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Como gerir empreiteiros

Saiba como subcontratar com qualidade, segurança e sem perder o domínio


das atividades de canteiro

Houve um tempo em que as construtoras trabalhavam quase que exclusivamente


com mão de obra própria. Mas isso ficou para trás com a descoberta de que
subcontratar poderia não só trazer economia, como também minimizar dores de
cabeça com encargos trabalhistas e com a desmobilização do pessoal ao término
das obras. Hoje, muitas construtoras preferem atuar na função de planejadoras e
gerenciadoras da produção, apoiadas por empresas prestadoras de serviços. Só
que garantir ganhos com esse modelo não é missão fácil e requer planejamento
das contratações e controles apurados para lidar com um número tão grande de
contratos.

A necessidade de gerenciamento parece óbvia quando se observa experiências


como a da Thá Engenharia, que trabalha com 98 empreiteiras para a construção
de empreendimentos imobiliários e industriais. Fabiano Salles, analista da gestão
de empreiteiros, diz que a construtora tem obtido ótimos resultados com o uso de
mão de obra terceirizada para serviços de curta duração e especializados, como
os que envolvem instalações elétricas e hidráulicas, trabalhos com rochas naturais
e aplicação de pastilhas em fachadas.

Processo semelhante ocorre na Racional, onde o trabalho com subempreiteiros


específicos para cada atividade tem se mostrado interessante na gestão de
execução dos empreendimentos, de acordo com Rinaldo Donato, gerente sênior
do núcleo de gestão de contratos da construtora. "A vantagem da especificidade
dos subcontratados é exatamente o aumento da produtividade e da qualidade,
associados à mitigação de riscos", diz.

Mas nem sempre os resultados são positivos. Na verdade, para André Augusto
Choma, analista de projetos e consultor da IPA Latin America, o modelo de
contratação aplicado na maior parte das empresas leva os contratantes a
aumentarem os riscos a que estão expostos, em vez de diminuí-los. O consultor se
refere àqueles construtores que acreditam que, uma vez fechado o contrato de
empreitada, é só esperar a obra ser entregue no prazo esperado, na qualidade
solicitada e dentro do custo previamente acordado. "Só que sem o envolvimento
direto das contratantes na gestão dos trabalhos, os fracassos são recorrentes",
pondera.
Quando os focos se voltam para a capacitação da mão de obra, isso fica mais
claro. Sobretudo os empreiteiros de obras civis costumam estar vinculados a
empresas pouco estruturadas, que empregam trabalhadores com baixa
capacitação e alta rotatividade. Isso significa que para contar com uma equipe
altamente produtiva e econômica, como é a exigência atual, a construtora precisa
preparar esse pessoal.

O consultor Giancarlo De Filippi, diretor da unidade de gerenciamento de obras do


CTE (Centro de Tecnologia de Edificações), recomenda que todos recebam
treinamento focado em sistemas de gestão, procedimentos internos e segurança.
No entanto, para os empreiteiros menos especializados, inevitavelmente será
necessário dispor também de capacitação técnica e de qualidade. "O principal
beneficiário do treinamento da mão de obra é a própria construtora. Portanto, não
há razões para não investir, mesmo quando não se trata de empregados diretos",
acrescenta Choma.

Programar as execuções e medir os serviços facilitam o controle do trabalho


terceirizado

Qualidade e produtividade

Além da capacitação, outro desafio entre os construtores é balancear a qualidade


e a produtividade dos serviços executados, especialmente nos casos em que o
empreiteiro trabalha por medição.

Programar as execuções e medir os serviços facilitam o controle do trabalho


terceirizado

Para assegurar o controle dos empreiteiros, em primeiro lugar é necessário


estabelecer metas exequíveis para que haja realmente comprometimento do
prestador de serviço. Da mesma forma é importante definir programações de
execução com as respectivas medições, preferencialmente por ambientes ou
unidades, mais fáceis de controlar do que por metro quadrado.

Outra recomendação é estabelecer uma rotina de término dos serviços,


permitindo, por exemplo, recusar frentes de serviço com pendências ou que irão
gerar retrabalhos. "Mas seja qual for a situação, a medida de melhor resultado é a
seleção de empreiteiros parceiros, cientes de que o trabalho bem executado é
sinônimo de continuidade na construtora", aconselha o engenheiro Edson Borush,
gerente de obras da Thá.

Especialmente nas empresas que não dispõem de práticas consolidadas de


seleção de fornecedores, a contratação da empreitada é comprometida por falta de
planejamento e atropelos. André Choma comenta que, em obras residenciais, as
construtoras costumam investir tempo considerável na concepção do produto, mas
poucas vezes dedicam o mesmo esforço na hora de escolher os empreiteiros com
quem vão trabalhar. "No caso de obras industriais, é ainda pior. Como os prazos
são mais curtos, a necessidade imediata de se achar alguém acaba por fazer as
empresas correrem altíssimos riscos com empreiteiros não-capacitados ou até
mesmo desconhecidos", diz ele.

Até como uma forma de ajustar a mão de obra contratada com o desempenho
exigido para o sucesso do empreendimento, as empresas têm lançado mão de
mecanismos de incentivo para que os empreiteiros cumpram os cronogramas,
melhorem a produtividade e reduzam desperdícios. Definidas em conjunto com o
próprio subempreiteiro, geralmente essas bonificações estão fora de condições
contratuais.

Da eficiência dos incentivos monetários para melhorar os resultados das equipes


ninguém duvida. Mas esses instrumentos exigem negociações prévias com o
empreiteiro sobre a maneira de fazer as medições, as metas que devem ser
alcançadas, e as condições oferecidas pela construtora para sua viabilização - de
projetos detalhados, a boas condições de deslocamento de materiais no canteiro.
"Além do mais, essas práticas apresentam resultados pontuais e normalmente são
implantadas para a recuperação de atrasos", salienta Gianfranco De Filippe. "Na
dinâmica de uma obra, não adianta alcançar uma produção exagerada em
determinado serviço e atropelar o seguinte", conclui o consultor.

Fonte: "Como Gerenciar Contratos com Empreiteiros - Manual de Gestão de


Empreiteiros na Construção Civil", André Augusto Choma e Adriana
Carstens. São Paulo: PINI, 2005.

Modalidades de construção
Preços unitários
A construtora combina previamente com o empreiteiro o valor por unidade
de serviço e paga de acordo com o que for produzido. Essa modalidade é
normalmente utilizada em serviços de menor valor, cujas especificações são
incertas ou ainda não há definição de projeto.

Vantagem: facilidade e rapidez na negociação, pagamento de acordo com a


produção do empreiteiro (que não recebe adiantado).

Desvantagem: se os critérios de medição não forem bem definidos, a construtora


pode ter que arcar com serviços extras (requadros, acabamentos etc.). Além disso,
exige o trabalho de se realizar as medições dos serviços no canteiro.

Preço fixo (ou empreitada global)

A construtora combina previamente com o empreiteiro o valor do serviço


(pode ser para cada etapa ou para a empreitada global) e paga conforme a
finalização das etapas. É o modelo de contratação mais utilizado atualmente.

Vantagem: diminuição dos riscos da construtora na elevação dos custos do


serviço, uma vez que normalmente o subempreiteiro realiza o levantamento
quantitativo dos serviços e não pode solicitar um aditivo.

Desvantagem: se a relação entre progresso e pagamento não for bem dosada, o


empreiteiro pode acabar recebendo mais nas etapas intermediárias, chegando ao
final da obra com quase todo o dinheiro recebido, mas sem ter finalizado o
trabalho.

Homem-hora
Nessa modalidade, a construtora "aluga" mão de obra do empreiteiro,
combinando o valor por hora trabalhada.

Vantagem: rapidez e facilidade na negociação, principalmente para aqueles


serviços em que o escopo é incerto, como reformas, demolições etc.

Desvantagem: pode acarretar custo muito elevado para a construtora na


realização de serviços em geral.

Fontes: André Augusto Choma e Giancarlo De Filippi

Como gerir os contratos


Para a contratação de empreitadas, há apenas um instrumento capaz de dar
segurança jurídica às duas partes: o Contrato de Empreitada. Previsto no Código
Civil (artigos 610 a 619), esse tipo de contrato pode ser utilizado para execução
integral ou parcial de obra e também para realização de serviço especializado na
construção civil.
Um dos equívocos praticados no mercado é utilizar o contrato de prestação de
serviços em substituição ao de empreitada, salienta a consultora jurídica e
tributária Martelene Carvalhaes, sócia da MLF Consultoria. "Mesmo que o objeto
do contrato seja um serviço, o contrato a ser firmado deve ser sempre o de
empreitada", esclarece Martelene, que complementa: "O título do contrato
estabelece a modalidade de contratação e vincula suas partes a procedimentos
específicos para emissão da matrícula CEI (Cadastro Específico do INSS),
contabilização, tributação de receitas e definição de obrigações".

A consultora destaca alguns pontos críticos relacionados à contratação de


empreiteiros e os esclarece aos leitores do Guia da Construção. "São cláusulas
essenciais, não só para a administração da carga tributária, mas principalmente
para evitar conflitos com a fiscalização do INSS, quanto ao correto enquadramento
das obras e ao cumprimento da obrigação principal e acessória", diz. Confira a
seguir.

1. Objeto do contrato - Consiste na execução de uma obra, parte de uma obra ou


um serviço especializado na construção civil. O objeto não pode ser genérico,
tampouco padronizado. Ao contrário, deve ser claro e específico para cada tipo de
obra ou serviço. Afinal, cada obra/serviço tem regras específicas para o
enquadramento e cálculo da contribuição previdenciária - reforma, por exemplo, é
diferente de construção de edificação.

2. Fornecimento de materiais ou utilização de equipamentos - O artigo 610 do


Código Civil não permite a presunção do fornecimento de materiais. Logo, caso o
contrato contemple o fornecimento de materiais e equipamentos, deve existir uma
cláusula que expresse esse fornecimento nos contratos de empreitada.

Na celebração dos contratos para execução de obras ou serviços por empreitada,


a não previsão contratual de fornecimento de materiais implica aumento na carga
tributária das empresas quanto à retenção do INSS (Instituto Nacional do Seguro
Social), além de maior IR (Imposto de Renda) e CSLL (Contribuição Social sobre o
Lucro Líquido) para as contratadas optantes pelo Lucro Presumido.

3. Valor dos materiais empregados ou de equipamentos - Nos contratos, a falta


da previsão do valor dos materiais transfere para o INSS a fixação do valor mínimo
permitido nos contratos de empreitada. Isso impossibilita às prestadoras de
serviços administrar sua carga tributária. Portanto, o valor dos materiais e dos
equipamentos deve constar de forma expressa nos contratos.

Planilhas de composição de custo de obras, desde que estejam com os valores


dos materiais ou equipamentos discriminados e sejam integrantes do contrato,
podem ser utilizadas para a apuração da base de cálculo da retenção para a
Previdência Social.

4. Execução de obras ou serviços em condições especiais - As obrigações das


empresas contratadas e contratantes relacionadas aos agentes nocivos a que os
trabalhadores estiverem expostos devem ser delineadas no contrato, observando
as disposições contidas na legislação. São condições especiais aquelas que
prejudicam a saúde ou integridade física dos trabalhadores por exposição a fatores
de riscos no ambiente de trabalho, levando à aposentadoria especial e à cobrança
de alíquotas adicionais.

5. Obrigações da contratada - A prestadora de serviços deverá sempre


apresentar algumas documentações, a destacar:

notas fiscais ou faturas de serviços, emitidas com vinculação inequívoca à obra,


destacando no corpo da nota o tipo de serviço executado, o endereço da obra e o
número do seu respectivo CEI (Cadastro Específico do INSS). O valor da retenção
para a previdência social calculado de acordo com o contrato deve ser destacado
nas notas fiscais ou nas faturas de serviços.

Cópia autenticada da GFIP (Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à


Previdência Social) do mês de execução dos serviços. A guia deve conter a
relação de todos os trabalhadores utilizados na obra, identificada com o CEI da
obra, e ser acompanhada da GRF (Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia)
quitada.

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