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Regina Soares de Oliveira
Prof. Dra. Silvana Barbosa RubinoMarço/2008
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Resumo
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Abstract
In order to visualize the mechanisms that maintain the two social groups
apart in space, we took advantage of the understanding of the urban segregation
concept, and also of the processes that triggered this separation in the neighborhood,
by means of the recomposition of the inhabitant’s memories. The individual and the
collective histories were then woven together, making it possible for us to see that
neighborhood from multiple points of view. The comprehension of the “places” each
group belonged in was fundamental in the analysis of the separation between the
social classes, as was the visualizing of how the relationships that developed there
got organized around the concept of “established-outsiders”, although these were not
fixed roles.
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Agradecimentos
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Sumário
Item Página
Introdução 12
1.1. Organização da dissertação 21
1.2. Memória: algumas considerações 24
1.3. O trabalho com a história oral 29
1.4. Metodologia 33
Capítulo 1. Moradia popular na cidade de São Paulo 38
1.1. Os cortiços 38
1.2. As vilas operárias 46
1.3. A Vila Maria Zélia 53
1.4. Antecedentes da construção do Mutirão do Casarão 65
1.5. A construção do Mutirão 76
1.6. O Movimento de Cortiço, a partir de 1990 90
Capítulo 2. O papel da segregação socioespacial 95
2.1. Múltiplos olhares sobre o conceito de segregação 95
2.2. A separação entre territórios: bairros de elite e bairros operários 104
2.3. A segregação e seus efeitos no espaço: o caso do Belenzinho 117
2.3.1. O bairro e seu histórico 117
2.3.2. O papel da indústria 121
2.3.3. Os grupos sociais 123
2.3.4. A Avenida Radial Leste 126
2.3.5. A linha do metrô 128
2.3.6. Os efeitos da desindustrialização 132
2.3.7. A renovação urbana 136
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Introdução
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mais pobres da população, não logrando desencadear uma atuação efetiva do poder
público. Seu caráter de longa duração evidenciou-se ao ter atravessado mais de um
século como alternativa habitacional para parcela significativa da população.
Pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em
1994, calculou que aproximadamente 600 mil famílias viviam em cortiços,
correspondendo a aproximadamente 6,2% da população paulistana.
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Rio Tietê
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Avenida
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Guadalajara
Viaduto
Bresser
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A Vila Maria Zélia, foi apresentada de forma breve, visto o grande número
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de pesquisas existentes sobre a mesma , mas ressaltando as múltiplas visões que a
cercaram. O Mutirão do Casarão foi analisado enquanto tentativa de uma política de
atendimento a população encortiçada, desenvolvida a partir de 1989, durante a 1ª
gestão do Partido dos Trabalhadores (PT) na Prefeitura de São Paulo, em virtude das
ações do Movimento de Moradia no bairro Belenzinho.
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Por meio dos relatos dos moradores foi possível captar suas relações com o
espaço e por meio da narrativa perceber como as diversas transformações foram
vivenciadas, entrelaçando as histórias individuais à coletiva (Pereira, 2002: 34). Por
meio de suas histórias de vida e experiências fomos desvendando esses lugares, suas
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tempo e à história. Para este autor, a memória coletiva passou a ser disputada pelos
grupos sociais, o que não impediu a manipulação consciente ou inconsciente da
memória individual, balizada em fatores como afetividade, desejo, inibição e
censura:
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vínculo entre narrador e ouvinte, sendo que o ouvinte se coloca diante do bem mais
precioso que a pessoa possui: as lembranças da própria vida, “o caminho pelo qual a
existência retorna como representação” (Brandão, s.d.: 7): a sua memória.
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1.4. Metodologia
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memória. Essa conversa não foi registrada, sua análise foi feita com base no diário
de campo.
Contatos e conversas
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A primeira conversa com Saulo Barros foi realizada em sua casa, onde me
apresentei, o esclareci sobre o objetivo da entrevista, ele solicitou que fosse
encaminhado por e-mail previamente as perguntas. Posteriormente mantivemos
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1.1. Os cortiços
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desse projeto, o ideal de trabalhador passou a ser aquele que aceitou transferir-se
para a periferia, onde poderia edificar a sua casa própria, cercando-se da segurança
de tornar-se proprietário e atestando a sua boa conduta, enquanto “aquele que
venceu na vida” (Kowarick, 2000: 30).
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cortiços da cidade era o caminho para atingir a saúde (Kowarick & Ant, 1994: 78).
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estratégia para atrair mão-de-obra, ou mesmo como forma de controlar o tempo livre
do trabalhador, submetendo-o à ordem patronal, poderiam ser aplicadas somente
parcialmente no caso da cidade de São Paulo.
Para esse autor, a construção dessas vilas se explicaria mais como uma
alternativa segura de investimento e por possibilitar vantagens adicionais na relação
patrão-operário: pagamento de salários menores aos trabalhadores que residissem na
vila, exigência que outros membros da família se empregassem na empresa e a
segurança de receber o pagamento do aluguel, descontado diretamente na folha de
pagamento. Após 1930, algumas vilas foram construídas visando assegurar que
funcionários da área de manutenção das fábricas estivessem próximos aos locais de
trabalho, suprindo qualquer eventualidade das indústrias.
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A Vila Maria Zélia, construída entre 1912 e 1917 pelo industrial Jorge
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município de São Paulo, embora não tenha sido a única a ser erguida na cidade29.
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Inaugurada em maio de 1917, a Vila Maria Zélia tinha 198 casas térreas, de
diferentes tamanhos (de 75 a 110 metros quadrados), distribuídas em seis ruas
principais e quatro transversais. O acesso a ela se dava tanto pela Rua dos Prazeres
(travessa da Rua Catumbi) como pela Rua Cachoeira e, para perfazer esse trajeto,
utilizava-se a linha de bonde que ligava o Largo da Concórdia à Vila Maria32.
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Por meio de sua vila operária, Street afastava o morador dos “prazeres” do
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vício, que estavam do lado de fora dos muros e que podiam desvirtuá-lo e afastá-lo
da família e do trabalho.
O conjunto de normas que regia a vida dentro da Vila Maria Zélia visava
assegurar a realização dos desejos do patrão sobre o cotidiano operário, ao mesmo
tempo que garantia a força de trabalho na indústria. Para tanto, as casas eram
alugadas somente aos trabalhadores da Companhia Nacional de Tecidos de Juta
(Cntj), destinando-se as residências maiores ao administrador, mestres, operários
mais qualificados e às famílias maiores. Caso a família deixasse de trabalhar na
fábrica, deveria desocupar o imóvel.
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Street também foi atacado por suas posturas ambíguas: ao mesmo tempo
que se dizia do lado do operário e buscava melhorar suas condições de vida,
mostrava-se contrário à redução da jornada de trabalho para oito horas e defendia a
utilização da mão-de-obra infantil nas indústrias.
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indivíduo.
A visão construída sobre a Vila Maria Zélia por Jorge Street, como o
modelo de moradia popular, permaneceu, a despeito de toda a crítica e do papel
ambíguo que as vilas operárias desempenharam na relação patrão-operário.
Encontramos a exaltação da figura de seu empreendedor, ressaltada mesmo por
aqueles que não o conheceram, mas que hoje são moradores da Vila, como veremos
em outro capítulo.
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pois, entre 1980 e 1984, aconteceu a redução de 400 mil postos de trabalho
(Bonduki, 1986: 40). Segundo Felipe (1997: 28), o surgimento do Movimento de
Moradia foi decorrência da ação coletiva – organização para a luta –, em detrimento
da solução individual do problema habitacional – a construção do barraco na favela.
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Como desdobramento dessa ação foi realizada pesquisa pela Paróquia São
Rafael, na Mooca, sobre as condições de vida nos cortiços da região e o
levantamento dos principais problemas enfrentados pela população. Entre os dados
destacados nessa pesquisa, havia informações mais gerais sobre os moradores dos
cortiços, como localidade de procedência, exercício de atividade remunerada,
profissão, escolaridade e dados específicos sobre os cortiços.
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reivindicações havia ainda demandas que tocavam no cotidiano dos cortiços: a tarifa
social de energia elétrica e água, a cobrança desses serviços por família e não “por
cabeça” (quando a cobrança se faz em função do número de membros dentro do
cômodo), além do fim de fiadores e proibição de crianças, fatores comuns na época.
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Industrial, sendo que a maior parte das casas, nesse local, foi construída em regime
de mutirão. Na gestão de Jânio Quadros (1986-1989), 28 lotes foram comprados no
Jardim Santa Etelvina (1986) e, em 1988, mais 50 no Jardim Chabilândia, ambos em
Guaianazes (Atrm, 1993). Embora a demanda inicial fosse a aquisição de 200 lotes
no Jardim São Francisco, a Prefeitura alegou que o terreno era inviável, em função
da dificuldade para implantação de sistema de abastecimento de água.
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teórico-metodológicos57. Afinal, o que se entende por segregação? E por que ela tem
atraído especial interesse dos pesquisadores urbanos, que têm vinculado o seu estudo
ao estabelecimento de políticas públicas?
Segundo Préteceille (2004: 11), haveria uma convergência dos olhares dos
pesquisadores sobre os processos sociais, o que gerou uma aparente comunhão nas
produções sobre o tema (abordagens, teses, referenciais, vocabulário, métodos) e nas
políticas públicas adotadas. Para esse autor, as pesquisas sobre segregação se
mostrariam frágeis, na medida em que a convergência de olhares não poderia ser
aplicada às realidades urbanas, que são díspares. Nesse sentido, as variáveis de
pesquisa deveriam ser escolhidas de acordo com o problema estudado,
considerando-se as suas especificidades.
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Para Pretéceille (2004: 12), a maior parte das pesquisas produzidas no Brasil
sobre a segregação tem polarizado a ocupação dos territórios, pautada na oposição
entre ricos e pobres, desconsiderando a localização residencial dos grupos
intermediários. A superação dessa problemática estaria em conceber a segregação
enquanto separação residencial entre os grupos, permitindo mensurá-la e produzir
indicadores comparáveis no tempo e por regiões (Torres, 2004: 90).
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Para Villaça (2004: 94), seria importante que as pesquisas sobre segregação
analisassem a concentração das camadas de mais alta renda em relação aos demais
grupos, pois esse tipo de segregação – por classe social – superaria as demais
formas, por sua amplitude e profundidade. A ação coercitiva da classe social no
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Para Marques (2005: 51) o combate à segregação deveria ocorrer por meio
de ações promovidas a partir da legislação de ocupação e uso do solo, estimulando a
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mistura de pessoas com rendas diferenciadas nos territórios. Essas ações teriam duas
interfaces: a implantação de habitação de interesse social em áreas onde fosse
pequena a presença de pessoas com menor renda e a consolidação de núcleos
habitacionais em locais onde essa população já estivesse alocada (favelas e cortiços).
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determinados territórios somente a quem pudesse pagar. Segundo Park (1973: 29)60,
o Estado, ao não estabelecer o valor da terra urbana, estimulou a iniciativa privada a
fazê-lo, sendo a segregação definida com bases em critérios individuais e interesses
econômicos.
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poder público desejava torná-la uma área “civilizada”, nos moldes de alguns centros
urbanos europeus. Desse modo, as reformas visaram melhorar a circulação pública,
por meio do alargamento, retificação e descongestionamento das ruas; construção de
grandes edifícios para abrigar os órgãos oficiais e destinação de espaços públicos ao
lazer da população. O centro tornou-se um espaço especializado no atendimento das
camadas de mais alta renda, concentrando o setor financeiro e comercial da cidade,
sendo necessário, para viabilizar esse projeto, remover as casas populares que ainda
se mantinham ali (Marins, 2001: 179).
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(Rolnik, 1981: 72) – ou mesmo pela constante omissão, tanto na literatura como no
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consideradas “honradas” e qualificadas, conforme apontamentos de Santos (1996)
em sua análise sobre a mão-de-obra nacional:
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Os grupos sociais
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A parte que ficou acima da linha férrea e da Radial Leste, o “lado de lá” – o
Alto Belenzinho –, aproximou-se dos bairros com os quais fazia fronteira: a Água
Rasa e a Mooca. Os moradores que ficaram do “lado de cá” ficaram confinados por
barreiras físicas muito claras: ao norte, pela Marginal Tietê; ao sul, pela estrada de
ferro; ao leste, pela antiga Avenida do Tatuapé (depois Avenida Salim Farah Maluf);
e ao oeste, pela Rua Bresser (limite com o Brás). A subdividir esse espaço, nas
bandas “alta” e “baixa”, a Avenida Celso Garcia.
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Avenida Radial Leste provocou na região, tanto por possibilitar o deslocamento das
pessoas que utilizavam o comércio do bairro ao centro da cidade, onde havia maior
diversidade de produtos, como pela diminuição do fluxo nas Avenidas Rangel
Pestana e Celso Garcia (Martin, 1984: 172).
A linha do metrô
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Os efeitos da desindustrialização
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A renovação urbana
Na parte alta, entre a Avenida Celso Garcia e o Largo São José do Belém,
reside uma classe média que buscou preservar a qualidade do espaço público, com
ruas arborizadas, bem sinalizadas, calçadas conservadas e imóveis preservados. Na
parte baixa, local de concentração dos mais pobres, o número de cortiços e imóveis
fechados com portas lacradas com tijolos (para evitar invasões) aumentou, o espaço
público está mal cuidado, há lixo nas ruas, as calçadas estão esburacadas e a
proximidade com o corredor de ônibus conferiu ao lugar um aspecto enfumaçado,
poluído, com intenso barulho e tráfego pesado.
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Em 1972, aos 26 anos, se casou e, depois de alguns anos, ela e o marido resolveram
tentar a vida em São Paulo:
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A primeira moradia em São Paulo foi junto com a família de seu irmão,
depois houve a mudança para uma pequena residência no bairro, um quarto e
cozinha, posteriormente substituída por outro, que abrigava também o espaço de
trabalho.
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O Movimento de Moradia
A história do grupo do Belém, assim como sua própria história, foi marcada
por migrações dentro do bairro em busca de um local definitivo para realizar suas
reuniões. Pela trajetória do grupo analisa-se o caráter do próprio movimento, que
reivindicando moradia, ele próprio não possuía um lugar fixo para “morar”, estando
em constante peregrinação.
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espaço, a segregá-los.
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Lembranças da escola
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A Vila Maria Zélia é o apoio da memória de seu Dedé, é para ela que sua
narrativa retorna. A existência de diversos equipamentos coletivos na Vila facilitou a
permanência dos moradores em seu território, eles pouco circulavam por outros
espaços. Essa condição, constante no tempo do avô de Seu Dedé, aparece associada
a sua própria memória (Pollak, 1992:202).
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Dedé se circunscreveu a esse território. Difundir a vida dentro da Vila para quem
estava fora acentuou a identificação coletiva (Elias, 2000: 21) e a coesão do grupo.
Pela trajetória pessoal do avô e por seu trabalho na fábrica, a família ligou-
se à história da Vila Maria Zélia, onde permanece há três gerações: a casa foi de seu
avô, de seu pai e agora dele próprio92, essa trajetória tornou-se um símbolo para a
família (Bosi, 1994: 424) e para seu Dedé. Em sua narrativa, aflora a memória do
trabalho e por meio desta, se recompõe a história familiar:
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A casa da Vila não pode ser comparada ao cortiço, embora o grande número
de membros que ali residiram, aproxima-os em relação a pouca privacidade e ao alto
adensamento por cômodo. A residência de seu Dedé, a mesma onde morou a família
inteira, possui três quartos que, naquele momento, abrigou 14 pessoas. Em sua fala,
ele apresentou a diferença entre esse espaço e o do cortiço, ressaltando a importância
da Vila Maria Zélia como alternativa habitacional para os trabalhadores:
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Seu Dedé não conheceu Jorge Street, o idealizador e dono da fábrica e Vila
Maria Zélia, no entanto ele se sente responsável por preservar a sua memória, se
sente grato tanto quanto a sua família. Esse sentimento herdado da família
(Halbwachs, 2004: 51) foi incorporado à sua própria vivência (Bosi, 1994: 407).
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A partir das lembranças do avô, seu Dedé tem buscado perpetuar a imagem
de Jorge Street, zelando pela Vila Maria Zélia. Ele buscou na história as referências
que não foram retidas pela memória, conforme seu relato:
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Para seu Dedé não existiu na história de Jorge Street pontos a serem
questionados. Street não representou o patrão, mas, sim, alguém preocupado com
seus funcionários e disposto a melhorar suas condições de vida, motivação que o
levou a construir a vila operária. Esse argumento se apóia em livros que seu Dedé
leu, e que o ajudaram a representar Jorge Street como “um bom patrão, um homem
que tinha uma visão socialista”. Essa imagem, contudo, confronta-se com estudos
que demonstraram que tanto o discurso, quanto as ações desse industrial foram
marcados por ambigüidadesKB.
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Ainda que seu Dedé e os moradores da Vila Maria Zélia não sejam
membros da família Street, eles se sentem ligados à história dessa família e
buscaram preservar a memória de seu patriarca, fato reconhecido pelos descendentes
da família Street. Essa tentativa consolida-se quando foi atribuído o nome do
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industrial e de sua mulher, Zélia Frias Street, às duas praças existentes na entrada da
Vila.
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operários fabris. O Belenzinho foi o bairro por onde seu Dedé circulou em seus
primeiros empregos, pois nesse momento ainda era um bairro com grande
concentração de indústrias.
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“Eu sou difícil pra falar do sair, porque eu ficava sempre por aqui...”
A Vila Maria Zélia, desde sua construção, determinava alguns limites que a
separavam do restante do bairro. Para superar essa distância se construiu dentro da
própria Vila equipamentos que ofereciam lazer aos operários. Para alguns autores ao
confinar os trabalhadores dentro da vila operária, o industrial instituiu mecanismos
de controle sobre a mão-de-obra, controle que se estendeu a vida cotidiana do
operário (Rago, 1987: 117).
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Pelo relato de seu Dedé se percebe que, apesar da distância temporal entre o
período em que a Vila foi criada e o momento de sua adolescência, permaneceu
pouco o contato dos habitantes da Maria Zélia com o mundo que estava do lado de
“fora”. A fala de seu Dedé reporta-se ao estranhamento com o mundo exterior,
diferentemente do que se vivenciava no interior da Vila.
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A imagem do condomínio
A memória de seu Dedé compara o espaço em que vive com outros lugares
na cidade, sua fala procura demarcar o distanciamento existente entre a Vila Maria
Zélia e o restante do bairro, ao mesmo tempo em que procura compará-la aos
condomínios fechados disseminados nas grandes cidades brasileiras:
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Para seu Dedé, a Vila Maria Zélia foi precursora desse tipo de
empreendimento o que assegurou a seus moradores a proteção contra a violência
externa, mesmo que esta nunca tenha sido um elemento que demandasse
preocupação dentro daquele espaço, conforme seu relato:
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Para seu Dedé essa situação remonta a proposta existente no passado, “no
tempo do Dr. Street”. Nesse sentido, as barreiras existentes na Vila Maria Zélia
representam a segurança de quem está dentro daquele espaço, seus moradores estão
protegidos da insegurança exterior ao mesmo tempo em que a permanência no
interior acaba se restringindo aqueles que fazem parte desse grupo, evitando a
presença de intrusos, reforçando a imagem de comunidade fechada e isolada
(Caldeira, 1997: 160).
“um país que não tem memória não pode almejar um futuro, não é?”
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O papel de cicerone
Pela narrativa se verifica que, ao se tornar “cicerone” da Vila, seu Dedé foi
buscar informações que pudessem complementar a memória, incorporando em sua
narrativa informações obtidas em outras fontes, que não a memória coletiva. O fato
de ele ser constantemente solicitado pela mídia fez com que sua narrativa, em alguns
momentos, se apresentasse amparada em um discurso pré-concebido convergindo
para sua relação com e dentro da Vila Maria Zélia.
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Por meio de sua promessa, seu Dedé reafirma a sua ligação com a Vila e
encontra no grupo o respaldo para sua atitude. Sua ligação com o espaço retoma o
apego às pedras da cidade (Bosi, 1994: 443):
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Os conflitos
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Cuidar do futuro
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belenense96. Com a morte dos pais, herdou a loja onde trabalha e que o faz
permanecer ligado ao ramo de trabalho da família: o setor de calçados. Sua loja se
localiza no centro comercial do bairro que se formou em conseqüência da
movimentação derivada da indústria e durante muitos anos caracterizou o
Belenzinho.
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O olhar de seu Dedé sobre o bairro sempre aparece ligado à sua maior
referência, a Vila Maria Zélia. Em função da relação que estabeleceu com este
espaço, o bairro aparece sempre em comparação com a vivência dentro e fora da
Vila, conforme relato:
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Nas memórias narradas o impacto das obras para a vida das pessoas não
ficou esquecido, as conseqüências negativas das intervenções foram ressaltadas: a
perda de laços de amizade, a saída de moradores antigos do bairro, o deslocamento
para outras regiões da cidade.
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No entanto, esse efeito foi visto como o “preço a ser pago pelo progresso”, o
que demandou não a revolta dos atingidos, mas sua resignação:
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residem dona Salomé e seu Dedé, o que os fez ter opiniões contrárias as de Manoel:
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Os lugares apontados por seu Dedé ainda hoje são locais com concentração
de cortiços. Pela história de vida de Seu Dedé, existiram elementos que
possibilitaram comparar a vida no cortiço e na vila operária, destacando o
deslumbramento de quem conseguiu se transferir do primeiro para a segunda.
Residir na vila operária representou, ao mesmo tempo, a melhoria das condições de
vida e a possibilidade de deixar o ambiente insalubre do cortiço, onde tudo se
compartilhava e era comum a ausência de privacidade.
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região do Brás (Rua Coimbra) (Pereira, 2002). Estas atividades têm como função
preservar suas tradições, reafirmar suas identidades e mantê-los próximos à terra
natal, ainda que dela estejam distantes.
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Tanto a avaliação de dona Salomé como a de seu Dedé têm como referência
a parte em que residem no bairro, a parte baixa. Para seu Dedé, a parte alta seria a
que menos sofreu degradação em função da condição socioeconômica de seus
habitantes:
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moradores residentes nesses locais, ainda que pertencessem à mesma classe social. E
na Vila existiriam pessoas com boa situação financeira, diferente do Mutirão por ele
visto como um projeto social:
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brigas era um indício dessa relação. No local, antes da intervenção, existia o tráfico
de drogas o que contribuiu para a consolidação da imagem negativa desse local no
bairro.
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Para seu Dedé a mudança dessa imagem se associou ao início das obras do
Mutirão, modificando não só a visão que se tinha do lugar, mas as condições
habitacionais de seus moradores:
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Para dona Salomé, a onda imobiliária destes últimos anos e a nova ocupação
do bairro, não trouxe como contrapartida a geração de empregos na região, o que
traria efeitos positivos ao grupo mais carente residente no bairro:
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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habitantes.
Esta vila foi implantada em amplo terreno onde se edificou além das casas,
equipamentos comunitários e de lazer. As residências se destinavam aos operários
especializados e as famílias com mais de três membros empregados na fábrica com
distintas funções. Os equipamentos nela instalados, permitiram que o cotidiano de
seus moradores se circunscrevesse nesse espaço, assegurando pouco contato com o
entorno e o bairro. Dentro da lógica capitalista, o retorno financeiro desse
empreendimento deu-se pelo desconto, diretamente na folha de pagamento dos
trabalhadores, dos aluguéis e gastos realizados na mercearia e farmácia.
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DISSERTAÇÕES E TESES
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+ , -, "./ 0!12
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ARTIGOS
ANDRADE, Maria Margarida. Brás, Mooca e Belenzinho: “bairros italianos” na São Paulo
além-Tamanduateí. Revista do Departamento de Geografia, nº 8, 1994, p. 97-102.
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ANEXOS
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Convite de Inauguração
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Roteiro de Entrevistas
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