforme referimos & frente ‘© Torstensson (op. cit.) estimou um modelo com estes factores- diferenga na dimensio das economias, crustos de transporte, diferengas tecnologicas, para além das economias de escala- mas os coeficientes ‘io ndo significatives e a capacidade explicativa do modelo é muito baixa, o que sugere problemas de varidveis omitidas ¢ erros de medicio. 31 No campo mais especificamente empirico, tém vindo a ser sublinhados diversos | problemas inerentes a construgo destes modelos. Salientamos os seguintes: | (i) Existe 0 conhecido problema do nivel de agregaglo. Na maioria dos \ modelos teéricos, uma industria é definida como um grupo de bens diferenciados, | produzidos com a mesma proporgao factorial. Ora, é sabido que, na realidade, a classificagdo industrial ¢ baseada noutros critérios (os inputs de que os bens so feitos, © seu destino...). E, por isso, muito provavel que a “industria” utilizada contenha uma parte importante de comércio inter-ramo. E também dbvio que desagregar sistematicamente ndo é solugo, porque, no limite, teriamos bens diferenciados para os quais nfo existe comércio nos dois sentidos, isto é, anulavamos o proprio fendmeno, Uma situagio muito frequente consiste em contabilizar como comércio intra- ramo um fendmeno de natureza diferente “, de crescente importincia em termos empiricos, relativo 20 comércio de bens intermédios: a exportagao e importaglo simultiinea de bens que correspondem a estagios diferentes do processo produtivo. Este “comércio intra-ramo” pode nfo ter qualquer relagdo com economias de escala ¢ diferenciago do produto, e deveria ser distinguido do “genuino” pela escolha adequada do “niimero de digitos”. i) Relativamente a variével dependente, existe uma vasta literatura que sublinha as dificuldades de construgio de um indicador de CIR adequado. Na presenga de desequilibrio da balanga comercial, é geralmente reconhecida a necessidade de corrigir 0 enviesamento do indicador. As solugdes propostas 1ém-se revelado contudo mais nocivas que benéficas"*, o que justifica que se opte, em geral, pelo indicador de Grubel-Lloyd (G-L) nao corrigido® ii) A. literatura recente tem ilustrado que uma subida do indicador de G-L é compativel com situagdes muito diferentes (v. Brilhart,1994). Embora a subida implique necessariamente uma aproximagao entre exportagdes ¢ importagdes, esta aproximagio pode sugerir tanto uma erosao da posigdo exportadora liquida como @ + V, Fomagné, Freudenberg, & Unal-Kesenci (1996). “ Sendo geralmente reconhecido que este efcto deveria ser contemplado a0 nivel de cada indistia/produto ¢ nfo 20 nivel agregado, o problema & que nfo existe possbilidade de o fazer convenientemente; as sugest6es & Aquino (assumir que 0 desequilibrio se repercute cequiproporcionalmente em todas as indistrias) aparecem como as mais vidveis mas alteram anificialmente 0 padrlo de comércio sem dar qualquer garantia de nos aproximarmas do comportamento que @ economia teria num contexo de comércio equlibrado. “©, actualmente, relativamente consensual que este ¢ 0 mais indicado (v. Vona,1991). 32 redugdo de um défice sectorial, sendo pouco clara a relagao da primeira possibilidade ‘com a explorago de economias de escala e outros factores intemnos ao pais. (iv) Harrigan (1995) mostrou que, num modelo de concorréncia monopolistica, | © indicador de G-L néo varia com variagBes nas economias de escala ou diferenciagéo do produto”. (v) Outro conjunto de objecgdes relaciona-se com a identificagio de colinearidade entre as variaveis independentes nos modelos usuais. Bergstrand (1991) € Torstensson (1995) mostraram, num modelo de concorréncia monopolistica baseado em Krugman (1980), que o grau de diferenciagao do produto (fungio negativa da clasticidade de substituig&o) é uma fungo positiva do grau de rendimentos crescentes uma indistria (medido pela elasticidade de escala). Consequentemente, num modelo ‘empirico baseado nestas relagdes, so uma das duas medidas deveria ser incluida. Este 6, alids, um topico que a investigagio empirica recente tem ressaltado: que a propria articulagio dos factores parece ser determinante. Mencione-se Porter (1990) que, com base mum referencial tedrico de grande sucesso, mostrou que a competitividade internacional esta relacionada com a eficdcia de um sistema de tripla dimensio: firma/indistria/nago. A exploragdo tebrica destas relagdes poderd tornar insustentével a construgo dos modelos empiricos com a concepgéo actual (vi) Finalmente, refiram-se as conhecidas dificuldades de construgiio das proxies para algumas das variaveis geralmente utilizadas, como a diferenciaglo do produto ou economias de escala, que em geral s6 muito remotamente tém alguma relago com 0 conceito tedrico e/ou so elas proprias endogenas (6 0 caso da percentagem de emprego nas grandes empresas, ou outras medidas de concentragao para medir as economias de escala)*. ‘Apés estas reflexdes, fara sentido construir modelos empiricos de CIR com muitas varidveis? Provavelmente, nfo. Leamer (1994, p.85) afirma que, na auséncia de uma teoria capaz de integrar as diversas variaveis, sera preferivel calcular correlagdes No modelo de concorréncia monopolistica de Helpman & Krugman (1985), em equilibrio cada pais importa a mesma proporgdo da produgio do outro pais em cada sector, sendo o factor de pproporcionalidade o peso do pais no tendimento mundial. Assim, as varidveis com que 0 indicador de G-L € construido (Xj € Ma), slo respectivamente iguais a: My=5Yue Xa=sYy, em que i se refere ao bem, je ka paises, s,€2 parcela do pais do rendimento mundial e Y. é a produgo do bem i no pais “Harrigan (1995) testa varias proxies alternativas para economias de escala, ¢ conclui que os resultados slo sensiveis & esoolha da proxy. 33 simples, uma vez que no existe qualquer certeza de as outras influéncias serem controladas correctamente pela sua simples incluso na regressio. Estes modelos simples tém, todavia, os problemas inerentes & omissfio de variaveis relevantes Em qualquer caso, parece indispensivel um maior rigor na construgao destes oe modelos empiricos de CIR. Recentemente, tem surgido uma vasta literatura sobre a | problemitica da estratégia de selecedo de modelos (v. Lopes, 1987). Varios autores tém salientado a arbitrariedade da construgdo de um modelo combinado a partir das teses “separadas”, sendo particularmente delicado o caso em que 0 modelo cempirico é baseado em modelos rivais (neste caso “o modelo combinado por si proprio podera nao ter qualquer significado” (op. cit,p. 101). Este ultimo caso € visivel em modelos empiticos que combinam, por exemplo, variveis explicativas do comércio intra-ramo em contextos oligopolisticos (medidas de concentragdo empresarial, por exemplo) com indicadores de comércio inter-ramo. Nos casos em que 0 problema da rivalidade nfo ¢ aparente, deveria ser seguida uma estratégia criteriosa de seleego das vatiéveis do modelo, pelo confronto deste com modelos mais gerais (maior mimero de variaveis) ¢ modelos menos gerais (contidos no modelo analisado). Courakis & Moura, Roque (1986,1989) confrontaram centenas de especificagdes alternativas, tendo escolhido o “melhor modelo” com base nos seguintes critérios (i) 0 modelo | seleccionado, quando comparado com outro modelo mais geral, 96 é rejeitado se | houver uma perda significativa do poder explicativo; (ii) nfo existe outro modelo que, sendo um caso particular do modelo seleccionado, possa ser aceite com o mesmo nivel de signficdncia. Com esta “estratégia”, nflo se resolvem os problemas de relagio entre a teoria € 0 estudo empitico acima mencionados, mas, pelo menos, controla-se a robustez dos resultados empiricos obtidos. Parte dos problemas acima mencionados podem ser atribuidos, como referimos, ao facto de os modelos empiricos de CIR, na sua maioria, serem 6 , remotamente baseados na teoria. Residira, entao, a solug&o, para melhorar a sua capacidade explicativa, em adequé-los (unicamente) as relagdes estruturais propostas pela teoria? Num ensaio excepcional a este nivel, Helpman (1987) testou -e, de facto, aparentemente comprovou- algumas hipéteses directamente derivadas do modelo 2x2x2 de Helpman & Krugman (1985, cap. 8). Hummels & Levinsohn (H-L), contudo, testaram as mesmas hipéteses para o mesmo periodo, com algumas melhorias 34 metodolégicas e alterago da amostra, e chegaram a resultados insuspeitados que permitem questionar no s6 0 quadro teérico disponivel como a possibilidade de ser construida uma teoria adequada. Helpman (op. cit) testou as seguintes hipoteses para paises da OCDE nas décadas de 60 e 70: (@) Se 0 comércio for todo intra-ramo, 0 volume de comércio como uma proporgio do PIB do grupo de paises considerados ¢ tanto maior quanto maior for a semelhanga entre os paises em termos da sua dimens&o (medida pelo PIB)®. Ou seja, a dimensao relativa dos paises determina o volume de comércio entre paises. (b) Para uma dada dimensio dos paises, o-nivel de CIR sera tanto maior (menor) quanto maior for a semelhanga (diferenga) entre as dotagées factoriais relativas dos paises. Como neste modelo o PIB per capita de um pais é fungo do seu racio capital-trabalho™, esta hipétese significa também que, no caso de dois factores produtivos, 0 nivel de comércio intra-ramo sera tanto maior quanto maior for @ semelhanga entre o PIB per capita dos paises considerados. Relativamente A primeira hipotese, Helpman construiu valores para as duas varidveis para cada ano e verificou graficamente uma elevada correla¢do positiva entre las, ou seja, & medida que a dimensio dos paises se aproxima, 0 volume de comércio intra-ramo aumenta, Aparentemente, Helpman confirmou, portanto, a hipotese tedrica, 0 que, atendendo as hipdteses restritivas da teoria (todo o comércio ¢ intra- ramo, cada variedade do bem é produzida num tinico pais, todos os paises tém preferéncias homotéticas idénticas, livre entrada na industria), acaba por ser surpreendente. H-L (1993), no entanto, revisitaram esta hipétese utilizando técnicas econométricas mais apropriadas. Assumindo que diversos factores podem constituir infuéncias peculiares as relagées bilaterais mas ortogonais a0 PIB (tais como, comércio fronteitigo, comércio sazonal, relagdes culturais ¢ linguisticas, barreiras a0 comércio, distancia geogréfica, recursos naturais,...), € que estes efeitos sAo traduzidos © Helpman estimou a seguinte equaglo:V"/PIB=e, [1- Z(e,"Y'], em que V" é o volume de comércio centre paises do grupo A, €a é 0 peso do PIB do grupo A no PIB mundial e ¢;*é 0 peso do pais j no PIB do grupo AO lado dircito da equacSo ¢, portanto, uma medida de dipersdo que aumenta quando 1 dimensio dos paises se torna mais semethante (v. H-L,1995,Anexol) SpIB=n (pL;K.), em que x, p,1;€K; se referem, respectivamente, aos lucros, pregos, trabalho € capital. Logo, PIBV/Lj=r (p,Kj/L) (Helpman & Krugman, op. cit, pp. 171-2). 35 por um conjunto de constantes desconhecidas, utilizaram como referéncia principal um modelo de efeitos fixos"'. Em vez de valores agregados para os paises da OCDE, como em Helpman, utilizaram, portanto, os valores do comércio bilateral” em cada ano, 0 que aumentou significativamente a dimensdo da amostra. Os resultados de H-L comprovaram a relagdo estatistica estimada por Helpman (98 por cento da variagao no volume de comércio é explicada pelo modelo), 0 que conduziu os autores a interrogarem-se “sera 0 mundo assim to simples?”. Para responder a esta questio, reestimaram 0 modelo utilizando dados relativos a paises fora da OCDE que se sabe, @ priori, nao serem apropriados por terem valores confirmadamente baixos de CIR. Ora, inesperadamente, também estes dados fornecem suporte para a teorial Relativamente & segunda hipétese, Helpman confirmou a relago esperada entre © grau de CIR e as diferencas nas dotagdes factoriais medidas pelo rendimento per capita, nama analise cross-section do comércio bilateral para cada ano do periodo estudado * H-L (1995) procuraram melhorar esta abordagem, procedendo as seguintes alteragGes: () Utilizaram dados relativos as diferengas nas dotagées factoriais relativas em | vez da proxy de Helpman (diferengas nos rendimento per capita’). Esta substituigao permite a ampliagao do nimero de factores e quase duplica a capacidade explicativa do ‘modelo, apesar de nem todos os factores considerados se revelarem significativos. i) Introduziram no modelo as diferengas idiossincrécicas entre pares de paises ‘acima referidas (que, de uma forma lata, os autores designam de factor “geografia”), assumindo que so constantes no periodo estudado. Utilizando para este efeito um © Neste tipo de modelos considera-se outro “residuo”-neste caso relativo aos efeitos fixos nas relagdes bilaterais- para além do residuo habitualmente estimado. Desta forma expurgam-se destes efeitos os estimadores iniciat 2 © estudo do comércio em termos bilaterais, parece-nos ser, em qualquer caso, mais correcto, se atendermos ao argumento de Bergstrand (1991) de que, na medida em que o teorema H-O (versio “contetido em bens”) néo se aplica ao comércio multilateral, o CIR multilateral se torna_ “desinteressante” porque “esperado”. A verificagdo do teorema para o comércio bilateral sugere, pelo contrario, que “a presenga do CIR bilateral ¢ interessante” (op. cit,p. 207). * utras técnicas econométricas foram utilizadas para controlar a possibilidade de os efeitos ‘especificos serem aleatérios ¢ de 0 termo dos efeitos fixos estar correlacionado com os restantes termos, ndo se conslatando implicagbes significativas nos resultados 5* 9 equago estimada ¢ a seguinte: GLy-dor | PIBYN; PIBJN| +c-min(logP IB, logPIB,)+asmax(logPIB, logPIB,)*y, ‘em que GL ¢ 0 indicador G-L, N a populagdo ¢ j e k referem-se aos paises analisados. Os valores min ‘e max dos niveis do PIB visam captar a importancia da dimensdo relativa (v. Helpman, p. cit, pp. 73- 74), Espera-se que a~0, 03>0 € a3°D. 5° Em rigor, esta proxy sb ¢ apropriada com dois factores produtivos (v. L-H, 1995). LAE Fe modelo misto (cross-section e temporal no formato panel data) de efeitos fixos, verificaram que os coeficientes das variveis que medem as diferengas nas dotagdes factoriais se alteram (medidas no s6 directamente como através da proxy de Helpman), passando de negativos a positivos ( significativos), enquanto o R? aumenta substancialmente. Estes resultados parecem indicar que a consideragdo das influéncias especificamente bilaterais altera drasticamente 0 papel empirico das diferengas nas dotagdes factoriais™. Uma razo plausivel poderia ser uma fraca variagdo das variaveis relativas as dotagdes factoriais ao longo do periodo, mas isto ndo ¢ confirmado numa anilise de varifincia (ANOVA). Assim, a explicagdo mais provavel parece residir no papel decisive da “geografia”. Por exemplo, paises vizinhos podem ter rendimentos semelhantes por qualquer razo nfo especificada, ¢ terem um elevado CIR devido a custos de transporte baixos. Este raciocinio foi corroborado com a introdugio na equago base de Helpman de uma variével para a distincia. O coeficiente desta variavel € no s6 negativo como muito significativo, enquanto a influéncia das dotagdes factoriais se tomam, em geral, neutras. © que concluir dos resultados destes testes teoricamente guiados? No primeiro caso, € 0 modelo tebrico subjacente a relag#o observada que ¢ questionado. No segundo, se uma parte significativa do CIR € explicado por factores especificos as relagdes bilaterais, ¢ a possibilidade de se construir uma teoria para explicar o fenomeno que pode estar excluida. 4, Rumos para o investigacdo empirica © balango empirico das novas teorias do comércio é desapontante’”. Parece, aliés, ser possivel concordar com Krugman em que o_balango geral dos trabalhos empiricos ¢ afinal mais favoravel ao modelo H-O do que as novas teorias: ” We have learned something, even if only that our old preconceptions about trade are not too % Assumindo que estes efeitos podem nao ser fixos ao longo do periodo estudado, L-H testaram ainda ‘um modelo de efeitos variveis, diversas especificagées alternativas foram também ensaiacas. Em qualquer dos casos, a robusez dos resultados é, no essencial,confirmada, Krugman (1994) manifesta a sua opinio nos seguintes termos : “The state of the empirical work on the new trade theory is abit disappointing. There has not been any dramatical empirical confirmation ofthe models and afew clear policy implications other than caution has emerged from attempts to produce quantitative assessments” (cit. por Dodwell,1994, p. 10) 37 wrong. When we have found evidence, it has tended to confirm the old theories” (cit. por Dodwell, 1994, p. 10). ‘Na pesquisa de solugSes, encontramos, na literatura actual, trés rumos para a investigagao: | 1) Propostas de uma abordagem mais eclética do fendmeno, em altemativa a \ uma formalizagéo tedrica baseada no conceito de equilibrio, numa linha de investigagao similar & das teorias do investimento directo estrangeiro: paradigmas OLI, ESP, teoria sintética, etc. Esta abordagem € proposta por Gray (1989). Uma abordagem mais flexivel poderia constituir uma pista importante para a investigagao, pelas possibilidades que oferece: diferentes corpos teéricos podem ser utilizados, assim como diferentes dimensées da anilise (pais, indistria, firma); os factores podem ser sistematizados por combinagdes diversas de caracteristicas (do pais, tipo de mercados produtos,...) e, conforme sugere Gray, pela natureza da causalidade (indispenséveis, promotores, impeditivos ou ambivalentes). 2) Insistir na investigagdo actual. Afinal, conforme Leamer admitiu, “The profession is driven by theoretical models, not by evidence. We like to play with models...” (cit. por Dodwell, 1994, p.9). Uma possibilidade ¢ continuar no contexto dos modelos de concorréncia monopolistica (inclusive a vertente mais alargada dos modelos C-H-O), 0 que, como se referiu, continua @ proporcionar interessantes Contributos. Esta opgaio enquadra aqueles que, como Leamer, preferem fortemente a ordem criada “by the thick distorting glasses of H-O models to the thin dark glasses of the new trade theory” (cit. por Dodwell, 1994, p.5). Encerra, todavia, o perigo de conduzir a0 que Wiles (1984, p. 279) designou de doenga peculiar dos economistas, que € a “opposition to falsification, i.e., disrespect for facts; and an almost religious reluctance to challenge existing paradigms”. A modificagao de algumas hipoteses inerentes aos modelos referidos, em | particular o abandono dos conceitos de custos médios decrescentes indefinidamente de auséncia de custos na diferenciagio dos produtos, poderé trazer novos contributos a0 papel dos factores tradicionalmente relacionados com 0 CIR (ef. Brilhart,1995a), ———EEE 38. Na pratica, porém, isto traduz-se na exploragdo de modelos com entrada restringida, com as inevitéveis consequéncias da “anarquia” acima referida 3) Assumir que estamos num periodo de crise e que é preciso uma mudanga de paradigma *. Existem contributos recentes que permitem perspectivar esta mudanga. A alteragio baseia-se no reconhecimento da importincia decisiva da localizagio da produgio no espago para a explicago do comércio internacional (Krugman,1991). A problemética nfo € nova, tratando-se de economias externas a nivel regional. O conceito de economias extemas foi contudo praticamente ignorado nas TCI - apesar de | ser possivel inclui-lo em modelos de concorréncia perfeita e do reconhecimento da sua importancia “para o comércio internacional remontar a Ohlin (1933). As economias intemas eram consideradas como o factor mais relevante, e a possibilidade do seu estudo formal a partir da década de 80 nos modelos de concorréncia imperfeita contribuiu para a secundarizago das economias externas Krugman reconheceu em estudos empiricos anteriores um contributo decisivo para a identificaglo da importincia da concentragio regional no comércio, em particular em Porter (1990) que, com base num vasto estudo de casos, identificou que as vantagens competitivas nacionais esto associadas a um cluster localizado de indistrias (v. Krugman, 1994, p.22). Em Krugman (1991), a localizagao da produgao 6 explicada com base na interacgdo entre rendimentos crescentes, custos de transporte € procura. A redugao dos custos de transacgiio tem dois efeitos: facilita a localizagao da produgao onde esta for mais barata, mas facilita também a concentragio da produgdo onde for possivel explorar economias de escala. A localizago da produgao numa determinada regio amplia o mercado interno, o que atrai novos produtores, tormando-se 0 proceso de concentragao industrial auto-sustentével. Os argumentos principais para a formagio de economias de localizagéo remontam a Marshall: pooling do mercado de trabalho, fornecimento de inputs intermédios e spillovers tecnologicos. A teferéncia a um novo paradigma surge explicitamente em Krugman (1993) ‘Trata-se de uma “nova teoria do comércio internacional”, aberta as consideragdes da * Levinsohn, a propésito dos testes que realizou ao modelo de Helpman (1987), comentou : “At best, ‘we pave the way forthe third stage of the theory's life cycle. At worst, we leave matters confused and unsettled” (ct. por Dodwell, 1994, p. 9), 39 “eoria da localizagao", em particular aos rendimentos crescentes a escala como factor de aglomerag&o € de especializagaio local (regional), mobilidade factorial ao nivel ' internacional e custos de transporte no comércio dentro do pais ¢ internacionalmente. ‘As fronteiras nacionais deixam de definir, consequentemente, uma unidade relativamente & qual as economias externas se devam necessariamente aplicar. Este novo corpo teérico tem ajudado a esclarecer alguns resultados empiricos inesperados relativos ao CIR. Nos modelos tradicionais de CIR, a localizagio da produgéo é indeterminada, visto que independente das dotagdes e composi¢ao ‘ factorial. Contudo, as novas teorias estipulam a presenga de forgas de aglomeracao, que conduzem a uma especializagdo tendencialmente inter-industrial 4 medida que custo das transacgdes econémicas diminui. Os factores que conduzem a esta concentragao podem, portanto, estar negativamente relacionados com o CIR Referimos acima alguns modelos recentes de CIR com custos de transporte ¢ economias de dimensio diferente (Bralhart,1995a e Torstensson,1995) em que economias de escala internas esto positivamente relacionadas com a concentragio da produgdo (relagio demonstrada também para economias externas ao nivel regional- ou nacional- por Briilhart, op. cit.*), sendo possivel constatar (mantendo os restantes parémetros do modelo fixos) que este processo ¢ favorecido pela redugo das barreiras a0 comércio, Brilhart (1995b) verificou empiricamente as previsdes destes modelos. Considerando as indistrias da UE com economias de escala, constatou que, desde 1985, estas indistrias tém verificado um send descendente do CIR, sendo esta descida tanto mais acentuada quanto mais elevadas sio as economias de escala. Estes resultados foram confirmados utilizando desagregagées altemnativas das industrias. O autor confirmou ainda, através do indicador de localizagio de Gini, que as indiistrias com economias de escala so também as mais concentradas geograficamente. Estes resultados fornecem, portanto, um contributo para explicar o “estranho” fenémeno do actual irend descendente de CIR, observado nos paises desenvolvidos da UE, que parece estar relacionado com a concentragio da localizagdo industrial, omitida em ® A diferenca, relativamente ao caso das economias de escala internas, é que as economias so i induzidas a uma especializagdo inter-industrial mesmo quando a dimensSo das cconomias ¢ igual. 40 modelos anteriores. Adicionalmente, permitem-nos suspeitar da criagio de importantes assimetrias na distribuigéo do rendimento entre mercados integrados, 5- Comentarios finais ‘Constatamos diversas dificuldades na confirmag&o das implicagdes empiricas ) das TCI relativas 4 explicagio dos padrdes de comércio, Uma questo central é a que j invocdmos na Introdugao: o facto de o mundo real ser secundario na elaboragio destas teorias, tomando dificil determinar 0 critério empirico apropriado para rejeitar ou aceitar “as mentiras“ inerentes ao modelo"! Pudemos constatar, porém, que um novo ciclo de teorias ¢ actualmemte mencionado como forma de ultrapassar o “estado de confusio” produzido pelos resultados empiticos mais recentes. © modelos que endogeneizam a localizagéo das actividades econémicas aparecem, neste contexto, como os mais promissores, apesar da evidéncia empirica limitada. Entretanto, nao deixa de ser curioso observar que a mudanga de paradigma em | curso é atribuida por Krugman a um “feeling”: “My own feeling about the nature of the | increasing returns that matter for international trade has shifted.(...). Increasingly, I now tend to believe that external economies are (...) important “ (Krugman, 1994, p. 23), io se trata, certamente, de um recurso a indugo inerente ao positivismo, Recorda-nos, porém, a necessidade de a teoria contemplar a realidade, o que justifica, a par do comprovado estimulo & methoria dos métodos de andlise empirica e & inovagéo tedrica, o interesse pela abordagem empirica. © Krugman, 1994, p.15. | © Redman (1993,p, 140), a propésito de um esquema de Feig] que representa uma teoria como sendo ‘composta de conceitos teéricos ou primitives, ligados por postulados, ¢ outros conceitos definidos em ‘ermos ds primitives, todos recebendo significado da relago com conceitos empiricos que se formam ‘com base na observasdo, sugere que em teorias como as analisadas o modelo parece fazer mais sentido se Virado 20 contririo: é o conceito teérico que sugere a relagdo com a observacdo. © Blaug (0p. cit, pp. 55-56) preconiza a este propésito que a ciéncia seja baseada na “adugo” (operago nfo légica de saltar do caos que ¢ o mundo real para uma conjectura acerca da relag#o que existe entre 0 conjunto de varidveis relevantes iniciais) seguida de deducdo. 41 Bibliografia Balassa, B. 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