Você está na página 1de 992

Sinopse

Sienna é uma lobisomem de dezenove anos com um segredo: ela é


virgem. A única virgem do bando. Ela está decidida a passar por Bruma
deste ano sem ceder aos seus impulsos primitivos - mas quando ela
conhece Aiden, o alfa, ela se esquece de seu autocontrole.
Título Original: The Millennium Wolves Classificação etária: 18 +
E-book Produzido por: SBD e Os Lobos do Milênio

Esse Arquivo contém os Livros 1, 2 e 3


Livro 4 – Ainda não lançado!
Sumário dos Livros
Livro 1
Livro 2
Livro 3
Livro 4
Livro 5 – Ainda não Lançado
Livro 6 – Ainda não Lançado
Livro 7 – Ainda não Lançado
Livro 8 – Ainda não Lançado
Livro 1
Sumário
1. O Alfa no Rio
2. O Perigo
3. Um Convite
4. O Vestido
5. A Festa
6. A Marca
7. As Meninas
8. O Confronto
9. A Visita Surpresa
10. O Encontro
11. O Espectro
12. A Conversa
13. As Cores
14. O Clube
15. O Conto de Fadas
16. O Beijo
17. O Compromisso
18. A Ruptura
19. Os Iguais
20. A Fuga
21. Dura realidade
22. A Torta de Maçã
23. A Feira
24. A Confissão
25. A Conexão
26. O Baile de Inverno
27. A Mulher misteriosa
28. A Questão
29. A Promessa
30. A Noite de ...
Capítulo 1
O ALFA NO RIO
Sienna

Tudo que eu via era sexo.


Pra onde quer que eu me virasse, via corpos tremendo. Membros se
deslocando. Bocas gemendo.
Corri através de uma floresta, ofegante, tentando escapar dos
fantasmas carnais ao meu redor, que pareciam estar me convocando.
Dizendo junte-se a nós...
Mas quanto mais para dentro da floresta eu corria, mais escura e mais
escura e mais viva ela se tornava.
Algumas árvores balançam como amantes, outras, com raízes nodosas
e galhos espigados pareciam predadores. Prendendo-me. Perseguindo-
me.
Algo lá fora, no escuro, estava me perseguindo.
Alguma coisa desumana.
E agora as bocas não estavam gemendo. Elas estavam gritando.
Orgias grotescas por toda parte iam se tornando violentas.
Sangrentas. Próximas da morte.
A qualquer momento, a escuridão ia me pegar.
O sexo ia me estrangular.
Ao sentir a raiz enrolar em minha perna, tropecei e caí em um buraco
aberto no centro da floresta, mas não era um buraco.
Era uma boca. Com dentes afiados e uma língua preta, lambendo seus
lábios, prestes a me engolir inteira.
Eu tentei gritar, mas não tinha voz.
Eu caí.
Mais longe.
Mais fundo.
Até que eu me fundi com a loucura violenta e sexual...
completamente consumida.

Pestanejei. Que diabos eu estava desenhando?


Sentada à beira do rio, com meu livro de esboços na mão, olhei para
baixo, incrédula, para o meu próprio trabalho. Tinha desenhado uma
visão muito perturbadora... e sexual.
Isso só podia significar uma coisa: A Bruma estava chegando.
Mas antes de pensar ou de desenhar outra coisa, o som de risadas
próximas me distraiu.
Virei-me para ver um grupo de meninas, ao seu redor.
Aiden Norwood.
Eu nunca o tinha visto aqui antes. Não na margem do rio onde eu vou
para desenhar e me distrair, não há muitos de nós por aqui...
Por quê? Eu não sei.
Talvez seja a calma quando sempre se espera que nós sejamos
selvagens. Talvez seja a água quando cada um de nós arde com um
incêndio interno. Ou talvez seja apenas um lugar que eu só tenha
pensado como meu.
Um lugar secreto onde eu não sou apenas mais uma na matilha, onde
sou apenas eu, Sienna Mercer, uma artista autodidata ruiva de dezenove
anos. Uma garota aparentemente normal.
O Alfa caminhou em direção a água, ignorando o bando de moças
que o seguiam. Ele parecia que queria ser deixado sozinho. Isso me
deixou curiosa. Fez-me querer atrai-lo.
Claro, eu sabia que era um risco desenhar o Alfa.
Mas como eu poderia resistir?
Comecei a esboçá-lo. Com uma altura de 1,80m, cabelo preto
desgrenhado e olhos verde-ouro que parecia mudar de cor cada vez que
ele virava a cabeça. Aiden era a definição de lindo de dar água na boca.
Eu tinha começado a trabalhar nos olhos quando ele virou a cabeça e
farejou.
Eu congelei, fiquei paralisada. Se ele me visse agora, se visse o que eu
estava desenhando...
Mas então, para meu alívio, ele olhou para água, perdendo-se
novamente em algum devaneio escuro. Mesmo rodeado por outros, o
Alfa estava sozinho. Então eu o desenhei sozinho.
Eu sempre o observava de longe. Eu nunca tinha estado tão perto,
mas agora eu podia ver como os bíceps dele saltavam de sua camisa,
como sua coluna vertebral se curvava para acomodar sua transformação.
Me perguntei o quão rapidamente ele poderia se transformar.
Encurvado, com os olhos em busca, como os de um animal selvagem, ele
parecia neste caso, já na metade do caminho.
Um homem, sim. Mais que isso; um lobisomem.
Sua beleza me lembrou que a Bruma estava se aproximando
rapidamente. Era a época do ano em que todo lobisomem a partir dos
dezesseis anos de idade enlouquece com a luxúria, a estação em que
todos e quero dizer todos trepam como loucos.
Uma ou duas vezes por ano, esta fome imprevisível, esta necessidade
física infecta a todos até os ossos...
Aqueles que não tinham companheiros encontram um parceiro
temporário para se divertirem com os outros.
Em outras palavras, não havia ninguém na matilha com mais de
dezesseis anos que fosse virgem.
Olhando agora para Aiden eu me perguntava se os rumores que
giravam em torno dele eram verdadeiros.
Se por acaso era por isso que ele estava ali, ignorando as garotas,
refletindo à beira do Rio.
Alguns disseram que haviam passado meses desde que Aiden havia
levado qualquer mulher para a cama, que ele estava se distanciando de
todos.
Por quê? Uma companheira secreta? Não, as fofoqueiras da matilha já
teriam descoberto.
Então, qual era o problema, o que seria do nosso Alfa se ele não
tivesse nenhuma parceira quando a bruma atacasse.
Não é da sua conta, eu disse a mim mesma me repreendo. O que
importa para mim quem Aiden comia?
Ele era 10 anos mais velho e, como a maioria dos lobisomens, só
estava interessado em alguém de sua própria idade.
Para Aiden Norwood, o alfa da segunda maior matilha nos Estados
Unidos, eu não existia. Colocando de lado minha paixonite de
adolescente boba resolvi seguir sem pensar no assunto.
Michele, minha melhor amiga, estava decidida a me encontrar um
pau amigo. Ela já tinha um parceiro, coisa comum entre os lobos
solteiros antes da bruma.
Tentando me arranjar com 3 amigos de seu irmão, todos que
pareciam perfeitamente decentes e que tinham sido diretos em me
considerar boa para uma transa, Michelle não conseguia entender
porque eu tinha recusado cada um deles.
— Ugh.. — Eu ouvi a voz de Michelle reverberando em minha cabeça.
— Por que você é sempre tão fresca, garota?
Porque a verdade era que eu tinha um segredo.
Aos dezenove anos de idade, eu era a única Loba virgem em toda a
nossa matilha. Tinha passado por 3 estações, e por mais sedenta por sexo
que ficasse, nunca havia cedido aos meus desejos carnais.
Eu sei. Muito pouco inteligente da minha parte em se preocupar com
sentimentos e primeiras vezes, mas eu prezava os meus.
Não que eu fosse uma puritana. Em nossa sociedade não havia tal
coisa. Mas, ao contrário da maioria das meninas, eu recusava a me
entregar até encontrar meu companheiro.
Eu sabia que ia encontrá-lo.
Eu estava guardando minha virgindade para ele.
Quem quer que fosse.
Continuei a esboçar o alfa quando olhei para cima e vi, para minha
surpresa e pavor repentino, que ele não estava lá.
— Nada mal. — Eu ouvi uma voz baixa ao meu lado.
— Mas os olhos podiam estar um pouco melhores.
Virei-me para o ver, parado bem ao meu lado, olhando para o meu
esboço.
Aiden.
Norwood.
Porra.
Antes que eu pudesse recuperar meu fôlego, ele olhou para cima e
nossos olhos se encontraram. Eu arfei, muito ciente que estava fazendo
contato visual direto. E imediatamente olhei para o lado.
Ninguém em seu perfeito juízo se atreve a olhar um alfa nos olhos.
Isso só poderia significar uma das duas coisas, ou você estava
desafiando o domínio do Alfa, praticamente uma tentativa de suicídio,
ou você estava convidando o Alfa para o sexo.
Como eu também não tenho essa intenção, minha única opção era
desviar o olhar antes que fosse tarde demais e rezar para que ele não
interpretasse mal o significado do encontro.
— Perdoe-me — eu disse calmamente, só para garantir — você me
pegou de surpresa.
— Peço desculpas, — ele disse. — Eu não quis te assustar.
Essa voz, mesmo dizendo as palavras mais educadas que se possa
imaginar, elas soavam carregadas de ameaça. Como se a qualquer
segundo, ele pudesse cortar sua garganta mesmo com os dentes em sua
forma humana.
— Tudo bem, mesmo, — ele disse. — Eu não mordo... Só de vez em
quando. — Eu estava tão perto que podia alcançar e tocar seus músculos
ondulantes de sua pele dourada. Levantei os olhos e pisquei.
Um rosto brutal, marcado, que não deveria ser bonito, mas era.
Sobrancelhas grossas que pareciam ásperas ao toque, como uma pitada
de sua forma de lobisomem e um nariz, ainda que ligeiramente torto —
sem dúvida quebrado em alguma luta passada — não maculava em nada
seu sex appeal de tirar o fôlego.
O Alfa deu um passo mais próximo, como se fosse para me testar. Eu
podia sentir cada pêlo em meu corpo se eriçar com o nervosismo. Ou...
será que era desejo?
— Da próxima vez que você me desenhar — disse Aiden, — chegue
mais perto.
— Oh... ok — eu balbuciei como uma idiota.
Então, tão rapidamente quando ele apareceu, Aiden Norwood se
virou e sumiu, deixando-me junto ao rio, sozinha. Eu suspirei, sentindo
cada músculo do meu corpo se acalmar.
Não era nada comum ver o Alfa fora da Casa da Matilha, a sede de
todos os negócios dos grupos. Na maioria das vezes, nós víamos o Alfa
em reuniões ou bailes, sempre algo formal. O que tinha acontecido hoje
era raro.
Eu já podia ver, pelo olhar invejoso das ãs e adoradoras de Aiden que
o haviam seguido até o rio, apenas para serem ignoradas, que isso podia
sair do controle.
Até mesmo o cheiro de interação com o Alfa. Especialmente para uma
jovem plebeia como eu, seria suficiente para mandar as novinhas mais
histéricas à loucura, derrubando as paredes da Casa da Matilha, só por
mais um gostinho dele.
Um evento dessa magnitude certamente irritaria o Alfa e um Alfa
estressado significava um alfa disfuncional, o que significa uma alcateia
disfuncional... deu para entender. Não ia ser bom para ninguém.
Decidi, com a pouca luz que restava do dia, que terminaria de
desenhar para me distrair, só eu e o rio — em paz, mas tudo que pude ver
foram os olhos de Aiden Norwood e como eu os tinha desenhado muito
mal, o alfa estava certo, eu podia fazer melhor.
Se eu pudesse chegar mais perto..., mas quando eu poderia estar tão
perto outra vez?
Eu não sabia então o que sei agora, que dentro de algumas horas a
Bruma estava prestes a começar.
Que eu estava prestes a me tornar um animal louco por sexo e que
Aiden Norwood, o Alfa da matilha da Costa Leste, iria desempenhar um
papel muito proeminente no meu despertar sexual. Só a ideia era o
bastante para fazer qualquer uma uivar.
Capítulo 2
O PERIGO
Sienna
Mãe: Querida Sienna. Onde você está?

Sienna: Mãe, quantas vezes eu tenho que te


dizer

Sienna: Você não precisa começar as msgs


usando querida

Mãe: Mas é mais especial assim! Como uma carta só para você.

Sienna: 🙄 emoji revirando os olhos

Mãe: Vem logo para casa!

Mãe: Sua irmã está aqui.

Mãe: Trouxe o Jeremy


Mãe: Você sabe o que isso significa

Mãe: FOFOCA FRESQUINHA

Sienna: ... legal?

Sienna: Chego em breve

Mãe: Ótimo. Com amor, mamãe.

Você não pode decidir quando e onde a Bruma ataca.


Dirigindo? É melhor encostar rápido ou você causará um
engarrafamento de cinquenta carros.
No trabalho? Bata o ponto e corra para as colinas ou você e seu chefe
podem se tornar muito mais que colegas.
Quando me sentei para jantar, rezei para que ela não me atingisse
enquanto estivesse com minha família — o pior lugar possível, na minha
opinião.
Enquanto ajudava a pôr a mesa e servia um prato de lasanha caseira
para Selene, olhava para a porta traseira, caso tivesse que fazer uma fuga
improvisada.
Sentei-me para comer com toda família, que já estava no meio de
uma conversa animada.
— O que é, Jeremy? — disse minha mãe, acenando com a cabeça para
o companheiro da minha irmã. — Você mal disse uma palavra desde que
entrou. Como vai o trabalho?
— Você não tem que responder a isso. — disse Silene, disparando um
brilho divertido para mamãe.
— Bem — Jeremy riu — se você está pedindo fofoca sobre nossa
liderança, Melissa, você sabe que eu não posso divulgar essa informação.
— Nem um aceno de cabeça para confirmar ou negar?
— Mãe. — disse Silene. — Ele é o advogado principal da matilha, seu
trabalho é guardar segredos.
— Mas... — A mãe suspirou, — Eu não preciso saber nada confidencial.
Só um pouco de conversa. Como... é verdade que nosso Alfa e Jocelyn
não estão mais juntos agora ela estaria namorando com seu beta, Josh?
— Mãe, — Selene e eu dissemos em uníssono.
Jeremy sorriu. — Tenho o direito de permanecer calado.
— Ah, mas vocês não têm graça nenhuma mesmo.
A mulher agia mais como uma adolescente do que as duas filhas
juntas, mas nós a amávamos por isso, quase sempre.
— Você poderia perguntar sobre o meu trabalho sabia, — disse
Selene.
— Eu perguntei não foi? — ela perguntou através de uma boca cheia
de lasanha. — Tenho certeza que sim. — Selene rolou seus olhos. Mamãe
sempre quis que Selene seguisse uma carreira estável. Moda, pensava
minha mãe, não era uma profissão, era um hobby.
— Num dia está em alta, no outro, em baixa. — ela diria — É assim
com as roupas e toda a indústria, Selene! Pense a longo prazo.
Bem, agora Selene havia conseguido, provando que anos de conselhos
da mamãe estavam errados, e estava trabalhando ativamente em uma das
principais empresas de design de moda da cidade.
Mas Selene sempre deixou os insultos da mamãe passarem batido.
Em todos os níveis, ela era a versão mais bonita, mais inteligente e mais
bem sucedida de mim.
Sempre que eu dizia isto em voz alta, o que eu fazia — muitas vezes
— Selene me empurrava suavemente e dizia apenas: — Você ainda é
jovem, Si, dê tempo ao tempo.
Mas quando se tratava dos meus sonhos, da minha futura carreira
como a maior artista do mundo, eu nunca tinha sido paciente. Um dia,
eu ia abrir minha própria galeria.
Um dia em breve, prometi a mim mesma. Eu não me importava com o
que mamãe dizia. Selene havia provado que ela não estava certa sobre
tudo.
— Não tem problema mãe, — disse Selene, mudando de assunto. —
As fofocas são mais interessantes mesmo... Por falar nisso… — Os olhos
de Selene piscaram para mim, eu fiz que não com a cabeça
veementemente. Não. Não.
— Tem ideia de quem poderia ser seu parceiro para a temporada, Si?
— Aaaah, sim, — disse mamãe, voltando-se para mim. — Ou eu devo
dizer quem está no cardápio este ano?
— Uma loba nunca revela seus segredos, — disse eu, bancando a
tímida.
Por um segundo, minha família realmente parecia que ia deixar para
lá.
Eu tinha uma maneira de mudar essa conversa de direção, assumindo
o controle, mantendo a atenção em qualquer um, menos em mim,
embora eu fosse a mais jovem, sempre tive essa habilidade autoritária,
mas minha mãe percebeu.
— Lá vai ela novamente — disse mamãe, balançando a cabeça. —
Nossa pequena dominante sempre nos obriga a submeter aos seus
caprichos. Anda, Si, diga-nos, tem algum menino?
— Alguns de nós gostamos de manter nossa vida privada, mãe, —
disse eu.
Mamãe encolheu os ombros. — Não há nada a esconder. Eu sei que
seu pai certamente está ansioso pela Bruma deste ano, não é, querido?
— Estou contando os segundos, — disse papai, segurando seu copo
de vinho, sorrindo maliciosamente.
— Gente — POR FAVOR. Que nojo. — Foi grosseiro, claro, mas essa
não foi a razão pela qual isso me incomodou tanto. Minha mãe sempre
havia sido uma criatura sexualmente liberal. Não, o que eu não gostava
era da mentira.
Quando eu disse que minha virgindade era meu segredo, eu falava
sério. Nem mesmo minha mãe sabia.
O que era estranho por que sempre fomos tão abertos uns com os
outros, sobre tudo, Ela nunca me escondeu a verdade.
Não sobre como ela conheceu o papai, que era um humano. Não
sobre como os dois tiveram sua única filha, Selene. E certamente não
sobre como eles me encontraram.
Eles não são de fato meus pais biológicos.
Fui descoberta em um carro abandonado em frente ao hospital onde
minha mãe trabalhava. Não que isso importasse, mamãe sempre tinha
dito.
Eu estava prestes a mudar o assunto para qualquer outra coisa além da
Bruma quando algo aconteceu.
Eu congelei. Um calor repentino, lento e pulsante inflamou-se dentro
do meu ser, fazendo meu corpo parecer como se estivesse em chamas.
A respiração tornou-se difícil, o suor cobriu cada centímetro da
minha pele, e antes que eu pudesse resistir, a costura do meu jeans
apertou firmemente na minha virilha.
Eu tremia de desejo de forma repentina e insuportável.
CACETE
Um arfar forte deixou minha boca antes que eu pudesse pará-lo, e
quando abri meus olhos, que eu não conseguia lembrar de fechar, vi que
todos na sala de jantar tiveram a mesma reação que eu.
Não, não, não.
Não aqui.
Não com a família
A maneira como minha irmã olhou fixamente para Jeremy. A maneira
como minha mãe se levantou de seu assento, inclinando-se para meu pai.
Eu não podia suportar isso. Corri da sala o mais rápido que meus pés
podiam me levar.
A cozinha.
O corredor.
A porta da frente.
E na noite fria que eu desmaiei de joelhos.
A Bruma rastejou pelo meu corpo como uma cobra venenosa, meus
mamilos enrijeceram e meu estômago estremeceu, apertado de tanto
desejo sexual. Minha garganta estava entupida e eu lutei para respirar,
mesmo na noite ventosa, minhas roupas estavam grudando na pele, eu
queria me despir.
Eu queria as mãos de alguém nos meus seios, na minha barriga, no
meu sexo...
Oh, Deus. A Bruma nunca havia sido tão forte.
Foi provavelmente um acúmulo de todas as necessidades e
frustrações sexuais que reprimi durante as três últimas estações.
Eu devia ter esperado isso. É claro que isto ia acontecer. O que eu
estava pensando? Eu não estava. E agora eu estava pagando o preço.
Olhei atrás de mim em minha casa, um lugar onde normalmente eu
encontraria segurança e conforto, mas não nesse momento. De jeito
nenhum. Meus pais provavelmente já estavam aproveitando a Bruma ao
máximo.
A ideia de Selene e Jeremy não foi muito melhor, mas eles agiam mais
como pessoas, menos como lobos, respeitando limites, privacidade,
normas sociais. Provavelmente conseguiriam voltar ao seu apartamento
no centro da cidade antes de finalmente agirem em função do impulso.
Eu tirei todos da cabeça e corri para a trilha em direção ao bosque.
Passei por humanos, totalmente alheios, cuidando de seus próprios
negócios, e alguns lobos que estavam, como eu, na primeira etapa da
bruma tentando se orientar, mas é fácil para eles, eles não eram virgens,
tinham tido muito sexo durante as estações passadas, eu não. Eu estava
perdendo a cabeça.
Na entrada da floresta, eu me despi. Eu não me importava se alguém
me visse. Eu precisava me transformar.
Aqui mesmo.
Agora mesmo.
Normalmente, eu só me transformava apenas quando gozava das
faculdades mentais — não quando a Haze estava assumindo o controle.
Não. Eu não podia mais permanecer nesta forma humana.
Fechei os olhos e senti o êxtase da mudança.
Normalmente, eu sentia cada pedaço da transformação: os membros
se esticando, o corpo crescendo alto, o pelo vermelho, que brotou da
minha pele. Cobrindo-me por inteiro.
Mas não agora. Agora, eu não senti nada além da bruma.
Eu respirei e minha voz saiu como um rosnado. Meus dedos, agora
garras pretas como carvão. Através dos olhos de um lobo, tudo era mais
agressivo, mais violento.
Especialmente agora. Quando a bruma estava só começando.
Agora em plena forma de lobo, eu corria para dentro da floresta.
O vento frio soprava meu pelo, o chão duro era úmido sobre minhas
patas e os odores do bosque enchiam meu focinho.
Um uivo ressoava na floresta. Do tipo livre. Do tipo que estava
procurando um parceiro.
Eu me amaldiçoava interiormente. Na fúria da bruma, tinha me
esquecido de pensar nas implicações. Entrar na floresta no início da
temporada foi como pedir para transar. Estes bosques eram como um bar
universitário, cheios de sede e impulsos estúpidos.
A qualquer momento, um lobo ia sentir meu cheiro e reconhecer que
eu não tinha nenhum apego. Eles iam me perseguir até que eu cedesse.
Mais de um, eu tinha certeza disso.
Um jogo, um desafio, para quem poderia ganhar a loba sem parceiros,
mesmo se meu corpo implorasse para discordar, eu não cederia tão
facilmente. Estes lobos poderiam ter o tanto de sexo que quisessem, eu
não estava julgando, mas eu estava esperando. Esperando aquele
momento, aquele instante, aquele súbito e indescritível olhar de
reconhecimento quando duas pessoas fazem contato visual e sabem que
são companheiros para a vida.
Eu mal podia esperar para que isso acontecesse.
Mas aqui na floresta, no início da bruma? Era improvável, para dizer
no mínimo.
Tornei-me hiper consciente dos lobos machos, de cada movimento,
de cada cheiro.
Corri descaradamente, liberando feromônios no ar, atraindo-os para
mais perto, e logo soube que eles teriam me encurralado. Cinco deles.
Todos lobos machos famintos.
Meu corpo gostou. Gostou de mais. Por um segundo, eu me
perguntei se este seria o ano.
Será que eu finalmente cederia? Será que eu cederia a estes cinco
machos, levando-os todos de uma só vez? Será que eu finalmente
perderia minha virgindade, ali mesmo, no meio da floresta?
Quando a bruma assumiu o controle e todos os meus desejos de
esperar pelo meu companheiro começaram a derreter, eu me perguntei:
O que me impedia? Honestamente? Eu era o que eu queria.
Ou será que era?
Capítulo 3
UM CONVITE
Sienna

Nunca na minha vida eu quis tanto sexo


Não só atrai os lobos com meu cheiro... Eu podia vê-los.
Vi um grande lobo loiro, uma visão estranha se você não soubesse que
ele era loiro em forma humana, contornando uma árvore, perseguindo
lentamente na minha direção. Ele era grande, mas não o suficiente para
ser um alfa. Seus olhos, como a maioria dos lobos, eram de um ouro
brilhante. Eu era uma exceção, meus olhos eram tão azuis gelados em
forma de lobo como em forma humana.
Pelo olhar de apreciação que o lobo loiro me deu, ele também
reconheceu essa singularidade.
Vi os outros quatro circularem ao meu redor. Um chegou tão perto
que pude sentir seu nariz no meu traseiro, farejando minha excitação.
Os dois à minha direita estavam rosnando de luxúria sem esconder, o
da minha esquerda lambendo seus lábios, e o grande loiro a minha frente
se agachou em antecipação, pronto para atacar.
A maioria dos lobisomens prefere fazer sexo na forma humana, mas
estes cinco estavam na bruma e queriam agora.
Eu estava prestes a fechar os olhos e ceder a esta orgia violenta e
animalesca.
Meu corpo gemeu enquanto o lobo atrás de mim lambia minha perna
traseira. Eu queria que estes machos me tomassem, que me comessem
até eu esquecer quem eu era... até que me lembrei do rosto dela.
O rosto de Emily.
Apenas um flash e foi o suficiente. Como um balde de água gelada
derramado por todo meu corpo, eu saí da névoa. Era apenas um calor
tedioso no meu estômago agora.
Eu tinha o controle.
Eu rosnei o mais alto que pude, fazendo com que estes lobos
soubessem que eu não estava interessada, mas — típico de homem, aliás
— eles não gostavam de seguir ordens. Eles continuaram lambendo e se
aproximando.
Cansada dessa merda, rosnei novamente. O tipo de rosnado que
dizia: — Ponha uma pata em mim, e você vai perdê-la.
O lobo loiro diante de mim podia ver minha expressão. Eu não estava
brincando. Ele virou as costas. Os três lobos para o meu lado perceberam
um segundo depois e recuaram.
O único que parecia ter problema para entender sinais — ou melhor,
de cheirar — sinais — era o que estava atrás de mim. Aquele que tinha
conseguido dar uma fungada. Ele se inclinou para frente novamente.
É isso aí, pensei eu.
Eu me virei rapidamente e afundei meus dentes afiados em seu
pescoço. Eu me agarrei com força, fazendo-o sangrar.
Ele gritou de dor, lutando para se afastar, mas eu não larguei. Este
lobo aprendeu sua lição hoje.
Somente quando senti que estava prestes a rasgar sua jugular é que eu
soltei.
Ele sabia quem estava no comando agora, virando e arrancando dali
para fora. Quando olhei para trás, os outros quatro tinham desaparecido.
Satisfeita, eu corri mais para dentro da floresta. Eu podia sentir o
cheiro do sexo no ar.
Minha bruma começou a rastejar e eu continuei correndo, tentando
reprimi-la. Não consegui deixá-la sair. De novo não.
Quando voltei ao local onde havia jogado minhas roupas fora, me
transformei de volta.
Desta vez, eu senti cada detalhe excruciante, os ossos quebrando, o
pescoço ficando esbelto, as pernas traseiras se esticando, os braços
dobrando e se desdobrando.
Tomei fôlego, arfando, ali parada, nua como no dia em que nasci.
Agradecendo a Emily por ter vindo em meu auxílio... por mais dolorosa
que fosse aquela memória.
Eu não estava prestes a ir para lá. Agora não. Não, o que importava é
que eu tinha resistido.
Minha virgindade estava intacta. Salva para quem eu chamaria de
meu companheiro. Mesmo que a bruma estivesse apenas começando...
— Deus, — eu pensei e vesti rapidamente minhas roupas.

Selene: A barra está limpa, mana.

Selene: Um pouco surpresa porque foi bem rápido, pelo que eu


ouvi.

Sienna: Eca

Sienna: Sem detalhes

Selene: Você é antiquada. Estou feliz que a mamãe e o papai


ainda...

Sienna: PARA. POR FAVOR...

Selene: Emojis de sexo


Sienna: Obg por isso

Sienna: Você não foi para casa?

Selene: Saindo agora

Selene: Você achou seu parceiro hj?

Sienna: Não é da sua conta

Selene: Tenho a sensação que você vai conhecer seu


companheiro nessa temporada.

Selene: Pode-se chamar de instinto loba.

Sienna: Duvido

Selene sempre teve um dom de ver o futuro, uma espécie de coisa do


sexto sentido animal, mas eu não via como esse futuro poderia ser
possível.
Eu encontrar meu companheiro? Tinha passado a noite fora e não
tinha encontrado um único lobo que se encaixasse na descrição. Ainda
havia tempo, é claro. Uma temporada inteira.
Quando cheguei em casa, meus pais já tinham resolvido as
pendências para passar a noite.
Meu pai estava sentado na sala de estar, vendo as notícias locais,
enquanto minha mãe dobrava a roupa.
— Você mal comeu, hein? — perguntou papai.
— Estou bem, — disse eu, dirigindo-me para as escadas.
— Ela está bem cheia... aposto, — sorriu mamãe.
— Que nojo, mãe.
Mais uma vez, senti uma pontada de culpa por não dizer a verdade à
minha mãe, sobre minha virgindade, sobre tudo, mas eu me livrei disso.
— Por que Selena e Jeremy se apressaram? Eles acabaram de chegar
aqui.
— Uma reunião urgente na casa da matilha, — disse mamãe. — Ficou
curiosa, não ficou?
Pensei novamente no alfa, que eu tinha encontrado à beira do rio.
Com seus olhos brilhantes. O que estava acontecendo que eles
precisavam para envolver Jeremy, o advogado da alcateia?
— Fico pensando, — disse minha mãe com os olhos brilhando, —
Você acha que as histórias são verdadeiras? Sobre a vida do alfa? Isso
explicaria por que ele anda tão estranho.
— Mãe. Pare de se intrometer na vida de outras pessoas.
— Ah, mas é tão divertido. Você deveria tentar um dia desses.
Com Aiden Norwood, tive que admitir o desejo de fofocar, de me
intrometer, de saber tudo o que havia para saber, fez minha imaginação
correr solta, o próprio pensamento dele fez com que a bruma
ressuscitasse. Corando, eu subi as escadas.
— Eu vou para cama.
— Bons sonhos, minha querida — mamãe gritou. — Espero que
sejam doces... se é que você me entende.
Eu revirei os meus olhos e não pude deixar de rir. Mas quando
tranquei a porta, apaguei as luzes e desmaiei na minha cama. Tudo o que
pude imaginar foi Aiden Norwood.
Foi uma tortura. Ao adormecer, rezei para que eu nunca mais tivesse
que ver o alfa.

Michelle: OMG. Você ouviu...

Siena: Ouviu o que?

Sienna: ????

Sienna: Você não pode enviar uma


mensagem dessas e não falar mais nada.

Sienna: MICHELLE

Sienna: Olá?

Michelle: Convite para todo mundo para ir para a casa da


matilha.

Siena: Não acredito. Mas não tem nenhum


baile acontecendo.
Michelle: É tipo um sorteio.

Michelle: Os convites já foram feitos.

Siena: Então só umas 5 famílias devem ir.

Michelle: Nunca se sabe.

Eu rolei nos meus lençóis desligando a tela do celular. Michelle era


absolutamente obcecada — por estar — por dentro das fofocas, dito isso,
geralmente, os seus furos estavam mais para boato que qualquer coisa...
Isto. Este foi um daqueles artigos que você nem leu, apenas escaneou
enquanto continuava bebericando seu café e adiando a ida ao trabalho
ou à escola.
Quem se importava que o alfa tivesse algumas famílias aleatórias
convidadas para a casa da matilha?
Claro, era fora do comum, mas era apenas uma forma de a liderança
mostrar que se importava com todos os que estavam na alcateia.
Era política, imaginei. Nada além.
Nada digno de um texto das sete horas da manhã.
Fantástico, eu pensei. Agora eu não conseguiria voltar a dormir
mesmo que tentasse. Michelle tinha mesmo que trazer o alfa à tona.
Aiden e perigo — Não é uma boa combinação.
Levantei-me desci as escadas, surpresa ao ver Selene, Jeremy, mamãe
e papai reunidos em volta da mesa da cozinha, todos olhando para
alguma coisa.
— O que está acontecendo? — perguntei esfregando meus olhos,
ainda grogue.
— Ah, nada, — disse Selene. — Estamos aqui parados feito bobos por
diversão.
— Do que você está falando?
— Venha ver, boba.
Caminhei. Olhei para o centro da mesa e paralisei.
Sem chance.
Não podia ser.
Só poderia ser uma brincadeira.
Era um convite para a casa da matilha.
— Porquê... porque a gente? — era tudo que eu conseguia dizer.
— Você sabe como funciona, — disse Selene. — É um sorteio. Isso
ou... Jeremy manipulou.
— Eu nunca faria isso, — disse Jeremy com uma risada.
Ocorreu-me então uma ideia irracional. Uma suspeita tola que não
poderia ser verdadeira. Mas que, por apenas um instante, parecia tão real
que tinha que ser.
E se. Eu me perguntava... — E se Aiden Norwood manipulou o sorteio
só para me ver novamente.
Vamos lá. Quem eu estava enganando? Não havia como o alfa sequer
se lembrar de mim, muito menos chegar num extremo destes.
Eu era apenas uma garota que ele tinha pego desenhando ele... certo?
Mas quando olhei para Jeremy, havia algo que eu não conseguia ler
em sua expressão, algo suspeito. Como se a coisa toda fosse relacionada a
mim de alguma forma.
Mas como?
Não tive tempo de analisar demais o olhar de Jeremy porque a minha
mãe agarrou eu e a Selene pelos ombros transbordando de excitação.
— Dá para acreditar nisso? Um jantar privado com alfa!.
— Não é bem privado, — lembrou Jeremy. — Há outras famílias
vindo.
— Oh, qual é a diferença? Vai ser muito divertido. Quem sabe quão
interessante essas coisas podem ficar? — Declarou ela se entusiasmando
com o convite.
Diversão? Toda a minha família era louca? Não, não ia ser divertido.
Nós tínhamos acabado de começar a Bruma e enquanto meus pais e
minha irmã tinham um parceiro para, aham, e você-sabe-como, eu não
tinha. Um fato que seria óbvio, para todos lobisomens machos sem
parceiro dentro do meu radar de cheiro.
Eu não era anti-sexo. A única coisa que eu queria era encontrar meu
companheiro, mas pensar o que eu encontraria na casa da matilha, de
todos os lugares? Por favor. É coisa demais para uma pobre loba virgem
suportar.
Eu não sabia nada sobre as outras famílias que estavam participando
do jantar, mas provavelmente ia ter alguém solteiro e à procura.
Eu engoli em seco. Ia ser um desastre.
Capítulo 4
O VESTIDO
Aiden

Festas. Deus, eu odiava festas. Não me entenda mal. Elas têm sua
importância. Dar à matilha uma chance de conhecer seu líder? Conhecer,
respeitar e temer seu Alfa?
Essencial.
Mas, normalmente, tínhamos que nos preocupar com apenas dois
eventos por ano. O Baile de Inverno e o Solstício de Verão. Este jantar foi
ideia do meu beta, o Josh.
E, embora eu amasse o pentelho loiro, a última coisa que eu queria
era planejar uma festa extra.
— Então, queremos a plataforma elevada ou não? — Josh perguntou,
andando e olhando para sua prancheta. — Por um lado, dar a você um
lugar acima dos plebeus vai cimentar ainda mais sua superioridade. Por
outro lado, estar no mesmo nível deles tornará sua relação mais
familiar...
— Josh, por favor. — eu rosnei, balançando minha cabeça. —
Podemos falar sobre outra coisa além da disposição dos lugares?
Josh parou, largou a prancheta e me olhou bem nos olhos.
Ele era provavelmente o único lobisomem em toda a matilha que
tinha coragem suficiente para fazer contato visual direto com seu Alfa,
mas isso só acontecia porque quando Josh me encarava, não era um olhar
desafiador. Era o olhar do meu melhor amigo. Eu sabia a diferença.
— Normalmente, você gosta de repassar cada detalhe.
Era verdade. Eu me preocupo com os detalhes. Não sou implicante,
mas se você é o Alfa, tem que ser assertivo o tempo todo, em relação a
tudo.
Mas agora?
— Só não estou no clima. Josh. — eu disse. — Pode ser?
— Claro. É só que... acho que esta noite será boa para você, para a
moral da matilha. E, quem sabe, talvez para alguma garota de sorte... —
Ele sorriu maliciosamente.
— Você está bancando o casamenteiro comigo, de verdade? Ou foi
ideia da Jocelyn?
Notei o corpo de Josh enrijecer com a menção da sua parceira atual.
Ela tinha sido minha na temporada anterior, mas não havia
ressentimentos. Nós dois éramos adultos.
Agora com uma ligação a mais.
Josh se sentou à minha frente, e eu soube pelos braços cruzados, que
ele estava prestes a me dar uma lição de moral, sua marca registrada.
Ótimo.
— Olha. Aiden. — disse ele, agitando os braços animadamente. — Eu
sei que você tem passado por muita coisa ultimamente, cara. A Matilha
da Costa Leste enfrentou muitos desafios nos últimos meses. Agora você
está em outra temporada sem companheira. Cacete, você nem escolheu
uma nova parceira.
Eu senti meu lábio curvar. Josh deve ter notado porque olhou para
baixo e mudou rapidamente de assunto.
— A questão é, — Josh continuou, — você não tem sido você mesmo
ultimamente. Estou dizendo isso não apenas como seu beta, mas como
seu amigo, cara. Estou preocupado com você. Se você não encontrar uma
companheira logo... se sua vida amorosa está desequilibrada, então...
Eu olhei para o lado. Josh estava certo em estar preocupado, quando
os alfas não tinham uma parceira durante a Bruma — mesmo que fosse
uma amizade colorida — a liderança inteira ficava abalada, mas,
eventualmente, todos os alfas tiveram que achar uma parceira ou então
seus poderes enfraqueceriam lentamente e eles seriam substituídos por
um alfa mais forte.
Mas Josh não sabia de tudo.
Eu tinha um segredo que valia a pena guardar nesta temporada. Um
motivo para esperar.
— Entendo sua preocupação, Josh. — eu disse, voltando-me para ele.
— Mas não meta seu nariz em minha vida pessoal, entendeu? Estou
falando agora como seu Alfa.
Então, eu encarei Josh nos olhos. Havia uma tensão palpável entre
nós. Por um segundo, seu olhar permaneceu. E não apenas como meu
amigo.
Ele ousaria desafiar meu domínio?
Mas, finalmente, Josh olhou para baixo e acenou com a cabeça.
— Certo, meu Alfa, — ele disse calmamente.
— Isso. — eu disse, já me sentindo melhor.
Levantei-me e dei a volta na mesa para considerar a prancheta de
Josh, dando uma olhada na disposição dos assentos, uma ideia
começando a tomar forma.
— Se estamos falando de detalhes, há um pequeno ajuste que eu
gostaria de fazer...
Sienna

Sienna: Ok, pessoal.

Sienna: hora da confissão

Michelle: você foi convidada para a casa da matilha, todo


mundo sabe

Sienna: O quê?? Como???


Erica: emoji de festa

Mia: AEEE MIGAAA

Michelle: Foi mal, miga. Vc sabe que eu nunca fico de boca


fechada

Sienna: Você é a pior, Michelle.

Mia: Então, já que estamos jogando as bombas

Mia: Harry e eu

Mia: é possível que a gente tenha... acasalado

Sienna: O QUÊ?!?

Michelle: ❤ ❤ ❤ (emojis de coração)

Michelle: Parabéns garota! (zero chocada mas ok)


Sienna: Tão feliz por você, Mia!!!

Erica: yay mia!

Erica: por que eu sou a única sem novidades

Mia: obrigada, pessoal.

Mia: Mas Si, é melhor você nos enviar atualizações esta noite.

Michelle: especialmente se for sobre o nosso alfa sexy...

Eu sei que provavelmente deveria ter me distraído com o evento na


casa da matilha, mas não conseguia parar de pensar em Mia e Harry. Eu
não podia acreditar.
Mia acasalou-se com o maldito Harry Milton.
Por anos, os dois foram melhores amigos. Cem por cento amizade
sincera.
O fato de que agora, de repente, os dois não estavam apenas ficando…
mas acasalados pra valer?
Era quase inédito.
Normalmente os companheiros sabiam na primeira vez que se
olhavam nos olhos. Eles reconheciam a conexão em algum nível animal
mais profundo.
Isso aconteceu com meus pais, com Jeremy e Selene, com quase todo
mundo que eu conhecia.
Mesmo as pessoas que acabaram se tornando companheiros após
anos sendo amantes eram mais comuns do que o que aconteceu com Mia
e Harry.
Que vaca sortuda, pensei.
Admito que fiquei com um pouco de inveja. Que sonho encontrar um
companheiro que já sabia tudo sobre você, em quem você confiava.
Parecia tão lindamente simples.
Ao contrário da minha situação sem sexo, sem companheiro,
totalmente nebulosa.
Abri meu armário e procurei algo para vestir no jantar. Eu não tinha
nada nem perto de elegante o suficiente.
Uma batida na porta do meu quarto chamou minha atenção.
— Eu sabia que você era um caso perdido, mana, — Selene disse,
entrando. — É por isso que vim preparada...
Em suas mãos estava um lindo vestido de noite, feito de seda verde-
claro, tão longo que parecia não ter fim. Eu só precisava dar uma olhada
para saber que era perfeito.
— Como você... — eu disse.
— Comprei para um baile há dois anos, mas com o meu tom de pele?
Simplesmente não ficou bom. Eu nem usei. Então, eu guardei para uma
eventualidade.
Eu podia ver por que não teria funcionado. Selene era uma loira
platinada. Verde pedia cabelo ruivo, como o meu.
— Bem, — pressionou Selene, — você vai ficar olhando o dia todo ou
experimentá-lo?
Eu não hesitei. Nunca tive vergonha de ficar nua perto da minha
irmã, tirei minhas roupas e coloquei o vestido. Parecia que tinha sido
feito para mim.
Mesmo que Selene e eu fôssemos tamanhos diferentes. Ela era alta e
esguia, enquanto eu era mais curvilínea.
Então, como é que este vestido parecia ter sido embalado à vácuo?
— Eu fiz umas adaptações, só para você, — Selene disse, piscando,
como se estivesse lendo minha mente.
Eu dei uma olhada no espelho e não pude acreditar no reflexo que
olhou para mim.
O vestido terminava graciosamente nos meus tornozelos, com as
costas generosamente abertas afinando logo acima da minha bunda e a
frente acentuando meu decote.
Eu estava certa sobre a cor. Meu cabelo ruivo e olhos azuis brilhantes
faziam o verde se destacar positivamente.
— Papai vai ter um ataque cardíaco. — Selene riu. — Você está
maravilhosa. Mas...
Sim. Eu podia ver o que Selene estava dizendo. O vestido era
inegavelmente sexy, mas agora, eu não me importava. Nada parecia mais
certo no mundo.
— É perfeito, — eu disse.
Selene sorriu e me deu um abraço.
— Vamos, vamos mostrar à mamãe.
Não demorou muito para que mamãe e papai tivessem suas reações
previsíveis.
— Vocês. Veja. PEDAÇO DE MAU CAMINHO! — Mamãe disse.
Eu fiz uma careta, essa escolha de palavras não poderia ser pior.
— Uh, sim, — papai disse, olhando para qualquer lugar, menos para
mim diretamente. — Muito lindo. Eu acabei de...
— Tudo bem, pai. — Eu ri.
— Sabe, — disse mamãe, dando um passo em minha direção, —
olhando para você assim, quase consigo esquecer por um segundo que
você tem apenas dezenove anos. Isso me faz pensar... se um certo Alfa
concordaria.
— Mãe, — eu disse, revirando os olhos. — Esta é apenas uma chance
para os locais conhecerem sua liderança. Dá pra trocar o disco?
Mais uma vez, meu domínio da conversa sobre a família parecia estar
funcionando.
Eles já estavam perguntando a Selene o que ela estaria vestindo, mas
então minha mãe sacudiu a cabeça, lembrando-se de seu tópico favorito:
fofoca.
— Sienna, — ela disse, — sua mãe intrometida ouviu um pequeno
boato, no entanto, essa é a razão pela qual nosso amado Alfa estar
convidando todos esses estranhos para a Casa da Matilha? É encontrar
uma amante para a temporada.
E assim meu humor murchou de uma vez.
A última coisa no mundo que eu precisava era Aiden Norwood
procurando por uma amante esta noite e se decidindo por mim.
Especialmente depois de nosso encontro casual na margem do rio.
Eu não ia ficar na sombra de nenhum lobo, alfa ou não. Eu queria um
companheiro para a vida toda.
Eu fiz uma careta para minha mãe. — Sério, mãe? Só por uma vez,
você não poderia...
— Estou apenas dizendo! — ela disse, com as mãos para cima, na
defensiva. — Ele não tem companheira para esta temporada. É proibido
sonhar agora, Sienna?
Sim mãe. Estava errada, e não era uma fantasia. A ideia de estar com o
Alfa era ridículo. Já havíamos feito contato visual e nada havia
acontecido. Então não tinha como ele ser meu companheiro. Se fosse
qualquer coisa, ele só queria — PORRA. Agora, eu estava pensando na
gente transando.
Apenas a ideia por si só foi o suficiente para acender a Bruma
adormecida. Que estava silenciosa até então — exatamente como eu
gostaria que ela ficasse pelo resto da noite.
Eu não poderia aparecer na Casa da Matilha cheia de lobos famintos...
daquele jeito.
— Eu preciso ir me trocar, — gaguejei, virando-me e correndo para
fora da sala.
— Espere. Sienna. — minha mãe gritou atrás de mim. — Eu só estava
brincando!
Corri para o meu quarto e bati a porta, tentando tirar o vestido. Mas
estava tão apertado. E eu precisava de ar.
E...
E...
— Sienna. — Eu ouvi a voz de Selene do outro lado da porta. — Não
deixe a mamãe entrar na sua cabeça. Vai dar tudo certo. Vai ser ótimo.
Como você disse, é perfeito. Não é?
— Certo. — Eu disse, acalmando minha respiração. — Obrigada.
Selene.
Peguei um xale, para cobrir no mínimo meus ombros e minimizar a
sensualidade do vestido.
Eu só esperava que quando chegássemos à Casa da Matilha, a Bruma
tivesse diminuído...
Enquanto dirigíamos, para a enorme mansão, longe da atividade de
nossa cidade, a única fonte de iluminação no tranquilo campo, e minha
família conversava ativamente, zumbindo de excitação, aconteceu de
novo.
A Bruma pulsou, cutucou e penetrou cada canto do meu ser. Como se
soubesse, apenas por ver a Casa da Matilha, o que aguardava lá dentro...
Era um despertador e tanto.
Por favor, não faça isso, implorei ao meu corpo. Por favor, não aqui.
Agora não, mas, como eu estava prestes a descobrir, meu corpo tinha
outros planos...
Capítulo 5
A FESTA
Sienna

Sienna: Eu acho que não consigo

Sienna: Não posso entrar

Sienna: Estou perdendo o controle,


Michelle

Michelle: ?!?

Michelle: tá falando sério doida?

Michelle: o mundo inteiro e a família MATARIAM para entrar na


casa da matilha

Michelle: o que tá pegando?


Sienna: Esse vestido é um exagero

Sienna: E com a Bruma...

Michelle: miga, pare, você tá gatíssima. Vá lá e se divirta

Michelle: você pode até encontrar um parceiro para a


temporada!

Michelle: qual a pior coisa que pode acontecer?

O pior que poderia acontecer? Ah. Michelle. Você não tem ideia, pensei.
Tínhamos acabado de estacionar e estávamos caminhando em
direção às altas portas da frente da Casa da Matilha.
Todo mundo estava vestido com esmero. A cada passo, eu podia
sentir minha condenação se aproximando.
Eu queria dar meia-volta e correr para casa.
Sim, mesmo de salto. Eu estava tão desesperada.
— Ah, que maravilha para nossa posição na Matilha. — mamãe disse,
alheia. — Mal posso esperar para conhecer o Alfa. Eu juro que se eu fosse
alguns anos mais jovem...
— Mãe, por favor. — Eu implorei. — Pare.
Felizmente, minha mãe rapidamente se distraiu novamente e eu não
tive que explicar por que eu precisava que ela calasse tanto a boca.
A Bruma estava me dando trabalho agora. Durante todo o dia, tentei
reprimi-la, mas agora... Agora a Bruma decidiu que era uma boa hora
para tentar se apossar do meu corpo.
No momento em que estávamos no jantar. Por favor, eu implorei mais
uma vez ao meu corpo aquecido. Eu não tenho tempo para isso.
Foda-se, meu corpo estalou de volta. Ugh. eu estava conversando com
meu corpo agora. Estava perdendo a cabeça. Maldita Bruma.
Uma recepcionista humana nos cumprimentou e nos conduziu até a
sala de jantar.
Lustres, velhos retratos de antigos Alfas com uma dúzia de mesas
com talheres de prata dignos da realeza. Não para um bando de plebeus
como nós.
Quando nos sentamos, percebi que nossa mesa era a mais próxima da
mesa do Alfa.
Coincidência? Lembrei-me do olhar estranho e demorado de Jeremy
quando ele trouxe o convite para nossa casa, mas eu ignorei isso. Sim. Era
uma coincidência. Tinha que ser.
Da minha cadeira, eu finalmente tive uma boa posição para julgar as
outras mulheres presentes.
Eu definitivamente não era a mais bonita, disso eu tinha certeza.
Havia outras mulheres jovens, mais ou menos da idade do Alfa, em seus
vinte e tantos anos, que eram simplesmente deslumbrantes. Com suas
pernas longas e delgadas, seus lábios carnudos e protuberantes e olhos
dourados cintilantes, eu sabia que não havia como comparar.
Eu tinha curvas. meu cabelo vermelho fogo caia descontroladamente
nas minhas costas e meus olhos azuis gelados eram menos comuns, eu
acho, mas o que me faltava em sofisticação, eu sei que compensava, em
intensidade crua.
Ninguém naquela sala brilhava tanto, para melhor ou pior.
—... o que uma garota assim está fazendo aqui — Eu ouvi uma das
mulheres sussurrar para suas amigas. Eles riram.
Vacas maldosas.
Não era como se eles fossem da realeza também. Simplesmente se
enxergavam assim.
Eu sabia exatamente o que eu era, e não era uma loba me arrastando
de quatro, implorando para ser comida por um lobo importante da Casa
da Matilha.
Na verdade, eu representava algo.
Em algum lugar lá fora, havia um companheiro pelo qual valia a pena
esperar. Alguém que olharia nos meus olhos e realmente me veria.
Alguém que, à primeira vista, me amaria. E eu, a ele.
Aqui na Casa da Matilha? Não havia nada para ver.
Eu quase considerei ir embora, ali mesmo, quando notei um dos
meninos em outra mesa olhando meu decote. Não consigo explicar
porque, mas fiquei lisonjeada.
Nesse momento, uma mulher apareceu pela porta e os olhos do
menino se voltaram para ela imediatamente. Todos, até as mulheres,
olhavam para ela. Bronzeada, alta, com um pescoço longo, ela usava seu
vestido vermelho com a graça de uma rainha, não de uma loba.
— É ela! — Selene sussurrou. — Essa é Jocelyn, a ex de Aiden
Norwood. E aí está seu novo homem.
Ao lado de Jocelyn estava um gostosão loiro de cabelo espetado que
todos conheciam. Ele era o Beta do Alfa, seu número dois. Josh Daniels.
Ele a beijou na bochecha e sentou-se ao lado do Alfa.
Eu me perguntei se ele e Aiden ainda poderiam ser amigos, já que
Josh estava namorando Jocelyn agora.
O pensamento não demorou muito porque, a próxima coisa que vi,
foi Selene e Jeremy me pegando pela mão e me conduzindo.
O que?!
Por quê?!
Eu não tinha pedido para ser apresentada a ninguém.
— Jocelyn, você está radiante como sempre, — Selene arrulhou.
— Oh. Selene, assim você me mima. Você está absolutamente
deslumbrante nesse vestido, respondeu Jocelyn. — E quem é essa garota
linda? Sua irmã?
Jocelyn agarrou minha mão e de repente me senti cheia da energia
mais quente e assertiva que se possa imaginar. Tanto que até minha
Bruma deu uma aliviada.
— É um prazer conhecê-la. — Ela sorriu. — Eu sou Jocelyn.
— Sienna. — consegui dizer.
Eu sabia, por aquele toque, que Jocelyn devia ser uma curandeira.
Apesar de sua beleza, ela era duas vezes mais legal do que a maioria das
garotas aqui, mas antes que pudéssemos continuar falando, fomos
interrompidos por suspiros por todos os lados.
Eu me virei para ver a vida da festa, o Sr. Aiden Norwood, Alfa da
Matilha da Costa Leste, entrou no salão.
Ele usava um smoking caro com uma gravata verde escuro, o que
tornava o verde em seus olhos dourados ainda mais evidente. Seu cabelo
negro estava despenteado, como se ele tivesse acabado de sair da cama.
Sua mandíbula estava cerrada, em um sorriso agressivo.
Eu tinha que admitir... só de vê-lo ali foi o suficiente para me deixar
molhada.
— Bem-vindos, meus membros do bando, — ele disse, incapaz de
esconder um pouco do rosnado em sua garganta. — O jantar vai começar
em breve, então, por favor, sentem-se.
Embora sua declaração tenha sido simples, até mesmo como um
cavalheiro, eu senti uma corrente ameaçadora dentro de cada palavra.
Isso me deixou tensa. Isso me deixou com fome.
Isso fez com que a Bruma emergisse de seu sono temporário.
Com um sorriso torto, o Alfa se voltou para seu assento. Eu mal podia
me controlar. Faíscas percorreram meu corpo, colidindo entre minhas
coxas, minha garganta secou, minhas bochechas coraram com o calor
renovado e eu tive que morder meu lábio para evitar ofegar.
Controle-se! Eu gritei dentro da minha cabeça. Você não vai perder o
controle na frente de todos, entendeu?
Aiden se sentou ao lado de Josh e Jocelyn e, para minha surpresa,
conversou calorosamente com os dois. Portanto, os rumores não eram
verdadeiros. Não foi isso que o torturou. Então o que?
Eu sabia uma ou duas coisas sobre tortura agora. A Bruma estava me
destruindo sorrateiramente. Durante a temporada, era de conhecimento
comum que um lobisomem não pareado poderia farejar se alguém por
perto estivesse na Bruma. Se eu não tomasse cuidado, se deixasse minha
Bruma assumir o controle, aqueles homens não acasalados começariam a
me farejar.
Qualquer coisa menos isso, eu implorei mentalmente. Eu não posso
suportar a humilhação. Estar na Bruma em público era como dar ao
mundo um convite para te foder.
Quando o primeiro prato foi servido, o lobisomem solteirão que
servia a nossa mesa me cheirou e seus olhos brilharam, o que significava
que eu comecei a exalar o cheiro de Bruma.
Com o rosto em chamas, estreitei meus olhos em advertência e
segurei seu olhar, mostrando a ele que não estava interessada. Ele era
bonitinho, não me entenda mal, mas eu não estava me reservando para
um garçom em um jantar.
Ele recuou imediatamente — cara inteligente — se distanciando de
mim. Eu estava prestes a soltar um suspiro de alívio quando senti os
olhos de alguém em mim. Não ousei erguer os olhos.
Esse olhar, de onde quer que estivesse vindo, tinha uma atração
poderosa, parecia estar intensificando a Bruma, ampliando-a. Fazendo-
me queimar ainda mais forte, se isso fosse possível.
Eu gemi, incapaz de suportar. Minha calcinha ficou melada de
repente e meu estômago apertou, fazendo todos os outros músculos do
meu corpo ficarem tensos também.
— Você não vai comer?
Quase pulei quando mamãe falou. Eu me virei para dar a ela um
sorriso tenso e assenti, cerrando os dentes.
— Já, já.
Mamãe, sem notar meu desespero, deu de ombros e deu uma
mordida em seu salmão. Parecia delicioso, mas minha fome era fixada em
algo diferente de comida.
Os olhos ainda estavam em mim. Eu podia sentir. E pior, agora eu
podia sentir outros me olhando também. Meu cheiro estava flutuando
por todo o corredor, atraindo a atenção de todos os lobos não acasalados,
exigindo um escape.
Eu não tive escolha.
Eu tinha que me retirar.
Agora.
Levantei-me e murmurei um tenso — com licença. — deixando meu
xale sobre a mesa e sai o mais rápido que pude daquela maldita sala de
jantar. Eu sabia que ia contra as regras pedir licença no meio da refeição,
especialmente na presença do Alfa. Era semelhante a um insulto a Sua
Alteza Real.
Eu não dei a mínima.
Praticamente corri para o banheiro. Felizmente, estava vazio. Eu
tranquei a porta do box e me inclinei em sua parede, respirando
pesadamente, a fina camada de seda que me cobria era demais. Minha
calcinha era demais. Tudo era demais. Antes que eu pudesse me conter,
puxei a bainha do vestido até a cintura. Eu deslizei minha mão sob a
minha calcinha, e com o toque do meu dedo no meu clitóris, quase
explodiu.
Comecei a massagear e não conseguia parar. O calor era totalmente
sufocante, por dentro e por fora, me consumindo.
Eu já tinha me masturbado muitas vezes antes disso. Era a única
maneira de passar por cada Bruma sem perder a cabeça, mas sempre fiz
isso na privacidade do meu quarto.
Nunca estava perto de tantos lobos famintos.
Nunca no banheiro da maldita Casa da Matilha.
Eu não pude segurar o gemido que escapou da minha boca com o
toque dos meus lábios molhados. A tensão, a necessidade, o fogo, era
agonizante. Eu ia explodir — de verdade dessa vez.
Mas então eu ouvi. A porta do banheiro se abriu e os passos ecoaram
no chão de ladrilhos. Não o clique agudo dos saltos femininos. O baque
surdo de... sapatos masculinos.
Eu congelei e meu coração bateu forte no meu peito.
Bem quando eu estava prestes a gritar com quem decidiu entrar no
banheiro e dizer a eles para me deixarem em paz. uma voz profunda e
rouca me deu um soco.
— Consigo farejar seu gozo, fêmea.
Minha respiração parou. Ai. Caralho. O Alfa estava parado do lado de
fora da cabine.
Capítulo 6
A MARCA
Sienna

Ele tinha me farejado no salão de baile. Ele sentiu o cheiro da Bruma e


me seguiu até o banheiro, mas será que Aiden Norwood podia farejar,
agora, a um metro de distância, apenas separado por uma frágil porta de
metal, que eu estava sentada com minha calcinha em volta dos
tornozelos, meus dedos dentro de mim, bem pertinho do orgasmo?
— A Bruma pode atingir você nos lugares mais imprevisíveis, — ele
rosnou, mas havia uma diversão casual em seu tom que me enfureceu.
Antes que eu pudesse me conter, eu rosnei de volta.
— E daí?
Nossa, ninguém falava com o Alfa dessa maneira. Qual era o meu
problema, queria morrer? Eu lentamente puxei meus dedos. Meu corpo
gemia de frustração, mas minha mente — graças a Deus ainda
funcionava — estava assumindo o controle.
Quando me inclinei para puxar minha calcinha, Aiden sussurrou, e
foi como se não houvesse nenhuma porta entre nós: — E então, mulher?
Por que você não está resolvendo o problema?
Mas ele não estava perguntando. Ele estava ordenando.
Um puro macho alfa do alto do seu pedestal, ordenando que um de
seus membros de escalão inferior entrasse na fila. Me chamando de
'mulher' como se eu não tivesse nome. Condescendente. Julgando.
Eu me endireitei, reajustando meu vestido, incapaz de controlar meu
temperamento.
— O que te dá o direito de falar comigo dessa maneira? — Estava
enfurecida. — Para entrar em um banheiro feminino, me dizendo como
devo me recompor? Quem diabos você pensa que é?!
Não tive a chance de pensar duas vezes, de me arrepender de minhas
palavras ou de implorar perdão porque, a próxima coisa que percebi, a
porta se abriu.
E lá estava ele.
Aiden Norwood, em toda a sua glória, aterrorizante e belo. Ele olhou
fixamente, os olhos verde-dourados brilhando, todo o seu
comportamento cheirando a agressão.
Graças a Deus eu puxei minha calcinha a tempo, ou quem sabe o que
teria acontecido.
— Quem eu acho que sou? — ele perguntou. — Preciso te lembrar?
Agora, enquanto o cheirava, percebi que o Alfa não estava apenas
irritado. Ele estava confuso. As perguntas sacudiram meu cérebro, mas
não houve tempo para respondê-las, porque a sua Bruma fez a minha
ressurgir com uma intensidade repentina e pulsante insuportável.
Logo minha raiva estava derretendo com o puro calor dela.
Sucumbindo. Querendo, implorando, precisando que ele se aproximasse.
Como se pudesse ler minha mente nublada, ele o fez, entrando na
cabine.
Meu coração ameaçou abrir meu peito e minhas pernas ficaram
bambas.
— Oq-o que você está fazendo? — Eu gaguejei.
— Você sabe quem eu sou, — disse ele, dando mais um passo. — Diz.
— Você é o... o Alfa.
— O meu nome.
Será que eu ousaria? Ninguém deveria pronunciar esse nome além de
seus conselheiros mais próximos e parceiros sexuais.
Não. Eu balancei minha cabeça, me recusando a ceder. Forçando
minha Bruma a resistir. Não.
Tentei desviá-lo da cabine e ele levantou a mão, me bloqueando.
— Do que você tem medo? — ele perguntou.
Tentei afastar sua mão e ele agarrou meu pulso.
Eu deveria estar com medo. Eu deveria estar apavorada, sendo
encurralada por um lobisomem — pelo Alfa, nada menos que isso — em
um banheiro.
Mas, na verdade, não acho que Aiden Norwood pretendia me forçar a
fazer nada contra a minha vontade. Acho que ele podia sentir a
necessidade absoluta de minha Bruma por ele.
Ele queria saber por que eu estava resistindo quando nenhuma garota
havia resistido a ele antes.
— Por favor... me deixa ir, — eu pedi, a voz trêmula.
— Você ousa dar ordens ao seu Alfa?
— Eu disse por favor, não disse?
Não pude acreditar na minha própria audácia.
Pela primeira vez, pude ver seu rosto de perto. O tormento nadou
dentro daqueles olhos verdes dourados. Parecia que ele estava realmente
considerando meu pedido. Mas foi quando suas narinas contraíram.
Ele trouxe meus dedos — os mesmos dedos que estiveram dentro de
mim — até seu nariz.
Enquanto ele sentia o cheiro deles, eu senti sua Bruma pulsar dentro
dele.
— Você estava... — ele começou.
— Tentando cuidar disso. Como você disse.
— Por que, quando um homem pode fazer muito mais? — Ele disse
em um sussurro rouco. A insinuação por si só fez meus olhos rolarem
para trás. Eu não pude evitar.
Eu grunhi.
Isso foi o bastante.
Um segundo depois, o Alfa me prendeu contra a parede da cabine.
Minhas pernas deixaram o chão e se enrolaram em seu torso.
Ele me pressionou mais perto e eu senti seu volume intumescido.
Uma onda quente de excitação brutal tomou conta de mim. Esta foi a
primeira vez que um homem me tocou dessa maneira. Eu me sentia
tonta e louca, fora de mim.
Então ele pressionou seus lábios no meu pescoço e, em vez de me
beijar, ele lambeu. Cada gota brilhante de suor que ele devorou.
Era demais para aguentar.
— Não... eu...
Mas eu era impotente para resistir à névoa que nos prendeu.
Senti sua ereção pressionada contra minha calcinha úmida e gemi de
prazer, de dor, em tudo entre, minha mente embaçada com nada além de
sexo.
As mãos dele. Deus, suas mãos. Eles deixaram meus pulsos,
serpentearam sob meu vestido e agarraram minha bunda nua.
Cada centímetro de suas mãos grandes, quentes e calejadas parecia
que se encaixavam ali.
Antes que eu soubesse o que estava fazendo, minha parte inferior do
corpo começou a investir contra a dele, fazendo-o rosnar.
Meus braços em volta do seu pescoço. Eu precisava tocá-lo, abraçá-lo,
pressionar cada parte de mim contra ele.
Eu o queria como nunca quis nada no mundo antes.
E então eu vi em seus lábios: um sorriso malicioso. Um olhar de
cumplicidade que parecia dizer: Eu sabia que ia conseguir te dobrar. A
satisfação, a presunção... quebrou o encanto, de uma vez.
Cega de raiva e nojo, rosnei e me esgueirei para fora de seus braços. A
Bruma ainda estava acesa, mas minha mente finalmente clareou. Eu
conseguia pensar de novo.
— Qual é o problema, mulher? — ele rosnou, divertido. Mulher. Mais
uma vez, fazendo de mim apenas mais uma ninguém com quem ele
pudesse foder e se aliviar.
— Me solta, — eu disse entre os dentes cerrados. — Falo sério dessa
vez.
— Você tem certeza?
Mais uma vez, ele empurrou seu membro latejante para baixo de
mim. Eu tive que resistir à vontade de suspirar.
Aiden Norwood, o Alfa da Matilha Costa Leste, estava levando um
fora meu, Sienna Mercer, aqui em um banheiro da Casa da Matilha.
Como eu poderia ter me perdido assim? Por três anos de Brumas, fui
capaz de me controlar. Me focar e recusar toda tentação. Até agora.
Como eu poderia ter cedido, e com o Alfa, além de tudo?
Parte de mim se perguntou por que eu não podia simplesmente
aproveitar o momento. Mas outra parte, uma parte mais inteligente,
sabia o motivo. Este homem não era meu companheiro.
Disso, eu tinha certeza.
— Eu sei que você é o Alfa, — eu rosnei. — Eu sei que devo me
submeter, mas…
— Você não vai. — Ele sorriu. — Eu sei. É disso que eu gosto.
Eu fiz uma careta. Aquilo foi uma surpresa. Ainda mais surpreendente
foi que, um momento depois, ele de fato cedeu. Ele me deixou no chão e
abriu a porta, gesticulando como se dissesse, pode ir. Mas seus olhos
disseram algo totalmente diferente. Eles pareciam dizer, isso está apenas
começando.
Não hesitei em interpretar o significado. Eu tinha conseguido uma
fuga e ia aproveitar a chance.
Baixando os olhos e assumindo uma postura submissa, para mostrar
meu respeito por sua disposição de cooperar, endireitei meu vestido e
corri para fora do banheiro.
Quando a porta se fechou, eu ainda podia sentir os olhos verdes
dourados de Aiden Norwood perfurando minhas costas. O que diabos
tinha acontecido?
Quando voltei para o meu lugar, notei alguns olhos me seguindo com
uma suspeita muda. O fato de eu ter fugido da sala de jantar e o Alfa ter
me seguido alguns minutos depois claramente não tinha passado
despercebido.
Minha mãe foi a primeira a me olhar de cima a baixo.
— O que foi que.... Querida, seu cabelo….
Merda! Com meus olhos no chão, eu não tive a chance de avaliar meu
reflexo e ter certeza de que estava... sei lá. Decente? Não como se eu
tivesse acabado de me atracar com o Alfa?
Envergonhada, prendendo fios de cabelo atrás das orelhas e olhando
para o meu prato, tentei forçar minha mãe a deixar a coisa passar, mas eu
sabia que se ainda pudesse sentir o cheiro do Alfa em mim, minha mãe
provavelmente também podia.
— Podemos comer em silêncio?
Depois de um segundo, felizmente, foi o que ela fez, me deixando em
paz. E logo a sala estava de volta a um ambiente barulhento, onde eu
poderia desaparecer no fundo e fingir que nada tinha acontecido.
Quando Aiden voltou para a sala, ninguém me deu atenção.
Talvez, eu pensei, eu escaparia desta Casa da Matilha com minha
reputação e meu corpo ilesos.
Quem sabe...
Quando o jantar acabou e tínhamos concluído com algumas das
formalidades, inclusive aquela em que as famílias encontram o Alfa e seu
Beta individualmente, o que evitei a todo custo, nossa família se dirigiu
para a saída.
Eu estava quase escapando impune.
Foi então que percebi que havia deixado meu xale na sala de jantar.
Cacete!
— Gente, esqueci uma coisa. Eu já volto, — eu disse a eles. — Podem
ir ligando o carro.
— Claro, querida, — disse meu pai.
Ele, minha mãe, Selene e Jeremy saíram enquanto eu corria de volta
para pegar meu xale. Eu estava morrendo de medo de que Aiden
Norwood ainda estivesse no corredor, que eu teria que encontrá-lo
sozinha novamente.
Mas, para minha surpresa, a sala estava deserta.
Peguei meu xale e fiz meu caminho de volta para as portas da frente
da Casa da Matilha.
O corredor que levava para fora estava vazio agora. Eu podia ouvir
algumas das famílias, do outro lado da porta, conversando entre si,
prestes a voltar para casa.
Meus dedos tocaram a maçaneta da porta quando eu senti. Uma
presença iminente diretamente atrás de mim. Um cheiro que reconheci.
Não, não, não...
— Antes de ir, — Aiden Norwood sussurrou em meu ouvido. — Eu
tenho algo para você. — Sentir seu hálito quente no meu pescoço me fez
estremecer de prazer e nojo.
— Eu disse a você, — eu disse, prestes a me virar. — Eu não estou… —
Mas antes que eu pudesse dizer outra palavra, o Alfa trouxe sua boca para
a curva do meu pescoço e ombro. E, antes que eu pudesse impedi-lo, ele
foi em frente.
Ele me mordeu.
O tipo de mordida que levaria meses para desaparecer.
O tipo de mordida que tornou óbvio para cada lobisomem no mundo
exatamente a quem eu pertencia. O tipo de mordida que gritava que eu
pertencia a ele.
Aiden Norwood tinha acabado de me marcar. — Você é minha para a
temporada, — ele sussurrou. — Outro homem toca em você e eu o
matarei.
Então ele se virou e me deixou lá na entrada da Casa da Matilha.
Eu não sabia se queria fazer amor com ele ou matá-lo.
Uma coisa era certa; um dos dois ia acabar acontecendo.
Capítulo 7
AS MENINAS
Sienna

Quando alguém sorri em público, sozinho, sem motivo aparente, sem


nenhuma preocupação no mundo, isso só pode significar uma coisa: paixão
na certa.
Isso foi o que eu vi quando olhei para Emily, minha melhor amiga,
sentada no ponto de ônibus, esperando por mim, chutando seus sapatos
distraidamente. Um grande sorriso bobo no rosto.
— Em! — Eu gritei, acenando.
Ela se virou, abalada por seus devaneios, e se levantou. Ela sorriu para
mim, mas era um sorriso diferente. Um sorriso mais moderado e familiar.
Nem perto do brilho do sorriso que ela guardou para si mesma.
— Ei, Si — ela disse, me dando um abraço rápido. — Então, o que está na
agenda para hoje?
— Uma nova galeria que estou morrendo de vontade de conferir. Vamos!
Achei melhor interrogá-la no caminho. Dê-lhe um segundo para se
orientar primeiro. Afinal, o amor não era uma prioridade na minha vida
atualmente. Eu tinha apenas quinze anos. A Bruma só começaria no ano
seguinte. Nada no mundo poderia me preocupar agora.
Mas isso não significa que eu não estava curiosa. Enquanto
caminhávamos por um atalho panorâmico no meio da cidade, descobri que
não conseguia mais me conter
— Então, — eu disse, olhando para Emily, — tem alguma coisa pra me
contar, Em?
— O quê? — Emily disse rápido demais. — Eu... não sei do que você está
falando.
Nada convincente. Suas bochechas vermelhas e olhos penetrantes traíram
qualquer segredo que ela estava escondendo.
— Qual é, Em! — eu disse, cutucando-a. — Sou eu. Você sabe que pode
me contar qualquer coisa
Emily suspirou, olhos no chão, chutando uma pinha. Mas eu sabia que ela
iria desabar. Éramos melhores amigas. Nunca guardamos segredos. Por que
Emily iria começar agora?
— Você jura não contar a ninguém?
— Juro por tudo.
E eu falei sério. Os olhos de Emily finalmente encontraram os meus, e eu
vi uma sugestão daquele sorriso radiante nos cantos de sua boca. Ela mal
conseguia se conter.
— Lembra como eu disse que queria dormir com alguém antes de
começarmos a Bruma?
— Sim, — eu disse. — Pra ser menos chocante, né?
— Certo. Bem... acho que posso ter... conhecido alguém.
Eu parei, de queixo caído, agarrando o braço de Emily.
— Tá falando sério?! — Eu exclamei. — O QUÊ? Quando? Como? Quem?
Eu quero detalhes.
— Eu vou te contar tudo, Si —. Emily riu. — Uma coisa de cada vez.
Eu sabia, por aquele olhar no rosto de Emily antes, que havia alguém.
Mas eu nunca teria esperado que fosse... aquele tipo de pessoa. Do tipo com o
qual você perde a virgindade.
— Só me diz uma coisa, — eu disse, ficando séria. — Tem certeza de que
ele é o cara certo?
— Não, — Emily admitiu. — Mas ele é mais velho. Mais experiente, e isso
me agrada. Porque isso significa que pelo menos um de nós saberá o que esta
fazendo.
Nós rimos por um segundo e continuamos andando. Mas eu tinha tantas
perguntas.
— Espera aí. Mais velho quanto, Em?
— Dez anos?
— Uau. Mais velho mesmo.
— Mas não importa. Ele é alto, bonito e tão confiante, meu Deus.
Quando falo, é como se ele realmente ouvisse. Com tanta... intensidade.
E eu pude ver pelo olhar de Emily, pelo sorriso em seu rosto, que ela estava
certa. Sua idade não importava nem um pouco.
Minha amiga estava se apaixonando.
E eu estaria lá para ela.
Eu agarrei a mão dela.
— Estou tão feliz por você, Em.
— Quero dizer, veremos, — disse ela. — Quem sabe se ele quer o mesmo.
— Olhe para você, Em, — eu disse, empurrando seu braço de brincadeira.
— Como ele pode resistir?
— Olha só quem fala — disse ela, revirando os olhos. E agora nós duas
estávamos rindo, de mãos dadas, em nosso caminho para onde quer que a
tarde nos levasse, nossos planos para ver a galeria, há muito esquecidos. Nós
duas éramos imparáveis. Juntas, deixaríamos nossa marca no mundo.

Acordei assustada, a cabeça ainda nublada com as lembranças. Minha


mão imediatamente disparou para meu pescoço, inchado e machucado.
Merda. Emily pode ter sido um sonho, mas essa marca não era. O
maldito pesadelo era real.
Uma torrente de mensagens de texto iluminou meu telefone quando
ele começou a vibrar como um louco.

Michelle: garota!

Michelle: atenda já o maldito telefone!


Sienna: Ughh Michelle, tá cedo pra
caramba

Sienna: O que é?

Michelle: você tem algumas explicações a dar

Sienna: ???

Michelle: pode correr para o Winston's

Eu rolei na cama, gemendo. A última coisa que eu queria fazer era


enfrentar um interrogatório das minhas amigas. Depois da noite passada,
depois de ser marcada pelo Alfa...
Oh Deus. Como eu iria cobrir aquilo?!
Quando dei uma olhada no espelho, só a visão foi o suficiente para
me fazer ofegar.
A mordida era uma mancha azul enorme e machucada em meu
pescoço, maior do que qualquer mordida que eu já tinha visto antes.
Não doeu. Na verdade, quase vibrou com uma sensação carnal. Cada
vez que o tocava, podia sentir os dentes de Aiden Norwood novamente.
Sacudi a sensação e comecei a me vestir. Peguei o maior lenço que
encontrei e o enrolei no pescoço. No mínimo, ver Michelle e as meninas
tiraria o Alfa da minha mente. Uma distração era exatamente o que eu
precisava agora.
Quando cheguei ao Winston's, a nossa lanchonete, vi que toda a
tripulação já estava preparada.
Michelle, que tinha um novo parceiro a cada Bruma, estava
conversando com as meninas sobre sua última conquista. No momento,
acho que o sortudo era...
Ralph?
Russell?
Não, Ross. Era isso. Difícil lembrar de todos quando se tratava de
Michelle.
Não me entenda mal. Não era que Michelle fosse vagabunda.
Ela estava incrivelmente confortável com sua sexualidade e não
deixava ninguém dizer o que ela podia ou não fazer.
Foi Michelle quem tentou me arranjar três de seus amigos e que
mantinha a fofoca sempre correndo solta.
— Lá está ela! — Michelle exclamou quando entrei.
— E aí meninas, — eu disse, sentando-me, ajeitando o cachecol sem
graça.
Eu tinha conseguido escapar da Casa da Matilha sem ninguém
perceber na noite passada e pretendia manter a marca do Alfa em
segredo enquanto eu pudesse.
Antes que eles pudessem começar a me interrogar sobre o evento,
notei Mia. Ela estava positivamente brilhando. Eu agarrei suas mãos.
— Mia, estou tão feliz por você e Harry.
— Obrigado, Si —. Ela sorriu. — Eu mal posso acreditar que é real.
Em um segundo vocês são melhores amigos, no próximo...
— Vocês estão se esfregando um no outro, — provocou Michelle,
cutucando as costelas de Mia.
Mia começou a empurrar os quadris, simulando sexo no meio da
lanchonete. — Muito bem!
— Então, quando é a cerimônia de acasalamento? Você já escolheu o
lugar? — Eu perguntei.
— Em alguns meses. Não estou realmente preocupada com isso. A
família de Harry tem um monte de propriedades. As vantagens de
acasalar com o filho de um magnata do mercado imobiliário, — ela
sorriu.
— Ruim não deve ser, — eu disse, rindo.
— Isso com certeza, — disse Erica, sem rir.
Erica nunca foi boa em esconder sua amargura. Outra temporada sem
parceiro parecia estar deixando-a mais frustrada sexualmente do que o
normal.
Todos nós tentamos ignorá-la, sabendo que era apenas o efeito da
Bruma. Normalmente, Erica era a garota mais doce do mundo.
Não era fácil ficar sozinha durante a Bruma, disso eu sabia. Mas agora
eu tinha problemas ainda maiores. E parecia que Michelle estava prestes
a descobri-los.
— Certo, — disse Michelle, retomando a conversa. — Já evitamos o
assunto por tempo suficiente. Vamos, Sienna. Desembucha.
— Foi... — eu comecei, tentando descobrir minha melhor estratégia
de deflexão. — Normal. Não muito diferente do Baile de Inverno ou do
Solstício de Verão. Apenas menos pessoas. Um pouco mais íntimo.
— Íntimo, hein? — Michelle perguntou, sorrindo.
Eu não gostei do olhar penetrante dela. Mas não era como se ela
pudesse saber. Ninguém soube. Ninguém tinha visto o Alfa me marcar.
Disso eu tinha certeza.
— Sim. Minha família teve algum tempo cara a cara com a liderança
da Casa da Matilha. Foi bom para a nossa posição. E só.
— Não foi isso que Michelle disse... — Erica cortou.
— Como assim? — Eu me virei para Michelle.
— Que droga, Erica, — Michelle zombou. — Você não poderia
simplesmente manter a boca fechada e deixar Sienna nos contar por si
mesma?
— Contar O QUÊ?!
Não percebi que estava gritando até que toda a lanchonete ficou em
silêncio e se virou para olhar para nós. Eu não estava brava. Eu estava
furiosa. Como isso pôde acontecer? Como alguém poderia saber?
— Sienna, — disse Michelle suavemente. — Não é nada demais.
Ouvimos dizer que você e o Alfa podem ter tido um momento, só isso.
Algumas pessoas viram vocês dois saindo do salão na mesma hora e... —
Eu estava com tanto calor que tive de afrouxar meu lenço e, ao fazer isso,
vi os olhos de Michelle se arregalarem.
— Opa, — disse ela. — O que é isso?
Merda! Como pude ser tão estúpida?
Eu devia ficar trancada no meu quarto pelo restante da Bruma. Sair
em público com essa marca enorme e feia no meu pescoço?
Eu poderia muito bem usar uma placa que dizia: — Estou ferrada,
obrigado por perguntar.
A pior parte era que, enquanto eu estivesse marcada assim, a maioria
dos lobos machos me evitaria. Isso significava outra temporada sem
encontrar meu verdadeiro companheiro.
Outra Bruma sem ninguém para chamar de meu. Com uma mordida,
Aiden tirou tudo isso de mim.
Percebendo que não conseguiria manter o disfarce por muito tempo,
suspirei e lentamente desembrulhei meu cachecol. Quando as meninas
viram, todas se engasgaram e colocaram as mãos na boca.
— Isso não é.. — Michelle começou, incrédula.
— Sim, — eu disse. — O Alfa me marcou ontem à noite. Eu sou dele
para a temporada. Sorte minha, certo?
Essa última parte eu disse pingando sarcasmo. Mas eu percebi pela
expressão no rosto de Erica que ela não gostou nadinha. Ela fez uma
careta.
— Você poderia ser mais grata, — disse Erica. — Ser marcada pelo
Alfa entre todas as pessoas? Isso é muito importante, Si.
— Eu sei, eu só…
— Você está brincando, isso é INCRÍVEL! — Michelle exclamou.
— Droga, Sienna, sempre tentando me superar! — Mia provocou.
Suspirei, sem saber como explicar isso.
O problema era que nenhuma das meninas sabia meu segredo.
Ninguém sabia que eu ainda era virgem. Então, como eu poderia
enquadrar isso de uma maneira que eles entendessem?
— Ele não perguntou, — eu disse. — Ele só… me mordeu, como se eu
fosse sua propriedade e ponto final.
— Si, — disse Michelle, balançando a cabeça. — Eu sei que você gosta
de fazer suas próprias regras. Mas, cara, eu mataria por uma chance de
transar com o Alfa. Está brincando? Eu faria o que ele quisesse. Além
disso, agora que ele marcou você, não é como se você tivesse escolha,
certo? Não há ninguém com quem vocês possam dormir pelo resto da
temporada.
E agora eu podia ver que, apesar de Michelle ser a parceira de Ross
para a Bruma, havia um pouco de ciúme em seus olhos. Principalmente
pelo status, imaginei.
Ninguém, nem Michelle, nem Mia, nem Erica, entenderia.
Eu estava tentando encontrar um jeito de mudar de assunto quando
recebi um texto que deixou tudo ainda pior.
Se isso fosse possível.

Selene: Adivinha o que acabou de chegar pelo correio, mana.

Selene: Um convite do Alfa dirigido a VOCÊ.

Selene: Eu falei pra mamãe parar, mas você sabe que ela é tão
intrometida

Sienna: O que é?

Sienna: O que ele quer?


Selene: Si...

Selene: Ele quer que você vá morar com ele.

Eu não aguentei.
Antes que eu soubesse o que estava acontecendo, me levantei de um
salto e corri da lanchonete sem me despedir das meninas. Mesmo o ar
frio lá fora não conseguia controlar a raiva crescendo dentro de mim.
Primeiro, ele me marcou sem minha permissão. Ele tirou qualquer
esperança que eu tivesse de encontrar meu verdadeiro companheiro.
Então, ele me chamou como se eu fosse seu animal de estimação. O
mundo estava virando de cabeça para baixo e só eu parecia ser capaz de
ver com clareza.
Por um segundo, pensei que poderia me transformar ali mesmo.
Rasgar minhas roupas no meio de um cruzamento movimentado.
Tornar-me meu eu mais animal e violento.
Era assim que eu queria machucá-lo.
Eu podia imaginar minhas presas rasgando sua garganta.
Mas assim que comecei a me mexer, quando vi os cabelos começando
a brotar em minhas mãos, minhas unhas se alongando, minha espinha se
dobrando, parei.
Não.
Eu iria enfrentar Aiden Norwood cara a cara em sua Casa da Matilha
e colocar um fim nisso de uma vez por todas. Ele era o Alfa, sim, mas isso
não era desculpa.
O Alfa estava prestes a descobrir exatamente com quem ele estava se
metendo.
Capítulo 8
O CONFRONTO
Sienna

Marchei direto para a Casa da Matilha, onde tinha certeza de encontrar


Aiden. Quando cheguei ao portão de entrada, parei para cheirar o ar.
Tudo cheirava a lobisomens e humanos, a vegetação e veículos
fumacentos. Eu fiz uma careta. Eu senti o cheiro de tudo, exceto o cheiro
que eu estava procurando. Seu perfume.
Era possível que as fêmeas marcadas não pudessem farejar? Isso não
seria uma bela cereja no topo do já chauvinista mundo dos lobisomens?
O guarda me lançou um olhar desconfiado, então abri um sorriso
feminino e fui até lá. — Com licença, — eu disse suavemente, — o Sr.
Norwood está aqui?
— Por que você quer saber?
— Porque eu gostaria de vê-lo. — Normalmente, meu domínio de
conversação, meu traço dominante mais eficaz, teria feito o truque, mas
este guarda parecia ter sido treinado para resistir a isso.
— Você já marcou hora? — ele perguntou em um tom
condescendente. — Muitas meninas querem ver o Sr. Norwood.
Eu não tinha tempo para aquela conversa. — Você vai me deixar
entrar, — eu rosnei. — Agora. — Quando minha expressão escureceu,
permiti que um dos meus dedos se transformasse em uma longa garra
negra. Eu não precisava ameaçá-lo. O guarda sabia exatamente com o
que estava lidando.
Atrapalhando-se para mostrar seu cartão-chave, o guarda abriu o
portão. — Obrigada, — eu respondi, minha mão retornando à sua forma
humana.
E com isso, passei por ele, entrando nas instalações da Casa da
Matilha.
Eu invadi as portas da frente com uma nova raiva queimando dentro
de mim, meus olhos de lobo brilhando em azul dentro da minha forma
humana.
Aiden saberia que ele marcou a mulher errada.
A multidão se separou enquanto eu me dirigia para as escadas. Antes
de subir os degraus, parei e farejei por ele novamente.
O primeiro cheiro a me atingir foi o odor estéril da sala, em seguida,
os cheiros dos outros lobisomens e humanos.
Soltei um rosnado frustrado até que, de repente, uma lufada de
essência amadeirada, aroma de grama e coquetel de frutas cítricas me
atingiu. A fragrância era hipnotizante. Isso picou minha pele e me deu
água na boca, mas eu sacudi esses encantos aromáticos.
Aiden Norwood pensou que poderia me dar ordens como uma ã
babona porque ele era o Alfa. Ele não poderia estar mais errado.
Segui o cheiro até o terceiro andar, onde cheguei a uma grande porta
de carvalho. Eu ouvi vozes abafadas do outro lado. Eu coloquei meu
ouvido na porta. Eu o tinha encontrado. O Alfa.
Aiden

Eu me inclinei na minha cadeira enquanto Josh andava pela sala,


preparando-se para algum tipo de grande discurso.
Eu estava apenas prestando atenção pela metade. Outra coisa havia
estimulado meus sentidos.
Jocelyn, Nelson e Rhys olharam em silêncio. Eles sabiam que não
deveriam interromper Josh quando ele estava prestes a entrar em ação.
— Josh, desembucha, — eu rosnei.
— Aiden, — ele começou, inclinando-se na minha mesa, — estamos
preocupados com você, e não somos apenas nós. Outros membros do
bando estão começando a notar. Não são apenas boatos e fofocas agora.
As pessoas estão questionando sua capacidade de liderar. Eles acham que
você está comprometido. Um bando não pode funcionar quando seus
membros começam a questionar seu alfa.
Eu me mexi na cadeira, flexionando meus músculos, caso ele tivesse
esquecido minha força. — Josh, não há razão para se preocupar. Eu
encontrei alguém.
— Você marcou uma garota de dezenove anos que mal conhece.
Como não devo ficar preocupado depois disso? Você deveria estar
procurando uma companheira, não brincando com uma adolescente
deslumbrada.
— Você também não a conhece, — interrompeu Jocelyn. — Não é
justo para você julgá-la.
Josh olhou para Jocelyn, franzindo os lábios. — Não estou tentando
colocar a garota em julgamento. Só estou dizendo que o futuro da
Matilha é mais importante que qualquer um de nós.
— Aiden faria qualquer coisa pela matilha. Você está questionando
sua liderança? — perguntou Rhys, ficando na defensiva.
Como sempre, Jocelyn foi rápida em acalmar a todos. — Duvido que
Josh quisesse questionar a lealdade de alguém, mas ele menciona um
ponto importante. Aiden, o que você vai fazer?
— Essa melancolia ficou para trás agora, eu prometo.
Pensei em dizer a eles a verdade, mas talvez ainda fosse cedo. Eu não
podia me dar ao luxo de deixar isso escapar. Mas eu conhecia Josh e não
podia continuar contando com ele.
— Tudo que eu quero é que você seja honesto com a gente, —
respondeu Josh. — O que está acontecendo com você ultimamente?
Antes que eu pudesse responder, um estrondo estilhaçou o ar e a
porta do escritório se abriu.
Sienna

Com meu lobo em total controle, entrei na sala. A vinte passos de


distância, atrás de uma mesa enorme, estava sentado o homem que eu
vim ver. Ele não estava sozinho, mas eu não me importei.
Os olhos de todos se voltaram para mim, incluindo os de Aiden, que
estavam lindos como sempre.
Apesar da minha entrada, ele não parecia surpreendentemente
surpreso com a minha chegada. Ele deve ter me cheirado no momento
em que entrei pelas portas da Casa da Matilha.
Minha raiva finalmente atingiu o ponto de ebulição e soltei um uivo
feroz que sacudiu a sala.
— Você, — eu rosnei, mostrando meus dentes e sustentando seu
olhar, desafiando-o. Os olhos de Aiden se estreitaram quando ele se
levantou e saiu de trás da mesa para me encarar.
— Eu estava me perguntando quando você iria aparecer, — disse ele.
— Mais cedo do que eu previ. Fico lisonjeado.
Se eu estivesse totalmente mudada, meu pelo teria arrepiado com sua
arrogância.
— Lisonjeado? É isso que você pensa que é? Que estou aqui por você?
— Eu rosnei, sem quebrar o contato visual.
— Por que mais você estaria aqui? No meu escritório? Cercado pela
minha liderança?
— Para te mostrar, — cuspi, — não tenho medo de você.
Agora, Aiden levantou uma sobrancelha, dando um passo lento para
frente.
— Não? — ele disse. — Talvez você devesse ter.
Senti um tremor de mal-estar descer pela minha espinha. Os olhos do
homem eram inebriantes. Mas seu rosnado era o de um predador
carnívoro. Eu não seria sua presa.
— Você pode ser o Alfa, — eu disse lentamente, — mas eu não
pertenço a você.
— Essa marca em seu pescoço diz o contrário.
Eu tive o suficiente de seus jogos. Alfa ou não, ninguém falava assim
comigo e se safava.
Minhas garras cortaram seu pescoço, mas ele agarrou meus pulsos
antes que eu pudesse afundá-los em seu pescoço. Eu estava prestes a
jogar um joelho quando ele me girou e me prendeu em sua mesa.
Seus quadris pressionaram contra mim enquanto uma mão segurava
a minha e a outra segurava minha mandíbula fechada.
— Fora, — ele retrucou, e por um segundo, pensei que ele se referia a
mim até que ouvi passos e me lembrei de que havia outras pessoas na
sala. Agora estávamos completamente sozinhos.
Ele se inclinou para que eu pudesse sentir o calor de sua respiração no
meu pescoço.
— Controle o seu lobo, — ele ordenou.
Eu não estava pronta para ceder e rosnei entre os dentes. Ele me
agarrou com mais força e se pressionou contra mim, fazendo minha
Bruma ganhar vida.
— Mulher, — ele murmurou, pairando seus lábios sobre a marca que
ele me deu. — Eu disse que você era minha, e foi pra valer. Aceite, desista.
Rosnei de novo, mas desta vez com menos convicção.
Ele podia sentir minha Bruma assumindo o controle e estendeu um
dedo, provocando meu lábio inferior.
Um suspiro suave escapou da minha boca. Meus olhos se fecharam
enquanto a ponta do dedo dançava em meus lábios molhados.
— Assim está melhor, — ele começou novamente, engolindo minha
marca com sua boca, fazendo meu abdômen se contrair, endurecendo
meus mamilos, me deixando em chamas.
Antes que eu percebesse, meu lobo havia recuado e tudo o que restou
foi a Bruma e suas demandas carnais. Maldito seja.
— Eu não quero lutar com você, — disse ele, tirando os lábios da
minha pele quente, — mas nunca me desafie publicamente novamente.
— Mas desafiá-lo em particular eu posso? — Eu murmurei, lutando
contra os tremores que me rasgaram enquanto a ereção crescente em
suas calças esfregava contra o meu sexo dolorido.
Ele riu, o som inebriante e o arfar em seu peito enviando arrepios
pelo meu corpo. — Ah, estou contando com isso, — disse ele, sua voz me
acariciando em todos os tipos de lugares. — É por isso que eu marquei
você.
— Então, isso é apenas um jogo para você? — Eu atirei de volta,
tentando me livrar de seu aperto.
— Você não está se divertindo? — Ele provocou, dando um beijo
quente no meu pescoço.
Claro! Que idiota fui ao pensar que ele pode realmente estar
interessado em mim quando a realidade era que eu não era nada mais do
que um novo desafio.
Outra mulher submissa para ele dominar e então se gabar para seus
amigos. Bem, eu não estava prestes a ser sua pequena diversão para a
temporada.
A Bruma que ganhou vida momentos atrás desvaneceu-se tão
violentamente quanto havia surgido. Se ele queria uma perseguição, ele
conseguiria uma.
De agora em diante, era minha missão fazer de Aiden Norwood o
lobisomem mais frustrado sexualmente em toda a América do Norte.
— Não, para falar a verdade, não estou, — eu disse rigidamente. —
Solte-me.
Ele se apertou mais perto. — Você vai morar comigo?
— Não. — Que idiota.
Ele riu de novo, só que dessa vez me deu vontade de socar seu rosto.
— Achei que não. Parece que vou ter que pegar você primeiro.
— Pelo menos um de nós acha graça, — respondi. — Agora saia de
cima de mim. Não direi por favor de novo.
— Como você desejar, — disse ele, aliviando a pressão em meu corpo,
— mas mais cedo ou mais tarde, a Bruma vai bater em você novamente e
você desejará meu toque como nunca antes.
Eu me levantei e o empurrei para fora do caminho. Um leve sorriso
em seu rosto me provocou.
— Você pode tentar me pegar, Alfa, mas não espere ter sucesso.
Eu me virei e saí pela porta, ouvindo-o me insultar enquanto eu saía.
— A caçada começou...
Capítulo 9
A VISITA SURPRESA Sienna
Quando cheguei em casa, minha mãe estava radiante. — Selene me disse
que você fez uma pequena visita à Casa da Matilha hoje para ver alguém
especial.
Sim, ele certamente era especial. Um tipo especial de repulsivo. Se ela
soubesse o idiota arrogante que Aiden era na verdade.
— Você não deveria acreditar em tudo que Selene diz, — eu respondi,
fazendo uma pausa para o meu quarto, mas não fui rápida o suficiente.
— O que é isso no seu pescoço? — minha mãe gritou.
Merda, eu tinha esquecido completamente de me cobrir antes de
voltar para casa.
— Eu... uh...
— Oh, vamos lá, querida. Eu sou sua mãe. Eu sei de tudo. — Ela riu.
— Michelle abriu o bocão, não foi? — Suspirei.
— Não culpe a Michelle. Eu teria preferido ouvir da minha própria
filha, mas alguém anda cheia de segredinhos ultimamente, — ela
repreendeu. — Mais alguma coisa que você gostaria de contar?
Eu olhei para minha mãe, me odiando um pouco.
Ela só queria estar perto de mim, saber o que estava acontecendo no
meu mundo. Era de seu feitio ser sempre franca. Selene herdou esses
genes 100 por cento.
Mas eu? Quando fui adotada, tinha alguns traços que eram completa
e totalmente meus.
Isso incluía meu cabelo ruivo, meu hábito de guardar segredos, e, é
claro, meu domínio não tão sutil sobre as pessoas.
Quando pensei sobre essas diferenças entre mim e minha mãe, meu
coração doeu um pouco.
Quem me fez assim? Meus pais misteriosos estavam por aí em algum
lugar.
Eu me perguntei se eles eram igualmente ruivos. Eles também eram
secretos? Mais importante ainda, eles eram, como eu, excepcionalmente
poderosos?
— Não tenho mais nada para contar, — eu menti, deixando de lado
todos esses pensamentos dispersos.
Eu não estava prestes a revelar que era o 'desafio' de Aiden Norwood
para a temporada. Além disso, pessoas suficientes tinham me visto
invadir a Casa da Matilha, então ela provavelmente tinha uma boa ideia
do que tinha acontecido.
— Por que você está tão mal-humorada? Você deveria estar radiante.
Ser marcada pelo Alfa, é grande coisa, e pouca gente tem chance de, bem,
você sabe, — ela disse, piscando.
— Eca, nojento, — eu cuspi.
— Sienna, eu não entendo. Ele é tão lindo. Qual é o problema?
— Então, por que você não vai fazer sexo com ele? — Eu retruquei,
passando por ela e batendo a porta da frente atrás de mim.
Eu precisava ficar longe de todos antes de explodir. Eles só conheciam
o Aiden Norwood de suas fantasias, aquele que viam à distância.
Nenhum deles o conhecia como eu. O Alfa egocêntrico que marcava
garotas apenas para se divertir. Sem mencionar essa Bruma estúpida que
me fazia derreter sempre que ele chegava perto.
Queria voltar no tempo e nunca mais ir àquele jantar idiota. Minha
vida tinha sido muito mais fácil, meu segredo muito mais seguro.
Em tempos como esses, eu recuava para o rio para clarear minha
cabeça, mas aquele era mais um lugar que Aiden havia arruinado para
mim.
Eu tinha apenas um refúgio para recorrer: a pequena galeria de arte
na parte alta da cidade que descobri com Emily durante uma de nossas
caminhadas.
O lado de fora não era nada mais do que uma velha porta de metal
com pintura azul escamosa. Você passaria direto se não estivesse
procurando por ele.
Corri para lá o mais rápido que minhas pernas conseguiram me levar.
Desabei no banco de couro vermelho da galeria, exausta. Meu peito
arfou enquanto tentava recuperar o fôlego. Eu comecei a tirar meu
casaco quando meu bolso vibrou.

Michelle: Ei! Você está bem?

Michelle: Sua mãe disse que você saiu correndo de casa


chateada

Sienna: Sim, estou bem.

Michelle: Certeza? você estava mal-


humorada no brunch

Michelle: Você está me escondendo alguma coisa

Michelle: Tem a ver com o Aiden, não é?

Sienna: Já falei, não quero falar sobre isso

Sienna: Minha mãe estava me fazendo


todas essas perguntas
Sienna: E eu tive que fugir

Michelle: Sim, o que está pegando de verdade?

Michelle: pode me contar

Sienna: Vou estar melhor amanhã, prometo

Sienna: Só preciso esfriar a cabeça

Michelle: cadê você?

Sienna: Eu fui passear na parte alta da


cidade

Michelle: vamos nos encontrar e conversar

Sienna: Eu meio que quero ficar sozinha


agora
Michelle: mande-me uma mensagem quando chegar em casa,
ok?

Sienna: Claro

Michelle: Estou aqui se precisar, vaca Bjs

Michelle tinha boas intenções, mas era alucinada demais por homem
para entender. Foi por isso que sempre gostei de ter Emily a quem
recorrer.
Eu poderia dizer qualquer coisa a ela, e ela apenas ouviria. Nunca me
senti sendo julgada quando conversava com ela.
A arte na galeria era uma colagem de várias mídias diferentes.
Algumas eram paisagens urbanas, enquanto outras eram retratos
abstratos de pessoas comuns.
Um em particular encapsulou perfeitamente minhas emoções atuais.
Era uma litografia de uma jovem em sua melhor roupa de domingo. Ela
tinha um olhar distante que se conectou comigo, uma confusão de lixo e
objetos variados, que a artista havia colado na tela, jorrando de sua
cabeça.
A porta se abriu atrás de mim e eu senti uma lufada de ar frio atingir
minha pele. O cabelo da minha nuca se arrepiou.
— Que joia escondida, — disse uma voz familiar.
Virei-me para ver Jocelyn, ainda tão radiante quanto no jantar da
Casa da Matilha. Ela havia trocado o vestido e os saltos por jeans e um
casaco de inverno chique.
Eu me perguntei se ela estava usando isso quando entrei para
confrontar Aiden. Eu estava enfurecida demais para reparar. Seu cabelo
castanho ondulado caía em cascata por seus ombros, e o ar fresco do
outono tingia suas bochechas fortes de um rosa sutil que acentuava seus
lábios de cereja.
— Não fique tão surpresa, — disse ela, sentando-se ao meu lado no
banco. — Rastrear lobos faz parte do meu trabalho.
— Você estava procurando por mim? — Eu perguntei, sem saber o
que alguém como Jocelyn iria querer com alguém como eu.
— Eu não seria uma Curandeira lá muito boa se não soubesse que
você precisava de alguém com quem conversar depois do que acabou de
acontecer.
Ela deu um sorriso lindo e de tirar o fôlego que imediatamente me
deixou à vontade. Ela não tinha vindo para me julgar. Ela tinha vindo
para ouvir.
— O que ele te falou? — Eu perguntei, com vergonha de olhar nos
olhos dela.
— Aiden não me disse nada. Mesmo se tivesse dito, seria apenas a
versão dele.
Ela fez uma pausa, esperando que eu dissesse algo, mas eu não tinha
certeza se estava pronta para confiar nela completamente. Afinal, ela era
a ex-amante de Aiden e ainda uma de suas conselheiras de confiança.
— Você conseguiu colocá-lo na coleira, algo que nenhuma mulher
jamais conseguiu fazer.
Eu pisquei.
— Na coleira?
Sua risada se intensificou.
— Você tem noção, não é?
Eu pausei.
— Noção de que?
Ela sorriu maliciosamente, o que estava fora de lugar em seu rosto
normalmente compassivo.
— Está todo mundo falando de você, — ela continuou. — Você é a
primeira mulher a desafiar a Bruma do Alfa.
O que ela quis dizer com 'a primeira'? Certamente, se alguém como eu
conseguia deixá-lo irritado, ele devia estar enlouquecendo com uma
mulher como Jocelyn.
— Não é todo mundo que sofre perigo na temporada? — Eu
perguntei. — Como poderia ser a primeira vez dele?
O sorriso de Jocelyn se alargou.
— A maioria das regras do lobisomem não se aplica aos alfas. Eu curei
alguns ao longo dos anos, e posso te dizer... no meio da temporada? Alfas
tendem a não ser afetados pela Bruma. Eles têm um controle de ferro, e
mesmo se não o tivessem, as mulheres que marcam quase sempre aliviam
sua Bruma antes que fique crítica... Pelo menos em geral...
— Então, o que você está dizendo é que sou a primeira mulher a
rejeitá-lo e agora ele está se sentindo... frustrado?
— Exatamente. — Ela acenou com a cabeça. — Você se tornou uma
espécie de lenda no círculo interno. Depois daquele show no escritório?
Josh e o resto da liderança mal podem esperar para conhecê-la
adequadamente. — Mas, — ela continuou, seu rosto sério, — você não
pode evitar a cama de Aiden para sempre.
— Por que não? — Eu perguntei.
— Porque sua Bruma chegará a um ponto em que ele não poderá
mais controlá-la, e quando chegar no limite, bem...
Ela não precisou entrar em detalhes. Aiden iria me caçar até que ele
conseguisse o que queria. Estremeci ao perceber que tinha perdido toda a
ação sobre meu corpo no segundo que aquele filho da mãe afundou os
dentes em meu pescoço.
— Ele não deveria ter me marcado, — eu disse, irada. — Ele deveria
ter me conhecido primeiro e pedido meu consentimento.
— Honestamente, ele geralmente conhece suas parceiras primeiro, —
respondeu Jocelyn. — Mas você realmente deve ter mexido com os
sentidos dele.
— Mesmo? — Meus olhos se arregalaram de descrença. — Então, por
que essa temporada foi a exceção? Ele ficava entediado com as mulheres
se ajoelhando para ele sempre que queria?
Eu vi um toque de dor nos olhos de Jocelyn e imediatamente me
arrependi do que eu disse. — Me desculpe, eu não quis dizer isso. Eu
estou apenas...
— Está tudo bem. Eu sei que você não quis dizer isso como um
insulto. Estar com o Alfa é um prato cheio, especialmente agora. Aiden
não tem sido ele mesmo nos últimos meses. Tenho certeza de que você já
ouviu falar a respeito, — disse Jocelyn.
— Sim, minha mãe é a fofoqueira da cidade, — eu disse, revirando os
olhos.
— O Alfa tem muito a fazer. E até que ele esteja acasalado, sua força, e
a força de nossa matilha, estará ameaçada.
— Mas Aiden e eu não somos companheiros, — retruquei.
— Talvez, mas ele ainda tem uma Bruma que precisa ser controlada. É
divertido vê-lo se contorcer, eu sei, mas pense na Matilha.
— Isso é mesmo responsabilidade minha? — Eu perguntei, cética.
— Eu também me fiz a mesma pergunta, Sienna. Isso é você quem
decide. Eu posso te dizer isso. Eu amo meu Alfa e só quero o que é bom
para ele. Ele é um bom homem. Você verá se der a ele uma chance de
provar isso.
A conversa não levou o rumo que eu esperava, mas eu poderia dizer
que Jocelyn era sincera em sua preocupação por Aiden.
Ainda assim, isso não desculpou sua atitude e o que ele disse para
mim em seu escritório.
— Vou considerar o que você disse, mas ele precisa ceder também. Ele
tem que me respeitar.
— Deixe-me falar com ele, — respondeu Jocelyn. — Ele vai entrar na
linha se tiver algum juízo. Tenho a sensação de que você é diferente,
Sienna. — E antes que eu percebesse, Jocelyn tinha seus braços em volta
de mim em um abraço reconfortante.
— A gente se vê por aí, — disse ela, levantando-se.
— Sim, eu tenho certeza.
Quando Jocelyn saiu, eu ainda me sentia quente por dentro. Seu
toque de cura realmente fez maravilhas. Se uma mulher como aquela
pudesse ser amante de Aiden, ele não poderia ser de todo mau.
Eu não iria perdoá-lo, ainda não, mas entendia a realidade da minha
situação e, se tivesse que ir até o fim, poderia muito bem me esforçar
para conhecê-lo.
Meu telefone vibrou novamente. Desta vez foi minha mãe.

Mãe: Sienna, você precisa voltar para casa agora mesmo! É uma
emergência.

Sienna: O que aconteceu? Papai está bem?

Mãe: Papai está bem, mas venha pra casa rápido

Sienna: Ok, estou na parte alta da cidade

Mãe: Te vejo em breve!

Minha mãe não chamava nada de emergência, a menos que fosse


sério. Então decidi ir de táxi para casa.
Quando paramos em minha casa, notei um Audi preto estacionado
do lado de fora. Eu nunca tinha visto isso antes e me perguntei a quem
poderia pertencer.
Meu coração estava disparado enquanto corria para a porta da frente
e a abri.
— Mamãe? Mamãe? Estou em casa. Onde você está?
— Estamos aqui! — ela chamou da sala, bastante calma e agradável.
Tinha algo de estranho. Eu cheirei o ar, e um almíscar amadeirado
perfurou minhas narinas, fazendo uma erupção de calor entre minhas
pernas. Virei a esquina e, com certeza, sentado no sofá apreciando uma
xícara de chá estava ninguém menos que Aiden Norwood.
Capítulo 10
O ENCONTRO
Sienna

— Achei que você tinha dito que era emergência, — eu disse, fuzilando
minha mãe com o olhar.
— E estragar a surpresa? Eu estava mostrando ao Sr. Norwood
algumas das fotos de quando você era bebê. Ela não era uma graça?
— Sim, mesmo assim, você poderia dizer que ela cresceu para ser uma
mulher forte e bonita, — ele respondeu, lançando seus hipnotizantes
olhos verdes com listras douradas em minha direção. — Este chá é
delicioso, Sra. Mercer.
— Por favor, me chame de Melissa, — ela respondeu com uma
risadinha. Eu queria vomitar. Minha própria mãe estava mais apaixonada
pelo meu parceiro do que eu. Aposto que ela pensou que eu iria acasalar
com Aiden até o final da temporada, mas eu olhei em seus olhos várias
vezes agora, e o reconhecimento nunca ocorreu.
Ele estava apenas me usando, afinal.
— Se divertiu na parte alta da cidade? — ele perguntou, exibindo um
sorriso diabolicamente bonito. Por que ele se importou? Ele sabia sobre
Jocelyn?
— Foi tudo bem, — eu respondi, tentando não deixar sua aparência
me hipnotizar.
Não ajudou que sua camisa agarrasse cada centímetro de seu peito
largo e braços protuberantes ou que sua calça jeans se ajustasse
confortavelmente em torno de suas pernas poderosas e definidas.
Por seu sorriso maroto, eu poderia dizer que ele sabia que eu estava
lutando para impedir que minha Bruma explodisse. — Acho que nunca
te vi de cabelo preso. Combina com você, especialmente com a marca no
seu pescoço.
Eu tinha esquecido completamente que puxei meu cabelo em um
rabo de cavalo frouxo quando cheguei à galeria. Fios crespos e varridos
pelo vento estavam por toda parte. O suor seco grudou em minhas
têmporas.
Eu estava descabelada e feia, e ele sabia disso. E, claro, o filho da mãe
arrogante estava admirando o seu trabalho.
— O que você está fazendo aqui? — Eu perguntei, não me
importando com as formalidades. Acho que, depois desta tarde, seria
inútil tentar agir civilizadamente.
— Vim com uma missão, — disse ele, divertido. — Quero conhecer
mais sobre você e sua família. Percebi esta tarde que mal nos
conhecemos.
Claro que não. Você me marcou do nada.
Ainda assim, essa mudança de tato me fez pensar que Jocelyn havia
transmitido minha mensagem de que era melhor ele se preparar. Foi bem
rápido, pensei. Eu cruzei meus braços e dei a ele um olhar irritado.
— E qual é o plano?
Com os olhos arregalados, vi quando ele se levantou e pegou minha
mão.
— Sienna, você gostaria de se juntar a mim para jantar esta noite?
O idiota estava me cortejando e, caramba, estava funcionando.
De repente ele estava tão educado. Provavelmente por causa da
presença da minha mãe. Ela parecia que poderia ter morrido ali mesmo e
ido para o céu. Minhas bochechas coraram e meu coração bateu tão forte
que ele provavelmente ouviu. Fiquei encantada. Profundamente
encantada. Talvez Jocelyn estivesse certa sobre ele.
Talvez Aiden Norwood merecesse uma chance.
— Não estou vestida para a ocasião, — falei, tentando protestar.
— Nem eu, — disse ele, sorrindo. — Nós cuidaremos disso. Vamos?
Talvez possamos, pensei. Mas eu iria torturá-lo. Eu não ia desistir tão
facilmente. Finalmente, eu balancei a cabeça.
— Sim, — respondi. Então, pensando que é melhor limitar minhas
apostas. — Só desta vez. — Aiden riu e balançou a cabeça, divertido pela
minha contenção contínua. Sem outra palavra, ele me conduziu para fora
em seu carro e partimos.
Eu sabia que não deveria deixar o Alfa me pegar. Mas, até então ele
tinha sido educado, calmo, até mesmo um cavalheiro. Para que complicar
as coisas quando elas podiam ser simples?
O caminho foi silencioso e rápido. Aiden parou em uma boutique e
entramos.
Eu ainda estava em guarda, mas achando mais fácil a cada segundo
estar perto dele.
A vendedora deu um sorriso apaixonado. — Em que posso ajudá-lo,
Sr. Norwood? — ela sibilou. Nós duas nos encaramos, e seu sorriso
mudou imediatamente para uma carranca.
Acho que alguém queria o Sr. Norwood só para ela.
Vinte minutos atrás, eu teria deixado ele para ela, mas me senti
estranhamente possessiva por um segundo. Antes que eu pudesse me
conter, meu lábio se curvou em um rosnado.
A vendedora desviou o olhar rapidamente. Eu pisquei. O que havia de
errado comigo? Não valia a pena se preocupar com o alfa. Controle-se,
Sienna!
— Você pode me ajudar a procurar algo? — Eu perguntei a ela,
tentando oferecer uma bandeira branca. Ela assentiu bruscamente e me
levou a uma fileira de lindas peças de seda.
Escolhi um vestido azul marinho e fui para o vestiário. O vestido era
justo, destacando todos os meus atributos e complementando minha
pele de marfim.
A vendedora empurrou um par de sapatos brancos por baixo da
cortina. Eles se encaixaram perfeitamente. Soltei meu cabelo e corri
meus dedos por ele até que tudo estivesse domado.
Dei uma última olhada em mim mesma no espelho antes de sair. Eu
estava ótima.
Os olhos de Aiden não pareciam se mover. Seu olhar fumegante
percorreu meu corpo da cabeça aos pés, demorando-se em meus quadris
e peito por um segundo a mais.
— Você está... de tirar o fôlego, — disse ele, os olhos brilhando.
Minha Bruma, graças a Deus, estava sob controle pela primeira vez.
Não que isso fizesse sentido. Nunca tínhamos compartilhado um
momento como este antes.
Deveria estar em chamas. Mas, em vez disso, me vi corando e
desviando o olhar. Não estava excitada. Foi estranhamente... legal. Quase
fofo. Foi quando percebi que Aiden também havia se trocado.
Ele usava uma calça azul justa que deixava pouco para a imaginação e
uma camisa branca de colarinho feita à medida da perfeição. O homem
era devastadoramente bonito.
Depois que ele pagou pelo vestido e pelos saltos, voltamos para o
carro, dirigindo em direção ao centro da cidade.
Estacionamos em frente ao restaurante mais badalado da cidade e,
depois de abrir minha porta, ele me conduziu para dentro com uma das
mãos na nuca. No momento em que passamos pela porta, os olhos de
todos se voltaram para nós.
Alguns ficaram chocados, outros com inveja, mas eu realmente não
me importei. Eu estava gostando tanto da noite que não havia nada que
pudesse me distrair.
A anfitriã nos levou a uma mesa íntima no canto mais distante, longe
dos olhos curiosos dos outros clientes.
Sentamos um em frente ao outro e meu corpo ficou tenso quando
Aiden se aproximou.
— Tão ruim assim? — ele perguntou.
— Depende, — eu disse, e ele ergueu uma sobrancelha, — de quão
boa é a comida. — E então rimos os dois. E percebi o quanto precisava
aprender sobre o Alfa. Eu nunca pensei que ele fosse capaz de ser tão
descontraído. Ele era um líder. Um homem a ser temido. Mas naquele
momento, não.
Só então, Aiden pegou minha mão.
Eu hesitei por um segundo. Mas então eu o deixei pegar.
Nós dois estávamos no piloto automático, parecia. Não houve
palavras, motivos ou agendas claras para definir o que aconteceu a seguir.
Aiden trouxe minha mão até seus lábios macios e beijou as costas
dela.
Eu respirei em choque, quando seu beijo fez a Bruma entrar em
erupção, espalhando-se pelo meu corpo, fazendo minha pele ficar tensa
com antecipação, inchando meu sexo, umedecendo minha calcinha.
Ele olhou para cima através de seus cílios, olhos cheios de surpresa e
fome aparente, sua Bruma faiscando com a minha.
Nenhum de nós planejou que acontecesse assim. Mas estava
acontecendo. E agora eu não sabia se seríamos capazes de pará-la.
— Sienna, você é...
— Eu sei, — eu respirei, lambendo meus lábios. — Você é muito... Sr.
Norwood.
— Aiden, — ele rosnou de fome — me chame de Aiden.
— Aiden. — Eu provei seu nome na minha boca, fechando meus
olhos e arfando. — Oh Deus, Aiden. Estou com tanto calor.
Ele rosnou mais forte desta vez. — Se continuar assim não vamos
passar nem do couvert.
Na verdade parecia boa ideia, mas algo dentro da minha cabeça
continuava me incomodando, cutucando, tentando me tirar da minha
Bruma. Esta não era uma Bruma normal. Não, era como se eu mal me
reconhecesse agora.
Com um beijo na minha mão, Aiden apagou tudo que eu pensava
como eu. Meu passado. Meus desejos. Meus medos.
Todos eles se foram. Eu estava hipnotizada.
Uma parte de mim sabia que isso era errado, mas eu não queria que o
sentimento parasse. Eu não queria interromper a tensão que crescia
dentro de mim enquanto sentia o cheiro desse homem de dar água na
boca.
Mal notamos quando o garçom que veio anotar nossos pedidos.
Aiden pediu algo chique, mas o único prato que eu queria provar não
estava no menu.
Ele estava sentado à minha frente.
Pare! A voz de Emily estava de volta. Pare, Sienna! Guarde-se para o seu
companheiro!
— Ah, pelo amor de Deus, cale a boca! — Eu disse em voz alta, sem
querer.
Aiden me deu um olhar questionador. — Você está ficando louca?
— Você me deixa louca, — eu respondi sedutoramente, um conjunto
de lábios se abrindo, o outro apertando.
— Então é assim? — ele disse, os olhos brilhando. — Eu pensei que
você queria ser caçada. — Espere, ele pensou que eu queria ser caçada?
Foi isso que ele entendeu da nossa conversa?
Antes que eu pudesse protestar, sua mão enrolou em volta do meu
pulso e levou minha mão ao rosto. Tudo em minha cabeça se espalhou ao
vento.
— Sua pele é tão macia, — ele murmurou, beijando minha palma. —
Tão sedosa e macia. Quero colocar minha língua em cada centímetro do
seu corpo.
Meu rosto corou e eu gemi quando ele deslizou um dos meus dedos
em sua boca.
Algo está errado! Pare!
Como algo pode estar errado?
— Sienna. — O som do meu nome me fez pular. — Mal posso esperar.
Eu quero você agora.
Olhando em seus olhos, eu o queria também. Eu não me importava
onde ou como, mas queria cada centímetro dele. — Pode me levar.
Em um instante, fui arrancado da cadeira e tropecei em uma sala mal
iluminada dos fundos.
Abrindo minhas pernas, ele envolveu suas mãos fortes sob minhas
coxas e me prendeu na parede. Sua boca massageou a mordida.
Eu nunca tinha sido beijada na boca antes na minha vida. Mas nos
últimos dias, meu pescoço estava recebendo atenção mais do que o
suficiente para compensar isso.
Eu gemia de prazer quando uma das mãos de Aiden deslizou entre
minhas pernas, as pontas dos dedos provocando minha coxa.
Ele avançou mais e mais perto até que eu estava pronta para gritar.
— O que você está esperando? — Eu gemi, minhas pernas tremendo.
Seus dedos pressionaram contra minha calcinha molhada e uma onda
de prazer turvou minha visão.
Eu me toquei lá inúmeras vezes. Mas não era nada como sentir as
mãos de um homem, as mãos de Aiden, em mim.
Eu adentrei a Bruma mais forte que já experimentei quando a voz
voltou, clamando em minha mente.
Lembre-se da sua promessa!
Eu saí da minha Bruma como alguém saindo de um transe. O prazer
que senti foi transformado em puro terror quando empurrei Aiden de
cima de mim e corri para fora da porta.
Cheguei à floresta e continuei andando pelo que pareceram
quilômetros. Parei para descansar quando cheguei a uma clareira nas
árvores, mas minha trégua durou pouco. Uma rajada de vento trouxe um
cheiro familiar ao meu nariz.
Era Aiden, e ele estava vindo direto para mim.
Capítulo 11
O ESPECTRO
Sienna

Do outro lado da clareira, outro lobo irrompeu por entre as árvores. Ele
era enorme, o maior lobo que eu já tinha visto, e seus olhos castanhos
dourados estavam fixos em mim.
Eu rosnei, mostrando meus dentes. Eu não me importava se
despertasse sua ira. Ele não me teria. Ele não se incomodou com minha
exibição e se aproximou, tentando me fazer encolher com sua
enormidade.
Mas o medo que se apoderou de mim não teve nada a ver com seu
tamanho ou minha segurança. Tinha tudo a ver com a maneira como ele
podia me controlar agora que eu estava marcada. Lembrei-me de meus
amigos falando sobre isso durante nossa primeira Bruma, mas
obviamente nunca tinha experimentado isso eu mesma.
Durante a temporada, uma fêmea marcada pode ser prejudicada de
forma não natural por seu macho marcador. Basta um toque especial e
ele poderia tornar sua amante tão perigosa quanto ele. No segundo em
que Aiden beijou minha mão no restaurante, foi isso que aconteceu. Eu
vi em seus olhos.
Ele não se importou com os joguinhos, nem de me conquistar de
forma justa. Tudo que ele queria era me comer. Alfa típico.
Talvez fosse só isso que todo o encontro significava. Uma chance de
me ter no meu estado mais indefeso. Uma chance de liberar sua tensão
para que ele pudesse voltar para suas responsabilidades de Alfa.
A voz de Emily tinha sido forte o suficiente para me tirar da Bruma
desta vez, mas e da próxima vez? Como eu poderia escapar de sua cama
se ele tinha tanto poder sobre mim? Aiden se aventurou mais perto,
esquecendo que eu não era uma de suas lobas domesticadas.
Eu não conhecia meu poder total ainda, mas sabia que não o queria
mais perto.
Eu rosnei no fundo do peito do meu lobo. Cai fora, babaca. Cai fora.
Eu enrijeci meus músculos, esperando que ele atacasse.
Nós travamos os olhos, nenhum de nós recuando.
De repente, nossos ouvidos se animaram com o som de patas pisando
no chão da floresta.
Um enorme lobo loiro saltou da linha das árvores atrás de Aiden com
uma matilha de quatro lobos logo atrás. Era Josh, e ele parecia tenso.
Algo estava errado. O que eles estavam fazendo aqui?
O lobo de Josh olhou para Aiden. Fiquei surpresa que nenhum dos
dois os farejou, mas, novamente, estávamos focados nos cheiros um do
outro.
Fosse o que fosse, deve ter sido importante porque, a princípio, Aiden
ficou furioso ao ver seu subordinado. Mas em segundos, ele estava
circulando ao redor de sua Matilha, reunindo-os e se comunicando
através de grunhidos e olhares carregados. Ele era um líder natural.
Eu queria saber mais. Será que tinha a ver comigo?
Mas, ao mesmo tempo, eu não ficaria por aí para descobrir se Aiden
ainda estava em perigo. Eu vi minha oportunidade de escapar e fugi para
a floresta.
Quando os últimos raios de sol se dissiparam entre as árvores, uma
figura cintilante chamou minha atenção enquanto eu corria. Estar na
forma de lobo tornou minha visão muito mais aguçada do que quando eu
era humana, então parei e pude ver com grande clareza uma mulher com
pele branca perolada e olhos nebulosos de roxo elétrico, azul e cinza. Seu
cabelo era preto como breu e caía pelas costas em ondas angelicais.
Levei um momento para perceber que, enquanto eu estava olhando
para ela, ela estava olhando de volta para mim. Seu rosto de porcelana
era hipnotizante.
Achei Jocelyn linda, mas essa mulher a superou sem sombra de
dúvida.
Suas feições e simetria foram formadas com tal perfeição que ela deve
ser algum ser sobrenatural e imortal que desceu à Terra.
Apesar de sua beleza sobrenatural, seu traje era estranhamente
mundano.
Ela usava calças largas com estampas de camuflagem e coturnos para
combinar. Sua blusa era uma camiseta cinza simples com uma jaqueta
jeans desbotada jogada por cima.
Eu pensei que talvez ela fosse uma andarilha, mas ela não tinha uma
mochila ou qualquer outro equipamento com ela.
Além do mais, não havia medo em seus olhos quando ela olhou para
mim. Ela não era um lobisomem, eu senti imediatamente, mas ela não
cheirava como um humano também.
Quem era esta mulher?
De repente, toda a floresta ficou em silêncio e um tom monótono
começou a ecoar em meus ouvidos. Eu balancei minha cabeça, mas não
parou o barulho.
Eu fechei os olhos novamente com a mulher encantadora. Minha
cabeça doía como se estivesse prestes a se abrir. Eu gritei e pensei que
podia ouvir uma criança gritando em uníssono.
Minhas pupilas dilataram e duas sombras pairaram sobre mim. Eu
não poderia dizer se eles estavam me alcançando ou tentando me
machucar, mas em um instante, eles se foram.
Eu olhei de volta para a mulher assim que ela também desapareceu na
noite, lentamente se tornando invisível como um espectro. O zumbido
em meus ouvidos parou e os sons da floresta voltaram.
A lua estava agora ascendendo ao seu trono noturno, e os sons da
floresta se estabeleceram em seus costumes noturnos.
Trotei cautelosamente até onde a mulher estivera e não consegui
encontrar nenhum vestígio dela. Eu coloquei meu focinho no ar, mas
tudo que eu podia sentir o cheiro era o almíscar úmido da floresta e as
criaturas usuais que a habitavam.
Eu realmente tinha visto alguém ou minha mente estava me
pregando uma peça?
Se ela fosse real, o que ela queria comigo? Por que ela se exporia e
simplesmente desapareceria? Nada fazia sentido.
Estremeci ao pensar o que teria acontecido se Josh e os outros lobos
não tivessem aparecido ou se tivessem chegado alguns minutos depois. A
noite toda me lembrou o quão pouco eu sabia sobre parceria e as regras
que governam uma loba uma vez que ela é marcada.
Eu conhecia Bruma há apenas três temporadas, enquanto Aiden era
um amante experiente que conhecia todos os truques.
E acima de tudo, ele era um alfa, então seus poderes eram mais fortes
do que os de um macho típico.
Se eu ia ter alguma chance contra ele, precisava descobrir uma
maneira de mantê-lo longe de mim enquanto nos conhecíamos.
Nada disso colaborava com o fato de que eu estava me guardando
para meu companheiro, e Aiden era a coisa mais distante de um
companheiro que eu poderia imaginar.
De que adiantava ter um alfa se ele não conseguia permanecer no
poder sozinho?
Tudo soou um pouco dramático para mim, como uma desculpa
elaborada para dormir com todo mundo até que ele — decidisse — que
havia encontrado sua companheira.
Eu gostaria de poder lutar contra minha natureza de lobo e nunca
mais ter outra Bruma. Foi o que levou Emily a fazer o que ela fez.
Eu nunca iria querer me tornar humana, mas durante a temporada,
eu tinha inveja de seu estado não afetado.
Mulheres humanas não precisavam aturar essa merda. Elas não
tinham que se submeter a serem marcadas e enganadas para dormir com
alguém, amante ou não. Elas nunca se perdiam de si mesmas.
O uivo de outros lobos me tirou dos meus pensamentos. Mesmo
tendo um parceiro, ainda não era seguro para mim estar sozinha em uma
parte tão remota da floresta.
Apenas os machos mais desesperados e não pareados estavam
rondando tão tarde da noite. Eu sabia me cuidar. Eu tinha literalmente
acabado de desafiar o Alfa, mas sabia que teria problemas se mais de um
aparecesse em busca de satisfação.
Da última vez, tive sorte. Era hora de ir embora.
Eu corri de volta para a floresta, em direção à minha casa.
Eu estava quase no limite da floresta quando me ocorreu que eu tinha
rasgado o vestido que Aiden tinha comprado para mim e jogado fora em
algum lugar ao longo da estrada.
Em outras palavras, eu estaria nua quando voltasse.
Não era exatamente um tabu andar pela cidade na forma de lobo, mas
também não era encorajado.
Eu nunca tinha feito isso antes, mas depois de parar na Casa da
Matilha meio transformada no início do dia, eu percebi que poderia lidar
com alguns olhares de desaprovação.
Ainda assim, não era da minha natureza chamar a atenção, então
peguei estradas alternativas e me mantive nas sombras até chegar à
minha rua.
Quando me aproximei da esquina, as lâmpadas da rua começaram a
pulsar e minha visão ficou turva novamente. Fiquei desorientada, todos
os meus sentidos embotados. O que aquela mulher fez comigo?
Tentei pular a cerca para o nosso quintal, mas prendi minhas patas
traseiras em uma ripa e caí com um baque pesado. Eu olhei para cima
para ver uma figura sombria se aproximando de mim.
Corri para a porta dos fundos e arranhei impotente, minhas patas
incapazes de trabalhar a maçaneta, sem tempo de voltar à forma
humana.
Eu estava encurralada, sem ter para onde correr. Eu queria uivar,
agarrar, lutar, mas estava paralisada de medo.
Capítulo 12
A CONVERSA
Sienna

Eu me senti como uma cadela covarde, mas minha mente estava


queimando na floresta. Eu sentia como se tivesse sido drogada e o que
quer que meu agressor estivesse prestes a fazer, eu não tinha forças para
impedi-lo.
A sombra se abaixou e começou a me envolver, mas parei de lutar ao
sentir um abraço familiar.
— Sienna, — a voz do meu pai sussurrou suavemente. — Acalme-se,
querida. Aqui, eu trouxe um manto para você. Vamos entrar.
Seus dedos correram pelo meu pelo e tudo começou a parecer normal
novamente. Ele colocou o manto sobre a minha forma de lobo trêmula, e
eu me mexi, desabando em seus braços.
— O que aconteceu? Você foi atacada? — ele perguntou, preocupado.
Tinha sido? Eu honestamente não tinha certeza, mas parecia que
minha mente tinha acabado de travar algum tipo de guerra.
Eu me perguntei se isso tinha algo a ver com Aiden fugindo com sua
matilha. Eles devem estar conectados. Eu não conseguia pensar muito
sobre isso agora, ou provavelmente desmaiaria.
— Estou bem, pai. Eu só preciso descansar. Foi uma noite longa e
estranha, — respondi.
Aiden

Meu escritório estava começando a parecer uma cela de prisão. Estava


mais inquieto do que nunca, mas não conseguia sair correndo sem que
alguém percebesse.
Josh e eu tínhamos estado no local onde a patrulha havia perdido o
cheiro do errante, mas não consegui descobrir nenhuma pista de para
onde ele tinha ido.
Admito que não parecia bom para mim vir de mãos vazias, mas a
única alternativa era mentir para Josh e os quatro soldados, e eu já estava
fazendo mais do que gostaria.
Não era anormal ter um estranho cruzando o território da Matilha,
mas o cheiro inexplicável e o desaparecimento subsequente deixaram
todos que sabiam a respeito agitados.
Até agora éramos apenas eu, Josh, Jocelyn, Nelson, Rhys e os quatro
soldados.
Fiz o último grupo jurar silêncio até que pudéssemos descobrir quem
era esse intruso e para onde estava indo. Para ser cauteloso, despachei
pequenos detalhes de guardas para qualquer lugar ou pessoa que eu
achasse importante.
Fosse o que fosse, estaríamos prontos quando surgisse e, com sorte,
seríamos poderosos o suficiente para enfrentá-lo.
Quando ficamos sozinhos. Josh cruzou os braços indignado. — E aí?
— ele perguntou. — Vamos apenas sentar aqui na Casa da Matilha e
esperar?
— O que mais você sugere? Não posso mandar todo mundo vasculhar
a floresta se não souberem o que procuram. Nós nem sabemos o que
estamos procurando.
— Bem, de quem é a culpa? — Murmurou Josh enquanto começava a
andar em seu caminho usual no meu escritório.
— Sua, tecnicamente, — eu respondi, secamente. — Cabe ao Beta
manter nossas fronteiras seguras.
— Você não precisa me lembrar qual é o meu trabalho. Eu fiz
exatamente o que deveria. Quando ficou claro que estávamos lidando
com algo novo, fui procurar você. Você é quem está se esquecendo de
seus deveres.
— Pare de rodear o assunto e diga o que está pensando, — eu disse,
ficando impaciente.
— Você está comprometido, Aiden. Um alfa com força total teria sido
capaz de rastrear o errante. — Outra vez a ladainha. Sua persistência
estava começando a me desgastar.
— Você mesmo disse que não sabemos com o que estamos lidando, —
respondi. — Se for poderoso o suficiente para mascarar seu cheiro, é
claro que faz meus poderes parecerem diminuídos em comparação. Ou
ainda é sobre Sienna?
— Me diga você.
— Eu perdi o controle da minha Bruma. Foi temporário.
— Meu ponto, exatamente. Você perdeu o controle. Isso nunca
aconteceu com você antes. Se o que você nos contou é verdade, por que
não é honesto com ela? Você está perdendo o tempo dela e o seu. Se você
deixar as coisas continuarem assim, um de vocês vai se machucar. Você
precisa estar mais forte agora do que nunca. Não estou dizendo isso
apenas pelo bem da Matilha, Aiden. Estou falando como seu amigo.
— Aprecio sua preocupação, mas vou fazer do meu jeito.
Josh soltou um grunhido e bateu com o punho contra a minha mesa.
— Droga, Aiden, podemos estar sob ataque agora, e você só se
preocupa com uma garota. Uma garota que está rejeitando seus avanços
até agora.
— Cuidado, Josh.
— A questão é, Aiden, — Josh fumegou, — estávamos tão perto de
descobrir algo novo. Eu sei que você farejou o que eu farejei. Não é
humano. E não lobisomem. Então, se é algo novo, quais são seus pontos
fortes? Quais são seus pontos fracos? Ele ainda tem pontos fracos? Eu
sinto que você não está levando essa ameaça a sério o suficiente.
Eu estava tão preocupado quanto Josh, mas não podia demonstrar.
Ainda havia um abismo de poder entre nós.
Por um momento, pensei no que meu irmão Aaron teria feito. Se ele
estivesse aqui. Uma pontada de dor passou por mim e eu empurrei essa
memória de lado.
Não havia tempo para pensar no passado quando o presente era tão
perigoso.
— A ideia do errante ser algo novo passou pela minha cabeça, mas
não há nada a fazer a não ser esperar. Seja o que for, a última coisa que
quero é fazer com que pareça ameaçado. Se for pacífico, quero que
continue assim. Como você disse, não temos ideia de quais poderiam ser
os poderes deste errante.
— E se não veio aqui a negócios pacíficos?
— Ele já teria nos atacado se não fosse o caso. Provavelmente
mascarou seu cheiro para evitar o confronto.
— Ou está se preparando para um ataque surpresa.
— Já chega de teorias. Josh. Vá verificar as patrulhas e me avise se
ouvir alguma informação nova.
— Como desejar, meu Alfa. Lembre-se, você tem um trabalho, além
de fazer essa garota dormir com você.
Não respondi, dispensando Josh com um simples aceno de cabeça. Ele
estava certo em estar preocupado, no entanto. Desde que marquei
Sienna, minha cabeça estava nublada de desejo. Eu nunca reprimi minha
Bruma por tanto tempo, nem ela nunca foi tão forte quanto era quando
eu estava perto dela.
Talvez com uma distração, eu pudesse me reequilibrar. Este forasteiro
era uma distração bem-vinda.
Sienna

Eu estava sentada sozinha no escuro quando ouvi uma batida na minha


porta. Sentei-me e tirei os fones de ouvido. — Entre, — eu disse.
— Ótimo, achei que você já tivesse adormecido, — disse meu pai,
fechando suavemente a porta atrás de si. — Você se importa se eu sentar?
— ele perguntou, apontando para a minha cama.
— Claro que não, — respondi.
Ele costumava ser bem esbelto quando meus pais se conheceram —
minha mãe me mostrou fotos — mas envelhecer, casamento e duas filhas
adicionaram alguns quilos ao seu corpo.
Quando ele se sentou ao meu lado, meu colchão arquejou sob a nova
carga.
— Eu queria falar sobre mais cedo esta noite, — ele começou,
mudando seu olhar entre o chão e meu rosto.
— Eu sei que sua mãe está animada por você ter feito uma parceria
com o Alfa para a temporada.
— Esse é o eufemismo do século. — Suspirei.
— Sim, — disse ele rindo, — ela não é muito discreta, é? — Houve um
breve silêncio antes de ele continuar. — Sua mãe me contou sobre como
você saiu correndo de casa hoje cedo e... bem, achei que você poderia
precisar de alguém para conversar sobre tudo o que está acontecendo.
— Pai...
— Agora, eu sei que não sou um lobisomem e não consigo entender
exatamente o que você está passando, mas estou por aí há tempo
suficiente para saber que aparecer na casa em forma de lobo não é
normal. Você quer falar sobre o que aconteceu esta noite?
De todas as pessoas na minha vida, a última em quem eu esperava
abrir meu coração era meu pai, mas ele estava certo. Minha cabeça estava
uma bagunça e eu precisava deixar um pouco sair.
Peguei meu edredom, sem saber como começar.
— Algo aconteceu no jantar esta noite que, bem... parece que agora
que fui marcada pelo alfa, todos têm essas expectativas. Quer seja
mamãe, ou meus amigos ou membros da Matilha, que eu nem conheço,
todos eles querem algo, e ninguém se importou em me perguntar o que
eu quero.
Minha voz começou a tremer e eu podia sentir as lágrimas crescendo
em meus olhos. — Sinto que estou perdendo o controle e não gosto
disso.
Finalmente, dizer em voz alta veio como uma liberação, como se um
peso de mil quilos tivesse sido tirado do meu peito.
As lágrimas brotaram dos meus olhos e escorreram pelo meu rosto.
Meu pai me puxou para perto e deixou meu rosto pingar em seu ombro.
— Está tudo bem, — disse ele, esfregando minhas costas. — É
perfeitamente normal sentir o que você sente.
— Não, não é, — eu engasguei. — Eu sou uma dominante.
Dominantes não permitem que coisas estúpidas como essa os afetem.
Eu geralmente não me chamo assim.
Eu sabia, no fundo, que era verdade, que eu tinha uma tendência
dominante que não podia ser domada. Era a razão de eu ter tido tanto
sucesso em resistir aos avanços do Alfa até agora. Mas dizer isso em voz
alta quase o tornava menos real. Como se tivesse desvalorizado a
verdade.
Talvez eu estivesse apenas me enganando e minha natureza fosse ser
mais uma loba submissa que fazia o que ele mandava.
Mas então meu pai colocou a mão sob meu queixo e forçou meus
olhos a encontrar os dele.
— Eu não acho que o que você está sentindo é estúpido, Sienna, —
disse ele. — E dominante ou não, todo mundo tem um coração.
A parte boa de ter um pai humano era que ele era muito mais
sentimental do que mamãe e Selene, ou qualquer lobisomem.
Normalmente, nós lobos olharíamos para isso como um sinal de
fraqueza, mas no momento, eu estava feliz por tê-lo lá.
— Sabe, quando trouxemos você para casa, eu logo soube que você
era especial. Você tinha essa confiança em tudo que fazia, mesmo quando
era bebê. Assistindo você crescer, eu vi essa confiança se manifestar em
tudo, desde como você se comporta até a sua arte. Chorar não tira isso de
você, Sienna. Você ainda é a loba mais forte que conheço.
— Você não pensaria isso se visse o que aconteceu esta noite.
— Você quer me contar?
— Tudo o que importa é que eu fiz papel de boba. Eu nunca mais
quero vê-lo novamente. Eu gostaria que ele nunca tivesse me marcado,
pai. Eu gostaria que ele apenas tivesse me deixado em paz.
Uma nova rodada de lágrimas derramou dos meus olhos.
— Você já pensou que talvez ele não possa te deixar em paz? Que
talvez ele tenha visto a mesma mulher bonita e poderosa que eu vi e foi
tão dominado pela emoção que não teve escolha a não ser marcar você?
— É sua obrigação falar essas coisas. Você é meu pai.
— Estou falando sério, Sienna. Você não é covarde, então não deixe
que ele a transforme em uma. Como sua mãe diz, ele poderia ter
qualquer mulher na Matilha, mas ele escolheu você. Lembre-se disso.
Você não precisa dele. Ele precisa de você.
O flash dos faróis inundou minhas janelas quando um carro parou na
garagem. Meu pai e eu olhamos para fora para ver Selene saindo de seu
carro.
Nós não estávamos esperando por ela, e ela raramente aparecia sem
avisar assim. Nós dois descemos para cumprimentá-la.
Meu pai abriu a porta antes que ela tivesse a chance de bater e a
envolveu em um grande abraço que só os pais sabem dar.
— A que devemos este prazer? — perguntou papai, abrindo mais a
porta da frente. — Está tudo bem?
Selene estava de pijama e trazia uma mochila nas costas. Era evidente
que ela deixou sua casa com pressa.
— Jeremy recebeu um telefonema da Casa da Matilha e teve que
trabalhar. É algo grande. Ele não me deu detalhes, a não ser que envolvia
uma brecha na fronteira. A última vez que isso aconteceu, a Matilha foi
confinada. Desculpe por aparecer sem avisar assim, mas eu sabia que me
sentiria mais segura aqui do que sozinha no apartamento.
Violação na fronteira? Confinamento? Tudo isso soava bem sério.
O Alfa só prendeu a Matilha quando houve uma ameaça séria e ele
teve que impor estado de sítio. E por que eu estava ouvindo sobre isso de
Selene?
Aiden não se importava com minha segurança?
Acho que não deveria ter ficado surpresa por ser apenas um pedaço
de carne para ele, e um pedaço descartável, aparentemente. Idiota.
A misteriosa mulher da clareira ainda nadava em volta da minha
cabeça. Será que ela tinha algo a ver com isso?
Por um momento pensei que deveria contar a Aiden o que tinha visto,
mas se ele não achasse necessário me manter informada, eu também ia
tratá-lo com silêncio. Além disso, a perspectiva de vê-lo, especialmente
depois do que aconteceu esta noite, me abalou.
Eu não ia tomar a iniciativa. Se ele queria conversar, ele teria que vir
me encontrar.
Capítulo 13
AS CORES
Sienna
Michelle: e aiiiii sienna, o que você fez ontem à noite?

Mia: Sim, alguma coisa animada????

Erica: Prometemos não contar

Michelle: SIENNNAAAA

Michelle: 😢 (emoji de carinha chorando)

Erica: Se você não falar nada, vamos praí

Erica: Pegando minhas chaves...

Mia: Vou trazer a bebida!


Michelle: chegando em 5!

Sienna: OK! O que você quer saber?

Michelle: MUITA COISA!

Sienna: Ele me buscou e comprou um


vestido

Sienna: Fomos jantar no centro

Sienna: Depois fui para casa

Mia: 🙄 (emoji com cara entediada)

Erica: Entrando no carro...

Sienna: Já dei o que vocês queriam


Mia: Nah, você está escondendo coisas

Mia: Algo sobre vocês se atracarem em um almoxarifado???

Erica: Eu não tinha ouvido essa parte!

Sienna: Olha, a gente deu uns amassos

Sienna: mas não foi nada de especial

Michelle: pode ir dando detalhes

Michelle: ele é tão gostoso quanto parece?

Mia: 👅 🐺(emoji de língua e emoji de lobo)

Sienna: Eca. PARE

Erica: É grande?
Sienna: Estou falando sério. Parem com isso

Erica: Lobinha sem parceiro aqui o🐺!!!

Erica: Eu ficaria feliz em tomar conta dele por vc

Michelle: garota, o que há de errado?

Sienna: Nada, só não gosto de você


transformar minha vida em uma novela

Michelle: desculpe, pensamos que você ficaria mais animada

Mia: O que você está fazendo agora?

Sienna: Estou pintando em casa

Mia: Venha nos encontrar no Winston's, vadia!

Sienna: Não estou com vontade


Mia: Vamos, Si, estamos planejando 👰(emoji de noiva)

Mia: Eu preciso do seu olho de artista

Erica: 🦄 (emoji de unicórnio)

Mia: EXATAMENTE!

Sienna: Tudo bem, mas, por favor, sem mais


perguntas

Mia: Prometo!

Erica: Prometo!

Michelle:... prometo 😉 ;)

O Winston’s estava lotado como de costume. Mesmo que ninguém


piscasse quando eu entrei, ainda sentia que todos estavam me
observando. No início, fiquei confusa sobre como as meninas sabiam
sobre o meu encontro, mas é claro que elas sabiam.
Não se vai ao centro da cidade com o Alfa sem ninguém perceber. Eu
estava tão envergonhada, repassando os eventos da noite passada na
minha cabeça.
Definitivamente havia alguns membros da equipe que o viram
deslizar meu dedo em sua boca, e eu sabia que não fomos discretos em
nossa fuga para a sala dos fundos.
Estremeci ao pensar no que minha mãe tinha ouvido. Felizmente, ela
ainda estava no trabalho e não voltaria, até mais tarde esta noite.
As meninas estavam amontoadas em torno de nossa mesa de costume
com pilhas de revistas de noivas e o laptop de Mia. Cerimônias de
acasalamento eram como casamentos humanos, mas ainda mais
importantes porque os lobos acasalavam para o resto da vida.
A família de Mia era enorme, então ela teve bastante exposição às
cerimônias de acasalamento, o que achei que tornaria o planejamento
dela um caso fácil.
Pela aparência das coisas, no entanto, ela estava perdida no abismo do
planejamento.
Manchas de ketchup e mostarda pontilhavam as revistas, e algumas
páginas estavam rasgadas e espalhadas como amostras de tinta.
Mia e Erica estavam em seus telefones procurando arranjos e talheres,
mostrando seus achados para Mia, que apenas olhou para seus telefones
e assentiu.
Seu cabelo caramelo não tinha condicionamento e estava preso em
um rabo de cavalo preguiçoso.
Mia sempre cuidou muito bem de seu cabelo, então seu estado
desgrenhado era um claro indicador de como ela estava estressada.
— Aí está a nossa megera tímida, — gritou Michelle com um sorriso
malicioso. — Erica, chega pra lá.
— Estou tão feliz que você chegou, — disse Mia, agarrando sua
cabeça. — Estou totalmente sobrecarregada. Precisamos de alguém que
saiba o que está fazendo.
Os gostos de Mia eram, como posso dizer isso bem, um pouco
espalhafatosos.
Eu olhei para os esquemas de cores que ela havia puxado em seu
computador e fiz o meu melhor para apontar a direção certa.
Ela estava originalmente procurando cores quentes, que eu pensei
que seriam inadequadas para uma cerimônia de acasalamento de
inverno, então, depois de muito discutir, eu fiz com que ela decidisse por
lilás, violeta e azul-petróleo.
Michelle protestou porque não achava que ela ficava bem com
aquelas cores, mas eu a lembrei que não era sua decisão e que ela ficava
bem em qualquer cor que usasse, o que Erica e Mia apoiaram, então
todos saíram felizes.
Ajudar Mia me fez pensar sobre minha própria cerimônia e quanto
tempo levaria até que eu encontrasse meu par. Nem todo mundo teve
tanta sorte quanto Mia e Harry.
Eu fantasiei que iria encontrar meu companheiro enquanto passeava
por algum museu ou em algum lugar em um parque. Suponho que foi
onde conheci Aiden, mas depois de seu comportamento na noite
passada, prefiro simplesmente esquecê-lo. Pensar nele agora me deu
vontade de vomitar.
— Honestamente, Si, não acho que teríamos avançado nada se você
não tivesse aparecido, — disse Mia, mentalmente exausta e estressada
comendo batatas fritas.
— Quem diria que as cerimônias de acasalamento davam tanto
trabalho?
— Pelo menos você tem uma para planejar, — lamentou Erica. — Por
que um dos meus amigos não consegue se apaixonar por mim de
repente?
— Eu nunca tive amigos homens de verdade. Eu me pergunto por
que... — Mia pensou em voz alta.
— Porque você transou com todos os seus amigos homens. —
respondeu Erica.
— Não foi, — Mia protestou.
— Foi sim, — todos nós respondemos em uníssono.
— A vida de solteira ficou pra trás, — disse Mia, torcendo o nariz para
fingir refinamento. — Eu sou uma mulher acasalada agora.
Todos nós rimos porque, mesmo antes de começarmos a ter nossa
Bruma, Mia ia a festas com caras mais velhos, procurando homens com
quem ela pudesse fazer muitos — bebês fofos.
— Si, venha conosco esta noite, — implorou Michelle. — Estamos
celebrando o acasalamento iminente de Mia. O irmão de Erica disse que
pode nos levar a esta boate badalada. Se chama Lupin. Vai ser noite das
garotas.
O confinamento devia ter sido cancelado, com certeza. Mas eu ainda
estava exausta do dia anterior e não tinha vontade de estar perto de
pessoas ou enfiada em uma sala escura e cheia de vapor com música tão
alta que eu não conseguia me ouvir pensar.
Eu precisava ficar sozinha e pintar. Apreciei o gesto e sabia que
Michelle tinha boas intenções, mas não estava com vontade.
— Talvez outra noite, — eu disse.
— Por que você não quer vir? Você tem outro encontro com o Sr.
Alfa?
— Não, só estou cansada.
— Cansada de uma longa noite de bate-papo no fundo dos
restaurantes? — Michelle cortou de volta.
Eu poderia dizer pelo olhar que ela me deu que ela não estava mais
brincando e estava realmente começando a ficar chateada.
— Michelle, nós não fizemos sexo. Quantas vezes eu tenho que te
dizer isso?
— Então qual é o seu problema, Sienna? Por que você não quer vir?
— Não dá pra deixar pra lá?
— Somos suas amigas e quase não nos vemos. Você está saindo com o
lobo mais foda de todos e não nos conta nada. Você está envergonhada
por nós porque não somos tão legais quanto todos os amigos de Aiden da
Casa da Matilha?
— Não é nada disso, Michelle, — respondi, tentando impedi-la de
fazer uma cena, que ela sabia que eu odiava. — Só não estou com
disposição para sair.
As palavras mal tinham saído dos meus lábios quando meu telefone
tocou na mesa.
Eu o peguei e me encolhi. Eu não queria provar que Michelle estava
certa, mas, ao mesmo tempo, queria saber o que diabos estava
acontecendo.
É
— É ele? — perguntou Michelle.
— Sim, você se importa se eu...
— Vá em frente, — disse ela, misturando friamente o milk-shake com
uma colher.
Levantei-me e fui até o balcão, onde havia um banquinho vazio, então
abri meu telefone.

Aiden: Ei, sobre a noite passada. Sinto muito, Josh interrompeu.

Aiden: Você chegou em casa bem? Você fugiu rápido...

Sienna: Ah, olha só quem se importa agora

Aiden: Você acha que não?

Sienna: Eu acho que você está apenas


tentando me comer.

Aiden: Posso ter deixado minha bruma sair do controle.

Aiden: Não vai acontecer de novo.


Sienna: Você está certo. Não vai

Aiden: Sienna, me desculpe.

Aiden: Em minha defesa você também estava interessada.

Sienna: Estava fora do meu controle

Sienna: Você não era o único com


problemas de Bruma

Aiden: Acho que você sabia o que estava fazendo.

Sienna: E eu pensei que você fosse um


cavalheiro, não um filho da puta.

Aiden: Como posso compensar você?

Sienna: Mostre-me que sou mais do que


apenas um troféu
Aiden: O que você quiser.

Aiden: é só falar.

Sienna: Diga-me o que está acontecendo


com a violação da fronteira

Sienna: Por que você de repente chamou


todo mundo para a Casa da Matilha?

Aiden: Como você ficou sabendo disso?

Sienna: Não importa. Se eu for mais que


qualquer uma, você vai me dizer

Aiden: É complicado.

Aiden: Eu quero te contar mais, sério.

Sienna: Então, pelo menos me diga uma


coisa
Sienna: Eu estava em perigo na noite
passada?

Aiden: Eu nunca deixaria nada te machucar.

Sienna: Não foi isso que perguntei

Sienna: Eu estava em perigo?

Aiden: Não sei.

Aiden: Estou sendo honesto

Sienna: Tchau, Aiden

Eu não podia acreditar que já tinha o considerado atraente. Quero


dizer, claro, ele tinha o corpo mais delicioso que eu já coloquei os olhos,
mas se não fosse por essa Bruma irritante, eu ficaria muito enojada com
seu comportamento para o querer perto de mim novamente.
Eu ainda estremeci ao pensar o que teria acontecido se Josh não
tivesse aparecido. Eu provavelmente corria mais perigo com Aiden lá,
depois que ele saiu.
Eu definitivamente não contaria a ele nada sobre o desaparecimento
da mulher agora também. Ele era um idiota e eu precisava desabafar.
Capítulo 14
O CLUBE
Sienna

Usei minha minissaia xadrez vermelha e preta nova em folha, com botas
de couro preto de salto alto, meia-calça preta e um top curto com uma
jaqueta de couro preta por cima.
Pintei minhas unhas para combinar com o vermelho da minha saia e
separei meu cabelo em camadas bagunçadas que caíram pelas minhas
costas e ombros como uma cachoeira de cobre.
Eu apliquei meu delineador, rímel e batom cor de vinho. Para
terminar, coloquei meus brincos de prata preferidos, junto com anéis
combinando. Meu look era de pirigótica e eu estava amando.
Quando as garotas me viram, elas me encheram de elogios.
Michelle até disse que eu era sexy o suficiente para morder, o que
para os lobisomens era o melhor elogio que você poderia receber.
Como Michelle disse no Winston's, Lupin só estava aberto há
algumas semanas, mas todo o hype em torno dele significava que todas as
noites da semana havia longas filas de pessoas esperando para entrar.
Erica, no entanto, tinha conseguido passes VIP — um de seus irmãos
tinha conexões com todos os seguranças do centro, incluindo o do Lupin
— e nós entramos sem ter que esperar.
Sempre me senti um pouco culpada por pular a fila daquele jeito,
especialmente quando as pessoas que estavam esperando faziam cara feia
para você com inveja, mas esta noite eu não me importei.
Eu estava lá para me soltar e esquecer o lobisomem estúpido que
colocou essa marca no meu pescoço.
A entrada do clube tinha um teto baixo que dava a sensação de estar
entrando em uma caverna. A esquerda estava o bar, iluminado por LEDs
que piscavam com a música em padrões suaves.
À
À direita ficava o guarda-volumes, onde deixamos nossos casacos, e
uma escada que levava ao mezanino que dava para a pista de dança.
Era de forma circular e se abria para um átrio, onde grandes gaiolas
pendiam das vigas, abrigando belas dançarinas que se contorciam
sensualmente ao som da música.
Humanos e lobisomens se misturavam no enorme bar enquanto
todos se acotovelavam para pedir suas bebidas. Eu olhei para a pista de
dança, que estava cheia de corpos se esfregando.
O DJ mixava faixas de house de seu palco com vista para a multidão,
ocasionalmente incitando os clientes a fazerem mais barulho.
Michelle abriu caminho até o bar e pediu uma rodada de doses de
vodca.
— Você acha que deveríamos conseguir mais já que estamos aqui? —
ela gritou por cima da música. Já tínhamos começado a beber no táxi,
mas Michelle nunca foi de ir devagar.
— Duas rodadas, pelo menos, — respondeu Mia. — Estou fora do
mercado agora! Vocês ouviram isso, meninos? Você não tem chance com
essa gostosura, — disse ela, sacudindo os quadris.
Bebemos shots no bar antes de encontrar uma mesa de pé para nos
amontoarmos com nosso balde de gelo cheio de licor, gim, tequila, rum e
vodca.
Fazendo a contagem regressiva juntas, cada um de nós pegou um
canudo e chupou o máximo que possível.
Michelle e eu duramos mais, mas eu venci. Ela se considerava a garota
festeira do nosso grupo, então foi um golpe para seu ego.
— Amanhã vai ser uma merda. — Erica deu uma risadinha. — Eu sou
fraca com bebida.
— Então vamos para a pista de dança enquanto você ainda pode ficar
de pé, — gritei, o que não era típico de mim porque eu não era, de forma
alguma, uma boa dançarina.
A única coisa em que eu era boa na vida era pintar, mas tinha ritmo
suficiente para mover meus pés e quadris com a batida.
Abrimos caminho até o meio da sala e começamos a nos exibir.
Os homens começaram a se aproximar de nós e a flertar com Erica, o
que não era problema, já que ela não estava marcada ou acasalada, mas
para minha surpresa, os homens estavam me atacando também.
Eles não me reconheceram ou não se importaram que eu tivesse a
marca do Alfa na base do meu pescoço.
Considerando os eventos recentes com Aiden, concluí, sem sombra
de dúvida, que os homens são porcos e estão dispostos a arriscar
qualquer coisa, incluindo suas vidas, se isso significar transar.
— Não entendo, — gritei por cima da música para Mia depois de
enxotar outro homem. — Estou marcada como você, então por que os
caras ainda estão vindo em cima?
Mia gritou de volta: — Porque minha marca é uma marca de
acasalamento e a sua não.
Novamente, minha inexperiência em ter um amante durante a
temporada significava que eu perdi algum conhecimento comum.
— A marca de acasalamento é um vermelho suave em torno das
bordas, enquanto a sua está mais machucada e roxa. Lobisomens machos
também podem sentir qual é qual, para evitar problemas sérios, — ela
explicou.
Quer eu tivesse uma marca de acasalamento ou não, qualquer um
desses caras teria sérios problemas se Aiden descobrisse que eles estavam
tentando me levar para casa. E eu adorei.
Depois de uma hora, Michelle levou Erica ao banheiro porque ela se
sentiu mal.
Eu fiquei na pista de dança com Mia, jogando meu corpo como se
estivesse em casa no meu quarto sem ninguém olhando.
As bebidas tinham nos atingido fortemente agora.
Mia e eu estávamos constantemente nos agarrando uma à outra para
manter o equilíbrio, e eu estava feliz por ter decidido não usar salto. Do
contrário, certamente teria torcido o tornozelo.
O DJ colocou um reggaeton sensual que fez todos formarem pares.
Um cara veio até mim com um sorriso sugestivo e estendeu a mão.
Ele era um lobisomem sem parceira, que era claramente dominante,
enquanto segurava meu olhar sem problemas.
Ele também era muito gato, com cabelos dourados, olhos escuros
sexy e um físico esguio e talhado.
— Oi, mocinha sexy, — disse ele, pegando minha mão e pressionando
seus lábios perto da minha orelha.
— Oi, — respondi, olhando para Mia com o canto do olho.
Ela me deu uma piscadela e fugiu em direção ao bar, me deixando
sozinha com este lobisomem fofo. Eu não estava querendo muita
privacidade.
Além disso, se ele tentasse qualquer coisa, eu poderia chutar sua
bunda. Eu lutei contra cinco homens sozinha na floresta. O que era um
em um clube cheio de pessoas?
— Qual o seu nome? — ele perguntou, erguendo as sobrancelhas para
mim em um convite aberto.
— Sem nomes, — eu disse. Ele era simplesmente um rosto bonito de
se olhar e um corpo bonito para dançar. Eu queria manter assim.
Eu sei que provavelmente deveria ter recusado. Aiden só precisava dar
uma cheirada na minha pele para saber que outro homem tinha me
tocado. O imbecil. Ele claramente queria muito comer, mas não ia rolar.
Ele me girou e colocou as mãos nos meus quadris, puxando minha
cintura contra sua virilha.
No começo foi divertido ter as mãos de outro homem em mim, mas
quanto mais a música tocava, mais insistente ele se tornava.
Não era como o toque de Aiden, que deixou minha pele em chamas e
me fez querer. Eu não disse nada, mas continuei dançando. Afinal, eu
estava lá para me divertir, não para pegar ninguém.
Senti seu aperto se intensificar quando ele se pressionou contra mim
com mais força, balançando a parte inferior de seu corpo com o meu.
Quando sua ereção por debaixo do jeans cutucou em mim, eu sabia
que era hora de parar.
Tentei me desvencilhar de seu aperto, mas ele não me soltou. Ele
apenas pressionou mais forte e começou a puxar minha saia.
— Solte! — Eu gritei, meu grito abafado pelo baixo.
— Qual é o problema, gatinha? — ele perguntou, tentando continuar
o jogo.
— Vai se foder, cretino! — Eu gritei.
— Por quê? — Sua voz estava sombria de luxúria.
— Estamos nos divertindo.
— Não estou me divertindo com você, — rebati, o coração
martelando no peito. — Então me solta, porra!
De repente, percebi que, enquanto estávamos dançando, ele nos
arrastou em direção à borda da pista de dança e agora me puxou para um
canto escuro na saída dos fundos.
O sangue correu do meu rosto.
— Você devia ter pensado antes de provocar um homem na Bruma,
gata, — ele rosnou, e de repente eu estava do lado de fora no ar frio de
novembro, minha transpiração congelando, o que, junto com a
adrenalina bombeando por mim, fez meu corpo tremer
incontrolavelmente.
Ele me pressionou contra a parede de tijolos do beco vazio, seus olhos
luminosos e cheios de luxúria.
Agora eu não conseguia mais esconder meu pânico. — O que você
pensa que está fazendo?! — Eu gritei.
— Qual é, relaxa, — ele disse, suas mãos me segurando, cavando em
meus lados.
— Eu quero voltar para dentro, — eu atirei de volta.
— Não se preocupe, já voltamos. Vamos apenas ficar aqui um pouco,
aproveitar o ar fresco... nos conhecer.
Ele olhou para mim com uma intenção maliciosa. Eu sabia o que ele
procurava e precisava me afastar dele como pudesse.
— Estou com frio. Eu preciso voltar para as minhas amigas, — eu
respondi, tentando empurrá-lo. Ele se inclinou, tentando me beijar. —
Não!
Ele enfiou a mão no meu seio e o apalpou violentamente.
— Relaxe, querida, eu não vou te machucar.
— Não! — Eu gritei, lutando contra seu aperto.
Tentei dar socos, cotovelos e joelhadas, mas ele era mais forte do que
eu pensava, e os efeitos do álcool me deixaram fraca e descoordenada.
Eu me senti impotente enquanto sua boca e mãos me violavam.
Ele apertou meu peito novamente e eu gritei.
— Pare!
Mas ele não estava parando agora e não estava falando. Ele só tinha
uma coisa em mente.
Ele me ergueu contra a parede e rasgou minha meia-calça, sufocando
minha boca com a mão.
As lágrimas queimaram meus olhos enquanto ele se atrapalhava com
sua braguilha.
Ninguém vai vir me salvar, pensei. As palavras me cortaram como o
vento frio que soprava pelo beco vazio.
Isso foi exatamente o que ela deve ter pensado.
Ninguém vem te salvar
E por um segundo, eu pude vê-la. Emily. Lutando, gritando,
implorando por ajuda.
Fechei os olhos e tentei afastar a imagem, ignorar seus dedos gelados
puxando minha pele, queimando-me com pontadas viscerais de raiva,
arrependimento e impotência.
Eu me senti deixar meu corpo, e quando olhei para baixo, era a forma
de Emily ao invés da minha.
Tentei gritar para o bastardo sair de cima dela, mas nenhum som saiu.
Tentei acertá-lo, mas minhas mãos passaram por seu corpo.
Emily. Não. De novo não. Estou aqui desta vez.
Eu voltei para o meu corpo. Alguém, qualquer um, me ajude!
Lutei para manter minhas pernas fechadas e enfiar minhas mãos
sobre minhas partes íntimas, mas ele usou sua coxa para separar a minha
e puxou minha mão com facilidade.
De repente, um rosnado profundo e horrível encheu o ar, e eu senti o
peso do corpo do meu atacante desaparecer com um grito angustiante.
Eu abri meus olhos e engasguei em choque. Era ele, de verdade?
Capítulo 15
O CONTO DE FADAS
Sienna

Eu nunca tinha visto Aiden parecer tão assustador - cabelo arrepiado na


nuca, caninos saindo de sua boca rosnando, curvado sobre meu atacante
com sede de sangue em seus olhos.
O homem lutou de volta, mas Aiden facilmente o dominou, jogando-
o contra a parede.
Ele socou as costelas daquele bastardo uma e outra vez em uma raiva
animalesca até — BAM.
Eu engasguei em choque quando ouvi suas costelas quebrarem. Eu o
observei cair no chão, apenas um homem amassado e bagunçado e
patético agora.
Lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto.
Emily. Oh meu Deus. Isso foi o que ela passou quatro anos atrás.
Completamente desamparada e com medo, paralisada e incapaz de
pedir ajuda. Uma sensação de escuridão total. Ninguém estava lá para
ela. Eu não estava lá.
Enquanto eu observava Aiden arrastar o corpo inerte do homem pelo
beco, quase me senti culpada, culpada por ter sobrevivido e ela não.
Eu queria me levantar e sair correndo, mas duvidava que pudesse
rastejar agora.
Emily, seu estuprador, meu agressor, todos eles continuavam
piscando diante dos meus olhos. Eu queria vomitar os sentimentos
distorcidos dentro de mim.
Eu vacilei quando Aiden se ajoelhou e passou os braços em volta de
mim.
— Eu não vou te machucar, — ele disse suavemente.
Foi contra cada fibra do meu ser, mas eu o deixei me pegar e me levar
para seu carro.
Eu nunca me senti mais vulnerável com ele, mas algo sobre o calor de
seu peito e seu abraço apertado me fez sentir segura.
Minha Bruma não estava queimando. Esse sentimento era algo
diferente.
— Para onde você está me levando? — Eu perguntei, meu corpo ainda
tremendo.
— Minha casa, — ele respondeu calmamente. — Eu prometo que não
tenho intenção de tirar vantagem de você. Eu só quero te ajudar.
Minhas amigas ainda estavam no clube, sem noção dos horrores que
acabaram de acontecer do lado de fora, e eu preferia que continuasse
assim. Eu não queria enfrentá-las esta noite. Ir para casa também não era
uma opção. Meus pais olhariam para mim e saberiam que algo estava
errado. Eu não estava pronta para as perguntas, a pena ou o julgamento.
Ir com Aiden foi minha melhor opção. Eu ainda não confiava nele,
mas o que ele tinha feito por mim... Me deixou doente pensar o que teria
acontecido se ele não tivesse aparecido.
O comportamento de Aiden foi completamente mudado em relação
ao homem feroz que atacou meu atacante apenas alguns momentos
atrás. Foi atencioso e gentil.
Por mais que eu o desprezasse por me marcar e me forçar a assumir a
responsabilidade de ser sua companheira, eu não podia negar que queria
que ele estivesse lá para mim. Eu não sabia quanto tempo duraria, já que
essa coisa entre nós era imprevisível como o inferno, mas eu estava
disposta a lhe dar uma chance.
Ele disse que queria me ajudar? Tudo bem, eu o deixaria provar então.
Finalmente, cedi, deixando minha cabeça descansar em seu ombro.
Ele me colocou delicadamente no banco do passageiro e dirigimos em
silêncio. Enquanto eu observava os edifícios borrados e as árvores
desaparecerem pela janela, tentei fazer as memórias desta noite
desaparecerem também, mas isso parecia impossível.
Se eu me senti assustada com o que aconteceu, Emily deve ter ficado
absolutamente aterrorizada com o que ela passou.
Cravei minhas unhas nos assentos de couro caros de Aiden. Nunca
mais quis me sentir impotente dessa forma. Eu nunca deixaria um
homem me fazer sentir assim novamente.
Eu olhei de lado para Aiden e meu peito apertou. Eu não poderia mais
estar naquele carro. Eu precisava estar em outro lugar, em algum lugar
seguro.
Assim que comecei a entrar em pânico, Aiden parou em sua garagem
e parecia que tínhamos acabado de entrar em um sonho, como se eu
tivesse manifestado o espaço mais seguro e convidativo que se possa
imaginar.
Uma pequena ponte de paralelepípedos se estendia sobre um riacho,
levando a uma mansão modesta cercada por árvores frondosas e um
jardim de flores perfeitamente cuidado. Era um conto de fadas.
Talvez eu não soubesse tudo sobre Aiden, afinal? Ele deve ter
percebido minha surpresa, porque sorriu com minha expressão em
transe.
— Não é o que você esperava?
Eu não respondi, minha voz ainda estava presa na minha garganta.
Ele percebeu que eu não estava pronta para falar, então me ajudou a
sair do carro e colocou a mão nas minhas costas, gentilmente me
guiando pela porta. Eu não me importei.
Sua proximidade realmente me fez sentir segura, o que nunca foi um
sentimento que eu pensei que extrairia de Aiden. Isso não parecia como
se alguém estivesse tentando me controlar. Parecia que alguém estava
tentando me confortar.
O crepitar do café fervendo foi o único som que quebrou o silêncio
ensurdecedor entre nós enquanto nos sentávamos frente a frente sem
fazer contato visual.
Claro que nenhum de nós sabia o que dizer. O que devo dizer a um
homem que acabei de assistir quebrar outro homem ao meio? O que ele
diizer a uma mulher que quase foi estuprada? As palavras realmente
tornariam alguma coisa melhor? Não, mas pelo menos sua presença era
reconfortante.
Finalmente, Aiden quebrou o silêncio, mas seria melhor ter
continuado quieto.
— Por que você estava com aquele homem no clube?
— O que você está perguntando exatamente? — Senti meu rosto
esquentar.
— Você nunca deveria ter ficado sozinha com outro homem durante a
Bruma. E a porra da temporada. Por que você se colocaria nessa posição?
— ele respondeu.
Eu me levantei de repente.
— Você está falando sério? Você está insinuando que o que aconteceu
comigo foi minha culpa?
— Não rosne para mim. Eu não estava dizendo ISSO.
— Como você me encontrou? Você estava me seguindo?
— É minha função saber onde você está o tempo todo, Sienna. Como
uma mulher marcada, você não deveria ser...
— E de quem é a culpa? — Eu joguei de volta. — Foi você quem me
marcou! Contra minha vontade! Você me forçou a entrar na Bruma,
Aiden! Você pegou meu livre arbítrio e o torceu para atender às suas
próprias necessidades egoístas!
— Você não entende que, uma vez que a temporada chegue e você
seja marcada, a Bruma não irá embora a menos que você ceda e faça sexo
com aquele que a marcou?
— Eu sei! — Eu rebati, furiosa agora. — E por isso que eu nunca quis
ser marcada para começar!
— Você me queria na Casa da Matilha. Não negue isso, — ele rebateu.
Ele não estava vindo para cima de mim. Ele nunca ousaria depois do
que aconteceu no clube. Mas eu ainda estava me debatendo, incapaz de
manter o passado e o presente em ordem.
Ele se moveu em minha direção, não de uma maneira agressiva, mas
ainda parecia que eu estava ficando sem espaço para escapar, me
encontrando presa contra uma parede mais uma vez.
— Por favor, você está perto demais, você... — Eu chorei. A umidade
encheu meus olhos e eu desviei o olhar dele, com vergonha de mim
mesma por me sentir tão fraca.
Aiden parou em seu caminho, parecendo surpreso. Sua mão agarrou
meu queixo e o virou para encará-lo novamente. Ele não estava se
movendo em minha direção para me machucar ou me foder. Ele estava se
aproximando para me confortar.
— Sienna, — disse ele. — Eu não vou tirar vantagem de você. Nem
agora nem nunca. Tudo que eu quero é proteger você.
Ele me puxou para um abraço e eu me rendi ao gesto.
— Você não deveria ter me marcado, — eu disse, minha voz abafada
por seu peito.
Ele suspirou e de repente me puxou para baixo até que eu estava
sentada em seu colo e ele estava me segurando ainda mais perto.
— Há algo entre nós. Não podemos negar. Senti quando te marquei,
mas até senti na primeira vez que te vi, na margem do rio.
— Você lembra disso? — Eu perguntei, um pouco incrédula.
— Claro que sim, — disse ele calmamente, apertando seu aperto em
mim. — Eu senti seu poder desde então. Seu cheiro irradiava uma força e
sensualidade que eu não pude resistir.
Eu me retraí um pouco de seu aperto. — Eu não irradiei nenhuma
força esta noite. Eu estava fraca.
— Pare. O que eu disse um minuto atrás... eu estava errado. Deixe-me
te contar algo. Seu cheiro me atingiu no momento em que entrei naquele
jantar. Não é algo que acontece na forma humana, mas você me
desequilibrou.
— A Bruma me atingiu, e eu tive que seguir você, para descobrir mais
sobre você, para apenas estar na sua presença. Eu nunca fui tão
dominado por algo mais poderoso em minha vida. Essa é a sua força, o
tipo de poder que você tem sobre mim. É por isso que eu marquei você.
Levantei-me de seu colo e olhei para ele como se estivesse olhando
para um estranho.
O que diabos ele estava dizendo? Nenhum de nós estava na Bruma,
mas ele estava olhando para mim com desejo inconfundível em seus
olhos, apenas um tipo diferente de desejo, um desejo de estar perto de
mim.
— Por que de repente você está me contando tudo isso?
— Porque eu acho que você pode ser minha companheira.
Capítulo 16
O BEIJO
Sienna

O que Aiden disse não podia ser verdade, podia? O reconhecimento de


seu companheiro aconteceu no instante em que seu olhar se conectou
com o outro. Meu olhar tinha se conectado com o de Aiden dezenas de
vezes, mas geralmente os únicos sentimentos despertados dentro de mim
eram raiva e arrependimento.
— Você está mentindo, — eu soltei, minha garganta seca. — Eu sei
como funciona o processo de acasalamento, e se fôssemos companheiros,
já saberíamos!
— Eu sou o Alfa. As regras não se aplicam a mim. A única maneira de
saber se você é minha companheira é passar um tempo com você e ficar
mais perto de você.
— Chegar mais perto de mim? Claro, — respondi com ceticismo, —
Na cama, suponho?
— Quando um Alfa encontra sua companheira em potencial, suas
emoções ficam descontroladas. Ele tem que confiar em seus sentidos e
nada mais. Primeiro ele a marca, e então ele a deixa vir de boa vontade
para sua cama para sentir seu domínio e ver se ela é capaz de lidar com
ele.
Meu coração começou a bater no meu peito quando Aiden se
aproximou.
— Nós dois sabemos que você é mais do que forte o suficiente para
liderar um bando. Você é linda, dominante, e me faz dobrar como nunca
ninguém conseguiu. Ninguém me faz curvar assim, a não ser você.
Ele estava realmente sendo submisso a mim? Suas palavras estavam
me tocando de uma forma que me fez querer que ele me tocasse em todos
os lugares.
O que havia de errado comigo? A Bruma estava se tornando
insuportável.
Ele podia sentir minha necessidade física, mas ele também sabia o
que eu tinha passado esta noite. Ele gentilmente colocou os braços em
volta da minha cintura.
— Você quer mais? — ele perguntou.
Sim, eu queria mais, porra. Eu estava cansada de reprimir tudo, mas
esta era a Bruma, não eu. Havia uma chance de que ele fosse meu
companheiro, mas e se ele não fosse?
Quando comecei a me afastar, Aiden deve ter sentido minha
apreensão, porque ele aliviou e gentilmente me colocou na beira da
cama, descansando a mão no meu rosto.
Sem aviso, ele se inclinou e seus lábios encontraram os meus. Tudo
derreteu, e meu mundo se tornou uma explosão sensorial de
sentimentos enquanto cada um dos meus sentidos aguçados
enlouqueciam com o estímulo.
Foi tudo que eu esperava — meu primeiro beijo.
Fiquei emocionada, não só por causa do beijo, mas do clube, da
Bruma, de tudo. Quando eu desabei, Aiden me segurou.
Caímos de costas na cama e me aninhei em seu corpo até que as
lágrimas correram. Minha mente finalmente desligou, permitindo-me
adormecer em seus braços.
Eu mantive minha distância de Aiden por vários dias após o incidente
no clube. Eu precisava de espaço para processar o que quase aconteceu
comigo e, como a Bruma não se importava com o que era apropriado,
parecia a melhor decisão.
Mas depois daquele beijo, Aiden era tudo em que eu conseguia
pensar. Eu realmente não tive a chance de agradecê-lo depois que ele me
trouxe para casa naquela noite, então agora eu me encontrei na porta
dele mais uma vez.
Antes que eu pudesse bater, ele abriu a porta.
— Sienna. — Ele sorriu. — Eu pensei que tinha farejado!
— Eu... uh... eu só vim agradecê-lo pela outra noite, — gaguejei. —
Você realmente me deu suporte quando eu precisei de você.
Aiden me puxou pela porta e me pegou em seus braços. — Você não
tem que me agradecer. Eu nunca deixaria ninguém te machucar. Você
precisa saber disso.
Eu pude ver que ele quis dizer isso. E eu queria agradecer a ele. Eu
precisava agradecê-lo. Sem palavras.
Então, desta vez, eu o beijei.
E agora sua boca estava na minha, lambendo, beliscando e me
mordendo em um estado de êxtase.
Quando eu abri, deixando-o entrar, sua língua roçou a minha e eu
sucumbi ao calor poderoso.
O beijo começou lentamente, nossas bocas testando uma à outra,
sentindo o que o outro gostava, mas nenhum de nós poderia se conter
mais, e antes que eu percebesse, estávamos nos beijando como se
fôssemos dois lobos famintos e vorazes.
Nós tropeçamos para trás no quarto, e ele me jogou na cama,
rastejando sobre meu corpo com pura luxúria em seus olhos. Seus
movimentos eram lentos e metódicos, medindo meu corpo, decidindo
onde atacar em seguida. Ele acariciou a marca que havia feito no meu
pescoço com seus lábios macios. Os minúsculos cabelos do meu corpo se
arrepiaram com a sensação dele flutuando sobre a minha marca.
Ele deu um beijo na marca, em seguida, abriu a boca e deixou sua
língua brincar ao redor do hematoma, lambendo-o com golpes longos e
profundos que fizeram meu corpo estremecer incontrolavelmente.
Então ele mordeu, no mesmo lugar, e eu quase explodi com a
sensação brutal da Bruma. Minha visão ficou turva e gritei, não de dor,
mas de prazer incomparável que percorreu meu corpo.
Eu tinha certeza de que esse tipo de sentimento só poderia vir do
poder de um verdadeiro Alfa. Perdi o controle do meu lobo e minhas
unhas se transformaram em garras, que cavei em suas costas, rasgando
sua camisa, fazendo-o rosnar de surpresa.
Eu deixaria minhas próprias marcas, finas e vermelhas, em toda as
suas costas.
Ele me virou de bruços em retaliação, subindo meu vestido até minha
cintura e pressionando sua protuberância contra minha bunda enquanto
agarrava meus quadris. Sua mão voltou para o meio das minhas pernas,
deslizou minha calcinha de lado e entrou fundo desta vez.
Depois de anos me masturbando com meus próprios dedos, nunca
percebi como seria melhor quando os dedos de outra pessoa estivessem
dentro de mim. Agora eu sabia o que estava perdendo.
O orgasmo me rasgou em duas, e isso foi apenas com seus dedos. De
repente, estava ansiosa para descobrir como seria a sensação de algo
muito maior dentro de mim.
Deus, a Bruma estava me dominando completamente. Eu não estava
pensando direito. Eu só sabia que o prazer era tão bom que não queria
que acabasse.
Por que não deixei isso acontecer antes? Minha mente estava tão
confusa que não conseguia me lembrar. Aiden começou a abrir o zíper de
suas calças.
Seria esta a minha primeira vez?
Não, ele ainda não é meu companheiro.
Mas por que isso importa?
Minha cabeça começou a doer. Aiden começou a abrir minhas pernas
e uma sensação de náusea entrou na boca do meu estômago.
Não... Emily. Não assim.
— Não, pare... PARE. Não quero continuar, — gritei.
Aiden ergueu a sobrancelha, pensando que ainda estávamos jogando.
— Você ainda está confusa, — ele murmurou, se aproximando de mim
novamente, sua boca a uma polegada de distância da minha, — É eu
também. Você não quer que eu te ajude a aliviá-la?
— Não! Eu não sei se você é meu companheiro ainda, e eu não sei se
você algum dia será! — Culpei a Bruma por ser tão dura, mas não tive
forças para lutar contra meu desejo naquele momento.
Aiden parecia um cachorrinho assustado quando me sentei ao acaso e
tentei me recompor. Sua surpresa rapidamente mudou para realização
enquanto ele me olhava de cima a baixo.
— Sienna, — ele rosnou, — você é virgem?
Meu coração parou. Eu queria dizer a ele qualquer coisa, exceto a
verdade naquele momento, mas por algum motivo, abri minha boca e
proferi um tímido — Sim.
Sua expressão de confusão disse tudo. Era inédito um lobisomem ser
virgem na minha idade. O sexo estava embutido em nossos próprios
seres, mas eu tinha meus motivos para permanecer virgem, e Aiden não
precisava conhecê-los.
Esse era meu fardo a carregar, minha promessa de cumprir.
— Por quê? — ele perguntou de repente.
Baixei meu olhar para minhas palmas suadas. — Aiden... — eu disse
hesitante.
— Responda minha pergunta, Sienna.
A névoa estava morrendo e minha clareza estava voltando, mas a
resposta à pergunta de Aiden nunca seria clara. Ele não conseguia
entender o quão profundamente Emily me afetou e como eu fui
cúmplice do que aconteceu.
Fechei meus punhos com força, cravando minhas unhas em minha
pele, tentando bloquear as memórias amargas.
— Eu tenho me guardado para o meu companheiro, — eu disse, não
totalmente convincente. — Só posso amar verdadeiramente meu cônjuge
e não quero dar algo especial a alguém que não o é.
Ficou imediatamente claro que Aiden podia ver que eu não estava
contando toda a história. Ele se aproximou de mim e abriu minhas
palmas. O sangue escorreu enquanto minhas garras se retraíam. Ele
olhou para mim com profunda preocupação, mas tudo que eu pude fazer
foi me virar.
— Sienna, preciso que você me diga o que está acontecendo. Eu não
vou conseguir deixar pra lá.
— Isso está claramente rasgando você por dentro, seja o que for isso,
— Aiden rosnou. — Como você espera que eu ignore isso e finja que nada
está errado?
— Eu não sou sua companheira. Não é sua responsabilidade cuidar de
mim, — retruquei.
— Eu a tornei minha responsabilidade quando te marquei!
Eu vi que ele não iria recuar, mas eu também não iria. Quando duas
pessoas chegaram a um impasse, uma teve que se comprometer e eu
estava cansada.
— Olha, se você deixar pra lá, eu... — Hesitei. — Eu farei qualquer
coisa.
— Mesmo?
A contragosto, eu balancei a cabeça que sim.
— Você vai se mudar para cá amanhã para que eu possa ficar de olho
em você. Sem desculpas, sem atrasos. Amanhã.
— Eu não vou fazer sexo com você, — eu disse a ele, apenas para que
ele tirasse qualquer ideia de sua mente confusa — Não até que saibamos
se você é meu companheiro ou não. Além disso, você não consegue me
dominar. Eu não vou deixar você mandar em mim, então se você está
pensando que eu vou me tornar sua propriedade ao me mudar, então as
garras estão saindo e eu vou parar de jogar bem.
Sua boca se curvou em um sorriso diabólico. — Não ia querer que
fosse diferente.
Capítulo 17
O COMPROMISSO
Sienna

— Diga-me novamente por que isso tem que acontecer? — Meu pai
questionou, nem mesmo tentando esconder a preocupação em sua voz.
— Já falamos sobre isso, Peter. — Minha mãe suspirou. — O Alfa não
pode ser o companheiro de Sienna se a mantivermos trancada aqui. Ela
precisa de espaço para respirar.
— Nós não sabemos se ele é meu companheiro, — eu a corrigi.
A escolha de palavras da minha mãe foi dolorosamente irônica,
considerando que eu ficaria muito mais sufocada e confinada na casa de
Aiden do que aqui.
Meu pai me puxou para um abraço de urso. — Eu sei que você tem
que descobrir se ele é seu companheiro ou não, mas isso não significa
que eu não vou ficar muito preocupado com a minha garotinha. Eu
gostaria que você ficasse.
Quanto mais eu pensava sobre isso, mas eu sabia que isso era algo que
eu tinha que fazer, quisesse ou não. Eu nunca saberia se Aiden e eu
tínhamos uma chance real de um relacionamento se eu pelo menos não
desse uma chance, embora eu tivesse minhas dúvidas sobre suas
intenções.
Abracei meus pais com força. — Vocês não precisam se preocupar
comigo. Eu prometo.
— Sim, é claro... você vai ficar bem, — disse mamãe, começando a
chorar. — Minha última filha saindo de casa e acasalando com um Alfa.
Eu não posso acreditar que você está crescida!
Lembrei-me de como meus pais agiram quando Selene se mudou. Foi
exatamente a mesma coisa. Mesmo que ela fosse sua filha de sangue e eu
tivesse sido adotada, isso não fazia a menor diferença para eles.
Isso me fez amá-los ainda mais por isso. Eu ia sentir falta deles. Pais
biológicos ou não, eles eram meus. E talvez minha mãe estivesse sendo
melodramática, mas, agora, eu gostava disso.
— Volto logo, relaxe, — eu disse, abraçando-os uma última vez. O
abraço da minha mãe foi um pouco apertado demais para meu conforto.
Felizmente, uma buzina de carro buzinou do lado de fora, oferecendo
uma fuga.
— Deve ser meu motorista! Eu tenho que ir, mas eu amo muito vocês!
— Eu gritei enquanto saía pela porta.
Lá fora. Josh estava esperando por mim. Ele tinha um sorriso quase
suspeito no rosto. Ele pegou minhas duas malas e as colocou no porta-
malas enquanto eu me sentei no banco do passageiro.
Josh entrou no carro e acelerou o motor como um garoto de
fraternidade prestes a dar um passeio. Embora eu duvidasse que seria um
passeio agradável.
Nós dirigimos em um silêncio constrangedor por um tempo antes de
Josh finalmente virar a cabeça para olhar para mim.
— É um prazer conhecê-la oficialmente, Sienna Mercer, — ele disse
com aquele sorriso estranho. — Eu sou Josh Daniels, o Beta da Matilha
da Costa Leste.
— Sim. eu sei, — eu disse, ainda tentando lê-lo. — Deve ser bom ser
escolhido para essa posição.
— Deve ser bom estar na sua posição também, — Josh disse com um
tom acusatório. — Então, enquanto estamos aqui, por que você não me
diz como você fez isso?
— Desculpe? — Eu sabia que havia algo estranho naquele sorriso
falso.
— Não seja modesta. — Sua voz estava encharcada de sarcasmo agora.
— Você precisa me dizer sua técnica. Como você enganou o Alfa para
marcá-la?
Eu não ia sentar aqui e aceitar essa merda.
— Enganá-lo? Eu nem tive escolha em nada disso. O que lhe dá o
direito de questionar meus motivos?
— Eu sou o Beta. É meio que meu trabalho, e se você está se
aproveitando dele quando ele está em um estado vulnerável, eu serei o
primeiro a saber sobre isso.
— Se você está tão curioso sobre mim, então por que não pergunta ao
seu melhor amigo por que ele me marcou? — Eu atirei de volta.
— Bem, eu faria, mas Aiden se recusa a responder qualquer uma das
minhas perguntas sobre você. — Sua carranca se aprofundou. — Ele tem
sido tão reservado sobre porque ele marcou você. Todo mundo está
perplexo.
Ele olhou para mim. — Eu me ofereci para buscá-la na esperança de
que você me desse uma pista sobre este pequeno relacionamento que
vocês dois começaram.
— Se Aiden não te disse nada, então por que diabos eu contaria?
Talvez você esteja apenas tentando obter informações para usar contra
ele.
Josh massageou sua têmpora em frustração. — Eu realmente deveria
ter deixado Jocelyn lidar com isso. Ela está acostumada a lidar com
pessoas delirantes.
— Isso faz sentido, considerando o histórico de namoro dela, —
retruquei.
Josh estreitou os olhos para mim. — Vou ser franco com você. Eu não
acho que você seja forte ou madura o suficiente para lidar com um
domínio tão poderoso quanto o dele, e não importa se você pensa que é
uma loba durona ou sei lá.
— Você está me subestimando, — eu disse, desafiando-o.
— O tempo vai dizer. Agora saia do meu carro, — Josh disse
presunçosamente.
Durante nossa discussão, não percebi que já havíamos chegado à casa
de Aiden.
Saí do carro de Josh, batendo a porta atrás de mim. Peguei minhas
malas e atravessei a ponte para o meu feriado Bruma do inferno.
Uma coisa era certa, porém. Eu não deixaria Josh ou qualquer outra
pessoa me subestimar.
Quando Aiden abriu a porta, meus olhos foram imediatamente atraídos
para seu peito brilhante sem camisa. Seus músculos incharam com cada
movimento menor.
Minha Bruma começou a brilhar.
Porra, isso já está realmente acontecendo?
Ele tentou me agarrar e me puxar para dentro, mas consegui passar
por baixo de seu corpo enorme e entrar na casa. Ele se achava inteligente,
mas não me pegaria tão facilmente.
— Você pode trazer minha bagagem para o quarto de hóspedes. — Eu
disse timidamente enquanto caminhava pelo saguão, certificando-me de
estar vários passos à frente dele. — Você vai me mostrar o tour ou terei
que fazer tudo sozinha?
— Oh, você tem feito tudo sozinha por muito tempo. É hora de você
deixar outra pessoa te ajudar, — ele disse, sorrindo com aquele sorriso
sexy e irritante.
Eu apenas rolei meus olhos.
— Eu disse a você — nada de sexo. Isso fazia parte do nosso acordo.
— Nós concordamos que não faremos sexo, — ele disse, começando a
fazer uma carranca. — Isso não significa que não podemos nos entregar a
outras atividades.
Apesar de minhas tentativas de suprimi-lo, minha Bruma continuou a
crescer. Eu estava tentando o meu melhor, mas era quase impossível com
seu cheiro por todo o lugar, e com ele sem camisa e suado, a apenas
alguns passos de distância.
Eu poderia muito bem ter apenas me entregado em uma bandeja de
prata.
Isso não significava que eu não lutaria de volta, no entanto. — Aiden,
estou falando sério, — disse. — Eu não vou dormir com você. Não somos
companheiros e também não somos amantes. Preciso do meu próprio
quarto e isso não é negociável.
Nós travamos os olhos em uma batalha de vontades, ambos
afirmando nosso domínio. Recusei-me a recuar, especialmente depois do
que Josh tinha dito. Para minha surpresa, Aiden, rosnando levemente
baixinho, pegou minhas malas e me levou para a sala mais próxima,
jogando-as dentro.
Eu não conseguia acreditar nos meus olhos. Eu realmente tinha
acabado de fazer Aiden se comprometer sobre algo? Eu fiz o Alfa do
Matilha da Costa Leste assumir um compromisso!
Talvez eu tivesse uma chance de sobreviver a isso, afinal. Acontece
que minha empolgação foi minha traição final. No entanto, a Bruma me
atingiu com força total no meio da minha vertigem.
Os sentidos de Aiden explodiram imediatamente, e ele estava na
Bruma. Foda-se, lá vamos nós.
Nós nos encontramos no meio da sala, e seus braços estavam em volta
de mim em meros segundos enquanto minhas mãos estavam agarrando
seus cabelos negros desgrenhados. Ele me empurrou na cama e caiu em
cima de mim.
Ele puxou as alças do meu vestido, expondo meu sutiã, e começou a
chupar minha marca, me deixando louca. Sua boca desceu para os meus
seios e eu engasguei quando senti sua língua e dentes vagando em torno
dos meus mamilos.
Eu queria que ele tirasse minha roupa. Eu queria que nós dois
estivéssemos nus com nossa pele suada se tocando. Era uma forma de
tortura tê-lo tão perto, mas não perto o suficiente. Eu precisava dele
dentro de mim, e precisava agora.
Eu não podia esperar até descobrir se éramos companheiros. Eu tinha
que tê-lo bem aqui, agora, ou ficaria louca.
Merda, fique sob controle, Sienna! Eu finalmente ganhei a vantagem e
fiz com que ele se comprometesse. Eu não poderia simplesmente jogar
isso fora agora.
— Pare! — Eu gritei. — Me larga! Por favor. Dê-me espaço para
pensar.
Aiden parecia exasperado.
— Sienna, você não pode continuar fazendo isso. É uma coisa natural
querer que seus desejos sexuais sejam realizados.
— Saia, — eu ordenei enquanto as lágrimas brotaram em meus olhos.
— Esta é a minha casa, — rosnou Aiden. — Você é só uma convidada
aqui.
— Eu sou sua convidada? — Eu perguntei, engasgada. — Ou eu sou
apenas uma prisioneira da porra do seu ego de Alfa?
Antes que ele pudesse responder, corri para o banheiro e tranquei a
porta.
Tirei minhas roupas e sentei no chuveiro, deixando a água correr pelo
meu rosto, escondendo minhas lágrimas. Eu sabia que estava
amaldiçoada por sempre me sentir assim por causa do passado.
E talvez eu merecesse essa maldição. Alfa ou não, ninguém poderia
tirar esses demônios de mim.
Para piorar as coisas, agora eu tinha que estar perto de Aiden todos os
dias. Eu não poderia passar por isso novamente diariamente. Apenas
alguns minutos se passaram desde que eu cheguei. Se não pudéssemos
sobreviver menos de uma hora juntos, como poderíamos sobreviver às
próximas semanas?
Em dez minutos, tínhamos conseguido lutar, inflamar nossa Bruma e
ter uma sessão de amassos seco e cheio de raiva da qual eu fugi com um
ataque irregular.
Isso não era saudável.
Quando me levantei do chão do chuveiro, percebi uma linha fina de
sangue circulando pelo ralo. Senti uma pontada de esperança no peito.
Minha menstruação.
Eu pulei fora do chuveiro e rapidamente verifiquei meu calendário.
Era aquela época do mês. Minha menstruação significava sem sexo, e sem
sexo significava manter minha virgindade e minha sanidade intacta por
mais uma semana sem ter que enfrentar as tentações de Aiden.
Nunca, em toda a minha vida, senti tanta gratidão pela Mamãe
Natureza.
Capítulo 18
A RUPTURA
Sienna

A expressão no rosto de Aiden quando ele me cheirou quando saí do meu


quarto à noite foi hilária. Seu nariz estava enrugado em insatisfação, e ele
rosnou, “Merda”, antes de retornar para seu próprio quarto e bater à
porta.
Sangue era um problema óbvio para os lobisomens, mas por alguma
razão, o sangue de menstruação fazia os machos correrem para as colinas
com o rabo entre as pernas. E por isso, eu estava grata.
Pelo menos eu poderia evitar mais encontros sexuais por um tempo
enquanto descobria um novo plano, sem mencionar o bônus adicional de
mexer com Aiden.
Enquanto apreciava minha pequena vitória, meu telefone começou a
zumbir.

Michelle: Ei garota, você vem amanhã?

Sienna: Vem pra onde?

Michelle: Sienna...

Michelle: sério?
Sienna: Me desculpe, eu realmente não
tenho ideia

Michelle: vamos comprar o vestido da cerimônia de


acasalamento de Mia

Michelle: Você sabe disso há muito tempo.

Sienna: Meu Deus, esqueci completamente

Sienna: As coisas têm estado tão agitadas

Sienna: Desde, você sabe...

Michelle: eu percebi...

Michelle: você não tem saído muito ultimamente

Sienna: Eu sei, eu sei


Sienna: É só

Sienna: Aiden

Sienna: e a Bruma

Sienna: e toda essa coisa de morar juntos

Sienna: Sinto que estou ficando louca

Michelle: entendi

Michelle: você tem muita coisa acontecendo

Michelle: estou bem por falar nisso

Sienna: O quê?

Michelle: nada
Michelle: Então você vem ou não?

Sienna: Vou tentar

Michelle: Sienna

Sienna: Ok, estou indo

Michelle: vejo você aí

Uma anfitriã humana nos serviu champanhe enquanto Mia


experimentava vestidos diferentes em uma boutique reconhecidamente
chique. Erica e Michelle cuidaram de seu véu, elogiando suas escolhas de
estilo.
Fiquei sentada no canto, olhando para minha taça de champanhe
como se fosse algum poço mágico que contivesse todas as respostas para
meus problemas.
— Ei, Terra para Sienna, — Erica chamou do outro lado da sala. —
Estamos entediando você?
— Desculpe, só estou um pouco distraída, — pedi desculpas.
Michelle estalou a língua em aborrecimento e começou a beber seu
champanhe como se para manter a boca ocupada para não dizer algo de
que se arrependesse.
— Venha aqui e me ajude a tirar este vestido antes que eu desmaie, —
Mia resmungou, respirando pesadamente. — Essa coisa é mais apertada
do que minha amiguinha antes da minha primeira Bruma.
— Você já deu suas voltas, sem dúvida. — Michelle riu. — Há algum
homem nesta cidade em que você não cravou suas garras em algum
momento?
— Ei, estou comprometida agora, ok? — Mia respondeu. — Pelo
menos eu ainda posso viver através de vocês, meninas. Principalmente
Sienna. Você deve estar sendo devastada todas as noites por aquele Alfa
sexy. Estou com tanta inveja, você não tem ideia.
— Você está se unindo ao seu melhor amigo — Erica disse em tom de
censura.
— Sim, eu acho que isso é bom também. Deixe-me fantasiar um
pouco, certo? — Mia derramou seu champanhe em um dos vestidos.
Eles não tinham ideia de quão desconfortável toda essa conversa de
sexo me deixou, mas eu não estava prestes a revelar que era virgem para
um grupo de lobas embriagadas e loucas por sexo.
— Nossa, totalmente, — tentei dizer de maneira convincente. —
Quase não há um momento em que Aiden não me deixe de quatro.
— Oh meu Deus, conte-nos tudo. — Erica praticamente desmaiou.
Droga, eu não tinha pensado nisso. Enquanto Mia se espremia para
fora de seu vestido, notei um unicórnio pintado olhando para mim de
forma extravagante por cima de sua bunda. Oh, graças a Deus pelas
decisões erradas de Mia.
— Não, Mia precisa me contar tudo sobre aquela tatuagem, e eu
preciso saber agora — eu gritei, tentando mudar de assunto.
Mia ergueu as sobrancelhas sugestivamente. — Ei, o que acontece na
feira do condado fica na feira do condado. Talvez você e Aiden possam
conseguir tatuagens iguais quando forem juntos este ano.
Prefiro morrer. — Deus, Mia, você é demais. — Eu fingi rir.
— Por que você não nos conta por que você deixou o clube com Aiden
durante a noite das meninas sem nem mesmo dizer adeus, — Michelle
perguntou, fazendo com que toda a sala ficasse em silêncio. Todos
olharam para mim com expectativa, como se essa fosse uma discussão
inevitável que iria acontecer.
— Eu... eu uh, eu estava..
Droga, eu não poderia contar a elas sobre como quase fui estuprada.
Eu já estava diminuindo o clima do jeito que estava. E isso apenas traria
outras questões que eu não estava pronta para responder. Então, eu acho
que minha única opção era...
— Aiden pode ser meu companheiro, — eu deixei escapar.
O queixo de Erica e Michelle caiu no chão.
— Cale a boca, porra, — Mia gritou. — Você está falando sério? Oh
meu Deus, isso explica tudo, porque você tem estado tão distante e
estranha ultimamente. Isso é SUPER IMPORTANTE.
— Sim, eu não tinha ideia. Essa é uma razão totalmente válida para
nos abandonar, — Erica falou quando Michelle lançou-lhe um olhar sujo.
— Está tudo acontecendo tão rápido, — eu disse, dando minha
melhor impressão de Selene. — Eu pensei que ia morrer quando ele me
disse. Ainda estamos descobrindo.
— Parece que você pode ser a próxima no altar, — provocou Erica.
— De jeito nenhum, definitivamente vai ser Michelle, — eu disse,
sorrindo, mas quando olhei para ela, ela não estava sorrindo de volta.
Michelle agarrou sua bolsa e se levantou repentinamente.
— Você está realmente vivendo em seu próprio mundo atualmente,
não é, Sienna? — Ela saiu da boutique, me deixando totalmente confusa.
— Michelle, espere! — Eu chamei por ela. — O que foi que eu disse?
Mia e Erica trocaram olhares.
— Michelle está um pouco nervosa agora. Ela está tendo alguns
problemas com Ross, — explicou Erica.
— Merda, eu não tinha ideia, — eu disse. — Eles ficarão bem, certo?
Mia apenas encolheu os ombros. — Talvez, mas você pode ver por que
ela está brava. Se você tivesse mais presente nas últimas semanas, saberia
o que ela estava passando.
Droga, ela estava certa? Eu tinha estado tão absorta em tudo que
acontecia que negligenciei completamente minha melhor amiga? Doeu
muito esconder a verdade das meninas, mas eu tinha que fazer isso
sozinha. Esperançosamente elas entenderiam em algum momento, mas
agora simplesmente não era a hora certa.
Eu estava cozinhando o jantar, pensando em Michelle, quando Aiden
voltou do trabalho, ainda com a mesma expressão irritada daquela
manhã.
— Eu pensei que você não queria ser considerada uma mulher
submissa que não fazia nada além de cozinhar para seu homem, — ele
comentou secamente.
Eu atirei-lhe um olhar furioso. — Cozinhar não é um traço submisso.
Se você não pode fazer sua própria comida, é você quem depende de
outra pessoa.
Ele sorriu como um lobo.
— Estou te irritando, Sienna? — ele perguntou, um brilho malicioso
em seus olhos.
De repente, ele estava atrás de mim, as mãos na minha cintura,
pressionadas contra minhas costas. Seus lábios estavam roçando minha
orelha quando ele disse: — Você quer punir o grande alfa mau?
Eu fiz, mas eu me conteria por enquanto. — Saia de cima de mim, —
eu rosnei, mas em vez disso, ele me beijou. Desta vez, o beijo não foi tão
apressado como antes.
Sua Bruma estava completamente sob seu controle e ele me deixou
louca. Eu queria que ele pressionasse com mais força, me empurrasse
contra a ilha e me devorasse.
Ele provocou meus lábios para aceitar os seus, chupando e
mordendo-os.
Quando estremeci e não consegui mais manter minha boca fechada,
sua língua escorregadia rompeu e zombou da minha, me deixando louca
de paixão. De repente, ele parou e se afastou com um sorriso no rosto.
— Eu acho que é o suficiente por esta noite, — ele disse, ecoando
minhas próprias palavras, que eu usei contra ele várias vezes.
Esse idiota. Então é assim que ele queria jogar este jogo? Bem, bola pra
frente, vadia. Ele não é o único que tem controle sobre sua Bruma.
— Sente-se. O jantar está servido, eu disse bruscamente.
— Bem, olhe para você, uma dona de casa tão fofa. Combina com
você...
Aiden soltou um uivo agudo enquanto eu despejava uma pilha de
espaguete à bolonhesa quente em seu colo.
— Opa. desculpe, querido. Deixe-me limpar isso para você, — eu sorri.
Enquanto pegava uma toalha e fingia limpar a comida em seu colo, fiz
questão de dar atenção especial à sua virilha. Eu o senti ficando duro, e
sua Bruma explodiu quase imediatamente.
Eu o massageei cuidadosamente enquanto seus olhos se fechavam e
um olhar de puro prazer apareceu em seu rosto. Eu abruptamente parei
de tocá-lo e joguei a toalha coberta de molho em seu rosto.
— Você está um pouco bagunçado aí embaixo, — zombei. — É
melhor limpar isso. Não gostaria de tocar em você durante a
menstruação.
Aiden disparou, rosnando, e enfiou o garfo na mesa. Olhamos um
para o outro, afirmando nosso domínio ao mais alto grau até...
Minha boca se abriu quando Aiden abriu um sorriso enorme. Ele
começou a rir histericamente, dobrando-se e segurando o estômago. Sua
risada foi baixa e grave, e foi tão contagiante que eu mesma comecei a rir.
O que diabos estávamos fazendo?
Quando a risada diminuiu, sorrimos um para o outro e pude ver seus
olhos se suavizando. O silêncio após as risadas foi o silêncio mais
confortável que eu já senti com alguém, e enquanto nos olhamos,
sorrindo assim, parecia que tudo se encaixava.
Finalmente tudo fez sentido. Foi um momento surreal, mas não o
questionaria.
Comemos no mesmo silêncio, nenhum de nós ousando quebrá-lo. Ele
parecia adorar minha comida pela maneira como devorava a refeição
inteira e voltava por alguns segundos.
Assistir Aiden comer minha comida com tanta fome, tanta satisfação,
foi um tipo diferente de prazer.
Ele olhou para cima e encontrou meu olhar, olhos intensamente
penetrantes nos meus, e meu coração deu um pulo. Ele olhou
profundamente nos meus olhos, como se tentasse me ler, me apreciar, e
eu me vi fazendo o mesmo com ele, tentando decifrar seu olhar
repentinamente inescrutável.
O que ele estava pensando? O que ele estava sentindo? Talvez um dia
nós realmente nos entendêssemos.
De repente, ele abriu um sorriso e voltou a atacar seu jantar.
— Bom apetite, — eu sussurrei suavemente.
Capítulo 19
OS IGUAIS
Aiden

Estou profundamente envolvido. Não há mais volta agora, não que tenha
existido para mim.
Sienna tinha-me na coleira. Como um cachorro domesticado. Mas ela
me odiava ou sentia algo por mim?
Eu nunca poderia dizer com ela. Se ela finalmente decidiu me
rejeitar...
Porra!
Passei minhas garras na minha mesa, jogando tudo, desde pilhas de
documentos assinados até velhos troféus de esportes, no chão com um
barulho.
Josh se encolheu especialmente quando eu espalhei centenas de
convites do Baile de Natal pela sala, alguns deles batendo no ventilador
de teto e caindo no esquecimento.
— Aquela garota, — eu rosnei. — Eu não posso tirá-la da porra da
minha cabeça. Ela assumiu completamente cada pensamento meu, e isso
está me deixando louco.
— Tenho certeza de que é apenas a Bruma, — disse Josh com cautela,
enquanto tentava recuperar o que restava dos convites.
A maldita Bruma. Parecia sem fim. Eu provoquei Sienna
implacavelmente sobre seu controle, mas a verdade é que eu mal
conseguia me controlar. Quando eu estava na presença dela, todo o resto
parecia turvo — eu não conseguia me concentrar.
Mas para eu me sentir assim quando ela nem estava por perto? Isso
me fez querer arrancar meus olhos.
— Como diabos você está lidando com isso? — Eu perguntei,
andando em círculos. — Jocelyn não distrai você de suas tarefas mais
importantes, se enterra em seu cérebro como um parasita e faz você
querer rasgar algo ao meio, porra?
— Uhhh... — Josh rapidamente puxou um mural vintage da minha
árvore genealógica fora do meu alcance.
Ele parou por um momento para pensar sobre minha pergunta. — Na
verdade, não. — disse ele, parecendo um pouco confuso. — Quer dizer,
Jocelyn é ótima e tudo, mas não posso dizer que senti algo parecido com
o que você está descrevendo.
— Bem, você tem sorte então, — eu rosnei. — Porque isso é uma
tortura.
Meu telefone começou a zumbir no bolso e eu o puxei com cautela,
sabendo exatamente quem seria.

Sienna: Olá Aiden

Sienna: Vi seu bilhete

Sienna: Espero que você tenha um bom dia


no trabalho

Sienna: Parece ocupado

Sienna: Talvez eu possa encontrar uma


maneira de tornar o seu dia menos
estressante
Eu joguei meu telefone do outro lado da sala quando minha Bruma
começou a acender novamente, vendo-o quebrar contra a parede.
— Josh, eu não tenho mais acesso ao meu planejamento. — eu disse
sem um pingo de ironia. — O que está na minha agenda para o resto do
dia?
— Só o almoço, — respondeu Josh. — Você quer que eu cancele?
— Inferno, não, isso é exatamente o que eu preciso. Uma sala cheia de
testosterona. Sem mulheres e especialmente sem Sienna.
Sienna

Acordei com uma casa vazia, mas o cheiro de Aiden ainda pairava no ar.
Ele deixou um bilhete preso por um ímã na geladeira. Dizia que ele tinha
saído para algum negócio alfa e ficaria na Casa da Matilha o dia todo e
poderia não chegar em casa para o jantar.
Por algum motivo, um sorriso idiota se espalhou pelo meu rosto
enquanto eu me vestia. Quando me olhei no espelho e puxei meu cabelo
ruivo para trás em um rabo de cavalo, vi minha marca sob uma luz
diferente.
Pela primeira vez, isso não me incomodou ou enfureceu. Na verdade,
eu estava meio orgulhosa disso.
Decidi enviar uma mensagem de texto para Aiden e dizer a ele para
ter um bom dia no trabalho, talvez até paquerar um pouco, mas depois
de algumas mensagens, ele parou de atender e ele não respondeu. Ele
provavelmente estava sobrecarregado de trabalho e teve que desligar o
telefone.
E se eu o surpreendesse na Casa da Matilha para o almoço? Parecia
uma boa ideia, considerando que ele não teria um momento livre de
outra forma, hoje.
Eu estava praticamente radiante e queria tirar meu próprio sorriso
bobo do rosto, mas talvez esse sentimento não fosse tão ruim.
Quando cheguei ao portão, vi o guarda que estava lá da última vez que
atravessei a Casa da Matilha. Ele olhou para mim e ficou branco como
um fantasma. Sem nem mesmo um 'alô', ele abriu o portão e me
conduziu, tentando evitar o contato visual.
— Desculpe pela última vez, — eu disse timidamente, fazendo-o
pular. — Posso ter alguns problemas de controle da raiva.
Com os olhos arregalados, ele sorriu nervosamente, balançando a
cabeça como um boneco quebrado. Talvez eu precise pagar por sua terapia.
Quando eu entrei, peguei o cheiro de Aiden, mas estava um tanto
obscurecido por vários outros cheiros masculinos. Eu me perguntei se ele
poderia me cheirar ou se o meu também estava mascarado? Enquanto
estava farejando o ar, quase esbarrei em Jocelyn.
— Ei, Sienna, — disse ela enquanto sorria. — O que você está fazendo
aqui?
Droga, eu sempre me esquecia de como ela era linda. — Ei, Jocelyn, —
eu disse, sorrindo timidamente de volta.
Eu ainda não tinha certeza se podia confiar nela ou não. Michelle
sempre me dizia que era obscura, mas Jocelyn sempre foi gentil e
prestativa comigo. Normalmente eu confiava no julgamento de Michelle,
mas desta vez não tinha tanta certeza.
Especialmente porque o momento da desconfiança de Michelle em
Jocelyn se aliou ao fato de ela namorar Josh, por quem tenho certeza de
que Michelle tinha uma queda, apesar de nunca ter conhecido
oficialmente.
— Você está aqui por Aiden? — Ela perguntou maliciosamente.
— Ele está ocupado? Sempre posso voltar mais tarde.
— Não, ele está apenas no almoço da matilha.
— Homens apenas — ela disse, revirando os olhos. — Josh também
está lá.
— Parece importante, — eu disse, começando a perder minha
coragem. — Talvez eu não deva interromper.
Jocelyn agarrou meu braço, rindo. — Eu acho que é exatamente o que
você deve fazer. Espere, tente isso.
Ela se inclinou e puxou meu cabelo para baixo do rabo de cavalo,
brigando e bagunçando até ficar com uma aparência sexy de que acabei
de acordar. Droga, sua bela aparência era uma coisa, mas ela também
tinha um cheiro que poderia matar. Era absolutamente inebriante. Ela
puxou para baixo o ombro da minha camisa, expondo minha marca.
— Você tem certeza? — Eu perguntei.
— Sienna, Aiden é louco por você. E se o que Josh tem me contado for
verdade, então ele pode estar literalmente enlouquecendo por sua causa.
Você é provavelmente a loba mais dominante que já conheci, e está
muito sexy agora. Abrace isso! Vá para aquele almoço e mostre a ele sua
força.
Ela me deu um sorriso malicioso e colocou a mão acima do meu
coração.
— Confie em mim... e boa sorte.
Enquanto ela se afastava, senti que realmente podia confiar nela
implicitamente.
Um domínio de fogo começou a queimar dentro de mim assim que
ela me tocou. Era como se ela tivesse ativado algum poder enterrado
dentro de mim.
Com o queixo para cima e o domínio irradiando de todos os meus
poros, eu irrompi pelas pesadas portas da sala de reuniões, caminhando
em direção a Aiden e os outros homens com total confiança.
Todos eles levantaram suas cabeças, perplexos, mandíbulas caindo e
olhos cheios de luxúria, exceto Josh, que apenas fez uma careta.
A Bruma de Aiden chamejou quando ele sentiu meu cheiro, mas havia
um olhar voraz de orgulho e posse em seus olhos que não tinha nada a
ver com a Bruma.
Despertar Aiden na frente de seu bando foi uma das coisas mais
arriscadas que eu já fiz, mas eu poderia dizer que estava funcionando
pelo jeito que ele estava suando e cravando suas garras na mesa.
Foi uma jogada ousada, mas Jocelyn acertou o alvo. Não era qualquer
uma que poderia fazer isso.
Aiden tentou lutar contra sua Bruma, mas pela primeira vez, eu não
queria que ele lutasse. Eu queria que isso o engolisse completamente.
Não era exatamente vingança — eu também o queria — mas estava
aproveitando cada doce segundo de seu desconforto.
Inclinei-me sobre a mesa e lambi meus lábios.
— Senti sua falta quando acordei esta manhã. Comecei a me tocar,
mas não era tão divertido sem você. Seus dedos são muito mais
satisfatórios.
Isso era tudo que ele precisava. Antes mesmo que eu soubesse o que
estava acontecendo, ele me pegou e me jogou na mesa, fazendo com que
o resto de sua matilha se sacudisse.
Ele rastejou sobre mim, rosnando em antecipação, enquanto eu
estava deitada esparramada sobre a mesa à vista de todos os outros.
— Fora, — ele rosnou para sua matilha sem quebrar o contato visual
comigo. — Todo mundo fora AGORA.
O bando rapidamente se levantou da mesa e se dirigiu para a saída,
mas Aiden estava em cima de mim antes mesmo de eles terem saído.
Ele agarrou meus seios através da minha camisa, apertando quase
dolorosamente. Eu o beijei de volta, mas ao contrário dele, eu tinha
controle sobre minha Bruma agora. Consegui provocar sua boca até que
um grunhido explodiu de sua garganta, fazendo seu peito roncar.
Estremeci com a sensação da vibração e ri baixinho. — Ah. alguém
está com raiva, — eu disse sedutoramente.
— Você não tem ideia, — ele rosnou e me beijou novamente. Desta
vez, eu o deixei me beijar tão possessivamente quanto ele queria
enquanto eu envolvia meus braços em volta de seu pescoço e colocava
minhas pernas em volta de sua cintura. Eu agarrei um punhado de seu
cabelo e puxei o mais forte que pude até que ele mostrou suas presas.
— Me morda, porra, — eu ordenei.
— O que? — ele respondeu, perplexo. — Desde quando você...
— Faça o que eu digo a você. Crave seus dentes em mim!
Aiden me pegou e me colocou suavemente na beirada da mesa, me
examinando com preocupação. — Sienna, o que está acontecendo?
— O que você está falando? Você não me quer? — Eu respondi,
irritada.
— Claro que sim, — disse ele. — Mas não assim.
O que eu estava fazendo? Me jogando no Alfa? Esta foi uma ideia tão
idiota.
A dúvida começou a afundar, e tudo o que Jocelyn tinha feito estava
desaparecendo rapidamente. Todas as minhas inseguranças vieram à
tona.
— Você ao menos acha meu cheiro atraente? — Eu cuspi. — E se eu
não fosse sua companheira em potencial? Você prestaria atenção em
mim? Você é um alfa, um pedigree diferente. Sou apenas uma plebeia,
uma garota que foi abandonada pelos pais. Eu não sou ninguém.
Eu comecei a chorar. — Eu não posso estar com alguém que é
superior a mim. Não posso estar em um relacionamento em que sempre
me sinto insignificante e com o fardo de corresponder às suas
expectativas. Isso simplesmente não vai funcionar.
Aiden parecia atordoado, mas ele suavemente colocou a mão na
minha bochecha e olhou diretamente nos meus olhos.
— Sienna, eu não vejo você como uma plebeia que tem que se curvar
a todos os meus caprichos. — Ele sorriu. — Eu vejo você como uma igual.
Agora, era eu que parecia atordoada. Uma igual?
— Olha, não posso explicar, mas... — disse Aiden, franzindo a testa.
— Mas, ultimamente, me sinto conectado a você, ao que você quer. Posso
sentir seus desejos e suas dúvidas como se fossem meus. E eu sei que
você não quer isso aqui... em meu escritório, na mesa de conferência.
Aiden começou a andar agora, claramente nervoso, uma emoção que
eu não pensei que Aiden possuísse.
Isso era estranho como o inferno, e eu me senti completamente
perplexa, sem saber o que viria a seguir nesta peça de um homem só.
— O que estou tentando dizer é... — Ele se virou para mim com uma
explosão de confiança. — Acho que é hora de fugirmos.
Ai. Meu. Deus.
Capítulo 20
A FUGA
Sienna
Sienna: Ei, Selene

Sienna: Você está acordada?

Selene: Ugh, mais ou menos

Selene: É melhor ser vida ou morte

Selene: são 2 da manhã

Selene: O que está acontecendo?

Sienna: Quando você soube pela primeira vez

Selene: Soube o quê??

Sienna: Que você estava apaixonada por Jeremy

Selene: Espere, o quê?

Selene: Sienna...

Selene: Isso realmente não poderia esperar até amanhã?

Sienna: Aiden me pediu para fugir hoje à noite

Selene: O QUE

Selene: OH MEU DEUS

Selene: Por que você não começou com isso??


Selene: Eu estou hiperventilando aqui

Selene: Espera aí, deixa eu ir para a sala

Selene: Jeremy está roncando

Selene: (emoji com cara de tédio)

Sienna: Hum, tudo bem, respire fundo

Sienna: Sou eu quem vai fugir

Selene: ENTÃO VOCÊ VAI??

Sienna: Sim, e preciso do seu conselho

Sienna: Tipo... agora

Selene: Ok. o que você precisa saber?

Sienna: Sua primeira fuga com Jeremy

Sienna: Como foi? O que você vestiu? Foi intenso ou íntimo?

Selene: Bem, foi mágico

Selene: E o que você veste não importa

Selene: Já que você vai tirar suas roupas

Selene: É íntimo e intenso

Selene: É realmente uma experiência espiritual mais do que


qualquer coisa

Selene: Deixando o lobo assumir o controle e cedendo aos seus


instintos mais primitivos
Sienna: E se nossas formas de lobo não se conectarem?

Sienna: Isso pode arruinar tudo se não estivermos prontos

Selene: Eu não posso te dar uma resposta para isso

Selene: Mas se você já disse sim, acho que tem sua resposta

Selene: ❤ (emoji de coração)

Sienna: Obrigado, mana

Sienna: Tenho que ir

Sienna: Aiden acabou de entrar

Eu olhei para o homem com quem eu estava prestes a sair em uma


corrida — a experiência mais íntima que dois lobisomens poderiam
compartilhar — e de repente eu senti uma onda de ansiedade nervosa.
Rumores diziam que uma fuga foi o que encerrou o relacionamento
de Aiden e Jocelyn. Eles não se conectaram de forma alguma na forma de
lobo.
E se isso acontecer conosco também?
— Preparada? — Aiden perguntou.
Essa foi uma pergunta maldita carregada. Quando Aiden me pediu
pela primeira vez para fugir, meu lobo assumiu e eu deixei escapar um
'sim' antes mesmo que pudesse processar o peso desse compromisso.
Sua expressão estava tão sinceramente satisfeita com a rapidez da
minha resposta que não tive coragem de desistir.
Agora minha cabeça gritava para que eu corresse o mais longe
possível na outra direção enquanto meu lobo uivava por cima, afogando
minha apreensão e me dizendo para sair da minha bunda e ir com ele.
Eu balancei a cabeça e me levantei enquanto ele pegava minha mão e
me levava para dentro da floresta. Demos o primeiro passo juntos,
cruzando o limiar para uma experiência sobrenatural que mudaria tudo.
— Espere, — gritei de repente. — Podemos caminhar um pouco
primeiro?
Aiden sorriu para minha ansiedade óbvia. — Claro.
Começamos a caminhar em silêncio pela floresta, minha inquietação
começando a desaparecer enquanto seguíamos o riacho mais fundo na
floresta. Havia algo calmante na maneira como a água fluía tão
livremente.
Eu olhei para Aiden. Esta foi talvez a primeira vez que me senti livre
para fazer minhas próprias escolhas — sem pressão, sem manipulação.
Aiden estava me deixando fazer isso no meu próprio ritmo, do meu jeito.
Eu engasguei quando chegamos a um lago iluminado pelo luar. Suas
bordas eram suaves e musgosas, e o reflexo da luz fazia a água cintilar
como um eco do céu estrelado.
Nós dois sabíamos que aquele era o lugar. Foi perfeito. Meu coração
começou a bater forte no meu peito.
Não houve mais protelação.
Já era tempo.
Aiden começou a tirar sua camisa, revelando seu abdômen perfeito.
Ele se encostou em uma árvore e sorriu enquanto eu agarrava minha
própria camisa com mais força.
— Vire-se. — eu disse, corando. — Eu não quero que você veja.
— Por que? — Ele riu. — Eu vou te ver nua de uma forma ou de outra.
É natural.
Ele estava certo. Era outro código não falado entre os lobos. A nudez
antes e depois da mudança era inevitável, então os lobisomens não
faziam muito disso. Foi o mesmo que perder a virgindade quando surgia
a primeira Bruma. Mas as regras tornaram-se diferentes para mim depois
da Emily.
— Já estabelecemos que eu não sou como todas as outras lobas que
você conhece, — eu atirei de volta enquanto me atrapalhava com o zíper
da minha calça jeans.
— Acredite em mim, eu sei, — disse Aiden, de repente olhando para
mim com olhos calmos. Aquele olhar era puro Alfa, não de uma forma
intimidante, mas tranquilizadora.
Ser um Alfa não era apenas uma questão de controle. Às vezes,
tratava-se de manter a manada lúcida. — Não se preocupe, você está
linda.
Eu me virei, mas lentamente deslizei minhas calças até os tornozelos
e tirei minha blusa. De pé apenas com a minha calcinha, respirei fundo.
Tirei meu sutiã e calcinha e me virei para enfrentar Aiden.
Ele já estava nu, deixando tudo sair sem um pingo de vergonha.
Afinal, ele era o Alfa. Ainda assim, enquanto estávamos completamente
nus, olhando os corpos um do outro, não parecia da maneira que eu
pensei que seria.
Não era uma aura de luxúria entre nós, mas de conexão. Éramos um e
o mesmo.
Selene estava certa sobre ser uma experiência espiritual e eu estava
começando a entender.
— Você primeiro, — ele persuadiu.
Eu dei um passo à frente e fiquei diretamente sob o luar em cascata.
Deixando meu lobo me consumir, eu me transformei, pousando
graciosamente de quatro. Eu olhei para o meu reflexo na lagoa para ver
minha pele marrom-avermelhada acesa como um fogo ardente. Eu
nunca tinha visto isso brilhar assim.
Aiden mudou em seguida, e sua forma de lobo era tão grande quanto
eu lembrava.
Seu pêlo preto sedoso e olhos castanhos penetrantes eram lindos sob
o céu noturno. Nossos olhares permaneceram um no outro em
reconhecimento, e quaisquer dúvidas que eu tinha sobre nossos lobos
não se conectando desapareceram em um instante.
Ele se virou regiamente e acenou com a cabeça para a floresta, e essa
foi a minha deixa. Cravei minhas patas na terra e corri para o mato.
Agora eu só tinha que ter certeza de que ele não me pegaria.
Era um jogo de intimidade, mas também um desafio. Eu tinha que
mostrar a ele o quão dominante eu era para provar que poderia me
defender contra o Alfa.
As árvores ficaram borradas ao meu redor enquanto eu corria pela
floresta, e o vento em minha pele era estimulante. Se Aiden ia me pegar,
eu não ia facilitar para ele. Eu sabia que a primeira coisa que tinha que
fazer era mascarar meu cheiro.
Eu mergulhei em uma poça de lama e rolei antes de me levantar
rapidamente e mudar de direção. Minha melhor aposta era confundi-lo e
encobrir meus rastros da melhor maneira possível.
Enquanto eu disparava para frente e para trás, um uivo agudo
penetrou no silêncio da noite. Aiden queria que eu soubesse que ele
estava se aproximando. Ele estava brincando comigo, mas também me
deu uma vantagem. Eu sabia sua localização agora.
Eu mergulhei no rio e nadei para o outro lado. Com sorte, ele estava
com vontade de se molhar. Eu balancei meu pêlo para secar uma vez que
estava na outra margem e continuei mais fundo na floresta.
Horas se passaram desde que começamos nossa perseguição. Eu só
podia imaginar a frustração que ele estava sentindo. Alguns podem dizer
que você deveria deixar seu parceiro sentir que ele estava na liderança,
mas foda-se, este era um jogo de dominação.
Encontrei uma colina rochosa onde não deixaria rastros. Subi até o
topo e tentei me orientar. Com todo o ziguezague, até eu havia me
perdido um pouco.
Meus ouvidos dispararam quando, sem aviso, uma batida pesada
começou a ecoar do leste, e estava se aproximando rapidamente de mim.
Aiden saltou para fora do arbusto, as garras cerradas, a baba voando para
fora de suas mandíbulas abertas.
Eu tive apenas um momento. Eu joguei meu corpo para o lado
enquanto seus dentes beliscaram meus calcanhares. Ele parecia selvagem
e indomado, sujeira e detritos cobrindo seu pelo anteriormente sedoso.
Eu me perguntei o quanto eu também estava assim.
Começamos a fazer uma espécie de dança, circulando um ao outro,
esperando para ver quem daria o primeiro passo. Nós rosnamos de
brincadeira um para o outro.
Finalmente, chegamos ao fim.
Um galho quebrou e eu me deixei distrair por apenas um
milissegundo. Era tudo que Aiden precisava. Ele investiu contra mim, me
acertando bem nas costelas.
Nós dois caímos colina abaixo, quebrando pedras e amoreiras, caindo
em uma pilha no fundo.
Ele se recuperou primeiro e imediatamente me imobilizou. Eu gritei e
me debati, tentando escapar, mas ele me tinha bem onde ele me queria.
Seu rabo balançou de excitação enquanto ele mostrava suas presas.
Ele soltou um uivo triunfante e cravou os dentes no meu ombro, bem
onde minha marca estaria em forma humana.
Este foi o ato final de uma fuga entre parceiros em potencial. Eu
agora estava marcada tanto na forma humana quanto na forma de lobo.
Eu era total e completamente dele agora. Um amante e um
companheiro em potencial. Nenhum outro homem ousaria se aproximar
de mim durante a Bruma na minha marca.
Nós mudamos de volta para forma humana, Aiden ainda em cima de
mim, as presas gravadas na minha marca. Olhamos um para o outro sem
nos mover, sem falar, sem fazer nada, na verdade.
Foi o momento mais íntimo e intenso de toda a minha vida — assim
como Selene havia dito — e eu nunca teria pensado em um milhão de
anos que estaria compartilhando isso com Aiden Norwood.
Ele me ajudou a ficar de pé e me conduziu até a água. Eu nem estava
mais ciente da minha nudez, apenas da minha conexão com Aiden.
Nós entramos profundamente no lago até a cintura, e ele suavemente
lavou o sangue da minha marca. Doeu, mas uma marca não era tanto
uma dor física, mas uma conexão mental. O que eu senti naquele
momento, Aiden também sentiu.
E o que eu estava sentindo era meu coração sendo preenchido com
um desejo por alguém como nunca antes.
Eu me apaixonei pelo Alfa.
Capítulo 21
DURA REALIDADE
Sienna

Três dias se passaram desde a fuga, e o período posterior foi como descer
do alto, o que significava que minhas emoções estavam uma bagunça.
Às vezes, eu sentia um lampejo de euforia, lembrando-me da emoção
da perseguição, enquanto outras vezes atingia um ponto fraco
emocional, pensando que nunca mais me sentiria assim.
Aiden também sentiu. Ele ficou mais distante nos últimos dias,
enterrando-se no trabalho. Selene convenientemente deixou de fora que
a melhor experiência da minha vida seria seguida por uma sensação
paralisante de mal-estar.
Eu precisava fazer algo para tirar nós dois do medo, então decidi assar
para Aiden sua sobremesa favorita, torta de maçã.
Jocelyn me disse que o Alfa gostava muito de doces e que eu ainda
não tinha usado essa arma em meu arsenal contra ele. Desta vez, porém,
usaria comida para sempre.
Eu me encontrei cantarolando e movendo meus quadris enquanto
vagava pela cozinha, derramando farinha em todos os lugares. Eu não
esperava que um coro de criaturas da floresta aparecesse pela janela e
começasse a me envolver em seda ou algo assim, mas essa sensação? Foi
ótimo pra caralho.
O cronômetro do forno apitou, sinalizando que a torta de maçã
estava pronta. Cheirava a céu. Se eu pudesse ter escolhido um perfume
permanente para mim, seria este. Eu enviei uma mensagem de texto com
entusiasmo para Aiden para ver quando ele estaria em casa. Eu não sabia
quanto tempo eu poderia esperar para ver a expressão em seu rosto.
Sienna: Ei, você está vindo para casa?

Sienna: Eu tenho uma surpresa

Sienna: 😊 (emoji sorrindo)

Aiden: Ainda preso no trabalho

Aiden: Tivemos nossa própria surpresa hoje

Aiden: Um convidado VIP de última hora para o Baile de


Inverno

Aiden: Vou trabalhar até tarde

Sienna: De novo?

Sienna: É a terceira vez esta semana

Aiden: Eu sei
Aiden: Não é ideal

Aiden: Mas é o momento

Aiden: O Baile de Inverno é em duas semanas

Aiden: Está o caos aqui

Sienna: Você pelo menos volta antes de eu


dormir?

Aiden: Não sei

Aiden: Eu não esperaria acordado

Sienna: Tudo bem

Sienna: Falo com você mais tarde, eu acho

Todo o entusiasmo foi imediatamente drenado do meu corpo. De


repente, fiquei furiosa. Com raiva de mim mesma, por colocar tanto
esforço na cozinha, como uma dona de casa submissa. Eu não tinha nada
melhor para fazer do que cozinhar para um homem? Para esperar por sua
validação?
Mas eu estava tão brava com o quão chateada suas mensagens me
deixavam. Que sua ausência estava me afetando muito.
Eu costumava orar por esse tipo de distância entre nós. Inferno, às
vezes eu desejava que estivéssemos em lados opostos da Terra. Mas agora
eu não aguentava estar longe dele por um dia inteiro.
E eu não gostei.
À medida que o calor da torta de maçã diminuía, seu cheiro também
diminuía. O odor inconfundível de Aiden — uma mistura de amadeirado
e viril — encheu a sala novamente. Aparentemente, era forte o suficiente
para fazer isso, mesmo quando ele não estava em casa.
O cheiro dele sozinho foi o suficiente para enviar uma pontada
visceral de sentir falta dele através de mim. Desde a corrida, quando
chegamos perto como lobos, meu lobo interior tinha esse desejo
constante de estar perto dele. Era como se ele irradiasse algo que nos
conectasse, e eu queria estar amarrada a essa conexão o tempo todo.
Lágrimas inundaram meus olhos. Coloquei minha mão sobre minha
marca enquanto meu corpo tremia.
Eu sabia que estava sendo dramática. Eu me sentia uma adolescente
tola. Mas não me importei. Eu só queria ele aqui comigo, me segurando,
me beijando, me dizendo que tudo daria certo entre nós.
Mas em vez disso, eu estava aqui sozinha.
Aiden

Larguei meu telefone de volta na mesa. — Droga, — eu murmurei


baixinho.
Eu odiava fazer isso com Sienna. Eu mal a tinha visto nos últimos três
dias porque parecia que estava morando na Casa da Matilha. Tudo estava
em completa desordem desde o anúncio surpresa de que o Alfa do
Milênio compareceria ao nosso Baile de Inverno.
Por um lado, foi uma honra ter um convidado deste calibre presente
em nossa humilde celebração. O Alfa do Milênio era o imperador de,
bem, da porra toda. Ele era o farol de poder que todos reverenciavam e
agraciar-nos com sua presença era uma honra que talvez não
recebêssemos novamente.
Mas, por outro lado, era suspeito. Por que o Alfa do Milênio decidiria
vir ao nosso Baile de Inverno, e de última hora? Ele estava apenas
interessado na celebração anual, em visitar nosso bando, ou havia algo
mais?
Não sabia dizer. Mas eu estava planejando manter meus sentidos
aguçados até o baile terminar para ter certeza de que estava preparado
para qualquer coisa.
Já tinha ordenado que a segurança fosse multiplicada por dez, tanto
no Baile como nos dias que o antecederam. Ser o homem mais poderoso
do mundo — e isso era o que o Alfa do Milênio era — significava que
você construía uma lista impressionante de inimigos. E com a recente
violação do perímetro, ficou claro que havia falhas em nosso sistema.
Eu certamente não iria correr nenhum risco.
Quando eu ordenei o aumento da segurança, alguns membros do
bando me olharam como se eu fosse paranoico. Mas estava disposto a
lutar pelo time defensivo de que sabia que precisávamos. Mesmo se tudo
correr conforme o planejado, prefiro prevenir do que remediar.
Eu tinha total confiança em meu bando, em sua habilidade de seguir
ordens e alcançar resultados, mas ultimamente eu estava me
perguntando se eles tinham a mesma confiança em mim.
Eu vi a maneira como seus olhos se conectavam quando eu dava
ordens e ouvi os sussurros que flutuavam ao meu redor de vez em
quando.
Paranoico.
Não tão forte.
Solitário.
Não que eles estivessem me desobedecendo ou desrespeitando. Isso
teria sido inaceitável. Eles teriam sido punidos e substituídos
imediatamente. Eu era o Alfa e estava no comando.
Era mais... eles estavam preocupados comigo. Eles queriam o melhor
para seu Alfa e não sabiam como me ajudar a consegui-lo.
Sempre voltava para encontrar uma companheira. Isso estava claro.
Os olhares, os sussurros, nada disso aconteceria se eu já estivesse
acasalado.
Mas, novamente, talvez eles estivessem certos em se preocupar
comigo. Eu não podia deixar minha mente vagar para Sienna por um
minuto maldito. Eu deveria estar focado na Matilha, no Baile de Inverno
e no aparecimento do Alfa do Milênio, mas em vez disso, estava
preocupado com umas mensagens?
Meu lobo interior rosnou. Chega. Eu era o Alfa. O Alfa não se
questiona.
Virei-me para olhar para a mesa da sala de reuniões, onde Josh estava
lendo alguns documentos. Tínhamos concordado em passar pelo
processo legal e fazer as assinaturas, mas Jeremy estava atrasado.
— Josh, esqueça a papelada. Chame uma reunião da Matilha. Temos
algumas coisas para discutir. — Josh olhou para mim e acenou com a
cabeça.
Ele caminhou até o telefone da sala, apertou um botão e gritou: —
Conselho para a sala de reuniões. Conselho para a diretoria. Ordens do
Alfa.
Ordens do Alfa. Pode ter certeza.
Sienna

Eu já tinha me jogado debaixo das cobertas várias vezes, mas essa


atividade pouco fez para me confortar. Isso me fez sentir apenas mais
isolada.
Eu precisava de alguém para conversar. Alguém que entenderia essa
ansiedade de separação. Normalmente, esse alguém seria Michelle, mas
não tínhamos conversado desde que compramos o vestido de cerimônia
de acasalamento de Mia.
Eu brinquei com meu telefone por vários minutos, tentando criar
coragem para mandar uma mensagem de texto para Michelle. Meu lobo
interior estava dando cambalhotas na minha cabeça.
Anda logo, vaca.

Sienna: Ei

Sienna: Como você está?

Eu parei. Olhando para a tela. Um minuto se passou, depois dois. Eu


sabia que não podia fingir que nada tinha acontecido, como se não
tivéssemos acabado de ter nossa maior briga. Eu tinha certeza de que, se
não pedisse desculpas agora, ela não responderia.
E então como eu recuperaria minha amiga?

Sienna: Mich, eu sei que não estamos nas


melhores condições agora

Sienna: Mas estou com saudades

Sienna: Eu deveria ter estado lá para você

Sienna: sinto muito

Sienna: De verdade, sinto muito


Eu respirei fundo. Espera. Nada ainda. Então eu segui em frente,
decidindo falar tudo de uma vez. Eu não tinha mais nada a perder.

Sienna: Eu sei que não tenho o direito de


pedir isso a você. Mas há tanta coisa
acontecendo entre mim e Aiden

Sienna: E eu só... preciso muito de uma


amiga

Larguei meu telefone na cama, puxando o cobertor sobre os olhos. Eu


coloquei tudo em aberto, mas parte de mim pensou que ela não iria
responder, de qualquer maneira. Eu não estava lá para ela quando ela
realmente precisava de mim.
Eu fui muito egocêntrica para perceber que ela esteve.
Então, eu não tinha permissão para ficar surpresa, ou chateada,
quando ela não estava lá para mim também. Exatamente quando estava
repetindo isso para mim mesma, senti meu telefone vibrar. Meu coração
saltou do meu peito. Peguei o telefone e virei, vendo a tela iluminada.

Michelle: desculpe, sienna

Michelle: eu preciso de um pouco de espaço agora

Meu estômago caiu como se eu estivesse em uma montanha-russa.


Toda a esperança que brotou dentro de mim... estourou. Como um balão.
Eu sabia que não podia culpá-la. Eu não me permitiria fazer isso.
Mesmo assim, perceber que fui eu quem a afastou... isso me fez sentir
ainda mais isolada.
Era como se todos ao meu redor precisassem de espaço. Longe de
mim.
Olhei para o canto, onde todos os meus materiais de arte não usados
e pinturas semiacabadas estavam acumulando poeira. Pelo menos meu
material de arte estava lá para mim. Saí da cama, estiquei uma nova tela e
coloquei-a sobre um cavalete.
Se todas essas emoções estivessem girando dentro de mim, eu poderia
muito bem colocá-las em bom uso. Já fazia algum tempo desde que
comecei uma nova peça.
Eu não tinha ideia do que aconteceria, mas pelo menos a pintura
forneceria uma distração temporária de como eu estava me sentindo
péssima.
Comecei com preto, o que combinava com o que eu estava sentindo.
Pinceladas longas e onduladas.
Em seguida, um branco cremoso. Macio e delicado.
Roxo, eu precisava de roxo. Dois círculos. Pupilas penetrantes.
Por último, uma moldura esguia e esguia, iluminada pelo luar.
Eu dei um passo para trás. Eu pintei uma mulher. Uma mulher
bonita, mas triste. Ela parecia estranhamente familiar. Por que ela estava
tão assombrada? Eu engasguei quando fiz a conexão.
Era a mulher misteriosa da floresta.
Eu quase me esqueci dela, então por que ela estava olhando para mim
da minha tela agora? Parte de mim se perguntou se ela era mesmo real.
Talvez minha mente estivesse tão desesperada por conexão que estava
fabricando alucinações que pareciam reais o suficiente para o resto de
mim acreditar.
Mas eu sabia melhor do que isso. Ela era real.
Eu podia senti-la, não fisicamente, mas sua energia. Havia algo único
sobre ela. Algo que eu nunca tinha sentido antes.
Aiden
Eu pulei na mesa da sala de reuniões que atualmente acomodava meus
membros do bando. Andei para frente e para trás olhando cada um deles
nos olhos, afirmando meu domínio.
— Todo mundo, ouça, — eu ordenei. — As coisas vão mudar aqui a
partir de agora. O Alfa do Milênio está chegando, e eu preciso que esta
Matilha seja uma frente coesa. Tão forte que nenhuma ameaça pode
romper. Entenderam?
Eu olhei em volta, vendo os rostos solenes acenando de volta para
mim. — Este bando sempre terá minha atenção total, nunca duvidem.
Mas se vocês não confiarem em minhas decisões, todos estaremos em
apuros. Se algum de vocês não sente que minha liderança é digna de sua
obediência, — eu disse, apontando para a porta, — a saída é por ali.
Eu respirei enquanto olhava de rosto em rosto. Ninguém moveu um
músculo. Então continuei. — Se estamos divididos, somos fracos. E se
estivermos fracos, algo como a violação do perímetro acontecerá
novamente. Isso não é uma possibilidade. Vocês entendem? Estamos
falando do Alfa do Milênio. Se não podemos protegê-lo, então não somos
uma matilha de verdade. — Eu lati.
Eu fui até o assento de Josh e me abaixei, então eu estava agachado.
Olhei bem nos olhos dele. — Josh, meu Beta. Preciso saber que você está
totalmente comprometido com seu Alfa. Que você seguirá minhas
ordens, sem fazer perguntas.
Ele olhou ao redor da sala, tentando manter sua expressão neutra.
— Por que você está olhando para eles? Estou bem aqui, — eu disse,
rosnando.
— Sim, meu Alfa, — ele disse, olhos finalmente fixos nos meus — Eu
tenho plena confiança em você como líder da Matilha. Vou te seguir.
— Sem dúvida.
— Sem dúvida, — ele repetiu.
— E o resto de vocês? — Eu perguntei, levantando-me e olhando ao
redor da mesa.
— Sim, meu Alfa! — Eles gritaram.
— Qual Matilha é o mais forte de costa a costa? — Eu gritei, pisando
forte na mesa.
— Matilha da Costa Leste, — eles ecoaram, batendo os pés de volta.
— Mais alto, porra!
— MATILHA DA COSTA LESTE!
A Matilha uivou como os guerreiros que eram, e eu senti uma onda
de orgulho que não sentia há meses. Esta era a nossa casa, e nós a
protegeríamos com nossas vidas.
Meu telefone começou a zumbir e eu o tirei, a adrenalina ainda
pulsando em minhas veias.

Sienna: Um verdadeiro Alfa não deixaria sua mulher sozinha

Droga. Eu estava todo irritado, cercado por pura energia alimentada


por lobo, pronto para ir para a batalha. E lá estava ela, questionando meu
domínio. Questionando minha masculinidade.
Eu não aceitaria.
— Josh, como Beta, você comandará a segurança do Baile de Inverno.
Você está disposto a isso?
— Absolutamente. Com certeza. Alfa, — ele gaguejou. Claramente ele
não esperava uma promoção depois do questionamento que eu acabei de
empurrar para ele.
— Você tomou a iniciativa durante a violação e o confinamento foi
ideia sua. Você merece, — eu disse com um aceno de cabeça. Tinha que
manter os soldados orgulhosos, supus.
— Não vou decepcionar você, — respondeu ele.
— Você não vai, — eu disse de volta. E com um aceno final para o
resto do bando, saí da sala de reuniões com minha cabeça erguida.
Prestes a entrar em um outro tipo de batalha.
Capítulo 22
A TORTA DE MAÇÃ
Sienna

Assim que enviei a última mensagem, me enterrei mais profundamente


sob suas cobertas. Não tinha a intenção de acabar aqui, na cama dele,
mas depois que terminei a pintura... comecei a vagar.
Parecia que eu não aguentava mais, o desejo dentro de mim de
encontrá-lo, de mantê-lo ao meu lado. Então enviei a maldita mensagem
de texto. E agora eu estava em seu quarto, em sua cama, porque era o
mais perto que eu podia chegar dele agora.
O que está acontecendo comigo?
Eu estava enviando mensagens passivo-agressivas. Eu estava
fantasiando sobre abraços. Eu me tornei o tipo de garota que jurei que
nunca seria — o tipo que depende de um cara. A verdade dessa
constatação fez com que as lágrimas começassem a cair. Ótimo. Eu sou
ainda mais um clichê agora.
Eu estava virando o travesseiro, tentando me dar um recomeço e me
acalmar um pouco, quando a porta do quarto se abriu. Eu não tinha
ouvido um carro estacionar na garagem. Eu não tinha ouvido a porta da
frente abrir ou fechar. Mas não importa.
Porque Aiden estava aqui.
Ele rosnou, e o som causou arrepios na minha espinha. Seus olhos
castanhos estavam em mim, eu podia senti-los, mas meus próprios olhos
estavam fechados. Não que eu estivesse com medo de enfrentá-lo depois
do que enviei. Eu era uma dominante. Eu sempre poderia me cuidar.
Não, era o constrangimento que eu não queria reconhecer. A
vergonha que encheu a sala e deixou o ar pesado, dificultando a
respiração.
Porque agora não era só eu que sabia o quanto o Alfa me afetou. Não,
agora o Alfa também sabia.
E então ele estava perto de mim.
— Olhe para mim, — ele rosnou novamente, e eu podia sentir o calor
em suas mãos irradiando pelos meus ombros enquanto ele me puxava
para cima. Eu estava sentada agora, olhando diretamente para ele, e ele
não tinha deixado meus ombros fora de seu alcance. — Você está
chorando. — Limpei imediatamente as lágrimas dos meus olhos, ou
tentei, pelo menos. Eu sabia que se tentasse responder, minha voz me
trairia e ele ouviria a vergonha em alto e bom som. Então, eu apenas me
concentrei em seu rosto. Seu lindo rosto, aquele que era quase demais
para se olhar.
Mas agora, com as mãos nos meus ombros, ele garantiu que meu
olhar permanecesse nele.
Tentei olhar para baixo, mas ele colocou o polegar sob meu queixo e
ergueu meu rosto de volta. — Me conte, — ele ordenou.
— Eu não deveria ter...
— Você não deveria ter questionado minha masculinidade. — Ele
rosnou para mim, tão baixo, tão sincero, que o peso do que eu fiz
permaneceu entre nós. Eu havia questionado o Alfa.
— Mas o mais importante, — ele continuou, — você não deveria ter
estado aqui sozinha. Chorando. Triste. Chega disso.
E em um instante, ele pulou sobre mim e me puxou para ele, de modo
que ficamos deitados de lado, pressionados um contra o outro. Seus
braços me puxaram para perto dele e eu pude senti-lo cheirar meu
cabelo.
— Estou aqui. E estarei aqui. — Sua voz estava bem no meu ouvido e
me fez sentir como se todo o meu corpo estivesse envolto em veludo.
Tudo quente e suave.
Eu me mexi para que ficássemos de frente um para o outro,
entrelaçando meus braços em suas costas. Nossas bocas estavam a
centímetros de distância. Nossos olhos estavam bem abertos, fixos um no
outro.
— Eu odeio isso, — eu disse suavemente.
— Você.. odeia? — ele perguntou incrédulo.
Eu revirei meus olhos. — Isso não. Você não. Mas sim, isso. E sim,
você. Eu não sou essa garota! Eu nunca fui essa garota. E agora estou
chorando, estou com saudades de você e não gosto dessa sensação. De
precisar de você.
— Precisar de mim não é a pior coisa do mundo.
— Com certeza parece.
— Bem, eu poderia ficar ofendido, — disse ele, deslizando o dedo pelo
meu nariz. O contato fez meu corpo estremecer. — Mas, como um
homem de verdade, direi apenas... que nunca vou deixar minha mulher
sozinha. De novo não. Eu prometo.
Algo sobre ouvir minhas palavras saindo de sua boca, sobre a
proximidade de como éramos, todos enredados em seus lençóis, fez a
tristeza de antes desaparecer.
Era como se tudo dentro de mim estivesse me dizendo para deixá-lo
entrar, confiar nele, me entregar.
Ainda era assustador, mas parecia controlável agora. Como se eu
pudesse superar o medo, desde que ele estivesse ao meu redor. Eu olhei
para ele novamente, me sentindo segura e forte com um homem que
tinha sido um estranho poucas semanas atrás.

— Mmmm. — Soltei o som antes que pudesse detê-lo, antes que meus
olhos pudessem abrir. Era tudo muito... muito delicioso. Como uma
torta de maçã quente.
Meus olhos se abriram. Torta de maçã quente.
Tudo voltou para mim. As lágrimas, a mensagem, o rosnado. E o
homem ao meu lado, ainda enrolado em volta de mim, dormindo
profundamente.
O sol brilhava pelo espaço da janela que a cortina não cobria. — Ei, —
eu disse, cutucando o bíceps de Aiden. Ele parecia tão em paz, tão calmo,
que eu não queria acordá-lo. Esta pode ter sido a primeira vez que ele
ficou mais vulnerável do que eu.
Mas eu sabia que ele havia saído do trabalho mais cedo para ficar
comigo ontem e que tinha que cuidar dos negócios.
Afinal, ele era o Alfa. — Aiden. — Eu o cutuquei novamente, e desta
vez ele se mexeu.
Seus olhos se abriram lentamente e ele soltou um grande suspiro,
esticando os braços no ar. — Bom dia, — disse ele, e então me puxou de
volta para ele.
— Eu não consigo... respirar... — eu disse, rindo e me contorcendo
contra ele. Eu podia senti-lo ficar animado enquanto movia meus
quadris, tentando me libertar, mas ele apenas me segurou com mais
força. — Aiden! — Eu soltei e ele me soltou.
Eu me virei para ficar de frente para ele, para poder sentir sua
respiração em minha bochecha. — Você tem que ir trabalhar, — eu disse
suavemente, tentando esconder minhas emoções.
Eu tinha sido carente o suficiente na noite passada. Eu não queria que
ele pensasse que eu seria assim o tempo todo. E eu não queria pensar isso
de mim também.
— Não, eu não sei, — disse ele, saltando sobre mim. Ele estava
montado em mim agora, prendendo minhas mãos acima da minha
cabeça.
— Você não quer? — Tentei lutar com as mãos dele, tentei me libertar
de suas garras, mas era como se ele fosse o Hulk. Ou um Alfa, pensei,
rindo. Claro que ele era mais forte do que eu, mesmo se eu fosse uma
dominante.
— Tirei o dia de folga. Eu te disse, não deixo minha mulher sozinha.
— Ele se abaixou até o meu pescoço e começou a beijar, passando os
lábios pela minha marca.
Eu imediatamente senti a névoa começar a me atingir. Lentamente
no início, mas continuou crescendo, me importunando para reconhecê-
lo.
— Você vai ter que sair em algum momento, — eu disse como uma
forma de me distrair, para distraí-lo. Eu ainda estava menstruada e ainda
não ia fazer sexo com ele.
Repita isso, eu me ordenei.
Eu ainda estou no meu período. Eu ainda não vou fazer sexo com ele.
Mas então ele agarrou a parte de trás da minha cabeça e me içou para
que estivéssemos sentados peito a peito. Ele arrastou os dedos pelo meu
pescoço, ainda molhado com seus beijos, e pela minha clavícula. Ele os
moveu pelos meus braços, todo o caminho até a ponta dos dedos, e a
suavidade de seu toque me fez querer explodir.
— Aiden... — Eu parei, meus olhos fechando. E então ele estava perto
da minha orelha, mordiscando minha orelha.
— Sim? — ele rosnou. Mas não. Eu tive que pensar em uma distração.
Então eu disse a primeira coisa que me veio à mente.
— Eu fiz torta de maçã.

Torta de maçã no café da manhã. Em frente a um Alfa sem camisa. Eu


poderia me acostumar com isso, pensei.
— Está deliciosa, — disse ele, enfiando o garfo em outra fatia, sua
terceira fatia — eu estava contando — mas não me importava que ele
estivesse comendo a maior parte da torta. Eu estava com fome de outra
coisa.
Pare com isso, Sienna.
Eu o observei mastigar bocado após bocado, mal parando para
respirar. Eu gostava de cozinhar para ele. Gostei de vê-lo curtir as coisas
que eu fiz. Parecia íntimo. Como se ele estivesse gostando de mim.
— Sério, como você sabia que este era o meu favorito? — ele
perguntou, já colocando outra fatia em seu prato.
— Jocelyn me contou.
— Vocês duas andam fofocando sobre mim? — ele perguntou,
mastigando, um sorriso no rosto.
— Tire suas conclusões. — Isso foi ousado, mesmo para mim, e Aiden
deixou o garfo cair em seu prato antes de pular sobre a mesa e me jogar
no chão. Eu estava rindo tanto que não conseguia recuperar o fôlego.
— Respondona hoje, né?
Mais uma vez, minhas mãos estavam presas atrás de mim, mas desta
vez ele tinha uma mão livre para fazer cócegas em mim. Seus dedos
cobriram minha caixa torácica e achei que fosse desmaiar.
— PARE! — Tentei gritar, mas soou mais como uma risada. — Se
não...
— Ou então o quê? — ele rosnou, e eu senti a névoa ressurgir.
Ele estava entre minhas pernas e comecei a mover meus quadris
contra ele sem pensar nisso. Ele percebeu, seus dedos fazendo cócegas
diminuindo, me tocando de uma maneira diferente. Ele tirou a alça da
minha blusa do meu ombro e beijou o local onde estava.
Esta é minha chance. Com um movimento rápido, eu libertei minhas
mãos de seu aperto desavisado e nos virei para que eu fosse a única
montada nele. Suas sobrancelhas se arquearam, surpreso com minha
força ou minha iniciativa ou qualquer outra coisa.
— Ou então isso — eu disse, me abaixando para beijá-lo. Eu o beijei
suavemente, brevemente, e então me movi mais abaixo de sua boca.
Suas mãos estavam nas minhas costas, me empurrando para mais
perto dele, e a Bruma estava torcendo por eles.
Não. pensei, então peguei suas mãos nas minhas e as tirei, desta vez
prendendo suas mãos acima dele. Algo sobre se sentir no controle estava
me deixando ainda mais quente. E eu podia sentir que isso tinha o
mesmo efeito sobre ele.
— Sabe, — ele começou, sua voz cheia de desejo, — se você é
realmente minha mulher, e eu realmente sou seu homem, então você
tem que me marcar também.
No próximo segundo eu estava em seu pescoço, meu instinto
primordial garantindo que todos soubessem que ele era meu. Quando
terminei, olhei para o meu trabalho. Essa foi a primeira vez que marquei
alguém, e tinha sido um Alfa. Eu me sentia selvagem de orgulho e
luxúria.
Então eu me abaixei ainda mais, deixando minhas mãos percorrerem
seu peito musculoso, sobre seu abdômen tenso. Comecei a beijar um
caminho para baixo.
— Sienna, — disse ele, em algum lugar entre um gemido e um aviso.
Eu estava na cintura de sua calça de moletom quando olhei para ele.
— Eu quero fazer isso. Por você.
O olhar que ele me deu depois que eu disse isso foi o suficiente para
fazer uma lenha molhada acender o fogo.
Capítulo 23
A FEIRA
Sienna

Parte de mim não conseguia acreditar no que estava para acontecer. O


que eu estava prestes a fazer. Esta foi a primeira vez que estive tão perto
de tocar um homem e me senti pronta.
Parecia certo.
— Eu quero fazer isso. Por você, — eu disse, e seu olhar perfurou-se
em mim. Bem dentro de mim. Minha Bruma estava com fome e, se eu
não conseguisse cumprir tudo, isso daria certo. Então eu abaixei meus
lábios em seus quadris e continuei deixando beijos suaves ao longo da
borda de sua calça de moletom. E então meus dedos lentamente
puxaram o cós para baixo até que eu pudesse ver tudo dele.
E quando eu pude, minha respiração engatou na minha garganta. Ele
era grande e largo, exatamente o que você esperaria que um Alfa se
parecesse. Eu já tinha assistido pornografia antes, claro, então sabia o que
era normal para as estrelas pornôs terem. Mas vendo de perto, com um
homem que eu conhecia — um homem de quem gostava — era diferente.
Muito diferente.
Corri meus dedos ao longo dele primeiro, observando-o ficar cada vez
mais duro.
— Merda, Sienna, — Aiden murmurou. — Você já...?
— Não, — eu disse suavemente, respirando ar quente nele. E então eu
coloquei minha língua para fora, provando-o. Eu ouvi Aiden soltar um
suspiro e tomei isso como motivação para colocar o topo dele em minha
boca. Eu chupei suavemente por alguns momentos, e então tomei mais
dele. Tanto quanto pude.
Eu estava me movendo para cima e para baixo em um ritmo. Eu não
tinha feito isso antes, por si só, mas era uma garota de dezenove anos. Eu
não era surda para ouvir histórias sobre sexo oral dos meus amigos e,
dessas, eram muitas. Então, eu tinha quase certeza de que sabia
exatamente o que fazer, e pelo jeito que ele estava respondendo, eu não
estava nada mal.
Ele estava ficando mais excitado. Eu gostava de ser responsável por
isso. Era bom deixá-lo louco.
Depois de mais alguns minutos disso, senti suas mãos alcançarem
minha nuca. Ele estava tentando me tirar de cima dele. Eu sabia por quê.
Ele não queria que eu engolisse o que viria a seguir. Mas eu queria.
Não, eu precisava. Eu queria provar tudo dele, conhecer cada pedacinho
do que ele era.
Então, dei um tapa em suas mãos e movi minha cabeça para cima e
para baixo ainda mais rápido, usando minha língua para girar em torno
dele. Demorou apenas alguns segundos, mas então ele estava gozando, e
uma substância espessa e salgada, de gosto não ruim, encheu minha
boca.
Eu engoli e olhei para ele, para o homem que foi o primeiro a entrar
em minha boca daquele jeito.
Ele estava recuperando o fôlego, mas seus olhos estavam dançando.
Ele me puxou para perto dele e colocou uma mecha de cabelo atrás da
minha orelha.
— Você é espetacular, — disse ele, a palavra de alguma forma
contendo mais lisonja do que todos os elogios que eu já recebi juntos.
Aiden
Josh: alfa se apresse

Josh: já estávamos todos aqui

Aiden: Estou indo


Josh: alfas não se atrasam

Josh: 👀lol

Sienna tinha acabado de fazer minha cabeça explodir. Não havia outra
maneira de expressar isso. Claro, eu sabia que ela era gostosa pra cacete.
Essa nunca foi a questão.
Mas sabendo o quão inexperiente ela era, o quão inocente ela parecia
ser, eu não esperava isso. Nem mesmo as garotas que já tinham muita
experiência fizeram eu me sentir assim.
Ela estava no quarto de hóspedes se preparando agora. Eu podia ouvi-
la se mexendo ali, e minha imaginação estava pensando nela se vestindo.
A maneira como seu corpo parecia completamente descoberto, a
maneira como ela parecia enquanto puxava uma calcinha para cima...
Pare, eu me ordenei. Era como se eu não conseguisse me controlar
quando estávamos na mesma casa. Deve ser a Bruma.
Eu coloquei um suéter e depois me dirigi para o corredor, batendo
uma vez na porta que Sienna estava atrás. — Sienna? Pronta?
Nem mesmo um segundo depois, a porta estava se abrindo e lá estava
ela. Em uma blusa preta elegante e jeans, o cabelo ruivo caindo sobre os
ombros. Suas curvas... a maneira como o tecido se agarrou a ela de todas
as maneiras certas... era demais. Eu rosnei, puxando-a para mim.
— Não vamos. Vamos ficar aqui e... — Eu parei, minha sugestão
persistindo entre nossas respirações pesadas.
— Ok, Sr. Alfa. — Ela revirou os olhos. — Como se você pudesse
perder a feira.
Ela estava certa. Eu não podia.
— Se dependesse de mim, ficaríamos aqui o dia todo. Foda-se a
oportunidade de foto. — Eu disse, beijando-a.
— Foda-se a oportunidade de foto, — disse ela de volta, olhando-me
nos olhos. Mas não conseguimos. Porque eu era o Alfa e a feira era o
evento pré-baile de Inverno que reunia toda a comunidade. E o que era
uma comunidade sem seu líder?
Sienna

No segundo em que nos aproximamos da feira, senti meus nervos


dançando na minha corrente sanguínea. Eu nunca tinha sido uma pessoa
tão nervosa, nunca em toda a minha maldita vida. Mas eu estava
segurando a mão do Alfa, morando em sua casa. Então, eu não era mais
apenas uma adolescente normal.
Eu era a garota ao lado de Aiden Norwood. A garota que seria
examinada e observada, que seria assunto de fofoca, até que todos
parassem de se importar.
E eu aposto que demoraria um pouco para que todos parassem de se
importar.
Tínhamos acabado de chegar aos jardins fora da feira, e fiquei
surpresa. Alguém havia colocado luzes por entre as árvores, dando ao céu
do crepúsculo um lindo brilho.
Mesmo daqui eu podia ver como estava lotado. Enquanto o Baile de
Inverno era o principal evento da temporada de férias todos os anos, a
feira era a versão para toda a família que levava todos da cidade para
beber chocolate quente e jogar carnaval. Algo sobre estar aqui sempre me
fazia sentir como uma criança.
Então eu senti minha mão sendo apertada e minha mente se voltou
para o homem ao meu lado. O homem que enviou arrepios na minha
espinha uma e outra vez. E de repente eu não me sentia mais criança.
— Está pronta? — ele perguntou, olhando para mim.
Eu dei a ele um aceno de cabeça. Eu estava pronta — Sienna Mercer,
se apresentando para o dever de papel cerimonial. E então ele estava me
levando pelos jardins, por entre as pessoas de todas as idades rindo e se
amontoando, e me levando direto para a mesa sob a tenda de dossel.
A mesa que abrigava toda a elite da Matilha, incluindo Josh e Jocelyn.
Eu os vi dividindo uma cadeira — bem, Jocelyn tratando o colo de
Josh como uma cadeira, mais especificamente — e eles acenaram para
nós.
— Finalmente. Eu me pergunto por que eles demoraram tanto. —
Josh piscou para Jocelyn e eu senti minhas bochechas queimarem.
— Cuidado, — Aiden ordenou a ele, colocando um braço protetor em
volta dos meus ombros. Aproximei-me dele, gostando do calor.
— Monica do Matilha News estava procurando por você. Ela quer uma
entrevista, — Josh disse para Aiden, e Aiden apenas balançou a cabeça.
Ele pegou algumas xícaras de chocolate quente do bar atrás da mesa e me
entregou uma antes de me guiar de volta ao centro da feira.
— Espero que você não se importe que estou puxando você comigo
para fazer entrevistas, — ele rosnou em meu ouvido.
Algo sobre o jeito que ele disse fez parecer sexy, embora fosse um
assunto bem mundano. Eu olhei para ele, para a maneira como seu
cabelo caía tão forte, para a nuca em suas bochechas.
Havia algo tão sexy sobre ele o tempo todo. E então ele me beijou, no
meio da feira, rodeado de famílias. E tudo que eu conseguia pensar era,
deixe-os ver.
O flash da câmera me tirou do beijo. — Ei, Alfa, aqui!
Virei-me para encontrar a origem da combinação flash-grito e vi uma
mulher baixa, seu cabelo escuro encaracolado parecendo um vulcão em
erupção em todas as direções de seu couro cabeludo. Mesmo que ela
estivesse parada, eu poderia jurar que ela estava se movendo a uma milha
por minuto.
— Monica, — Aiden a cumprimentou, estendendo a mão para um
aperto. Ela apertou com gosto, e eu pensei ter visto um rubor subindo
por suas bochechas.
— Diga-me, diga-me, — disse ela, olhando entre ele e eu. — É sério?
— Achei que você queria uma entrevista sobre a feira?
Ela acenou com esse sentimento. — Feiras vendem cacau. Sexo vende
jornais. — Ela soltou uma piscadela e uma gargalhada de sua própria
piada, e Aiden ergueu a sobrancelha para mim antes de se virar para ela.
Ele tirou a jaqueta e, puxando a gola do suéter para longe do pescoço,
expôs a marca que eu tinha dado a ele na noite anterior.
Monica engasgou e eu mal me impedi de fazer o mesmo. E então o
calor subiu para minhas bochechas, me enchendo com um tipo distinto
de orgulho, que deixou claro que eu era desejada. Pelo Alfa.
— Então, está fechado? — Monica pressionou. Eu endireitei meus
ombros. Eu não estava revelando nada. Este era o seu mundo, sua
plataforma. Ele poderia dizer o que quisesse.
— Nada é certo neste mundo, — disse Aiden.
— Então, pode haver espaço para outra dama?
Com essa pergunta, Aiden me puxou para perto dele, envolvendo os
braços em volta do meu peito por trás. — Neste momento, esta é toda a
dama de que preciso.
Monica rosnou — sim, rosnou — e antes que ela pudesse fazer outra
pergunta, Aiden pegou minha mão e me guiou para longe.
— Eu vou te encontrar mais tarde para essa entrevista! — ele falou
por cima do ombro para ela.
E então estávamos na beira da feira, perto das árvores.
— Desculpe por isso, — ele disse, seus olhos procurando os meus. —
Você foi ótima.
— Eu? Eu não disse uma palavra.
— Exatamente. Foi profissional. Que tal eu compensar você?
— E como você planeja fazer isso?
Ele examinou a feira em busca de uma resposta e então me virou para
que eu estivesse olhando para a mesma coisa que ele. A roda gigante.
— A roda-gigante é, na verdade, minha favorita, — eu disse. Era
verdade. Todos os anos, era o que eu mais esperava. Algo sobre estar
acima do mundo, alto o suficiente para se sentir como se estivesse acima
de todos os perigos, todas as ameaças, era revigorante. — Você pode tirar
sarro de mim por isso, se quiser.
— Tirar sarro de você por amar a roda-gigante?
— Eu não disse que amo isso. Eu simplesmente gosto mais. — Ele
balançou a cabeça e sorriu para mim, como se não pudesse acreditar que
eu era um humano totalmente funcional.
— Vamos, — disse ele, puxando-me para lá.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, vi algo com o canto do
meu olho. De volta às árvores.
Um rosto. O mesmo rosto que eu tinha visto antes na floresta.
A mulher com olhos roxos misteriosos, a beleza de outro mundo. O
tipo de rosto que você não pode simplesmente esquecer. Mas então, ela
se foi.
— Você viu aquilo? — Eu perguntei, de repente sem fôlego.
Aiden apenas olhou ao redor com curiosidade. — O que?
— A mulher!
— Que mulher?
— Ela estava bem ali!
— Sienna, você está bem?
Capítulo 24
A CONFISSÃO
Sienna

Estávamos nos aproximando da roda-gigante e eu tentava tirar a imagem


da mulher de olhos roxos da minha cabeça. Aiden claramente não a tinha
visto, e se eu a trouxesse de novo, tinha certeza de que ele iria me
internar em uma ala psiquiátrica ou algo assim.
— Vamos lá, — eu disse, puxando Aiden até o adolescente que
comandava a bilheteria da roda gigante.
Enfiei a mão na bolsa para comprar um ingresso para nós dois, mas o
adolescente apenas ergueu a mão.
— Alfa, cara, você é bom, — disse ele para Aiden. Então ele acenou
para mim. — Ela também.
Huh. Parecia que andar com o Alfa tinha algumas vantagens.
O adolescente nos acompanhou além da linha — eu me virei para
avaliar a reação de Aiden e ele apenas deu de ombros — e então
estávamos entrando em nossa própria cabine particular. Eu deslizei pelo
banco e Aiden veio se sentar ao meu lado. O adolescente nos ajudou a
abaixar a barra, certificando-se de que estávamos seguros.
— Aproveite a roda do amor, — disse ele com uma piscadela, e então
ele desapareceu de volta na multidão.
— Não foi chamado de Roda do Amor no ano passado, — eu disse a
Aiden, sentindo um rubor espalhar-se por minhas bochechas antes que
eu pudesse impedir.
— Talvez algo esteja diferente este ano, — ele disse, e sua mão se
entrelaçou com a minha. Antes que eu pudesse ler muito sobre isso,
começamos a nos mover. Nossa cabine subiu rapidamente até que
estávamos bem no topo da roda, olhando para a cidade abaixo de nós.
— É lindo.
— Isto é. — Eu olhei para ele quando ele disse isso e tive uma
sensação esmagadora de que ele não estava falando sobre a vista. Eu olhei
para o meu colo. Eu ainda não estava confortável com toda a atenção.
— Quem é Emily? — Ao som de seu nome, minha cabeça chicoteou
para cima. — Eu ouvi você dizer o nome dela enquanto você estava
dormindo. Você ficava repetindo.
Seus olhos procuraram respostas em meu rosto, mas eu não estava
pronta para falar sobre isso. Eu não tinha falado sobre isso com ninguém
antes.
— Eu não posso... — eu disse, não querendo mentir para ele.
Ele suspirou e olhou para a vista, e eu pensei que o tinha perdido. Mas
então ele começou a falar.
Aiden

Eu ouvi Sienna choramingando em seu sono na noite passada, quando eu


a estava segurando em meus braços. Eu podia sentir seu corpo tremendo
e não conseguia ver as lágrimas na escuridão, mas não ficaria surpreso se
houvesse algumas em suas bochechas.
Ela chamou por uma Emily, uma e outra vez, alto o suficiente para
que eu fosse acordado. Eu não me importei, é claro. Talvez fosse o Alfa
em mim, mas eu gostava de me sentir necessário.
Eu a abracei com mais força e alisei seu cabelo até que ela parou de
choramingar, e então caí no sono. Eu tinha quase certeza de que ela tinha
estado profundamente adormecida durante a coisa toda, mas eu sabia
que esse tipo de emoção inconsciente não vinha apenas de algum
personagem arbitrário em sua imaginação. Havia mais coisas sobre o que
ela choramingava do que eu sabia, e minha curiosidade me dominou.
Então, quando estávamos trancados em nossa cabine na roda gigante,
olhando para a feira, lá embaixo, eu trouxe o assunto à tona. Algo mudou
imediatamente dentro dela. Ela se afastou um pouco de mim, mas não
acho que ela fez de propósito. Acho que o instinto dela, quando alguém
lhe pergunta algo pessoal e importante, é criar espaço.
Sendo Alfa, eu aprendi há muito tempo como colocar aqueles ao meu
redor à vontade. Uma coisa que meu pai me ensinou quando eu era
jovem foi nunca esperar nada de graça. — Dê algo para conseguir algo, —
ele dizia, e essa ideia ficou comigo.
Então, na roda-gigante, preparei-me para dar algo.
— Eu tinha um irmão, — comecei, olhando para longe. Eu podia
sentir seu olhar cair sobre mim quase imediatamente. — O nome dele
era Aaron.
— Tinha? — ela engasgou. Eu olhei para ela agora, balançando a
cabeça.
— Ele era mais velho do que eu. Por alguns anos. Ele sempre soube
que eu o ultrapassaria como um Alfa, disse que podia sentir isso o tempo
todo que éramos crianças. Mas ele não se importou. Ele me atacaria e
vinha pra cima mesmo assim. — Eu sorri, lembrando-me dos tempos que
passamos juntos enquanto cresciam. Éramos apenas nós dois e nossos
pais, então sempre fomos próximos.
— O que aconteceu? — Sienna sussurrou.
— Ele conheceu sua companheira, — eu disse. — O nome dela era
Jen. Ela era humana. Uma cientista. Linda e inteligente, ela era sua
combinação perfeita. Eu nunca o tinha visto tão feliz como quando ele
estava com ela.
Era verdade. Vê-los juntos foi o que me deu a inspiração para manter
minha esperança intacta — a esperança de que, um dia, eu encontraria
minha companheira também.
— Então, um dia, no laboratório em que ela estava trabalhando,
houve uma explosão. Estava na estação ao lado dela, uma mistura de
produtos químicos que não deveriam estar juntos. Um acidente. Erro
humano, eles disseram. Mas era tarde demais. Ela se foi.
Eu vi os olhos de Sienna se encherem de lágrimas. Ela estava
esperando que eu terminasse, em silêncio.
— Você sabe o que acontece quando perdemos nosso companheiro. O
coração de Aaron não aguentou. Quebrou-se em pedaços,
desintegrando-se dia após dia, até não sobrar mais nada. E então ele se
foi também.
Sienna envolveu a mão na minha, puxando-a para o colo. Então ela
olhou para mim, seus olhos de alguma forma me proporcionando algum
tipo de alívio. Como se ela estivesse acalmando minha alma sem dizer
uma palavra.
— Sinto muito, — disse ela depois de um momento. E então ela
respirou fundo, como se estivesse se preparando para enfiar a cabeça em
um novo mundo. Um que ela não tinha estado antes.
Sienna

Respirei fundo e seu rosto encheu minha cabeça. Algo sobre a maneira
como Aiden tinha sido tão aberto comigo, tão cru, deixou todas as
minhas memórias livres. Como se ele tivesse sido capaz de dizer a eles
que estava tudo bem — não precisávamos ter medo, não mais.
A última vez que vi Emily, foi no dia seguinte. Eu não sabia por que
ela estava com tanto frio naquela manhã, por que ela estava hesitante
sobre eu ir.
Ela teve um grande encontro na noite anterior, com o cara que ela
estava por um tempo.
Ela estava nervosa, com certeza, mas tínhamos quinze anos. Que
garota não estava nervosa para ir a um encontro? Eu a ajudei a se
preparar, garantindo que sua roupa fosse sexy o suficiente para chamar
sua atenção.
Eu até trouxe a loção com glitter de Selene, o tipo que, quando
aplicado, deixava um rastro de brilho para trás. Eu ajudei Emily a esfregar
em seu pescoço e peito e então dei a ela um sorriso de aprovação.
— Você tá super comível — eu disse, rindo. E então eu a mandei
embora.
Ela me mandou mensagens algumas vezes quando eu estava jantando
com minha família, dizendo que ele estava sendo muito insensível, muito
agressivo, mas eu não pensei em nada disso. Eu era uma dominante,
então sempre pensei que todos ao meu redor deveriam ser também.
Quer dizer, eu não poderia imaginar um companheiro submisso. Na
minha opinião, essa era a pior opção possível.
Adormeci cedo e, quando acordei na manhã seguinte, meu telefone
mostrou que tinha quatro ligações perdidas dela. Novamente, eu não
liguei muito. Achei que minha amiga quisesse falar sobre como ela teve
seu primeiro beijo ou como ele era sexy. E eu ainda não tinha uma queda
por ninguém, então não fiquei tão chateada por ter perdido as ligações.
Mas então eu apareci na casa dela, como fazia todos os sábados. E sua
mãe me cumprimentou na porta, dizendo que Emily não estava se
sentindo muito bem. Mas eu fui para o quarto dela de qualquer maneira,
a vi escondida sob as cobertas, a maquiagem da noite passada por todo o
rosto.
— O que foi? — Eu perguntei, correndo até ela.
— Nada. — Sua voz estava cortada e seus olhos pareciam vagos. Mas
então eles viraram para mim, e ela empurrou os cobertores de cima dela.
Meus olhos se moveram sobre o brilho em seu peito, mas também vi as
marcas de garras, o rastro de sangue seco.
— Emily! — Eu chorei, agarrando suas mãos. — Você está bem? O que
aconteceu?
— Ele pensou... — ela começou, e seus olhos se encheram de
lágrimas. — Ele também me achou comível.
Eu tinha deixado minha melhor amiga sair com um cara que queria
uma coisa. E quando ela não quis dar a ele, ele pegou de qualquer
maneira.
— Ela foi estuprada, — eu disse, finalmente olhando para Aiden.
Descrevi os detalhes da minha memória em voz alta, pela primeira vez. —
Eu a incentivei a sair com o cara que a estuprou. E eu não estava lá
quando ela pediu ajuda.
Ele estendeu a mão para enxugar uma lágrima que havia caído. —
Não é sua culpa, — disse ele. — Aquele lobisomem de merda é quem
deveria estar chorando.
— Ela se matou. Dois dias depois. — Eu olhei diretamente para
Aiden, querendo ver como ele reagiria. Era algo que eu mantive dentro
por tanto tempo, e eu não sabia como compartilhar isso me faria sentir.
Ele respirou fundo, fechando os olhos. Quando eles abriram
novamente, eles estavam vermelhos. Como se ele estivesse sentindo a
dor junto comigo.
— Eu entendo, — disse ele, e levou minha mão aos lábios. Ele a beijou
suavemente, tão suavemente que me perguntei se, se meus olhos
estivessem fechados, eu teria sentido.
— O que?
— Porque você está mantendo sua virgindade. É sagrado e deve ser
respeitado. Vou respeitar isso, Sienna. Vou respeitar você.
Eles não escrevem livros didáticos para esse tipo de conversa, mas se o
fizessem, essa seria a resposta que toda criança deveria memorizar.
Eu senti a facilidade surgir em mim, como se todo o estresse que eu
estava nervosa em sentir na primeira vez que tive a conversa com Emily
tivesse desaparecido. E foi por causa do homem sentado ao meu lado,
segurando minha mão.
O Alfa.
O Alfa fez meu coração bater mais devagar, me fez sentir em casa em
uma cabine a trinta metros do chão. E quando a roda começou a girar,
quando fomos baixados de volta para onde pertencíamos, não pude
deixar de pensar que Aiden...
Aiden talvez pudesse ser o companheiro que eu procurava.
Capítulo 25
A CONEXÃO
Sienna

— Sienna, você pode pegar o champanhe?


Olhei para o outro lado da sala de jantar para Aiden, que estava
trazendo um prato de queijo e biscoitos para a mesa. Quase me belisquei.
Parecia surreal. Estávamos dando um jantar, nosso primeiro jantar, como
um casal. Não um casal acasalado, é claro, mas um casal para a
temporada.
A coisa toda de acasalamento... isso levaria um pouco mais de tempo
para descobrir.
Eu ainda não tinha tido o momento que estava procurando, aquele
que sempre assumi que viria quando visse meu companheiro. Selene
disse que às vezes leva mais tempo para perceber.
Como com Mia e Harry. Eles foram melhores amigos por anos antes
de acasalar. Mas eu precisava ter certeza de que Aiden era meu
companheiro ou não antes de decidir algo drástico. Eu estava esperando
por um sinal.
— Claro, — eu gritei de volta para ele, entrando na cozinha e
puxando uma garrafa de champanhe da geladeira. Enquanto eu
caminhava de volta para a sala de jantar, a campainha tocou.
— Lá vamos nós, — ele gritou. E então ele abriu a porta.
Houve abraços e beijos, exclamações e risos, e quando a porta se
fechou novamente, havia mais quatro rostos familiares na sala.
— Sienna, querida, — Jocelyn me cumprimentou.
— Você está linda.
Eu abracei Josh e então beijei Mia e Harry nas bochechas. — Gente,
obrigado por terem vindo! — Exclamei para o casal recém-acasalado.
— Não perderíamos, — disse Harry, e eu não pude deixar de me
sentir muito feliz por meu amigo. Harry era um cara tão bom, e eu sabia
que eles realmente deveriam ser. Nesse momento, Erica agarrou meu
braço, forçando-me a girar, e vi que ela havia localizado a garrafa de
champanhe.
Em um movimento rápido, ela estourou, entregou a cada um de nós
uma taça de champanhe e despejou uma boa dose de espumante nos
copos. — Saúde! — ela disse, e nós trouxemos nossas taças juntas. Eu
olhei para Mia e nós trocamos um olhar. Desde que Erica foi a única de
nós a ficar sem uma verdadeira captura para a temporada, ela tem bebido
muito mais. Não achei que fosse motivo de preocupação, mas ainda
esperava que ela encontrasse alguém. Olhei por cima do ombro de Harry
e encontrei Aiden conversando com Rhys, um de seus amigos mais
antigos.
— Ei, Aiden, temos champanhe aqui! — Eu gritei e observei enquanto
seu pequeno grupo veio se fundir com o nosso. As apresentações foram
feitas, conforme meu plano. Aiden tinha mencionado que Rhys estava
solteiro para a temporada, então eu queria que ele e Erica conversassem.
— Erica, acho que Rhys quer uma bebida.
— Você? — Ela perguntou a ele. Ele sorriu para ela, pegando uma taça
da mesa e a estendendo para ela servir. Bom.
Senti um toque em meu ombro e me virei para encontrar Mia. —
Onde está Michelle? — ela perguntou.
— Não sei. Achei que ela estava vindo com vocês.
Mia balançou a cabeça. — Ela deveria estar vindo com Ross. Tentei
ligar para ela antes de sairmos, mas ela não atendeu.
— Esquisito. Eles provavelmente vão se atrasar. Você sabe como eles
são quando estão juntos.
— Não posso ficar cinco segundos sem... — Olhamos um para o outro
e explodimos em risadas. Algo sobre o champanhe e ter todos os meus
amigos juntos, com Aiden, meio que me deixou tonta.

Michelle: estou aqui


Sienna: ??

Sienna: Entre, boba

Michelle: você pode sair

Sienna: Mich

Sienna: O que está acontecendo

Michelle: por favor, Siena

Michelle: eu preciso que você venha

Eu escapei da sala de jantar enquanto todos estavam se sentando à


mesa, fechando a porta da frente suavemente atrás de mim. — Michelle?
— Gritei baixinho, não querendo que ninguém ficasse preocupado.
Eu não vi ou ouvi nada no começo. Mas então, alguns segundos
depois, vi algum movimento na beira do gramado. Michelle saiu da
sombra de uma árvore.
— Estou aqui, — disse ela, e percebi que ela estava chorando.
Imediatamente minha mente foi para o pior — o que aconteceu com
Emily e como eu tinha chegado tarde demais para isso também.
Corri até ela. — Você está bem? O que aconteceu? — Eu perguntei tão
rapidamente que as palavras eram incoerentes.
— Ele...
— Shhh, venha aqui. Respire fundo, — eu disse, guiando-a para a
grande pedra ao lado da garagem. Nós duas nos apoiamos nela enquanto
eu esfregava suas costas. Observei Michelle, geralmente muito segura,
durona e franca amiga, levantar a mão trêmula para enxugar as lágrimas
da bochecha. — Ele te machucou?
Ela olhou para mim, seus olhos cheios de dor, mas um tipo diferente
de dor do que Emily tinha sentido naquele dia.
— Ele me largou.
— O que?
— Por outra garota. Ele disse que ela... ela era mais gostosa. E melhor
na... na cama. — Eu mal conseguia entendê-la através das fungadas, mas
sabia que era a pior coisa que Michelle podia ouvir. Ela estava
acostumada a conseguir o que queria, especialmente com os meninos e
Ross era um cara em quem ela confiava.
— Eu sinto muito. Sinto muito, Mich, — eu disse, abraçando-a. Ela
me abraçou de volta. Então ela se afastou.
— Eu não acho que posso entrar...
— Pare com isso. Claro que você vai entrar.
— Olha pra mim, estou um desastre.
— Se você for para casa, ele ganha. Você precisa ter uma noite
divertida. Você merece.
Ela sorriu para mim. — Senti sua falta, Si, — ela disse. — Sinto muito
por termos...
— Sim. Eu também, — eu disse, agarrando a mão dela. — Podemos
não brigar mais? Nunca mais?
— Prometo, — ela disse, e nós duas rimos. Então ela se levantou,
jogou os ombros para trás e tirou o cabelo do rabo de cavalo.
— Como estou?
— Linda, — eu disse. E então voltamos para dentro.
Aiden

Não parecia que conhecia Sienna há apenas algumas semanas. Olhando


ao redor da sala de jantar, vendo todos os nossos amigos se misturando,
parecia... normal. E agradável.
— Ei, cara, este gouda é goudci, — Josh disse, batendo no meu ombro
enquanto mastigava um pedaço de queijo. Eu não pude deixar de rir.
Algumas coisas mudaram, mas outras... nunca mudariam.
— Você quer outra bebida? — Eu perguntei a Josh.
— Cerveja, — ele respondeu, então me levantei para pegar algumas
cervejas na geladeira. Josh era meu amigo mais antigo, meu melhor
amigo e, agora que deixamos algumas coisas claras na semana passada,
um Beta em que eu podia confiar.
Quero dizer, ele sempre foi um cara em quem eu podia confiar. Ele
sabia tudo o que tinha acontecido com Aaron, como isso me deixou
confuso por um tempo.
Mas agora, com toda a estranheza acontecendo ao redor da Matilha
— com o incidente com a ameaça desconhecida e agora o surgimento do
Alfa do Milênio — eu finalmente senti que seria capaz de me apoiar nele
de uma forma transparente para assuntos relacionados aos problemas de
trabalho também.
Ele era mais inteligente do que seu comportamento de lobisomem
playboy deixava transparecer, afinal.
Peguei algumas cervejas e as trouxe de volta para a mesa. Levamos as
garrafas à boca — parte de ser um lobisomem significava que você nunca
precisava de um abridor de garrafas — e prendemos nossos dentes em
volta da tampa.
Josh abriu em menos de um segundo, mas por algum motivo, o meu
não estava se mexendo.
— Qual é, mano, o que está acontecendo?
Eu acenei para ele, tentando mexer a tampa, mas ainda nada. As
pessoas estavam começando a notar.
— Ele está fraco! — Josh berrou do assento ao meu lado, e agora
todos na mesa estavam me observando me contorcer contra a tampa.
— Vamos, Alfa! — Rhys gritou do outro lado da linha.
— Alfa versus tampinha! Alfa versus tampinha! — Josh cantou,
batendo as mãos contra a mesa.
Agora eu estava chateado. Peguei a tampa entre meus molares
traseiros e a arranquei, cuspindo-a sobre a mesa. Josh me deu um tapinha
nas costas.
— Olha só você, amigão. Achei que você estava realmente perdendo o
seu poder por um segundo. — Eu olhei para ele antes que ele fosse mais
longe. Claro, não estávamos no trabalho ou na Casa da Matilha, mas eu
ainda era seu maldito Alfa. Ele recuou para seu assento.
— Era uma garrafa quebrada, — eu murmurei.
— Sim, ou talvez ela não seja sua companheira.
Antes que ele pudesse ir mais longe, eu estava em sua garganta. — O
que você me disse?
Ele me olhou, meio nervoso, e então seu olhar disparou ao redor da
mesa. Rhys tinha notado, mas todos os outros ainda estavam
conversando profundamente. Eu recuei, não querendo causar uma cena.
Josh se inclinou.
— Só estou dizendo, se ela fosse sua companheira, você teria toda a
força que você já teve. Você saberia.
Antes que eu pudesse responder, Sienna estava entrando na sala, sua
amiga a reboque. E eu percebi que não a via há algum tempo, que ela
tinha saído da sala.
Para onde ela foi? Por que não percebi?
E assim, Josh entrou na minha mente. Me fazendo me questionar de
um jeito que nunca tinha acontecido antes.
Sienna

Levei Michelle para a sala de jantar, observando enquanto ela se


transformava na garota que eu conhecia. Aquela que mantinha a cabeça
erguida em todas as situações, que se recusava a aceitar qualquer merda
de ninguém.
Eu meu o olhar com os olhos de Aiden. Eu sabia que deveria estar
acostumada com sua aparência agora, a forma como sua luz iluminava
seu queixo marcante e como sua boca se curvava em um pequeno sorriso
que fazia minhas borboletas dançarem.
Mas não estava. Ele ainda me dava arrepios.
— Michelle está aqui, — eu disse a todos na mesa, e todos se viraram
para ver. E então algo que não consegui explicar bem aconteceu.
Foi como uma onda de eletricidade disparada pela sala, mas atingiu
apenas duas pessoas.
O ar ficou mais rarefeito, todo o barulho ficou mudo e Michelle e Josh
foram conectados por alguma corrente de outro mundo. Seus olhos
estavam fixos um no outro com uma intensidade tão distinta que todos
na sala imediatamente souberam o que tinha acontecido.
Michelle e Josh, a primeira vez que se viram, se acasalaram.
Eu não pude deixar de ficar feliz — um tanto egoísta, já que fui eu
quem convenceu Michelle a entrar, e agora eu faria parte de sua história
de acasalamento para sempre. Olhei ao redor da sala, querendo
compartilhar minha alegria, mas então meus olhos pousaram em Jocelyn.
Caramba. Jocelyn.
Lentamente, mas com segurança, todos, exceto Michelle e Josh —
cujos olhos ainda estavam travados — desviaram sua atenção para ela.
Ela sabia o que estava acontecendo. Ela não estava no escuro. De jeito
nenhum. Mas em vez da reação que esperávamos, com lágrimas, gritos
ou dramas, Jocelyn apenas se levantou.
Ela pegou a taça de champanhe em uma das mãos e a ergueu no ar. —
Um brinde. Aos dois novos companheiros, — ela disse, sua voz elegante
como uma cristal. Michelle e Josh tinham saído do transe, e Josh correu
ao redor da mesa para trazer uma taça de champanhe para Michelle.
— A Michelle e Josh, — disse Aiden, e todos ergueram os copos,
fazendo o mesmo.
Eu lancei outro olhar para Jocelyn depois que todos nós nos sentamos
de volta, e eu não pude deixar de me perguntar se havia algo menos
elegante sob a superfície. Ela estava sorrindo e dizendo as coisas certas,
claro, mas o homem com quem ela tinha estado naquela temporada
acabara de se apaixonar por outra mulher, uma mulher que ele nem
conhecia dez minutos atrás, bem na frente dela.
Jocelyn pode ser uma curandeira, mas uma coisa que minha mãe
sempre me disse é que você não pode encher o copo de outra pessoa se o
seu estiver vazio. E se o copo de Jocelyn estava vazio, eu estava me
perguntando quando ela notaria.
Eu esperava que fosse antes de quebrar.
Capítulo 26
O BAILE DE INVERNO
Sienna

Em vez de causar uma cena na noite passada depois que Josh e Michelle
se acasalaram publicamente, Jocelyn apenas aceitou. Ela se levantou à
mesa e ergueu o copo, propondo um brinde ao novo casal. E assim, todos
ficaram à vontade.
A curandeira havia curado.
Mas quando acordei esta manhã, não senti nada curado de forma
alguma. Porque havia um espaço vazio ao meu lado, onde Aiden
geralmente estava. Normalmente eu era a primeira a levantar, então era
mais do que estranho. Ele não tinha acabado de acordar. Ele foi embora.
E então me dei conta: hoje não era um dia qualquer. Hoje era o Baile
de Inverno.
Aiden estaria na Casa da Matilha o dia todo se preparando,
certificando-se de que tudo estava preparado para o maior evento da
cidade do ano. Este foi o baile para o qual todos com mais de dezesseis
anos foram convidados, tanto humanos quanto lobisomens. Era o evento
festivo que reuniu todos para celebrar o ano que passou e para ter
esperança e alegria pelo ano que se aproxima.
E era um espetáculo. Todos se vestiam com esmero, certificando-se
de que seus filhos acompanhantes companheiros fizessem o mesmo. Era o
lugar para ver e ser visto e um evento especialmente popular para os
jovens solteiros em busca de seus companheiros.
Mesmo que nos anos anteriores eu nunca tivesse realmente olhado,
meu subconsciente tinha ficado de olho, só para garantir. Mas este ano
seria diferente. Este ano eu tinha uma mão para segurar — a do Alfa. Se
você tivesse me dito isso há um ano, eu teria rido da sua cara. Mas agora,
o pensamento parecia... certo.
Só então, meu telefone vibrou na mesa de cabeceira. Peguei-o,
olhando para a tela.

Michelle: olá??

Michelle: estou aqui fora

Michelle: to batendo!!!

Ops. Pulei da cama e desci as escadas correndo, abrindo a porta da


frente. Michelle olhou para mim e se dobrou de tanto rir.
— Seu cabelo...
— Cale-se!
Fui até o espelho no corredor e, ao ver meu reflexo, comecei a rir
também. — OK tudo bem. Tá péssimo.
Meu cabelo estava caindo em tufos em todas as direções e eu tinha
uma marca estranha na minha bochecha. Devo ter adormecido na minha
mão ou algo assim.
— Você acabou de acordar?
Michelle me entregou um café e eu balancei a cabeça, tomando um
gole agradecido.
— São dez e meia. Desde quando você dorme até tarde?
Quase cuspi meu café. — São dez e meia?! — Eu perguntei. Como isso
aconteceu?
— Vamos, arraste sua bunda mole pro chuveiro. Selene estará aqui em
breve com os vestidos, e precisamos arrumar nosso cabelo com
antecedência.
Estávamos subindo as escadas de volta quando me virei para Michelle
e fiz a pergunta que vinha pesando em minha mente desde o jantar. —
Você conversou com Jocelyn?
Michelle concordou com a cabeça. — Sim, fomos tomar um café.
— E?
— Não sei o que há com aquela garota, Sienna. Ela é tão... adorável.
Isso me mata.
— O que você quer dizer?
— Quando Ross me largou, eu perdi o controle. Você me viu. Você
deveria ter me visto quando ele me disse. Eu estava tentando nocauteá-
lo. Literalmente. Era tudo apenas raiva cega. Mas Jocelyn... era como se
ela tivesse essa sensação, como se ela tivesse previsto. Ela me disse que o
amor é a coisa mais importante para ela. Que ela está honestamente feliz
por termos encontrado.
— Deus.
— Eu sei. Eu nunca poderia ser esse tipo.
— Não diga isso. Você é gentil, — eu disse, pegando uma toalha e
indo para o banheiro.
— Sim. Meio de uma vadia! — ela chamou do corredor. Eu não pude
deixar de rir. Eu estava tão feliz por minha amiga ter voltado a ser quem
era. E que ela tinha encontrado seu par perfeito.
Tive um bom pressentimento sobre o baile. Quem sabe tudo daria
certo.

— Você parece louca.


— Oh meu Deus, Sienna!
— Deixe ela olhar!
Michelle e Selene me fizeram evitar o espelho enquanto faziam
minha maquiagem e me ajudaram a colocar o vestido, mas agora
estávamos todas em pé na frente dele. Bem, foi o que elas disseram, de
qualquer maneira. As mãos de Selene estavam cobrindo meus olhos.
— Ok, pronto? Um dois três! — Ela tirou as mãos.
De repente, pude me ver de novo e não pude acreditar no reflexo na
minha frente. Era eu, eu sabia que era, mas era muito mais... sofisticado.
E sexy. Não, não só sexy.
Um show.
Michelle havia arrumado meu cabelo para que caísse em ondas suaves
pelos meus ombros, e ela conseguiu fazer meus cachos geralmente
rebeldes caírem suavemente, sem frizz.
O estilo de alguma forma deixou meu cabelo ainda mais vermelho.
Era naturalmente um vermelho profundo, mas agora parecia veludo
vermelho. E estalou contra minha pele.
Passei muitas noites sonhando em ter a pele bronzeada, mas minha
tez nunca cooperou. Mas agora eu não me importava com minha palidez
porque parecia fazer tudo sobre mim se destacar.
Meus lábios pareciam extremamente vermelhos, devido ao batom que
Selene havia escolhido para combinar com meu cabelo. E meus olhos,
meus olhos azuis, pareciam claros como sempre, grandes e brilhantes.
Michelle fez mágica com sua paleta de sombras neutras, fazendo meus
cílios parecerem centímetros mais longos do que antes, também.
E então havia o vestido.
Um dos designs originais de Selene, ela insistiu que eu o usasse esta
noite. — Só não derrame nada nele, ou eu vou te matar, — ela avisou,
mas então ela abriu o zíper da bolsa e eu soube que se eu derramasse
alguma coisa, eu me mataria antes que ela pudesse.
Foi tão lindo.
Era um azul profundo, como safira, e justo, com um decote de gola
alta e sem mangas. A parte de trás estava completamente aberta e o
vestido era tão longo que batia no chão.
Acentuou minhas curvas como nada que eu usei antes. Ele se agarrou
e caiu em todos os lugares certos, e quando coloquei os sapatos de salto
agulha combinando, me senti como uma pessoa completamente
diferente.
— Como você está se sentindo? — Selene perguntou, puxando meu
cabelo para trás dos ombros. Os olhos delas ainda estavam em mim, mas,
novamente, eu não conseguia tirar meus próprios olhos de mim também.
— Parece que não sou eu.
— Oh, é você, Sienna, — disse Michelle, com as mãos na cintura. —
Aiden vai enlouquecer.
— Você é definitivamente a mulhee de um Alfa, — Selene
acrescentou, pegando sua bolsa da cadeira.
— Obrigada. Vocês duas, — eu disse, finalmente me virando do
espelho para encará-las. — Eu não poderia ter feito nada disso sozinha.
Michelle estava calçando seus sapatos plataforma prateados, mas
parou para me mandar um beijo. Ela estava espetacular em um elegante
vestido de cetim preto e um profundo batom cor de vinho, o cabelo preso
em um coque perfeito.
E Selene estava imaculada como sempre, usando um vestido rosa
pastel com fendas ao longo da caixa torácica que só ela poderia tirar.
— Estamos prontas, senhoras? — Selene perguntou, enxugando uma
mancha final de blush em suas maçãs do rosto salientes.
— Prontas! — Michelle exclamou, levantando-se.
As duas olharam para mim. Empurrei meus ombros para trás e ergui
meu queixo.
— Vamos lá, — eu disse.

Aiden: Não vou ter tempo de te ver antes

Aiden: Me encontre lá dentro?

Sienna: Claro

Eu estava tão feliz que nem me importei de entrar no baile sem


Aiden. Eu me sentia invencível, como se nada pudesse dar errado quando
eu estava assim, quando tinha essas mulheres ao meu lado.
Nós estávamos no carro. Selene estava nos levando porque Jeremy e
Josh já estavam na Casa da Matilha também.
Passamos pela cabine do guarda de segurança e ele acenou para que
continuássemos. Todos os anos antes, estacionávamos no
estacionamento normal, aquele pelo qual estávamos passando agora,
onde inúmeras famílias e companheiros estavam começando a
caminhada do carro para o salão de baile.
Mas este ano, Aiden arranjou para nós uma vaga no estacionamento
da Casa da Matilha. Era muito mais perto do salão de baile, o que
tornaria o andar com esses sapatos muito mais suportável.
Selene parou em uma vaga no estacionamento da Casa da Matilha e
saímos do carro, endireitando nossos vestidos. Já era tempo.
Poucos minutos depois, estávamos passando pelas portas do salão de
baile. O lugar estava incrível. Árvores de Natal alinhavam-se nas paredes
e lustres brilhantes pendurados no teto. Cada mesa tinha um candelabro
magnífico no centro, e toda a sala tinha um brilho suave.
Selene encontrou Jeremy quase imediatamente, e ele a pegou em seus
braços, beijando-a intensamente. Então ouvi Michelle gritar e me virei
para encontrá-la correndo em direção a Josh, que vinha em nossa
direção.
Eu podia ouvir o "droga"! Que ele deixou escapar de onde eu estava.
Senti uma pontada de ciúme, olhando em volta para ver se conseguia
localizar meu Alfa. Mas eu não conseguia vê-lo em lugar nenhum e, antes
que pudesse perguntar a Josh, ele e Michelle desapareceram na multidão.
Peguei meu telefone, pensando em mandar uma mensagem para ele,
mas vi que não tinha nenhum serviço lá dentro.
Eu voltei pelas portas, para fora, e estava andando para o lado do salão
tentando encontrar um sinal. Nada ainda.
Então eu andei alguns passos pelo beco ao lado do salão de baile —
olhos grudados no meu telefone — e foi quando eu vi algo.
Minha cabeça se levantou, mas não havia nada lá. Voltei minha
atenção para o meu telefone. Mas então, com o canto do olho, vi de
novo. Eu girei minha cabeça e lá estava ela.
A mesma mulher com os olhos roxos que eu tinha visto na floresta e
na feira.
Só que desta vez ela não desapareceu.
— Você, — eu falei, sentindo que deveria estar com medo. Mas havia
algo sobre ela que era calmante. Como eu sabia, no fundo, ela não me
machucaria.
— Sienna Mercer. — Era como se suas palavras estivessem envoltas
em cashmere.
— Como você sabe meu nome? Quem é você?
Ela deu um passo em minha direção, a seda que envolvia seu corpo
brilhando a cada movimento. E então seu dedo estava sob meu queixo, e
seus olhos estavam a centímetros dos meus.
— Quem eu sou não é importante. Mas quem você é... quem está
atrás de você... isso é algo que você deve saber.
Capítulo 27
A MULHER MISTERIOSA Aiden
Eu estava na sala dos fundos, a única a que só eu, e quem quer que eu
convidasse, tínhamos acesso. Era uma espécie de sala entre uma
biblioteca e um camarim, aonde eu poderia vir para me arrumar ou ficar
um momento sozinho durante os movimentados eventos de salão.
Eu estive no salão de baile brevemente esta noite, mas o Baile de
Inverno tinha apenas começado. Eu organizei e dirigi mais do que o meu
quinhão de bailes, mas nesta noite havia mais em jogo.
Esta noite, o Alfa do Milênio estava vindo, por algum motivo,
nenhum de nós sabia.
Foi por isso que tentei ir mais longe com os preparativos, porque
estive trabalhando tantas horas e me sentindo mais estressado com isso
do que nunca. Não fazia sentido porque ele insistiu em vir esta noite.
Claro, fiquei mais do que feliz em recebê-lo. Ele era o Alfa do Milênio.
Havia um grau inerente de orgulho ligado a ele querer vir ao meu baile.
Mesmo assim, parecia que algo não fazia sentido.
Eu ouvi uma batida, então parei de andar e caminhei até a porta,
abrindo uma fresta. Quando vi que era Josh, eu o deixei entrar.
— Cara, o que você ainda está fazendo aqui?
— Ele está aqui?
— Ainda não, mas vamos. As pessoas estão esperando. — Foi quando
notei os dois copos nas mãos de Josh. Ambos continham uísque puro. Ele
me entregou um. É para isso que serve um Beta, pensei.
— Para o Baile de Inverno, — eu disse.
— Para o baile.
Abaixamos as bebidas e Josh se virou para sair, mas eu agarrei seu
ombro. — Josh, — eu comecei, deixando meus nervos mostrarem ao meu
Beta pela primeira vez. — Por que ele está vindo? Por que agora?
Por um segundo, vi algo brilhar atrás de seus olhos, como se ele
soubesse de algo que eu não sabia. Mas então ele piscou e olhou para
mim com o mesmo sorriso de sempre.
— Aiden, acalme-se. Até o Alfa do Milênio adora um bom open bar.
Ele me deu um tapinha no ombro e passou pela porta, parando alguns
passos no corredor para esperar por mim. — Você vem ou o quê?
Talvez ele estivesse certo. Talvez eu estivesse pensando demais nisso.
Coloquei o copo vazio sobre a mesa, fechei a porta da sala dos fundos
atrás de mim e comecei a ir para o salão de baile ao lado do meu Beta.
Sienna

Seu dedo ainda estava sob meu queixo. Parecia que estava lá há horas,
como se tivesse estado lá minha vida toda. Havia algo sobre seu toque, a
maneira como ele permeou minha pele e alcançou todo o caminho. Para
minha mente.
— Calma agora. Não se preocupe.
— Não estou preocupada, — eu disse, tentando manter meu nível de
voz — Mas de onde você me conhece?
— Não nos conhecemos, — disse ela, seus olhos viajando sobre minha
figura e me deixando constrangida por um motivo que não pude explicar.
— Mas eu vim avisá-la. Uma ameaça está se aproximando rapidamente.
— Uma ameaça? O que você está falando?
— Cuidado. Ele não vai descansar até que você seja dele.
— Quem? — Eu sussurrei, de repente me sentindo desconfortável.
Senti a cor sumir do meu rosto quando meus olhos se concentraram nos
dela, tentando encontrar uma resposta dentro deles. Mas não consegui.
Seus olhos eram tão roxos, tão infinitos, que seria necessário uma chave
que eu para poder destrancá-los.
— Você deve saber que tem poderes. Poderes misteriosos.
— Por que... por que você está aqui?
— Eu estou aqui, — ela começou, cada palavra segurando sua própria
força, — pelo Alfa. — Um arrepio percorreu meu corpo, dos dedos dos
pés ao couro cabeludo.
Aiden.
— Mas não seu Alfa, — ela declarou claramente.
— Por que... eu não entendo, — eu disse, confusa. Mas a mulher
apenas desviou o olhar, seus olhos focalizando algo à distância.
Virei minha cabeça para ver o que ela estava olhando, mas não havia
nada lá. Apenas uma calçada vazia.
— Qual o seu nome? — Eu perguntei, voltando-me para ela,
precisando de mais respostas. No entanto, ela não estava mais lá. Era só
eu no beco, sozinha.
Quando comecei a ir embora, parei quando ouvi um sussurro final de
um nome ecoando no ar fresco da noite...
— Eve.
Aiden

Eu estava cumprimentando os habitantes da cidade que haviam feito fila


para me encontrar no topo do salão de baile, em frente à mesa principal,
quando ouvi meu nome ser falado na outra direção.
Eu me virei e vi um cara confiante, de aparência atlética, com cabelo
preto azeviche e um carisma natural. Sem tentar, ele chamou a atenção
de todos ao nosso redor. Algo que eu estava acostumado a fazer, mas não
a ver.
— Alfa do Milênio, — eu disse, estendendo minha mão para ele.
— Alfa da Costa Leste, — ele respondeu, e nos sacudimos. Em algum
lugar ao longe, uma câmera disparou.
— Bem-vindo, — eu disse. — Estamos felizes por ter você no Baile de
Inverno deste ano.
Ele sorriu, expondo dentes que não podiam ser tão brancos quanto
eram naturalmente.
— É uma honra ver a beleza de seu bando, — ele respondeu.
— Vamos pegar uma bebida para você. — Eu sorri para a fila de
moradores da cidade esperando — nenhuma explicação adicional era
necessária, já que ele era o Alfa do Milênio — e então o guiei em direção
ao bar.
Com o canto do olho, vi Josh conversando com sua nova
companheira, Michelle, e ele deve ter sentido meu olhar sobre ele,
porque me encarou instantaneamente. E então ele desviou o olhar.
Estranho.
Voltei minha atenção para o homem ao meu lado. — Então me diga, o
que o traz aqui?
— Além da festa?
— Além da festa.
Ele suspirou. Olhou ao redor da sala. E então seus olhos pousaram de
volta em mim.
— Serei direto com você. Alfa. Vim verificar a liderança da matilha.
— E o que isso significa exatamente? — Eu perguntei antes que
pudesse morder minha língua. Mas o Alfa do Milênio apenas sorriu,
dando um tapinha no meu ombro e chamando a atenção do barman.
— Primeiro as bebidas, depois os negócios, — disse ele. E, como todo
mundo, não tive escolha a não ser cumprir suas ordens.
Sienna

Eu estava voltando para o salão de baile, minha cabeça ainda


cambaleando com a conversa que acabei de ter com a mulher de olhos
roxos. Como ela sabia quem eu era? O que ela queria com Aiden? E como
ela simplesmente desapareceu?
Eu precisava encontrar Aiden, para dizer a ele o que ela disse. Que ela
estava aqui por ele.
Eu sabia em meus ossos que ela era a ameaça que o bando havia
sentido, aquela pela qual eles estavam pirando. E se ela estivesse aqui
para lhe causar mal?
Olhei em volta com urgência, tentando colocá-lo no meio de uma
multidão de habitantes bem-vestidos. Ele estaria vestindo um smoking,
mas isso realmente não restringia para mim. Assim como noventa por
cento dos homens aqui.
Eu estava na ponta dos pés, tentando ver mais longe na sala, quando
notei Josh e Michelle conversando perto do DJ. Corri até eles, o mais
rápido que meus pés vestidos de estilete conseguiram me levar.
— Ei! — Exclamei assim que estava ao alcance da voz.
— Sienna! — Michelle cumprimentou. — Onde está Aiden?
— Eu não sei, mas eu preciso encontrá-lo. Josh, você o viu?
Josh terminou sua bebida com um gole. — Ele estava com o Alfa do
Milênio da última vez que o vi.
— Onde? — Eu perguntei, impaciente.
— Perto do bar. — Eu me virei, prestes a marchar, quando Josh
agarrou meu braço. — Você não pode interrompê-los. Esse é o Alfa do
Milênio de que estamos falando.
— Eu sei, mas Aiden está com problemas. Josh. Eu tenho que avisá-lo.
— O que?
— A mulher que vi lá fora disse… — Josh ergueu um dedo, sinalizando
para eu segurar. Então ele se virou para Michelle. — Nós já voltamos,
gatinha, ok?
— Ok, — ela gritou, o gim com tônica em seu copo claramente a
deixando feliz. Eu sabia que o gim-tônica era o seu favorito. Mas então
Josh estava me puxando para a frente do salão de baile, perto do guarda-
volumes. Longe de ouvidos curiosos.
— O que você estava dizendo?
— Eu vi essa mulher. Lá fora, com olhos roxos. Ela parecia...
assustadora. De alguma forma. E ela disse que estava aqui por Aiden.
— Você tem certeza?
Eu balancei a cabeça freneticamente. — Eu senti essa... sensação dela,
Josh. Eu tenho que avisá-lo.
— Eu vou fazer isso. Vou puxá-lo de lado agora mesmo.
— Por que eu não posso?
— Eu sou o Beta dele, Sienna. É uma coisa política. — Uma coisa
política. Era uma grande besteira. Mas isso era muito urgente para lutar,
então deixei para lá.
— Tudo bem, — eu disse. — Mas rápido. — Ele estava prestes a ir
quando se virou para olhar para mim. Ele abriu a boca, como se estivesse
prestes a dizer algo, mas fechou depois de um segundo e balançou a
cabeça.
— O que? — Eu perguntei.
— O que você quer com ele?
— Com quem? Aiden?
Josh acenou com a cabeça.
— O que você quer dizer com o que eu quero com ele?
— Olha, você é jovem. Você não é muito experiente.
— Tenho a mesma idade que Michelle, se você está se esquecendo.
— Mas eu sei que ela é muito mais experiente do que você, — ele
disse com algum tipo de olhar pomposo. Eu queria dar um tapa nele. —
Só não quero ver você se machucar.
— Por que Aiden me machucaria? — Eu perguntei, ignorando a voz
de falso irmão mais velho que Josh estava usando. Ele desviou o olhar
para a pista de dança lotada e depois de volta para mim.
— Ele tem estado sob o escrutínio. Do bando.
— Ok...
— Sabe, quanto mais tempo um Alfa fica sem uma companheira, mais
força ele perde. Alguns acham que ele não é forte o suficiente para
liderar, já que está sem uma companheira.
— Josh, você não está fazendo nenhum sentido.
— Você veio em um momento muito conveniente, Sienna. É tudo o
que estou dizendo.
Meu estômago embrulhou. — Mas Aiden e eu nem estamos
acasalados.
— Então é apenas diversão casual? Ele não falou com você sobre
qualquer tipo de futuro?
Olhei para o chão, com a sensação de que ia vomitar. Eu o deixei
entrar. Eu disse a ele coisas que nunca disse a ninguém antes. Eu dormi
ao lado dele e cozinhei para ele e... e se ele estivesse apenas me usando?
E se tudo fosse um show para seu bando?
Aiden

Eu estava bebendo com o Alfa do Milênio — e o homem podia beber,


deixe-me dizer — quando a vi.
Sienna.
Do outro lado do salão de baile, ela estava irradiando. Minha pulsação
acelerou imediatamente e eu senti uma atração tão magnética que pensei
que seria carregado pela sala sem mover um músculo.
Eu podia ver a forma como seu corpo se curvava a partir daqui, a
forma como seu cabelo caía em mechas sedutoras. Eu queria correr
minhas mãos por seus cabelos, descendo por seu corpo, em todos os
lugares. Ela estava me consumindo. Mas então eu vi que ela estava
conversando com Josh, e os dois estavam imersos na conversa.
Eu estava me perguntando o que poderia ser quando a vi olhar para
mim. Mesmo a alguns metros de distância, o poder de compartilhar um
olhar com ela era inacreditável.
Mas era como se ela não sentisse ou não se importasse. Porque, sem
outra palavra para Josh, ela fugiu dele, correndo direto para fora das
portas do salão de baile.
Capítulo 28
A QUESTÃO
Sienna

Eu corri em direção às portas principais, correndo tão rápido quanto


meus saltos altos podiam coordenar. Corri pelas portas, para o gramado,
passei pelo estacionamento da Casa da Matilha e saí para a estrada.
Eu não podia acreditar. Eu tinha sido um enfeito o tempo todo. Lá
estava eu, tentando avisá-lo sobre algum perigo iminente, e ele estava me
usando como uma maldita boneca de pano.
Foi por isso que ele me fez morar com ele, porque ele me disse para ir
para a feira. Foi tudo uma oportunidade de foto gigante.
E eu era a adolescente idiota que se apaixonou por isso.
O ar fresco estava atingindo meu rosto, mas não estava ajudando
muito. Minha dor — minha raiva — ainda estava florescendo.
Olhei em volta, vendo a orla da floresta alguns metros à minha
direita. Corri em direção a ela e então parei para abrir o zíper do vestido
de Selene com cuidado. Se algo acontecesse com ele, eu não me
perdoaria.
Mas eu precisava estar livre de tecido, livre de qualquer coisa
remotamente humana.
Minhas emoções não seriam reprimidas, não mais. Eu precisava
deixá-las sair.
Tirei o vestido e o pendurei no primeiro galho limpo que pude
encontrar ao nível dos olhos, para que a cauda não batesse no chão
lamacento.
Então eu chutei os sapatos e deixei a raiva me consumir.
Senti meu corpo mudar enquanto corria. Eu zumbia por entre árvores
e troncos, folhas e lama, meus membros esticando e meus músculos
tensos até que eu não estava mais correndo em dois pés, mas nos quatro.
Senti minha cauda balançando atrás de mim e percebi o vento
batendo no cabelo ruivo e espesso que agora cobria cada centímetro de
mim.
A donzela de vestido de baile se foi. Não, eu não era a porra da
donzela em perigo.
Eu era um lobo.
Um dominante.
E a floresta estava prestes a ver o quão louca eu estava.
Aiden

Eu ainda estava no bar. Com o Alfa do Milênio. Eu assisti Sienna sair sete
minutos atrás e sabia que algo estava errado. Mas ele continuou falando,
continuou nos pedindo outra rodada de bebidas.
Eu não poderia deixá-lo. Eu sabia disso... mas tinha que saber.
— Você me daria licença por alguns minutos? Meu Beta... aí embaixo,
deixe-me apresentar vocês dois. Ele é um grande parceiro de bebida, —
eu disse, apontando para a parede onde Josh estava se misturando.
— Não há necessidade, — o Alfa do Milênio disse, me impedindo de
dar mais nenhum passo em direção a Josh. — Eu vou com você.
— Eu estava indo para fora, pegar um pouco de ar fresco.
— Eu poderia pegar um pouco também. — Huh. Ele não estava se
mexendo do meu lado.
— Ótimo, — eu disse e o conduzi através do salão de baile e para fora
das portas. Olhei em volta quando saímos, mas não vi ninguém. Tentei
fechar os olhos para senti-la — mas não consegui.
Pense.
Ela parecia chateada. Ela não teria saído do baile, não se não houvesse
um motivo real. Se ela estivesse realmente chateada, brava, ela mudaria.
Na floresta.
— Como você se sente ao ver a floresta? É lindo nesta época do ano.
— Estou pronto para qualquer coisa. — Ele encolheu os ombros.
Então eu virei para a direita, andamos até a orla da floresta e então
continuamos, sentindo o cheiro distinto de carvalho e lama.
— Você está aqui por mim, não está? — Eu perguntei.
— Volte novamente?
— Você vem ao Baile de Inverno sem nenhuma explicação... Desculpe
minha franqueza. Alfa do Milênio, estamos felizes em recebê-lo, mas não
sabemos nada sobre sua visita. E você não saiu do meu lado desde que
chegou aqui. Você está aqui para descobrir algo sobre mim ou para
descobrir algo sobre mim. Isso está certo?
Ele parou de andar, olhando-me bem nos olhos. Eu podia sentir seu
poder através do olhar e sabia que poderia muito bem ter cruzado os
limites. Mas depois de um momento ele piscou e começou a falar.
— Sim. Isso mesmo.
Suspirei. Mas o alívio que senti por estar certo não durou muito. Foi
substituído por mais perguntas.
— Quem te mandou?
— Ninguém me enviou. Mas eu estava ouvindo coisas. Sobre a
possibilidade de seu poder diminuir. — Soltei um grunhido antes que
pudesse me conter.
Alguém em minha matilha estava indo pelas minhas costas,
questionando minha força, para o maldito Alfa do Milênio?!
— De quem? — Eu fervi.
— Isso não é importante. O importante é que estou aqui. Para sentir
você, para ver se o problema potencial é realmente um problema
potencial. — Ele fez uma pausa, olhando para as árvores antes de se virar
para mim. — Você está procurando?
— Procurando?
— Sua companheira.
Então era disso que se tratava. Minha força diminuindo, os rumores
de que eu não era tão dominante como costumava ser porque não tinha
encontrado ninguém.
Mas eu tinha.
— Não há necessidade. Eu já a encontrei.
— Já? — o Alfa do Milênio perguntou ceticamente.
— Eu não sinto isso em você.
Agora eu olhei para o chão. — Ela não sabe ainda. Somos parceiros,
para a temporada. Mas estou indo devagar. Para o bem dela.
Eu poderia jurar que sua expressão se suavizou, apenas por um
segundo. — É por isso que você não consumou. Eu posso sentir isso. Sua
frustração, sua hostilidade. Isso é o que está interferindo no seu domínio.
— Esta noite ia ser a noite, — eu disse sem pensar — Mas ela... ela
fugiu do baile. Algo deve ter acontecido... — E então, naquele momento,
eu a farejei. Tão claro como o cristal, eu tinha certeza de que o aroma era
dela. E ela estava perto.
— Ela está aqui. Ela partiu para a floresta. Eu só... tenho que
encontrá-la. Eu tenho que dizer a ela.
Ele me deu um aceno de cabeça, nada mais, nada menos.
— Obrigado, Alfa do Milênio.
— Aiden. É Raphael. Te vejo lá dentro. — E então ele se virou e
começou a voltar pelo caminho por onde tínhamos vindo. Sem perder
mais um segundo, tirei cada artigo do meu smoking e me mexi, dando
uma cheirada mais profunda.
Soltei um uivo, deixando-a saber que eu estava perto. Mas ela não
respondeu. Então comecei a correr.
Depois de alguns metros, comecei a ver o vermelho de seu pelo na
minha frente. Ela estava cerca de meia milha à frente, então aumentei
meu ritmo. Eu uivei de novo para que ela soubesse que eu estava lá, mas
isso só pareceu fazê-la correr mais rápido.
Em segundos, eu estava atrás dela, mas ela ainda não estava parando.
Não importa o quanto eu uivasse, ela não diminuiu a velocidade ou
parou. Eu não tinha outra escolha, então me lancei para frente e a
agarrei.
Nós caímos por um tempo, seus membros tentando lutar contra
mim, mas quando paramos, eu a prendi embaixo de mim.
Eu rosnei. Mude. Ela balançou a cabeça. Não.
Eu rosnei mais alto. Mude! Mas ela apenas balançou a cabeça com
mais força.
Eu forcei meu aperto em suas mãos e rosnei diretamente em seu
rosto. Seus grandes olhos azuis giraram em um círculo completo.
E então ela começou a mudar. Observei enquanto o pelo desaparecia,
seus membros condensavam e seus músculos se contraíam até a forma
humana.
Ela estava embaixo de mim, nua, de costas no chão lamacento da
floresta. Eu mudei também, segurando-a como humana.
Foi quando vi as lágrimas.
— Você mentiu para mim. Você estava me usando para... convencer o
Alfa do Milênio de que é forte...
— O que? Do que você está falando?
— Josh me disse... ele disse que você sabia que não era meu
companheiro.
— Josh disse o quê?
— Ele disse que você não é meu companheiro. Que você está apenas
fingindo. — Eu agarrei seu rosto em minhas mãos, forçando-a a olhar
diretamente para mim.
— Eu menti para você. Eu admito, eu fiz. Todo esse tempo. — Mais
lágrimas acumularam em seus olhos e seu rosto ficou todo vermelho.
Eu continuei, minha voz falhando um pouco. — Porque eu sabia que
você era minha companheira no segundo em que coloquei os olhos em
você, Sienna Mercer. Eu sabia quando você estava desenhando perto do
rio. E eu soube disso a cada segundo que estivemos juntos desde então.
O vermelho em suas bochechas lentamente desbotou para rosa, e eu
pude ver a compreensão passando por seus olhos. — Se você está
mentindo para mim, Aiden, juro por Deus, vou matá-lo.
Eu ri. Eu não pude evitar. — Eu sei. E é por isso que te amo.
Sienna

— Eu também te amo, — respondi, e me senti bem. Como se fosse uma


noção familiar, algo que parecia em casa na minha língua.
E naquele momento, eu sabia que este homem não era apenas meu
parceiro para a temporada ou um alfa sexualmente frustrado.
Não, Aiden Norwood era meu companheiro.
Eu podia sentir a verdade daquelas palavras de todo o meu coração.
Isso me fez explodir positivamente de alegria e... necessidade dele.
Ele se inclinou para me beijar e eu pude sentir o gosto salgado de
minhas velhas lágrimas nele. Mas então algo mudou. Não estávamos nos
beijando de uma forma feliz e doce. Estávamos nos beijando em um eu
preciso de você agora. Era urgente e perigoso e... quente.
Embora um dossel de folhas nos cobrisse, senti uma onda de
excitação por estarmos completamente expostos.
Empurrei quaisquer reservas profundamente nos recônditos da
minha mente.
Normalmente, eu teria me sentido insegura sobre tomar uma decisão
tão precipitada. Eu gostaria que tudo fosse perfeito na minha primeira
vez.
Mas naquele momento, tudo que eu conseguia pensar era como eu
queria que Aiden absolutamente devastasse meu corpo.
Ele me queria. E eu o queria. Cada maldito centímetro da minha pele
estremeceu com seu toque.
Eu podia sentir ele ficando cada vez mais duro enquanto eu me
contorcia em baixo dele, nossos corpos nus se movendo bem em cima da
terra e raízes do chão da floresta.
Era tão natural, tão cru. Especialmente agora que eu sabia que éramos
companheiros. Meu corpo, minha mente, meu coração, cada parte de
mim ansiava por ele.
Suas mãos começaram a se mover em cima de mim, me esfregando,
me apertando, e então eu as senti na minha bunda, controlando o ritmo
de como eu me movia sobre ele. Nas outras vezes, tínhamos ido mais
longe do que apenas transar a seco, tinha sido mais lento, mais
intencional.
Mas agora eu precisava de uma liberação. Não tive tempo de esperar.
Oh meu Deus...
Estou realmente prestes a fazer isso?
Quando os olhos verde-dourados de Aiden se enterraram em minha
alma, ele me fez a mesma pergunta que eu estava me perguntando.
— Sienna... você está pronta?
Capítulo 29
A PROMESSA
Sienna

A resposta à pergunta de Aiden estava na ponta da minha língua.


Minha cabeça estava nadando com luxúria, desejo, paixão. Era uma
combinação inebriante e fui pega no redemoinho.
Eu sabia em meu coração o que eu queria, ou melhor, precisava.
Mas nenhuma palavra saiu da minha boca.
Então, em vez disso, agarrei o cabelo preto sedoso de Aiden e puxei
com força enquanto puxava sua cabeça para a minha.
Eu o beijei, não apenas com paixão, mas com um desejo insaciável.
Eu queria que nos uníssemos como um — para dar cada parte de nós
um ao outro.
Aiden levantou minhas pernas e eu senti seu pau esfregar contra o
meu sexo. A maneira como isso me provocou era quase insuportável.
Quando meu sexo começou a se separar, gemi de êxtase.
— Aiden. espere... — murmurei, cravando minhas garras em suas
costas.
— Você quer que eu pare? — ele perguntou, acariciando meu cabelo e
me dando um olhar afetuoso.
— Eu... Sim... quero dizer, eu não sei, — eu gaguejei, me sentindo em
conflito.
Claro que eu não queria que ele parasse, mas ao mesmo tempo...
— Aqui, agora... Simplesmente não parece...
Enquanto eu procurava as palavras certas, Aiden as encontrou para
mim.
— Perfeito, — disse ele calmamente. — Você tem razão. E a sua
primeira vez. Eu quero que seja tão especial quanto você.
O corpo de Aiden se afastou, e isso fez meu coração doer, embora eu
soubesse que era o melhor.
— Você me odeia por querer esperar? — Eu perguntei.
— Claro que não, — respondeu ele. — Você já me fez esperar tanto
tempo. Que tipo de alfa eu seria se não pudesse esperar um pouco mais.
Além disso, vale a pena esperar.
Eu beijei seus lábios com ternura, saboreando sua doce saliva
enquanto nossas línguas rolavam em uma.
Eu me afastei e sorri. — Depois da nossa cerimônia de acasalamento,
eu prometo... sou toda sua.
— E eu posso prometer a você que será uma noite da qual você se
lembrará para sempre, — ele disse em um rosnado suave.
Aiden me segurou em seus braços enquanto deitamos no chão
musgoso da floresta. Fechei meus olhos e ouvi o som de sua respiração
estável.
Eu pensei no que o futuro reservava para Aiden e eu, e pela primeira
vez eu não estava com medo.
Na verdade, nunca me senti mais segura e protegida em toda a minha
vida.
Com esse pensamento reconfortante, adormeci.
Duas Semanas Depois

— Puta merda, — disse Aiden, seus olhos brilhantes olhando


diretamente para os meus. Ele estava do outro lado da sala e literalmente
parou no meio do caminho.
— Puta merda. — Eu repeti. Ele estava parecendo mais afiado do que
uma maldita faca de carne. Vestindo um smoking azul marinho e
barbeado recentemente pela primeira vez que eu já vi. Suas maçãs do
rosto eram tão fortes quanto sua mandíbula, e ambas eram minhas. Todo
meu, por toda a eternidade.
Foi o dia da nossa cerimônia de acasalamento. Ao contrário dos
humanos, nós não tínhamos os mesmos rituais típicos de casamentos.
Não havia nenhuma regra contra os companheiros se verem antes de
caminhar pelo corredor, razão pela qual Aiden estava no meu quarto.
Era por isso que ele estava vindo em minha direção neste exato
momento, uma fome profunda em seus olhos. Eu o encontrei no meio do
caminho, no meio da sala, e nos abraçamos com tanta intensidade que
pensei que ele fosse arrancar meus lábios.
Não se eu morder primeiro, pensei.
— Você está espetacular, — ele suspirou em meu ouvido. Eu também
acreditei nele. Eu estava usando outro Selene original, um vestido de
cerimônia de acasalamento especialmente desenhado que ela trabalhou
horas extras para deixar pronto para o meu dia especial.
Tinha um corpete sem alças e um vestido esvoaçante que se movia
sempre que eu o fazia. A longa cauda na parte de trás me fez sentir como
uma deusa.
Era ainda melhor do que o vestido que usei no Baile de Inverno, e
pensei que seria impossível vencê-lo.
— Você também não está muito maltrapilho, — eu disse, me
afastando. — Mas você tem que ir agora! Está quase na hora de ir.
— Sim, senhora, — disse ele e se dirigiu para a porta. Mas não antes
de dar uma última olhada em mim e soltar um assobio suave. Eu não
pude deixar de sorrir, mesmo que meus olhos rolassem um pouco
também.
Ele saiu e eu respirei fundo, me preparando para o que estava prestes
a ver. Um salão de baile cheio de nossos amigos e familiares e os
membros sortudos do bando que foram convidados para a cerimônia de
acasalamento do alfa.
Seriam muitos olhos, todos voltados para nós.
Respirei fundo novamente e observei meus pés, usando salto agulha
cor de casca de ovo, dar um passo cuidadoso de cada vez para fora do
provador.
— Uau, — ouvi na minha frente. Eu olhei para cima e vi meu pai,
segurando a mão sobre a boca. — Você está linda, querida, — disse ele.
Ver meu pai ficar tão emocionado estava me deixando emocionada
também.
Mesmo que ele não fosse meu pai biológico, ou mesmo um
lobisomem, ele era o homem mais importante da minha vida, ao lado de
Aiden.
Eu ainda não tinha contado aos meus pais o que a senhora de olhos
roxos havia dito. Eu não tinha certeza de como eles reagiriam, ou se eles
já sabiam.
Mas, novamente, eu sabia como eles me encontraram. Abandonada,
em um beco. Como eles poderiam saber que eu era filha de alfas?
Independentemente disso, minha cerimônia de acasalamento
definitivamente não era o momento certo para trazer isso à tona. Ou
mesmo para pensar sobre isso. Então corri até meu pai e o abracei o mais
forte que pude.
Eu estava sentindo as emoções começando a tomar conta, mas desejei
que meus olhos segurassem as lágrimas. Se eu estragasse a maquiagem
que Michelle passara uma hora fazendo, ela me mataria.
Meu pai agarrou minha mão e olhou nos meus olhos. — Você está
pronta?
Eu não pude evitar, mas deixei um sorriso enorme se espalhar pelo
meu rosto enquanto eu assentia. — Você está?
— Claro, querida. — E então ele abriu as portas do salão de baile, as
mesmas portas pelas quais eu tinha saído correndo apenas três semanas
atrás.
Minha respiração engatou. O salão de baile estava perfeitamente
arrumado. Havia um longo tapete branco, pelo qual eu andaria, e uma
plataforma elevada onde normalmente ficava a mesa principal.
As árvores que ladeavam a sala eram cobertas por luzes brancas e fitas
brancas, e cada mesa tinha uma pequena peça central floral.
Queríamos trazer a floresta para dentro, para fazer deste nosso
próprio país das maravilhas florestais.
Papai prendeu o cotovelo no meu e, quando a música começou,
começamos a andar. Eu sorri para todos os rostos familiares nos bancos
que foram arranjados.
Passei por Mia e Harry, que tinham acabado de fazer sua cerimônia
de acasalamento na semana passada, e Erica e Rhys, sentados ao lado
deles.
Quando nos aproximamos da frente, vi mamãe, Selene e Jeremy, e ao
lado deles estavam Michelle e Josh.
Os bancos restantes da frente foram ocupados por outros membros
da elite da matilha, e o resto dos bancos cobrindo toda a sala foram
ocupados pelo que parecia ser metade da cidade. Aparentemente, o
casamento do alfa foi um bilhete quente.
Cheguei à plataforma e papai beijou minha bochecha e apertou a mão
de Aiden. E então Aiden me ajudou a subir na plataforma.
— Eu quero devorar você, — ele disse em meu ouvido para que só eu
pudesse ouvir. Um rubor imediatamente subiu por minhas bochechas.
— Estamos reunidos aqui hoje para celebrar o acasalamento do Alfa
da Matilha da Costa Leste, Aiden Norwood e Sienna Mercer, — começou
o Alfa do Milênio.
Oh sim, eu mencionei que o Alfa do Milênio estava oficializando nossa
cerimônia de acasalamento?

Fui atacada com rosas, sim, rosas. Voando pelo ar, atingindo a mim e
Aiden bem no rosto. Isso era típico de cerimônias de acasalamento,
especialmente aquelas que tinham tantos acompanhantes: o ritual de
jogar rosas no casal antes de seu primeiro beijo como companheiros.
— Ok, ok, — o Alfa do Milênio berrou, rindo e erguendo as mãos. —
Está na hora. — A sala ficou em silêncio e as rosas pararam de voar no ar.
— Aiden Norwood. Alfa, você pode beijar sua Sienna.
E então suas mãos grandes envolveram meu pescoço e seu queixo se
inclinou para baixo. Seus lábios macios estavam nos meus em um
instante, e eu pensei que as borboletas dentro de mim fossem explodir.
Todos nos bancos, todos que eu amava, com quem me importava,
todos eles ficaram em segundo plano. Eles não importavam. Não agora.
Quando paramos de nos beijar, Aiden agarrou minha mão e me
puxou de volta para o tapete branco. Ouvimos o que parecia ser uma
torrente interminável de aplausos e gritos de ambos os lados, e isso não
diminuiu até que estávamos na pista de dança.
O DJ mudou dos instrumentais que tocava para a música que Aiden e
eu escolhemos para nossa primeira dança. Tudo começou e Aiden me
girou. Ele pode ser bom em muitas coisas, mas dançar não era uma delas.
Eu estava rindo tanto que pensei que ia desmaiar. E então a música
terminou, e eu vi Michelle e Josh aparecerem atrás de Aiden.
— Ei! — Eu exclamei. Aiden me soltou e Michelle beijou minhas duas
bochechas.
— Eu nem sei. Si. Isso foi um conto de fadas. Parabéns! — ela gritou.
— Obrigada! — Eu gritei de volta. Eu não me importava que
aparecêssemos sem classe. Era o dia da minha cerimônia de
acasalamento e eu poderia gritar se quisesse.
Eu estava prestes a perguntar a Aiden e Josh se eles se importariam se
Michelle e eu dançássemos a nova música, apenas nós, meninas, mas vi
que eles já tinham ido para o bar. Clássico.
Aiden

Josh perguntou se eu queria beber alguma coisa, e eu não recusaria um


brinde de uísque no dia da minha cerimônia de acasalamento. Mesmo
que fosse com meu suposto Beta, que sempre ficava atrás de mim.
Eu não o confrontei. Ainda. Mesmo depois do que Sienna me contou
na floresta e da sensação que tive de que foi ele quem falou da minha
força cada vez menor para o Alfa do Milênio.
Eu tinha certeza de que era ele. Eu não sabia o que ele queria. Era
porque ele queria ser alfa? O ciúme o levaria tão longe que ele estava
traindo a si mesmo?
— Para você e Sienna, — disse ele, levantando seu shot no ar.
— Obrigado, Josh, — eu disse, forçando um sorriso e aumentando
minha chance também.
— Vamos, anime-se! Você está acasalado! — ele exclamou.
— Não podia estar mais feliz. — Eu engoli a dose, sentindo-a
queimar. Era estranho estar perto dele assim, sabendo o que eu sabia. Eu
deveria ter lidado com isso antes. Eu sabia que deveria. Mas eu
simplesmente... não consegui.
Eu estava nas nuvens com Sienna desde o Baile de Inverno. E eu não
queria que nada me distraísse disso, nem a vida profissional, nem a vida
pessoal. Eu só queria aproveitar a onda de felicidade em que estávamos.
— Vamos, outro! — Josh gritou comigo, desnecessariamente
barulhento. Ele segurou mais duas doses de uísque e segurou uma na
minha direção.
— Você realmente precisa de outro? — Eu perguntei, olhando
diretamente para o frasco em sua cintura. Seus olhos se estreitaram.
— O que isso deveria significar?
— Pense na sua idade, Josh, — eu disse, virando-me para voltar para
Sienna. Mas ele baixou os shots e agarrou meu braço, me puxando para
trás.
— Isso porque você teve sua cerimônia e eu não? Eu sou tão adulto
quanto você.
— Você está bêbado e a festa acabou de começar.
— Estou comemorando.
— Celebrando o quê? Agir pelas costas do seu alfa? Traindo seu
amigo? — Eu não pude evitar. As palavras simplesmente escaparam.
Seu rosto empalideceu imediatamente.
— O que... do que você está falando?
— Eu sei o que você disse a Sienna. Que eu estava apenas usando ela.
— Eu realmente não disse nada disso... merda... para machucar você.
Eu sei que era sombrio. Eu posso ver o quão inapropriado foi. Você é meu
alfa, porra; — ele disse, e eu pude ver seus olhos ficando vermelhos.
— Então por que você fez isso, Josh? — Ele estava olhando para seus
sapatos. Depois de um momento, seus olhos se ergueram para os meus.
— Não sei. Quero que você tenha sucesso. Eu quero que o bando
tenha sucesso. Mas algo dentro de mim... apenas... queria levar a glória de
ter algo que você não tinha. Pela primeira vez na minha vida, a primeira
vez desde que te conheci, Aiden, eu tinha algo que você não tinha.
— Uma companheira, — eu disse, de repente entendendo. Josh
sempre se sentiu como se estivesse na minha sombra, e talvez eu
estivesse um pouco confortável demais mantendo-o ali, mesmo sendo
seu alfa.
— Eu só queria saber como seria. Ser o respeitado, aquele a quem
todos recorrem para obter respostas, — disse.
Eu exalei. Lá estava — a admissão de culpa do meu Beta.
Mas então ele continuou. — Entenda que, mesmo quando eu estava
me intrometendo, eu sabia que era errado. Eu não me senti bem. Não me
fez sentir melhor, de jeito nenhum. E eu entendo que este não é o lugar
para falar de negócios, que você terá que decidir o que fazer comigo com
base no que é melhor para o bando. Eu realmente sinto muito. Eu devia a
você mais do que isso. Você merece o melhor.
Depois de um momento, ele acenou com a cabeça e, em seguida,
girou e caminhou de volta pelo corredor.
Eu o deixei andar alguns passos antes de chamá-lo: — Josh.
Ele se virou e deu os passos em minha direção. — Você sabe que você
fodeu tudo, — eu disse, um rosnado baixo escapando dos meus lábios.
— Sim, Alfa.
— Você jura por sua vida, pela vida da matilha, você nunca vai me
trair ou a matilha novamente.
— Sim, Alfa, — ele disse, e pude ver a seriedade em seus olhos.
Eu estendi minha mão e ele a pegou, mas eu o puxei para um abraço
em vez disso. Foi preciso um verdadeiro alfa para mostrar perdão.
Eu não conseguia ficar bravo com Josh — ele tem sido como um
irmão para mim desde que Aaron morreu.
— Amo você, cara. Mesmo que você seja um pé no saco às vezes, — eu
disse.
— Também te amo, mano. E isso não é só o uísque falando, —
respondeu ele.
Quando nos separamos, Josh me deu um soco no ombro, tentando
aliviar o clima. — Ei, guarde um pouco desse sentimento para Sienna. É a
sua maldita noite da cerimônia de acasalamento.
Observei enquanto Sienna dançava com Michelle, sorrindo e girando,
mais feliz do que nunca.
Ela estava radiante pra caralho. A criatura mais linda que eu já vi.
E ela finalmente era minha.
Sienna

Eu não conseguia parar de rir quando Michelle me mergulhou na pista


de dança, depois me girou e me puxou para que ficássemos peito a peito.
— Por que sou eu quem está guiando? — ela perguntou, arqueando a
sobrancelha. — Você não deveria ser uma dominante?
— Às vezes é bom deixar outra pessoa assumir o controle, —
respondi.
Quando Michelle me soltou, tropecei para trás, me sentindo tonta,
mas fui imediatamente estabilizado por um par de braços poderosos.
O cheiro de almíscar amadeirado e frutas cítricas de Aiden flutuou
em meu nariz enquanto ele pressionava em mim por trás.
— Encontro você mais tarde, — disse Michelle, piscando para mim.
— Devo ter certeza de que Josh não está ficando muito bêbado.
Agora que ele me tinha só para ele, Aiden aumentou seu aperto, e eu
podia sentir sua ereção latejando através de suas calças.
— Vamos sair daqui, — disse ele em um rosnado baixo.
— O que você tem em mente? — Eu perguntei sem fôlego quando
senti meu sexo formigar.
Seu cheiro estava se tornando tão inebriante que me senti tonta.
As mãos ásperas de Aiden cavaram em meus quadris. Ele se inclinou
para perto, de modo que seus lábios estavam pairando perto da minha
orelha.
— Você se lembra da promessa que fez sobre a nossa noite da
cerimônia de acasalamento? — Ele sussurrou, mas não perdeu seu tom
dominador.
— Sim, — respondi, engolindo em seco.
Meu coração estava batendo fora do meu peito, e uma sensação mais
forte do que a Bruma estava tomando conta do meu corpo. Meu sexo
estava molhado de antecipação.
— Bom, — ele rosnou, quase faminto. — Porque você estará uivando
aos céus por misericórdia quando eu terminar com você.
Capítulo 30
A NOITE DE…
Sienna

Aiden me carregou como uma noiva em seus braços enquanto descia o


caminho de paralelepípedos que levava à nossa casa. Meu coração não
tinha parado de bater desde que saímos da recepção, e eu não sabia se
pararia.
Minhas inseguranças eram como ondas crescentes, batendo contra as
bordas da minha mente.
E se eu não for boa de cama?
E se eu não atender suas fantasias?
E se eu não conseguir satisfazer um alfa?
Aiden parou na porta da frente, como se sentisse meus medos. E
talvez ele tenha. Os companheiros estavam conectados de uma forma tão
intensa que era quase indescritível.
— O que há de errado? — ele perguntou em um tom gentil que era
incomum para ele.
— Eu... eu só não quero decepcionar você, — murmurei. Naquele
momento, eu nunca me senti menos dominante em minha vida.
Para minha surpresa, Aiden riu. — Oh, Sienna... você não tem ideia...
— Não tem ideia sobre o quê? — Eu perguntei, um pouco irritada
com a risada dele.
— Não faz ideia de quanto poder você tem sobre mim.
Meu rosto ficou quente e um suspiro escapou dos meus lábios.
Ele continuou, segurando meu olhar. — Sim, eu marquei você. E sim,
eu te fiz minha, mas...
Aiden respirou fundo enquanto pressionava sua testa na minha.
— Você me fez seu também. Não se engane — eu não sou apenas seu
alfa, sou seu companheiro. E não há nada que vá jamais mudar isso. Seu
amor me tornou mais forte do que qualquer sangue alfa poderia.
O calor em minhas bochechas se espalhou pelo resto do meu corpo
como um incêndio, e assim, meu domínio voltou.
Eu amava Aiden mais do que palavras poderiam expressar. Então, eu
não usaria minhas palavras.
Eu agarrei o cabelo da parte de trás de sua cabeça e pressionei
febrilmente meus lábios nos dele.
Eu queria que meu fogo se espalhasse. Eu queria consumir tudo até
que o mundo inteiro se transformasse em cinzas e nós fôssemos os
únicos de pé.
O paletó do smoking de Aiden estava explodindo nas costuras
enquanto seus músculos inchavam por baixo. Ele estava praticamente
mudando quando deu um passo em direção à porta e levantou a perna.
CRACK!
Aiden chutou a porta para fora de suas dobradiças, enviando madeira
estilhaçada pelo chão de mármore.
Ele passou por cima dos escombros, me trazendo para dentro.
Bem, essa é certamente uma maneira de carregar seu cônjuge além do
limite...
Quando ele entrou em nosso quarto, Aiden me colocou no chão, em
seguida, empurrou minhas costas contra a parede. Nosso beijo febril
recomeçou quando comecei a tirar seu smoking, peça por peça.
Uma vez que seu torso estava nu, corri meus dedos pelas profundas
marcas de seu abdômen, até a fivela do cinto.
Os próprios dedos de Aiden estavam ocupados correndo para
desamarrar meu espartilho. Ele estava ficando frustrado, e eu não pude
deixar de me divertir.
Finalmente, foi desamarrado e meu vestido caiu no chão. Eu tirei seu
cinto através das alças em um movimento rápido e, segundos depois,
suas calças seguiram enquanto Aiden as arrancava e as jogava do outro
lado da sala.
Passamos um momento nos observando, oficialmente companheiros.
Mas um momento era tudo que estávamos dispostos a poupar. Nós dois
esperamos o suficiente.
Aiden me pegou como se eu fosse mais leve do que uma pena, e
envolvi minhas pernas em volta de sua cintura.
Caímos na cama de uma vez. Havia mãos e bocas em todos os lugares,
nós dois tentando agarrar e morder tudo o que podíamos.
As garras de Aiden estavam cavando levemente em minha carne nua,
e eu queria que elas cavassem ainda mais fundo. Eu segurei seu pescoço
com força, beijando-o, antes que meus beijos se movessem para seu
peito.
Eu deixei meus dentes rasparem em seu estômago, e quando cheguei
em seu pênis rígido, coloquei-o direto na minha boca sem hesitar.
Comecei a me mover devagar, deixando-o louco, e então aumentei
meu ritmo até que ele começou a gritar. Era tão grande que eu mal
consegui conter, mas forcei mais fundo em minha garganta.
Quando subi para respirar, minha saliva escorregou por seu pau
grosso como uma teia de aranha translúcida e prateada. Aiden enxugou
minha boca com o polegar, em seguida, agarrou meu pescoço, me
empurrando de volta para baixo.
Eu poderia dizer por seus grunhidos de satisfação que ele estava
sentindo pura felicidade. Mas isso não foi suficiente. Eu queria levá-lo
para a porra do Nirvana.
Eu saboreei seu sabor salgado e doce enquanto minha língua
trabalhava na ponta, então coloquei a coisa toda em minha boca
novamente até chegar à base.
Meus lábios se apertaram em torno de seu pau enquanto eu os
deslizava lentamente por seu comprimento.
Ele separou minhas pernas tão rápido que me fez respirar fundo.
Aiden usou seus dedos para abrir meu sexo, então ele inseriu sua
língua, habilmente sacudindo ao redor e lambendo minhas áreas mais
sensíveis.
Eu gemia enquanto meu corpo convulsionava com o prazer. Era como
se ele estivesse usando a língua para compor uma sinfonia na minha
boceta. E meus gritos involuntários de prazer eram o coro.
Sua língua continuou a trabalhar enquanto seus dedos deslizavam
dentro de mim, testando minha flexibilidade, preparando-me para sua
enorme masculinidade.
Enquanto seus dedos me exploravam, eu senti uma pontada de dor
misturada com o prazer. Eu só poderia imaginar o que estava reservado
para mim em apenas um momento.
Uma emoção percorreu minha espinha com o pensamento de Aiden
finalmente me penetrando. Eu estava assustada e animada ao mesmo
tempo.
Enquanto o pau de Aiden esfregava o exterior do meu sexo com força,
seus beijos suaves contrastavam com a aspereza.
— Você está pronta? — Aiden perguntou, tirando meu cabelo dos
olhos e olhando para eles profundamente.
Foi a mesma pergunta que ele me fez antes. Mas desta vez, eu sabia
minha resposta sem sombra de dúvida.
— Sim, — eu sussurrei enquanto meus braços embalaram seu
pescoço.
Minha respiração engatou quando Aiden finalmente deslizou dentro
de mim.
No início, a tensão era quase insuportável, como se eu estivesse sendo
separada, mas lentamente, a dor se transformou em prazer. Quanto mais
eu relaxava, mais nos tornávamos um ajuste perfeito um para o outro.
— Está tudo bem? — Aiden perguntou, sem mover um músculo.
Eu balancei a cabeça, sorrindo com o quão sensível ele estava sendo às
minhas necessidades.
Mas quanto mais ele ficava dentro de mim, mais eu tinha certeza...
Minha boceta não era feita de porcelana.
— Você disse que ia me fazer uivar para os céus, — eu rosnei
sensualmente. — Então, vamos. Alfa. Mostre-me do que você é feito.
Os lábios de Aiden se curvaram em um sorriso perverso que quase me
fez lamentar minhas palavras.
Quase.
Ele puxou para fora, então empurrou de volta. Com força.
Eu gritei quando o senti ainda mais fundo dentro de mim. Meu sexo
cada vez mais molhado o aceitou com fervor enquanto ele começava a se
mover cada vez mais rápido.
Mas ainda não foi o suficiente. Então eu o agarrei pelos ombros e rolei
perfeitamente em cima dele.
Agora eu estava montando nele, controlando o ritmo. Eu levantei
meu cabelo da nuca e girei o mais rápido que pude, certificando-me de
que ele pudesse ouvir o quanto eu estava me divertindo.
Parecia que o atrito entre nós era suficiente para nos incendiar.
Então não era apenas construção — aquele fogo por dentro — estava
vindo. Como um inferno furioso.
— Porra, Sienna, — Aiden gemeu, e eu estava lá com ele.
— Oh meu Deus! — Eu gritei, uma sensação envolvendo todo o meu
corpo como uma explosão.
As luzes diante dos meus olhos estavam piscando como fogos de
artifício, e eu senti como se fosse desmaiar.
Aiden agarrou meus quadris e puxou, sua semente disparando no ar
como um gêiser.
Eu desabei ao lado dele, ofegante e tentando processar a euforia que
acabara de experimentar.
Ele agarrou minha mão na sua e levou-a à boca, beijando-a com
ternura. — Você é inacreditável, — disse ele.
Viramos de lado e olhamos nos olhos um do outro. Tudo parecia
exatamente certo.
— Eu te amo, — eu disse sem fôlego.
— Eu te amo mais do que tudo, — respondeu ele, igualmente sem
fôlego. — Eu nem precisei te levar para o céu... Você é o céu.
Enquanto seus olhos verde-dourados piscaram na luz fraca da
lâmpada, cheios de adoração, eu me perguntei como eu tinha chegado lá.
Acasalada com o alfa.
Eu apenas me vi como uma garota normal, mas Aiden...
Ele me viu como uma deusa.
Eu mal podia esperar para começar o resto da minha vida com ele.
Quando acordei na manhã seguinte, ainda estava sentindo o barato da
noite anterior com Aiden.
Meu corpo doía, mas de um jeito bom. Serei capaz de andar direito de
novo?
Eu me virei para ver como Aiden estava se saindo e fiquei surpresa
com a reentrância vazia ao meu lado.
Onde ele poderia ter ido?
Meu telefone começou a zumbir na mesa de cabeceira e me estiquei
para pegá-lo. Meu coração saltou na minha garganta quando vi uma
mensagem de Aiden.

Aiden: Tenho uma surpresa para você.

Aiden: Encontre-me na Avenida Furtaugh, 121.

Sienna: Uma surpresa??

Aiden: Quão rápido você consegue chegar aqui?

Sienna: To indo!

Aiden
Fiquei do lado de fora, esperando ansiosamente Sienna. Eu mal podia
esperar para ver a expressão em seu rosto quando ela visse a surpresa. O
carro dela parou na frente e eu dei a volta para abrir a porta para ela.
— Oi, — ela disse, seus olhos brilhando enquanto ela pulava para me
beijar.
— Oi, meu amor, — eu disse, pegando sua mão e a guiando até a loja.
Era um local vazio. A loja de discos que costumava ficar aqui havia
acabado de fechar.
Um amigo meu no ramo imobiliário me contou sobre isso. Ele sabia
que eu estava procurando um espaço.
Abri a porta para ela e observei enquanto seus olhos se arregalaram,
olhando para o piso de madeira e as paredes vazias. — O que é?
— Costumava ser uma loja de discos, — eu disse. — O proprietário se
aposentou e colocou o espaço à venda.
— E daí? Vamos fazer um piquenique aqui?
Eu passei meus braços em torno dela e puxei-a para perto de mim,
inclinando-me para beijar sua bochecha. — Podemos fazer um
piquenique aqui, se quiser.
Ela se virou para que ficássemos cara a cara.
— Aiden Norwood, o que estamos fazendo aqui?
Eu olhei profundamente em seus olhos, tentando esconder o sorriso
puxando meus lábios. — Sienna Mercer-Norwood, achei que você
gostaria de ver sua nova galeria.
Sua boca formou um 'o', mas nenhuma palavra saiu. Então sua cabeça
girou, absorvendo o espaço como se ela estivesse vendo pela primeira
vez. Ela se virou para mim, os olhos ainda arregalados.
— Feliz aniversário de uma semana, Sienna.
Ela gritou — eu nem sabia que sua voz poderia atingir aquela oitava
— e então ela correu ao redor de toda a circunferência da loja, olhando
para cada parede por um momento antes de passar para a próxima.
Algo dentro de mim brotou, algo feito de alegria e amor, de paixão e
familiaridade, como se meu coração finalmente estivesse batendo,
batendo de verdade, pela primeira vez.
Então ela voltou para mim. — Não acredito que você fez isso... por
mim, — disse ela.
— Eu faria qualquer coisa por você.
Ela olhou para o chão e depois para mim. — Há algo que eu quero te
dizer. Eu descobri algo. Sobre meus... meus pais biológicos.
Eu sabia que Sienna tinha sido adotada por seus pais, mas nunca
tínhamos conversado muito sobre isso antes. Eu podia ver o quão
importante isso era para ela, o quanto deixava seu corpo todo tenso,
como se ela estivesse tentando manter a informação dentro de você.
— Eles eram alfas.
Minha mente ficou em branco. Eu pisquei. — Nós estamos? Onde?
Quando?
— Eles se foram agora, mas... na Matilha Texana. Eles eram alfas,
Aiden.
— Eles eram alfas, — eu sussurrei de volta, e tudo começou a fazer
sentido. Seu poder, a maneira como podíamos nos comunicar, a maneira
como ela se sentia, o ajuste mais perfeito. Eu a agarrei e beijei porque
hoje... não poderia ficar melhor.
Sienna

Eu fiquei tão animada com a nova galeria que Aiden insistiu em me dar
algum tempo para conhecê-la sozinha.
Ele provavelmente só quer fugir de todos os meus gritos.
Eu já tinha feito uma parada na casa dos meus pais para pegar alguns
dos meus cadernos e pinturas na garagem. Ele serviu como meu estúdio
improvisado por um tempo, mas agora...
— Eu tenho minha própria merda de galeria — eu disse em voz alta
para ninguém. Eu ainda não conseguia acreditar que era real.
Peguei um dos meus velhos cadernos de desenho e comecei a folhear
as páginas para ver se havia algo com potencial.
Sorri quando vi um esboço inacabado de um homem bonito e
musculoso, parecendo ter o peso do mundo em seus ombros largos.
Foi a primeira vez que conheci Aiden.
Pensei naquele dia no rio. O dia que mudou tudo. Agora tudo estava
tão diferente, mas parecia que tudo tinha acontecido da maneira que
deveria.
Ao passar para a próxima página, meu coração parou.
Era o outro esboço que eu havia desenhado naquele dia. A assombrosa
visão sexual que pairava sobre mim como uma nuvem negra.
Mas quando olhei para ele agora, não me encheu de pavor. Em vez
disso, tive uma sensação de paz.
Pensei em Emily e senti as lágrimas transbordando dos meus olhos.
Eu finalmente encontrei uma maneira de superar o passado. Eu sabia que
Emily ficaria orgulhosa de mim.
Eu esperava que, apenas talvez, ela estivesse lá em cima cuidando de
mim. Talvez minha paz também pudesse ser dela.
Enxuguei as lágrimas e peguei um lápis, em seguida, virei para uma
página em branco.
Um novo começo.
Enquanto estava sentada em minha galeria, observando meu lápis
rabiscar sobre a página em movimentos abstratos, tive um tipo diferente
de determinação. Um que não foi alimentado por nenhuma memória,
passado traumático, arrependimentos ou julgamentos de outra pessoa.
Não, agora minha determinação era para o meu futuro.
Eu tinha uma galeria para preencher — minha própria galeria, com
paredes tão vazias que gritavam possibilidade. Então, prometi a mim
mesma que ficaria aqui desenhando todas as manhãs até não sobrar
espaço na galeria para novos trabalhos.
De repente, senti uma rajada de vento me atingir, mas o frio que veio
com ela durou muito depois de ter passado. Eu deixei a porta aberta? Foi
quando virei para a esquerda. E a vi.
A senhora de olhos roxos.
Ela estava de volta.
— Olá, Sienna. — Ela caminhou em minha direção, cada um de seus
movimentos mais graciosos do que o anterior.
— Você nunca me disse seu nome, — respondi, mantendo minha
guarda alta. Algo sobre estar acasalada com um alfa estava me deixando
mais confiante em mim mesma.
— É Eve, — ela disse, seus olhos roxos brilhando para mim. — Você
estava linda em sua cerimônia de acasalamento.
— Você estava lá?
Ela apenas sorriu. Claro que ela estava lá. Ela estava em toda parte.
Mas eu fiz a pergunta errada...
— Por que você está aqui?
— Estou saindo da cidade. Mas eu queria avisá-la sobre o caminho
perigoso à frente, visto que fui eu que a coloquei nele, — ela respondeu
enigmaticamente.
— Avisar? Qual caminho?
— O caminho para encontrar a verdade sobre seus pais biológicos.
Fiquei atordoada em silêncio, mas Eve continuou falando. — Basta
ter cuidado em quem você confia. Existem aqueles que não pensam nos
seus melhores interesses.
— Como quem? — Eu perguntei, mas Eve já estava deslizando de
volta para a porta. — Como faço para encontrar a verdade?
— Só você pode responder isso, Sienna. Você pode até descobrir que a
resposta já está dentro de você.
Com essas palavras finais, Eve desapareceu, me deixando mais
confusa do que nunca.
Quando meus olhos voltaram para o meu caderno de desenho, aquela
confusão se transformou em um sentimento de mau agouro. O esboço
abstrato no qual eu estava trabalhando quando Eve entrou de repente
tinha uma forma muito clara.
Uma figura sombria com presas alongadas.
Um vampiro.
Livro 2
Sumário
1. Tradições
2. Ninguém Humilha a Matilha
3. Visitantes Inesperados
4. Quanta Audácia
5. Entrando na Fila
6. Aumentando as Apostas
7. Controle de Danos
8. Fricção Aquecida
9. Lavagem de Roupas
10. Hora do Almoço
11. Declarações
12. Pânico no Paraíso
13. Um Tempo a sós
14. Arte Nebulosa
15. O Elevador do Êxtase
16. Perguntas
17. Deixe-me entrar
18. Mémoire
19. Spotlight
20. Restrições
21. Mente Aberta
22. Inseguranças
23. A Ópera
24. Yuletide
25. Correndo
26. Caminhos da Mente
27. Marionetistas
28. Cortado
29. Desperta
30. Família
Capítulo 1
TRADIÇÕES
Sienna

A água batia contra nossos corpos nus enquanto estávamos de frente um


para o outro na chuva quente do verão.
Nossas silhuetas brilhantes foram banhadas por uma luz âmbar que
bronzeou todo o pasto.
Os olhos dele vagavam pelas minhas curvas num desejo descarado.
Corei, não acostumada à atenção.
A corrida durou horas e nos levou ao topo de uma colina com vista para
toda a ilha. Ao longe, mal se viam as torres brilhantes do resto no horizonte.
Só paramos quando tivemos certeza de que estávamos completamente
sozinhos.
— Venha aqui, — ele acenou, estendendo sua mão.
O meu coração disparou enquanto eu andava em sua direção. O vapor
subia por seus ombros salientes.
Senti sua mão áspera contra minha bochecha enquanto ele me puxava
para um beijo.
Logo ele estava em cima de mim, nossos corpos deslizando um contra o
outro sobre a grama macia, como se estivéssemos tentando incendiar o lugar.
O volume dele se esfregava contra o exterior do meu sexo em um ritmo
tentador, abrindo meus lábios, mas recusando-se a entrar
Foi uma tortura que eu não pude suportar
Puxei-o para dentro de mim, ofegando de prazer e um pouco de dor. Ele
estava mais fundo do que eu jamais havia sentido antes.
Gemi de alegria, chamando seu nome, implorando para que ele não
parasse enquanto a chuva caía sobre nós.
Eu fechei o registro, deixando os últimos rastros de água escaparem pelo
meu peito.
Era inverno, e nossa lua-de-mel havia terminado há muito tempo,
mas os banhos quentes ainda me lembravam aquele dia na ilha com
Aiden.
O vapor abraçou minha pele como um cobertor quente quando eu saí
do chuveiro.
Foi engraçado pensar que, um ano atrás, eu tinha ficado no mesmo
banheiro, furiosa por ter sido enganada para ficar com Aiden, mas agora
aqui estava eu, acasalada ao Alfa da Matilha da Costa Leste e não
querendo estar em nenhum outro lugar a não ser nesta casa com o
homem que eu amava.
— Você precisa de ajuda aí dentro?, — perguntou ele através da porta
com sua voz grave.
— Não, sou perfeitamente capaz de me secar sozinha, muito
obrigada, — respondi, sorrindo para mim mesma.
Nos últimos doze meses, ele havia se tornado mais brincalhão,
baixando sua guarda e me mostrando um lado que era diferente daquele
Alfa dominante que ele tinha que exibir para o resto da matilha.
— Fico feliz em ajudar, — continuou ele, com uma persistência
encantadora que me fez rir. — Não é problema algum.
— Senta, rapaz, — disse eu, me embrulhando em uma toalha e rindo.
— Mas eu tenho sido tão bonzinho, — protestou ele.
— Quem espera sempre alcança, — respondi, limpando o vapor do
espelho e desembaraçando meus cabelos úmidos.
Abri a porta e dei um passo à frente, pressionando meu corpo
molhado contra seu peito aberto, envolvendo meus braços em torno
dele, e agarrando suas costas musculosas.
Ele inclinou a cabeça como se quisesse me beijar, e eu me afastei. —
Eu disse que quem espera sempre alcança... e você não esperou.
Eu o afastei e mergulhei dentro do meu armário, garantindo que ele
tivesse uma boa visão da minha bunda. Quando fiz a curva, tirei minha
toalha para que ele visse que eu estava nua e fechei a porta de correr.
Eu mal tinha vestido minha roupa íntima quando a porta se abriu e
me vi envolta nos braços de Aiden, seus lábios nos meus em uma paixão
ardente.
Eu senti ele me puxando de novo, e caímos no colchão cheio de
travesseiros. O peso de Aiden pressionado contra mim com um forte
desejo. Eu podia sentir como ele estava duro, e eu já estava ficando
molhada.
Ele rasgou sua camisa, revelando seu tronco definido e seus braços
salientes. Seu peito pesado de desejo e seus olhos verde-ouro cintilavam
de luxúria.
Eu me inclinei e beijei meu Alfa. Seus lábios estavam macios e
quentes, e cada vez que eu os tocava, parecia que eu estava derretendo
neles.
— Eu quero começar uma família com você, Sienna, — disse ele de
repente.
— Eu sei, — eu respondi. — Nós vamos.
— Quero dizer, agora mesmo. Eu quero começar a tentar.
As palavras de Aiden me pegaram desprevenida. Eu sabia que
eventualmente teríamos que falar sobre isso, mas nos últimos seis meses
eu tinha esquecido desse assunto.
Havia tanto para se acostumar depois de acasalar com o Alfa da
segunda matilha mais poderosa dos Estados Unidos. Eu não podia mais
me vestir como antes, não podia sair em público sem guarda-costas, e
estava constantemente sob vigilância.
Chega de encontros espontâneos com as garotas na Winston's.
Chega de tardes tranquilas no parque, onde eu poderia ficar sozinha
com meu caderno de rascunho e meus pensamentos.
Eu tinha tarefas agora, como a que eu tinha que cumprir esta tarde.
Era o primeiro dia do Festival de Fertilidade, e a tradição da matilha
exigia que eu me transformasse com Aiden na frente da matilha inteira e
o deixasse montar-me.
Pensei que Aiden estava brincando quando ele me contou pela
primeira vez, mas acho que quando você é criado como um Alfa, não
questiona o status quo e as cerimônias ultrapassadas.
Mas eu não vim da realeza da matilha. Antes de ser sua cônjuge, eu
era uma garota adotada de dezenove anos com um pai humano e uma
enorme aversão aos holofotes.
A ideia de ser tão vulnerável em um ambiente tão público era
absurda, para não dizer humilhante.
Eu havia tentado confrontar Aiden sobre isso, mas toda vez que eu
tocava no assunto, ele desconversava dizendo que isso não era grande
coisa, mas que era importante para a matilha.
Não estávamos fazendo sexo nem nada, mas ainda assim o
considerava como um caso bastante íntimo e privado.
— Sienna? — perguntou Aiden, agarrando minha coxa.
— Sim, desculpe. Eu estava viajando.
— Você quer continuar?
— Aiden, ainda não sei se estou pronta.
— O que você quer dizer? Já faz um ano. Alfas e seus companheiros
devem começar a tentar os filhotes no início da primeira Bruma depois
de terem se acasalado. É uma tradição.
Houve essa palavra novamente. — Tradição.
Deus, como eu estava começando a odiar o som dela. E a Bruma,
aquela loucura luxuriosa que possuía todos os lobisomens durante a
época do Acasalamento, estava prestes a piorar dez vezes a situação.
— Podemos falar sobre isso mais tarde? — perguntei, tentando
resgatar o momento romântico, que estava rapidamente escapando.
— Claro, podemos conversar após a cerimônia, — respondeu Aiden,
olhando para mim com seus olhos suaves e inocentes. Quanto mais eu
olhava para eles, porém, mais confiante eu ficava de que não poderia
continuar com o ritual esta tarde.
Me matava fazer isso com ele, e eu sabia que era minha culpa por ter
deixado passar tanto tempo, mas algo dentro de mim não me parecia
certo.
— Isso é algo mais que eu queria falar com você, — disse eu,
interrompendo o olhar dele.
— O que você quer dizer? Você está nervosa?, — perguntou ele,
acariciando meu braço.
Por que ele tem que ser tão doce logo agora?
Mas eu não poderia voltar atrás. Não havia mais tempo para adiar. Eu
tinha que dizer a ele como me sentia.
— Aiden, eu não quero fazer isso.
Um olhar confuso lhe passou pelo rosto, e eu esperava que
pudéssemos resolver isso sem que isso explodisse em uma briga.
— Por quê? E apenas uma pequena exposição para a matilha para que
eles possam nos dar suas bênçãos enquanto tentamos conceber.
— Se é só para a bênção da matilha, então por que precisamos nos
transformar e fazer todas as outras coisas?
— É simbólico.
Eu esperava que Aiden tirasse um momento para ouvir a si mesmo e
perceber o quão fraco era o seu argumento, mas sua expressão era tão
sincera que me fez soletrar minha objeção.
— Talvez para você, mas eu acho que é degradante.
— Minha mãe o fez, assim como a mãe de meu pai. Você é minha
companheira, Sienna. Ninguém vai te julgar...
— Não é o que as outras pessoas pensam, Aiden. É com o que me
sinto confortável.
— Escute, — disse ele, saindo de baixo de mim e sentado em cima da
cama. — Isto só acontece uma ou duas vezes na vida. Vamos nos
transformar por menos de um minuto. A tradição é o que mantém a
matilha unida. Sem ela, perdemos nossa identidade.
Lá vem aquela palavra estúpida de novo. — Sinto que estou perdendo
minha identidade por ter que seguir todas essas regras estúpidas, — eu
retruquei.
Coloquei um olhar severo no meu rosto, deixando-o saber que eu não
mudaria de ideia — Olhe, Sienna, esqueça a matilha. Você pode fazer isso
por mim? E eu juro que nunca mais te pedirei para fazer algo assim.
Aiden era meu mundo, e eu faria qualquer coisa para fazê-lo feliz,
mas neste momento eu odiava que ele não estivesse me ouvindo. Como
um Alfa, ele não estava acostumado a comprometer-se, mas se nosso
relacionamento continuasse a crescer, ele precisaria descobrir como fazer
isso.
— Você realmente não entende o meu lado?
— É só desta vez, Sienna, — respondeu ele. — Depois disto, você é
que manda, meu amor. — Eu tinha certeza de que ele não ia ceder.
— Preciso terminar de me preparar, — disse eu, saltando da cama e
voltando para o armário.
— Você precisa de ajuda? — ele disse com um tom lúdico.
— Não, eu consigo me virar sozinha, — respondi sem entusiasmo.
— Não demore muito, — disse Aiden, pegando sua camisa e me
mandando um beijo antes de sair do quarto.
Vesti o vestido do festival e me olhei no espelho, pensando em todas
as companheiras de Alfas que suportaram isso antes de mim e me
perguntando se elas se sentiam ou não tão enojadas quanto eu.
É menos de um minuto, Sienna. É menos de um minuto.

O palco foi construído em uma clareira na floresta. Árvores gigantes


tinham sido derrubadas e seus corpos unidos para criar a gigantesca
plataforma em que Aiden e eu agora estávamos. Atrás de nós estava o
resto do conselho e um convidado surpresa, Raphael Fernández, o Alfa
do Milênio.
Não admira que Aiden não quisesse cancelar o festival.
Em todos os lugares, olhando para nós com excitação, estava
praticamente toda a Matilha da Costa Leste
Por um momento eu pensei ter visto um par de olhos roxos, mas deve
ter sido apenas minha imaginação.
Eu não tinha visto Eve desde que ela passou pela minha galeria há
mais de seis meses. Tampouco tinha recebido algum esclarecimento
sobre aquele aviso vago sobre meus pais biológicos com os quais ela me
deixou.
Se meus pais realmente tivessem sido Alfas, eu me perguntava se eles
também teriam que participar deste ritual horrível.
Quando as declarações de abertura foram feitas, meu coração
começou a bater. Eu não podia acreditar que ia fazer isto. Eu fiquei
pensando nisso dezenas de vezes enquanto dirigia para o festival.
Senti a mão de Aiden agarrar a minha e apertá-la com tranquilidade.
Ele então retirou seu manto, revelando sua figura escura e estatuária, e
começou a transformação.
É isso. Não tem mais volta.
Eu fiquei no lugar, sem me mover. Um suspiro ondulou através da
multidão como uma onda.
O enorme lobo de Aiden agora estava ao meu lado, olhando com
expectativa para a minha forma humana.
Fui até o microfone e examinei os rostos estupefatos na multidão.
Minha mão tremeu enquanto eu puxava o microfone para baixo,
apontando-o para meus lábios.
Não é tarde demais. Você ainda pode se transformar.
Não, você consegue, Sienna.
Eu tentei forçar as palavras, mas elas se recusaram a ceder. Minha
adrenalina estava aumentando, apertando minha garganta e todos os
músculos do meu corpo.
Você também é uma Alfa, Sienna. Comece a agir como tal.
Fechei meus olhos, bloqueando o mar de pessoas e acalmando meus
nervos. Minha garganta relaxou, e as palavras saíram antes que eu tivesse
a chance de pensar.
— Estarei com meu companheiro, mas apenas como sua igual, não
como seu prêmio. Ainda peço a sua bênção, mas não vou me
transformar.
Houve um momento de silêncio enquanto minhas palavras surtiam
efeito, mas uivos furiosos logo romperam em um tumulto crescente. Eu
me afastei do pódio, sem saber o que fazer agora que havia feito meu
protesto.
Os gritos se intensificaram, e os rostos dos espectadores estavam
repletos de malícia. Eu comecei a me sentir assustada, ameaçada.
Teria eu acabado de cometer um grande erro?
Capítulo 2
NINGUÉM HUMILHA A MATILHA
Sienna

Eu senti um empurrão nas costas, me virei e vi Aiden ainda em forma de


lobo.
— Sinto muito, não posso, — disse eu, colocando minha mão em seu
focinho. — Esta é uma tradição que me recuso a manter.
Até mesmo os olhos de lobo do meu companheiro estavam cheios de
desapontamento. Aquilo apunhalou-me no coração como uma faca
afiada. Era demais para aguentar. Tive que fugir antes de me despedaçar
completamente.
Virei e saí do palco o mais rápido que pude, sem correr.
Quando cheguei ao chão, Jocelyn estava lá esperando para me
interceptar.
— Sienna, espere!
— Jocelyn, não consigo. Eu preciso sair daqui.
— Certo, — disse ela, olhando para mim e percebendo que eu não
estava em condições de ouvir nada do que ela tinha a dizer. — Venha
comigo.
Ela pegou minha mão e me puxou para além das vans dos jornais. Já
os repórteres e operadores de câmera tinham começado a se aglomerar
ao meu redor, com lentes e microfones.
Quando minha equipe de segurança nos alcançou, já tínhamos
chegado aos carros da matilha. Um dos seguranças abriu a porta de uma
limusine e colocou nós duas lá dentro.
Fecharam a porta, e os sons do lado de fora foram instantaneamente
silenciados. Enquanto aceleramos, olhei para fora das janelas escurecidas
para a multidão de lobos furiosos gritando para o nosso carro. Acho que
nunca havia me sentido tão odiada em minha vida.
Felizmente, eu ainda tinha a Jocelyn.
Como curandeira, ela não apenas curava feridas físicas, mas também
emocionais.
Tínhamos nos tornado como irmãs no ano passado, e seu
relacionamento anterior com Aiden significava que ela o conhecia tão
bem quanto eu, se não melhor.
Dito isto, eu tinha mantido minhas apreensões em segredo. Ela tinha
sido criada no mesmo mundo centrado em matilhas que Aiden, e se ela
estava do lado dele, bem, eu decidi que preferia continuar sozinha a
correr o risco de perder nossa amizade.
— Si, por que você não veio até mim?
— Achei que você não entenderia. Pensei que você me diria o mesmo
que Aiden.
— O que ele disse?
— Que não era nada demais. Que é importante para a matilha. Que
eu estou exagerando. Mas agora vejo como foi estúpido manter tudo
entalado. E agora vocês dois me odeiam.
— Eu não te odeio, Sienna, e nem Aiden.
— Você não olhou nos olhos dele como eu olhei, — respondi, com
lágrimas nos olhos.
— Tenho certeza de que ele se sentiu envergonhado, — respondeu
Jocelyn. — E certamente a presença do Alfa do Milênio não ajudou.
— Obrigada por me lembrar, — eu chorei, enterrando meu rosto em
minhas mãos.
Jocelyn colocou seu braço ao meu redor e acariciou meus cabelos,
tentando me acalmar. Eu só podia imaginar com o que Aiden estava
lidando neste momento. Eu o havia abandonado ali, com a multidão,
com Raphael.
Eu era uma companheira horrenda.
— Posso dizer que se trata de mais do que apenas o ritual, — disse
Jocelyn em sua voz calmante de curandeira.
Às vezes eu odiava como ela era boa em seu trabalho, mas acabara de
testemunhar o que aconteceu quando guardei as coisas para mim
mesma.
Além disso, eu não tinha motivos para ter medo do julgamento de
Jocelyn. Ela era minha melhor amiga. Sentime envergonhada de que o
pensamento tivesse sequer entrado em minha mente.
— Aiden quer começar a tentar uma família agora, e eu não estou
pronta de jeito nenhum.
— O que a faz sentir que não está pronta?
— Eu não sei. É esta sensação que está pairando sobre mim. Eu não
consigo explicar.
— Tem a ver com o Aiden?
— Com certeza ele é uma parte importante. É como se ele só quisesse
filhotes porque a tradição diz que devemos começar agora. Isso é uma
loucura, certo? Você deveria querer ter filhos porque quer ter filhos, não
porque algumas regras ultrapassadas dizem que você deveria.
— Você disse isso a ele?
— Não quero que ele pense que sou ingrata ou que não quero ter
filhos com ele. O que eu quero dizer é que acho que uma grande parte do
mundo em que ele foi criado é uma grande bobagem.
— Talvez não deva usar essa palavra, — respondeu Jocelyn, rindo, —
mas todo relacionamento saudável é baseado na comunicação aberta.
Sim, mas isso só funciona quando seu cônjuge está disposto a ouvir.
Me encolhi no banco frustrada, pensando na minha conversa com o
Aiden antes de sairmos para o festival, amaldiçoando-me por não ser
mais assertiva.
— E a outra parte? — perguntou Jocelyn.
— O quê? — Eu respondi, voltando de meus pensamentos.
— Qual é a outra parte da sensação que está pairando sobre você?
Eu não tinha certeza se sabia sequer, apenas que estava ali, pairando
ameaçadoramente acima de mim sempre que a conversa de ter filhos
surgisse.
— É como este medo escondido no fundo da minha mente.
— Medo de quê?
— Eu não sei. O desconhecido, eu acho.
É
— É normal ficar apreensiva quanto ao futuro. Si. Especialmente
quando se trata de começar uma família.
— Não, não se trata tanto do futuro, mas sim do passado de onde eu
venho.
— Você quer dizer sua família?
— Sim, mas não minha família adotiva, minha família biológica. Eu
não sei nada sobre eles.
— E quanto isso te assusta?
— Quero dizer, fui encontrada em uma carruagem. Eles podem ser
qualquer um. Antes de passar seus genes, você não acha que deveria
saber o que eles estão carregando?
— A família é mais do que genética, Sienna. Olhe para seus pais
adotivos. Você acha que eles se importaram com quem eram seus pais
quando a levaram para casa?
— Isso é diferente, — eu protestei.
— Mas será?, — respondeu Jocelyn.
— Claro que é. Fui literalmente empurrada nas mãos deles. Eles
deveriam esperar por uma checagem de antecedentes de meus pais antes
de me trazerem para casa?
— Si, eu acho que você está obcecada demais com isso. Qualquer
criança que você tenha com Aiden ficará bem. Você é uma loba
perfeitamente saudável, amorosa, e ele é um Alfa. Eles também recebem
metade dos genes dele.
— Isso é fácil para você dizer. Você nem sequer acasalou.
Lamentei imediatamente ter deixado sair as palavras da minha boca.
Não ter acasalado era algo que importava para Jocelyn, e embora eu não
tenha dito por mal, eu sabia que tinha soado mal.
— Jocelyn, eu não queria dizer isso. Eu estava tentando...
— Está tudo bem, Sienna. Eu sei que sua cabeça está em um milhão
de lugares. — Seu sorriso reconfortante me fez saber que ela não tinha
levado isso a sério. Eu respirei um suspiro de alívio.
— Você precisa falar com o Aiden, no entanto... sobre as duas coisas.
Como sempre, Jocelyn estava certa, mas como eu deveria abordá-lo
depois do que acabara de fazer?
— Bem, esse é o seu conselho sobre como reatar a relação com meu
companheiro. O que você prescreveria para reparar minha imagem com
o resto da matilha?
— Sou uma curandeira, não uma milagreira, — respondeu Jocelyn,
levantando suas mãos em protesto.
Eu tinha silenciado meu telefone quando entramos no carro,
ignorando uma enxurrada de notificações, mas olhei para baixo e vi que
tinha novas mensagens de minha mãe e Selene.
Além de Jocelyn, elas eram as únicas pessoas em minha vida com
quem eu me sentia à vontade para falar naquele momento. Eu sabia que
elas não me julgariam pelo que eu tinha feito.
— Fale com elas, — disse Jocelyn. — Acho que já dei todos os
conselhos que tenho, seja como for.

Mãe: Querida, me ligue.

Mãe: Eu não estou com raiva. Eu só quero saber se você está


bem.

Mãe: Não escute o que as pessoas horríveis da mídia estão


dizendo.

Mãe: Si?

Sienna: Oi
Sienna: Obrigada por perguntar, mãe

Sienna: Eu estou bem

Mãe: O que você fez foi tão corajoso.

Mãe: Seu pai e eu estamos aqui para você se precisar de nós.


Nós te amamos.

Sienna: Obrigada. Isso significa muito

Mãe: Tudo isto está me mostrando muitas coisas sobre meus


amigos.

Mãe: Patty veio na hora e começou a dizer algumas coisas não


muito agradáveis.

Mãe: Acho que não vou mais falar com ela.

Minha mãe estava perdendo amigos por causa do que eu havia feito?
Essa era a última coisa que eu queria que acontecesse.
Eu não tinha a intenção de dividir a matilha. E o que a mídia estava
dizendo sobre mim?
Selene: Irmã, todas as garotas no trabalho pensam que você é
incrível

Selene: Estou tão orgulhosa de ser sua parente!

Selene: Não que eu não fosse antes rs

Sienna: Obrigada, mana 😅 (emoji de


carinha rindo)

Sienna: Agradeço o apoio

Selene: Estou começando uma nova coleção

Selene: se chama "foda-se o matriarcado"

Selene: exagerei?

Sienna: Muito bem, Cachinhos dourados

Então, eu estava destruindo amizades e liderando movimentos


sociais.
Ó
Ótimo.

O carro nos deixou na Casa da Matilha. Pensei em ir para casa, mas as


inúmeras mensagens de Aiden deixaram claro que ele tinha que lidar
com aquela situação e que estaria lá pelo resto do dia.
Aiden estava ao telefone quando cheguei em seu escritório. Ele
ergueu um dedo para me avisar que estaria livre em apenas um
momento.
Fiquei confortada com o fato de que ele me olhou com o rosto de um
homem mergulhado no trabalho, não de um companheiro enraivecido.
Ainda assim, sua distância me aborreceu.
Comecei a pensar no que eu diria a ele quando ele desligasse o
telefone. Como eu começaria? E se ele dissesse que estava trabalhando
até tarde e que eu deveria ir para casa sem ele?
— Olá, garotinha.
Ele já estava pronto? Eu ainda não tinha ideia de como deveria
começar.
— Ei, Sr. Wolf, — eu disse, empatando. — Eu queria saber se você
precisava de uma carona para casa hoje à noite.
O que? Uma carona para casa? Não, eu quero saber se podemos falar
sobre como eu acabei de virar nossa vida de cabeça para baixo.
— Depende de quem está dirigindo, — respondeu ele, caminhando na
minha direção com uma sensualidade que me deixou com água na boca.
Foco, Sienna.
Ao invés de me beijar como eu queria, ele parou alguns passos e
cruzou os braços, esperando uma resposta.
Eu não podia suportar esta tensão entre nós. Era como se
estivéssemos cada um esperando que o outro tomasse uma atitude. Os
flertes brincalhões daquela manhã pareceram como se fosse um milênio
atrás.
— Aiden, quero falar sobre esta tarde.
— O que que tem?
— Não faça isso.
— O quê?
— Não me faça soletrar. Você sabe que eu sinto muito por tudo isso.
Não era minha intenção...
— Olhe, Sienna, eu entendo porque você não se transformou.
— Então por que você está agindo com tanta frieza?
— Eu não disse que concordava com isso, — respondeu ele, mudando
sua expressão para uma de desdém.
Não conseguia descobrir o que me machucava mais, o fato de que ele
entendia quanta dor aquilo me causaria, ou que, mesmo após o fato, ele
estava chateado com minha decisão.
Qualquer sentimento de reconciliação começou a evaporar e foi
imediatamente substituído por uma raiva fervente.
— Por que é tão difícil para você deixar de lado suas estúpidas
tradições? — Eu gritei. — Você não vê que eles estão nos despedaçando,
Aiden? E para quê? Para que a matilha possa dormir feliz, sabendo que
seu Alfa e sua companheira estão em casa fodendo todas as noites,
tentando conceber o próximo Alfa?
Eu não podia acreditar que ele quisesse deixar isso de lado como se
fosse um item trivial em sua agenda. Sua indiferença só alimentou o fogo
que jorrava da minha boca.
— Ou falamos sobre isso agora ou você encontra outro lugar para
dormir hoje à noite!
Certamente ele saberia que eu estava falando sério agora.
— Vejo você pela manhã então, — disse ele, sem hesitar.
Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo.
O que foi que eu fiz?
Capítulo 3
VISITANTES INESPERADOS
Sienna

A noite anterior foi a primeira que passei sozinha desde que nos
acasalamos.
Eu mal conseguia dormir, fiquei deitada na cama lembrando do que
tinha acontecido no escritório de Aiden. Eu queria poder voltar atrás e
lidar com tudo de outra maneira.
Eu me sentia incompleta quando acordei naquela manhã. Eu mal
conseguia comer. As pontadas de arrependimento suprimiram qualquer
apetite que eu pudesse ter.
Eu não conseguia nem mesmo me obrigar a ir para a Casa da Matilha.
Em vez disso, passei o dia na casa dos meus pais pintando.
Quando eu precisava endireitar minha cabeça, geralmente recuava
para o estúdio anexo à minha galeria, mas esses dois lugares eram
presentes de Aiden, e eu não queria mais deixá-lo perturbar minha
mente.
Mas eu sabia que não poderia evitá-lo para sempre. Não só porque ele
era meu companheiro, mas porque naquela noite era o chá de bebê da
minha irmã.
Ela e seu marido, Jeremy, estavam esperando seu primeiro filho, e
Aiden e eu éramos os padrinhos lunares, então nós dois tínhamos que
comparecer.
Uma hora antes de termos que estar no restaurante, ele parou em
nossa casa. Eu tinha voltado para casa mais cedo, com a intenção de
consertar as coisas e estava esperando por ele na cozinha.
A porta da garagem se abriu e ele entrou com a mesma expressão
indiferente de ontem à noite, antes de eu sair de seu escritório.
Ele me olhou, nem um pouco surpreso em me ver ali. — Você pintou
alguma coisa de que gostou?
— Como você... — Então eu olhei para baixo e vi as pequenas
manchas de tinta seca em minhas calças. — Olha, Aiden, vamos só passar
por essa noite?
— Não acho que vamos ter problemas. Eu adoro bebês.
— Eu nunca disse que não queria um filho. Claramente, você não
ouviu nada do que eu disse.
— Ser minha companheira significa que nossa família não é só você e
eu; é a Matilha toda.
— Isso é engraçado vindo de um homem que nem fala com os
próprios pais. Quanto tempo se passou desde que eles navegaram em
direção ao pôr do sol? Dez anos?
— É complicado, Sienna.
— É isso não é? Acho extremamente hipócrita da sua parte querer
uma família, considerando o pouco esforço que faz para manter contato
com a sua. Eles nem mesmo vieram para a nossa cerimônia de
acasalamento.
— Não vou cometer os mesmos erros que eles. — Ele fez uma pausa,
suspirando. — Se é assim que vai ser, eu não acho que devo ir esta noite.
Você pode dizer a eles que estou ocupado com o trabalho.
— Eu não vou fazer isso porque, ao contrário de você, eu me
preocupo em estar presente com a família, e você vai ser o padrinho
lunar da minha futura sobrinha, então você vai estar lá esta noite, goste
ou não. A Matilha pode ser minha família agora, mas vale para os dois
lados, e Selene é sua família agora também.
Eu não tinha notado até agora, mas minhas mãos estavam fechadas e
minhas unhas estavam cravadas nas minhas palmas.
Não tinha percebido até então que talvez a relação complicada de
Aiden com seus pais fosse a razão de ele ser tão inflexível sobre começar
um relacionamento para o bem da Matilha.
Eles eram a coisa mais próxima de uma família que ele tivera até eu
aparecer.
Talvez esta noite fosse algo bom para ele. Ele podia ver como uma
família saudável funcionava unida.
Eu só esperava que Selene e minha mãe não fossem tão loucas por
bebês a ponto de ficarem do lado de Aiden quando o assunto surgisse, o
que eu sabia que aconteceria.
Nós dois nos transformamos em silêncio. Um contraste gritante com
nossa brincadeira de duas manhãs atrás.
Eu não pude deixar de olhar furtivamente enquanto ele puxava a
calça por cima das coxas rasgadas e da bunda forte e musculosa. Posso ter
ficado com raiva dele, mas ele ainda era meu companheiro, e essa
distância estava me matando.
Eu o queria muito. Cada parte de mim ansiava por seu toque,
fantasiava sobre o gosto de seus lábios.
Quando a Bruma chegou, eu não sabia o que fazer. Aquilo nos
transformou em animais selvagens e completamente enlouquecidos por
sexo. No ano passado, meu sexo praticamente explodia sempre que
Aiden olhava para mim.
— Você vai ficar me olhando a noite toda ou vai terminar de se
arrumar? — ele perguntou, tirando-me do meu devaneio.
— Não se iluda. Eu só queria ter certeza de que sua roupa estava
bonita.
— Então agora sou um tirano e ainda por cima não me visto bem?
— Pare com essa maldade — eu disse, ficando um pouco chateada.
— Ei, Sienna, — disse ele, arrumando a gravata.
— O quê? — Eu disparei, esperando pelo próximo comentário
sarcástico.
— Você está linda.
Por mais que tentasse, não pude evitar de corar. Meu deus, ele era um
idiota, mas eu o amava por isso.
— Depressa, vamos nos atrasar, — eu disse, pegando meu casaco. —
Vejo você no carro.

O lugar era um restaurante tailandês divertido, que, de acordo com


Selene, ficava na cidade onde ela e Jeremy conceberam minha futura
sobrinha. Um fato que minha irmã fez questão de me dizer quando ela
estava planejando esta noite.
Selene estava sempre me dando informações demais, provavelmente
porque ela sabia o quão desconfortável me deixava ouvir sobre sua vida
amorosa. Mas acho que irmãos são assim mesmo.
Aiden tinha um irmão mais velho também, Aaron, que morreu onze
anos atrás depois que sua companheira foi morta em um acidente de
trabalho.
Esse era o poder do vínculo de acasalamento. Se um do par morresse,
o outro o seguia logo após. Um coração não poderia bater sem seu
parceiro.
Isso foi na época em que ele parou de falar com seus pais.
Pelo que Aiden me disse, a morte de Aaron os afetou demais, os
fazendo mergulhar em viagens e extravagâncias para se distrair.
No que me dizia respeito, não me importava em não os ter por perto.
Se eles foram capazes de fazer uma lavagem cerebral em Aiden para
seguir todas essas tradições idiotas da Matilha, só deus sabe o que mais
eles poderiam manipulá-lo a fazer.
Do lado de fora do carro, os postes da rua passavam e as luzes da
cidade cortavam a noite como aglomerados de vaga-lumes, congelados
em prisões geométricas.
Virei-me para Aiden, seu rosto recém-barbeado piscando para dentro
e para fora das sombras enquanto avançávamos pela rua.
Ninguém me preparou para esse tipo de amor — o tipo em que você
pode olhar para seu parceiro por horas sem dizer uma única palavra e
ficar totalmente satisfeito.
Fui dominada pelo desejo de tocá-lo, de me conectar com ele.
Eu deslizei minha mão sobre a dele enquanto ela descansava no
câmbio.
Ele pareceu ignorar isso, e eu imediatamente me senti uma idiota.
Comecei a me afastar quando ele me parou.
— Continua, — disse ele, suavemente, deixando meus dedos caírem
entre os dele.
Antes que eu percebesse, estávamos no restaurante. Aiden deu ao
manobrista a chave e nós entramos.
Eu podia ouvir minha mãe antes de vê-la; sua risada foi
imediatamente reconhecível e carregada por pelo menos 400 metros.
Ela e Selene eram bem mais extrovertidas do que eu, mas acho que
fazia sentido, visto que Selene é sua filha biológica.
São pequenas coisas como essa que me deixam tão hesitante em ter
meus próprios filhos.
O que será que eu vou passar para meus filhotes? Eu precisava saber.
— Sienna! Ah, você está tão linda, — gritou minha mãe quando
entramos na sala de jantar. — Aiden, você está perfeito, como de
costume.
— Tudo por você, Melissa, — ele respondeu, beijando-a na bochecha.
— Calma aí, — disse meu pai, aproximando-se e dando um abraço em
Aiden. — Eu posso ser humano, mas ainda posso sentir quando alguém
está dando em cima da minha companheira.
— Como vai, Robert? Ansioso para ser avô?
— Sim, mas não tanto quanto Melissa está ansiosa para ser avó. Ela já
transformou o antigo quarto de Selene em um berçário e agora está
adaptando a casa inteira para proteger os bebês.
— Ah, pare, — minha mãe respondeu, batendo no braço do meu pai.
— Você me faz parecer uma pessoa maluca. Gosto de planejar com
antecedência, só isso. Falando nisso, quais são as novidades em relação
ao bebê com...
— Melissa, por que você não vem me ajudar com os presentes? —
disse meu pai, agarrando-a pelo braço. — Deixe-a dizer olá para Selene.
— Aí, tudo bem. Continuaremos isso mais tarde, — minha mãe disse,
tomando outro gole de vinho.
Meu pai me lançou um olhar compreensivo e agradeci a ele por
garantir que evitássemos uma conversa desconfortável. Ele sempre teve
uma maneira estranha de saber como eu me sentia, mesmo sem eu dizer
nada.
— Mana! — gritou Selene, aproximando-se com sua barriga grande.
Ela estava simplesmente radiante. — Estou tão feliz por você estar aqui.
Desculpe pela mamãe. Eu não estava controlando quantos copos ela
tomou.
— Está tudo bem, — eu disse, rindo. — Deixe-a aproveitar a noite.
— Bem, ela vai poder fazer tudo de novo quando você tiver o seu. Não
importa quando for.
— Obrigado por esclarecer. — Eu revirei meus olhos.
A conversa na mesa era obviamente sobre bebês, e nas poucas vezes
que começou a se desviar em minha direção, Selene era hábil o suficiente
para se intrometer.
Eu sabia que todos queriam perguntar sobre o festival, e acho que a
única razão pela qual eles não perguntaram foi porque Aiden estava
sentado ao meu lado.
Os lobos fofocavam tanto quanto os humanos, mas era praticamente
sentença de morte falar sobre a companheira do alfa bem na frente dele.
Apesar de tudo que estava acontecendo entre nós, Aiden estava com
seu jeito encantador de sempre. Apreciava o esforço que ele fazia para
sempre garantir que a minha família viesse em primeiro lugar nesses
eventos, nunca deixando-a ser superada por sua fama.
— Eu gostaria de fazer um brinde, — disse Jeremy, pondo-se de pé. —
A minha adorável esposa, Selene, a futura mãe de nossa linda garotinha.
Eu te amo, querida, e mal posso esperar para criar essa lobinha tão
especial com você.
— Olha só! — disse uma voz desconhecida.
Virei-me e dei de cara com um homem e uma mulher de meia-idade
parados na porta.
Ela tinha cabelos pretos ondulados que iam até os ombros e usava
calça pantalona vermelha e um blusa azul-marinho despojada. Ele era
enorme e usava um blazer xadrez com um ascot lilás horroroso.
Havia algo em seu rosto que parecia familiar, mas não tinha ideia do
que era.
— O que eles estão fazendo aqui? — disse Aiden.
— Você os conhece? — Eu perguntei um pouco confusa.
— Sim, — respondeu ele, enrolando o guardanapo. — São os meus
pais.
Capítulo 4
QUANTA AUDÁCIA Sienna
Enquanto preparava o café, esforcei-me para ouvir qualquer boato que
eles pudessem deixar escapar enquanto eu estava fora da sala. O chá de
bebê de Selene estava bem mais quente do que eu imaginava.
Após o choque inicial, todos trocaram gentilezas; afinal, eles eram
meus sogros.
Aiden, no entanto, rapidamente os levou para longe.
Ele queria me manter longe, mas eu queria ir junto. Eles claramente
tinham um motivo para aparecer do nada, e eu não queria ficar de fora.
Terminei de preparar a bandeja e levei para a sala, onde todos se
sentaram. Eu sorri para a mãe de Aiden, e ela retribuiu meu gesto com
um sorriso educado. Eu sabia que ela estava me julgando.
— Charlotte, se você não se importa que eu pergunte, como você e
Daniel souberam sobre o chá de bebê da minha irmã?
— Ah, querida, que pergunta mais boba, — ela respondeu com uma
risada tolerante. Ela bateu seus óculos escuros de grife contra os lábios
enquanto ria, como se ela achasse que isso a fazia parecer pensativa.
— Nós sempre sabemos onde Aiden está, — ela continuou, pegando a
caneca de café como se nunca tivesse visto uma antes. — Aiden, toda a
sua porcelana está lavando?
Eu queria gostar dessa mulher, queria mesmo, mas com ela agindo
desse jeito, não tinha certeza de quanto mais eu aguentaria.
— Onde vocês estão hospedados? — perguntou Aiden, tentando
mudar de assunto.
— O que você quer dizer? — respondeu Daniel. — Você ainda tem a
casa de hóspedes, não é?
Nem por cima do meu cadáver Eu sutilmente movi meu pé sobre o de
Aiden e pressionei seus dedos.
— Não tenho certeza se está de acordo com os padrões da mamãe, —
ele rebateu.
Bom menino.
— Ah, nós podemos cuidar disso, — respondeu Daniel, tomando um
gole de café. — Além disso, ficar em outro lugar iria anular o propósito de
nossa visita.
— E qual seria o propósito? — Eu perguntei o mais inocentemente
possível.
— Ora, para conhecê-la, querida, — respondeu Charlotte. — Eu
queria ver que tipo de mulher estava acasalada com meu filho.
— Se você estivesse tão interessada, você poderia ter vindo para a
nossa cerimônia de acasalamento, — disse Aiden severamente.
— Não se irrite, Addy. As cerimônias de acasalamento são um monte
de pompa e lengalenga. Não é como se você tivesse que se transformar
ou algo assim.
Charlotte deixou as últimas palavras pingarem de sua língua como
ácido.
Mas que bela vagabunda.
Então, tudo isso tinha a ver com o festival da fertilidade. Eu tinha
causado um escândalo, e agora ela queria ver quem tinha bagunçado o
mundinho alfa e perfeito de seu filho.
— Você mesmo decorou este lugar ou contratou alguém? — Charlotte
perguntou enquanto examinava a sala.
— Eu mesma decorei, — eu disse.
— Foi o que pensei, — respondeu ela, levando a caneca aos lábios. —
Hm, — disse ela, sentindo o cheiro.
— Algo está errado? Posso trazer outra coisa para você beber — eu
ofereci.
— Não, isso está maravilhoso, — respondeu ela, pousando a caneca.
— Só acho que não estou mais com disposição para líquidos. Addy, o que
deu em você para comprar aquele quadro? É um pouco amador, ou era
essa a intenção?
— Sienna pintou, na verdade, — respondeu Aiden. — Ela tem sua
própria galeria.
— Então, é isso que você faz quando não está nas manchetes, —
comentou Charlotte, ainda mastigando seus estúpidos óculos de sol.
— Aiden, que tal você colocar esses músculos para trabalhar e me
ajudar a trazer nossas malas, — disse Daniel, pondo-se de pé.
Aiden me lançou um olhar como se dissesse que não havia nada que
ele pudesse fazer, e eu respondi com um sorriso forçado.
Eu assisti ele e seu pai saírem da sala, e parecia que eu estava sendo
abandonada em uma ilha com uma leoa faminta.
— Você não tem ideia da sorte que tem, — disse Charlotte,
recostando-se na cadeira. — Eu tinha vinte e quatro anos quando
acasalei com Daniel. Quantos anos você tem mesmo?
— Vinte.
— Então você tinha apenas dezenove anos? Que beleza, — ela disse,
entusiasmada. — Agora tudo faz sentido. Dezenove, meu deus.
— Desculpe?
— Eu estava tentando descobrir por que você sentiu que era
importante fazer o meu filho e toda a nossa Matilha de bobos. Mas agora
está claro que você não sabia de nada. Não se preocupe, vamos esclarecer
tudo agora mesmo.
— Na verdade, eu sabia exatamente o que estava fazendo, —
retruquei.
— E o que você achou que era, querida?
— Protestar contra um ritual arcaico que me deixou extremamente
desconfortável.
— Você já se perguntou por que, nos milhares de anos em que a
Matilha existe, você foi a primeira a recusar a se transformar?
— As coisas mudam.
— Sim, minha querida, elas mudam, mas as pessoas não.
— Claramente, — eu murmurei baixinho. — Talvez eu deva ir ver se
Aiden e Daniel precisam de ajuda.
— Não precisa, — respondeu Aiden, carregando duas malas de couro
ridiculamente grandes.
— Tem certeza? Posso colocar lençóis na cama.
— Não, eu posso fazer isso quando eu deixar essas malas, — disse
Aiden.
— Bem, nesse caso, se não precisam mais de mim, acho que vou
dormir.
— São apenas nove e meia, — protestou Daniel. — Eu estava prestes a
fazer Manhattans para todos nós.
— Podemos adiar para amanhã?
— Claro. Vejo você de manhã, minha querida — ele respondeu.
— Quanto tempo você e mamãe vão ficar? — perguntou Aiden.
— Você já se cansou de nós? — disse Charlotte, brincando com seus
óculos de sol novamente.
Eu juro que queria pegar aquele negócio idiota da mão dela e parti-lo
ao meio. A audácia dessa mulher, entrando em nossa casa e me dizendo
que meu protesto era infantil.
Eu não me importava se ela era minha sogra; ela iria descobrir que
tipo de mulher eu era.
— Sienna e eu temos muitas coisas para cuidar, — disse Aiden. —
Vocês sabem como é liderar a Matilha. Só quero ter certeza de que vocês
entendem que não estaremos por perto o tempo todo.
— Não se preocupe conosco, Addy. Seu pai e eu não precisamos de
babá. Nós sabemos que você já está cansado disso — ela disse, piscando
seus olhos para mim.
Essa vaca está pedindo para apanhar.
— Boa noite a todos. Charlotte e Daniel, vejo vocês pela manhã.
— Eu te encontro daqui a pouco, — disse Aiden. — Vou tentar não te
acordar.
— Aiden, não se preocupe comigo, querido, — eu respondi,
agarrando-o pelo rosto e cravando meus lábios nos dele. Eu fiz de tudo
para que minha língua explorasse toda a sua boca antes de deixá-lo ir. —
Não demore muito.
Eu lancei um olhar presunçoso para Charlotte, que estava fervilhando
silenciosamente.
Quando fechei a porta do quarto, sabia que não havia nenhuma
maneira de ficar em casa no dia seguinte.
Eu precisava encontrar uma desculpa para sair.

Sienna: O que você vai fazer amanhã?

Michelle: nada demais, na real

Michelle: pq?

Sienna: Os pais do Aiden apareceram no


chá ontem

Michelle: O QUÊ?????

Michelle: mds, quer me ver agora?

Michelle: como eles são?

Sienna: Não, pode ser amanhã

Sienna: Pego você às 9


Sienna: O pai parece legal

Michelle: e a mãe?

Sienna: Te conto amanhã

Michelle: 😮 (emoji de boca aberta) AFF

Michelle: mal posso esperar

Sempre que Michelle e eu precisávamos de um momento só nosso,


tínhamos que dispensar os guarda-costas que me acompanhavam
quando eu saía da minha casa ou da Casa da Matilha.
Eu achava que ter seguranças era bobagem, considerando que eu era
uma loba dominante que podia cuidar de mim mesma, mas agora que
havia literalmente uma multidão fora da Casa da Matilha querendo
acasalar, eu não me importava de tê-los por perto.
Desde que Michelle se acasalou com o Beta de Aiden, Josh, nós duas
tivemos que lidar com a adaptação às nossas novas vidas. A transição dela
foi muito mais fácil do que a minha, no entanto. Michelle adorava todas
as roupas elegantes e regras de etiqueta.
Ao contrário de mim, ela sempre gostou de ser o centro das atenções.
Na manhã seguinte, enquanto calçava os sapatos, preparei uma
desculpa para não poder ficar para o café da manhã, mas quando desci,
Aiden me informou que seus pais já tinham saído, o que para mim era
ótimo.
Para mim, a mãe dele nem precisava voltar.
Quando cheguei à casa de Michelle, ela já estava esperando do lado de
fora. Ela era movida a fofoca e sabia que estava prestes a receber o
suficiente para mantê-la satisfeita por um mês.
Ela se amontoou no banco de trás e imediatamente jogou os braços
em volta de mim.
— Si! Eu literalmente não consegui dormir ontem depois das suas
mensagens.
— Não é nada demais.
— Você está brincando? Isso é melhor do que quando Mia descobriu
que estava grávida de gêmeos!
— Todo mundo só quer saber de crianças?
— Desculpe, desculpe! Eu esqueci.
— Para onde, senhoras? — perguntou meu guarda-costas. Eu gostaria
muito que eles não fossem trocados com tanta frequência, para que eu
pudesse lembrar seus nomes.
— Na parte alta da cidade, por favor, vamos experimentar alguns
vestidos, — respondeu Michelle.
— Compra de vestidos? Não dava para ser mais criativa?
— Você me avisou de última hora, Si. Fazer o quê.
— Vai ter que servir, — eu disse, sarcasticamente.
A loja de vestidos que Michelle escolheu era a mais feminina de todas.
Meu guarda-costas estava claramente desconfortável em pé entre as
decorações floridas e os manequins extravagantes.
— Vamos experimentá-los, — disse Michelle, pegando alguns vestidos
de verão aleatórios da prateleira.
Depois que sumimos de vista, uma das garotas que trabalhava lá se
aproximou e Michelle entregou-lhe os vestidos e uma nota de cinquenta
dólares.
— Jas, finja que está pegando vestidos para nós, e depois de dez
minutos, você pode dizer a eles que desaparecemos para que você não
tenha problemas.
— Não é um problema, — respondeu a adolescente corajosa.
Eu normalmente me apressava sempre que estávamos prestes a
escapar, mas desta vez tive um mau pressentimento.
— Michelle, talvez devêssemos ficar com meu guarda-costas desta
vez. Irritei muita gente no festival. Eu não me importo se ele nos ouvir
conversar.
— Si, por favor, — respondeu Michelle, tirando da bolsa um gorro,
um cachecol e um grande par de óculos de sol.
— Você não achou que eu levaria sua segurança em consideração? A
gente vai por apenas uma hora ou duas. Não seja uma gatinha assustada,
Madame Alfa.
Uma voz dentro da minha cabeça estava me dizendo para não ir, mas
talvez eu estivesse sendo cautelosa demais.
— Você está certa, vamos embora, — eu disse, colocando o disfarce.
Jas nos conduziu pelo corredor e destrancou a saída de emergência.
— Ok, estou impressionada, — disse eu enquanto corríamos para fora
da loja, até a traseira de um táxi em marcha lenta.
— Viu? Deixa comigo, garota.
— Mal posso esperar para que tudo isso passe.
— Eu que o diga. Josh ficou superirritado com isso, mas eu o acalmei.
— Você não precisava fazer isso, Michelle.
— Você está brincando? Quer dizer, se eu estivesse no seu lugar, teria
deixado Josh montar a noite toda em mim. Quanto mais pessoas,
melhor. Eu gosto desse tipo de coisa. Mas cada um com seu lobo. Isso
que importa, certo?
— Isso também, — respondi, rindo. — Como estou?
— Está acabada, — disse Michelle com um sorriso.
Quando saímos do shopping, não pude evitar a sensação de que
estávamos sendo seguidos.
Olhei pela janela traseira, mas não vi nada fora do comum.
Você está sendo paranoica. Relaxe.
— Então, Michelle, para onde estamos indo?
— Onde você acha que vamos antes das onze em um dia de semana?
mi-mo-saaaaas, caralho!
Capítulo 5
ENTRANDO NA FILA
Aiden

Eu não era idiota. Eu sabia que meus pais não tinham vindo para a cidade
com o desejo de se reconectar.
Depois que Aaron morreu, eles deixaram claro quais eram suas
prioridades. Claro, eu era tão culpado quanto eles por não manter
contato, mas tinha dezoito anos quando eles começaram sua jornada
pelo mundo.
Eu havia perdido meu irmão e precisava deles mais do que nunca. Em
vez de se certificarem de que eu estava bem, eles me entregaram à
Matilha e, ao mesmo tempo, me disseram adeus.
Posso ter sido o alfa, mas não significava que tinha todas as respostas.
Foi um alívio quando acordei e vi que o carro deles havia sumido.
Depois que Sienna foi para a cama ontem à noite, eu esperava algum
tipo de conversa séria, inferno, talvez até um pedido de desculpas. Em
vez disso, acabamos de falar sobre suas viagens e ouvi suas críticas e
elogios a pessoas que nunca havia conhecido antes.
Por que eu estava ficando nervoso com isso? Não é como se eles
fossem ficar para sempre. Dei a eles uma semana no máximo antes que
fossem obrigados a viajar novamente.
Talvez eu os visse novamente em mais dez anos. Até então, eu estava
mais do que satisfeito em receber um ou dois cartões postais aleatórios
que eles mandariam.
Eu poderia lidar com tudo isso mais tarde esta noite, no entanto.
Agora eu estava finalmente sozinho e podia começar a trabalhar na
montanha de papelada que estava na minha mesa.
Quando abri a primeira pasta da pilha, ouvi uma batida suave na
porta do meu quarto.
— Sim? Entre — eu disse.
— Espero não estarmos interrompendo nada, — começou minha
mãe, entrando com meu pai como se fossem os donos do lugar. —
Quando você se livrou das secretárias? Eu me sinto tão rude em aparecer
sem alguém para me anunciar.
— Gosto do que você fez no escritório, filho, — disse meu pai,
examinando a sala. — Você contratou alguém ou fez o trabalho sozinho?
— Eu mesmo fiz. Acho que o papel de parede e as tapeçarias não
combinavam muito comigo.
— Você não jogou fora as tapeçarias, jogou, Addy? Aquelas eram peças
inestimáveis da herança da Matilha.
É claro que essa foi a primeira coisa que lhe veio à mente. Foi ela
quem fez com que eu crescesse conhecendo cada pedaço da tradição e
história da Matilha.
Quando eu era pequeno, ela me fazia recitar os nomes dos últimos
vinte alfas e o que cada um deles tinha feito para contribuir com nossa
Matilha antes que eu pudesse jantar.
— Onde está aquela sua esposa cabeça quente? — perguntou Daniel.
— Não sei, — respondi.
— Eu a controlaria com mais vontade se fosse você, — respondeu ele.
— Ela tem o pavio curto, e não há como adivinhar que outras
'declarações' ela possa fazer
— Eu não sou o dono dela, pai. Ela é uma mulher adulta.
— Bem, de acordo com as notícias, você deve ser o único que acha
isso, — interrompeu minha mãe. — Aquela façanha no festival foi
inescrupulosa. Mesmo estando do outro lado do mundo, nós ficamos
sabendo, pelo amor de deus.
— Ela e eu estamos conversando sobre isso, mãe. Eu não preciso que
vocês interfiram.
— Pelo contrário, acho que é exatamente o que você precisa que
façamos. É claro que ela não tem conceito de dever ou tradição. Daniel,
ajude a explicar ao nosso filho a importância do que está acontecendo.
— Aiden, você tem que perceber que Sienna não cresceu como você.
Sabemos que você não pode escolher com quem acasalar, então não
estamos dizendo que nada disso é culpa sua, mas ela é muito jovem,
filho.
— Ela simplesmente não entende o que significa estar à frente do
grupo. Quando o deixamos no comando, sabíamos que tudo estaria em
boas mãos. Você foi preparado para isso. Ela não foi.
— E daí? Você está dizendo que as coisas não estão em boas mãos? —
Eu perguntei, perplexo.
— Sinceramente, Addy, não estão. Esta família tem sido a cabeça da
Matilha por cinco gerações, e essa garota qualquer pode acabar
manchando todo o nosso legado.
Eu estava farto de seus insultos. Eles eram meus pais, mas havia um
limite que eu não os deixaria ultrapassar.
— É da minha companheira que você está falando, mãe.
— Sim, tenho plena ciência disso. Suas origens humildes são de
conhecimento comum, querido. Não há necessidade de ficar irritado.
— Estamos aqui para ajudá-lo com esse pequeno problema, Aiden. Se
você, sua mãe e eu nos sentarmos com Sienna, sei que podemos fazê-la
entender que a união da Matilha é mais importante do que seus
protestos fantasiosos.
— Pai, eu já disse, estamos trabalhando nisso juntos.
— E você acha que está dando certo? — minha mãe respondeu. —
Você tem 29 anos, Addy. O que você acha que acontece quando o alfa de
uma Matilha chega aos trinta e ainda não tem filhotes? As pessoas
começam a ficar preocupadas. Outros alfas começam a observar seu
território.
— Você precisa colocá-la sob controle e tentar criar uma família,
Aiden. É sua responsabilidade como alfa.
Antes que eu pudesse dizer outra palavra. Josh entrou pela porta, sem
saber da briga que eu estava tendo com meus pais. Ele os viu e então
olhou para mim.
— Eu volto depois — ele disse, começando a recuar.
— Não, eles já estavam saindo, — respondi, feliz por encerrar a
conversa.
— Josh, é você? — perguntou minha mãe, radiante. — Ah, que
homem bonito você se tornou. Eu também ouvi que você acasalou.
— Olá, Sra. Norwood, Sr. Norwood. Sim, já faz um tempo. Na
verdade, é por isso que estou aqui. Aiden, nossas amáveis esposas
escaparam do segurança de Sienna. Meus rapazes estão meio que
perdendo a paciência.
Ótimo, isso era exatamente o que eu precisava agora.
Olhei para minha mãe, que estava prestes a proferir algo presunçoso,
como: "Eu te avisei". Nós nos olhamos, e eu soube imediatamente que ela
não ficaria em silêncio. O momento era bom demais para ela desperdiçá-
lo.
— Sim, parece que você tem total controle sobre sua companheira —
ela disse, mordendo a ponta de seus óculos de sol. — Bem, já que tudo
está sob controle por aqui, acho que podemos encontrar um lugar para
almoçar, Daniel. Você não acha?
— Sim, vamos deixar Aiden em paz. Veremos você e Sienna esta noite,
filho. Manhattans às oito. Sem desculpas.
Fiz questão de acompanhá-los até a porta e a fechei prontamente
após sua saída.
Minha vida estava indo de mal a uma merda completa, mas a primeira
coisa a fazer era ter certeza de que Sienna estava segura.
Esta foi a quarta vez que ela e Michelle escaparam de seus guarda-
costas. Insisti neles desde que aquela mulher estranha, Eve, apareceu no
Baile de Inverno do ano passado e disse a Sienna que ela estava em
perigo.
— Eu não sabia que seus pais estavam na cidade, — disse Josh.
— Eu também não, até ontem à noite. E mal posso esperar que eles
saiam.
— Você... quer falar sobre isso? — disse Josh, claramente se sentindo
um pouco estranho, mas também obrigado a perguntar. A comunicação
interpessoal nunca foi seu ponto forte.
— Está tudo bem, — respondi, para grande alívio de Josh. — No
momento, precisamos descobrir onde nossas esposas estão.
— Como é o horário nobre do brunch, e estamos em uma quinta-
feira, tenho um bom palpite de onde Michelle levou Sienna.
— Ótimo, você pode ir buscá-las? Preciso resolver algumas coisas
aqui.
— Sim, sem problemas. Eu as trarei de volta aqui imediatamente.
— Mande Sienna direto para o meu escritório. Vou ter uma longa
conversa com ela.
Sienna

A doçura borbulhante da mimosa era exatamente o que eu precisava.


Mais um motivo para eu estar feliz por não estar grávida.
— Então, como ela é? — perguntou Michelle.
— Ah, a Charlotte é um anjo, — eu respondi. — Ela basicamente falou
na minha cara que acha que sou muito jovem para estar com seu filho e
que eu estava sendo imatura por não seguir o ritual. Quem ela pensa que
é para me julgar sendo que foi ela quem basicamente abandonou seu
filho por dez anos?
— E eles vão ficar aqui?
— Sim, na casa de hóspedes, embora eu duvide que eles vão ficar só lá.
— E o pai do Aiden?
— Ele não é tão nojento quanto a mãe, mas tem uma mente muito
fechada. Ela é literalmente a pior.
— Caramba, lembre-me de dar um grande abraço na mãe de Josh
quando eu a vir. A pior coisa que Nancy já fez foi me dizer que achava
que minhas batatas precisavam de mais sal.
— Eu nem quero ir para casa. Para você ver como é ruim, Michelle.
Não há como aguentar essa mulher. Ela está presa em uma máquina do
tempo. É como se ela tivesse sofrido tanta lavagem cerebral pela tradição
que não tem ideia de como ela é louca.
— Por que não juntamos as garotas e fazemos uma viagem neste fim
de semana? Isso manteria você fora de casa.
— Não, ela vai pensar que estou fugindo. Eu não posso dar esse
motivo para ela.
— E Aiden? O que ele pensa?
— Na real, não tivemos um momento a sós desde que eles chegaram
aqui.
— Sienna, querida, você precisa falar com ele, — respondeu Michelle,
virando outro copo. — Você ainda nem resolveu toda a situação das
crianças. Quanto mais você esperar, mais difícil vai ficar.
— Eu sei, eu sei, — respondi, servindo-me de outra mimosa. — Eu só
preciso que a Bruma aguarde mais alguns dias.
— Fale por você, — disse Michelle enquanto passava manteiga em um
bolinho. — Mal posso esperar pela minha primeira temporada com Josh.
Tenho todos os tipos de surpresas sensuais planejadas para ele. Coitado,
mal vai ter tempo de dormir.
— Ai, Michelle, para, — eu disse, rindo. — Minha imaginação é fértil.
— Quem sabe, você aprende alguma coisa, — respondeu Michelle,
dando uma mordida sedutora em seu bolinho.
Eu estava me divertindo com Michelle, mas, ao mesmo tempo, não
pude deixar de sentir que estava passando a manhã inteira provando que
Charlotte estava certa.
Uma mulher forte não teria fugido de seu guarda-costas para fazer
um brunch. Uma mulher forte a enfrentaria de frente, e era exatamente
isso que eu pretendia fazer.
Michelle

Sinalizei para o garçom trazer outro jarro.


Eu amava Sienna, de verdade, mas às vezes ela tornava sua vida mais
complicada do que precisava ser.
No fim das contas, ela ainda estava acasalada com o alfa da matilha.
Tipo, olá, quão ruins as coisas podem realmente ser?
Claro, eu não poderia dizer isso a ela.
Agora, animá-la era a prioridade número um.
Razão pela qual eu me certifiquei de ficar longe de tudo relacionado à
Matilha esta manhã. Além disso, o suco de laranja e o champanhe curam
todas as feridas.
— O que você está fazendo? — Eu perguntei, pegando Sienna
olhando por cima do ombro.
— Nada, é só...
— O que? Fale, garota. — Sienna se inclinou sobre a mesa como se
estivesse prestes a me contar um segredo da Matilha. O espírito de
fofoqueira que habita nela começou a surtar de empolgação.
— Desde que saímos da loja, estou com uma sensação estranha...
como se estivéssemos sendo observadas.
Capítulo 6
AUMENTANDO AS APOSTAS
Michelle

— Espera aí, você quer dizer que alguém está nos espionando? — Eu
perguntei. — Tipo, agora?
— Não tenho certeza, mas não consigo me livrar dessa sensação
sinistra que começou assim que entramos no táxi.
Eu examinei a área atrás de Sienna e não pude ver nada incomum
além de uma mulher usando tons pastéis fora da estação.
— Si, eu acho que você está sendo paranoica. Além disso, é impossível
reconhecê-la com essa roupa.
Antes que Sienna pudesse responder, meu telefone explodiu com
notificações.
Porra, é o Josh.
Ele não é dos mais espertos, mas ele tinha uma habilidade incrível de
saber quando eu estava aprontando.
— Me dê um segundo. Acho que fomos pegas.
— Nossa sorte ia acabar uma hora, — respondeu Sienna, virando sua
taça de champanhe.
Sienna

Peguei o morango do fundo do copo e coloquei na boca, rolando-o na


minha língua e deixando as últimas gotas de suco de laranja e álcool
vazarem antes de esmagá-lo entre os dentes.
A polpa doce tinha um gosto bom.
Pelo menos no meio de todo esse drama, eu ainda estava me
lembrando de tomar minha vitamina C.
Uma leve brisa agitou os guardanapos sobre a mesa e beijou meu
nariz exposto. Apreciei o ar fresco do inverno que envolvia a cidade nesta
época do ano. Sempre me pareceu mais saudável por algum motivo.
Observei as pessoas passando por trás de minhas lentes coloridas. Eu
me perguntei se algum deles tinha ideia de quem eu era. Todo o conceito
de ser uma figura pública ainda me confundia.
Por que eu tive que mudar quem eu era para me conformar com este
padrão que significava ser a companheira de um alfa? Eu não me
importava se todos me amavam. Não amo todo mundo e não acho que
seja natural.
Se as pessoas cuidassem de seus próprios negócios e gastassem tanto
tempo focando em suas próprias vidas quanto gastam na minha, o
território seria preenchido com muitos lobos e humanos mais felizes.
Pelo canto do olho, percebi uma figura se movendo mais rápido do
que o resto das pessoas na rua. Ele estava vestindo um sobretudo e
escondendo algo em suas dobras.
Meu coração começou a acelerar e a adrenalina disparou em todos os
cantos do meu corpo.
Eu me senti uma idiota por deixar Michelle me convencer a
abandonar meu guarda-costas, mas não podia perder tempo.
— Michelle, levante-se.
— Tá, espera.
— Não, levante-se agora! — Eu gritei.
Todos do lado de fora se viraram para olhar para nós, mas eu não tive
tempo para me importar. Havia uma pequena cerca separando a mesa da
rua, então não pude confrontá-lo. Ele estava olhando diretamente para
mim agora, seu rosto contorcido em um sorriso diabólico.
Tudo entrou em câmera lenta quando ele puxou o casaco e eu me
enrolei em Michelle.
Clique! Clique!
Clique! Clique! Clique!
— Sorria, Sienna! — chamou o homem por trás de sua câmera,
tirando dezenas de fotos.
Levei um segundo para perceber o que estava acontecendo e, antes
que eu percebesse, todos no restaurante estavam com o telefone na mão
e tirando fotos de Michelle e eu.
Eu ouvi o rugido alto de um motor quando um carro da Matilha
parou, e Josh saltou com dois homens. Eles empurraram a multidão e
ergueram as mãos sobre as lentes do paparazzo.
— Entre agora! — ordenou Josh.
— Não grite conosco como se fôssemos crianças, — rebateu Michelle.
— Onde está Aiden? — Eu perguntei.
— Ele disse que falaria com você quando chegarmos à Casa da
Matilha. Espero que vocês duas percebam quantos problemas vocês
criaram.
Eu acho que Josh não queria parecer pouco profissional com os
outros dois homens no carro, então ele não falou muito no caminho.
Mas pelos olhares que ele e Michelle trocavam, era óbvio que uma
discussão silenciosa estava ocorrendo dentro do carro.
Quando chegamos à Casa da Matilha, eu saltei do carro e marchei
direto para o escritório de Aiden. Parecia que eu estava me reportando ao
escritório do diretor por faltar às aulas, mas, neste caso, eu é que queria
dar uma bronca nele.
— Tem um minuto para a sua companheira? — Eu disse, me
intrometendo.
— Acho que posso dispensar dois ou três, na verdade, — respondeu
ele, deixando de lado alguns documentos.
— Chega de brincadeiras, Aiden. Por que você não veio com Josh esta
tarde?
— Eu não vi a necessidade.
— Eu sou sua companheira. Eu não preciso de outra pessoa me
repreendendo por estragar tudo.
— Então você admite que deixar sua segurança para trás foi um erro?
Caramba. Eu não queria falar disso. Foi o que ganhei por deixar meu
temperamento controlar a conversa.
— Olha, acho que você não lembra de tudo que desisti para ficar com
você, Aiden. Quando nos acasalamos, sua vida não mudou. Você
continuou sendo o alfa. A minha foi virada de cabeça para baixo. De
repente, todos se importam com o que eu visto, como eu falo. Têm
guarda-costas me seguindo sempre que eu saio de casa.
— Eu tive que desistir de ser uma pessoa normal. E caso você não
tenha notado, não sou do tipo que gosta de holofotes. Esta... esta nova
vida é muito difícil para mim. E quando você me pressionou com o
festival e todas as coisas de família, foi demais para mim. Preciso de
tempo para me ajustar.
— Você teve um ano, Sienna, — Aiden disparou de volta. — Quanto
tempo mais você precisa? Toda matilha está revoltada com o que
aconteceu no festival e agora meus pais estão aqui fungando no meu
cangote. Enquanto você estava bancando a coitadinha com a Michelle,
sabe com o que eu estava lidando?
— Meus pais decidiram fazer uma pequena inquisição aqui e me
informaram que é meu dever colocá-la na linha antes que você destrua a
Matilha da Costa Leste e manche o nome Norwood, — ele rosnou. — E
pensar que defendi você. Eu disse a eles que você era uma mulher adulta
e não precisava ser controlada, mas me parece que eu estava errado.
Coitadinha? Ele só podia estar brincando. Se seu plano era me deixar
ainda mais irritada, estava funcionando.
— Você realmente acha isso? — Eu perguntei, prestes a entrar em
colapso.
— Eu acho que se você realmente se importasse comigo, você saberia
que minha vida é a Matilha, então quando você a desrespeita e as
tradições sobre as quais ela se baseia, você me desrespeita. — Eu não
podia acreditar que ele estava virando o jogo para sair como a vítima. Isso
só pode ser resultado de qualquer conversa que ele teve com seus pais
naquela manhã.
— Sienna, você está me ouvindo?
— Sim, eu ouvi cada palavra, Aiden.
— Isto não é um jogo, Sienna. A Matilha precisa saber que tem um
herdeiro.
— É você falando ou é sua mãe?
— Ei, também não gosto da maneira como ela tratou você, mas ela
tem razão. Eles podem ser indelicados, mas são sinceros. Eles só querem
o melhor.
— Para nós ou para a Matilha?
— Isso é o que você não entende, Sienna. E tudo a mesma coisa.
Eu estava cansada dessa conversa. Estava claro que ele não iria ceder,
especialmente depois de ser influenciado por seus pais.
Eu me virei e comecei a sair pela porta.
— Aonde você está indo?
— Vou voltar para nossa casa. Eu prometi a seu pai que provaria os
Manhattans.
— Eu acho que você deveria se acalmar antes de ir lá.
— Eu não vou arranjar uma briga com sua mãe, se é isso que você
quer dizer — eu disse, irritada.
— Mesmo? Porque você explodiu comigo facilmente, e tudo que eu
fiz foi tentar dialogar com você.
Eu não estou acreditando nisso!
— Você chama isso de diálogo? Se não fosse por essas regras
arbitrárias, você gostaria de ter filhos? Quando foi a última vez que você
realmente fez algo porque queria e não porque foi ditado por algum livro
empoeirado?
Aiden fez uma careta para mim, e eu podia ouvir sua respiração
aquecida escapando por suas narinas dilatadas.
Ele se aproximou. Tive que inclinar minha cabeça para trás para
poder olhar nos olhos dele. Nos encaramos por um minuto inteiro,
ambos esperando que o outro falasse, até que finalmente Aiden quebrou
o silêncio.
— Cresça, Sienna.
De todas as coisas que Aiden poderia ter dito, essa deve ter sido a que
mais doeu.
Eu poderia lidar com seus pais e a mídia pensando que eu era uma
criança mimada, mas ouvir isso de meu companheiro, a única pessoa que
pensei que sempre me amaria e me respeitaria, me magoou demais.
Estava claro para mim agora que eu nunca o convenceria apenas com
palavras. Eu precisava fazer algo que chamasse sua atenção. Eu teria que
cutucar a ferida.
Quando percebi seu olhar vagando pelo meu decote, eu encontrei a
ferida.
— Escuta aqui. Eu me recuso a tolerar o desrespeito de seus pais por
mais uma noite. Ou você diz a eles para se adaptarem ou eu os quero fora
de nossa casa. E se você acha que estou brincando, é melhor se preparar...
Espero que você esteja pronto, garotão.
— Até que você e eu cheguemos a um acordo sobre começar uma
família e seus pais decidam se atualizar ou permanecer no passado e nos
enviar um cartão-postal de vez em quando, não faremos sexo.
Aiden tentou manter a compostura enquanto olhava para mim,
avaliando se eu estava falando sério ou não.
— Você tá blefando. A Bruma vai chegar a qualquer momento.
— Eu passei por duas estações antes de te conhecer, Aiden. Tenho
certeza de que aguento uma terceira.
— Isso foi antes de você ter acasalado. A Bruma me permite fazer
coisas com você, que você não poderia imaginar.
— Você não me intimida. Fazemos amor há um ano inteiro. Mesmo
se você tiver alguns truques novos, eles não serão o suficiente para me
encantar.
Aiden se inclinou para que seus lábios estivessem a centímetros da
minha orelha. — Veremos, então, — ele sussurrou.
— Cai dentro. — eu respondi, cerrando meus dentes.
Capítulo 7
CONTROLE DE DANOS
Aiden

Então, isso é o que significa amar alguém...


Se qualquer outra pessoa tivesse criado tantas dores de cabeça quanto
Sienna na semana passada, eu já a teria chutado para fora da Matilha,
mas não importa o que Sienna parecesse fazer, esta pequena brasa de
devoção ainda brilhava dentro de mim.
Olhei para o outro lado da mesa. Josh, Jocelyn, Rhys, Nelson e, claro,
Sienna. Nossa, ela estava bem mais gostosa, e eu sabia que era de
propósito.
Todos os outros pareciam inquietos e evitaram fazer contato visual
comigo. Eles podiam sentir a tensão que pairava no ar.
Eu tinha convocado essa reunião de emergência depois que o jornal
da tarde saiu. Eu sabia que todos já tinham lido a notícia, mas arranjei
uma cópia física, que agora estava enrolada em meu punho cerrado.
Eu a bati contra a mesa e deslizei sobre a superfície de carvalho polido
para que todos pudessem ler a manchete impressa em negrito na
primeira página:
COMPANHEIRA DE ALFA FOGE DE GUARDA-COSTAS E FAZ
BRUNCH ALCOÓLICO.
— Você está saindo pior do que a encomenda! — Eu rugi, olhando
diretamente para Sienna. — Agora temos que lidar com as consequências
do festival e deste fiasco.
— Não é tão horrível assim, Aiden, — disse Rhys hesitante. — O
título é sensacional, mas se você ler o artigo...
— Quantas pessoas você acha que realmente leram o artigo? — Eu
gritei. — E é horrível, sim, Rhys. Deixe-me ler algumas linhas.
Dei a volta na mesa e peguei o papel, quase rasgando-o em dois
quando o abri.
— Abre aspas: "Tal desrespeito flagrante pelo protocolo da Matilha
levaria qualquer lobo racional a acreditar que Sienna Norwood não tem
interesse em cumprir suas responsabilidades como companheira de
nosso alfa e, em vez disso, prefere passar seu tempo cedendo às
vantagens de sua posição." Fecha aspas.
— Este artigo inteiro faz Sienna parecer uma loba qualquer, obcecada
por festas e em gastar o dinheiro da Matilha. Essas acusações não apenas
destroem a imagem de Sienna, mas também prejudicam todo este
conselho. Cada um de vocês deveria estar tão furioso com isso quanto eu.
— Nós trabalhamos muito duro nesta Matilha, e eu não vou deixar
um jornalista qualquer manchar nossa reputação. Não é sobre Sienna ser
minha companheira. É sobre como a nossa matilha é vista pelo público.
— O que você acha que devemos fazer? — perguntou Josh.
— Não sei. E por isso que convoquei esta reunião, — respondi,
cruzando os braços. Eu odiava a raiva que esse artigo estava me dando,
mas foi a gota d’água que me levou ao limite.
Entre meus pais, a obstinação de Sienna e a confusão do festival, eu
estava pronto para derrubar uma parede no soco.
— A Matilha precisa saber que você apoia sua companheira. Você
deve fazer uma declaração defendendo as ações de Sienna — respondeu
Jocelyn. — Se você ataca o jornal, só dá mais credibilidade à história.
Claro que era isso que Jocelyn iria querer. Seria bom para Sienna e
para mim, mas pioraria as coisas com a imprensa.
Eu tinha evitado propositalmente fazer qualquer declaração que
pudesse dar a eles uma pista de como eu me sentia sobre as ações de
Sienna no festival.
Isso deixaria tudo muito claro.
— Se ele fizer isso, vai parecer que Aiden é facilmente influenciado, —
rebateu Nelson.
Ele era um lobisomem magro e pálido que, apesar de sua estatura
moderada, sempre defendia qualquer opção que projetasse mais força. —
Acho que você deveria negar as acusações e, simultaneamente, anunciar
algum projeto importante do qual Sienna se encarregará.
— Talvez possamos matar dois coelhos com uma cajadada só, —
acrescentou Josh. — Faça com que eles acreditem que Sienna teria se
encontrando com Michelle para anunciar secretamente que vocês dois
vão começar a tentar ter um filhote ou algo assim, sabe?
— Todos vão esquecer a história assim que souberem que você está
tentando formar uma família. As pessoas são loucas por bebês, então
apenas dê a eles o que eles querem.
Josh tinha razão. Pelo menos isso acabaria com toda a pressão
pública. Ou talvez apenas mudaria seu foco. Dava para ver vans de
noticiários fora de nossa casa, esperando para obter qualquer pista de
que estávamos transando. Até parece.
— Então, você quer que Aiden minta? — respondeu Jocelyn.
— Eu disse que eles vão 'começar a tentar'. Não que Sienna já está
grávida — respondeu Josh, irritado. — Além disso, foram esses tabloides
que começaram. Por que não dar a eles um gostinho de seu próprio
remédio?
— Vocês estão tentando? — perguntou Rhys. — Isso faria todo esse
problema desaparecer em um instante.
Sienna pigarreou com raiva. — Eu acho que tudo o que eu tenho a
dizer não importa?
Lá vamos nós. Eu não estava a fim de brigar.
— Eu não preciso que você ou qualquer outra pessoa fale por mim —
ela continuou. — Companheira de Alfa ou não, eles não têm o direito de
se intrometer em nossa vida.
— Não funciona assim, — respondi, cerrando os dentes.
Os olhos azuis de Sienna acenderam quando ela me encarou. Eu
tinha certeza de que ela estava prestes a explodir pelo jeito que ela
umedeceu os lábios. Como um velocista se alongando antes de uma
corrida, ela estava os lubrificando antes de descarregar uma torrente de
insultos em minha direção.
Os outros podiam sentir o que estava por vir e imediatamente se
calaram, desviando os olhares, sem saber se deveriam sair ou ficar.
Jocelyn, que normalmente mediava qualquer desavença entre os
membros do conselho, ficou em silêncio como o resto. Este era um
confronto entre companheiros, e apenas Sienna e eu poderíamos resolver
isso.
As dobradiças da porta do conselho rangeram atrás de mim.
— Volte mais tarde. Estamos em reunião! — Eu lati.
— É isso que você chama de decoro? — cantou a voz da minha mãe.
Ótimo. Era a última pessoa que eu precisava nessa porra de sala.
— Mãe, você pode esperar por mim em meu escritório. Temos alguns
negócios para terminar.
— Se refere a como você vai responder a esse artigo terrível? Seu pai e
eu já cuidamos disso.
— O que você quer dizer?
— Ainda temos contatos no jornal, então ligamos para eles e
tomamos a liberdade de divulgar um comunicado em seu nome e de
Sienna, — ela respondeu, girando os óculos de sol contente.
— O que você disse? — Eu perguntei, enquanto um buraco começava
a se formar no meu estômago. Eu olhei para Sienna. Ela estava fervendo.
Isso não ia acabar bem.
— Dissemos a eles que Sienna iria emitir um pedido público de
desculpas por seu comportamento recente e que ela concordou em
refazer o ritual do festival da fertilidade durante a próxima lua cheia.
O buraco no meu estômago se transformou em um desfiladeiro
enquanto ela falava.
Eu sabia que ela e meu pai tinham um plano, mas nunca pensei que
eles iriam passar por cima de mim dessa forma. Eles podem ser meus
pais, mas eu ainda era o alfa, caramba.
— Você deveria ter falado comigo primeiro, — respondi, ansioso para
interromper Sienna que estava prestes a explodir.
— Sabemos como é importante agir rapidamente nessas situações,
querido.
— Você não pensou em ligar, talvez mandar uma mensagem?
— Ah, Addy, você sabe que nunca vou entender como mexer nesses
smartphones. Por que parece tão chateado? Você se opõe a algo que
dissemos?
Ela lançou um olhar confuso e inocente, mas ela sabia exatamente o
que estava fazendo. Ela estava me forçando a escolher lados na frente do
meu conselho, na frente da Sienna.
Nos últimos dez anos, tornei-me indiferente em relação à minha mãe,
mas nunca pensei que ficaria ressentido com ela como eu estava.
Mesmo que nós dois quiséssemos as mesmas coisas, seus métodos
para obtê-los eram baixos e desonestos.
— Você não vai me oferecer um assento? — ela perguntou.
Eu podia sentir os olhos de Sienna em mim, como adagas pairando
em volta da minha cabeça. Não ousei olhar para ela.
— Claro, — eu respondi. — Você pode sentar onde quiser.
Sienna se levantou, sua cadeira praticamente voando para trás contra
a parede.
— Eu não vou sentar na mesma mesa que aquela mulher. Se você
deixá-la sentar, você está validando tudo o que ela fez para minar sua
posição nesta matilha.
— Sienna, — disparei de volta, — não tivemos a chance de discutir...
— Não parece que nada do que ela disse está aberto para discutirmos,
Aiden. Não vou emitir nenhum pedido de desculpas e certamente não
tenho intenção de seguir com o ritual de fertilidade na próxima lua cheia.
Sienna voltou sua atenção para minha mãe, que calmamente fixou os
olhos nos dela. — Quem você pensa que é?
— Alguém que está cuidando do bem-estar desta matilha, minha
querida.
— Se isso é o que você realmente se preocupa, você não estaria
tentando sabotar meu relacionamento com seu filho, — respondeu
Sienna friamente. — Caso você tenha esquecido, sempre estarei
acasalada ao Aiden, então você pode aceitar isso ou dar o fora desta Casa
e de nossas vidas.
— Só estou aqui por causa das escolhas erradas que você continua a
fazer, querida. Talvez eu não seja a única que tem dificuldade em aceitar
os fatos. Sem esta matilha, você não é nada.
Os olhos de cada membro do conselho se voltaram para mim,
implorando para que eu fizesse alguma coisa antes que aquelas duas
voassem na garganta uma da outra.
— Mãe, por que você não volta para casa. Podemos conversar sobre
isso esta noite, em família.
— O jornal espera que Sienna faça uma declaração esta tarde, Addy.
— Sienna e eu cuidaremos disso.
— Não precisa, querido, eu já tenho um rascunho. Tudo que ela
precisa fazer é ler — respondeu Charlotte, puxando um pedaço de papel
dobrado do bolso de seu casaco curto.
— Obrigado. você já fez o suficiente por um dia, mãe. O conselho tem
outros negócios que precisamos discutir.
— Oh, entendo, — respondeu ela, visivelmente descontente. — Bem,
vou deixar isso aqui para você examinar. Acho que você descobrirá que
não requer nenhuma alteração.
Ela colocou o papel na mesa e se virou para sair. Apenas mais alguns
passos e ela estaria fora do meu alcance por algumas horas enquanto eu
controlava a Sienna.
— Pensando bem, — ela disse, parando na porta, — você pode
precisar fazer alguns ajustes para dar conta de sua maneira rústica de
falar. Ciao querido.
A porta se fechou com um clique gracioso da trava, mas o veneno de
suas palavras agarrou-se a todas as superfícies da sala.
Um olhar para Sienna e eu poderia dizer que as coisas iam ficar feias.
— Eu preciso de um momento a sós com Sienna.
— É claro, — respondeu Josh, ansioso por qualquer desculpa para ir
embora.
— Sim, estaremos em nossos escritórios, — acrescentou Rhiys. —
Vamos, Nelson.
— Tem certeza de que não quer que eu fique? — perguntou Jocelyn.
Seus instintos de cura sabiam quanta discórdia minha mãe havia
semeado, mas este não era o momento de trazer uma terceira pessoa
para o nosso conflito.
— Sim, eu tenho certeza. Voltaremos a nos reunir depois do almoço.
Todos saíram da sala em ordem rápida, exceto Sienna, que
permaneceu em pé na frente de sua cadeira.
A chama em seus olhos havia diminuído, mas o resto de seu corpo
estava tenso de agitação.
— E então? — ela perguntou, olhando para o papel e de volta para
mim. Ela estava esperando para ver se eu pegaria, esperando para ver de
que lado eu ficaria.
Ambos eram complicados. Ambos exigiam sacrifícios.
Eu ponderei minhas opções, soltei um longo suspiro e fiz minha
escolha.
Capítulo 8
FRICÇÃO AQUECIDA
Sienna

Eu assisti calada e com ódio quando a mão de Aiden alcançou o papel


que Charlotte tinha deixado sobre a mesa. Só o fato de ele estar curioso
para ler fez meu sangue ferver.
Ele estava realmente escolhendo sua mãe em vez de mim? Ele sabia
que estaríamos acasalados para o resto da vida, certo?
Com sorte, Charlotte tinha apenas mais alguns anos antes de bater as
botas.
Dei um passo em sua direção e separei meus lábios, mas antes que
uma única palavra pudesse escapar, ele ergueu um dedo e caminhou até a
cesta de lixo, deixando o papel dobrado cair dentro dela.
— Isso não significa que eu tenha ficado do seu lado, — disse ele
friamente.
Fiquei atordoada, mas principalmente aliviada. Talvez ele não tenha
sofrido uma lavagem cerebral como eu pensava. Ainda assim, o fato de eu
ter dúvidas sobre qual de nós ele apoiaria me deixou furiosa. Eu precisava
saber o que ele estava pensando.
— O que isso significa? — Eu perguntei.
— Sienna, eu te entendo, mas aquele artigo não te ajudou em nada.
— E nem seus pais, — eu disparei.
— Deixe que eu cuido deles, — ele disse, entrando no meu espaço.
Está bem, Aiden. Não é como se eles estivessem fazendo você de gato e
sapato.
Era típico dele pensar que poderia me intimidar dessa maneira. Foi
como ele lidou com qualquer outra pessoa que o questionou, mas não
funcionou comigo. Eu o conhecia por quem ele realmente era.
Eu sabia de sua compaixão, sua doçura, e era por isso que todo esse
drama entre nós estava me matando.
Talvez se eu explicasse o meu ponto de vista, ele entenderia por que
fui tão hostil com sua mãe.
— Aiden, você está sob o controle deles. Dê um passo para trás e veja
todas as coisas que eles estão pressionando você a fazer.
— Eu não acabei de jogar fora a declaração da minha mãe? — ele
protestou. — Você acha que eu gostei quando minha mãe me acusou de
ser incompetente na frente de todo o meu conselho?
Fala sério. Eu não conseguia acreditar que depois de toda aquela
palhaçada, ele se preocupou mais com a sua aparência na frente de seus
amigos.
Talvez eu estivesse errada sobre haver esperança de que ele pudesse
ver as coisas através da minha perspectiva.
— Então, você acha que esse foi o problema? Não toda aquela história
de prometer me submeter a você na próxima lua cheia?
— Ainda estou esperando que você proponha uma solução para esse
problema, — respondeu ele. — Concordar em reagendar isso me
pouparia muita dor de cabeça.
— Tirar seus pais da nossa cola pouparia nós dois de muita dor de
cabeça, — eu disse friamente. — Não entendo por que você os deixou
escapar impunes de tudo isso.
— No fim das contas, eles ainda são meus pais, Sienna. Achei que
você, entre todas as pessoas, entenderia isso.
É sério que ele estava me chamando de hipócrita?
Se seus pais fossem pessoas adoráveis e eu fosse uma companheira
louca e ciumenta, tudo bem, mas o relacionamento de Aiden com
Charlotte e Daniel era tóxico. Me deixou completamente perplexa saber
que ele não percebia isso.
Aiden estava redondamente enganado se pensava que sua mãe
merecia sair impune simplesmente porque ela era da família.
— Me desculpe, eu entendo o que significa ter um relacionamento
saudável com os pais. Um baseado no respeito e na empatia, não em
legados e política. Não é assim que famílias saudáveis tratam umas às
outras, Aiden.
Eu percebi que o estava deixando desconfortável. Talvez eu tenha
pegado pesado demais.
Ele não tinha crescido em um lar amoroso como eu, e apesar do fato
de eu não compartilhar uma gota de sangue com o resto da minha
família, eu sabia que eles me amavam de uma maneira que Aiden não
conseguia entender.
Quando nos acasalamos pela primeira vez, nosso relacionamento foi
dominado pela luxúria e paixão, mas conforme as semanas se
transformaram em meses, descobri o vazio emocional que existia no
coração de Aiden.
Eu tinha feito o meu melhor para preenchê-lo, mostrando a ele o que
significava ter alguém que o amava incondicionalmente, que ele era
valorizado e desejado por algo além de ser o alfa.
Talvez eu não tivesse feito um bom trabalho remendando ele. Ou
talvez eu tivesse que enfrentar o fato de que nunca poderia substituir o
amor que ele buscava em seus pais.
Após meus últimos comentários, Aiden cruzou os braços e olhou
pensativamente para seus sapatos.
O silêncio estava começando a me incomodar.
— Sienna, desde que comecei a andar com seus pais e sua irmã, vi
como uma família deve funcionar. De certa forma, parece que seus pais
também me adotaram.
— Eles me lembram da família que eu costumava ter, aquela antes de
Aaron morrer. E agora que meus pais estão aqui de novo, quero tanto
fazer funcionar. Eu quero tê-los de volta na minha vida.
Eu podia ver a dor em seus olhos enquanto ele lutava para se abrir. Eu
sabia que não era fácil para ele.
Falar sobre rompimentos e paixões com as meninas era uma coisa,
mas isso era um trauma emocional sério. Eu me senti completamente
perdida.
— Aiden, eles o abandonaram, — respondi, decidindo ser franca. — O
que o faz pensar que pode fazer com que eles mudem agora?
— Naquela primeira noite, quando você foi para a cama cedo, eles me
disseram que queriam estar aqui para cuidar de nossos filhos. Então, eu
pensei que se eu dissesse a eles que estávamos tentando...
— Espere, você disse a eles que estávamos tentando engravidar para
ganhar seu afeto? Aiden, por que você não me disse isso?
— O que você quer dizer? — ele respondeu amargamente. — Se eu te
contasse, você teria surtado. Achei que poderia ganhar tempo suficiente
para fazer você mudar de ideia, mas então este artigo foi publicado e
virou tudo uma grande bagunça.
Ok, eu tinha que admitir que provavelmente teria surtado, mas ele
não deveria estar fazendo promessas por nós dois.
Deveríamos ser parceiros e, agora, eu me sentia mais como um
aborrecimento do que como uma parceira. Uma linda garota jovem que
ele mantinha por perto para dar à luz bebês e ficar bonita em eventos
especiais.
— O amor não é condicional, Aiden. Você não deveria precisar
prometer netos aos seus pais para ganhar o afeto deles.
— Porque você não... — Aiden parou abruptamente, segurando o
peito. Sua respiração ficou pesada e ele virou a cabeça para o lado. —
Droga, está acontecendo.
Meu rosto ficou pálido quando o terror me atingiu.
O que ele quis dizer?
Ele estava tendo um ataque cardíaco?
— Aiden, o que está acontecendo? Diga-me! — Eu implorei, mas
antes que ele pudesse responder, eu tive minha resposta.
O calor pulsante e fundido da Bruma se acendeu dentro do meu peito
e se espalhou por todo o meu corpo como um incêndio. Minhas pernas
formigaram e meus seios incharam. Quando o cheiro de Aiden atingiu
meu nariz, foi como derramar gasolina em chamas.
Eu olhei para ele com um desejo enlouquecido.
Eu precisava ter ele.
Eu ansiava por ele estar dentro de mim.
A maneira como ele olhou para mim, aqueles olhos verde-dourados
em chamas de luxúria, me mostraram que ele estava lutando contra os
mesmos impulsos primitivos.
Seus músculos flexionaram e tensionaram enquanto ele tentava lutar
contra isso, mas com cada respiração, ele sentia mais e mais dos meus
feromônios, tomado por uma fome violenta induzida pela Bruma.
— Ainda quer tentar um desses truques de mágica? — Eu perguntei,
tentando firmar minha respiração.
— Pelo que parece, eu não preciso, — ele disse com um sorriso
irônico.
— Fale por si mesmo, — eu disparei de volta, lutando com o desejo do
meu corpo de me jogar contra seus músculos protuberantes e começar a
rasgar suas roupas.
Ele diminuiu a distância entre nós, para que eu pudesse sentir sua
respiração no meu rosto.
Corri meus dedos por seus cachos negros bagunçados antes de torcer
sua cabeça para o lado. Ele cerrou os dentes em êxtase.
— Sinto muito, doeu? — Eu perguntei, de pirraça.
— Só fez cócegas.
— E isso aqui? — Eu disse, deslizando minha mão até sua virilha. Ele
mordeu a língua e bateu com o punho contra a parede.
— Isso é tudo que você tem? — ele gritou.
Eu sabia que tinha que ter cuidado com o quão longe eu levaria isso.
A sensação de seu membro rígido em minha mão estava quase me
deixando louca também. Ele latejava com o meu toque e eu o imaginei
deslizando dentro de mim, me alargando.
— Você não vai mesmo fazer nada? — Eu perguntei, apertando com
mais força.
— Você não é a única teimosa... nesta rela... relação, — ele conseguiu
falar entre as respirações.
Quanto mais eu olhava para ele, mais perigoso meu jogo se tornava.
Senti que estava ficando molhada e o ar em meus pulmões esquentou. Eu
mal conseguia respirar enquanto minhas roupas apertavam contra meu
corpo.
Mas eu não podia recuar agora. Para isso funcionar, ele tinha que dar
o braço a torcer.
— Você está bem? — perguntou Aiden, soprando contra meu pescoço.
— Você parece meio febril.
— Estou perfeitamente bem, — respondi, com a voz trêmula.
— Tem certeza de que não precisa de uma mão? — ele perguntou,
guiando sua mão para baixo, entre as minhas pernas, segurando meu
sexo. — Porque você está meio quente.
Seu toque enviou tremores pelo meu corpo e minhas coxas se
apertaram em torno de sua mão. Eu estava praticamente ofegante
enquanto a Bruma me devastava.
— Não se iluda, querido. Isso é normal para a primeira onda da
temporada.
Eu precisava virar o jogo antes de perder todo o controle. Comecei a
esfregá-lo através das calças.
Seu aperto na minha virilha afrouxou quando ele se dobrou sob o
estímulo.
— Essa é apenas a minha mão. Imagina como seria bom com a minha
boca — eu disse, lambendo atrás de sua orelha. Senti sua mão começar a
deslizar de volta para o meu sexo, mas não iria deixá-lo lutar. Eu o tinha
nas mãos; era hora do nocaute.
Em um movimento rápido, eu levantei sua camisa e mergulhei minha
mão em suas calças. Não havia barreira agora.
Meus dedos envolveram sua base lisa, deslizando suavemente para
cima e para baixo em seu comprimento.
O toque da minha pele contra a dele nos deixou em um frenesi. Aiden
agarrou meu braço, me empurrando contra a parede. Ele trouxe seus
lábios para um beijo, mas eu me afastei.
Ele tentou colocar as mãos em meus seios, minha bunda, em
qualquer lugar que pudesse ganhar a vantagem, mas eu apenas acariciei
cada vez mais rápido até que pude sentir que ele estava à beira do clímax.
Só mais um pouquinho.
Aiden estava respirando com dificuldade, perdido no prazer da minha
obra. Qualquer luta restante nele havia desaparecido, e ele se entregou
completamente à sua Bruma. Ele estava exatamente onde eu o queria.
— Já é o suficiente — eu disse, puxando minha mão para fora de sua
calça.
— É o melhor que você tem? — perguntou Aiden, o suor escorrendo
pelo rosto.
— Nem perto, amor, — eu respondi. — Estou apenas aquecendo.
Capítulo 9
LAVAGEM DE ROUPAS
Jocelyn

Desde aquela viagem de carro com Sienna, minha cabeça tinha virado
uma teia emaranhada de pensamentos e emoções. Tentei meditar, mas
não consegui clarear minha consciência. Sempre que ficava assim, tinha
que apelar pros velhos hábitos.
Eu precisava de uma bebida.
O Housman's era o meu lugar preferido quando eu precisava fugir.
Era um antigo bar escondido em um beco. Não tinha nada do brilho e do
glamour dos bares e clubes populares, mas isso que eu amava nele.
Eu nunca tive que me preocupar com um lobo da Casa da Matilha
entrando pela porta ou qualquer outra pessoa que pudesse me
reconhecer.
A mulher atrás do bar era uma doce senhora chamada Clementine.
Ela me tratava como uma filha, sempre fazendo questão de me agarrar
pela mão e me perguntar como eu estava.
Ela sabia que eu só a visitava quando precisava resolver alguma coisa,
e cara, eu tinha muita coisa para resolver.
Sienna era como uma irmã mais nova para mim. Eu via muito de mim
mesma nela, e quando ela se acasalou com Aiden, meus sentidos de cura
me disseram que ela precisava de alguém para ajudá-la a viver na
Matilha.
Eu cresci naquele mundo e podia ajudá-la de uma forma que sua mãe
e sua irmã não conseguiam.
Claro que a ironia não passou despercebida. Eu tinha 25 anos e não
estava acasalada, praticamente uma solteirona nos anos de lobisomem,
aconselhando uma garota de 20 anos sobre como planejar uma família e
lidar com seu companheiro.
Depois de minhas aventuras fracassadas com Aiden e Josh, eu estava
impaciente para encontrar meu companheiro. A cura era um trabalho
solitário. Fui a quem todos procuraram, mas para onde a Curandeira
deveria ir quando tinha problemas?
Era isso que eu estava tentando descobrir no Housman’s.
Tomei um gole da minha bebida.
Escorreu pela minha garganta e espalhou seu fogo pelo meu peito.
Mas em vez de parar ali, seu calor continuou descendo pelo meu corpo,
estabelecendo-se entre minhas pernas em um inferno inesperado.
Porra, a Bruma está perto.
Enquanto as explosões pulsavam na minha virilha, examinei o bar.
Nenhum dos homens estava me olhando.
A Bruma pode deixar as lobas com tesão, mas ainda deve haver
alguma atração entre os amantes.
Eu me virei e examinei as cabines. O frio na barriga começou a
percorrer todo o meu estômago. Isso não poderia estar certo.
Eu estava olhando para um casal que estava se tocando. Eles não eram
amigos, eu sabia disso, mas por que minha Bruma estava me puxando em
direção a eles?
Eles devem ter sentido o quão excitada eu estava ficando porque a
mulher parou de beijar o pescoço de seu parceiro e olhou em minha
direção.
Nós nos olhamos, e então ela sussurrou no ouvido de seu homem. Ele
me deu uma olhada e sorriu antes de dar sua resposta.
A mulher se levantou e caminhou em minha direção. Ela tinha
cabelos crespos e ruivos e uma linda pele cor de café. Seus quadris
balançavam de um lado para o outro em um ritmo hipnotizante.
Talvez ela queira apenas pedir uma bebida no bar. Olhe para a sua
bebida. Não faça contato visual.
— Meu parceiro e eu não pudemos deixar de notar você.
Merda.
Meu rosto corou quando me virei para encará-la. — Eu sinto muito.
Eu não queria ficar olhando.
— Gostou do que viu? — ela perguntou com um sorriso brincalhão.
Espere, o que ela quer dizer?
Antes que eu pudesse pensar em uma resposta, minha Bruma
explodiu.
Eu agarrei o balcão para me manter de pé. Algo nessa mulher e no seu
homem fez meu corpo derreter. Olhei para o parceiro dela, um
dominante alto e musculoso com cabelos castanhos esvoaçantes e barba
áspera.
Eles eram tão lindos e sexy. Eu nunca tinha feito nada assim antes,
mas nada sobre isso parecia errado.
— Gostei muito, — respondi, tocando a mão da mulher.
Nós três caímos na cama, arrancando as roupas um do outro em um
frenesi acalorado. Eu agarrei o homem e comecei a beijá-lo, mas a
pressão quente dos lábios da mulher em meus seios me fez ofegar.
Antes que eu percebesse, entreguei meu corpo às suas mãos e lábios.
Eu me torci e flexionei sob o intenso prazer que agarrou cada músculo e
terminação nervosa.
Eles se revezaram entrando em mim. Ele com seu pênis e ela com
seus dedos e sua língua.
Senti tudo apertar e uma pressão começar a crescer dentro de mim.
Eu estava com tanto calor, quase delirando. Minha pele estava coberta
de suor e eu mal conseguia recuperar o fôlego.
— Eu vou gozar! — Eu gritei.
Eu agarrei a mulher e puxei seu rosto para o meu. Nós fechamos os
lábios, nossas línguas se tocaram alegremente, sensualmente.
Naquele instante, tudo foi liberado em uma violenta erupção e ondas
de contrações quentes sacudiram meu corpo. Todo o ar saiu correndo
dos meus pulmões e minha boca se abriu, mas não consegui gritar.
Agarrei-me a ela e ela me abraçou, olhando para mim com seus olhos
escuros e reconfortantes.
O orgasmo me deixou completamente mole. Eu me sentia como se
tivesse acabado de correr uma maratona e as únicas partes de mim que
ainda funcionassem eram o coração e os pulmões.
— Você se divertiu? — ela perguntou.
— Você está brincando? — Eu disse, ainda recuperando o fôlego. —
Sim. Eu me diverti muito.
— Bom. Nós também, — ela respondeu, sorrindo. Ela e seu parceiro
deitaram-se um de cada lado meu e acariciaram meu corpo suavemente
com a ponta dos dedos.
Fiquei lá por meia hora e os observei fazer amor enquanto recuperava
minhas forças. Por alguma razão, eu me sentia à vontade com eles de
uma maneira que nunca havia experimentado com nenhum de meus
amantes anteriores.
Quando saí, os dois ofereceram um beijo de despedida.
— Talvez a gente volte a ver você, — disse a mulher, puxando-me para
seu abraço.
Eu a cheirei uma última vez.
Eu não queria ir embora.
— Sim, eu adoraria, — respondi, segurando-a com força.
Josh

Eu não me importava de ter Sienna no conselho. Como companheira do


Alfa, ela tinha todo o direito de estar envolvida na governança da
Matilha. O que me incomodava mesmo era todo o drama que isso estava
gerando.
Eu sempre me achei um Beta bem tranquilo, mas ainda precisava
fazer a Matilha funcionar da maneira mais tranquila e eficiente possível.
Não apenas porque era meu trabalho, mas também porque Aiden era
meu melhor amigo, e se eu me saísse bem, isso tornaria a vida dele um
pouco mais fácil. Isso era o que os melhores amigos faziam um pelo
outro.
Toda essa sobreposição entre sua vida doméstica e a vida da Matilha,
entretanto, estava causando alguns problemas importantes.
Isso não quer dizer que eu achasse que Aiden e Sienna deviam varrer
suas diferenças para baixo do tapete, mas dado o arranjo atual, quando
eles brigavam, a Matilha sofria.
— Aiden, você tem um minuto? — Eu perguntei, alcançando-o no
corredor.
— Claro, Josh. O que aconteceu?
— Eu estava procurando a lista de instituições de caridade para as
quais vamos doar neste feriado, e não consigo encontrar.
— Sienna está cuidando disso.
Isso ia ser mais difícil do que eu pensava. Como eu deveria dizer a ele
que sua companheira estava deixando a peteca cair sem irritá-lo?
— Ótimo, mas eu meio que preciso da lista até quarta-feira. Caso
contrário, as doações não serão entregues a tempo. Eu posso cuidar
tranquilamente disso se ela estiver ocupada.
— Não, vou lembrá-la esta tarde.
Ele ainda não estava entendendo. Se ele tratava a Sienna assim, eu
entenderia por que ela estava chateada com ele. Acho que precisava ser
mais direto.
— Acho que você a sobrecarregou com coisas demais, Aiden.
Especialmente quando está claro que a Matilha não é necessariamente
sua prioridade número um. Se ela quiser reduzir seu envolvimento, posso
assumir o trabalho. Eu estava fazendo tudo antes de qualquer maneira.
Prendi a respiração, esperando para ver qual versão de Aiden eu
estava prestes a encarar.
— Josh, ela precisa aprender que os negócios da Matilha são tão
importantes quanto qualquer outra coisa que ela faça. Ela é minha
companheira, e isso faz parte de suas responsabilidades.
— Certo, mas dado tudo o que está acontecendo entre vocês dois...
— Eu disse que vou falar com ela sobre isso esta tarde. Você receberá
sua lista.
Eu sabia que não devia pressioná-lo quando ele ficava assim. Eu disse
o que queria e saí antes que ele explodisse.
Sienna

Winston's sempre foi o lugar onde meus amigos e eu frequentávamos


antes de Michelle e eu nos casarmos.
Era um restaurante mediano, sem nada demais, a não ser o fato de
que era consistentemente mediano.
No momento, Michelle e eu estávamos dividindo uma cesta de
batatas fritas enquanto cada uma de nós bebia um milk-shake. Depois de
pintar no parque, decidi que precisava de Michelle para minha dose de
besteirol diária.
— Ter esses espantalhos por perto acaba com o clima, — comentou
Michelle enquanto balançava uma batata em direção à nossa equipe de
segurança. — Vocês querem um pouco? — ela perguntou, oferecendo a
cesta gordurosa de batatas fritas. — Se você vai ficar aí, é melhor entrar
na conversa.
— Estou bem, senhora, obrigado, — respondeu friamente um dos
guarda-costas através de um drone.
— Como quiser, — disse Michelle, revirando os olhos. — — Então, Si,
você e o Aiden já passaram pela Bruma? Josh e eu perdemos o controle
enquanto ele dirigia, então tivemos que parar e fazer ali mesmo, na beira
da estrada. Não sei se foi o espaço confinado, o fato de que as pessoas
podiam nos ver, ou apenas o fato de que eu estava montando no meu
companheiro, mas foi o melhor sexo que já fiz.
— Meu deus, Michelle, estamos em público.
— E daí? Quando você se tornou tão santa?, — disse ela, sorrindo.
A campainha pendurada acima da porta tocou, eu olhei para cima e
encontrei um homem elegante olhando ao redor curiosamente. Ao ver
Michelle e eu, ele imediatamente se animou e se dirigiu para a nossa
mesa.
Pela primeira vez, fiquei grata por ter segurança. O homem mal
conseguiu chegar a dez pés antes de uma grande mão surgir e agarrá-lo.
— Nossa, sou apenas um mensageiro. Tenho uma carta para entregar
a Sienna Norwood de sua sogra, — disse ele, segurando o envelope.
Ótimo, o que Charlotte queria comigo agora? O segurança pegou a
carta e me entregou. Rasguei a tampa e quase vomitei com o convite
ostentoso.
— O que a velhota quer? — perguntou Michelle, saboreando o último
pedaço de milk-shake de seu copo.
É
— É um convite para um almoço amanhã à tarde, — eu disse
cautelosamente. — Ela quer que eu seja a convidada de honra.
Capítulo 10
HORA DO ALMOÇO
Aiden

— Mãe, este é exatamente o tipo de coisa que eu pedi para você não
fazer.
— Não tenho a menor ideia a que você está se referindo, Addy. Estou
simplesmente organizando um bom almoço para sua companheira e
alguns de seus amigos e familiares.
Ela sempre fez isso, reformulando as coisas para se adequar a sua
visão, sua versão da realidade. Ela fez isso quando Aaron morreu, e ela
estava fazendo de novo agora.
Às vezes eu pensava que ela realmente acreditava, mas sempre houve
uma parte de mim que permaneceu cética. Ela era muito astuta para ser
vítima de tais delírios obstinados.
O almoço foi uma completa surpresa para mim.
Depois que Sienna e eu tivemos nosso momento na câmara do
conselho, conversei com meus pais e eles concordaram em se mudar para
um lugar na cidade. Certamente aliviou a tensão em casa, mas também
significava que eu não poderia controlá-los.
Naquele momento, eu estava observando o refeitório da Casa da
Matilha se transformar com talheres extravagantes e comidas que fariam
você pensar que o Alfa do Milênio estava vindo nos visitar.
— Isso fica aqui, querida, — chamou minha mãe, apontando para um
dos funcionários. — Quem colocou esta colher? Você não viu que está
manchada?
Ela estava tramando alguma coisa, eu tinha certeza disso.
— Addy, xô! Este almoço é só para nós, garotas. Vá cuidar de sua
Matilha.
Eu dei a ela uma última olhada, na esperança de flagrar qualquer
truque que pudesse estar escondido em seus olhos. Sienna pareceu
estranhamente receptiva quando me contou sobre o almoço, então talvez
as duas estivessem dispostas a seguir em frente.
Se fosse esse o caso, eu não iria atrapalhar.
Sienna

Corri minhas mãos sobre minha saia, alisando-a antes de seguir pelo
corredor em direção ao refeitório.
Eu queria usar calças, mas Michelle me convenceu de que seria muito
casual, então coloquei uma meia-calça e encontrei o vestido de inverno
mais pesado que eu tinha.
Ajudou o fato de Aiden manter a Casa da Matilha quentinha durante
os meses de inverno, mas eu ainda estava irritada sabendo que tinha me
trocado por causa de Charlotte.
— Boa tarde, Sra. Norwood, — disse a funcionária ansiosa parada do
lado de fora da porta. Ela era uma jovem garota de olhos arregalados com
cabelo loiro escuro trançado em um coque elegante e duas pintas em sua
bochecha esquerda.
— Existe uma senha? — Eu perguntei depois que ela permaneceu
imóvel.
— Aí, eu sinto muito, eu sou tão boba. Eu estava distraída com seu
vestido. É tão bonito. Ai, meu deus, será que falei demais? Eu sinto
muito. Eu nunca sei quando calar a boca.
— Tudo bem. Não tem problema — eu respondi, sorrindo. —
Obrigada pelo elogio. Eu adorei seu penteado.
— Mesmo? — ela disse, radiante. — Obrigada. Sra. Norwood. É uma
honra conhecê-la. Você é minha ídola.
— Como assim?
— Tudo o que você está fazendo por jovens lobas. Informando-nos
que podemos tomar nossas próprias decisões. É empoderador ver nossa
senhora alfa assumir a postura que você assumiu no festival.
Eu não tinha certeza de como responder. A ideia de ser um modelo
me pegou de surpresa. Selene tinha brincado comigo sobre isso, mas eu
nunca pensei em nada disso.
Além do mais, essa garota deveria ser só alguns anos mais nova do
que eu. Como ela poderia me admirar?
— Obrigado pelas adoráveis palavras, — disse eu, — mas não quero
deixá-los esperando ali.
— Claro, sinto muito ter atrasado você, Sra. Norwood, — ela
respondeu, abrindo a porta.
Eu esperava ver apenas Aiden e seus pais, mas em vez disso fui
recebida por uma mesa cheia de todas as minhas amigas mais próximas e
familiares.
Minha mãe, Selene, Jocelyn, Michelle, Mia... até Erica estava lá.
— Bem, não fique aí parada como um poste, querida. Venha e tome o
seu lugar como nossa convidada de honra.
— O que vocês estão fazendo aqui? — Eu perguntei, caminhando em
direção à mesa.
— Agora que somos uma família, achei que seria bom para todas nós,
garotas, nos conhecermos. Afinal, todos nós sabemos quem realmente
comanda as coisas na Casa da Matilha — disse Charlotte com um sorriso
brincalhão. — Aqui, sente-se, — disse ela, puxando minha cadeira.
Fiz uma careta para Michelle como se perguntasse — o que é que está
acontecendo, — mas ela apenas deu de ombros.
— Agora, gostaria de fazer um brinde à minha nora, — disse
Charlotte, erguendo o copo.
— Sienna, querida, você passou por tanta coisa na semana passada, e
eu admito que a chegada de Daniel e eu foi... um pouco chocante.
— Eu gostaria de me desculpar por isso. Acho que todos poderíamos
ter nos comportado melhor, por isso organizei este encontro. Acho que é
hora de começarmos do zero, Sienna. A novos começos e ao futuro desta
família.
Todos aplaudiram e brindaram com as taças. Eu acho que Aiden
estava certo; talvez Charlotte tivesse um lado sincero, afinal.
— Selene, querida, quando é o parto? — continuou Charlotte. — Você
está uma grávida tão radiante.
— Ah, obrigada, Charlotte, — Selene respondeu, corando. — Eu dou à
luz em três semanas. Então teremos mais uma mocinha para se juntar a
nós na mesa.
— Tenho certeza de que você também está ansiosa, Melissa.
— Ansiosa é pouco, — disse Selene.
— Ei, tenho sido muito boa em não meter o nariz nas coisas.
— Mãe, você almoça com meu obstetra três vezes por semana.
— Somos amigos médicos, Selene. Nem tudo gira ao seu redor — ela
respondeu com um sorriso culpado. — Mas, para responder à sua
pergunta, Charlotte, mal posso esperar pela chegada da minha primeira
neta.
— O primeiro bebê de muitos, tenho certeza, — respondeu Charlotte.
Quando os garçons saíram com o primeiro prato, Charlotte
continuou sua conversa.
— E, Mia, você já tem um filhotinho, não é?
— Sim, gêmeos, na verdade. Eles estão com quatro meses agora.
— Você deveria tê-los trazido, — disse Michelle. — Eles são os bebês
mais fofos que eu já vi na vida.
— Eles estão com o pai durante a tarde, então se eu estiver checando
muito meu telefone, é por isso.
— É muito corajosa por deixar Kyler e Emmett sozinhos com Harry.
— Eu sei, é por isso que estou voltando em duas horas. Estamos indo
aos poucos.
— E você, Michelle? — disse Charlotte. — As crianças estão no seu
radar?
— Veremos. Josh e eu queremos muito, e agora que a Bruma chegou,
eu não ficaria surpresa se tivesse um anúncio a fazer antes do ano novo.
— Meu Deus, parece que pode haver um bando de pequeninos
correndo por aqui em breve. Erica, quais são seus planos?
— Não estou acasalada, — respondeu Erica, um pouco na defensiva.
— Entendo, — respondeu Charlotte. — Bem, a temporada está
chegando, minha querida. Talvez este seja o seu ano de sorte. Jocelyn,
querida, o que você estava me contando outro dia sobre como a saúde de
uma Matilha se baseia na preservação de sua posteridade?
Eu lancei a Jocelyn um olhar interrogativo.
Ela tinha falado com Charlotte pelas minhas costas? Por que ela não
mencionou nada quando fui vê-la outro dia?
— Eu acho que você está interpretando minhas palavras um pouco
fora do contexto, Charlotte, — respondeu Jocelyn calmamente. — O que
eu disse foi: a consciência coletiva de uma Matilha é melhorada quando
eles sabem que o futuro é estável, e parte dessa estabilidade envolve a
criação de um grupo saudável de filhotes.
— Sim, sim, mas resumindo, ter bebês é bom para a Matilha. Acho
que todos nesta mesa concordam. Você não acha, Sienna?
Eu estava começando a ficar incomodada. Todo esse almoço não era
para nos conhecermos, mas sim para me lembrar de que todas ao meu
redor estavam tendo bebês.
— Claro, — respondi com cautela. — Estou feliz que minhas amigas e
irmã tenham escolhido ter filhos. É uma decisão bem significante.
— Eu concordo plenamente, — respondeu Charlotte. — Muita coisa
pode mudar quando você decide ter filhos ou não.
Ela fez uma pausa para se certificar de que tinha toda a minha
atenção, e de repente eu me senti como se fôssemos as únicas duas
pessoas na sala.
— Outras áreas da sua vida que você pode nem pensar que estão
relacionadas podem ser afetadas. Seu trabalho, seus hobbies... seu
companheiro. Sim, começar uma família é uma decisão muito
significante.
Aquela foi a gota d’água. Eu podia ver que atrás daquela pele de
cordeiro, havia uma loba.
Era impossível um mundo onde ela e eu nos reconciliássemos.
Mesmo se eu engravidasse amanhã, ela não daria a mínima para mim. Ela
só queria ter um neto, um neto Norwood.
— Charlotte, você não precisa fingir que gosta de mim.
— O que você quer dizer querida?
— Este teatrinho não vai funcionar. Você não vai me pressionar a ter
um bebê me cercando de mulheres que querem ser mães. Amo cada uma
dessas mulheres de todo o coração e respeito suas escolhas, mas elas
nunca me pressionariam para começar uma família como você está
tentando fazer agora.
— Quando você vai parar de me ver como uma vilã, Sienna?
— Quando você parar de agir como tal e começar a me respeitar.
— É difícil respeitar uma pessoa que só pensa em si mesma, querida.
— Engraçado — eu respondi. — A única razão pela qual você voltou
aqui foi para se certificar de que o legado de sua família não fosse
manchado por uma novata que não tem medo de ser sincera.
— Sienna. Charlotte, por favor, parem com isso, — implorou Melissa,
pondo-se de pé.
— Tudo bem, você pode pensar que sou horrível, mas sempre serei a
mãe de Aiden e sempre o colocarei em primeiro lugar.
— Isso é o que significa ser acasalado, senhorita. Você faz sacrifícios.
Aiden está fazendo de tudo para atender às suas frívolas exigências, e o
que você fez em troca? O envergonhou na frente de toda a Matilha e o
privou da maior alegria que um lobo pode ter. Você não merece meu filho
e nunca vai merecer.
As palavras de Charlotte me consumiram como ácido enquanto meu
coração afundava em meu estômago. Eu não ia dar a ela a satisfação de
me ver chorar.
— Com licença, senhoras, mas acho que não posso continuar aqui.
Assim que saí do refeitório, corri para o meu escritório e tranquei a
porta.
As lágrimas derramaram e eu deslizei para o chão, incapaz de
controlar a dor que me dominou. Eu não pude evitar, mas senti que havia
um fiapo de verdade nas palavras de Charlotte.
Naquele momento, eu não queria ver ninguém, exceto Aiden. Eu
queria senti-lo e ouvi-lo me dizer que eu era o suficiente, que era sua
companheira e que ele me amaria para sempre.
Capítulo 11
DECLARAÇÕES
Sienna

Meu telefone vibrou sem parar pelo resto da tarde. Todo mundo estava
tentando falar comigo depois que eu fugi do almoço de Charlotte.
Achei que queria ficar sozinha, mas estava completamente enganada.
Eu precisava falar com alguém.
Pensei em Jocelyn, mas ainda não tinha certeza de qual era sua
conexão com Charlotte, e Michelle e Mia não entenderiam o que eu
estava passando.
Eu precisava da minha mãe.

Sienna: Oi, mãe, posso passar aí?

Mãe: Sim! Claro!

Mãe: Eu vou estar em casa o dia todo.

Sienna: Obrigada. Em 20 minutos tô aí

Mãe: Combinado!
Mãe: Te amo, Si. Bjs

Antes mesmo que eu pudesse alcançar a porta, ela e Selene já estavam


lá fora me abraçando.
— Aí. Si, eu sinto muito. Não tínhamos ideia de que isso iria
acontecer. A gente tinha certeza de que seria um almoço normal.
— Eu briguei com ela depois que você saiu, mas mamãe me fez parar,
— acrescentou Selene.
— Tudo bem, — respondi. — Eu sei que você ficou tão surpresa
quanto eu.
— Entre querida, e saia do frio. Tenho uma caneca grande de
chocolate esperando por você.
A familiaridade de estar dentro da casa da minha infância já bastava
para me fazer sentir melhor. Não tinha que pensar duas vezes antes de
falar ou olhar ao redor, como fazia na Casa da Matilha.
Eu me enrolei no sofá, e minha mãe me trouxe o chocolate e um
prato de biscoitos enquanto Selene me cobria com um cobertor.
— Pronto, maninha. Bem quentinha.
— Há mais alguma coisa que eu possa fazer por você? — Minha mãe
perguntou.
— Não. Está perfeito. Eu só preciso saber que vocês duas não me
odeiam.
— Nossa, Sienna, por que nós odiaríamos você?
— Não sei. Eu vejo como você está animada com o bebê da Selene, e
eu sinto que seria perfeito se nós duas tivéssemos filhos na mesma época
para que eles pudessem crescer juntos e...
— Si, você está falando a maior bobagem — interrompeu Selene. —
Você não deveria ter filhos porque acha que seria fofo nossos bebês terem
mais ou menos a mesma idade. Há um motivo pelo qual Jeremy e eu
esperamos até que o fizéssemos. Tínhamos outras coisas que queríamos
fazer antes de nos estabelecermos.
— Sim, e não pense que eu te amo menos porque você não está me
dando um neto. Tudo o que me importa é que você seja feliz com
qualquer caminho que tomar na vida.
— Sim, não deixe aquela velha enrugada te perturbar, Si. Seu corpo,
suas regras.
Eu estava muito grata por ter aquelas duas em minha vida. Passamos
o resto da tarde assistindo a filmes e sem falar nada sobre crianças ou a
Matilha.
Aiden

Sienna voltou para casa com um humor incomum. Pela primeira vez
desde o Festival, ela parecia à vontade.
Jocelyn já tinha me contado o que aconteceu no almoço, e eu
esperava que Sienna me desse outro ultimato em relação à minha mãe,
mas em vez disso, ela rastejou em meus braços e me perguntou sobre o
meu dia.
Eu não conseguia entender.
Simplesmente deitamos nos braços um do outro e conversamos.
Conversamos sobre tudo e qualquer coisa. Conversamos até o sol nascer.
Foi tão simples e fácil. Era como se reconectar com um velho amigo
depois de passar décadas separados.
Isso me lembrou o quão louco eu era por ela, que companheira
perfeita ela era. Depois de ontem à noite, eu nunca poderia imaginar
uma vida sem ela ao meu lado.
Uma batida forte na minha porta me distraiu dos meus devaneios.
— Addy, a imprensa está aqui para você atualizá-los sobre o novo
Festival.
— Sim, já vou, mãe.
— Bom. É péssimo manter a imprensa esperando. Mentes ociosas
escrevem histórias fantásticas.
Ela sempre tinha que transmitir um pouco de sua sabedoria? Ela sempre
tinha que dar a palavra final?
Caminhei em direção à sala de imprensa com o conflito se formando
em minhas entranhas. Eu não tinha certeza do que queria dizer, mas o
que quer que eu dissesse, precisava aguardar. Um alfa nunca vacila com
suas palavras.
Cheguei para ver minha mãe, meu pai, Sienna e o resto do conselho
flanqueando o pódio em uma linha organizada. Os repórteres se
amontoaram na sala como sardinhas.
Senti seus olhos em mim, rastreando todos os meus movimentos e
expressões faciais.
Minha mãe e meu pai sorriram como se nada tivesse acontecido entre
nós. Então eu flagrei o olhar de Sienna, sua expressão mais reservada,
mas dez vezes mais genuína.
Ia doer, mas eu já tinha decidido.
Coloquei minhas mãos em cada lado do pódio e inclinei-me para o
buquê de microfones apontado para meu rosto.
— Bom dia, — comecei. — Há alguns dias, Sienna e eu anunciamos
que concordamos em reagendar o ritual do Festival da Fertilidade para a
próxima lua cheia. Desde então, divulgamos muito poucas informações a
respeito.
Com o canto do olho, vi minha mãe balançando a cabeça. Tudo
estava indo como ela havia planejado.
— Bem, a razão para isso é porque eu decidi respeitar a decisão de
minha companheira e adiar indefinidamente o ritual.
— Quando Sienna e eu estivermos prontos para começar a ter filhos,
nós avisaremos a Matilha, mas por ora, nossa decisão de começar uma
família não será ditada por nada, exceto por nossos próprios desejos
pessoais. Obrigado.
Uma ladainha de objeções disparou da multidão junto com mãos
ansiosas, mas eu não tinha intenção de responder às suas perguntas.
Tudo o que me importava naquele momento era estar com minha
companheira.
Eu me virei para Sienna, que estava radiante. Ela murmurou um
silencioso "eu te amo" que me encheu de orgulho e alegria.
Todos, incluindo meu conselho, ficaram pasmos. Eu podia ver meus
pais inquietos, seus olhos tremendo, tentando não perder o rumo na
frente das câmeras.
— Encontre-me no meu escritório em dez minutos, — eu disse,
beijando minha mãe na bochecha. — Pai, você também está convidado.
— Os dois estavam furiosos demais para proferir uma resposta adequada,
mas eu não me importava se eles aparecessem.
Peguei Sienna pela mão e dei um beijo suave em seus lábios. — Sinto
muito por ter demorado tanto.

— Ah, Addy! Eu não posso acreditar que você foi tão tolo!
— Esta não é a decisão de um alfa forte, filho. Você está estabelecendo
um precedente perigoso.
Sentei-me em minha cadeira, encarando-os com uma alegria
inesperada. Havia algo de engraçado em como todas as críticas que eles
estavam guardando, acabaram sendo disparadas de uma forma
desesperada.
— O que quer que aquela garota tenha feito com você, — censurou
minha mãe, apontando o dedo para Sienna, — é o resultado de
motivações egoístas. Ela não se importa nem um pouco com a Matilha e
com esta família.
— Sua mãe e eu tentamos tirar você da bagunça que ela criou, mas
você simplesmente mergulhou de cabeça dentro dela. Diga alguma coisa,
inferno.
Eu contemplei as duas figuras fumegantes na minha frente.
Nada que eles pudessem fazer ou dizer me deixaria tão feliz quanto
Sienna.
Nada que eles pudessem fornecer me faria sentir tão completo
quanto eu me sentia quando estava com ela.
— Mãe. pai, desde que vocês chegaram aqui, deixaram uma coisa bem
clara para mim: sua prioridade sempre será proteger o legado de nossa
família. Achei que isso poderia ter mudado quando mamãe ofereceu
aquele almoço, mas estava claramente enganado.
— Vocês estão tão envolvidos com o que é melhor para a família que
não têm ideia do que significa ser família. Sienna é minha companheira.
Ponto final. Fim da história.
— Não há mais ninguém neste mundo com quem eu queira viver. E
nada vai comprometer nossa parceria. Nem vocês, nem a matilha, e
certamente nem se tivermos filhos ou quando tivermos.
— Não espero que vocês entendam, então direi de outra forma: Eu
não quero ver nenhum de vocês mais.
O rosto de meu pai ficou sério e ele apertou a mandíbula. Eu não me
importei se ele estava chateado. Ele mesmo havia causado isso; ambos
tinham.
— Entendo perfeitamente, — disse Daniel, colocando as mãos nos
ombros de minha mãe. — Estou feliz que Aaron não está por perto para
ver que tipo de lobo você se tornou.
Os olhos da minha mãe lacrimejaram enquanto ela me olhava
incrédula, balançando a cabeça. — Addy... Aí, Addy. Estou tão
desapontada.
Eles deixaram a sala rapidamente, mas fizeram questão de fechar a
porta atrás deles com um barulho frio e sem cerimônia.
Qualquer gota de culpa que eu pensei que pudesse ter falhou em se
materializar. A tentativa de meu pai de usar a morte de Aaron em seu
benefício apenas tornou a decisão mais fácil.
Voltei minha atenção para Sienna, que, pela primeira vez na memória
recente, estava sem palavras.
— Eu não fiz isso apenas por você, — eu disse, desconfortável com o
silêncio dela. — Já faz muito tempo que preciso enfrentá-los.
Sienna caminhou em minha direção e deslizou a mão em volta da
minha cintura, puxando-me para um beijo apaixonado. Fechei meus
olhos e me perdi em seu abraço.
Sienna

Eu senti seu cheiro enquanto nossos lábios se apertavam em uma fricção


feroz.
Eu me afastei, ainda saboreando seu sabor.
Eu estava pronta para cumprir minha promessa. Eu raspei sua
bochecha com meus dedos, deixando meu polegar descansar em seus
lábios escuros e deliciosos.
Ele abriu os olhos, silenciosamente implorando para libertá-lo dessa
agonia.
Ele cedeu. Eu não precisava ouvi-lo dizer isso. Nós dois sabíamos.
Pressionei meu polegar em seus lábios e ele o deixou mergulhar em
sua boca. Sua língua quente engolfou meu dedo, enviando tremores pelo
meu corpo.
Senti meus mamilos endurecerem e todo o meu corpo começou a
formigar. Minha visão ficou turva e senti minhas pernas cederem.
Quando desabei, senti seus braços fortes me envolverem, me
puxando com força contra seu corpo esculpido.
Cada centímetro de mim estava gritando por ele, e meu sexo doía em
antecipação.
Ele passou a mão pelo meu cabelo, em seguida, puxou minha cabeça
para o lado, expondo meu pescoço nu. Eu engasguei quando seus dentes
morderam minha pele e sua boca massageava a dor.
Eu me perdi no êxtase do toque de Aiden, rasgando sua camisa e
espalhando os botões pelo chão.
— É agora ou nunca, — ordenei.
Aiden nunca teve problemas em seguir ordens desse tipo.
Ele agarrou a parte inferior da minha blusa e puxou pela minha
cabeça. Tirando sua própria camisa, ele me ergueu sobre a mesa de modo
que minhas pernas pendessem para o lado, montando nele.
— Anda logo — eu gemi.
— Paciência. Quem espera sempre alcança.
— Foda-se, — eu protestei.
Uma de suas mãos agarrou minha perna e a outra puxou minha
calcinha para o lado. Ele se abaixou e pairou sua boca acima do meu sexo,
seu hálito quente batendo contra a superfície.
Fechei meus olhos, esperando, ansiando.
Eu não aguentava mais. Eu o queria dentro de mim.
Agarrando-o pelos cabelos, puxei sua cabeça para trás para que
travássemos os olhos.
— Venha aqui e me foda.
Sem dizer uma palavra, ele tirou as calças e subiu na mesa. Ela rangeu
sob seu peso, mas não importava se ela desmoronasse embaixo de nós.
Ele agarrou minha mão e a prendeu na minha cabeça. Antes que eu
pudesse protestar, o senti afundar em mim. A respiração voou para fora
dos meus pulmões e minha boca se abriu, ofegando por ar.
Suas estocadas poderosas me sacudiram e eu afundei meus dentes em
seu ombro para não gritar.
Eu podia sentir ele ficando mais duro dentro de mim, e eu sabia que
ele iria gozar.
Os golpes de Aiden ficaram cada vez mais rápidos enquanto nós dois
crescíamos em um orgasmo atômico que parecia que iria me dividir em
dois. Aiden rugiu quando chegou ao clímax, e eu gritei de tanto prazer.
Depois de me recompor, olhei para seu rosto suado e afastei o cabelo
grudado em sua testa.
Eu não podia acreditar que este homem lindo e sensível era meu
companheiro, e eu não via a hora de passar o resto da minha vida com
ele.
Capítulo 12
PÂNICO NO PARAÍSO
Sienna

O encontro na câmara do conselho ajudou Aiden e eu a redefinir nossa


comunicação. Depois que seus pais fizeram as malas e deixaram a cidade,
passamos a semana seguinte reacendendo a paixão que tínhamos antes
de todo o drama do festival.
Deixamos nossas Brumas correr soltas, fazendo amor em todos os
lugares que podíamos. Realmente parecia que tinha meu companheiro
de volta.
Uma coisa era certa; não podíamos usar sexo para resolver discussões.
Não apenas porque éramos loucos um pelo outro, mas não
funcionou. Isso só fez Aiden e eu nos ressentirmos.
Toda a experiência com o festival e os pais de Aiden realmente me
forçou a crescer.
Seguindo em frente, se tivéssemos uma diferença de opinião, o
consenso teria que vir de uma compreensão verdadeira e a mudança
tinha que vir do coração. Nada de ameaças maldosas.
Aiden tinha saído cedo, mas eu escolhi dormir. Meu corpo ainda
estava dolorido das atividades da noite anterior.
Eu comecei a adormecer novamente quando o som do meu telefone
me acordou de repente.

Aiden: Acorda, dorminhoca

Sienna: Você não me beijou quando saiu


Sienna: Maldade 😒

Aiden: Você estava tão relaxada

Aiden: Além disso, sei como você fica quando acorda

Aiden: 😈 (emoji de diabo)

Sienna: Experimenta

Aiden: Claro. Adoro te experimentar 😋(emoji de língua)

Sienna: Não é o que eu quis dizer, idiota rs

Aiden: Vem logo, minha linda

Sienna: Quem espera, sempre alcança...

Aiden: emoji
Sienna: Não me faça voltar com a castidade

As mensagens de Aiden me deixaram com vontade de tomar uma


dose matinal de Bruma. Definitivamente não havia como voltar a dormir
agora.
Ele iria se ver comigo. Eu ia garantir isso.
Saí da cama e fui ao banheiro escovar os dentes. Eu olhei para o
relógio digital na prateleira. Eram quase dez e meia.
Você precisa ir para a cama cedo esta noite, garota.
Cuspi minha pasta de dente e estava limpando minha boca quando
olhei para o relógio novamente e o horror tomou conta de mim.
A data. Isso estava certo? Não pode ser. Fui para o quarto e peguei
meu telefone. A mesma data apareceu na minha tela de bloqueio.
Meu estômago embrulhou e uma onda de pânico tomou conta de
mim.
Minha menstruação estava atrasada.

Sienna: Você estará no seu escritório?

Jocelyn: Sienna, posso ir agora mesmo se precisar de mim

Sienna: Não, não se preocupa

Sienna: Não é uma emergência


Sienna: Só é meio pessoal, só isso

Jocelyn: Ok, se você diz

Jocelyn: Vejo você às 2 então! bjs

Sienna: Eu preciso pedir um favor

Jocelyn: Claro, o que é?

Sienna: Podemos falar pessoalmente?

Jocelyn: Estou livre depois das 2

Jocelyn: Quer passar aqui?

Sienna: Sim

Sienna: Você estará no seu escritório?


Jocelyn: Sim

Essa era a verdadeira beleza de Jocelyn. Ela podia olhar através do


exterior das pessoas e focar no que eles estavam passando por dentro.
Naquele momento, enquanto eu estava do lado de fora da porta de
seu escritório, eu precisava de seus serviços em dobro. Eu tinha muita
coisa na cabeça que precisava botar para fora, e também precisava que ela
visse se alguma criaturinha havia pegado uma carona dentro de mim.
A porta se abriu e o cheiro reconfortante de incenso e jasmim fluiu
em minhas narinas.
A ansiedade que tomou conta de mim durante toda a manhã
começou a se dissipar quando Jocelyn pegou minhas duas mãos nas dela
e olhou para mim com seus olhos cor de avelã esfumaçados, procurando
o que poderia estar me incomodando.
— O que te traz a mim, deusa? — ela perguntou, me conduzindo para
dentro. — Suas mensagens me preocuparam.
Certifiquei-me de que a porta estava fechada antes de dizer a ela o
motivo da minha visita.
— Minha menstruação atrasou, Jocelyn.
— Por quantos dias? A Bruma pode atrapalhar às vezes.
— Estou seis dias atrasada.
Jocelyn ficou quieta por um momento, então me convidou para
sentar no sofá. — Eu estou supondo que você e Aiden fizeram sexo
recentemente.
Eu dei a ela um olhar como se dissesse: Mentira, menina!
— Ei, eu tenho que fazer essas perguntas, — ela respondeu, sorrindo.
— Estou feliz em saber que vocês dois conseguiram consertar as coisas.
— Eu também. Quero dizer, estou feliz por Aiden ter progredido em
toda a questão da família, mas posso dizer que é difícil para ele. Ele ainda
tem que lutar contra a vontade de brigar comigo às vezes.
— Na verdade, sinto que há mais pressão agora porque ele é muito
compreensivo. Eu quero dar a ele o que ele quer, mas ainda tem toda
aquela história sobre meus pais biológicos atrapalhando.
— Claro, — respondeu Jocelyn, — você não é a primeira loba que veio
até mim se sentindo pressionada a começar uma família. O vínculo de
acasalamento é uma coisa linda, e quando acontece pela primeira vez,
ambos os parceiros chegam a um pico de felicidade.
— E depois?
— Depois os casais às vezes podem discordar sobre como manter essa
emoção. Um pode levar alguns anos para se ajustar ao acasalamento
antes de começar uma família, enquanto o outro vê os filhos como uma
nova aventura maravilhosa.
— E em alguns casos, um deles pode não querer filhotes de jeito
nenhum. O que estou tentando dizer é que os dois querem o melhor para
o relacionamento, mas podem não concordar sobre o que é.
— Eu quero começar uma família com Aiden, Jocelyn, eu quero de
verdade. Ele vai conseguir o que quer. Eu só me sinto culpada por estar
esperando o momento certo.
— Você não deveria. Aiden não está tentando enganar você.
— Eu sei, — eu disse, me sentindo estúpida por ter sugerido que era
esse o caso.
— Então, o que acontece com seus pais biológicos que você quer
saber? Se eles realmente são o único obstáculo à sua frente, o que lhe
daria a paz de espírito que você está procurando?
Eu tinha pensado na pergunta de Jocelyn mil vezes na semana
anterior. Havia muito que eu queria saber sobre eles, mas tudo se
resumia a uma pergunta.
— Eu quero saber por que eles fizeram aquilo, Jocelyn. Preciso saber
por que eles me abandonaram naquela carruagem.
— E por que essa é a pergunta mais importante para você?
— Olhe para os pais de Aiden e como eles o abandonaram. Veja como
isso o deixou emocionalmente confuso e olhe para mim. Não consigo
nem me sentir confortável tendo filhos por causa dos meus problemas.
Se eu não descobrir por que eles me abandonaram, tenho medo de
acabar fazendo o mesmo.
— Sienna, você não vai abandonar seu filho, — respondeu Jocelyn,
apoiando a mão no meu joelho. — Ao mesmo tempo, não vou mentir
para você. Ser pai traz incertezas.
— É como qualquer outra decisão que você toma na vida. O resultado
nunca pode ser garantido. Então, se é isso que você está esperando, acho
que nunca se sentirá pronta para começar uma família.
Será que era isso? Eu estava usando meus pais como desculpa?
Mesmo se estivesse, não poderia evitar o fato de que a ideia de ter um
filho não parecia certa para mim. Não agora, pelo menos.
— Você acha que estou pronta? — Eu perguntei, captando o olhar de
Jocelyn.
— Você é a única que pode responder a essa pergunta, Sienna.
— Mas você me conhece, Jocelyn. E se eu estiver grávida? Preciso
saber se estou pronta.
— Está tudo bem se você não estiver, — ela disse de forma
tranquilizadora.
— É isso? E se minha mãe não estivesse pronta? E se for por isso que
ela me abandonou?
De repente, a ideia de ter um filho crescendo dentro de mim tornou-
se assustadora. E se foi assim que minha mãe ficou grávida de mim? Eu
ficaria com ele? O que eu diria a Aiden?
As coisas estavam começando a melhorar.
Tudo isso estava errado.
Parecia errado.
Eu deveria estar muito feliz por estar grávida. Mas por que eu estava
sentindo aterrorizada em vez disso?
Isso não era normal. Por que eu não podia simplesmente me sentir
feliz como deveria?
Comecei a hiperventilar.
— Calma, Sienna, — Jocelyn disse, esfregando minhas costas. —
Respire lentamente pela boca. Respire fundo, enchendo sua barriga.
— Não estou pronta, Jocelyn, não estou. Vou ter esse bebê e não estou
pronta.
— Você não precisa ter se não quiser, Sienna.
— O que você quer dizer? Eu não tenho escolha.
— Você sempre tem uma escolha. É o seu corpo.
Ela estava dizendo o que eu pensei que ela estava? Eu olhei em seus
olhos para ter certeza.
— Como eu disse, você não é a primeira loba que veio até mim sem
querer começar uma família. — Eu agarrei a mão de Jocelyn. Eu estava
pronta para que ela me contasse o que eu já havia me convencido de que
era verdade. — Diga-me se estou grávida, Jocelyn.
— Tudo bem, deite no sofá, — respondeu ela, colocando um
travesseiro atrás da minha cabeça. — Você precisa ficar quieta.
Observei enquanto Jocelyn levantava minha camisa e colocava as
mãos logo abaixo do meu umbigo. Suas mãos pareciam suaves e limpas
contra minha pele. Eu tremi, não acostumada a ser tocada tão
clinicamente.
— Tente não se mover, — ela repetiu, profundamente concentrada.
Senti a área sob suas mãos ficar dormente. Logo depois, um calor
desconfortável irradiou entre meus quadris.
Olhei para o teto, esperando que ela dissesse as palavras que eu temia,
mas sabia que viriam.
Fiquei lá pelo que pareceu uma eternidade, minha mente pensando
em tudo o que podia mudar na minha vida.
Eu odiava a Bruma, odiava o que ela tinha feito comigo, o quão fraca
eu tinha sido.
Quando percebi, Jocelyn estava enrolando minha camisa.
Ela olhou para mim e agarrou minha mão, seus olhos cheios de
emoção.
Capítulo 13
UM TEMPO A SÓS
Sienna

Não importa como eu me envolvia nos lençóis, eles se agarravam a mim


como uma centena de mãos indesejadas.
Mas quando os tirava, me sentia nua e com frio.
Eu vim direto para casa depois de deixar a casa de Jocelyn, na
esperança de encontrar conforto na minha cama. Mas tudo que eu fiz nas
últimas horas foi vagar a esmo.
Eu não conseguia afastar a preocupação de que alguma parte da
minha constituição biológica pudesse ter predeterminado meu fracasso
como mãe.
De repente, ouvi o carro de Aiden estacionar na garagem.
Eu não esperava que ele estivesse em casa até mais tarde. Eu não
queria que ele me visse reagindo dessa maneira.
E eu estava preocupada em não ser capaz de me comunicar direito
porque estava sentindo esse mal-estar.
Assim que ele abriu a porta, ele chamou meu nome.
— Estou aqui em cima, — gritei, tentando me recompor antes que ele
me visse.
Quando ele entrou na sala, olhei para ele e fiquei impressionada com
o quão escultural e bonito ele parecia.
Sua camisa de colarinho engomada se agarrava ao peito e se esticava
ao redor de seus braços, estreitando-se perfeitamente até a cintura fina.
Seus cabelos negros selvagens descansavam perfeitamente em cima de
sua cabeça, implorando para que eu corresse meus dedos por eles.
E o rosto dele, aquele rosto único que era tudo que eu queria ver
quando acordasse e antes de ir para a cama... E eu estava completamente
bagunçada, agarrada aos lençóis como uma criança.
— Você chegou em casa cedo, — eu disse, tentando mantê-lo no foco.
— Você não estava atendendo ao telefone. Jocelyn disse que você
poderia estar aqui.
— Eu precisava de um tempo sozinha. Me desculpe se preocupei você.
Aiden caminhou até a cama e se deitou ao meu lado, sua mão
poderosa pousando no meu quadril. — Diga-me o que há de errado,
Sienna.
Aquele era o momento. Eu tinha que ser honesta com ele.
— Minha menstruação atrasou.
Seu rosto ficou em branco por um momento antes de processar as
implicações. — Espere, você está dizendo que...
— Eu pensei que eu estava. Eu fui para Jocelyn. Ela não viu nada. Ela
disse que é a Bruma atrapalhando meu ciclo.
— Tem certeza? Quer dizer, talvez fosse muito pequeno para ela ver.
— Tenho certeza, Aiden.
A luz em seu rosto se apagou e ele olhou para o meu travesseiro.
Percebendo as manchas de lágrimas ali, ele disse: — Está tudo bem.
Você não precisa ficar chateada. Podemos tentar novamente.
— Não é por isso que estou chorando, Aiden. E se for minha culpa? E
se eu não for mãe? Você já desistiu de tanto por mim, eu não quero que
você tenha que sacrificar crianças também.
— Claro, adoraria ter filhos com você um dia. Mas você é a coisa mais
importante para mim. Além disso, acho que você está esquecendo que
somos companheiros, Sienna. Você está presa a mim para o resto da vida.
— Eu sei. E por isso que estou tão assustada, Aiden. E se houver algo
na minha família biológica que signifique que não posso ter filhos?
— Não faria diferença, Sienna — — respondeu ele, sentando-se. —
Você é minha principal prioridade. Achei que tinha deixado isso bem
claro.
Ele tinha, e eu sabia que era bobagem da minha parte pensar o
contrário.
— Sei que você está nervosa por ter filhos, mas não estará sozinha,
Sienna. Estou aqui; sua família está aqui. Honestamente, também estou
com medo, mas sei que mãe maravilhosa você será e que, juntos,
podemos resolver tudo.
Como ele poderia ter tanta certeza? Não havia como saber. Ele estava
apenas me dizendo o que eu queria ouvir para me acalmar?
Acho que ele percebeu a dúvida que pairava na minha expressão,
porque ele estendeu a mão para acariciar meu braço.
— Sienna, você não sabe o que levou seus pais a deixar você. Você
nem sabe se foi decisão deles.
Ele tinha razão. Eu meio que parti direto para a pior hipótese possível.
Eu simplesmente odiava sentir que estava decepcionando Aiden.
— Você tem razão. Sinto muito, — eu respondi.
Aiden deitou-se novamente e aninhou-se ao meu lado.
— Você não acha que eu sou como meus pais, acha? — ele perguntou.
— Claro que não! — Eu respondi, quase rindo de quão ridícula era
essa pergunta.
Claro, ele tinha a mesma testa severa de seu pai e o gênio forte de sua
mãe... mas Aiden não era nada parecido com seus pais.
— Então, veja, — disse ele, parecendo presunçoso, — não importa
quem são seus pais biológicos ou por que eles a deixaram. Você não é eles
e vai ser uma mãe incrível, não importa quando isso acontecer.
Eu rolei e beijei sua bochecha.
— Interessada em tentar isso agora? — disse ele, levantando uma
sobrancelha.
Eu bati nele de brincadeira. Ele sempre tinha que estragar um bom
momento com seus comentários pervertidos.
— Era um momento fofo! — Eu disse, rolando para o outro lado.
Por um tempo, apenas ficamos ali deitados, com os braços
pressionados um contra o outro.
Eu sabia que ele estava certo. Quem quer que fossem meus pais
biológicos, não definia quem eu era, ou que tipo de mãe eu seria.
Mas eu ainda sentia aquele espaço vazio em meu coração.
Eu ainda queria saber quem eles eram.
Nessa época do ano, as árvores do parque haviam perdido as folhas. Tudo
o que restou foram aglomerados de esqueletos finos amontoados para se
aquecer.
Enquanto estava sentada pintando no parque, também me senti nua.
Selene sempre me disse que relacionamentos exigem trabalho duro, mas
eu pensei que ela estava sendo dramática.
Ela e Jeremy eram constantemente felizes e agora, com o bebê a
caminho, eles teriam a família que sempre quiseram.
Eles esperaram, no entanto. Ela e Jeremy estavam casados há três
anos antes dela engravidar. Talvez isso fosse tudo de que eu precisava
para acalmar meus medos: um certo tempo para respirar.
Perdi-me nas pinceladas da minha aquarela. Foi relaxante ver os
pigmentos se misturarem e secarem.
Eu poderia escolher quais cores eu queria e os limites de onde elas se
espalhavam, mas sempre havia um grau de imprevisibilidade na forma
como elas se misturavam.
Eu nunca estaria totalmente no controle.
Mas a pintura ainda era linda.
Talvez eu precisasse ser mais parecida com minhas aquarelas.
Eu ainda podia ditar as coisas maiores, mas tinha que aceitar que
sempre haveria uma parte da minha vida que eu não conseguia controlar,
uma mistura de possibilidades.
A pintura à minha frente provou que nem sempre isso era ruim, que
poderia levar a belos resultados.
— Uau, seu trabalho é excelente, — disse uma voz atrás de mim.
Eu me virei, esperando ver um dos muitos aposentados que visitavam
o parque durante a semana, mas em vez disso estava um homem bonito e
bem-vestido.
Seu cabelo loiro-branco imaculado estava penteado para trás e seus
penetrantes olhos cinza quase me colocaram em transe.
Ele não podia ser muito mais velho do que Aiden, mas havia alguma
característica nele que me fez sentir como se ele já tivesse vivido uma
vida inteira.
— Perdoe minha intrusão, — disse ele, exibindo um sorriso arrojado.
— Eu estava passando e algo sobre a sua pintura me impressionou. Você
é uma profissional?
Este não foi o primeiro estranho a me elogiar, mas de alguma forma
seus comentários pareciam meio exagerados e propositais.
— Eu sou, — eu respondi. — Quer dizer, eu vendo algumas peças de
vez em quando.
— Mesmo? Onde posso ver mais do seu trabalho?
— Eu tenho uma galeria em que você pode passar.
— Eu adoraria, — ele respondeu calorosamente. — Este estará à
venda?
— Este? — Eu disse, corando. — Isso não é nada. Não é tão bom.
— Eu achei incrível, — ele comentou. — Meu nome é Konstantin, a
propósito.
— Sienna, — respondi.
— Sienna, que nome adorável, — disse ele, estendendo a mão
enluvada.
Eu estendi a mão e sacudi.
— Acabei de me mudar para a cidade e tenho um apartamento com
muitas paredes vazias. Eu adoraria marcar uma visita à sua galeria algum
dia.
— Aqui está meu cartão, — disse ele, colocando a mão no bolso do
casaco e tirando um pedaço de papel cartão branco e elegante com letras
em relevo. — Você encontrará meu número na parte inferior.
— Sim, claro, — respondi, sem saber o que fazer com seu intenso
interesse pelo meu trabalho.
— Bom. Estou ansioso para ver o resto de sua arte, se for como este
quadro.
Ele me deu um sorriso e saiu pelo caminho.
Havia algo estranho nele que eu não conseguia identificar, e isso me
fez querer saber mais.
Ele se portava de uma maneira tão refinada, mas também tinha um ar
misterioso.
Eu olhei para o cartão que ele me entregou e fiquei surpresa com o
que estava impresso lá:
Konstantin, Doutor em Psicologia, Terapeuta.
Especialização em conexão de mentes e mapeamento de memória.
Sem dúvidas, parecia impressionante.
Eu tracei a borda de seu cartão com meu dedo indicador, pensando
no que eu faria. Foi emocionante ter um cliente potencial interessado no
meu trabalho.
Mas havia algo estranho nele que eu não conseguia identificar...
Algo me diz que verei Konstantin novamente em breve.
Capítulo 14
ARTE NEBULOSA
Sienna: Bom dia, Konstantin, aqui é Sienna

Sienna: A artista do parque

Konstantin: Claro! Como você está?

Sienna: Estou bem, obrigada

Sienna: Ainda tem interesse em passar na


galeria?

Konstantin: Com certeza. Que horas é melhor para você?

Sienna: Hoje às 4?

Sienna: 1071 5th Ave


Konstantin: Perfeito. Até mais tarde, Sienna.

Sienna

Fiquei animada por conhecer um novo cliente, especialmente um com


bom gosto. Era uma boa distração de todos os meus pensamentos em
torno de meus pais biológicos.
Dito isso, eu ainda tinha que pôr em dia todas as tarefas
administrativas que havia atrasado, como a lista de caridade que Josh
sempre me pedia.
Ele era um cara muito legal fora do trabalho, mas quando se tratava
de negócios da Matilha, acho que ele levava seu trabalho um pouco a
sério demais.
Eu tinha acabado de revisar as propostas e estava prestes a começar a
minha lista quando senti um formigamento estranho na minha coxa.
Parecia um espasmo muscular, mas não me lembrava de ter batido
em nada no início do dia e não fazia exercícios havia mais de uma
semana.
Abaixei minha mão e comecei a massagear o local.
Ai, merda, então é isso.
O toque da minha mão contra a minha coxa desencadeou uma
explosão de prazer que se acumulou dentro do meu sexo e disparou pelo
meu núcleo e em meus seios, endurecendo meus mamilos e encurtando
minha respiração.
Porra, cadê o Aiden? Não importa, eu não tenho tempo.
Eu voei para fora do meu escritório e me dirigi para as escadas,
firmando-me contra a grade enquanto seguia para os banheiros do
porão. Não havia escritórios naquele andar e, a essa hora do dia, todos
haviam saído para almoçar.
Eu precisava de privacidade urgentemente, e esse era meu melhor
plano.
Eu pensei em resolver isso no meu escritório, mas eu estava exalando
hormônios, e toda a Matilha levaria dois segundos para saber o que
estava acontecendo atrás da minha porta.
O peso de cada passo foi ficando cada vez mais pesado, até que tive
certeza de que desabaria no chão.
Meu deus, essa escada ficou maior?
Eu tropecei no corredor e olhei para os dois lados do corredor de
mármore silencioso. A área estava limpa.
Naquela hora, minha pele estava em chamas, e todas as minhas partes
sensíveis estavam pulsando de tesão.
Encontrei o banheiro mais próximo e atravessei a porta.
— Olá?
Perfeito, não havia ninguém aqui e, pela aparência e cheiro das coisas,
todo o lugar tinha sido limpo há menos de uma hora.
Eu me esforcei para entrar na cabine mais próxima e a fechei, então
me esforcei para puxar meu vestido para cima e tirar minha calcinha do
caminho.
Merda, merda, merda.
Abrindo minhas pernas, mergulhei meus dedos profundamente em
meus lábios molhados e gemi na mesma hora.
Comecei a movimentar meus dedos para frente e para trás,
acariciando meu clitóris. Eu me segurei no vaso, massageando meus
seios e imaginando Aiden em cima de mim, empurrando para dentro,
seus lábios dançando em meu pescoço.
Fechando meus olhos, eu poderia jurar que comecei a sentir o cheiro
dele, seu almíscar flutuando em meu nariz, me excitando ainda mais. Eu
acelerei minha mão, esfregando-me desenfreadamente.
Isso! Porra! Isso!
— Eu sinto seu cheiro, mulher.
Minha mão parou. Prendi minha respiração. Aquilo era real?
Eu ouvi seus passos pesados se aproximando da porta.
— Você vai me deixar entrar?
— Você vai ter que assoprar e assoprar se quiser que a porta se abra.
— Muito bem.
Em um instante, a porta foi arrancada de suas dobradiças e diante de
mim estava Aiden, enorme, as veias saltando de seus braços.
— Você está atrasado. — eu disse em um tom sexy. — Espero que não
se importe por ter começado sem você.
Um sorriso malicioso se espalhou pelo rosto de Aiden. — Tenho
certeza de que posso encontrar algo que me satisfaça.
Ele se lançou para frente, mas eu fui mais rápida e o joguei contra a
parede do box.
Eu estava com muita vontade.
Abaixei-me e agarrei seu volume. — Vejo que você veio preparado.
— Isso é um problema?
— De jeito nenhum. — Eu puxei seu cabelo e pressionei meus lábios
contra os dele, prendendo seu lábio inferior entre meus dentes e
mordendo.
Senti seu aperto em mim mais forte enquanto ele sentia a dor. Ele
devolveu na mesma moeda mordendo meu pescoço. Soltei um gemido e
puxei sua cabeça para trás.
Agora era ele quem tinha me jogado contra a parede. Toda a estrutura
estremeceu com o impacto do meu corpo, mas não me importei.
Prazer e dor eram a mesma coisa para mim.
— Tire a camisa, — eu ordenei, e enquanto Aiden a puxava pela
cabeça, eu caí de joelhos e desafivelei seu cinto.
Eu já podia ver sua ereção lutando contra suas calças, esperando que
eu a libertasse.
Ele puxou minha cabeça para trás pelo meu cabelo, enquanto eu
tirava sua calça e cueca. Eu o agarrei pela base e coloquei sua ponta
contra meus lábios. A respiração de Aiden estremeceu e eu o senti
enrijecer ainda mais em minha mão.
Eu o provoquei com minha língua, correndo ao longo de seu mastro,
deliciando-me em como seu rosto se contraiu sob a tortura.
Então eu coloquei tudo em minha boca, deslizando meus lábios para
frente e para trás enquanto acariciava com minha mão.
É
— Caralho, Sienna. É assim mesmo.
Eu adorava quando ele mostrava que estava gostando, mas não o
deixaria terminar. Eu ainda precisava dele para outras atividades.
Eu me levantei e lambi seu rosto. Ele rosnou e me empurrou de volta
para a cabine.
Ele me levantou no corrimão e deslizou a mão entre minhas pernas.
Apoiei um pé contra o vaso sanitário enquanto ele enterrava seus dedos
profundamente dentro de mim. Soltei um suspiro quando ele começou a
balançá-los para dentro e para fora.
— Mais forte, — eu sussurrei em seu ouvido.
Eu estava ficando tão molhada que mal podia sentir seus dedos
deslizando dentro de mim.
Aiden pegou o ritmo, pressionando seus dedos firmemente contra as
paredes do meu sexo enquanto seu braço inteiro balançava para frente e
para trás.
Cada vez que sua palma batia contra meu clitóris, eu deixava escapar
um grito de alegria.
Eu agarrei sua garganta.
Ele não vacilou.
Eu apertei com mais força.
— Isso é tudo que você tem? — ele gritou.
Enfurecida com o desafio de Aiden, eu empurrei seus dedos para fora
de mim e o joguei na tampa do vaso sanitário.
Eu joguei minha perna sobre seu colo, então eu estava montada nele e
me agarrei aos corrimãos que ficavam nas laterais da cabine. Comecei a
balançar meus quadris, esfregando meu sexo molhado contra o dele.
A cabine inteira começou a tremer e eu tinha certeza de que a parede
iria cair.
Ele estava muito dentro de mim, nunca tinha estado tão profundo
antes. Meus músculos se contraíram enquanto eu me sentia cada vez
mais perto de gozar.
Os dedos de Aiden cravaram em meus lados, e eu sabia que ele não
estava muito longe também.
A pressão continuou a crescer dentro de mim, fervendo pelo meu
corpo.
Meu coração disparou e senti minha pele começar a formigar.
Eu o montei ainda mais forte, jogando todo o meu peso contra ele em
uma fúria estúpida.
— Aiden, não pare. Não pare!
O orgasmo me rasgou como um raio.
Meus braços se transformaram em geleia e eu desabei sobre meu
companheiro.
Aiden saiu com um grunhido e disparou seu fluido quente na minha
coxa.
Ele pressionou seus lábios macios contra os meus e eu segurei seu
beijo, não querendo que acabasse.
Nós dois ficamos sentados ali, ofegantes, o suor escorrendo de nossos
corpos exaustos.
Aiden colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e sorriu.
— Devemos voltar ao trabalho.
— Claro, — eu respondi, deslizando para fora dele. — Eu não gostaria
de privar a Matilha de seu alfa. Vejo você mais tarde esta noite.
Eu dei um último beijo em sua bochecha e puxei meu vestido, então
olhei no espelho e ri.
Eu definitivamente precisava ir para casa e me limpar antes de
encontrar Konstantin na galeria.

Eu ainda estava organizando pinturas na parede quando ele entrou


vestindo um sobretudo azul-marinho elegante e um Fedora cor de
carvão.
Cada vez que eu o via, ele parecia ter acabado de sair de um catálogo
caro de roupas masculinas.
— Não cheguei cedo demais, certo?
— Não, de forma alguma. Estou atrasada. Por favor, entre.
Sua colônia cheirava a rosas e especiarias e tinha um odor quase
inebriante.
Eu não sabia o que este homem tinha, mas ele não era como a maioria
dos lobisomens que eu conhecia. Na verdade, eu nem tinha certeza se ele
era um lobisomem.
— Este seu pequeno espaço é adorável.
— Obrigado, foi um presente do meu companheiro.
— Sim, ouvi falar dele. O estimado alfa.
Bem, parece que ele está por dentro do mundo dos lobisomens...
— Como você...
— Você esteve em todas as notícias. A menos que eu esteja lendo
sobre sua irmã gêmea.
Claro, o que eu estava pensando? Eu tinha me desligado tanto
daquela zona que tinha esquecido que os jornais e blogs ainda estavam se
recuperando da coletiva de imprensa de Aiden.
Ser instantaneamente reconhecida era algo com o qual ainda
precisava me acostumar.
— Deve ser difícil, — disse ele, lançando-me um olhar simpático. —
Ter seu histórico familiar examinado, ser desprezada, liderar uma
Matilha sendo tão jovem; é demais para uma pessoa só.
De repente, lembrei-me de que o cartão de Konstantin dizia que ele
era psicólogo e eu estava começando a me sentir meio examinada.
Eu queria mudar de assunto.
Mesmo que sua análise estivesse certa.
— Eu tento ignorar os tabloides, — eu disse, evitando contato visual.
Ele deve ter percebido meu desconforto com o assunto porque não o
forçou mais.
— Você administra este lugar por conta própria? — ele perguntou.
— Por enquanto, — respondi. — Talvez se eu começar a dedicar mais
tempo, eu contrate ajudantes. Agora é uma espécie de santuário pessoal.
— Adorável, — ele respondeu, começando a caminhar ao longo da
parede.
— Então, que tipo de peças você está procurando?
— Como mencionei no parque, tenho uma cobertura que preciso
decorar e estou procurando algumas peças de destaque, — respondeu ele,
tirando o casaco e o chapéu para revelar um terno preto ajustado.
Ele se aproximou de mim e começou a inspecionar as telas que eu
acabara de pendurar na parede.
— Você está procurando uma natureza-morta ou uma paisagem? —
Eu perguntei.
— Espero algo mais abstrato. Provocante. Assim, — disse ele,
apontando para uma pintura no canto posterior da galeria.
Fiquei surpresa com sua escolha.
A pintura era uma que eu tinha feito há algum tempo: uma linda
mulher etérea com cabelos negros e olhos roxos assustadores.
Eve.
Eu não a via desde aquela noite, mais de um ano atrás, quando ela
passou na minha galeria. Eu não conseguia nem me lembrar do que
tínhamos falado.
— Por que esse aqui? — Eu perguntei.
Ele acariciou o queixo ao se aproximar da pintura e ficar na frente
dela.
— Ela fala comigo, — ele respondeu enigmaticamente. — Acho que
consigo ver um pouco de mim mesmo nela.
Eve era a pessoa mais misteriosa que eu já conheci, então isso me
deixou ainda mais curiosa.
— Como assim?
Konstantin se virou para mim e sorriu. Quando vi seus dentes,
engasguei.
Presas.
— Pode-se dizer que há uma espécie de relação de sangue entre nós.
— Você... você é... um... — gaguejei.
Os olhos cinzentos de Konstantin brilharam entusiasmados.
— Eu sou um vampiro.
Capítulo 15
O ELEVADOR DO ÊXTASE
Sienna

Fiquei parada na minha galeria, boquiaberta, enquanto Konstantin


reprimia uma risada.
De repente, todas as peças daquele misterioso quebra-cabeça se
encaixaram no lugar.
Seu comportamento atemporal...
Seu senso de estilo...
Seu nível de intuição quase psíquico...
Konstantin era um VAMPYRO.
— Vejo que deixei você sem palavras, — disse ele, incapaz de conter a
risada por mais tempo.
Corei, me sentindo uma tola.
— Desculpe, eu só... nunca conheci ninguém como você antes, — eu
respondi.
Konstantin olhou para trás, para a pintura de Eve. — Você tem
certeza disso?
— Espere, você quer dizer... ela era uma vampira também?
Isso certamente explicaria muita coisa...
Konstantin assentiu. — Sim, mas ela é uma vampira com um i, não
um y como eu.
— Qual é a diferença? — Eu perguntei, percebendo que não sabia
quase nada sobre o mundo fora da minha bolha de lobisomem.
— Os vampiros nascem com o gene, enquanto os vampyros são
transformados por vampiros, — explicou ele.
— Então alguém transformou você, — eu disse, pensando em longas
presas afundando em meu pescoço.
Eu imaginei que fosse uma experiência muito diferente de ser
marcada por seu companheiro.
Konstantin sorriu melancolicamente. — Há muito tempo.
Eu estava morrendo de vontade de saber quantos anos ele tinha, mas
não tive coragem de perguntar. Eu não conhecia a etiqueta dos vampiros,
e poderia ser uma pergunta rude.
Ainda assim, eu tinha muitas outras perguntas a fazer.
— O que te trouxe aqui?
Os olhos cinzentos de Konstantin quase pareceram prateados por um
momento, pois brilharam com intensidade. Ele parecia estar
considerando a resposta à minha pergunta, mas então ele finalmente
falou.
— Estou abrindo meu consultório aqui, — disse ele. — Viajei por todo
o mundo em busca de conhecimento e agora só quero ajudar outras
pessoas a encontrar o que procuram.
Ah, certo... Eu sempre esqueço que ele é um médico.
— Eu uso meus poderes para o bem, — disse Konstantin. — Eu posso
desbloquear coisas na mente das pessoas que elas nem sabiam que
estavam lá. Posso agendar uma sessão com você, se desejar.
Meu coração começou a bater mais rápido.
Havia tanto sobre meu próprio passado que eu ainda não sabia.
Tantas perguntas pairando sobre a minha cabeça. De onde e de quem
eu vim.
Será que Konstantin poderia me ajudar a descobrir as respostas?

Deitei na cama olhando para o teto. Não conseguia parar de pensar na


minha conversa com Konstantin ontem.
Ele se ofereceu para me ajudar a resolver meus problemas como meu
terapeuta, mas eu estava meio insegura.
Eu nunca tinha pensado em fazer terapia.
Mas Konstantin não era um terapeuta comum...
Será que ele realmente poderia me ajudar a encontrar as respostas
que eu estava procurando?
Suspirei, tirando as cobertas e saindo da cama. Eu precisava me
preparar para uma reunião da matilha.
Coloquei meu vestido da noite anterior, que estava largado no chão, e
puxei-o sobre o meu corpo. Aiden entrou exatamente quando eu estava
fechando o zíper.
Ele se aproximou de mim por trás e puxou o zíper de volta para baixo.
— Aiden, — eu disse em tom de censura. — É um milagre eu
conseguir me arrumar tendo você como meu companheiro.
Ele puxou a parte de cima do meu vestido para baixo e eu deixei meus
braços caírem nas mangas.
— Não vamos nos atrasar para a reunião?
— Eles podem esperar, — disse ele, colocando as mãos sobre meus
seios expostos. Eu não estava usando sutiã, e a sensação de suas mãos
quentes contra meu corpo acendeu minha Bruma.
Seus dedos brincaram com meus mamilos, circulando-os, esfregando-
os.
Senti minha pele sendo apertada e o calor envolvente da Bruma
começou a me dominar.
Aiden trancou sua boca na minha e deixou nossas línguas dançarem
uma com a outra. Ele começou a me levar em direção à nossa cama.
Não tínhamos tempo para isso, mas meu corpo não deu a mínima
para o que eu estava pensando.
— Nós vamos nos atrasar, — eu disse novamente.
— Vai ser rápido, — respondeu ele, apertando minha bunda.
Meu vestido caiu no chão formando uma pilha novamente, e eu
estava de volta ao ponto de partida.
Em um movimento rápido, ele me empurrou para a cama e me
prendeu sob seu corpo. Senti o peso de seus quadris pressionando contra
meu sexo.
Ele colocou sua boca em meus seios, sugando suavemente meus
mamilos. Eu gemi em êxtase.
Meu deus, por que a Bruma sempre me faz perder a cabeça?
Envolvi minhas pernas em torno de Aiden enquanto ele distribuía
beijos pelo meu abdômen até chegar ao meu sexo.
Sua língua me lambeu e eu ficava mais molhada a cada segundo.
Então seus dedos começaram a brincar com meu clitóris e meu corpo
parecia que estava voando através das nuvens.
— Aiden... nós... temos... que... ir. — Eu mal conseguia falar entre
meus gemidos incontroláveis de prazer.
Ele finalmente afastou o rosto do meu sexo e olhou para mim.
— Amor, quando a Bruma chega, não dá para ignorar.
— Olha, a Bruma vai ter que esperar desta vez porque eu realmente
quero levar meus deveres a sério, — eu disse. — A matilha está
finalmente começando a confiar em mim, e eu não quero perder isso.
Aiden suspirou, sentando-se e apertando minha coxa com ternura. —
Certo. Mas não diga que não te avisei.
Aiden

Eu não gostava dessas reuniões inúteis. Eu preferia agradar minha


companheira.
Josh, no entanto, insistiu nessas recapitulações semanais, onde todos
no conselho atualizavam uns aos outros sobre o que haviam conquistado
durante a semana e mencionavam todos os tópicos que gostariam de
discutir com o grupo.
Eles eram normalmente monótonos e não tinham muito valor para
mim, e era por isso que eu não ligava se Sienna e eu estivéssemos alguns
minutos atrasados.
Eu os tolerava porque podia sentir que Josh estava tentando provar a
si mesmo.
Essas reuniões deram a ele um pouco de controle — algo que ele
poderia possuir.
Eu não agi com nenhuma má vontade. Suas motivações faziam
sentido.
Por grande parte de nossas vidas, ele era aquele a quem eu recorria
quando precisava de um conselho ou de alguém com quem desabafar.
Mas isso mudou no ano passado, quando ele me traiu.
Agora eu tinha Sienna para preencher esse papel e percebi que às
vezes ele se sentia posto de lado.
— Sienna, você terminou a lista de caridade? — questionou Josh,
erguendo os olhos da planilha.
Por todos nós, Sienna. Por favor, diga sim.
— Eu estava prestes a mandar para você, acabei me distraindo. Mas
está praticamente pronta. Amanhã cedo eu te entrego.
— O que te distraiu? — perguntou Josh.
Sienna corou e me lançou um olhar tímido. — Não me lembro
exatamente.
— Tudo bem. Consegue enviá-la hoje antes de sair?
— Claro.
— Se você precisar de ajuda para colocar em dia qualquer coisa, é só
me avisar e eu te ajudarei.
— Combinado. Josh. Obrigada.
Eu tinha que dar o braço a torcer. Sienna havia aprendido a
ambiguidade passivo-agressiva da Casa da Matilha mais rápido do que o
esperado. Era estranhamente atraente, na verdade.
— Terminou, Josh? — Eu perguntei, tentando acelerar as coisas para
que eu pudesse levar Sienna para casa e continuar de onde paramos.
— Sim, não tenho mais nada na minha lista, a menos que alguém
tenha outros tópicos, — respondeu ele, olhando em volta. — Ótimo,
nesse caso, reunião encerrada.
Josh

Achei que estava sendo bastante razoável, mas Sienna me irritou. Eu não
sabia como ser mais legal.
Eu dei a ela uma saída fácil. Por que ela não aceitou?
Era como se ela não levasse sua posição a sério.
Uma posição que costumava ser preenchida por mim.
Eu precisava de Michelle. Ela sempre soube como me acalmar quando
eu ficava assim.

Josh: Ela ainda não tinha terminado a lista


😠(emoji de raiva)

Michelle: Ah, relaxa rs

Josh: Foi mal, eu precisava desabafar

Josh: É como se Aiden nem se importasse

Josh: Eu tô dando o maior duro e ela não


consegue fazer uma lista

Michelle: Muita coisa rolou com ela nos últimos meses

Josh: Eu sei, mas ela é a LUNA

Josh: Aparentemente, Aiden quer que ela


seja sua nova beta também...
Josh: Eu gostaria que ele apenas dissesse

Michelle: você não foi o único que teve que se ajustar

Michelle: Si sempre foi quietinha, mas agora tá famosinha

Michelle: Eu basicamente vivo na sombra dela

Josh: Isso não é verdade

Josh: Você sempre será meu raio de sol

Michelle: para de graça

Josh: Você adora

Michelle: Vem logo pra casa. Eu tenho uma surpresa para você

Sienna

Eu não conseguia acreditar que estava fazendo isso. Josh não iria nem
olhar para isso até de manhã.
Na verdade, pelo jeito que ele estava me importunando, eu não tinha
tanta certeza. Ele realmente se importava em doar para instituições de
caridade ou estava tentando me dar uma bronca na frente de todos.
Tudo porque ele errou e estava tentando fazer as pazes.
Antes de Aiden e eu termos acasalado. Josh e eu já estávamos meio
brigados. Eu o achava um idiota, e ele me achava uma cabeça de vento.
Mas depois que passamos mais tempo juntos, aprendemos a tolerar
um ao outro. Quer dizer, nós fomos obrigados a isso.
Josh não era apenas o melhor amigo de Aiden, mas também estava
acasalado com minha melhor amiga, Michelle. Em outras palavras,
nossos relacionamentos pessoais dependiam de nós dois nos darmos
bem.
E Josh não entendia que eu estava lidando com muitas dúvidas e
inseguranças.
Ninguém entendeu, realmente — eu incluída.
Eu estava dando o meu melhor para ser uma boa Luna, mas precisava
começar a aceitar ajuda.
Razão pela qual decidi que precisava finalmente confrontar meus
problemas em vez de varrê-los para debaixo do tapete.

Sienna: Oi Konstantin

Sienna: Sua oferta de agendarmos uma


consulta ainda está de pé?

Konstantin: Claro!
Konstantin: Quando você pode?

Sienna: Você está livre agora?

Dentro do elevador, pressionei o botão da cobertura.


A julgar pelo hotel, o apartamento de Konstantin deveria ser mais
luxuoso do que eu imaginava.
Quando o elevador começou a subir, comecei a sentir uma sensação
de formigamento nas coxas.
Será que eu estava nervosa por causa da minha primeira sessão de
terapia?
Você consegue, Sienna. Não há nada com que se preocupar
Além, é claro, do calor lento que começou a me derreter enquanto
rastejava pelo meu corpo. Meu estômago tremia e eu estava com
dificuldade para respirar.
O rosto de Aiden brilhou diante de mim e eu o senti. Senti suas mãos
acariciando meu pescoço, meus seios, minha barriga... meu sexo.
Que porra é essa?
O elevador continuou subindo, chegando cada vez mais perto do
apartamento de Konstantin.
Para meu horror, meu corpo abraçou o toque fantasma de Aiden.
Comecei a transpirar e me senti à disposição de suas carícias. Seu
cheiro encheu meu nariz e seu rosto preencheu minha imaginação. Eu
não pude escapar disso. Eu não queria escapar disso.
Eu estava queimando em minhas roupas. Se eu não as tirasse, iria
sufocar.
Eu desabotoei minha blusa enquanto desabava no chão, ofegando por
ar.
As pontas dos dedos de Aiden dançaram ao longo da minha coxa e
traçaram o lado de fora dos meus lábios.
Eu estava ficando louca de desejo e não conseguia parar o que estava
acontecendo.
Aiden estava certo antes...
Quando a Bruma chega, não dá para ignorar.
E agora minha Bruma estava ainda mais forte do que antes.
Tentei apertar minhas pernas o mais forte que pude, lutando contra a
sensação do toque de Aiden, mas minha calcinha estava ficando
molhada.
O fogo estava ameaçando me consumir, e eu precisava de um alívio
antes que eu explodisse.
Aqui não! Agora não, cacete!
DING!
Ai, meu deus...
O elevador chegou ao último andar e as portas se abriram.
E Konstantin estava bem na minha frente.
Capítulo 16
PERGUNTAS
Sienna

Eu estava sentada no chão do elevador, minhas pernas abertas, a blusa


desabotoada, o suor escorrendo pelo meu peito e em meu decote.
E meu novo terapeuta estava parado ali na minha frente,
completamente confuso.
Tem como estar mais desesperada do que isso?
— Sienna... você está bem? — ele perguntou.
Eu me levantei, tentando ignorar as ondas de prazer implacáveis que
ainda estavam me balançando.
— Estou bem, — eu disse rapidamente. — Posso usar seu banheiro?
Mantenha a calma!
— Claro, fica no final do corredor, à esquerda, — respondeu ele, ainda
parecendo preocupado.
Passei por ele imediatamente, mas cada passo me deixava mais tonta.
Concentre-se em outra coisa!
A entrada da cobertura era adornada com estátuas de mármore grego,
que pareciam ter sido realmente importadas do Partenon.
Na verdade, todo o seu apartamento estava repleto de arte rara de
diferentes épocas ao longo do tempo.
Como ele conseguiu tudo isso?
Acho que ser um vampiro tem suas vantagens.
Virei à esquerda no final do corredor e dei de cara com o banheiro.
Depois de entrar, fechei a porta e tranquei-a.
A Bruma se espalhou por cada centímetro do meu corpo, me fazendo
desistir.
Eu precisava de Aiden ao meu lado. Eu precisava de Aiden — dentro
de mim.
Era difícil demais aguentar.
Eu deslizei para o chão e respirei fundo.
Tudo que eu queria fazer era mergulhar meus dedos no meu sexo e
fazer ali mesmo, mas resisti.
1, 2, 3... e respira.
1, 2, 3... e respira.
1, 2, 3... e...
A Bruma finalmente começou a diminuir e, com ela, minha
ansiedade.
Meu corpo parecia que tinha acabado de retornar da guerra — uma
guerra que quase perdeu.
Essa é a ÚLTIMA vez que vou adiar o sexo durante a temporada.
Eu vim aqui para fazer terapia, não para criar mais razões para
precisar dela.
Konstantin deve achar que sou louca.
Levantei-me e endireitei minhas roupas enquanto caminhava até o
espelho. Eu estava completamente bagunçada.
Eu rapidamente abotoei minha camisa e amarrei meu cabelo em um
rabo de cavalo.
Dá pro gasto.
Eu destranquei a porta e voltei para o corredor. Eu vi Konstantin
sentado no que parecia ser um escritório. Era tão impressionante quanto
sua entrada.
Quadros e artefatos adornavam as paredes. Os móveis pareciam ter
vindo do Palácio de Buckingham. As prateleiras estavam cheias de
centenas de livros grossos.
— Você realmente leu tudo isso? — Eu perguntei, entrando no
escritório e passando meu dedo pelas lombadas do livro.
— Sou mais velho do que pareço, — disse ele com uma risada. — Tive
muito tempo.
Konstantin apontou para uma cadeira em frente a ele e eu me sentei.
— Você está... melhor? — ele perguntou hesitante.
— Sim, é que eu precisava muito fazer xixi, — eu respondi, tentando
me esquivar.
Konstantin sorriu para mim e juntou os dedos. — Desculpe pela
inconveniência. Eu não tive a chance de montar meu escritório ainda,
então estou conduzindo minhas sessões em casa por enquanto.
— Não precisa se desculpar. Este lugar é deslumbrante, — eu disse.
Houve um momento de silêncio enquanto Konstantin me estudava.
Era como se ele estivesse tentando me ler, como se eu fosse um de seus
livros.
— O que a traz aqui, Sienna?
Bom, acho que vamos direto ao assunto.
Eu me sentia um pouco estranha por não saber como as sessões de
terapia funcionavam.
— Eu... eu não tenho certeza, — eu disse.
Konstantin assentiu. — Tudo bem. Não há respostas certas ou
erradas. Na verdade, você não precisa ter respostas. É por isso que você
está aqui.
Isso me fez sentir um pouco melhor, mais à vontade.
— Acho que... me sinto perdida, — eu disse.
— Como assim?
— Bem, você meio que acertou em cheio quando estava na minha
galeria outro dia.
Konstantin não falou, apenas ouviu, então continuei.
— Tornar-me Luna, forçada a ser o centro das atenções, sem saber
quem são meus pais biológicos...
— Seus pais, — disse Konstantin, me detendo. — Diga-me sobre eles.
— É esse o problema... eu não posso. Não sei nada sobre minha
origem.
— Você não tem nenhuma memória deles?
— Nenhuma, — respondi. — Eu tentei cavar o mais fundo que pude
para encontrar nem que seja um fragmento de memória, mas nunca
consegui.
— Isso deve ser frustrante, — Konstantin disse, em um tom
simpático.
— Eu sempre quis saber quem eram meus pais biológicos, mas não
pensava muito nisso, — disse eu. — Mas quando me tornei Luna, esse
meu desejo só aumentou.
— Você acha que esse desejo veio à tona como resultado de sua
relação com a mídia? — Perguntou Konstantin.
Eu concordei. — Quando eles começaram a fazer perguntas...
surgiram todas aquelas que eu tinha medo de fazer a mim mesma.
Konstantin já estava começando a chegar à raiz dos meus problemas.
Eu deixei isso me afetar por muito tempo, e só falar sobre isso já
estava me deixando mais leve.
Inclinei-me para a frente e olhei Konstantin diretamente nos olhos.
— Você disse antes que usa seus poderes para ajudar a desbloquear a
mente das pessoas. Para encontrar coisas que eles nem sabiam que
estavam lá.
— Sim, — disse ele. — Mas não é tão fácil assim. O processo pode ser
um pouco... intenso. Não é para todos. Você deve ter certeza absoluta de
que pode lidar com isso.
Eu não queria que isso me impedisse mais.
Eu precisava da verdade.
Mas será que eu estava pronta de verdade para isso?
Aiden

Minhas patas batiam no chão lamacento enquanto eu ziguezagueava


para dentro e para fora da floresta densa.
Adorei a sensação do vento soprando em minha pele.
A sensação dos meus sentidos em seu ponto máximo.
A emoção da caça.
Eu sempre tinha pressa em sair em patrulha com meu beta, mas ainda
mais quando envolvia uma perseguição — e esta noite, não tínhamos a
menor ideia do que estávamos perseguindo.
— Josh, você está vendo alguma trilha? — Eu perguntei, me
comunicando através de nossa conexão mental.
— Nenhuma — respondeu ele, disparando de um arbusto próximo e
se juntando a mim em minha perseguição. — Não acho que essa coisa
esteja a pé — se é que ela tem pés.
— Estou sentindo o cheiro de alguém logo à frente. Há mais de um cheiro,
— eu disse, farejando o ar. — Um é definitivamente um lobisomem. Mas o
outro...
No ano passado, eu me tornei ciente da existência de outras criaturas,
algo anteriormente conhecido apenas pelos Lobos do Milênio, e com o
que Raphael me contou sobre o quão perigosos os vampiros podem ser...
Eu estava pronto para tudo.
Seguimos em direção a uma clareira. — Estamos quase che...
De repente, um raio de luz explodiu em toda a floresta, nos cegando
completamente. Foi como se o sol tivesse parado bem em cima de nós.
Perdi o equilíbrio e bati em uma árvore, rolando no chão. Eu ouvi
Josh uivando; deveria ter acontecido o mesmo com ele.
— Que porra foi essa? Josh, continue uivando para que eu possa te
encontrar!
O flash sumiu de repente, mas minha visão ainda estava se ajustando.
Quando meus olhos finalmente voltaram ao normal, eu vi que Josh já
havia se transformado, ele estava nu e deitado no chão. Me transformei
na forma humana e o ajudei a se levantar.
— Você se machucou, amigo?
— Apenas alguns arranhões. — Josh sorriu. — Acho que precisamos
informar que é proibido tirar fotos com flash por aqui.
— Mantenha seus sentidos alertas. Podemos estar sob ataque — eu
rosnei quando comecei a me transformar novamente.
— Aiden, espere! — Josh me parou. — Atrás de você.
Eu me virei para ver o que Josh estava olhando.
Uma mulher, deitada sozinha na clareira, gravemente ferida e mal
conseguindo sobreviver.
Jocelyn

Na maior parte do tempo, não me deixava desconfortável ver meus dois


ex-namorados juntos.
Mas quando eles atravessaram a porta do meu escritório na Casa da
Matilha completamente nus, carregando uma mulher igualmente nua,
eu fiquei mais desconfortável do que nunca.
— Jocelyn, precisamos de sua ajuda, — Aiden gritou, colocando a
mulher machucada e ensanguentada na minha mesa. — Ela não está se
movendo.
— O que foi que aconteceu? — Eu gritei.
— Não há tempo para explicar, — respondeu Josh. — Ela está
gravemente ferida. Ela não vai sobreviver se você não fizer algo agora.
Ele estava certo. Não era hora de explicações. Eu entrei em ação e
coloquei minhas mãos acima de seu coração, transferindo um pouco da
minha energia para ela.
Ok, pelo menos há batimento cardíaco.
Quem quer que a tenha atacado assim deveria ser um verdadeiro
monstro.
Ao examiná-la em busca de mais ferimentos, percebi que, apesar de
sua aparência selvagem, essa mulher era incrivelmente bela.
Quando abri suas pálpebras para verificar suas pupilas, engasguei de
surpresa. — Meu deus, ela é...
— O quê? — Aiden questionou.
— Ela é uma loba ômega.
Uma ladra. Uma loba sem Matilha.
Capítulo 17
DEIXE-ME ENTRAR
Jocelyn

Terminei de colocar as folhas de sálvia em volta da loba ômega e coloquei


um cristal de quartzo na base de seus pés.
Minha mãe me ensinou esse ritual quando eu era apenas uma
criança. Ela disse que se eu estivesse perdida ou sozinha, isso me guiaria
de volta a um lugar seguro.
Eu não sabia se o ritual dela se aplicava a esta situação, mas eu tentei
de tudo nas últimas vinte e quatro horas, e nada funcionou.
Aquela loba ômega estava muito sozinha, e eu estava tentando trazê-
la de volta à consciência, então talvez isso bastasse. Ou talvez eu acabasse
fazendo papel de tonta.
Os lobisomens se curavam rápido, mas esta havia levado uma surra.
Eu não conseguia imaginar o que tinha feito isso, mas Aiden e Josh
estariam esperando respostas de mim, e agora, tudo que eu tinha eram
perguntas.
— Quem é você? — Expressei meu pensamento em voz alta. — Eu
não posso simplesmente continuar chamando você de loba ômega, posso?
Aposto que você tem um nome lindo.
Esta mulher misteriosa me encantou. Eu me perguntei como ela
soaria se pudesse falar.
Como ela corria em forma de lobo.
Qual era sua refeição favorita.
Sua flor favorita.
Deus, o que há de errado comigo? Talvez eu mesma precise ir ver um
curandeiro.
Comecei a arrumar minhas coisas. Já estava tarde, ou melhor, cedo
demais. Eu já estava delirando.
— Se eu continuar falando com pacientes inconscientes, posso ter
meu status de curandeira revogado, — disse a ninguém em particular.
— Bem, isso seria uma merda. Quem me faria companhia?
Deixei cair minha bolsa, fazendo com que minhas ervas medicinais e
pomadas se espalhassem por todo o chão.
— Ai, meu deus, você é... você é... — gaguejei.
— Nina, — disse ela, lutando para se apoiar em um cotovelo. — Ou
você ainda prefere loba ômega?
Nina. Que nome lindo.
O lençol fino que a cobria começou a deslizar por seu torso nu, e isso
me fez corar.
Sua pele era escura e brilhante, como o céu noturno, e seus mamilos
como estrelas cintilantes — eu queria me perder em suas galáxias.
— Olá, chamando a Doutora Distraída. Meus olhos estão aqui — ela
disse vacilante.
— Eu só estava... apenas examinando suas feridas — eu gaguejei
rapidamente, tentando me recompor. — Escute... você não deveria tentar
se sentar. Você ainda está muito ferida.
— Ah, isso? É só um ferimento na carne — ela disse, apontando para
um enorme corte em sua coxa. — Nada que eu não possa...
Nina estremeceu de dor ao tentar sair da cama e suas pernas se
dobraram, mandando-a diretamente para meus braços.
Eu tinha certeza de que todo o sangue em todo o meu corpo havia se
deslocado para o meu rosto enquanto eu segurava Nina em meus braços.
Não tinha como ela não perceber o maldito rosto cor de morango
olhando para ela.
— Eu gostei do seu atendimento, doutora. — Nina cerrou os dentes
enquanto transferia seu peso para mim e me permitia colocá-la de volta
na cama.
— Você sempre faz piadas, mesmo quando está prestes a sangrar? —
Eu perguntei em tom de censura.
— Isso ajuda a esquecer da dor, — ela respondeu. — Você tem alguma
outra maneira de me distrair da dor?
Eu cruzei meus braços. — Se você está sugerindo drogas, saiba que eu
não…
— Eu ia sugerir que você se sentasse aqui e falasse comigo por um
tempo. — Nina sorriu.
— Ah, bem, ok. Acho que posso fazer isso, — eu disse, me sentindo
uma idiota.
Falar não era uma ideia tão ruim. Eu precisava descobrir quem era
essa mulher pelo bem de Aiden e pela segurança da matilha.
Ou eu estava apenas dizendo isso a mim mesma para justificar minha
curiosidade? Eu não conseguia tirar meus olhos de Nina desde que ela
havia chegado.
— Então, quem começa? Você prefere verdade ou desafio? — Nina
perguntou, felizmente se cobrindo com um cobertor grosso.
— Eu começo, Nina, mas isso não é um jogo. Se você quer que eu
continue tratando você, precisa me dizer o que aconteceu, — eu disse em
um tom sério. — Você quase morreu. Preciso saber o que fez isso com
você e se ainda está por aí.
Nina rolou, evitando contato visual comigo. — Caçadores, — ela
murmurou.
— Caçadores Divinos?
— Sim, eles estavam me rastreando... quase me pegaram. Seu alfa
deve tê-los assustado, — disse ela. — Qual o nome dele?
— Aiden, — respondi, já querendo falar sobre qualquer coisa além do
meu ex. — Conte-me mais sobre os Caçadores.
— Apenas humanos comuns que odeiam o que não entendem, — ela
rosnou. Este foi o primeiro indício de raiva que vi em Nina.
Sentei-me na beira da cama, de repente sentindo uma atração
emocional por ela.
— Colocando minhas funções de curandeira de lado por um
momento, posso te perguntar algo pessoal?
Nina parecia intrigada. — Claro, manda ver.
— O que aconteceu com sua mochila? Por que você está sozinha?
Quer dizer, sozinha na selva. Sem matilha.
Ela suspirou, parecendo desapontada.
Droga, eu poderia ter formulado isso de uma forma muito mais
eloquente. Eu tinha mesmo que perguntar a ela por que ela estava
sozinha? Era uma pergunta que eu tinha que responder com muita
frequência.
— O que você está realmente tentando perguntar é por que fui
exilada, certo? Os lobos não correm por aí sozinhos, a menos que sejam
forçados.
— Se você não se sentir confortável em dizer, não vou me intrometer,
— eu disse, pensando em como Aiden provavelmente a estaria
interrogando em uma cela agora se soubesse que ela estava consciente.
— Não, está bem. Eu serei honesta. Eu fui pega roubando. Eu sou
uma ladra, — ela disse abruptamente. — E das boas. Não me orgulhoso
disso… Ah ok, talvez me orgulhe um pouco, mas fiz o que tinha que fazer
para minha própria sobrevivência.
— Eu aprendi há muito tempo que ninguém vai cuidar de você, então
é melhor você aprender a fazer isso sozinho.
— Você não tinha alguns membros da família a quem pudesse
recorrer para pedir ajuda? — Eu perguntei, me aproximando dela.
Nina franziu a testa com a menção de família. — Eu estava morta
para meus pais anos atrás, e eles estão mortos para mim também. Eu não
tenho família.
Aiden

Meu estômago roncou de expectativa com a propagação de macarrão e


pães assados colocados diante de mim.
A mãe de Sienna era uma cozinheira muito boa e, embora eu tenha
protestado contra esses jantares semanais em família inicialmente, sua
família se tornou algo importante para mim.
Comecei a considerá-los como parte da minha.
Eu iria devorar o espaguete, mas Melissa bateu na minha mão.
— Calma, Aiden, temos que esperar por todos, — disse ela com
firmeza. — Selene e Jeremy ainda não chegaram.
Se for para comer mais cedo, posso dar menos trabalho para o Jeremy na
Casa da Matilha.
Eu me virei para Sienna, que estava perdida em pensamentos. Ela
tinha estado assim o dia todo. — Você está se sentindo bem? — Eu
perguntei, colocando minha mão na dela.
— Estou bem. Apenas repassando algumas artes para um cliente na
minha cabeça — ela disse, forçando um sorriso.
Os sons da porta da frente batendo e de saltos altos batendo no chão
de madeira ecoaram pelo corredor.
— Pronto, chegamos. Desculpe pelo atraso — bufou Selene, puxando
Jeremy para a sala de jantar e sentando-se em sua cadeira sem respirar.
Jeremy me deu um aceno estranho. Ele ainda não havia se
acostumado com o fato de seu chefe estar no jantar de família.
— Tudo bem, eu declaro oficialmente esta refeição iniciada. — Robert
sorriu. — Mandem ver!
— Finalmente, — eu rosnei. — A culinária da Melissa é uma obra de
arte que necessita ser apreciada.
— Ah, pare, — ela riu. — Você devoraria qualquer coisa que fosse
colocada na sua frente.
Eu olhei para Sienna novamente. Ela mal tocava na comida.
O que diabos está acontecendo com ela hoje?
— Ei, mãe, pai, eu tenho uma pergunta, — disse Sienna, falando com
cuidado. — O que aconteceu naquele dia em que você me encontrou
abandonada do lado de fora do hospital?
A sala ficou desconfortavelmente silenciosa e os pais de Sienna se
entreolharam com apreensão.
— Por que perguntou isso do nada, querida? — Robert questionou.
Eu me perguntei o mesmo. Eu sabia que Sienna tinha pensado muito
em seus pais biológicos ultimamente, mas eu não tinha certeza se um
jantar com sua família inteira era o lugar certo para perguntar sobre eles.
— Eu só queria saber mais sobre de onde eu vim… de quem eu vim, —
ela disse calmamente. — Meus pais... eles deixaram um bilhete? Eles se
arrependeram de me abandonar? Você nunca me contou detalhes.
Observei Melissa ficar tensa após Sienna usar a palavra pais para se
referir a outras pessoas.
— Por que isso importa? — Eu perguntei, irritado. — Quem quer que
tenham sido, eles foram uns merdas abandonando você, e eles merecem
morrer de arrependimento.
Os olhos de Sienna brilharam como um vulcão.
Foda-se.
Na verdade, esperava que as chamas começassem a sair de seus olhos
a qualquer segundo.
Selene e Jeremy trocaram olhares.
— Você não sabe nada sobre eles — gritou Sienna. — Só porque seus
pais biológicos são um pesadelo, não significa que os meus sejam.
Sienna empurrou a cadeira para trás, raspando-a no chão, e se
levantou furiosa.
— Onde diabos você pensa que está indo? — Eu rosnei com raiva.
— Terapia! — ela gritou.
TERAPIA?!
Levantei-me para segui-la, mas ela já estava na metade do corredor.
— Sienna, espere!
Ela parou, mas não se virou. Quando coloquei minhas mãos em seus
ombros, a senti relaxar ao meu toque.
— Sinto muito, — eu disse. — Não sabia que era um assunto tão
delicado.
Sienna se virou para mim e ela tinha lágrimas nos olhos.
Eu a puxei para perto do meu corpo, segurando-a com força. — Diga-
me o que se passa.
— Há muito tempo que estou lidando com essa dor sozinha, — disse
ela.
— E é por isso que você vai para a... — Foi difícil para mim dizer a
palavra em voz alta por algum motivo.
— Terapia, — disse ela calmamente.
— É algo que eu fiz? — Eu perguntei. — Porque se eu …
— Não, Aiden... não é sobre você. Eu prometo.
Seu tom era reconfortante, mas eu ainda sentia que estava falhando
com ela de alguma forma.
— Eu só preciso trabalhar alguns problemas e acho que a terapia é a
melhor maneira, — disse ela.
Eu levantei o queixo de Sienna para que eu pudesse olhar em seus
olhos.
Eu queria tirar toda a sua dor e tristeza sozinho. Jamais queria ver
lágrimas naqueles lindos olhos, a menos que fossem de felicidade.
Mas talvez eu precisasse dar um passo para trás desta vez — deixar
Sienna lidar com isso do seu próprio jeito.
Suspirei e dei um beijo na testa dela. — Eu vou te apoiar, se isso é o
que você acha melhor para você.
Sienna agarrou meu colarinho e ficou na ponta dos pés, pressionando
seus lábios contra os meus.
Depois que ela finalmente se afastou, ela sorriu. — Obrigada.
Sienna

Eu estava sentada em frente a Konstantin em seu escritório novamente,


mas desta vez eu sabia por que estava aqui.
Eu sabia o que queria.
— Você tem certeza disso? — Perguntou Konstantin. — Eu já avisei,
isso vai ser intenso. Você pode não gostar do que encontrará — mesmo
estando na sua própria cabeça.
— Tenho certeza, — respondi. — Ajude-me a desbloquear minhas
memórias. Quero saber quem são meus pais biológicos.
Konstantin assentiu e então fixou seu olhar no meu. Seus olhos
brilharam com aquele prata intenso que surgia quando ele estava focado.
— Muito bem, vamos começar. Primeiro, você deve abrir sua mente
para mim.
Quase caí da cadeira quando a voz de Konstantin de repente ecoou
em minha cabeça.
— Você tem que me deixar entrar.
Capítulo 18
MÉMORIE
Sienna

A Torre Eiffel parecia absolutamente deslumbrante do meu ponto de


vista do Rio Sena — a estrutura magnífica brilhando no céu noturno.
Eu imaginei que o ar estava realmente fresco naquela noite. Todo mundo
estava embrulhado em seus casacos e cachecóis.
Eu estava apenas de jeans e uma camiseta, mas não conseguia sentir
nada de qualquer maneira.
Ou cheirar.
Ou experimentar.
Foi uma sensação estranha, ser capaz de ver tudo, mas não ser capaz de
sentir nada. Essa era a desvantagem de estar na memória de outra pessoa.
Eu assisti enquanto Konstantin passeava de braço dado com uma bela
mulher próximo ao Sena. Eu me perguntei quem ela era.
Uma modelo?
Uma atriz?
Uma ex-amante, talvez?
Quando eles entraram em um beco, comecei a segui-los. Para onde eles
poderiam estar indo, tão tarde da noite?
Antes que eu pudesse descobrir, fui arrancada do chão novamente e
senti a terrível sensação de ser forçada a passar por um buraco de
fechadura.

— Por que você me tirou tão cedo? — Eu perguntei, aborrecida, quando


me vi sentada em frente a Konstantin em sua poltrona de veludo. — Eu
queria ver mais de Paris. Foi incrível.
— Sim, sempre posso mostrar mais, Sienna. Posso mostrar a você
quase qualquer lugar que você possa imaginar. Existem poucos lugares
neste mundo que eu não tenha conhecido, — disse Konstantin.
— Onde você estava indo com aquela mulher? — Eu perguntei. — Ela
era linda.
— Ah, apenas uma festa, tenho certeza, — disse ele, acenando com a
mão como se não fosse nada.
— Parecia tão real, — eu disse, ainda hipnotizada pela memória. — É
assim que vai ser quando eu entrar em minhas memórias?
— Sim, — Konstantin assentiu. — Eu queria mostrar a você como
seria. Posso usar meus poderes para ajudar a trazer memórias à vida, mas
quando estivermos em sua cabeça, você será a única no controle.
— Como vou saber que memória devo procurar?
— Isso pode parecer bobagem, mas você seguirá seu coração —
literalmente. Sua mente criará um guia que assume a forma de alguém
em quem você confia e que a levará ao que seu coração mais deseja.
Minha cabeça estava girando. Essa coisa de vampiro era muito nova
para mim, e mesmo para um lobisomem, era meio fantástico.
— Eu nunca soube que vampiros eram tão... mágicos.
Konstantin riu da minha escolha de palavras. — Nem todo mundo
pensa assim. Por anos, os vampiros tiveram que viver nas sombras.
— Mesmo? Por quê?
— Os lobos do milênio não se importavam muito com a minha
espécie, — respondeu ele.
Os lobos do milênio? Isso incluía Raphael?
— Ninguém deveria ter que esconder quem é, — eu disse.
— As pessoas geralmente odeiam o que não entendem. Tem sido
assim há séculos. Mas você não é como a maioria das pessoas, não é,
Sienna?
Konstantin sorriu para mim e eu sorri de volta.
Ele me entendia porque ele também sabia como era se sentir
excluído.
— Espero poder ajudá-la a encontrar as respostas que está
procurando, — disse ele.
Eu estava nervosa, mas também animada para finalmente descobrir
de onde vim.
Eu precisava saber quem eles eram...
Meus pais.
Eles foram a razão de eu estar aqui em primeiro lugar. As viagens para
Paris eram uma boa fuga momentânea, um truque de mágica, mas não
era isso que eu procurava.
— Estou preparada, — eu disse. — Vamos examinar minhas
memórias.
— Na hora certa, Sienna. Mas você deve ser paciente neste processo.
Não será bom se você agir de maneira muito rápida ou intensa.
— O que você quer dizer?
— Quero dizer que a chave para encontrar seus pais está nas
profundezas do seu subconsciente, — explicou ele. — E mergulhar tão
fundo será difícil. — Konstantin se levantou e se aproximou de mim,
passando suavemente o dedo pelo perímetro da minha cabeça, como se
estivesse me marcando para uma cirurgia.
— Por favor, me mostre outra memória, — eu disse. — Não me sinto
nem um pouco exausta.
— Muito bem, se você insiste, — ele disse, suspirando.
Konstantin colocou a mão no topo da minha cabeça, com o polegar
pressionando minha testa.
A sala começou a girar novamente, mas apenas por um momento,
porque Konstantin de repente desabou no chão, gritando em agonia.
— Konstantin, — gritei, ajoelhando-me ao lado dele. — O que
aconteceu? Você está bem?
— Estou bem, estou bem... não precisa se preocupar comigo. É que...
só consigo usar uma certa quantidade de energia de cada vez, e hoje,
infelizmente, estou esgotado.
Sua pele parecia mesmo mais pálida do que o normal. Eu o ajudei a
sentar, desculpando-me.
— Eu sinto muito. Eu não teria insistido tanto se soubesse.
— Não, não se desculpe, — disse ele. — Eu deveria saber meus limites.
— Espero que isso não o desencoraje de outra sessão, — eu disse.
Konstantin balançou a cabeça e sorriu. — Não, claro que não. Eu
prometo a você que da próxima vez que nos encontrarmos... vamos
investigar sua mente.
E espero encontrar as respostas de que preciso...
Aiden

— Ela não tem ninguém a quem recorrer. Ela está completamente


sozinha, — Jocelyn gritou na minha cara. — Você só vai jogá-la de volta lá
para se defender sozinha?
— Ela se saiu bem sozinha até agora, — eu rosnei. — De jeito nenhum
vou deixar uma ladra correr solta em meu domínio.
— Correr? — Jocelyn empacou. — Ela nem consegue andar direito.
— Esta é uma casa de Matilha, não um ponto de passagem para lobos
solitários em busca de esmola.
— Falou como um verdadeiro líder, — Jocelyn disse sarcasticamente,
me encarando. — Desde quando a Matilha da Costa Leste se tornou tão
egoísta?
— Cuidado com o que fala, — eu rosnei.
— Jocelyn, você confia facilmente nas pessoas. Não estou dizendo que
isso é uma coisa ruim — não mesmo — mas às vezes você acaba
confiando demais, e esta pode ser uma dessas vezes, — Josh interrompeu.
— Não venha falar comigo sobre confiança, Josh. Ou você se esqueceu
de quando chamou o Alfa do Milênio porque não confiava em seu Alfa
para fazer o trabalho dele? — Jocelyn retrucou.
Droga, ela estava com as garras de fora esta noite.
Eu tinha perdoado Josh por seu erro, mas com certeza não tinha
esquecido disso. Ele me olhou nervosamente, verificando minha reação.
— Sim, Josh pode ser um idiota, isso não é novidade para nenhum de
nós, mas não tem nada a ver com agora.
— A loba ômega precisa ir embora, — disse Josh.
— O nome dela é Nina, — Jocelyn rosnou.
Eu nunca tinha visto Jocelyn expor suas presas antes.
Nunca.
Isso era importante para ela.
— Nenhum lobo é exilado sem uma boa razão, você sabe disso. É um
risco mantê-la aqui.
— É um risco pelo qual estou disposta a assumir a responsabilidade,
— disse Jocelyn, mantendo-se firme.
— Como curandeira, tenho a obrigação de fazer o juramento de
reabilitar qualquer lobo que venha a mim e precise de ajuda, da melhor
maneira possível.
Não adiantava discutir com ela depois da cartada do juramento. Eu
tinha muito respeito por Jocelyn, embora discordasse dela em relação a
isso.
— Tudo bem, ela pode ficar, mas apenas até que ela esteja saudável o
suficiente para ir embora. E espero um relatório diário sobre esse
progresso, junto com qualquer outra informação que você possa obter.
— Combinado — ela respondeu, balançando a cabeça.
Espero que saiba o que está fazendo, Jocelyn.
Nina

— É um risco pelo qual estou disposta a assumir a responsabilidade, —


Jocelyn declarou enquanto eu estava no corredor escutando sua conversa
com o alfa.
Ah, Jocelyn por que você é tão inocente? Isso torna as coisas muito mais
difíceis.
Doía muito saber que ela confiava tanto em mim, sendo que eu era
completamente indigna dessa confiança. Não tinha como ser mais baixa
do que eu.
Aquele anjo merecia o mundo, mas tudo que eu poderia dar a ela
eram mentiras.
Eu escapei de volta para o meu quarto e estiquei meus membros.
Nossa, ficar deitada na cama o dia todo realmente deixa você dolorida.
Os poderes do meu benfeitor fizeram um bom trabalho. Esses
ferimentos falsos pareciam reais. Eles eram o suficiente para enganar até
mesmo uma curandeira talentosa e um alfa.
Eu mesma teria acreditado que estava perto da morte, se esses
hematomas e fraturas não fossem completamente indolores.
Na verdade, gostaria que fossem reais.
Era o que eu merecia em reparação pelo que fui enviada para fazer
aqui.
Mas eu não tinha escolha, não importa o que eu quisesse. Aquele era
um trabalho que eu precisava acompanhar até o fim.
E eu estava ficando sem tempo.
Capítulo 19
SPOTLIGHT
Michelle

Michelle: noite das garotas!!!!!

Mia: Nossa, eu preciso disso

Mia: Vocês vão ter que me carregar de volta pra casa

Erica: Nem a pau!

Erica: A gente prometeu se comportar, lembra?

Erica: 🚫(emoji de proibido) balada

Michelle: só vinho e jantar no Château

Erica: Ahhhhh, Château! Magnifique


Mia: Ok, em primeiro lugar

Mia: Se acham que não consigo dar P.T. com vinho

Mia: melhor se prepararem

Mia: Em segundo lugar

Mia: Vocês estão loucas achando que vamos entrar no Chateau


em uma sexta-feira

Erica: Pois é, eles não estão com agenda lotada, tipo, por vários
meses?

Michelle: relaxem

Michelle: Eu tenho meus contatinhos

Mia: Cadê a Sienna? Tá viva, miga?


Sienna: Foi mal, galera

Sienna: Acabei de ver as mensagens

Sienna: Beleza, estarei lá, mas talvez eu atrase

Michelle: tá bom, gata, melhor não furar


com a gente de novo!

Sienna: Não vou, prometo!

Michelle: chateauuuuu!!!!

— Como assim não têm? — Eu disse desesperada.


— Como eu disse, não temos assentos disponíveis esta noite, — disse
o anfitrião, sorrindo por entre os dentes. Apenas reservas — Eu te disse, —
Mia suspirou, reaplicando o batom pela quarta vez.
— Acabei de ver você deixar um casal entrar sem reserva, — gritei.
— Ah, por que você não me disse que era o primeiro-ministro da
França? Por aqui, senhorita, — ele zombou.
— Acho bom você saber que estou acasalada com o beta — eu sorri.
Isso sempre funcionava.
O anfitrião colocou a mão sobre os olhos e semicerrou os olhos por
cima de mim. — Ah sim, onde ele está? Porque tudo que vejo são três
lobas bêbadas.
— Não estamos bêbadas, — Erica respondeu, indignada.
— Fale por você mesmo, — Mia arrastou.
— Se meu companheiro, Josh, ficar sabendo disso, ele... ele fará com
que você seja despedido.
— Bem, então você beta vá buscá-lo.
Eu queria socar aquele atrevido, mas aí é que não entraríamos.
Não grite.
Não dê show.
Respira fundo.
Eu me virei para as meninas, murchando. — O que fazemos agora? Eu
tinha certeza de que a gente iria entrar.
— Desculpe pelo atraso, pessoal!
Sienna, saltando de um carro com chofer, correu até nós parecendo
uma beldade sem fôlego.
Seu vestido estava coberto com strass requintados, e o colar que
ficava em sua clavícula dizia: Ei, pessoal, agora estou rica pra caralho.
Ela está usando um original Wolfric? Aquela vadia.
— Sienna, garota, você está linda! — Eu gritei, provavelmente um
pouco alto demais.
— Obrigada, você também, Michelle! Adorei seus brincos, — ela
respondeu. — Podemos entrar? Estou faminta.
— Então, sobre isso... — Erica começou.
Sienna passou por nós e se aproximou do anfitrião. — Reserva para
quatro, Sienna Mercer-Norwood.
— Ah sim, Sra. Mercer-Norwood, seu nome está bem aqui. Siga-me,
— ele disse, lançando um olhar de soslaio para mim.
— Você tinha uma reserva? — Eu perguntei, pasma.
— Eu liguei no caminho até aqui e eles disseram que nos
acomodariam em uma mesa da varanda. Que sorte, não é? — ela disse
com total sinceridade.
— Nossa, sim, quanta SORTE, — eu disse.
Sra. Mercer-Norwood.
É difícil desfrutar de uma comida cinco estrelas quando seu estômago
está embrulhado.
Ouvir como Mia e Erica bajulavam cada palavra que saía da boca de
Sienna me deixava ainda mais enjoada.
— O Baile de Inverno deste ano será o seu primeiro como
companheira de Aiden. Vocês vão descer a grande escadaria juntos! —
Erica suspirou.
— Sua vida é tão romântica, Sienna. Eu não consigo lidar com isso, —
Mia jorrou.
Nem eu.
Não é que eu não estivesse feliz por Sienna. Ela era minha melhor
amiga. Claro que estava.
Mas ser completamente ofuscada pela minha melhor amiga enquanto
ela nem ligava para o seu tratamento especial era totalmente frustrante.
Eu tinha conquistado muitas coisas no ano passado também, mas
minhas realizações sempre ficariam em segundo lugar ou como vice-
campeãs em relação às de Sienna — até mesmo meu marido, o beta.
Sienna nem apreciava a atenção. Ela ficou com os olhos grudados no
telefone a noite toda, mandando mensagens de texto para alguém,
provavelmente para Aiden. Não poderia nem mesmo ter uma noite longe
dele.
Sienna se levantou abruptamente, me assustando. Por um momento,
pensei que talvez ela pudesse ler minha mente, e fiquei vermelha.
— Sinto muito interromper os trabalhos mais cedo, meninas, mas
tenho uma reunião com um cliente, — desculpou-se Sienna.
— Você faz reuniões a esta hora? — Eu perguntei, levantando minhas
sobrancelhas.
— Vá, seja brilhante, faça sua mágica, — disse Erica, mandando beijos.
— Estou orgulhosa de você, amiga.
Acho que vou vomitar.
Meio bêbada, larguei minha bolsa no chão enquanto entrava
cambaleando em casa. Josh estava assistindo o Jornal da Matilha e nem
mesmo ergueu os olhos quando entrei.
Típico.
Aposto que quando Sienna chegou em casa, Aiden encheu a calçada
com rosas e a pegou em seus braços na entrada, beijando-a, como em um
conto de fadas do caralho.
Era completamente irracional para mim ficar com raiva de Josh, mas
agora, eu não estava pensando racionalmente.
— Josh, você vai apenas me deixar parada aqui? Me segura, caramba!
Josh se virou, meio confuso. — Espere, o quê?
— Por que você não faz algo. Porra, faça alguma coisa... Você sempre
deixa os outros te deixarem de fora, — eu gritei.
— Ah, você só está bêbada, — disse ele, Virando-se e me ignorando.
Eu marchei na frente da TV e encarei Josh. — Você está realmente
contente em ser sempre o segundo melhor? Sendo pisoteado enquanto
outra pessoa o substitui?
— Ah, já entendi. Isso nem tem a ver comigo. Tem a ver com você e
Sienna, — Josh respondeu presunçosamente.
— Não, não tem — eu recusei. — Tem a ver com você virar homem e
dizer ao Aiden que não quer que Sienna assuma todas as suas
responsabilidades, agora que ela está no conselho.
Josh saltou da cadeira, enfurecido. — Sabe de uma coisa, Michelle?
Você é uma hipócrita do caralho. Você está latindo para mim sobre
confrontar Aiden quando você nem mesmo fala com Sienna sobre como
você se sente ofuscada. — Ele estava certo. Nós dois estávamos nos
sentindo eclipsados e nenhum de nós estava fazendo nada a respeito.
De repente, o fogo e a raiva que eu sentia por Josh começaram a
descer pelo meu corpo. Agarrei meu sexo enquanto sentia um desejo
ardente pelo meu companheiro.
Ele também sentiu — eu já podia ver que ele estava ficando excitado
através das calças.
A Bruma estava nos chamando e não poderia ter vindo em melhor
hora.
Eu queria que Josh me pegasse? Bom, ele me pegou pra caralho, me
tirando do chão e me empurrando contra a parede.
Ele levantou minha saia sobre meus quadris e pressionou seu pau
enorme entre minhas pernas.
— Sem calcinha? — Josh sorriu.
— Cale a boca e coloca dentro de mim, — eu rosnei, cravando minhas
unhas em suas costas.
Quando ele deslizou dentro de mim, gritei em êxtase. Nossa, era tão
bom. Eu não conseguia nem lembrar por que estávamos brigando.
Com cada impulso, a Bruma se tornou mais intensa e meus gemidos
ficaram mais altos. Os braços volumosos de Josh me prendiam, e tudo
que eu queria era que ele metesse.
— Mais forte!
— Deixa comigo, amor — Josh disse enquanto começava a foder mais
forte e mais rápido.
Isso.
Isso, porra.
Josh podia ser um beta, mas fodia como um alfa.
Sienna

— Você está pronta?


Os olhos penetrantes de Konstantin olharam através de mim
enquanto eu me sentava em frente a ele na cobertura. Parecia que ele
podia me ver de uma outra maneira que ninguém mais podia.
Será que eu estava pronta?
Parte de mim sentia que isso era errado — deixar alguém entrar em
minha mente, meus pensamentos mais íntimos que nem mesmo Aiden
sabia.
Mas Konstantin era meu terapeuta e eu precisava aceitar que havia
algumas coisas que eu não poderia fazer sozinha.
Nada estava claro, mas se eu quisesse encontrar meus pais, tinha que
confiar nele.
— Estou pronta, — eu disse. — Me diga o que fazer.
— Feche os olhos.
Ele estava falando comigo telepaticamente novamente. Eu segui suas
instruções.
— Agora, pegue minhas mãos.
Eu gentilmente agarrei suas mãos.
— Lembre-se... siga seu coração.
Sem nem mesmo uma ondulação, meu ambiente mudou completamente.
Eu estava no que parecia ser um castelo, vestindo um manto transparente
sem nada por baixo.
Eu estremeci, meus mamilos endureceram sob o manto. Esta era
definitivamente minha mente.
Na mente de Konstantin, eu não conseguia sentir nada, mas na minha,
tudo parecia real... real até demais.
Comecei a descer uma escada à luz de velas, mas o caminho estava
bloqueado por uma porta trancada. Quando minha mão deslizou para o
bolso do manto, encontrei uma chave.
Achei que essa fosse a minha mente. Por que eu não teria a chave?
Eu destranquei a porta e empurrei, tropeçando direto em um par de
braços musculosos.
Eu olhei para cima e engasguei.
— Aiden?
— Ah, aí está você. — Ele sorriu. — Eu estava me perguntando quando
você viria me buscar.
Mas aquele não era o Aiden real, era o guia que minha mente havia
criado, a pessoa em quem eu mais confiava.
Eu olhei ao meu redor...
Estranho, esta sala parecia uma masmorra; a porta destrancada era a
única saída.
— Para onde vamos? — Eu perguntei.
Aiden acenou com a cabeça silenciosamente em direção às escadas.
Enquanto subíamos a escada em espiral, percebi como meu manto era
transparente.
Amaldiçoei minha mente por projetar essa roupa. Por que diabos eu
escolhi isso? Eu estava praticamente nua.
Aiden não pareceu se importar, a julgar pela maneira como senti seus
olhos seguindo minha bunda.
A escada parecia não ter fim, e de repente percebi que não tinha
demorado tanto para descer.
— Sienna, acho que você está se segurando. Vamos continuar em um loop
se você não se abrir.
— Sinto muito, minha mente está uma bagunça. Eu não sei como
controlar...
Meu corpo foi sacudido por uma onda de choque de eletricidade que se
espalhou por cada centímetro da minha pele.
Ah não...
Não aqui.
Como isso está acontecendo aqui?
A Bruma me atingiu como um trem de carga. Ou alguma versão disso na
minha cabeça.
Como eu poderia estar tão desconfortável e tão excitada ao mesmo
tempo?
Meu manto começou a afrouxar e meu peito começou a arfar. Meu sexo
ansiava por alguém estar dentro dele.
Aiden pareceu surpreso. — Sienna, o que está acontecendo? O que você
está sentindo? Diga-me.
Eu estava sentindo...
Tudo.
E era bom pra caramba.
Capítulo 20
RESTRIÇÕES
Sienna

Acordei de repente, suando e ofegante. Konstantin ainda estava


segurando minhas mãos, e eu rapidamente as afastei e coloquei sob meus
braços para aquecê-las.
Eu estava bem molhada, mas não por causa de um orgasmo. Fora da
minha mente, eu estava úmida e encharcada de suor frio.
Konstantin correu para o meu lado, jogando um cobertor sobre meus
ombros.
— F-foi a Bruma, — eu disse, batendo os dentes. — Não entendo o
que aconteceu.
— Fascinante, — disse Konstantin, me estudando. — Então, é assim
que isso se manifesta em sua mente.
— O que você quer dizer?
— Aquela não era a Bruma, pelo menos não a real. Sua mente vai
tentar lutar com você. É natural. Seu cérebro tem uma espécie de
mecanismo de defesa — como glóbulos brancos do sangue — para
impedir que você vá longe demais.
— Não consigo controlar, — tossi.
— Eu sei. É por isso que trabalharemos juntos, disse Konstantin com
calma. — Este mecanismo de defesa se manifesta de maneira diferente
para cada indivíduo e, no seu caso, deve estar se manifestando como uma
Bruma.
É claro. Isso significava que toda vez que eu tentasse acessar minhas
memórias, iria sentir uma versão superintensa da Bruma.
Porra, que maravilha.
A última coisa que eu queria era ficar desconfortável e com tesão
durante a terapia.
É
— É importante lembrar que, embora pareça muito real, nada do que
está acontecendo em sua mente está realmente acontecendo fisicamente
no mundo real. Está tudo na sua imaginação.
— Por hoje já deu. É muita coisa para lidar.
— Eu entendo; amanhã continuamos. Eu não quero a pressionar se
não estiver pronta, — ele disse, pegando minha jaqueta e me guiando até
o elevador.
— Obrigada pela compreensão. — Eu sorri fracamente. — Eu me
sinto envergonhada.
— Absurdo. Vá para casa e descanse um pouco. Tentaremos
novamente amanhã.

A água quente rolou pelas minhas costas enquanto eu estava no


chuveiro, tentando entender o que estava acontecendo comigo.
Por que minha mente me colocou em uma posição tão vulnerável?
O que eu estava escondendo de mim mesma?
Seja lá o que fosse, estava enterrado profundamente.
Enquanto eu espirrava água no rosto, ouvi a porta do chuveiro se
abrir atrás de mim.
— Quer companhia?
Eu me virei para encontrar Aiden, nu e totalmente ereto, sorrindo
para mim com antecipação.
Era a Bruma.
O tipo real de Bruma.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele me prendeu contra a
parede e estávamos nos beijando.
Ele mordeu meus lábios e sua língua começou a se mover pelo meu
pescoço, depois meu torso, até que ele estava de joelhos e sua cabeça
estava no meu sexo.
Eu estremeci de prazer quando sua língua sacudiu dentro de mim.
Fechei meus olhos e cedi ao meu desejo quando minha Bruma apareceu.
Aiden conseguia trazê-la à tona apenas olhando para mim da maneira
certa, mas seu toque era ainda melhor.
— Você adora quando estou dentro de você, não é, Sienna? — Aiden
disse, olhando para mim.
— Nossa, sim, — eu gemi.
Aiden se levantou e a cabeça de seu pau roçou meu sexo.
— Faz um tempinho que a gente não sente a Bruma — Aiden
sussurrou em meu ouvido.
Tirando a Bruma que tinha aparecido na minha cabeça.
— Desculpa, tenho trabalhado tanto, — disse Aiden, seu pau
começando a violar meu sexo. — Deixe-me compensar isso.
Eu gemia em aprovação quando sua ponta escorregou.
Aiden se afastou, então me agarrou pelos ombros e me virou,
pressionando-me contra a parede.
Ele de repente entrou em mim por trás, e eu engasguei quando senti
sua masculinidade me preenchendo.
Caralho!
Eu coloquei minhas mãos na parede para me segurar quando Aiden
começou a meter em mim com sua força de alfa.
— Isso, me fode! — Eu gaguejei enquanto cada impulso me atingia
exatamente no lugar certo.
Meu corpo inteiro tremia de desejo, implorando por mais.
Eu senti como se estivesse prestes a desmaiar de prazer.
Era exatamente o que eu precisava para limpar minha mente — ser
fodida pelo meu companheiro.
Jocelyn
Aiden: Você não me deu atualizações hoje
Aiden: Ela já está saudável o suficiente para ir embora?

Aiden: Eu quero uma data e hora

Jocelyn: Aiden, estou cuidando dela, mas


ela não vai se curar da noite para o dia.

Jocelyn: Você precisa me deixar fazer meu


trabalho.

Aiden: E você precisa me deixar fazer o meu hoje

Aiden: Ela já está saudável o suficiente para ir embora?

Aiden: Eu quero uma data e hora

Jocelyn: Aiden, estou cuidando dela, mas


ela não vai se curar da noite para o dia.

Jocelyn: Você precisa me deixar fazer meu


trabalho.
Aiden: E você precisa me deixar fazer o meu

Aiden: Não podemos confiar nela

Exasperada, coloquei meu telefone virado para baixo na minha mesa.


Nina me lançou um olhar curioso.
— Problemas com o namorado? — ela perguntou provocativamente.
— Ex-namorado, na verdade.
— É o beta ou o alfa que está fazendo você parecer que acabou de
provar algo amargo?
— Alfa, — eu ri. — Espere, como você sabia sobre...
— Você acha que não percebi toda a tensão no ar quando vocês três
estão juntos em uma sala? O clima fica tão tenso que não dá nem para
respirar — disse Nina, segurando seu pescoço e fingindo engasgar-se.
— Isso é passado. Não deu certo com nenhum deles.
— Alfa, beta... talvez você precise é de um ômega — Nina sorriu.
Eu me vi corando novamente. Por que isso sempre acontecia comigo
quando eu estava perto dela?
Ajudei Nina a se levantar e mancar até as barras paralelas para que
pudéssemos trabalhar em sua fisioterapia. Meu rubor só aumentou
quando ela agarrou meu braço com força.
— O alfa não gosta que eu esteja aqui, não é? Ele quer que eu vá
embora.
— Aiden é muito protetor com sua matilha, como um bom líder deve
ser, — eu respondi. — Ele nem sempre é a pessoa mais aberta, mas
geralmente se torna mais gentil com o tempo — Foi o que aconteceu
com sua companheira? Qual era o nome dela? Ouvi dizer que eles têm
um romance de contos de fadas.
— Sienna — e onde você ouviu isso? Nos tabloides? — Eu perguntei
cautelosamente.
— Quem me conhece sabe que eu leio umas revistas inúteis, —
admitiu Nina. — Então, qual é o problema de Sienna? Eu não a vi na Casa
da Matilha até agora. Ela não trabalha aqui?
— Normalmente, sim, mas ela não veio nos últimos dias. Por que você
está fazendo todas essas perguntas sobre Aiden e Sienna? — Eu
perguntei.
Nina de repente perdeu o equilíbrio e caiu no chão com um baque,
gritando de dor.
— Nina! — Eu me joguei no chão e a ajudei a se levantar,
inspecionando seu tornozelo; estava roxo.
— Acho que o torci. — Ela estremeceu.
— Nós tentamos muito cedo. Eu não deveria ter te pressionado tanto,
— eu me desculpei.
Nina colocou a mão na minha e olhou para mim com seus olhos
encantadores.
Meu coração começou a bater no meu peito, mas eu não movi minha
mão.
Por que é que eu não estou movendo minha mão?
Eu finalmente consegui me afastar e recuperar minha compostura.
— Eu acho que devemos continuar amanhã, — eu disse, limpando
minha garganta.
— Tudo bem, — disse ela, desapontada. — Mas, Jocelyn, às vezes é
bom insistir. Às vezes, você precisa tentar para descobrir se está pronta.
Sienna

Depois que Aiden ajudou a limpar minha mente e lidar com a minha
Bruma, me senti muito mais confiante em tentar outra sessão com
Konstantin.
— Você está pronta para tentar novamente? — ele perguntou,
sentando na minha frente em seu escritório.
— Acho que sim.
Eu respirei fundo.
— Eu tenho certeza.
— Aconteça o que acontecer, não lute. Entende? Você tem que ceder,
— disse Konstantin. — É a única maneira de descobrir o que sua mente
esconde.
— Vou fazer o meu melhor.
— Me dê suas mãos.
Um exuberante jardim cheio de arcos floridos e fontes jorrando abriu o
caminho para uma linda mansão de tijolos. Eu levantei meu vestido
enquanto caminhava em direção a ele, tentando não sujá-lo.
Espere, o que eu estava fazendo? Isso não era real.
Enquanto eu acelerava meu ritmo, meus seios praticamente derramaram
do corpete apertado que os estava impulsionando.
Mais uma vez, isso foi obra da minha própria mente. Tudo na minha
cabeça foi projetado por mim. Da última vez, foi um castelo assustador,
desta vez, uma encantadora propriedade rural no período vitoriano.
Sinceramente, eu preferia este lugar
Quando cheguei à mansão, encontrei Aiden dentro, vestido com um terno
elegante e gravata.
Minha mente, de alguma forma, o tornava ainda mais bonito.
— Para onde? — Eu perguntei, examinando a enorme mansão.
— Este é o seu cérebro, — respondeu ele. — Siga seus instintos. Onde está
dizendo para você ir?
Sem pensar, comecei a subir a grande escadaria, com Aiden seguindo
atrás. Passei por dezenas de portas, mas sabia que nenhuma delas era a que
eu estava procurando.
Corredores tortuosos.
Escadas mais estreitas.
Papéis de parede mudando constantemente.
Este lugar era mais um labirinto do que uma mansão. Eu estava
começando a sentir como se algo estivesse faltando até que me vi parando
abruptamente no meio de um corredor.
— Acho que está aqui, mas não sei por quê, — disse eu, confusa. — Não
há nem portas neste corredor.
Eu instintivamente olhei para o teto e encontrei uma porta do sótão,
ligeiramente entreaberta.
— É muito alto para alcançar. Dê-me um impulso.
Eu esperava de verdade que minha mente tivesse sido cortês o suficiente
para me dar roupas íntimas desta vez.
Quando Aiden me levantou, comecei a sentir um formigamento por todo
o meu corpo.
A maldita Bruma de novo, o mecanismo de defesa do meu corpo. Isso
significa que devemos estar perto.
— Está acontecendo de novo, — choraminguei.
O rosto de Aiden estava perigosamente perto da minha bunda.
— Não lute contra isso. Ceda a tudo o que sua mente lhe disser para fazer
quando entrarmos naquela sala.
Consegui puxar a escada para baixo e subi-la, tentando não pensar em
como estava me sentindo extremamente excitada.
Quando vi o que havia dentro do sótão, meu queixo caiu.
— Que porra é essa?
Acessórios BDSM artigos de madeira enchiam a sala, junto com muitos
chicotes e correntes.
Eu tinha acabado de nos levar a uma maldita masmorra de sexo —
exceto que era no sótão.
A Bruma se espalhou pelo meu corpo como um incêndio. Eu queria
arrancar minhas roupas, e quando olhei para Aiden, parecia que o mesmo
pensamento passava por sua cabeça também.
Aproximei-me de uma das engenhocas de madeira, sem controle do meu
próprio corpo, como se estivesse sonâmbula.
Minha mente prendeu as alças em volta dos meus pulsos.
— O que você está fazendo? — Aiden perguntou com um sorriso
malicioso.
— Sinceramente, não sei, — eu disse, tentando não entrar em pânico.
Outra onda de Bruma me atingiu, e tudo que eu queria era sentir algo.
Sentir qualquer coisa.
— Pegue um chicote, — ordenei.
Capítulo 21
MENTE ABERTA Sienna
Aiden desamarrou meu vestido até que minhas costas estivessem expostas,
enquanto minhas mãos permaneciam amarradas. Minha Bruma, ou melhor,
meu subconsciente, queria tanto isso que doía.
Seus dedos traçaram minhas costas nuas. Havia luxúria em seu toque.
Suas unhas estavam cravadas em minha pele. Eu estava sedenta por algo
maior do que apenas um leve arranhão.
Eu precisava sentir algo real.
— O chicote, — eu disse novamente.
Aiden examinou a variedade de chicotes na parede e escolheu um com
várias tiras. Ele brincou com meu corpo antes de dar uma leve chicotada na
minha bunda.
Ainda não era suficiente.
— Mais forte, — exigi.
— Com prazer, — respondeu ele, com um brilho diabólico nos olhos.
Ele bateu o chicote contra minha carne novamente. Doeu dessa vez, mas
meu corpo queria mais.
— MAIS FORTE, — gritei.
Quando ele desceu o chicote novamente, eu estremeci.
O que eu estava fazendo?
Isso não parecia certo. Aquela não era eu.
E aquele também não parecia Aiden.
O que estava acontecendo na minha cabeça?
Meus desejos mudaram. De repente eu não queria mais isso.
— Aiden, pare, — eu disse, lutando contra as amarras em que me
coloquei.
Mas ele não parou.
Ele me chicoteou com o chicote novamente.
E de novo.
— Aiden, — eu gritei. — Ouça-me!
— Não, não podemos parar.
CHICOTADA
— Temos que continuar...
CHICOTADA
— Precisamos saber
CHICOTADA
Eu estiquei meu pescoço para olhar para Aiden, e não pude nem
reconhecê-lo.
Ele parecia tão intenso e determinado, mas seus lábios estavam curvados
em um sorriso perturbador.
Ele estava gostando disso.
— Não lute contra isso, — ele gritou.
Eu senti algo uivar dentro de mim — meu lobo interior. Ele começou a
ficar cada vez mais alto até abafar todo o resto.
A sala começou a girar Então tudo desapareceu.

— Que porra foi essa? — Eu perguntei, voltando à realidade.


Eu me levantei e me afastei de Konstantin.
— Sienna, acalme-se. Eu entendo que você esteja incomodada, mas
não era real. Estava tudo na sua cabeça, e só você tem o controle lá, —
disse Konstantin, erguendo as mãos e me dando espaço.
— Não me pareceu assim, — disse eu.
— Esta foi apenas a sua maneira mental de pedir que você se
submetesse. Se vamos descobrir o que está nos recessos mais profundos
do seu subconsciente, você terá que ceder a tudo o que está se pedindo
para fazer, mesmo que pareça insano.
Eu balancei minha cabeça, não querendo ouvir nada disso. — Ele... ele
se transformou em algo... vil, — eu disse, com lágrimas nos olhos. — Eu
nem o reconheci.
— Seu companheiro? — Perguntou Konstantin. — Aquilo era apenas
sua imaginação.
— Já chega.
— Sienna, estamos tão perto. Eu posso sentir isso.
— Não, eu não posso fazer isso.
Konstantin tinha me avisado que seria intenso, mas o que eu tinha
acabado de experimentar estava em outro nível. Eu não fui feita para
isso.
Peguei meu casaco e corri para o elevador, apertando o botão de
descer até que a porta se abriu.
— Sienna, não fuja disso de novo, — Konstantin gritou atrás de mim.
Quando o elevador fechou, jurei que esta seria a última vez que
colocaria os pés na terapia.

Konstantin: Sienna, estou preocupado com você.

Konstantin: Já se passaram três dias.

Konstantin: Se você não retornar às nossas sessões, todo o


nosso progresso será perdido.

Konstantin: Eu entendo que você se sentiu vulnerável.


Konstantin: Mas a verdade sempre nos faz sentir assim.

Konstantin: Não desista ainda.

Eu olhei para a sequência de mensagens e as ignorei, assim como


tinha feito nos últimos dias.
Eu sabia que ele tinha razão, mas simplesmente não conseguia voltar
atrás.
Talvez eu não fosse tão forte e dominante quanto pensava...
Minhas sessões com ele exigiram mais de mim do que eu imaginava.
Elas minaram minha energia, meu impulso sexual e meu apetite e
substituíram tudo por melancolia.
Eu fiquei na cama a maior parte dos últimos dias, me recuperando.
Aiden até fez Jocelyn fazer uma visita domiciliar, mas ela não conseguia
perceber nada de errado comigo.
Eu não tinha como explicar que eu só estava com uma ressaca mental
muito forte.
Eu ouvi uma batida suave na porta, e Aiden entrou e sentou-se na
ponta da cama.
— Está se sentindo melhor hoje?
— Estou me sentindo ótima. — Eu sorri.
— Bom, porque eu tenho uma surpresa para você, — disse ele,
lançando-me um sorriso de lobo.
Aiden

— Para onde você está me levando? — Sienna perguntou enquanto eu a


conduzia pela floresta. — Você não tem que trabalhar esta noite?
Trabalho — eu estive profundamente envolvido ultimamente. E isso
estava afetando Sienna. Eu nunca a tinha visto tão emocionalmente
distante antes.
Eu me sentia fraco pra caralho sabendo que eu não pude ajudá-la e
ela teve que recorrer à terapia.
Eu sabia que de alguma forma eu tinha culpa. Então talvez isso nos
desse a chance de nos reconectarmos.
— Tecnicamente, estou trabalhando. E você também, — eu disse. —
Estamos em patrulha.
— O que você quer dizer? — ela perguntou, cética. — A patrulha não
é algo que você só faz com o seu beta?
— Normalmente, mas eu quero começar a fazer isso com você. Quero
envolvê-la mais na minha vida profissional.
Para minha surpresa, Sienna começou a tirar as roupas. Ela se virou e
sorriu para mim.
— Bem, é melhor nós irmos então. Tire suas calças.
Ninguém teve que me dizer duas vezes para ficar nu. Eu amei a
sensação de me livrar das roupas antes de transformar.
Enquanto eu observava Sienna remover sua calcinha tão casualmente,
comecei a ficar excitado. Ela não tinha mais vergonha de seu corpo há
um ano. Agora ela estava toda confiante e sexy pra caralho.
Ela se virou e me deixou ver sua silhueta sob o luar.
Sua pele branca e macia.
Seus seios perfeitos e mamilos rosados.
— Pensei que era uma patrulha, — ela riu, vendo que eu estava
excitado. — Ou você está apenas nos apontando em que direção
devemos ir?
Nós dois nos transformamos e começamos a nos comunicar por meio
de nossa conexão.
— Tente acompanhar, — incitei.
Sienna correu para a floresta em um piscar de olhos.
— O que você estava dizendo?
Tudo bem, se era assim que ela queria brincar.
Corri atrás dela, alcançando-a e beliscando seus calcanhares, mas ela
conseguiu manter um passo à frente.
Ela correu mais rápido — muito mais rápido.
Lembrei-me de nossa primeira corrida enquanto ziguezagueávamos
pela floresta. Eu nunca esquecerei aquela perseguição emocionante — o
jeito que Sienna me fez caçá-la por horas.
Agora, estávamos correndo lado a lado — companheiros alfa — e era
perfeito.
De repente, Sienna me abordou com todo o seu peso e eu perdi o
equilíbrio, rolando por uma colina e caindo com toda força dentro de um
rio.
Fiquei submerso por um momento e vi Sienna acima de mim,
olhando para baixo.
Minha cabeça surgiu na superfície e eu remei até a costa. — Que porra
foi essa? — Eu rosnei.
Sienna mudou de volta para a forma humana e começou a rir
histericamente.
— Vingança, pela nossa primeira corrida.
Eu sacudi meu pelo molhado na direção dela antes de também me
transformar.
— Ei, você está me molhando, — ela gritou.
— Ainda não, não estou, — eu disse, levantando-a e prendendo-a
contra uma árvore. — Mas vou te molhar pra caralho.
Começamos a nos beijar e morder como animais enquanto ela
colocava as pernas em volta da minha cintura.
Meu pau pressionou contra seu sexo, fazendo-a gemer, e isso me
deixou louco.
A Bruma estava forte pra caralho, e tudo que eu queria era fazer ela se
sentir tão bem quanto eu.
— Tá sentindo? — Eu olhei para ela, esperançosamente.
Sienna me empurrou para o chão e começou a montar em mim sem
qualquer hesitação.
— Tô, — disse ela com um sorriso.
Porra, foi incrível. Ela sabia exatamente como se mover quando
estava em cima de mim.
— Aiden... Isso! — ela gritou.
Ela balançava para frente e para trás no meu pau, assumindo o
controle.
Cravei meus dedos no chão enquanto ela deslizava pelo meu membro
com precisão.
Isso, porra!
Ela estava louca de tesão.
E eu ia fazê-la sentir tesão...
A noite toda.
Jocelyn

Nina não estava progredindo da forma que eu esperava. Lobisomens


curam muito mais rápido do que humanos, mas os ferimentos de Nina
me deixavam perplexa.
Por fora, os hematomas e cortes pareciam terrivelmente doloridos,
mas meus sentidos me diziam que algo estava errado.
Eu estava ficando mais perto de Nina a cada dia, mas não pude evitar
de sentir que ela não estava sendo completamente honesta comigo.
Havia uma maneira — uma técnica de cura arriscada — que eu
poderia usar para descobrir a verdade...
— O que você está pensando? — Nina perguntou, mancando
lentamente até mim.
— Só estou tentando descobrir como podemos acelerar sua
recuperação. — Eu sorri, mas Nina não retribuiu.
— Ih, você está ficando cansada de mim, né?
— Não, não estou me cansando de você. Eu só quero que você
melhore, — eu a tranquilizei. — Sinto que não tenho feito tudo o que
posso.
Ajudei Nina a se sentar à minha frente e agarrei suas mãos.
— Eu gostaria de tentar algo novo, se você me permitir.
Nina sorriu, interessada. — Estou sempre disposta a experimentar
coisas novas.
Merda, esta pode ser a pior ideia que já tive, mas preciso saber.
Havia uma técnica antiga que permitia aos curandeiros absorver a dor
de outro lobo em seus próprios corpos.
Era perigoso, mas se ela estava realmente ferida, então talvez isso
pudesse mudar as coisas, e se ela não estivesse...
Coloquei minhas duas mãos em sua perna quebrada e concentrei
toda a minha energia em seu ferimento.
Em seguida, inverti o fluxo de sua energia em meu corpo.
As veias dos meus braços começaram a brilhar e me preparei para a
dor excruciante que estava prestes a se infiltrar dentro de mim, mas...
Nada.
Sem dor.
Eu olhei para Nina, permitindo que a traição aparecesse em meus
olhos.
— Você mentiu para mim, — eu disse, chocada. — Você nem mesmo
está ferida. Você nem está com dor, porra.
— O que você quer dizer? É claro que estou...
— Não... sem mais mentiras, Nina. Você só vai piorar as coisas. Eu
posso sentir o que está dentro de você.
— Merda, Jocelyn. Eu queria te dizer, — ela disse, enquanto seus
olhos se arregalavam. — Por favor, estou te implorando, não me odeie.
Sobre o que mais ela estava mentindo? Qual o real motivo de ela estar
aqui?
— Você precisa ir embora, — eu disse, as lágrimas começando a rolar
pelo meu rosto. — Vá agora, antes que eu conte a Aiden.
— Jocelyn, por favor, me escute, — ela gritou, mas eu já estava
pegando meu telefone.
Nina se lançou sobre mim e eu vacilei, fechando os olhos, mas
congelei quando senti seus lábios encontrarem os meus.
O que estava acontecendo?
Por que eu estava deixando isso acontecer?
Quando seus lábios macios se fecharam sobre os meus, senti uma
onda de emoção.
Em vez de me afastar, inclinei-me e ela me beijou ainda mais forte.
Cada pingo de raiva que eu sentia um momento atrás desapareceu.
Abri os olhos e Nina também tinha lágrimas nos olhos.
— É por isso que eu não disse que já estava curada, — ela disse,
colocando a mão no meu rosto.
— Eu não queria que você me mandasse embora. Não antes de ter a
chance de dizer o que realmente sinto por você. Há uma conexão entre
nós, é forte. Você sente isso também?
— Sim, — eu respondi, enxugando suas lágrimas. — Eu também
sinto.
Capítulo 22
INSEGURANÇAS
Sienna

Depois de um tempo longe de Konstantin, minha Bruma estava correndo


solta, e Aiden e eu estávamos mais próximos do que nas últimas semanas.
A questão dos meus pais ainda me incomodava, mas minha mente
estava tão confusa que eu precisava limpá-la para tentar tomar qualquer
decisão racional.
Se meus pais estivessem por aí, eu encontraria uma maneira de
rastreá-los — uma maneira que não envolvesse exercícios mentais.
Claramente minha mente não ajudou, não importa o quanto eu
quisesse.
Konstantin havia tentado o seu melhor, mas eu simplesmente não
consegui.
Aiden girou em sua cadeira e passou os braços em volta de mim, me
puxando para seu colo.
— O que podemos fazer hoje? — Aiden perguntou. — Que tal um
encontro?
— Aiden, esta é a primeira vez que trabalho no escritório durante
toda a semana. Não posso sair toda hora. As pessoas vão pensar que estou
recebendo tratamento preferencial.
— Você é a companheira do alfa. Claro que você está recebendo
tratamento especial. Na verdade, acho que vou dar isso a você agora, —
ele disse, deslizando a mão pela minha perna e por baixo da minha saia.
— Para, Aiden, agora não. Tenho tanta papelada para preencher, — eu
disse, mas não fiz nenhum esforço para impedi-lo de puxar minha
calcinha até meus tornozelos e calcanhares.
— Há algo que precisa ser preenchido bem aqui, — ele rosnou,
lentamente mergulhando seus dedos profundamente no meu sexo.
Porra, era tão bom, e minha Bruma começou a atacar, deixando tudo
ainda melhor.
Estava ficando tão quente no escritório de Aiden que comecei a
desabotoar minha blusa, revelando meu sutiã de renda.
Eu dei a ele um olhar de aprovação e, em um movimento rápido, ele
limpou tudo de sua mesa e me deitou.
Aiden rastejou sobre mim e começou a puxar para baixo suas calças,
pronto para realizar sua fantasia de escritório, mas eu tinha a minha
própria.
— Espere. — eu exclamei. — Eu quero tentar algo.
Virei Aiden e subi em cima dele, sentindo meu domínio emergir pelo
meu corpo.
Inclinando-me o mais próximo possível de seu ouvido, sussurrei...
— Sou eu quem manda.
Michelle

— É um absurdo, — gritei, andando de um lado para o outro no


escritório de Josh. — Como ele pode fazer isso com você?
Josh apenas balançou a cabeça. — Ele a levou em patrulha quase todas
as noites esta semana. Era uma coisa nossa.
Ok, eu tive que admitir que o bromance do Josh com seu melhor
amigo e subsequente reclamação sobre ser deixado de lado era meio
broxante...
Mas eu tinha meus próprios problemas com Sienna.
E agora ela estava interferindo no trabalho do meu companheiro
também?
De jeito nenhum isso iria continuar.
— Josh, você tem que falar com Aiden hoje. Você é o beta dele, não
Sienna, e tem se esforçado tanto para mostrar seu valor. Você merece o
melhor.
— Tudo bem, farei isso hoje, se você concordar em falar com Sienna e
parar de ser tão passivo-agressiva, — disse Josh, cruzando os braços.
— Não sou passivo-agressiva, — zombei.
Eu tinha que admitir que queria que as coisas melhorassem entre
mim e Sienna, mas queria que ela viesse até mim primeiro. Eu mal tinha
ouvido falar dela nas últimas semanas.
Às vezes eu me perguntava se estava sendo mesquinha, mas
realmente doía ver minha melhor amiga de toda a vida se distanciando
cada vez mais de mim.
Uma batida forte no escritório de Aiden na porta ao lado me tirou dos
meus pensamentos e Josh pulou da cadeira.
— Estamos sob ataque? — ele deixou escapar, rasgando sua camisa,
pronto para se transformar.
Os sons inconfundíveis de gemidos e grunhidos começaram a sangrar
pela parede como se ela fosse feita de papel.
Meu queixo caiu. — Espere um segundo... eles estão?
— Aiden.
— Ai, Aiden.
— Isso. Isso. Isso.
— AIDEN.
— Josh, temos que superá-los, — gritei.
Ok, talvez eu fosse um pouco passivo-agressiva às vezes.
Empurrei Josh contra a parede e baixei suas calças. Ainda bem que ele
estava literalmente sempre pronto para agir.
Eu agarrei seu rosto e olhei profundamente em seus olhos.
— Eu quero que você me faça uivar, porra.
— Pode deixar, — disse ele, rasgando minha camisa para que meus
seios se espalhassem em seu rosto. Comecei a gemer o mais alto que
pude, bem contra a parede que dividia os escritórios de Josh e Aiden.
— Michelle, ainda nem estou dentro de você, — disse Josh, confuso.
— Bem, então se apresse, — eu gritei impaciente.
Sério que ele não estava entendendo o que estávamos fazendo?
Graças a deus ele era lindo.
Eu cravei minhas unhas no abdômen de Josh enquanto ele metia e a
gente gemia loucamente.
Foi alucinante.
Quem diria que a foda competitiva induzida pela Bruma seria tão
boa?
Saí do escritório de Josh, ofegando bastante, no momento exato em
que Sienna saiu do de Aiden.
— Ótimo, — eu murmurei baixinho.
— Ah, Michelle... oi, — Sienna gaguejou.
Nós duas nos olhamos de cima a baixo, ficando vermelhas. Estávamos
completamente bagunçadas — cabelos amassados, roupas rasgadas,
ambas sem fôlego.
Percebi que minha calcinha estava pendurada no bolso da jaqueta e
tentei escondê-la discretamente.
Sienna ajustou a alça do sutiã que estava exposta por causa de vários
botões faltando em sua blusa.
Antes que eu percebesse, Sienna caiu na gargalhada e eu fiz o mesmo.
— Isso é estranho pra caralho. — Eu estava chorando de rir.
— Não, é por isso que você é minha melhor amiga, — respondeu
Sienna.
Aquelas palavras me tocaram.
Talvez Josh estivesse certo. Era só eu falar com ela.
— Ei, e se a gente fosse...
O telefone de Sienna tocou e ela o puxou, deixando escapar um
suspiro pesado.
— Si, o que foi? — Eu perguntei, estendendo a mão para tocar seu
ombro, mas ela se afastou.
— Desculpe, não é nada. Apenas uma coisa com um cliente. Só estou
sendo dramática — disse Sienna, se atrapalhando para puxar as chaves da
bolsa. — Eu tenho que ir para a galeria.
Algo estava claramente errado.
Sem nem mesmo se despedir, Sienna entrou no elevador, os olhos
grudados no telefone.
Eu olhei para a escada ao lado.
Eu estava cansada de segredos.
Eu iria descobrir o que estava acontecendo, quer Sienna quisesse
confiar em mim ou não.

Konstantin: Sienna, você pensou no que eu disse?

Konstantin: Você estava tão perto de fazer uma descoberta.

Konstantin: Não quero que você jogue fora todo o seu


progresso.

Sienna: Acho que não posso continuar com


nossas sessões

Sienna: Não é saudável para mim

Sienna: Tem que haver outra maneira

Konstantin: Enfrentar seus medos é a única maneira.


Konstantin: Você não pode continuar correndo deles.

Konstantin: Prometo que se você voltar...

Konstantin: Farei tudo ao meu alcance para ajudá-la a encontrar


as respostas de que precisa.

Sienna: Não sei se sou forte o suficiente...

Konstantin: Você é.

Konstantin: Confie em mim.

Sienna: Ok...

Sienna: Vou tentar de novo. Mais uma vez.

Konstantin: Isso é tudo que você precisa

Josh
Bati na porta de Aiden e entrei em seu escritório. Tudo que estava em
cima de sua mesa estava espalhado pelo chão, e o almíscar do sexo
pairava no ar.
Ele ainda não tinha vestido a camisa e a gravata estava frouxa no
pescoço.
Pelo menos ele estará de bom humor. Ele acabou de transar.
— Ei, podemos conversar? — Eu perguntei hesitante.
Esses momentos com Aiden sempre foram estranhos. Eu não sabia se
deveria cumprimentá-lo ou me curvar e chamá-lo de meu alfa.
Minha amizade com Aiden começou muito antes de ele se tornar o
alfa da Matilha da Costa Leste, mas na casa da Matilha, a linha entre
nossa amizade e relacionamento profissional era confusa.
— Parece que nós dois tivemos tardes produtivas. — Aiden sorriu.
— Pois é, acho que sim, — eu disse, coçando minha nuca. — Na
verdade, é sobre isso que eu queria falar com você, minha produtividade.
— O quê, vai me dizer que está sobrecarregado? — Aiden riu. —
Porque parece que Michelle estava mantendo você bem ocupado.
— Você fez de Sienna seu novo beta, — eu gritei, incapaz de segurar
mais.
Aiden parecia atordoado.
Ele claramente não esperava aquela explosão.
— Isso tem a ver com a patrulha? — Aiden perguntou.
— Sim, mas não tem a ver só com a patrulha. Eu me um sinto inútil
do caralho quando venho trabalhar e vejo todas as minhas tarefas nas
mãos da Sienna.
— Josh, para falar a verdade, tenho tentado envolver Sienna na minha
vida profissional porque ela tem estado distante ultimamente. Mas ela
também tem sido um grande trunfo para a Casa da Matilha.
— Eu tenho trabalhado tanto para mostrar a você que ainda me
dedico a esta matilha e a você.
— Eu sei, Josh. E eu agradeço. Mas depois do que aconteceu com a
Sienna no festival, preciso provar que esses fanáticos estão errados e
mostrar à matilha o quanto Sienna pode brilhar quando tem a
oportunidade.
Ele suspirou profundamente e recostou-se na cadeira da
escrivaninha.
— Com Sienna, estou começando a ver um novo caminho para nossa
Matilha que eu nunca teria visto por conta própria.
— Claro, mas onde me encaixo nessa visão do futuro? — Eu
perguntei.
Houve um silêncio tenso entre nós.
Não importa se Aiden me perdoou ou não, as coisas estavam
diferentes agora. E isso era difícil de aceitar.
Michelle

Todas aquelas corridas com Aiden devem ter trabalhado bastante as


pernas da Sienna, porque as minhas estavam pegando fogo tentando
acompanhar aquela garota.
Minha melhor amiga definitivamente estava guardando segredos. Ela
não apenas não foi à galeria, mas chamou um táxi em vez de usar o
motorista de Aiden.
E de repente eu estava assistindo Sienna entrar no hotel mais caro da
cidade, tentando passar despercebida.
Graças a deus essa perseguição finalmente acabou, porque eu não fui
feita para essa merda.
Eu me agachei atrás de uma cadeira no saguão enquanto a observava
entrar no elevador. Eu queria ter visto pelo menos para que andar essa
vadia sorrateira estava indo.
— Que merda, — eu murmurei para mim mesma quando a luz parou
na cobertura.
Por que diabos ela estava encontrando alguém em um hotel, a
menos...
Sienna
Mal pude conter minha ansiedade enquanto esperava o elevador do hotel
de Konstantin. Eu finalmente obteria as respostas que estava procurando.
Fechei meus olhos e respirei fundo.
Eu finalmente saberia de onde vim.
De quem eu vim.
E eu poderia perguntar na cara deles por que eles me abandonaram...
Mesmo que fosse doloroso, eu precisava saber...
Porque eu não era boa o suficiente.
Capítulo 23
A ÓPERA
Aiden

Faltando apenas alguns dias para o Baile de Inverno, eu estava preso


trabalhando até tarde no escritório novamente.
Meu único consolo foi que não teríamos nenhum convidado surpresa
este ano. O Alfa do Milênio ficaria na Costa Oeste para as festividades
deste ano.
Sienna me mandou uma mensagem dizendo que estava indo para
uma sessão de terapia e depois indo para a galeria, o que pelo menos me
fez sentir menos culpado, mas eu não queria que essa fosse a nossa vida
— ambos trabalhando até tarde em lados opostos da cidade.
Eu não conseguia parar de pensar no que Josh havia me dito. Foi
chocante ver meu amigo, que sempre estava tranquilo, tão chateado e,
embora eu não quisesse admitir, muito do que ele disse fazia sentido.
Havia uma energia ruim no ar. Ela estava presente nas últimas
semanas.
Não era algo que eu pudesse cheirar ou ver, mas podia sentir em meus
ossos.
E estava afetando todos com quem eu me importava.
Talvez o Baile de Inverno fosse a coisa certa para tirar todo mundo
desse clima. Ou talvez acabasse sendo um desastre ainda maior do que o
do ano passado.
Pelo menos uma coisa era certa: Sienna estaria linda.
Peguei uma caixa de vestido debaixo da minha mesa. Selene projetou
isso exclusivamente para a estreia de Sienna no Baile de Inverno como
minha companheira.
Eu não sabia absolutamente nada sobre vestidos, mas Selene tinha me
garantido que ela adoraria.
Quando apaguei as luzes do meu escritório, lembrei-me de que
Sienna tinha saído correndo. É melhor eu verificar se ela deixou alguma
coisa para trás.

— Preciso de mais tempo.


Ao me aproximar do escritório de Sienna, percebi que a porta estava
entreaberta, apesar das luzes terem sido apagadas.
Havia alguém lá dentro, conversando, mas eu só conseguia ouvir uma
voz, e não era a de Sienna.
Eu preparei minhas garras e rastejei silenciosamente até a borda da
porta para ouvir.
— Isso não fazia parte do acordo... Faça seu próprio trabalho sujo...
Por favor, deve haver outra maneira... eu entendo.
O que era aquela baboseira? Era hora de acabar com aquilo.
Eu irrompi pela porta e encontrei Nina parada no meio da sala,
sozinha.
Ela se virou para olhar para mim, assustada.
— O que diabos você está fazendo no escritório da minha
companheira, loba ômega? — Eu rosnei.
— E-eu deve ter sido meu sonambulismo, — ela balbuciou.
— Com quem você estava falando? Quem mais está aqui? — Eu
cheirei o ar, mas o único cheiro na sala era o de Nina.
— Juro, não sei como vim parar aqui, — disse ela, começando a
tremer.
— Mentira, — eu cuspi, circulando-a. — Você é uma ladra. Então, o
que você veio roubar aqui?
— Cometi erros na minha vida, mas não sou assim, — disse ela,
chorando.
Eu não acredito nessas lágrimas de crocodilo nem por um segundo.
— De qual matilha você foi exilada? — Eu investiguei.
— A matilha da Colômbia, — ela divulgou. — Você não faz ideia...
você não sabe como era lá. Eu só roubei para me manter viva.
Eu duvidava que fosse uma coincidência ela ter escolhido uma das
matilhas mais distantes e remotas possíveis. Levaria uma semana para
verificar sua história.
— Volte para seus aposentos, — eu rosnei. — Mas não se acostume.
Você não vai ficar aqui por muito mais tempo.
Enquanto ela mancava para fora do escritório de Sienna, ela se virou
para mim. — Lamento ser um inconveniente, meu alfa.
— Eu não sou seu alfa, — eu cuspi. — Você pode ter enganado
Jocelyn, mas sei quem você é de verdade.
Sienna

Mais uma vez, encontrei-me sentada em frente a Konstantin enquanto


ele olhava através de mim, embora eu tivesse jurado nunca mais voltar
aqui.
Ele conhecia meus medos mais profundos.
Meus maiores arrependimentos.
Meus desejos mais profundos.
Eu estava em desvantagem naquele jogo e nunca estive tão vulnerável
quanto ficava em suas sessões, mas se o que ele havia me dito fosse
verdade, eu finalmente descobriria quem eram meus pais.
— Você está pronta para entrar em suas memórias? — ele perguntou.
— Não, mas vamos fazer isso antes que eu mude de ideia, — eu disse,
suspirando. — Se eu der a você acesso às minhas memórias, esta será a
última vez.
— Sim, eu posso te prometer isso. Eu sei como isso deve ser cansativo
para você.
Konstantin se inclinou e segurou minhas mãos. — Tudo bem, vamos
descobrir a verdade...
Comecei a perder a consciência.
—... juntos.
Uma casa de ópera italiana desta vez — um teatro do tamanho do
Coliseu.
Eu estava em um camarote olhando o espetáculo no palco. Um caçador,
em uma paisagem de inverno, estava de pé ao lado de seu prêmio, berrando
uma enxurrada de palavras melódicas que eu não entendia.
O simbolismo, entretanto, era dolorosamente claro — o prêmio daquele
caçador?
Um lobo morto, sangrando de lado.
Meu cérebro não era sutil.
Senti meu lobo interior queimando dentro de mim. Isso me salvou da
última vez que me perdi em minha própria cabeça; talvez me protegesse desta
vez também.
Usei meu mini binóculo para examinar a multidão, procurando por
Aiden. Eu o localizei na primeira fila. Ele estava indo para os bastidores.
Eu levantei meu vestido de baile magnífico e desci correndo as escadas
enquanto ele se arrastava atrás de mim.
Quanto mais perto eu chegava do palco, mais começava a sentir a
Bruma.
Força, Sienna. Lembre-se, isso não é real.
Enquanto eu tentava me convencer de que era apenas minha imaginação,
o prazer avassalador que crescia em meu sexo me dizia o contrário.
Eu preciso ser tocada agora.
Atrás do palco, passei por fileiras de figurinos e adereços detalhados, em
busca de Aiden. Ele apareceu por trás de uma cortina, usando uma máscara
meia face dourada.
— Sua mente sempre traz você para mim. Toda vez, — ele disse
suavemente. — Você sabe o que você quer, o que tem que ser feito.
Aiden estalou os dedos e a cortina de veludo gigante caiu, deixando-nos
expostos no palco na frente de milhares de pessoas.
Os atores haviam sumido; éramos apenas nós.
Meu lobo interior tentou uivar, como se quisesse me avisar de algo, mas a
orquestra começou a tocar e meu lobo foi afogado.
Aiden estendeu a mão e nós dois começamos a dançar quando a neve caiu
do teto e cobriu o palco.
Eu estava em transe, sem controle do meu próprio corpo, mas parecia
uma adorável canção de ninar. Eu não queria que acabasse.
Antes que eu soubesse o que estava acontecendo...
Nós nos beijamos.
Sob as luzes.
Na neve.
Com milhares de olhos em nós.
Era mágico.
— Você é realmente linda, Sienna. Agora, deixe-me entrar nessa bela
mente.
Aiden me deitou suavemente em algumas peles escuras no meio do palco.
Corri meus dedos por sua maciez enquanto ele estava em cima de mim.
— Isso é real? — Eu perguntei, mergulhando mais fundo no meu
subconsciente. — Parece um sonho.
— Sim, minha querida, é apenas um sonho, — Aiden persuadiu,
desabotoando as calças e rastejando em cima de mim.
Ele começou a beijar meu pescoço, mas isso estava errado.
— Deixe-me entrar.
Eu não queria.
Ele não se parecia com Aiden. Seu toque era estranho.
Esses não poderiam ser meus desejos com ou sem Bruma.
Eu virei minha cabeça para evitar seus beijos e...
Ai, meu deus.
Gritei a plenos pulmões.
Eu estava deitada sobre a pele de um lobo.
O lobo de Aiden.
Sua língua estava pendurada grotescamente para fora de sua boca, e seus
olhos mortos me encararam com o vazio.
Quando me virei para Aiden, meu sangue gelou.
Meu coração afundou profundamente no buraco negro sem fim em que
meu estômago se tornou.
Porque não era mais Aiden deitado em cima de mim...
Era Konstantin.
Suas presas estavam estendidas e ele estava se movendo em direção ao
meu pescoço.
— Dê-me o que eu quero, — disse ele nervoso e irritado.
Eu lutei embaixo dele, mas ele me prendeu.
— Pare com isso! — Eu gritei. — Por que você está fazendo isso?
— Apenas me deixe entrar! — ele gritou. — E tudo isso vai acabar.
— Saia de perto de mim, — gritei.
Mudei e saltei sobre Konstantin, afundando meus dentes em seu ombro.
Enquanto ele gritava, não fomos apenas arrancados do chão. Fomos
jogados no que parecia um furacão.
Eu rompi nossa conexão.

Assim que recuperei a consciência, puxei minhas garras e passei-as pela


pele de Konstantin.
— Desgraçada, meu rosto! — ele gritou.
Eu deveria ter mirado mais baixo entre suas pernas.
— Esse tempo todo era você, — eu disse com minha voz tremendo. —
Minha mente nunca criou Aiden como meu guia. Sempre foi você.
Nunca senti uma traição tão profunda e condenatória.
Minha cabeça estava girando. Tive vontade de vomitar.
— Você estava apenas me usando, — eu disse.
Konstantin deu um passo em minha direção e eu imediatamente
recuei.
— Por quê? — Eu perguntei enquanto meus olhos se enchiam de
lágrimas.
— Porque você tem algo que eu quero, — respondeu ele. — Bem no
fundo de sua mente.
Sua voz e comportamento mudaram completamente, e eu sabia que
não estava segura aqui.
Corri para o elevador enquanto ele tentava me seguir.
— Você não sabe o que está fazendo.
— Isso é porque você está mexendo com a minha cabeça, me
manipulando, — eu gritei, quase me transformando.
As costuras do meu vestido começaram a estourar.
Enquanto Konstantin caminhava em minha direção, soltei um rugido
tão poderoso que o desequilibrou.
Como diabos eu fiz isso? Eu nunca tinha visto nem mesmo Aiden
derrubar alguém antes.
— Nunca mais chegue perto de mim de novo, — eu disse, com
lágrimas escorrendo pelo rosto.
Assim que a porta do elevador estava para fechar, vi o rosto
normalmente bonito de Konstantin se contorcer em uma carranca feia,
cheia de ódio.
Michelle

Finalmente, lá está ela!


Eu estava prestes a adormecer esperando para emboscar Sienna no
hotel, mas pulei quando a vi correndo para fora do elevador.
Espere, por que ela está correndo?
E... ela está chorando?
Ela passou correndo, sem nem mesmo me notar...
Um homem bonito e de aparência distinta saiu correndo de um
elevador imediatamente depois, limpando o sangue da boca e olhando ao
redor do saguão com uma raiva selvagem nos olhos.
Que porra é essa?
Não era difícil de somar dois e dois.
Eu não me importava com os problemas que estava tendo com
Sienna. Este homem tinha feito algo à minha melhor amiga e ele iria se
arrepender.
Eu marchei até o homem, as garras em punho, pronto para uma luta.
Ele me olhou de cima a baixo com um sorriso sedutor. — Quem é
você?
— Que merda você fez com Sienna? — Eu rosnei.
— Por quê você se importa? — ele perguntou, divertido.
— Ela é minha melhor amiga, idiota. Agora me diga por que você a fez
chorar, ou você é quem vai chorar.
Ele sorriu calmamente e cravou as unhas no meu ombro, dando-me
um olhar hipnotizante.
— Por que eu não mostro a você?
Capítulo 24
YULETIDE
Sienna

— Sienna, aqui!
— Não, aqui, Sra. Norwood!
— Esse vestido é lindo. Quem o desenhou?
— Dê-nos um sorriso!
Um sorriso.
O tapete vermelho se estendeu na minha frente, parecendo que
continuava por um milhão de quilômetros.
Flashes ofuscantes, perguntas invasivas, observadores cobiçando.
Eu poderia lidar com tudo isso.
Sorrir parecia impossível agora.
O que aconteceu com Konstantin estava me consumindo por dentro,
sua presença ainda persistia em minha mente.
Ele estava me usando.
Por quê, eu não tinha certeza, mas ele era poderoso e tinha exercido
algum nível de controle sobre mim que eu nem tinha percebido.
Eu precisava contar a Aiden o que tinha acontecido, mas o Baile de
Inverno não era o lugar. Ou talvez fosse e eu estava com muito medo de
reviver aquilo...
Aiden apertou minha mão. — Sienna, você está bem? Eu sei que isso é
um pouco demais, mas estaremos lá dentro antes que você perceba.
— Não, está tudo bem — você está certo, — eu disse, forçando um
sorriso. — Vamos.
Eu praticamente puxei Aiden ao longo do tapete vermelho, parando o
mínimo de vezes possível. Talvez se apenas entrássemos, tudo seria...
Dez vezes pior.
Quando entramos no Casa da Matilha no topo da escada, todos
pararam o que estavam fazendo e olharam para nós.
Todos.
Eu vi minha mãe puxando a manga do meu pai e apontando para
mim e Aiden, parecendo que ela estava prestes a ter um derrame de
emoção ao ver sua filha fazer sua grande entrada no Baile de Inverno.
Selene sorriu para mim. Eu esperava estar fazendo justiça ao vestido
dela. Honestamente, foi a peça de roupa mais elegante que eu já vi.
Um vestido decotado, longo com lantejoulas douradas, que deve ter
levado semanas para ser feito. Ela até fez para Aiden uma gravata
dourada combinando.
Você realmente deveria ter passado mais tempo no tapete vermelho. Por
que você é tão egoísta, Sienna? Apenas pensando em si mesma.
Meu olhar começou a disparar para frente e para trás entre Mia, Erica,
Josh e Michelle. Eu senti como se todos eles pudessem ler minha mente,
como se conhecessem meus segredos.
Do jeito que Konstantin fez.
Aguenta firme, Sienna.
Eu joguei minha cabeça para o alto e acenei para a multidão,
segurando a mão de Aiden com força com a minha outra mão enquanto
descíamos a escada.
Eu sabia que poderia superar isso com ele ao meu lado.
Ele só está ao seu lado porque não sabe a verdade.
Que pensamentos horríveis que continuavam rastejando em minha
cabeça? Minha ansiedade estava gritando.
Quando chegamos ao fim da escada, a multidão voltou a tagarelar. Eu
tinha que contar a Aiden sobre Konstantin antes de explodir.
— Aiden, eu tenho algo para contar.
— Sienna, tenho que cumprimentar todos os dignitários e resolver
alguns assuntos antes do banquete. Você ficará bem por conta própria
por um tempo?
— Claro, — eu disse, tentando sorrir. — Vou encontrar minha família.
Enquanto ele se afastava, a voz voltou:
Veja, ele não consegue nem ficar perto de você. Ele odeia a maneira como
você tira toda a diversão e festividade da festa com o seu desespero.
— Pare... pare de me atormentar, — eu murmurei, segurando minhas
mãos na minha cabeça.
Quando me virei, Michelle estava parada a poucos centímetros de
mim e quase gritei.
— Ai, meu Deus, Michelle, você me assustou. Mas estou muito feliz
em ver você, — eu disse, aliviada. — Estou quase enlouquecendo.
— Sienna, você esta uma maravilha, — disse Michelle, acariciando
meu cabelo. — E esse vestido - ouro puro.
— Selene que fez. Ela provavelmente faria algo para você se...
— Sua irmã sabe que você é uma vagabunda? — Michelle perguntou
abruptamente com um sorriso meio estranho.
— Como é? — Eu disse, recuando.
— E quanto ao Aiden? Ele sabe onde você tem passado as noites?
— Michelle, não sei o que você viu, mas posso explicar. Na verdade,
eu preciso contar para alguém.
— Me poupe, Sienna. Eu sei quem você realmente é. Seus segredos
não permanecerão assim por muito tempo. Em breve, todos conhecerão
sua verdadeira natureza, — disse ela.
Estreitando os olhos, ela apontou para a festa lotada cheia de minha
família e amigos.
Por que ela estava sendo tão cruel? Aquilo não parecia ser minha
melhor amiga de forma alguma.
A sala começou a parecer que estava se fechando sobre mim.
Todo mundo se tornou um borrão de lágrimas.
Eu não poderia estar ali. Eu não aguentaria.
Então eu corri.
É o que você faz de melhor.
Jocelyn
Tentei conter minha risada quando Nina me empurrou para a biblioteca
e nosso champanhe espirrou no chão.
— Nina, tenha cuidado. Este é um tapete persa. Você sabe como são
caros? — Eu disse, rindo enquanto tentava enxugá-lo com meu vestido.
— Não sabia. Obrigado pela dica. — Nina sorriu. — Mas como vou
colocá-lo na minha bolsa antes de sair?
— Para seus dias de ladra acabaram, — eu disse, puxando-a para baixo
no tapete ao meu lado. — Você está no caminho de Deus agora.
— Hmm, definitivamente isso não é de Deus, — disse ela, puxando-
me para um beijo.
Cada vez que seus lábios tocavam os meus, parecia mágica. Eu
gostaria de poder engarrafar aquele sentimento e usá-lo como um
remédio, porque parecia tornar tudo melhor — pelo menos naquele
momento.
— Tive uma ideia, — anunciei, embriagada. — Aqui, me ajude com
isso.
Arrastei o tapete persa para perto da lareira crepitante e agarrei o
máximo de almofadas e travesseiros que pude encontrar, criando um
covil macio para desabarmos.
Nós seguramos as mãos e caímos para trás, caindo na pilha de
travesseiros em um ataque de risos.
— Obrigado por abandonar a festa comigo. — Eu sorri. — Estou meio
de saco cheio com os bailes de inverno.
— Você não tem que me agradecer. Não sou uma garota que curte
muito multidões — afinal, eu sou uma ladra.
Nós nos viramos e olhamos uma para a outra. Os olhos ômega de
Nina brilhavam com as chamas dançantes e fizeram meu coração
palpitar.
— Meus pais eram ambos ladinos, — eu disse de repente. — Eu nunca
disse isso a ninguém antes.
— É sério? — Nina perguntou, surpresa. — Por que eles foram
exilados?
— Eles eram soldados na milícia da matilha. Eles discordaram de seu
alfa, pessoas inocentes estavam sendo feridas e não podiam mais ser
cúmplices.
— Então eles escolheram ser lobos ômega. Eles passaram a vida
inteira tentando compensar os erros do passado.
— Eles parecem pessoas boas, não como eu, — disse Nina, virando-se.
— Todos cometemos erros, mas eles não nos definem. A Matilha da
Costa Leste reconheceu isso e os acolheu. Eles podem fazer o mesmo por
você.
Pressionei meu corpo contra o de Nina e a beijei novamente.
— Você não precisa mais ficar sozinha.
— Nem você, — disse ela, beijando-me apaixonadamente de volta.
Minha Bruma se acendeu com desejo e comecei a morder seus lábios
enquanto suas mãos acariciavam meus seios.
Eu montei nela e puxei meu vestido pela cabeça enquanto ela tirava o
dela.
O calor do fogo no corpo nu de Nina aqueceu sua pele, e quando
minha própria carne nua tocou a dela, desejei que nos fundíssemos em
um único ser.
Eu belisquei e chupei seus mamilos, provocando um gemido suave.
Eu estava por cima, mas não por muito tempo. Nina gostava de me
dominar...
Ela assumiu o controle, me virando, deitando-me de costas e
afastando meus joelhos.
Ela foi beijando minha barriga até chegar no meu sexo e começou a
sacudir sua língua dentro de mim com tal habilidade que
instantaneamente me deixou molhada.
Comecei a gemer alto, incapaz de me controlar. Eu torcia para que
ninguém estivesse passando lá fora, ou eles poderiam ouvir.
Nina mergulhou seus dedos dentro de mim e começou a massagear
partes do meu sexo que a maioria dos homens nem sabia que existiam.
Enquanto ela movia os dedos ritmicamente, minha Bruma explodiu e
comecei a ter um orgasmo.
— Porra! — Eu gritei em êxtase.
Naquele momento, toda a maldita festa provavelmente poderia me
ouvir.
E eu não me importava nem um pouco.
Aiden
Embora Raphael tenha perdido o evento deste ano, muitos outros alfas
notáveis estavam presentes.
Normalmente ficávamos bêbados com as melhores garrafas de uísque
e trocávamos histórias de caça a noite toda, mas este ano foi diferente.
Eu estava acasalado, e era Sienna, não esses dignitários, com quem eu
queria passar a noite.
— Aiden, seu cachorro velho, finalmente sossegou, hein? — George, o
alfa da matilha canadense, me deu um tapa nas costas. — Eu já estava
ficando preocupado com você sozinho chegando perto dos trinta.
Eu não estava com humor para aturar aquele idiota.
Notei Josh socializando com os outros betas, e uma ideia me ocorreu.
— Você me daria licença por um momento? — Eu disse,
abandonando George e correndo até Josh.
— Josh, precisamos conversar sobre as coisas que você disse no meu
escritório outro dia.
— Ah, Aiden, ouça... Eu estava errado quando disse que você fez de
Sienna seu novo beta, — Josh se desculpou.
— Não, tenho pensado muito sobre o que você disse, e você está
certo. Tenho tirado suas responsabilidades a fim de tornar Sienna mais
envolvida.
Josh parecia atordoado.
— Agora que estou acasalado, não posso viajar tanto quanto antes.
Quero que você seja meu novo embaixador — meu dignitário, que posso
enviar ao exterior em meu lugar quando surgir a oportunidade. O que
acha disso?
— Aiden, não sei o que dizer, seria uma honra, — respondeu Josh,
boquiaberto.
— Ótimo, — eu disse, apertando seu ombro. — Porque eu preciso que
você comece agora. Vá se embebedar com todos aqueles dignitários
estrangeiros em meu lugar e mantenha-os distraídos.
— Se esse é meu dever, então acho que não tenho escolha, — Josh riu.
Enquanto eu inspecionava os alfas, um deles em particular chamou
minha atenção — um homem mais velho com pele marrom e uma túnica
cerimonial amarela. Havia algo familiar sobre ele, mas eu não conseguia
identificá-lo.
— Josh, quem é aquele alfa de manto amarelo?
— Aquele é Mateo, líder da matilha Colombiana.
A matilha Colombiana.
— Josh, venha comigo, — eu disse, imediatamente marchando até
Mateo.
— Mateo, já faz algum tempo que não vejo você no Baile de Inverno,
— cumprimentei-o, esperando que não fosse óbvio que tinha esquecido
quem ele era.
— Aiden, sim, é bom ver você. E uma grande jornada para mim com
nossas Matilhas tão distantes uma da outra, — Mateo disse, apertando
minha mão.
— Eu coincidentemente tive um encontro recentemente com um
membro da sua matilha — bem, um ex-membro na verdade. Eu queria
saber se você poderia esclarecer algo para mim.
Mateo ergueu as sobrancelhas: — Um ex-membro? Um lobo ômega
então. Qual é o nome dele?
— O nome dela é Nina, uma loba. Você a exilou por roubo.
— Receio que você esteja enganado, Aiden... Ninguém com esse
nome, ou por esse crime, jamais foi exilado da matilha colombiana.
Capítulo 25
CORRENDO
Sienna

O ar gelado do inverno feria minha pele nua enquanto eu corria pela rua
com meu vestido e salto alto. Estava difícil de respirar, mas era mais fácil
do que no Baile de Inverno.
Lá, eu não conseguia respirar de jeito nenhum.
Minha mente estava me sufocando e eu precisava clarear a cabeça.
Aquelas vozes... as coisas horríveis que me disseram. Será que estavam
certas? Eu fui a causa da miséria de todos?
O que Michelle disse me assombrou mais — e a maneira como ela
disse, com aquele sorriso estampado no rosto.
Ela não era ela mesma. Não poderia ser...
Ou talvez você simplesmente não queira admitir que ela estava certa.
Você é uma vagabunda.
— PARE, — eu gritei. — Saia da minha cabeça.
As luzes da rua piscaram assustadoramente ao meu redor quando
parei e segurei minha cabeça.
Eu acabei de fazer isso acontecer?
Eu não sabia mais o que era real e o que era fantasia.
Eu estava perdendo o controle da realidade.
A neve começou a cair enquanto eu prosseguia pela rua
inquietantemente silenciosa. Aquilo era real ou era outro truque que
minha mente estava pregando em mim?
Eu me lembrei daquele pesadelo horrível na minha cabeça:
Dançando com Konstantin.
Debaixo das luzes.
Deitado sobre as peles — o lobo de Aiden.
Eu fiquei tonta. Olhei para cima e todas as luzes da rua pareciam estar
me iluminando. Eu estava de volta ao palco.
— Não, — eu disse, balançando minha cabeça. — Aquilo não era real.
Mas parecia real.
Eu precisava estar em algum lugar seguro. Em algum lugar onde eu
pudesse me esconder. Minha galeria.
Corre, Sienna.
Meus calcanhares começaram a bater na neve recém-caída.
Continue correndo.
Nina

Apenas.
Continue.
Correndo.
Não pare. Não olhe para trás.
Meus pés estavam ficando cansados. Eu poderia correr muito mais rápido
se estivesse transformada, mas não poderia fazer isso enquanto carregava um
artefato inestimável.
Merda, o corredor à minha frente estava começando a fechar. Que sorte a
minha.
Eu fui extremamente estúpida por pensar que roubar de uma divindade
seria uma tarefa fácil.
Foda-se. Eu não tinha escolha.
Me transformei em loba, arrancando minhas roupas.
Peguei minha mochila em minhas mandíbulas e corri enlouquecidamente
até a luz no fim do túnel.
Eu estava por um triz.
Pressionei minhas patas traseiras no chão e saltei pela abertura, assim que
as paredes se fecharam atrás de mim.
Eu rolei pela terra e caí em uma pilha na borda de uma floresta.
Eu me transformei em um humano e me levantei, olhando para trás, para
o templo que quase tirou minha vida.
Sorrindo, levantei meu dedo do meio para o céu e mostrei minha língua.
— Chupem, deuses. Sobrevivi para roubar ainda mais.
O ar úmido parecia pegajoso contra meu corpo nu enquanto eu olhava ao
redor, procurando por minha mochila descartada. Eu a encontrei alojada em
um arbusto próximo, enquanto o artefato captava o reflexo da luz do sol
dentro dela.
— Ai está você, — eu disse, puxando meu prêmio.
A Balança de Llinos. Ela não parecia nada demais, mas era feita de ouro
maciço. Uma balança como qualquer outra.
Ela custaria um preço alto no Covil, o maior mercado negro para
lobisomens da América do Sul.
Era um objeto sagrado, supostamente contendo algum tipo de poder
divino, mas eu não acreditava nessa besteira.
Eu acreditava no que eu podia ver. No que eu poderia gastar.
O poder do dólar todo-poderoso foi o que me manteve viva, não orações a
divindades.
Eu coloquei a balança em uma pedra e comecei a incliná-la para frente e
para trás.
— Você vai determinar meu destino? — Eu perguntei ironicamente.
— Não, criança, mas eu vou, — retumbou uma voz profunda, mas
feminina atrás de mim.
Uma figura alta, esguia e encapuzada pairou sobre mim. Embora seu
rosto estivesse obscurecido, seu corpo e características eram andróginos.
— Quem... quem diabos é você? — Eu perguntei, segurando a balança no
meu peito nu.
— Sou eu quem mantém este mundo equilibrado, você alterou esse
equilíbrio, — explicou ela.
As escamas dispararam de meus braços para a mão da mulher e fiquei
paralisada. Não importa o quanto eu tentasse, eu não conseguia me mover.
Será que era uma...
Ela colocou uma pedra em cada lado da balança. — A balança vai
determinar se você viverá ou morrerá.
Eu assisti com horror quando eles balançaram para frente e para trás, até
que finalmente o lado direito caiu.
Meu corpo descongelou e eu caí no chão. — O que... o que isso significa?
— Significa que vou lhe conceder um favor. Você vive, por enquanto.
Mas, para restaurar o equilíbrio, você permanece em dívida comigo até
que cumpra um favor em troca, — ela respondeu.
— E que tipo de favor você está sugerindo? — Eu perguntei, tremendo.
— Qualquer indulgência que atenda às minhas necessidades. Vou visitá-
la novamente quando chegar a hora, — ela disse enquanto desaparecia no ar
denso, me deixando sozinha.

— No que você está pensando? — Jocelyn perguntou, acariciando meu


rosto enquanto deitamos perto da lareira. — Parece que você está em
algum lugar longe.
— Eu estava por um minuto, mas estou de volta, — eu disse,
aconchegando-me ao lado dela. — Não há nenhum lugar que eu prefira
estar do que aqui, perto de você.
— Nina, aquele sexo foi...
— Incrível? Surpreendente? O melhor que você já experimentou? —
Eu disse, terminando a frase dela.
— Que presunçosa, — Jocelyn riu. — Eu ia dizer que... foi perfeito.
— Também achei, — eu corei. Eu nunca corei.
— Sabe qual a melhor parte de ser mulher? — Jocelyn perguntou
timidamente.
— Talvez, mas me diga mesmo assim.
— Orgasmos múltiplos, — respondeu ela. — E sabe o que mais?
Minha Bruma ainda está queimando.
— O que você está sugerindo, doutora?
Jocelyn subiu em cima de mim e me deu um beijo longo e profundo
— do tipo em que parecia que sua alma estava deixando seu corpo por
um plano superior.
Droga, como aquela garota beijava bem.
— Você está pronta para a segunda rodada? — ela perguntou, olhando
nos meus olhos.
Porra, claro que estou.
Eu peguei Jocelyn enquanto ela colocava seus braços e pernas em
volta de mim. Caímos de costas em uma estante, derrubando dezenas de
livros históricos no chão.
Comecei a dedilhar seu sexo, deixando-a ainda mais molhada
enquanto continuava a empurrá-la contra a prateleira. Jocelyn agarrou
minhas costas e engasgou de alegria.
— Ai, meu Deus. Nossa. Esta é a melhor... a melhor sensação de todas,
— ela gritou.
Tá aí algo que eles podem adicionar aos livros de história da Matilha da
Costa Leste.
Jocelyn se soltou de meus dedos e ficou de joelhos.
— É a sua vez, — disse ela, beijando meu umbigo.
Ela colocou a língua no meu sexo e começou a movê-la como se
estivesse falando a mil por hora.
Ela está recitando o maldito juramento hipocrático do curandeiro lá
embaixo?
O que quer que ela estivesse fazendo, era incrível.
— Não pare — continue, — eu disse, agarrando seu cabelo.
Jocelyn começou a brincar com seu sexo enquanto me estimulava, e
nós duas gritamos de prazer em orgasmos simultâneos.
Caímos de volta no chão, rindo e respirando pesadamente ao mesmo
tempo.
— Eu vou ter um ataque cardíaco, — Jocelyn ofegou enquanto
colocava sua calcinha de volta.
O jeito que ela me olhou com desejo enquanto eu prendia meu sutiã
de volta no lugar... Eu nunca tinha visto alguém me olhando assim antes,
como se eu fosse realmente desejada.
Ela era tão linda, e eu não a merecia. Eu me perguntei o que ela diria
se soubesse por que eu realmente estava aqui.
Talvez fosse melhor se eu apenas concluísse minha tarefa esta noite — e
desaparecesse como a covarde que sou...
Não importa o que eu fizesse, eu iria machucá-la.
— Nina, venha sentar-se comigo, — Jocelyn me persuadiu com o
sorriso mais fofo do mundo.
Sentei-me em frente a ela, e ela agarrou minhas mãos, corando em
um tom forte de vermelho.
— Eu... eu quero, porra... eu não sei como dizer isso, — ela disse,
tropeçando em suas palavras.
Espere um segundo, ela estava prestes a dizer...
Jocelyn

Meu deus, eu parecia uma idiota. Por que eu ficava tão nervosa perto
dela?
É que... eu nunca disse essas palavras a ninguém antes.
E se ela não retribuísse?
A verdade é que eu nem sabia se Nina era minha companheira. Não
tínhamos tido aquele momento de confirmação ainda — aquele
momento de certeza.
Mas, apesar disso, havia uma coisa que se tornava cada vez mais clara
para mim.
— Jocelyn..., — ela começou.
— Nina, acho que estou me apaixonando por você, — deixei escapar.
Ela estava atordoada, completamente silenciosa e imóvel.
Aí, diga alguma coisa — qualquer coisa. Isso é insuportável.
— Eu... eu, bem... — Ela trouxe seu olhar para o meu.
A última coisa que eu queria fazer era assustá-la, mas nossa conexão
era tão forte que eu sabia que ela também sentia.
Quando eu estava com Nina, era como se eu estivesse realmente viva.
Ela acendeu um fogo em meu coração, e estava queimando mais forte a
cada dia.
Ela colocou a mão sobre a minha e apertou. — Jocelyn, eu estou...
A porta da biblioteca se abriu e Aiden invadiu com Josh e um enxame
de soldados.
— Jocelyn, saia de perto dela — Aiden rosnou. — Ela não é quem diz
ser.
— Aiden, que merda você está falando? — Eu exigi. — Você não pode
simplesmente invadir aqui e...
— Ouça, Jocelyn, — Josh avisou. — Ela está mentindo para nós esse
tempo todo.
Dois soldados agarraram Nina e amarraram suas mãos atrás das
costas enquanto eu olhava com horror, incapaz de parar aquela loucura.
— Nina, o que está acontecendo? — Eu disse, engasgando.
— Sinto muito, Jocelyn. Sinto muito, — ela disse, com lágrimas
escorrendo pelo rosto.
Eles a arrastaram para fora da sala enquanto eu me sentava em nossa
pilha de travesseiros, soluçando.
Aiden olhou para mim enquanto fechava a porta, me deixando
sozinha.
Eu sempre acabo sozinha.
Capítulo 26
CAMINHOS DA MENTE
Sienna

Trancada com segurança em minha galeria, me retirei para meu estúdio


pessoal nos fundos para trabalhar em uma nova peça. Pintar sempre foi a
melhor maneira de clarear minha cabeça.
Coloquei um avental sobre o vestido para evitar respingos de tinta
nele. Selene me mataria se soubesse que eu estava a menos de quinze
metros do meu estúdio usando um de seus originais.
Com meu telefone desligado e sem janelas ao meu redor, me senti
realmente isolada do resto do mundo, e era exatamente disso que eu
precisava agora.
Todas as minhas pinturas representavam memórias felizes, não toda
aquela merda que estava passando pela minha cabeça ultimamente.
Era bom ter um lembrete de que as coisas iriam melhorar
eventualmente.
As coisas só vão piorar.
— Não, — eu disse, balançando minha cabeça. — Isso não é verdade.
Ok, eu só precisava me concentrar, sair da minha própria cabeça.
De repente, estar em uma caixa isolada com apenas meus
pensamentos para me fazer companhia parecia a pior ideia que eu
poderia ter.
Meu telefone começou a vibrar, mas era impossível. Ele estava
desligado.
Eu cautelosamente estendi a mão até ele e abri as mensagens.
Konstantin: Estou na sua cabeça, Sienna.
Konstantin: Eu gosto bastante daqui.
Konstantin: Acho que vou ficar mais um pouco...
Joguei meu telefone longe e me virei, mas ainda estava sozinha.
— Saia da minha cabeça, — gritei. — Eu não te dei permissão.
— Ah, mas você deu. Muitas vezes. E você ainda não me deu o que eu
preciso.
— Então, vou ter que tomar à força.
Eu tropecei para trás, tropeçando em algumas telas e caindo em um
balde de tinta.
Meu lindo vestido estava arruinado - manchado em um tom escuro
de vermelho.
Mas aquilo não era tinta...
É sangue!
Eu gritei enquanto tentava enxugá-lo, mas momentos depois, não
havia nada em mim.
— Você nem sabe mais o que é real.
A risada de Konstantin ecoou em minha cabeça.
— Isso tudo vai acabar se você me deixar ter o controle. Vou desbloquear
partes de você que você nem sabia que existiam.
— Nunca, — gritei. — Esta é a MINHA mente e NÃO vou dar-lhe
acesso a ela.
— Eu tentei ser bonzinho, Sienna, mas agora acabou. Você não tem
escolha.
A sala começou a girar e minhas pernas ficaram bambas.
Não, não vou deixá-lo entrar de novo.
Pense, Sienna... como você pode bloqueá-lo?
São suas memórias.
São SUAS memórias.
As pinturas. Talvez se eu me concentrasse nas memórias das minhas
pinturas, isso o forçaria entrar em minhas boas memórias - e me
manteria no controle.
Comecei a correr pelo estúdio, reunindo pinturas que representavam
os melhores momentos da minha vida e colocando-as lado a lado contra
a parede.
— Você é fraca e está sozinha. Seja qual for seu plano tolo, não
funcionará. Você apenas falhará de novo.
Dada a maneira como Konstantin começou a chiar, percebi que ele
estava ficando nervoso.
Peguei a primeira pintura, minha casa de infância, e fechei os olhos.
Meu deus, espero que funcione.
— Você quer entrar? — Eu gritei. — Então venha, porra.

Eu estava no meu antigo quarto na casa da mamãe e do papai. Eu me vi


sentada na cama chorando enquanto meu pai me confortava.
De quando é essa memória? Foi no ano passado?
— Está tudo bem, — disse papai, acariciando minhas costas. — É
perfeitamente normal sentir-se assim.
— Não, não é, — eu me ouvi dizer com raiva. — Eu sou uma dominante.
Dominantes não permitem que coisas estúpidas como essa os afetem.
Agora eu me lembrei - a noite em que Aiden me deixou sozinha na
floresta.
— Eu não acho que o que você está sentindo é estúpido, Sienna, — papai
disse. — E dominante ou não, todo mundo tem um coração.
— Sabe, quando trouxemos você para casa, eu pude perceber
imediatamente que você era especial. Você tinha essa confiança em tudo o
que fazia, mesmo quando era bebê.
— Assistindo você crescer, eu vi essa confiança se manifestar em tudo,
desde como você se comporta até a sua arte. Chorar não tira isso de você,
Sienna. Você ainda é a lobisomem mais forte que conheço.
Uma sensação de calor começou a irradiar por todo o meu corpo. Era boa
- não, não apenas boa, era poderosa. Eu nunca senti esse poder antes.
A sala se transformou em aquarelas e, à medida que ela foi sumindo, eu
me vi vagando para outro lugar.
A Casa de Aiden. O quarto em que eu estava antes de nos acasalarmos.
— Há algo entre nós. Nenhum de nós pode negar. Eu senti quando te
marquei, mas eu até senti na primeira vez que te vi, na margem do rio, —
Aiden disse, me puxando parei seu colo.
Fiquei com ciúme ao vê-la sentindo seu caloroso abraço, mas só de ver
essa memória se desenrolar me fez sentir mais poderosa.
— Você se lembra disso? — Meu eu da memória perguntou, um pouco
incrédulo.
— Claro que sim, — Aiden disse calmamente. — Eu senti seu poder desde
então. Seu cheiro irradiava uma força e sensualidade que eu não pude resistir.
— Eu não irradiei nenhuma força esta noite. Eu estava fraca.
— Pare. O que eu disse um minuto atrás... eu estava errado. Deixe-me te
contar algo. Seu cheiro me atingiu no momento em que entrei naquele jantar
Não é algo que acontece na forma humana, então você me desequilibrou.
— A Bruma me atingiu, e eu tive que segui-la, para descobrir mais sobre
você, apenas para estar em sua presença.
— Eu nunca fui tão dominado por algo mais poderoso em minha vida.
Essa é a sua força, o tipo de poder que você tem sobre mim. É por isso que te
marquei.
As palavras de Aiden me atingiram como um raio e fui catapultada
através da tinta pingando que começou a formar uma nova paisagem.

Eu estava em uma clareira iluminada pela lua na floresta. Um riacho


silencioso correu por ele enquanto dois lobos lutavam um com o outro de
brincadeira.
Ai meu Deus, isso foi...
Nossa primeira corrida.
Eu assisti quando Aiden soltou um uivo visceral e afundou seus dentes no
ombro do meu lobo, bem onde minha marca estaria em forma humana - o
ato final de uma corrida entre parceiros em potencial.
Lembrei-me daquela noite como se fosse ontem. Cada detalhe.
Foi a noite mais íntima e intensa de toda a minha vida.
Eu assisti enquanto Aiden e eu nos transformamos e entramos na água
para lavar um ao outro. Aquele momento foi perfeito.
O mesmo sentimento que eu tinha em meu coração então... eu sentia
agora.
O momento em que me apaixonei por Aiden pela primeira vez.

De repente, eu estava de volta à galeria.


Acabou?
Onde estava Konstantin?
As paredes - estavam todas vazias. As telas tinham sumido.
Não, deveria ser outra memória.
Um sino tocou quando a porta da galeria se abriu e eu me observei
entrando no espaço vazio com Aiden.
— Aiden Norwood, o que estamos fazendo aqui?
— Sienna Mercer-Norwood, achei que você gostaria de ver sua nova
galeria.
Eu me vi gritar de alegria e começar a correr pela galeria, me
atravessando eventualmente.
— Feliz aniversário de uma semana, Sienna. — Aiden sorriu.
— Eu não posso acreditar que você fez isso... por mim, — eu disse.
— Eu faria qualquer coisa por você.
Eu murmurei as palavras junto com ele, e meu coração se encheu de poder
Foi como se eu tivesse desbloqueado algo profundo dentro de mim.
Eu estava de repente em outro espaço, algum tipo de laboratório, e
Konstantin também, mas ele estava vestido de forma diferente - e agindo
como se eu não estivesse lá.
Isso era outra memória? Havia algo diferente das outras.
Uma porta se abriu e uma mulher entrou na sala, cumprimentando
Konstantin.
— Quase deciframos as runas. Então vamos entender. Saberemos como
aproveitar o poder.
— Isso é motivo para comemorar, Vanessa. — A boca de Konstantin se
curvou em um sorriso.
Soltei um grito quando me virei para olhar para a mulher, mas ninguém
teria ouvido de qualquer maneira.
Por um momento, pensei que estava olhando para mim mesma. Aquela
mulher tinha cabelo vermelho-fogo, assim como o meu, e os mesmos olhos
intensos. Com a maneira como ela se movia pela sala, eu tinha certeza que
ela era uma dominante como eu também.
Seus olhos não eram mais ferozes. Eles estavam cheios de tristeza.
De repente, ocorreu-me - esta mulher... será que era minha...
— Mãe? — Eu gritei para o ar vazio.
— O que estamos fazendo... é uma blasfêmia. As divindades vão
destruir a todos nós se não abandonarmos essa loucura, — disse ela.
Minha mãe caminhou direto em minha direção, e eu vacilei quando ela
passou por mim como se eu fosse um fantasma.
Quando me virei, ela estava balançando algo na frente dela. Enquanto
me movia para olhar mais de perto, eu engasguei.
Era um bebê, em um berço.
Era eu.
Esta ERA minha memória.
— Vanessa, as divindades não podem nos tocar se tivermos sucesso, —
Konstantin rebateu, esgueirando-se ao redor dela como uma cobra. —
Teremos tanto poder quanto eles.
— Não vou arriscar a vida da minha filha, — afirmou ela. — Nenhuma
quantidade de poder vale a vida dela.
Fui até minha mãe, um reflexo meu, e tentei segurar sua mão, para
confortá-la, mas simplesmente passei por ela novamente.
— O seu companheiro - o pai dela - tem algo a dizer sobre isso?
— Konstantin... ele não é o pai, — disse ela, sufocando as lágrimas.
— Então... quem? Quem é? — ele perguntou, horrorizado.
— O pai dela é... Rowan.
A reação de Konstantin foi extrema. Ele derrubou uma prateleira de
frascos de vidro no chão quando quase caiu.
— Não, eu nunca vou deixar ela se envolver nisso. — Ela olhou feio. —
Nunca.
Eu estava de volta ao meu estúdio - de verdade dessa vez. Todas as
pinturas que reuni ainda estavam encostadas na parede.
Que porra foi essa?
Eu finalmente fui capaz de alcançar as memórias que eu estava
suprimindo?
Uma coisa era certa - Konstantin conhecia minha mãe. Ele estava
mentindo para mim desde que me conheceu.
Eles estavam trabalhando juntos em algo, mas ela não queria
continuar.
Ela queria me proteger.
Mas de quem?
Meu pai?
Quem era Rowan?
Aproximei-me de uma pintura caída no chão e coloquei-a sobre um
cavalete.
Quando eu pintei isso? Quando eu estava em minhas memórias?
Era o retrato de uma linda mulher com cabelo vermelho-fogo caindo
sobre os ombros - minha mãe biológica.
Fechei meus olhos mais uma vez e ouvi sua voz.
— Não vou arriscar a vida da minha filha, — afirmou ela. — Nenhuma
quantidade de poder vale a vida dela.
Abri meus olhos e senti como se eles estivessem brilhando. Eu estava
irradiando um nível de poder que nunca senti antes.
Eu não sabia o que era, mas não era comum para um lobisomem. Eu
tinha certeza disso.
Quando voltei meu olhar para o retrato de minha mãe, seu rosto
começou a derreter. As tintas a óleo que usei estavam pingando no chão
em uma poça e, à medida que sua carne derretia, seu rosto foi substituído
por um esqueleto apodrecido.
A risada de Konstantin começou a ecoar em minha cabeça
novamente.
— Essa viagem por suas memórias deveriam me enfraquecer de alguma
forma? Ou você só queria me mostrar momentos patéticos de sua curta vida?
— Honestamente, Konstantin... aquilo não foi para você.
Eu convoquei todo o poder que pude reunir - toda a força que eu
obtive das pessoas que acreditaram em mim, me protegeram, me
amaram - e eu o libertei como um ciclone.
Minhas pinturas voaram ao redor da sala quando senti a presença de
Konstantin finalmente deixar meu corpo.
Eu o vomitei em uma tela em uma pilha de lama preta.
— Você acha que ganhou? Vou voltar e tornar as coisas ainda mais
difíceis. E não apenas parei você - parei seus amigos e familiares também. Vou
fazê-los sofrer.
— SAIA! — Um vento soprou pela minha galeria devastada e, depois
de um momento, só havia silêncio.
Minha mente parecia ter sido purgada de um veneno.
Eu desabei no chão, significativamente mais leve, mas ainda
sobrecarregada por uma sombra escura.
Konstantin finalmente se foi...
Mas por quanto tempo?
Capítulo 27
MARIONETISTAS
Nina

— Esse é seu melhor, bonitão? Tem medo de me bater com mais força e
quebrar uma garra?
TOMA!
Merda.
Ok, essa realmente doeu.
Não achei que o beta tivesse coragem.
O sangue escorria pelo meu queixo enquanto eu olhava para Josh.
Aiden estava atrás dele, encostado na parede, deixando sua cadela fazer o
trabalho sujo.
— Quando você vai pular no ringue, Alfa? Não quer sujar as mãos? —
Eu cuspi.
— Por que você não me desamarra e a gente cai no mano a mano.
Uma luta real - não essa besteira de tortura no porão. Alfa versus ômega.
Eu sabia que não deveria provocá-lo - eu era tecnicamente o inimigo,
afinal - mas não pude evitar. Falar demais fazia parte da minha natureza.
Aiden sorriu como um idiota arrogante.
Ele começou a me circundar com as mãos atrás das costas,
perfeitamente composto. Ele estava no controle e sabia disso.
— Você não vai querer deixar isso chegar ao ponto em que eu entre
no ringue, — Aiden desafiou. — Seria uma luta mortal.
Eu me perguntei se esse alfa já havia matado alguém que o cruzou
antes. Sinceramente, eu não queria descobrir.
— Qual era o seu objetivo aqui? — Josh interrompeu. — Por que você
estava manipulando Jocelyn?
— Eu não estava...
Porra, não dê a eles nenhuma informação.
— Jocelyn não teve nada a ver com isso, ok? Ela só me ofereceu uma
boa foda ao longo do caminho.
Sua mentirosa imunda. Você é a pessoa mais baixa de todas, Nina.
— Sua vadia de merda, — Josh gritou, ecoando meus próprios
pensamentos.
Ele balançou o punho para mim novamente, mas desta vez, Aiden o
bloqueou antes que ele pudesse se conectar.
— Que merda é essa? Josh gritou.
— Que merda é essa — digo eu. Desta vez, foram meus pensamentos
ecoando os de Josh.
Por que Aiden parou aquele soco?
Será que ele percebeu que eu estava mentindo sobre meus
verdadeiros sentimentos por Jocelyn?
— Por quê você está aqui? — Aiden perguntou, seu rosto pairando a
apenas alguns centímetros do meu.
— Bem, eu certamente não vim pelas acomodações, — eu disse
sarcasticamente, olhando ao redor para a cela úmida da prisão em que eu
estava algemada. — Vou dar uma estrela pra vocês no Uivo.
— Você é uma ladra, o que significa que ninguém virá atrás de você.
Ninguém se importa se você vive ou morre, — Aiden rosnou. — Então é
melhor você começar a falar, ou vai passar o resto de sua vida solitária e
miserável nesta prisão.
— Vocês servem pelo menos um café da manhã básico?
Aiden chegou perto de me bater, mas em vez disso soltou um rugido
monstruoso e socou a parede de tijolos, deixando um buraco em forma
de punho.
Certo, acho que falei cedo demais sobre entrar no ringue com ele.
Provavelmente estamos em diferentes classes de peso.
— Vamos ver se você tem vontade de conversar depois que eu te
deixar aqui embaixo por dois dias na sua própria sujeira, como a rata
fedorenta que você é, — ele rosnou.
— Parece divertido, — gritei quando ele saiu da cela.
Antes de Josh trancar a porta, ele se inclinou para trás e me encarou.
— O que você fez com Jocelyn... você é realmente desprezível. Espero
que apodreça aqui.
A porta se fechou, deixando-me isolada.
Plateia exigente. Mas ele não estava errado sobre Jocelyn.
Estava me consumindo por dentro saber que eu havia a machucado e
não havia nada que eu pudesse fazer para consertar.
— Eu elogio você por sua resiliência, Nina. Você não é do tipo que se
desestabiliza sob pressão.
Uma figura alta encapuzada emergiu das sombras.
— Ah, ótimo, é você, — eu gemi. — Se estes são os tipos de visitas
conjugais que vou receber, gostaria de revogar meus privilégios de
visitação.
— Seu trabalho ainda não está completo. Você não deve deixar de
manter nosso acordo. Se você perturbar o equilíbrio, seus grilhões aqui
não serão páreo para as correntes que prenderão sua alma na vida após a
morte, — ela respondeu sem se abalar.
Eu balancei a cabeça, cerrando meus dentes. Ela não estava me dando
escolha. Estaríamos unidas até que minha tarefa fosse concluída.
— Você tem as ferramentas necessárias para completar sua missão,
então preste atenção ao meu aviso, não falhe de novo, — ela disse,
desaparecendo no ar.
Senti algo se materializar em meu bolso.
A chave para minhas algemas.
Jocelyn

Eu sentia a dor de Nina. Mesmo que não estivéssemos acasaladas, eu a


sentia fluindo em minhas veias. Tínhamos algum tipo de conexão, um
ligação que não compartilhei com mais ninguém.
Eu também sentia sua força. Ela era uma baita sobrevivente. O que
quer que Aiden e Josh estivessem fazendo com ela lá embaixo, ela havia
lutado contra.
E o que exatamente aqueles dois idiotas teimosos estão fazendo lá
embaixo?
Eu nunca perdoaria meus ex-namorados se eles machucassem minha
namorada.
É isso que ela é?
Nossa, isso era complicado e fazia minha cabeça doer.
Eu só sabia que Nina era alguém por quem eu lutaria.
Aiden veio marchando pelo corredor e eu saí e bloqueei seu caminho.
— Aiden, que merda você fez?
— Agora não, Jocelyn, — ele rosnou.
— Agora, sim, — eu rosnei de volta. — Eu mereço uma explicação.
— Ok, você quer que eu explique para você? — Aiden disse, furioso.
— Vou te dar uma dica, Jocelyn. Você foi usada. Por quê, eu não sei,
porra, porque ela se recusa a falar. Mas ela não dá a mínima para você.
Você era apenas um alvo fácil para ela.
Lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos.
— Isso... isso não é verdade, Aiden. Você não a conhece.
— Não. Jocelyn, você não a conhece — apenas as mentiras que ela lhe
contou. Talvez se você não tivesse pensado com sua buceta, não teríamos
uma maldita espiã em nosso meio durante o evento mais importante do
ano.
Eu não conseguia parar. Comecei a soluçar descontroladamente.
Aiden estava sendo cruel, e ele sabia disso. Sempre odiei esse lado dele.
Ele parou de me atacar e pareceu genuinamente arrependido quando
viu o quão afetada eu estava.
— Jocelyn, escuta... eu não tive a intenção de ser tão duro. Não é sua
culpa.
— Vá embora, Aiden. Eu quero ficar sozinha, — eu disse bruscamente.
Enquanto caminhava pelo corredor, ele parou e se virou por um
momento.
— A loba ômega, ela nos contou muitas mentiras, mas acho que uma
delas foi quando ela disse que não se importava com você. Eu podia
sentir isso. Aquilo não era verdade.
Eu não sabia em que acreditar. Esses sentimentos ainda eram novos,
mas eu precisava ver Nina novamente e ouvir essas palavras por mim
mesma.
Aiden

Eu sabia que o Baile de Inverno seria um desastre. Sempre foi.


Eu teria que voltar e fingir que estava tudo bem — que eu não tinha
acabado de descobrir uma espiã em uma festa cheia de alfas mais
importantes do mundo.
Se alguém descobrisse, seria outro pesadelo de relações públicas para
a Matilha da Costa Leste. Sem falar no prejuízo que causaria às parcerias
estrangeiras.
Aquela loba ômega poderia ter estado aqui para assassinar qualquer
um deles.
Eu me senti horrível por partir para cima de Jocelyn daquele jeito.
Meus nervos tinham me dominado. Eu só queria que ela tivesse sido
mais cuidadosa.
Ainda assim, não importa o quanto aquela ladra desgraçada me
enfureceu, eu realmente senti que ela se importava com Jocelyn. Havia
mais sobre ela do que eu sabia, mas, por enquanto, estava feliz por ela
estar trancada em uma cela.
Enquanto eu voltava para o baile, examinei a sala em busca de Sienna.
Mais do que qualquer outra coisa, eu precisava ter certeza de que ela
estava segura.
Eu já a tinha negligenciado por muito tempo, e ela fazia parte do
conselho agora também. Ela precisava saber o que estava acontecendo.
Avistei Selene perto do bar, cuidando de sua mãe embriagada.
— Ei, meninas, viram Sienna? — Eu perguntei, certificando-me de
esconder qualquer preocupação em minha voz.
— Pensando bem, não, — respondeu Melissa. — Ela está perdendo a
chance de beber com a mãe dela.
— Selene? Alguma ideia?
— A última vez que a vi, ela estava conversando com Michelle, —
respondeu Selene, levando embora a bebida da mãe.
Antes mesmo de começar minha busca por Michelle, ela me
encontrou.
— Aiden, o alfa da noite, apenas o homem que eu preciso, — disse ela,
passeando, balançando os quadris.
Algo estava errado com Michelle esta noite e, pela maneira como Josh
estava olhando para ela, ele notou.
— Onde está Sienna? Você viu ela?
— Ah, eu a vi, sim. Eu vi a prostituta da sua companheira saindo da
cobertura de outro homem na noite passada, — Michelle disse, batendo
seus cílios.
— Michelle, que merda você disse? — Selene perguntou com raiva.
Melissa parecia branca como um fantasma.
— Você quer dizer que nenhum de vocês sabe que Sienna tem
recebido tratamento especial de seu terapeuta? — Michelle estava
saboreando cada palavra.
Essa não era a Michelle que eu conhecia.
— Amor, você está bêbada? Que merda é essa que você está dizendo?,
— Josh perguntou, estupefato.
— Melhor ter cuidado com o que vai dizer a seguir, Michelle, —
avisei.
— Qual é, Aiden, você não é um idiota. Você notou como ela estava
distante. As madrugadas na galeria. A falta de vontade de transar com
você no caso.
— Você é uma puta mentirosa — eu rosnei. — Lobisomens não
podem quebrar o vínculo de acasalamento.
Por que ela está tentando me provocar?
Michelle sorriu de uma forma que fez meu cabelo se arrepiar.
— Tem certeza? — ela perguntou em uma voz profunda que não era a
dela.
Que porra é essa...
Melissa largou a taça de champanhe e gritou quando Selene cobriu a
boca de horror.
Eu agarrei Michelle, ou quem quer que seja, e comecei a sacudi-la.
— Onde está Sienna? Fala logo!
Josh tentou me impedir, mas eu o empurrei.
— Ela está sozinha, — provocou a voz, falando através de Michelle. —
Mas não por muito tempo.
— Michelle, o que está acontecendo com você? O que é isso no seu
pescoço? — Josh perguntou, agarrando-a.
Havia dois pequenos pontos — como picadas de cobra — na lateral
do pescoço de Michelle.
Algo a marcou, e não era um lobisomem.
— Você gostou? — A boca de Michelle começou a espumar. — Talvez
Sienna faça como eu e consiga também.
Não.
Meu coração começou a bater no meu peito.
— Michelle, onde diabos está Sienna? — Eu gritei.
Seus olhos rolaram para a nuca e ela começou a ter convulsões nos
braços de Josh.
— MICHELLE! — Josh gritou.
Quem quer que tenha feito isso com Michelle, iria atrás de Sienna em
seguida.
Então, eu tenho que chegar até ela primeiro.
Capítulo 28
CORTADO
Jocelyn

O calabouço da Casa da Matilha era um resquício de outra época.


Enquanto os alfas anteriores o usavam sempre que alguém olhava de
maneira errada para eles, eu nunca tinha visto isso ser usado durante
minha vivência na Matilha da Costa Leste.
Eu vaguei pelos corredores mal iluminados, deixando nossa conexão
guiar o caminho através dos túneis sinuosos que ficavam sob a Casa.
Os sentimentos que eu tinha por Nina em meu coração ainda eram
fortes, embora minha cabeça estivesse me dizendo que tudo o que eu
sabia sobre ela era baseado em uma mentira.
Quando fiz a curva em um corredor, encontrei Nina algemada à
parede de uma cela, coberta de sujeira e sangue seco.
Passei os dedos pelas barras quando meus olhos começaram a
lacrimejar. Eu odiava vê-la nesse estado.
Eu não me importava com os motivos ocultos que ela tinha; ninguém
merecia ser tratado assim.
Ela ergueu a cabeça e sorriu fracamente ao me ver.
— Jocelyn? Pensei ter sentido você aqui embaixo, mas não acreditei.
Achei que você nunca mais iria querer me ver...
— Eu queria dar a você uma chance de me dizer como você realmente
se sente. Nina, seja honesta comigo, o que Aiden disse é verdade?
— Ele disse que eu sou uma canalha, uma causa perdida da escória da
terra? Porque se sim, então sim, é verdade.
Normalmente Nina teria dito algo assim como uma piada, mas não
havia nenhum pingo de humor em sua voz. Apenas dor.
— Estou entrando, — eu disse, destrancando a porta.
Ajoelhei-me na frente de Nina e tirei um pano e um antisséptico da
minha bolsa de suprimentos médicos.
— Deixe-me tratar este corte em seu rosto, — eu disse, enxugando
seu queixo enquanto ela estremecia. — Quem fez isto com você?
— Jocelyn, você sabe que eu não sou dedo-duro, — brincou Nina.
Nada nessa situação era engraçado, mas seria melhor mesmo eu não
saber quem tinha sido. Eu deveria tirar as pessoas do hospital, não
colocá-las nele.
— Eu imaginei que minha primeira vez usando algemas com você
seria de uma forma muito mais sexy do que essa, — disse Nina, forçando
um sorriso.
— Então, eu seria a dominante? Estou intrigada. — Coloquei minhas
mãos acima do coração de Nina. — Eu posso?
Ela acenou positivamente com a cabeça.
Fechei meus olhos e foquei minha energia. Comecei a absorver a dor
de Nina em meu corpo, e desta vez realmente funcionou.
Minhas veias ficaram pretas e meu corpo começou a doer como se
tivesse acabado de cair de um penhasco.
— Pare, já chega, — gritou Nina.
Eu caí para trás, esgotada, mas Nina parecia já estar em melhores
condições. A cor estava voltando a suas bochechas rosadas, e ela parecia
tão selvagem e linda como sempre.
— Por que foi que você fez isso?
— Porque você vai precisar de sua força... Estou te libertando.
— Jocelyn, não. Você vai ser presa por isso, — ela protestou.
Coloquei minha mão no rosto de Nina.
— Você ainda não percebeu que eu faria qualquer coisa por você? —
Eu a beijei suavemente e ela me beijou de volta.
— Eu só preciso encontrar algo para quebrar essas correntes, — eu
disse, procurando na cela.
— Na verdade... — Nina puxou uma chave do bolso.
— Espere... como? Por que você ainda esta aqui? — Eu suspirei.
— Não é óbvio? — ela perguntou. — Eu não ia sair sem te dar uma
explicação.
— Nina, eu não preciso disso, — eu disse, destravando suas algemas.
— Por favor, Jocelyn, eu tenho que te dizer.
Eu cruzei meus braços e desviei o olhar. — Certo, vá em frente.
— Primeiro, você tem que saber que meus sentimentos por você
sempre foram reais. Nunca menti sobre isso, nem por um segundo. Mas
eu sou uma espiã. Fui enviada aqui... por alguém muito poderoso, — ela
disse em um tom sério.
— Quem? Outra matilha?
— Não, não é uma matilha, mas eu não posso dizer o nome. É para
sua própria segurança. Mas Jocelyn... sua amiga, Sienna... ela atraiu o
interesse de alguém com quem não se brinca.
— Espere... Sienna? Você foi enviado aqui para espionar Sienna? — Eu
perguntei, chocada.
— Sim, eu deveria vigiá-la e... se certos eventos acontecessem, eu
deveria eliminá-la. Essas foram as minhas ordens.
— Quem iria querer machucar Sienna? Que ameaça ela poderia
representar?
— Jocelyn, prometa-me que você vai ficar longe disso. Não suportaria
ver você se machucar. Eu já te machuquei o suficiente.
Nina me puxou para seus braços e colocou sua testa contra a minha.
— Eu tenho que ir, Jocelyn. Eu nunca poderia fazer o que me pedem,
especialmente não para alguém próximo a você. Mas quando eu quebrar
meu vínculo com meu benfeitor, terei que enfrentar as consequências.
— Então eu as enfrentarei com você. Nós iremos juntas, — eu disse
com firmeza.
— Eu tenho que enfrentar isso sozinha. Mas, Jocelyn, saiba que... —
Nina ergueu meu queixo e pressionou seus lábios contra os meus com
toda sua paixão. — Você merece o mundo — e eu só queria poder dá-lo a
você.
— Não vá, Nina, — eu disse, minha voz falhando.
Ela saiu da cela com lágrimas escorrendo pelo rosto. — Isto não é um
adeus. Nós veremos novamente.
Nina era uma boa mentirosa. Mas ela não podia mentir para mim.
Ela se foi.

Quando voltei para o Baile de Inverno, enxugando minhas lágrimas, ouvi


barulho e gritos vindos do salão de baile, ressaltados por Josh gritando a
plenos pulmões.
— MICHELLE!
Que merda estava acontecendo lá?
Eu me recompus e corri para o salão de baile para encontrar o caos.
Todos os convidados estavam se dispersando enquanto Michelle — Meu
deus.
Ela estava suspensa no ar, meio deslocada, com mesas, cadeiras e
talheres flutuando em um vórtice ao seu redor.
Eu tinha lido histórias raras como essa em diários restritos de
curandeiros, mas nunca pensei que veria em toda a minha vida.
Possessão.
Corri até Josh, que estava tentando falar com ela.
— Michelle, ouça minha voz. Você pode lutar contra isso. Eu sei que
você está aí, — disse ele, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Josh, cuidado, — eu gritei, empurrando-o assim que uma mesa
voadora se chocou contra o local onde ele estava.
— Jocelyn, eu não sei o que fazer, — ele disse, desesperado.
— Eu acho que tenho uma ideia... mas você vai ter que me manter
perto.
Sienna

Eu não poderia ficar aqui. Eu não estava segura.


Konstantin sabia minha localização, e só porque eu o bani da minha
cabeça não significava que ele não viria me procurar novamente.
Eu precisava chegar até Aiden na Casa da Matilha. Ele nem tinha
ideia de que um vampiro estava em nosso meio.
Um vampiro que eu convidei.
Konstantin era uma ameaça para a matilha, e ele esteve bem na
minha frente o tempo todo.
Enquanto corria pela minha galeria, as luzes começaram a piscar.
Já era tarde demais.
Konstantin apareceu em uma nuvem de fumaça negra, bloqueando
minha saída.
— Sienna, minha querida, você estava indo embora? Acabei de chegar
aqui.
— Você está doente, eu nunca deveria ter confiado em você! — Eu
cuspi.
— De que outra forma você iria encontrar seus pais? — ele zombou.
— Eu os encontrarei sozinha. Eu não preciso de você ou de seus
poderes.
Konstantin soltou uma risada maligna e se materializou bem na
minha frente.
— Eu tenho mais um presente para você, Sienna, — disse ele, tocando
minha testa antes que eu pudesse impedi-lo.

Eu estava na floresta à noite, mas não era nenhuma floresta que eu


reconhecia.
Esta não era minha memória; era de Konstantin.
Eu ouvi galhos quebrando à distância e me preparei.
Eu tinha certeza de que Konstantin não poderia me machucar fisicamente
quando estávamos mentalmente ligados — caso contrário, ele já teria feito
isso. Mas tudo o que ele quisesse me mostrar seria projetado para me
machucar psicologicamente.
Passos. Eles estavam se aproximando.
Minha mãe irrompeu na clareira, ofegante e sem fôlego. Ela estava
fugindo de alguma coisa.
Uma nuvem familiar de fumaça negra desceu sobre a clareira, tornando
impossível ver qualquer coisa, até que se materializou em Konstantin.
Ele avançou em direção a minha mãe com uma intenção ameaçadora.
— Onde ela está? Onde está a criança, Vanessa?
— Você nunca a encontrará, Konstantin. Eu tenho certeza disso.
— Mulher tola. Você permitiu que seu amor por uma criança anulasse seu
bom senso. Poderíamos ter um poder incalculável.
— Não, Konstantin. Você deixou seu desejo de poder destruir tudo o que
havia de bom em você, se é que já houve alguma algo bom.
— Vanessa, não há necessidade de você ter o mesmo destino que seu
companheiro. Ele também não queria cooperar e você viu as consequências
disso.
— Eu mereço qualquer destino que as divindades considerem adequado
para mim depois do que fizemos. Aceito minha penitência, mas minha filha
não será um peão para você ou para eles. Ela merece uma vida normal.
Do que diabos ela estava falando? Eu estava tremendo.
Não havia nada que eu pudesse fazer a não ser assistir; Eu não conseguia
sair dali.
— Você me decepcionou, Vanessa. Você tem sangue de alfa. O poder corre
por ele. Mas se você se recusa a reconhecer isso...
Konstantin desapareceu e reapareceu atrás de minha mãe com uma
lâmina em sua garganta.
— Não, seu desgraçado! — Eu gritei.
Ela fechou os olhos, um olhar pacífico em seu rosto.
Tudo que eu podia ver era vermelho.
Nossa conexão foi interrompida e eu caí no chão.
— Tudo o que você me disse era mentira, — falei, sem fôlego.
Parecia que minha própria garganta tinha acabado de ser cortada.
— Você julgou mal minhas intenções. Eu sou o único tentando levá-la
à verdade.
Konstantin se ajoelhou e ergueu meu queixo, então fui forçada a
encontrar seu olhar. Eu estava chocada demais para lutar.
— Você não tem ideia de quem realmente é, do poder que detém.
Existem aqueles muito mais perigosos do que eu que procuram destruí-la
antes de desbloquear esse poder. Eu simplesmente quero te ajudar.
Uma fumaça negra saiu da capa de Konstantin e me envolveu.
— Deixe-me aliviá-la de seu fardo.
Capítulo 29
DESPERTA
Aiden

Se ele a machucar, eu vou...


Meu carro desviou na estrada gelada enquanto eu acelerava em
direção à galeria de Sienna.
Era o primeiro lugar para onde ela iria se precisasse de espaço.
Ela tinha que estar lá.
Mas e se eu chegasse tarde demais? E se ele tivesse controle sobre ela
como fez com Michelle?
Não, não havia como.
Sienna era forte. Ela resistiria. Ela lutaria com ele.
Mas esse poder... Eu nunca tinha visto nada parecido. Que tipo de
criatura poderia fazer isso?
Conforme me aproximei da galeria de Sienna, pude senti-la. Ela ainda
estava viva e ainda era ela mesma.
Mas também senti outra coisa.
Algo escuro.
Ele já está dentro.
Fiz uma curva fechada e a rua congelada me fez girar
descontroladamente na frente da galeria.
Eu bati em um hidrante e fui arremessado para frente, batendo
minha cabeça no para-brisa.
Quando a água jorrou do hidrante e começou a vazar pelas frestas da
janela, lutei para me manter consciente.
Tudo estava embaçado. O sangue escorria pelo meu rosto.
— Porra.
Sienna.
Chutei a porta do passageiro com tanta força que ela voou, raspando
a calçada.
Sua galeria estava cheia de algum tipo de fumaça negra que
obscurecia minha visão.
Estou indo atrás de você, filho da puta.
Eu dei um passo para trás e comecei a saltar para frente, meus
músculos rasgando minha camisa quando comecei a me mover.
Eu pulei e me transformei no ar, batendo na fachada de vidro grosso.
Um homem — não, algum tipo de demônio — pairava sobre o corpo
de Sienna. Ele se virou quando eu entrei rugindo e sibilou, revelando
suas longas e protuberantes presas.
Era um vampiro; Eu tinha certeza disso. Raphael tinha me avisado
sobre essa espécie.
Eu abri minhas mandíbulas, expondo minhas próprias presas, e uivei
com todas as minhas forças.
Eu ia mandar esse pálido filho da puta de volta para o inferno.
Jocelyn

Eu não tinha ideia se era forte o suficiente para fazer isso, mas tinha que
tentar. Eu fui capaz de absorver a dor de Nina, mas Michelle...
Ela não estava apenas com dor.
Ela estava possuída.
Os curandeiros eram resistentes à possessão — pelo menos foi o que
eu li — mas a teoria era diferente da prática.
Eu olhei para o vórtice rodopiante de móveis da Casa da Matilha que
protegia Michelle de nós chegarmos muito perto.
Selene e alguns outros ficaram presos atrás de um pódio do outro
lado da sala, sem rota de fuga.
Fiz sinal para ela correr quando dei o sinal.
— Josh, preciso que você distraia Michelle enquanto tento chegar
perto.
— Estou cuidando disso, — ele gritou, avançando em direção a ela,
usando suas garras para rasgar qualquer coisa que voasse para ele.
— O beta finalmente deu um passo à frente, — zombou o possuidor
de Michelle. — Mas será que está à altura da ocasião?
Ela ergueu os braços no ar e Josh saltou contra um lustre, quicando
como uma boneca de pano e caindo no chão.
Selene correu para a porta com seu grupo, tentando colocá-los em
segurança.
— Todo mundo corre. Não olhem para trás, — Selene gritou.
— Onde você pensa que está indo?
Selene gritou ao ser puxada para trás, deslizando pelo chão em
direção a Michelle. Eu mergulhei para frente e agarrei a mão dela.
— Jocelyn, por favor, não deixe ir, — ela chorou.
Michelle era muito poderosa. Não tínhamos chance.
Precisamos de um milagre.
Aiden

Eu agarrei o vampiro por sua capa e o joguei contra a parede, arrastando-


o pelas pinturas de Sienna e jogando-o em uma escultura.
Quando eu era capaz de agarrá-lo, eu conseguia causar algum dano
de verdade, mas ele estava tão escorregadio, desaparecendo e
reaparecendo em segundos.
Eu me lancei contra ele, e ele se dividiu em dois, me dando um olhar
presunçoso. Antes que eu pudesse decidir qual deles mutilar primeiro,
eles se transformaram em minha mãe e meu pai.
— Você é um idiota. Você não sabe fazer nada certo, — Charlotte
chiou.
— Eu gostaria que você tivesse morrido em vez de Aaron, — Daniel
sussurrou em meu ouvido enquanto ele girava ao meu redor.
Que merda! Como ele sabe tanto sobre mim?
— Sienna revelou todos os seus medos e desejos mais profundos para
mim e os seus também. — Ele riu.
Ele se multiplicou em uma dúzia de versões de si mesmo, todas rindo
em uníssono.
Este idiota era apenas um aspirante a mágico, cheio de truques
baratos. Eu não cairia em seus jogos mentais.
Peguei um balde de tinta com minhas mandíbulas e respinguei em
toda a sala em todas as suas cópias. Só ficou presa a um deles...
Eu aproveitei minha chance. Me lancei contra ele e mordi seu lado.
Jocelyn

Michelle gritou de dor, como se algo dentro dela estivesse pegando fogo.
Todos os móveis flutuantes caíram no chão, e ela própria começou a cair
em queda livre.
Josh entrou em ação e a segurou, dando uma cambalhota e
segurando-a com força.
Podemos não ter outra chance.
Eu corri em direção a Michelle. Seu corpo estava se contraindo e ela
estava tentando se livrar de Josh.
— Jocelyn, se apresse. Eu não posso segurá-la por muito mais tempo,
— Josh gritou.
— Selene, tire todo mundo daqui e tranque as portas atrás de você, —
eu ordenei.
Ela assentiu e começou a conduzir os convidados restantes até a
saída.
Eu agarrei o rosto de Michelle enquanto Josh a segurava.
— Tudo bem, garota, vamos trazê-la de volta.
Comecei a absorver o que quer que estivesse dentro de Michelle em
meu corpo. Puta merda, isso é estranho.
Minhas veias começaram a ficar pretas de novo e eu suguei toda a
escuridão até que a energia se infiltrou ao longo do meu cérebro.
Meus olhos escureceram e de repente não consegui ver nada.
Comecei a vomitar, minha fisiologia de curandeira rejeitou o
convidado indesejado.
De repente, cuspi um monte de gosma preta por todo o chão e minha
visão voltou ao normal.
Que merda.
Parecia que tinha acabado de beber um galão de alcatrão.
Michelle estava deitada pacificamente nos braços de Josh.
— Eu... acho que ele se foi.
— Jocelyn... ela não está se movendo, — Josh disse calmamente.
Eu imediatamente senti seu pulso. Ela estava...
Viva.
Graças a deus.
Viva, mas sem vida.
Tentei transferir minha energia para ela, mas seu corpo não aceitava.
A escuridão se foi, mas Michelle estava em coma e eu não tinha ideia
de como trazê-la de volta.
Aiden

O vampiro estava ferido, mas eu senti que seu poder tinha ficado ainda
mais forte. Ele não estava brincando.
— Eu tentei estar em dois lugares ao mesmo tempo. Esse foi meu
erro, mas não se engane, estou por completo aqui agora, — ele fervia.
Eu olhei para o corpo inconsciente de Sienna no meio da galeria. Eu
precisava mantê-lo longe dela a todo custo.
— Sienna.
— Sienna, você tem que acordar.
— Eu preciso de você.
Eu esperava que ela não estivesse muito longe, mas nossa conexão
permanecia estática.
O vampiro disparou em minha direção como uma flecha, me
derrubando e me fazendo derrapar no chão.
Enquanto eu tentava ficar de pé, ele investiu contra mim
repetidamente.
Minhas costelas quebraram com os golpes rápidos e eu gritei de
agonia.
Ele me deixou caído no chão e voltou sua atenção para Sienna.
Não, não o deixe chegar perto dela!
Eu mudei de volta para minha forma humana e lutei para ficar de pé,
segurando meu torso.
— Ei, idiota, se você quer mexer com a cabeça de alguém, por que não
tenta a minha? No momento, estou tendo ótimas ideias sobre como vou
rasgá-lo ao meio.
Ele se virou e zombou de mim por tentar enfrentá-lo em minha
forma humana ferida.
— Se você insiste, Alfa, vou matá-lo primeiro com prazer. Então,
posso repetir a memória de arrancar sua cabeça na mente de Sienna,
várias vezes.
Enquanto o vampiro avançava em minha direção, um lobo rosnou
atrás dele.
Sienna.
Ela o agarrou e cravou suas presas profundamente em seu ombro em
um movimento rápido.
Ele gritou quando ela puxou com toda a força e arrancou um pedaço
de seu corpo, fazendo-o evaporar no ar.
O resto dele começou a desaparecer também, e estava claro que ele
não tinha controle sobre sua desestabilização repentina.
— Não, ainda não, droga. Eu estava tão perto! — Sienna se mexeu e
correu para mim, colocando meu braço em volta do ombro dela,
ajudando-me a me equilibrar. Nós dois o encaramos enquanto ele virava
pó.
— Não vou desaparecer para sempre, Sienna. Eu sempre estarei
dentro de você. Você me convidou para entrar e eu voltarei... —
Konstantin berrou.
Seu corpo evaporou antes que ele pudesse terminar seu discurso.
Sienna me abraçou e se aninhou em meu ombro. Estremeci com as
costelas quebradas, mas não me importei.
Era tão bom abraçá-la, saber que ela estava segura em meus braços.
Sienna

Eu usava um avental de artista e um par de jeans e botas velhas de Aiden


enquanto caminhávamos para casa. Ele conseguiu salvar suas roupas
depois da transformação, mas meu vestido dourado não teve tanta sorte.
E nem o carro de Aiden.
Caminhamos em silêncio, mas eu sabia que Aiden tinha um milhão
de perguntas. Eu estava pronta para respondê-las.
Eu desenterrei tantos segredos enterrados, e agora eles estavam me
assombrando.
Havia muito para contar.
Sobre Konstantin.
Seus poderes.
Meus poderes, que eu ainda não compreendia.
Minha mãe.
Meu pai, Rowan, que ainda pode estar por aí em algum lugar.
Mas naquele momento, estava feliz por ele ter apenas segurado
minha mão e caminhado em silêncio.
Ele estava lá para me ajudar, e eu estava lá para ajudá-lo. Era assim
que sempre seria.
Eu contaria tudo a ele quando estivéssemos sãos e salvos em casa.
Ao nos aproximarmos da casa, começou a nevar novamente, mas
parecia quente demais para neve.
A luz no horizonte estava laranja e percebi que não era neve...
Era cinza.
— Aiden...
Ele correu na minha frente, sobre a ponte de paralelepípedos e por
entre as árvores.
Eu sabia o que estava prestes a ver, mas quando a casa apareceu, eu
ainda cobri minha boca em descrença.
Nosso Lar.
Aceso, um inferno furioso.
Capítulo 30
FAMÍLIA
Sienna

Depois do incêndio, nossa vida ficou um caos absoluto.


— Aiden, saia do maldito banheiro. Eu tenho que urinar! — Selene
gritou, batendo na porta. — Eu tenho um bebê inteiro pressionado
contra minha bexiga, todo dia.
— Selene, você pode por favor não gritar com meu chefe? — Jeremy
disse cautelosamente.
— Ele não é seu chefe aqui, Jeremy. Ele é família, — minha mãe disse
em um tom alegre enquanto ela passava por mim com três cargas de
roupa suja.
— Não, quando ele está no banheiro, ele é meu inimigo mortal, —
Selene amuou. — Aiden, SAIA.
Era um bom tipo de caos.
A porta do banheiro se abriu e Aiden estava parado na porta, recém-
saído do chuveiro, vestindo nada além de uma toalha, as gotas de água
ainda grudadas em seu abdômen brilhante.
Graças a Deus, a Bruma passou.
— Minha nossa senhora dos lobos, — Aiden rosnou. — Pronto. Dá
pra relaxar?
— Essa não, — murmurou Jeremy baixinho. Os olhos de Selene
saltaram tanto de sua cabeça que pareciam que também estavam
grávidos.
— Nunca. Diga a uma mulher grávida. Que está prestes a explodir.
Para relaxar, — ela quase uivou, passando por ele e batendo a porta do
banheiro atrás dela.
Aiden apenas encolheu os ombros. — Ah, Melissa, pode adicionar isso
à sua pilha, — disse ele, puxando a toalha e jogando-a no cesto que ela
carregava.
Ele caminhou pelo corredor completamente nu enquanto eu olhava,
mortificada.
Era um caos bom, sim, mas eu não via a hora de nossa casa ficar
pronta.
A casinha dos meus pais tinha ficado completamente lotada desde
que Selene e Jeremy decidiram ficar até o bebê nascer, o que aconteceria
a qualquer momento.
— Sienna, venha me ajudar com os sanduíches, — meu pai chamou
da cozinha.
Quando me juntei a ele, ele me lançou um olhar de preocupação. Ele
tem feito muito isso desde que nos mudamos.
— Como você está, querida? Está tudo bem? Estamos tornando nossa
casa confortável para você e Aiden? Porque se você precisar de alguma
coisa, apenas...
— Pai, estou bem, de verdade. Vocês têm sido incríveis, abrindo sua
casa para nós enquanto reconstruímos a nossa.
Não tinha contado à minha família tudo o que aconteceu com
Konstantin, mas eles sabiam o suficiente.
Eu deixei de fora os detalhes sobre meus pais biológicos porque sabia
que isso iria quebrar seus corações e, honestamente, ainda não estava
pronta para falar sobre isso.
Aiden, por outro lado, sabia de tudo.
Foi difícil no início reviver o que havia acontecido comigo. Eu me
senti tão violada e traída pelo que Konstantin fez.
Ele tinha me usado. Ele tentou me manipular, me destruir
mentalmente, destruir Aiden fisicamente, e ainda incendiou nossa casa
inteirinha, mas no final das contas, nosso vínculo de acasalamento era
mais forte.
Não seremos destruídos tão facilmente; ele sabia disso agora.
E ele estava lá fora em algum lugar — em um estado enfraquecido,
talvez, mas ainda escondido nas sombras. Isso fazia meu sangue gelar.
Josh havia estabelecido uma força-tarefa anti-vampiro depois de tudo
o que aconteceu.
Era uma quase obsessão para ele caçar Konstantin, mas até agora,
haviam se passado quatro semanas sem nem mesmo uma pista.
A vigilância de Josh me fez sentir mais segura, mas também triste. Ele
costumava ter muito tempo livre antes...
Enquanto eu silenciosamente cortava vegetais ao lado de meu pai,
isso me fez pensar sobre o paradeiro de meu pai biológico, seja ele quem
for. Mas apenas por um momento.
Eu sorri para meu pai e apertei sua mão. Não precisei procurar meu
pai. Ele estava bem do meu lado.
Aiden entrou na cozinha, felizmente totalmente vestido, e abriu uma
cerveja. — Quer uma, Robert?
Ele parecia mesmo estar gostando de todo esse tempo forçado em
família. E eu não poderia culpá-lo. Ele nunca tinha vivido isso.
— Eu adoraria, — disse ele, pegando a cerveja e batendo contra a de
Aiden.
— Ei, não me deixe fora disso, — eu disse, pegando minha própria
cerveja.
Selene entrou arrastando os pés com a ajuda de Jeremy e afundou na
mesa.
Mamãe trouxe uma torta de maçã da sala de jantar que fez Aiden
começar a babar.
— Resfriada recentemente no peitoril da janela, assim como minha
mãe costumava fazer, — disse Aiden.
— Aiden, coloque essa língua de lado, — eu ri. — Você não olha nem
para mim desse jeito, a menos que esteja sob efeito da Bruma.
— Todo mundo tem uma bebida?, — meu pai perguntou enquanto
levantávamos nossas garrafas no ar.
— Eu bem que queria, — suspirou Selene, segurando seu estômago.
— A que devemos brindar? — Aiden disse, olhando ao redor da sala.
Eu não sabia o que faria sem essas pessoas incríveis em minha vida.
Eles me ancoraram e me trouxeram de volta à costa quando Konstantin
tentou me afogar.
As pessoas nesta sala eram de onde vinha minha verdadeira força.
— À família. — Eu sorri.

Enquanto me arrumava para dormir, olhei para meu reflexo no pequeno


espelho que meus pais haviam comprado para mim quando era uma
garotinha. Eu me senti infantil ao usá-lo agora.
Tanta coisa mudou nos últimos dois anos.
Eu ainda não tinha me acostumado a ficar no meu quarto de infância
com Aiden também, mas ele estava totalmente fascinado por tudo isso...
Minhas pinturas em aquarela desleixadas da escola primária.
Minha extensa coleção de troféus de atletismo.
Os bichinhos de pelúcia que eu rasguei em pedaços quando era
apenas um filhote.
Eu o peguei lendo um dos meus antigos diários quando nos mudamos
pela primeira vez, e ele quase se juntou àqueles pobres brinquedos de
pelúcia em sua morte.
Mas agora, ele estava deitado na minha cama de samba-canção,
olhando para o mural de estrelas que eu pintei no teto quando tinha
quinze anos. Sua sincera expressão de admiração me fez amá-lo ainda
mais.
Eu rastejei em cima dele e dei-lhe um beijo apaixonado.
A Bruma pode ter passado, mas eu ainda tinha necessidades.
— Tem gente procurando encrenca, — ele rosnou, sorrindo e me
erguendo contra a cabeceira da cama.
— E eu sempre consigo encontrar — eu rosnei de volta, agarrando a
tenda levantada em sua cueca.
Ele me jogou na cama e não perdeu tempo em puxar minha calcinha
para baixo e espalhar minhas pernas.
A barba por fazer de Aiden esfregou contra a parte interna das minhas
coxas enquanto ele mergulhava em meu sexo com sua língua.
— Isso, vai, — eu murmurei, agarrando meus lençóis.
Aiden se sentou e empurrou minhas pernas abertas ainda mais,
batendo seu pau duro contra a minha entrada.
Ele provocou meu sexo, empurrando a ponta, em seguida, puxando
de volta.
— Mais, — eu disse sem fôlego.
— Você quem sabe — Aiden rosnou, colocando a mão levemente no
meu pescoço.
Soltei um gemido suave, que se transformou em um grito agudo
quando ele entrou em mim, alargando e acertando todos os pontos
certos.
Uma vez que ele entrou no ritmo, suas estocadas pareciam o paraíso.
Minha boceta estava prestes a explodir de prazer.
— Aiden, eu vou... porra... eu vou...
Meu abdômen se contraiu e minhas costas arquearam enquanto eu
gritava.
— Tô gozando. Caralho, tô gozando…
— ESTÁ VINDO, — minha mãe começou a gritar, batendo na porta
do meu quarto.
— O BEBÊ ESTÁ NASCENDO!!!
Apesar de minha sobrinha escolher o momento mais estranho
possível para entrar neste mundo, eu estava muito animada para
conhecê-la.
Meus pais ansiosamente agarraram as mãos um do outro enquanto
sentavam com Aiden e eu na sala de espera. Já haviam se passado duas
horas desde que Selene entrou em trabalho de parto.
— Sabia que a sala do zelador fica ali virando o corredor? — —
sussurrou Aiden, deslizando a mão pela minha perna. — Poderíamos
terminar o que começamos.
Eu dei um tapa na mão dele. Homens. Sempre pensando em foder.
Embora eu tivesse que admitir que não seria a pior maneira de matar
o tempo.
Jocelyn de repente empurrou as portas duplas de uniforme, sorrindo
de orelha a orelha.
— Quais as novidades? — Minha mãe saltou da cadeira.
— Uma menina feliz e saudável. Ela está pronta para conhecê-los
agora, — Jocelyn disse, nos levando para o quarto de Selene.
Jeremy pairava sobre sua esposa e filha com absoluta admiração e
devoção em seus olhos. Selene segurou sua linda garotinha — minha
primeira sobrinha — nos braços. Seu rosto estava molhado de lágrimas.
Eu caí no choro. Dominância que se dane. Fiquei muito feliz por ela.
Aiden agarrou minha mão. Ele quase parecia ter os olhos um pouco
embrumados. Quase.
— Qual é o nome dela? — minha mãe arrulhou, observando o lindo
pacote de uma neta na frente dela.
— Meu deus, não pensamos em nenhum ainda, — Selene disse,
abruptamente explodindo em lágrimas. — Ela não tem nome!
— Querida, está tudo bem, não chore. Vamos pensar em um. Temos
tempo, — ele disse, nervosamente tentando consolá-la e entender seus
hormônios erráticos.
Uma visão de repente surgiu em minha mente — cabelos ruivos
esvoaçantes, olhos ferozes. Alguém importante, que merece ser
homenageado.
— E se fosse... Vanessa? — Eu sugeri.
Os olhos de Selene brilharam. — Isso... esse é perfeito. É lindo. Mas
por que Vanessa?
— Por nada, — eu disse enquanto Aiden me olhava, entendendo tudo.
— Eu só acho que combina.
— Eu também, — ela respondeu, bocejando, suas pálpebras ficando
pesadas.
— Certo, a mamãe e a pequena Vanessa precisam descansar um
pouco, — Jocelyn ordenou. — Todos nós podemos admirar a bebê de
manhã.
Jocelyn tocou levemente meu ombro quando eu estava prestes a sair.
— Tenho outro paciente que preciso verificar, se você quiser se juntar a
mim.
Eu balancei a cabeça enquanto meu estômago se retorceu em nós.
Ela parecia tão tranquila dormindo — exceto que ela não estava
realmente dormindo, pelo menos não por vontade própria.
Ah, Michelle, isso é tudo culpa minha.
Enquanto Michelle permanecia imóvel em sua cama de hospital, uma
onda de culpa tomou conta de mim. Se não fosse por mim, ela nunca
teria ido para a casa de Konstantin em primeiro lugar e ele nunca a teria
usado para tentar me machucar.
Jocelyn agarrou minha mão quando comecei a chorar.
— Não se culpe, — disse ela. — Às vezes, as pessoas entram em nossas
vidas e mentem, e essas mentiras contaminam todos ao nosso redor.
— Mas e se eu tiver ajudado a espalhar essa doença?
— Você estava apenas tentando encontrar respostas sobre o seu
passado. Tenho certeza que Aiden entende isso, — ela respondeu,
olhando para longe. — Ele não quer nada mais do que proteger você.
— Talvez ela só estivesse tentando proteger você também, — eu disse
delicadamente enquanto observava Jocelyn enrijecer.
— Não, — Jocelyn respondeu vagamente. — Mas prefiro não falar
sobre isso.
A porta se abriu e Josh entrou pesadamente, com uma expressão
triste e cansada. Ele estava com a barba cheia e olheiras.
Ele não havia desistido de procurar Konstantin por um momento
sequer, desde que Michelle entrara em coma.
— Ah, eu achei que não tinha ninguém aqui, — Josh murmurou, sem
fazer contato visual comigo.
— Nós vamos sair, — Jocelyn disse suavemente. — Me avise se você
precisar de alguma coisa.
Enquanto Jocelyn me conduzia para fora da sala, me virei por um
segundo para ver Josh encostar sua testa na de Michelle.
Eu não vou deixar você fazer isso sozinho, Josh. Nós o encontraremos. E
nós a traremos de volta.
Aiden colocou o braço em volta do meu ombro enquanto caminhávamos
pela garagem para a casa dos meus pais. O sol estava começando a nascer
sobre as copas das árvores.
— As coisas vão voltar ao normal, Sienna. Sua família sempre estará lá
para ajudar, com as coisas boas e ruins. Nossa família sempre estará lá
para nos ajudar, — Aiden me assegurou.
— Claro, — eu disse, forçando um sorriso e inclinando minha cabeça
em seu peito.
Nada dentro de mim parecia normal desde que Konstantin havia
invadido minha mente e corpo, mas eu não queria preocupar Aiden.
Eu sentia um poder desconhecido dentro de mim, um que eu não
entendia...
E estava crescendo a cada dia.
Rowan

Quando os raios do sol nascente caíram sobre sua cabeça, seus


magníficos cabelos ruivos ficaram em chamas. Ela era linda, quase uma
imagem espelhada.
Eu a observei caminhando com seu companheiro, e isso despertou
em mim uma emoção que estava adormecida há muito tempo.
— Ela se parece... com a mãe.
Livro 3
Sumário
1. De volta à vida
2. Ataque de persuasão
3. Tempos de desespero
4. Olhos brilhantes
5. Medidas extremas
6. Para o bem de todos
7. Bar do Sonny
8. Se você quiser que algo seja feito da maneira certa
9. Planejando um programa
10. Limite de Chicago
11. Sienna pede ajuda
12. Queda Livre
13. Trem da meia-noite para Lawrence
14. Um ou dois sonhos que podem se tornar realidade
15. Minha pequena luz
16. Eu vivo pelos aplausos
17. Quando seu veneno te contamina
18. Museu Jalwitz
19. Você não sabe quem eu sou?
20. Santa Sienna
21. Algum dia você vai respirar
22. Quanta sorte
23. Cheiro de Vitória
24. Todos merecem a chance de voar
25. Desafiando a gravidade
26. Geladura
27. A reflexão olha diretamente para você
28. Uma mão perdida
29. Amor é Lei
30. Torta de Maçã e Nudez
Capítulo 1
DE VOLTA À VIDA Sienna
Gemidos de êxtase ecoaram pelos corredores da Casa da Matilha.
Os vastos corredores estavam estranhamente vazios — nenhuma
alma à vista.
Uma corrente de ar frio soprou pela minha camisola transparente,
desencadeando uma onda de arrepios na minha espinha. O ar carregava
consigo o som da paixão — um fervor sexualmente carregado cobrindo-
se ao meu redor.
Me chamando.
Me atraindo.
De onde estava vindo?
Uma escada em espiral apareceu à frente e eu subi, girando e girando,
até ficar tonta. Finalmente, cheguei à entrada do salão de baile.
Abrindo as portas de carvalho centenárias, eu me vi iluminada por
um brilho quente de uma lareira próxima.
Uma cama com dossel estava no centro da pista de dança. Meus olhos
estavam vidrados nela.
Sob lençóis vermelho-carmesim, três corpos nus se retorciam e se
contorciam.
Apesar das chamas próximas lançando sombras escuras em suas peles
brilhantes e obscurecendo-os de vista, pude ver que havia um homem e
duas mulheres, todos emaranhados.
Quando me aproximei cautelosamente, um rosto familiar ergueu os
olhos de seus espasmos de paixão. Seus olhos penetrantes fizeram meu
coração parar de repente.
Konstantin.
Mas eu não conseguia me mover. Ele havia assumido o controle do
meu corpo.
Assim como antes.
Não sendo mais capaz de desviar o olhar, observei enquanto o
vampyro continuava penetrando desenfreadamente uma das mulheres
esparramada embaixo dele.
Os lençóis escorregaram lentamente, expondo suas coxas, cintura e
seios até que ela jogou para trás suas mechas de cabelo castanho
ondulado...
Era Michelle.
Ela olhou para mim, consumida pelo prazer — sorrindo, como se
estivesse apreciando a audiência.
Ao lado dela, a outra mulher parecia jovem e dolorosamente
vulnerável enquanto acariciava os dois amantes entrelaçados.
Foi só quando ela olhou para mim que vi que era Emily.
Minha ex-amiga, que agora estava morta. E minha melhor amiga
atual. Ambas estavam gritando de dor e prazer enquanto as presas do
vampyro deslizavam para fora.
Gritei para ele parar, mas nenhuma palavra saiu.
— Sienna... — Michelle gemeu, estendendo a mão na minha direção.
— Você deixou isso acontecer...
— Ela vai morrer, Sienna. E é sua culpa. Assim como eu... — disse
Emily, tocando-se entre as coxas abertas.
Em seguida, ela e Michelle começaram a chegar ao clímax, os olhos
revirando assustadoramente para o crânio.
A lama negra começou a escorrer de todos os poros do corpo de
Emily, acumulando-se no chão.
E então uma onda de líquido preto tomou conta de mim enquanto o
vampyro afundava os dentes na garganta de Michelle.
Sentei-me na cama, tentando recuperar o fôlego. Demorei um pouco
para me orientar.
O sol da manhã lançava raios brilhantes sobre a cama king-size do
hotel, onde nossas malas estavam abertas.
Fazia cerca de uma semana desde o desastroso Baile de Inverno, onde
nosso vampyro amigo Konstantin quase nos derrotou.
A casa dos meus pais tinha se tornado um pouco... lotada, para dizer o
mínimo, então decidimos ficar em outro lugar.
Para a sanidade de todos.
Aiden arrastou-se para fora do banheiro, úmido e vestindo uma
toalha. Ele correu para o meu lado.
— Ei, você está bem? — ele perguntou, gentilmente pegando minha
mão.
— Sim..., — eu disse. — Foi apenas mais um sonho bizarro.
Como sempre, o olhar do meu companheiro, seus olhos verdes cheios
de amor e preocupação, foram suficientes para desacelerar meu
batimento cardíaco acelerado.
— Konstantin? — Ele parecia já saber a resposta.
Eu concordei. — Mas estou bem agora. Juro.
Na luz da manhã, sua pele era dourada. Minhas pernas ficavam fracas
só de olhar para ele... o brilho em seus ombros... as linhas esculpidas de
seu abdômen.
— Especialmente quando você vem me salvar vestindo isso, — eu
disse, sorrindo e olhando a toalha em volta de sua cintura.
— Ah, essa coisa velha? — ele brincou.
Eu balancei a cabeça enquanto corria um dedo pelas gotas de água em
seu pescoço.
Eu me exibi lambendo meus lábios.
Os olhos de Aiden escureceram, o desejo estava substituindo a
diversão em seu rosto.
— Bem, eu acho que deveria usar isso com mais frequência, — ele
brincou.
Como uma chama fervente sob minha pele, minha Bruma se acendeu
com tanta força que quase me deixou sem fôlego.
Em pouco tempo, eu estava correndo meus dedos por seu abdômen,
deslizando-os entre a toalha e sua pele.
Pressionando minha boca contra seus lábios maleáveis, eu o beijei
profundamente.
Aiden fez um ruído baixo em sua garganta, suas mãos encontrando o
caminho por baixo da minha camisola e até meus seios, segurando-os e
apertando.
Nosso beijo se aprofundou e eu me perdi nele.
Aiden me agarrou pela cintura, abraçando minhas costas nuas em seu
corpo úmido.
Eu respirei profundamente, sentindo seu toque mais uma vez banir
todos os meus pensamentos sombrios.
Se eu pudesse ficar ali, para sempre. Segura nos braços do meu
companheiro.
Minha Bruma estava cantando em minhas veias.
Meus dedos percorreram o tanquinho dele, descendo até embaixo.
Aiden gemeu de prazer enquanto eu puxava a toalha.
Virando-me, ele puxou minha calcinha, revelando meu traseiro. Ele
bateu duas vezes, me fazendo ofegar.
Mais duas palmadas levaram minha Bruma às alturas.
Suas mãos quentes e calejadas deslizaram entre minhas coxas, contra
os lábios molhados da minha vagina.
Eu gemi, inclinando-me contra a outra mão que ele pressionava
contra minha barriga para me firmar.
Senti a cabeça do pênis dele então, deslizando, empurrando para
encontrar minha abertura.
Minha respiração estava ofegante. Eu levantei um joelho,
pressionando-o na cama. Balançando meus quadris para trás, eu me
ofereci a ele.
Não havia mais nenhum pesadelo. Nada poderia me machucar
quando eu estava com Aiden.
Quando estávamos juntos.
Nós dois estávamos ofegantes.
Suas estocadas eram profundas e rítmicas. Fechei meus olhos,
perdendo-me em minha Bruma e as sensações que surgiam dentro de
mim.
— Ai, Aiden, — eu gemi. — Ai, meu deus, eu vou gozar...
Seus movimentos se aceleraram em resposta.
Meu orgasmo veio de repente e eu gemi com ele, deixando-o me
desvendar.
Aiden gozou logo depois de mim. Eu podia senti-lo derramando seu
esperma dentro de mim.
Nós nos abraçamos por um longo momento, respirando o cheiro um
do outro com nossa luxúria saciada.
Quando voltei a mim, estávamos deitados juntos na cama. Eu nem
tinha certeza de como havíamos chegado ali.
Então o celular ao lado da cama tocou.
Relutantemente, me afastei dele e atendi.
— Olá?
— Sra. Mercer-Norwood? Tem um grupo de pessoas esperando por
você.
— Ah. sim, obrigada, — eu disse, desligando.
Aiden ergueu as sobrancelhas.
— É a Curandeira Lowell. Acho que ela está lá embaixo, — eu disse.
Meu coração apertou.
Ela estava aqui.
Talvez ela pudesse fazer algo para ajudá-la.
Para ajudar Michelle.
Uma imagem do meu sonho veio à tona. As pernas de minha melhor
amiga envolviam os quadris de Konstantin enquanto ela gozava. Ela
gemia de luxúria.
Estremeci, mas tentei fingir que estava com frio.
Uma das Curandeiras Chefes do Retiro de Lawrence estava esperando
no saguão.
Sharon Lowell raramente fazia visitas domiciliares, mas concordou
em consultar Michelle a pedido pessoal do Alfa.
Ela era uma mulher baixa e robusta com cabelos grisalhos presos em
um coque realista, mas sua voz estava calorosa e gentil quando nos
cumprimentou.
— Alfa Norwood! — ela exclamou. — E Sra. Norwood! — Ela
estendeu as mãos.
— Mercer-Norwood, — eu disse, sorrindo.
Peguei uma de suas mãos e Aiden pegou a outra. Ela deu uma
pequena sacudida em cada um.
— Sra. Mercer-Norwood, — ela disse com um aceno firme.
— Muito obrigado por ter vindo, — disse Aiden. — Tem um carro
vindo nos buscar. — Enquanto nos dirigíamos para a frente do hotel, eu
esperava fervorosamente que a Curandeira Lowell fosse capaz de fazer o
que Jocelyn não conseguiu: Encontrar uma maneira de ajudar Michelle a
acordar.

Jocelyn nos cumprimentou no saguão da Casa da Matilha, então liderou


o caminho escada acima para a suíte médica.
Quando todos entramos no quarto de Michelle, meus olhos foram
imediatamente para minha amiga.
Um monitor cardíaco apitou ao seu lado. Tubos presos em seu braço.
Meu coração se apertou ao vê-la — ela parecia tão pálida e magra.
Seus olhos não se abriram desde o ataque de Konstantin no Baile de
Inverno.
Ninguém sabia se ela iria acordar.
A televisão no quarto de Michelle estava ligada e meus ouvidos se
aguçaram ao ouvir meu nome.
— Já se passou mais de uma semana desde os acontecimentos
assustadores em torno do Alfa Aiden Norwood e sua companheira
Sienna no Baile de Inverno deste ano, — disse a repórter.
Ela era pequena, com cabelos castanhos encaracolados e um sorriso
pronto para a câmera.
— E as autoridades ainda não estão nem perto de encontrar o
culpado. Enquanto isso, a companheira do Beta, Michelle Daniels,
permanece em coma...
Ela estava relatando de dentro da Casa da Matilha!
Notei o nome da repórter na parte inferior da tela. Monica Birch.
Enquanto tentava descobrir como ela havia entrado, notei que Josh
desabou na poltrona ao lado da cama de Michelle.
Ele parecia terrível — barba por fazer no rosto, cavidades escuras ao
redor dos olhos...
Ele parecia atormentado pela culpa.
Peguei o controle remoto da TV e coloquei no mudo.
— Bom dia, Josh, — eu disse gentilmente.
Ele ergueu os olhos e olhou para mim com hostilidade.
Eu não poderia culpá-lo.
Nós dois sabíamos que o que acontecera com Michelle fora minha
culpa.
Aiden

Incapaz de suportar a visão da forma imóvel de Michelle, conduzi Josh e


Sienna para a área de espera, deixando os curandeiros cuidando da
paciente.
Eu falhei com Michelle. Eu falhei com todos quando deixei aquele
vampyro desgraçado invadir meu território. Minha família.
Eu admirava Konstantin.
Confiava nele e o respeitava.
Ele usou a dor pela morte do meu irmão Aaron contra mim.
Eu aceitei, ignorei os sinais de alerta porque estava tão desesperado
para saber a verdade sobre como a companheira de Aaron, Jen, havia
morrido.
Bem, agora eu sabia.
Konstantin a matou quando explodiu o laboratório.
Konstantin havia matado a mãe biológica de Sienna também e,
consequentemente, seu pai.
Ele tinha matado Jen e, consequentemente, Aaron — por causa do
vínculo de acasalamento.
Ele havia posto fogo em nossa casa. Deixou Michelle em coma.
Violou a mente de Sienna.
Na semana desde o Baile de Inverno, a necessidade de encontrá-lo, de
matá-lo — de rasgá-lo membro por membro. Só tinha crescido.
Eu poderia colocar a raiva pulsante, o desejo de vingança, de lado por
curtos períodos.
Escondi bem de Sienna. Ela já tinha sofrido bastante. Ela não
precisava da minha fúria para controlar seu próprio trauma.
Os pesadelos — ela chorava durante a noite, todas as noites, me
acordando sem parar.
Eu não acho que ela estava ciente de quantas vezes eu rolei e a
acariciei, acalmando seus gemidos, acalmando seus músculos tensos —
confortando-a para que ela pudesse se livrar do medo e dormir em paz.
Cada vez, eu fiz a ela o mesmo voto silencioso.
Konstantin pagaria pelo que fizera.
Sienna

A porta do quarto de Michelle se abriu.


Jocelyn e a curandeira Lowell olharam para nós. Seus rostos estavam
sérios.
— Terminamos o exame, — disse Jocelyn. — Melhor se sentar.
Ninguém se mexeu.
Isso não pode ser uma boa notícia.
— O resto da família de Michelle já chegou? Nós também podemos
esperar por...
— Não! Conte-nos agora, — Josh insistiu.
Eles estão perguntando pela família de Michelle?
Soltei um suspiro profundo. Isso era muito mais sério do que eu
imaginava.
Eu enrolei minhas mãos em punhos.
— Muito bem, — Jocelyn disse. — Michelle não dá sinais de
recuperação. O que é pior, suas funções vitais estão começando a falhar.
— O que... o que você quer dizer com 'começando a falhar?' — Josh
exigiu.
Peguei a mão de Aiden, apertando-a com força.
Jocelyn inclinou a cabeça. Ela estava claramente preocupada, as
sobrancelhas franzidas, como se tentando encontrar as palavras certas
para dizer.
— Os órgãos de Michelle estão falhando.
Capítulo 2
ATAQUE DE PERSUASÃO
Sienna

Os órgãos de Michelle estão falhando...


As palavras eram tão claras, mas eu não conseguia envolver minha
cabeça em torno delas.
— Espere aí! O que você está dizendo? — Josh perguntou. Ele estava
segurando a parede como se fosse a única coisa que o mantinha de pé.
— Eu estou dizendo..., — disse Jocelyn, tocando a pulseira de prata
ornamentada que ela usava em seu pulso, — ela não vai sobreviver à
noite.
O silêncio pairou sobre todos nós. Ninguém se mexeu.
— Mas e as máquinas? — Eu soltei.
— Nós a colocamos no ventilador por causa de sua respiração
anormalmente rápida, — disse Jocelyn. — Mas seus rins e seu fígado são
o verdadeiro problema.
— Ela está demonstrando oligúria, — disse a Curandeira Lowell.
Ela olhou para nossas expressões em branco. — Ela não está
produzindo urina suficiente, — ela esclareceu.
Meu coração começou a bater mais forte.
— Sem os rins fazendo seu trabalho, eventualmente ela entrará em
choque.
— Não entendo. Por que isso está acontecendo? — Josh disse.
— O trauma que ela suportou causou uma quantidade significativa de
danos internos, — Jocelyn disse, sua voz gentil.
— Mas... você vai curá-la ou não? — Josh exigiu.
— Eu tentei... — Jocelyn começou.
— Então continue tentando! — Josh rebateu.
A curandeira Lowell balançou a cabeça. — Eu vim aqui hoje para
ajudar a realizar um ritual com Jocelyn. Um que requer dois curandeiros
de grande habilidade. Mas mesmo assim foi uma aposta e, infelizmente,
não teve sucesso.
— Não teve sucesso? — Josh ecoou.
— Michelle foi atacada por um vampyro, — a Curandeira Lowell
explicou.
— Sua companheira foi essencialmente envenenada por ele. A magia
de cura do lobisomem... é poderosa. Mas nós estamos lutando contra
magia vampírica.
Josh fez um som de desgosto.
— Aquele vampyro era fora do comum — ela continuou. — Ele tinha
um poder como nada que eu já tenha visto. Um poder antigo, tenho
certeza disso.
Meu Deus, Michelle.
— Então o que você está dizendo? — Josh exigiu, tremendo com sua
voz zangada. — Você não pode salvá-la?
Jocelyn arregalou os olhos. — Existe um ritual...
— Não, não há, — a Curandeira Lowell a interrompeu, sua voz
repentinamente fria.
— Um ritual, — Jocelyn continuou, — mas é proibido...
— É absolutamente proibido! E perigoso e vai contra a Doutrina do
Curandeiro. É melhor tirar isso da cabeça. Agora.
O comportamento caloroso da Curandeira Lowell agora estava rígido
e tenso. Ela olhou carrancuda para Jocelyn, que olhou para o chão.
Josh olhava desesperadamente de uma curandeira para a outra,
desejando que um deles sugerisse uma nova solução.
Mas eu entendi o que a Curandeira Lowell estava dizendo.
— Ela vai morrer, não é?
Todos se voltaram para mim. O rosto de Josh perdeu toda a cor.
Então todos nós nos viramos para olhar para Jocelyn.
Ela estava balançando a cabeça. — Não, — ela disse. — Eu não vou
deixar isso acontecer...
— Sinto muito, mas não concordo, — rebateu a Curandeira Lowell.
Todos nós olhamos para ela, horrorizados.
Ela encontrou nossos olhos sinceramente, um por um.
— Não vou dar falsas esperanças a ninguém. Não estou dizendo que
Michelle não vai conseguir superar isso... mas agora, nós curandeiras não
temos o que fazer.
— Jocelyn quer que ela supere — todos nós queremos, — ela
continuou. — Mas o que quero dizer é que — para ela — é pessoal.
Jocelyn baixou os olhos.
A curandeira Lowell ergueu as mãos, gesticulando para que
entrássemos no quarto de Michelle.
— Eu acho que seria sábio para todos vocês visitarem Michelle. Para
se preparar. Talvez até para dizer adeus.
Eu segurei o soluço que subiu em minha garganta.
Adeus? Michelle tem apenas 20 anos.
Como a vida dela pode ser encurtada tão tragicamente?
Emily tinha apenas quinze anos quando morreu.
Porque eu não tinha percebido que ela estava em apuros até que fosse
tarde demais.
Ela foi estuprada por um homem violento e malvado e tirou a própria
vida apenas dois dias depois.
E eu estava impotente para ajudá-la.
Assim como Michelle. Ela estava presa e gritando dentro de sua
própria mente, e eu nem tinha percebido.
Afinal, Konstantin havia vencido.
— Não, — Josh engasgou.
A carranca da curandeira se aprofundou enquanto ela o considerava.
— Eu sinto muito, Beta Daniels. Mas acho que você precisa colocar seus
negócios em ordem.
— Nós vamos fazer essas ligações agora, — Jocelyn administrou, e ela
caminhou pelo corredor.
Com um breve e triste aceno de cabeça, a Curandeira Lowell a seguiu.
O resto de nós ficou parado na sala de espera, olhando um para o
outro.
Josh

Eu cerrei meus dentes. Eu não poderia deixar o Alfa e sua companheira


ver o ódio em meus olhos.
Não podia deixá-los ver que os culpava — os dois — pelo que
acontecera com Michelle.
Minha companheira estava naquela cama de hospital, lutando por sua
vida, ligada a máquinas.
Isso foi minha culpa. Eu não a tinha protegido.
Mas nem o todo-poderoso Alfa da Costa Leste.
Não, ele levou aquele maldito vampyro direto para a Casa da Matilha.
— Se minha companheira morrer, — eu disse, — eu mereço morrer
também.
E todos vocês também.
— Josh..., — disse Aiden.
Eu falhei com Michelle. Falhei em protegê-la e falhei em punir quem
a machucou.
Eu cerrei meus dentes ao tomar conhecimento disso.
Konstantin estava lá fora, e aqui estava eu, inútil.
— Ela estava com problemas, — continuei. — Ela estava lutando
contra aquilo — aquela coisa e o que ele estava fazendo com ela.
— E eu apenas a deixei lidar com isso. Sozinha. — Eu nunca me
perdoaria.
— Você estava investigando Konstantin, — disse Aiden. — Você estava
tentando nos proteger dele. É minha culpa que Konstantin tenha ficado
tão perto de todos nós, não sua, Josh.
Meus punhos cerraram-se.
Ele realmente não quis dizer isso. Ele não tinha ideia do que era ver
minha companheira prestes a morrer naquele quarto.
Eu queria atacar, mas uma voz profunda por trás parou minha mão.
— Você tem razão. E é sua culpa. Meu Alfa.
Aiden

Eu virei minha cabeça para ver a família de Michelle, os Pearces, vindo


pelo corredor. Seu pai, Owen, estava liderando o grupo.
Seu peito largo e estatura alta faziam dele uma figura imponente, até
mesmo para mim.
Em seguida veio a mãe de Michelle, Irene, com seus cabelos curtos
cor de âmbar.
Havia fúria em seus olhos.
Mas o que mais me surpreendeu não foi a chegada dos Pearces, mas o
cinegrafista e a morena com o microfone que se manifestaram do nada.
— Alfa Norwood! — a repórter gritou, empurrando seu microfone na
minha cara. — Monica Birch, Jornal da Matilha. Eu estava falando com a
família de Michelle Daniels. Eles acham que você é o culpado pelo estado
de Michelle.
Fiquei surpreso. Acusações diretas raramente são feitas contra o Alfa
de alguém — para não mencionar publicamente.
— Espere um minuto... — eu comecei.
— Que sua negligência com as responsabilidades da Matilha a
colocou, assim como a incontáveis outros, em perigo. Importa-se de
comentar?
A luz da câmera estava ofuscante. Eu não conseguia pensar direito. Eu
abri minha boca para responder.
— Como você pôde! — Irene gritou acusadoramente, me
interrompendo. Sua boca se retorceu de tristeza. — Como você pôde
deixar um vampyro à solta perto da minha garota?
Eu balancei minha cabeça, levantei minhas mãos, e então as deixei
cair desamparadamente.
— Eu cometi um erro, — eu disse com pesar. — Eu não sabia que ele
era um vampyro.
— Não sabia! — Owen rosnou.
— Ele tinha um broche que mascarava seu cheiro, — disse Sienna,
deslizando sua mão na minha.
Eu apertei com gratidão.
Durante a maior parte da minha vida como Alfa, estive sozinho.
Às vezes ainda era difícil acreditar que agora tinha minha
companheira para ficar ao meu lado.
E eu tinha que ficar ao lado dela.
— Ninguém te perguntou! — Owen zombou de Sienna.
O cameraman se aproximou para close mais próximo.
O rosto de Sienna tinha se tornado uma máscara de tristeza.
Eu endireitei meus ombros.
— Não grite com ela, — eu disse, tentando ignorar a câmera. — Ela é
tão vítima quanto...
— Besteira! — Owen zombou, então empalideceu quando lhe
ocorreu que acabara de dizer isso a seu Alfa.
Eu olhei para ele, e ele desviou o olhar.
— Eu entendo que você pode ter sido vítima de uma presa, — disse
Irene para Sienna, ainda olhando para mim. — Você precisava de
proteção também. Mas Michelle está em coma, e você me parece muito
bem.
— Uau. Palavras fortes, — Monica interrompeu inadequadamente
antes de se virar para a minha companheira. — O que você tem a dizer
sobre essas acusações?
Sienna

Senti um ruído de asfixia sair da minha garganta.


O que eu tenho a dizer?
A mãe de Michelle, que havia me dado leite e biscoitos depois da
escola durante anos, estava acusando Aiden e eu de sermos responsáveis
pela condição de quase morte de sua filha.
Aproveitei cada restinho do meu autocontrole para não fugir da sala
de espera.
Meu corpo inteiro tremia, e então eu senti a presença quente de
Aiden ao meu lado.
— Se você quiser falar com minha companheira, você pode agendar
uma reunião com nosso secretário de imprensa...
Eu olhei para ele, então de volta para as câmeras.
Diga alguma coisa. Eu preciso DIZER algo.
Não posso permitir que Michelle simplesmente fique sem voz.
— Não, está tudo bem, — eu disse, dando um passo ao lado de Aiden.
Reunindo minha coragem, me virei para Monica e os Pearces. — Você
tem razão. Todos vocês. Não é justo. Eu sinto muito.
Meu corpo inteiro estava tremendo.
Aiden colocou o braço em volta de mim. — Atacar minha
companheira com certeza não vai resolver o problema, — disse ele, mas
eu interrompi, totalmente ciente de que a câmera estava gravando cada
movimento meu. — Nada disso está ajudando Michelle.
— Talvez não, — zombou Irene. — Mas não vejo mais ninguém
fazendo nada de útil.
— Onde está Konstantin agora? — Owen perguntou. — Em uma de
suas masmorras? Ou melhor ainda, decapitado?
Seu tom incrédulo sugeria que ele sabia exatamente onde Konstantin
realmente estava.
À solta. E provavelmente cada vez mais forte.
Uma onda de náusea tomou conta de mim.
— Você deixou Konstantin escapar, não foi Alfa Norwood? — Monica
Birch perguntou retoricamente. — E ele está à solta agora. Livre para
atacar os membros inocentes da Matilha da Costa Leste.
Todos assistiram Aiden, esperando pela resposta do Alfa.
Eu podia sentir suas unhas em meu ombro começando a se
transformar em garras.
Com um olhar para mim, Aiden respirou fundo.
— Você está certo, — disse ele a Owen.
Eu olhei para o meu companheiro com surpresa.
— Eu vou encontrar aquele filho da puta. Eu ju...
Mas Aiden foi cortado por um som estridente de alta frequência.
Alarmes.
Vindo do quarto de Michelle.
— O que é isso?! — Josh gritou. — O que está fazendo esse barulho?
A câmera disparou em direção à origem do som.
Corri para a porta de Michelle. Aiden e os outros o seguiram
rapidamente.
Minha mão foi para minha boca quando vi minha melhor amiga.
Michelle estava hiperventilando, seu corpo inteiro tremendo. O
monitor cardíaco estava enlouquecendo.
Monica, empunhando seu microfone, abriu caminho para dentro da
sala.
— O que... o que está acontecendo? — Eu mal consegui gritar, mas
Aiden estava tão sem palavras quanto.
— Seus órgãos vitais..., — Jocelyn disse, vindo atrás de nós. — Eles
estão falhando.
Capítulo 3
TEMPOS DE DESESPERO
Sienna

Meu estômago tremia com os alarmes estridentes do quarto de Michelle.


— Não, — eu respirei.
Josh correu para o quarto de sua companheira, e todos nós o
seguimos.
— Saiam! — Aiden rugiu para a equipe de notícias, que estava
tentando se espremer atrás de nós. Eles se foram antes que ele se
repetisse.
Lá dentro, o bipe do monitor cardíaco estava disparando.
Michelle parecia estar lutando contra o ventilador. Por um momento,
pensei que ela estava acordada.
Mas seus movimentos estavam muito descontrolados, como se ela
estivesse tendo algum tipo de convulsão.
Josh agarrou a mão esquerda de Michelle, implorando. — Calma,
amor. Tudo bem. Vamos. Você tem que superar isso! — Enquanto eu
observava, o corpo de Michelle se soltou e se imobilizou. Os bipes do
monitor cardíaco estavam diminuindo.
Jocelyn estava trabalhando rapidamente — fazendo o quê, eu não
tinha ideia. Mas sua expressão era sombria.
O monitor cardíaco continuou a apitar irregularmente, mesmo
enquanto o corpo de Michelle permanecia em repouso.
Sua frequência cardíaca aumentava e diminuía.
Rápido e lento.
Empurrei Irene para o outro lado de Michelle, agarrando sua mão
direita.
— Michelle, estamos todos aqui. Amamos você, Michelle. Aguenta
firme, — eu implorei.
— Afaste-se dela, — Irene disparou para mim.
Eu cambaleei para trás em estado de choque.
— Você deixou aquele vampyro chegar perto dela, Sienna. Você
deveria ser amiga dela, e você nem percebeu que ele a estava possuindo.
Ela se virou, fixando seus grandes olhos castanhos em Michelle. —
Por favor, apenas... saia. Deixe-me ficar com minha filha. Pela última vez.
Entorpecida, voltei para onde Aiden estava de pé contra a parede.
Percebi que o tempo todo, o olho fixo da câmera havia captado tudo.
Monica esperou do lado de fora do quarto do hospital, seu
cameraman observando tudo.
Abutres imundos.
Pressionei minhas mãos em minhas bochechas, meus olhos ardendo.
Irene estava certa. Qualquer um poderia ver isso.
É minha culpa Michelle estar aqui.
Lutando por sua vida.
E perdendo a batalha.
Balançando a cabeça, observei enquanto o monitor apitava em uma
rápida série de bipes novamente.
Eu sabia que algo estava acontecendo.
Eu poderia dizer que algo estava errado.
A maneira como ela agiu.
O jeito que ela falou.
Eu deveria ter visto. As mil maneiras pelas quais Michelle havia
chorado por ajuda.
Mas eu estava cega demais. Muito envolvida em meus próprios
problemas egoístas.
Ah, claro, eu disse algo a Jocelyn sobre isso, mas nada útil.
Eu fiz soar como uma preocupação ridícula — não ser levada a sério.
Eu falhei em ajudá-la.
Falhei completamente.
Uma longa pausa nos bipes de repente encharcou a sala em um
silêncio opressor. Prendi a respiração e eles começaram de novo.
E naquele momento, busquei qualquer poder divino lá fora.
Qualquer um. Nada.
Por favor, orei.
Salve Michelle.
Faça alguma coisa. Qualquer coisa.
Eu não posso perder minha melhor amiga.
De novo não.
Aiden

A sala estava lotada demais.


Eu não era da família, e Michelle e eu nunca fomos muito próximos.
Eu saí da sala, tentando não chamar atenção para mim.
Até quase colidir com Monica Birch.
— Com licença, Alfa Norwood! — ela disse, olhando feio. — Você está
bloqueando a visão.
Eu me virei para ela, toda a minha raiva inútil por não ser capaz de
ajudar Michelle estava vindo à tona.
— Saiam daqui. Agora! — Eu rosnei.
Em vez de obedecer, no entanto, Monica se virou para olhar para
mim, seus olhos brilhantes e penetrantes.
— Tem noção do tamanho da tragédia, Alfa Norwood? Se Michelle
Daniels não se recuperar, o número total de mortes na tragédia de
Konstantin chega a três. Ou seja, três que conhecemos...
— Michelle vai ficar bem! — Eu disparei de volta, mais emocional do
que pretendia. — Ela vai se recuperar.
— Mas se ela não...
— Isso não vai acontecer! Não sob meu comando!
Enfurecido, girei nos calcanhares e voltei para o quarto do hospital.
— E saiam do terreno da Casa da Matilha antes que eu os expulse! —
Eu disse.
— Temos passes de imprensa por um motivo!
Dentro do quarto de Michelle, todos estavam em um círculo tenso, a
poucos metros da cama para que os curandeiros pudessem trabalhar.
Jocelyn estava com as mãos no peito de Michelle, realizando a RCP.
A Curandeira Lowell estava se movendo, sentindo diferentes pontos
— seus pulsos, sua barriga, seus pés, gritando coisas que eram
incompreensíveis para mim.
— Rigidez abdominal no quadrante inferior direito. — Ela correu algo
que não consegui ver na sola do pé de Michelle. — Resposta ascendente
do hálux.
Jocelyn deu a ela um olhar alarmado.
Owen cobriu a boca com as mãos, afastando-se da cama.
Eu não aguentava ver tudo isso se desenrolar.
Com um olhar para Sienna — que estava congelada, olhando para sua
amiga moribunda — eu hesitei.
Se Michelle morresse, Sienna precisaria de mim.
Mas o que isso significa?
Estar ao lado de Sienna não significa focar em derrotar ameaças externas?
Ou significa ficar ao lado dela quando ela está perdida e temerosa por sua
amiga?
O que um Alfa deve fazer quando dividido entre o dever para com sua
matilha e o dever para com sua companheira?
Eu estava no quarto do hospital, lutando comigo mesmo.
A melhor maneira de ajudar Sienna — ajudar a todos — é matar
Konstantin.
Eu balancei a cabeça em meus próprios pensamentos.
Se Michelle morresse, seria um golpe devastador para Sienna, e eu
não poderia abandoná-la assim.
Mas se eu não saísse daqui e começasse a fazer algo sobre o vil
assassino que já tinha feito tanto para me prejudicar e aos meus entes
queridos, eu iria enlouquecer.
Havia uma coisa que eu poderia fazer, mas eu tinha que fazer
rapidamente para poder voltar aqui o mais rápido possível.
Saí da sala.
Monica

Observei a família de luto de Michelle Daniels enquanto a jovem se


debatia e resistia na cama médica.
Eu soube então que meus instintos estavam certos.
Era isso. A matéria que solidificaria minha carreira.
— Ei, devemos parar de filmar? — meu cameraman, Curtis,
perguntou, olhando para mim com o canto do olho. — O Alfa acabou de
nos expulsar da Casa da Matilha.
Como eu poderia desligar as câmeras agora, sendo que a companheira do
Beta está prestes a bater as botas?
Era entretenimento puro.
Mas se Aiden Norwood nos visse no local depois de nos dizer para
sairmos, isso poderia interferir em meus planos maiores.
E isso não serviria de jeito nenhum.
— Guarde isso. Vamos sair daqui, — eu disse decididamente, já me
virando para sair.
— Mas e se ela morrer? — Curtis perguntou, baixando a câmera de
seu ombro e seguindo atrás.
Meus sapatos de salto alto ecoaram alto nas escadas quando saímos
da ala médica e fomos para o gramado.
Dei de ombros. — Se ela morrer, ela morre. Encontraremos um novo
ângulo.
Sempre há um novo ângulo.
— Não deveríamos falar com a matriz sobre isso? Na verdade, não
temos permissão para estar aqui. — Curtis parecia nervoso e revirei os
olhos.
Se ele não criasse coragem — e logo — eu teria que encontrar um
novo cinegrafista.
O que seria uma pena, porque Curtis não era péssimo na cama.
— Pare de ser molenga e confie em mim. Os Norwoods são o nosso
bilhete de loteria.
Minha van estava esperando. Entramos e saímos para compilar as
filmagens do dia.
Os caras do Jornal da Matilha iriam me amar.
E logo, o mundo também.
Quando tudo isso fosse dito e feito, Aiden Norwood se lembraria de mim
para sempre.
Josh

Meu coração bateu forte contra minhas costelas enquanto eu observava


Jocelyn e a outra curandeira — Lowell — se moverem em torno de
Michelle.
Eu estava vagamente ciente de Aiden recuando para fora da sala e, em
seguida, pelo corredor.
Onde ele está indo?
Para finalmente caçar Konstantin?
Eu deveria ir também.
Mas como eu poderia?
Eu não conseguia tirar meus olhos de Michelle.
O monitor ainda estava enlouquecendo.
— Precisamos do quarto! — Jocelyn latiu. — Por favor, todos, limpem
a sala!
— Por cima do meu cadáver, — rugi.
Sem. Chance.
Eles teriam que me carregar chutando e gritando.
— Ela precisa de uma tomografia computadorizada e possivelmente
uma ressonância magnética, — argumentou a Curandeira Lowell. —
Temos que transferi-la da Casa da Matilha para um hospital cirúrgico!
— Ela não vai aguentar. Temos que estabilizá-la primeiro! — Jocelyn
explodiu.
— Você não tem os recursos aqui, Jocelyn. Temos que transferi-la para
uma instalação externa imediatamente, — Lowell insistiu.
Jocelyn balançou a cabeça. — Eu não posso parar, ou ela pode ter uma
parada cardíaca! — ela disse novamente.
— Ninguém vai a lugar nenhum até que Michelle esteja estabilizada!
— Eu gritei.
A Curandeira Lowell se virou para me encarar. — Você não entende,
Beta Daniels. Jocelyn não pode fazer muito. Michelle está mostrando
sinais de uma lesão cerebral muito grave.
Minha respiração ficou presa na minha garganta.
Eu cavei minhas mãos em meu cabelo.
— Jocelyn está tentando estabilizar sua frequência cardíaca, — Lowell
continuou, — mas se o problema se origina em seu cérebro, o que Jocelyn
está fazendo não a salvará.
Eu não entendo isso.
Não entendo por que isso está acontecendo.
— Mas se eu parar durante o tempo suficiente para movê-la, ela pode
sofrer uma parada cardíaca assim que eu remover minhas mãos, —
argumentou Jocelyn.
— Você não pode entrar e... consertar o que quer que esteja errado
com o cérebro dela? — Eu perguntei, agarrando-me a qualquer
esperança.
Lowell franziu os lábios e balançou a cabeça. — Não há tempo
suficiente.
A finalidade de suas palavras retiniu na minha cabeça.
Eu estava prestes a assistir minha companheira morrer.
— Nenhuma de vocês pode fazer alguma coisa? — Eu perguntei,
forçando-as a encontrar meus olhos.
Os olhos de Jocelyn se estreitaram.
— Eu posso, — ela disse.
A Curandeira Lowell e eu nos viramos para olhar para ela.
— Não, você não pode, — ela disse.
— O que? — Eu exigi. — O que você está falando?
— O ritual.
— É proibido por uma razão, Curandeira White. Não terei essa
discussão novamente. Nem vou participar. — A outra mulher parecia
furiosa.
Nesse momento, o monitor cardíaco disparou com uma série de bipes
estridentes, depois se estabilizou.
— Talvez, — Jocelyn disse, sua voz tremendo. — Mas eu tenho que
fazer algo.
— Não! — A Curandeira mais velha saltou para frente, mas era tarde
demais.
Jocelyn fechou os olhos, pressionando as palmas das mãos
firmemente no peito de Michelle.
A Curandeira Lowell recuou.
Por um momento, nada aconteceu.
Em seguida, a sala foi envolvida por uma luz branca ofuscante.
Capítulo 4
OLHOS BRILHANTES
Jocelyn

Reunindo toda a minha força e foco espiritual, eu mergulhei minha


magia no corpo angustiado de Michelle.
Eu nunca havia realizado o ritual que estava tentando agora.
Ninguém que eu conhecia tinha.
Foi ensinado apenas como um conto de advertência, porque qualquer
curandeiro que tivesse tentado antes havia sido prejudicado, tanto física
quanto espiritualmente.
Era uma técnica que permitia ao curandeiro usar toda a sua magia de
uma vez e então limpar o sistema do paciente com ela.
Se for bem-sucedida, pode curar vários pontos de trauma de uma vez
e reverter falhas sistêmicas como a que Michelle estava sofrendo.
Mas levaria tudo o que o curandeiro tinha.
O drenaria completamente.
E se um curandeiro oferecesse mais do que podiam aguentar, eles
morriam.
Mesmo que sobrevivessem, os danos eram irreversíveis.
Mas não tive escolha.
Não pude ficar parada e aceitar que o coração de Michelle havia
parado de bater.
Eu não poderia recorrer a seus pais e pedir desculpas por ter falhado.
Eu não permitiria que ela morresse quando tive esta última chance de
salvá-la.
A pulseira de prata em meu pulso tilintou suavemente.
Eu sou uma curandeira. Minha tarefa é curar.
Fechando meus olhos, lancei meu poder pelo corpo de Michelle. Em
minha mente, eu o vi se espalhar, arqueando e se dividindo tão rápido
quanto um raio.
Meu poder encontrou as lesões em seu cérebro — ela teve vários
ataques que só agora eu podia perceber.
Seu coração também sofreu danos.
Seus rins.
Seu fígado.
Eu empurrei minha magia o mais longe que pude, arrancando cada
gota do meu corpo, afogando-a com ela.
Isso a encheu e se libertou de mim.
Abrindo meus olhos, tropecei para trás.
Josh

Jocelyn se afastou de Michelle e ergueu as mãos. Seus olhos se abriram;


eles estavam brilhando com uma luz misteriosa.
Então, abruptamente, a luz se apagou.
Voltei-me para Michelle.
Por favor, não esteja morta.
Mas o rosto de Michelle estava totalmente pálido e imóvel.
Não funcionou.
Um soluço áspero saiu da minha garganta.
Eu nem sequer pude dizer adeus.
Mas não se preocupe, meu amor Onde quer que você vá, estarei com você
em breve.
Seus olhos se abriram.
Jocelyn desmaiou.
Por um instante, fiquei paralisado.
Então meus músculos se soltaram e corri para Michelle.
Seus olhos castanhos piscaram e se fixaram em mim, cheios de amor e
reconhecimento.
Sienna

Eu não sabia para que lado me virar — correr para Jocelyn, que estava
jogada no chão, ou para Michelle, que estava acordada.
A Curandeira Lowell zumbia em torno de Michelle.
Eu fiquei parada, congelada, observando.
Por que Aiden havia ido embora? Onde ele estava?
Eu precisava dele. Eu estava sozinha, totalmente invisível.
Ok. Pensa. Como posso ajudar?
Jocelyn!
Corri para a curandeira, que estava caída no chão.
Pressionando um dedo em seu pescoço, tentei encontrar seu pulso.
Mas não havia nada. Minha cabeça pulsava enquanto eu me inclinava
sobre seu rosto para checar se havia ar saindo de seu nariz.
— Ela não está respirando, — eu disse.
Irene se aproximou de Michelle, com Owen logo atrás dela.
Ninguém me notou.
— Ela não está respirando! — Eu repeti, gritando agora.
— Minha primeira responsabilidade é com Michelle, — disse a
Curandeira Lowell. — Jocelyn sabe disso.
Meu sangue parecia água gelada.
Jocelyn acabara de se matar para salvar Michelle?
Como isso aconteceu?
Eu me agachei ao lado de Jocelyn, pegando sua mão na minha.
— Joce! Ei! Vamos, Joce, volte para nós, — disse eu. — Você
conseguiu! Michelle está acordada.
Um momento depois, a Curandeira Lowell estava ao meu lado.
Ela me deu um sorriso e tirou a mão de Jocelyn da minha.
Vamos, Jocelyn.
Vamos, você tem que estar bem.
Jocelyn inalou abruptamente e começou a tossir. Sua cabeça caiu para
o lado, suas pálpebras tremulando brevemente.
Uma onda de alívio tomou conta de mim.
Mas seus olhos permaneceram fechados.
— Temos que levá-la para o Retiro do Curandeiro, — disse a
Curandeira Lowell.
Eu me levantei, me afastando do caminho deles.
Onde estava Aiden? Eu precisava que ele estivesse ali presente.
Olhando em volta, o que vi aqueceu e partiu meu coração ao mesmo
tempo.
Josh estava olhando nos olhos de Michelle; seus próprios olhos
estavam lacrimejando enquanto sua boca se arqueava em um sorriso
dolorido.
Eu sorri para ela, mas meu coração estava apertado.
— Ei — eu disse. — Você voltou.
Ela hesitou. Seu rosto permaneceu em branco, e então ela se virou
para Josh e sorriu.
Ela sabe o que aconteceu?
— Oi, amor — ela disse a ele.
Ele pressionou os dedos dela contra a boca. — Estou aqui, querida.
Estou aqui. Eu sempre estarei ao seu lado.
Aiden

— Obrigado por ter vindo tão rápido, — eu disse.


Sayyid Hamdi era um jovem alto e musculoso com cabelo curto e
escuro. Ele ficou de frente para a mesa em meu escritório.
Eu estava do outro lado, sem vontade de sentar.
Sayyid era membro da Polícia de Mahiganote, mas também servia
como Caçador quando necessário. Eu o conhecia desde que estudávamos
juntos.
— Como você sabe, nossa Matilha foi atacada por um vampyro
poderoso chamado Konstantin, — eu disse, engolindo a culpa e a raiva
que cresciam toda vez que eu era forçado a falar seu nome.
Ele possuiu Sienna, machucou-a. E eu não estive lá.
A única maneira que eu conhecia de ajudá-la, para acalmar os
pesadelos que a assolavam todas as noites, era caçar o vampyro e matá-lo.
Você a deixou novamente. Ela precisava de você no hospital e você saiu.
Sienna é inteligente, ela entende. Ela quer que Konstantin vá embora
tanto quanto eu. Mais. Foi a mente dela que ele invadiu.
Eu me senti mal, mas cerrei os dentes.
Só havia uma maneira de terminar isso.
— Estou formando um Esquadrão de Caçadores, — eu disse a ele. —
Eu quero você nisso. Como capitão. Tire quem você precisa de suas
atribuições regulares.
Sayyid me deu um aceno de cabeça. — Como desejar, meu Alfa.
— Konstantin é extremamente perigoso, — eu disse. — Não é um
vampyro comum.
Abri o livro que Josh havia recebido da colônia de vampyros no
Maine.
— Ele provavelmente é conhecido como um vampyro 'santo'. — Eu
apontei um parágrafo dentro das páginas do livro.
— É uma designação para vampyros muito antigos que alcançaram
poderes especiais. Os poderes de Konstantin parecem ser mentais,
principalmente.
Eu olhei para Sayyid, mantendo contato visual.
— Ele é extremamente perigoso. Se ele morder alguém, ele pode
dominá-lo. Você entende? Não o subestime.
— Sim, senhor, — Sayyid me deu outro aceno curto. Ele era um
homem que não gostava de medir palavras, e eu gostava disso.
Agora, mais do que nunca, quando o tempo era de extrema
importância.
Eu peguei uma pasta de arquivos: — Tudo o que temos sobre sua
recente estada em Mahiganote. Também enviei links de documentos
para o seu e-mail.
Sayyid pegou a pasta de mim.
— Encontre-o, — eu disse. — É pra ontem, entendeu?
Sayyid começou a se virar, mas então disse: — E quando o fizermos,
meu Alfa, quais são nossas ordens?
Hesitei, pensando no que dizer.
Sayyid era eficaz e confiável.
Mas Konstantin era perigoso e nós o havíamos subestimado antes.
— Quando isso acontecer, entre em contato comigo, — eu disse por
fim.
— Não o enfrente sem mim.
Sienna

Michelle vai ficar bem agora.


Não vai ser como Emily. Michelle vai SOBREVIVER.
E Jocelyn também.
Eles vão levá-la para o Retiro do Curandeiro. Ela vai sobreviver.
Tudo vai ficar bem.
A Curandeira Lowell e dois paramédicos colocaram Jocelyn em uma
maca.
Observei Michelle e Josh enquanto eles silenciosamente se
abraçavam. Eu podia praticamente sentir o amor de seu vínculo de
acasalamento reacendendo.
Meu coração se apertou de culpa.
Se não fosse por mim, Konstantin nunca teria feito parte de nossas
vidas.
Nada disso teria acontecido.
Enquanto eu observava seu feliz reencontro, de repente me senti
perdida.
Devo sair?
Eu não sentia que era necessária ali. Eu senti como se estivesse me
intrometendo.
Eu sentia falta do Aiden. Assistir a força do vínculo de Josh e Michelle
me fez sentir saudades do meu companheiro.
Mas se eu fosse embora, ficaria tudo bem?
— Posso pegar alguma coisa para você? — Eu disse finalmente. —
Qualquer coisa? Alguém precisa de um copo d'água?
Josh olhou para mim por cima do ombro por um momento, então
fixou seu olhar novamente em sua companheira.
— Ninguém precisa de você aqui, Sienna — disse ele
categoricamente.
Eu me encolhi com seu tom amargo, e as verdadeiras palavras
encobertas por ele.
Pelo menos Michelle estava de volta. Isso era tudo o que importava
agora.
Mesmo que minha amiga nunca pudesse me perdoar.
Michelle recostou-se no travesseiro, fechando os olhos.
Ela parecia exausta.
Agora não era hora de brigar por nada.
Assim que Jocelyn foi presa à maca, eles a levaram para fora da sala.
Sabendo que Michelle estava em boas mãos, fui atrás.

Durante todo o caminho para o aeroporto privado da matilha, Jocelyn


permaneceu inconsciente.
A Curandeira Lowell continuou a cuidar de Jocelyn na parte de trás
da ambulância, que estava ultrapassando todos os limites de velocidade
para chegar lá o mais rápido possível.
A pele de Jocelyn tinha adquirido um tom acinzentado que não gostei
nem um pouco da aparência.
— Tem alguma coisa que eu possa..., — comecei, mas ninguém estava
ouvindo.
A curandeira estava colocando as duas mãos em Jocelyn, enviando
energia de cura — pelo que eu poderia dizer — encorajando suas células
a se recuperarem.
Mas nada parecia estar acontecendo.
Ela ainda estava respirando, mas esse era o único consolo.
Estendi a mão para alisar seu cabelo, tentando dizer a ela de alguma
forma o quanto eu estava arrependida e grata pelo que ela fez.
Mas a Curandeira Lowell segurou minha mão.
— Desculpe, Sienna. Podemos cuidar dela agora, — ela disse
enquanto a ambulância estacionava no aeroporto.
Uma equipe de curandeiros estava esperando perto de um
helicóptero.
— Tem certeza? — Eu perguntei.
Michelle estava bem, mas agora Jocelyn pagaria o preço pela minha
estupidez.
Eu tinha que fazer alguma coisa.
— Sim, querida, tenho certeza. Vamos cuidar dela. Você se saiu
maravilhosamente bem, — as palavras da curandeira me deixaram mais
calma, mas ela foi interrompida quando os médicos começaram a colocar
Jocelyn no helicóptero.
— Entrarei em contato, — disse ela a caminho.
— Por favor, me diga que ela vai ficar bem! — Eu chorei.
Mas minhas palavras desapareceram no rugido das hélices do
helicóptero enquanto ganhavam vida.
Meu cabelo girou em torno do meu rosto e eu recuei.
A aeronave decolou do solo.
Medo e esperança desesperada tomaram conta de mim enquanto ele
subia para o céu nublado e sumia de vista.
Quando fui deixada na Casa da Matilha, parei do lado de fora da
porta da frente e cobri minha boca com a mão.
Lágrimas picaram meus olhos quando me sentei nos degraus da
frente.
Como tudo deu tão errado?
Michelle vai ficar bem, eu disse a mim mesma.
E Jocelyn também.
Ambas ficarão bem. Elas têm que ficar
Olhei para o terreno da Casa da Matilha e respirei fundo. Eu
concordei.
Tudo voltará ao normal.
Exceto eu.
Não vou voltar a ser como era.
Naquele momento, sozinha e fria no ar amargo do inverno, fiz um
voto desesperado e silencioso a qualquer poder superior que se
importasse em ouvir.
Eu seria melhor. Eu me concentraria nos outros em vez de em mim
mesma.
Eu seria a melhor amiga, a melhor companheira, que qualquer um
poderia pedir.
Não importa o que aconteça.
Capítulo 5
MEDIDAS EXTREMAS
Jocelyn

Eu sabia que estava sonhando, porque Nina estava lá.


Sentamos em um barco a remo, à deriva enquanto ríamos, tentando
recuperar um remo que flutuava cada vez mais longe.
Mas mesmo enquanto ria, admirando seus lindos olhos e o brilho de
ébano de sua pele, uma parte de mim sofreu.
Eu não tinha visto ou ouvido falar de Nina desde que ela havia
desaparecido do Baile de Inverno.
Ela ficou e ajudou por um tempo.
E então ela fugiu, sem nem mesmo se despedir.
No sonho, o barco a remo se dividiu em dois.
Não entrou água — tornou-se apenas dois barcos separados.
Alcancei Nina do outro lado da água: — Pega na minha mão!
Ela desviou o olhar de mim, ainda rindo.
Seu barco girou de modo que ela ficou de costas para mim.
— Nina! Nina, você está flutuando para longe!
Mas ela não voltou.
— Nina, por favor! Não me deixe!
Cravei meus dedos na borda do casco do barco.
E senti lençóis macios e sedosos.
Um aroma de lavanda.
Minha pulseira de prata pressionada na carne do meu braço.
Onde estou?
Meu corpo inteiro doía, como se todos os músculos do meu corpo
tivessem sido esticados até o ponto de ruptura.
Meus olhos se abriram.
Papel de parede rosa e branco.
Que lugar é esse?
Eu olhei em volta.
Sharon Lowell estava sentada na poltrona à minha esquerda.
— Olá Jocelyn, — ela disse. — Bem-vinda ao Retiro do Curandeiro de
Lawrence.
Sienna

No dia seguinte, após os acontecimentos no hospital, voltei para minha


galeria. Os sinos da minha porta tilintaram quando entrei. Tranquei a
porta atrás de mim.
Lá fora, uma pequena Matilha de repórteres grasnou para mim,
liderados por ninguém menos que Monica Birch, mas eu os ignorei.
Eles receberiam uma atualização oficial de Aiden em breve.
Pobre Aiden. Eu havia passado em seu escritório antes de vir para a
galeria. Ele parecia cansado e esgotado, murmurando para si mesmo
sobre o possível paradeiro de Konstantin.
Eu sabia que meu companheiro não iria parar por nada para pegar o
vampyro, e me deu um imenso conforto saber o quão duro ele estava
trabalhando.
Mas ainda assim, eu sentia falta dele.
Aquela era a primeira vez que fui ao meu estúdio desde os eventos
desastrosos do Baile de Inverno.
Tudo estava em perfeita ordem, mas estar de volta a este espaço me
dava arrepios.
Konstantin e eu passamos várias horas juntos.
Eu ri e conversei com aquele vampyro, enquanto ele invadia a mente
da minha amiga.
E a minha. Mas pelo menos eu consegui lutar contra ele.
De maneiras surpreendentes também, pensei, lembrando-me do
incidente na floresta onde eu joguei uma árvore no vampyro que estava
atacando.
Eu ainda não tinha ideia de como tinha feito aquilo. Se não tivesse
sido tão marcante, teria pensado que tinha imaginado a coisa toda.
Mas Michelle não teve tanta sorte. O vampyro a possuiu
inteiramente.
Eu não conseguia nem imaginar o que ela estava passando.
Eu me dirigi ao meu estúdio na sala dos fundos, me preparando para
finalmente me reconectar através da arte.
O que eu pintaria?
Algo representacional? Michelle na cama do hospital? Jocelyn lutando
para salvá-la?
Jocelyn...
Ela quase se sacrificou para salvar a vida da minha melhor amiga.
Ouvimos dizer que ela ainda estava viva no Retiro do Curandeiro em
Kansas, mas não havia notícias ainda sobre sua condição.
Pensei em pintar algo abstrato como uma forma de lidar com todos
esses sentimentos.
Mas quando entrei em meu estúdio, todos os pensamentos sobre
novas artes passaram instantaneamente de minha mente para os
pensamentos de Konstantin.
Meu coração martelou contra meu esterno enquanto a imagem de
seus olhos vermelhos brilhantes queimava em meu cérebro.
Você realmente vai sair da minha cabeça?
Será que algum dia estarei realmente livre de você?
Minha respiração parecia tensa, meu peito apertado.
Ai, Aiden. Eu queria que você estivesse aqui.
Quase havia perdido a batalha para me libertar de Konstantin.
Mesmo que eu tenha resistido a ele, o custo foi muito alto.
Com algumas respirações profundas, conectei meu celular ao sistema
de som e coloquei uma música relaxante.
Ainda inspirando e expirando conscientemente, coloquei uma tela
em branco no cavalete e me sentei no banquinho de madeira que estava
diante dela.
Mas meu coração continuou a bater forte.
Movendo-me rapidamente, como se a pressa me permitisse superar
minha crescente angústia, eu espremi um pouco de azul escuro em uma
paleta limpa.
Eu adicionei carmesim e âmbar queimado e agitei um pincel nas
cores, misturando-as.
O que eu vou pintar?
Minha mente parecia em branco e vazia como a tela diante de mim.
O que eu estava fazendo aqui?
Minha melhor amiga estava no hospital, se recuperando de um
ataque que quase a matou.
Minha outra boa amiga estava lutando pela sobrevivência no Kansas,
depois de quase se sacrificar para salvar Michelle.
E eu estava... enxugando tinta.
Eu guardei a paleta e me levantei do banquinho.
Devo ligar para Aiden?
Agora, a visão do rosto do meu companheiro, a sensação de seus
lábios contra os meus, era tudo o que eu ansiava no mundo.
Mas Aiden estava ocupado. Caçando o vampyro que começou tudo
isso.
Eu não precisava incomodá-lo com meus problemas.
Eu torci minhas mãos e andei inquieta pelo estúdio.
Eu não conseguia respirar.
Este lugar cheirava a Konstantin.
Não literalmente — o vampyro sempre teve o cuidado de usar seu
broche mágico quando estávamos juntos.
Mas o estúdio que Aiden tinha me dado como presente de
acasalamento, onde eu tinha tantas memórias maravilhosas, agora
parecia... contaminado.
Imundo.
Como eu.
Meus pensamentos estavam girando.
Controle-se, Sienna.
Eu me forcei a parar de andar.
Desistindo da arte terapia como uma causa perdida, saí da galeria pela
porta dos fundos, querendo evitar os membros da imprensa que ainda
esperavam do lado de fora.
Eu precisava falar com alguém, mas definitivamente não com eles.
Mas Aiden estava ocupado. Eu tinha que deixá-lo trabalhar.
Meu coração disparou.
Pare de enlouquecer e pensar!
Você tem muitas pessoas no mundo que amam você. Não os exclua como
da última vez.

Sienna: ei

Sienna: você está ocupada agora?

Selene: oi mana

Selene: mais ou menos. Tenho uma consulta com Vanessa

Sienna: ah sim
Sienna: espero que dê tudo certo. Ela vai
tomar injeção?

Selene: sim 😔 (emoji triste)

Sienna: aí, pobre bebê

Sienna: e pobre mamãe

Sienna: aguenta aí ok

Selene: vou tentar, mas quando ela chorar

Sienna: sim

Sienna: a gente se fala

Claro que minha irmã estava ocupada. Ela tinha um bebê recém-
nascido.
Com um suspiro, tentei Erica.
Sienna: ei erica

Sienna: imagino que você não tenha algum


tempo livre hoje

Erica: foi mal, não tenho haha

Erica: nesta sexta temos todas as aulas e depois vai ter um jogo

Sienna: ai que chatice

Erica: Eu tenho que vender ingressos rs

Sienna: sim, entendi

Erica: está tudo bem?

Sienna: claro
Sienna: a gente se fala

Mia? Talvez ela recebesse a minha visita para sair com ela e os
gêmeos?

Sienna: ei Mia, como vão os gêmeos?

Mia: 💩💩💩 🍼🍼🍼(emojis de merda e mamadeira)

Sienna: kkkkkk

Sienna: quer companhia?

Mia: A mãe do Harry acabou de chegar e vai me deixar tirar


uma soneca

Mia: desculpa, amiga

Mia: outra hora?


Sienna: claro

Sienna: a gente se fala

No beco mal iluminado atrás do meu estúdio, eu caí contra a parede


de tijolos ásperos.
Acho que estou sozinha.
Michelle

Minhas mãos tremiam. Eu as escondi debaixo do cobertor.


Estou bem. Estou bem.
Eu vinha repetindo esse mantra desde que acordei.
Talvez se eu dissesse isso várias vezes, seria verdade.
A maquiadora se sentou na beira da cama do hospital e retocou meu
blush.
Era o final da manhã de sábado. Eu ainda estava me recuperando na
suíte médica da Casa da Matilha depois que Jocelyn me acordou no dia
anterior.
Monica Birch, repórter do jornal da Matilha, ergueu um espelho e eu
olhei para meu reflexo.
Nada mal. Ela conseguiu esconder as sombras sob meus olhos.
Eu não parecia estar me recuperando de um coma.
Quando a repórter apareceu esta manhã e sugeriu uma entrevista
exclusiva no horário nobre com a — valente sobrevivente do ataque de
vampyros que cativou o mundo, — eu não fui capaz de recusar.
Se algo de bom pudesse resultar desse pesadelo, eu estava
determinada a encontrá-lo.
Esta pode ser minha grande chance. Meu tiro nos corações e vidas da
Matilha da Costa Leste.
Monica já havia me falado o quanto eles me amavam.
E eu estava bem.
Totalmente bem.
Quanto mais cedo eu mostrar isso ao mundo, melhor Eu encontrei os
olhos de Josh. Ele estava encostado na parede, observando os
preparativos.
Ele mal tirou os olhos de mim desde que acordei. Mesmo agora, a
intensidade desesperada de seu olhar era o suficiente para fazer meu
coração pular de alegria.
Sorri para ele e disse: — Como estou?
— Linda, — ele respondeu, seus olhos azuis brilhando.
Meu coração aqueceu. Só de olhar para o meu companheiro me fez
sentir melhor.
Tínhamos chegado tão perto — tão perto — de perder um ao outro.
Por causa do vampyro. Porque Konstantin sugou meu sangue e me
possuiu, deixando-me incapaz de lutar contra ele por dias.
As lágrimas ameaçaram subir, mas eu pisquei de volta. Não podia
mostrar fraqueza.
— Eu quero encontrar o equilíbrio certo, — eu disse olhando para
Monica. — Eu quero evocar... simpatia, você sabe, pela provação que
acabei de passar. Mas força também.
A testa de Josh franziu enquanto ele ouvia.
Eu sabia que ele achava que dar esta entrevista era muito cedo.
Você não entende, amor.
Eu quase morri.
Não vou deixar passar mais nenhuma chance como essa.
Essa coisa toda com Konstantin tinha sido um pesadelo horrível...
Mas eu encontraria uma maneira de transformar limões em
limonada.
Monica havia me preparado sobre o que dizer quando a entrevista
começou.
Isso iria surpreender a todos.
E me catapultar para o estrelato.
Mesmo que isso significasse jogar algumas pessoas na fogueira.
Monica

— Você vai se dar bem, — assegurei a Michelle enquanto as câmeras se


preparavam para filmar. — Com licença por um momento.
Saí para o corredor para desamarrar meu cabelo do coque pela
milionésima vez, prendendo-o ainda mais forte.
Eu assisti pela porta enquanto Michelle fazia alguns ajustes finais em
seu cabelo enquanto a equipe de filmagem terminava de configurar.
Eu mal pude acreditar.
Uma entrevista exclusiva com a companheira do Beta.
Não poderia haver oportunidade mais perfeita.
Depois de quatro anos no Jornal da Matilha, era isso.
Eu podia imaginar. Monica Birch: Repórter Número Um da Matilha
da Costa Leste.
E se Aiden Norwood ou sua pequena cadela ruiva tentassem ficar no
meu caminho, eu os derrubaria.
Eu olhei para a companheira do Beta em sua cama de hospital.
Ela estava tão desesperada por atenção. Tão ansiosa para ser amada.
Patética.
Mas eu tinha um pressentimento de que Michelle Daniels era
exatamente a pessoa de quem eu precisava me aproximar agora.
E eu sempre segui meus palpites.
Capítulo 6
PARA O BEM DE TODOS
Sienna

Na manhã de sábado, Aiden estava de pé e fora de casa às sete.


As responsabilidades de um Alfa eram infinitas.
Mas saber que ele estava fazendo o trabalho necessário não tornava a
falta dele mais fácil.
Honestamente, eu não tinha ideia do que fazer comigo mesma.
A pintura não havia funcionado.
Nenhum dos dois tinha alcançado as pessoas, embora eu soubesse
que era o que deveria tentar fazer novamente.
Ligar para minha mãe ou meu pai — ou tentar Selene ou Mia
novamente. Qualquer coisa menos ficar neste quarto de hotel,
enlouquecedor.
Em vez disso, peguei uma xícara de café e verifiquei meu celular, onde
encontrei uma série de notificações de mídia social.

Sir Fredsalot @allottaavocados: Essa entrevista

com #MichelleDaniels é uma viagem Marco Lupo


@LupoAtor: #MichelleDaniels adoro ver sua entrevista
contando sua história!

Entrevista?
Eu rolei para baixo, procurando por um latido que esclarecesse o
resto.

Curtis Paul @CurtisJornaldaMatilha: Não perca


a entrevista exclusiva do jornal da Matilha com
#MichelleDaniels, a companheira do Beta da Costa Leste!
Ela saiu do coma e falando tudo. O que ela revelou vai te
chocar!

Eu cliquei no link.
O vídeo começou.
Michelle estava sentada em sua cama de hospital, com as bochechas
rosadas e bonitas.
Seu vestido de hospital era suspeitamente bem ajustado.
Mas nada conseguia esconder a palidez do rosto de Michelle, ou o
fato de que ela estava mordendo o lábio nervosamente.
Como foi que a imprensa teve permissão para vê-la tão cedo?
— Diga-nos, como você acabou em coma, em primeiro lugar? —
Monica Birch, a repórter, disse. — Quem é essa pessoa de quem todos
temos ouvido falar desde o Baile de Inverno?
— Konstantin? — Michelle respondeu.
Monica acenou com a cabeça. — Que papel Konstantin
desempenhou?
Um músculo saltou na bochecha de Michelle, mas ela sorriu para
Monica.
— Konstantin era… é…
— Um vampyro, — Monica interrompeu. — Que se infiltrou na
matilha. — Suas sobrancelhas se arquearam, em falsa surpresa. — Como
isso é possível?
Michelle sorriu sem jeito para a câmera. Ela olhou para trás em
direção a Monica, que deu a ela um aceno encorajador.
— Muitas pessoas estão culpando o Alfa Norwood por permitir que
Konstantin fizesse todos esses estragos sem controle, — disse Michelle.
— Mas isso não é realmente justo ou preciso.
Meu coração aqueceu em sua defesa de Aiden.
— E por que isto? — Monica perguntou, pressionando.
Michelle parou por um longo tempo antes de dizer em voz baixa: —
Porque foi a companheira dele. Foi culpa de Sienna.
Eu pisquei.
— Sienna Norwood? — Monica engasgou com um choque exagerado.
— Isso mesmo, — disse Michelle. — Ela é quem Konstantin estava
realmente procurando. Algo a ver com seus pais biológicos, que ninguém
nunca conheceu — ou assim me disseram...
Seus olhos caíram e ela começou a mexer no cabelo.
Eu sabia que nunca havia revelado essa informação a Michelle.
Ela só poderia ter aprendido com...
— Konstantin. — Michelle continuou. — Ele a perseguiu... foi assim
que ele acabou me atacando. Eu estava cuidando da minha vida e me
tornei a grande vítima.
Eu assisti, chocada.
Monica se inclinou. — E esse vampyro — ele ainda está solto. Ainda é
um perigo para todos.
Isso foi uma pergunta ou uma afirmação?
O medo cintilou nos olhos de Michelle. Então ela acenou com a
cabeça.
— Isso mesmo. Eu... eu acho que deveria haver algum tipo de anúncio
público para alertar as pessoas para ficarem longe dele.
— O Alfa Norwood não emitiu nenhum tipo de aviso, não é? —
Monica pressionou.
Cravei minhas unhas em minhas palmas.
Michelle balançou a cabeça hesitantemente. — Não, ele não emitiu.
— Portanto, parece que ele está tentando varrer todo o escândalo
para debaixo do tapete, em detrimento da segurança de todos, —
continuou a repórter.
Isso não é verdade!
— Mas não temam meus telespectadores, — disse Monica, dirigindo-
se à câmera. A câmera havia saído de Michelle, mas antes disso, percebi
tristeza em seu rosto.
Eu já tinha visto essa tristeza antes.
No rosto de Emily, a última vez que a vi antes de ela se matar.
Meu estômago doeu de tristeza por minha amiga.
Por ambas.
— O Monica Birch Show não te decepcionará. Estamos aqui para
mantê-lo atualizado sobre a ameaça deste vampyro perigoso e o que isso
significa para a sua segurança e da sua família, — ela disse de forma
tranquilizadora, mas sugerindo interpretações sinistras.
Michelle

Mais tarde naquela tarde, mergulhei em um luxuoso banho.


Eu estava em casa. E era tão bom estar fora daquela cama de hospital
e longe da família.
Josh estava na Casa da Matilha. Esta era a primeira vez que estive
sozinha desde...
Quando foi a última vez que estive sozinha?
Konstantin foi uma presença constante em minha mente por muito
tempo. Me controlando. Mandando em mim.
Fazendo-me comer alimentos que engordam.
Respirei fundo, afundando mais nas bolhas.
Pegando meu celular para me distrair, eu rolei pelas minhas redes
sociais, absorvendo os comentários que as pessoas estavam fazendo sobre
minha entrevista.
Foi glorioso.
Patriota Nancy @ECPdweller: OMG
#MichelleDaniels é incrível NÃO POSSO acreditar no que

ela passou, tão preocupada com todos nós Alfa


Etienne Tremblay @CanadaAlfa: Fiquei surpreso ao
saber da provação enfrentada por #MichelleDaniels hoje.
Ela mostrou verdadeira bravura e graça em sua entrevista.
Você está em meus pensamentos durante este período
de recuperação, Michelle.

Foi o suficiente para dar a uma garota o gosto pela celebridade.


Ainda assim, a culpa corroeu meu estômago.
Quando Monica me contou sobre a entrevista, ela deixou claro que o
público precisava de alguém para culpar.
E se eles odiassem Sienna por um tempo, estaria tudo bem. Eles
superariam isso.
Afinal, Sienna era a garota de ouro.
E de qualquer maneira, talvez fosse hora de outra pessoa assumir os
holofotes.
Pousei o celular e sorri, voltando para a água quente e borbulhante.
Minhas mãos viajaram pelo meu corpo, leves formigamentos da
Bruma enviando pequenos choques de prazer ao meu corpo.
Passou pela minha cabeça chamar por Josh, mas desde que eu acordei,
a preocupação por trás de seus olhos me fez sentir...
Bem, isso me lembrou de como as coisas estavam ruins, e eu não
queria pensar sobre isso.
Então fechei meus olhos e relaxei um pouco, sozinha.
Passei meus braços na água, sentindo-a bater na minha pele.
Minhas coxas esfregaram uma contra a outra, escorregadias e
molhadas.
Lambi meus lábios, deixando minhas mãos vagarem sobre meus seios.
Esfregando meus mamilos.
A Bruma me aqueceu.
Assim que meus dedos deslizaram pela minha barriga, a porta do
banheiro se abriu.
Josh ficou lá ofegante, seus olhos famintos vagando pela minha pele
espumosa.
— Permita-me, — disse ele.
Eu sorri, mordendo meu lábio inferior.
Josh foi a primeira pessoa que vi quando acordei. Eu o queria agora,
mais do que nunca.
Sua mão mergulhou na banheira, encharcando sua manga enquanto
seus dedos sensíveis pressionavam contra meu sexo.
Recuperando o fôlego, encontrei seus olhos azuis.
Ele empurrou um dedo dentro de mim, a palma de sua mão
esfregando a protuberância sensível que ansiava por contato.
Eu agarrei seu braço, cavando minhas unhas.
Quando ele enfiou outro dedo, minhas unhas se transformaram em
garras.
Josh começou a girar sua mão, massageando e empurrando contra
mim — minhas paredes apertando em torno dele.
Eu podia sentir o calor aumentando. Eu suprimi o máximo que pude,
até não aguentar mais.
Eu balancei minha cabeça para trás e soltei um grito quando uma
onda de euforia se espalhou por cada centímetro do meu corpo.
Finalmente, por um breve momento emocionante, lembrei-me de
como é estar viva.
Sienna
Um dia após a entrevista de Michelle chegar à internet, decidi voltar para
minha galeria. Tentei pintar novamente.
Mas assim que cheguei lá, tudo que pude fazer foi olhar para a minha
tela e misturar cores que nunca pareceram combinar.
Demorei-me por quarenta e cinco minutos, enxugando a tela, até que
a influência da mídia social finalmente venceu, me distraindo da minha
arte e puxando meu ânimo para baixo.
Mas depois de rolar pelo que parecia ser uma infinidade de postagens
negativas, soltei um longo suspiro, enfiei meu celular na bolsa e saí da
galeria.

Aiden ergueu os olhos de sua mesa com um sorriso quando me viu.


Eu segurei o saco de comida gordurosa que peguei no caminho para
cá. — Com fome?
— Como um lobo, — ele disse.
Enquanto eu observava Aiden devorando seu hambúrguer, o desejo
de contar a ele sobre como eu não conseguia pintar, como estava me
sentindo oprimida, me pressionava.
Mordisquei meu próprio sanduíche de frango, mas não estava com
muita fome ultimamente.
— Então, como vão as coisas? — Eu perguntei.
— Uma loucura, — ele disse finalmente. — Fiquei fora por seis dias...
e as coisas mais do que se acumularam. Eles avançaram.
Passei a mão em sua coxa. — Parece estressante.
Eu queria contar a ele como me sentia, mas em comparação com o
que ele estava enfrentando, meus problemas pareciam triviais. Não era
como se estivéssemos esperando mais ataques de vampyros, certo?
O pensamento de que Konstantin ainda estava lá fora fez meu
coração acelerar.
Eu podia sentir que batia cada vez mais rápido.
Fale com ele! Ele vai entender!
Mas assim que abri minha boca para contar a Aiden sobre como eu
estava me sentindo desequilibrada, Felix entrou no escritório.
— Sinto muito interromper, meu Alfa, — disse ele em voz baixa.
Aiden ergueu as sobrancelhas para ele.
— É Georgina Tate, — Felix disse. — Alugamos os grandes vasos da
galeria dela para o Baile de Inverno, aqueles que foram destruídos, e ela
está lá e...
Ele baixou a voz. — Ela está um pouco perturbada.
Aiden gemeu.
Felix não fez menção de sair.
— Sinto muito, Sienna, eu tenho que lidar com isso, — disse Aiden,
levantando-se.
— Na verdade, Aiden...?
— Sim? — disse ele, voltando-se.
Comecei a falar, mas as palavras não saíam.
— Não é nada. Não se preocupe. — Eu finalmente respondi.
Ele percebeu que algo estava errado. Eu podia ver em seus olhos.
— Tem certeza? — ele perguntou.
— Claro, — eu disse o mais alegremente que pude. — Vá fazer suas
coisas de Alfa.
— Tudo bem, então, — respondeu ele, sorrindo calorosamente para
mim.
Forcei um sorriso de volta quando Aiden saiu.
Meu companheiro tinha tanta coisa para resolver, como eu poderia
preocupá-lo com algo tão ridículo quanto pintar?
Ainda assim, enquanto me dirigia para o meu carro, meu peito
parecia apertado.
Eu não podia falar com meu companheiro sobre o que estava
acontecendo. Não consegui falar com ninguém.
Porque estava tudo na minha cabeça. E havia problemas reais com os
quais precisávamos lidar.
Meu companheiro tinha tanta coisa para resolver, como eu poderia
preocupá-lo com algo tão ridículo quanto pintar?
Era hora de crescer e parar de se preocupar com besteiras triviais
como arte.
Eu precisava melhorar.
Para mostrar a todos que eu poderia ser mais do que aquilo que leram
na internet.
Que eu poderia ser uma verdadeira companheira para o Alfa.
Mas como?
De repente, me senti muito pequena e sozinha.
Capítulo 7
BAR DO SONNY
Aiden

Josh entrou na Casa da Matilha por volta das cinco horas para falar
comigo.
— Como está Michelle? — Eu perguntei, sabendo que ela voltaria
para casa naquele dia.
Meu Beta tinha um olhar bobo em seu rosto que eu reconheci bem.
Minha própria Bruma estava fervendo em minhas veias, mas Sienna
parecia tão retraída ultimamente que não estávamos aproveitando a
temporada tanto quanto costumávamos.
Mesmo assim, fiquei satisfeito por Josh. Ele e Michelle haviam
passado por muita coisa ultimamente.
Para dizer o mínimo.
O alívio também me atingiu. Se Michelle estivesse saudável o
suficiente para atividades mais... rigorosas, talvez ela realmente estivesse
se recuperando por completo.
Uma morte a menos na minha consciência.
Passei a Josh uma cópia de um resumo das instruções da Delta Nelson
e recostei-me enquanto ele folheava as páginas.
Josh virou uma página, lendo.
Recebi uma chamada na linha do meu escritório.
— Sayyid Hamdi na linha 1 para você, meu Alfa, — Felix anunciou.
Com outro olhar para Josh, coloquei o telefone no viva-voz.
— Sayyid, — eu disse.
— Nós temos uma dica sobre um caçador de vampyros que pode ter
tido alguns negócios com Konstantin, — ele disse sem rodeios.
— Caçador de vampyros? — Eu ecoei. — Um Caçador Divino?
Meu coração disparou.
Os Caçadores Divinos odiavam lobisomens e eram amplamente
considerados uma organização terrorista.
— Não, embora ele seja um humano, — disse Sayyid. — Bobby
Turner, cara branco, cinquenta e sete anos. Sem antecedentes contra
lobisomens, entretanto, apenas vampyros. Ele é suspeito de matar pelo
menos dois.
— Hm, — eu disse. Vampyros eram raros. E geralmente muito fortes,
embora a maioria não se comparasse a Konstantin. Como um humano —
e alguém que está passando da idade de aposentadoria — este caçador
deveria entender bastante do assunto.
Sayyid continuou: — Ele foi visto pela última vez em um bar de
motoqueiros em Crescent Grove. — Um farfalhar de páginas. — Bar do
Sonny.
Jocelyn

— É bom ver você de pé novamente, Jocelyn, — Sharon Lowell disse


quando entrei na sala da curandeira.
Eu só recentemente consegui ficar de pé novamente. Ficar acamada
por tanto tempo quanto estive era muito mais exaustivo do que eu
poderia ter imaginado.
Quando fechei a porta, Sharon fez um gesto em direção à mesa de
exame. — Por favor sente-se.
Eu mexi na pulseira em meu pulso.
— Essa bugiganga deve ser importante para você, — disse a
curandeira.
Eu concordei. — Minha mãe me deu quando fui aceita como
curandeira da Matilha. Ela disse que sempre me traria força.
A curandeira Lowell acenou com a cabeça, seu rosto ficando sério. —
Você vai precisar de sua força agora, Jocelyn.
Meu sangue gelou. — O que você quer dizer?
— Foi um milagre termos conseguido reanimá-la depois de sua
façanha na semana passada.
Meus olhos se voltaram para os dela. — Como está a Michelle?
— Recuperando-se bem, — disse Sharon, erguendo as sobrancelhas.
— Graças à sua loucura. Você teve muita, muita sorte, Jocelyn. Você
sobreviveu, com sua mente intacta. Acho que nunca vi alguém passar por
esse ritual tão bem quanto você.
—... Mas?
— O que você fez foi contra a natureza, Jocelyn, — disse Sharon. — Se
Michelle não pudesse ser salva naquele momento por meios de cura
aprovados, então era sua hora de morrer.
Eu balancei minha cabeça. Eu não podia aceitar isso.
— Não é direito do curandeiro prolongar a vida além do que temos o
dom de curar. Jocelyn, o que você fez, apesar de sua resiliência, traz
consequências graves.
Eu encontrei seus olhos. — O que você quer dizer?
— Sinto muito por ter que dizer isso, mas você se esgotou.
Uma onda de pavor me encheu.
— Eu não entendo, — eu disse.
Sharon apertou as palmas das mãos, quase como se estivesse rezando.
— Eu não posso detectar nenhuma centelha de poder de cura dentro de
você, Jocelyn. Se foi.
Eu respirei fundo.
Eu conhecia os riscos. Vou aceitar as consequências.
No entanto, um soluço sufocado saiu da minha boca quando a
curandeira falou novamente.
— E tenho muito medo de que a perda seja permanente.
Josh

Bar do Sonny. Eu conhecia aquele lugar muito bem.


Era um dos lugares favoritos do meu pai. Era o único lugar que
sabíamos que ele estaria quando não voltava do trabalho.
Se misturando com humanos.
Ignorando sua família.
Pedaço de merda.
Eu dei a Aiden um aceno de cabeça e o deixei para encerrar a conversa
com Sayyid.
Então eu fui para minha caminhonete. Minhas mãos tremiam de frio
enquanto eu tirava um frasco do porta-luvas e tomava um longo gole.
Aquele momento que eu compartilhei, no início do dia, com Michelle
em seu banho...
Foi ótimo.
E eu sabia que ela estava emocionada com a forma como as pessoas
estavam reagindo à sua entrevista.
Mas por baixo de tudo isso, ela não estava bem.
Eu podia dizer — podia sentir isso. Ela era minha companheira.
Ela concordou com aquela entrevista por medo. Eu queria dizer algo,
mas não sabia como.
Afinal, eu havia falhado com ela.
Michelle estava trabalhando muito para provar a todos —
especialmente a si mesma — que estava perfeitamente bem.
Mas ela estava com medo. Eu podia sentir isso, fervendo sob a
superfície, pronto para borbulhar.
Eu queria, mais do que tudo, fazê-la se sentir segura novamente.
Então vá para casa com ela. Segurá-la. Aproveite a Bruma.
Ajude-a a se curar.
Mas não consegui. Eu não podia sentar e fingir que tudo estava bem
quando não estava.
Konstantin ainda estava lá fora.
E enquanto aquele vampyro imundo estivesse vivo, Michelle nunca
estaria realmente bem.
Só havia uma coisa a fazer:
Destruir Konstantin.
Fazê-lo pagar.
Fazer com que ele nunca mais seja capaz de machucar ninguém.
Depois de mais um gole de uísque, liguei o Bronco.
Estou bebendo muito.
Mas o álcool ofereceu um calor muito necessário enquanto meu pé
pressionava o pedal do acelerador.
Eu tomei outro gole enquanto dirigia para o centro.
Devo esperar por Aiden?
Pode ser. Mas, ao mesmo tempo, eu queria respostas e as queria já.
Além disso, eu não tinha esquecido o papel do Alfa em tudo isso.
A maneira como ele defendeu aquele sugador de sangue...
Demorou cada grama de energia para manter a cabeça fria.
Soltei um suspiro.
Melhor não confiar em Aiden novamente. Ou qualquer um além de
mim.
Eu girei o volante e me dirigi ao bairro de Crescent Grove.
Fachadas de lojas degradadas deram lugar a prédios grandes e
quadrados cobertos de grafite.
Como Beta, essa área era familiar para mim. Estava repleto de crime e
violência.
O Sonny's era o único bar a três quarteirões.
A fila de motocicletas estacionadas do lado de fora facilitou a
localização.
Certificando-me de trancar minha caminhonete, fui até a porta do
Sonny's Bar, terminando um segundo frasco.
O cheiro forte e fermentado de álcool derramado pairava no ar como
uma Bruma.
Cheirava a fracasso e promessas quebradas.
Mas também a possibilidades.
Este era um lugar onde você poderia obter respostas — desde que
soubesse como perguntar.
O interior parecia uma cena de um filme dos anos 70.
Iluminação escura.
Placas de cerveja com luzes neon nas paredes.
Uma mesa de sinuca arranhada com feltro vermelho manchado.
Todos os caras que pararam o que estavam fazendo pareciam normais
— todos barbudos e com tatuagens suadas.
Humanos, todos eles.
Meu lábio se curvou enquanto eu examinava a sala.
Um desses idiotas sujos sabia sobre Konstantin.
Talvez ele o estivesse caçando. Talvez não.
Mas quem quer que fosse, encontrou Konstantin — e ele e o vampyro
sobreviveram.
E isso tornou esse Bobby Turner meu suspeito.
— Eu sou Joshua Daniels, Beta da MCL, — eu anunciei para a sala. —
Eu preciso falar com Bobby Turner. Ele vem silenciosamente, e vocês
podem voltar a fazer o que vocês fazem de melhor.
Meus olhos vasculharam a cena, sem ceder um centímetro.
Um lugar como este precisava ser dominado.
— Bobby não está disponível, — disse um negro magro, apoiado em
um taco de sinuca.
Tentei olhar em volta dos corpos que estavam no caminho. — Você
conhece Bobby Turner?
Ele me olhou com desdém. Com desrespeito.
Como se ele não estivesse nem um pouco assustado.
Esse perdedor realmente não sabia que eu poderia rasgá-lo membro
por membro?
— Eu te disse, Bobby não está disponível. Então, por que você
simplesmente não vai se foder?
O homem pressionou a ponta do taco de sinuca no centro do meu
peito.
Eu cerrei meus punhos.
Então é assim que você quer brincar
Aiden

Eu podia ouvir os sons de gritos e vidros quebrando enquanto eu


estacionava no Sonny's Bar.
Não era onde eu queria estar agora — fazia dias que não passava um
tempo com Sienna, mas Josh havia partido sem mim, e só agora eu havia
conseguido alcançá-lo.
Amaldiçoando a falta de autocontrole do meu Beta, desci do meu
novo BMW a tempo de ver um homem atravessar a janela do bar.
Maldito Josh.
Só um lobisomem teria força para atirar um homem assim. E não
qualquer lobisomem.
O homem caído, de pele escura, subiu em uma das motos, e então
outro homem, um branco com uma barba espessa, juntou-se a ele.
Juntos, eles fugiram para longe.
Meus olhos seguiram as motos desaparecerem ao longe.
Em seguida, o som de garrafas quebrando voltou minha atenção para
o bar.
Olhando para dentro, vi Josh lutando contra dois humanos enormes.
Ele balançou um taco de sinuca como se fosse um bastão de luta.
Senhor, me ajude.
Com um suspiro, mergulhei na luta, rasgando o terno que vestia
enquanto me mexia.
Eu soltei um grunhido.
Josh me notou e mudou para seu lobo dourado pálido, rasgando sua
calça jeans e camiseta.
Alguns estalos de minha mandíbula depois e os homens no bar
estavam prontos para recuar, segurando as palmas das mãos e
resmungando.
Me transformando de volta, não fiz nenhum movimento para cobrir
minha nudez.
— Qual de vocês é Bobby Turner? — Eu exigi.
— Ele e Raul simplesmente fugiram daqui, — gritou um homem
careca com tatuagens no crânio.
Eu ouvi o grito de raiva de Josh, e meus lábios se curvaram de raiva.
Meu Beta acabara de nos custar nossas melhores pistas.
Os dois homens que haviam partido nas motocicletas.
Capítulo 8
SE VOCÊ QUISER QUE ALGO SEJA FEITO DA
MANEIRA CERTA Aiden
— Merda! — Eu rosnei, olhando para Josh.
Ele estava de pé, nu, com uma cara carrancuda olhando para mim. —
Eu estava dando conta de tudo por aqui, — disse ele com os dentes
cerrados.
— Agora não, — eu rebati, saindo do bar.
Josh me seguiu enquanto eu marchava até o porta-malas do meu
BMW, onde sempre mantive algumas mudas de roupa.
— Eles provavelmente estão mentindo, — Josh disse enquanto eu
empurrava uma camisa para ele. — Provavelmente Bobby Turner ainda
está dentro do bar. Eles não cooperaram desde o momento que cheguei
aqui, — disse ele, enquanto sua cabeça emergia da gola da camiseta.
— Mesmo? — Eu disse. — Alguma ideia do porquê disso?
Josh fez uma careta. — Os humanos deveriam pensar duas vezes
antes de serem arrogantes com o Beta da porra da Matilha.
E meu Beta deveria pensar duas vezes antes de agir como um cachorrinho
arrogante. Tenho problemas mais importantes para lidar do que o ego dele.
Mordendo minha língua, passei por ele e entrei no bar.
Uma mulher vestida de couro com cabelo loiro oxigenado estava me
olhando de uma mesa.
Levei um momento para imaginar como seria a aparência de Sienna
vestindo nada além de uma jaqueta de motociclista.
A Bruma passou pela minha virilha, mas me forcei a afastar a imagem
da minha mente.
Eu tinha um trabalho a fazer.
Aproximando-me do barman careca, segurei uma nota de cinquenta.
— Você tem alguma informação sobre onde posso encontrar Bobby
Turner?
O barman pegou o dinheiro com um sorriso de escárnio e acenou
com a mão na direção da mesa de bilhar.
— Fala com o Cabeça de Chave, — disse ele. — O cara de jaqueta de
couro vermelha.
Com Josh atrás de mim, caminhei através do bar.
O homem de jaqueta de couro vermelha tinha uma barba de sete
centímetros. Seu cabelo castanho era pegajoso e tinha várias manchas.
Ele estava segurando um copo de uísque de centeio quase vazio.
— Cabeça de Chave? — Eu perguntei.
— Em carne e osso — ele disse, revelando uma grande lacuna entre
seus dois dentes da frente.
— Você sabe alguma coisa sobre Bobby Turner? Ele estava caçando
um vampyro que atende pelo nome de Konstantin.
Sua boca torceu como se ele tivesse chupado um limão. — Bobby
estava dolorido por causa daquele vampyro.
— Dolorido? Como assim?
— A esposa de Bobby morreu há algum tempo. O vampyro o fez vê-la
como se ela estivesse viva e bem, depois ele o fez ver outras coisas, mas o
Bobby não me disse o quê.
Eu estremeci.
Ele me lançou um olhar calculista.
— Esse vampyro merece morrer. — O rosto do Cabeça de Chave ficou
sombrio. — Quanto a Bobby, tudo que sei é que ele disse algo sobre ir
para o oeste.
— Oeste, — ecoei. Que específico.
Cabeça de Chave deu de ombros, claramente não querendo divulgar
mais detalhes.
— Obrigado pela ajuda, — eu disse sarcasticamente, lutando contra o
desejo de soltar minhas garras.
Com um olhar furioso para Josh, segui para fora do bar.
Sienna

Aiden voltou para casa carrancudo. Decidi não preocupá-lo com meus
problemas, então, em vez disso, persuadi-o a ir para a cama e juntos
assistimos a um filme, aninhados nos braços um do outro.
Na manhã seguinte, ele saiu às sete mais uma vez, uma garrafa
térmica de café na mão.
Eu sentia falta de nossa casa.
Este quarto de hotel era luxuoso, com papel de parede novo e móveis
elegantes e confortáveis, mas parecia estéril e sem vida.
Então, quando ouvi uma batida na porta, dei as boas-vindas.
Era Michelle.
Eu dei um passo para trás quando a vi, lembrando do que ela disse no
programa de Monica Birch.
Ela deve ter lido a expressão no meu rosto, porque ela ficou vermelha.
— Ei, espero que você não esteja com raiva de...
A verdade é que fiquei incrivelmente magoada por Michelle ter me
usado como bode expiatório ao vivo na televisão, mas tentei deixar isso
de lado.
Minha amiga havia praticamente ressuscitado. Eu poderia dar uma
folga para ela por enquanto.
Balançando minha cabeça, eu inalei profundamente.
— Não, — eu menti. — Você estava apenas dizendo a verdade.
Mas o que você fez ainda foi meio ruim.
Michelle tirou um pó compacto da bolsa e passou pó nas maçãs do
rosto.
Pensei ter visto suas mãos tremendo, mas poderia ter sido minha
imaginação, porque um segundo depois ela fechou o estojo e olhou para
mim, com seus olhos castanhos brilhando.
— Bom, — disse ela. — Porque eu tenho novidades. — Ela virou a
cabeça em direção à porta aberta. — Pode entrar agora! — ela chamou.
Espere, ela convidou outra pessoa?
Antes que eu pudesse registrar minha confusão, Monica Birch entrou
no meu quarto de hotel.
Meu queixo caiu.
— Olá, Srta. Mercer -Norwood, — ela disse. Seu sorriso era tão
brilhante, não havia como ser natural.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei.
— Ok, antes de você dizer qualquer coisa, apenas nos escute, —
Michelle disse rapidamente.
Suspirei — mas não tive saída.
— Por favor sente-se.
Fiz um gesto para a mesa redonda de vidro. Michelle e Monica se
sentaram e eu fiz o mesmo.
Monica franziu os lábios, entrelaçando os dedos e me olhando por
cima das unhas meticulosamente cuidadas.
Eu inclinei minha cabeça. — Então? Acabe com o suspense.
— Eu decidi, — disse Michelle, enquanto jogava o cabelo castanho
ondulado por cima do ombro, — trabalhar com Monica em um reality
show que ela me apresentou.
— Um reality show? — Eu ecoei, olhando para frente e para trás entre
elas em descrença.
Elas sorriram em uníssono com o meu choque.
Quando elas se tornaram tão próximas?
— Isso mesmo — Monica entrou na conversa, — Companheiras Reais
da Costa Leste.
Piscando, eu disse: — Entendo.
— É exatamente o que eu sempre quis, Sienna, — disse Michelle, e
por um momento, percebi uma pitada de vulnerabilidade em seus olhos.
Que ideia terrível. Michelle era muito frágil para isso.
Ela conversou com Josh sobre isso? Eu não podia acreditar que ele
toparia.
Mas Josh estava tão distraído ultimamente...
— Depois do sucesso estrondoso de sua estreia, — disse Monica,
sorrindo para Michelle, — Fiquei inspirada a olhar mais de perto todas as
companheiras de nosso Conselho Interno da Costa Leste.
— E eu serei a estrela! Monica diz que sou natural na frente das
câmeras! — Michelle interrompeu.
— Bem, se Sienna concordar, vocês seriam coadjuvantes! — Monica
disse alegremente. — O que é ainda melhor!
— Sim, protagonistas! — Mas o sorriso de Michelle vacilou e o ciúme
cintilou em suas feições.
Muita coisa aconteceu em dois minutos. Fiquei completamente
surpresa.
Como Michelle poderia pensar que essa era uma boa ideia? Ela
precisava descansar e se recuperar depois de tudo o que havia passado,
não ir galopando para algum reality show.
— Olha... Michelle tem certeza de que pensou bem sobre isso? — Eu
perguntei.
— Eu disse a você que Sienna iria relutar, — Monica murmurou para
Michelle. — Mas não tem como fazer o programa sem ela.
Michelle não deveria estar fazendo esse programa. Algo cheira mal
sobre tudo isso.
— Por favor, Si? — Michelle perguntou. — Não é como se fosse uma
coisa insuportável.
— Mas, estou muito ocupada. Eu tenho todas as minhas
responsabilidades da Matilha.
— E prometemos não interferir em nada. Além disso, você recebe
todas as vantagens! Maquiadores, cartas de ãs...
— E-mails de haters, — acrescentei.
— E-mails de haters! Claro que não! — Monica acenou com a mão
desdenhosa.
Michelle se contorceu desconfortavelmente, mas parecia firme.
Eu me perguntei novamente o quanto ela realmente queria isso, e o
quanto Monica estava apenas brincando com o desejo da minha amiga
de ser o centro das atenções.
— Olha, eu disse a Monica que você não gostaria de fazer isso, — disse
Michelle, seu tom marcado pela decepção. — Eu disse a ela que faria o
que ela quisesse. Eu nem me importo. Mas você...
Ela zombou e puxou o compacto de volta, retocando o rosto
novamente.
Era como um pequeno escudo que ela segurava, pronto para desviar
minha recusa em cooperar.
Eu realmente queria dizer não.
Mas eu a observei enquanto ela se arrumava.
Vi como ela estava desesperada.
— Eu sou normal. Eu sou bonita. Estou saudável, — disse. —
Konstantin não deixou nenhuma marca em mim.
Nenhuma marca visível.
Ah, Michelle. Ela estava tão determinada a não deixar ninguém ver o
quão ferida ela estava.
E ela estava prestes a expor tudo isso ao vivo na TV.
Alguém tinha que protegê-la. E Josh e Aiden estavam ocupados
rastreando Konstantin.
Eu falhei com Emily — falhei em estar lá quando ela precisava de
mim.
Eu não poderia decepcionar Michelle também.
— Você quer fazer isso mesmo? — Eu perguntei a ela novamente.
— Mais do que tudo, Sienna. Por favor! — ela disse, com sua voz
aumentando em um gemido.
Suspirei. Se Michelle estava determinada a fazer isso, eu tinha que
concordar. Eu tinha que encontrar uma maneira de reparar tudo o que a
fiz passar.
— Eu topo, — deixei escapar, antes que eu mudasse de ideia.
Michelle se virou para mim então, os olhos arregalados. — É sério?
— É sério? — Monica ecoou igualmente surpresa.
Eu concordei.
— Sim, — eu disse, tentando soar convincente.
— Não consigo acreditar, — disse Michelle, genuinamente
emocionada. — Obrigada, Sienna. Sério. Eu... eu realmente preciso disso
agora.
— Não vou decepcionar você, — eu disse, desejando estar mais
animada.
— Maravilhoso! Você não vai se arrepender, — Monica disse, com os
olhos arregalados.
Ela começou a falar sobre horários e contratos. Tentei ouvir, mas não
pude evitar a sensação de que ela havia preparado uma armadilha
perfeita para eu cair.
E eu não tinha ideia do que esperar em seguida.
Aiden

— Chamada de Sayyid na linha 2, — disse Felix pelo intercomunicador.


Atendi a ligação, recostando-me na cadeira giratória. — Sayyid.
Alguma novidade sobre a caça ao Konstantin?
— Na verdade, sim, meu Alfa. Direcionamos a busca para o noroeste,
como você disse, e acertamos.
A caneta que eu estava batendo parou.
— Diga-me.
— Robert Turner em um caixa eletrônico em Columbus, Ohio. Quais
as ordens?
— Pegue o próximo voo para Columbus. Eu te encontro lá.
— Sim, meu Alfa.
Eu desliguei.
Agora, a questão era compartilhar ou não essa nova informação com
Josh.
Ele era meu Beta. Segurança da matilha, aplicação da lei para todo o
território — era responsabilidade dele.
Além disso, se eu o deixasse cuidar disso, poderia ficar aqui em
Mahiganote e cuidar de Sienna.
Na noite passada, ela acordou gritando de terror, e levou mais de uma
hora para convencê-la a voltar a dormir.
Mas a única maneira de realmente apagar os pesadelos da mente de
Sienna era eliminar a ameaça daquele vampyro.
E depois da maneira como Josh complicou tudo no Bar do Sonny...
Eu não o culpava. Ou pelo menos... tentava não culpar ele.
Ele ainda estava perturbado com o que acontecera com Michelle.
Claro, ele estava aliviado — em muito melhor forma do que antes —
mas eu senti o cheiro de álcool em seu hálito.
Ele precisava de mais tempo para se recuperar.
E no final das contas, o velho ditado era verdade.
Se você quer algo bem feito, faça você mesmo.
Capítulo 9
PLANEJANDO UM PROGRAMA Aiden
Aiden: e aí, gatinha

Sienna: oi

Aiden: Eu sinto muito, mas vou ter que


cancelar nosso brunch. Estou indo para
Ohio

Sienna: o que

Sienna: OHIO???

Aiden: Tenho uma pista sobre Konstantin

Sienna: ...

Aiden: quer vir me assistir fazer as malas?


Sienna: encontro você no hotel

Sienna estava sentada em uma poltrona, olhando distraidamente pela


janela, quando entrei em nosso quarto de hotel.
Ela parecia tão cansada e pálida; meu coração apertou em
preocupação.
Eu acariciei sua bochecha. — Ei, — eu disse. — Você está bem?
— Estou bem, — disse ela com um encolher de ombros. — Apenas
preocupada. Você está indo atrás de Konstantin.
Coloquei suas mãos nas minhas.
— Você não precisa se preocupar. Eu terei meu Esquadrão de
Caçadores como reforço. Vou tomar todas as precauções.
— Ele é tão perigoso, Aiden. Ele matou meus pais... a companheira de
Aaron. Ele pode tentar matar você também.
Virei seu queixo, captando seu olhar. — Eu não vou deixar isso
acontecer, Sienna.
— Eu não quero que você vá, — ela sussurrou.
— Eu sei, — eu disse. Inclinei-me e beijei sua testa. — Mas você sabe
tão bem quanto eu que ele deve ser eliminado.
Apertando a mão dela, levantei-me e comecei a montar uma mala de
viagem.
— Sinto muito, Sienna, — eu disse com sinceridade. — Eu gostaria de
não ter que ir. Provavelmente vou ficar fora por um tempo também, a
menos que tenhamos sorte logo de cara.
Sienna suspirou.
— Bem, pelo menos Michelle vai me manter ocupada.
— Ah, é?
— Sim, — disse Sienna, mais uma vez olhando pela janela. — Tanta
coisa para fazer e ela inventou de me envolver em um reality show.
Companheiras Reais da Costa Leste. Ela está muito feliz com isso, é claro.
De onde veio isso?
— Não soa como o seu tipo de projeto, — eu disse com um sorriso
irônico.
— Não é. Mas ela está decidida a fazer isso, e eu não acho que ela
deveria encarar sozinha. Ela está tão frágil agora.
Ela não é a única.
— Tem certeza de que é uma boa ideia? Posso acabar com essa coisa
toda, sabe?
Sienna me deu um pequeno sorriso.
— E decepcionar Michelle e sua multidão de ãs apaixonados? Acho
que ela iniciaria um golpe.
Ainda não convencido, levantei minhas sobrancelhas para ela.
Sienna acenou com a mão.
— Tenho certeza de que não será nada. Só aquela mulher Monica nos
seguindo enquanto fazemos compras. Pode até ser divertido.
— Se você diz, — eu disse. — Sinta-se à vontade para usar o cartão de
crédito da MCL se quiser.
Sienna me lançou um olhar de indignação fingida.
— Eu nunca desviaria fundos da Matilha, Alfa Norwood!
— Ok, — eu admiti. — Use nossos cartões de crédito, então.
Seu rosto se iluminou. — Talvez eu use.
— Você definitivamente deveria. Arranja algum tipo de roupa sexy e
quando toda essa provação acabar, vou levá-la para passear na cidade,
que tal?
Ela se levantou e veio até mim, envolvendo os braços em volta do
meu pescoço. — Parece. Incrível.
Minhas necessidade de fazer as malas desapareceu enquanto eu a
beijava, o toque suave de seus lábios nos meus despertavam minha
Bruma.
Senti a tensão escapando de seus ombros e costas enquanto ela
relaxava no beijo.
Meu voo para Ohio de repente parecia sem importância. Columbus
poderia esperar mais alguns minutos enquanto eu passava algum tempo
com minha companheira.
Gentilmente, eu a guiei para a cama.
Sienna

Aiden me despiu lentamente, beijando a pele que ele revelou.


Corri meus dedos por seu cabelo sedoso, fechando meus olhos e
desejando que todas as minhas preocupações fossem embora, apenas por
agora.
Quando ele tirou minha calça jeans e calcinha, ele deu um beijo na
minha virilha, arrepiando todo o meu corpo.
Com um gesto suave, ele deslizou as mãos ao longo do interior das
minhas pernas nuas, separando minhas coxas.
Sua língua foi em direção ao meu sexo, quente e pulsante.
Com um suspiro, arqueei minhas costas, enquanto meus dedos
penetravam seus cabelos.
— Aiden, — eu sussurrei, enquanto minha respiração se tornava
irregular.
Ele correu seus dedos ao longo da minha vagina enquanto sua língua
me provocava e me dava prazer.
Minha mente se esvaziou quando o tesão tomou conta, intensificado
pela minha Bruma ardente. Meu corpo estava implorando por liberdade.
Sua língua deslizou dentro de mim, atingindo os lugares certos várias
vezes, me deixando louca.
Eu não aguentei e comecei a gritar.
Os braços de Aiden envolveram meus quadris enquanto eu balançava
em êxtase.
Um momento depois, tudo acabou, e eu rastejei em seu abraço,
saboreando mais um momento de amor com meu companheiro antes
que ele tivesse que ir.
Michelle: Ei Si

Michelle: ocupada?

Sienna: não muito, o que foi?

Michelle: acho que devemos nos encontrar para falar sobre o


programa

Michelle: já almoçou?

Sienna: ainda não

Sienna: onde você quer me encontrar?


Winston's?

Michelle: no country club

Sienna: ...
Sienna: claro

Michelle: chego em quinze

Olhei para o celular por mais um momento e suspirei.


Parte de mim realmente desejava que Michelle escolhesse uma
maneira diferente de superar seu trauma.
Mas ela era minha amiga e eu iria ajudá-la.
Tomei um banho rápido, tentando animar a mim mesma.
Pode não ser tão ruim.
Posso tentar focar a maior parte da atenção em Michelle.
Ela vai adorar isso.
Eu sorri, esperando que minhas previsões estivessem certas, e isso
não fosse um pesadelo total.
Aiden

Meu celular vibrou assim que meu motorista entrou no aeroporto.


Sayyid estava na outra linha.
— Você vai ter que mudar seus planos de voo, — disse ele de uma
forma abrupta.
— E por que isto? — Eu perguntei.
— Temos uma filmagem de Turner passando um sinal vermelho em
Chicago há 45 minutos.
— Entendo.
Fiz arranjos para encontrar Sayyid e o resto do Esquadrão de
Caçadores em O'Hare.
Saindo do carro, acenei para Bertrand, o piloto do jato particular da
Matilha da Costa Leste.
— Mudança de planos, capitão. Parece que estamos indo para Windy
City.
Recostei-me na cadeira com um suspiro.
Essa caçada estava me levando cada vez mais longe de onde eu
realmente precisava estar.
Que era em casa, com Sienna, antes que ela acabasse consigo mesma
por conta da própria culpa.
Michelle

Entrei no Mahiganote Country Club sabendo que logo estaria fazendo


isso com uma câmera seguindo cada movimento meu.
Eu não via a hora.
Monica Birch já nos esperava na melhor mesa da casa. Ela sorriu
quando Sienna e eu entramos.
Mas notei que seu olhar foi direto para Sienna, e havia um brilho em
seus olhos.
Eu parei por um momento, uma carranca vindo ao meu rosto.
Sienna nem queria estar aqui. Fui eu quem sofreu, que merecia um
pouco de atenção.
Que acordou ontem à noite suando frio apenas para encontrar a cama ao
lado vazia, e então encontrou seu companheiro caído no sofá abraçando uma
garrafa de uísque pela metade.
Tanto faz. Espere até as câmeras começarem a rodar oficialmente. Vamos
ver quem é a verdadeira estrela do show.
Suavizando minha expressão, me sentei enquanto Monica corria para
encontrar minha amiga, estendendo as mãos como se fosse tentar
abraçá-la.
— Sra. Mercer-Norwood! — Monica jorrou em um tom alegre e falso.
— Eu não posso te dizer o quão animada estou em trabalhar com você!
— Hm... sim. Obrigada — disse Sienna, mordendo o lábio.
Eu sufoquei um suspiro de exasperação. Ela poderia pelo menos fingir
estar animada.
Isso significa muito para mim. Por que ninguém vê isso?
— Então por onde começamos? — Eu perguntei depois que todas
pediram suas bebidas.
— Este é o seu show, Michelle. O que você tinha em mente? — Sienna
respondeu.
— Eu estava pensando que poderíamos fazer algumas ligações e
reunir as meninas para uma noite na cidade! — Eu disse.
Sienna franziu a testa. — Quer dizer, seria ótimo ver as meninas, mas
Mia e Selene estão muito ocupadas com os bebês...
— Mais um motivo para elas saírem de casa e aproveitarem uma noite
com as garotas!
— Senhoras, se me permitem, — Monica interrompeu, — Eu tenho
uma ideia.
Pausando, eu olhei para ela com surpresa.
Monica me disse que minhas ideias teriam prioridade máxima. Esta
foi a primeira vez que ouvi sobre algum outro plano.
Monica sorriu, revelando seus dentes muito brancos. — Este show
será uma série de oito episódios, com muitos eventos de mídia social
para acompanhar.
— Eventos de mídia social? — Sienna ecoou.
— Sim, pequenos eventos únicos que podemos transmitir ao vivo, —
explicou Monica.
Dava para sentir a desconfiança de Sienna.
Meu coração parou. Se ela não concordasse, meu sonho de ser famosa
estaria morto antes de começar.
Já doía bastante ficar na sombra da minha melhor amiga, mas era
melhor do que não ter programa nenhum...
Diante das câmeras foi o único lugar em que me senti saudável e
completa.
Eu não poderia perder isso.
Não tão cedo.
Meu estômago se apertou de ansiedade.
Monica ergueu as mãos como se estivesse emoldurando uma faixa no
ar. — Você e Michelle vão planejar e realizar um grande evento, com o
próprio evento acontecendo no oitavo episódio.
— Que tipo de evento?
— Ah, os detalhes não são tão importantes. O importante é mostrar a
companheira do Alfa.
Eu enrijeci, e Monica deve ter notado porque ela rapidamente
acrescentou: — E, claro, a companheira do Beta e o resto do conselho
interno.
Sienna franziu a testa e olhou para mim. — Michelle, tem certeza de
que é isso que você quer?
Eu pausei. Para ser honesta, "mostrar" minha melhor amiga já famosa
era a última coisa que eu queria.
Eu pensei que o show seria focado em mim, na minha jornada
enquanto mostrava ao mundo que estava mais forte do que nunca.
Mas agora era tarde demais para voltar atrás.
— Com certeza, — eu disse.
— Ótimo, — disse Monica, seu sorriso ainda mais largo. — Desta
forma, todos no mundo conhecerão a real Sienna Norwood.
Sienna

A "real" Sienna Norwood?


O que isso significa?
— E isso é... bom? — Eu perguntei.
— Pense na ótica! — Monica exclamou.
— Não tenho certeza se sei o que isso significa.
— Ela quer dizer que as pessoas formarão uma percepção de quem
somos, — disse Michelle.
— Que tipo de percepção? — Eu perguntei. Eu já tinha testemunhado
o poder da mídia para distorcer e manipular a verdade.
— O planejamento e a execução de uma grande festa são perfeitos, —
É É
insistiu Monica, ignorando minha pergunta. — É divertido. É
emocionante. Vamos deixá-los esperando no final dos episódios, quando
as coisas derem errado.
— O que te dá tanta certeza de que as coisas vão dar errado? — Eu
perguntei.
— Bem, sempre dão errado, — Monica riu. — Além disso, acho que
um pouco de pressão de tempo seria bom. O que você acha de fazer um
Festival da Chama?
— Um o quê?
Michelle revirou os olhos. — Você sabe, Si. Aquela velha celebração
onde eles abençoavam todas as velas. Deve acontecer em 15 de janeiro.
— Ah, certo — espera, isso é daqui uma semana, — eu suspirei.
Monica acenou com a cabeça. — O Festival da Chama costumava ser
um feriado importante. Ele saiu de moda — não foi celebrado nas
últimas décadas em nenhuma Matilha que eu conheça.
— Pense desta forma, — ela continuou. — Você lidou com algumas...
reações adversas sobre a forma como as coisas correram neste outono
com o Festival da Fertilidade.
Pra dizer o mínimo.
— Revitalizar um antigo costume seria uma ótima maneira de
acalmar as coisas com os tradicionalistas, — disse Monica, com os olhos
brilhando.
Suspirei e olhei para Michelle. — O que você acha?
Ela sorriu amplamente, mas a expressão não alcançou seus olhos.
Esta é uma ideia tão ruim.
Mas eu não estava prestes a atrapalhar o sonho da minha melhor
amiga.
Eu devia muito a ela.
— Dar uma grande festa? Acho que devemos ir em frente! — Ela disse
brilhantemente.
Tentei sorrir de volta, mas saiu mais como uma careta.
— Tudo bem então, — eu disse. — Vamos fazer isso.
Capítulo 10
LIMITE DE CHICAGO
Sienna
Aiden: Sienna, mudança de pianos

Sienna: você não vai mais???

Aiden: Desculpe, querida. Na verdade, agora vou pra Chicago,


não pra Columbus

Sienna: por quê?

Aiden: longa história. Câmera de trânsito... cara que estou


perseguindo...

Aiden: explico tudo quando eu chegar em casa

Aiden: o que eu espero que aconteça em breve


Aiden: Estou com saudades

Sienna: Eu também tô

Sienna: obrigado por me avisar

Sienna: bom voo 😘 (emojis mandando


beijo)

As dez, encontrei Michelle, Monica e o cinegrafista de Monica, Curtis —


acho que era esse o nome dele — do lado de fora do Regency Cove Mall.
Estávamos indo às compras para o — Festival da Chama.
Não era bem o tipo de compra que eu tinha em mente quando estava
conversando com Aiden, mas teria que servir.
Ao me aproximar deles, endireitei meus ombros.
Minha primeira prioridade era garantir que essas pessoas do
entretenimento não tirassem proveito de Michelle.
Mas melhorar minha imagem como companheira do Alfa também
poderia não ser uma ideia tão ruim.
Decidi torcer para que desse tudo certo.
— Ei, — cumprimentei Michelle. — Você tá linda.
Ela estava usando um vestido Vera Wang marrom com uma fenda na
perna.
Eu, por outro lado, estava de suéter e jeans.
Uma de nós estava definitivamente mais adequada para a vida de
celebridade.
O olhar no rosto de Michelle quando ela deu uma olhada na minha
roupa apenas confirmou isso.
— Ei, pelo menos assim, a câmera vai te amar ainda mais em
comparação, — eu disse com uma risada.
Michelle revirou os olhos, mas sorriu para mim.
— Bem, — eu disse, — vamos?
— Ah. temos que esperar mais um minuto, — disse Monica. — Há
outro membro se juntando à nossa pequena equipe.
Achei que ela quisesse dizer um técnico de som ou algo assim, mas
então uma mulher afro-americana chique se aproximou.
Era Blair King.
Claro. Ela era outra — companheira — da Matilha da Costa Leste —
acasalada com Nelson King, Chefe do Bem-Estar Social.
Eu gostava da Blair, mas seu porte elegante podia ser intimidador.
Não por culpa dela, ela sempre me fez sentir como uma criança
brincando de se vestir.
Eu vi Michelle olhando o vestido Chanel de Blair com inveja.
Aposto que ela aprecia minha falta de senso de moda agora, pensei
ironicamente.
— Sienna, Michelle, que bom ver vocês — disse Blair com um sorriso
caloroso.
Ela estendeu as mãos e cada um de nós pegou uma para apertar.
Todos trocaram beijos no ar — tudo isso estava sendo filmado.
Até agora tudo bem.
Exceto que sinto que não recebi o memorando sobre marcas de estilistas.
— Então, o Festival da Chama? — Disse Blair, erguendo as
sobrancelhas para mim. — Estou surpresa. Não consigo me lembrar da
última vez que ouvi falar de uma matilha celebrando isso.
— 1998, — interrompeu Michelle. — O último que encontrei em uma
pesquisa na web — Uau, — disse Blair, olhando para mim com os olhos
cheios de humor. — Não pensei em você como alguém que reaviva as
velhas tradições.
Dei de ombros. — Na verdade, não foi minha ideia.
— Sienna, — Monica interrompeu, — Eu também esperava que sua
irmã, Selene, comparecesse. Ela é a companheira do advogado da
Matilha, não é?
— Ah, é..., — eu me atrapalhei.
— Você pode falar com ela por mim, não é? Ou sua mãe, por falar
nisso. Já será o suficiente, — disse Monica. — Para a próxima vez.
Eu balancei a cabeça em concordância, mas, pessoalmente, duvidava
que Selene tivesse energia ou interesse, tendo um recém-nascido para
cuidar.
E meus pais estavam ocupados ajudando com a bebê Vanessa.
Monica nos conduziu até o shopping, com as câmeras a reboque, e
seguimos para a Clair de Lune, uma loja de decoração de interiores de
luxo.
O plano, pelo que entendi, era comprar muitas velas.
O que não era exatamente minha ideia de entretenimento televisivo,
mas tanto faz.
Porém, quando entramos na loja, vi que ela havia sido reorganizada
para acomodar a grande câmera e o equipamento de iluminação, tudo
centralizado em torno de três pódios bem iluminados.
— Ok. pessoal, tomem seus lugares! — Monica cantou quando
entramos. Uma dúzia de cinegrafistas correu para cumprir suas ordens.
Ela se virou para nós três. — Senhoras, se vocês me seguirem até seus
pódios, combinamos um joguinho para dar o pontapé inicial!
— Que tipo de jogo? — Eu perguntei, lançando um olhar suspeito
para Michelle. Mas minha amiga estava muito ocupada verificando sua
maquiagem em um pó compacto para notar.
— Um jogo divertido! Com um prêmio fabuloso para a vencedora! —
Monica respondeu, sem olhar para mim.
Fui a única que percebeu como raramente ela fazia contato visual
com qualquer coisa que não fosse a lente de uma câmera?
Do meu outro lado, Blair King parecia tranquila como sempre.
Tomamos nossos lugares atrás dos pódios de plástico, que exibiam
listras amarelas e vermelhas, como chamas. Pequenas campainhas
vermelhas foram montadas no topo.
As câmeras foram apontadas diretamente para nós. O calor das
lâmpadas estava fazendo com que o suor pingasse no meu pescoço.
— Assim que estivermos prontas para começar, tudo o que vocês
precisam fazer é responder a algumas perguntas sobre o Festival da
Chama. Após duas rodadas, o competidor com as respostas mais corretas
receberá um pacote de spa com tudo incluído em um resort cinco
estrelas!
— Aí, mal posso esperar! — Michelle disse animadamente.
As câmeras apontaram suas faces vazias para mim.
Como eu deveria responder a perguntas quando mal conseguia me
lembrar por que estava ali?
Eu não sei nada sobre essas tradições velhas.
Minha garganta estava seca.
— Tudo bem, pessoal! — Monica disse: — Estamos ao vivo. Agora
vamos começar nosso jogo de O Show do Festival!
Ela sorriu para nós três, alinhadas como competidoras de um
programa de auditório.
— Primeira pergunta: por que as velas vermelhas são consideradas
sagradas para o Festival das Chamas?
Eu não fazia ideia.
Mas minhas mãos suavam e meus dedos escorregaram para a
campainha.
PLIM!
— Sienna!
Uhhhhh, inventa alguma coisa logo!
— Porque... simboliza o sangue da fertilidade?
— Correto! — Monica gritou.
Michelle me encarou, mas Blair parecia impressionada.
Tentei disfarçar meu sorriso quando um ponto apareceu sob meu
nome no placar.
— Próxima questão! Em que ano o primeiro Festival da Chama foi
gravado?
PLIM!
Desta vez, toquei a campainha de propósito, embora tivesse apenas
cerca de vinte por cento de certeza de que minha resposta estava correta.
— 1547!
— Correto! — Monica gritou.
— Acho que minha campainha não está funcionando direito, — disse
Michelle em seu pódio.
— Próxima pergunta, aqui no Show do Festival! — Monica disse como
se Michelle não tivesse falado.
Eu vi a mandíbula da minha amiga apertar de tensão.
Ah, qual é, é apenas um jogo, pensei, começando a me divertir. E estou
ganhando.
Mas então eu olhei de volta para Michelle, que estava olhando com
um sorriso fixo e brilhante demais para as câmeras.
Show do Festival
Eu pensei que isso deveria curar feridas, não causá-las.
Josh

Michelle me manteve acordado metade da noite falando sobre seu novo


reality show.
Parte de mim sabia que deveria estar mais atento — minha
companheira estava lutando para se recompor e eu precisava apoiá-la.
Mas, ao mesmo tempo, não entendia como andar na frente de um
monte de câmeras supostamente curava alguma coisa.
Não quando Konstantin poderia estar tramando sua vingança.
Acabei levando uma garrafa de uísque para o meu escritório, onde me
sentei sozinho, bebendo até as primeiras horas da manhã.
Então, no início, eu estava de ressaca e chateado quando cheguei à
Casa da Matilha na manhã de segunda-feira.
Minhas garras coçavam para devorar alguma coisa, e eu esperava
continuar a busca pelo vampyro.
Exceto pelo fato de que me disseram que o Alfa não estava no
escritório naquele dia.
— Bem, quando ele volta? — Eu perguntei a Felix, o assistente de
Aiden.
Felix me deu seu habitual sorriso excessivamente afetado. — Ele
mandou um e-mail para me informar que havia pousado em Chicago na
noite passada...
— O que você está falando?
Nelson desceu o corredor. — Ei, Josh, algum problema?
Eu fiz uma careta. — Estou tentando entender o que Felix está me
dizendo. Aiden está em Chicago?
Nelson me conduziu até seu escritório. — Aiden foi atrás de
Konstantin.
Meu sangue começou a latejar em meus ouvidos.
— Por que... por que só estou ouvindo sobre isso agora? — Eu
perguntei. Minha dor de cabeça estava rasgando o meu crânio.
Nelson parecia desconfortável. — Aiden sentiu que com tudo o que
você tem para fazer... ele preferia lidar com isso sozinho.
Minhas mãos cerradas em punhos. — Eu sou o Beta dele.
Nelson concordou. — Claro. Mas você está muito estressado
ultimamente, Josh…
— Já chega, — eu lati e saí.
Eu não pude acreditar.
O desgraçado havia me deixado para trás.
Aiden

O sol estava nascendo sobre Chicago quando meu voo parou no portão.
Entre o fuso horário e a expectativa sobre a possibilidade de pegar
Konstantin, eu estava estranhamente nervoso.
Mas não havia tempo a perder. Assim que saí do avião, mandei uma
mensagem para Sayyid.

Aiden: acabei de pousar em O'Hare

Aiden: o que você sabe até agora?

Sayyid: Temos filmagens de Turner

Sayyid: o reconhecimento facial o sinalizou

Sayyid: eu também falei com o comissário de polícia local

Aiden: e?

Sayyid: Houve uma série de ataques na cidade

Aiden: que tipo de ataques?

Sayyid: Exsanguinações. Quase todos sem-teto


Aiden: quando foi o primeiro ataque?

Sayyid: cerca de uma semana atrás

Aiden: então é provável que Konstantin


esteja em Chicago?

Sayyid: parece que sim

Aiden: Tudo bem. Isso é bom.

Aiden: significa que estamos na cola do


desgraçado

Sayyid: sim meu Alfa

Sayyid: como você gostaria de proceder?

Aiden: primeiro, vamos encontrar Turner


Aiden: precisamos de toda a ajuda possível

Sayyid: Sim, meu alfa.

Sienna

PLIM
— Dezesseis! — Eu gritei. — Os lobisomens geralmente
experimentam a Bruma pela primeira vez aos dezesseis anos de idade.
— Correto! — Monica cantou.
Era a rodada final da competição, e Michelle e eu estávamos
empatadas com quatro pontos cada.
Blair, que parecia achar que bater na campainha era um tanto
indelicado, só tinha dois pontos e se resignou ao terceiro lugar.
— Ok, Sienna e Michelle, temos uma pergunta final para desempate.
A mulher que responder corretamente receberá o pacote de spa com
tudo incluso!
Eu sorri para Michelle, curtindo a competição amistosa.
Mas seu olhar de resposta foi algo entre um rosnado e uma careta.
Monica estreitou os olhos. — Vamos lá: qual flor é tradicionalmente
associada ao Festival da Chama?
Lírios-de-tigre! Puta merda, essa eu sei!
PLIM!
Minha mão apertou a campainha, mas então fiz uma pausa antes de
falar.
Michelle realmente quer ganhar isso.
Então, deixe-a vencer O que você tá fazendo?
Essa coisa toda era pra ajudar Michelle.
— Hm... petúnias? — Eu disse.
— Ah, infelizmente a resposta está incorreta, — disse Monica. —
Agora. Michelle, se você responder corretamente, você ganha! Mas se
você errar, a pergunta volta para Sienna para mais uma chance!
Ok, Michelle. Você consegue.
Mas minha amiga estava mordendo o lábio inferior.
— Eu acho que... Hm... Lírios-de-calla?
— Errada! — Monica disse, parecendo encantada.
Seus olhos se voltaram para mim. — Ok, Sienna, esta é sua chance de
conquistar a vitória. Se você não acertar, teremos que fazer outra rodada.
A diversão do jogo tinha acabado e eu definitivamente não queria
fazer outra rodada.
— Lírios-de-tigre, — respondi com um suspiro.
— E nós temos uma vencedora! — Monica cantou com um brilho nos
olhos. — Sienna Norwood, a companheira do Alfa!
Michelle parecia estar lutando para não chutar o pódio.
— Essa pergunta era muito difícil, — eu disse, tentando suavizar as
coisas.
Mas o puro veneno em seus olhos quando ela olhou para mim foi o
suficiente para parar minha língua.
— Nunca fui muito boa nesse tipo de jogo, — concordou Blair.
— Então, Sienna, quando você vai aproveitar as vantagens de seu
pacote de spa VIP exclusivo? — Monica perguntou perto de uma câmera.
Olhei para Michelle e Blair e tive uma ideia. — Na verdade, acho que
devemos ir todas juntas. Algum tempo depois de terminar a filmagem.
Será um prazer para mim!
Os lábios de Michelle se curvaram nos cantos e Blair assentiu
graciosamente.
Mas com o canto do olho, vi o olhar de decepção de Monica.
Eu consegui evitar uma explosão com Michelle e garanti que Monica
não pudesse filmar nosso dia no spa.
Toma essa, pensei vitoriosamente.
Mas então Monica sorriu para mim e eu senti um arrepio percorrer
minha espinha.
Aiden

Mandei Sayyid ao legista para fazer perguntas sobre os assassinatos.


Gostaria de verificar a cena do crime mais recente.
Ficava em um dos muitos túneis de carga abandonados onde os sem-
teto costumavam se reunir em Chicago.
A chuva começou a cair, escurecendo o céu assim que entrei nos
trechos ainda mais escuros.
Uma cascata de água caía das grades da rua acima. Meus sapatos
respingaram ruidosamente nas poças crescentes.
Esses túneis de concreto foram ficando cada vez mais escuros e
perigosos — quase todos foram esquecidos, exceto por aqueles que foram
forçados a procurá-los para se abrigar no frio inverno de Chicago.
Trilhos enferrujados cortavam o solo em sua base.
O cheiro de mijo velho estava impregnado nas paredes.
Eu sentia falta do ar puro de Mahiganote, da paz da floresta.
Acima de tudo, sentia falta de Sienna.
Faça isso para que você possa ir para casa ficar com sua companheira.
Passei por um monte de abrigos, olhando para as caixas de papelão e
tendas enquanto caminhava.
As pessoas mal me olharam.
Pensei em parar para fazer perguntas, mas decidi fazê-lo no caminho
de volta, depois de examinar a área onde a polícia havia encontrado a
vítima mais recente.
As paredes perto dos barracos eram coloridas com pichações, mas
quando deixei a área habitada para trás, elas tomaram-se cinza.
Meus passos ecoaram.
Alcancei a fita da cena do crime, totalmente amarela contra a cena
opaca e sem cor.
Talvez por causa dos odores, ou por causa da falta de barulho, não
percebi que mais alguém estava ali comigo.
Até que ele atacou.
Capítulo 11
SIENNA PEDE AJUDA Aiden
Dentes rangentes escaparam a centímetros de minha garganta.
Agora eu sentia o cheiro de vampyro — mas aquele não era
Konstantin.
Ele era forte e tinha cabelos loiros desgrenhados.
Eu o tirei de cima de mim e mudei.
Minha forma de lobo elevou-se sobre ele. Eu rosnei e mostrei meus
dentes.
Ele se lançou sobre mim e eu rugi, me contorcendo para tentar dar
uma mordida em sua carne.
Ele puxou uma faca de algum lugar em suas roupas e me cortou,
abrindo um ferimento em minhas costelas.
Com um grito, pulei para longe dele, então circulei, estreitando meus
olhos enquanto julgava em que lado atacar.
Aquela maldita faca estava complicando as coisas.
Eu não queria simplesmente pular sobre o cara e arrancar sua
garganta. Ele era um vampyro. Ele poderia saber algo sobre Konstantin.
Mas ele tinha a intenção de me matar — sem dúvida.
Ele atacou, levantando a faca e mergulhando-a.
Esquivando-me, eu parti para cima dele.
— Largue a faca, Walter! — uma voz velha veio atrás de mim.
Eu me virei. Um homem branco envelhecido usando um boné de
beisebol desbotado estava apontando uma espingarda para o vampyro.
Quando me virei para o vampyro, notei uma sombra se movendo na
penumbra atrás dele.
— Renda-se agora, Walter, e o bom Alfa aqui pode deixá-lo viver, —
disse o rapaz com boné de beisebol com um aceno de cabeça para mim.
O vampyro não estava raciocinando, no entanto.
Ele cambaleou em direção ao cara com a espingarda, que puxou o
gatilho, mas levantou o cano para evitar matá-lo.
Os túneis amplificaram o barulho da explosão.
Foi muito alto para minhas orelhas de lobo, e eu vacilei. Explorando
minha distração momentânea, o vampyro me atacou novamente.
A adaga perfurou meu ombro e eu gritei de dor, então rosnei
enquanto mordia seu braço.
Ele puxou a faca para fora, levantando-a para me esfaquear
novamente.
BANG!
O cara de boné de beisebol disparou sua segunda bala no peito do
vampyro.
O vampyro cambaleou e enquanto tropeçava, o humano negro que eu
tinha visto do lado de fora do Sonny's Bar emergiu das sombras atrás
dele.
Com uma facilidade que só seria possível depois de anos de prática,
ele balançou um facão no ar.
A cabeça do vampyro fez um som de esmagamento ao atingir o
pavimento. Um momento depois, seu cadáver sem cabeça caiu para
frente.
Mudei de volta para a forma humana, o sangue jorrava do meu ombro
e do corte ao longo das minhas costelas.
— Eu gostaria que você não o tivesse matado, — eu disse.
O rapaz de boné me deu um olhar azedo. — De nada! — ele disse.
Eu estava de joelhos, nu e sangrando no ar frio do inverno.
— O rapaz precisa de primeiros socorros, — disse o cara do facão.
— Vou ficar bem, — eu disse. — Cura de lobisomem.
— Você ainda precisa de pontos, — disse o cara de boné. — Vamos.
Vamos limpar você.
Meia hora depois, eu estava sentado em um caixote de madeira entre os
abrigos enquanto Raul, o rapaz negro, terminava de costurar meu ombro.
Bobby Turner, o homem de boné de beisebol, me entregou uma
xícara de café quente.
— Eu coloquei uma gota de uísque aí — disse ele. — É, bom pra
anestesiar.
— Obrigado, — eu disse.
— É uma pena que seu belo terno esteja todo rasgado, — disse Bobby.
Eu olhei para o tecido caro com pesar.
Sienna escolheu este terno, mas de alguma forma eu não acho que ela
se importaria.
Não se eu trouxesse a cabeça de Konstantin como uma lembrança.
— Não se preocupe, eu dou um jeito, — disse Raul, segurando uma
mochila amassada.
— Por que você fugiu do bar? — Eu perguntei.
— Seu Beta parecia hostil, — Raul disse brevemente.
Eu encarei meu café.
— Josh fica um pouco... nervoso em relação às coisas a ver com o
vampyro Konstantin, — eu admiti.
— O fato é que não gosto de admitir quando estou derrotado, — disse
Bobby. — Eu estava saindo da cidade porque tinha desistido de caçar
aquele filho da puta.
Eu levantei minhas sobrancelhas para ele.
— Konstantin é poderoso demais para um velhote como eu, — disse
ele. — Me mata admitir, mas olhe para você.
Ele balançou sua cabeça.
— Além disso, fiquei sem pistas. Mas você... eu aposto que você tem
algo que pode usar, se estiver realmente tentando encontrá-lo.
— Eu tenho? — Eu disse.
— Sim, — Bobby confirmou. — Aquele doente te atacou, não foi? Fez
uma bagunça no seu baile de Inverno chique? Eu vi no noticiário.
— Sim, e daí?
— Bem, — disse Bobby. — Ele deixou alguma daquela lama preta
nojenta para trás?
Sienna

Era terça-feira. Outro longo dia de filmagem estava à minha frente.


Pelo menos hoje eu teria algum reforço. Erica estava doente e a sogra
de Mia estava cuidando dos gêmeos pela manhã.
Tínhamos um compromisso para experimentar um bufê, e de jeito
nenhum minhas amigas perderiam a chance de provar comida gourmet
grátis.
No estacionamento da Casa da Matilha, encontrei Mia, que usava um
moletom roxo com babados e um unicórnio-gato.
As câmeras já estavam esperando por nós, tornando tudo estranho,
mas eu a abracei com força mesmo assim.
Monica também estava esperando, um enorme sorriso falso
estampado no rosto.
Ela parece um boneco de ventríloquo assustador
— Senhoras! — Monica se emocionou. — Que amável da sua parte
finalmente se juntar a nós. — Ela de alguma forma conseguiu soar
animada e irritada ao mesmo tempo.
Eu lancei um olhar engraçado para Mia e não disse nada.
Monica nos conduziu à frente dela até uma grande sala de estar que
havia sido totalmente ocupada por equipamentos de câmera.
Uma luz ofuscante brilhou em luzes colocadas em vários intervalos, e
uma cabine de entrevista foi montada em um canto. Contra a parede
estava uma mesa elegantemente posta onde presumi que faríamos a
degustação.
— Uau. Master Chef coma o quanto puder, — Mia se engasgou.
Monica acenou com a cabeça. — E assim como aquele show, também
vai ser uma competição, — disse ela. — Mas vocês serão as juradas.
Sortudas!
Curtis fixou a lente de sua câmera em mim enquanto Mia e eu nos
dirigíamos para a mesa.
Michelle já estava no centro do palco, com Blair sentada à sua direita
e Erica à sua esquerda.
Erica me deu um sorriso animado. — Isso é tão legal, — disse ela. —
Eu me sinto uma celebridade!
Sentei-me do outro lado dela, mas então Monica decidiu que queria
mudar a disposição da mesa.
Houve uma enxurrada de atividades enquanto eles reorganizavam
tudo. Quando tudo foi resolvido, Monica insistiu que eu me sentasse no
meio.
Michelle parecia terrivelmente zangada, mas quando tentei protestar,
Curtis empurrou a câmera tão perto do meu rosto que quase encostou
no meu nariz.
Perturbada, sentei-me no lugar que me foi atribuído.
Monica correu para a cozinha.
— O que você acha que eles vão nos servir? — Erica perguntou.
— Minha abuela faz uma refeição para o Dia de la Vela todos os anos,
— disse Mia. — É assim que ela chama de Festival da Chama. Ela faz
essas batatas picantes... é uma delícia.
— Talvez devêssemos chamar sua avó para cuidar do evento, — eu
disse com uma risada.
— Ai, meu deus, Sienna! — Michelle explodiu.
A câmera girou em sua direção.
— Não seja ridícula. Monica tem três dos melhores fornecedores da
cidade participando desta competição.
A câmera se voltou para mim. A lente parecia um olho fixo.
— Eu... eu estava só brincando, — eu disse hesitantemente.
— Bem, se você não se importa, alguns de nós estamos levando isso a
sério, — retrucou Michelle.
Olhei para Mia, que havia perdido o sorriso.
Blair sorriu para todos. — Tenho certeza de que a abuela da Mia faz as
melhores batatas do mundo, — ela disse suavemente.
Todos ficaram em silêncio. Michelle deu um gole em uma taça de
vinho branco, sem olhar para nenhum de nós.
Felizmente, três fornecedores entraram um momento depois,
quebrando a tensão.
— Isso tudo não parece maravilhoso? — Monica cantou. — Mandem
ver!
Tudo parecia delicioso, mas meu apetite tinha ido embora.
Decidi fazer esse programa para ajudar a cuidar de Michelle, mas
minha amiga parecia determinada a se exibir às minhas custas.
Por mais culpada que ainda me sentisse pelo que acontecera com
Konstantin, não conseguia imaginar semanas lidando com seus
comentários passivo-agressivos toda vez que eu cometia um erro.
Mia me cutucou por baixo da mesa. — Você está bem? — ela
sussurrou.
Cutuquei meu queijo de cabra e couve. — Sim, mas prefiro batatas
picantes do que isso.
— Eu também, — Mia riu.
Eu olhei para cima para ver a câmera fixada em nós. Os microfones
supersensíveis de Monica provavelmente haviam captado cada palavra.
Aquilo era uma loucura. Eu estava cansada de me sentir ridícula.
Levantei-me da mesa e me aproximei de Monica Birch, tentando não
deixar minha antipatia por ela transparecer em meu rosto.
— Podemos conversar um segundo? Em particular? — eu perguntei.
— É claro, — ela acenou para Curtis capturar o espetáculo dramático
da salada.
— Eu acho que você não deveria focar tanto em mim. Michelle é...
— Ah, Sienna. Não diga isso. Você está indo muito bem...
— Não é isso. É que... eu não sei muito sobre essas coisas, e ela parece
muito animada, e...
— Na verdade, você está absolutamente certa, Sienna, — Monica
disse, me cortando novamente.
— Estou?
Isso foi fácil.
— É claro que você não conhece as tradições tão bem quanto deveria.
Afinal, você é apenas uma garota. É por isso que acho que precisamos
trazer alguém com mais experiência.
— Hm, ok? — Eu disse, tentando não ficar ofendida.
— Alguém como Charlotte Norwood, — Monica disse, se
aproximando.
Meu queixo caiu. Eu não queria a mãe de Aiden a menos de trinta
metros deste evento.
Ou de mim.
— Ela iria adorar planejar um evento assim, — Monica continuou.
— Charlotte Norwood organizou inúmeros eventos enormes. Ela
saberá tudo sobre as tradições do Festival da Chama. Ela pode garantir
que tudo esteja perfeito.
A facilidade com que ela sugeriu tudo isso me dizia que Monica já
vinha preparando esse argumento há algum tempo.
Do outro lado da sala, a câmera de Curtis estava me observando.
— Além disso, — disse Monica. — Você está tentando mostrar ao
mundo que é uma companheira adequada para o Alfa, não está?
Não. Claro que não.
Não há como você deixar essa mulher entrar de novo em sua vida.
Não depois da última vez.
— Acho que é uma ótima ideia! — Michelle disse da mesa. Ela e os
outros pararam de conversar e ficaram observando Monica e eu.
Eu olhei para minha amiga, surpresa. Michelle encolheu os ombros.
— Ela sabe sobre essas coisas. Você não quer passar vergonha no festival.
De novo. Eu praticamente pude ouvir o aborrecimento por trás de
suas palavras.
— Quer dizer... talvez... — eu disse.
— Excelente! — Monica disse alegremente. — Por que você não liga
para ela?
— Agora? — Eu perguntei surpresa. Como ela sempre me convencia a
fazer exatamente o que ela queria?
— Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje!
Com um suspiro relutante, peguei meu celular.
Eu não posso acreditar que estou realmente fazendo isso.
— Alô, — veio a voz esnobe inconfundível de Charlotte pelo alto-
falante.
Desligue. Finja que ligou para o número errado.
— Charlotte, — eu disse. — Sou eu, Sienna.
— Sienna? — ela repetiu, parecendo genuinamente chocada.
— Sim. Hm...
Acaba logo com isso.
— Acho que preciso da sua ajuda.
Capítulo 12
QUEDA LIVRE
Sienna

Sienna: me diga que você não vai entrar


naquele avião hoje

Aiden: vai ficar tudo bem amor

Sienna: Estou olhando a previsão. Nevascas


em todos os estados do norte

Aiden: meu celular está com pouca bateria, esqueci de carregar

Sienna: Aiden.

Aiden: não se preocupe, vou ficar bem

Aiden: eu te amo
Sienna: Que droga, Aiden

Sienna: Aiden

Que ótimo.
Eu fechei meu laptop depois de ver a previsão do tempo que me
preocupava.
As chances de algo ruim acontecer são de cerca de um milhão.
Ainda assim, a ansiedade estava embrulhando meu estômago.
Eu descansei minha cabeça na superfície da mesa da cozinha.
Entre me preocupar com Aiden e me preocupar com o fato de que
deveria encontrar Charlotte Norwood esta tarde, eu senti que estava
prestes a vomitar.
Eu gemi na madeira da mesa.
Pelo menos Aiden estaria em casa logo.
Aiden

Peguei meu assento no avião particular e imediatamente conectei meu


celular.
O que quer que estivesse acontecendo naquele reality show insano,
estava perturbando minha companheira.
Eu percebia isso em sua voz cada vez que falávamos.
Pelo menos eu estaria em casa logo.
Isso se o avião não despencasse naquela tempestade de neve
monstruosa.
Tentei afastar qualquer inquietação.
Quanto mais rápido eu chegasse em casa, mais cedo poderia envolver
meus braços em volta da minha companheira e beijar cada centímetro de
seu corpo.
Além disso, Sayyid não parecia nem um pouco preocupado com a
tempestade uivante, nem Bertrand, o piloto.
Ele parecia ter certeza de que poderia levar o avião de volta para a
Virgínia inteiro, embora parecesse um pouco atordoado quando
embarcamos.
Qualquer um estaria. A neve estava tão densa que era difícil ver a três
metros de distância.
Vai ficar tudo bem e não há tempo a perder com preocupações inúteis.
Eu tinha que chegar em casa e desenterrar aquela lama de vampyro.
Revi o que Bobby Turner me disse.
A gosma preta deixada para trás na altercação com Konstantin no
Baile de Inverno era uma espécie de substância mágica.
Bobby se referiu àquilo como — ectoplasma, — mas acho que era seu
próprio termo pessoal, em oposição a um rótulo científico.
O ectoplasma era aparentemente uma manifestação física do controle
da mente de Konstantin — espalhava-se dentro de sua vítima,
permitindo-lhe assumir o controle.
Quando a vítima conseguia resistir à dominação do vampyro, eles
vomitavam a substância.
A maior parte dele havia se dissipado, virando fumaça, mas algumas
das coisas parecidas com alcatrão foram deixadas para trás.
Nós as reunimos como evidência, armazenando-as no porão da Casa
da Matilha com outros resquícios do encontro.
Bobby disse que poderia ser usado para encantar um objeto. Ele
recomendou uma bússola. Então, o objeto me levaria a Konstantin.
Eu não tinha certeza de como fazer isso, mas estava ansioso para
tentar.
Bertrand ligou os motores e o avião rugiu para a vida.
Eu me inclinei no meu assento, tentando não pensar sobre a forte
tempestade de neve do outro lado da janela.
Sienna

Charlotte e eu concordamos em nos encontrar na Casa da Matilha, onde


Monica ainda tinha a sala de estar preparada para as filmagens.
Eu originalmente queria evitar que Charlotte estivesse diretamente
envolvida com o show, mas ela foi surpreendentemente favorável à ideia.
Achei isso estranho no início. Pensei que Charlotte Norwood torceria
o nariz para algo tão "podre" como reality shows.
Mas pelo visto as pessoas ainda poderiam me surpreender, porque ela
estava ansiosa para discutir estratégias.
Eu assisti da janela do saguão quando uma limusine preta entrou na
garagem da Casa da Matilha.
Com uma inspiração sibilante, eu me preparei.
Alguns momentos depois, Charlotte entrou no hall com seus olhos
fixados nos meus, como os de um predador.
Ela era uma dominante — mas eu também, lembrei a mim mesma.
— Charlotte, — eu consegui dizer. — Obrigada por ter vindo.
Em um instante, fomos cercados por câmeras, mas Charlotte parecia
mais irritada do que alarmada.
— Eu não cedi meus direitos de imagem, — disse ela, acenando para
que se afastassem e a tripulação recuou.
— Você está completamente pálida, Sienna — ela continuou,
voltando-se para mim. — Essa blusa cinza não combina com a sua cor.
Estava demorando.
— Agora, leve-me ao set de filmagem que você mencionou. Vamos
falar sobre Companheiras reais.
Mascarando minha surpresa contínua com seu interesse no show, eu
a levei à sala de estar.
As câmeras continuaram a manter distância.
Bem, pelo menos por isso é bom tê-la aqui.
— Foi ideia da Michelle, — eu disse. — Mas Monica queria que todas
estivessem envolvidas.
— Entendo. Francamente, estou surpresa que você concordou.
Depois daquele infeliz acontecimento do Festival da Fertilidade...
Eu mordi minha língua. Levaria muito tempo para explicar que eu só
estava fazendo isso para ter certeza de que minha amiga estava bem.
E eu não tenho que me justificar para ela.
Eu levantei meu queixo.
Quando entramos na sala de estar, Charlotte parou e observou tudo.
Luzes em suportes.
Cabos colados no chão.
As mesas ainda estavam em "V", por conta da competição do dia
anterior.
— O menu foi decidido? — Charlotte perguntou como se já soubesse
de tudo.
Eu pisquei para ela. — Ah, decidimos que La Grotta del Lupo fornecerá
os refrescos no festival.
Charlotte deu um meio aceno de cabeça. — Não é uma escolha ruim.
Ligarei para Marcelino mais tarde e me certificarei de que as seleções
reflitam os pratos tradicionais.
— Isso seria... ótimo, — eu disse sem jeito.
Do lado de fora das janelas da Casa da Matilha, a tempestade de neve
continuava.
Fiz uma breve oração para que o voo de Aiden pousasse com
segurança.
Eu precisava do meu companheiro agora mais do que nunca. Ele sabia
melhor do que ninguém o quanto sua mãe era difícil de lidar.
Charlotte foi até o confessionário, que Mônica havia inaugurado com
cada um dos participantes falando sobre os desafios que enfrentaram na
competição.
Comecei a explicar isso a Charlotte, que ergueu a mão para me
impedir.
— Eu sei como esses programas funcionam, Sienna. Não vivo debaixo
de uma rocha.
— Desculpe, — eu disse, surpresa. — Eu só queria ter certeza de que
você não achava que era... eu não sei. De mau gosto.
Certamente pensei que fosse. Eu acho que talvez uma parte de mim
esperava que Charlotte viesse e acabasse com tudo isso.
Mas ela parecia extasiada com a ideia.
Eu não conseguia entender isso.
— Bem, não é de tão mau gosto quanto você se permitir se envolver
com um vampyro, — disse Charlotte. Seus olhos eram como lascas de
sílex.
Meu queixo caiu.
— Como eu disse, Sienna, eu não vivo debaixo de uma rocha. Eu vi
várias matérias sobre a situação, incluindo aquela entrevista horrível.
— Mas... foi... quero dizer... — Com o canto do olho, vi Monica Birch
e seu cameraman filmando nossa conversa.
Charlotte deu uma fungada altiva.
— Eu não sei por que você parece tão surpresa. O mundo todo sabe
que ele foi capaz de penetrar no alto escalão da matilha graças a você.
Você foi quem o trouxe para Mahiganote em primeiro lugar! Eu queria
gritar.
— Sienna, você tem alguma resposta a essas alegações? — Monica
perguntou, vindo até nós com Curtis e sua câmera atrás dele.
— O que ela pode dizer? — Charlotte perguntou a Monica. — Todo
mundo sabe que se não fosse por Sienna, Konstantin nunca teria
procurado nossa Matilha em primeiro lugar.
As palavras eram como dardos envenenados, me atingindo uma após
a outra.
O pior é que ela estava absolutamente certa.
Konstantin viera a Mahiganote por minha causa. Pelas habilidades
Divinas que ele pensou que poderia encontrar em meu sangue.
E ele usou as pessoas que eu mais amava para chegar até mim.
Lembre-se de por que você está aqui, Sienna. Isso não é sobre você. E sobre
Michelle e ajudá-la a se levantar.
— Não estamos aqui para falar sobre Konstantin, — eu disse, lutando
para me controlar. — Eu só quero ter certeza de que o Festival da Chama
seja um sucesso.
— Bem, então, — Charlotte disse. — Você fez bem em me ligar.
Jocelyn

Eu vaguei pelo jardim gelado, perdida em pensamentos.


Se Sharon Lowell estivesse certa, eu nunca praticaria a cura
novamente.
Cruzando meus braços sobre o peito, tentei segurar a dor que
floresceu dentro de mim com o pensamento.
A prata da minha pulseira estava fria contra meu braço. Tentei extrair
forças daquilo, mas apenas me senti esgotada.
Quem eu seria, se não fosse uma curandeira?
Ninguém. Simplesmente, ninguém.
Virei uma esquina no jardim e parei no meio do caminho.
Uma mulher de pele negra e cabelo encaracolado cuidava de um
canteiro de flores quase vazio.
No início, não pude acreditar no que estava vendo.
Não podia ser.
Simplesmente não podia.
Então, ela se virou e nossos olhos se encontraram.
— Nina? — Seu nome deixou meus lábios em um sussurro.
Eu não conseguia respirar.
Ela parecia ainda mais bonita do que eu me lembrava.
Eu estava congelada.
— Jocelyn, — ela disse. Sua voz era baixa e rouca.
Eu engoli em seco ao vê-la.
— Jocelyn, — ela disse novamente. Ela se levantou e deu um passo em
minha direção.
Não.
Eu não consigo.
Minha paralisia cedeu. Eu dei meia-volta e corri.
Aiden

O cabelo de Sienna fez cócegas no meu peito enquanto ela beijava seu
caminho pelo meu abdômen.
Estávamos ambos nus, nossos corpos brilhando de suor.
A Bruma nos tomou em suas garras escaldantes; minha pele
formigava com eletricidade onde quer que ela me tocasse.
Meu pau estava duro e dolorido de tanto que ela o apertava.
— Aiden, — ela sussurrou, a uma polegada de distância da cabeça
inchada.
— Eu preciso de você. — Então ela colocou em sua boca, engolindo
profundamente.
Seus olhos verdes perfuraram os meus, levando minha Bruma a
alturas cada vez mais vertiginosas.
Então, sem aviso, ela se afastou.
— Cadê você, Aiden? — ela disse, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Você me deixou...
De repente, meu estômago deu uma guinada repentina.
Acordei com um solavanco quando o avião atingiu outra onda de
turbulência.
Sob minhas calças, eu estava duro como uma rocha e desconfortável.
Os olhos de Sienna no meu sonho haviam me penetrado, inflamando
minha Bruma.
Eu tinha que voltar para casa para ficar com minha companheira.
Enquanto isso, a turbulência estava... digamos... estimulante.
O vento sacudiu o casco, fazendo o avião chacoalhar como a pior
montanha-russa do mundo.
Onde estamos? Já deveríamos ter chegado.
Tocando na tela do meu assento, abri o mapa do progresso do avião.
Como assim?
A essa altura, deveríamos estar em West Virginia, a cerca de vinte
minutos de casa.
Mas em vez disso, o GPS estava nos mostrando voando sobre
Nebraska.
Isso não pode estar certo.
Balançando a cabeça e fazendo uma careta, liguei meu celular e ativei
o aplicativo GPS.
Nebraska.
Filho da puta.
O que diabos está acontecendo?
Sem aviso, o avião caiu. Um ruído de trituração veio de meus pés.
Bati no interfone da cabine, mas nada aconteceu.
Sayyid estava acordado e me observando.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei.
Sayyid desafivelou o cinto de segurança e se levantou; corri para
seguir o exemplo.
Fomos até a cabine e abrimos a porta.
Na cadeira do capitão, Bertrand olhava fixamente para fora da janela
do avião.
No assento ao lado dele, o copiloto estava curvado sobre o painel de
controle. O sangue escorria de um corte profundo em sua testa.
Com um gesto mecânico e espasmódico, a cabeça de Bertrand se
virou para mim.
Havia um vazio em seus olhos que me causou um arrepio pela minha
espinha.
— Você nunca deveria ter vindo atrás de mim, — ele disse na voz de
Konstantin. — Adeus, Alfa Norwood.
Ao meu lado, ouvi a respiração aguda de Sayyid.
Olhei pela janela para o campo, que se aproximava rapidamente.
Estávamos caindo.
Capítulo 13
TREM DA MEIA-NOITE PARA LAWRENCE
Aiden

O chão sólido corria em nossa direção.


Sayyid arrancou o fone de ouvido da cabeça do piloto e o empurrou
do assento.
Ele apontou para o copiloto caído. — Assuma o controle dele! — ele
disse.
Eu empurrei o homem grande de sua cadeira e me sentei em seu
lugar.
— Você tem licença de piloto? — Eu perguntei a Sayyid.
— Apenas um certificado de piloto esportivo, — disse ele. — Não
deveria voar acima de dez mil pés.
— Bem, em breve você não vai.
— Porra, — Sayyid disse baixinho.
Coloquei o segundo fone de ouvido.
— Mayday, Mayday, — ele disse no fone de ouvido. — Esta é uma
aeronave particular Um-zero-um Echo Charlie Papa. Ambos os pilotos
estão inconscientes. Os civis estão pilotando o avião.
Uma voz metálica respondeu. — Perdão... Pode repetir?
Sayyid se repetiu, e o Controle de Tráfego Aéreo captou a mensagem.
Depois disso, não consegui acompanhar a conversa devido a todo o
jargão técnico que eles usaram.
Mas quando ele apontava para algo e me dizia para apertar um botão
ou um interruptor, eu fazia exatamente o que me foi dito.
O chão estava vindo tão rápido que cerrei meus dentes, meus dedos
estavam cravados no manche.
Sienna, eu te amo. Espero poder vê-la novamente.
E de repente...
BUM!
O avião pousou com força, nos sacudindo como uma montanha-
russa.
Sayyid lutou com o manche.
Atravessamos campos nevados, demolindo cercas.
E, finalmente, paramos.
Piscando, eu olhei para ele.
Com um movimento lento, ele se virou e encontrou meus olhos.
— Estamos — estamos vivos? — ele respirou.
Eu joguei minha cabeça para trás e ri.
— Sim! — Eu exclamei. — Graças a você!
A tempestade derrubou a torre de celular mais próxima.
Vasculhamos os compartimentos de armazenamento do jato até
encontrar um mapa dos Estados Unidos.
A menos que eu estivesse muito enganado, a cidade mais próxima era
Lincoln, Nebraska.
Pela maneira como segurava a cabeça, Bertrand não parecia mais
estar sob o controle de Konstantin. E seu copiloto já estava começando a
despertar.
Seus ferimentos não pareciam ser fatais e deveriam cicatrizar por
conta própria.
Assim que tive certeza de que todos ficariam bem logo, mudei para a
forma de lobo, fiz Sayyid prender um pequeno saco nas minhas costas e
corri para a tempestade.
Foi difícil, mas o tempo já estava começando a melhorar.
Quando cheguei à estação de trem em Lincoln, me vesti em um
banheiro e tirei meu celular do saco.

Aiden : Oi, amor


Aiden: tenho uma história pra te contar

ERRO: ⚠ Sem sinal. Mensagem não


enviada.

ERRO: ⚠ Sem sinal. Mensagem não


enviada.

Droga.
Tentei fazer uma ligação e, depois do que pareceu um ano e meio,
consegui entrar em contato com os serviços de emergência por tempo
suficiente para ordenar uma equipe de resgate para o avião.
Então corri para um quiosque para comprar uma passagem para o
primeiro trem de volta a Mahiganote.
Estudando meu itinerário, mordi meu lábio.
Tinha que trocar de trem em Lawrence, Kansas.
Jocelyn estava no Retiro do Curandeiro em Lawrence.
Fiquei tentado a parar e verificar como ela estava.
A vontade de chegar em casa, envolver meus braços em volta de
Sienna...
Encontrar o ectoplasma do vampyro...
Era forte.
Mas Jocelyn era a curandeira da minha matilha...
... uma das pessoas mais leais que já conheci...
... se feriu quando arriscou tudo para ajudar Michelle...
Aiden: não sei se a mensagem vai chegar,
mas vou fazer uma parada em Lawrence

Aiden: mas vou te segurar em meus braços


assim que eu puder

Aiden: eu amo você, Sienna.

Então eu pulei no trem indo para o leste.


Nina

Ver Jocelyn mais cedo naquela manhã foi um choque, eu ainda não havia
me recuperado.
Tentei falar com ela, mas ela saiu correndo.
De jeito nenhum eu poderia deixar aquilo ficar assim, no entanto.
Eu tinha que encontrá-la.
Tinha que falar com ela.
Para tentar explicar.
Então, eu estava do lado de fora da porta de seu quarto, parando entre
batidas insistentes, quando ouvi o telefone tocar em seu quarto.
Pressionando meu ouvido na porta, eu escutei.
— Não, — eu a ouvi dizer. — Não, prefiro não receber visitantes hoje.
Ela diria a eles que eu estava do lado de fora, tentando fazer com que
ela me deixasse entrar?
Os curandeiros aqui não sabiam nada sobre mim.
Eu tinha dado a eles um nome falso com documentos falsos, que eu
tive que fazer um grande favor para conseguir.
Se Jocelyn quisesse, ela poderia estragar tudo isso.
— O que? — ela estava dizendo. — Quem você disse...?
Mas eu não podia fugir. De novo não. Eu tinha que tentar dizer a ela.
Eu esmaguei minha orelha contra a porta.
Ela disse: — Aqui? Tem certeza?
Com quem ela estava falando?
Eu escolhi este lugar porque era o mais próximo que eu poderia
chegar da fronteira do território da MCL sem realmente cruzá-la.
O Alfa me mataria — ou talvez seu Beta o fizesse — se eles me
encontrassem ainda dentro dos limites da Matilha.
Mas também não queria ir muito longe.
E agora... ela estava aqui.
A porta se abriu. Jocelyn me agarrou, me puxando para dentro.
Fiquei tão atordoada que nenhuma palavra veio à mente.
O que quase nunca tinha acontecido comigo.
Os olhos de Jocelyn brilhavam de emoção. — Maldição, Nina. Eu juro
por Deus. Você escolheu o pior momento possível. Você só pode estar
brincando comigo.
— Joce — falei, finalmente encontrando minha voz. — Joce, por favor,
deixe-me explicar.
Mas ela estava me empurrando para o armário.
— Joce, o que você está fazendo?
— Cale a boca, Nina, — ela retrucou.
— Ei, não sei se posso voltar para o armário.
— Só cala a boca e fica aí, e pelo amor de tudo que é sagrado, fica
quieta O pequeno espaço ficou escuro quando ela fechou a porta.
Um batimento cardíaco depois, houve uma batida na porta do lado de
fora.
Prendendo a respiração, ouvi o barulho das dobradiças.
— Oi, — disse um homem. — É tão bom ver você acordada, Jocelyn.
Eu conhecia aquela voz. Meu coração começou a martelar.
— Nossa, — Jocelyn disse, parecendo nervosa enquanto ria. — Eu
realmente não acreditei neles quando disseram que era você, meu Alfa.
As duas últimas palavras soaram um pouco mais altas, como se ela as
estivesse mirando em mim.
Minhas entranhas se transformaram em água.
— Acredita que eu estava na vizinhança? Como você está? — Aiden
Norwood perguntou.
Porque, claro, era ele. Eu reconheci a voz agora.
— Eu estou — bem, — Jocelyn disse. — Ainda estou tentando aceitar
tudo o que aconteceu, eu acho.
Aceitar o quê? Ela tinha se machucado de alguma forma?
Sua voz sufocou e eu me esforcei para ouvir o resto da conversa.
Tentei controlar minha ansiedade crescente.
Então, algo que Jocelyn estava dizendo me deixou em pânico.
— Eu sei que é importante, Aiden, claro que é, mas vou ficar bem.
Sienna depende de você. Não se esqueça disso.
— Ela depende de mim para mantê-la segura, e isso significa matar
Konstantin, — disse Aiden.
Konstantin. Lembrei-me da noite selvagem e terrível do Baile de
Inverno.
Ele havia escapado.
Mas eu tinha ficado. Ajudado. O que era incrível, não?
— Aiden, — Jocelyn disse naquela voz uniforme dela. — Você está se
esquecendo de uma parte importante. Sim, defender Sienna de danos
físicos é... essencial. Mas isso não é tudo que ela precisa.
Não é tudo que ela precisa.
— Sienna tem enfrentado um trauma severo, — Jocelyn continuou.
— Todos nós temos.
Sua voz estava carregada de significado — eu sabia que ela não estava
apenas falando sobre Sienna.
— Ela deve estar mais vulnerável do que nunca, Aiden, — disse
Jocelyn. — Ela precisa de você agora mais do que nunca.
Ela precisa de você agora mais do que nunca.
Jocelyn baixou a voz e ouvi o tilintar de metal.
Eu apurei meus ouvidos para pegar o final de sua frase.
—... diga a ela que ela é forte o suficiente para enfrentar qualquer
coisa.
— Jocelyn... — Aiden parecia impressionado. — Tem certeza?
— Sim, — ouvi sua resposta sussurrada. — Sienna precisa saber que as
pessoas que ela ama não a abandonaram.
A abandonaram.
Fechei meus olhos, pressionando meus dedos na minha boca.
Foi o que eu fiz.
Eu abandonei Jocelyn, quando ela estava se recuperando do ataque de
Konstantin.
Quando ela precisava de mim mais do que nunca.
E agora, ela estava tentando me proteger de novo, apesar de tudo.
Ah, Jocelyn.
Você vai me perdoar?
Sienna

Quarta à noite. Apenas alguns dias até o Festival da Chama.


Eu não tinha ideia de quando Aiden estaria em casa. Eu recebi uma
série de mensagens estranhas dizendo algo sobre o Kansas, mas isso
tinha sido horas atrás.
Michelle insistiu que jantássemos na Casa da Matilha, diante das
câmeras, para discutir como as coisas estavam indo.
Ela também — sugeriu — que eu convidasse Charlotte.
O que parecia tão divertido quanto jantar com uma cobra, mas eu
concordei. Michelle parecia tão... volátil ultimamente, era mais fácil
simplesmente dar o que ela queria.
Mas, claro, nada nunca era tão simples.
— Então, eu estava pensando em praticar o ritual da vela após a
sobremesa, — sugeri.
Michelle encolheu os ombros. — Claro, é melhor acabar com isso.
— Porque eu estava pensando...
— Michelle? — Monica chamou da porta. — Posso falar com você um
minuto?
Michelle pediu licença. Ela e a repórter começaram a falar
rapidamente em um sussurro abafado.
Observei enquanto Michelle parecia concordar com o que quer que
Monica estivesse dizendo antes de voltar.
— Então, eu estava dizendo... se mudarmos o ritual da vela para
depois...
— Ai, meu deus! — Michelle interrompeu. — Quem se importa com
isso?
Eu a encarei. — Achei que o objetivo do festival fosse a cerimônia de
iluminação, — eu disse, confusa com sua mudança repentina de atitude.
Curtis foi para trás de Michelle, focalizando a lente em meu rosto.
Ela revirou os olhos. — Tem como ser mais chato?
Cerrei os dentes e tentei não parecer irritada.
— Não entendo, — disse à Michelle. — Não escolhemos o Festival da
Chama porquê... porque você queria algum tipo de... evento
espalhafatoso? Acender velas não é a parte mais chamativa?
Michelle tentou rir, mas pude ver a hesitação em seus olhos. Antes
que ela tivesse a chance de responder...
— Ai, sinceramente Sienna, — Charlotte disse, revirando os olhos.
— O quê? — Cravei minhas unhas em meu guardanapo.
— Como se o Festival da Chama fosse apenas feito de velas — disse
Charlotte.
— Exatamente! — Michelle entrou na conversa.
Sério, qual é o problema dela?
Lembre-se de por que você está fazendo isso.
— Se não é sobre velas, sobre o que é? — Eu perguntei, exasperada.
Charlotte deu um suspiro exagerado e olhou para mim. — O Festival
É
da Chama encerra a Bruma, Sienna. É uma celebração para abençoar e
proteger as novas gestações, pelo amor de Deus.
Eu fiquei boquiaberta.
— Bem, isso é... novidade para mim, — eu finalmente consegui dizer.
Senti, mais do que vi, Curtis dar um close em meu rosto.
— Mas honestamente eu não posso imaginar por que você escolheu
isso, — Charlotte disse. — Tão de repente, e você também não está
grávida, está?
Eu pisquei.
— Qualquer casal saudável que tentar durante a Bruma é quase
garantido que irá engravidar, — acrescentou ela.
A tensão na sala era tão densa quanto a Bruma.
Meu corpo inteiro estremeceu de raiva. E incerteza.
Porque as palavras de Charlotte continham um fundo de verdade.
Por que Aiden e eu não estamos grávidos?
— Você e Aiden estão tentando? — Michelle perguntou.
Eu não conseguia acreditar que ela estava dizendo isso. Na câmera.
— Ou ele não quis tocar em você desde que você deixou aquele
vampyro te morder?
Meu coração se contraiu.
Ouvi Monica Birch falhar em suprimir um grito de alegria.
Charlotte fungou, como se falar sobre a vida sexual do filho fosse uma
vergonha.
— Ok, espere um pouco, — eu disse, tentando controlar a situação. —
Michelle, posso falar com você um segundo?
Ela parecia desconfortável. Bom.
— Só se as câmeras vierem também! — Monica gargalhou.
Eu podia sentir a tensão no ar. Todos os olhos e câmeras estavam em
mim, esperando minha reação.
Meu lobo interior estava implorando para ser liberado — para perder
o controle de minhas emoções e dizer a todos nesta sala exatamente o
que eu pensava de todos eles.
Mas eu não fiz.
Em vez disso, respirei fundo, lutando para manter minha
compostura.
— Michelle, você é minha melhor amiga e eu te amo. Mas você está
completamente equivocada. O vínculo entre Aiden e eu é mais forte do
que qualquer coisa que você possa imaginar.
Continuei: — Se me insultar de alguma forma vai fazer você se sentir
melhor, vá em frente. Não há nada que você possa dizer que me faça
duvidar de meu companheiro.
Minha voz tremeu um pouco enquanto eu falava, mas mantive a
cabeça erguida.
Todo mundo ficou em silêncio. As bochechas de Michelle estavam
vermelhas, mas Monica parecia que tinha acabado de ganhar na loteria.
Charlotte apenas olhou para baixo em dúvida. Nada que eu pudesse
dizer iria agradar aquela mulher.
Mas eu não me importei mais. Senti minha confiança começar a
crescer novamente.
— Bem, isso é uma declaração e tanto, — disse uma voz atrás.
Todo mundo se virou. De pé na porta da sala de estar estava uma
figura alta com olhos verdes penetrantes.
— Aiden! — Eu chorei. Deixei de me importar com as câmeras
quando me joguei em seus braços.
Antes que eu tivesse a chance de explicar o que tinha acontecido, seus
lábios roçaram minha orelha enquanto ele sussurrava...
— Eu quero você... agora.
Capítulo 14
UM OU DOIS SONHOS QUE PODEM SE
TORNAR REALIDADE
Sienna

Michelle, Monica e Charlotte — para não mencionar a equipe de


filmagem — estavam todos assistindo da sala de estar enquanto Aiden e
eu nos agarramos um ao outro.
Sem olhar para eles, ele me pegou em seus braços e me carregou de
volta para seu escritório.
Ele trancou a porta.
— Me desculpe por ter partido por tanto tempo, — ele murmurou em
meu cabelo.
— Estou feliz que você esteja em casa, — eu disse, erguendo meu
queixo para beijá-lo apaixonadamente.
Ele se afastou e olhou para mim com as sobrancelhas levantadas. —
Por que é que minha mãe está aqui?
— É complicado.
Sua expressão ficou séria. — Sinto muito, Sienna, — disse ele
novamente. — Me desculpe por não estar presente quando você
precisava de mim.
Suas palavras me acalmaram, levando embora toda a confusão que eu
vinha vivendo há dias.
Tudo: o programa de TV, minha distância de Michelle, meus medos
tácitos sobre ela seguir o mesmo caminho que Emily — tudo começou a
desaparecer em segundo plano.
E então seus lábios terminaram o que suas palavras começaram.
Ele me levou para o sofá onde me enrolei em seus braços, saboreando
o calor dele, a firmeza suave de seu corpo.
Nós nos beijamos novamente e suas mãos começaram a viajar,
alimentando minha fome crescente por ele.
Subi em seu colo e ele desabotoou minha blusa, enterrando o rosto
em meus seios.
Eu me atrapalhei com suas calças.
Suas mãos quentes alisaram minhas costas para cima e para baixo
através da seda da minha blusa.
A alegria floresceu em meu coração quando o beijei profundamente e,
em seguida, tirei sua camisa.
Nossa, eu sentia tanta falta dele.
Fazia apenas alguns dias, mas estar com ele agora era tão bom, como
se eu estivesse aquele tempo todo sem um braço e nem mesmo
percebesse isso.
Eu sabia que apenas estar com meu companheiro não poderia
resolver todos os meus problemas — só eu poderia fazer isso — mas
naquele momento, tudo que eu queria era esquecê-los por um tempo e
me perder em seus braços.
Aiden deslizou meu jeans pela minha bunda e puxou para baixo.
Eu me levantei e tirei o resto das minhas roupas com impaciência.
Quando me dei conta, ele estava nu também.
Por um momento, apenas olhamos um para o outro, absorvendo a
visão dos corpos um do outro.
— Você significa tudo para mim, Sienna, — disse ele.
Ele era tão lindo. Eu não tinha palavras para descrever a emoção que
me enchia enquanto eu olhava para ele.
Então ele sorriu e me agarrou.
Minhas mãos acariciaram seus bíceps enquanto ele me levantava e me
pressionava contra a parede.
Eu engatei minhas pernas e ele entrou em mim com uma estocada.
Eu engasguei quando ele mergulhou para dentro e para fora, mais e
mais.
Eu finalmente me senti inteira novamente.
Apertando minhas pernas ao redor dele, o cheiro dele — citrino e
cedro — me envolvendo, eu empurrei de volta contra a parede, levando-o
mais fundo.
Juntos, chegamos ao clímax, agarrando-nos com mais força, gritando
de uma vez.
Nós aproveitamos a sensação enquanto nos espatifamos.
Segura em seus braços, todo o meu corpo se soltou.
Desabando no sofá, entrelaçamos nossos membros, tentando ficar o
mais próximo possível.
E assim ficamos por muito tempo.
Aiden

Na manhã seguinte, fui com minha companheira até a imensa sala de


jantar da Casa da Matilha.
Antes de sairmos, coloquei o pequeno item que Jocelyn havia me
dado, agora cuidadosamente embrulhado em um lenço grosso, no bolso
do meu casaco.
Sienna tinha um ensaio para o programa de Monica Birch, e eu
acompanhei para garantir que mamãe não se transformasse em um
monstro.
Pessoalmente, eu não tinha ideia de como Sienna concordou com o
programa em primeiro lugar. Ela nunca fora do tipo que buscava atenção
desnecessária.
Mas quando chegamos lá e vi Michelle se envaidecendo diante de um
espelho de maquiagem cravejado de luz, comecei a entender.
— Tem certeza de que não quer que eu simplesmente acabe com todo
este circo? — Eu perguntei a ela baixinho.
— Não vai durar por muito mais tempo. Mas se Michelle fizer mais
merda como ontem, vou reconsiderar.
Eu balancei a cabeça severamente, e então Monica estava correndo
com seu cameraman como sempre.
— Bom dia, Alfa Norwood, Sienna, — Monica jorrou. Ela sorriu para
nós, mas então seu rosto ficou sério.
— Tudo certo? — Sienna perguntou. Ela olhou em volta, procurando
por alguém. — Onde está Charlotte?
— Isso é o que eu precisava te dizer, — Monica disse com um rápido
olhar para se certificar de que a câmera estava nela.
— La Grotta caiu! Ela está tentando ver se consegue reservar um dos
outros fornecedores.
O cara com a câmera se aproximou de Sienna, provavelmente
esperando que ela começasse a derreter.
Em vez disso, ela sorriu.
— Eu tenho uma ideia.
Momentos depois, ela estava com a avó de Mia ao celular e, em
seguida, ligou para a de Winston.
Eu a observei, o orgulho enchendo meu coração.
— Você consegue, — eu sussurrei quando ela terminou sua ligação.
Dei um beijo nela, que ela retribuiu.
Com o canto do olho, notei que eles tinham gravado a cena.
Bom. Deixe o mundo ver o quanto eu amo minha companheira.
Mas então eu a puxei de lado, fora da vista de olhos curiosos. Do
bolso do meu casaco, tirei o pequeno embrulho e entreguei a Sienna.
— Jocelyn queria que você ficasse com isso, — eu disse a ela. — Não
abra agora, não onde todos possam ver. Mas eu apenas pensei que você
deveria saber que existem muitas pessoas por aí que se preocupam com
você.
Sienna olhou com ternura para o pacote embrulhado e o enfiou na
bolsa.
— Aiden, estou bem agora, — Sienna disse suavemente. Ela
entrelaçou os dedos nos meus. — E o que você estava fazendo...
procurando Konstantin... é muito importante.
— Você também é muito importante, — sussurrei. — Muito mais
importante.
— Você sempre me faz sentir assim, — ela sorriu.
Então sua expressão ficou séria. — Mas eliminar Konstantin deve ser
nossa maior prioridade. Temos que terminar de uma vez por todas.
Eu dei a ela um aceno de cabeça. — Ok.
Estava na hora de encontrar aquela lama.
Sienna

Depois de passar a noite passada no abraço de Aiden e esta manhã


resolvendo a crise do bufê, eu estava me sentindo mais como antes.
E o peso suave do — presente de Jocelyn? Eu não tinha ideia do que
havia no pacote fino — me deu um impulso adicional.
Mesmo do Kansas, minha amiga queria que eu soubesse que ela
estava pensando em mim.
Eu o abriria assim que chegasse em casa, mas primeiro tinha que
terminar os preparativos para o festival.
Eu coloquei a abuela de Mia no comando dos chefs do Winston’s.
Foi perfeito.
Teríamos um toque tão caloroso e pessoal, e a comida seria autêntica
e tradicional.
Quando Charlotte chegou, ela agiu como se o incidente incômodo
entre nós ontem nunca tivesse acontecido — o que era diferente dela.
Eu nunca soube que minha sogra tivesse uma única opinião que ela
não compartilhasse imediatamente.
Ela apenas levantou uma sobrancelha quando mencionei minha
escolha de bufê, claramente mordendo a língua.
Felix trotou, segurando um telefone sem fio.
— Sra. Mercer-Norwood, — ele disse com um sorriso. — Alguém de
Miami quer falar com você.
— Miami? — Eu ecoei, confusa.
— Sim, — disse ele. — Eles têm uma proposta para você, Sra. Mercer-
Norwood. Acho que vai se interessar no que eles têm a dizer.
Com um aceno vago, aceitei o telefone.
— Alô? — Eu disse.
— Sra. Mercer-Norwood?
— Sim.
Enquanto falava, notei Erica chegando. Ela veio para ajudar no ensaio
e chegou na hora certa, já que Curtis balançou a câmera para ela, dando-
me um raro momento de privacidade.
— Quem fala é Scott Tyler, da Westport Interior Design de Miami, —
disse o homem na linha.
— Do que se trata?
— Eu trabalho para a prefeitura, em um projeto de restauração do
Senador, um hotel histórico no centro da cidade. Estávamos interessados
em falar com você sobre um trabalho.
— Não tenho certeza do que você quer dizer, — respondi.
— Ficamos imaginando se você estaria interessada em criar uma nova
coleção, especialmente para nós.
Meu queixo caiu.
— Ah — foi tudo que consegui dizer.
— Nossa única condição é que precisamos que você venha a Miami
imediatamente para se encontrar conosco, pois precisamos mostrar-lhe o
espaço. As coisas estão progredindo muito rápido aqui, Sra. Mercer-
Norwood.
— Imediatamente? — Eu respirei. O festival era amanhã à noite.
— Sim, — disse Tyler. — Houve uma mudança de planos e agora
estamos atrasados, por isso precisamos de alguém que possa agir
rapidamente. Queremos as pinturas dentro de duas semanas.
— Uau, isso é... pouco tempo, — eu disse. — De quantas peças você
precisa?
— Pelo menos uma dúzia. Mas estaríamos dispostos a compensá-la
pelo prazo tão curto, garanto-lhe.
Houve uma pausa.
Minha cabeça estava girando. A excitação lutou contra a hesitação.
— Bem, — eu disse por fim, — deixe-me pensar sobre isso. Você já
deixou seu número?
— Sim, — disse Tyler. — Mas, por favor, Sra. Mercer-Norwood, você
vai me ligar de volta no final do dia? Preciso avançar com outro artista se
o projeto não funcionar para você.
— Eu entendo, — eu disse, e desliguei.
Fiquei de pé, segurando o telefone em uma das mãos, sentindo-me
entorpecida, quando Erica se aproximou de mim.
Curtis estava filmando Charlotte arrumando uma fileira de velas em
um estrado que havia sido montado na parede leste.
— E aí? — Erica sussurrou.
Contei a ela tudo sobre a ligação.
Seus olhos castanhos se arregalaram. — Isso é incrível!
Era incrível. Mas também parecia bom demais para ser verdade.
E eu aprendi com a experiência a pensar antes de agir.
Piscando, eu não conseguia pensar no que fazer com o telefone, então
continuei segurando-o.
— Ligue de volta para eles — pediu Erica. — Diga a eles, sim!
Eu balancei minha cabeça. — Como eu posso fazer isso? — Eu
perguntei. — O festival é amanhã e concordei em filmar o programa por
mais um mês!
— Sienna, esta é uma grande oportunidade para você!
Eu não sabia como dizer a ela que estava apavorada com a ideia dessa
responsabilidade. Eu não tinha conseguido pintar nem um boneco de
palito desde o ataque de Konstantin.
E eles queriam mais de uma dúzia de peças. E em apenas duas
semanas.
Meu coração começou a bater forte enquanto observava Charlotte,
que estava mudando a ordem de algumas velas vermelhas e pretas.
— É que... não sei se consigo fazer isso.
— Sienna, esta é seu primeiro grande trabalho! Não é hora de duvidar
de si mesma.
Mas eu me senti paralisada.
Só a ideia de pintar foi o suficiente para me causar um ataque de
pânico.
E Michelle…
Michelle estava mais desestabilizada do que ela imaginava. Essa foi a
única explicação que pude pensar para seu comportamento ontem.
E se eu virasse as costas para ela agora — que tipo de amiga isso me
tornaria?
O mesmo tipo de amiga que deixou Emily morrer...
Meu coração se apertou com um frio glacial.
Todo mundo está contando comigo.
Se eu desistisse agora, me faria parecer incrivelmente egoísta — e em
rede nacional.
Eu havia sofrido o bastante com isso no ano anterior.
Além disso, minha amiga precisava de mim. Mesmo que ela não
soubesse.
Como eu poderia decepcioná-la?
Aiden

Ver Sienna enfrentando Monica e aquele reality show ridículo me


lembrava o quão longe ela tinha ido desde que nos conhecemos.
Ela estava me deixando tão orgulhoso, estava tão confiante em seu
lugar como minha companheira.
Cabia a mim mostrar a ela esse mesmo respeito e carinho em troca.
Ver minha mãe me lembrou que eu não tive exatamente o melhor
modelo de companheirismo enquanto crescia.
Ela e meu pai só demonstravam afeto durante as coletivas de
imprensa e, mesmo assim, era tudo forjado para vender a imagem
impecável que insistiam em projetar.
Eu tinha que ser melhor do que isso.
Mas por mais que eu quisesse garantir a felicidade de Sienna, eu não
poderia fazer isso a menos que soubesse que ela estava segura.
No porão da Casa da Matilha, tínhamos uma sala de armazenamento
onde temporariamente alojávamos qualquer coisa relacionada com as
investigações do Esquadrão de Caçadores.
Eventualmente, as evidências eram descartadas ou entregues à polícia
para serem armazenadas a longo prazo.
Mas se uma investigação ainda estava aberta, elas eram mantidas nos
arquivos da Casa da Matilha.
É por isso que, quando vasculhei a sala, passando por todas as caixas
marcadas com — Konstantin, — bem como algumas que não estavam,
fiquei especialmente preocupado.
Olhei para cima e para baixo em busca da lama que havíamos
coletado meticulosamente após o ataque no Baile de Inverno.
Mas ela havia sumido.
Capítulo 15
MINHA PEQUENA LUZ
Aiden

Minhas mãos tremiam enquanto eu mandava uma mensagem para o


capitão do Esquadrão de Caçadores.

Aiden: Você sabe de alguma evidência que


esteja fora do arquivo da MCL?

Sayyid: não

Aiden: a evidência sumiu

Sayyid: que evidência?

Aiden: a lama

Sayyid: foi armazenada em um balde na prateleira superior,


quarta fileira

Encontrei o balde, mas estava vazio.


No andar de cima, minha companheira estava olhando para as
câmeras — sem falar na minha mãe.
E eu estava preso em uma busca implacável.

Aiden: verifiquei novamente, nada

Sayyid: Isso é preocupante. Você já viu a filmagem da câmera


de segurança?

Aiden: Acho que é o que vou fazer a seguir.

Ao reproduzir a filmagem no meu laptop, eu não precisei assistir


muito para ver um homem familiar de cabelo loiro espetado entrar na
sala de evidências.
Josh.
Mas como ele sabia que a lama era importante?

Aiden: Parece que o Beta Daniels pegou.

Sayyid: Bem, isso é um alívio.

Aiden: Você falou com ele sobre isso?


Sayyid: sim, ontem

Sayyid: Ele pediu uma atualização

Suspirei. Não havia razão para Sayyid se recusar a atualizar o Beta da


MCL em uma investigação em andamento.
Na verdade, era uma prática comum. Josh deveria ter conduzido a
investigação em primeiro lugar.
Ele estava apenas — envolvido demais.
Corri pela Casa da Matilha, mas não encontrei Josh.
Eu rosnei baixo.
Era exatamente por isso que eu estava preocupado em compartilhar
informações com ele.
Ele foi atrás de Konstantin.
Sozinho.
Sienna

Monica tinha insistido que todos se preparassem para o Festival da


Chama na Casa da Matilha.
— Diga-nos como você se sente sobre esta noite, — Monica solicitou
enquanto me arrastava para uma cabine de entrevista antes que minha
maquiagem terminasse.
— Nervosa, — admiti, tentando não olhar diretamente para a câmera.
— Eu realmente quero que tudo isso aconteça sem problemas.
— Claro. Todos nós queremos, — Monica disse, seus lábios se
curvando em um sorriso.
Erica
Eles montaram cabines para gravar com o toque de um botão. Sentando-
me em uma delas, com um copo de hidromel tradicional na minha mão,
dei uma olhada séria para a câmera.
— O que as pessoas não sabem, — eu disse, — é o quanto Sienna está
se sacrificando por este evento. Para esta Matilha, sinceramente.
Tomei um gole da minha bebida.
— Foi-lhe oferecido um trabalho. Sienna é uma artista incrível. Eles a
queriam para um conjunto de pinturas em Miami! Teria sido uma grande
oportunidade para ela.
— Mas ela recusou porque isso significaria abandonar este festival.
A cortina da cabine se abriu e Mia se sentou ao meu lado.
— Ah, isso mesmo! O trabalho, — disse ela, olhando para a câmera. —
Sienna teria feito um ótimo trabalho!
— Você estava ouvindo? Essas cabines de confissão deveriam ser
privadas!
— Ah, relaxa! Onde você parou?
Eu zombei dela. — Só que ela recusou a comissão porque não queria
decepcionar todo mundo.
— Cara, isso é muito errado, — disse Mia.
— E é tudo por causa da Michelle, — eu finalmente expressei o
pensamento mais sombrio que estava guardando para mim mesma.
Os olhos de Mia se arregalaram. — O que você quer dizer?
— Sienna se sente responsável pelo que aconteceu com Michelle, e
Michelle está tirando proveito disso tudo, — eu disse.
Virei meu copo.
— Ela nem se importa com tudo o que isso está causando em Sienna,
contanto que ela continue sob os holofotes.
Michelle

Encontrei uma cabine vazia alguns minutos antes do início dos rituais e
me acomodei.
Antes de apertar o botão — gravar, — parei um momento para
endireitar minha blusa Versace e verificar minha maquiagem em um
espelho de bolso.
Meus olhos pareciam brilhantes e um pouco febris. Bem, isso era de
se esperar.
Não conseguia me lembrar da última vez que havia dormido durante
a noite.
Mas não havia tempo para isso agora.
Aquela era a minha hora de brilhar, mesmo que eu tivesse que tirar
minhas garras para fazer isso.
Eu ia dar a eles uma pequena entrevista que eu sabia que eles
gostariam de usar.
— Isso é tão emocionante. Tudo está prestes a começar. Temos três
rituais de velas planejados.
Peguei meu pó compacto e batom.
— Claro, Sienna vai liderar todos eles.
Meu estômago embrulhou desconfortavelmente. Eu ainda não tinha
certeza de por que havia apontado a falta de fertilidade de Sienna na
frente de todos.
Eu estava tão... zangada. Como se houvesse uma fúria constante
fervendo logo abaixo da minha pele.
E quando Monica me disse que Sienna provavelmente nem sabia da
importância por trás do Festival da Chama...
Eu não pensei. Eu tinha falado coisas horríveis sobre minha amiga.
E o que é pior... Eu não havia me arrependido totalmente.
Fiz um show ao retocar meu batom, depois olhei diretamente para a
câmera.
— É uma pena, realmente. Sienna simplesmente não tem os... gostos
sofisticados de sua posição. Quero dizer, essa ideia de chamar a Mia para
fazer o bufê do evento.
Revirei os olhos, fechando o compacto.
— Mas eu acho que é assim que funciona. Estarei lá caso ela estrague
tudo. Sempre posso resolver as coisas se ela precisar de mim.
Piscando para a câmera, eu a desliguei e fui para a sala de jantar,
endireitando meus ombros enquanto ia.
Nunca deixe que eles vejam você vacilar.
Sienna

Eu esperei no estrado elevado ao lado de Blair.


Reunidos diante de nós, estavam mais de quinhentos membros da
Manada da Costa Leste, a maioria segurando longas velas cônicas com
escudos de papel protegendo suas mãos.
O Festival da Chama estava prestes a começar.
Meu vestido justo era azul-noturno, com dezenas de pequenos
cristais vermelhos e laranjas costurados no corpete e caindo em cascata
até a bainha.
Selene trouxe para mim naquela tarde, e eu não podia acreditar em
quão bonita eu estava — como se fosse feita de luz de vela.
Michelle saiu para se juntar a nós no estrado, e eu vi uma leve
carranca cruzar seu rosto quando ela viu sua posição marcada ao lado do
palco.
Mas então ela se virou para posar para a câmera e eu me perguntei se
eu tinha imaginado isso.
Não importava, Michelle teria uma pequena surpresa esta noite.
Todos teriam.
Eu chamei a atenção de Selene de onde ela estava no meio da
multidão.
— Você está incrível, — ela murmurou baixinho.
Eu sorri para minha irmã. Significou muito para mim que ela
estivesse ali, especialmente porque significava deixar a pequena Vanessa
em casa com a mamãe.
Pelo canto do olho, vi Monica e Charlotte, suas cabeças estavam
inclinadas e próximas enquanto falavam baixinho.
O que aquelas duas estavam tramando?
Eu não confiava nem um pouco nelas.
Então Monica recebeu um sinal de seu cameraman. Ela me deu um
aceno de cabeça e eu dei um passo à frente.
— Obrigada a todos por terem vindo, — eu disse, dando à multidão
um grande sorriso. — Estamos muito felizes por vocês se juntarem a nós
neste renascimento do Festival da Chama.
Todos aplaudiram.
Respirei fundo e comecei a recitar a Bênção da Chama tradicional.
— Chama divina, fértil e brilhante, — eu disse de cabeça.
Enquanto eu falava, aqueles com velas formaram uma fila, vindo para
a frente para acender seus pavios em um pequeno braseiro que queimava
ali.
Música instrumental formal começou a tocar em alto-falantes
ocultos.
Eu olhei para Charlotte, que estava me observando com uma
expressão satisfeita no rosto.
Porra, finalmente...
Continuei o versículo: — Dê a cada um de nós um brilho interior para
nutrir as sementes à medida que crescem...
Ugh. Quem escreveu essa merda? Parece propaganda de culto.
Mas não permiti que a expressão serena sumisse do meu rosto.
Eu estava quase terminando. Faltava apenas um verso excessivamente
meloso.
— Embora a Bruma tenha acabado, continuaremos amando.
Virei-me e acendi as duas velas na frente do estrado, uma vermelha e
outra preta.
Então, olhei para Michelle.
Ela piscou para mim enquanto eu vinha em sua direção.
Nós não havíamos praticado isso.
Michelle

Sienna me entregou o acendedor de cabo longo. — Você faz o resto, —


ela sussurrou.
Para a multidão, ela se virou e disse: — Michelle Daniels acenderá
nossa linha de velas porque dedico o festival deste ano a ela e a nossa
amizade.
Eu estremeci. Ela estava sendo sincera ou era apenas mais uma jogada
para se fazer parecer melhor do que eu?
Sienna continuou: — É minha esperança que as bênçãos dos ritos
tornem nossa própria amizade mais forte, assim como as bênçãos
fortalecem as novas vidas que desejamos trazer ao mundo.
Um murmúrio se espalhou pela multidão.
As mulheres avançaram na fila, acendendo as velas.
Minha cabeça girava de alegria enquanto as câmeras seguiam cada
movimento meu.
Acendi a última fileira de velas, deleitando-me com os holofotes.
Naquela noite estava tudo exatamente como eu esperava.
Graças a Sienna. Todo o resto desapareceu e eu não sentia nada além
de amor por minha amiga.
Eu encontrei seus olhos enquanto ela estava ao lado de Aiden,
sorrindo para mim.
Dando a ela um pequeno aceno de cabeça, acendi a próxima vela.
Foi tudo perfeito.
Sienna

Assim que pude, escapei para fora.


Os rituais terminaram e agora parecia uma recepção de casamento.
As pessoas se misturavam, comendo a comida deliciosa que a avó de
Mia havia providenciado, nos delicados pratos de porcelana que
Charlotte escolhera para a ocasião.
Minha sogra ficou satisfeita. Ou pelo menos tão satisfeita quanto ela
poderia estar, considerando que ela tinha um pedaço de gelo no lugar do
coração.
Michelle estava nas nuvens.
Então, por que meu peito estava tão apertado?
A coisa toda correu sem problemas.
Tudo tinha funcionado perfeitamente.
Eu não estraguei tudo. Michelle precisava ter os holofotes, um
presente com o qual decidi surpreendê-la naquela manhã.
Até Monica parecia feliz.
Mas eu não conseguia respirar.
Vá encontrar Aiden. Diga a ele como você está se sentindo.
Mas meu companheiro estava tão preocupado. Algo da investigação o
estava incomodando, embora ele não dissesse o quê.
Eu poderia lidar com isso.
Eu só precisava me controlar.
De pé no terraço, inalei o ar frio de janeiro, tentando me acalmar.
Minhas mãos estavam dormentes — mas não de frio.
Tudo que eu queria era correr, me transformar em meu lobo e
atravessar a floresta coberta de neve para um lugar onde não houvesse
câmeras, nenhuma expectativa ridícula.
Nenhum sonho de uma vida inteira que eu tivesse rejeitado porque
não conseguia encontrar a centelha, a paixão pela arte que fazia parte de
mim desde que eu conseguia me lembrar.
O vereador em Miami pareceu muito desapontado quando eu recusei
trabalhar com ele.
Minha respiração ficou presa na minha garganta.
Tanto faz. Não é como se eu estivesse destinada a ser uma artista famosa.
Eu tenho uma ótima vida. Uma vida privilegiada. Eu deveria ser grata.
Mas eu não conseguia colocar ar suficiente em meus pulmões.
Minha visão começou a ficar turva.
Ok. Está tudo bem.
Mas e se eu nunca mais conseguir pintar?
E se Konstantin roubou isso de mim, junto com tantas outras coisas?
Corra.
Pare de se preocupar com o que todos vão pensar e corra.
Fui até o jardim e tirei meu vestido de coquetel.
Tremendo de frio, concentrei-me no meu lobo.
Mas depois de um minuto de tentativa, percebi que algo estava
errado.
Nada estava acontecendo.
Eu olhei para as minhas mãos... os mesmos dez dedos de antes.
Meus pés, dentes, olhos... nada diferente.
Eu tentei me transformar mais uma vez, mas não importa o quanto
eu tentava, continuava a mesma.
Que merda está acontecendo?
O pânico explodiu atrás dos meus olhos quando a ficha caiu.
Eu estava presa.
Minha forma de lobo estava enterrada.
Eu não conseguia me transformar.
Capítulo 16
EU VIVO PELOS APLAUSOS

Alfa Etienne Tremblay @CanadaAlfa: Gostei


muito do episódio do #MonicaBirchShow’s Festival da
Chama. É bom ver as tradições revividas! Isso nos

enriquece. #FestivaldaChama Liz


@Timeywimeydoc: Eu adoro uma viagem no tempo! O
#FestivaldaChama me lembrou dos meus avós e do
passado. São tantas emoções!

Michelle

Sentei-me à mesa da minha cozinha na noite após o festival, verificando


todas as respostas ao programa.
Os primeiros episódios já haviam ido ao ar, e eu estava me divertindo
muito, procurando reações nas redes sociais.
Quase todos os latidos sobre isso eram positivos. Vários me
mencionaram, especificamente.

Raquel é uma diva @DivaRaquel: MDS


@MichelleAwesomeDaniels, você estava tããão linda no
#FestivaldaChama — aquele Versace Marco Lupo
@LupoActor: Adoooro assistir a
@MichelleAwesomeDaniels naquele palco. Pisa menos!
#FestivaldaChama Mas muitos, muitos mais estavam falando
sobre Sienna.

Alexa @AlexaWilder91: Nunca estive tão


orgulhosa de fazer parte da MCL do que quando #Sienna
acendeu aquelas velas e recitou a bênção. Quanta
postura!

Eye for Fashion Show @EFF: A Sienna estava


dando uma aula no #FestivaldaChama e a gente
aprendeu direitinho!

Darla Sykes @DarlaSykes: Não estou vendo


elogios o suficiente para #Sienna pela forma como ela
honrou sua amizade no #FestivaldaChama! Fiquei
realmente comovida. Foi um gesto adorável e com
certeza significou muito para #Michelle.

Eu revirei meus olhos.


Sienna finalmente fez o óbvio, e agora ela estava recebendo elogios por
isso?
A garota vivia a vida dos sonhos.
Eu gemi e fechei o laptop.
Qual era o propósito daquilo?
Talvez toda essa ideia de reality show tenha sido um grande erro.
Era para estar me ajudando a me sentir melhor, a me reconectar com
o mundo depois de passar tanto tempo como uma prisioneira em minha
própria mente.
Mas me sentia mais perdida e ignorada do que nunca.
Minha melhor amiga estava me ofuscando, não importa o quanto eu
lutasse contra.
Eu nem me lembrava da última vez que havia visto meu companheiro
por mais de dez minutos.
E eu ainda não conseguia afastar a sensação de que nunca estaria
tudo bem.
Que passaria o resto da minha vida como uma casa mal-assombrada.
Sienna

Esperei quase um dia antes de desabar e tentar encontrar uma


curandeira.
Eu não disse a Aiden sobre minha incapacidade de me transformar.
Eu não queria preocupá-lo até que soubesse que havia algo com que me
preocupar.
Além disso, saber que Josh havia retirado a lama da sala de evidências
e estava ausente o deixou progressivamente mais nervoso.
Eu contaria tudo a ele assim que soubesse o que havia de errado
comigo — se é que havia algo. Então fui em busca de uma curandeira.
Mas com Jocelyn ainda em Lawrence — e Aiden tinha me contado
aquela notícia devastadora sobre a perda de suas habilidades de cura —
eu tinha que encontrar seu assistente.
Em uma noite de sábado, poderia ser complicado, mas tive sorte e
encontrei Hanh inclinado sobre um microscópio na ala médica.
— O que posso fazer por você, Sienna? — Hanh perguntou.
— Eu estava pensando... desculpe incomodá-lo... mas tenho um
problema de saúde, — gaguejei.
— Entendo, — o curandeiro respondeu calmamente. Ele tinha uma
presença reconfortante e eu respirei fundo.
Mesmo assim, as palavras não saíram. Baixei os olhos para o colo,
passando a ponta do dedo pelas saliências da saia lápis de veludo cotelê.
— Eu... eu acho que estou com um problema — eu disse por fim.
Hanh olhou para mim com seus olhos escuros gentis.
Encorajada, eu disse: — Eu... eu não consigo me transformar.
Ele deu um breve aceno de cabeça. — Bem. Você notou mais alguma
coisa errada? Alguma dor no corpo? Febre? Visão embaçada?
Hm... algumas semanas atrás, acho que fui dominada psiquicamente por
um vampyro?
Mas Hanh não precisava saber disso.
Mais uma vez, ansiava pela presença reconfortante de Jocelyn.
Eu balancei minha cabeça, mas então curvei meus dedos em punhos
no meu colo.
— Na verdade, tenho tido... ansiedade, — disse eu.
— Não é surpreendente, realmente, dados os eventos recentes.
Dei de ombros, me preparando para a outra coisa que precisava
discutir.
Desejei que Jocelyn estivesse aqui. Ela me confortou antes, durante
uma situação semelhante.
— Além disso, — eu continuei. — Receio que algo esteja errado... com
minha fertilidade.
As sobrancelhas de Hanh se franziram. — O que te faz dizer isso?
— Bem, Aiden e eu... nós estivemos... juntos nesta última Bruma. E eu
não estou grávida.
— Mas vocês dois estão tentando ativamente?
— Não, mas também não estamos prevenindo ativamente.
Hanh sorriu. — Bem, vamos dar uma olhada?
Aiden

— Josh! — Eu lati.
Seu corpo inteiro estremeceu. Ele se virou e encontrou meus olhos.
Daquela distância, eu não tinha certeza, mas a maneira como ele curvou
um ombro por apenas um segundo — aquilo era culpa, eu poderia
apostar que era.
Hm, eu me pergunto por quê?
Dois dias se passaram desde que eu percebi que Josh tinha pegado a
lama que Konstantin deixou para trás, mas ele não atendia ligações ou
mensagens de texto.
Eu tive que recorrer ao uso do rastreador no celular de Josh,
finalmente alcançando-o em um hotel perto de Winston-Salem.
Eu estava exausto e uma dor de cabeça estava se formando na parte
de trás do meu crânio.
Na noite anterior, Sienna acordou suando frio e correu para o
banheiro para vomitar.
Eu tentei ajudá-la, mas ela apenas me disse para voltar para a cama.
Minha companheira estava sofrendo, e a única maneira de consertar
aquilo era encontrar aquele maldito vampyro.
Josh estava saindo com seu Bronco assim que eu cheguei, mas eu
corri até que ele me visse, gritando.
Eu marchei até ele com os punhos fechados.
Ele não parecia muito melhor do que quando Michelle ainda estava
em coma.
E quando me aproximei, pude sentir o cheiro do álcool.
A preocupação guerreou com a frustração dentro de mim.
Josh claramente não estava bem. Essa coisa toda realmente o
perturbou.
Mas ele também estava me sabotando com suas ações.
E ao fazer isso, ele estava colocando toda a matilha em risco.
Ele precisava se lembrar de seu lugar.
Josh

Eu olhei com raiva quando Aiden se aproximou da minha caminhonete.


Como ele me encontrou?
Então me lembrei do rastreador no meu celular.
Fui marcado como um pré-adolescente.
A raiva estava fervendo em minhas veias, mas me forcei a falar com
calma.
— Oi, Aiden. O que você está fazendo aqui? — Eu perguntei,
endireitando-me no banco.
— Procurando por você, — disse ele brevemente. — Por que você não
atendeu minhas ligações?
Eu fiz uma careta, esfregando minha nuca. — Me desculpe, cara. Só
não queria falar com ninguém até ter algo sobre o que conversar. Algum
tipo de resultado ou pista — qualquer coisa.
Aiden cruzou os braços.
Jesus Cristo, quem ele pensava que era, meu pai?
Na verdade, meu pai provavelmente teria aprovado minha atitude.
— Sei que você está caçando Konstantin por conta própria — disse
Aiden friamente. — Qual é a ideia? Por que deixar o Esquadrão de
Caçadores de fora disso?
— Eu não estava tentando deixar ninguém de fora, — protestei. — Só
queria ver se encontrava alguma coisa. Você foi quem me deixou de fora
da viagem a Chicago!
— Você está muito envolvido nisso, Josh, — disse Aiden. — Está
afetando seu julgamento.
Minhas garras deslizaram um centímetro.
Ele está preocupado com o MEU julgamento? Depois de deixar um
vampyro entrar em nossa matilha?
— Eu entro em uma briga de bar...
— E você acaba com nossa única pista! — Aiden gritou. — Você pegou
a lama, Josh! Eu estava indo encontrá-la, para tentar usá-la para localizar
Konstantin, e você já a havia removido do armazenamento. Sem
registrar, também!
Eu esperava que ele não pudesse ver o sangue correndo pelo meu
rosto.
— Maldição Sayyid. Você não consegue guardar um segredo por dois
malditos segundos?
Ok, fique calmo.
Eu dei a ele um olhar perplexo. — Por que você se importaria com
isso?
— O que você quer dizer? Sayyid me disse que atualizou você. A lama
é nossa única esperança de encontrar Konstantin.
Exatamente por isso não havia contado a Aiden sobre a lama, mesmo
eu não entendo direito.
Tudo que eu sabia era que meu instinto estava me dizendo para não
confiar nele.
Que Michelle quase morreu na última vez que confiei em Aiden
Norwood.
Não consigo ficar calmo. Tente se esquivar.
Eu balancei minha cabeça. — Não foi isso que Sayyid disse! Aquele
Bobby Turner afirmou que poderia ser usado como um... dispositivo de
rastreamento. Mas não pode!
Aiden franziu a testa e eu aproveitei seu momento de dúvida.
Corri a mão timidamente pelo meu cabelo sujo. — Sayyid nunca disse
que você queria tentar utilizá-la; ele não me pareceu muito convencido
sobre isso. Então resolvi tentar alguma coisa enquanto você fazia todo o
resto das coisas com as câmeras de trânsito.
Aiden fez uma careta. — Bobby Turner desistiu de procurar
Konstantin porque não conseguiu encontrá-lo — mas ele nos disse que
tínhamos uma grande chance com a lama. Claro que quero tentar utilizá-
la.
Não dê a ele.
Eu sou o Beta. A segurança é minha responsabilidade.
Eu me balancei desconfortavelmente em meus pés.
— O que você quer dizer com não pode ser usado como um
dispositivo de rastreamento? — Aiden disse depois de um momento.
Esfreguei minhas têmporas, tentando parecer frustrado.
Felizmente, não foi difícil. — Eu tentei, Aiden. Coloquei em uma
garrafa de vidro e tentei ver de que maneira... gotejava. Mas eu fui até o
inferno e voltei, e ainda não encontrei nenhum sinal dele.
Aiden abafou um gemido. — Turner disse que você tinha que colocá-
lo em algo mecânico, como uma bússola. É uma substância mágica e
funcionará em algo assim.
— Ah, — eu disse, irritado por ele saber tanto quanto eu sobre a lama
misteriosa.
Ainda assim, eu não tinha intenção de entregá-lo a Aiden.
— Ok, bem, eu quero de volta, — disse ele.
— Eu não parei de tentar, no entanto, — eu insisti.
Por que ele não pode simplesmente confiar em mim pelo menos uma vez!?
O rosto de Aiden assumiu uma expressão teimosa que eu conhecia
bem. — Josh, estou liderando esta investigação. Passe para cá.
Eu podia ver que não venceria facilmente.
Eu rosnei baixo em minha garganta, me preparando para uma luta.
Monica

Eu assisti com uma das minhas câmeras escondidas instaladas


secretamente enquanto Sienna caminhava para a ala médica e
silenciosamente entrava.
Ela estava torcendo as mãos nervosamente.
Um sorriso se espalhou pelo meu rosto.
Então, algo está errado com a companheira de nosso precioso Alfa.
Recostei-me na cadeira do escritório, olhando para a tela do meu
computador.
Como eu poderia usar isso a meu favor?
Sempre havia uma maneira de usar algo a meu favor.
Mas por que ela estava lá?
Se fosse algo interessante o suficiente, poderia ser exatamente o que
eu estava procurando.
Especialmente porque o Festival da Chama havia acabado.
Eu precisava de um novo ângulo.
O que significava que precisava de novas informações.
Com a curandeira da Matilha desaparecida — e pelo que eu ouvi,
tendo perdido seus poderes — Sienna teria que falar com o outro — o
asiático quieto de óculos.
Eu estalei meus dedos quando uma ideia veio a mim.
Seria complicado, mas todas as peças já estavam no lugar.
E se eu pudesse fazer isso, seria a matéria do século.
Sienna

Hanh me fez deitar na cama do meu quarto de hotel enquanto colocava


as mãos em mim.
Seu toque era firme e confiante, aquela energia de cura quente
emanando enquanto ele me examinava.
Ele me pediu para deitar-me com as costas para cima primeiro. Ele
pressionou meus ombros, minha nuca, minha parte inferior das costas,
minhas coxas.
Então Hanh me fez rolar e fez o mesmo exame que Jocelyn fizera
quando pensei que estava grávida.
Finalmente, Hanh encontrou meus olhos com firmeza, depois
apertou as mãos.
Se você tivesse me perguntado há um mês se eu queria filhos, não
teria sido capaz de dar uma resposta direta.
Eu ainda não tinha certeza se estava pronta para me tornar mãe em
breve, mas enquanto observava o rosto de Hanh, eu tinha certeza de uma
coisa.
Se descobrisse que eu era realmente infértil, seria um golpe
devastador diferente de tudo pelo que já passei.
Eu esperei, sem fôlego de antecipação.
Hanh pigarreou, parecendo nervoso.
— Sienna. Tenho boas notícias e más notícias... Quais você quer ouvir
primeiro?
Capítulo 17
QUANDO SEU VENENO TE CONTAMINA
Sienna

Domingo de manhã. Eu estava atrasada para encontrar Michelle,


Charlotte e Monica.
Era tradicional na semana após o Festival das Chamas que a
companheira do Alfa visitasse as pessoas, abençoando suas velas e
distribuindo doações.
Monica queria transmitir ao vivo.
Eu sabia como tudo isso era importante para Michelle, mas gostaria
que ela pudesse fazer isso sem mim.
E eu tive a sensação de que ela preferia fazer isso sem mim de
qualquer maneira.
Depois da minha sessão com Hanh na noite anterior, foi difícil me
controlar.
Eles esperaram por mim na Casa da Matilha, a ponta do sapato de
Michelle batia na calçada de tijolos do lado de fora.
Eu estava usando uma roupa feita pela Selene: uma jaqueta de
cashmere azul-cobalto sobre calças de seda preta.
Por fora, parecia elegante e equilibrada.
Por dentro, eu mal estava me segurando.
O que eu queria era estar enrolada no meu sofá em casa com um café,
assistindo Loboflix.
Ou deitada na cama ao lado de Aiden, com suas mãos gentis
acariciando minha pele.
Apenas acabe com isso, Sienna. Tudo isso acabará em algumas semanas,
e a vida voltará ao normal.
Seja lá o que normal significasse àquela altura.
Tentei deixar minhas preocupações no fundo da minha mente.
Hora de ser a graciosa companheira do Alfa que todos esperam que eu
seja.
Josh

Aiden passou a noite no motel, insistindo em examinar a lama.


Eu mal dormi. Estava tão cansado de dormir sozinho em camas
estranhas.
Fazia muito tempo desde que eu tinha visto Michelle, desde que senti
os lábios da minha companheira contra os meus. Mandávamos
mensagens de texto constantemente, mas não era a mesma coisa.
Eu sabia que ela estava chateada por eu tê-la deixado enquanto ela
estava fazendo o reality show, e eu estava tentando me sentir culpado por
isso.
Mas não entendia por que ninguém parecia levar essa investigação de
Konstantin tão a sério quanto eu.
Naquela noite, sonhei com meu pai.
Certa vez, quando estávamos em uma longa viagem, perguntei se
poderia ir ao banheiro.
Meu pai — com uma garrafa de Bourbon firmemente presa entre suas
coxas — me disse para esperar.
Quando comecei a chorar, ele me chamou de bebê. Quando eu não
parei, ele pisou no freio, me arrastou para a rodovia e me deixou lá.
Ele finalmente voltou para me buscar uma hora depois.
Eu tinha quatro anos na época.
Mas em meu sonho, tudo que me lembrava eram as lanternas
traseiras vermelhas desaparecendo na distância e um profundo
sentimento de abandono.
Quando meu alarme finalmente tocou, a primeira coisa que fiz foi dar
um gole no frasco na minha mesa de cabeceira.
Tomamos café da manhã em um café drive-thru. Eu dirigi e Aiden
segurou a garrafa com a lama preta em seu colo, observando-a escorrer.
Depois de dirigir pela cidade por horas, ele encolheu os ombros.
— Você está certo, não funciona assim, — disse ele.
— Eu te disse.
— Leve-me de volta para o meu carro.
Suprimindo um suspiro irritado, obedeci.
Saímos no estacionamento do motel e Aiden ergueu a garrafa.
— Vou levar para casa, Josh. Vou tentar colocá-la em uma bússola e
ver se é mais eficaz.
Eu levantei minhas mãos. — Tudo bem, Aiden. Faça o que quiser,
você é o Alfa.
Ele ergueu uma sobrancelha com o meu tom, mas eu não estava
arrependido. Ele estava me excluindo desta investigação desde o início.
Aiden me deu um sorriso de lábios apertados e depois se dirigiu para
seu Beamer.
Eu o observei ir embora.
Em seguida, fui para o meu quarto de motel.
Com mais uma rápida olhada no estacionamento apenas para ter
certeza de que ele tinha ido embora, fui até a cômoda.
Dentro, havia uma garrafa de gosma preta.
A verdadeira lama.
Obrigado por me avisar o que eu estava fazendo de errado, falei para
Aiden em pensamento.
Precisava entrar em algo mecânico. Algo que pudesse encantar.
Uma bússola parecia a escolha mais lógica, mas eu não tinha uma
bússola.
A coisa mais próxima disso foi o relógio chique que Michelle me deu.
Com cuidado, tirei o relógio e o coloquei na cômoda.
Tirando a tampa da lama, eu derramei lentamente no mostrador do
relógio, esperando não estar apenas desperdiçando o material.
Mas não aconteceu nada, além de deixar o relógio cheirando a
vampyro.
Se eu acabasse tendo que levar o Rolex para uma limpeza...
Prendi minha respiração.
A substância parecida com alcatrão escorregou como óleo fino para o
visor do relógio, como se fosse senciente.
Fiquei olhando intensamente enquanto ela preenchia o relógio e
então recuei para que os pequenos mostradores ainda estivessem visíveis.
E então, todos eles começaram a se virar.
Eu encarei o relógio.
Tinha funcionado.
Eu girei com o relógio, andando em círculo, e os ponteiros
começaram a girar.
Eu circulei até que eu estava de frente para a janela.
As flechas pararam de se mover e permaneceram fixas.
Eles apontaram para onde o sol estava apenas começando sua descida
no horizonte.
Oeste.
Konstantin estava em algum lugar a oeste.
Agora que eu sabia, iria encontrá-lo.
E iria matá-lo.
Nina

Encontrei Jocelyn escondida em um jardim lateral, embrulhada em um


casaco pesado.
— Jocelyn, por favor.
Como antes, ela se virou.
Eu sabia desde o dia em que ela me escondeu em seu armário que ela
ainda me amava.
Mas ela se recusou a atender sua porta sempre que eu ia falar com ela.
Ontem à noite foi a primeira vez que ela veio ao refeitório para uma
refeição, e eu consegui não estar no turno. Eu estava furiosa comigo
mesma.
As pessoas na cozinha fofocavam sobre os pacientes no retiro, então
eu ouvi sobre isso.
Todo mundo estava dizendo que ela não estava comendo. Que ela
havia perdido a vontade de viver junto com suas habilidades de cura.
Eu tinha que dizer alguma coisa. Para compartilhar sua dor. Mesmo
que ela não quisesse nada comigo. Eu precisava de uma chance para
explicar.
Então, eu a rastreei naquela tarde. E eu estava determinada a fazê-la
me ouvir.
— Jocelyn, eu não queria que isso acontecesse, — eu disse a ela
enquanto ela me encarava.
Mesmo muito magra, muito pálida — ela era linda.
Eu persistia: — Eu... eu queria estar perto de você — o mais próximo
que eu pudesse, sem estar em território da MCL, então escolhi este
lugar... consegui um emprego. Mas nunca pensei que você acabaria aqui
também...
Jocelyn fez um barulho de escárnio e se virou de costas para mim.
— Jocelyn, você tem que começar a comer. As pessoas estão dizendo
que você não está mais curando como deveria.
A jaqueta jeans que eu estava usando era inútil no frio do Kansas.
— Me desculpe, Jocelyn. Eu não consigo entender o que você está
passando, mas eu só... Eu quero te ajudar, — eu disse, estendendo a mão
para tocar seu ombro.
Ela o puxou para longe.
Continuei: — Por favor, acredite em mim. Eu nunca quis te
machucar. Eu sou um lixo, eu sei disso. Você não merece nenhuma dor
que eu causei a você.
— Você desapareceu! — ela disse finalmente.
Meu coração deu um pulo.
— Eu sei, — eu disse suavemente. — Quando vi que a batalha estava
quase acabando... e você ia ficar bem...
— Você saiu, — Jocelyn terminou por mim.
— Eu estava com medo do que o Alfa faria comigo.
Jocelyn se virou para olhar para mim. — Você ajudou contra
Konstantin. Ele teria te perdoado.
— Ele acha que eu tentei matar sua companheira, Jocelyn, ele não vai
simplesmente ignorar isso.
Jocelyn balançou a cabeça, virando-se novamente. — Você nem disse
adeus.
Eu respirei fundo.
— Nem deixou um bilhete, — Jocelyn continuou, aborrecida. — Nem
um e-mail.
Eu balancei minha cabeça. — Eu não poderia. Ele teria me rastreado.
— Com um bilhete? — Jocelyn zombou.
— Não tive tempo para escrever um bilhete! — Eu disse, implorando.
— Tive de fugir, Joce. Eu sinto muito!
Jocelyn me lançou outro olhar.
A dor em seus olhos quebrou meu coração.
— O problema é, Nina, você mentiu para mim desde o início.
Assentindo, eu lancei meus olhos para baixo. — Eu sei.
— Você brincou comigo. — Meu rosto disparou e eu balancei minha
cabeça vigorosamente.
— Jocelyn, não! Eu nunca fingi nenhum sentimento, tudo aquilo foi
de verdade.
A boca de Jocelyn se torceu com amargura. — Como posso acreditar
em qualquer coisa que você diz, Nina? Você mentiu. Várias vezes.
Eu me abracei. Seu olhar estava mais frio do que o ar gelado.
— E agora você está aqui e quer que eu acredite que é algum tipo de
coincidência?
— Eu... não sei..., — eu travei.
No fundo do meu coração, a verdade era que não achei que fosse uma
coincidência.
Por trás do velho cinismo que ainda vivia dentro de mim, mesmo
depois de todas as coisas que aconteceram, uma nova crença foi
crescendo.
Não foi por acaso que vim a este lugar, de todas as localizações
possíveis que eu poderia ter escolhido ao longo da fronteira da MCL.
Talvez tenha sido obra de alguma divindade.
Talvez tenha sido o destino.
Mas eu deveria estar aqui quando Jocelyn chegasse.
Eu a machuquei muito.
E agora ela não estava comendo. Não estava curando.
Eu não achava que merecia estar com ela — eu a machuquei.
Mas talvez eu estivesse aqui para ajudá-la.
Para ter certeza de que ela se recuperou.
— Jocelyn, você tem todo o direito de estar com raiva. De me odiar, —
eu disse.
Ela estremeceu e desviou o olhar.
— Mas estou aqui agora, — eu disse.
Seus ombros ficaram tensos.
— Vou garantir que você melhore, — eu disse.
Houve uma longa pausa e então ela começou a se afastar.
Mas ela parou e olhou para trás uma vez.
— Você não pode me ajudar, Nina. Você é tóxica.
Sienna

Passamos o dia todo indo de casa em casa, com Monica fazendo


streaming ao vivo em trechos.
Michelle olhava o Latter toda vez que íamos para o próximo lugar. Às
vezes, ela parecia satisfeita, lendo um latido enquanto a limusine nos
levava para o próximo local.
— 'Michelle Daniels está deslumbrante como de costume em seu
casaco de espinha de peixe Yves St. Laurent', — ela leu. — Esse é do 'Olho
para a Moda'.
Mais tarde: — 'Tão impressionado com a renovação desta tradição de
doações. Um passarinho me contou que toda a ideia do Festival da
Chama veio de Michelle Daniels. Esse é do Etienne Tremblay. Ele é o Alfa
da Matilha do Canadá.
Ela parecia tão emocionada que melhorou um pouco meu humor.
Eu nunca teria imaginado que nosso Festival da Chama e esta turnê
de bênçãos de velas, entre todas as coisas, seria tão popular, mas as
pessoas estavam adorando.
Eles não pareciam se cansar.
Mas depois da sétima visita, eu estava farta de sorrir para a câmera e
conversar com estranhos.
Quando meu celular tocou, eu cambaleei para pegá-lo com gratidão.

Aiden: oi amor, voltei de Winston-Salem

Sienna: 😍 (emoji de carinha com olhos de


coração)

Aiden: quer me encontrar para jantar no Dogstar?

Aiden: tô morrendo de vontade de comer um hambúrguer

Sienna: sim, podemos nos encontrar agora?

Sienna: jantar mais cedo?

Aiden: claro
Aiden: está tudo bem?

Sienna: mais ou menos

Aiden: que foi?

Sienna: Não quero falar sobre isso por


mensagem de texto

Aiden: agora estou preocupado

Sienna: Conto quando te ver

Aiden: Sienna, eu vou ficar maluco

Aiden: Me dê uma ideia.

Sienna: Hanh me examinou. Eu tenho


notícias.
Capítulo 18
MUSEU JALWITZ
Aiden

Eu estava parado na frente do Dogstar quando a limusine parou e Sienna


saiu.
Ela acenou para os outros clientes e se endireitou, de frente para
mim. Felizmente, não havia uma câmera ou jornalista à vista.
Eu agarrei suas mãos no segundo que a limusine saiu de vista. —
Diga-me o que está errado agora, Sienna. Não me faça esperar mais um
segundo.
Ela balançou a cabeça.
— Me desculpe, eu te preocupei. Não é grande coisa. Bem, quero
dizer. É meio que...
— Sienna? — Eu estava ficando realmente preocupado agora.
— Podemos entrar? Está frio.
Segurei sua mão quando entramos na lanchonete. Seus dedos
estavam como gelo.
Eu os esfreguei entre minhas mãos, me culpando por abandoná-la
novamente.
E por nada. A lama estúpida acabou sendo um beco sem saída.
O anfitrião nos levou a uma cabine e eu deslizei ao lado de Sienna.
Ela olhou para mim e depois desviou o olhar.
Com um esforço de vontade, não a pressionei. Apenas esperei.
Ela deslizou seus dedos nos meus, observando nossas mãos se
entrelaçarem enquanto ela o fazia.
— Então eu tive um... problema.. outro dia. No Festival.
Eu mantive minha boca fechada, ouvindo.
— Eu saí para tomar um pouco de ar. Eu precisava de uma pausa. —
Sienna manteve os olhos na mesa.
— E pensei que talvez uma corrida ajudasse, mas quando tentei me
transformar... não consegui.
Eu pisquei. — Não conseguiu?
Ela acenou com a cabeça e encontrou meus olhos. — Mas Hanh disse
que está tudo bem. É apenas temporário — por causa do estresse e tudo.
Do ataque. É como... um pequeno estresse pós-traumático.
Meu coração apertou. Aquele vampyro desgraçado vai pagar por isso.
Eu rasgaria aquele desgraçado membro por membro pelo que ele fez à
minha companheira.
Sienna respirou fundo. — Mas não foi só isso que ele descobriu.
A raiva estava crescendo em minhas veias, mas com suas palavras, fiz
uma pausa.
— Sua mãe comentou sobre como as pessoas engravidam durante a
Bruma. E então Michelle meio que continuou, e comecei a ficar nervosa,
porque quero dizer... estamos sexualmente ativos...
Ela ainda não estava encontrando meus olhos.
— E você pediu a Hanh para ver por que você não está grávida? —
Imaginei.
Com um aceno lento, ela disse: — Sim.
— E o que ele descobriu?
— Isso é o que é mais preocupante, — disse Sienna.
— O quê?
Sienna engoliu em seco e ergueu seus lindos olhos azuis claros para
encontrar os meus.
— Há uma chance de eu ser infértil.
Josh

Tomando goles de meu cantil de uísque, dirigi para o oeste, através da


floresta Cherokee até Knoxville.
Os ponteiros do meu Rolex me levaram ao Museu de História de
Jalwitz.
Passei por ele primeiro, mas os ponteiros me fizeram voltar.
Quando cheguei no estacionamento, eles começaram a girar em
todas as direções, não apontando mais para nenhum lugar específico.
Eu havia chegado.
Konstantin estava ali.
Michelle, eu o encontrei.
Aiden pensou que eu não conseguiria, mas eu consegui.
E agora vou matá-lo.
Para você, meu amor.
A adrenalina me encheu.
Minhas garras ameaçaram explodir de meus dedos.
Minhas presas empurraram contra meus lábios.
O desejo de me transformar me dominou. Para entrar no museu e
destruir tudo em meu caminho.
Quando deixei o Bronco no estacionamento e me aproximei do
museu, minha testa franziu de preocupação.
Eu esperava que as janelas estivessem escuras — era tarde da noite de
domingo, afinal.
Mas, o que eu não esperava ver era uma fita de cena de crime.
Ela cercava o prédio e cruzava a porta da frente.
O Konstantin está se escondendo em um museu que é uma cena de crime?
Mesmo com o uísque enevoando meu cérebro, isso não parecia certo
para mim.
Eu considerei ligar para Aiden.
A situação era muito estranha. Algo estava errado.
O relógio me trouxe aqui.
Devia significar que Konstantin estava lá dentro.
Talvez ele já tivesse machucado alguém.
Talvez quando os policiais responderam a uma chamada de
emergência, Konstantin se escondeu em algum lugar do museu.
Enquanto eu pensava no que fazer, lembrei-me da dor e do
sofrimento de ver Michelle no hospital — lutando por sua vida.
Eu quase a perdi.
Essa coisa quase a tirou de mim.
Minha raiva começou a disparar.
Já chega. Eu vou lá.
Eu iria descobrir onde aquele bastardo estava se escondendo.
Eu me certificaria de que ele nunca machucasse ninguém novamente.
Sienna

Não conversamos muito quando a comida chegou.


Nenhum de nós sabia exatamente o que dizer.
Aiden recostou-se na cabine. Ele cruzou as mãos sobre a mesa.
— Sienna, não importa o que Hanh disse, você sabe que eu te amo, eu
sou o homem mais sortudo do mundo por estar acasalado com você.
Mas ele não entendeu.
— Eu sou a mulher mais sortuda do mundo por estar acasalada com
você, mas se eu sou infértil, isso é um problema grave, — eu disse, com
lágrimas na garganta.
Aiden balançou a cabeça, enxugando a boca.
— Tudo isso, o show, o festival... parte de mim estava tentando
mostrar que tinha virado uma nova página. Que eu era madura o
suficiente para ser a companheira do Alfa.
Aiden encontrou meus olhos e ergueu as sobrancelhas
interrogativamente.
— A imprensa. As tradições. Tenho sido resistente.
— Então é por isso que você entrou nessa onda insana? É por isso que
você ligou para minha mãe?
— Isso foi parcialmente ideia da Monica, — eu admiti. — E não foi só
por causa disso. Eu também estava tentando cuidar de Michelle. Mas
acho que foi um erro. Ela não me quer lá.
Aiden suspirou. — — Sienna, foda-se esse programa idiota. E quanto
ao que Hanh disse, eu não acredito nem por um segundo.
— Mas e se for verdade? E se eu não puder ter filhos? Não puder
fornecer herdeiros para a Matilha. Você pode imaginar o que as pessoas
vão dizer?
— Desde quando você se importa com o que as pessoas dizem? —
Aiden perguntou com um olhar sério.
— Desde que eles começaram a observar cada movimento que eu
faço!
Pensando bem, eu sabia que costumava ser mais confiante em
contrariar o sistema. Eu mantive minha virgindade por anos — através
de todas as Brumas — apesar das expectativas de todos.
Mas também escondi a verdade disso.
— O mundo inteiro está me observando, — confessei. — E agora vou
decepcionar todo mundo. Vou falhar na única coisa que a companheira
do Alfa precisa fazer acima de tudo! Procriar os herdeiros do Alfa.
— Tudo bem, relaxa, Ana Bolena. Vamos com calma, — disse Aiden,
jogando algumas notas sobre a mesa. — Vamos sair daqui. Dar uma volta.
Abandonamos nossos hambúrgueres comidos pela metade e saímos
do restaurante.
Aiden pegou minha mão e me levou para os caminhos sinuosos e
arborizados do Mahiganote City Park.
— Sienna, não sabemos se Hanh está certo, não é? Afinal, ele é apenas
o assistente de Jocelyn. Suas habilidades não são nem de longe tão
poderosas quanto as de Jocelyn são.
Como as de Jocelyn eram, eu percebi.
Meu coração se apertou de dor pela minha amiga. Eu não conseguia
imaginar o que ela estava passando.
Mas Aiden tinha razão. Hanh era um curandeiro dedicado, mas não
era tão talentoso quanto Jocelyn.
— Não, — eu admiti enquanto observava a cena congelada. A neve
caía no chão em manchas de gelo.
— E se no fim das contas nós formos inférteis...
Seu uso da palavra "nós" tocou meu coração.
— Vamos enfrentar isso. Juntos.
Mas embora ele só estivesse dizendo verdades, eu não podia suportar.
Eu me afastei, encarando-o novamente.
— Está tudo errado! — Eu exclamei. — Eu sou um erro! Você merece
alguém muito melhor!
Os olhos de Aiden escureceram e ele agarrou meus braços, puxando-
me para ele em um beijo forte.
— Nunca diga isso! — ele sussurrou rispidamente contra meus lábios.
Ele me beijou de novo e, embora a Bruma de inverno tivesse
terminado, meu corpo acendeu de desejo.
Cravei minhas unhas em seus ombros, beijando-o de volta, meus
lábios exigiam mais.
Ele pressionou minhas costas contra uma árvore, minha jaqueta de
casimira grossa o suficiente para me proteger da casca áspera.
Mas naquele momento, eu queria mais.
Eu queria sentir tudo. Nenhuma gentileza de Aiden. Nenhuma de
suas carícias ternas.
Eu estava com tanta raiva de mim mesma.
Eu queria um castigo.
Mordendo seus lábios, eu o provoquei, provoquei ele.
Aiden sorriu e fez um ruído baixo rosnando em sua garganta.
Sua mão mergulhou em minha calça de seda, os dedos empurrando
minha calcinha.
Eu estava molhada para ele e queria que ele me comesse — bem ali.
Sem me importar que o chão estava frio, com aquelas pequenas pilhas
de neve cercando a base das árvores, eu o arrastei para baixo em cima de
mim, abrindo seu casaco e a camisa por baixo.
As calças soltas amontoaram-se enquanto as mãos de Aiden
brincavam com a minha calcinha.
Não era o suficiente. Eu queria mais.
Eu o libertei de sua calça jeans, envolvendo uma mão em torno de seu
eixo quente e duro. Então, em um movimento rápido, me abaixei,
envolvendo meus lábios em torno da ponta dele.
Aiden deixou escapar um suspiro de surpresa quando o tomei
profundamente.
Ele me empurrou de volta contra a terra dura e eu encontrei seus
olhos. Eles estavam escuros e tempestuosos.
Ele pegou meu humor e combinou minha própria agressão com
paixão sombria.
Suas mãos se transformaram em garras e ele rasgou a calcinha,
jogando-a de lado.
Então ele agarrou minhas coxas, as pontas afiadas de suas garras
cravando em minha pele.
Abrindo minhas pernas, com seus olhos escuros fixos nos meus, ele
me penetrou.
Era enorme. Sua circunferência me alargou como nunca.
Eu gritei, arqueando minhas costas, sem me importar com a neve em
meu cabelo.
Suas garras cravaram nas laterais das minhas coxas enquanto ele
empurrava para dentro de mim.
Ele gemeu, sua voz misturando-se aos meus gemidos enquanto
estávamos no cio, selvagens nas árvores geladas.
Liberando uma perna inteiramente da calça, dobrei-a, envolvi-a em
torno dele e o trouxe para mais perto.
Ele mergulhou mais fundo.
Um aperto dentro de mim trouxe outro gemido dele, e isso era tudo
que eu precisava.
Eu gozei, arqueando minhas costas novamente, agarrando seu peito,
com um grito saindo da minha garganta.
Seus quadris se moveram mais rápido, e um momento depois, ele
engasgou quando o senti jorrando em mim.
Seu corpo relaxou e ele passou os braços em volta de mim.
Mas mesmo quando o prazer em meu corpo desapareceu, parecia
errado.
O que estou fazendo? Fugindo dos meus problemas, como sempre fiz.
Me permitindo esquecer como tudo está uma bagunça.
Eu sou um erro.
Eu me afastei dele.
As sobrancelhas de Aiden se juntaram em seu rosto preocupado.
Puxando minha calça, tentei pensar em algo para dizer, para
tranquilizá-lo de que nada estava errado, mas minha mente estava em
branco.
Então meu celular tocou e olhei para o número.
Monica Birch.
Eu peguei.
— Sim?
— Sienna! Fiasco total! Meu cinegrafista idiota não conseguiu
registrar uma das visitas domiciliares. Temos que refazer tudo
imediatamente para que possa ir ao ar hoje à noite.
Olhando para Aiden, eu disse: — Estou no Parque Mahiganote. Venha
me buscar na entrada sul.
— Sienna... — disse Aiden, ainda sentado no chão seminu.
Eu terminei a ligação.
— Sinto muito, Aiden. Tivemos um problema com o programa. Te
vejo em casa mais tarde, ok?
— Sienna, você está bem? — Aiden perguntou.
Dei de ombros. — Não muito... Mas... eu não sei. Podemos falar mais
sobre isso mais tarde? Só não estou me sentindo muito...
— Não precisa me explicar nada, — ele disse, pegando minha mão de
onde ele estava sentado. — Só quando você estiver à vontade.
Meu coração deu um pulo. Foi muito importante ver que meu
companheiro não me pressionou.
Eu queria contar a ele naquele momento tudo o que eu estava
passando, mas não queria preocupá-lo mais do que já havia feito — pelo
menos não agora.
Melhorando a feição do meu rosto, inclinei-me e dei-lhe um beijo na
testa. — Estou bem. Vejo você mais tarde.
E eu fugi antes que ele pudesse ver as lágrimas brotando dos meus
olhos.
Capítulo 19
VOCÊ SABE QUEM EU SOU?
Aiden

Quando Sienna voltou para casa depois de regravar com Monica e os


outros, ela estava quieta, mas por outro lado parecia bem.
Eu perguntei a ela várias vezes se ela estava bem — ou se ela queria
conversar — e eventualmente ela me lançou um olhar de — deixe isso
pra lá, — então eu deixei passar.
Mas não pude deixar de sentir que estava fazendo algo errado.
Como se eu não fosse o companheiro de Sienna que ela precisava
agora.
Porra, como vou saber o que um bom companheiro faria?
Meus pais preferem nunca mencionar seus sentimentos pessoais.
E eu nunca conheci Aaron e Jen como amigos...
A única coisa que eu sabia fazer era manter Sienna o mais próxima
possível.
Eu nunca deveria tê-la deixado por tanto tempo e não tinha intenção
de fazê-lo novamente.
Nós nos enrolamos juntos em nossa enorme cama de hotel e
adormecemos de conchinha.
Era uma das minhas coisas favoritas a fazer.
Mas quando acordei, percebi que o travesseiro de Sienna estava
úmido, como se ela tivesse chorado.
Meu coração apertou. Depois que conversamos ontem, eu esperava
que ela estivesse se sentindo melhor sobre a consulta com Hanh, mas
claramente aquilo a estava incomodando mais do que eu imaginava.
Sienna precisava de mim agora, e eu tinha que estar lá para ajudá-la.
Para protegê-la e mantê-la segura e feliz. Como um companheiro
deveria fazer.
Eu fui para a Casa da Matilha em busca do meu Beta.
Foi errado excluir Josh da investigação.
Sim, ele era volátil.
Sim, ele estava muito envolvido naquilo tudo.
Mas, colocando-me no lugar dele, percebi como ficaria chateado se
alguém tentasse se impedir de encontrar Konstantin.
Além disso, se Josh assumisse algumas das responsabilidades de
encontrar o vampyro, isso me daria um tempo muito necessário com
minha companheira.
Mas quando cheguei ao escritório de Josh, seu assistente Elijah disse:
— Ele ainda não chegou.
Minha sobrancelha franziu. Ele deveria ter voltado de Winston-Salem
na noite passada.
Talvez ele esteja dormindo?
A preocupação me incomodava, mas decidi dar a ele uma hora.
Nesse meio tempo, havia muito o que fazer — o trabalho se
acumulou enquanto eu me concentrava em encontrar Konstantin.
Por volta das dez horas, liguei para o escritório de Josh.
— Ainda não chegou, — respondeu Elijah.
Minha boca ficou seca. Tive uma sensação terrível na boca do
estômago.
— Ele disse a você onde estava indo?
— Sinto muito, meu Alfa, ele não me disse.
Peguei meu celular.

Aiden: Josh, onde você está


Aiden: Eu preciso falar com você e temos
coisas para fazer

Aiden: Me ligue quando ler isso.

Eu olhei para o meu celular, mas Josh não respondeu.


Depois de um momento, tentei uma tática diferente.

Aiden: Oi, Michelle. Eu preciso falar com


Josh. Você pode dizer a ele para me ligar?

Michelle: …

Michelle: Você que saiu dirigindo pelo país inteiro com ele

Michelle: sei lá onde ele tá

Fiquei preocupado.
Onde é que você se meteu, Josh?
Sienna

Eu tinha bebido duas xícaras da pequena cafeteira do hotel, mas peguei


outra grande enquanto caminhava pelo centro da cidade em direção à
minha galeria.
Eu não tinha dormido muito na noite anterior.
Mesmo deitada na segurança quente dos braços de Aiden, eu não fui
capaz de conter as lágrimas que lentamente escorreram pelo meu rosto
para o travesseiro.
Eu me sentia exausta. Moída.
E, ao mesmo tempo, completamente ligada. Minhas mãos tremiam
enquanto seguravam o copo de papel.
A cafeína não estava ajudando. Joguei o copo meio cheio em uma
lixeira enquanto me aproximava da porta da minha galeria.
Eu não voltava ali há mais de uma semana.
Parte de mim queria ficar longe, mas eu estava desesperada.
Minha incapacidade de mudar, minha provável infertilidade, minhas
falhas, minha raiva interior...
Eu precisava encontrar uma maneira de processar tudo.
Coloque na tela.
Entrando, o cheiro familiar de lavanda e laranja doce das velas no
balcão da frente me cumprimentou.
Por um momento, meu coração saltou e a tensão em meus ombros
diminuiu.
Olhei em volta e localizei a série de pinturas art déco na parede sul
que me valeu aquela ligação de Miami.
Minha respiração ficou presa olhando para eles.
Eles eram bons.
Sem pensar, me aproximei. Meus olhos viajavam pelas linhas.
Não acredito que recusei aquele trabalho.
Será que algum dia terei outra chance como aquela de novo?
Pressionei minhas mãos em minhas bochechas, esfregando os ossos
do meu rosto.
Meu cérebro parecia hiperativo, saltando descontroladamente de um
pensamento para outro.
Eu precisava encontrar uma maneira de pintar novamente. Eu não
aguentava todos esses sentimentos trancados dentro de mim.
Talvez se eu tentar um novo método.
Usar uma esponja em vez de um pincel.
Ou pastéis em vez de óleos.
Entrei em meu estúdio, não me permitindo hesitar, e marchei até o
cavalete com a tela em que apliquei um pouco de cor da última vez.
Eu a tirei e coloquei uma tela em branco em seu lugar.
Depois de olhar para a tela em branco com a mente igualmente em
branco por um minuto inteiro, deixei meus olhos vagarem.
Eles pararam na pintura que eu fiz de uma chupeta.
Era uma peça confusa e expressionista que surgiu depois do chá de
bebê de Selene — quando eu pensei que poderia estar grávida.
Na época em que Konstantin invadiu minha vida e manipulou minha
mente.
Estremeci, afastando-me da pintura.
Tudo parecia tão distante — eu tinha tanto medo de estar grávida.
Agora eu estava com medo de nunca ficar.
Foi necessária a ameaça de infertilidade para me fazer perceber o
quanto eu queria ser mãe.
Cravei minhas unhas em minhas palmas enquanto olhava para a tela
em branco.
Como posso pintar algo que expresse isso?
Oprimida pela gravidade de tudo isso, agarrei o frasco de gesso
branco e destampei, em seguida, joguei para o outro lado da sala.
Um respingo branco atingiu o chão e as paredes.
Gritei e derrubei o cavalete, depois pisei na tela, que se rasgou.
Perdendo todo o senso de controle, eu joguei tintas, pincéis, paletas.
Eu destruí meu estúdio, arrancando pinturas das paredes e jogando as
empilhadas no chão por todo o lugar.
Quando parecia que um furacão havia destruído a sala dos fundos, eu
finalmente parei.
Josh

Esperei até a lua brilhar e depois voltei para Jalwitz.


Bati na porta até que uma senhora idosa a abriu.
— Você não pode estar aqui, — disse ela com uma carranca.
— Afaste-se, — eu ordenei, passando por ela. — Estou aqui para tratar
de assuntos oficiais da MCL.
Ela gaguejou com indignação.
— O que há com a fita da cena do crime?
— Houve um roubo! — ela exclamou. — A polícia não terminou a
investigação.
— Senhora, eu sou a polícia, — eu disse, entrando no foyer.
— Você precisa sair imediatamente ou vou chamar a polícia, — disse a
velha.
Eu a dispensei e marchei para a próxima sala.
Nenhuma das luzes das caixas estava acesa, mas pude ver que esta
sala era dedicada à arte nativa americana.
O lado oposto da sala tinha sido feito para parecer feito de terra e
pedra. Acima da porta havia uma placa que dizia: Sepulturas em caixa de
pedra.
A fita da cena do crime o cruzava.
Parei e examinei uma placa pendurada na altura dos olhos, perto da
porta.
— Túmulos de caixa de pedra eram um método de sepultamento
empregado pelos nativos americanos da cultura do Mississippi, no meio-oeste
e sudeste americanos...
Uma sensação arrepiante formigou nas minhas costas quando entrei
na sala, esquivando-me da fita.
Eles desenterraram túmulos e os colocaram em caixas de vidro.
No caso mais próximo de mim, lajes de pedra foram dispostas em
uma caixa retangular no chão. O material no fundo da caixa parecia
cerâmica rachada.
Os ossos estavam dentro dela, dispostos em posição fetal, com
pequenos objetos ao lado deles: pontas de flechas, estatuetas e pérolas de
água doce.
Eu não podia acreditar que eles desenterraram os locais de descanso
das pessoas e os colocaram sob um vidro naquele museu.
Foi assustador.
O que era pior, uma das caixas havia sido destruída.
Aproximei-me lentamente, esfregando meus polegares contra meus
dedos, me sentindo enjoado.
Ao olhar para dentro, pude perceber imediatamente o que estava
faltando.
Isso definitivamente não pode ser bom.
O som das sirenes ficou mais próximo quando cobri minha boca com
a mão.

Horas depois, eu estava rangendo os dentes e ansioso para quebrar as


malditas portas.
Eu não tinha tempo para essa merda.
Konstantin estava tramando algo.
E eu tinha que descobrir o que era.
Mas é claro que isso teria que esperar.
Aquela ressaca foi uma merda. Eu estremeci na cama de estrado fino.
Fiquei o mais imóvel possível, esperando que finalmente tivesse
terminado de vomitar no banheiro de alumínio que ficava em um canto.
Sinto muito, Michelle.
Eu não deveria estar aqui.
Eu deveria estar em casa com você. Com meu corpo enrolado em torno do
seu.
Mas não. Em vez disso, eu estava em uma cela imunda que cheirava a
décadas de urina derramada.
— Ei, carcereiro, quero fazer minha ligação! — Eu gritei.
Capítulo 20
SANTA SIENNA Josh
Eu sabia que era apenas uma questão de tempo antes que alguém
aparecesse para me tirar daquele lugar.
Então, eu estava preparado quando acordei para ver Jeremy me
encarando através das barras de metal.
— E aí, cara? — Eu disse timidamente.
— Pegue suas coisas. Tenho que falar com o juiz e depois vamos
embora.
Suas palavras foram diretas e concisas. Para um cara tão frio como
Jeremy, isso significava que ele estava chateado.
Eu não estava com humor para discutir com ele. Eu senti como se
alguém tivesse cagado em meu cérebro.
— Tá, pode deixar, — eu disse, me levantando e tentando ignorar a
náusea que só aumentava.
Jeremy se afastou e, um momento depois, ouvi o som das portas de
segurança sendo abertas e fechadas.
Então ouvi o clique de saltos altos no concreto.
Michelle apareceu.
Ela parecia cansada e pálida, seu cabelo castanho puxado para trás em
um coque bagunçado e seu rosto sem maquiagem.
Aquela era a verdadeira Michelle. A pessoa esperançosa, bonita e
solitária que tão poucas pessoas conheceram.
E pude ver em seus olhos que a tinha machucado.
Minha cabeça tombou.
— O que você está fazendo na prisão, Josh? — ela perguntou
baixinho.
Eu já tinha ouvido essa pergunta antes. Mas dos lábios da minha mãe
em vez dos da minha companheira.
Por que você estava na prisão de novo, Carl? Ela dizia ao meu pai todas
as noites em que ele voltava do bar para casa.
Por que você não pode simplesmente controlar seu temperamento?
Você não é um companheiro, mas sim um bêbado inútil.
Isso tinha sido antes de ela deixá-lo. Deixar-nos.
Eu não poderia deixar isso acontecer. Eu tinha que tentar explicar.
— Konstantin. Eu fui matá-lo.
— Então você invade um museu de história e apavora uma velha
maluca? — ela perguntou em descrença.
— Mas ele deveria estar lá! — Eu insisti.
E ele estava lá pensei. Acabei chegando tarde demais.
De novo.
Michelle suspirou com cansaço. — Desculpe, Josh, mas você tem que
me ajudar. Eu entendo que você está tentando encontrar Konstantin.
Mas o que te fez pensar que ele estava em um museu no Tennessee?
— Porque eu... — eu hesitei.
Devo contar a minha companheira sobre a lama?
Se ela soubesse que poderíamos rastrear o vampyro, isso poderia
ajudá-la a dormir melhor à noite.
Mas, por mais que eu amasse Michelle, tinha que admitir que ela não
era a melhor em guardar segredos.
E se ela acidentalmente tagarelasse sobre a lama, eu estaria em uma
merda ainda mais profunda do que já estava.
— Eu... recebi uma dica de uma fonte anônima. Eles deixaram uma
mensagem em meu escritório.
— Parece uma pista muito frágil, — disse ela.
— E daí! — Eu chorei, avançando para envolver minhas mãos em
torno das barras.
Michelle colocou as mãos sobre as minhas e minha pele estremeceu
com o toque.
— Eu não me importo quão frágil seja uma pista, quão desesperado
eu esteja. Farei o que for preciso para encontrar Konstantin, entendeu?
— Eu podia ouvir minha voz ficando mais alta, mais desesperada, mas
não me importei.
— Michelle, você quase morreu, — eu disse, estendendo a mão para
acariciar sua bochecha manchada de lágrimas. — Eu não posso parar. Eu
não posso desistir. Não até eu saber que ele está morto.
Ela acenou com a cabeça contra a minha palma.
— Obrigada, — ela sussurrou.
— Me desculpe, eu não tenho sido presente. Sinto muito por toda
essa bagunça, — eu disse.
— Está tudo bem, — disse ela. Eu podia ouvir a mentira em sua voz.
— Na verdade, estou me saindo muito melhor.
— As coisas vão melhorar, — prometi a ela. — Mas primeiro, temos
que matar Konstantin.
— Mas você não pode continuar parando na prisão! — ela insistiu. —
Aiden está furioso.
— Deixe-o ficar furioso. Ele não levou nada disso a sério desde o
primeiro dia.
Só então, eu ouvi o som da porta de segurança se abrindo e depois se
fechando.
— Jeremy está voltando, — disse Michelle.
Eu apertei a mão dela.
— Vamos sair desse buraco.
Michelle

Michelle: ei Si

Michelle: Monica quer que façamos mais


alguns takes
Michelle: eu sei, meio tarde demais

Michelle: Si?

Sentada na minha cama em casa, esperei, mas Sienna não respondeu


minhas mensagens.
Monica ligou de novo e eu deixei cair na caixa postal.
Não tive vontade de falar com ela. Ela ainda estava tentando me fazer
dizer para onde eu tinha ido no início daquela manhã.
Mas eu não tinha intenção de admitir que estava tirando meu
companheiro da prisão.
Ou que eu adormeci em cima das cobertas na noite passada, depois
de chorar por horas.
Isso não seria muito adequado para a câmera, seria?

Michelle: ei pessoal, vocês viram ou


ouviram falar da Sienna?

Mia: não, mas também, estou 100% do tempo com o bebê

Erica: Não vejo Sienna desde o festival


Michelle: ela não está respondendo minhas
mensagens

Erica: você estava mandando mensagem para ela sobre o


programa?

Michelle: ...

Michelle: sim

Erica: 🤷 (emoji de boneca encolhendo os ombros)

Michelle: o que você quer dizer

Erica: ah qual é, mich

Erica: você sabe

Michelle: eu não sei


Michelle: o que

Erica: Sienna não está gostando muito de fazer o programa,


Michelle. Eu não acredito que você realmente não sabe disso.

Eu olhei para o meu celular com cara de decepção.


Se Sienna está tão determinada a não se divertir, o que ela ainda está
fazendo no programa?
Ela não entende o quão sortuda ela é? Todo mundo a ama, sendo que ela
nem está fazendo nada.
Monica só sabia puxar o saco dela.
Todo mundo nas redes sociais estava distribuindo elogios a ela.
Como Sienna não gostava disso?
Porque é tudo apenas uma atuação. Nada disso realmente significa
absolutamente nada.
Estremeci, tentando me livrar dos sentimentos de dúvida que vinham
crescendo em mim desde o Festival das Chamas.
Não.
Essa era minha chance.
Mas, como de costume, Sienna estava no meu caminho.
Ela não merecia. Não merecia nada daquilo.

Michelle: se ela não gosta, por que ela está


fazendo

Erica: o meu deus 🙄 (emoji de olhos virando)


Mia: Ela estava preocupada com você, Michelle

Michelle:???

Mia: você vai mesmo se fazer de idiota?

Erica: você acordou da porra de um COMA e disse — então,


quero ser famosa

Mia: Ela estava preocupada com você, Michelle

Erica: então ela aceitou

Erica: porque ela te ama

Erica: belo jeito de retribuir

Com um suspiro, joguei meu celular de lado.


Por baixo da minha irritação, senti uma pontada de preocupação.
Eu estava tão focada no programa, em garantir que eu ficasse bem
para as câmeras, que disse algumas coisas terríveis.
Liguei para o celular de Sienna e, como ela não atendeu, tentei seu
hotel sem sucesso.
Talvez ela esteja em sua galeria.
Eu saí.

Quando cheguei à galeria dela, a placa dizia Fechado, mas a porta estava
destrancada.
Um formigamento inquieto rastejou sobre minhas costas quando
entrei.
— Sienna? — Chamei.
Sem resposta. Eu entrei no local, olhando ao redor.
Tudo parecia normal. Imperturbável.
Eu ouvi um barulho vindo do fundo da galeria.
Por um momento, eu congelei, uma imagem de olhos vermelhos
piscando em minha mente.
Minha respiração acelerou e meu coração martelou no meu peito.
Merda.
— Michelle?
Era Sienna.
Ela veio pela porta da sala dos fundos.
Ela estava um caco.
Maquiagem arruinada por lágrimas, cabelo meio amarrado para trás,
camisa respingada de tinta.
— Meu deus, Si, — eu disse.
Ela tropeçou em minha direção e eu fui até ela, estendendo os braços.
Ela caiu sobre eles, soluçando.
— O que aconteceu? — Eu perguntei, ainda alarmada. — Alguém te
machucou?
Ela balançou a cabeça. — Eu sou um lixo. O maior lixo de todos.
Não importa o quão confusos meus sentimentos em relação a Sienna
estivessem, eu não poderia simplesmente deixá-la sozinha e chateada
assim.
— Bem, isso eu posso consertar, — eu disse, engatando a marcha.
Eu a levei até o banheiro e a ajudei a lavar o rosto.
Eu tinha maquiagem e uma escova de cabelo e comecei a arrumá-la.
— Não podemos deixar você com uma aparência tão assustadora —
eu murmurei enquanto trabalhava.
Sienna sentou-se docilmente, deixando-me limpá-la.
— Ventou pra caramba hoje, né...? — Eu brinquei.
— Não, — ela disse, sua voz suave. — Eu só... meio que perdi minha
calma por um tempo. Eu estava... frustrada com minha pintura.
Eu dei a ela um aceno de cabeça enquanto passei o corretivo ao redor
de seus olhos. — Você e seu temperamento artístico.
— Sim, — disse ela com um sorriso fraco.
Recostei-me e olhei para minha obra. — Muito melhor — eu disse,
então peguei suas duas mãos e as apertei.
Ela olhou para mim; seus olhos estavam brilhantes, mas seu rosto
estava em branco.
— Você tem que deixar tudo para trás, Si, — eu disse.
A última coisa que eu queria fazer era falar sobre o que aconteceu.
Mas ela realmente precisava se recompor.
— Acabou. Ficou tudo para trás, — eu disse a ela.
— Não consigo dormir à noite, — confessou ela, com a voz trêmula.
— Cada vez que fecho os olhos, tudo o que vejo são...
— Olhos vermelhos, — eu terminei por ela.
Não pense nisso. Não pense nisso.
Meu pulso estava acelerado.
— Você tem o mesmo sonho? — Sienna perguntou, surpresa.
— Não como... de uma forma psíquica ou algo assim, — eu disse,
tentando rir disso.
Mas então eu balancei a cabeça. — Mas sempre sinto que alguém está
me observando.
Então eu me cerco de câmeras. Pelo menos eu sei que as pessoas estão
assistindo.
Mas eu não poderia dizer isso. Realmente não podia admitir que fosse
verdade.
— Você realmente acha que Josh e Aiden vão pegá-lo? — ela
perguntou, sua voz baixa.
Eu balancei a cabeça com firmeza. Foi a única coisa que pude fazer. —
Claro que vão.
Sienna desviou o olhar.
Eu dei um pequeno aperto em sua mão. — Agora, vamos. Vamos
almoçar. Aposto que você está morrendo de fome depois de toda essa —
arte.
— Claro, — disse ela, voltando-se para mim com um sorriso. —
Obrigada, Michelle.
— O prazer é meu, — eu disse.
Jocelyn

Depois da cena com Nina no jardim, ela se afastou.


O que era bom. Era o que eu queria.
Mas quando eu a vi alguns dias depois, parecendo totalmente abatida
enquanto ela estava sentada sozinha no refeitório, meus pés agiram por
conta própria.
Eu me sentei ao lado dela.
Os olhos de Nina se ergueram e se arregalaram de surpresa.
Não dissemos nada. Peguei a comida no meu prato, mas, como
sempre, estava sem apetite.
Nina tirou um pedaço de torrada de seu prato e colocou algumas
fatias de abacate por cima.
— Aqui. Coma.
Meus lábios se curvaram em um sorriso. — Está forçando a barra, não
acha?
Eu olhei para ela, querendo muito cair em seus braços e perdoá-la por
tudo.
— Desculpas são como perder a virgindade, — brincou Nina. — Tem
hora e lugar certos.
Minha boca se curvou. — Acho que sim.
Levei a torrada à boca e dei uma mordida.
— Não é ruim, — eu admiti.
— Bom. Coma. Você fica nervosa quando está com fome.
— Eu não!
Nina ergueu uma sobrancelha e eu sorri. — Tudo bem, talvez às
vezes. Um pouco.
— Tipo 'Se eu não comer pizza nos próximos cinco minutos, vou
queimar essa mulher'.
— Cale a boca, — eu disse, mas eu estava sorrindo completamente.
Suspirei profundamente, sentindo um peso ser retirado de meus
ombros.
— Eu senti falta disso, — admiti.
A máscara sarcástica de Nina desmoronou e sua boca torceu para o
lado.
— Eu também, — ela murmurou, estendendo a mão para colocar sua
mão na minha.
Deixei lá e dei outra grande mordida na torrada.
Aiden

Depois de saber que Josh tinha acabado na prisão, eu estava pronto para
seguir em frente na investigação sem ele.
No entanto, só naquela noite tive tempo para fazer isso.
— E isso? — Sienna perguntou sem fôlego. Ela estava empoleirada na
minha mesa, nervosamente observando a garrafa de lama como se ela
pudesse pular e atacá-la.
O que, pelo que sabíamos, poderia.
— Sim. Afaste-se, — eu disse a ela enquanto destampava a garrafa.
Nós dois congelamos em antecipação, mas nada aconteceu.
Sienna soltou um suspiro.
— Ok, vamos ver o que essas coisas podem fazer, — eu disse.
Pegando uma pequena bússola, derramei a gosma preta sobre a
superfície.
Então esperamos.
Não fez nada — apenas cobriu a bússola com sujeira.
— O que deveria acontecer? — Sienna perguntou, chegando mais
perto.
— Eu pensei que apontaria para a localização de Konstantin.
— Talvez só precise de algum tempo para funcionar?
Então esperamos.
Cada um de nós orando ansiosamente para que os ponteiros
começassem a girar.
Dez minutos se passaram.
Vinte.
Nada.
O ponteiro ficou apontando na mesma direção: norte.
A menos que Konstantin esteja no norte?
Mas nada aconteceu. Nenhuma indicação de que a lama teve
qualquer efeito na bússola.
Com um suspiro, recostei-me na cadeira.
— Podemos tentar com outra bússola? Ou com... um GPS ou algo
assim? — Sienna perguntou, vindo se sentar na cadeira ao meu lado.
Peguei sua mão e esfreguei contra minha bochecha.
— Não sei. Mas temos que tentar algo.
Ela suspirou. — Eu sei. Mas eu sinto que não estamos chegando a
lugar nenhum com isso.
Eu concordei.
As palavras ficaram no ar.
Konstantin ainda estava lá fora.
Decidido a alcançar minha companheira — a matá-la em sua luxúria
por poder.
E não tínhamos ideia de quando ele poderia atacar novamente.
Capítulo 21
ALGUM DIA VOCÊ VAI RESPIRAR
Sienna

O céu lá fora estava totalmente branco e o dia parecia frio e sombrio.


O quarto de hotel parecia ecoar em sua esterilidade e seu vazio.
Aiden já estava no trabalho e eu realmente não queria ficar sozinha.

Sienna: Oi Erica

Sienna: Você ainda tem aula às terças de


manhã?

Erica: Sim rs

Sienna: Se importa se eu for aí?

Erica: Não, de boa, começa 15 pras 10

Ninguém iria me filmar aquele dia, então eu me entreguei a leggings


de lã azul-marinho e um suéter comprido na cor creme.
Quando entrei na sala de aula de Erica, ela pulou da mesa e correu,
me dando um abraço.
— O que foi isso? — Eu perguntei com uma risada leve.
— Michelle comentou que você estava um pouco... chateada ontem.
Suspirei.
— Venha aqui, — disse Erica, levando-me a uma área confortável que
ela montou com pufes. Uma placa sobre o espaço dizia: — Cantinho da
Leitura.
— Tenho uma hora e meia para você, — disse Erica, colocando uma
mecha de cabelo castanho atrás da orelha. — Me conta todas as coisas.
Então eu contei.
Eu disse a ela sobre não poder pintar.
Sobre não conseguir me transformar.
Sobre a infertilidade. O estresse e os sonhos.
Até sobre destruir meu estúdio.
Erica ouviu em silêncio com os braços cruzados sobre o peito.
— Nossa, Sienna, — disse ela quando eu finalmente parei. — Quanta
coisa.
Eu concordei. — Agora que eu disse tudo em voz alta, parece muita
coisa mesmo.
— Você contou a Aiden sobre tudo isso? O pensamento do meu
companheiro trouxe um sorriso aos meus lábios, apesar das minhas
preocupações. — Eu contei a ele um pouco disso. Ele tem sido muito
compreensivo.
— Por que você não contou tudo a ele?
Eu não tinha uma boa resposta para isso — exceto que estava cansada
de parecer fraca na frente do meu companheiro, sendo que ele estava
lidando com problemas reais.
— É que ele está... ocupado agora. Ele está se esforçando tanto para
encontrar Konstantin.
Erica se aproximou e apertou minha mão. — Eu acho que é normal.
— Você acha?
Ela acenou com a cabeça. — Qualquer um que já passou pelo mesmo
que você... deve estar estressado. Tendo dificuldade para fazer... as coisas
voltarem ao normal. Veja o que Michelle está fazendo!
— Isso não é justo, — eu disse automaticamente em defesa da minha
melhor amiga.
Ela revirou os olhos. — Que seja. Eu só espero que os quinze minutos
de fama a acalmem.
— Michelle está passando por um momento difícil, Erica. Precisamos
ter empatia. Konstantin a deixou em coma. E foi... — eu parei quando um
soluço subiu na minha garganta.
—... E foi minha culpa. Pelo menos parcialmente. Eu deixei o vampyro
entrar na minha vida, e ele usou Michelle para se aproximar de mim.
Lágrimas correram pelo meu rosto. Erica me entregou um lenço de
papel da caixa sobre a mesa.
— Fui estúpida e egoísta e Michelle quase morreu por causa disso, —
continuei, desabando completamente.
Erica balançou a cabeça lentamente.
— Sienna, isso não faz sentido.
Puxei outro lenço de papel da caixa.
Erica se inclinou e pegou minha mão novamente. — Si, o que
aconteceu com Konstantin não foi sua culpa.
— Mas você não…
Meu celular tocou.
Pisquei, assoei rapidamente o nariz com outro lenço de papel e
peguei meu celular da bolsa.
Era Charlotte.
De alguma forma, meu coração conseguiu afundar ainda mais.
— Alô?
— Onde você está? — Charlotte perguntou, com uma irritação
evidente em seu tom de voz.
Limpei meu nariz com o lenço. — Estou com a Erica. Por quê?
— Meu Deus, Sienna. Você deveria estar no hospital. Você esqueceu?
Tudo se mexeu.
— Merda — eu soltei.
Iríamos filmar novamente — um segmento em que eu deveria ir à
enfermaria de obstetrícia e abençoar mulheres com gestações difíceis.
Com toda a coisa da infertilidade, eu não queria enfrentar isso.
Na verdade, eu tinha criado esse bloqueio.
— O que está acontecendo comigo? — Eu respirei.
Erica me lançou um olhar perplexo.
Eu disse: — Estarei aí assim que puder.
— Veja se você se apressa, — Charlotte disse antes que eu pudesse
desligar.
Deixei cair o celular no meu colo e cobri meu rosto, gemendo.
— O que foi? — Erica disse.
Eu expliquei o que estava acontecendo.
— Monica vai transmitir ao vivo, — eu disse.
Erica estava balançando a cabeça. — Não acho que seja uma boa ideia,
com tudo o que você está passando agora, Sienna...
— Eu disse a Charlotte que estaria lá o mais rápido possível.
— Ligue de volta e diga que você não pode ir.
Com um suspiro, eu disse: — Não. Não é grande coisa. Eu vou lá e
acabo com isso.
— Sienna...
Eu dei um tapinha em seu braço. — Não, sério, Erica, está tudo bem.
Eu realmente precisava desabafar, me sinto cem vezes melhor. Obrigada.
Essa conversa realmente ajudou.
Ela me olhou.
Então ela se levantou e foi até o telefone em sua mesa.
Apertando alguns botões, ela disse: — Meredith? Sim. É a Erica. Você
tem aula no próximo horário, certo?
Uma pausa.
— Sim, isso seria ótimo. Te devo uma.
Erica desligou e olhou para mim.
— Eu vou com você, — ela disse.
Aiden

Eu olhei para a bússola inútil como se pudesse magicamente fazê-la


funcionar por pura força de vontade sozinha.
Uma batida na porta do meu escritório interrompeu minha
concentração. Sayyid entrou um momento depois.
— Acho que temos algo, meu Alfa, — disse ele. Ele estava segurando
um tablet nas mãos.
— Diga-me, — eu solicitei.
— Você tem que vir. Agora. Se partirmos imediatamente, podemos
pegar Konstantin.
Sayyid deu a volta para o meu lado da mesa, segurando seu tablet.
Com alguns toques, ele tinha uma lista de números de telefone. Ele
apontou para um. — Pelo que sei, esta é a última pessoa que falou com
Konstantin depois do Baile de Inverno, — disse Sayyid.
— Quem é?
— Dorothy Seaver. Ela é a proprietária e gerente do Triple Creek
Hotel, a nordeste de Mahiganote.
— Você acha que ele está lá? — Eu perguntei. — Você acha que ele
está de volta a Mahiganote?
Isso parece extremamente conveniente.
Por que ele voltaria quando sabe que o estamos caçando ativamente?
Algo não parecia certo.
Mas não era hora de ignorar uma pista em potencial.
Eu balancei a cabeça para Sayyid. — Vamos.
Sienna

Erica resmungou baixinho sobre Michelle durante todo o caminho até o


hospital.
As duas nunca se deram muito bem, então tentei lidar com isso, mas
meu estômago estava dando piruetas quando chegamos à enfermaria de
obstetrícia.
Este é o último lugar que eu queria estar agora.
E quando eu vi Michelle — com seu sorriso de cem watts estampado
mais uma vez em seu rosto e rindo com Charlotte Norwood — eu
realmente me senti um pouco enjoada.
Foi preciso um grande esforço para respirar profundamente —
especialmente quando elas fizeram expressões idênticas de desdém
quando me viram.
— Sienna, finalmente — Charlotte disse, avançando.
O pessoal da câmera havia instalado luzes e equipamentos ao redor
da sala, e havia uma fila de mulheres em cadeiras de rodas esperando em
uma grande porta em frente a nós.
Erica ficou ao meu lado como um guarda-costas.
Se eu não pudesse ter Aiden ao meu lado neste pesadelo, era bom
saber que minha amiga estava cuidando de mim.
Foi assim que toda essa confusão começou. Comigo tentando cuidar
de uma amiga.
— Tudo bem, pessoal, vamos começar a filmar! — Disse Monica com
seus cabelos cacheados presos por uma mecha de cabelo.
Uma onda de tontura tomou conta de mim. Eu não estava pronta
para aquilo.
— Espere, — eu disse, mas Monica não estava prestando atenção.
Minha boca estava azeda. Eu limpei minha garganta. — Podemos...
podemos esperar um minuto?
— Esperar pelo quê? — Michelle perguntou.
Como vou explicar que se eu tentar falar com essas mulheres grávidas,
posso vomitar nelas?
— Acho que devemos remarcar, — disse Erica, segurando meu braço
com delicadeza.
Charlotte olhou para ela como se ela fosse uma mosca irritante que
adoraria matar.
— Não podemos, — disse Michelle. — Monica tem planos de
transmitir ao vivo algo novo todos os dias desta semana.
Um enfermeiro empurrou uma mulher grávida para dentro e um dos
câmeras ajustou as luzes no local onde o enfermeiro parou.
Meus olhos percorreram a forma grávida da mulher.
Eu me imaginei sentada naquela cadeira de rodas, com medo e
desesperada para preservar a vida do meu filho.
Do filho de Aiden.
Mas eu não sabia se isso seria possível. Se eu era capaz de dar filhos a
ele.
Era como se alguém tivesse projetado este evento para ser
exatamente o que me enlouqueceria.
E se isso for exatamente o que eles fizeram?
Um operador de câmera veio até nós.
A luz vermelha da câmera estava estável.
Olhando para mim.
Como os olhos vermelhos brilhantes de Konstantin.
Meus joelhos ameaçaram ceder totalmente, mas tentei manter minha
voz firme.
— Na verdade, Erica está certa. Eu não estou me sentindo bem.
— É por isso que você estava atrasada? — Charlotte perguntou.
— Não. Eu fui… eu fui para a minha galeria.
A mentira saiu da minha língua antes mesmo de saber por que estava
contando.
Erica puxou meu braço e eu dei um passo para trás, olhando para a
saída como se fosse água no deserto.
— Ah, sua galeria — Charlotte zombou. — Ainda não consigo
acreditar que Aiden se entregou a esse hobby infantil. Você é a
companheira do Alfa agora, Sienna. Você não terá tempo para aquarelas
se estiver desempenhando seu papel corretamente.
Fechei meus olhos para que Charlotte não os visse rolar para trás em
minha cabeça. Quando os abri, o cameraman se aproximou para tirar
uma foto completa do meu rosto.
Eu queria empurrá-lo, pegar sua câmera idiota e esmagá-la contra a
parede até que aquele olho vermelho horrível parasse de brilhar para
mim.
— Estamos indo embora, — disse Erica, puxando meu braço.
Michelle avançou, carrancuda para ela. — Por que você simplesmente
não some, Erica? Você nem deveria estar aqui.
— Por que é que você está fazendo isso, Michelle? — Erica disse com
veemência. — Ninguém acredita mais nessa merda. Temos medicina
moderna.
— Ninguém dá a mínima para o que você pensa, — disse Michelle
baixinho. Seus olhos estavam brilhantes e vidrados enquanto disparavam
nervosos para a câmera.
Charlotte ergueu o queixo. — A tradição é significativa para a maioria
das pessoas, — disse ela. — Todas essas mulheres se ofereceram para
serem abençoadas. Eu não acho que nenhuma delas diria que é bobagem.
Erica se voltou para Michelle. — E por que você está aqui? Não me
lembro de nenhuma companheira de Beta estar tão envolvida nas
bênçãos das chamas quando eu era criança.
Os olhos de Monica brilharam.
Aquilo provavelmente daria muita audiência.
Eu levantei minhas mãos. — Vocês podem parar? Estou feliz que
vocês duas estejam aqui. Michelle tem me ajudado bastante.
— Então por que você não deixa Michelle fazer as bênçãos e vamos
sair daqui? — Ela disse.
Os olhos de Michelle brilharam.
— Seria uma boa... — eu comecei, feliz em encorajar minha amiga.
— Jamais, — Charlotte interrompeu.
— Essas mulheres estão aqui para serem abençoadas pela
companheira do Alfa, — Monica acrescentou.
Michelle parecia ter sido atingida no rosto.
Olhei para as mulheres grávidas, que estavam assistindo a tudo aquilo
com os olhos arregalados.
Um músculo começou a se contrair na minha bochecha. Minha
garganta estava apertada de tensão.
— Tudo bem, — eu disse. — Está bem.
Erica começou a discutir, mas Monica parecia triunfante.
— Tudo bem, pessoal, — ela gritou, olhando para o relógio. — Iremos
ao vivo em 5, 4, 3...
Seus lábios formularam os dois últimos números enquanto suas mãos
faziam a contagem regressiva até zero.
Nós estávamos ao vivo.
Capítulo 22
QUANTA SORTE
Aiden

Sayyid e eu chegamos ao Triple Creek Hotel em quinze minutos.


A proprietária, uma mulher mais velha de cabelos grisalhos, me
reconheceu quando me aproximei da recepção.
— Alfa Norwood! — ela engasgou, colocando a mão enrugada no
colarinho bordado.
— E você deve ser Dorothy Seaver, — eu disse, estendendo a mão.
Ela corou enquanto a balançava.
— Eu preciso ver um de seus hóspedes — eu disse.
— Um senhor Konstantin, — disse Sayyid.
— Ah, bem... — — disse Dorothy, inclinando a cabeça para o lado em
um gesto de inquietação. — Eu não costumo dar esse tipo de
informação...
— Você faria se um detetive de polícia viesse com um mandado, não
é? — Sayyid disse. — E a palavra do Alfa supera a de qualquer juiz,
então...
O rosto de Dorothy ficou em branco e ela assentiu. — Claro.
Ela ergueu uma chave.
— Ele está no quarto quatro. Passe por aquelas portas, siga para o
pátio. Esta é a chave mestra. Entrem.
Finalmente, disse a mim mesmo quando uma onda de alívio tomou
conta de mim.
Sayyid e eu saímos pelas portas francesas que Dorothy indicou,
entrando em um grande e charmoso pátio de paralelepípedos além.
O momento finalmente chegou. Vou confrontar Konstantin e destruí-lo
pelo que ele fez à Sienna. E a toda a minha família.
A Michelle.
Uma pontada de culpa me fez parar.
Josh deveria estar aqui.
Mas não havia tempo a perder.
Esta era minha chance de acabar com Konstantin de uma vez por
todas.
E eu não ia perder isso.
Josh

Depois de uma longa noite conversando com minha companheira,


concordamos que era mais importante para mim ir atrás de Konstantin
do que participar do reality show.
Tirou um peso dos meus ombros, mas ainda me sentia culpado.
Como se eu não fosse o suficiente.
Inteligente o suficiente.
Forte o suficiente.
Capaz o suficiente para encontrar o vampyro sem ajuda.
Especialmente porque a porra do relógio estúpido não estava
funcionando.
Quando me levou ao Museu Jalwitz, todas os ponteiros apontavam na
mesma direção.
Em direção a Konstantin.
Mas naquele momento, era como se a lama estivesse... confusa ou
algo assim. Ela continuava oscilando, apontando às vezes para o norte,
mas depois girando em um círculo e apontando ligeiramente para o leste.
Então, tudo parava completamente. Era irritante.
Eu estava olhando para ele por quase vinte minutos, e estava prestes a
quebrar a maldita coisa com um martelo.
Mas no final, não pude resistir à tentação.
Não importaria se não desse em nada, eu tinha que verificar.
Peguei o relógio da minha mesa e me dirigi para a minha
caminhonete.
Sienna

Todos os músculos do meu corpo pareciam tensos e frágeis.


O calor das luminárias recém-instaladas estava me fazendo suar.
Uma mulher com uma grande barriga de grávida estava sentada em
uma cadeira de rodas no centro da sala, esperando que eu viesse e a
abençoasse.
Observei a fila de mulheres grávidas — ela fazia uma curva e não dava
para enxergar o fim.
Eu não sabia o que era pior: o fato de que eu deveria interagir com
mulheres grávidas, quando ainda estava tentando encontrar uma
maneira de lidar com a notícia de que poderia nunca ter meus próprios
filhos...
Ou o fato de que alguém pensou que eu poderia fazer qualquer coisa
para ajudar essas mulheres. Como se estar acasalada com Aiden me desse
poderes mágicos ou algo assim.
Era tudo uma fraude.
Eu sou uma fraude.
Michelle agarrou meu braço e me puxou para longe de Erica, que
parecia estar prestes a explodir de raiva.
— Olha, só faça isso, Si, — Michelle sussurrou impaciente. — Todo
mundo está esperando por você.
Depois da nossa conversa no outro dia, achei que ela seria mais
compreensiva.
Mas até eu pude ver que Michelle tinha simplesmente colocado uma
nova camada de tinta na máscara estilosa que ela estava usando sobre sua
alma danificada.
Eu gostaria que ela não precisasse descontar suas ansiedades em mim e
apenas em mim.
Eu estava ficando cansada de ser seu saco de pancadas.
Vamos acabar logo com isso.
Olhando para Michelle, depois para Charlotte, tentei me mover, mas
o olho vermelho sempre vigilante da câmera me paralisou.
— O que eu devo fazer?
Michelle bufou e Charlotte balançou a cabeça exasperada. — Não é
difícil. Você coloca suas mãos no estômago, concentra sua vontade e
recita a Bênção da Chama Sagrada.
— Concentrar sua vontade? — Erica murmurou do meu lado.
— Você quer dizer 'Chama divina, fértil e brilhante'? — eu disse.
— Sim, embora você deva tentar personalizá-lo. Pegue o nome de
cada mulher, — disse Charlotte. — Em vez de 'esta noite abençoe a luz de
cada mãe', diga algo como 'hoje abençoe a luz de fulano de tal'.
Meu coração bateu forte. — Tem certeza de que Michelle não pode
fazer isso?
— Eu sei o ritual de cor, eu poderia... — Michelle começou.
— Jamais, — Charlotte disse enfaticamente.
— Sienna, todos estão esperando para ver você realizar essas bênçãos.
Você não quer decepcionar todos eles, quer? — Monica perguntou,
olhando direto para a lente da câmera.
Não. Eu não.
Já tinha decepcionado muitas pessoas.
Michelle.
Aiden.
Emily.
Eu não podia simplesmente ir embora.
Mas de alguma forma, não parecia tão simples.
Jocelyn

Desde o almoço que compartilhamos no dia anterior, não parei de pensar


em Nina.
Eu a tinha visto algumas vezes, embora ela apenas acenasse e sorrisse
para mim.
Me dando espaço... ou me evitando?
Eu queria acreditar que estávamos em um lugar melhor do que o
último, pelo menos.
Eu tinha ido ao refeitório no café da manhã, esperando que ela
estivesse lá.
Eu me obriguei a comer, embora ela não estivesse lá.
Eu sabia que minha alimentação chegaria até ela através dos boatos
dos funcionários da cozinha e, de qualquer maneira, eu queria ficar mais
forte.
Curar.
Mesmo que minhas próprias habilidades nunca voltassem.
Mesmo que a perda tirasse tudo que eu pensava que sabia sobre mim.
Mesmo que ninguém nunca olhasse para mim da mesma maneira.
Incluindo Nina...
Controle-se, Jocelyn.
Mas não pude evitar.
O sorriso de Nina, sua risada, suas piadas... e seus momentos mais
raros sinceridade...
Eles a colocaram sob minha pele... e agora não havia como ignorá-la.
Ela me fascinava.
Eu ainda não sabia muito sobre ela.
Eu não entendia como ou por que ela havia se tornado uma ladina,
depois uma ladra.
Será que algum dia terei a chance de descobrir mais sobre ela?
Quero realmente conhecê-la?
A ideia de que eu não faria isso — que eventualmente eu deixaria este
lugar e Nina para trás — era insuportável.
Especialmente porque eu não tinha absolutamente nenhuma ideia de
qual era o meu propósito na vida, agora que não podia mais ser uma
curandeira.
Depois do café da manhã, dei uma caminhada pelo jardim congelado.
Eu esperava que ela me encontrasse lá, como ela havia feito antes,
quando ela tentou se desculpar.
Mas eu fiquei sozinha.
Balançando minha cabeça para mim mesma, eu abracei meus braços
sobre meu peito, observando minha nuvem de respiração na minha
frente.
Eu gostaria de poder endurecer meu coração contra Nina completamente.
Ela é uma mentirosa.
Ela tentou machucar Sienna — em vez de pedir ajuda a alguém.
Mas ela também veio ajudar no Baile de Inverno, mesmo quando não
precisava.
O que tornou a indignação mais difícil de segurar.
Nina estava desesperada e desacostumada a ser ajudada — isso estava
claro para mim.
Ela havia aprendido a não confiar em ninguém além de si mesma.
E agora... agora eu estava com medo de que ela estivesse se afastando
de mim.
Bem quando eu estava começando a acreditar que poderia perdoá-la.
Talvez fosse apenas um sinal de quanto eu era uma idiota.
Afinal, ela me deixou antes.
Oh, Joce. Você é a santa padroeira das causas perdidas, não é?
Exceto que desta vez, tive a sensação de que a verdadeira causa
perdida poderia ser meu próprio coração.
Erica

Não estava gostando nada daquela situação.


Sienna estava frágil — emocionalmente.
E esse desempenho que as pessoas exigiam dela estava fadado a forçar
sua resistência emocional já estressada.
Quando Sienna se aproximou da mulher grávida na cadeira de rodas,
os três cinegrafistas a seguiram, tomando diferentes ângulos.
Era uma transmissão ao vivo. Minha ansiedade saltou só de pensar.
— Oi, — disse Sienna, puxando um banquinho para se sentar em
frente à mulher. — Sou Sienna Mercer-Norwood.
— Carlene Lamar, — disse a mulher. Ela tinha uma pele castanha
clara e cachos de gengibre em uma auréola ao redor de sua cabeça.
— O que a traz aqui para o hospital, Carlene? — Sienna perguntou
gentilmente.
— Estou com placenta prévia, — disse ela. — Eles disseram que pode
se consertar, mas faltam apenas um mês para o parto e ainda não
aconteceu.
As costas de Sienna enrijeceram, quase sutilmente demais para que
alguém pudesse ver.
— E você espera que minha bênção ajude? — ela disse suavemente.
Carlene acenou com a cabeça, seu rosto se contorcendo de medo. —
Eu não quero fazer uma cesariana. Estou com tanto medo de ser cortada.
Sienna engoliu em seco e acenou com a cabeça, seus olhos azuis
disparando da barriga da mulher para sua expressão.
Carlene se recostou, oferecendo a barriga para Sienna.
As câmeras se moveram para um close-up.
Sienna colocou as mãos na barriga arredondada de Carlene. —
Chama divina, fértil e brilhante, — disse Sienna, sua voz ofegante.
Ela apertou os olhos e piscou, lutando contra as lágrimas.
As câmeras se aproximaram.
— Chama divina... — Sienna disse novamente. Ela sugou o lábio
inferior e o soltou, balançando um pouco.
Minhas mãos cerraram ao meu lado.
Enquanto observava, percebi que Sienna estava derretendo.
Sienna

Eles estão transmitindo ao vivo.


Eu tenho que me recompor.
Deus, eu queria que Aiden estivesse aqui.
Minhas mãos estavam dormentes.
A pressão esmagou meu peito.
A escuridão empurrou contra as bordas da minha visão.
Era como se eu estivesse olhando para Carlene através de um túnel.
Seu rosto doce, tão cheio de medo. Seus olhos imploravam por
qualquer sinal de esperança.
Eu estava com tanto frio.
Lágrimas estavam se acumulando em meus olhos enquanto eu
tentava me concentrar nas palavras.
— Chama divina, — eu disse pela terceira vez, mas era como se o
resto delas tivesse me abandonado.
Como era? — Chama divina, fértil e brilhante...
O suor brotou em todo o meu corpo. Minha respiração estava ficando
muito rápida.
Meus ouvidos zumbiam enquanto a pressão em volta do meu peito
piorava.
Eu senti como se estivesse tendo um ataque cardíaco.
Eu não posso me descontrolar agora — não na frente dessas pessoas.
Monica está transmitindo isso ao vivo.
Você consegue!
Mas o pânico tomou conta de mim com força, me tirando o fôlego.
Soluços vieram então: torcendo através de mim, torcendo minhas
entranhas.
Eu me levantei, recuando para o banco, que rolou.
Carlene estava olhando para mim, chocada.
Os olhos de Michelle não paravam de ir de mim para a câmera —
como se ela não tivesse certeza de onde estava sua lealdade.
Ninguém iria me ajudar.
Pare com isso, Sienna!
Fique sob controle!
Mas não consegui.
Virando-me para frente e para trás, procurei desesperadamente por
uma fuga.
Monica estava parada na porta, as mãos na cintura, me olhando com
um brilho nos olhos.
Dois cinegrafistas bloquearam a outra porta.
Eu estava perdendo a cabeça e não conseguiria sair dali.
Eu estava presa.
Aiden

Sayyid deu alguns passos à minha frente enquanto caminhávamos


silenciosamente pelo corredor do hotel.
Ele já havia pedido reforços, mas ninguém havia chegado.
Eu estava preocupado que, se Konstantin tivesse o menor indício de
problema, ele iria embora antes que pudéssemos alcançá-lo.
Viramos uma esquina e Sayyid parou no meio do caminho. O sangue
foi drenado de seu rosto.
Lá, parado do lado de fora da porta de seu quarto de hotel, estava um
homem vestindo um terno carvão de três peças.
Seus olhos escuros fixaram-se nos meus. Seus lábios estavam
curvados na mais leve sugestão de um sorriso.
— Saudações, Alfa Norwood, — disse uma voz vinda de meus
pesadelos. — A que devo o prazer?
Capítulo 23
CHEIRO DE VITÓRIA Sienna
Todo mundo estava olhando como se eles também estivessem
paralisados pelo fato de que eu estava tendo um colapso total ao vivo na
televisão.
Meu peito estava pesado e as lágrimas escorriam pelo meu rosto.
— Ok. Por hoje é só. Já chega, — Erica disse finalmente. Ela tentou
avançar, mas um cinegrafista a bloqueou.
— Ei! — ela gritou.
— Ainda estamos filmando, — disse Monica, bloqueando a saída.
Aquilo era um pesadelo e eu não sabia o que fazer.
Se eu tentasse fugir, as câmeras me seguiriam.
— Sinto muito, — disse a Carlene, que estava olhando para mim
como se estivesse preocupada que eu pudesse a atacar.
— Sienna — disse Erica, ignorando as câmeras e dando um passo em
minha direção. — Tudo bem. Apenas tente respirar fundo.
— Isso é inacreditável — Charlotte Norwood disse irritada. Uma das
câmeras girou para focar nela. — Você está envergonhando toda a MCL
com essa performance horrenda!
Meu corpo inteiro começou a tremer.
Achei que meus joelhos iriam ceder, mas então meus músculos do
ombro se contraíram.
O suéter creme que eu estava usando começou a esticar, rachando
nas costuras.
Meu corpo se retorceu e se contorceu, mas na minha mente eu me
sentia em paz.
Pelo vermelho ardente brotou por todo o meu corpo.
Meu lobo assumiu, e eu não resisti por um instante.
Eu corri para fora da sala, jogando Monica para o lado.
Ela gritou para as câmeras me seguirem, mas fui rápida demais.
Eu corri para fora do hospital o mais rápido possível.
Aiden

Konstantin parecia o mesmo de sempre, em um terno de corte caro,


cabelo bem cuidado e sapatos engraxados que brilhavam como um
espelho.
Um sorriso se espalhou por seu rosto enquanto ele olhava para Sayyid
e eu.
— Por mais que eu adorasse ficar e conversar um pouco... — Sua voz
era baixa e suave, assim como eu me lembrava.
Sombras escuras rastejaram como gavinhas dos cantos de seu corpo,
girando em tomo dele. — Até a próxima vez, Alfa Norwood.
Mas fui mais rápido. Antes que ele pudesse desaparecer em fumaça
preta, eu me transformei e saltei para frente, caindo sobre quatro patas
pretas.
Sayyid fez o mesmo. Seu lobo era cinza claro, menor que o meu.
Juntos, nós caminhamos em direção ao vampyro.
Konstantin tirou um objeto de dentro do paletó.
Eu mal tive tempo de notar que era uma pequena arma, mas Sayyid
percebeu.
Ele saltou na minha frente.
BANG!
A arma disparou. Sayyid desabou no chão, um buraco de bala no
centro da cabeça de lobo.
Não tive tempo de olhar para trás. Eu apenas reagi, lançando-me em
Konstantin.
Minha mandíbula bateu no braço do vampyro, e a arma deslizou pelo
corredor.
Minhas presas rasgaram a lã até a carne.
Soltei o braço e fui para o lado dele.
Konstantin era muito forte — ele me jogou de cima dele, mas eu
consegui arrancar um pedaço de seu torso. Fumaça preta saiu da ferida.
De seu outro bolso, ele retirou uma adaga brilhante.
Ele me atacou e eu me esquivei. A lâmina passou tão perto e tão
rápido que eu pude senti-la tocando o pelo da minha bochecha.
Eu me lancei contra Konstantin novamente, e ele cravou a lâmina em
minhas costelas.
Enquanto rolavámos, eu gritei, mas não parei, golpeando seu rosto
com meus dentes afiados.
Ele puxou a faca e eu senti sangue quente escorrer do ferimento.
De algum lugar próximo, ouvi gritos.
O reforço de Sayyid finalmente havia chegado.
Mas tarde demais.
Eu ataquei Konstantin novamente, jogando a faca para o lado.
Com um movimento rápido, eu arranquei a garganta do vampyro.
Ele caiu de joelhos e depois desabou de cara no tapete do hotel.
Por um momento, tudo ficou quieto.
Eu mudei de volta para um humano e agachei em um joelho.
Sangue carmesim jorrou da ferida em meu lado, e sangue negro
jorrou do pescoço arruinado de Konstantin.
Sua boca abriu e fechou, mas nenhum som saiu.
A poucos metros de distância, o lobo cinza de Sayyid estava morto.
Então Josh irrompeu no corredor, batendo ruidosamente a porta
contra a parede.
Ele olhou ao redor freneticamente, observando a cena.
Josh nem ligou para Sayyid.
Cadê os reforços?
— Como você está aqui? — Eu perguntei, atordoado.
— O que foi que aconteceu? — ele exigiu, ignorando minha pergunta.
Senti uma dor aguda nas costelas onde Konstantin me apunhalou,
mas já podia sentir a pele rasgada se recompondo.
Baixei os olhos para o corpo de Sayyid e depois para o de Konstantin.
— Eles estão mortos. — Não consegui pensar em mais nada para
dizer.
Konstantin estava morto, pelo menos.
Assim como um bom homem. Um bom lobo.
O que deveria ter sido uma vitória parecia algo vazio.
Eu olhei de volta para Josh, que estava fervendo.
Como meu Beta chegou?
Naquele momento, vendo a poça de sangue ao redor do cadáver de
Sayyid, eu nem me importei.
Eu estava feliz por não estar sozinho.
Eu tenho que contar a todos. Tenho que contar a Sienna.
Pelo menos minha companheira poderia dormir melhor à noite
sabendo que o vampyro que lhe causou tanta dor estava finalmente
morto.
Peguei meu celular no bolso do meu casaco rasgado.
Mas eu já tinha uma mensagem esperando por mim.

Erica: Aiden é a Erica

Eu franzi o rosto para o celular. Erica era amiga de Sienna. Ela nunca
me mandou uma mensagem.
Meu coração disparou.

Aiden: O que há de errado?

Erica: É Sienna
Erica: Ela estava fazendo uma transmissão ao vivo para o show
e...

Erica: eles forçaram muito a barra, Aiden

Erica: aquela babaca de repórter. E Michelle

Erica: Sienna tentou... mas...

Aiden: Erica. Vá direto ao ponto, por favor.


Estou preocupado.

Erica: ela se transformou e saiu correndo

Aiden: ela se transformou?

Erica: sim, o que é bom, eu acho

Erica: mas não sei onde ela está


Erica: e ela deixou o celular para trás quando se transformou

Aiden: ok. Obrigado por me dizer

Aiden: Vou encontrá-la.

Uma nova culpa tomou conta de mim.


Um dos meus lobos mais leais estava morto.
E agora minha companheira estava desmoronando, e eu mal tinha
notado que ela estava sofrendo.
Eu a deixei sozinha.
Você fez o que tinha que fazer. Konstantin está morto.
Tudo ficará melhor agora.
Diga isso para Sayyid.
Eu estremeci.
Pegando minhas roupas rasgadas do chão, me virei para Josh. — Você
pode assumir o comando? Algo aconteceu com Sienna.
Eu vi meu Beta cerrar os dentes, mas ele acenou com a cabeça. —
Claro.
Saindo do hotel, mudei de volta para o meu lobo.
Jocelyn havia me avisado. A própria Sienna me disse que não estava
bem.
A questão sobre sua fertilidade a perturbou — claramente muito mais
do que eu imaginava.
Eu tinha uma ideia de onde minha companheira poderia ir quando
ela estivesse perturbada.
Eu saí correndo.
Josh

Lá vai ele, o poderoso líder da Manada da Costa Leste.


O Alfa mais pau-mandado que já existiu.
Mas, de certa forma, Sienna me fez um favor. Qualquer drama que ela
estava passando desta vez distraiu Aiden.
Ele não perguntou como eu acabara de aparecer no hotel. E se ele
perguntasse mais tarde, eu poderia dizer que Fiquei sabendo quando ele
pediu reforços.
Porque eles estavam chegando agora para limpar sua bagunça.
O cadáver de Konstantin estava imóvel.
Então é realmente isso?
Toda a busca, a caça, a incerteza — terminou com um corte feito pela
mandíbula do Alfa?
Eu não pude acreditar.
O corpo de Sayyid jazia em uma poça de sangue.
Isso foi culpa de Aiden. Ele deveria ter me envolvido desde o início.
Então talvez ninguém mais tivesse morrido.
O ferimento à bala me intrigou.
Desde quando vampyros poderosos usam armas?
Eu balancei minha cabeça, uma veia pulsando em minha têmpora.
Algo não parecia certo.
Esfregando a pele sob meus olhos, eu me agachei ao lado do corpo do
vampyro enquanto ele vazava seu sangue negro.
Usei uma caneta para cutucar o ferimento em sua garganta, mas não
havia como negar: Konstantin estava morto.
Deveria ter sido eu.
Eu deveria ter matado ele!
Por Michelle.
Uma onda de raiva passou por mim e empurrei seu ombro morto.
Uma chave com uma pequena etiqueta dourada caiu de seu bolso:
número quatro.
Peguei a chave e me levantei.
Quando me tornei Beta, aprendi procedimentos investigativos e
protocolos de aplicação da lei.
Talvez tenha sido isso que me impulsionou a usar a chave e entrar no
quarto de hotel de Konstantin.
O que ele estava fazendo aqui no Triple Creek Hotel?
Ele voltou para Mahiganote para terminar o que começou?
Matar minha companheira depois de falhar pela primeira vez? Tudo para
chegar à preciosa Sienna Mercer?
Não havia nada de incomum na sala.
A cama estava feita.
O armário estava vazio.
Não havia mala.
Konstantin realmente tinha ficado neste quarto?
Havia uma escova de dente normal na pia do banheiro ao lado de um
novo tubo de pasta de dente.
Isso é muito absurdo.
Como terminou assim?
Bem, pelo menos ele estava morto.
Isso deveria ter sido um consolo, mas meu coração se apertou de
amargura.
Deveria ter sido eu. pensei novamente.
Balançando a cabeça, voltei para o quarto.
Sem muita expectativa de encontrar algo, comecei a abrir as gavetas.
Quando cheguei à mesa de cabeceira, esperava encontrar uma Bíblia.
Em vez disso, havia uma carteira e uma garrafa de Jim Beam.
Eu instintivamente alcancei a garrafa, então hesitei.
Que porra é essa, Josh, Konstantin poderia ter feito uma centena de coisas
vis para envenenar aquela garrafa.
Amaldiçoando-me, peguei a carteira e abri com uma carranca.
A carteira de motorista tinha a foto de um homem de meia-idade que
parecia ser de ascendência hispânica.
— Ernesto Ruis, — dizia.
Havia duas notas de 20 na carteira, além de outra foto do cara da
carteira, posando com uma mulher e dois adolescentes.
Foto de família.
Eu encarei a carteira em minhas mãos, então cuidadosamente
recoloquei todo o seu conteúdo.
Tinha sido deixado pelo ocupante antes de Konstantin?
Ele machucou o homem a quem pertencia?
Fui até a recepção e coloquei a carteira na frente da velha senhora.
Ela tinha um olhar arregalado que me disse que ela estava muito
ciente da luta que acabara de ocorrer em seu hotel.
Abri a carteira e mostrei a ela a identidade e a foto do cara com sua
família.
— Você reconhece esse homem?
Ela piscou para os itens, então olhou para mim antes que seu rosto
perdesse o foco.
— Acho que já o vi antes, — disse ela. — Mas não consigo identificá-
lo.
— Acho que o nome dele é Ernesto Ruis. Algum hóspede fez check-in
com esse nome?
Ela fez uma cara de preocupação e digitou.
— Ah, — ela disse. — Por quê? Sim, ele fez. Mas... — Ela ficou quieta.
Inclinei-me e ela virou a tela para que eu pudesse ver.
— Ernesto Ruis é o nome da pessoa no quarto quatro agora, — disse
ela.
Ela fez uma careta e encontrou meus olhos. — Mas foi um Sr.
Konstantin, não foi?
Esfregando a mão sobre a boca, peguei a carteira para levar comigo.
Eu não sabia ao certo o que isso significava.
Nada sobre isso fazia sentido.
O homem lá fora no pátio parecia o vampyro Konstantin.
Mas, no fundo, o instinto me disse que nem tudo era o que parecia.
Aiden poderia pensar que Konstantin estava morto, mas eu não tinha
tanta certeza.
Decidi ir ao fundo desse mistério.
Para ter certeza de que minha companheira estaria segura da ameaça
do vampyro.
De uma vez por todas.
Capítulo 24
TODOS MERECEM A CHANCE DE VOAR
Sienna

Corri para o rio, sentindo-me livre de uma forma que não sentia há
semanas.
Era tão bom estar na minha forma de lobo novamente.
Eu cheirei o rio antes de vê-lo, mas agora, eu estava em território
familiar.
O ar estava tão frio que praticamente crepitava. A neve abafou os sons
usuais da floresta.
Mas eu estava exatamente onde queria estar. Em meio ao silêncio
pacífico das árvores.
Ser selvagem — um lobo desfrutando de uma corrida pela floresta de
inverno Não a companheira do Alfa, não Sienna Mercer-Norwood — mas
apenas um lobo.
Quando cheguei às margens do rio, pensei imediatamente em Aiden.
Naquele dia em que o desenhei perto deste mesmo lugar.
Nenhum de nós sabia naquele dia que estávamos destinados a ficar
juntos.
Quando tudo ficou tão bagunçado?
Eu queria me aninhar ao lado dele, sentir a força e a segurança que
me cercavam sempre que ele estava por perto.
Eu permaneci na minha forma de lobo, feliz por evitar minha vida
real por mais um tempo.
Para fingir que não tinha acabado de perder a cabeça na frente de
uma plateia ao vivo.
Com um suspiro estremecido, mergulhei meu focinho na água e bebi.
Quando levantei minha cabeça novamente, ouvi um farfalhar nas
folhas.
Meu corpo parou enquanto eu ouvia.
Então, como se eu o tivesse conjurado, ele emergiu sob um raio de sol
do fim da tarde.
Um lobo enorme, seu pelo preto ondulando.
Aiden.
Minhas narinas dilataram. Eu senti cheiro de sangue.
Ele está ferido!
Eu caminhei até ele, choramingando.
Cheirando-o, encontrei o ferimento, um corte profundo em seu
peito.
Ele se virou e me acariciou enquanto eu o lambia, meus olhos se
enchendo de lágrimas.
Ele empurrou sua cabeça para o meu lado e eu esfreguei minha
bochecha ao longo de sua nuca.
Eu queria que nós nos transformássemos de volta para que eu
pudesse dar uma boa olhada no ferimento, mas aquele não era o melhor
lugar.
Nossa casa não fica muito longe.
Não tinha voltado desde que a encontramos queimando, na noite
após a batalha com Konstantin.
Eu cutuquei seu ombro ileso e saí correndo.
Ele seguiu.
Não demorou muito para chegar a nossa casa.
Os andaimes ficavam no lado leste, e folhas de plástico balançavam
nas janelas quebradas.
Eu levei Aiden até a porta e me transformei, então girei a maçaneta.
Aiden se transformou um momento depois.
Conduzi-o para dentro de casa e fechei a porta. Ainda estava
congelando lá dentro, mas pelo menos não havia vento.
Meus mamilos endureceram com o frio.
E olhando para o seu corpo lindo, para ser honesta.
— Sienna, — ele respirou. — Você está bem?
— Eu? Não sou eu que tenho um corte do tamanho do Texas no
peito.
Examinei a ferida e vi que já estava sarando.
Uma onda de alívio brotou em mim, e passei meus braços em volta do
corpo quente e firme de Aiden.
— O que aconteceu com você? — Eu perguntei.
Seus braços me envolveram. — Konstantin.
Meu coração apertou, mas então Aiden continuou.
— Eu o matei.
Minha cabeça se levantou para olhar para ele. Os olhos verdes de
Aiden olharam de volta abertamente, um triunfo sombrio brilhando
neles.
Mas havia algo mais espreitando lá — uma dor sombria que ele estava
tentando esconder.
— É verdade? — Eu perguntei. — Você o matou?
Ele assentiu. — Com minhas próprias mandíbulas.
Soltei um suspiro de alívio, quase perdendo o equilíbrio.
Um peso, muito mais pesado do que eu imaginava, foi tirado de meus
ombros.
— Ele está mesmo morto?
— Está, — disse Aiden, mas então seu rosto se contorceu.
— Ele matou um dos meus homens na luta, — continuou. — Sayyid
Hamdi. Ele levou uma bala por mim. Literalmente.
Eu olhei para ele confusa. — Konstantin atirou em você?
— Isso me surpreendeu também, — disse Aiden. — Eu nunca
imaginei... mas deveria. Cometi muitos erros, Sienna. Sayyid morreu por
causa deles. E você... eu sinto muito por não ter te ajudado.
— O que você está falando? Você matou Konstantin!
Eu quis dizer cada palavra. Eu senti muito a falta de Aiden nos
últimos dias.
Mas Konstantin estava morto.
Para sempre.
— Você é incrível, — eu respirei.
Ele também estava tremendo.
— Venha, vamos levá-lo para um banho quente, — eu disse.
— Só se você vier comigo.
Aiden me beijou, suas mãos segurando meus braços com força.
Libertando-me, eu dei a ele um sorriso mais amplo, então o levei
escada acima para o nosso banheiro.
Passamos por paredes enegrecidas e um carpete arruinado, mas o
banheiro estava relativamente intocado.
Fechei a porta e liguei o chuveiro no máximo.
Aiden me puxou para baixo da água e eu ri, uma explosão de alegria
borbulhando em meu peito.
Konstantin estava morto.
Ele nunca poderia me machucar — nunca poderia machucar ninguém
novamente.
Pressionei meu corpo, já escorregadio com água quente, contra o de
Aiden, envolvendo um braço em volta de seu ombro ileso quando nossos
lábios se encontraram.
Meu corpo ficou vermelho de calor. Tremores irradiaram dos meus
dedos aos pés.
Aiden me puxou para ele pela cintura, sua excitação já evidente —
uma protuberância dura contra meu estômago.
Ele passou a mão pela minha bunda e, em seguida, levantou minha
perna na coxa, expondo meus lábios quentes.
A água ainda corria pelo meu corpo quando ele pressionou a cabeça
contra a minha vulva.
Passei os dedos da minha mão livre sobre sua ferida, descendo por sua
barriga, em seguida, envolvi-os em tomo de seu pênis rígido, apreciando
a umidade da água quente misturada com o calor dele.
Aiden gemeu contra minha boca.
Corri meus dedos para cima e para baixo em seu comprimento,
alisando meu polegar sobre sua cabeça. A mão que segurava minha coxa
apertou e ele me puxou para mais perto.
Sua outra mão segurou meu seio enquanto a água caía em cascata
sobre nós dois.
Eu o puxei um pouco, pressionando pontos sensíveis enquanto
acariciava sua ereção.
Com um grunhido, ele soltou minha perna e agarrou minha mão,
prendendo meu pulso na parede de azulejos.
Ele se curvou e levou um mamilo à boca, depois o outro.
Sua mão livre viajou pelo meu corpo, acariciando a pele úmida da
minha barriga, meu quadril, até meu sexo que estava quente.
Ele mergulhou dois dedos dentro de mim e eu me engasguei.
Colocando e tirando, ele fez meus joelhos fraquejarem enquanto eu
me agarrava a ele.
— Ai, Aiden, eu quero você, — murmurei.
Ele moveu seus lábios para minha boca, sua língua encontrou a
minha enquanto seus dedos me penetravam.
Então ele os tirou, sua mão espalhando minhas pernas e deslizando
sob minha coxa novamente.
Ele pressionou seu pau contra meus lábios, em um pedido silencioso.
Eu balancei minha cabeça para trás, me oferecendo a ele, querendo-o
tanto.
Finalmente, ele se empurrou para dentro de mim e eu gritei enquanto
ele empurrava cada vez mais fundo. O barulho constante do chuveiro se
misturou com meus gemidos de prazer.
— Sienna, — ele sussurrou em meu ouvido.
Ouvir meu nome em sua boca me fez derreter.
Enquanto seus músculos se contraíam, eu senti meus pés levantarem
do chão. Larguei tudo, confiando na força de seus braços.
O calor que jorrava de cima era incomparável com o fogo que ardia
por dentro.
Eu me desmontei. A felicidade arrancou um grito de mim.
Os olhos de Aiden rolaram para trás enquanto seus movimentos se
aceleravam, juntando-se à minha liberação.
Nós gozamos juntos.
O chuveiro nos molhava enquanto tremíamos em êxtase.
Eu me afoguei no êxtase, fui tomada pela sensação.
Durou para sempre... ou assim parecia.
Então, finalmente, voltei a mim mesma, segurada com força nos
braços de Aiden sob o fluxo do chuveiro.
Nós nos enrolamos em enormes toalhas de banho e ficamos no
banheiro para secar, ligando o aquecedor de parede enquanto nos
aconchegávamos no chão de costas para a banheira.
Aiden traçou um dedo sobre as linhas da minha palma. Estávamos
ambos calados e pensativos.
Por seu olhar distraído, percebi que ambos estávamos pensando na
morte de Konstantin. E no assassinato de Sayyid.
O preço terrível que ele pagou para que pudéssemos ser livres.
Diante de tal tragédia, meu colapso anterior parecia totalmente sem
importância.
Pela primeira vez — desde que eu conseguia me lembrar — parecia
que estava pensando com clareza.
Eu estava me punindo por crimes que não eram meus. Eles eram de
Konstantin.
Todo o estresse e ansiedade que consumiram minha vida: o
programa, que me fazia rastejar por Michelle, por Monica, por Charlotte.
Meus medos sobre minha possível infertilidade.
Tudo remontava a Konstantin.
Minha culpa e medo por deixá-lo entrar em minha vida.
Era o mesmo tipo de culpa horrível e equivocada que senti depois da
morte de Emily.
Em algum nível, eu pensei que se eu pudesse me tornar a
companheira perfeita do Alfa, eu evitaria cometer os erros que
permitiram que o vampyro chegasse tão perto de mim.
Mas isso era irracional.
Konstantin mordera Michelle.
Ele se aproximou dela como uma cobra covarde.
Ninguém poderia ter evitado isso, não importa o quanto eu quisesse
acreditar que seria capaz se eu apenas tivesse sido mais vigilante.
Não foi sair com um amigo por mimosas que fez Konstantin nos
atacar.
Não foi a tentativa de me tornar uma artista de sucesso que o fez
invadir minha mente.
Ele usou meu desejo de sucesso contra mim?
Sim.
Mas isso significava que eu merecia perder minha arte para sempre?
Não.
E de repente, enquanto olhava para a parede em branco à nossa
frente, senti a necessidade de pintar.
Eu pintaria um mural ali mesmo. Eu já podia ver em minha mente.
Lobos. Um preto e um castanho-avermelhado — no rio, no inverno.
Eu começaria assim que as reformas fossem feitas.
E eu iria desistir daquele programa idiota.
Eu estava cansada de ser a estrela de Monica. Exausta de ser o saco de
pancadas de Charlotte. E Michelle...
Por mais que eu amasse Michelle, não poderia dar a ela o que ela
queria. Eu não tinha certeza de que alguém pudesse.
Mas eu estava cansada de tentar ser algo que não era.
Agora, com Jocelyn fora, não havia ninguém por perto para me curar.
Então, eu teria que me curar.
Será?
Assim que voltamos para o hotel, fucei minha bolsa de couro preto.
Eu não a carregava desde antes do Festival das Chamas, e tinha
esquecido completamente do pacote fino e embrulhado que ainda estava
aninhado dentro.
Eu o retirei com reverência, desdobrando as camadas de lenço de seda
que o cercavam.
Enfiado no meio estava uma pulseira trabalhada com ornamentos de
prata martelada.
Eu já tinha visto isso muitas vezes antes no pulso da minha amiga e
curandeira.
No centro da pulseira havia um pedaço de papel dobrado.
Lágrimas brilharam em meus olhos quando comecei a ler a
mensagem curta.
Sienna,
Esta pulseira pertenceu à minha avó. Isso me trouxe força mais vezes do
que posso contar.
Que isso lembre você do amor que a cerca.
E de todos aqueles que acreditam em você.
Agora, acabe com todos
Com amor,
Jocelyn.

Coloquei a pulseira em volta do meu pulso, sentindo uma energia quente


se espalhar por todo o meu corpo.
Eu era mais forte do que Monica Birch. Mais forte do que Charlotte
Norwood.
E eu estava cansada de ser pressionada.
Josh

Hanh me encontrou em meu escritório na tarde seguinte.


— Eu terminei o teste de DNA que você pediu, Beta Daniels, — ele
disse.
— E?
— Os cabelos do corpo identificado como Konstantin correspondem
ao DNA que tínhamos em arquivo para ele.
Eu fiz uma cara de frustração.
— Obrigado. — Eu o dispensei.
Olhei para a tela do meu computador: Ernest Ruis foi dado como
desaparecido por sua família há duas semanas.
A evidência mostrou que Aiden matou Konstantin naquele hotel, mas
meu instinto dizia que não era Konstantin — apesar do que o DNA dizia.
Eu verifiquei meu celular e vi que eram quase seis horas.
Era para eu encontrar Michelle em nosso restaurante favorito mais
tarde naquela noite.
Nós finalmente combinamos um horário para um encontro, e ela até
concordou em deixar as câmeras para trás por uma noite para que
pudéssemos ficar realmente sozinhos.
Eu sorri com a ideia de passar uma noite romântica com minha
companheira.
Mas algo estava me dando um frio na barriga — algum instinto
profundo que me dizia que o vampyro estava perto.
Que esta noite eu teria minha chance.
Abrindo a gaveta superior esquerda da minha mesa, peguei o relógio e
olhei para o mostrador.
Os ponteiros não estavam mais confusos. Observei enquanto os dois
apontavam inabalavelmente na mesma direção.
Noroeste.
Por que o relógio funcionaria se Konstantin está morto?
Eu precisava descobrir o que estava acontecendo.
Mas se eu perdesse esse encontro, Michelle ficaria arrasada.
Merda.
Eu encarei o relógio, dilacerado pela indecisão.
Tudo que eu queria era ser um bom companheiro.
E às vezes isso significava fazer sacrifícios.
O que vou fazer?
Capítulo 25
DESAFIANDO A GRAVIDADE
Michelle

Kristy @KWaynel992: Puta merda, eu nunca vi


um lobo enlouquecer com uma senhora grávida como
aquela antes! #Sienna com certeza perdeu a cabeça no
#MonicaBirchShow. Sabe o que é zoado? Garotas tendo
colapsos emocionais. #Sienna ficou #descontrolada e
ninguém sabe por quê! KKKKK Só sei que tô amando o
#MonicaBirchShow!

Etienne Tremblay @CanadaAlfa: Fiasco


inacreditável no #MonicaBirchShow de ontem. Mais
evidências de que #Sienna não foi feita para ser a
#CompanheiradoAlfa.

Eu coloquei meu celular na mesa do restaurante com nojo, olhando ao


redor para os outros clientes.
Eu me perguntei quantos deles tinham visto o vídeo, que se tornou
viral no instante em que foi ao ar.
Já era tarde naquela noite e eu estava esperando por Josh em um
restaurante chique no centro da cidade.
Tínhamos planejado um encontro noturno e eu mal podia esperar
para mostrar a ele os latidos que já estavam chegando.
Sienna não conseguiu abençoar algumas grávidas, pelo amor de Deus!
Eu me sentia péssima por ela e tal. Quer dizer, ela ainda era minha
melhor amiga e eu não era completamente sem coração.
Mas eu não era babá dela. Nem mãe.
E não foi minha culpa se ela não conseguiu se virar.
Até porque tudo que ela precisava fazer era dizer algumas palavras.
Eu poderia ter feito aquilo dormindo.
Mas ninguém me queria.
Eles só queriam Sienna.
E cadê o Josh?
Ele estava quase quarenta minutos atrasado para o nosso encontro e
os garçons estavam começando a estranhar.
Aquele olhar que dizia: — Coitadinha, levou um fora.
Eu olhei para eles.
Eu não preciso da sua pena.
Eu não preciso do meu companheiro.
Eu não preciso de ninguém.
Levantando-me da mesa, saí do restaurante.
De alguma forma, cheguei ao meu carro antes que as lágrimas
começassem a escorrer pelo meu rosto.
Josh

Meu frasco estava vazio.


Eu o atirei no banco do passageiro com nojo.
Eu me senti um completo idiota por ter dado o bolo na Michelle.
Mas ela me perdoaria.
Eu estava chegando mais perto.
E eu não poderia voltar atrás agora. Não agora que estava tão longe.
Se o relógio me mantivesse dirigindo por muito mais tempo, eu teria
que abastecer. Eu compraria uma garrafa então.
Eu realmente preciso parar de beber.
Se eu estava prestes a enfrentar Konstantin, precisava de minha
inteligência.
Mas o uísque me mantinha ativo — me mantinha focado e
determinado.
Aiden matou alguém ontem.
Alguém perigoso o suficiente para derrotar um capitão do Esquadrão
de Caçadores como Sayyid Hamdi.
O DNA mostrou que essa pessoa era Konstantin, mas não, algo não
estava certo.
Por que Konstantin, um vampyro todo-poderoso, recorreria ao uso de
uma arma?
Por que não usou seus poderes psíquicos?
Quem é Ernesto Ruis? Que papel ele desempenhou em tudo isso?
E qual é o significado dos ossos roubados?
Algo estava errado e eu iria descobrir o quê.
Pisei no acelerador com mais força, acelerando ainda mais pela
rodovia.
Sienna

Se tudo tivesse corrido bem no dia anterior, eu teria me encontrado com


Monica, Charlotte, Michelle, Blair e Selene naquele dia.
Havia outro episódio ao vivo do Companheiras Reais esta tarde, em
um chá de arrecadação de fundos que Blair liderou para beneficiar a ala
de obstetrícia do hospital.
Mas eles teriam que fazer isso sem mim.
Porque em vez de ir para o almoço, fui para a minha galeria.
O estúdio ainda estava destruído pelo acesso de raiva que eu tive
alguns dias antes.
Balançando a cabeça, comecei a limpar a bagunça que fiz.
Eu me sinto melhor. Mais com os pés no chão.
Eu estava confiante de que havia tomado a decisão certa.
Por muito tempo, estive tentando me moldar em algo que não era.
Eu me deixei levar pelo medo e pela dúvida.
E Konstantin havia usado esse medo para me manipular.
Mas ele estava morto. A ameaça iminente do vampyro finalmente
sumiu da minha vida. Da vida de todos que ele machucou.
E eu podia ver a verdade.
Eu nunca seria uma companheira perfeita para o Alfa, pelo menos
pelas definições de algumas pessoas.
Mas no final, quer se encaixasse no meu papel ou não, eu tinha que
ser eu.
Qualquer outra coisa era insustentável.
Joguei fora as telas rasgadas, derramei os potes de tinta e passei um
esfregão no chão. Enquanto eu limpava, contemplei a crise que enfrentei
no dia anterior.
Eu sinto muito por aquelas mulheres. Elas esperavam que eu as
ajudasse, e eu fugi delas sem uma explicação.
Mas talvez houvesse algo mais que eu pudesse fazer por elas.
A ideia de minha possível infertilidade me irritava constantemente —
como uma ferida aberta.
Mas isso não precisava ser algo ruim.
Com cuidado, tirei a linda pulseira de Jocelyn e coloquei no bolso.
Não podia arriscar respingar tinta em uma relíquia de família tão bonita.
Quando terminei a limpeza, montei uma série de pequenas telas e
comecei a trabalhar nelas uma após a outra.
Para cada uma dessas mulheres, eu criaria algo único.
Uma pintura — na qual coloquei todo o meu amor e esperança por
elas.
Talvez não seja mágica. Talvez isso não as salvasse do jeito que elas
sonharam que eu poderia.
Mas foi o melhor que pude fazer para abençoar cada um deles à
minha maneira.
Conforme a tinta escorria do meu pincel, eu esperava que fizesse
alguma diferença.
Aiden

Os membros do meu conselho interno entraram no meu escritório para


nossas instruções diárias.
Eu perguntei a Sienna se ela queria se juntar a nós — agora que
Konstantin estava morto, eu esperava envolvê-la mais na vida cotidiana
da Matilha — mas ela disse que estava indo para a galeria.
Eu percebi uma nova leveza em seus passos — o que pode ter algo a
ver com o fato de que ela dormiu a noite toda pela primeira vez em
semanas, toda envolta em meus braços.
Vamos torcer para que os pesadelos tenham ido embora para sempre.
Havia uma ausência notável na sala.
— Onde está o Josh? — Eu perguntei.
Ninguém respondeu.
Eu revirei meus olhos.
Agora que a ameaça de Konstantin havia sido resolvida, eu teria que
ter uma conversa com meu Beta sobre suas responsabilidades.
Chega de sumiços.
Todos se sentaram e percebi que Nelson estava impaciente para
começar.
— Há algo de errado? — Eu perguntei.
— Recebi uma ligação do escritório do Alfa do Milênio, — disse ele.
Eu me endireitei. — O que está acontecendo?
Nelson pigarreou. — Ele está programado para ficar em Lumen até
março, mas acho que ele está abreviando a visita e... está vindo para cá.
A sala estava totalmente silenciosa. Todos olharam para mim.
Se Raphael Fernandez estava vindo para Mahiganote, isso só poderia
significar uma coisa.
Houve algum problema.
— Ele disse por quê? — Eu perguntei.
Nelson se mexeu desconfortavelmente em sua cadeira, seu olhar
caindo para o chão.
— O que foi? Alguém pode me explicar?
— É por causa do programa, — disse nossa secretária de imprensa
Beatrice.
Eu dei a ela um olhar perplexo. — Quê?
— Tem havido muito alvoroço nos círculos mais... tradicionalistas, —
ela continuou. — Você viu a coletiva de imprensa com Etienne Tremblay?
— O Alfa da Matilha do Canadá?
Beatrice concordou com a cabeça. — Tremblay teve muito a dizer
sobre o programa. E ele está falando bem alto. Para quem quiser ouvir.
— E daí? — Eu disse.
— Parece que Tremblay é quem informou o Único e Verdadeiro Alfa
do que está acontecendo. Ele também está voando para Mahiganote.
Tremblay conseguiu convencer Fernandez de que é algum tipo de farsa
distorcida.
Isso provavelmente não demorou muito.
Já era hora de acabar com aquele circo. Já tinha passado da hora.
— Beatrice, ligue para a Monica Birch. Diga a ela que o programa está
cancelado. Imediatamente.
— Mas e quanto...
— Liberdade de imprensa? Como quiser. Mas não com minha
companheira, e não em minha Casa da Matilha.
Beatrice assentiu e saiu da sala. Eu olhei para todos os outros.
— Vocês, pobres coitados, vão me ajudar a descobrir como lidar com
Raphael Fernandez. E Nelson, consiga-me qualquer informação que
puder sobre Tremblay.
Tentei me lembrar de qualquer coisa sobre o Alfa canadense. No
geral, eu me lembrava dele como um fanfarrão.
Mas se Raphael pensasse que meu domínio sobre a Matilha da Costa
Leste estava diminuindo, ele não hesitaria em vir aqui e acabar comigo.
E isso parecia ser exatamente o que estava para acontecer.
— Companheiras Reais da Costa Leste está oficialmente fora do ar, —
disse ao meu conselho. — Agora, vamos descobrir como consertar essa
bagunça.
Jocelyn

Sentei-me em frente ao fogo na biblioteca do Retiro do Curandeiro.


Um livro estava aberto no meu colo, mas eu olhava distraidamente
para as chamas.
A pele nua do meu pulso parecia estranha e leve.
Mas Sienna precisava dessa força mais do que eu agora — eu sentia
em meus ossos.
A Matilha da Costa Leste precisava de mim.
Eu não posso ficar aqui para sempre. Em algum momento, terei que
voltar para minha vida.
Ou o que restou dela — agora que não sou mais uma curandeira.
Houve um ruído suave atrás de mim e, um momento depois, mãos
escuras cobriram meus olhos.
Meu coração pulou.
— Ei, — Nina disse, dando a volta e se empoleirando ao meu lado no
sofá em que eu estava enrolada.
— Oi, — eu disse.
Eu estava um pouco insegura de como me comportar com ela.
Tínhamos tido aquele bom momento no refeitório, e então eu não a
via há dias.
Puxei o cobertor que estava enrolado em meus ombros.
— Não acredito que você está com frio, — Nina riu. — O fogo está
realmente indo embora.
— Tem feito bastante frio ultimamente, — eu disse incisivamente.
Ela suspirou e segurou minha mão. — Sinto muito, Jocelyn, — ela
murmurou.
Ela encontrou meus olhos.
— Eu não sabia a coisa certa a fazer. Parecia que... talvez você não me
odiasse tanto. Eu não queria estragar tudo.
— Então você me evitou?
Ela encolheu os ombros, olhando para baixo. — O que posso dizer?
Eu meio que sou péssima nesse tipo de coisa. Eu sou um tipo de garota
que 'foge dos meus problemas'.
— Eu sou um problema?
Seus olhos dispararam para encontrar os meus, se abrindo
amplamente. — Não!
Com um gemido, ela caiu para trás contra o sofá.
— Meu deus, eu sou terrível nisso. Não, Jocelyn, você não é um
problema. Eu sou um problema. Ou melhor, estou com problemas.
Sempre consigo afastar as pessoas de quem gosto. Machucar as pessoas
que amo.
Prendi minha respiração.
Seus olhos dispararam em direção aos meus. — Merda, — ela
sussurrou.
— Pessoas que ama? — Eu disse baixinho.
— Por favor, não surte, — ela disse suavemente.
A dormência que eu estava sentindo... o frio... diminuiu um pouco.
Ela ainda estava segurando minha mão e eu apertei meus dedos em
torno dela.
Engolindo em seco, eu disse: — É por isso que você está tão
assustada? Porque seus sentimentos por mim são... intensos?
Ela sustentou meu olhar e então, lentamente, ela balançou a cabeça.
O ar entre nós engrossou com a tensão.
Eu descansei o lado da minha cabeça no encosto do sofá.
Ela aproximou o rosto do meu e me beijou de leve na boca.
Eu sabia que Nina era malandra.
Eu sabia que ela havia mentido.
Mas o jeito que ela me beijou...
Eu sabia que aquilo era real.
Sienna

Eu tinha terminado a terceira pintura e comecei a quarta quando meu


celular começou a tocar.
Era Charlotte Norwood.
Com uma respiração profunda, eu atendi. — Oi Charlotte. Eu não
vou comparecer.
Houve uma pausa.
Então ela disse: — Precisamos conversar.
— Não, não precisamos. Estou fora do programa. Então, não vou
precisar mais da sua ajuda.
Charlotte fez um barulho irritado.
— Isso não vai dar certo, — disse ela.
Eu belisquei a ponta do meu nariz. — Bem, vai ter que acontecer.
— Você está me provocando, — disse ela.
Eu franzi o rosto. O que ela quis dizer?
— Você deve se encontrar comigo, Sienna.
— Eu não tenho que fazer nada com você, — eu disse, enquanto
minha raiva aumentava.
— Você precisa, — ela disse. — Se você quiser ficar com Aiden, você
vai me encontrar imediatamente.
Capítulo 26
GELADURA
Michelle

Eu encarei meu celular em descrença.


Cancelado.
Aiden Norwood cancelou o Companheiras Reais.
Lágrimas saltaram dos meus olhos.
Como isso pôde acontecer?

Michelle: há alguma chance de que volte?

Monica: que eu saiba não

Michelle: mas não pode acabar assim!

Monica: desculpe, mas é assim que as coisas são

Monica: estou muito ocupada, Michelle

Michelle: mas eles disseram POR QUE!!!??


Monica: estou muito ocupada, Michelle

Monica: …

Monica: espere. Você não sabia?

Michelle: não sobre o quê?

Monica: foi Sienna

Monica: ela não queria mais se envolver

Monica: então Aiden cancelou.

Joguei o celular na cama, me levantei e caminhei lenta e


deliberadamente até o banheiro.
Eu encarei meu reflexo. Meus olhos brilhavam com lágrimas
acumuladas.
Sienna. Ela não poderia me deixar conseguir isso.
Ela não conseguiu segurar a onda só por algumas semanas.
Quaisquer bons sentimentos que minha amiga e eu
compartilhássemos recentemente tinham evaporado, me deixando
trêmula e furiosa.
Ela não merece ser a companheira do Alfa.
E eu? E quanto a mim?
Ninguém dava a mínima para mim.
Eu não era nada.
Com um grito áspero, atravessei o vidro com meu punho.
Sienna

Fui ao Posey Hotel, onde Charlotte e Daniel estavam hospedados.


Ou, pelo menos, onde Charlotte estava hospedada. Daniel Norwood
ainda estava fora do país a negócios.
A mãe de Aiden estava sentada em uma mesa no canto, sorrindo
amigavelmente para ninguém menos que Monica Birch.
Eu olhei ao redor. Sem câmeras. E eu não vi Michelle em lugar
nenhum.
Algo estava errado. A inquietação subiu pela minha espinha, mas
endireitei os ombros, tentando esconder minha hesitação.
O que quer que aquelas duas tivessem planejado, não iria funcionar.
— Sienna, que gentileza de sua parte arranjar tempo para se juntar a
nós, — Charlotte falou lentamente quando me aproximei.
— Estávamos começando a achar que você não compareceria, —
acrescentou Monica.
Eu olhei para ela. — Vamos acabar com isso. O que você quer?
Monica deu um pequeno suspiro de surpresa. — Uau, Sienna, por que
tanta hostilidade?
— Eu já disse a Charlotte quando ela ligou: acabou, — eu disse. —
Estou fora do programa. Você e Michelle podem continuar, eu não me
importo, mas eu não faço mais parte do Companheiras Reais.
Os olhos de Monica se estreitaram. — Companheiras Reais foi
cancelado. Sob a autoridade do Alfa. Aiden não te contou?
Meu queixo caiu. Eu não tinha visto Aiden desde aquela manhã; eu
não tinha ouvido uma palavra sobre o programa ter saído do ar.
— Claramente, meu filho não compartilha tudo com você, não é? —
Charlotte disse suavemente.
Eu olhei pra ela. Sua pálpebra estava tremendo e seu rosto parecia
abatido e tenso.
Por fora, ela parecia uma mulher se deleitando com a vitória.
Mas tive a sensação de que tudo não era exatamente o que parecia.
Eu a encarei. — Se o programa foi cancelado, por que estou aqui?
Os lábios de Charlotte se curvaram em um sorriso. — Por causa de
outra coisa que Aiden pode não ter lhe contado: algumas das...
complexidades da lei da Matilha.
— O que, diz em algum lugar que eu tenho que me ajoelhar e jurar
submissão à minha sogra? — Eu perguntei sarcasticamente.
Monica observou nós duas, parecendo positivamente alegre. Eu me
perguntei se ela estava filmando isso, mesmo agora, em algum tipo de
câmera oculta.
Mas os olhos de Charlotte estavam mais frios. — Não. Mas diz que a
companheira do Alfa deve ser capaz de lhe dar filhos.
O silêncio ecoou após suas palavras.
Meu coração parou no meu peito.
— Já faz o quê, três temporadas de Bruma que você passou com meu
filho? Outono passado, primavera e este outono. E ainda, nada de
gravidez.
— Isso não é da sua conta, porra, — eu disse. Meu corpo inteiro
parecia rígido, como se eu tivesse sido transformada em pedra.
— Na verdade, é da conta de toda a Matilha da Costa Leste, —
Monica entrou na conversa. — Eles têm o direito de saber se a
companheira de seu Alfa é capaz de dar à luz um herdeiro.
— Afinal, é seu dever mais sagrado, — acrescentou Charlotte.
Ela fungou com seu desdém esnobe de costume, mas, ao mesmo
tempo, vi seus olhos se voltarem nervosamente para Monica.
Suas palavras soavam como se elas tivessem ensaiado, e então tive
certeza de que aquilo estava sendo filmado.
Eu caí direto em uma emboscada.
Mas será que fui a única?
Por que Charlotte parece tão inquieta? Eu nunca a vi nem um pouco
abalada.
— E está escrito na lei da Matilha que se a companheira de um Alfa é
incapaz de ter filhos por qualquer motivo, ela deve ser posta de lado.
Minha pulsação martelou em meus ouvidos. — Isso é impossível. Um
vínculo de acasalamento não pode ser quebrado.
Charlotte deu uma risada curta. — Ninguém está falando sobre
quebrar o vínculo de acasalamento, sua criança boba.
— Você sempre pode continuar como amante dele, — Monica
explicou. — Enquanto alguém mais...
— Adequado, é encontrado para a posição de sua verdadeira
companheira, — Charlotte terminou suavemente.
Monica olhou para ela e eu vi Charlotte se encolher visivelmente.
Agora eu tinha certeza disso. Charlotte pode querer que eu vá
embora, mas não foi ideia dela.
Isso não mudou o fato de que suas palavras poderiam significar o fim
do meu relacionamento com Aiden.
Eles não têm nada sólido para seguir em frente.
Três Brumas sem gravidez é suspeito, mas não é prova de nada.
Eu me forcei a respirar. Para manter a calma.
— Você sabe de quem é o trabalho de defender a lei da matilha em
situações como essas? — Charlotte perguntou, cruzando as mãos sobre a
mesa.
— Tenho certeza de que você vai me contar, — respondi
bruscamente.
— O Alfa do Milênio, — ela respondeu suavemente. — E você sabe
quem chegará a Mahiganote amanhã?
Sem esperar que eu respondesse, ela mesma respondeu: — Raphael
Fernandez.
Eu a encarei.
Quando tudo isso aconteceu? E por que Aiden não me contou sobre isso?
É
— É por isso que Aiden cancelou Companheiras Reais. Mas acho que
temos uma matéria muito mais emocionante aqui, — disse Monica,
dando-me um sorriso de tubarão.
— E eu realmente acho que o Único e Verdadeiro Alfa ficará muito
interessado no que eu tenho a dizer a ele.
Com Monica filmando o tempo todo — transmitindo para uma
audiência de milhões.
Eu me perguntei se ela estava planejando isso desde o início.
E de alguma forma envolveu Charlotte nisso.
Por isso ela insistiu tanto para que eu ligasse para minha sogra.
Ela deve ter planejado isso desde o início.
Não importa. Eles ainda não tinham evidências sólidas.
Eu me levantei da mesa. — Eu não vou ser intimidada por você.
Qualquer uma de vocês. O que faço no meu quarto não é da conta da
Matilha. E você não manda na minha vida.
Eu me virei para ir embora, mas Monica tossiu e enfiou a mão na
bolsa para pegar uma pasta de documentos.
— Acho que você pode querer reconsiderar isso.
Monica

Acabou que foi fácil demais.


Sienna ficou imóvel enquanto o olhar de Charlotte caiu para seus pés.
Elas só rosnavam, mas não mordiam — especialmente a mais velha
das duas. Bastou um encontro oportuno com Charlotte Norwood para
lembrá-la de que era do seu interesse continuar cooperando.
Eu inicialmente a confrontei semanas atrás.
Ela se sentou na minha frente no pequeno café, olhando com horror
em branco para as declarações que eu fiz na frente dela.
— Como você encontrou isso? — ela perguntou.
— Ah, eu tenho meus métodos, — eu respondi.
Um jornalista respeitável nunca revela suas fontes.
Especialmente quando essa fonte era um hacker freelance que paguei
meses atrás para descobrir os pobres de Charlotte e Daniel Norwood.
Acontece que a mãe do Alfa estava usando o cartão de crédito da
MCL para coisas que não eram exatamente relacionadas aos negócios.
A menos que fosse realmente necessário gastar US$ 400 mil em
roupas de alta costura todos os anos.
Eu soube quando vi aqueles números que Charlotte Norwood era
meu bilhete premiado. E assim que eu a deixei saber que eu exporia seus
crimes para o mundo, ela ficou mais do que feliz em ajudar.
Eu mal tive que insistir. Acho que teve algo a ver com o fato de que
meu plano acabaria tirando Sienna do jogo.
E Aiden Norwood teria uma nova companheira.
— Depois disso, recebo a cópia dos meus arquivos bancários, correto?
— ela pressionou, derrotada, mas disposta a fazer o seu papel.
— Claro. Eu sou uma mulher de palavra, — eu menti.
E enquanto eu estava lá segurando o envelope na direção de Sienna,
observei enquanto ela e Charlotte lutavam para esconder o medo em
seus olhos.
Elas estão nas minhas mãos.
Aiden

O sol do fim da tarde estava começando a escurecer quando Felix me


chamou.
— Alfa Etienne Tremblay quer vê-lo, senhor, — disse ele.
— Mande-o entrar.
Tremblay tinha um rosto comprido, olhos azuis caídos e cabelos
grisalhos. Seu terno caro estava bem esticado sobre sua considerável
barriga.
— Aiden, é um prazer ver você, — disse ele, dando um passo à frente e
estendendo a mão.
Eu sacudi. — Bem-vindo a Mahiganote.
— É um prazer estar aqui! É quente em comparação com Ottawa.
Quando saí, estava bem abaixo de zero.
— Imagino que seja uma boa mudança.
— Sim. Em climas como esse, você tem que ter cuidado com
geladuras.
Eu me perguntei o que ele queria.
Por que ele veio ao meu escritório agora, quando ele poderia ter se
acomodado em seu hotel e esperado para me ver junto com Raphael amanhã?
Etienne estava andando em um pequeno círculo ao redor do meu
escritório, olhando para as pinturas — todas de Sienna — nas minhas
paredes.
Suspirei. — Mas duvido que você tenha vindo até aqui por causa do
clima, Etienne.
Ele parou e se virou para olhar para mim. — Não, não foi por isso.
Estou aqui porque como informei ao Único e Verdadeiro Alfa estou
profundamente preocupado com este reality show.
— O programa foi cancelado. Toda essa situação já foi resolvida. Você
não acha que exagerou um pouco, envolvendo Raphael?
As narinas finas de Etienne dilataram-se. — Sua companheira está
arrastando o nome dos Alfas pela lama, e você precisa colocar uma
coleira nela!
A raiva cresceu em minhas veias. Eu me levantei da cadeira. De pé, eu
era muito mais alto do que Etienne, e seus olhos se arregalaram de
surpresa.
Eu inclinei minha cabeça, olhando para ele. — Vou lhe dar uma
chance de retirar o que disse.
Etienne sorriu e encontrou meu olhar furioso. — Claro, Alfa
Norwood. Tenho certeza de que sua companheira é... perfeitamente
adequada para sua posição. Não há nenhum problema nisso.
Sua estranha escolha de palavras fez o cabelo da minha nuca se
arrepiar.
— Tive uma conversa interessante com uma jovem chamada Monica
Birch. Você a conhece, eu acredito?
Eu não disse nada, minha mandíbula cerrada com força.
— Ela me deu algumas... informações interessantes ontem. Foi parte
da razão pela qual informei Raphael sobre o problema em sua matilha.
— Ah, é mesmo?
Etienne acenou com a cabeça. — Eu acho interessante que o Alfa do
Milênio apareça aqui agora. Ele pode ser necessário.
— E por que isto? — Meu tom de voz estava grave e perigoso.
Se Etienne tivesse um pouco de bom senso, ele já teria dado meia-
volta e corrido.
Mas em vez disso, ele teve a audácia de sorrir para mim. — Vejo você
amanhã, Aiden.
Eu o observei sair com uma sensação de mal-estar crescendo em meu
peito.
Ele e Monica Birch...
Eles estavam tramando algo.
Mas o quê?
Sienna

Fiquei pairando entre a cadeira que empurrei e a mesa.


Percebi que Monica estava esperando que eu perguntasse o que havia
no arquivo.
Olhamos uma para a outra. Minha boca ficou fechada.
Por fim, ela disse: — Este é um arquivo médico, Sienna.
Uma onda de tontura passou por mim.
— Qual arquivo médico? — Eu disse.
Monica sorriu afetadamente. — Seu, é claro.
Meu?
— Onde você conseguiu isso? Como você pôde...
Levei um momento antes de perceber exatamente o que ela estava
insinuando...
O exame de Hanh.
A prova de que posso ser infértil.
Ela sabia a verdade.
E Charlotte também.
Capítulo 27
A REFLEXÃO OLHA DIRETAMENTE PARA
VOCÊ
Monica

Sienna parecia ter perdido a capacidade de se mover. Ou respirar. Ou


falar.
Ótimo. Aquela vaca ruiva nunca calava a boca.
Eu relaxei na minha cadeira, segurando a pasta de documentos com
meu bilhete da sorte.
As bochechas de Sienna ficaram vermelhas. — Você não pode ter isso.
É confidencial.
— Sim, bastante confidencial. — Eu concordei. — Talvez até
condenatório. Exatamente o tipo de coisa que você não gostaria que
caísse nas mãos do Alfa do Milênio.
— Permita-me deixar isso perfeitamente claro, — disse Charlotte a
Sienna. — Eu conheço meu filho. Ele gosta de se considerar 'nobre'. Sua
tendência seria simplesmente ignorar quaisquer problemas com a lei.
— Mas ele não vai conseguir, — terminei. — Não quando Raphael
Fernandez receber este documento logo pela manhã.
Comigo ali, esperando para capturar toda a cena.
Mais uma vez, silenciosamente agradeci a Sienna por ser ingênua o
suficiente para convidar sua sogra para participar do programa.
Charlotte Norwood foi minha chave para separar Aiden e Sienna.
E também, simultaneamente, para divulgar a maior história que a
Matilha da Costa Leste já tinha visto.
No mês que vem, eu poderia ter meu próprio programa.
Daqui a um ano, minha própria rede.
As possibilidades eram infinitas.
No fim das contas, tinha sido mais fácil do que eu jamais imaginei.
Especialmente depois que eu descobri um certo segredo sobre a
companheira de um certo Alfa.
Se houve uma coisa que aprendi em minha carreira, foi que
informação é poder.
Isso tinha colocado Charlotte Norwood sob meu controle.
E estava prestes a derrubar Sienna.
Eu lancei um olhar para a câmera escondida que coloquei dentro do
vaso de flores em nossa mesa. Ele estava apontado corretamente, então
capturou o olhar perplexo no rosto de Sienna.
— O que você quer de mim? — Sienna exigiu. — Presumo que seja
algum tipo de chantagem?
Charlotte fungou, como se essas coisas estivessem muito abaixo dela.
— Certamente não. Estou aqui para lhe dar a chance de deixar o cargo de
companheira de Aiden enquanto você pode. Eu realmente prefiro não
arrastar o nome Norwood pela lama.
— Pelo menos — — ela olhou para Sienna com frio desdém — não
mais do que já foi.
Mordi meu lábio inferior para esconder minha expressão alegre.
Eu tinha todos exatamente onde eu queria.
Josh

O relógio me direcionou para o histórico Metropolitan Theatre em


Morgantown, West Virginia.
Parado do lado de fora do teatro, os ponteiros do relógio começaram
a girar em círculos caóticos, não mais apontando em uma direção.
Eu tinha chegado.
As janelas do teatro estavam bem iluminadas. Uma faixa sobre as
portas dizia: O Fantasma da Opera de Andrew Lloyd Webber
Michelle adoraria isso.
Talvez depois de matar Konstantin, vou trazê-la aqui para assistir.
Ela pode usar um vestido colado no corpo. Vou me enfiar em um smoking.
Eu posso mostrar a ela o local exato onde eu o destruí.
Assim que ele estiver morto...
A pele da minha nuca arrepiou quando endireitei os ombros e
marchei para o teatro.
Comprei uma passagem cara e fingi que ia para o meu lugar. Mas
assim que o porteiro desviou o olhar, deslizei por uma porta de palco e
comecei minha caça.
Os ponteiros do relógio ainda giravam, então usei meu nariz,
procurando pelo cheiro do vampyro.
Ele não ia se esconder de mim.
Eu o peguei quase imediatamente enquanto corria pelo corredor
lateral da casa.
Ele realmente estava aqui.
As luzes diminuíram e se apagaram, e a cortina se abriu.
Parei e olhei a cena, preso pela visão.
Musicais não eram realmente minha praia, mas eu duvidava que eles
fossem geralmente tão elaborados.
Uma série de painéis labirínticos pendurados no teto, juntos
formavam um intrincado pano de fundo que parecia o interior de um
teatro.
O cheiro vinha dos bastidores.
Apressei-me em direção ao cheiro, mergulhando em uma alcova na
parede quando pensei que um porteiro poderia ter me visto.
Ele passou e eu saí correndo.
O cheiro vinha dos bastidores.
Havia uma porta na lateral do proscênio, que parecia levar aos
bastidores.
Ninguém a estava guardando.
Eu me aproximei o mais silenciosamente possível e esperei a música
aumentar em um crescendo e os painéis das cortinas começarem a girar.
O público ficou fascinado.
Apenas a chance que eu precisava para escapar pela porta sem ser
visto.
Os bastidores estavam escuros e desordenados, com ajudantes de
palco vestidos de preto se movendo.
Ninguém prestou atenção em mim e eu me apressei, tentando dar a
impressão de que estava ocupado e pertencia àquele lugar.
Então o conjunto começou a girar.
Eu parei no meio do caminho, chocado.
Era do tamanho da galeria da Casa da Matilha — ou seja, gigantesco
— e tudo girou: os painéis das cortinas e o lustre enfiados na parte de trás
enquanto cenários parecidos com catacumbas se moviam para o palco.
Havia uma terceira seção, percebi quando comecei a percorrer
novamente: um labirinto de espelhos em várias camadas.
Foi nesse labirinto que avistei um homem vestindo um smoking e
uma máscara branca e lisa cobrindo metade do rosto.
Se eu tivesse acreditado apenas nos meus olhos, poderia tê-lo
confundido apenas com outro ator.
Mas meu nariz revelou a verdade:
Konstantin.
O triunfo queimou em minhas veias.
Eu sabia que ele ainda estava vivo.
Minha garganta apertou e eu me aproximei. Então ele encontrou meu
olhar.
Seus próprios olhos escuros tinham um fogo vermelho em suas
profundezas.
Por um momento, fiquei paralisado.
Eu finalmente consegui desviar meu olhar. Mas quando olhei para
trás, ele havia se multiplicado: Uma dúzia de homens em smokings e
máscaras olhou para mim.
Que porra?
Antes que eu tivesse tempo de reagir, o grupo se separou e correu por
um labirinto de espelhos próximo que fazia parte do cenário.
Ó
Reflexos. Ótimo.
Corri para dentro e bati na primeira imagem que vi, mas tudo que
acertei foi o vidro.
Eu bati em outro, mas mais uma vez acertei um espelho.
— Porra! — Exclamei, furioso.
Mas então eu vi um movimento com o canto do olho. Sem pensar,
estendi a mão e agarrei um desses fantasmas.
Eu arranquei a máscara de seu rosto.
Era Konstantin, seus olhos estavam ardendo.
Ele não iria fugir desta vez.
Meus dentes se transformaram em presas de lobo, mas mesmo
enquanto segurava Konstantin em minhas mãos, o vi parado a três
metros de distância.
E não era um reflexo. O segundo Konstantin me deu um aceno
arrogante com dois dedos.
Meu aperto afrouxou na figura que eu segurava, e ela se afastou de
mim.
Também era Konstantin.
Brasas vermelhas queimavam em ambos os olhos.
E então eu vi outro, idêntico aos dois antes de mim, subindo um
lance de escada correndo.
E outro, movendo-se nas sombras atrás.
Minha mente girou. Eu não conseguia entender aquilo.
De repente, mãos fortes estavam me agarrando por trás.
Dedos se enrolaram em volta da minha garganta, expondo minha
carne nua.
Michelle.
Sinto muito...
Tudo ficou preto.
Sienna
Encontrei Hanh na ala médica da Casa da Matilha.
Minhas pernas estavam rígidas de raiva quando entrei na sala.
— Sienna, — disse Hanh, olhando para cima. — Está tudo bem?
— Como você pôde? — Eu me engasguei.
Hanh se levantou.
— Não sei do que você está falando, — disse ele.
— O que você ganhou com isso? Elas te pagaram? Prometeram algo a
você? — Eu exigi.
A fúria queimou por mim, alimentada por um medo desesperado.
Eu tinha que fazer alguma coisa. Agora.
Me afastar. Eles queriam que eu me afastasse de Aiden.
Antes que Raphael Fernandez pudesse me remover devido à minha
possível infertilidade.
Meu coração batia tão forte que doía.
Tudo o que eu conseguia pensar era em descobrir quem era o culpado
por isso.
Que entregou meu segredo para Monica Birch.
— Sienna, posso ver que algo muito perturbador aconteceu, mas
garanto-lhe que não tenho ideia...
— Besteira! Não faça papel de inocente! — Eu gritei.
Hanh tentou tocar meu braço e eu me afastei.
— Sienna, — Hanh disse com calma autoridade, — você precisa se
sentar agora.
Algo dentro de mim respondeu à ordem — os curandeiros tinham seu
próprio tipo de domínio, parecia. Minhas pernas dobraram e eu afundei
em uma poltrona.
— Você está tendo um ataque de pânico, — Hanh disse em uma voz
firme. — Por favor, deixe-me tocar em você, só por um momento.
Oprimida, eu dei um aceno curto.
Ele pressionou a mão no topo da minha cabeça e a outra nas minhas
costas.
O calor se espalhou por mim.
A pressão diminuiu.
Minha respiração se acalmou.
Aquele confronto não estava acontecendo como eu imaginava.
Hanh me soltou.
— Agora, quando você estiver preparada, por que não começa do
início? Do que se trata?
Demorou mais um ou dois minutos antes que eu confiasse em mim
mesma para falar.
— Meu arquivo médico. Monica Birch está com ele.
O rosto de Hanh ficou turvo. — O que você quer dizer?
— Ela tem meu diagnóstico de infertilidade! Você deve ter dado a ela,
— eu disse.
Hanh balançou a cabeça lentamente. — Sienna, isso não pode estar
certo.
— Por que não?
— Porque nunca escrevi nada sobre isso. Eu queria a opinião
profissional de Jocelyn antes de confirmar o diagnóstico. Nunca
mencionei isso em seu arquivo médico.
Eu pisquei. — Bem, então como alguém poderia saber sobre isso?
Hanh considerou. — Eu realmente não sei. Tem certeza de que
Monica não estava blefando?
— Se ela estava, ela é uma atriz melhor do que qualquer outra.
— Bem, esse pode ser o caso, a menos que... — Hanh parou. Seu
queixo caiu e seus olhos focaram em uma gaveta da escrivaninha.
Meu estômago embrulhou. — A não ser o quê?
Hanh abriu a gaveta e olhou para baixo, incrédulo. — Meu diário.
Sumiu.
Qualquer sentimento de calma que Hanh havia passado para mim
evaporou. — Seu diário?
— Sim. Sou apenas o assistente de Jocelyn. Tenho feito anotações
detalhadas sobre cada paciente que vejo. Para mostrar a ela quando —
quando ela voltar...
Era como se ondas de calor e frio estivessem passando por mim, uma
após a outra.
— Este quarto não é mantido trancado? — Eu perguntei.
— Sim, mas às vezes... se eu tiver que sair rapidamente... Eu... Sienna,
sinto muito. — Hanh parecia chocado.
Eu balancei minha cabeça em descrença.
Aquela CADELA trapaceou, mentiu, roubou e manipulou.
— Há algo que eu possa fazer? — Hanh perguntou. Seu rosto era a
imagem da angústia.
— Eu... eu não acho que haja nada que alguém possa fazer, — eu
disse. Minha voz soou muito baixa.
Estava tudo acabado agora.
Minha cabeça afundou em desespero, mas então eu apertei minhas
mãos.
Não. Eu não vou perder tão facilmente.
Se Monica Birch podia jogar sujo, eu também podia.
Sienna você sabia?
Sienna
Michelle, você sabia o que Monica ia fazer??
Sienna
me responde agora!

Michelle

As mensagens foram chegando, uma após a outra. Deitei na cama, sem


energia para me levantar e me vestir.
Josh ainda não tinha voltado para casa.
Meu programa havia sido cancelado.
Então eu não precisava estar em lugar nenhum. Não mais.
Antes que eu pudesse começar a me perguntar de que merda Sienna
estava falando, meu celular começou a tocar.
Era Sienna.
Eu atendi, com a intenção de dizer a ela para parar de encher a porra
do meu saco.
Mas, em vez disso, Sienna começou a falar em um tom baixo e
urgente.
Eu escutei.
Quando ela finalmente ficou em silêncio, joguei as cobertas para trás
e fui para o chuveiro.
Não pude acreditar nas palavras que saíram de sua boca.
Eu estava completamente furiosa.
Monica Birch tinha fodido com as garotas erradas.
Era hora de derrubá-la.
Capítulo 28
UMA MÃO PERDIDA Monica
— Você não entende, Curtis? — Eu disse, andando pelo meu pequeno
escritório.
Aquele lugar era minúsculo, e eu não ficaria ali por muito mais
tempo.
Assim que pudesse, eu iria embora.
E levaria Curtis comigo. Pelo menos enquanto ele fosse útil.
— Eu me pergunto quanto tempo vai demorar para que as ofertas
comecem a rolar, — eu disse. — WolfWideNews. InfoLobos. Cacete, em
pouco tempo poderíamos ter nosso próprio canal!
— Não gostei de roubar o diário daquele curandeiro, — disse Curtis,
nervoso.
Credo. Ele sempre foi tão molenga. Eu nunca conheci um lobo mais
submisso.
Normalmente, isso era bom para meus objetivos. Mas às vezes eu
queria que ele fosse mais corajoso.
— Quem se importa, Curtis? Ninguém vai olhar para nós. Eles estarão
muito ocupados assistindo à separação das celebridades do século! E
então estaremos entre os maiores!
Curtis deu de ombros, mordendo o lábio como uma criança
assustada. Seus olhos se voltaram para os meus e então se afastaram
apressadamente.
Eu amei que ele estava com medo de mim. Foi tão excitante.
Eu caminhei até ele e corri meu dedo na frente de sua camisa.
— É melhor não me questionar, Curtis, — eu disse em seu ouvido.
— Pegamos o diário. A prova está aí. A cadelinha do Alfa vai cair fora.
Charlotte pode continuar com a roubalheira. Eu consigo o que quero.
Está tudo dando certo.
Curtis gemeu quando coloquei minha mão em sua virilha e dei um
aperto.
— Portanto, não há nada com que se preocupar. Nós vencemos.
— Mas ainda pode dar errado! — ele protestou. Seu rosto estava
contorcido em um beicinho nada atraente.
— Nada vai dar errado, — eu disse. — Continue fazendo exatamente
o que eu digo e seremos ricos.
Dei outro aperto em seu membro meio flácido através das calças.
Curtis deu um gemido baixo e suplicante.
Eu ri baixo em minha garganta e comecei a desafivelar seu cinto.
A porta do meu escritório se abriu, quase quebrando o vidro
embaçado.
Eu me virei para ver quem era.
Ah, Sienna.
E sua amiguinha patética.
— Sua ladra imunda! — Sienna gritou.
Curtis ficou pálido e afastou minha mão de sua virilha.
— Você acha que pode se safar com isso? Se você tentar entregar
aquele arquivo para Raphael, eu direi a ele que você roubou de Hanh!
— E ele vai cortar sua cabeça fora! — Michelle acrescentou.
Foi adorável a maneira como elas pensaram que poderiam me
dominar.
Como se eu não tivesse planejado todas as possibilidades.
— Você tem provas de que eu roubei alguma coisa? — Eu perguntei a
ela, minha voz doce como açúcar.
— Você não teria nenhuma evidência! — ela rebateu com veemência.
— Ah, sim, não estou dizendo que não tenho as provas. Mas você tem
alguma prova de que fui eu que o peguei?
Ela me encarou.
— Eu poderia ter encontrado o diário aberto sobre a mesa; nesse caso,
não é roubo olhar para ele.
— Mas isso...
— Ou eu poderia ter recebido de uma fonte anônima que estava
preocupada com o futuro da Matilha da Costa Leste.
— Mas você não fez isso! — Sienna disse. Seu rosto estava quase da
cor daquele cabelo ruivo assustador.
— Você roubou do escritório de Hanh! — Michelle disse. Eu olhei
para ela.
Vagabunda ingrata. Eu dou a ela a única chance que ela terá na vida de
ser famosa, e é assim que ela me retribui?
Bem. Ela nunca foi mais do que um peão em meus esquemas, de
qualquer maneira.
E peões são dispensáveis.
— Mas, como eu disse, você não tem provas. Sem filmagens de
segurança. Sem testemunhas. Nada. — Eu me certifiquei disso.
Porque Sienna tinha razão. Se Raphael descobrisse sobre minha falta
ocasional de... integridade jornalística, isso significaria um problema
sério.
Mas não dá para fazer uma omelete sem quebrar alguns ovos, e não
dá para chegar ao topo da matilha sem correr alguns riscos.
Não deixei meu sorriso vacilar por um instante. — Acho que já deu.
Mas vocês são fofas, meninas. Muito fofas.
Sienna me lançou um olhar de puro ódio, depois permitiu que
Michelle a puxasse para longe.
— Isso não acaba assim, — ela disparou.
A porta se fechou atrás dela.
— Ah, mas acaba sim. Acabou para você, Sra. Norwood.
Voltei-me para Curtis. — Então, onde estávamos?
Josh

A viagem para casa foi um pouco confusa.


Tudo que eu queria era voltar para casa, para Michelle.
Honestamente, eu não conseguia acreditar que estava vivo.
Eu acordei no chão nos bastidores, vários auxiliares de palco
agrupados ao meu redor.
— O que aconteceu? — Eu perguntei enquanto corria a mão sobre
minha garganta.
A pele do meu pescoço estava lisa e sem manchas. Eu tremi de alívio.
Eu não fui mordido.
— Havia um homem ou talvez, gêmeos? Ou trigêmeos? — um dos
técnicos disse enquanto me ajudava a sentar.
— Sheila e eu pensamos que era Ramon, — disse outro técnico. — Ele
é nosso Fantasma. Esses caras estavam vestidos como ele.
— Ajude-me a levantar, — eu disse.
— Precisamos chamar a polícia! — alguém disse.
— Devemos estar ao vivo em vinte minutos! — disse a ajudante de
palco.
— E daí, Sheila? Um homem acabou de ser atacado!
Eu levantei a palma da mão. — Não, ela está certa. O show tem que
continuar.
E os policiais não vão fazer nada além de me atrasar.
Eu peguei a estrada e dirigi de volta para Mahiganote o mais rápido
que pude.
Konstantin deve ter sido interrompido antes que pudesse me morder.
Eu não tinha nenhuma lembrança dele em minha mente — ou em meus
sonhos.
O medo apertava forte meu coração. Eu precisava encontrar Michelle.
Para ter certeza de que minha companheira estava bem.
Mas quando cheguei em casa, ela não estava lá. Uma nota na mesa de
cabeceira me informou que ela estava com Sienna.
Uma onda de exaustão passou por mim e desabei em nossa cama.
Na manhã seguinte, fui para a Casa da Matilha, fui abordado por
Elijah, meu assistente, quando cheguei.
— Beta Daniels, preciso atualizá-lo imediatamente, — disse ele.
Franzindo a testa, eu estava prestes a levá-lo ao meu escritório
quando avistei uma linda mulher com cabelo preto e olhos roxos
passeando pelo corredor.
Eu me virei para Elijah. — Por que diabos Eve Knox está aqui?
Raphael Fernandez também está aqui?
— Era isso que eu precisava te dizer, — sibilou Elijah. — Você sumiu
por dois dias! O Alfa do Milênio está aqui. Junto com o líder da Matilha
do Canadá.
— Alfa Norwood está procurando por você em todos os lugares. Ele
está irritado.
Eu podia sentir meu sangue começar a ferver, mas então, quando
olhei para Eve novamente, prendi a respiração.
Sem outra palavra para Elijah, eu marchei até ela.
Eve Knox era uma vampira — não uma vampyra. Vampiros nasciam
assim. Vampyros eram transformados.
Mas isso ainda significava que ela poderia ter mais percepções sobre a
insanidade dos últimos dias do que eu poderia aprender sozinho.
— Com licença, Sra. Knox? — Eu disse, reunindo meu sorriso mais
encantador.
Seu olhar violeta passou rapidamente por mim. Aqueles olhos me
assustaram, mas tentei não deixar transparecer.
— Você é o Beta da MCL, — afirmou.
— Sim, — eu disse com um sorriso. — Beta Josh Daniels.
— Você poderia fazer a gentileza de entrar no meu escritório por um
momento? — Eu perguntei. — Eu tenho uma pergunta que talvez só você
possa responder.
Quando nos sentamos no sofá, contei tudo sobre a caça ao
Konstantin.
— Aiden tem plena certeza de que matou Konstantin, — eu disse a
ela. — Ainda não contei a ele sobre ontem, mas aposto que ele não vai
acreditar em mim. Ele vai pensar que eu não vi o que vi.
Eve olhou para mim, seu rosto impassível. Arrepios subiram ao longo
dos meus braços.
— Mas eu vi, Sra. Knox. Konstantin estava lá, mas havia pelo menos
três dele.
Ela ainda não havia dito nada.
— E eu sei que o set estava cheio de espelhos, ok? Eu entendo que
deve soar como... como se eu estivesse errado...
Enquanto falava, percebi como tudo aquilo parecia ridículo. Mas os
olhos de Eve estavam alertas e fixos em mim.
— O que mais havia no túmulo da caixa de pedra? — ela perguntou.
— Ah... — Fechei os olhos, tentando me lembrar. — Cerâmica.
Algumas... bolsas de couro. Um arco com penas — digo, — era muito
antigo...
Eve acenou com a cabeça. — As bolsas de couro sugerem que
provavelmente era um feiticeiro. O que o povo daquela época teria
considerado um xamã.
Meu rosto afrouxou. — Ele roubou os ossos de um feiticeiro?
Outro aceno de cabeça. — E com os ossos de um feiticeiro, você pode
fazer muitas coisas. Executar muitos tipos diferentes de magia.
— Podem ser usados como um ingrediente? Em feitiços?
— Isso mesmo, — disse ela. — O que pode ser a explicação para o que
você viu, Beta Daniels.
— Você está dizendo que ele realmente se duplicou? Que a pessoa que
Aiden matou não era o verdadeiro Konstantin?
Eve levantou a mão. — Eu não disse isso. Não sei. Mas estou dizendo
que parece possível.
Eu pisquei para ela.
Ela suspirou. — Existe magia que permitiria que a pessoa a usasse
para transformar vítimas em... simulacros de si mesmo — cópias
semelhantes a clones, se você quiser. E com a habilidade de Konstantin
de dominar mentes...
— Eu sabia, porra, — eu disse, me inclinando para trás e pressionando
a mão na minha boca.
Eve me olhou.
— Eu tentaria ir atrás de alguma evidência, no entanto, — ela disse.
— Porque agora, tudo isso são suposições.
Merda, pensei.
Ela estava certa.
Sienna

Naquela noite, Michelle e eu fomos ao cemitério de Mahiganote.


A lua estava brilhante e levou apenas alguns minutos para encontrar o
túmulo que procurávamos.
Fazia tempo que não visitava aquele lugar. Muito tempo.
Estendi a mão e corri meus dedos sobre as letras gravadas de seu
nome.
— Eu gostaria que você pudesse conhecê-la, — eu disse a Michelle
enquanto estávamos juntas na frente da lápide de Emily.
— Imagina, eu era a maior vadia na escola. Nenhuma de vocês sairia
comigo, — disse Michelle sobriamente.
Ela olhou e vi que seus olhos brilhavam ao luar. — Não que eu esteja
muito melhor ultimamente. Sinto muito. Sienna.
Eu balancei minha cabeça. Se eu aprendi alguma coisa, foi que
perdoar a si mesmo por seu passado era a única maneira de seguir em
frente.
Eu não iria permitir que as tragédias que Emily e Michelle sofreram
pesassem mais sobre mim.
Era hora de seguir em frente.
No instante em que desejei isso para mim mesma, senti o fardo que
carregava por tanto tempo finalmente ser retirado de meus ombros.
Eu me senti rejuvenescida... livre.
Eu sorri para Michelle. — Vamos apenas tentar ser melhores uma
com a outra de agora em diante.
— Prometo, — ela respondeu.
Abraçamo-nos diante do túmulo de Emily e, no cemitério silencioso,
achei que podia sentir minha amiga sorrindo para nós.
Depois, congelando no ar do inverno, Michelle e eu voltamos para o
meu quarto de hotel, onde ficamos acordadas a noite toda, só
conversando.
Sem equipes de maquiagem. Sem câmeras. Sem audiência ao vivo.
Apenas minha amiga e eu, tentando reconstruir nosso
relacionamento fragilizado.
Nós resolvemos tudo.
Todas as nossas falhas, triunfos, fracassos e preocupações.
Tudo isso enquanto esperava à beira de um precipício, me
perguntando se Monica Birch estava realmente disposta a ir tão longe
para conseguir o que queria.
Aiden sabia de tudo. Ele queria vir e ficar comigo, mas eu pedi a ele
para ficar na Casa da Matilha. Perto de Raphael Fernandez, caso algo
acontecesse.
Então, Michelle e eu ficamos sozinhas, sentadas na cama do hotel e
lembrando como era ser amigas novamente.
Às vezes, eu chorava. Às vezes, Michelle chorava.
Depois de algumas horas, estávamos ambas completamente exaustas.
Eu não sabia para onde nossa amizade iria a partir dali. Havia muitas
feridas para curar — em ambos os lados.
Mas pelo menos estávamos nos ajudando.
Debatemos o que fazer com Monica Birch até as primeiras horas da
manhã.
Nosso plano não era tão sólido.
Quem sabe se conseguiremos fazer isso?
E se eu falhasse... se Aiden fosse de alguma forma forçado a me
colocar de lado e escolher outra companheira oficial...
Nós nos recusamos a falar sobre isso.
Foi a única coisa que não foi dita.
Como se falar aquelas palavras terríveis fosse dar vida à ideia.
Na manhã seguinte, fui convocada para a Casa da Matilha para me
encontrar com o Alfa do Milênio.
Capítulo 29
AMOR É LEI Aiden
O Alfa do Milênio estava sentado à mesa de jantar de mogno.
Etienne Tremblay estava sentado ao seu lado direito, parecendo
presunçoso e ansioso.
Estávamos esperando minha companheira chegar.
Eu esperava que Raphael me desse uma bronca sobre o agora extinto
reality show, mas eu não esperava por isso — especialmente depois do
que eu descobri recentemente.
Minha mãe tentou chantagear minha companheira. Para afastá-la.
E para piorar as coisas, ela estava desviando fundos da Casa da
Matilha. Eu mesmo verifiquei os registro.
Como minha mãe pode ser tão estúpida?
Minha culpa, por não perceber que ela estava se envolvendo em
negócios suspeitos.
Eu tinha deixado a porta aberta para Monica Birch tentar tirar
vantagem da situação.
Ainda assim, minha mãe deveria saber que deveria vir até mim antes
de cooperar com uma vadia golpista como Monica Birch.
E vamos encarar: ela adoraria ver Sienna dar o fora.
Ela se sentou alguns lugares depois de mim, com o queixo erguido.
Mas ela ainda não tinha encontrado meus olhos.
A notícia sobre a infertilidade potencial de Sienna interferindo na lei
da Matilha me afetou demais. Eu ainda mal conseguia envolver minha
mente em torno disso.
Mas não havia nada, nem nas profundezas do inferno, que me
afastaria de minha companheira.
Pouco importava se ela poderia nos gerar filhotes ou não. Ela era
minha companheira, meu amor, e ela lideraria ao meu lado.
Apesar de tudo, uma onda de calor tomou conta de mim quando
Sienna entrou na sala de jantar.
Hanh Nguyen entrou logo atrás dela.
Ela me deu um pequeno sorriso, então olhou para o Único e
Verdadeiro Alfa de cabeça erguida.
Raphael deu a ela um pequeno aceno de cabeça. — Certo.
Comecemos. Eu voei até aqui hoje para lidar com um pequeno problema,
mas fui informado de algo muito mais importante.
Ao seu lado, Tremblay assentiu. — Francamente, estou chateado e
perturbado pelos acontecimentos na Matilha da Costa Leste. E depois de
falar com a Sra. Birch, estou ainda mais preocupado.
— E eu não entendo como isso pode ser de sua conta. Principalmente
porque você está tendo acessos de raiva no Latter como se fosse um
adolescente. Um comportamento não muito digno de um Alfa, — eu
retruquei.
Eu passei horas tentando descobrir o que Tremblay tinha a ganhar
com essa façanha.
Sua matilha era altamente tradicionalista; as mulheres tinham pouca
liberdade pessoal e eram encorajadas a encontrar seus companheiros
com apenas quatorze anos.
Se ele visse minhas ideias progressistas para a Costa Leste como uma
ameaça, fazia sentido que tentasse me minar.
Mas me perguntei se até mesmo Tremblay sabia o quão longe ele teria
que ir.
— É de minha conta, Alfa Norwood, — Raphael disse. Ele se virou
para Sienna. — Vamos começar com a questão do reality show.
— Excelente. Por favor, mande-os entrar, — disse Tremblay a Felix,
meu assistente. Minhas garras coçaram ao ouvi-lo dar ordens aos meus
lobos, mas optei por não dizer nada.
A porta da sala de jantar se abriu e Michelle entrou, parecendo
apavorada e olhando ao redor em busca de Josh.
Mas depois que ele sumiu por dois dias, eu não o permiti na reunião
também, então ela nem mesmo tinha seu companheiro para contar com
seu apoio.
Michelle foi seguida de perto por Monica Birch e seu cinegrafista.
Mesmo naquele momento, ele estava filmando tudo.
Enquanto eles se sentavam, lancei a Sienna um sorriso encorajador.
Ela parecia forte e confiante, mesmo enquanto enfrentava seus
inimigos.
Meu coração batia forte de amor por ela, e eu jurei mais uma vez que
ninguém jamais a tiraria do meu lado.
Sienna

O rosto de Raphael permaneceu neutro.


Monica deu a todos na sala um sorriso brilhante enquanto se
aproximava da mesa.
— Acho que todos podemos concordar que Companheiras Reais foi
um experimento divertido. E se eu tiver ido um pouco longe demais, foi
pelo bem do entretenimento!
Ela ergueu a mesma pasta de documentos que havia me mostrado
antes. Meus dedos se curvaram dolorosamente em minhas palmas.
— Aqui nós temos trechos do diário de um curandeiro da matilha,
que descreve especificamente Sienna Norwood como sendo infértil. Ela
tentou esconder essa informação, mas minha investigação revelou a
verdade. — Ela continuou, — Por lei territorial conjunta...
— 'A companheira de um Alfa deve ser capaz de fornecer herdeiros,
ou ela deverá ser afastada’. Estou familiarizado com a lei. Vá direto ao
ponto, — o Alfa do Milênio declarou de maneira clara.
Eu toquei a pulseira de prata em meu pulso.
A pulseira de Jocelyn. Um talismã com a força e o apoio da minha
amiga.
Sou forte o suficiente para vencê-los em seu próprio jogo.
Meus joelhos tremiam, mas levantei a mão. — Posso falar, meu Alfa?
Raphael acenou com a cabeça, dando-me um olhar nivelado.
— A única evidência que Monica Birch tem contra mim vem do
assistente de Jocelyn, Hanh Nguyen.
Eu olhei para Hanh. — Ele é um curandeiro maravilhoso, mas é
apenas um assistente, e suas descobertas foram o resultado de um exame
breve e não invasivo.
Então olhei para Monica, que estava presunçosamente sentada em
sua cadeira. — Mas não estaríamos discutindo nada disso se Monica
Birch não tivesse roubado seu diário médico pessoal.
Eu esperava que as pessoas ofegassem em estado de choque, mas a
sala permaneceu totalmente silenciosa.
Só por um momento, no entanto.
— Essa é uma acusação ultrajante e completamente infundada! —
Disse Monica. Sua indignação estava bastante convincente depois de ter
praticado com Michelle e eu na noite anterior. — Eu poderia processá-la
por calúnia!
— Eu acho que você terá problemas maiores para lidar em breve, —
eu disse calmamente.
— Meu Alfa, não há prova disso. Eu recebi o diário de uma fonte
anô...
— Ela roubou. E eu posso provar isso, — eu disse simplesmente,
direcionando minhas palavras para Raphael Fernandez.
Ele lentamente olhou em volta para o Alfa canadense. — Você está me
dizendo que fui arrastado até aqui porque a companheira do Alfa pode
ser infértil?
Etienne empalideceu.
— Eu... ela... eu tinha certeza, — Charlotte engoliu em seco, ficando
com o rosto vermelho. — Sienna não é adequada para ser a companheira
de um Alfa! — ela deixou escapar.
— Vejam o fiasco do Festival da Fertilidade! Ela convidou um vampyro
para a MCL. E ela mostrou ao mundo inteiro quão imatura, quão
juvenil...
Raphael só teve que levantar um dedo e a mandíbula da minha sogra
se fechou.
Interiormente, suspirei. Mesmo agora, com Charlotte sendo
chantageada por Monica, ainda havia uma parte dela que não conseguia
superar o quanto ela me desprezava.
Mas ela não sabia que Aiden e eu sabíamos seu segredo. Talvez seu
tom mudasse se eu revelasse que ela estava enchendo os bolsos com
dinheiro da MCL.
Raphael se virou para olhar para mim novamente. — Você diz que
tem provas de que seus direitos pessoais foram violados?
Peguei meu celular e toquei na tela para carregar o vídeo que Michelle
e eu tínhamos filmado do lado de fora do escritório de Monica ontem.
Entreguei o celular ao Alfa do Milênio, e ele o pegou com a testa
franzida.
Duas figuras desfocadas começaram a falar.
— Eu me pergunto quanto tempo vai demorar para que as ofertas
comecem a rolar... — disse Monica Birch na tela.
Eu olhei para ela do outro lado da mesa. Seu rosto estava
mortalmente branco.
— Não gostei de roubar o diário daquele curandeiro, — dizia a voz de
Curtis.
O cameraman olhou para mim e deu um pequeno aceno de cabeça.
Não foi nada difícil convencê-lo a enganar Monica fazendo com que ela
se entregasse enquanto filmávamos.
Não achei que ele fosse tão submisso quanto ela acreditava.
No vídeo, a voz de Monica estava presunçosa com a vitória. —
Pegamos o diário. A prova está aí. A cadelinha do Alfa vai cair fora. Está
tudo dando certo — Há mais? — Raphael perguntou, olhando por cima
da tela.
— É basicamente isso, — eu respondi.
Ele me devolveu o celular e, em seguida, fixou o olhar em Monica
Birch.
— Eu... hm... — seus olhos se voltaram para cada um de nós.
Então, sem aviso, ela saiu correndo da sala.
Seu cameraman ficou, e a luz vermelha estava piscando.
Imaginei que Monica iria fugir, então pedi a Curtis para ficar.
Afinal, não gostaríamos de atrapalhar a audiência ao vivo.
— Deixe-a ir, — disse Aiden. — A segurança vai lidar com ela. Ainda
há um problema maior que precisamos resolver.
Aiden

— Não importa se a prova foi roubada. Ou se o diagnóstico do meu


cônjuge é real ou não.
Olhei para Sienna, que havia bolado um plano para derrotar Monica
em apenas um dia.
Meu coração ardia de amor por ela — por sua força e coragem.
— O problema é a própria lei.
Raphael ergueu as sobrancelhas, inclinando-se para trás enquanto
ouvia.
— Mesmo séculos atrás, ela nunca deveria ter sido criada, — eu
continuei.
— Devido às trágicas mortes de companheiros acasalados, nossa
sociedade tem uma quantidade enorme de ór ãos, — eu disse. — Quem
pode dizer que uma dessas crianças, criada por um Alfa, não poderia ser
um herdeiro adequado?
Eu encontrei os olhos de Sienna. Eles estavam cheios de emoção
quando ela olhou para mim.
— Eu amo minha companheira, — eu disse. — Eu a amo mais do que
minha própria vida. E você gostaria que eu a abandonasse... e levasse
outra mulher para a cama para ter filhotes?
Inclinei-me para frente em direção a Raphael. — Você sabe melhor do
que ninguém o que é encontrar sua companheira depois de anos de
procura. Conhecer a centelha divina — o dom único e precioso desse
compromisso.
— Como alguém poderia esperar que eu manchasse esse vínculo por
algo tão político e sujo como garantir uma linha de sucessão? Sienna foi
feita para mim, e eu fui feito para ela.
Eu me levantei da minha cadeira e fui até minha companheira. Ela se
levantou e deu um passo em direção aos meus braços, que esperavam por
ela.
— Ninguém vai me separar dela, — eu disse. Rompendo com o abraço
de Sienna, encarei Raphael Fernandez de frente.
— Você tem o poder de derrubar esta lei. Eu peço que você faça isso
agora. Hoje.
Raphael nos olhou com seu usual olhar calculista. — Essa é uma
declaração bastante emotiva, Alfa Norwood.
Prendi minha respiração. Ao meu lado, os dedos de Sienna se
enroscaram nos meus.
— Alguém presente se opõe à remoção desta lei específica do
regulamento da Matilha? — ele perguntou com um olhar penetrante
para Etienne Tremblay.
O Alfa da Matilha Canadá não disse nada, mas eu podia sentir a
humilhação e submissão vindo dele em ondas.
— Bem, então, Aiden, parece que a lei não existe mais, — disse
Raphael. Pela primeira vez, percebi uma pitada de humor em seus olhos.
Ele se levantou e olhou para Etienne. — Tremblay, acredito que você
e eu precisamos ter uma conversa sobre o que constitui 'uma emergência
moral'.
— Sim, meu Alfa, — disse Etienne, visivelmente tremendo.
Eles saíram da sala. O mesmo fez Hanh, e um momento depois
Michelle, que não tinha falado uma única palavra, mas que eu senti
torcendo por Sienna o tempo todo.
Virei-me para minha companheira e a beijei com todo o fervor que
rugia em minhas veias.
Monica

— Você transmitiu ao vivo a coisa toda? — Gritei com Curtis. Eu ainda


estava sendo mantida pela segurança da Casa da Matilha, e ele tinha
acabado de sair da sala de jantar.
Eu precisava dar o fora daqui e rápido. Aiden Norwood estaria
procurando por mim.
— O que você estava pensando? — Eu disse a Curtis.
— Talvez ele tenha uma responsabilidade com seus telespectadores,
Monica, — uma voz grave me chamou por trás.
Meu coração parou.
Era o Alfa Norwood.
Eu me virei e o encarei, apertando minha mandíbula.
— Mostrar a eles a verdade de quem você realmente é, — continuou
Aiden.
Sienna estava ao lado dele. Eu queria voar para ela com minhas
garras, arrancar seus malditos olhos.
No entanto, me segurei.
Meu instinto de sobrevivência foi mais forte do que minha raiva.
Ele se aproximou com cada palavra. — Você. Vai. Sair. Do meu.
Território.
Ele se inclinou. — Você. NUNCA. Irá. Voltar.
Tentei responder, mas engasguei com minhas palavras. Não saiu
nada.
— Você nunca mais entrará em contato comigo, minha mãe ou
qualquer pessoa da minha família novamente.
Ele sabia sobre Charlotte...
Minha mente estava vazia de medo — uma emoção que eu não sentia
há anos.
Aiden se inclinou, sussurrando. — E se você fizer isso, eu vou te
matar. Ou melhor ainda, vou deixar Sienna fazer isso.
Sienna

Meu celular vibrava enquanto mensagens de meus amigos começaram a


chegar, me parabenizando — eles tinham visto a coisa toda ao vivo.
Aiden e eu ficamos de mãos dadas quando ele se virou para voltar
para a reunião, mas então Charlotte apareceu.
Michelle a seguia de perto.
Minhas costas enrijeceram.
Aiden franziu a testa, olhando de mim para sua mãe.
— Parece que você está escondendo alguns segredos desagradáveis,
mãe.
Charlotte empalideceu. — Como você soube?
— Sienna ouviu Monica. Temos a filmagem, se você quiser ver. Mas,
felizmente para você, Sienna decidiu editar essa parte, então Raphael não
descobriu o que você tem feito.
Sua boca abriu e fechou sem palavras.
— Eu disse para você ficar longe, — disse Aiden.
Charlotte balançou a cabeça com as mãos levantadas. — Por favor,
filho, eu só estava tentando fazer o que é melhor para você. Essa garota...
ela é simplesmente inadequada!
Aiden deu-lhe um sorriso ameaçador. — De certa forma, estou feliz
por você ter desviado dinheiro. Isso significa que você nunca vai poder
me dizer o que é 'apropriado' novamente.
Charlotte parecia dividida entre a vergonha e a raiva. Finalmente, ela
baixou os olhos e me coloquei entre eles.
— Você já fez o suficiente, — eu disse a Charlotte. — E você já disse o
suficiente. É hora de pegar seu marido e partir para outra viagem ao Taiti
ou a qualquer lugar que você preferir.
— Como ousa tentar me banir, — Charlotte se irritou.
— Jamais, — eu disse. — Você não está banida. Afinal, fui eu que a
convidei de volta à minha vida.
— Mas aquilo foi um erro, — eu disse. — Um que eu não cometerei
novamente. E se você quiser ter alguma chance de um relacionamento
com seu filho, estou lhe dizendo agora: desapareça por enquanto Eu
continuei, — E no futuro, você não vai me tratar como se eu estivesse
abaixo de você. A menos que você queira que a versão não editada da
filmagem de Monica vaze por toda a Internet.
Ela olhou para mim por mais um momento, então ela deu meia-volta
e saiu andando.
No corredor, mudando nervosamente de um pé para o outro, estava
Michelle.
— Eu realmente não ajudei em nada, — disse ela.
É
— Não importa, — eu disse a ela. — É bom saber que você está do
meu lado novamente.
— Claro, — ela disse com um sorriso. — Melhores amigas para
sempre, né?
Eu a abracei com força, percebendo que Michelle ainda era muito
magra e que o abraço dela estava relutante.
— Eu acho que quero encontrar Josh, — ela disse incerta.
Aqueles dois teriam algum trabalho a fazer para reparar seu
relacionamento, mas eu sabia que seu amor ainda era forte.
Assim como o de Aiden e o meu.
Eles ficariam bem, eventualmente.
— Ok. Depois eu te ligo, — eu disse.
Michelle foi embora. Eu não tinha certeza se nossa amizade seria a
mesma, mas eu fui sincera com ela.
Ele pegou minha mão. — Vou pedir a Josh para lidar com isso. É hora
de meu Beta começar a assumir mais algumas responsabilidades na Casa
da Matilha.
Então ele olhou para mim e seus olhos estavam ardendo. — Acho que
precisamos sair daqui.
Eu sorri quando minha própria luxúria começou a aumentar. —
Concordo totalmente com você.
Capítulo 30
TORTA DE MAÇÃ E NUDEZ
Sienna

Enquanto eu dirigia de volta para o nosso hotel, Aiden chamou o serviço


de quarto e pediu torta de maçã para ser entregue em nosso quarto.
Eu estava tonta — meu corpo vibrava de alegria enquanto eu liderava
o caminho.
Pegamos nossos pratos e garfos e nos sentamos juntos na cama,
sorrindo como idiotas enquanto comíamos nossa torta da vitória.
Eu estava feliz demais para tomar cuidado e, em pouco tempo, um
bocado de recheio de torta caiu na minha camisa, bem no meu peito.
Os olhos de Aiden foram para ele, e ele jogou sua torta de lado, o
prato batendo no pé da estrutura da cama com um tilintar. Ele se
inclinou para frente, um rosnado baixo soando de sua garganta.
Meu coração começou a acelerar enquanto ele lambia o recheio.
Então, em meio a uma bagunça de roupas e mãos, nos despimos um
ao outro.
Eu estava mais excitada do que nunca.
Meu companheiro.
Meu amor.
Para sempre.
Ninguém jamais poderia nos separar.
Sua boca estava na minha pele nua, na minha clavícula, nos meus
seios, na minha barriga.
Ele se moveu para baixo, em seguida, espalhou minhas coxas e
mergulhou sua língua dentro de mim, percorrendo meus lábios
enquanto eu enterrava meus dedos nas cobertas, arqueando minhas
costas.
Minha mão mergulhou em seu cabelo. Minha respiração vinha em
suspiros rápidos enquanto ele me dava prazer.
Então ele retirou sua boca, substituindo-a com os dedos enquanto
levantava seu corpo sobre o meu.
Eu o bebi com meus olhos — seus ombros fortes, peito largo, a
ondulação em seus músculos quando ele me ergueu no quadril.
— Você é minha, — ele murmurou. — Ninguém pode tirar você de
mim.
— Ninguém, — eu concordei, hipnotizada pela intensidade de seu
olhar.
Eu senti a cabeça do pênis dele empurrando contra meu sexo.
Eu alarguei minhas pernas, convidando-o a entrar.
Precisando dele.
Ele pairou um pouco mais, seus olhos viajando pelo meu corpo nu —
eu podia senti-los como uma carícia.
Minha carne respondeu, formigando com arrepios.
— Anda, Aiden, — eu implorei. — Por favor, agora.
— Você é minha, — disse ele novamente enquanto se enterrava em
meu sexo em um impulso profundo que me fez ofegar.
Ambas as mãos seguraram minha bunda enquanto ele entrava em
mim, mais forte com cada impulso.
Eu o queria, tudo dele, e envolvi minhas pernas ao redor de seus
quadris. Meus braços ao redor de seu pescoço, eu me puxei contra ele,
pele contra pele.
Enquanto meu êxtase aumentava, enterrei minhas garras quase
transformadas em suas costas.
Eu era dele, sim.
Mas ele era meu também.
Uma onda de felicidade arrancou um grito da minha garganta e me
agarrei a ele.
— Marque-me! — Eu ofeguei.
Ele olhou para mim em estado de choque.
— Faça de novo, — eu implorei. — Por favor!
Uma fome brilhou em seus olhos e, em um instante, senti seus
caninos perfurarem a carne do meu pescoço. Eu gritei quando um
líquido quente escorreu pelo meu peito.
Eu mal conseguia respirar.
Mas eu não gozei. Gritando meu prazer em um uivo gutural, usei
minha força restante para mudar minhas próprias presas e perfurei o
pescoço do meu companheiro em troca.
Ele soltou um gemido de dor e prazer e me mordeu ainda mais forte
enquanto empurrava dentro de mim uma última vez.
A emoção percorreu meu corpo enquanto íamos para frente e para
trás, tremendo de euforia.
Eu gozei, e um momento depois, Aiden também.
Nós convulsionamos como um só ser. O êxtase queimava aquilo que
nos separava — carne, osso. Éramos uma só alma, fundidos.
Eu quero ser assim para sempre.
Unida a ele, para sempre.
E me ocorreu — Aiden estava certo.
Essa conexão era divina.
Quando finalmente o êxtase diminuiu, nós nos enrolamos juntos.
Deitamos de lado, e ele passou os braços em volta de mim, segurando
meu seio por trás. Aiden adormeceu quase imediatamente.
Eu logo o segui, finalmente segura.
Passamos o resto do dia enfurnados em nosso quarto de hotel,
solicitando serviço de quarto.
Na manhã seguinte, porém, toda aquela comida chique me fez mal —
sem falar na torta. Eu me senti enjoada enquanto tomava banho e me
vestia.
Aiden sorriu e me beijou enquanto fazia o mesmo, é cedo demais, nós
seguimos nossos caminhos separados durante o dia.
Ele tinha negócios com a matilha e eu tinha algumas pinturas para
fazer.
Encolhi os ombros para evitar a náusea e corri para a minha galeria.
Conforme eu misturava cores em minha paleta, olhando ao redor do
meu estúdio, uma profunda sensação de bem-estar me aqueceu.
Que vida boa eu tinha.
Fiquei muito, muito grata.
E pela primeira vez em muito tempo, mal podia esperar para ver o
que o futuro me reservava.
Josh

Inalando profundamente, entrei no escritório de Aiden.


Ele estava lendo a pilha de documentos que eu coletei para ele na
reunião que ele optou por ignorar.
O aborrecimento com sua irresponsabilidade guerreou com a
satisfação por ele ter me pedido para ocupar seu lugar.
Por um tempo, sentado naquela mesa, eu tive uma amostra de como
seria se Eu fosse o Alfa da MCL.
Mas durou pouco tempo, e agora, ali estava eu, tendo que pedir a
Aiden para fazer algo sobre o que eu tinha aprendido sobre Konstantin e
os ossos.
— O que posso fazer por você, Josh? — ele perguntou finalmente.
— Não acredito que Konstantin esteja realmente morto, — eu disse.
E então me sentei e contei a ele tudo o que havia aprendido. Tudo
sobre o Museu Jalwitz, a sepultura de pedra, os clones no Morgantown
Theatre e o que Eve havia dito.
Posso ter deixado de fora a parte sobre a lama e o relógio. Afinal, eu
não queria ser despedido na hora.
Aiden balançou a cabeça.
— Konstantin está morto, — afirmou, apesar de tudo o que eu
acabara de lhe dizer. — Eu o matei com minhas próprias mandíbulas.
— Aiden...
Ele ergueu a mão. — Josh, você pode relaxar agora. Michelle pode
relaxar. Sienna também. Elas estão seguras. Konstantin está morto.
— Mas os clones...
— Você mesmo disse que havia espelhos por toda parte. E
honestamente, Josh, você tem bebido demais...
Eu zombei e me levantei.
— Eu digo isso como seu amigo, — Aiden prosseguiu, levantando-se
também. — Fale com um curandeiro. Talvez procure um programa de
reabilitação...
— Isto é inacreditável!
Eu encontrei seus olhos e o encarei.
— Você não suporta a ideia de que pode estar errado! Que ele te
enganou de novo! Tentando me fazer parecer um alcoólatra...
— Quantas bebidas você bebeu até agora? — Aiden perguntou, seus
olhos frios.
Cerrei os dentes, recusando-me a responder.
— São dez horas da manhã, Josh, em uma maldita quinta-feira.
— Vai se foder, Aiden, — eu respirei.
Suas sobrancelhas se ergueram. — Perdão?
Eu estava com muita raiva para tentar voltar atrás, mas sabia que
tinha ultrapassado os limites. Ele era meu Alfa — apesar de tudo.
Ele deu a volta na mesa, aproximando-se. — Eu vou dizer isso uma
vez só, Josh, e é uma ordem. Fale com um curandeiro. Procure saber
sobre reabilitação. Ou vou encontrar um novo Beta.
Eu levantei minhas mãos e me virei, saindo da sala.
Sienna
Jocelyn: Oi, Sienna.

Sienna: Joce!
Sienna: Meu Deus!

Sienna: Faz muito tempo que não nos


falamos! Como você está??!

Jocelyn: Muito melhor.

Jocelyn: Eles disseram que estou fazendo um bom progresso

Jocelyn: Disseram-me que logo estarei bem o suficiente para


voltar para casa.

Sienna: Que notícia maravilhosa!

Sienna: não sei se já tive a chance de


agradecer direito

Sienna: Se não fosse por você, Michelle não


estaria aqui.

Jocelyn: ; )
Sienna: Estou tão feliz que você esteja se
sentindo melhor. Estou feliz que os
curandeiros cuidaram bem de você...

Jocelyn: Sim, bem... eles não são a única coisa que me trouxe
de volta à vida.

Sienna: ?

Sienna: 😮(emoji de olhos arregalados)

Sienna: adoro um suspense

Jocelyn: Digamos que há alguém de volta na minha vida.

Jocelyn: que eu estou muito feliz de ter de volta na minha vida

Sienna: 😮 (emoji de boca aberta)

Jocelyn: Enfim, eu não posso usar celular aqui


Jocelyn: Só queria dizer oi e que estou viva.

Sienna: Ok! Foi ótimo falar com você!

Jocelyn: Com você também. Até logo.

Sienna: ❤

Fiquei muito feliz em ter notícias sobre Jocelyn novamente. Não sei o
que teria feito se as coisas tivessem piorado.

Naquela noite, Aiden e eu dirigimos para a casa dos meus pais para um
jantar em família.
Mamãe nos cumprimentou na porta com abraços e beijos.
Ela sorriu para Aiden.
— Fiquei muito orgulhosa com tudo o que você disse naquela
reunião, Aiden, — disse ela. Lágrimas brilharam em seus olhos. —
Significou muito.
Então ela me agarrou e me abraçou novamente.
— Eu não tinha ideia de que eles estavam tentando expulsar você, —
ela disse em meu cabelo. — Eu teria esfolado aquela Monica Birch viva se
eu soubesse!
— Eu sei que você teria, mãe, — eu disse, mesmo com ela me
estrangulando.
Depois de me libertar, vi meu pai esperando atrás dela.
Eu sorri para ele e dei-lhe um grande abraço.
— Como você está, querida? — ele perguntou suavemente. — Passou
por muita coisa difícil?
Peguei suas mãos e encontrei seus olhos. — Foram difíceis por um
tempo, mas as coisas estão muito melhores agora.
— Fico feliz, — disse ele, expirando.
Selene e Jeremy entraram no corredor. Jeremy estava segurando a
bebê Vanessa, exibindo-a para Aiden.
— Você nunca para de se preocupar com eles, — papai disse a Jeremy,
passando o braço pelo meu ombro.
— É só a preocupação que muda, — acrescentou ele com uma risada.
Eu estava sorrindo também, mas uma faísca de ansiedade me levou a
deslizar minha mão na de Aiden.
Será que algum dia conheceremos as alegrias e desafios da paternidade?
— Vamos, pessoal, vamos comer, — disse papai, conduzindo-nos para
a sala de jantar.
Meu estômago embrulhou com o cheiro da comida, no entanto, e eu
fiquei para trás.
A náusea estava me incomodando o dia todo.
— Você está bem, irmã? — Selene perguntou, pegando meu braço
quando eu soltei a mão de Aiden, deixando-o ir para que ele pudesse se
oferecer para ajudar a trazer comida da cozinha.
Eu sorri para ela enquanto estávamos no corredor de entrada. —
Acho que sim. Estou me sentindo um pouco tonta hoje. Provavelmente o
resultado de todo aquele estresse.
Selene ergueu uma sobrancelha curiosa. — Você acha? Ou poderia ser
algo mais?
Eu olhei seriamente para ela, genuinamente insegura do que ela
queria dizer.
— Será que você está grávida? — ela se inclinou e sussurrou.
Minha garganta se apertou.
— Não, — eu disse.
Selene balançou a cabeça.
— Hanh não tinha certeza... Talvez você devesse fazer um teste.
Eu zombei, mas meus olhos estavam fixos nos dela.
— Você sabe que quer, — ela sorriu.
— Eu não... eu não tenho um teste para fazer...
— Eu tenho. Um velho que está guardado no bolso lateral da minha
bolsa por tipo, um ano, mas...
Ela agarrou a bolsa e tirou o teste, ainda na embalagem.
Eu pisquei para a coisa. Em sua embalagem, parecia um absorvente
interno.
Mas não era um absorvente interno.
Este pequeno objeto me diria algo muito, muito importante.
E se sair negativo?
Então isso não significa nada. Respire fundo.
Eu respirei fundo, sentindo o cheiro de peixe frito enquanto Aiden o
carregava. Meu estômago embrulhou.
— Ok, tudo bem, — eu disse. Peguei o teste da mão dela.
Enquanto eu caminhava para o banheiro do térreo, ouvi sua risada
fraca.
Isso é bobagem. Eu tranquei a porta e puxei meu jeans. Estou me
sentindo enjoada. Eu não estou grávida!
O resmungo pareceu ajudar a acalmar meus nervos, então continuei
fazendo isso enquanto fazia xixi no teste.
Selene é louca por bebês. Ela está vendo bebês em todos os lugares. Eu não
estou grávida.
Colocando o teste no balcão, recusei-me a olhar para ele enquanto
lavava as mãos.
De qualquer maneira, o teste provavelmente deve estar vencido por estar
na bolsa de Selene por uma década. Não vai mostrar nada.
Independentemente, não estou grávida.
Mas então, depois de mais um minuto, olhei para o visor.
Um sinal de adição rosa.
Puta merda.
Estou grávida.
Livro 4
Anteriormente em Lobos
do Milênio...
Sienna e Aiden estavam tentando ao máximo voltar à vida normal
novamente. Eles estavam até pensando em começar uma família! Mas
com Michelle em coma e Josh enlouquecendo ao lado dela, as tensões
eram altas.
E não ajudou o fato da repórter do Jornal da Matilha, Monica Birch,
estar sempre de olho no Alfa — ela pensava que ele era sua passagem só
de ida rumo à fama.
Depois de convencer o casal a estrelar Companheiras Reais da Costa
Leste, Monica conseguiu capturar todo o drama de Sienna e Aiden para
as câmeras — deixando seu relacionamento difícil.
Enquanto isso, Aiden e Josh saíram para caçar Konstantin e, quando o
encontraram, o destruíram. E Jocelyn, que fazia companhia a Michelle
em coma, decidiu usar a cura proibida para trazê-la de volta — ficando
inconsciente como resultado.
No Baile de Inverno, Sienna foi mais esperta que Monica e encontrou
uma maneira de revelar seus segredos sujos, livrando ela e Aiden do Pack
News de uma vez por todas.
Mas com Jocelyn se recuperando no Retiro dos Curandeiros, a
amizade de Sienna e Michelle em jogo e a crença teimosa de Josh de que
o verdadeiro Konstantin ainda está à solta, há toneladas de perguntas
sem resposta. Sem falar na menstruação de Sienna, que estava atrasada.
Então, vamos às respostas...
Sumário
1. Dois se tornam Três
2. Cuidando de Você
3. A Gruma
4. Sem Parar
5. Partindo pra Cima
6. Oh, Querida
7. Visitantes Surpresa
8. Sentindo de Novo
9. Genes Assustadores
10. Choque e Dor
11. A Caça
12. Chá de Bebê
13. Uma Mordida familiar
14. O Retorno da Ladra
15. Não se Transforme
16. Vazio Interior
17. Quem Sou eu?
18. Pai Esquecido
19. Jantar e Respostas
20. Origens de Sienna
21. Abraço dos Amantes
22. Graças a Você
23. Pai X Pai
24. Fuga da Festa
25. Essa Festa virou um Enterro
26. O Toque Afetuoso
27. Para Lumen!
28. O Banquete de Verão
29. A Vingança é Minha
30. Uma Criança Estranha
Capítulo 1
DOIS SE TORNAM TRÊS
Sienna

Ao contrário da última vez que minha menstruação atrasou, desta vez


Aiden e eu estávamos cientes de todas as informações.
Ele tinha visto meu teste de gravidez, pelo amor de Deus!
Concedido, aquele cérebro Alfa dele não foi capaz de descobrir o que
o sinal significava, mas ainda assim...
Foi o pensamento que contou.
Mas depois do jantar em família, do teste de gravidez e da
empolgação que encheu nossa casa, percebi que algo não combinava
muito.
Claro, Selene tinha me dito que o teste de gravidez era bastante
preciso — que ela e Jeremy até usaram um quando não conseguiram
alcançar Jocelyn — mas algo dentro de mim me deixava incerta.
Eu precisava da confirmação.
E eu precisava que viesse da única curandeira em quem mais confiava.
Então eu desfilei no escritório de Aiden, fazendo com que ele
erguesse os olhos da pilha de documentos em sua mesa.
— O que é isso?
— Eu não confio no teste.
Ele suspirou.
— Sienna...
— Nós temos que ir ver Jocelyn. Agora.
Eu podia ver que ele estava abrindo a boca para discutir — ele
claramente tinha muito trabalho a fazer — mas eu apenas esfreguei
minha barriga e dei a ele um olhar severo.
— O talvez-bebê e eu estamos indo. Com ou sem você.
Poucos minutos depois, estávamos entrando no carro e começando a
dirigir para o Retiro dos Curandeiros.
Jocelyn já estava lá há uma semana, e ela era a única pessoa — além de
Aiden e Selene — em quem eu confiava falar sobre a gravidez.
Havia outros curandeiros que poderíamos ir na cidade para
confirmação, é claro, mas havia apenas uma Jocelyn.
E, além disso, eu sentia falta dela.
Este foi o maior tempo que fiquei sem falar com ela desde que nos
tornamos amigas, e mal podia esperar para ver como ela estava.
Aiden tinha ouvido falar do Retiro alguns dias atrás. Uma conselheira
de lá ligou para dar-lhe uma atualização sobre a recuperação de Jocelyn.
Ela disse que Jocelyn estava se curando mais rápido do que o normal e
que estava indo bem no Retiro. Ouvir isso me deixou feliz. Mas também,
não me surpreendeu nem um pouco.
Claro, Jocelyn está se curando mais rápido do que o normal — a garota
era especial. Ela era uma amiga tão talentosa quanto uma curandeira, e
às vezes a bondade era recompensada com a bondade.
Como deveria ser.
Algumas horas depois, estávamos chegando ao Retiro dos
Curandeiros. Um atendente aproximou-se do carro.
— Você veio se registrar? — ele perguntou.
— Não, estamos visitando, — expliquei pela janela.
Ele nos encaminhou para o estacionamento de visitantes e, depois
que estacionamos, partimos para as portas principais. Fomos direto para
a recepção e a senhora sentada atrás olhou para cima.
— Como posso ajudá-los?
— Estamos procurando por Jocelyn, a curandeira da Matilha da Costa
Leste. Eu sou o Alfa dela, — Aiden apresentou.
— Olá, Alfa. — A senhora acenou com a cabeça para ele. — Venha
comigo, por favor, por aqui.
Nós a seguimos pelo saguão e até o elevador. Quando as portas do
elevador se abriram, ela pressionou o sétimo andar para nós.
— Assim que você chegar ao sétimo andar, vire à esquerda e continue
em frente até chegar ao quarto 210. Ela estará lá.
— Ótimo, obrigada, — eu disse, sorrindo para a mulher.
As portas se fecharam, deixando Aiden e eu sozinhos novamente. Ele
agarrou minha mão e apertou, de alguma forma me tranquilizando sem
dizer nada.
Quando chegamos ao quarto de Jocelyn, bati na porta.
Poucos segundos depois, ela estava se abrindo, e Jocelyn, vestida de
linho branco da cabeça aos pés, parou na nossa frente. Antes que eu
pudesse perceber o quão angelical a garota parecia, eu estava jogando
meus braços em volta dela.
— Jocelyn! — Eu gritei. — É tão bom ver você.
Ela me apertou e eu pude sentir positividade irradiando dela.
— Você também, Sienna. Uau, é incrível ver rostos familiares. — Nós
nos soltamos e ela abraçou Aiden. — Oi, Aiden.
— Jocelyn, você está ótima, — ele a cumprimentou, deixando-a ir
depois de alguns segundos. — Parece que este lugar tem sido bom para
você.
— Realmente tem. — Ela acenou com a cabeça. — Entre, por favor.
Eu te ofereceria algo para comer, mas não temos permissão para
cozinhar aqui.
— Não, tudo bem. Não queremos interromper nada do que você está
fazendo.
— Não seja boba. Vocês dois nunca são uma interrupção. Sentem-se,
— ela nos disse, apontando para um pequeno sofá contra a parede.
Aiden e eu sentamos.
— Agora me diga, o que está acontecendo? Posso sentir que algo está
tomando conta de suas mentes.
Eu olhei para Aiden, e seus olhos encontraram os meus. Ele me deu
um leve aceno de cabeça, e então me virei para enfrentar Jocelyn,
embalando a mão de Aiden no meu colo.
— Estou atrasada. Uma semana e meia desta vez, Jocelyn. Eu fiz um
teste de gravidez, mas não vou acreditar até que você... bem, até que
venha de você.
Jocelyn sorriu — mas então ela suspirou.
— Não devo fazer nenhum tipo de ritual de cura enquanto estou aqui
dentro.
A decepção nublou meu rosto antes que eu pudesse impedir, e eu
sabia que Aiden tinha a mesma expressão em seu rosto, mesmo sem
olhar para ele.
Tínhamos dirigido todo esse caminho e Jocelyn era a melhor.
A mais gentil.
Queríamos que ela estivesse conosco em todas as etapas da jornada.
— Nós entendemos, — eu disse suavemente. — Não queremos
colocar você em apuros ou interferir em sua recuperação. — Eu me
levantei, puxando Aiden comigo. — Tenho certeza de que há uma
curandeira adequada na cidade que pode ajudar...
— Não. Pare, sente-se, — Jocelyn disse, seu tom certo e forte. — É
fácil, este ritual. Sienna, se você pudesse se deitar na cama...
Assim que eu estava de costas com minha camisa enrolada, Jocelyn
colocou suas mãos em mim.
— Vamos? — Eu perguntei depois de um momento. Minha
impaciência estava explodindo dentro de mim.
Eu precisava saber e agora.
Ela olhou para mim, seus olhos brilhando.
— Vamos? — Aiden exigiu atrás dela.
Aiden

Um mês se passou desde que Sienna e eu descobrimos por Jocelyn que


estávamos realmente, verdadeiramente, inegavelmente tendo um bebê, e
puta merda,era o mês da nossa vida.
Quatro semanas de nada além de sexo carinhoso, conversas
esperançosas sobre o futuro e uma conexão com Sienna de uma forma
que eu nunca imaginei ser possível.
E naquele dia era nosso aniversário de dois anos de cerimônia de
acasalamento.
Sienna continuou tentando se arrumar — aplicando a maquiagem,
colocando a blusa — mas eu continuei distraindo-a.
Eu não pude evitar.
A garota era facilmente a coisa mais bonita que eu já vi.
Tudo, desde seus longos cachos vermelhos até seus seios fartos, desde
a curva de seus quadris até suas longas pernas, eu não podia apenas olhar
para ela.
Eu tive que senti-la.
Ela estava borrifando o cabelo quando eu a agarrei por trás, puxando-
a de costas para a cama. Caímos no colchão, suas risadas enchendo a sala.
— Aiden, juro por Deus, se você não parar com isso, nunca vamos
fazer a reserva!
— Que reserva? — Eu perguntei inocentemente.
— Ah, você sabe, apenas a nossa reserva de aniversário, — ela
respondeu.
— Vamos pular.
— Aiden, não. Dois anos é muito tempo, e precisamos comemorar!
Além disso, estou morrendo de fome. — Ela tentou se levantar, mas eu a
segurei com força, mantendo-a pressionada contra mim.
— Me larga, — ela exigiu.
— Nunca.
— Aiden, vamos. Não. Não… — ela ordenou, sentindo minha dureza
debaixo dela. Eu estava olhando para ela. Com aquele olhar: Estou-
ficando-louco-e-preciso-de-você-agora.
— Aiden Norwood, controle-se.
— É impossível quando estou perto de você.
Ela estreitou os olhos e abaixou o rosto até que não houvesse nada
mais do que um centímetro entre nossos lábios.
— Me solte e eu vou beijar você, — ela disse suavemente, sua voz doce
me excitando ainda mais.
Imediatamente, tirei meus braços de suas costas, mas em vez do beijo
lento, apaixonado e longo que eu esperava, Sienna apenas me deu um
selinho e então saltou, colocando um par de saltos em seus pés.
— Vamos, seu trouxa. Eu não quero chegar atrasada.
Eu gemi e então me levantei, endireitando meu suéter.
— Você está me matando, — eu disse a ela.
— Quem espera sempre alcança, — ela respondeu com um sorriso,
pegando sua bolsa e saindo da sala.
Sienna

— Não vejo a hora de comer. Só você e eu, uma mesa tranquila, uma
garrafa de — bem, não de vinho — mas de alguma coisa... — Eu parei
enquanto nos dirigíamos para o restaurante.
Aiden acenou com a cabeça junto comigo.
— Mhm, um jantar tranquilo. Com certeza. Mal posso esperar.
— Aiden Norwood, — eu disse, virando-me para ele. — Diga-me que
você fez a reserva do jantar para nós e apenas para nós, como eu pedi.
— Só nós. — Ele balançou a cabeça rapidamente, mantendo os olhos
na estrada. — Como você pediu.
— De alguma forma, não estou tão tranquila.
— Sienna, querida, eu faria algo para ir contra seus desejos e forçá-la a
fazer algo para o qual não estava preparada?
Eu olhei para seu perfil novamente, desta vez percebendo seu sorriso.
— Eu não sei, e você?
Dirigimos até o manobrista e Aiden abriu a porta, saindo e
entregando as chaves a ele.
Suspirei, tomando sua falta de resposta como uma indicação do que
eu estava prestes a enfrentar.
Meus desejos por uma noite tranquila com meu companheiro se
dissolveram enquanto eu saía do banco do passageiro, caminhando para
pegar a mão de Aiden.
Ele não me olhou nos olhos, o que significava apenas uma coisa.
Meu querido companheiro estava com medo de ser pego.
Inclinei-me para beijá-lo e percebi que ele ficou surpreso ao ver como
suas sobrancelhas se ergueram.
Assim que me afastei de seus lábios, sussurrei em seu ouvido:
— Eu sei que você está tramando algo, Alfa. — E então eu saí,
andando na frente dele para o restaurante.
Assim que pisei dentro das portas, um coro de — SURPRESA! — soou
por toda a sala.
Mesmo sabendo que algo diferente de uma reserva silenciosa para
dois estava chegando, eu não tinha ideia de que seria uma festa surpresa!
Eu gritei de alegria, observando os rostos de todos que amava ao meu
redor.
Minha mãe e meu pai correram para me abraçar primeiro, seguidos
por Selene e Jeremy, que estava segurando a pequena Vanessa.
Em seguida vieram Michelle e Josh, e depois deles estavam Mia, Harry
e Erica, cada um dos meus velhos amigos esperando pacientemente pela
sua vez de dizer — Feliz aniversário.
Olhei por cima do ombro para Aiden, que não estava nem tentando
esconder o quão satisfeito estava com a surpresa — ou consigo mesmo.
— Peguei você, — ele me disse. — Você pulou!
— Eu não, — eu respondi, cruzando os braços em uma raiva falsa.
A verdade é que eu estava em êxtase. Isso era melhor do que ter um
velho jantar tranquilo qualquer noite.
Depois que todos nós nos sentamos na mesa comprida, os garçons
começaram a nos trazer comida. Parecia um fluxo interminável de prato
após prato, todos cheios de nossos favoritos: antepastos, carpaccios,
massas e pizzas suficientes para durar uma vida inteira.
Eu flagrei o olhar de Aiden através da mesa depois de me encher o
suficiente com carboidratos e água com gás.
Seus olhos brilharam para mim e eu pude ver a travessura por trás
deles. Ele tinha algo diferente de comida em sua mente, ele estava me
olhando com aquele olhar e estava me excitando.
Ele disparou seus olhos para o corredor onde ficavam os banheiros e
então olhou para mim.
Eu balancei a cabeça, entendendo imediatamente.
E então me virei para Selene ao meu lado, dizendo:
— Com licença, — enquanto empurrava minha cadeira para trás da
mesa e me levantava.
Eu andei pelo corredor até o banheiro feminino e, assim que entrei,
chamei.
— Olá?
Não houve resposta. Estava vazio.
Perfeito.
Alguns momentos depois, houve uma batida na porta.
Eu abri, e no segundo que eu abri, Aiden estava em cima de mim.
Ele me empurrou contra a parede, beijando meus lábios primeiro,
depois meu pescoço, raspando seus dentes contra minha pele.
Meus olhos se fecharam em êxtase.
Ele estava se abaixando, massageando-me em todos os lugares
enquanto descia — meus seios, minha cintura, meus quadris — e então
ele estava no cós da minha calça jeans, desabotoando-a.
— Espere, — eu disse a ele. — Tranque a porta.
Ele se levantou e foi até a porta.
— Não há fechadura, — disse ele. — A cabine.
Levamos menos de um segundo para chegar à primeira cabine, e
então começamos como adolescentes.
Pior, como lobisomens adolescentes.
Vários membros, por todo o lugar. Ele estava esfregando minha
calcinha, e então seus dedos mergulharam sob ela e me tocaram sem
nada em seu caminho.
— Oh, Deus, Aiden, — eu gemi.
— Você é tão sexy, — ele rosnou em meu ouvido. — Estou muito
animado para começar uma família com você.
— Você vai ser o pai mais gostoso de todos, — murmurei de volta,
seus dedos se movendo cada vez mais rápido.
Eu estava perdendo o controle, completamente no limite, pronto para
explodir.
— Ah, assim, isso!
Eu voei para fora da borda, meu corpo contra a porta do box. Aiden
me segurou com força, mas continuou movendo os dedos,
desacelerando-os pouco a pouco enquanto eu voltava do meu orgasmo.
— Jesus, — eu disse suavemente, recuperando o fôlego.
— Feliz Aniversário. — Ele sorriu para mim, levando os dedos à boca e
sugando-os até secar.
Michelle

Esperei até Sienna e Aiden terem terminado sua pequena sessão de foda
na cabine ao lado da minha antes de sair do banheiro, dando-lhes alguns
minutos para começarem.
Mas assim que voltei para a mesa, peguei meu copo e bati uma faca
contra ele.
Eu não estava agindo com raiva. Não me interpretem mal, fiquei feliz
por eles.
Mas como ousam manter um segredo como este? Como ousam não
dizer às pessoas que mais os amam que estão prestes a ter uma porra de
um bebê?
— Com licença, pessoal, gostaria de fazer um brinde, — gritei para a
mesa, levantando-me da cadeira. Toda a conversa morreu e todos os
olhos estavam em mim.
— Feliz aniversário para minha querida amiga e seu adorável
companheiro. Sienna e Aiden, eu amo muito vocês.
— Nós amamos você, — Sienna gritou de volta.
— E estou tão animada com tudo que este novo ano vai trazer para
vocês dois! Sienna, estou feliz que você comeu todo aquele espaguete,
porque — todos, ouçam bem quando eu digo isso — agora ela está
comendo por dois! Parabéns, pessoal!
Se eu pudesse ter tirado uma foto do olhar que Sienna e Aiden
trocaram, eu teria.
O choque foi impagável.
Sentei-me novamente, esperando o caos se desenrolar.
Capítulo 2
CUIDANDO DE VOCÊ
Sienna
Mia: HUMMM, OLÁ SIENNA.

Mia: BOM DIA, AMIGA.

Mia: Suas best's só queriam te dizer...

Mia: NÃO ACREDITAMOS QUE TÁ GRÁVIDA!!!

Erica: Você saiu tão rápido que não conseguimos dizer


PARABÉNS.

Michelle: Eu concordo com as garotas.

Michelle: Precisamos de uma comemoração.

Mia: Estão todas pensando no que eu estou pensando?!?!

Erica: (5 emojis de Bebê)

Mia: Lol EXATAMENTE Erica

Mia: O MAIOR

Mia: chá de bebê

Michelle: chá de bebê!!!

Michelle: YAAAAS

Michelle: Eu fecho.
Michelle: Sienna?

Michelle: Você está aí?

Erica: Alôôô Sienna ???

Mia: Gente, ela deve estar ocupada com coisas de GRÁVIDA.

Meu celular vibrou ao meu lado no banco do passageiro e, uma vez que
começou a vibrar, não parou mais.
Eu podia ver os nomes das minhas amigas aparecendo na tela, um
após o outro, mas eu não tinha coragem de ler as mensagens.
Eu sabia do que se tratava.
E eu ainda não tinha superado o que aconteceu na noite passada.
Depois que Jocelyn disse a Aiden e a mim que havíamos feito isso —
criamos uma nova vida, e ela estava crescendo dentro de mim —
concordamos em manter a notícia para nós mesmos.
Não para sempre, obviamente, mas apenas até termos certeza de que
não haveria complicações.
Não é que eu fosse paranoica nem nada. Eu não pensei que nada de
ruim iria acontecer comigo ou Aiden ou o bebê.
Eu só não queria dar grande importância a nada até que estivéssemos
absolutamente certos de que tudo estava bem.
Então Aiden e eu decidimos esperar mais duas semanas até que o
bebê estivesse na marca de oito semanas antes de contarmos a alguém.
Mas Michelle claramente não estava interessada nesse plano.
Não sei como ela descobriu.
Talvez ela tenha ouvido Aiden e eu conversando sobre isso no
restaurante, embora tenhamos tentado ser superdiscretos sobre isso.
Ou talvez Josh nos ouviu conversando no escritório de Aiden na Casa
da Matilha.
De qualquer forma, não fiquei exatamente surpresa.
Se havia algo que Michelle era boa em fazer, era descobrir coisas e
voltar a atenção para ela. E na noite passada, em nossa festa de
aniversário, ela fez as duas coisas.
Então, sim, eu estava um pouco abalada.
Ao contrário dela, eu não gosto de ter toda essa atenção em mim.
Especialmente porque foi tão inesperado.
Estacionei o carro e peguei meu celular, desligando-o antes mesmo de
ler as mensagens. Estava vibrando durante toda a manhã. Recebi ligações
de minha mãe, Selene e até de Jeremy antes de parar de olhar para a tela.
Antes de lidar com qualquer coisa ou pessoa, precisava de café. E
então eu precisava ficar sozinha para poder resolver isso em paz.
Eu corri para o café, rezando para que ninguém que eu conhecia
estivesse lá dentro. Eu sabia que não poderia lidar com qualquer tipo de
interação animada agora.
Eu exalei quando abri a porta e vi alguns adolescentes, mas ninguém
mais.
— Um latte de baunilha grande, — eu pedi, sorrindo para o barista no
balcão. Paguei e, enquanto esperava minha bebida do outro lado do bar,
não pude deixar de me perguntar se estava exagerando.
Não era como se alguém estivesse fazendo algo errado.
Eles descobriram boas notícias sobre Aiden e eu, e eles amavam Aiden
e eu, então é claro, eles iriam tentar nos parabenizar e comemorar.
Esse era um instinto normal.
Até para Michelle!
Talvez ela não tivesse feito aquilo para chamar atenção. Talvez ela
apenas estivesse genuinamente feliz por mim, sua suposta melhor amiga,
e quisesse ter certeza de que todos os outros me banharam com o mesmo
amor.
Talvez todos estivessem certos. Devíamos estar felizes.
Não, devíamos estar em êxtase.
Devíamos querer comemorar.
Devíamos querer falar sobre isso sem parar.
Mas você estava em êxtase, eu me lembrei. Ontem. Antes que todos
descobrissem.
Suspirei, agradecendo ao barista e pegando minha bebida antes de
voltar para a porta. Minha cabeça estava girando. Eu não sabia o que
pensar.
Tudo que eu sabia era que, hoje, precisava de espaço.
Muito espaço.
Josh

Fiquei na frente da mesa de Aiden, tentando fazê-lo ouvir. E não apenas


daquele seu jeito falso de dizer estou ouvindo.
Eu precisava que ele realmente ouvisse.
Mas, no fundo, eu sabia que não estava funcionando. Eu podia ver
seus olhos vidrados, seus dedos tamborilando nos joelhos sob a mesa.
Eu senti como se tivesse estado aqui, nesta mesma posição,
gesticulando da mesma maneira para as mesmas coisas, um milhão de
vezes nas últimas semanas.
Mas era porque ele não estava me levando a sério.
— Aiden. Eu estou te implorando. Concentre-se no que estou
dizendo por três malditos segundos.
— Josh, estou ouvindo você há um mês. Eu te ouvi. Konstantin ainda
está lá fora, ele é uma ameaça para nós. Mas estou lhe dizendo, você está
atrapalhando seu próprio caminho. Isso é autossabotagem. Nós o
destruímos. Você precisa deixar para lá...
— Mas é isso! Nós não o destruímos! O artefato que ele roubou do
museu, o osso do alossauro, permitiu que ele fizesse clones de si mesmo.
Nós não o matamos, Aiden. Matamos um clone que parecia com ele.
Aiden me olhou nos olhos, mas eu poderia dizer que ele não estava
acreditando. Foda-se. Eu não sabia o quão mais claro eu poderia deixar
aquilo.
— Josh, uma tonelada de coisas, um monte de drama, aconteceu com
todos nós no ano passado. Entendo. Mas eu não acho que criar isso... essa
teoria vai ajudar alguém.
— Você se lembra de Eve? Companheira de Raphael?
Aiden acenou com a cabeça.
É
— É claro. A mulher de olhos roxos.
— Certo. Falei com ela quando ela foi ao Baile de Inverno. Ela é uma
vampira e sabe tudo sobre vampyros e quais são seus poderes.
— Aonde você quer chegar com isso, Josh?
Respirei fundo e falei as palavras seguintes com clareza, para que ele
não tivesse problemas para me entender.
— Enviei a ela todas as minhas informações e ela me disse que os
vampyros que têm aquele osso têm o poder de transformar qualquer um
em um reflexo de si mesmos. Eles podem drená-los e então, bam,
transformá-los em um clone. É simples assim. A medula óssea
desbloqueia o poder.
Eu vi o telefone de Aiden acender na mesa, vibrando com uma nova
mensagem.
Não atenda, Aiden.
Vamos lá.
Seja um bom amigo.
Seja um bom Alfa.
Mas então seus olhos se voltaram para baixo e sua mão alcançou o
celular. Suspirei, fechando meus olhos. Isso era impossível.
Aiden

Eu sabia que Josh ficaria chateado por eu verificar a mensagem recebida,


mas não podia ignorar.
Sienna havia saído de casa antes de eu me levantar esta manhã e,
depois do que houve na noite passada, fiquei preocupado com ela. Ela
não atendeu nenhuma das minhas ligações esta manhã, então eu
precisava ter certeza de que ela estava bem.
Eu exalei, vendo que as mensagens eram dela. Peguei meu telefone da
mesa.
Sienna: Oi, desculpe, não respondi esta manhã.

Sienna: Só precisava de espaço


Aiden: Espaço?

Aiden: Queria ficar longe de mim?

Sienna: Não, não só de você.

Sienna: sei lá

Sienna: Parece que todo mundo sabe tudo.

Sienna: Sabe? Eu pareço louca?

Aiden: Eu nunca te achei louca.

Sienna: Acho que só preciso ficar sozinha um pouco.

Aiden: Quanto tempo?

Aiden: Posso ir até você?

Sienna: Aiden.

Sienna: Eu só disse que precisava ficar sozinha.

Aiden: Onde você está?

Sienna: Aiden...

Aiden: Onde?

Sienna: Perto do rio.

Eu me levantei, guardando meu telefone no bolso e pegando meu


casaco das costas da cadeira.
— Ah, já terminamos? — Josh me perguntou, estalando a língua.
Eu poderia dizer que ele estava chateado, chateado por eu não estar
levando suas preocupações tão a sério quanto ele pensava que eu deveria
estar, chateado por eu ter usado meu celular durante a reunião.
Mas isso não me impediu de contornar a mesa.
— Desculpe, Josh, tenho algumas coisas pessoais pra resolver agora.
— Sim, tudo bem. Avise-me quando quiser começar a ser um Alfa
novamente. — Eu estava na porta quando o ouvi dizer isso e me virei,
apontando meu dedo para ele.
— Você precisa ter cuidado, está me entendendo? Você ainda é meu
Beta e ainda está seguindo minhas ordens.
— Terei prazer em seguir suas ordens quando elas levarem em
consideração o perigo legítimo que nossa Matilha está...
— Errado, — retruquei. — Você ficará feliz em seguir minhas ordens,
não importa o que você pense delas. Agora, dê o fora do meu escritório,
— eu disse a ele enquanto me virava e corria pelo corredor.
Talvez eu estivesse sendo duro.
Talvez meu Beta estivesse apenas tentando ajudar. Mas,
honestamente, os sentimentos de Josh não eram minha prioridade agora.
Minha companheira grávida, sentada sozinha, chateada — ela era
minha prioridade.
E eu não me importava com quem eu tinha que irritar para chegar até
ela.
Sienna

Fiquei na minha galeria por algumas horas, sentado sozinha em meu


escritório, mas o silêncio se tornou claustrofóbico. Eu precisava de
espaço, mas não queria me sentir sufocada. Eu precisava de ar fresco,
som ambiente.
Eu precisava sentir que ainda fazia parte do mundo, apenas sem a
ameaça de alguém falando comigo.
Então eu fui para o rio.
Eu costumava ir ali muito mais antes de Aiden e eu começarmos a
nos ver, mas desde que comprei a galeria, ficou mais fácil desenhar e
pintar lá.
Eu balancei minha cabeça para mim mesma.
Desde quando eu me tornei alguém que fazia coisas porque eram
mais fáceis ? Desenhar, pintar — costumava ser sobre me sentir livre.
Agora, era uma questão de eficiência?
Quem eu me tornei?
Arrastei meu lápis pelo bloco em meu colo, desenhando as árvores.
Os sons da água e o cantar dos pássaros me lembraram que a vida
continuava, como de costume.
Com ou sem minha piedade, o rio continuaria andando e os pássaros
continuariam cantando.
Foi quando ouvi um galho estalar atrás de mim. Eu virei minha
cabeça, sem ter certeza de quem ou o que iria encontrar, mas então
exalei, vendo Aiden.
— Oi, — disse ele, vindo se sentar ao meu lado na rocha. Ele estava
vestindo jeans desbotados e uma jaqueta preta, parecendo exatamente o
Alfa descolado e sem esforço. Enquanto eu me sentia a garota mais idiota
e abertamente dramática do mundo.
— Oi, — eu disse de volta.
Ele colocou a mão no meu joelho, olhando profundamente nos meus
olhos.
— O que aconteceu? — Ele perguntou, e a seriedade em sua voz me
fez sentir segura.
Como se eu pudesse dizer qualquer coisa a ele e ele não me julgaria.
— Não sei... não sei por que estou reagindo dessa maneira. Sei que são
boas notícias e devemos compartilhá-las com todos e comemorar. Mas
parece... opressor. Como se fosse demais.
— Sienna, não há maneira certa ou errada de reagir...
Eu olhei para ele, contendo as lágrimas.
— Eu só não quero ter muitas esperanças. Eu não quero me permitir
ficar animada e então...
— E então o que?
— E então tudo suma. — Ele agarrou minhas mãos, puxando-me para
mais perto dele.
— Nada vai sumir — eu não vou deixar isso acontecer, certo? Seremos
você e eu para sempre. Você é minha companheira. E você está
carregando nosso filho. Você está criando outra vida, para nós. Isso é
tudo que importa.
— Você faz isso parecer tão fácil, — eu disse a ele.
— Porque é fácil. Qualquer coisa que você precisar, estou aqui para
você, você entende isso? Você é meu mundo, Sienna. E essa coisinha
dentro de você, esse é o meu mundo agora também.
Eu olhei para ele, vi a bondade em seus olhos e soube que ele estava
certo. Éramos eu e meu companheiro contra o mundo, e isso tornava
tudo bem. Isso fez com que tudo parecesse normal.
— Sinta como quiser, — ele sussurrou em meu ouvido. — Escape se
você precisar escapar. Mas saiba que eu te amo. Não importa o que
houver.
Rowan

Eu estava do outro lado do rio, mas os vi claramente. Minha visão não


havia perdido nada de sua força ao longo dos anos.
Tentei fazer a coisa certa.
Tentei deixá-los sozinhos. Para deixá-los viver suas vidas sem
interrupções. Dei-lhes espaço por oito meses, mas uma manhã acordei e,
como se uma força magnética estivesse me puxando, eu os encontrei.
E eu os observei.
E agora, eu estava viciado naquilo.
Eu não conseguia parar.
Eu não conseguia desviar o olhar.
Eu sabia, no fundo do meu coração, ao vê-los se abraçarem à beira do
rio, que esta não seria a última vez que os observaria.
Que talvez da próxima vez, eu faria ainda mais...
Capítulo 3
A GRUMA
Michelle

Desde o segundo que Josh entrou pela porta da frente, tudo que ouvi foi
choramingo. Choramingando sobre como o Alfa não o estava ouvindo,
lamentando-se sobre como ninguém o leva a sério — choramingando,
choramingando, choramingando.
Ele ao menos se preocupou em perguntar como foi meu dia?
Como eu estava, sabendo que minha melhor amiga engravidou antes
de mim ?
Não.
Não, ele não se preocupou.
Quer dizer, fui eu quem foi literalmente colocada em coma pelo cara.
Eu deveria ter sido a única reclamando. E mesmo se eu não tivesse sido
colocada em coma por ele, eu deveria ter reclamado! Eu que deveria me
fazer de vítima, não Josh!
— Josh, — eu disse docemente, olhando direto para o meu
companheiro. Seus olhos encontraram os meus e instantaneamente seu
rosto se suavizou. Bom garoto. — Eu preciso que você pare de reclamar,
ok?
— Eu não estou reclamando, Michelle.
— Amor. Você está choramingando como uma vadia. E temos coisas
mais importantes para discutir.
— Mais importante do que um vampyro poderoso vindo atrás de
nossa matilha?
— Sim, — respondi, experimentando o sabor de um pequeno pedaço
de frango. — Como, por exemplo, que Sienna está grávida.
— E daí?
— E daí, — eu rebati. — Ela é a primeira a engravidar. Ela e Aiden
foram os primeiros a ter sua cerimônia de acasalamento, e agora eles são
os primeiros grávidos?!
— Isso não é verdade, sua amiga Mia e seu companheiro se casaram
primeiro e tiveram um filho primeiro.
— VOCÊ NÃO ESTÁ ENTENDENDO! — Eu gritei com ele.
Como ele pode ser tão estúpido?!
Ele caminhou ao redor da ilha da cozinha e, quando estava bem na
minha frente, me olhou bem nos olhos.
— Tudo bem, Michelle. Qual é o ponto?
A calma em seu tom, era como se ele estivesse me tratando com
condescendência.
Ah, nem ferrando.
Minha raiva precisava de um alívio, e cozinhar o jantar simplesmente
não iria ajudar.
— Tire suas calças.
— Como é?
— Tire suas calças. Você me ouviu, — eu disse a ele, começando a
desabotoar minha blusa. Assim que ele viu meu decote saindo do meu
sutiã de renda, ele se apressou para desabotoar o jeans.
E então ele estava em mim, me empurrando contra o balcão, beijando
meu pescoço.
— Você é tão sexy quando é espontânea, — ele rosnou em meu
ouvido.
Mal sabia o pobre menino que não era eu sendo espontânea.
Isso era tudo um plano.
Um plano para parar de chegar em segundo lugar.
Sienna

Depois que Aiden e eu passamos um pouco mais de tempo perto do rio,


decidimos que era hora de ir para casa.
Desde que eu caminhei da galeria até o rio, Aiden e eu começamos a
andar de volta, ainda agarrados firmemente um ao outro.
Mesmo que eu quisesse ficar sozinha antes, no segundo que ele
chegou ao rio eu me senti melhor.
O que era estranho.
Mesmo que estivéssemos acasalados por alguns anos, eu ainda não
tinha superado o efeito que ele tinha sobre mim. Sua presença trazia uma
sensação de calor e segurança.
Eu ainda poderia me agarrar a essa grande ideia de que eu era
independente, dominante e que não precisava de nada de ninguém, mas
no fim das contas, eu tinha que admitir que ter Aiden por perto era
melhor do que estar sozinha.
E agora, caminhando de volta pela estrada, me senti melhor do que
durante todo o dia.
Eu apertei sua mão com mais força, olhando para ele.
— Obrigada, — eu disse suavemente, gostando da maneira como seus
olhos brilharam de volta para mim.
— Não me agradeça, — respondeu ele. — Esse é o meu trabalho. Estar
aqui para te ajudar.
— Ah, eu sou seu trabalho agora? — Eu provoquei.
— Se você me aceitar, — ele disse, me pegando em seus braços.
Ele me carregou como uma criança, e eu teria ficado envergonhada se
ele tivesse feito isso em qualquer outro momento. Mas havia algo tão
sério, tão cru, sobre a ação, e eu meio que gostei.
Então, novamente, se alguém mais visse ou ouvisse sobre isso, eu
negaria.
— O que eu faria sem você? — Eu disse, esfregando meu nariz em seu
cabelo. Ele cheirava a pinho e roupa lavada como sempre.
Era o melhor perfume do mundo.
— Oh, acho que você ficaria bem.
— De jeito nenhum.
— Sienna, você é a mulher mais corajosa que já conheci. Você é
inteligente, muito inteligente, honestamente, e manda bem em tudo que
faz. Você não precisa de mim. — Enquanto ele falava as palavras, eu
estava olhando diretamente em seus olhos. E neste momento, eu queria
que durasse para sempre.
— Eu preciso de você, — eu respondi suavemente.
— Você não. Mas você está presa a mim, então não importa. — Ele
riu, me colocando de volta na estrada. Quando ele fez isso, espiei por
cima do ombro e — juro por Deus — vi alguém.
Alguém com barba, vestido de preto, ziguezagueando por entre as
árvores, nos seguindo.
— Aiden, — eu sussurrei, meus olhos grudados nas árvores. — Tem
alguém ali.
Aiden virou a cabeça. Tenho certeza que ele ouviu o pânico em minha
voz. Eu não tinha ideia do motivo do meu pânico. Estávamos em uma via
pública. Não havia razão para que outra pessoa não pudesse estar
andando na mesma.
Mas eu senti algo estranho sobre a pessoa que vi.
Como se ele estivesse aqui por nós.
— Amor, eu não vejo nada, — disse Aiden enquanto se virava para
mim. — Eu também não sinto cheiro de ninguém.
— Eu vi alguma coisa. Eu sei que tem alguém ali, Aiden. Eu posso
sentir isso...
— Talvez a gravidez esteja confundindo seus sentidos? — Ele
perguntou suavemente, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da
minha orelha. Eu estreitei meus olhos. — Só estou dizendo que sei que
isso pode acontecer. Hormônios perturbam os sentidos dos lobisomens o
tempo todo.
— Eu não sou uma grávida louca.
— Eu sei que você não é, — ele disse, beijando minha testa. — Mas
estamos bem. Estamos seguros. Vamos pegar o carro e depois comprar
comida para viagem e ter uma noite tranquila em casa.
Quando Aiden parou e nós aumentamos nosso ritmo, eu não pude
deixar de lançar outro olhar para trás. Desta vez, não vi ninguém. Eu não
vi nada além das árvores.
Talvez ele estivesse certo.
Talvez os novos hormônios estivessem fazendo meus sentidos agirem
como loucos, deixando-os completamente fora de sintonia. Talvez eu
estivesse paranoica.
Mas, novamente, talvez eu não estivesse.
Talvez eu estivesse certa.
Mãe: Oi, Sienna. É a mamãe! Selene e eu estamos assando seus
biscoitos FAVORITOS, venha comer uma sobremesa! Beijo!

Selene: Verdade, Si.

Selene: Eles estão no forno!!!

Selene: (3 emojis de biscoito) Sienna: Não diga mais nada.

Sienna: Tô indo.

Selene: ISSOOOO

Mãe: Ótimo! Beijo.

Aiden e eu tínhamos acabado de jantar quando recebi as mensagens


de mamãe e Selene.
— Vá, — ele me disse, sabendo que biscoitos quentinhos com minha
família eram exatamente o que eu precisava.
Quando cheguei à casa dos meus pais, estava escuro lá fora. Eu parei
na garagem e corri até a porta da frente, batendo.
Alguns segundos depois, Selene abriu a porta e eu já podia sentir o
cheiro dos biscoitos de chocolate.
— Que cheiro bom! — Eu gritei, abraçando minha irmã.
— Parece que você está com um humor melhor. — Ela sorriu para
mim quando nos separamos.
— Desculpe se saímos correndo da festa ontem à noite. Eu só... não
foi como esperávamos que todos descobrissem.
— Michelle e sua boca grande, né? — Selene brincou.
Eu concordei.
— Se tem uma coisa que ela adora é uma plateia.
— Bem, esqueça isso. Entre. Vamos comer, — ela declarou, me
puxando para a cozinha onde mamãe estava colocando biscoitos na
prateleira de refrigeração.
— Sienna! — ela chorou no segundo em que me viu, correndo e me
lançando no maior abraço. — Oh, estou tão feliz que você está aqui.
Estou tão feliz que minhas duas meninas estão aqui.
— Eu também, — respondi, já me sentindo melhor. Havia algo sobre
estar com minha mãe e minha irmã que era simplesmente... tão fácil.
Elas sempre sabiam exatamente o que dizer, mas nunca brincavam.
Elas sempre falaram a verdade. Elas sempre falaram sua verdade.
— Os biscoitos esfriarão em mais cinco minutos.
— Ugggh, — Selene gemeu. — Mal posso esperar. Eu estou faminta.
— Selene, acabamos de jantar há vinte minutos.
— Você sabe como é difícil correr por aí atrás de uma criança o dia
todo? Meu apetite não acaba nunca, — disse ela. Então ela se virou para
mim, acariciando minha barriga. — Você está prestes a ver como é fome
de verdade.
— Ah, sim, você não está mais comendo só para si mesma, Sienna!
Você tem que ter certeza de que está comendo o suficiente, recebendo
todas as vitaminas certas.
— Mãe, Jocelyn já me contou tudo isso.
— Bem, eu sou sua mãe. Então, vou repetir de qualquer maneira.
Eu sorri, mas então algo passou pela minha cabeça. Eu olhei para os
meus pés, de repente oprimida novamente. Mamãe percebeu.
— O que é isso, Si? — ela perguntou, Virando-se para colocar um
braço sobre meus ombros.
Eu olhei pra ela.
— Eu sei que você é minha mãe. Mas eu estou... estive pensando
sobre minha mãe biológica, sabe? Como foi a gravidez dela. Como foi
quando ela me deu à luz.
— Claro que você está, querida! Eu ficaria surpresa se você não
estivesse pensando nela.
Eu exalei, aliviada por minha mãe ter entendido. Aliviada por poder
ser tão honesta com ela sobre tudo.
— Eu gostaria de saber de algo — qualquer coisa — que eu pudesse
dizer a você, — mamãe continuou. — Mas tudo que eu tenho é isso. Você
está cercada por pessoas que amam você, Sienna. Por toda parte.
Independentemente de quem a deu à luz ou de quem veio sua genética,
você é tão importante nesta casa quanto qualquer um de nós. Entende?
Eu sorri, balançando a cabeça. Por que de repente eu quis chorar?
— Eles estão prontos! — Selene exclamou com a boca cheia de
biscoito de chocolate. Ela conseguiu, de alguma forma, caminhar até o
rack de resfriamento sem fazer nenhum som. Mamãe e eu rimos,
caminhando para nos juntar a ela.
Quando coloquei um biscoito na boca, a doçura explodiu em minhas
papilas gustativas. Foi o paraíso.
— Esta é a melhor coisa que já experimentei em toda a minha vida, —
declarei.
— Ah, não, — Selene respondeu, balançando a cabeça. — Você ainda
não viu a Gruma.
— O quê?
— A Bruma da gravidez. A Gruma.
— Puxa vida, — mamãe respondeu, o sorriso em seu rosto crescendo.
— Nunca ouvi falar disso, — disse eu, olhando de mulher em mulher.
Selene colocou outro biscoito na boca, mastigando e engolindo antes
de continuar.
— É a Bruma que você sente quando está grávida, mas só você e seu
companheiro experimentam isso. É dez vezes a intensidade de uma
Bruma normal, Sienna. Sério, é uma loucura. Você e Aiden estão prestes a
se divertir muito...
— Mas somos só nós? Ninguém mais na matilha sente isso?
— Confie em mim, — disse minha mãe, interrompendo. — Vocês dois
vão sentir isso o suficiente para todos.
Capítulo 4
SEM PARAR
Sienna

Depois que deixei mamãe e Selene, tudo em que conseguia pensar era no
que elas disseram sobre a Bruma da gravidez. A Gruma, eles a chamavam.
Meu corpo estava uma bagunça de excitação e nervosismo. Aiden e eu
já sentíamos a Bruma mais do que todos os outros. Ele era um Alfa e eu
era dominante, o que significava que nossa luxúria já estava disparada.
Então, o que mais está para acontecer conosco?
Estacionei em nossa garagem e me dirigi para a porta da frente,
pronta para destrancá-la com minha chave, mas assim que coloquei a
chave na fechadura, algo aconteceu.
Era como um choque, de alguma forma frio e quente ao mesmo
tempo, explodindo no meu sexo.
E quando explodiu, deixou arrepios percorrendo cada centímetro do
meu corpo.
Senti cada uma das minhas células vibrarem e todos os fios de cabelo
da minha pele se arrepiarem.
Arrepios percorreram meus membros.
Meus mamilos esticaram e endureceram, ficando ainda mais duros
quando sentiram a renda apertada do meu sutiã em torno deles.
E meu sexo?
Essa foi uma outra história.
Eu estava molhada, pulsando, ansiando de tesão.
E tinha passado apenas um maldito segundo.
Com a mão trêmula, empurrei a porta. Mas eu não me mexi. Eu
estava com medo do que poderia acontecer se eu causasse qualquer tipo
de atrito em qualquer lugar, e meu jeans fosse apertado o suficiente para
ser uma ameaça.
— AIDEN! — Eu gritei e, alguns momentos depois, ele estava
caminhando em minha direção. A visão dele sozinho foi o suficiente para
me empurrar até o limite.
Assim que nossos olhos se encontraram, eu pude sentir a mudança.
Isso o atingiu.
Pra valer.
Suas pupilas dilataram, seus lábios cerraram-se, seus bíceps
pressionados contra o tecido de sua camiseta fina. Observei enquanto
seus músculos se contraíam, enquanto suas bochechas ficavam rosadas.
Jeans justos ou não, eu não podia esperar mais um segundo.
Corri para ele. investindo contra ele, jogando-o no chão. E então não
éramos amigos — não, não mais. Éramos exércitos. Em guerra um com o
outro.
Era uma batalha de quem poderia rasgar suas roupas primeiro, quem
poderia abrir caminho por cima, quem poderia fazer a si mesmo sentir
exatamente o que tinha que sentir na hora certa. Normalmente, eu sou
muito generosa — mas agora não.
Agora, eu estava focada em uma coisa e apenas uma coisa.
Minha própria libertação.
Ele forçou seu caminho em cima de mim, e eu estava espalhando
minhas pernas o máximo que podiam, puxando seus quadris para o meu
sexo, fazendo seu pau duro me esfregar mais forte.
Apenas a renda da minha calcinha nos separava, mas ainda assim, era
demais.
Então minhas mãos deixaram suas costas, onde minhas unhas
estavam arranhando ele, e foram para minha calcinha. Sem pensar
muito, eu separei a renda, até que tudo o que restou foram fragmentos.
Agora estávamos pele a pele, e ele estava se esfregando contra mim,
batendo no meu clitóris a cada movimento para cima.
— PORRA! — Eu rosnei, precisando de mais.
Mais.
Mais.
Mais.
Sem aviso, ele se empurrou dentro de mim. Me enchendo,
bombeando para dentro e para fora sem nenhum sinal de ternura. Eu
abri meus olhos, observando seu rosto. A expressão nele era de luxúria
pura.
Foi primitivo.
Selvagem.
E, ainda assim, ele continuou a meter com mais força.
— AAAHHHHH! — Eu gritei quando senti meu corpo se
aproximando da borda.
Ele ficava cada vez maior e conforme meu sexo apertava e o prazer
aumentava, eu estava meio apavorada com o que estava esperando por
mim do outro lado.
Eu nunca tinha escalado uma montanha tão grande antes.
Nunca senti tanto aperto, tanto prazer, tanta necessidade.
— Eu quero ver você gritar, — Aiden rosnou na minha cara, gotas de
cuspe caindo em mim enquanto ele falava. Era o quão intenso ele estava
falando.
E isso me excitou.
Isso me levou ao meu limite.
Ultrapassou o limite.
E então, antes que eu pudesse entender meus sentimentos, Aiden
começou a bombear com mais força e esfregar meu clitóris com o dedo
ao mesmo tempo.
Já era.
Eu estava voando.
Voando, voando, voando — descendo uma queda sem fim, meu corpo
inteiro tremendo de euforia. Foi a mais doce injeção de pecado, queimando de
dentro para fora, me incendiando. Não consegui abrir os olhos. Não consegui
emitir nenhum som. Eu não conseguia respirar.
Eu ficaria assim para sempre?
Pega na queda livre de uma liberação deliciosa, incontrolável e
incomparável?
Mas então o orgasmo começou a diminuir e eu fui capaz de recuperar
o fôlego, capaz de mover meus braços e minhas pernas. Envolvi minhas
mãos nas costas de Aiden enquanto ele desacelerava seus movimentos e
saía de mim.
Ele tinha terminado também, mas eu perdi. Porque eu estava tão
perdida em minha própria queda livre.
Levei minhas mãos ao rosto dele e percebi que estavam vermelhas de
sangue. Eu levantei minha cabeça e verifiquei suas costas, ofegante.
Eu arranhei sua pele imediatamente.
— Meu deus, eu fiz você sangrar! Isso dói? Você está bem?
Mas Aiden apenas riu, rolando de cima de mim e caindo de costas.
— Eu não sei o que foi isso. Mas puta merda, — ele disse.
— Puta merda, — eu repeti. E então rolei minha cabeça, virando-me
para encará-lo. Ele virou a cabeça para mim também. — Essa é a Gruma,
— informei a ele.
— O quê?
— A Gruma. É a Bruma que atinge apenas uma lobisomem grávida e
seu companheiro, então ninguém mais sente...
De repente, a mesma eletricidade estourou no meu sexo novamente.
Meu corpo inteiro estava formigando, pegando fogo, precisando de
mais satisfação.
Eu olhei para Aiden. Seus olhos estavam selvagens com a mesma
paixão.
Lá vamos nós de novo.
No segundo seguinte, ele estava me carregando para o sofá, me
virando e me penetrando por trás. Metendo, metendo, metendo.
Parando.
Passou. Tive alguns minutos para respirar.
E então, BANG!
Mais eletricidade.
Mais fogo.
Transamos na cozinha, na despensa e no chão da sala de jantar.
Nós transamos no chuveiro, na frente do espelho e na varanda do
quintal.
Comi manteiga de amendoim em seu abdômen e ele pingou cera de
vela no meu peito.
Nada estava fora dos limites.
Nada era demais.
A sensação de satisfação era a única coisa que importava. Era um
esporte de equipe, e nós dois iríamos ganhar prêmios de melhores da
temporada. Porque não podíamos parar — nem mesmo se quiséssemos
— mas a cada rodada era diferente.
A Gruma continuava a mesma, mas a gente estava melhorando.
E puta merda, minha mãe e Selene estavam certas.
Eu estava sentindo isso o suficiente para toda a porra da matilha.
Josh

Michelle estava me olhando como uma louca.


— Ok, certo, eu ligo. Mas acho que você está exagerando.
— Ela não respondeu às minhas mensagens em três dias! E eu sei que
Aiden tem ignorado você também!
— Talvez eles estejam ocupados com a gravidez, Michelle.
Ela colocou as mãos nos quadris e bateu o pé.
— É melhor você ligar para ele agora mesmo, Josh. Eu não estou
brincando.
Suspirei, pressionando o número de Aiden no meu telefone. Eu não
tive escolha a não ser fazer o que ela disse quando fica assim. Caso
contrário, iria se transformar na Terceira Guerra Mundial.
E eu não queria entrar em guerra com Michelle.
Eu não precisava ser o cara mais inteligente da Matilha para saber que
ela me levaria como prisioneiro.
— Está chamando, — eu disse a ela.
Ela continuou batendo o pé.
— Você ligou para Aiden Norwood, Alfa da Matilha. Deixe uma
mensagem, — ouvi através do telefone. Eu desliguei.
— Caixa postal.
— Viu? Tá acontecendo alguma coisa! Vamos passar lá.
— Michelle, você está ficando maluca. Foram apenas alguns dias.
— Não é você que está com medo do vampyro vir caçar a todos nós? E
se ele os capturou?
Eu olhei para ela e percebi que ela tinha razão. Era verdade.
Konstantin poderia tê-los encontrado. Ele poderia ter atacado eles. Não
sabíamos com certeza.
Eu disquei o número de Jeremy.
— Oi, Jeremy, — eu cumprimentei quando ele respondeu.
— Oi, Josh. E aí?
— Você teve notícias de Aiden nos últimos dias? Ou Sienna? Eles
sumiram do mapa. — Jeremy começou a rir. — O que foi? — Perguntei.
— Selene foi até a Casa ontem porque Sienna não estava respondendo
suas mensagens. Parece que eles estão no fundo do poço da Gruma.
Selene nem precisou colocar o ouvido na porta da frente para ouvir os
sons dos animais.
Eu revirei meus olhos.
— Ótimo, obrigado, Jeremy, — eu disse, desligando.
— Vamos? — Michelle exigiu.
— Eles não estão sendo caçados. Eles estão caçando um ao outro. A
Bruma da gravidez assumiu o controle, e eles estão transando como
animais nos últimos três dias. Você está feliz?
— NÃO! EU NÃO ESTOU FELIZ! — ela gritou. — ELES ESTÃO
MELHORES, MELHORES DO QUE NÓS!
Michelle

—...Você está feliz? — Josh perguntou, depois de explicar o que Jeremy


disse a ele ao telefone. Eu olhei para ele em estado de choque — estou
feliz?!
Quão estúpido ele é?
— NÃO! EU NÃO ESTOU FELIZ! — Eu gritei com ele, literalmente
não acreditando que ele não estava entendendo uma palavra do que eu
estava dizendo. — ELES ESTÃO MELHORES, MELHORES DO QUE
NÓS!
Eu não aguentava ver o olhar que ele estava me dando por mais um
segundo. Ele estava olhando para mim como se eu fosse uma pessoa
louca. Eu NÃO era uma pessoa louca! Se alguém estava louco ali, era ele!
Eu saí da sala de estar, indo direto para o nosso quarto.
Eu bati a porta atrás de mim, e foi quando notei toda a merda.
Em toda parte.
As roupas de Josh, os papéis de Josh, a pasta de Josh — todas as suas
coisas espalhadas por toda a sala.
— UGGGGGGHHHHHHH! — Eu gritei, a raiva consumindo
completamente agora.
Comecei a jogar todas as suas roupas em uma pilha no chão, joguei
sua pasta contra a parede e depois bati todos os seus papéis uns em cima
dos outros.
Ser produtivo era bom.
Minha respiração estava lentamente voltando ao normal, voltando ao
normal.
Continuei limpando — organizei as bugigangas da cômoda, arrumei
minha caixa de anéis e até fui colocar o relógio de Josh de volta no lugar
apropriado. Mas quando tentei agarrá-lo da superfície, ele caiu entre
meus dedos e caiu no chão de madeira.
Crack.
O mostrador de vidro do relógio rachou.
Merda.
Eu me agachei, verificando a gravidade do dano. Abaixei-me para
pegá-lo e — foi então que vi. Uma substância preta parecida com alcatrão
escorrendo por trás das rachaduras.
No segundo em que tocou minha pele, me queimou.
— AI! — Eu gritei, largando o relógio imediatamente.
— QUE PORRA?!
Mas assim que o relógio caiu no chão, algum tipo de névoa começou a
sair dele. E então uma figura apareceu nela. Uma figura com rosto.
Uma figura com o rosto de Konstantin.
AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHH!
Capítulo 5
PARTINDO PRA CIMA Sienna
Aiden e eu estávamos nos braços um do outro, espalhados pelo tapete em
nosso quarto. Estávamos nus, como nos últimos três dias. Ou foram
quatro?
Honestamente, a única maneira que eu estava mantendo o controle
do tempo era pelo número de vezes que paramos nosso festival de sexo
para engolir um pouco de comida. Pela minha estimativa, eram seis.
Mas, verdade seja dita, nenhum de nós estava realmente com fome de
comida.
A menos que fosse manteiga de amendoim no corpo de Aiden ou
chantilly no meu, a comida que consumíamos não tinha gosto de nada.
Era como comer papelão.
Porque a única coisa que estávamos com fome era um do outro.
Qualquer outra coisa simplesmente não era satisfatória.
Então, comemos para sobreviver, mas consumimos um ao outro para
nos satisfazer.
Aiden deslizou as pontas dos dedos pelo comprimento do meu braço,
causando arrepios.
— Aiden, pare. Não tenho mais energia.
Ele riu.
— Eu pensei que você nunca diria isso. Eu nunca vi você se mover
tanto. Eu nunca ouvi você gritar tão alto, — ele continuou, esfregando o
nariz no meu ouvido.
— Pois é. Isso tudo graças a você.
— Não, — disse ele, movendo as pontas dos dedos para o meu
estômago. — É tudo graças ao bebê.
— Você acha que acabou? Você acha que finalmente estamos seguros?
— Eu perguntei a ele, genuinamente imaginando qual seria a resposta. A
Gruma foi incrível. Foi uma mudança de vida, e isso não era exagero.
Mas achei que não conseguiria mais fazer isso.
Não agora, pelo menos.
Eu precisava descansar.
E eu definitivamente precisava tomar banho.
Aiden puxou meu rosto para mais perto do dele, para que nossos
narizes se tocassem. Tentei me afastar.
— Aiden, eu não escovo os dentes há três dias, — argumentei.
Mas ele me manteve lá, ficando tão perto quanto.
— Você acha que eu me importo?
— Eu te amo, — eu disse a ele, querendo dizer isso um milhão de
vezes. Ele beijou minha testa e se levantou, abaixando a mão para me
ajudar a levantar do chão.
Eu a peguei, imediatamente sentindo minhas pernas doerem quando
me levantei.
Mas eu não tive tempo para pensar na dor, porque Aiden estava me
puxando para ele. Não de uma forma lasciva, mas terna.
— Eu te amo, Sienna Mercer-Norwood. Para todo o sempre.
— Sempre e para sempre, — eu ecoei. — Eu gosto disso.
— Agora, vamos levar nossas bundas para um banho, certo?
— Por favor.
Estávamos rindo ao entrar no banheiro quando ouvimos uma batida
na porta da frente.
— Você abre a torneira para deixar a água quente. Eu vou ver quem é,
— eu o instruí.
Entrei na sala de estar, pegando um cobertor para me embrulhar
enquanto me aproximava da porta da frente. Espiei pela janela e vi
Michelle, o rosto pálido, o rímel escorrendo pelo rosto. Eu abri a porta.
— Michelle! O que aconteceu? Você está bem?!
Eu a vi tentando dizer as palavras, mas nada escapou de seus lábios.
Ela simplesmente desabou, mais lágrimas caindo por seu rosto, todo o
seu corpo tremendo.
Eu a agarrei, puxando-a para dentro e levando-a para o sofá.
Assim que ela se sentou, corri para a cozinha, peguei um copo d'água
para ela e voltei para o sofá.
— Beba, — eu disse, entregando-lhe o copo.
Ela olhou para mim com os olhos cheios de sangue e levou o copo aos
lábios. Depois que ela engoliu, peguei o copo e coloquei na mesinha de
centro.
— Agora, me diga, Mich. O que foi? O que aconteceu?
— Konstantin... — ela disse, antes que outro soluço tomasse conta de
seu corpo. Aproximei-me dela no sofá, envolvendo um braço em torno
dela.
— Ele... e-ele apareceu...
— Ele está aqui?! — Eu exigi.
Ela acenou com a cabeça e depois balançou a cabeça.
— Bem, sim, mas... mas eu não acho que era realmente ele. Apenas
uma projeção dele. Oh, Sienna, eu não sei. Não sei! Mas eu o vi, ele estava
lá, bem na minha frente...
— Onde?
— No meu quarto. Quebrei o relógio de Josh, e havia uma... uma coisa
preta pegajosa por trás do vidro do relógio, e quando eu o peguei, a
gosma queimou meu pulso. Olha!
Ela segurou seu pulso na minha frente, e estava vermelho brilhante.
— O que é isso?
— Eu não faço ideia. E então, depois que me queimou, deixei cair o
relógio e um... um vapor saiu! E ele estava no vapor! — Os olhos de
Michelle estavam tão arregalados, tão cheios de convicção, que tive de
acreditar nela.
Eu sabia que ela era uma rainha do drama, mas ela não mentiria sobre
isso.
Era muito importante.
— Você acha que eu sou louca? Acabei de sair correndo de casa. Josh
perguntou o que aconteceu, mas eu só... eu precisava falar com você.
Você é a única outra pessoa que teve a mente dominada por ele, Si.
Eu a abracei.
— Você não está louca. Eu acredito em você.
— Você ainda... você ainda pensa nele?
— Konstantin?
Ela acenou com a cabeça.
— Sim. O tempo todo. O que ele fez comigo... o poder que ele tem de
mergulhar em seus pensamentos, suas memórias, e apenas... manipulá-
los. Essa é a coisa mais assustadora do mundo.
— E se Josh e Aiden não o mataram? — Michelle sussurrou. — E se ele
ainda estiver lá fora? Quer dizer, ele deve estar, certo? Se ele estivesse
morto, não teria aparecido no vapor do relógio. Mesmo que não fosse seu
corpo físico, Sienna, era ele. Tenho certeza disso.
— Eu acredito em você, — eu disse a ela novamente, acariciando seus
cabelos. Eu não acho que já a tinha visto com tanto medo. E a verdade é
que eu também estava com medo.
Eu estava petrificada.
Konstantin não tinha simplesmente entrado em minha mente e
bagunçado. Ele colocou minha melhor amiga em coma. Todos nós
sabíamos o quão poderoso ele era, quanta destruição ele poderia causar.
E ele claramente não tinha terminado conosco.
— O que nós vamos fazer? — Michelle perguntou. Ela parecia uma
criança.
— Vamos conversar com os meninos. E então faremos um plano.
— Eu sinto que estamos em perigo. Posso sentir que algo ruim está
para acontecer.
— Não se preocupe, Michelle, ok? Eu prometo que você está segura
agora. Estamos aqui. Estou aqui. Eu não vou a lugar nenhum. Nós apenas
temos que ser honestas uma com a outra. Temos que contar uma à outra
tudo o que está acontecendo para que possamos ficar por dentro de tudo.
Michelle concordou com a cabeça.
— Com certeza. Honestidade, comunicação aberta sempre.
Ela respirou fundo, olhando para os próprios pés, e quando ela olhou
para mim, pude ver algo além de medo em seus olhos. Algo mais
parecido com vulnerabilidade.
— Sinto muito, Si.
— Por que? — Eu perguntei suavemente.
— Por revelar seu grande segredo. Por monopolizar a atenção. Por
nós não... por nós não conseguirmos conversar desde que eu acordei e
tudo mais. Eu só... acordei e vi que todos estavam vivendo suas vidas
enquanto eu estava em coma, sabe? Continuando como se nada tivesse
mudado. Parecia... tão injusto.
Peguei sua mão e apertei.
— Está tudo bem, Michelle. Eu entendo...
— Não, foi egoísta da minha parte. Além de egoísta. Não quero me
sentir tão distante de você, quero que possamos nos apoiar uma na outra.
Para falar uma com a outra sobre coisas reais novamente.
— Claro, nós podemos fazer isso, — eu assegurei a ela. — Você é
minha melhor amiga, ok? E nunca tive a chance de te agradecer de
verdade.
— Pelo que?
— Você só estava no caminho do Konstantin porque me seguiu até o
hotel, certo? Você estava tentando me proteger. E ele te encontrou e te
machucou. Se você não tivesse sido uma amiga tão boa...
Michelle olhou para mim por um segundo e então começou a
balançar a cabeça.
— Bem, nós duas estamos aqui agora. Nós duas estamos bem. Melhor
do que bem. Você está grávida, meu Deus, — Michelle exclamou, me
puxando para um abraço.
— Foi mal, estou fedendo, — eu murmurei em seu cabelo, lembrando
do banho que eu deveria estar tomando.
— Sim, você cheira como um puteiro alemão em uma manhã de
segunda-feira, — ela respondeu, se afastando com o nariz franzido. Nós
duas começamos a rir.
— Vai tomar banho. Vou sair daqui e procurar Josh antes que ele
tenha um ataque cardíaco.
Jocelyn
— Olá? — Eu perguntei, olhando minha cabeça pela fresta na porta. —
Geórgia?
Geórgia apareceu, abrindo a porta e sorrindo para mim. Ela era a
conselheira-chefe do Retiro dos Curandeiros, mas não havia nada de
intimidante nela.
Tudo, desde seus olhos castanhos chocolate às suaves linhas de riso
em seu rosto, transmitia calor.
— Jocelyn, querida. Entre, por favor. — Ela fez sinal para que eu me
sentasse no sofá de couro gasto e se sentou na poltrona à minha frente.
— Obrigada por ter vindo.
— Wendy disse que era urgente?
— Sim. Wendy tem me contado como você está se saindo bem aqui,
como está se recuperando rapidamente. Isso é excelente, Jocelyn. Muito
bom ouvir isso.
Eu sorri.
— Obrigada.
Geórgia avançou para a frente em sua cadeira, posicionando seu
corpo de forma que estivesse inclinado para frente, mais perto de mim.
— Mas temo que seu tempo aqui no Retiro acabou. Você praticou um
ritual de cura enquanto estava no local, correto? — Ela perguntou.
As palavras não soaram ásperas ou condescendentes. Ela estava
apenas procurando uma confirmação.
Eu sabia que não podia mentir para ela. Então, baixei a cabeça,
olhando para o chão.
— Sim.
— Você conhece as regras aqui, Jocelyn. Receio que não haja outra
maneira.
— Então é isso? — Eu perguntei, olhando para ela. — Estou expulsa?
E se eu não estiver totalmente recuperada? Wendy disse que pode levar
meses e que eu posso não ser capaz de me curar com todos os meus
poderes se eu for embora muito cedo...
Geórgia suspirou.
— Eu sinto muito, Jocelyn. Realmente sinto. Mas você não pode ficar
aqui. Você realizou um ritual e isso é proibido. Então você deve ir.
Respirei fundo e depois soltei o ar. Depois de alguns segundos, eu
balancei a cabeça, olhando-a bem nos olhos.
— Compreendo.
Eu me levantei e Geórgia também se levantou. Quando chegamos à
porta, ela me puxou para um abraço.
— Eu desejo a você o melhor, Jocelyn, — ela disse enquanto me
soltava.
Nina

Olha, gostei do meu trabalho no Retiro dos Curandeiros. Foi um bom


trabalho. As pessoas me trataram bem lá como se eu fosse mais do que
apenas uma lobisomem com um passado duvidoso.
Ninguém me chamou de ladra lá.
Lá, eu era apenas Nina, a cozinheira.
Picava vegetais, cozinhava carne, caramba, às vezes até era criativa e
fazia um ou dois pratos novos. Não foi um trabalho difícil, mas foi
gratificante, de uma forma estranha e de baixo risco.
Eu estava indo para a cozinha, me preparando para começar a
preparar os ingredientes para o jantar, quando vi Jocelyn marchando bem
perto de mim do outro lado.
Ela estava de cabeça baixa. Ela parecia chateada ou determinada.
Sua mochila estava pendurada no ombro e ela nem olhou para cima
quando passou por mim. Eu não acho que já a tinha visto tão deprimida,
e definitivamente nunca a vi andar por um corredor e ignorar as outras
pessoas dentro dele.
Minha curiosidade levou o melhor de mim, então girei e comecei a
andar na mesma direção que ela. Eu mantive distância suficiente entre
nós para que ela não notasse, mas quando ela chegou à porta da frente e
saiu, eu tive que tomar uma decisão.
Meu turno tinha acabado de começar. E era um bom trabalho, de
verdade.
Mas era Jocelyn.
E ela quase se foi, quase desaparecendo na esquina.
Respirei fundo, pesando minhas opções.
E então meus pés começaram a se mover.
Capítulo 6
OH, QUERIDA Jocelyn
Wendy me encontrou em meu quarto, colocando os poucos itens que eu
tinha em minha mochila. Ela me disse que eu poderia usar seu telefone
para ligar para alguém, mas a ideia de entrar em contato com alguém da
Matilha me fez sentir pior.
Eu não queria que eles pensassem que eu falhei ou se preocupassem
comigo.
Ou pior, eu não queria que Sienna e Aiden descobrissem que fui
expulsa do Retiro por causa do que eu fiz por eles.
Eles mereciam não sentir culpa, especialmente com um bebê a
caminho.
Então dei um abraço de despedida em Wendy e saí do Retiro dos
Curandeiros.
Eu nem olhei para trás.
Eu sabia que andaria por um longo tempo porque o Retiro ficava a
algumas horas de carro fora da cidade, mas tinha esperança de poder
pegar uma carona com um carro que passasse.
Minha sorte tem que mudar em algum momento, certo?
Enquanto meus pés batiam contra o pavimento, tentei encontrar o
lado positivo da minha situação.
Eu não estava ferida, não corria perigo e não necessariamente sentia
que deixar o Retiro dos Curandeiros era a pior coisa que poderia
acontecer comigo.
Mesmo que Wendy tivesse me avisado sobre usar meus poderes
muito cedo, ou sobre me estender demais, eu realmente não acreditava
que meus poderes de cura iriam desaparecer.
Eu sabia que era uma curandeira em minha essência. De jeito
nenhum, enquanto meu coração estivesse batendo, meus poderes de
cura acabariam.
Eu simplesmente não acreditaria nisso.
Eu não pude.
O segundo em que comecei a me preocupar com meus poderes de
cura seria o segundo em que estaria em perigo real de me perder.
E, além disso, agora eu tinha uma boa caminhada no ar fresco à
minha frente para limpar minha mente. Eu não queria voltar para a
Matilha com um cérebro de preocupações ou paranoia. Isso não seria
muito curioso da minha parte.
Respirei fundo, exalando o estresse.
Então respirei fundo novamente, mantendo o ar fresco dentro de
mim. Estava bem. Parecia que finalmente estava voltando ao meu
normal.
— Jocelyn?
Eu virei minha cabeça. Meu coração começou a bater
descontroladamente. Minhas mãos começaram a suar e meu corpo
congelou. Porque lá estava Nina, um metro à minha frente, no meio de
uma estrada deserta.
— Nina? — Eu sussurrei. — O que você está fazendo? Você me
seguiu?
Ela fechou a distância entre nós, estendendo a mão para me tocar,
mas eu me afastei dela. Seu rosto caiu.
— Eu vi você saindo do Retiro, e eu só... Eu te segui. Sim. Como um
stalker de subcelebridades. Eu não pensei muito. Meu corpo começou a
se mover...
— Então volte! Você vai acabar se prejudicando por isso.
— Eu não me importo, Jocelyn. Eu não me importo com o trabalho,
com o retiro...
— O que você está falando? Por que estamos falando agora? Depois
de tudo o que aconteceu, depois do drama e dos... dos segredos...
— Eu sei. Eu sei. Eu não mereço falar com você. Eu não mereço
perdão. Eu mal mereço o pacote de chicletes que tenho no bolso.
Eu olhei pra ela. Um olhar sério.
Seus olhos estavam arregalados, sérios. E seu rosto estava tão suave
quanto antes, tão bonito. Depois de pensar em seu rosto nos últimos
meses — e ainda mais depois das poucas vezes que a vi no Retiro —
pensei que ficar cara a cara com ela não me chocaria.
Mas aconteceu.
Eu respirei fundo.
— Claro que você merece falar comigo, — eu respondi suavemente.
Eu podia sentir o quão magoada ela estava, o quão frágil ela era.
Mesmo apesar dos gracejos.
Eu realmente não queria que ela se sentisse pior.
— Eu não quero que você tenha problemas, Nina. Você parecia feliz
lá.
— Eu não estava. Não tão feliz como quando estava com você, de
qualquer maneira, — ela disse rapidamente, dando mais um passo em
minha direção.
— Eu sinto sua falta, Jocelyn. Eu penso em você o tempo todo.
Constantemente. E quando te vi aqui... pareceu um sinal. É por isso que
te segui. E por isso que chamei o seu nome.
Eu fechei meus olhos.
Ela estava dizendo todas as coisas que eu sonhei com ela dizendo
todos esses dias.
Foi como uma catarse. A liberação de toda a raiva, toda a tristeza, que
encontrou um lar dentro de mim desde que ela partiu.
Quando os abri, Nina estava olhando diretamente para mim.
Esperando pacientemente.
— Vou voltar para a Matilha agora, — eu disse. — Você não pode... se
você entrar no território da matilha, Aiden irá sentir seu cheiro. Ele vai te
despedaçar. — Ela baixou os olhos.
— Eu sei. Eu pensei sobre isso.
— Sinto muito, Nina. Sério...
— Eu não me importo, — ela disse.
— Você não se importa com o quê?
— Aiden pode me rasgar membro por membro, Jocelyn. Ele pode me
destruir — olha, ele pode até mascar meu chiclete. Mas não vou deixar
você de novo. Meu corpo me levou para fora daquele retiro por uma
razão. Eu sinto uma conexão com você. E é bem forte. Eu não vou deixar
você ir.
Josh

Depois que Michelle contou o que viu esta manhã, fizemos amor como
se não fizéssemos há meses. Foi suave, terno, urgente e durou pelo que
pareceram horas.
— Isso foi incrível, — eu murmurei em seu ouvido quando estávamos
abraçados depois, a felicidade pós-sexo nos absorvendo completamente.
— Foi. Realmente me fez esquecer... você sabe...
— Ainda temos que lidar com isso, Mich. Vou falar com Aiden. Vamos
elaborar um plano de ataque...
Michelle se sentou na cama, olhando para mim e cruzando os braços.
— Não, não, de jeito nenhum, Josh. Vocês não vão tirar eu e Sienna
disso. Nós somos as únicas que foram consumidas por ele! — Suspirei. —
Eu não quero colocar você em perigo, amor. Se aquele vampyro colocar
um dedo em você de novo, eu não seria capaz de me perdoar.
— Bem, que bom que não me importo muito com o seu perdão a si
mesmo, — ela respondeu. — Porque Sienna e eu fazemos parte disso,
goste você ou não. E estaremos lá para o planejamento. Estaremos lá a
cada passo do caminho.
Sienna

— Não jantamos só nós quatro há muito tempo, né? — Perguntei a Aiden


enquanto saíamos da casa e entrávamos no carro.
— Sim, desde antes do coma de Michelle e tudo mais. Estou feliz que
vocês parecem ter voltado ao normal. Isso é bom, certo? — Ele me
perguntou antes de ligar o carro.
— É bom. — Eu concordei. — Nossa, ela estava tão chateada quando
veio hoje, Aiden. Ela estava gritando, com o corpo todo tremendo. Ela
estava apavorada.
— Com a projeção mística do vampyro?
Eu bati nele.
— Eu acredito nela. E você também deveria.
— Vou acreditar na verdade quando a vir. O que posso dizer, Sienna, é
que vi aquele vampyro nos Hamptons e o destruí.
— Então por que ela o veria assim?
Aiden me lançou um olhar.
— Ela acabou de sair do coma, pelo amor de Deus. Sua mente
provavelmente está pregando peças nela.
— Ok, talvez. Mas talvez não. E se a resposta certa for não, então
estamos todos em perigo. E precisamos de um plano.
Aiden dirigiu pela estrada, parando em uma placa de pare. Eu o ouvi
inspirar e expirar.
— É por isso que vamos jantar com Josh e Michelle, não é?
Eu deixei a pergunta pairar no ar, sem dar uma resposta.
— Não é apenas uma noite divertida de encontro duplo como você
disse que seria, não é?
Eu mantive meus olhos abertos para a frente, sem revelar nada.
— Sienna Mercer-Norwood, me responda, — ele exigiu.
— Tá. — Eu desisti. — É uma reunião de planejamento. Vamos
discutir tudo o que sabemos e, em seguida, bolar um plano de ataque...
— Absolutamente não! Não vou deixar você na linha de frente dessa...
dessa missão inventada, está me entendendo? Mesmo se Konstantin
estiver vivo, e mesmo se ele estiver nos caçando, que bem faria você se
colocar em perigo?
— Mas já estou em perigo, esse é o problema! — Eu exclamei. — Eu
não posso sentar e não fazer nada. Não serei uma garotinha medrosa,
Aiden. Não sou assim, e você sabe disso.
Aiden exalou alto, claramente frustrado. Paramos no restaurante e
saímos do carro, caminhando até a porta.
— Não estou feliz com isso, — Aiden murmurou para mim enquanto
caminhávamos para dentro.
— Eu não preciso que você fique feliz com isso. Eu preciso que você
escute.
Michelle
— Então eu deixei cair o relógio, e aí o vidro quebrou, e essa gosma preta
saiu...
— Gosma preta? — Aiden perguntou com descrença estampada em
seu rosto. Ele enfiou outro rolinho primavera na boca, esperando que eu
respondesse. — Sim, Aiden. Uma gosma preta. Você pode me olhar como
se eu fosse louca o quanto quiser, mas essa é a verdade. Quando a gosma
tocou meu pulso, queimou minha pele. Então, larguei o relógio e BAM!
Lá estava Konstantin, emergindo do relógio rodeado de vapor.
— Os médicos lhe deram algum medicamento para tomar depois que
você saiu do hospital? — Aiden me perguntou, e Sienna deu um tapa no
ombro dele.
— Pare com isso, Aiden. Ela está dizendo a verdade. Eu acredito nela,
— Sienna reforçou, me lançando um olhar tranquilizador. — Não
estamos aqui para discutir, ok, pessoal? Somos quatro líderes
inteligentes, capazes e podemos bolar um plano.
Josh assentiu com entusiasmo.
— Tudo se resume ao osso que ele roubou do museu. O osso permite
que ele faça clones de si mesmo. É por isso que pensamos que o
destruímos na casa nos Hamptons...
— Nós o destruímos na casa nos Hamptons.
Josh ignorou Aiden.
— Precisamos descobrir para que ele está planejando usar a energia.
Se ele está se escondendo em algum lugar, é por um motivo. Pessoas tão
fortes sempre têm um plano.
— Você parece estar em um filme de ficção científica, Josh, — disse
Aiden, comendo outro rolinho primavera. Eu o observei, e isso fez meu
estômago revirar.
Eu não sabia se era sua atitude arrogante, os acontecimentos recentes
ou o mai tai que eu tinha acabado de engolir, mas de repente a náusea já
estava em outro nível.
Meu estômago estava remexendo e revirando, e minha testa começou
a suar frio.
— Você está bem? — Sienna me perguntou baixinho, mas não tive
tempo de responder.
Eu estava prestes a vomitar em todos os lugares. Eu pulei da minha
cadeira, corri para o banheiro e entrei em uma cabine no momento em
que o vômito explodiu para fora de mim.
Depois que terminei, ouvi Sienna atrás de mim.
— Já passou, — ela disse, esfregando minhas costas.
— Você acha que foi um rolinho primavera estragado?
Sienna riu.
— Não. Posso sentir que é algo melhor.
Eu me virei para olhar para ela por cima do ombro e vi a alegria
dançando em seus olhos.
— Você tá achando que...
— Eu acho que você está prestes a começar sua Gruma!
Capítulo 7
VISITANTES SURPRESA Aiden
— Eu não posso acreditar que ela está grávida também, — exclamou
Sienna do banco do passageiro. — Este é um momento incrível. Teremos
filhos da mesma idade, Aiden.
— Você não sabe se ela está grávida, — eu a lembrei. — Ela não viu
um curandeiro ainda. Pode ser apenas um mal-estar.
— Não é apenas um mal-estar. Eu não sei, eu tô sentindo um...
pressentimento...
— Ah, agora minha companheira é uma curandeira? — Eu brinquei,
atirando-lhe um sorriso.
— Eu não posso explicar isso. Mas no segundo que vi a expressão em
seu rosto, pouco antes de ela correr para o banheiro, foi como se eu
tivesse uma conexão maternal. Como se fosse um momento de mãe para
mãe. Parece loucura?
— Sim, — respondi, sem tirar os olhos da estrada.
— Que seja. Você é um estraga-prazeres.
— Eu não sou um estraga-prazeres. Só estou dizendo que talvez não
seja melhor deixar uma garota que acabou de entrar em coma animada
para ter um bebê quando ainda não sabemos ao certo se ela está grávida.
Eu podia sentir Sienna olhando para mim, então tirei meus olhos da
estrada por um segundo e me virei para ela.
— Você é um estraga-prazeres.
— Sienna, eu não sou um estraga-prazeres...
— Você não viu como ela e Josh estavam animados? Eles estavam
praticamente explodindo!
— Sim, e é exatamente por isso que estou preocupado! Entre o coma
de Michelle e a delirante missão Konstantin de Josh...
— Não é delirante.
— Eles não precisam de mais um drama em suas vidas, Sienna. O que
eles precisam é de estabilidade. Todos esses altos e baixos não vão ajudá-
los a encontrar seu novo normal.
— Você pode parar de tentar ser a Oprah por três segundos e ficar feliz
por seus amigos? — Sienna exigiu mais séria.
— Você tem sido tão sábio em relação a tudo isso, Aiden, mas a
verdade é que você não sabe de nada. Nenhum de nós sabe. Não temos
ideia se Konstantin ainda está lá fora, e não temos ideia de como será o
próximo ano. Portanto, pare de fingir que tem as respostas.
Quando as palavras saíram de sua boca, elas me atingiram. Com
força. Eu percebi que ela estava certa. Depois de tudo o que aconteceu no
Baile de Inverno, coloquei um escudo.
E esse escudo era o desapego.
Se eu me desapegasse da possibilidade do desconhecido e me
convencesse de que eu sabia de tudo e que eu poderia convencer a todos
também, então o desconhecido não poderia me machucar. Não poderia
machucar Sienna ou minha matilha ou qualquer outra pessoa de quem
eu gostasse.
Era quase mais fácil ser pego de surpresa por uma ameaça que eu não
estava preocupado do que ser atacado por uma que eu já previa.
Dessa forma, o medo e o perigo durariam apenas durante o ataque.
Mas se eu fosse alimentado pela preocupação, pela possibilidade, —
então o medo e o perigo durariam muito mais tempo.
Eles durariam o tempo todo em que eu estivesse me preocupando.
Então, recuei do medo. E, sim, eu posso ter sido meio cabeça-dura
toda vez que Josh tentou me convencer de que Konstantin ainda estava
vivo. Talvez até quando Sienna me contou o que aconteceu com Michelle
e o relógio.
Mas eu não estava orgulhoso de admitir que não sabia o que iria
acontecer. Então foi isso que eu disse ao minha companheira.
— Não tenho todas as respostas, — disse eu. — E me desculpe por
agir assim ultimamente, ok? Eu não quero ser um Alfa idiota e arrogante
que briga com todos ao seu redor. Mas não posso... não posso viver uma
vida em que estou constantemente à procura do perigo, Sienna.
— Não estamos constantemente à procura de perigo. Konstantin é
uma ameaça real, ele provou ser um problema e agora ele está de volta.
Eu respirei fundo.
— Você realmente acha que ele está de volta?
— Sim! — Ela gritou. — Por que outro motivo ele teria aparecido no
quarto de Michelle? Se ele fosse destruído, Aiden, ele teria partido. Cada
centímetro, cada reflexo — teria desaparecido. Mas não desapareceu.
— Ok. — Eu concordei. — Certo. Vamos cuidar disso então.
Eu podia senti-la olhando para mim novamente. Depois de um
segundo, ela perguntou: — Você está falando sério? Você acredita em
mim?
— Sienna, sempre acredito em você. Essa nunca é a questão. Então, se
você acredita nisso fortemente, então sim, estou falando sério. Vamos ir
ao fundo disso.
Quando ela não respondeu, olhei para ela. Eu podia ver o sorriso
esticado em seu rosto. Ela olhou para mim.
— Obrigada, — ela disse, apertando minha mão.
— Não me agradeça. É meu dever como Alfa.
— Ok, Sr. Alfa.
Estávamos entrando em nossa rua, os faróis iluminando os quintais
de nossos vizinhos, quando, de repente, uma explosão de eletricidade me
atingiu bem no meio.
Cada um dos meus músculos se comprimiram, os pelos da minha pele
se arrepiaram de forma que eles ficaram eretos, e eu estava duro como
uma pedra.
Eu precisava de atrito.
Meus quadris começaram a se mover na minha cadeira, tentando
esfregar o tecido da minha calça jeans contra meu pau.
Soltei um suspiro profundo.
Era como se eu estivesse na beira de uma montanha antes mesmo de
perceber que tinha começado a escalar.
— Foda-se, — murmurei, tentando ao máximo me concentrar na
estrada.
Estávamos quase em casa.
Estávamos tão perto.
Apenas volte para casa, seu idiota. Vá para casa.
— Aiden... — Eu ouvi Sienna choramingar ao meu lado.
Não olhe.
Se você olhar para ela, você vai perder o controle.
— Só... mais... alguns... segundos... — Eu consegui sair enquanto
puxava o carro para a garagem, desligando-o e cambaleando para fora do
carro. Corri para o lado dela, abri a porta e puxei-a para mim.
Em mim.
Ela estava com as pernas em volta de mim e eu podia sentir o calor
irradiando de entre suas pernas. Mas eu precisava de mais.
Eu precisava de mais calor, mais fogo.
Eu precisava de menos roupas.
— Para dentro, — eu rosnei, tentando carregá-la até a porta da frente.
Ela estava beijando meu pescoço, mordendo minha orelha, e eu
honestamente não sabia se conseguiria chegar em casa.
Eu realmente pensei em me deitar na garagem e transar com ela ali
mesmo.
Estávamos nos aproximando dos degraus da porta quando afastei
meu rosto do de Sienna — e foi quando os vi.
Duas figuras, sentadas na varanda, envoltas na escuridão.
Não havia luz nenhuma lá fora. Eu não conseguia ver os rostos, não
conseguia distinguir qualquer indicação se eram amigos ou... outra coisa.
— Aiden, — ouvi Sienna rir em meu ouvido. Ela ainda não tinha se
virado para a varanda. — Por que você parou...
— Shh! — Eu me calei, colocando-a no chão. — Fique aqui, — eu
disse enquanto me aproximava das pessoas nas escadas.
Rowan

Eu estava empoleirado atrás de uma árvore algumas casas abaixo de


Aiden e Sienna, do outro lado da rua. Eu tinha uma visão muito boa dos
acontecimentos fora de casa daqui.
Bem, eu sei que parece paranoico ou voyeurístico, mas ouça.
Eu precisava saber o que estava acontecendo com eles, dentro e fora
de suas casas. Eu precisava saber com quem eles estavam falando, com
quem eram seus relacionamentos íntimos, tanto positivos quanto
negativos.
Eu não posso te dizer por quê.
Eu só... eu precisava.
Então, quando vi as duas pessoas saírem de um táxi e ficarem de pé,
esperando na entrada de Aiden e Sienna — eventualmente sentando na
escada — mantive meus olhos neles.
Eu não tinha ideia de quem eles eram. Inferno, eu não conseguia vê-
los direito dali. Estava escuro como breu.
Eles não falavam muito, então eu não conseguia nem distinguir as
vozes.
Eu não estava nervoso. Eu sabia que estaria pronto se alguma coisa
acontecesse, se eu tivesse que intervir.
Mas eu estava curioso.
E quando Aiden e Sienna chegaram em casa, parecia que eles não
tinham ideia de que alguém estaria esperando por eles.
Observei quando Aiden se aproximou dos dois na varanda, e por sua
linguagem corporal, eu poderia dizer que ele não estava exatamente feliz
em vê-los.
Eu tinha meu corpo pronto para correr até eles ao primeiro sinal de
problema. Meus pés estavam apontados para a casa, minhas mãos já
cerradas em punhos.
Eu estava pronto para lutar.
Nem importava contra quem eu estava lutando.
Eu vi Aiden levantar a mão — para socar? Para pegar?
Eu estava dando meu primeiro passo em direção a eles — eu não
queria uma briga antes de chegar lá — e quando Aiden jogou seu corpo
em uma das figuras — o quê?
Eles estavam se abraçando.
Aiden estava abraçando um deles. Em seguida, os dois.
E Sienna se aproximou para se juntar a eles.
Foi um abraço coletivo.
Eu exalei, me sentindo bobo como sempre, e voltei para o meu lugar
atrás da árvore.
Sienna

— O que vocês estão fazendo aqui? — Aiden perguntou a seus pais


enquanto os guiava para nossa sala de estar.
Observei toda a situação com um sorriso firmemente estampado no
rosto, tentando me concentrar na provação em que estávamos agora — e
não na Gruma que ameaçava estourar em meu núcleo.
— Não seja tímido conosco. — Charlotte apontou um dedo para o
filho. — A notícia se espalhou, querido. — Ela estendeu a mão para
agarrar seu rosto, beijando-o na bochecha com força suficiente para
matar um bebê.
— Mãe, por favor. — Aiden riu, mas soou vazio. Eu sabia que ele
estava brincando tão forte quanto eu agora, e eu não conseguia imaginar
como era o contato... de sua mãe....
— Filho, estamos tão felizes. Tão orgulhosos de você. Você também,
Sienna, — Daniel disse enquanto batia no ombro de Aiden. — Mal
podíamos esperar para comemorar com você.
— Bem, há um monte de coisas acontecendo na matilha agora, então
nossas celebrações estão em espera, — disse Aiden com os dentes
cerrados. — Não é verdade, Sienna?
Eu olhei para ele, vendo o esforço por trás de seus olhos.
Estávamos ambos a segundos de perdê-lo.
Meu corpo inteiro estava tentando conter um monstro que tinha uma
mente própria — e o monstro não estava reagindo tão bem.
— Isso mesmo. Celebrações... estão em espera. Quando acontecerem,
vocês serão... os primeiros a saber. — Eu sorri para os dois, tentando
manter minhas pernas firmes.
Eles estavam tremendo, ansiando por ficar mais próximos, ansiando
por dar ao espaço entre as minhas pernas qualquer tipo de sensação...
— Absurdo. Vamos começar agora. Daniel, o champanhe? —
Charlotte gritou com o marido, que enfiou a mão na pasta.
Aiden e eu olhamos um para o outro com terror.
— NÃO! — nós dois gritamos.
Seus pais olharam para nós.
— É que... não posso beber com o bebê, — expliquei.
— E Aiden não está bebendo agora.
— Eu estive doente, — ele disse.
— Oh, querido, você está bem? — Charlotte perguntou, estendendo a
mão para sentir sua testa.
— Tudo bem, mãe, — disse ele, empurrando a mão dela. —
Podemos... podemos jantar? Amanhã? Isso seria muito melhor.
— Que tal um café rápido agora...
— NÃO! — Eu gritei, minha boca tremendo. — Desculpe, — eu disse,
minha voz mais baixa. — Não. Amanhã é melhor.
Charlotte me lançou um olhar indecifrável e, em seguida, franziu os
lábios e acenou com a cabeça.
— Muito bem. Vamos, Daniel. Vamos dar-lhes espaço.
Assim que meus sogros saíram de casa, Aiden e eu nos entreolhamos.
E então todo pecado se soltou.
Michelle: ADIVINHA QUEM ACABOU DE TER CONSULTA COM A
CURANDEIRA?

Michelle: A DANADA AQUI TÁ GRÁVIDA.

Erica: CALA BOCA!!!!!

Erica: Todos estão com bebês, exceto eu.

Mia: MDS

Mia: Estou pirando.


Erica: Isso é tão óbvio.

Mia: Erica cala a boca.

Mia: Isso é DEMAIS.

Michelle: Precisamos comemorar! O MAIS CEDO POSSÍVEL!

Michelle: Estou pensando em um chá de bebê duplo???

Michelle: Sim?

Sienna: SIM!

Sienna: TÃO FELIZ POR VOCÊ

Sienna: O chá de bebê duplo tá fechado.

Mia: Não vejo a hora.

Michelle: Se preparem vadias.


Capítulo 8
SENTINDO DE NOVO
Jocelyn

Eu estava andando com Nina por pelo menos três horas, e depois da
nossa primeira conversa — aquela em que ela disse que não se importava
com o que Aiden fizesse com ela, que ela não podia sair do meu lado —
tinha sido principalmente silêncio.
Não achei que nenhuma de nós soubesse o que dizer.
Hoje foi um dos dias mais estranhos que já tive.
Tanta coisa aconteceu em um período de tempo tão curto e sem
qualquer aviso real. Fui expulsa do Retiro dos Curandeiros. Nina correu
atrás de mim, declarando como se sentia.
E agora nós duas seguíamos em frente na estrada vazia, esperando
que um carro passasse por nós. Eu realmente não pensei que demoraria
tanto para um carro chegar. Pensei em caminhar por alguns minutos, no
máximo, antes de encontrar alguém que me levasse na direção certa.
Mas agora estava escurecendo e eu ainda não tinha dado a Nina uma
resposta adequada.
— Isso provavelmente não era o que você esperava que fosse
acontecer hoje quando acordou esta manhã, hein? — Eu sorri pra ela. Eu
só estava tentando aliviar a tensão no ar ao nosso redor, nos dar alguma
aparência de normalidade.
Ela sorriu de volta para mim, pegando o ramo de oliveira.
— É uma aventura. Nunca sou do tipo que foge da aventura.
Eu ri.
— Estamos só caminhando por uma estrada deserta ao cair da noite,
mas estou feliz que você veja a diversão nisso.
— Jocelyn, eu te disse antes. Eu não me importo onde estamos, não
me importo para onde estamos indo. Eu simplesmente não posso ficar
longe de você, não de novo.
Eu parei no meu caminho.
— Eu pensei em você também, sabe. Bastante.
— Sério?
— Eu me sinto... como se eu fosse uma bagunça total de emoções.
Entre o que aconteceu com Michelle, vir para o Retiro dos Curandeiros e
você... Não sei mais o que pensar.
— Ei, — Nina disse, se aproximando de mim. Ela colocou uma mecha
de cabelo atrás da minha orelha e eu suavizei com o gesto íntimo.
— Tudo bem. Você não precisa saber o que pensar agora. Vamos
apenas continuar caminhando, deixar a noite passar. Certo?
Respirei fundo e concordei.
— Certo.
— Acho que vejo uma luz lá em cima, — disse ela, apontando para a
direita na estrada. Eu apertei os olhos — e com certeza, vi uma luz
vermelha brilhante também.
— Você acha que é um restaurante? Estou morrendo de fome, — eu
disse, começando a caminhar em direção à luz.
— Estou com tanta fome que poderia comer um esquilo, — Nina
entrou na conversa, entrelaçando o braço no meu. Eu ri.
— Um esquilo?
— Qual é, tempos de desespero exigem medidas desesperadas.
Ao nos aproximarmos da luz brilhante, vi a placa do prédio. MOTEL
74.
— É um motel! — Exclamei, sentindo uma onda de alegria passar por
mim. Poderíamos passar a noite aqui, comer um pouco e, em seguida,
começar a andar novamente pela manhã.
Nós empurramos as portas da frente, pegamos as chaves do quarto na
recepção e então seguimos o nosso caminho para o bar velho e sujo.
Surpreendentemente, não estava vazio.
Havia várias pessoas, a maioria mais velhas, sentadas ao redor da sala.
Pegamos alguns banquinhos no bar e nos sentamos. O barman se
aproximou de nós.
— Bourbon para mim, por favor, — eu disse a ele.
Nina me olhou e então assentiu.
— Dois.
Nós engolimos as bebidas e então pedimos uma segunda rodada.
E então uma terceira.
Depois da quarta, rimos tanto que parecia que nada de antes tinha
acontecido. Eu não tinha preocupações no mundo.
— Eu tenho que mijar. — Nina deu uma risadinha ao cair do
banquinho.
— Estarei aqui, — gritei atrás dela.
Peguei meu copo vazio, olhando para ele. A parte inferior era curva,
então mostrava um estranho reflexo de luz. Foi bonito.
— Ei. — Eu ouvi uma voz masculina por cima do meu ombro
esquerdo. Eu girei, observando o homem bonito que estava lá. Ele era
alto, bronzeado, e eu podia distinguir os músculos de sua cintura sob a
camisa.
— Oi, — eu disse. Embora ele fosse objetivamente bonito, depois das
últimas horas que passei com Nina, meu coração não estava batendo
forte por mais ninguém.
E, além disso, minha libido não estava muito alta desde que me
encontrei no Retiro dos Curandeiros.
Não era algo que eu passasse muito tempo pensando porque, como a
possibilidade de perder meus poderes de cura, a possibilidade de perder
minha sexualidade me fazia sentir que poderia me perder.
Mas era verdade. Desde que acordei no Retiro, não sentia quase nada
em termos de desejo sexual. E eu não era estúpida... Eu sabia que a
Bruma estava acontecendo agora. Eu podia ver a fome nos olhos de Nina.
E claro, parte de mim se perguntou se era por isso que ela se recusava
a sair do meu lado.
Que ela pensou que teria sorte comigo novamente, transaríamos
loucamente, e então ela poderia correr de volta para o Retiro ou onde
quer que ela fosse.
Mas a maior parte de mim estava cansada de se preocupar com as
possibilidades. Não era como se eu estivesse acasalando com ela neste
momento. Não tínhamos nenhum tipo de compromisso.
Tudo que eu sabia era que me sentia bem quando estava com ela.
Talvez não tenha entendido bem, mas enfim.
E eu não me sentia bem assim há algum tempo.
— Você está aqui sozinha? — O homem bonito me perguntou, e eu
percebi que estava olhando para o fundo do meu copo novamente.
— Ah. Desculpa, não. Minha amiga está apenas...
— Estou aqui — disse Nina sem fôlego por trás do meu outro ombro,
e me virei para vê-la olhando o homem de cima a baixo. Então ela olhou
para mim, seus olhos brilhando. Como se houvesse algum tipo de
travessura se desenrolando em sua mente.
— Eu não queria interromper, — disse o homem. — Eu posso deixar
vocês duas...
— Não, — disse Nina enquanto pegava a mão dele, colocando a outra
mão no meu ombro.
Ela me olhou intensamente e, de repente, eu sabia exatamente o que
ela estava pensando.
E eu também queria.
Então me virei para o homem e dei-lhe um sorriso sedutor.
— Fica.
Josh

Respirei fundo e entrei no escritório de Aiden. Eu iria fazê-lo me ouvir


desta vez.
Gostando ou não.
— Aiden. — Eu balancei a cabeça para ele, e ele ergueu os olhos dos
papéis em sua mesa.
— Você é meu Alfa, e eu o respeito, você sabe disso. Eu nunca faria
nada pelas suas costas. Eu quero seguir suas ordens. Mas se você não
começar a me ouvir, Konstantin vai se tornar uma ameaça muito real
para as pessoas que amamos...
— Eu acredito em você.
Quase tropecei para trás. O quê? Eu tinha preparado um maldito
discurso inteiro, esperando que ele encontrasse todas as desculpas do
mundo para me expulsar da sala ou me calar ou me lembrar de sua
autoridade.
— O quê?
— Eu disse que acredito em você, Josh. Sente-se. Vamos repassar.
Minha mente estava girando quando me sentei na cadeira em frente a
ele. Eu nem me senti vitorioso. Apenas confuso.
— Estou feliz que você esteja a bordo, cara, mas o que... mudou?
— Sienna. Ela raciocinou comigo...
— Nossas companheiras parecem ser boas nisso.
— Nem me fale. Como está Michelle?
Suspirei.
— Ela está abalada. Logo depois que ela o viu sair do relógio, ela
correu para fora de casa. Achei que ela tivesse encontrado um rato ou
algo assim, então corri para o quarto. E o relógio estava lá, aquele em que
coloquei a substância de alcatrão. Mas o alcatrão havia sumido. É como
se simplesmente... evaporasse.
— Então você colocou o alcatrão da noite do Baile de Inverno...
— Sim, as coisas que Michelle vomitou. Eu tirei da caixa de evidências
e coloquei no relógio para que eu pudesse rastreá-lo através do cheiro.
— Esperto.
Eu concordei.
— Mas agora o material se foi. O relógio está vazio. Então tudo o que
temos é um vampyro que pode clonar a si mesmo e a duas companheiras
grávidas.
Eu olhei para Aiden e percebi que nós dois tínhamos a mesma
expressão.
A expressão que dizia: O que é que a gente faz?
Sienna
Michelle e eu estávamos comprando roupas para o chá de bebê em tons
pastéis quando percebi que ela esfregava o pulso pela camisa de manga
comprida.
— Michelle, você está bem? — Perguntei à minha amiga, que tinha
uma expressão distante no rosto. — Michelle?
— Hm? — ela respondeu, olhando para mim.
— Você está bem?
— Sim, por quê?
— Você continua esfregando seu pulso.
Ela olhou para o pulso, como se não tivesse percebido que estava
fazendo isso.
— Ah. Sim. Tá coçando muito. — Ela arregaçou a manga e nós duas
ofegamos.
Porque ali em sua pele, em forma de uma bolha, estava a queimadura
de onde a gosma negra a havia queimado.
Mas agora, estava brilhando.
Jocelyn

— Ah... ah meu Deus... — Eu gemi, até que a boca de Nina cobriu a


minha e eu não consegui dizer mais nada. Sempre gostei da tarde, mas
fazia meses que não vivia nada assim.
Estávamos nos beijando tão intensamente, tão apaixonadamente, e
era exatamente o que eu sonhava quase todas as noites.
De repente, o homem entre minhas pernas mudou sua velocidade.
Sua língua estava se movendo lentamente, me lambendo como uma
provocação, mas agora tinha mudado de marcha — e estava fazendo com
uma rapidez que eu não conseguia entender.
Enquanto ele estimulava meu sexo, Nina colocou as mãos em volta
dos meus seios, massageando-os suavemente. Toda a atenção em mim,
no meu corpo — era como se meu espírito estivesse encontrando o
caminho de volta para mim.
Ondas de prazer percorreram meu corpo e, ao fazê-lo, senti meu
clímax crescer.
Eu estava sentindo de novo!
Minha sexualidade estava de volta!
Eu podia sentir minhas costas arqueando, meus mamilos
endurecendo, meu núcleo se contraindo — eu estava prestes a gozar. E
quando olhei para o rosto de Nina, seus olhos se fecharam em êxtase
enquanto ela girava sua língua em volta do meu mamilo, percebi que
Wendy estava errada.
Eu não estava me perdendo.
Não tão cedo, de qualquer maneira.
Capítulo 9
GENES ASSUSTADORES
Sienna

— Estou tão feliz por finalmente podermos ficar juntos, — Charlotte


anunciou do outro lado da mesa.
Estávamos sentados em um pequeno restaurante italiano pitoresco,
em uma mesa bem perto da janela da frente. E embora houvesse uma
óbvia agressão passiva nas palavras de Charlotte, não pude deixar de
sentir que esta noite seria... legal.
— É adorável. — Eu sorri pra ela. — Diga-nos, o que vocês dois têm
feito?
— Bem, acabamos de voltar de um período de um mês em Bora Bora.
Por mim, nós nem iríamos ‘em bora', — Daniel disse, esperando que
ríssemos de sua piada. Soltei uma risadinha educada e Aiden forçou um
sorriso.
A boca de Charlotte não se mexeu.
— Sim, foi bom. Embora o sol enjoe depois de um tempo, não é?
— Não acho que o sol está enjoado mesmo depois dos bilhões de anos
em que está queimando, mãe, — respondeu Aiden.
Eu o chutei por baixo da mesa. Não provoca, Aiden.
— Você mencionou negócios da matilha na outra noite, Aiden. O que
aconteceu? Há algo que devemos saber? — Daniel perguntou, enfiando
um pedaço de pão na boca.
Observei sua mão bronzeada espalhar mais manteiga em um novo
pedaço de pão antes de terminar de mastigar.
— Não, — respondeu Aiden. — Nada para se preocupar. Apenas
algumas coisas de liderança.
— Não preciso lembrar que já fui um líder, filho, — Daniel respondeu
com a boca cheia.
— Não, você não precisa, pai.
— Tudo pronto para pedir? — O garçom perguntou ao aparecer em
nossa mesa, e nós assentimos.
Depois de mais uma hora e meia de conversa quase agradável,
estávamos terminando nossas refeições e prontos para sair de lá.
Aiden e eu podemos não ter sido agraciados no momento, mas eu
estava mais do que feliz em me envolver em alguma relação amorosa
normal.
Jantar com meus sogros era o máximo de interação com eles que eu
poderia aguentar em uma noite.
Vestimos nossos casacos e saímos, prestes a nos despedir, quando
ouvi uma voz inconfundível chamar meu nome do outro lado da rua.
— SIENNA!
Virei-me para ver minha mãe correndo pela rua, para grande
consternação dos carros que tentavam dirigir.
Merda.
Mamãe sabia tudo sobre os pais de Aiden, e ela não era exatamente a
maior ã deles.
Por mais que eu amasse o fato de saber que ela tentaria me defender,
não queria causar uma cena.
Eu só queria que a noite acabasse.
— Oi, mãe, — exclamei com falsa sinceridade enquanto a abraçava.
— Oi, Melissa. — Aiden a abraçou em seguida. — Melissa, você
conhece meus pais, Charlotte e Daniel, — Aiden apresentou.
Melissa acenou com a cabeça, sorrindo para eles.
— Claro, eu não sabia que estavam de volta à cidade.
— Acabamos de chegar de Bora Bora alguns dias atrás, — respondeu
Daniel.
— Uau, — minha mãe respondeu, sem um traço de sarcasmo. — Bem,
vamos fazer um encontro em família, que tal? Vou preparar algo! Brunch,
amanhã ao meio-dia. Vocês topam?
Como é?
Eu olhei para ela, tentando fazer com que ela retirasse o convite.
Essa não era a reação que eu esperava.
Talvez mamãe não fosse tão leal quanto eu pensava, e agora eu teria
que ficar sentada durante o brunch bem passivo-agressiva e ser
bombardeada por perguntas infantis?
Nem a pau.
— Mãe, acho que Aiden e eu estaremos ocupados amanhã à tarde.
— Ah, bobagem, querida. Nada é mais importante do que a família, —
ela disse de volta para mim, e eu encarei ainda mais.
— Bem, nós achamos que soa adorável, — Charlotte anunciou.
Daniel assentiu com entusiasmo ao lado dela.
— Absolutamente, — afirmou.
— Ótimo. Está combinado.
— Mãe, posso falar com você por um segundo? Em particular? — Eu
perguntei, levando-a para longe do grupo. Quando estávamos fora do
alcance da voz, comecei a sussurrar freneticamente, — Você está louca?!
— Eu exigi. — Isto é uma receita para o desastre.
— Ah, pare com o drama.
— Não estou sendo dramática! Você não tem ideia da confusão que
acabou de criar.
— Sienna Mercer-Norwood, — minha mãe me interrompeu.
— Pare de pensar em você. O bebê que está dentro de você, é com
quem você deveria se preocupar agora. Você me entende? E aquele bebê
merece dois pares de avós.
Com um último olhar, minha mãe voltou para se juntar aos outros,
deixando-me para trás para pensar sobre suas palavras.
Aiden

— Não se esqueça do sorvete! — Sienna gritou do quarto.


— Eu peguei o sorvete! — Eu gritei de volta, carregando a sacola cheia
de comida para a porta da frente. Já havia passado de meio-dia e
deveríamos estar na casa dos pais de Sienna dez minutos atrás.
Mas Sienna continuou protelando.
— Sienna, vamos. Não vai ser legal se chegarmos uma hora atrasados.
Ela apareceu no corredor, finalmente vestida e pronta para ir.
— E aí que você está errado. Se chegarmos uma hora atrasados, isso
significa uma hora a menos de tempo que teremos que passar naquele
brunch caótico.
— Não vai ser tão ruim assim, — eu assegurei a ela. — Olha, seus pais
são incríveis. Meus pais serão educados. Eles não têm razão para não
ser...
— Nenhuma razão, exceto que eles descobriram sobre a gravidez através
do Jornal da Matilha, — ela me lembrou.
Ah, é.
Ela pode ter razão.
Eu balancei minha cabeça.
— Ok, mesmo que eles estejam bravos...
— Eles estão loucos, — ela confirmou.
— Mesmo que estejam, este é o nosso dever de filhos. Temos que ser
civilizados. Vamos sorrir, comeremos rabanadas, responderemos suas
perguntas de forma monossilábica, e então voltaremos para casa e para
transar em todos os cômodos, — eu disse, puxando-a para perto de mim
pelo colarinho de sua jaqueta.
Ela olhou para mim, seus cílios longos batendo. — Promete? — Ela
perguntou.
Inclinei-me e a beijei, saboreando a suavidade do momento.
— Prometo.

— Estão atrasados! — Melissa trovejou assim que a porta se abriu.


— Foi culpa de Aiden, — disse Sienna enquanto beijava a mãe na
bochecha e entrava.
— Não foi minha culpa, — eu disse, rindo, enquanto abraçava Melissa
e seguia minha companheira.
— Crianças más! — Ela gritou atrás de nós enquanto
descarregávamos o sorvete e as frutas na cozinha. — Todo mundo já está
na mesa, vamos.
Entramos na sala de jantar e fiquei impressionado com a propagação.
A mesa estava coberta com travessas de waffles, panquecas, ovos, bacon,
fricassé — literalmente, toda comida de café da manhã que eu já amei
estava lá.
— Melissa, — eu declarei. — Você se superou.
— O quê, você não vai tirar os olhos da comida por tempo suficiente
para dizer olá para seus pais? — Eu olhei para cima e vi meu pai sorrindo
para mim, minha mãe franzindo os lábios na cadeira ao lado dele.
Aproximei-me deles, curvando-me para beijar suas bochechas.
— Oi, gente, — eu os cumprimentei, e então dei a volta na mesa para
beijar a bochecha de Selene e apertar a mão de Jeremy. — Desculpe, nós
os deixamos esperando.
— Não se preocupe, — respondeu Jeremy. — Não é como se alguma
dessas coisas tivesse um gosto melhor quente, de qualquer maneira, —
ele brincou. Eu bati em seu braço.
Sienna apareceu na sala de jantar, Melissa seguindo atrás dela com
uma jarra de mimosas.
— Tudo bem, todos, sentem-se! — Melissa ordenou enquanto
começava a servir. Robert entrou na sala alguns segundos depois.
— Olá a todos. — Ele sorriu para todos na mesa enquanto puxava
uma cadeira.
— Não quero apressar todo mundo, mas vou esperar mais dez
minutos antes que Vanessa acorde de seu cochilo e comece a chorar,
então podemos comer? Por favor? — Selene perguntou.
— Sim, sim. Comer! — Melissa anunciou, e tudo explodiu em caos.
Pratos foram passados, comida foi jogada e garfos foram usados sem
reservas. Assim que coloquei o primeiro pedaço de waffle na boca, fiquei
em êxtase.
— Viu? Não é tão ruim, — eu sussurrei para Sienna com minha boca
cheia. Mas ela ainda não parecia convencida.
Sienna

Observei enquanto todos ao meu redor riam e comiam, mas eu mal


tocava na comida. Eu não tinha apetite. O buraco no fundo do meu
estômago me mantinha cheia e não estava diminuindo.
Por algum motivo, tive a sensação de que a merda estava prestes a
bater no ventilador.
Eu queria que fosse um bom brunch em família, de verdade.
Eu queria pensar em meu bebê e permitir que ele tivesse dois pares de
avós incríveis e amorosos, exatamente como minha mãe disse. Mas algo
dentro de mim estava incerto.
Mais do que incerto... era cauteloso.
— Sienna, você parece perdida em seus pensamentos, — observou
Charlotte na minha frente.
Eu sorri pra ela.
— Só de pensar em tudo o que há para fazer esta semana, — eu disse a
ela.
— Bem, não pense muito. O estresse não é bom para o bebê, — ela
disse, e eu tive que me impedir de revirar os olhos.
— Bom saber...
— Falando no bebê, você teve tempo de olhar para o seu histórico
médico? — Charlotte pressionou, e eu ouvi o resto das conversas na mesa
morrerem.
Todos ali estavam cientes dos costumes de Charlotte e provavelmente
queriam ver o drama eles mesmos.
— Por histórico médico, você quer dizer...
— O histórico médico de seus pais. Seus pais verdadeiros, quero dizer,
— ela disse, seus olhos se voltando para mamãe e papai. Eu senti a raiva
me invadir. Como ela ousa?
Como ela ousa entrar na casa dos meus pais, comer a comida deles e
denunciá-los como meus pais na frente da minha família?
— Esses são meus pais verdadeiros, — eu disse, sorrindo com os
dentes cerrados. — Se você está perguntando sobre meus pais biológicos,
a resposta é não. Não sei muito sobre eles.
— Bem, você não está preocupada com a saúde do seu bebê?
— Mãe, — Aiden tentou interromper, mas ela continuou falando.
— Quero dizer, há tantas perguntas sem resposta. Você ao menos
sabe como foi o seu próprio nascimento? Como você pode estar
preparada para ser mãe de um bebê sobre cujos genes você nada sabe?
Senti lágrimas brotando em meus olhos enquanto Charlotte
continuava me atormentando com perguntas.
Só que não era seu interrogatório incessante ou mesmo seu tom
paternalista que estava me fazendo perder a calma.
Era o fato de que tudo o que ela estava me perguntando eu já havia
perguntado a mim mesma.
Essas eram as perguntas que me atormentavam cada vez que pensava
em como seria finalmente conhecer meu filho. Nosso filho.
Como eu seria capaz de explicar de onde ele ou ela veio se eu não
soubesse? Como seria capaz de lidar com problemas de saúde ou
diferenças genéticas se não tivesse ideia do que esperar?
Senti que estava avançando, criando um futuro, quando meu passado
nunca havia sido compreendido.
— Mãe, chega, — Aiden repetiu, mais alto desta vez, e finalmente fez
Charlotte parar.
— Sabe, querida, não quero dizer nada disso rudemente. Eu só quero
que você esteja preparada. Não há nada mais importante do que um
bebê.
Eu olhei para ela, observando seu rosto perfeitamente maquiado e o
diamante em seu pescoço. Mas seus olhos não pareciam maliciosos —
pareciam honestos. E foi isso que fez com que o buraco no meu
estômago crescesse.
Porque se Charlotte estivesse agindo maliciosamente, falando com
nada além de falso veneno, eu poderia ter lidado com isso. Mas ela não
estava.
Ela estava falando a verdade.
Capítulo 10
CHOQUE E DOR
Josh
Josh: Ei cara.

Josh: Você está por aí?

Josh: Quero conversar sobre algumas coisas.

Josh: Tenho examinado o osso de dinossauro.

Josh: Mas só encontro becos sem saída.

Josh: Você tem algum contato que conheça um vampyro?

Josh: Informações de alguém da espécie ajudariam bastante


Josh: Alô? Aiden?

Michelle

Havia algo sobre fazer minhas unhas que geralmente me excitava.


Eu sabia que era uma coisa estranha de se dizer, mas era verdade.
Ter as mãos mimadas, massageadas e transformadas era uma
experiência extremamente sensual.
Agora, com um monte de hormônios da gravidez explodindo pelo
meu corpo, e saindo do salão de beleza, eu estava prestes a jogar Josh no
chão e montá-lo por horas.
A Gruma ainda não tinha nos atingido, mas não estava nos atrasando.
Nem um pouco.
Desde que descobrimos as notícias, não estávamos apenas trepando à
noite; estávamos transando sempre que tínhamos a chance. Chame isso
de sexo de celebração, chame de sexo de paternidade, como quer que
você chame, eu estava gostando.
Muito.
Enquanto eu virei minha chave na fechadura, empurrando a porta
aberta, eu pensei sobre onde eu gostaria de transar loucamente com meu
companheiro naquela tarde.
Na banheira?
Na poltrona?
Ou talvez em sua mesa de escritório, como da última vez...
Mas então entrei no foyer e minha mente parou de funcionar. Quer
dizer, parou de pensar. Tudo o que podia fazer era observar a vista.
E por vista, eu quis dizer minha casa... completamente virada de
cabeça para baixo.
Almofadas do sofá estavam espalhadas por todo o chão. Cortinas de
abajur foram jogadas longe de seus candeeiros, livros e papéis cobriam
todas as superfícies e embalagens de comida vazias estavam espalhadas
por toda a sala.
— Josh? — Eu chamei hesitante. Dei mais alguns passos e tentei
novamente. — JOSH! — Alguns segundos depois, ouvi um movimento
vindo do escritório em casa de Josh, e então o vi aparecer no corredor.
— Você está completamente acabado, — eu exclamei, minha boca
caindo aberta de surpresa.
No decorrer das oito horas que eu estive fora de casa, meu
companheiro conseguiu se transformar em um sem-teto que estava em
uma tortura de dez anos.
Seu cabelo estava cheio de graxa. Ele tinha manchas de tinta nas mãos
e no rosto. Sua camiseta tinha buracos e seus olhos estavam tão cheios de
sangue que eu podia ver a vermelhidão de longe.
— Oi para você também, querida, — ele disse, mudando de posição.
— Você está bêbado?! — Eu exigi. — Não são nem cinco da tarde
ainda.
— Eu estava fazendo negócios, — ele balbuciou. — E foi frustrante.
Então eu bebi algumas cervejas.
— Algumas cervejas, — eu repeti, com as mãos na cintura.
Ele assentiu.
— Que negócios?
— Konstantin. O filho da puta está tornando muito difícil rastreá-lo
agora que não temos seu cheiro.
Suspirei, caminhando até ele.
Sim, eu estava chateada que meu companheiro parecia um maldito
morto-vivo e claramente não estava com vontade de trepar, mas ele
estava fazendo tudo isso para proteger nossa família e tudo mais.
— O que você tem até agora? — Eu perguntei a ele.
— NADA! — Ele trovejou, socando a parede ao lado dele.
— Ei! — Eu gritei de volta. — NÃO DESCONTE SUA RAIVA NESTA
CASA, VOCÊ ME ENTENDEU?
Ele olhou para mim, com cara de cachorrinho.
— Sim.
— Bom menino. O que você achou naquele osso de dinossauro? Deve
haver algum tipo de pesquisa por aí sobre outros ossos, outros vampyros
que fizeram a mesma coisa...
— Eu sei. Eu simplesmente não consigo encontrar.
— Cale a boca, Josh, — eu disse a ele, agarrando-o pelos ombros e
olhando-o bem nos olhos. — Você é o homem mais inteligente que já
conheci. Você é o único em quem confio para fazer isso, certo? Ele está lá
fora. E você pode nos encontrar.
Seus olhos brilharam para mim, mostrando um pequeno retorno à
vida.
— Você fica sexy quando tenta me motivar, sabia?
— Sim, bem, você não é sexy quando cheira a uísque à tarde e
transforma a sala de estar em um abrigo contra bombas depois da
bomba, — respondi, afastando-me dele.
— Retire isso.
Eu sorri para ele.
— Não. Eu estava pronto para arrancar sua vida no segundo em que
entrei pela porta, mas em vez disso, você está aqui bebendo,
choramingando e jogando minhas almofadas do sofá...
— Michelle...
— Você continua falando sobre agir, Josh. Então pare de lamentar!
Tome uma atitude! Você sabe o que pesquisar. E daí que você não
encontrou na primeira hora que olhou? E daí que todo mundo pensa que
você é louco? VAI TRABALHAR.
— Michelle...
— O que?
— Vem cá, — disse ele, sorrindo para mim e agarrando minhas mãos.
— Deixe-me ver aquela manicure.
— Como você sabia? — Eu perguntei a ele, observando enquanto ele
inspecionava minhas unhas vermelhas e brilhantes.
— Você disse que estava pronta para ferrar com a minha vida no
segundo que você entrou. Isso só poderia significar uma coisa.
Eu ri, minha frustração com meu companheiro idiota diminuindo.
— Ok, espertinho... — Ele estava beijando meus dedos e depois as
costas da minha mão e então minha manga caiu, expondo meu pulso.
Eu vi a queimadura primeiro.
Estava brilhando novamente.
— Josh, — eu sussurrei, e seus olhos mudaram da pele que ele estava
beijando para o meu rosto. Quando ele viu minha expressão de pânico,
ele seguiu meu olhar e imediatamente seus olhos se arregalaram.
— Que diabo é isso?
— É... é da queimadura.
— A queimadura que o alcatrão lhe deu?
Eu balancei a cabeça para ele. Ele engoliu em seco. Então ele ergueu
meu pulso até o nariz e deu uma fungada profunda. Depois de um
segundo, ele me olhou nos olhos.
— Michelle, eu posso usar isso. Posso usar para rastreá-lo.
— Você pode?
Ele assentiu freneticamente.
— Sim. Eu preciso levar sua mão comigo...
— Você é um idiota, — rebati. — Eu vou contigo.
— Não. Você está grávida. Não vou colocar você nesse tipo de perigo.
Ele é imprevisível. A coisa toda é imprevisível...
Peguei seu rosto em minhas mãos e o calei com um beijo.
— A vida é imprevisível, amor. Mas isso é tanto problema meu quanto
seu. Eu também quero vingança. Eu quero segurança. E você e eu, somos
uma equipe. Então eu vou.
Ele olhou para mim por um segundo e pude ver sua mente girando
por trás dos olhos.
Ele estava inseguro, preocupado e um pouco excitado com meu tom
exigente.
Nossa, como ele é fácil de ler.
— Se alguma coisa acontecer com você, Mich, não sei o que vou
fazer...
— Portanto, certifique-se de que nada aconteça comigo. Depende de
nós, Josh. O resultado está em nossas mãos. Além disso, embora Sienna e
Aiden digam que estão fazendo tudo o que podem para ajudar com isso,
eles estão claramente distraídos demais para fazer qualquer coisa.
Josh acenou para mim.
— Aiden parecia mais disposto a falar, mas não ouvi falar dele desde
ontem de manhã. Ele não retornou minhas mensagens de texto ou
minhas mensagens de voz...
— Exatamente. É hora de nós brilharmos, amor, — eu disse a ele,
puxando seu rosto para o meu novamente. Beijei seus lábios e, em
seguida, seu pescoço e mordisquei o lóbulo de sua orelha. — É hora de
você ser o Alfa aqui. — Quando Josh puxou meu rosto de volta para o
dele, seus olhos brilharam com uma nova vida — um novo fogo. Eu sorri
para ele.
— Mas agora, limpe a maldita sala de estar, — eu disse, evitando-o
para dentro do quarto. — Estarei esperando na banheira.
Sienna
Ok, eu sei que Willa acabou se tornando a pior assistente de todos os
tempos — me enganando e piorando todo o drama da série
Companheiras reais — mas eu sentia falta de ter suas habilidades
organizacionais por perto agora.
Não foi nem minha ideia fazer um chá de bebê comum, ou mesmo
um chá de bebê, mas ali estava eu.
Fazendo todas as ligações.
Organizando todos os arranjos florais, a reserva, o cardápio.
— Sim, eu gostaria de reservar o quarto dos fundos para uma festa
privada no sábado, — eu disse à garota do outro lado da linha. Michelle
queria que o chá fosse no Jewel, que era o restaurante da moda do
momento.
No entanto, faltavam literalmente dois dias para o sábado e ainda
ninguém tinha feito uma reserva. Então fui deixada com esse dever —
aparentemente, meu sobrenome carrega algum status.
Quem diria.
— Este sábado? — A garota perguntou incrédula.
— Isso é impossível...
— É um chá de bebê. Para mim, Sienna Mercer-Norwood e minha
melhor amiga, Michelle.
Eu ouvi uma inspiração profunda.
— Ah. Olá, Sra. Norwood. É claro. Claro, podemos encaixá-las.
Quantas pessoas aproximadamente?
— Não mais do que vinte, — eu disse a ela.
— Ótimo, e que horas?
— Meio-dia, por favor.
— Sem problemas. E para o menu, você está pensando em um buffet
ou uma refeição de três pratos à mesa ou...
Suspirei, esperando que ela não tivesse me ouvido. Eu não estava nem
um pouco a fim de fazer aquilo.
Preparação estúpida para um evento do qual eu não queria participar.
Seria apenas atenção indesejada, pessoas sorrindo e reagindo sobre
algo extremamente privado.
Especialmente depois do jeito que eu estava me sentindo desde o
brunch com meus pais e Aiden — e mesmo antes disso, honestamente.
Eu realmente não estava com humor para comemorar.
Eu estava com vontade de trabalhar meus próprios medos,
silenciosamente e sozinha, em um espaço seguro. E Jewel não parecia ser
um espaço tranquilo ou seguro.
— Olá? Sra. Norwood?
— Oi, desculpe, — respondi à garota. — Eu vou te dizer uma coisa,
você escolhe. Somos todos muito discretos, mas desde que haja comida
normal para o brunch, ficaremos felizes.
— Você quer que eu... escolha?
— Isso mesmo. Obrigada, até sábado, — eu disse, desligando o
telefone. Soltei um suspiro profundo. Um a menos.
Eu estava prestes a ligar para o florista para organizar algum tipo de
arranjo floral com tema de bebê — o que diabos isso significava —
quando de repente uma dor aguda passou pelo meu estômago.
Parecia que uma agulha estava sendo enfiada no meu intestino, com
um milhão de outras agulhas projetando-se da primeira em todas as
direções.
— AAHHH! — Eu gritei, caindo no chão. — AIDEN! —
Imediatamente ouvi seus passos correndo — e então ele estava bem na
minha frente enquanto eu balançava em posição fetal, segurando minha
barriga.
— O que foi?! — Ele correu, segurando a parte de trás da minha
cabeça.
— Não sei! Ligue para Jocelyn!
Aiden

— AAHHH! AIDEN! — Eu ouvi o choro de Sienna no quarto e corri para


fora da cozinha imediatamente. Ela estava no chão, balançando para
frente e para trás, seu rosto pálido.
— O que foi? — Eu exigi, segurando a cabeça dela fora do chão.
Minha mente estava girando. O bebê, o bebê, o bebê, era tudo o que podia
pensar.
— Não sei! Ligue para Jocelyn! — ela gritou, e minha mão disparou
no meu bolso, agarrando meu telefone.
Um segundo depois, eu estava ligando para o telefone de Jocelyn, mas
foi direto para a caixa postal.
— Não sei se ela está no Retiro...
— ENTÃO LIGUE PARA O RETIRO! — Sienna gritou, sua respiração
instável.
Eu disquei o número.
— Retiro dos Curandeiros, como posso ajudá-lo?
— Eu preciso falar com Jocelyn, a curandeira da Manada da Costa
Leste. É uma emergência!
— Senhor, acalme-se...
— Aqui é o Alfa da Matilha da Costa Leste, não me diga para me
acalmar!
— Jocelyn não está mais conosco.
Minha respiração ficou presa na minha garganta.
— Não está mais com vocês? O que você quer dizer?
— Ela deixou o Retiro ontem, Alfa. Se você quiser, podemos colocá-lo
em contato com a conselheira-chefe...
Desliguei, minha mente ainda estava em círculos.
Jocelyn se foi.
Inacessível.
Sienna está com dor.
Lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
O bebê está em perigo.
Quem pode nos ajudar?
Quem pode cuidar de nosso filho?
Capítulo 11
A CAÇA
Sienna

Após a explosão inicial de dor, meio que diminuiu. Eu ainda estava


deitada no chão em posição fetal, ainda balançando para frente e para
trás, mas agora não havia uma agulha cortante apunhalando minha
barriga. Não, agora era apenas uma dor surda.
— Temos que levar você a algum lugar, — Aiden argumentou ao meu
lado.
— Eu só quero Jocelyn, — eu murmurei.
— Ela está desaparecida, Sienna! E não podemos esperar que ela
reapareça. Precisamos de alguém para te examinar agora.
— Tá. — Sentei-me lentamente e Aiden correu para me ajudar a ficar
de pé.
— Devagar, — ele instruiu enquanto eu dava meus primeiros passos.
— Você está bem? Posso carregar você?
— Estou bem. Tô melhor agora.
— OK.
Saímos de casa, entramos no carro e Aiden nos levou pela cidade.
Quando entramos na praça, olhei para ele.
— Aqui?
— A recepcionista da Casa da Matilha mencionou este lugar um
monte de vezes. Ela diz que vem muito aqui. Para seus filhos, para si
mesma.
Eu fechei meus olhos. Se não podia ser Jocelyn, realmente não
importava quem era.
— Tudo bem, — eu disse. — Certo.
Aiden me ajudou a sair do carro e, em seguida, passou o braço em
volta da minha cintura, ajudando-me a entrar no Centro de Cura.
O Centro de Cura que ficava em uma maldita praça, próximo a uma
loja de pipoca, mas um Centro de Cura mesmo assim.
— Precisamos ver alguém. Com urgência, — Aiden disse à
recepcionista assim que estávamos no balcão de check-in.
— O tempo de espera é de cerca de meia-hora...
— Não, — ele interrompeu. — Você não entende. Ela está grávida e
teve uma dor enorme...
— Você pode dizer isso ao curandeiro.
— Eu sou o ALFA, porra! — Aiden trovejou. Eu olhei pra ele. Eu
nunca o tinha visto usar seu título assim antes, para receber um
tratamento especial. Normalmente, ele era extremamente humilde
quanto à sua autoridade.
Mas vê-lo assim, tão protetor comigo, tão disposto a fazer qualquer
coisa para me ajudar — e ao bebê dentro de mim — eu me enchi de
orgulho. Esse era meu companheiro. Esse era o pai do meu filho.
— Ah — certo, Alfa. Alfa Norwood. Claro, — a recepcionista
gaguejou, os olhos examinando o caderno à sua frente. — A Sala Três
está aberta. Vá em frente e espere lá. O curandeiro vai entrar.
— Obrigada, — eu disse gentilmente, sorrindo para ela. Aiden deu a
ela um sorriso tenso e, agarrando-me com um braço forte novamente,
nos levou até a Sala Três.
No segundo em que entramos, eu me senti enjoada.
Não que fosse sujo ou nojento ou algo assim; o quarto estava
esterilizado. Tudo era branco ou cinza, os instrumentos médicos no
balcão eram de prata e cheirava a desinfetante.
Aiden viu meu rosto se contorcer.
— O que foi? Tá doendo? — ele perguntou enquanto me sentava na
cadeira, agachando-se para encontrar meus olhos.
— Não, é só... isso não parece certo, Aiden, — eu disse, meus olhos se
enchendo de lágrimas.
Eu sabia que estava exagerando e não queria soar como a
companheira de algum Alfa mimada, mas nosso bebê merecia coisa
melhor do que este centro de cortar biscoitos!
Nosso bebê merecia Jocelyn.
Aiden suspirou.
— Eu sei, mas isso é o melhor que podemos fazer agora. Até
encontrarmos Jocely...
— Onde ela está? — Eu choraminguei. — Não faz sentido que ela
simplesmente... desapareça.
— Eu sei, e nós a encontraremos. Mas por enquanto.
— Olá e bom dia, senhoras e senhores! — Um homem baixo e
atarracado, provavelmente na casa dos 60 anos, exclamou ao passar pela
porta. — Eu sou o Curandeiro Persnippy, mas vocês pode apenas me
chamar de Curandeiro P. Qual é o problema? Como estão todos?
Eu desviei meus olhos do sorriso enorme no rosto do Curandeiro P
para olhar para o meu companheiro. Mas ele estava evitando meu olhar.
— Sienna, ela está grávida de quase dois meses. E cerca de uma hora
atrás ela teve uma dor paralisante em seu estômago, ela ficou no chão
por pelo menos quinze minutos, e nós só queremos ter certeza de que
está tudo bem, — explicou Aiden.
O curandeiro se aproximou de mim e, imediatamente, senti meu
corpo erguer paredes. Eu não sabia o que havia nesse homem, mas não
gostava dele.
Nem um pouco.
— Tudo bem, Serena, certo? Você pode levantar sua camisa para mim?
— O quê? É Sienna, — eu rebati.
— Sienna! Caramba, tive uma manhã cheia, você entendeu. Certo,
então levante sua camisa, querida, e veremos se descobrimos o que causa
este pequeno incômodo. — Ele sorriu para mim.
O fundo da minha garganta formigou como se meu corpo quisesse
vomitar, e eu não culpei isso.
Tudo, desde a pele manchada do Curandeiro P até a barriga
pendurada sobre as calças, me deixou com náuseas. Mas Aiden estava
acenando para mim, encorajando-me a acabar com isso, então levantei a
bainha da minha camisa sobre o meu estômago.
O Curandeiro P não perdeu um segundo. Ele colocou suas mãos
geladas em cada lado do meu umbigo, dando um passo o mais perto que
podia de mim sem que nossas barrigas batessem.
Ele parecia mais grávido do que eu.
— Respire fundo, — ele me instruiu, e eu me impedi de revirar os
olhos enquanto inalava. Quando deixei o ar sair, ele pressionou com mais
força na minha barriga, aumentando a dor ainda presente. Eu estremeci,
mas não reclamei.
— Ah, — disse ele, com as sobrancelhas franzidas. — Ahh, — ele disse
novamente como se estivesse aprendendo algo útil. Eu me virei para
olhar para Aiden, que parecia tão confuso.
— O que foi? Você sente alguma coisa? — Eu perguntei ao curandeiro.
— Shh! — ele estalou para mim, seus olhos ainda fechados enquanto
ele continuava a tocar minha pele. Eu estava fervendo, mas o deixei
continuar a me sentir por mais um minuto.
Quando ele soltou outro — Ahhh, — no entanto, essa foi a gota
d'água. Eu empurrei suas mãos de cima de mim.
— O QUE é tão interessante? O QUE VOCÊ ESTÁ DESCOBRINDO?
— Eu gritei, não me importando se todo o Centro de Cura me ouvisse.
Mas o Curandeiro P apenas riu, Virando-se para Aiden.
— Você tem uma mal-humorada aí, não é?
— Se você não se importa fale comigo, — eu rebati, — Eu realmente
gostaria de saber o que você sentiu sobre o bebê dentro de mim.
— Bem, antes de entrar em detalhes, Serena...
— Sienna!
— Eu gostaria de repassar algumas diretrizes básicas. Você sabe que
mulheres grávidas não podem beber álcool, se envolver em qualquer
atividade excessivamente agressiva e se deslocar, certo? Você não tem se
entregado a nenhum desses...
— NÃO! — Eu gritei, perdendo cada grama de paciência.
— Bom, porque apenas uma taça de vinho ou se transformar por
alguns minutos pode arruinar o feto.
— Ela já disse que não fez nenhuma dessas coisas, certo? Você pode
apenas nos dizer o que você sentiu? — Aiden perguntou, sua paciência se
esgotando também.
O curandeiro P acenou com a cabeça, olhando diretamente para
Aiden.
— Alfa, posso conversar com o senhor no corredor por um minuto?
Meus olhos se arregalaram. Meu queixo caiu no chão.
Esse idiota acabou de pedir para contar ao meu companheiro o que ele
descobriu do meu corpo, PRIVADAMENTE?!
Ah. Nem. A. Pau.
— Com licença?! — Eu trovejei.
— Vamos demorar apenas um momento, querida. — O Curandeiro P
sorriu para mim enquanto saía pela porta. Aiden lançou um olhar para
mim e encolheu os ombros, como quem diz: ‘Vai entender... ’.
— AIDEN! — Eu sussurrei — gritei. Mas ele já estava fora da porta.
Levantei-me, rolando minha camisa de volta para baixo e tentando
controlar minha respiração.
Inspira.
Expira.
Inspira.
Expira — não. Foda-se.
Eu não tive que controlar minha respiração por nenhum motivo
maldito. Aquele era meu bebê. Era meu corpo! Eu tinha todo o direito a
cada pedaço de informação, a cada ideia ou sensação que alguém pudesse
sentir por causa disso!
Então, saí furiosa da sala.
Lá estavam os homens, encostados na parede, falando em voz baixa.
Eu não conseguia acreditar nisso. Este não era um clube de garotos — era
a minha maldita gravidez!
Eu gemi alto, e então voltei para a área de check-in, empurrando a
porta da frente aberta e saindo do centro completamente.
Eu estava na calçada do lado de fora quando ouvi a porta se abrir
novamente e Aiden chamar meu nome.
— Sienna!
Parei de andar, mas não me virei para encará-lo. Não conseguia me
lembrar da última vez em que estive tão zangada, — tão chocada.
Não havia nenhum tipo de prática normal de cura. Aquele curandeiro
era tão retrógrado — nojento, pouco profissional e totalmente rude.
— Sinto muito, — disse Aiden suavemente atrás de mim.
— Desculpe sobre o quê? — Eu rebati, girando. — Por me levar a
algum maldito curandeiro? Por me deixar sozinha no quarto para que ele
pudesse te dizer o que há de errado com o bebê dentro do meu corpo!?
Eu não terminei. Eu continuaria o rasgando. Mas antes que eu
pudesse continuar, alguém se aproximou de nós.
— PARE! — A mãe de Aiden, usando seus óculos escuros de grife,
comandou da minha direita. — Não há necessidade de meu filho e sua
companheira gritarem um com o outro em público, para que toda a
matilha veja!
O quê? De onde ela veio?
— Por que você est...
— Aqui? — ela perguntou, terminando a frase de Aiden. — Bem, eu
estava na área e vi a briga de seu namorado de lá.
— Você estava na área? Isto é uma praça. — Estava mais do que claro
que Charlotte Norwood não fazia praças.
— Tá. Passei pela sua casa esta manhã para convidar vocês dois para o
café da manhã e os vi saindo com pressa. Então eu os segui.
— Você nos seguiu?!
— ABAIXE SUA VOZ, — ela exigiu. — NÃO TEREI NENHUM
FILHO MEU FAZENDO CENA EM PÚBLICO. VOCÊ ENTENDE?!
Michelle

Depois de convencer Josh de que iria junto para a caça aos vampyros, não
importava o que acontecesse, arrumamos o carro, sentamos em nossos
assentos e decolamos. Ele estava dirigindo, como sempre, mas eu estava
no comando da música e dos lanches.
Nossa, eu adoro uma viagem.
— Eu estou tão animada! — Eu gritei do banco do passageiro,
estendendo a mão para beliscar a bochecha de Josh. — Você não está
animado? Você, eu, a estrada, fast food...
— Esta não é uma viagem de um ano sabático, Michelle! — Josh
zombou. — Isso é sério. Estamos em uma missão.
— Ah, certo. — Eu balancei a cabeça, fingindo seriedade. — A missão.
Ele se virou para mim, sorrindo.
— Você vai manter essa atitude durante todo o trajeto? — ele
perguntou, trazendo sua mão para a minha coxa e apertando.
Eu estava prestes a responder com uma excelente resposta quando —
eletricidade rasgou meu corpo.
E não o fogo suave da eletricidade da Bruma.
Não, estou falando do fogo, do formigamento, cada célula dentro do
meu corpo explodindo de eletricidade.
Todos os meus músculos se contraíram de uma vez, e cada
centímetro da minha pele ficou hiperconsciente do que a estava tocando.
Mas precisava de mais.
Eu precisava de mais.
Eu precisava de sexo.
Eu precisava de sexo primitivo, urgente e perigoso.
Eu olhei para Josh, sabendo que meu rosto estava contorcido em uma
bagunça voraz e movida pela luxúria. Mas o dele parecia exatamente o
mesmo.
Eu podia ver em seus olhos, em sua boca.
Ele estava tão consumido pela necessidade.
— AGORA, — eu disse, não sendo capaz de formar mais palavras. Josh
parou no posto de gasolina à frente.
Saltei do carro, correndo para o banheiro lá dentro. Se Josh não
estivesse aqui nos próximos três segundos, eu cuidaria de mim mesma.
Naquele momento.
Na verdade — foda-se. Eu decidi me virar sozinha.
Rasguei minha calça jeans e mergulhei meus dedos dentro de mim.
Instantaneamente, meu corpo desabou no chão, minhas pernas
incapazes de me segurar. Mas não importa. Eu não me importei. Meus
dedos continuaram se movendo.
A porta do banheiro se abriu.
A ideia de trancá-la nem havia passado pela minha cabeça.
E lá estava Josh, mais gostoso do que nunca, me observando me
enlouquecer.
Bem, pensei. Esta deve ser a Gruma.
Capítulo 12
CHÁ DE BEBÊ
Aiden

— Pela milionésima vez, Sienna, ele não disse nada.


— Bem, ele puxou você para o corredor para uma pequena discussão
por um motivo!
Suspirei. Estávamos de volta em casa, na cama, prontos para encerrar
a noite, mas Sienna simplesmente não desistia. Eu disse a ela uma e outra
vez que o curandeiro não tinha me dito nada. E isso era verdade.
Bem, era quase verdade.
Ele não me disse nada importante.
Nada do que ele me disse me fez acreditar que ele realmente sabia
alguma coisa sobre cura ou sobre o estado de saúde do nosso bebê.
Sinceramente, acho que ele só queria falar com um Alfa por alguns
minutos.
Sienna se virou de lado, de costas para mim.
— Vamos, — eu disse, cutucando ela. Mas ela não se mexeu. Então eu
me aproximei dela, envolvendo meus braços em torno dela para que
estivéssemos de conchinha. — Ok, você quer um resumo da conversa?
— Sim.
— Tá. Ele disse que era um prazer me conhecer, que eu parecia um
verdadeiro Alfa — não um daqueles molengas. E ele disse que quando
sentiu você, teve a sensação de que algo estava errado.
Sienna se virou para mim com os olhos arregalados.
— Algo está... errado?
— Sienna, não podemos confiar em uma palavra que esse cara está
dizendo. Ele claramente só queria me conhecer, me impressionar com
algo — E você acha que ele tentou te impressionar dizendo que algo está
errado comigo?!
— Não sei, — admiti, coçando a cabeça. — Não sei o que pensar. Mas
você não está mais sofrendo, certo?
— Não, — ela disse suavemente, balançando a cabeça. — Mas eu
preciso saber...
— Eu sei, — eu disse, beijando seu nariz. — Vamos descobrir o que
foi. Eu prometo. A primeira coisa que vou fazer amanhã é rastrear
Jocelyn...
— Não. A primeira coisa que vai acontecer amanhã é o maldito chá de
bebê.
Merda.
Eu esqueci disso.
Eu concordei.
— Ok, depois do chá de bebê, vou localizá-la. Vamos resolver isso,
Sienna, eu prometo a você.
— Mas você me promete que não vai se preocupar com isso, ok? Não
até que tenhamos um motivo para nos preocupar.
Ela fechou os olhos suavemente, e quando os abriu alguns segundos
depois, eles estavam cheios de confiança. Confie em mim, nas palavras
que estava dizendo.
— Ok, — ela sussurrou, e então se aninhou em mim.
E adormecemos assim, envoltos no calor um do outro.
Sienna
Eu não estava nem um pouco animada para ir ao chá de bebê, para ser
sincera.
Olha, eu sabia que deveria ser algo que eu queria fazer — celebrar o
futuro nascimento de nosso filho com nossa família e amigos mais
próximos. Aquilo era um marco, algo que a maioria das mulheres gritaria
de alegria só de pensar.
Mas ali estava eu, envolta em um suéter azul pastel com ombros
largos, me sentindo como uma garota emo em um filme deprimente.
Não estava ajudando o fato de eu nunca ter me sentido mais inchada
na minha vida. Embora o espelho mostrasse o mesmo corpo que sempre
tive, senti como se tivesse ganhado dezoito quilos durante a noite.
— O que há de errado, meu amor? — Aiden perguntou enquanto
caminhava até onde eu estava, mas meus olhos ainda estavam fixos no
espelho.
— Eu não sei o que há de errado comigo.
— Não há nada de errado com você, Sienna.
— Eu não estou falando sobre fisicamente. Estou dizendo, por que
estou temendo tanto isso? São todos que amamos, Aiden. Eu deveria
estar animada com isso.
— Você teve alguns dias exaustivos. Nós dois tivemos, — ele disse,
inclinando meu queixo para cima para ter melhor acesso aos meus lábios.
Ele me beijou. — Não vai ser tão ruim, eu prometo. E depois que acabar,
teremos a tarde só para nós. Sem nenhum plano, — disse ele, sorrindo
maliciosamente.
Eu olhei em seu rosto bonito, seus olhos brilhantes e envolvi minhas
mãos em seu pescoço. Então eu trouxe meus lábios de volta aos dele,
sentindo o calor percorrer meu corpo enquanto nos beijávamos
ternamente. E com o calor veio um ressurgimento de energia, me
lembrando que meu corpo não estava fora de meu controle.
Que eu ainda tinha poder sobre mim mesma.
Eu o beijei com mais força, pressionando-me contra ele com uma
nova urgência.
— Sienna, espere, — disse ele depois de alguns segundos. Sua voz
estava rouca e nós dois estávamos respirando pesadamente.
— Nós vamos nos atrasar.
— Quem se importa?
— Uh, seus pais. Meus pais.
Ele agarrou minha mão e me levou para fora do quarto, me sentando
no sofá da sala. Ele foi até a sapateira perto da porta e pegou minhas
botas, então se agachou na minha frente e deslizou meus pés nelas.
Eu não sabia por que, mas o gesto era meio... excitante.
— Você realmente vai recusar sexo agora? — Eu perguntei a ele, meus
olhos observando seu rosto. Eu pude ver o arrependimento passando por
cima disso. Mas então ele olhou para mim.
— Eu não estou recusando sexo. Estou pedindo para você ser
paciente. Temos uma tarde inteira pela frente. E quem espera sempre
alcança, — ele disse enquanto suas mãos subiam pelas minhas coxas.
Eu estreitei meus olhos para ele.
Ele está sendo um maldito provocador.
E eu não vou aceitar isso sentada.
Então eu me levantei, pegando minha bolsa e saindo direto pela
porta.
— Nesse caso, vejo você no carro.

Quando chegamos ao Jewel, o chá de bebê estava em pleno andamento.


Todos os nossos familiares e amigos estavam se misturando na sala dos
fundos, rodeados pelos arranjos florais em tons pastéis que eu pedi à
floricultura.
Os garçons andavam com travessas de mimosas, e a mesa comprida
estava decorada com peças centrais em rosa pastel e azul. Eu tinha que
admitir que o lugar era lindo.
— Sienna! Você está linda! — Selene exclamou enquanto jogava seus
braços em volta de mim, me trazendo para um abraço apertado.
— Eu não sinto isso, — eu ri de volta. — Estou tão inchada e... não sei,
só me sinto nojenta. Como se meu corpo precisasse sair da minha pele
ou algo assim.
— Cale a boca, você está incrível nesse azul. Sério, seu cabelo está
lindo! — Eu sorri para minha irmã. Eu não pude evitar. Seu entusiasmo
era contagiante.
— Somos os últimos a chegar aqui? — Eu perguntei, olhando ao
redor. Eu vi mamãe e papai no canto conversando com Charlotte e
Daniel, uma conversa que eu não estava planejando participar tão cedo.
Aiden estava em uma conversa profunda com Jeremy, e de pé ao lado
da mesa estavam Erica e Mia, bebendo algumas mimosas.
— Michelle ainda não chegou, — Selene me informou. — Josh
também.
Eu verifiquei meu telefone. Já era meio-dia e vinte e o brunch fora
marcado para o meio-dia. Claro, Michelle vai chegar muito tarde.
Ela precisa de todos os olhos nela, sempre.
— Bem, você está bebendo, pelo menos? Eu preciso que alguém beba
e aproveite ao máximo por mim!!!
Selene riu.
— Jeremy e eu estamos tentando cortar nosso consumo de álcool. —
Eu lancei a ela um olhar mortal antes que ela pudesse terminar. — Mas se
você quiser que eu beba uma mimosa, eu bebo uma mimosa.
Eu concordei.
— Tome uma mimosa.
Quando Selene deu alguns passos para trás para pegar uma mimosa
do prato de um garçom, senti minha frustração crescer dentro de mim.
Eu nem queria ter o maldito chá de bebê, e Michelle ainda nem estava
aqui?
Fui eu quem organizou tudo, e ela nem ia tomar a liberdade de trazer
o traseiro aqui a tempo?
E ela não estava apenas alguns minutos atrasada. Já estava vinte e
cinco minutos! Quem ela pensava que era, a rainha da Inglaterra, porra?!
Sienna: Michelle.

Sienna: Cadê você?

Sienna: São 12h25.

Sienna: Todos estão aqui, menos vocês.

Sienna: O que é estranho, porque nós duas deveríamos ser as


anfitriãs.

Michelle
Josh estava dirigindo pela estrada quando senti meu celular vibrar no
bolso. Alcancei-o no meu bolso e li a tela.
E então meu estômago afundou.
— MERDA!
— O que foi? O que aconteceu? — Josh perguntou, virando seu rosto
para mim.
— É o chá de bebê! Agora mesmo! Todo mundo está lá, Josh. Sienna
vai ficar tão chateada! Vamos, vamos voltar. Vamos dar a volta! Ainda dá
tempo — Querida, já estamos dirigindo há três horas! Estamos muito
longe. Não podemos simplesmente dar meia-volta agora.
— Mas não podemos simplesmente não aparecer no meu maldito chá
de bebê!
Josh exalou, trazendo sua mão no meu colo para apertar minha mão.
— Você tem que pensar sobre as prioridades, Michelle. Sim, é uma
merda não estarmos lá. Mas estamos fazendo isso por um bom motivo,
certo? Estamos rastreando o cara que é uma grande ameaça para todos,
incluindo Sienna.
Ele olhou para mim novamente e vi que seus olhos estavam cheios de
determinação. Ele tinha se barbeado na noite passada e eu dei adeus para
aquela barba enorme que ele não tirava desde que eu acordei do coma. E,
meu deus, aquele homem estava incrível.
Suspirei.
— Tá. Tá bom. Talvez você esteja certo...
— Eu estou certo, amor. Você vai ver. Quando estivermos todos sãos e
salvos daqui a cinco anos, ninguém vai se lembrar do chá de bebê que
perdemos.
— É melhor que seja verdade, — respondi, deslizando meu celular de
volta no bolso e recostando-me no assento. Talvez eu devesse ter
respondido a ela... Porra, eu definitivamente deveria ter respondido a ela.
Mas o que iria dizer?
Oi, Sienna, sinto muito, mas não vamos chegar ao chá de bebê que foi
feito em nossa homenagem, bjs?
Eu acho que não.
Então fechei meus olhos, tentando drenar a energia negativa de
minha mente.
Estávamos em uma missão.
Josh e eu éramos as únicas pessoas que realmente estavam fazendo
algo para destruir Konstantin. Enquanto Sienna e Aiden comiam ovos e
bacon, estávamos caçando o último cara que interagiu com o vampyro.
Isso estava certo. Depois da minha pequena conversa estimulante
com Josh, ele ergueu a cabeça e fez algumas pesquisas sérias. Ele
encontrou um artigo de jornal de uma cidade a quase 400 quilômetros
de distância, sobre um homem que foi mordido por uma criatura.
Mas não era um lobisomem.
E a foto que acompanhava o artigo mostrava exatamente a mesma
mordida que havia no meu pescoço. Dada por Konstantin.
Razão pela qual estávamos na viagem, íamos caçar a outra vítima e
obrigá-lo a nos contar tudo o que sabia.
Josh estava certo. Isso era mais importante do que comer waffles e
receber elogios sobre como minha pele estava brilhando. Poderíamos ter
waffles e elogios a qualquer dia. Mas hoje estávamos em uma missão. E
ponto final.
Josh saiu da rua em que estávamos e entrou em um estacionamento.
Eu apertei os olhos para o enorme prédio de tijolos à nossa frente.
Parecia antigo como se tivesse estado lá por muito mais tempo do que
qualquer um de nós.
As letras brancas acima das portas da frente diziam: SANATÓRIO
MARPETTON.
— Querido, — eu consegui dizer. — Isso é tipo... um hospício?
Ele se virou para mim e vi o desconforto em seus olhos.
— O jornal dizia que se chamava Centro Marpetton. Achei que fosse
um centro de cura ou algo assim...
Engoli em seco.
— Bem, vamos acabar com isso.
— Espere um segundo, — disse ele, empurrando-me de volta contra o
meu assento. — Você vai ficar aqui. Não vou deixar você entrar em um
hospício. Mich, e se o cara for louco?
— Claro, ele é louco! Ele está em um hospício! — Eu gritei. — Mas eu
vou. Nós dirigimos todo o caminho até aqui e somos uma equipe,
lembra?
— Mas você está grávida!
— Sim, e da próxima vez que você usar isso contra mim, vou enfiar o
salto da minha bota bem na sua boca. Então pare de reclamar como uma
cadela e vamos para o maldito hospício.
Eu não esperei por sua resposta e saí do carro.
Capítulo 13
UMA MORDIDA FAMILIAR
Jocelyn

Depois que Nina e eu compartilhamos essa... experiência com o homem


bonito do bar do motel, foi como se estivéssemos de volta ao normal.
Estávamos totalmente em sincronia.
Passamos todo o dia seguinte aninhadas na cama, comendo um bufê
de Cheetos de sabores diferentes e fazendo a maior bagunça.
E quanto mais conversávamos, mais eu ficava impressionada com a
sensação de que... Eu conhecia Nina há muito tempo.
Desde sempre, talvez.
Era como se eu soubesse as palavras que ela estava prestes a dizer
antes de dizê-las. Cada história que ela me contou, cada anedota sobre
seu passado ou as pessoas que ela conhecia, parecia algo que eu mesma
vivi.
Nunca senti isso antes, esse tipo de conexão, com outra pessoa.
Como curandeira, estava acostumada a me sentir mais conectada às
pessoas do que qualquer outra. Eu estava acostumada a ser capaz de
compreender e ter empatia em um grau muito mais alto.
Mas isso... isso era completamente diferente.
Era como se Nina estivesse abrindo o livro de si mesma, permitindo-
me ver o que estava escrito nas páginas. Mas eu já tinha lido a história.
Eu já tinha memorizado.
Então, depois de passarmos outra noite juntas — desta vez sem
terceiros, apenas nós duas, fazendo um amor apaixonado, terno e
duradouro — decidimos que era hora de ir. Enquanto me vestia,
observando Nina pentear o cabelo no banheiro, me perguntei se deixar
este motel faria a bolha estourar.
A bolha da perfeição apaixonada.
A bolha de tranquilidade, onde nada era muito assustador ou muito
privado para falar.
Pare de se preocupar, Jocelyn, ordenei a mim mesma. Você tem sua
sexualidade de volta, você tem Nina de volta, você se sente restaurada. Nada
deu errado até agora.
— Esta pronta? — Nina perguntou, colocando a cabeça dentro da
sala.
Eu balancei a cabeça, abotoando o último botão da minha camisa.
— Vamos nessa, — eu disse, sorrindo para ela.
Já estávamos caminhando há algumas horas, a luz do sol irradiando
de nossos rostos enquanto seguíamos em frente em um silêncio
confortável.
Eu sabia que estaríamos chegando ao início do território da matilha a
qualquer minuto agora. Eu senti a preocupação em meu estômago
começar a se expandir.
Eu estava tendo uma discussão interna comigo mesma. Os últimos
dois dias com Nina foram perfeitos. A conexão que tínhamos... era
indescritível.
Eu sentia algo forte por ela.
Principalmente quando estava com ela.
Era meu dever tentar mantê-la segura. Para protegê-la.
Mas, ao mesmo tempo, se eu fizesse o que tinha que fazer para
protegê-la, eu estava garantindo que nunca ficaríamos juntas. Que nunca
mais passaríamos horas enroladas entre os lençóis, comendo besteira e
rindo até nossas barrigas doerem.
Nunca teríamos a chance de realmente tentar.
Essa foi a discussão que ocupou todo o espaço do meu cérebro, e
ainda estava forte quando alcançamos a placa que nos dizia que o
território da Matilha da Costa Leste estava começando.
— Nina, — eu disse, parando antes do sinal. — Eu não posso... não
posso deixar você ir mais longe.
— Nós conversamos sobre isso, Jocelyn. Eu te disse...
— Eu sei que conversamos sobre isso. Eu sei o que você disse. Mas eu
não posso... eu não vou ser capaz de me perdoar se alguma coisa
acontecer com você...
Nina deu um passo para perto de mim, seus olhos mostrando o
desafio que corria em suas veias.
— Esta é a minha escolha.
Eu olhei para o chão. Eu sabia o que estava fazendo, discutindo com
ela sobre isso. Eu estava fazendo parecer que não queria que ela fosse
comigo. Eu a estava afastando.
— Eu não sei o que Aiden vai fazer com você. Não é apenas um
exagero, Nina. Você mentiu para ele, você o traiu, você colocou a matilha
em perigo. E Aiden é um bom Alfa. Ele fará qualquer coisa para proteger
sua matilha. Ele vai fazer de você um exemplo...
— Eu não me importo. — Eu olhei de volta para ela. Eu esperava que
ela pudesse ver o cuidado genuíno em meus olhos, do jeito que eu podia
ver o desafio nos dela.
— Bem, eu me importo. Eu me importo com você. Nina. E sou a única
responsável por trazê-la aqui, o que significa que sou a única responsável
se algo acontecer com você. Eu não posso ser aquela que te causou dor.
Eu nunca poderia fazer isso com você.
Ela continuou olhando nos meus olhos por alguns segundos depois
que eu terminei de falar. Então ela se aproximou de mim, agarrando
minhas mãos nas dela. O toque fez com que uma onda de calor tomasse
conta de mim. Até mesmo segurar suas mãos me fez sentir mais forte.
— Eu sei que você está apenas cuidando de mim, Jocelyn. Você é a
pessoa mais gentil, mais doce e mais sexy que já conheci. E eu sei que
seguir em frente pode ser perigoso. Mas você sabe o que é pior do que
Aiden me machucando? Você sabe o que é pior do que qualquer Alfa me
torturando ou me matando? Ficar longe de você. Saber que me afastei de
você.
Sienna

O brunch estava quase pronto, mas eu não aguentava mais ficar na sala
dos fundos. Havia muita felicidade ali. Muita futilidade. E eu não estava
nem um pouco a fim de futilidades naquele momento.
Então disse a Selene que iria ao banheiro e fui ao bar principal do
restaurante. Sentei-me em um banquinho e observei as pessoas ao meu
redor beberem coquetéis de brunch, nenhuma delas se importando com
o mundo.
Eles não estavam preocupados com curandeiros assustadores ou
sogros ou com a composição genética desconhecida de seu filho prestes a
nascer. Não, eles só estavam preocupados em conseguir outro Bloody
Mary o mais rápido possível.
— Isso não se parece com o banheiro. — Eu ouvi a voz de Aiden atrás
de mim. Normalmente, sua voz era o suficiente para colocar um sorriso
no meu rosto, mas eu estava com um humor ainda mais azedo hoje.
Entre a experiência com o curandeiro ontem, a incerteza sobre o que
tinha acontecido que causou a dor e o chá de bebê conjunto para o qual
minha outra anfitriã nem se incomodou em aparecer, eu estava em um
buraco escuro e não via saída.
— Eu só precisava de um segundo para respirar, — eu disse, virando
minha cabeça para olhar para ele.
— Só mais um pouco, — ele me assegurou, levando as mãos aos meus
ombros. Ele começou a massageá-los, mas o contato me fez recuar. Eu
deslizei para longe de seu alcance.
— Por favor, Aiden. Posso apenas... ter um minuto?
Ele olhou para mim como se eu tivesse dado um tapa nele.
— Por favor?
— Uh, tá, — disse ele com uma dor nos olhos. — Claro, — ele
murmurou, se afastando.
Josh

— O nome é Gregory Grantwell. Ele foi internado aqui há quatro


semanas e meia.
— Como eu disse a você, cara, não importa quem ele seja. Se você não
é da família de alguém de dentro ou de um médico, não posso deixá-lo
entrar.
Eu olhei para o cara da recepção. Ele tinha cabelos castanhos oleosos
e acne, e estava claro que sentar-se atrás da mesa de algum asilo
psiquiátrico lhe dava uma viagem de poder.
— Você não entende, — eu disse, fervendo de raiva dele. — Isso é vida
ou morte. Precisamos falar com ele.
— Isso é péssimo, cara. Eu sinto muito. Não há nada que eu possa
fazer.
— Há sim algo que você pode fazer! — Michelle interrompeu ao meu
lado, com seu olhar raivoso. — Vamos entrar!
Ele olhou para ela, seu rosto não mostrava nenhum sinal de medo.
— Olha, vou precisar chamar a segurança?
— Você sabe quem eu sou? — Eu exigi.
— Alguém importante, aposto.
— Eu sou o Beta da Matilha da Costa Leste, entendeu? Este é um
assunto da matilha. Precisamos falar com Gregory Grantwell agora. Eu
preciso descobrir quem ele é, o que ele sabe...
— Grantwell é um cara bizarro, — o cara da recepção murmurou
baixinho. Ele não estava mais olhando para nós. Seus olhos voltaram
rapidamente para a tela do computador à sua frente.
Michelle e eu trocamos um olhar.
— O que você disse?
— Huh? Ah. Ele é bizarro.
— Por que?
O recepcionista encolheu os ombros.
— Ele trabalhou em algum orfanato antes de chegar aqui. Passou
todo esse tempo perto de crianças, bebês. Dizem que ele se apegou muito
a elas. Tipo, muito apegado. Algo está errado com o cara.
Inclinei-me sobre a mesa, olhando diretamente para ele.
— O que você quer dizer com isso?
— Ele é definitivamente louco, ok? Eu não deixaria nenhuma criança
chegar perto dele, com certeza. E por isso que não há visitantes. Ele é
incontrolável. Perigoso. Você deveria estar me agradecendo. É para sua
própria segurança.
Minha paciência estava se esgotando. Olhei ao meu lado para
compartilhar um olhar com Michelle, para comunicar não verbalmente
nosso próximo movimento, mas o espaço ao meu lado estava vazio.
Que porra é essa?
Ela estava aqui.
O pânico tomou conta de mim.
Afastei-me da recepção, olhando ao redor do saguão. E então eu vi
sua figura se retirando, virando a esquina do corredor.
Michelle

No segundo que o cara atrás da recepção mencionou que Gregory


Grantwell havia trabalhado em um orfanato, eu senti algo. Não doeu —
não muito.
Parecia que segundos depois de você aplicar o creme anestésico
quando sua pele coçava e formigava e parecia... estranho.
Eu imediatamente olhei para ele, para a queimadura em meu pulso, e
vi o brilho.
Mas não era o mesmo brilho de antes. A queimadura inteira não
estava brilhando desta vez.
Não, desta vez o brilho estava formando um símbolo.
Uma flecha.
E estava apontando para o corredor.
Então deixei Josh e o cara discutindo um com o outro e saí na direção
que a seta brilhante estava apontando. Quando cheguei ao final do
corredor, virei a esquina.
Eu não conseguia explicar, mas eu estava em uma realidade
alternativa. Eu ainda conseguia pensar, ainda conseguia me mover, mas
era como se eu só pudesse pensar em seguir a flecha.
Eu só poderia me mover se estivesse na direção certa. Era como se a
missão estivesse me controlando.
Virei em diferentes corredores e entrei em diferentes portas até que
me encontrei em uma área comum. Havia mesas e cadeiras, alguns sofás,
algumas revistas espalhadas.
Mas a flecha me empurrou para frente. Para um homem sentado
sozinho à mesa. Ele tinha o rosto escuro e seus dedos tamborilavam na
mesa. Seus ombros estavam curvados e seus olhos baixos.
Quando me sentei em frente a ele, meus olhos se fixaram em seu
pescoço.
Ele tinha a mordida.
Exatamente como dizia o artigo do jornal.
Enquanto meus olhos vagavam mais para cima, para seu rosto, eu
senti um zumbido de conexão explodir dentro de mim. Porque seus
olhos não estavam mais focados na mesa.
Não. Agora, eles estavam focados em mim.
Capítulo 14
O RETORNO DA LADRA
Michelle

— Oi, — eu disse, olhando diretamente para Gregory Grantwell. Embora


eu estivesse em um hospício, embora o homem à minha frente parecesse
em todas as partes o paciente louco que era, não senti medo. Não senti
nada, realmente. — Meu nome é Michelle.
— Ugh, — ele resmungou.
— A mordida em seu pescoço. Foi um vampyro.
— Ugh, — disse ele novamente, mas desta vez de uma forma que fez
soar como, sim.
— O vampyro era um homem chamado Konstantin?
Ao som do nome, o rosto do homem mudou. Seus olhos se
estreitaram e abriram novamente, mostrando uma nova vida atrás deles.
Ele lambeu os lábios e pigarreou. E então seus dedos pararam de
tamborilar na mesa.
— Konstantin, — ele sussurrou em uma voz rouca.
— Sim. Konstantin. Onde ele encontrou você?
— Onde?
— Sim, onde? No orfanato? — Eu perguntei, inclinando-me sobre a
mesa. Eu precisava fazer esse homem se abrir, me dizer tudo o que sabia.
Essa foi a única maneira.
Essa era a única maneira de Josh e eu completarmos a missão —
derrotar Konstantin e nos salvar.
— O orfanato, — Gregory repetiu como se estivesse tentando se
lembrar. Depois de alguns segundos de seus olhos no teto, eles flutuaram
de volta para mim. — O orfanato. Eu trabalhei lá. Trabalhei lá três anos.
— Como foi?
— Triste. Crianças tristes. Bebês tristes. Nenhum lugar para ir. Eu dei
amor a eles. Eu os ajudei.
— Como você os ajudou, Gregory? — Eu pressionei, precisando de
mais. Eu sabia que ele tinha isso nele. Eu sabia que ele tinha respostas. Eu
só precisava cavar até encontrá-las.
— Eu dei atenção a eles. Ninguém mais os queria. Eles foram
abandonados. Como lixo. Como lixo! — Ele exclamou, pulando de sua
cadeira.
— Compreendo. — Eu balancei a cabeça para ele, minha voz
reconfortante. Ou pelo menos, eu esperava que fosse. — Compreendo.
Vamos, sente-se, Gregory. Me diga mais. Por que Konstantin o
encontrou?
— Por que?
— Sim, porque? Por que ele te quis? O que te faz especial?
— Eu não sou especial, — ele declarou, balançando a cabeça para
frente e para trás. — Mas ele é.
— Ele? — Perguntei. — Quem é ele?
— O bebê.
— Que bebê, Gregory?
— O bebê. Konstantin veio. Ele queria levá-lo. Eu disse não. Tentei
protegê-lo. Eu tentei... TENTEI! — Ele gritou, pulando da cadeira e
jogando os braços para o ar. — EU TENTEI TENTEI TENTEI!
Seu rosto distorcido de raiva — ou dor — ou outra coisa tão visceral.
Meu batimento cardíaco começou a acelerar agora. Este homem era
grande, ele era forte. Ele poderia me separar se quisesse.
E eu estava sozinha.
Em um hospício.
— Gregory, está tudo bem. — Tentei acalmá-lo. — Por favor, sente-se.
Vamos apenas conversar...
— NÃO FALE MAIS! — ele trovejou, lançando-se em direção à mesa.
— EU NÃO FALO COM DESGRAÇADAS COMO VOCÊ. MALDITAS.
TENTANDO ME ROUBAR! TENTANDO ME ROUBAR TUDO!
Josh

Assim que percebi que Michelle havia partido, assim que a vi virar a
esquina do corredor, saí atrás dela.
— Ei! Ei, cara, eu disse que você não pode ir... foda-se! — Eu ouvi o
cara da recepção chamar atrás de mim e então ouvi seus passos vindo da
mesa e ganhando velocidade.
Então também comecei a correr.
Ele estava me perseguindo e eu estava correndo pelo corredor,
virando a esquina, e então fiquei preso.
Havia cinco portas diferentes na minha frente, levando a diferentes
corredores. Eu não sabia por qual Michelle havia descido.
Mas o cara da recepção estava bem atrás de mim.
— EI! — ele gritou.
Então eu escolhi uma e corri.
Continuei correndo pelo que pareceu uma hora, entrando e saindo
dos corredores, das portas, dos quartos.
Não consegui encontrá-la em lugar nenhum.
Não conseguia nem dizer se estava atravessando um novo terreno ou
se estava correndo pelos mesmos lugares indefinidamente. Tudo parecia
o mesmo.
O mesmo piso de linóleo, as mesmas paredes brancas amassadas.
Estéril e nojento ao mesmo tempo.
Mas continuei correndo, mantive meus olhos alertas. E foi então que
ouvi os gritos.
Eram gritos de homem e pareciam perturbados.
Siga-os, instruí a mim mesmo.
Conforme eu ficava cada vez mais perto dos gritos, senti o pânico
começar a me consumir. Michelle, que estava grávida, poderia estar
sozinha com um monstro insano. Um monstro insano pode estar
gritando com minha companheira grávida.
Eu irrompi pelas portas, encontrando um desgraçado de aparência
maluca gritando com Michelle, que estava encolhida em uma cadeira.
— EU NÃO FALO COM DESGRAÇADAS COMO VOCÊS,
MALDITAS, TENTANDO ME ROUBAR! TENTANDO ME ROUBAR
TUDO!
Eu não parei.
Eu não pensei.
Eu apenas corri pela sala, derrubando o filho da puta no chão.
Ele bateu a cabeça com força contra o chão e pude ver a confusão em
seus olhos. Eu aproveitei isso como nossa chance de fugir.
Pulei de cima dele, agarrando a mão de Michelle e puxando-a de volta
pelo corredor, passando por todos os quartos, até estarmos de volta no
saguão. Então eu a puxei pelas portas do hospício.
Aiden
Jocelyn: Oi, Aiden.

Jocelyn: Desculpa, não consegui atender suas ligações.

Jocelyn: Deixei meu celular na Casa da Matilha.

Jocelyn: Estou de volta agora

Jocelyn: Adoraria ver você, pode me encontrar?

Aiden: Graças a Deus você está bem.

Aiden: Estávamos tão preocupados.

Aiden: Claro que posso.

Aiden: Vejo você em breve.

Assim que recebi as mensagens de Jocelyn, corri para o quarto. Sienna


estava deitada na cama, os olhos fixos no teto.
— Jocelyn está de volta. Ela está na Casa da Matilha
Sienna estava voando para fora da cama antes mesmo que eu pudesse
pronunciar a frase.
— Vamos, — ela instruiu, indo para a porta.
Estávamos no carro e em nosso caminho alguns segundos depois,
nada além de silêncio preenchendo o espaço entre nós. Eu entrei no
estacionamento e estacionei na minha vaga, e nós dois saímos do carro.
Mas antes de partirmos para a Casa da Matilha, Sienna agarrou
minha mão.
— Ei, — ela começou. — Eu sinto muito por estar com esse humor.
Só... toda essa incerteza e o chá de bebê... é demais pra mim...
— Eu sei, — eu disse a ela, levantando suavemente seu queixo e
dando um beijo em seus lábios.
— Você não precisa se desculpar.
Entramos na Casa da Matilha de mãos dadas, e pela primeira vez
durante todo o dia, eu finalmente senti a força de nossa conexão de
acasalamento. Éramos novamente os companheiros calorosos, abertos e
amorosos que sempre fomos.
Danem-se esses hormônios da gravidez, — pensei enquanto
caminhávamos pelos corredores. Eu quase ri disso também, mas o que
estava à nossa frente me impediu.
Na verdade, parou tudo. Meus pés de se mover, meu cérebro de
pensar, meus olhos de piscar. Porque ali, a dez metros no corredor,
sentada ao lado de Jocelyn no banco do lado de fora do meu escritório,
estava a loba ladra.
A loba ladra que mentiu para entrar na casa da matilha, que se
aproveitou de Jocelyn, que manipulou a todos nós e pretendia nos
prejudicar.
Antes que eu pudesse me conter, corri pelo corredor. Só de olhar para
aquela desgraçada eu fui consumido pela raiva — o tipo de raiva que me
assustou porque eu não conseguia controlar.
— QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?! — Eu trovejei
contra a ladina, fazendo Jocelyn pular do banco.
— Aiden, pare! Nina está comigo, ok? Ela não está aqui para causar
nenhum problema. Ela está aqui para se desculpar...
— Eu não quero a porra das desculpas dela! — Eu respondi. — E
você... você a trouxe aqui?!
Jocelyn colocou a mão no meu braço, tentando me acalmar.
Não estava funcionando.
— Ela quer consertar as coisas, Aiden. Eu sei que você está apenas
protegendo o Matilha, e você deveria estar, esse é o seu trabalho. Mas as
pessoas mudam...
— Pessoas mentirosas, astutas e maliciosas não mudam, Jocelyn. Elas
nunca mudam. E essa vadia acabou de voltar para a matilha errada. — Eu
estava fervendo, certo de que as chamas estavam prestes a sair de minhas
narinas.
Mas Jocelyn apenas agarrou minha mão. Ela deu um aperto quente e
meus olhos deixaram a ladra por um segundo, encontrando os da
curandeira.
— Aiden, Nina está aqui para compensar o que ela fez. Ela quer
consertar as coisas, — Jocelyn explicou suavemente, e desta vez as
palavras realmente se infiltraram em minha mente. — Ela quer fazer isso
imediatamente.
Josh

Assim que Michelle e eu voltamos para o carro e tivemos alguns minutos


para recuperar o fôlego, nos viramos um para o outro.
— Já chega, — eu disse. — Vamos para casa. É muito perigoso...
— VOCÊ ESTÁ BRINCANDO COMIGO? — Michelle gritou, sua
reação me assustou pra caralho. — Eu quase fui dilacerada como uma
boneca de pano! Se formos para casa agora, terá sido em vão!
— Você... quer continuar fazendo isso? Michelle, aquele cara poderia
ter matado você!
— Exatamente! É disso que estou falando, Josh! — Ela olhou
diretamente para mim, e eu juro que me apaixonei mais pela loucura
atrás de seus olhos. — Estamos no caminho certo. Nós sabemos que
estamos. Nós sabemos para onde ir a seguir. Não podemos simplesmente
desistir.
— Mas você está grávida.
Michelle se abaixou e puxou a bota, mirando com o calcanhar na
minha boca. — Eu disse a você o que aconteceria na próxima vez que
você usasse isso contra mim.
Eu sorri — eu não pude evitar.
Minha companheira estava completamente louca.
E sexy pra caralho.
— Você realmente quer continuar?
Ela se inclinou em minha cadeira para que nossos rostos ficassem a
centímetros de distância.
— Eu quero continuar até encontrar o filho da puta que é o
responsável. E eu quero assistir você matá-lo.
Capítulo 15
NÃO SE TRANSFORME
Sienna
Selene: SIENNNAAAAAA.

Selene: Estou com a mamãe.

Selene: Queremos fazer um dia das meninas Mercer.

Selene: Vem logo!!!

Mãe: Oi Sienna, aqui é a mamãe. Selene está certa! Adoraríamos


passar um tempo com você.

Sienna: Oi pessoal.

Sienna: Não posso agora, estou no Casa da Matilha.

Selene: Você está trabalhando?!?!!

Selene: É fim de semana!

Mãe: Sienna, aqui é a mamãe de novo. Não gosto que você esteja
trabalhando tanto.

Selene: Sério, garota...

Selene: Você precisa RELAXAR!

Sienna: Eu realmente não posso agora.

Sienna: Sinto muito.

Sienna: Amo vocês.


Selene: Ahhhh não.

Selene: Você não vai se livrar tão facilmente.

Selene: Sério, Si, estou preocupada com você.

Mãe: Aqui é a mamãe de novo, Sienna. Eu também estou


preocupada! Você mal disse 10 palavras no chá de bebê.

Mãe: (Ainda é a mamãe) você precisa se animar! Aproveite a


gravidez! Vamos curtir um dia das meninas!

Sienna: POR FAVOR!

Sienna: Algumas coisas sérias estão acontecendo!

Sienna: Não posso ir embora!

Sienna: Te ligo mais tarde.

Selene: Sienna. Você parece estressada.

Selene: Stress NÃO faz bem para o bebê!!!

Selene: Você está me ouvindo?

Mãe: Sua irmã está certa!

Mãe: Stress = bebê triste.

Eu joguei meu celular de volta na minha bolsa, cansada da tempestade


passivo-agressiva de mensagens que mamãe e Selene estavam me
mandando. Tipo, já tinha problema suficiente!
Percebi que elas não gostavam da maneira como eu estava agindo, das
coisas que eu estava fazendo.
Elas deixaram isso bem claro.
Mas eu estava no meio de um confronto real na Casa de Matilha,
entre meu companheiro e a loba rebelde que voltou para a cidade por
algum motivo, e eu não poderia exatamente sair para fazer manicure!
— Eu não posso falar com ela. — Aiden ainda estava fervendo. O ela
sendo a loba desonesta, Nina, que ainda estava sentada no banco do lado
de fora do escritório de Aiden.
— Você pode, — Jocelyn respondeu, seu tom tão suave como sempre.
— Você só precisa abrir sua mente para a possibilidade de perdão, de
compreensão. Eu sei que você é capaz disso, Aiden...
— Eu não sou! Não quando se trata de uma pessoa que colocou
minha família, minha matilha, em perigo!
Eu vi Jocelyn olhar para Nina. Tentei descobrir o relacionamento
delas, a razão pela qual Jocelyn estava se esforçando tanto para ajudá-la, e
aquele olhar me explicou.
Havia amor entre elas.
Jocelyn estava apaixonada por ela.
Eu agarrei o braço de Aiden.
— Ei, — eu disse suavemente em seu ouvido. — Vamos dar uma volta,
você e eu. Vamos te acalmar. Tá? — Ele lançou seus olhos para mim, e eu
pude vê-lo relaxar instantaneamente.
— Sim, — ele respondeu, agarrando minha mão e me puxando pelo
corredor.
Eu me virei para Jocelyn antes que ele pudesse me puxar para além
dela.
— Dê-me alguns minutos, mas depois venha nos encontrar nos
fundos, ok? Estaremos na orla da floresta, — eu disse suavemente, para
que apenas ela pudesse ouvir.
Ela acenou para mim e pude ver a apreciação em seu rosto.
Mas eu entendi.
Às vezes fazíamos coisas malucas por amor.
— Dá pra acreditar nisso?! — Aiden exigiu enquanto caminhávamos
para fora da Casa da Matilha, pisando na calçada do lado de fora. — A
coragem daquela... daquela vadia!
— Aiden, — eu disse a ele, fazendo uma pausa e olhando
profundamente em seus olhos. — Eu preciso que você dê a ela uma
chance de se explicar, ok?
— QUÊ?
Eu respirei fundo.
— Jocelyn tem uma conexão com ela. Ela vê algo que nós não vemos.
E eu confio em Jocelyn. Ela é a melhor curandeira que conheço, certo?
Então, se Jocelyn está pedindo a você para dar uma chance à garota, para
deixá-la explicar, você tem que dar.
— Eu tenho que dar?! Eu sou o Alfa aqui, Sienna.
— Você pode ser o Alfa, mas ela é a curandeira. Ela é a curandeira do
nosso bebê. E precisamos dela agora mais do que do seu orgulho.
Aiden olhou para mim, realmente olhou para mim, e eu pude ver a
raiva em seus olhos se transformando em confusão. Confusão e depois
resignação. Ele piscou pesadamente e, sem palavras, apertou minha mão.
Eu interpretei isso como um, ok, Sienna.
Recomeçamos a andar em frente, em silêncio, até chegarmos à orla da
floresta.
— Você pode fazer isso, Aiden, — eu assegurei a ele, alisando a gola de
sua jaqueta. — Eu sei que você pode. Você é o homem mais gentil e justo
que já conheci.
— Ela nos colocou em perigo, Sienna...
— E ela pode ter tido um motivo muito bom.
Jocelyn

Esperei alguns minutos, como Sienna tinha me pedido, e então agarrei a


mão de Nina e puxei-a para fora da Casa da Matilha. Caminhamos pelo
pátio e depois partimos para a trilha que levava à orla da floresta.
— Ele parece bravo o suficiente para esganar alguém, — Nina
murmurou ao meu lado.
— Sienna está falando com ele agora.
— Jocelyn, eu falei sério antes, — Nina me interrompeu, puxando
meu corpo para mais perto do dela.
Ela colocou os braços em volta da minha cintura para que nossos
rostos estivessem praticamente se tocando. — Eu não me importo com o
quão bravo Aiden está. Eu não me importo com o que ele fizer comigo.
Ele pode me esganar agora mesmo. Contanto que eu passe mais tempo
com você, ficarei feliz.
Mesmo que eu devesse estar preocupada com as palavras dela,
enlouquecendo com elas, em vez disso, eu estava cambaleando de alegria.
Com euforia, até.
Porque ninguém me amou como ela me amava — nunca.
Ela estava disposta a se sacrificar, a passar pela dor, a suportar o que
quer que o Alfa considerasse uma punição suficiente, a fim de ficar perto
de mim. Para estar comigo.
Eu a beijei.
Com ternura no início, depois ficou mais apaixonado.
Mais urgente.
Antes de nos perdermos no incêndio que estava crescendo, eu me
afastei.
— Eu estarei aqui, o tempo todo. Eu farei o que puder, — eu disse a
ela.
Ela acenou com a cabeça.
— Eu sei que você vai. — Quando a clareira na borda da floresta
apareceu, o mesmo aconteceu com Sienna e Aiden. Eu podia vê-los
próximos um do outro, olhando um para o outro como se estivessem em
seu próprio mundo.
Eu quero isso, pensei antes de poder me conter.
Mas então eu vi Nina enquanto ela seguia em frente, sem desacelerar
nem um pouco. E percebi que naquela ladra — naquela mulher corajosa,
ousada e completamente louca — eu havia encontrado o que eu queria.
Corri para alcançá-la e, quando nos aproximamos deles, eles olharam
para nós. Sienna sorriu.
— Oi, pessoal, — ela cumprimentou. — Nós vamos dar outra chance.
Nós sabemos que qualquer pessoa que Jocelyn apoie já passou por um
teste difícil, então estamos abertos para ouvir. Certo? — Ela perguntou,
direcionando a pergunta para Aiden.
Aiden assentiu laconicamente.
Eu me virei para Nina.
— Pode começar.
Nina
Com os olhos de três dos líderes mais importantes da Matilha da Costa
Leste sobre mim, senti a pressão. Mas eu era o tipo de pessoa que
prosperava sob pressão.
Dê-me uma situação de risco e eu completaria a missão como um
puta super-herói.
— Eu vim para a sua Matilha com a intenção de traí-los, — eu disse a
eles, começando o apelo que determinaria meu destino.
— Eu não vou mentir sobre isso. Não vou mentir sobre nada, na
verdade. Como disse a Jocelyn, quero deixar tudo aberto. O que quer que
você escolha fazer comigo, eu vou entender.
Aiden não sorriu, não deu nenhum sinal de estar receptivo ao que eu
estava dizendo. Em vez disso, ele apenas franziu os lábios e disse: —
Continue falando.
Suspirei.
— Antes de vir para a Matilha, eu era uma ladra. Essa parte é verdade.
E eu roubei algo... de alguém extremamente poderoso. Alguém com
quem eu não deveria ter mexido. Depois que ela descobriu, eu fiquei sob
seu cativeiro. O que quer que ela me pedisse, eu tinha que fazer.
Eu me virei para Jocelyn, e ela me deu um aceno tranquilizador.
Então eu continuei.
— Ela me mandou vir aqui. Ela fez parecer com que eu estivesse
ferida e Jocelyn me curou... e eu comecei a conhecê-la. E comecei a me
apaixonar por ela, — eu acrescentei olhando para a curandeira.
Também era verdade.
Sua beleza, sua bondade — eu nunca tinha visto nada parecido antes.
Isso me deixou louca. Ela era tão forte e... tão vulnerável. E eu estava
completamente apaixonada por ela.
— Mas eu usei isso para me ajudar. Eu peguei tudo que pude.
Informações, oportunidades de espionar e descobrir mais.
— O que você estava procurando? — Sienna perguntou. A pergunta
não foi rude, mas também não foi gentil. Foi direta, sem rodeios. Então
pensei em retribuir o mesmo respeito.
— Você, — eu disse. — Minha missão era matar você.
Ele se lançou sobre mim antes que eu pudesse vê-lo chegando.
Suas mãos bateram contra meu rosto, seu corpo me derrubou no
chão da floresta.
Rolamos por alguns segundos, suas mãos agarrando meu cabelo, meu
rosto, meu pescoço, mas eu não senti nenhuma dor.
Eu realmente não senti nada.
Jocelyn

No segundo em que Aiden saltou sobre Nina, atacando-a, eu tive a


sensação de aprisionamento que você tem quando está em um pesadelo.
Mas não era apenas um sentimento que eu poderia reconhecer e liberar,
trocando pela vontade de agir em seu lugar.
Não, esse sentimento era obrigatório.
— NÃO! — Tentei gritar enquanto observava Aiden segurar Nina no
chão, segurando seus braços acima da cabeça, socando-a bem na
bochecha. — NÃO!
Mas não saiu nada.
Sem palavras, sem sons.
Tentei mover meus pés, voar até eles, separá-los, mas meu corpo
estava preso ao chão. Eu estava congelada.
O que está acontecendo?
O que diabos está acontecendo?!
Tentei várias vezes me mover, gritar, mas era como se eu não fizesse
mais parte deste mundo. O mundo estava acontecendo ao meu redor,
mas eu estava presa aqui, observando de longe.
E então me ocorreu.
Todos os avisos que Wendy me deu sobre deixar o Retiro dos
Curandeiros antes que eu estivesse pronta, sobre meu espírito não estar
totalmente restaurado... eles não eram apenas frutos de sua própria
paranoia.
Eles eram reais.
E como não os levei a sério, levei a pessoa por quem estava
apaixonada a uma briga de socos com um Alfa.
Mas eu não pude salvá-la.
Não, tudo que eu podia fazer era assistir.
Sienna

Eu não sabia para onde olhar.


Aiden estava em cima de Nina, lutando contra ela — eu poderia dizer
que ele não estava pensando. No segundo em que ela admitiu que esteve
aqui para me matar, ele perdeu o controle.
Seu cérebro não existia mais.
Foi substituído por uma confusão de raiva.
Ele faria qualquer coisa para me proteger, isso estava claro.
Mas eu não aguentava vê-lo destruindo a ladra. Mesmo que o que ela
disse fosse verdade, mesmo que ela tivesse planos de me matar antes, ela
veio se desculpar.
Jocelyn a defendia e eu tinha mais fé nas leituras de Jocelyn sobre as
pessoas do que nas minhas.
Eu olhei para Jocelyn.
Ela estava parada no mesmo lugar, com as pernas retas e a boca
entreaberta. Seus olhos estavam arregalados, olhando diretamente para a
luta, sem piscar.
Ela parecia que estava chocada e congelada.
Eu ouvi Aiden rosnar em cima de Nina e me virei para ver que ela
estava mordendo seu braço. Ele não vai reagir bem a isso.
— AIDEN! — Eu chorei, correndo até eles. — PARE! PARE COM
ISSO! — Eu exigi.
Mas eles simplesmente continuaram.
— Jocelyn? — Eu chorei, olhando para ela em busca de ajuda. Mas ela
nem piscou.
Tentei agarrar as costas de Aiden para puxá-lo de cima de Nina, mas
ele continuou se debatendo.
Ele era muito forte e estava enlouquecido demais para que eu pudesse
interferir.
Mas quando o vi deitado em Nina, quando vi o desespero em seus
olhos se transformar em resignação, o sangue escorrendo em seu rosto,
fiquei consumida pela necessidade de agir.
Eu não podia ficar de braços cruzados.
Eu precisava defender os indefesos.
Então eu apenas... me transformei. Sem pensar sobre isso, sem
respeitar meu corpo, ele apenas mudou por sua própria vontade. Eu
imediatamente saltei sobre eles, puxando Aiden de cima dela.
E no segundo que ele olhou para mim, me vendo em minha forma de
lobo, eu senti outra dor aguda na minha barriga.
Como antes, apenas cem vezes mais forte.
Eu me transformei de volta no próximo segundo, e então desabei no
chão.
Toda a energia dentro de mim se foi.
Eu não tinha mais nada para dar — nada para usar.
E quando meus olhos se fecharam, enquanto a dor continuava a se
intensificar, a única coisa que inundou minha cabeça foi o que o
curandeiro assustador disse a Aiden.
— Algo... estava... errado...
Capítulo 16
VAZIO INTERIOR
Sienna

No início, tudo que eu podia ver era escuridão.


Então a luz começou a sangrar.
Sombras e formas vagas dançaram no rosa de minhas pálpebras.
Eu não sabia onde, quando ou quem eu era. Tudo o que eu sabia era
que se abrisse os olhos, se permitisse que o mundo exterior se
intrometesse neste casulo de segurança envolta...
Eu descobriria algo terrível.
— Sienna... você pode me ouvir?
Uma voz suave e familiar me chamou. A voz de uma mulher que
conhecia e confiava. Uma curandeira, eu acho. Jocelyn.
Ela me chamou de Sienna. É claro. Isso é quem eu era. Como eu
poderia esquecer?
— Sienna?
Eu gemi em resposta, mal conseguindo pronunciar uma palavra,
preferindo a escuridão calma de antes.
— Tente abrir os olhos.
Resisti a isso com todas as fibras do meu ser. A escuridão, a
dissociação, a escuridão... isso me chamou a atenção agora. Eu me senti
aninhada em seu abraço misterioso.
— Por favor, Sienna... precisamos conversar... é... é sobre o bebê.
O bebê? Uma onda de pânico percorreu seu caminho da base do meu
estômago ao meu peito e minha garganta... até que eu pude ouvir um
suspiro involuntário escapando dos meus lábios.
— O que... do que você está falando? — Eu consegui.
Minhas pálpebras começaram a se abrir, ansiando por respostas, mas
eu não podia deixar.
Estava muito claro, muito duro, muito complicado lá fora...
No escuro, eu poderia simplesmente ser. Eu poderia flutuar no
esquecimento sem fim sem uma preocupação no mundo. Eu poderia
esquecer essa mulher, Jocelyn, esquecer que meu nome era Sienna,
esquecer a menção de um bebê...
Eu não poderia?
— Sienna, eu sou...
Eu ouvi um soluço abafado na voz.
Por que ela estava chorando?
O que estava acontecendo lá fora que poderia levar uma mulher
adulta, uma curandeira que já tinha visto muitas mortes em seu tempo,
às lágrimas?
Jocelyn era uma curandeira. Ela era minha curandeira. A curandeira
da Matilha.
E meu companheiro era o Alfa. Aiden era o Alfa. Aiden.
E eu era uma loba chamada Sienna. Dona de uma galeria.
Companheira de Aiden.
A companheira grávida de Aiden.
O bebê.
O bebê era meu.
Eu não podia mais ficar no escuro. Finalmente me lembrei de mim
mesma e de tudo que me levou a esse momento. Quase tudo.
— Jocelyn, — eu disse, e finalmente abri meus olhos.
Tudo estava confuso e claro, ah, tão horrivelmente claro. Um LED
brilhante escrito — HOSPITAL.
E lá, sentada curvada sobre minha cama, estava Jocelyn com lágrimas
nos olhos.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei, piscando, tentando me
ajustar ao mundo real. — Eu não me lembro o que aconteceu... eu mudei
e então...
— Sienna, — Jocelyn disse, pegando minha mão. — Eu não sei como
te dizer isso, mas... eu sinto muito. Você perdeu o bebê.
Eu lentamente olhei para o meu estômago. Não havia sinal de cicatriz
ou qualquer coisa errada.
Jocelyn deve ter se enganado.
Eu lentamente levantei minhas mãos, percebendo que havia tubos
médicos bombeando fluidos em minha corrente sanguínea.
Eu coloquei minhas mãos na minha barriga, espalhando meus dedos,
sentindo qualquer tipo de movimento. Claro que era muito cedo para
sentir um pé ou um batimento cardíaco. Mas eu procurei por eles de
qualquer maneira.
— Isso é estranho, — eu disse, franzindo a testa. — O bebê deve estar
se escondendo.
Os olhos de Jocelyn se arregalaram enquanto ela empalidecia.
— Sienna, você não ouviu...
— Eu mencionei que, uma semana atrás, eu o podia sentir dentro de
mim, mexendo? — Perguntei. — Eu sei que ele é apenas do tamanho de
um feijão, mas... isso é a vida para você. Talvez ele esteja cansado. Ou ela.
Afinal, ainda não sabemos o gênero.
Jocelyn colocou a mão na minha. Eu não sabia por que ela estava
olhando para mim assim. Como se eu estivesse louca ou algo assim.
— Você não está me ouvindo. O bebê não está se escondendo ou
dormindo. Ele se foi. Se foi, Sienna.
Se foi.
O que ela quis dizer com foi?
Meu bebê não se foi.
Meu bebê estava bem aqui, crescendo dentro de mim, onde pertencia.
— Não sei do que você está falando, — falei, sentindo-me
repentinamente zangada. — É uma coisa terrível de se dizer a uma mãe.
Talvez você deva sair, Jocelyn.
— Sienna! OLHE PARA MIM.
Eu cambaleei para trás na minha cama. Eu nunca tinha ouvido
Jocelyn levantar a voz antes.
Seu espírito era tão carinhoso e gentil que ouvir aquele tom de voz,
ver a severidade de sua expressão agora... me abalou.
— Você precisa acreditar em mim, — disse ela, enxugando uma
lágrima, tentando ser estóica. — Você precisa aceitar o que aconteceu.
— O que aconteceu?
— Você se transformou e o bebê... não aguentou.
Agora, eu me lembrei. Nina e Aiden, lutando. Jocelyn, paralisada. Eu,
em pânico, resolvendo o assunto com minhas próprias mãos.
Me transformando.
Desmoronando de dor.
Meu estômago. Meu bebê.
Meus dedos agarraram meu estômago, pressionando, arranhando,
procurando por qualquer coisa para provar que Jocelyn estava errada.
Mas agora eu sabia que ela não estava.
A verdade estava vindo para mim como uma inundação repentina, me
afogando onde ninguém deveria se afogar — no meio do deserto.
Sozinha e sem esperança e vazia. Eu estava vazia por dentro.
— Sienna, — Jocelyn disse, me observando estremecer. — Você está
bem? Enfermeiras! Precisamos de ajuda aqui!!!
De repente, as máquinas na sala estavam apitando e meu coração
estava batendo forte no meu peito e meu cérebro estava girando. Em
todos os lugares, eu sentia dor, confusão e agonia.
Em todos os lugares, menos em meu útero.
Lá, eu não senti nada. Porque não havia mais nada.
Enquanto as enfermeiras corriam para o quarto e Jocelyn recuava, as
lágrimas fluindo novamente, o som que deixou minha boca foi um uivo
anormal e mutilado.
Não de um lobo.
De uma mulher despojada de seu maior propósito.
Uma mãe, não mais. Uma casca.
Eu uivava e uivava enquanto os médicos tentavam me sedar, mas
nenhuma de suas drogas estava funcionando e, ainda assim, gritei para o
céu noturno que não conseguia ver porque apenas LEDs terríveis
olhavam para mim agora, e eu não ouvia nada além daquele som.
Onde deveria haver o som do choro de um bebê daqui a alguns meses,
haveria apenas este.
Este uivo sem fim.
Seria minha única voz agora.
Seria o único som que eu faria ou ouviria novamente.
Aiden
— PUTA MERDA!
Eu rasguei minha casa, rasguei tudo que estava em meu caminho,
incapaz de ficar parado, incapaz de processar o que estava acontecendo.
Eu voei para o berçário que Sienna e eu estávamos construindo. O
berço. A pequena cômoda. O pequeno tudo. Isso me fez grudar no
estômago, olhando para ele agora.
Eu não aguentava.
— NÃO! — Eu rugi.
Peguei o berço com as duas mãos, levantei-o acima da cabeça e joguei
contra a parede, observando enquanto a madeira se estilhaçava e se
partia e se espatifava no chão em uma pilha.
Rasguei as páginas dos livros de bebês que nossos pais nos deram. Eu
arranquei as pequenas roupas do armário, até que o quarto não fosse
nada além de destroços, comigo no centro, ofegante.
Foi tudo culpa minha.
Se eu não tivesse explodido com Nina, se eu não a tivesse
confrontado do jeito que fiz e forçado Sienna a se transformar...
Eu coloquei minha cabeça em minhas mãos, balançando para frente e
para trás. Não chorava desde o dia em que Aaron, meu irmão, morreu.
Alfas não deveriam chorar.
Não havia lugar para esse tipo de vulnerabilidade quando você era o
líder da matilha. Você precisava ser forte. Sempre.
Mas agora eu não era um líder. Eu era apenas um homem que havia
perdido seu filho. Um lobo que perdeu seu filhote.
E, pela primeira vez em anos, chorei. Eu chorei. Senti cada lágrima
queimar minhas bochechas, cada respiração ofegante, toda a saliva
caindo dos meus lábios rachados.
Eu nunca soube que um coração partido como este fosse possível.
Como eu deveria continuar?
Como eu deveria enfrentar minha companheira depois do que eu fiz?
Depois de tudo que perdemos?
Sienna

— Querida, você está bem?


Minha mãe se sentou ao lado da minha cama, segurando minha mão,
mas eu mal registrei sua presença. Todo mundo tinha vindo para visitar.
Minha mãe, meu pai, minha irmã.
Aiden.
Mas não prestei atenção neles quando falavam. Nem mesmo meu
companheiro. Eu senti como se estivesse congelado no tempo e no
espaço, e ninguém poderia chegar até mim.
Aiden deve ter sentido o mesmo.
Ele não podia ficar no quarto do hospital ou manter contato visual
comigo por muito tempo. Toda vez, depois de um minuto ou mais, ele
encontrava uma desculpa para ir embora.
Eu não o culpei.
O quarto cheirava a morte. Cada segundo ali era um lembrete do que
perdemos. Foi uma agonia paralisante para nós dois.
Embora eu desejasse o conforto do meu companheiro, eu sabia que
ele estava muito arrasado para oferecer qualquer um.
Eu vi seus pais, Charlotte e Daniel, falando com ele do lado de fora da
porta, e uma ideia passou pela minha cabeça. Eu me virei para minha
mãe.
— Mãe, você vai pedir a Charlotte para entrar? Eu quero falar com ela.
Minha mãe franziu a testa, surpresa. Charlotte e eu nunca gostamos
uma da outra. Eu pedir para falar com ela pareceu confundir minha mãe.
— Sienna, você tem certeza? Qualquer coisa que você precisar dizer,
eu posso...
— Não há mais ninguém com quem eu queira falar. — Minha mãe
pareceu um pouco ofendida, mas me deu um breve aceno de cabeça e se
levantou, pegando a mão de meu pai. Seus olhos brilharam com lágrimas
lamentáveis.
— Estamos aqui por você, Sienna. Não importa o que houver.
Eu não respondi. Esse tipo de gentileza só me fez sentir mais fria,
vazia e morta por dentro. Com Charlotte, a mãe de Aiden, eu sabia que
não haveria sorrisos. Sem gentileza. Sem fingimento.
Observei minha mãe pegar o braço de Charlotte e falar com ela
baixinho. Aiden os ouviu porque franziu a testa, me dando uma olhada
da porta do corredor.
— Tem certeza que ela pediu isso? — Ele perguntou.
Como se eu não estivesse a apenas alguns metros de distância,
ouvindo cada palavra. Minha mãe acenou com a cabeça, e Aiden se
afastou, ainda mais perplexo. Um segundo depois, Charlotte entrou e
fechou a porta atrás dela.
Por fim, tudo ficou quieto. Charlotte deu um passo hesitante para
frente, o olhar tão egocêntrico e antipático como sempre.
— Você me chamou? — Ela perguntou.
— Sim, — eu disse. — Eu quero a verdade, Charlotte.
— Isso é novidade.
Charlotte mordeu os óculos de grife, olhando para baixo. Pela
primeira vez, quase pude detectar uma sugestão de arrependimento em
seu rosto. Como se ela estivesse pensando: Agora não é hora de ser rude.
— Tudo bem, — eu disse. — Eu não pedi que você viesse aqui porque
esperava conselhos maternos.
— Então o que?
— Quando você veio jantar e brigou com meus pais, ficou falando
sobre meu passado, sobre minha genealogia, como se soubesse de alguma
coisa. Como se você soubesse que eu não estava preparada para ser mãe
de alguma forma.
— Eu não disse isso...
— Mas você pensou. E olhe. Você provou estar certa.
Charlotte desviou o olhar. Eu nunca a tinha visto incomodada por
nada. Sentei-me na cama, olhando para ela atentamente.
— Charlotte, — eu disse, forçando-a a fazer contato visual. — Diga-
me o que você sabe. Por que é que isto aconteceu comigo? Quem sou eu?
Sério.
Havia uma razão para eu ter perdido essa criança.
Não era apenas porque eu havia me transformado.
Eu podia sentir em meus ossos.
Charlotte respirou fundo e eu sabia que, finalmente, as respostas
estavam vindo.
Capítulo 17
QUEM SOU EU?
Michelle
Mia: Meu deus. Vocês ficaram sabendo?

Erica: (3 emojis chorando muito) Erica: Muuuuito triste Mia:


Ninguém merece isso.

Mia: Especialmente Sienna.

Michelle: Espere o que...

Michelle: O que está acontecendo?

Michelle: O que aconteceu com ela ???

Erica: Que merda

Erica: Esqueci que você foi embora, Mich.

Mia: Quer dizer que ninguém te contou ainda?

Michelle: CONTOU O QUÊ?!?!

Michelle: Alguém pode desembuchar logo?

Mia: Mich.

Mia: Sienna perdeu o bebê.

Não pude acreditar no que tinha acabado de ler. Não tinha como. Sienna
era a mulher mais poderosa que conheci. Se alguém foi feito para ser
mãe, era ela.
Como ela poderia, de todas as pessoas...
Lágrimas brotaram dos meus olhos quando Josh olhou, com as mãos
no volante, ainda nos dirigindo pela rodovia.
— O que é isso, o que há de errado? — Ele perguntou.
— É... a Si. Ela... meu Deus. Eu não posso acreditar nisso. Precisamos
voltar.
— O quê? — Josh perguntou, confuso. — O que você está falando?
Depois de tudo que acabamos de descobrir sobre Konstantin? Depois de
chegarmos até aqui, não podemos...
— JOSH! PARE A PORRA DO CARRO!
Josh pisou no freio e derrapou no meio-fio enquanto os carros
passavam por nós na rodovia. Ele parecia em pânico de repente. Minhas
mãos estavam cruzadas em volta da minha barriga.
— Você está bem? — ele perguntou. — É o... bebê?
— O nosso está bem, Josh. Não tem nada a ver com isso.
— Então o que?
— Sienna. Ela perdeu o dela.
Josh olhou para baixo, horrorizado. Eu olhei para cima, tentando
conter as lágrimas. Nenhum de nós dois conseguia se olhar, sentindo a
mais estranha sensação de culpa. Saber que nosso bebê ainda tinha um
futuro enquanto o de Sienna e Aiden...
— Você está certa, — disse Josh. — Nós temos que voltar. Eles
precisam de nós agora.
Eu concordei.
Pela primeira vez, eu estava colocando minha amizade com Sienna
acima de tudo. Tínhamos nossos desentendimentos no passado e, claro,
a garota podia ser uma vadia total às vezes, mas ninguém merecia isso.
Principalmente minha melhor amiga.
— Josh, vá o mais rápido que puder, — eu disse. — Ela não pode ficar
sozinha agora.
— Eu sei.
Com isso, Josh esperou até que nenhum carro estivesse atrás de nós,
em seguida, fez uma conversão proibida e acelerou o mais rápido que
pôde de volta para casa.
Konstantin teria que esperar.
Estar lá com Sienna era tudo o que importava agora.
Jocelyn

— Eu falhei com ela.


Eu estava andando em meu antigo quarto na Casa da Matilha. Eu
deixei o hospital depois de dar a notícia a Sienna. Não havia como voltar
atrás e encará-la agora.
Eu não conseguia tirar o som de seu grito, seu lamento sem fim, da
minha cabeça.
Nina se sentou na minha cama, parecendo mais arrasada do que eu
jamais a tinha visto.
— Eu falhei com ela, Nina, — eu repeti. — Não acredito que deixei
isso acontecer. Se eu não tivesse estado tão focada em mim mesma, em
curar a mim mesma, talvez...
— Pare com isso, — disse Nina. — Jocelyn, sente-se.
Mas não consegui. Se eu ficasse parada, isso significava que teria que
encarar tudo aquilo. O movimento manteve as piores emoções sob
controle.
— Você não entende? — Perguntei. — Ela me procurou primeiro
quando pensou que estava grávida. E eu não voltei com ela. Eu fiquei no
Retiro. Eu deixei tudo isso...
— NÃO! — Nina gritou, levantando-se. — Jocelyn, você parece um
disco quebrado e um ruim. Tipo um soft rock ou algo assim.
— Esta não é a hora de tentar ser engraçada, Nina.
— Eu não estou tentando ser nada. É um mecanismo de defesa, tá?
Algumas pessoas choram. Algumas pessoas riem. Se eu não risse,
provavelmente me mataria. Amarre-me a alguns trilhos de trem e buzine
enquanto o trem me despedaça por todo o estado.
— Dá pra parar?!
— Não, Jocelyn, — Nina disse, agarrando minhas mãos. — Porque
você não será a culpada desta vez. Eu sou a razão pela qual isso
aconteceu. É tudo porque eu voltei e provoquei Aiden. E por minha
culpa. Não sua.
— Isso é ridículo. Nina.
— Não, se for pra competir quem tem mais culpa, eu ganho a
medalha desta vez, ok? Você fez tudo que podia. Você é muito boa. EU...
Nina estava sem palavras, girando. Eu nunca a tinha visto tão
emocionada. Eu não sabia mais o que fazer, então joguei meus braços em
volta dela, segurando-a com força. As lágrimas correram livremente pelo
meu rosto em seu suéter.
— Você está estragando o tecido, — disse ela baixinho.
— É meu suéter, — eu a lembrei.
Ela riu levemente, mas não foi uma risada feliz. Mesmo agora, Nina se
apegou ao humor para manter a dor sob controle. Eu poderia dizer que
ela estava se torturando.
— Nós vamos superar isso, — eu disse. — Por Sienna. Nós temos que
superar.
Nina acenou com a cabeça, mas não disse nada. Eu a segurei em meus
braços pelo que pareceram horas, balançando suavemente para frente e
para trás. A ladra, mais uma vez, havia se tornado inimiga pelas
circunstâncias.
Ela não tinha culpa, assim como eu não tinha, como Sienna não
tinha, como ninguém tinha.
Às vezes, a vida era inexplicavelmente cruel.
A menos que houvesse outro motivo. Nesse caso, jurei, por Sienna,
que iria descobrir.
Sienna

— Quem sou eu? Sério.


Esperei que Charlotte respondesse, ficando inquieta. Ela claramente
tinha algumas respostas. Por que ela as estava segurando não tinha
importância para mim.
Eu precisava saber a verdade sobre meu passado, meu presente, meu
bebê que estava prestes a nascer.
— Depois que Daniel e eu te conhecemos pela primeira vez, —
Charlotte começou, — Ficamos com um... certo gosto na boca. Como
você pode se lembrar, não foi a melhor primeira impressão.
— Digo o mesmo, — eu falei, lembrando Charlotte que ela tinha sido
igualmente rude.
— Justo, — ela respondeu com um encolher de ombros. — A questão
é que queríamos saber mais sobre quem exatamente acasalou nosso filho.
Ouvimos dizer que você foi adotada e, dadas as circunstâncias estranhas
que cercaram seu nascimento, decidimos fazer algumas pesquisas.
Senti os cabelos da minha nuca se arrepiarem.
Depois de três anos acasalada com o filho de Charlotte, eu ainda não
sabia nada sobre meu próprio passado. E enquanto isso, a mãe de Aiden
sabia o tempo todo.
Por um segundo, lembrei-me do que tinha visto nas sessões de
Konstantin. Como ele cortou a garganta da minha mãe biológica na
frente dos olhos do meu pai.
Vanessa. Minha pobre mãe. O que mais havia na história?
— Nós descobrimos quem eles eram. Como eles eram poderosos. E,
para ser honesto, ficamos bastante impressionados. Para uma ruivinha
qualquer, você tem uma genética bastante forte... Sem ofensa, é claro.
Eu não tinha coragem de me ofender agora. Eu queria respostas e
nada mais.
— E daí?
— Daí... bem, nós descobrimos sobre aquele homem. Aquele para
quem vendemos a casa nos Hamptons, no fim das contas. Aquele
companheiro Konstantin.
— O vampyro, você quer dizer.
— Sim, ele mesmo. Ele estava atrás de você quando criança por um
motivo. E, quanto mais pesquisávamos, mais começamos a perceber...
que o motivo... pode afetar sua própria capacidade de ter filhos.
— O que você está dizendo?
— Sienna, — Charlotte disse, e pela primeira vez, eu vi pena genuína
nos olhos da minha sogra. — Acho que você já sabe o que estou prestes a
lhe contar...
Aiden
Esperei fora do quarto do hospital, sentado ao lado do meu pai e em
frente aos pais de Sienna. Melissa e Robert não se davam muito bem com
meus pais. Mas agora nada disso parecia importar.
Estávamos unidos pela dor.
— Filho, — disse meu pai, dando tapinhas no meu joelho, — aconteça
o que acontecer, saiba que Sienna sempre vai te amar.
— Como você sabe disso? — Eu cuspi. — Foi minha culpa.
Meu pai respirou fundo e começou a falar.
— Quando perdemos seu irmão, Aaron, eu não tinha certeza se
Charlotte algum dia me perdoaria. Não foi culpa minha que a
companheira dele morreu. Mas quando você perde um filho, nada disso
importa. O bom senso vai embora.
Eu me virei para olhar para ele. Eu tinha esquecido de alguma forma
que estava falando com um homem não muito diferente de mim agora.
Um homem que perdeu um filho.
Mas para meu pai, era uma criança viva e respirando. Não era um
feto.
— Nunca mais fomos os mesmos depois disso. Começamos a viajar.
Começamos a... aproveitar mais, o que você pode considerar, atividades
frívolas. Mas que nos ocuparam. Tiramos nossas mentes da perda. E,
depois de um tempo, eles se tornaram nosso novo normal. Demorou um
pouco, mas tínhamos uma vida de novo.
Eu nunca entendi por que eles me deixaram e aparentemente me
abandonaram até agora.
Finalmente fez sentido.
Olhei para meu pai com uma nova compreensão, tomada pela
emoção.
— Você e Sienna também passarão por isso. Você encontrará um novo
normal. Você vai ver.
Eu estava prestes a abraçar meu pai quando a porta se abriu e minha
mãe saiu.
— Entre, Aiden, — disse ela. — Sua companheira precisa de você.
Entrei lentamente na sala. Foi difícil para mim passar um tempo ali,
olhar nos olhos de Sienna, e ela percebeu. Minha companheira me
conhecia melhor do que ninguém.
Ela reconheceu que eu estava apavorado e com o coração partido
assim como ela e não tinha ideia de como lidar com isso.
— Oi, — eu disse. — Você está bem?
— Não, — ela respondeu simplesmente.
Pelo menos, ela estava me respondendo agora quando eu falei. Eu fui
até a cama dela. Eu gentilmente me deitei ao lado dela, colocando seu
rosto em minhas mãos.
— Nem eu, — eu admiti.
Nenhuma outra palavra foi necessária. Sienna pressionou o rosto
contra o meu e nos abraçamos com força, deitados juntos na cama do
hospital. Pensei no que meu pai havia me dito, que encontraríamos um
novo normal — algum dia.
Parecia impossível agora, como um sonho fantasioso. A ideia de que
esta ferida iria sarar parecia inimaginável...
Mas enquanto eu tivesse minha companheira, estava determinado a
tentar.
Nós nos curaríamos. Um dia de cada vez. Juntos.
Eu te amo, Sienna, pensei. E embora eu não tenha dito as palavras em
voz alta, eu sabia que ela havia me ouvido.
Capítulo 18
PAI ESQUECIDO
Sienna

Aiden me levou de volta para a Casa da Matilha naquela noite. Não


tínhamos nos separado desde que falei com Charlotte e descobri a
verdade.
Ele estava me segurando com tanta força que senti que poderia
quebrar em duas em seus braços.
Queria contar a ele o que sabia agora. Mas não era a hora.
Eu estava muito fraca.
Tudo parecia muito frágil.
Quando ele me deitou na sala de cura na Casa da Matilha, fiquei
surpresa que Jocelyn não estava lá. Aiden pareceu ler minha mente
porque ele deu um tapinha na minha perna.
— Eu disse a ela que ela não precisava ficar por perto, — disse ele. —
Depois do que aconteceu e como eu reagi a Nina e...
— Está tudo bem, — eu disse. — Você não precisa explicar.
Ele assentiu. Eu esperava que Jocelyn não tivesse ido embora para
sempre, que ela estivesse de volta em seu quarto, que eu pudesse vê-la
novamente e falar sobre o que descobri de Charlotte.
— Precisa de alguma coisa? — Aiden perguntou.
Eu não estava com fome ou sede, mas queria fazer Aiden se sentir
importante. Ele precisava sentir que poderia me ajudar agora. Eu sorri
suavemente.
— Chocolate quente seria bom, — eu disse.
— Eu volto já.
Com isso, Aiden me deixou em paz. Suspirei e deitei na cama, me
perguntando onde meu celular estava, se algum dos meus amigos estava
mandando mensagem.
Eu o encontrei no bolso da minha calça jeans dobrada, colocado ao
meu lado na mesa lateral. As mesmas roupas que eu usava quando...
Eu desviei do pensamento. Eu não poderia lembrar disso naquela
hora. Liguei meu celular e havia centenas de mensagens já esperando por
mim.
Alguns estavam mandando naquele exato momento.
Mãe: Querida, quando você chegar em casa, vá com calma, certo?

Mãe: Seu pai e eu te amamos muito.

Selene: Você é forte, minha irmãzinha.

Selene: Mais forte do que qualquer loba que eu conheço.

Selene: Você vai superar isso.

Erica: Si!!!

Erica: Quando podemos te ver ???? Estamos aqui para ajudá-la se


precisar de alguma coisa.

Abaixei o telefone, meu coração parecendo cheio pela primeira vez


desde o aborto. Tive a sorte de ter tantas pessoas que me amavam, que se
importavam o suficiente para se registrar e com tanta frequência.
Mesmo que a solidão de um útero vazio fosse profunda, ter pessoas
assim em minha vida a tornava um pouco melhor.
Eu tinha família. Eu tinha Aiden. Eu ainda tinha muito pelo que viver.
A única pessoa de quem eu não tinha ouvido, para minha surpresa,
era Michelle. Eu sabia que ela e Josh estavam em algum tipo de viagem.
Mas, ainda assim, você pensaria que ela já teria ouvido.
Senti um pequeno ressentimento em relação a minha amiga por um
segundo, mas afastei-o. Agora não era hora de se preocupar com as
pequenas coisas. Não quando uma verdadeira, uma verdadeira tragédia
assumiu o controle.
Não havia como saber o que poderia acontecer a seguir. Então, eu
coloquei o telefone de lado e esperei Aiden voltar. Eu responderia aos
meus entes queridos mais tarde.
Agora, tudo que eu queria era silêncio.
Foi quando ouvi uma batida na porta.
— Que rápido, — eu disse, virando-me, esperando ver Aiden.
Mas não era ele.
— Quem... quem é você?
Um homem estava parado na porta. Um homem barbudo que
reconheci vagamente de alguma forma. Mas de onde, não sei dizer.
Sua postura silenciosa na porta me fez enrijecer de ansiedade.
— O que você está fazendo aqui? — Perguntei.
— Eu tenho te observado por alguns meses. Tentando manter
distância. Mas... depois do que aconteceu, eu não aguentava mais ficar
longe de você.
Ele está me observando?! Quem era aquele homem? Eu estava
começando a ficar com medo agora. Eu não poderia ter outra surpresa
agora.
— Diga-me quem você é ou vou gritar, — falei.
— Sienna, meu nome é Rowan. Fui acasalado com uma mulher
chamada Vanessa anos atrás.
Vanessa. Minha mãe. Não poderia ser, não é?
— Nós tivemos um bebê. Uma pequena menina.
E agora seus olhos brilhavam com um calor agridoce.
— Eu sou seu pai, Sienna.
Nada no mundo poderia ter me preparado para isso. Embora o
homem tivesse feito o que eu pedi e me dito quem ele era, eu não pude
manter minha parte no acordo.
Eu gritei.
Aiden

Eu estava apenas começando a adicionar os marshmallows ao chocolate


quente de Sienna quando ouvi. O grito agudo e ensurdecedor da minha
companheira.
Deixei cair a caneca, mal ouvindo-a quebrar sob meus pés, enquanto
me virava e corria em direção à sala de cura o mais rápido que pude.
Quando cheguei à porta, vi um homem alto e barbudo parado ali,
elevando-se sobre Sienna, ainda na cama, com lágrimas nos olhos. Eu o
empurrei contra a parede.
— QUEM É VOCÊ?!
— Por favor, — disse ele. — Permita-me explicar.
Mas eu não estava com vontade de ouvir explicações. Não de
visitantes surpresa. Não de convidados indesejáveis. Não depois de tudo
que Sienna e eu passamos.
Eu o joguei para fora da sala.
— Saia. SAIA!
— Por favor, Alfa, — ele implorou no corredor. — Eu sou Rowan. Sou
o pai de Sienna. Seu pai biológico.
— Você é... o quê?!
Eu me virei para olhar para Sienna. Ela estava balançando a cabeça e
chorando incontrolavelmente. Mesmo que este homem Rowan estivesse
dizendo a verdade, esta não era a hora nem o lugar.
— Saia. Agora, — eu ordenei.
Rowan acenou com a cabeça, os olhos voltados para baixo. Mas antes
de se virar para ir embora, ele gentilmente agarrou meu ombro.
— Há muito que você não sabe sobre sua companheira. Do que ela é
capaz. De onde ela vem. Quando chegar a hora certa, eu voltarei. — Com
isso, ele abaixou a mão e deixou a Casa da Matilha. Eu estava tremendo
de confusão, raiva e medo. Ouvir o grito da minha companheira
desencadeou algo dentro de mim.
Eu me virei para ela, correndo de volta para a sala do curador.
— Você está bem, Sienna? Você está machucada? Fiz alguma coisa —
Estou bem, Aiden, — disse ela. — Apenas... confusa.
Sentei-me na cama ao lado de minha companheira e peguei sua mão.
— Ele disse…
— Eu sei o que ele disse, — ela interrompeu. — Ele me disse a mesma
coisa.
— Você acredita nele?
Sienna desviou o olhar, procurando por si mesma.
— Não sei mais no que acreditar.
Minha pobre companheira. Tudo que eu queria era confortá-la, fazê-
la se sentir segura e amada. E por alguma razão, eu continuava falhando.
Mesmo naquela hora, eu falhei em estar presente quando um
estranho, um homem que afirmava ser seu pai, irrompeu dentro da Casa
da Matilha.
— Onde estava a segurança?! — Eu murmurei. — Como eu não o
cheirei?
— Ele sabe disfarçar o cheiro.
Eu olhei para Sienna, surpreso. Como ela sabia disso? Se ele era um
estranho, como ela estava ciente de qualquer um de seus poderes?
— Sienna, — eu disse, me aproximando. — Posso te perguntar uma
coisa?
— Só se for fácil de responder.
— Veremos, — eu disse com um sorriso irônico.
— Quando ainda estávamos no hospital, você não queria falar com
ninguém. Exceto minha mãe. E vocês duas não são próximas. Então por
que?
Sienna parecia dividida. Ela queria me contar.
Mas ela estava com medo por algum motivo. Eu balancei minha
cabeça.
— Esqueça, — eu disse. — É definitivamente nem um pouco fácil de
responder. Então...
— Aiden, espere.
Ela colocou a mão no meu peito, sentindo meu batimento cardíaco.
O toque do meu companheiro me fez sentir viva novamente. Naquele
momento eu parecia um morto-vivo.
— Eu já te disse por que... — Sienna começou, — por que eu ofereci o
nome Vanessa para minha irmã? Para a filha dela?
— Não, — eu disse, balançando minha cabeça. — Nunca pensei muito
nisso.
— Esse era o nome da minha mãe, Aiden. Minha mãe verdadeira.
Meus olhos se arregalaram. Sienna sabia mais sobre seu passado do
que jamais deixou transparecer. Mas eu ainda estava confuso.
— O que isso tem a ver com minha mãe?
— Sua mãe sabia sobre ela. Sobre ele. Rowan. Meu verdadeiro pai. O
que ele é. Por que não podemos cheirá-lo.
Havia muitas revelações se desenrolando de uma vez. Senti que
minha cabeça ia explodir.
— E? — Eu perguntei, quase implorando por uma resolução.
— E... eu acho que sei por que perdemos o bebê, Aiden.
— O que você quer dizer? Foi porquê...
Mas ela balançou a cabeça.
— Eu tenho que ter certeza primeiro. Antes que eu te diga. Mas não
foi porque eu me transformei. Não foi porque você lutou com a Nina.
Nada disso.
— Então o que?
Eu estava implorando por respostas. Mas antes que Sienna pudesse
responder, houve outra batida na porta atrás de nós. Rowan já voltou?!
Eu girei, enfurecido.
— O QUÊ?! — Eu gritei.
Mas não era o estranho Rowan na porta agora. Eram Josh e Michelle.
Eles estavam aqui.
Eles estavam de volta.
— Michelle! — Sienna gritou.
Antes que eu soubesse o que estava acontecendo, Michelle correu
para dentro e se jogou nos braços de Sienna. As duas meninas se
abraçaram, chorando, pelo que pareceram anos.
— Eu não pensei que você viria, — disse Sienna. — Eu pensei...
— É claro que estamos aqui, — respondeu Michelle.
— Viemos no segundo em que soubemos.
Eu lentamente me levantei e me aproximei de Josh, oferecendo um
aperto de mão solene.
— Meu Alfa... as palavras não podem expressar como... Nossa, isso é
uma merda.
Apreciei a vulgaridade de Josh agora. Ele tentou ser educado,
expressar suas condolências, mas não conseguiu continuar.
O que era exatamente o que eu precisava agora. Alguém que poderia
ser direto comigo.
— Estou feliz que você esteja aqui, — eu disse, dando um tapinha em
seu ombro. — Você tem razão. É foda.
— Como vocês dois estão?
Virei-me para ver Michelle balançando Sienna para frente e para trás
na cama.
— Como você acha? — Perguntei.
— Sim, isso faz sentido, — Josh murmurou.
Sienna se afastou de Michelle e segurou suas mãos, franzindo a testa
com curiosidade.
— Onde vocês dois estiveram?
Josh e Michelle trocaram um olhar carregado. Eles haviam descoberto
algo, ao que parecia.
Algo enorme.
Josh pigarreou.
— É melhor nos sentarmos.
Capítulo 19
JANTAR E RESPOSTAS
Aiden
Sienna: Obrigada novamente por ficar comigo a noite toda.

Aiden: Tá brincando?

Aiden: Onde mais eu estaria?

Aiden: Tem certeza de que você e Michelle estão bem sozinhas?

Sienna: Não é como se eu estivesse com gripe, Aiden.

Sienna: Posso dar um passeio.

Aiden: Tudo bem.

Aiden: Ligue se precisar de alguma coisa.

Eu estava na cozinha com Josh, olhando pela janela para Sienna e


Michelle na beira do terreno, seguindo em uma trilha.
— Elas vão ficar bem, cara, — disse Josh. — Não se preocupe.
— Está quase escuro, só isso, — respondi, olhando para o sol poente.
— E depois que aquele cara estranho apareceu ontem...
— O que foi isso, afinal?
Eu balancei minha cabeça. Não tinha vontade de descer uma estrada
sem conhecer todas as suas voltas e mais voltas.
Ainda havia muito não dito entre Sienna e eu. O que ela mencionou
sobre por que ela perdeu o filho, por exemplo.
Eu não conseguia manter tudo certo. Então, voltei a cortar vegetais.
— Esqueça, — eu disse. — O que devemos fazer com isso?
— Jogue-os em uma tigela. Pronto. Você tem uma salada.
— Eu tô perdido.
Josh riu um pouco.
— Eu também não sou muito de cozinhar. Acabei de perceber que
marinei toda a carne como se fosse grelhar. Mas vamos usar o forno.
— Nós dois estamos perdidos.
Agora, nós dois rimos. Era bom ter meu Beta de volta. Melhor ainda,
ter meu melhor amigo de volta, tentando desesperadamente preparar o
jantar para as mulheres mesmo sendo completamente incapazes.
Olhei para Josh, me perguntando onde exatamente ele e Michelle
estiveram nos últimos dias.
— O que aconteceu com vocês dois? — Perguntei.
— Onde você foi?
— Atrás de Konstantin. Mas você já sabia disso.
Lá vamos nós de novo, pensei.
Mais das teorias insanas de Josh e perseguições selvagens. Mesmo que
eu tenha concordado em levar suas ideias a sério, agora, à luz de tudo o
que aconteceu com Sienna, era difícil.
Ele tinha esquecido nossa viagem para a casa nos Hamptons, quando
eu retalhei o vampyro com meus dentes de lobo?
— Eu lembro. Você ainda acha que ele está vivo, — eu disse,
suspirando. — Mesmo que o tenhamos matado.
— Aiden, — disse Josh, ficando sério. — Nós sabemos ele está vivo
agora. E o que ele quer.
— O que você está falando?
Josh, usando luvas, pegou a travessa de frango e colocou no fogão.
— Lembre-se do cronômetro, — eu apontei, internamente rindo
dessa imagem. Josh, usando luvas, preparando o jantar, enquanto tentava
me dizer algo tão ridiculamente importante.
Pense em uma cena estranha.
— Ok, o cronômetro está ligado, — disse ele. — Onde nós estávamos?
— Você sabe que Konstantin está vivo e o que ele está procurando.
— Isso mesmo. Seguimos esta pista que encontrei em um jornal para
um hospital psiquiátrico no fim do mundo. Havia um cara lá... um idiota
chamado Gregory Grantwell. Ele confirmou que Konstantin está vivo.
— Você está me dizendo que... esse tal de Gregory era um paciente do
hospício?
— Hospital, — Josh corrigiu. — Mas sim.
— Portanto, espera-se que confiemos na palavra de... uma pessoa
maluca.
— Eu sei o que parece, mas...
Suspirei, colocando de lado a tigela de salada. Com o aborto de
Sienna, eu só aguentava um limite de insanidade de uma vez. Essas
teorias sobre Konstantin estavam começando a me distrair. Josh leu
minha expressão porque ele parou no meio da frase e balançou a cabeça.
— Você nunca vai acreditar em mim, não é?
— Josh, — eu disse. — Claro que eu vou. É apenas...
— Há uma criança envolvida, Aiden.
Eu parei. A menção de um filho, depois do que Sienna e eu tínhamos
acabado de perder, me deixou paralisado. Eu poderia dizer que isso
deixou Josh desconfortável em tocar no assunto.
Mas ele precisava.
— Gregory Grantwell trabalhou em um orfanato. Ele estava
protegendo uma criança. Uma criança que Konstantin estava atrás.
— O que o vampyro queria com uma criança? — Eu perguntei,
perturbado.
— O que ele queria com Sienna?
Josh trouxe um bom ponto. Olhei pela janela para a trilha que
Michelle e Sienna haviam seguido.
Havia uma razão para Konstantin ter ido atrás de minha companheira
em primeiro lugar. Algo a ver com sua infância, seus pais.
Eu me virei para o meu Beta, sério.
— Conte-me tudo o que aconteceu.
Sienna
Michelle e eu caminhamos entre as árvores em silêncio. Este não era
nosso tipo de ponto de encontro típico.
Normalmente, saíamos para dançar juntas, fofocar durante um
brunch com bebidas alcoólicas ou fazer manicure. Esse tipo de
caminhada solene na natureza não era como antigamente.
Mas então, nós duas passamos por muita coisa ultimamente. Talvez
Michelle e eu não fossemos as mesmas garotas de antes.
Afinal, minha amiga estava grávida. E eu... eu estava... não sei mais o
que era.
— Sabe, sinto muito por ter perdido o chá de bebê, Si, — disse
Michelle. interrompendo minha linha de pensamento. — Eu sinto que
tenho sido a pior ultimamente.
— O que você quer dizer?
— Eu deveria ter estado lá por você... não perseguindo Konstantin. E
nós mal conversamos sobre isso. Depois do que aconteceu. Nós tocamos
no assunto há apenas um mês.
Dei de ombros, percebendo que Michelle estava certa.
— Eu acho que nós duas ficamos tão envolvidos com a série da
Monica, que simplesmente... ficou de lado.
— Aquilo abafou tudo por um tempo, não é?
Eu concordei. Michelle estava claramente lutando com alguma coisa.
Eu não conseguia definir o quê, no entanto.
Então eu a pressionei.
— Por que você acha que fazemos isso? Evitamos falar?
— Porque eu não sou aquela amiga para você. Você costumava falar
apenas com Emily. Então... Jocelyn.
— Não é porque eu não quero, Mich.
— Eu sou a superficial. Quem se importa com o que eu penso, certo?
Suas feridas pareciam irritadas por um lado, mas por outro, a raiva
não parecia ser dirigida a mim.
— O que está acontecendo?
— Ver alguém que foi violado por aquele vampyro me fez pensar.
Sobre o que aconteceu comigo. Com nós duas.
— Foi horrível, — eu disse, estremecendo. — Eu entendo por que
nenhuma de nós gostaria de revivê-lo.
— Mas precisamos, Si, — disse ela, Virando-se, parecendo urgente. —
Precisamos continuar sendo verdadeiras uma com a outra.
Especialmente depois de...
Os olhos de Michelle se encheram de lágrimas. Ela balançou a cabeça,
olhando para cima, sorrindo tristemente.
— É tão errado eu ainda estar grávida enquanto você está...
— Michelle, — eu disse, balançando minha cabeça. — Não é.
— É, é, e você sabe disso. Você é aquela que nasceu para ser mãe. Eu
só estava tentando competir. Eu estava tão imersa na Gruma, eu não
conseguia nem pensar direito. Não está certo.
Peguei as mãos de Michelle, meus olhos também transbordando.
— Michelle, você vai ser uma ótima mãe. E estarei presente em cada
etapa do caminho.
Este era um território desconhecido para nossa amizade. Michelle e
eu nunca tínhamos sido tão sinceras antes, e eu não sabia o que
aconteceria a seguir.
— Sienna, eu te amo, — disse ela. — Você é minha melhor amiga.
— E você é a minha, Mich, — eu disse.
E de repente estávamos nos abraçando com força. Ambas chorando.
No meio da floresta em uma trilha abandonada.
— Devemos parecer tão idiotas. — Michelle riu em meio às lágrimas.
— Quem se importa? — Eu disse, também rindo. — Vamos, está
ficando tarde.
Finalmente, nós nos soltamos e nos viramos, voltando para casa. Foi
bom tirar um pouco disso do meu peito com Michelle. Ainda havia muita
cura a fazer, mas pelo menos estávamos no caminho.
Estávamos perto da minha casa e de Aiden quando vi um homem
barbudo esperando do lado de fora na garagem. Michelle franziu a testa e
cerrou os lábios, instintivamente protetora.
— Quem é aquele? — Ela perguntou.
Era Rowan, o homem que tinha me visitado na noite anterior, o
homem que alegou ser meu pai biológico. Agora que não estava me
sentindo tão fraca, senti que poderia realmente falar com ele.
Eu me virei para Michelle.
— Vá na frente. Eu te encontro lá.
— Você tem certeza? — Ela perguntou, parecendo preocupada.
Eu concordei.
— Não se preocupe. Ele é inofensivo.
Para ser honesta, eu não poderia confirmar isso. Mas meus instintos
estavam me dirigindo agora. Michelle deu um último aperto afetuoso em
minha mão e então entrou.
Aproximei-me dele lentamente, tenso.
— O que você quer?
— Sienna, — disse ele, parecendo se desculpar, — Perdoe-me por
invadir ontem à noite sem avisar e... em um momento tão infeliz.
— Vou repetir, o que você quer? — Eu perguntei com os dentes
cerrados.
O fato era que, se ele realmente fosse meu pai, eu tinha todo o direito
do mundo de odiá-lo. Ele me abandonou quando criança. Ele esteve
sabe-se lá onde nos últimos vinte e um anos da minha vida.
— Há tanta coisa que quero dizer a você, — disse ele. — Mas eu nem
sei por onde começar.
— Sobre o quê?
— Sua mãe. O vampyro. O que você realmente é capaz de fazer. Tudo.
Eu balancei a cabeça, considerando se deveria dar ouvidos a Rowan.
Eu estive procurando por respostas por tanto tempo, e ainda, agora
que a verdade estava ao meu alcance, uma parte de mim nem queria
ouvir.
O que esse homem que afirmava ser meu pai poderia me dizer que
deixaria tudo bem? Afinal, nada traria meu filho de volta.
— Você não precisa pensar em mim como seu pai, — disse Rowan. —
Eu não tenho o direito de me chamar assim. Mas você merece saber a
história toda.
Eu respirei fundo.
Talvez eu mereça. Mas eu estava disposta a ouvir?
Aiden

— O jantar está servido!


Josh e eu colocamos um prato de frango queimado e uma tigela de
salada sem molho na mesa. Tínhamos feito o nosso melhor, e agora que
Sienna e Michelle estavam de volta, era hora de nos aprofundarmos.
Nos sentamos. E eu dei uma olhada no convidado de honra. Eu não
conseguia acreditar que Sienna o tinha convidado para comer conosco.
Mas se minha companheira insistiu...
— Rowan, — disse Sienna, — Por favor, comece.
Rowan respirou fundo e eu tive a sensação de que tudo o que ele
estava prestes a nos dizer a seguir mudaria tudo...
Capítulo 20
ORIGENS DE SIENNA
Michelle

Josh e eu olhamos um para o outro e para a mesa de jantar. O tipo de


olhar que apenas casais extremamente sincronizados conhecem.
A quase telepatia dos amantes.
Nós provavelmente não deveríamos estar aqui para isso, certo? Josh
acenou para Rowan, este misterioso estranho barbudo, que estava
sentado na ponta da mesa.
Eu não sei Josh, eu disse com uma careta. Nós provavelmente
deveríamos ficar para apoiar Sienna. Ela precisa de nós agora.
Ok. Josh acenou com a cabeça. Mas se ficar muito pessoal...
Com certeza. Eu balancei a cabeça em retorno.
Agradeci a Deus por ter um companheiro que estava exatamente na
mesma página que eu. Mas eu me perguntei como Sienna estava lidando
com o fato de que esse cara estava alegando ser seu pai!
Parecia uma novela. Tipo, onde estava esse cara ano passado? Isso
teria sido um ótimo episódio de Companheiras Reais da Costa Leste !
Às vezes, por mais terrível que fosse aquele programa para todos os
envolvidos, eu tinha que admitir que sentia falta. O holofote era viciante.
Mas não tão gratificante quanto estar perto de Sienna novamente.
Nossa caminhada pela trilha realmente me soltou e me fez sentir mais
como eu mesma.
Eu estava até comendo o frango do Josh. O que, aliás, estava terrível.
— Então? — Sienna perguntou a Rowan com os braços cruzados. —
Você vai conversar ou apenas ficar sentado aí?
Eu olhei pra ele. Algo sobre a presença do homem barbudo parecia...
anormal. Não exatamente lobisomem. Não é bem humano. Então o que
ele era?
E por que ele não tinha cheiro?
— Anos atrás, Sienna, — Rowan começou, — Vanessa, sua mãe, se
apaixonou por um homem que não era lobo nem divindade. Ele era algo
intermediário. E seus poderes, quando combinados com os dela,
trouxeram a este mundo uma criança diferente de todas as anteriores.
— O não-lobo, não-divindade é você, eu presumo? — Sienna
perguntou secamente. — Este não é o momento da história, Rowan. Você
não tem que falar na terceira pessoa.
— Tudo bem, eu, — disse Rowan com um aceno de cabeça. — E você
era a criança, Sienna. Você era especial e, se não tivéssemos cuidado,
potencialmente um perigo para aqueles ao seu redor.
— Então você recrutou Konstantin para ajudar, — disse ela,
preenchendo as lacunas. — Eu conheço esta parte. Eu vi com meus
próprios olhos. O vampyro me mostrou. As runas. As tentativas de
desbloquear algo dentro de mim.
— Ele estava nos enganando, no entanto, — disse Rowan com um
aceno de cabeça. — Sua mãe percebeu os estratagemas dele e descobriu
uma maneira de protegê-la para sempre. Mas... isso significaria que
nunca mais veríamos você.
Eu olhei para Josh novamente. Seus olhos estavam arregalados.
Aprender mais sobre o vampyro que torturou todos nós fez valer a
pena estar no meio da mais estranha reunião de família de todos os
tempos.
— Claro, ele a matou quando descobriu o que ela estava fazendo.
— Eu vi isso também, — disse Sienna, friamente.
— Quando você vai direto ao ponto?
— Você não conhece a outra metade da história, — disse Rowan, a
voz cheia de pesar. — Por que eu... por que fiquei longe.
— Isso realmente importa?
— Para mim, sim. Porque não há um dia que tenha passado nos
últimos vinte e um anos que eu não tenha sentido sua falta, Sienna.
Eu dei uma olhada para Josh novamente. Hora de ir agora?
Ele balançou sua cabeça. Ainda não. Não até que aprendamos tudo
sobre Konstantin.
— Vanessa, sua mãe, — Rowan continuou, — foi ideia dela cortar
nosso vínculo de acasalamento. Para te proteger de Konstantin. Para
tornar a sua localização um mistério a partir de então. Mas, ao fazer isso,
perturbamos a ordem natural do nosso universo.
— O que você quer dizer? — Sienna perguntou com uma carranca.
— A divindade do equilíbrio, Llinos. interveio. Ela... me encarcerou.
Me prendeu no tempo e no espaço até... oito meses atrás.
— O que mudou? — Sienna perguntou. — Por que ela te libertou
agora?
— Quando Konstantin te encontrou, quando ele entrou em sua
mente, ele anulou nosso sacrifício. Seus abusos, todos eles, permitiram
meu retorno. — Os olhos de Rowan se voltaram para mim e então para o
meu pulso. Eu instintivamente o cobri com uma manga. Fiquei surpresa
por ele saber que eu também estive envolvida.
— O que nos traz aqui e agora... — disse Rowan. — Eu estava
esperando para conhecê-la. Eu não tinha certeza de como... me
apresentar. Se eu deveria. Só quando sua vida foi ameaçada, quando você
sofreu essa perda, é que decidi emergir.
— Uma tragédia familiar sempre traz à tona gente estranha, — disse
Sienna com escárnio.
Fiquei surpresa com o quão rude Sienna estava sendo.
Mas também eu nunca fui abandonada por um pai não-lobo, não-
divindade, que apareceu vinte e um anos depois com uma história
maluca.
— Deixe ver se entendi... — Aiden disse, parecendo perplexo. — Você
está dizendo que Sienna não é... totalmente loba? Então o que ela é?
Rowan olhou para baixo, claramente envergonhado. Uma grande
revelação estava chegando.
Josh me lançou um olhar. Ok, agora acho que vamos embora.
Embora me doesse perder a ação, neste caso, eu sabia que Josh estava
certo. Este era um caso de família apenas para Sienna, Aiden e Rowan.
Josh e eu nos levantamos ao mesmo tempo em que peguei a mão da
minha amiga.
— Si, me mande uma mensagem quando vocês terminarem. Nós
vamos descansar um pouco.
— Vocês não têm que sair, — disse Sienna. Mas eu apenas apertei a
mão dela e, desta vez, fomos nós, amigas, que compartilhamos o olhar
psíquico. Sim, eu tenho.
Sienna acenou com a cabeça e se virou para Josh.
— Obrigado por cozinhar, Josh.
— Da próxima vez, tentarei deixar o frango menos... crocante, —
disse ele, balançando a cabeça.
Então Josh pegou minha mão e saímos de casa, apenas respirando
quando finalmente saímos. Pela primeira vez, tive que admitir que estava
ansiosa para não saber de algo.
Aiden

Fiquei surpreso com o quanto da história minha companheira parecia já


saber. A maior parte disso era novidade para mim.
Eu sabia, é claro, que Sienna havia explorado alguns cantos estranhos
de seu passado durante suas — sessões — com Konstantin.
Mas eu nunca soube dessas runas ou Sienna sendo uma criança
especial. O que isso significa?
— Diga-me, — disse Sienna, com fome de respostas para si mesma. —
Diga-me o que eu sou. Por que você está realmente aqui.
— Sim, do que você está falando? — Perguntei a Rowan.
— Aiden, — disse Rowan. — Sinto muito por sua perda recente. Se
alguém sabe o que é perder um filho, sou eu...
— Mas o seu não está morto, está? — Sienna perguntou.
— Alguém pode me dizer o que está acontecendo? — Eu perguntei,
ficando frustrado.
— Quando descobri que Sienna estava grávida, queria vir ver vocês
dois e avisar imediatamente.
— Avisar-nos sobre o quê?
Sienna se virou e, pela primeira vez desde que começamos a falar com
Rowan, suavizou-se. Ela pegou minha mão. Era como se todas as peças
estivessem começando a se encaixar para ela.
— Aiden, lembra quando eu te disse... não perdemos o bebê porque
eu me transformei?
— Sim, ainda não entendo o que você quis dizer...
— Ela quis dizer, — disse Rowan, — que iria perder o bebê de uma
forma ou de outra. Seu corpo nunca teria sido capaz de trazer uma vida a
este mundo. — Levantei-me assustado, a cadeira derrapando alguns
metros para trás. Eu estava começando a ficar tonto. Como se a sala
estivesse girando ao meu redor.
— Aiden... — Sienna disse, preocupada.
— Espere um segundo, — eu disse, levando a mão à testa. Parecia que
estava latejando. Como se eu estivesse repentinamente febril. — Você
está dizendo... nosso bebê... por quê?
Rowan parecia desamparado e incapaz de falar. Foi Sienna quem se
levantou e pegou minhas mãos, com lágrimas nos olhos.
Eu não tinha ideia do que ela diria a seguir. O que ela poderia dizer
para explicar isso ?!
Sienna

Eu temia esse momento desde que falei pela primeira vez com a mãe de
Aiden, Charlotte. Foi ela quem me contou o que descobriu sobre minha
verdadeira linhagem.
Sobre Rowan e seus poderes divinos.
Sobre o que meu corpo era e não era capaz de fazer.
Eu estive lutando com a epifania desde então, sem saber como
categorizá-la ou o que significava para o futuro entre mim e meu
companheiro.
Afinal, Aiden era um Alfa. E um Alfa precisava de filhotes para
continuar sua linhagem. Ele ainda me amaria, ainda seríamos uma
família... se nunca pudéssemos ser mais do que nós dois?
— Sienna, o que ele está dizendo? — Aiden perguntou, em pânico. —
O que está acontecendo?
Sienna suspirou.
— Existem alguns seres tão poderosos que são privados da capacidade
de procriar. Trazer outra vida ao mundo iria desequilibrar o universo.
— Llinos nunca permitiria isso, — disse Rowan com um aceno de
cabeça. — Não depois das circunstâncias que envolveram o nascimento
de Sienna.
— Mas isso significa... — Aiden começou. Mas ele não conseguiu
continuar.
Porque se ele dissesse as palavras em voz alta, isso as tornaria reais.
Isso significaria que ele teria que viver com essa verdade enquanto
vivesse.
Eu podia ver no que aquilo ia dar. Eu podia ver que aquilo iria destruí-
lo. Mas eu não tive escolha a não ser confessar.
— Isso mesmo, Aiden, — eu disse, balançando a cabeça enquanto
lágrimas começavam a se formar em meus olhos. — Eu sinto muito.
Isso foi pior do que um aborto espontâneo. Isso era pior do que uma
violação por um vampyro malvado. Isso era pior do que todos os segredos
do passado combinados.
Porque esse deveria ser o nosso futuro.
— Não diga isso, — Aiden sussurrou.
— Eu preciso, Aiden, — eu disse. — Você tem que ouvir. Porque é a
verdade.
Então, finalmente, enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto,
contei a Aiden o que estava escondendo. Eu confessei, sabendo que
nunca seríamos os mesmos. Eu amaldiçoei nós dois.
— Aiden, — eu sussurrei. — Eu não posso ter filhos.
Capítulo 21
ABRAÇO DOS AMANTES
Josh

Não conseguia tirar os olhos de Michelle.


Enquanto caminhávamos para o carro, fiquei absolutamente pasmo
com ela.
Essa era a mesma garota que, há apenas alguns meses, estava
tagarelando na frente das câmeras para um reality show?
A mesma garota que fugiu com Sienna para ir a uma boate no meio
de uma falha de segurança?
A mesma garota que conheci pela primeira vez, com a maquiagem
borrada de lágrimas depois que ela foi largada em meio à Bruma?
Não, ela não era mais aquela garota. Agora, o que eu vi quando olhei
para minha companheira foi uma mulher de verdade.
Talvez tenha sido a gravidez ou tudo o que passamos juntos com
Konstantin, mas Michelle nunca pareceu tão madura, poderosa e sábia
como agora.
— O que foi? — Ela perguntou com um sorriso malicioso. — Você
está olhando.
— Estou apenas impressionado, querida, — eu admiti. —
Normalmente, quando acontece algum drama, você quer estar bem no
centro.
Ela encolheu os ombros.
— Acho que minhas prioridades estão mudando.
— Você fica sexy quando suas prioridades mudam.
— Ah, é?
Eu a apoiei contra o nosso carro, pressionando minha mão na parte
inferior de suas costas, nossos lábios a apenas um fio de cabelo de
distância.
— Sim, — respondi.
— Você gosta quando não estou fofocando? Quer que eu fique de
boca fechada, é isso?
— Eu não iria tão longe, — eu disse.
Agora, eu pressionei meu volume contra ela, e ela gemeu, os olhos
rolando para trás.
— Fico feliz em ver que você ainda está na Gruma, — eu disse com
um sorriso.
— Entre no carro, — disse ela de repente.
Obedeci, abrindo a porta e deslizando enquanto ela corria e se
sentava no banco do passageiro. Ela olhou para mim. — Agora, ligue o
motor.
— O quê?
— Faça isso. — Eu não a questionei novamente. Eu liguei o carro. Se
eu fosse dirigir, isso significava que não poderíamos fazer sexo. Portanto,
fiquei confuso com o que Michelle tinha em mente.
— Dirija, — ela disse.
Saí da garagem e pisei no acelerador, levando-nos para longe da casa
de Aiden. Foi quando eu senti uma mão serpentear em volta da fivela do
meu cinto.
— Você está...
— Shhh, — disse Michelle, abrindo o zíper da minha calça. — Apenas
dirija.
Meu Deus. Então era o que ela estava planejando. Eu nunca tinha
experimentado aquilo antes, mas se Michelle quisesse, eu não iria
impedi-la.
Senti sua mão deslizar sob minha boxer e me segurar. Meu corpo
enrijeceu enquanto eu tentava não reagir, manter meus olhos na estrada.
Focar.
— Você já está duro, — ela sussurrou.
Ela puxou meu pau para fora, acariciando suavemente a base com a
ponta dos dedos, enquanto eu gemia de agonia. A estrada à minha frente
parecia cada vez mais o maior desafio do mundo.
Mesmo que tudo que eu tivesse que fazer fosse dirigir em linha reta,
embora não houvesse outros carros na estrada, dirigir assim era
impossível.
— Tô com saudade do seu gosto, — ela disse enquanto se abaixava
sobre mim.
Eu engasguei quando senti seus lábios tocarem o topo. Sua língua
estava dançando, brincando.
— Michelle... — eu ofeguei. — Eu não consigo. Não dá.
— Apenas relaxe, querido, — ela disse, olhando para cima. — E
dirija...
Então ela se abaixou novamente, e isso levou todo o meu
comprimento para baixo em sua garganta. Eu cambaleei para frente, mal
mantendo minhas mãos firmes no volante, era tão bom.
Michelle engasgou um pouco, cuspindo. Então começou a me
esfregar enquanto ela olhava para cima com um sorriso. — Como se
sente?
— Você está me matando... eu acho que não vou... — Eu encostei no
acostamento, estacionei ilegalmente e me lancei sobre Michelle. Só
receber não era suficiente. Eu precisava fazer.
Nós subimos no banco de trás e desajeitadamente tiramos nossas
roupas, agarrando, beijando, esfregando cada parte uma contra a outra.
Quando eu finalmente entrei em Michelle, virei de lado para que suas
pernas pressionassem meu pau, tornando-o ainda mais apertado, ela
arqueou o pescoço para trás e gemeu.
— Puxe meu cabelo, — ela engasgou. — Com força.
Eu agarrei um punhado e segurei firme enquanto metia nela várias
vezes. Ela mal conseguia formar frases, era tão bom.
— Não pare, Josh. NÃO PARE!!!
Agora, nós dois estávamos gritando como animais, fazendo ruídos
que não sabíamos que éramos capazes, enquanto eu sentia seus sucos
transbordarem.
— EU VOU GOZAR, JOSH. EU VOU...
Um segundo depois, eu a senti apertar e gozar quando o orgasmo a
alcançou, fazendo suas pernas terem espasmos incontroláveis. Eu
respirei trêmulo, em seguida e retirei lentamente.
— O que você está fazendo? — Ela perguntou. — E você?
— Eu não preciso disso, — eu disse com um sorriso sem fôlego. —
Assistir você foi o suficiente.
Ela balançou a cabeça, desapontada, mas sorrindo.
— Idiota.
Então ela me beijou.
Nunca me senti tão conectado à minha companheira como agora.
Não importava o que estivesse acontecendo no mundo, enquanto eu
tivesse Michelle, essa deusa do sexo e da Gruma, nada poderia dar errado.
Jocelyn

— Está tudo errado.


Examinei os resultados do hospital, balançando a cabeça, enquanto
Nina tomava um gole de chá, sentada na minha cama.
— O que é isso? — ela perguntou.
— Os resultados, — eu disse enquanto as lágrimas brotavam. — Meu
deus. Como vou dizer a ela? — Eu não conseguia acreditar no que estava
lendo. Além de perder o filho, descobriu-se que o corpo de Sienna era
incapaz de carregar outro. Não que ela fosse estéril.
Havia alguma anomalia médica, nunca vista antes em nenhum
paciente, o que a tornava incapaz.
Sienna, minha paciente, minha amiga, não poderia dar à luz.
— Jocelyn, — Nina disse. — Quaisquer que sejam as notícias, Sienna é
uma mulher forte. Ela vai conseguir aguentar.
— Não sei. Isso... parece diferente.
Nina deu um tapinha na cama e eu me sentei ao lado dela, apoiando
minha cabeça em seu ombro. Eu estava tão grata por ter a ladina ali
comigo. Sem ela, eu estaria ainda mais perdida.
— Você tem o coração mais gentil que eu já conheci, Jocelyn, — ela
disse. — Se alguém é capaz de dar más notícias de uma forma positiva, é
você. Você é como a deusa da gentileza.
— Mas e se não forem más notícias? E se forem notícias de mudança
de vida. Notícias devastadoras?
— Você vai contar. Você será honesta e falará com o coração. E por
mais difícil que seja para Sienna ouvir, ela acabará entendendo.
Fiquei impressionada por Nina não ter perguntado o que eu descobri.
Não que ela fosse do tipo intrometida. Mas achei que ela estaria
morrendo de curiosidade.
— Você não quer saber? — Perguntei.
— Não, — ela disse. — Isso seria uma traição à confiança de Sienna. E
considerando que eu já tentei matar a garota, acho melhor eu não me
meter em confusão dessa vez.
Eu ri, apesar das lágrimas e da notícia, enquanto Nina acariciava meu
rosto.
— Você é uma curandeira, Jocelyn, — ela disse. — Não tenha medo.
Apenas cure.
O jeito que Nina estava olhando para mim agora me lembrava de
nossa noite no motel.
Como nossos corpos se fundiram em um só.
Eu queria tanto beijá-la.
Para reacender aquele fogo.
Mas agora não era a hora.
— Obrigada, Nina, — eu disse, piscando para afastar as lágrimas,
tentando mudar de assunto. — Como está o seu chá?
— É chá, Jocelyn. De que outra forma poderia ser? — Que pergunta
estúpida. Nina estava certa. Eu comecei a rir dessa vez, e foi a risada mais
sincera que eu dei em meses. Nina sorriu.
— Pronto, — disse ela. — Por um segundo, você se parecia com você
de novo.
— Demorou, mas chego, — eu disse, balançando a cabeça. — Eu
gostaria que acontecesse mais rápido.
— Tudo bem. Impaciente.
E pelo olhar nos olhos de Nina, o mesmo olhar amoroso, eu sabia que
ela falava sério. Ela estaria lá quando eu fosse eu mesma. Quando eu não
fosse. Quando eu fosse mais ou menos.
Eu mal podia esperar por cada momento.
Sienna

Aiden e eu deitamos em nossa cama, nos abraçando. Depois de uma


noite no hospital e uma noite na sala de cura na Casa da Matilha, era
bom voltar ali.
Onde pertencíamos.
Mas nós dois estávamos quietos, nossas mentes ainda correndo de
todas as voltas e reviravoltas chocantes do dia. Pude ver que ele ainda
não havia processado totalmente a maior revelação.
Que nunca poderíamos ter filhos.
Eu esperava que ele ficasse furioso. Ficasse enojado. Não fosse me
olhar da mesma forma.
Mas, em vez disso, Aiden estava me segurando tão perto que eu senti
que poderia sufocar. Eu finalmente me afastei e forcei seus olhos a
encontrar os meus.
— Está tudo bem, — eu disse. — Você pode dizer o que estiver
sentindo.
— Acho que estou... — disse Aiden, analisando meu olhar, — Estou
apenas... confuso. O que isto significa? Para onde vamos daqui?
— Não sei, — admiti.
— Se não podemos ter filhos, isso significa...
— Não há futuro para a Matilha, — eu disse com um aceno de
coração partido. — Não haverá nenhum Alfa para tomar seu lugar um
dia. Eu... eu sinto muito, Aiden.
— Pelo quê? — Aiden perguntou.
Eu estava tentando desviar o olhar agora, mas ele virou minha cabeça,
seus olhos cheios de calor.
— Amor, você não tem do que se desculpar. Isso não é culpa sua. É
apenas quem você é.
— Mas o que nós fazemos?
— Nós vamos dar um jeito. Eu sei disso.
Suspirei, muito grata por ter um companheiro tão compreensivo, tão
amoroso, tão verdadeiro quanto Aiden. Eu me aninhei em seu pescoço.
— Ainda assim, eu me pergunto... — ele disse. — Toda essa conversa
sobre divindades e poderes... o que você é, Sienna?
Eu abri minha boca e fechei, percebendo que não tinha uma resposta
muito boa. Mais uma vez, eu balancei minha cabeça.
— Não sei.
Mas então eu pensei sobre isso, e Aiden pôde me ver pensando
porque ele me cutucou levemente.
— Diga o que você está pensando.
— O que quer que eu seja, há uma razão pela qual Konstantin veio
atrás de mim. Quando eu era criança. E depois, agora que sou adulta.
Deve ser importante.
— Sim, e agora ele está fazendo isso de novo.
Eu fiz uma careta.
— O que você quer dizer?
— Josh me disse que há outra criança lá fora que Konstantin está
atrás.
Outra como eu? Minhas mãos se fecharam em punhos enquanto eu
pensava em todos os atos horríveis e malignos que Konstantin havia
cometido e continuaria a cometer. A não ser que...
— Nós temos que pará-lo, Aiden, — eu disse. — Me prometa.
Aiden pegou minhas mãos e as beijou como se fosse um voto solene.
— Nós vamos pará-lo. Juntos.
Capítulo 22
GRAÇAS A VOCÊ
Sienna
Selene: Maninha!

Selene: O que você está fazendo agora?

Sienna: Eu ia fazer uma torta.

Sienna: Tentando espairecer um pouco.

Sienna: Por quê?

Selene: Que tal você assar aqui?

Selene: A mãe tá aqui!

Selene: Queremos passar um tempo com você.

Sienna: Isso é fofo, mas...

Selene: O quê?

Sienna: Há muita coisa acontecendo e...

Selene: O quê?

Selene: E daí?

Sienna: (emoji rindo com uma gota na cabeça) Sienna: Não vou
sair dessa, vou?

Selene: Não.
Selene: Vem logo

Selene: (emoji com beijo de coração) Era bom estar em família.

Enquanto minha mãe, Selene e eu assávamos nossa terceira torta do


dia, um morango-ruibarbo que eu sabia que faria Aiden babar, eu as ouvi
tagarelar e sorrir.
Eu estava começando a me sentir uma pessoa normal novamente.
Como eu era.
— ... e tudo o que estou dizendo é que, se Jeremy está disposto a
trabalhar horas extras na Casa da Matilha, você pensaria que seus
assistentes também o fariam, — reclamou Selene.
— Todos os homens desta família são workaholics, — minha mãe
disse, acenando. — Até mesmo seu pai. Ele é um humano e ainda tem o
dobro da resistência da maioria dos lobos.
— Espero que ainda estejamos falando sobre trabalho, — eu disse
com uma careta divertida.
— A Bruma está viva e forte! — Mamãe declarou.
— Você me conhece. Não há nada do que se envergonhar. Somos
abertos nesta família.
— Sim. Abertos até demais! — Selene disse, rindo.
— Como pernas abertas. Sempre.
— Vocês podem parar? — Eu implorei. — Esta torta está começando a
perder sua inocência.
— Pelo que ouvi, é o afrodisíaco do Alfa, — disse minha mãe com
uma piscadela. — Então, quando as tortas foram inocentes?
— MÃE. PARE.
Mas estávamos todas rindo incontrolavelmente agora. Esta foi a
primeira vez que pensei sobre a Bruma em um tempo. Depois da Gruma
e depois de perder o bebê, era difícil pensar em sexo da mesma forma.
Mas agora, agindo como se tudo estivesse normal, senti um leve
latejar dentro de mim. Um puxão no meu umbigo. Uma sugestão de
calor derretido que sugeria... que a Bruma estava longe de terminar.
Em breve poderei até mesmo ser capaz de agir sobre isso, quem sabe?
— Você ouviu isso? — Selene perguntou com uma carranca. — Eu
pensei ter ouvido a campainha.
— Quem viria? — Perguntei. — Eu acho... — Mas então eu ouvi
também, o som alto de alguém batendo na porta. Alguém estava ali.
— Sienna, — disse Selene, — Suas mãos estão menos sujas, você se
importa?
Eu balancei a cabeça, limpando a farinha do meu avental. Então eu
caminhei até a porta da frente, abri-a e pisquei, surpresa.
— Jocelyn, o que você está fazendo aqui?
— Oi, Si. Podemos conversar?
Aiden

Como você mata um monstro que você já matou antes?


Isso era tudo que eu poderia continuar me perguntando enquanto
andava na sala da diretoria da Casa da Matilha, com toda a minha
liderança presente.
Havia mapas, diagramas e pilhas de pesquisas que Josh havia
acumulado enquanto Michelle estava em coma e ele estava bêbado, era
uma bagunça obsessiva.
Parecia que estávamos nos preparando para a guerra. E talvez
estivéssemos.
— Ajude-me a entender isso, — eu disse ao meu Beta, acenando para
as pilhas. — O que é tudo isso?
— A história dos vampyros. Incluindo o testemunho da companheira
do Alfa do Milênio, Eve.
— Ela é uma vampyra? — Eu perguntei, surpreso. — Eu sabia que ela
era diferente, mas...
— Não exatamente, ela é meio vampira, meio humana. É... — Josh
parou. — É complicado. Não precisamos entrar em tudo isso. O que
quero dizer é que ela nos deu algumas informações cruciais sobre um
certo artefato.
— O osso de dinossauro que você estava reclamando?
— A cabeça do rádio de um alossauro, para ser exato.
— O que tem isso?
— Eve nos disse que, usando a medula daquele monstro morto,
Konstantin seria capaz de conjurar cópias.
Eu balancei a cabeça, entendendo.
— Isso explica o que matamos.
— Ou o que nós não matamos, devemos dizer, —Josh corrigiu. — Por
seus movimentos pelo continente, que venho acompanhando, parece
que ele está tentando acumular o máximo de energia possível agora.
Um arrepio desceu pela minha espinha. Konstantin já era um
adversário bastante poderoso.
A possibilidade de que ele pudesse estar — subindo de nível — não
era ideal.
— Mas para que?
— Isso... eu não sei, meu Alfa. Mas eu posso te dizer isso. Com base
no que Rowan nos contou sobre o nascimento de Sienna e o que o
paciente, Gregory Grantwell, disse sobre este ór ão que Konstantin está
procurando... poder bruto e inexplorado parece ser essencial para seu
plano.
Josh apontou para marcadores em um mapa, indicando as últimas
localizações de Konstantin.
— Aqui, dá pra ver um padrão. Ele está indo de matilha em matilha,
alimentando-se de criaturas poderosas. A Matilha do Texas pensou que
eles estavam lidando com Caçadores Divinos novamente até que
notaram as marcas de mordida no pescoço de um de seus membros.
Definitivamente é ele.
— Para onde isso leva? — Perguntei. — Como vamos encontrá-lo a
seguir?
Josh poderia jorrar fatos para mim o dia todo. Eu não estava
interessado em curiosidades. Eu precisava de um plano imediatamente.
— Há apenas uma grande Matilha que ele ainda não visitou, — disse
Josh, indo direto ao ponto.
— E é justamente a maior. Com um dos seres mais poderosos do
mundo em seu centro.
— Lumen, — eu disse, juntando as peças.
Josh acenou com a cabeça, apontando para Oregon no mapa.
— A capital dos lobisomens. Achamos que o vampyro está indo para
lá enquanto conversamos.
De repente, entendi o que Konstantin queria.
Mais importante ainda, quem ele estava procurando. Um homem que
por acaso chamei de amigo, o único lobo a quem eu faria uma reverência.
— Isso significa... — eu disse, percebendo. — Ele está indo atrás de...
Josh acenou com a cabeça.
— O próprio Alfa do Milênio. Raphael Fernandez.
Jocelyn

Eu não tinha certeza por onde começar, mas sabia que quanto mais eu
esperasse, mais agonizante seria.
Para Sienna e eu, ambas.
Estávamos sentadas no escritório de sua irmã, rodeadas por vestidos e
designs que Selene havia criado. Sempre me esquecia da família
estranhamente talentosa de que Sienna veio.
— Como são lindos, — eu disse, tocando um vestido midi justo, a cor
vibrante de um pôr do sol. — Este especialmente.
— Isso é para o Banquete de Verão, — disse Sienna. — Selene fez esse
especialmente para mim.
— Já está chegando? — Perguntei.
— Acredite ou não, — disse Sienna, balançando a cabeça. — Muita
preparação para fazer.
— Tenho certeza.
Eu estava protelando, e Sienna sabia. Ela inclinou a cabeça para mim,
curiosa.
— Então, o que a traz aqui, Jocelyn? Eu disse por mensagem que
minha saúde está bem. Foi uma recuperação muito fácil.
— Estou muito feliz em ouvir isso, mas eu... — Eu parei. — Eu preciso
te contar uma coisa.
Eu não queria contar nada a Sienna. Ela parecia estar fazendo
progresso, como se estivesse florescendo mais uma vez em seu antigo eu.
Como eu poderia derrubá-la agora?
Principalmente com notícias tristes como aquela.
Mas me lembrei do que Nina havia me falado. Eu precisava ser
honesta. E imaginando que a ladina estava ao meu lado, segurando
minha mão, me dando força, falei.
— Sienna, eu olhei os formulários do hospital. E não é tão simples
quanto pensávamos originalmente. Você não teve um aborto normal.
Você é... você não pode ter filhos, Sienna. Eu sinto muito.
Eu cuspi o mais rápido que pude, então quando Sienna não reagiu,
presumi que era porque eu não tinha falado com clareza suficiente.
— Hum, — eu disse. — Você ouviu o que eu...
— Sim, Jocelyn. — Sienna acenou com a cabeça. — Eu já sei.
— O quê?! — Eu perguntei, chocada. Essa era a última coisa que eu
esperava que Sienna dissesse. — Por que você me deixou...
— Eu queria ouvir isso de você. Para ter certeza.
Senti uma onda de constrangimento me invadir.
E pensar que eu a fiz ouvir essas notícias terríveis duas vezes seguidas.
Mas Sienna parecia calma e decidida.
Claro, ela estava triste. Mas não tão arrasada quanto eu esperava.
Como se estivesse lendo minha mente, ela assentiu.
— Tenho aprendido muito sobre quem realmente sou e de onde
venho ultimamente. E é... apenas a maneira como fui feita. Não há nada
que possamos fazer.
— Mas você não está... chateada?
— Eu estou, é claro. Mas se aprendi alguma coisa sendo acasalada
com o Alfa, é que você não pode lutar contra sua própria natureza. Se
isso é o que eu sou, isso é quem eu sou.
Fiquei surpresa ao ouvir Sienna falar sobre essa tragédia com tanta
graça e equilíbrio. Levaria um tempo para ela aceitar completamente, é
claro. Ela não iria se curar do dia para a noite.
Mas ela estava pensando da maneira certa.
Peguei suas mãos nas minhas e sorri.
— Estou tão orgulhosa de você, Sienna. E sinto muito se alguma vez
falhei com você. Como sua curandeira. Como sua amiga.
— Não, Jocelyn, — disse Sienna. — Michelle está viva graças a você.
Eu estou viva graças a você.
— Você não me deve desculpas. Nem agora, nem nunca.
Eu estava prestes a abraçar Sienna quando seu celular tocou e ela
procurou em sua bolsa para verificar.
Sienna
Aiden: Venha para a Casa da Matilha.

Sienna: O que aconteceu???

Aiden: Não há tempo para explicar. Depressa.

Eu olhei para Jocelyn, ainda me recuperando da nossa conversa. Eu


rapidamente dei um abraço nela.
— Jocelyn, eu tenho que ir, — eu disse. — Aiden acabou de me enviar
uma mensagem e...
— Vá, —disse ela. — Eu compreendo totalmente.
— Antes de ir, pegue um pouco de torta. Fizemos muito e talvez Nina
goste.
O sorriso de Jocelyn diminuiu um pouco com a menção de Nina.
— Em algum momento, — disse ela, — todos teremos de falar sobre
ela. E o que vamos fazer.
Eu concordei.
— Eu sei, mas Jocelyn... se você a ama, Aiden terá que aceitar isso.
— Mas ela...
— Estava aqui para me matar, eu sei, — eu disse com um encolher de
ombros. — Todos nós cometemos erros.
E com isso, deixei Jocelyn na sala cheia de vestidos, correndo para a
porta. Se Aiden precisava me dizer algo urgente, eu não iria deixá-lo
esperando.

— O que foi? O que está acontecendo?


Eu irrompi na sala de reuniões da Casa da Matilha para encontrá-la
fervilhando de pessoas. Corri até Aiden e o girei, já que ele estava no
meio da frase com Josh.
Eu não pude esperar. Eu precisava saber.
— Vamos? — Perguntei.
— É Konstantin, — disse Aiden. — Nós sabemos onde encontrá-lo.
— Onde?
Aiden sorriu maliciosamente.
— Sienna, o que você acha de planejarmos uma viagem?
Capítulo 23
PAI X PAI Sienna
Eu não pude acreditar.
Nós estávamos finalmente, após três anos sendo acasalados,
finalmente visitando a capital dos lobisomens. Eu estava tão animada que
mal conseguia ficar parada.
Sim, faltavam ainda duas semanas para o Banquete de Verão em
Lumen. E, sim, tecnicamente tivemos que esperar a aprovação do Alfa do
Milênio. E, sim, eu sei, obviamente íamos pegar Konstantin.
Não daria para relaxar nas famosas praias da Costa Oeste.
Mas... se isso acontecesse ao longo do caminho, o que poderia doer?
Eu já tinha feito as duas malas com antecedência, e Aiden estava
olhando para mim como se eu fosse louca.
— Você percebeu que pode precisar de algumas dessas roupas antes
de irmos?
— Não, — eu disse, revirando os olhos. — Tudo isso é para o clima da
Califórnia.
— Lumen fica em Oregon, Sienna.
— Qual é a diferença?
Aiden riu e balançou a cabeça. Mas acho que ele ficou feliz em me ver
animada com qualquer coisa. Ele deu um passo em minha direção,
jogando minha bolsa de lado e passou os braços em volta da minha
cintura.
— Mal posso esperar para te ver de biquíni, — disse ele, os olhos
cheios de luxúria.
Senti um arrepio de Bruma sob minha pele. Mas não era tão
poderoso, tão radiante, tão abrangente como antes. Era como uma
sombra do que era.
E quando olhei para as mãos de Aiden serpenteando em volta da
minha cintura, me lembrei novamente de como recentemente aquela
cintura, aquela barriga, carregava uma vida nela.
Uma vida que havia sumido.
— Aiden... — Eu disse, me afastando suavemente.
Ele franziu a testa, percebendo.
— Você não está pronta. Eu sinto muito. Cedo demais. Eu...
Inclinei-me e o beijei, calando-o. A faísca estava fraca, mas
permanecia viva e bem. Com tempo suficiente, isso se transformaria em
uma chama e nos consumiría novamente.
Eu tinha certeza.
— Seja paciente comigo, — eu disse, recostando-me. — Ainda sou eu.
Eu podia ver a fome carnal sob seus olhos, mas ele balançou a cabeça
suavemente.
— O que você precisar, meu amor.
Quando voltei a fazer as malas, Aiden me cutucou.
— Você mencionou algo sobre uma torta?
Selene tinha insistido para que ela entregasse todas as tortas na Casa
da Matilha para que estivessem esperando por nós quando fôssemos
trabalhar. Ao sairmos de casa, porém, desejei ter levado um pouco
comigo para não precisarmos trabalhar no domingo.
Mas quando entramos no salão do banquete, onde Selene havia
mencionado que os havia deixado, parei em choque.
— SURPRESA!
A sala estava lotada de pessoas. Meus pais estavam lá. Minha irmã
estava lá. Michelle, Josh, Jocelyn, Nina, todos estavam lá!
— O que... — Eu me virei para Aiden. — O que está acontecendo?
— Foi ideia da sua mãe, — disse Aiden com um sorriso.
— Mas não é meu aniversário nem nada.
Minha mãe se aproximou, me envolvendo em um abraço.
— Nós sabemos, é apenas um pequeno almoço. Uma maneira de dizer
que estamos todos aqui para te ajudar e te amar.
— Mesmo que estejamos passando por... tempos difíceis, — disse
Aiden, — é importante lembrar tudo o que temos.
Passei meus braços em volta dele, o coração parecendo que ia
explodir de alegria.
— Vamos, — Aiden disse, pegando minha mão. — Eu quero
experimentar este morango-ruibarbo de que sua irmã estava se gabando.
Eu estava alimentando Aiden com seu terceiro pedaço de torta
quando senti meu celular vibrar na minha bolsa.
— Um segundo, — eu disse, enxugando minhas mãos no único
guardanapo disponível.
— Sienna, — Aiden murmurou com a boca cheia, — Estou coberto de
torta. Por favor.
Ele parecia uma criança depois da sobremesa. Levou toda a minha
força de vontade para não rir na cara do meu companheiro. Em vez disso,
peguei outro guardanapo e entreguei enquanto pegava meu celular.
Eu estava além de surpresa, depois de ver quem estava me enviando
uma mensagem.
Rowan: Oi Sienna...

Rowan: É o seu pai...

Rowan: Quer dizer, Rowan...

Sienna: Oi.

Sienna: Uh.

Sienna: O que foi?

Rowan: Eu só queria ver como você está se saindo.

Abaixei meu celular, olhando ao redor da sala.


Para onde quer que eu olhasse, estavam as pessoas da minha vida, as
pessoas que eu amava, as pessoas que, em parte, me fizeram.
Embora eu mal conhecesse Rowan, sabendo agora o que ele sacrificou
para me salvar, senti uma pontada de culpa.
Posso não ter pensado nele como uma família. Mas ele era, querendo
ou não.
Sienna: Ei.

Sienna: Você quer passar aqui na Casa da Matilha.

Sienna: Há um pequeno almoço acontecendo.

Rowan: Eu...

Rowan: Eu adoraria...

Sienna: Ótimo

Sienna: Você sabe onde fica Aiden

Quando ele entrou, eu não sabia como a sala iria reagir. A maioria deles
não sabia quem era o estranho barbudo.
Mas eu sabia.
E eu sabia que Melissa e Robert, os pais adotivos de Sienna, tinham
ouvido tudo sobre ele. Pai biológico de Sienna. Rowan.
— Oi, Rowan — disse Sienna, dando-lhe um abraço de lado estranho.
— Hum, permita-me apresentá-lo aos meus pais. Melissa e Robert. Este é
Rowan. O... homem de quem falei.
Não culpei Sienna por não saber como lidar com esse cenário
extremamente bizarro. Quando seus pais se encontraram, ambos
pudemos atestar, era difícil que fosse sair como planejado.
Robert foi o primeiro a apertar a mão de Rowan.
— Bem-vindo, — disse ele simplesmente.
Melissa apenas acenou com a cabeça secamente. Apesar de ser a
mulher mais gentil e simpática do mundo, acho que a mãe de Sienna não
sabia como reagir à presença dele.
— Bem, vou deixar vocês todos falarem, — disse Sienna. — Ou não. O
que você quiser. Rowan, tem uma torta.
— Obrigado, Sienna, — disse ele, sorrindo calorosamente e saindo
para pegar um pouco.
Então ela se virou para mim e seus olhos se arregalaram como se
dissessem, o que diabos eu estava pensando?!
Eu ri.
— Ei, eu acho que foi um belo gesto.
— Aiden!
Eu me virei para ver Josh, acenando para mim perto da mesa. Eu
ainda estava coberto de torta, de qualquer maneira, então foi uma boa
desculpa para deixar minha companheira por um segundo.
— Vou pegar mais guardanapos, — falei, beijando sua bochecha. —
Estou grudento por toda parte.
— Toda parte mesmo?
Após o momento desta manhã, fiquei surpreso ao encontrá-la
flertando. Mas talvez sua dor fosse como a Bruma. Ele ia e vinha.
— Já volto, — eu disse com uma piscadela.
Eu me juntei a Josh, parecendo que ele queria falar de negócios.
— Alguma notícia de Raphael? — Perguntei.
— Não, — disse Josh, balançando a cabeça. — Mas tenho algumas
ideias sobre como podemos encurralar Konstantin. Então, eu estava
pensando...
— Ele não pode ser encurralado.
Nós dois paramos, surpresos ao encontrar Rowan, segurando um
garfo, comendo um pedaço de torta. Ele estava escutando.
— Hum, — Josh disse, irritado. — O que você quer dizer?
— Se o vampyro pode possuir múltiplas formas, ele não pode ser
cercado, pode? — Perguntou Rowan.
— Ele tem razão, — eu disse. — Rowan, o que você sugere?
Mas antes que ele pudesse abrir a boca, Melissa apareceu, parecendo
irada.
— Ei! — ela gritou. — Estão falando de negócios?
— Só um pouco, — eu disse, confuso com a reação dela. A mãe de
Sienna geralmente era a definição de alegria. Mas não agora.
— Nós concordamos que não haveria discussão de negócios hoje,
lembra?
— Com certeza, — eu disse. — É apenas...
— Aiden, depois de tudo o que minha filha passou, você pode deixá-la
descansar por um momento?
— Querida, — disse Robert, se aproximando, — Não precisa ficar
chateada. Tenho certeza que foi apenas um deslize, certo?
— Na verdade, era uma conversa bastante importante, — Rowan
argumentou, dando outra mordida. — Não vejo por que precisava ser
interrompido.
Eu dei uma olhada em Sienna. Felizmente, ela estava ocupada demais
conversando com Michelle para perceber o que estava acontecendo aqui.
O rosto de Melissa estava ficando vermelho.
— Com licença, quem é você mesmo? — ela perguntou a Rowan — O
homem que acabou de entrar em nossas vidas e espera ser tratado como
família?
— Opa, espera aí, — eu disse, levantando minhas mãos. — Acho que
todos deveriam se acalmar por um segundo.
— Eu disse a você, Aiden, — disse Melissa, a voz crescendo frenética.
— Este não é o tipo de ambiente de que Sienna precisa agora! Não após...
Melissa parou no meio da frase, sufocando. Um soluço involuntário
escapou de seus lábios. Eu empalideci. Não era assim que eu esperava que
esse dia acontecesse.
Eu não tinha percebido o quão afetada Melissa tinha sido pelo aborto.
Virei para Sienna em busca de ajuda, mas desta vez, felizmente, ela já
estava a caminho. Parecendo confusa sobre o motivo de toda a comoção.
Sienna

— O que está acontecendo?


Aproximei-me de minha mãe chorando e me virei para Aiden.
— O que aconteceu?
— Ele... teve que falar de negócios! — minha mãe disse,
hiperventilando. — Mas... eu... falei... pra ele, hoje não era dia...
— Eu não quis ofender, — disse Rowan. — Mas este é um assunto de
família que merece ser falado. Não podemos varrer para debaixo do
tapete.
— Quem é você para falar de família?! — Meu pai rugiu, vindo para o
lado de minha mãe, segurando-a perto. — Você é um estranho! Não
temos ideia de quem você realmente é.
— Pai, por favor — comecei, tentando interrompê-los.
Mas os dois homens estavam se enfrentando agora.
— Você e sua esposa precisam se acalmar, — disse Rowan.
— Como você se atreve a falar com minha esposa desse jeito? Quem
diabos você pensa que é!
Agora, eles estavam a centímetros de distância um do rosto do outro
e parecia que alguém ia dar um soco.
Eu encarei em descrença.
Meus pais, biológico e adotivo, estavam prestes a se matar...
Capítulo 24
FUGA DA FESTA Aiden
Nada é pior do que dois homens adultos discutindo sobre quem é o
melhor pai.
Isso era o que estávamos assistindo se desenrolar no meio do almoço
surpresa de Sienna. E me peguei ficando mais furioso a cada segundo.
— Você NÃO tem ideia dos sacrifícios que fiz! — Rowan disse, com o
peito estufado, a barba parecendo duas vezes maior do que o normal.
— Você realmente quer falar sobre sacrifício? — Robert exclamou. —
Que tal criar uma criança a vida inteira e dar tudo a ela!
— Eu teria feito isso sozinho, se pudesse.
— Fácil de dizer quando você aparece do nada depois de vinte e um
anos!
Olhei para Sienna, os olhos arregalados, paralisados, observando os
homens indo e voltando. Se havia algo que minha companheira não
precisava agora, era isso.
— Você nem sabe do que sua própria filha é capaz! — Rowan gritou.
— Do que ela é realmente feita. E por que ela….
NÃO. Eu não ia deixar Rowan trazer a tona os motivos de termos perdido
o bebê. Aqui não. Não assim.
— CHEGA! — Eu gritei, fazendo todo o salão do banquete ficar
estranhamente silencioso.
Ninguém ousou falar quando o Alfa ergueu a voz. Nem mesmo dois
patriarcas como Rowan e Robert. Eu lentamente dei um passo em
direção a eles, baixando minha voz.
— Hoje é um dia especial para Sienna. Não é sobre nenhum de vocês.
Ambos baixaram a cabeça, ligeiramente envergonhados. Bom, pensei.
Devem estar.
Mas quando me virei para olhar para Sienna, ela tinha lágrimas nos
olhos. Ela se virou e saiu correndo da sala.
— Espere! — Eu gritei. — Sienna!
— Está tudo bem, — disse Michelle, seguindo-a. — Eu cuido disso,
Aiden.
Eu queria confortar minha companheira eu mesmo. Mas também
reconheci que talvez agora o que ela precisava era de uma presença
feminina. Se alguém pudesse ajudá-la agora, seria Michelle.
Eu virei em direção aos dois pais.
— Vocês dois sabem como ela está frágil, e decidem fazer uma cena
dessas mesmo assim? O que há de errado com vocês dois!?
— Sinto muito, meu Alfa, — disse Robert, abaixando a cabeça,
subserviente. — Eu estava agindo por... necessidade de me sentir
protetor.
— E você? — Eu disse, virando-me para Rowan.
— Seu Beta queria discutir como lidamos com uma ameaça como
Konstantin. Não vi mal nenhum em me envolver — Eu não estou
ouvindo um pedido de desculpas, — eu rosnei. Eu não estava
acostumado com homens como Rowan, que não faziam parte da
Matilha, que pensavam estar acima de nossas tradições.
Um brilho louco nos olhos de Rowan surgiu com intensidade, e eu
me lembrei do que ele nos disse — que ele não era exatamente um lobo,
não era exatamente uma divindade.
Então o que ele era?
— Você não tem ideia de com quem realmente fala, Alfa, — disse ele
calmamente. — Eu cometi um erro e vou reconhecê-lo. Por Sienna. Mas
eu não me curvo a nenhum Alfa.
O fel do homem fez meu sangue ferver. Esqueça todos os poderes que
ele alegou ter. Eu daria a ele um gostinho de seu próprio remédio se ele
não tomasse cuidado.
— Você se atreve a me desrespeitar em minha própria Casa da
Matilha? — Eu disse, me aproximando.
Eu estava perto de dar uma lição a Rowan quando Melissa deu um
passo à frente.
— Não é culpa dele, Aiden, — disse ela. — Eu... eu instiguei tudo. Eu
não queria que ninguém falasse sobre trabalho, e posso ter exagerado.
— Isso é verdade? — Eu perguntei, virando-me para Robert. Ele deu
um pequeno aceno de cabeça.
Eu balancei minha cabeça. Isso estava ficando mais e mais complicado
a cada segundo. Achei que Sienna já teria voltado para o salão de
banquetes com Michelle.
Mas ainda não havia sinal delas. E estava começando a escurecer lá
fora.
— Ouça-me, — disse eu. — Vocês três são os pais dela. No momento,
o que Sienna precisa é de seu amor e confiança. Isso é tudo. Sem brigas.
Pelo bem dela, por favor, se recomponham, certo?!
Desta vez, até Rowan acenou com a cabeça em concordância. Pelo
menos, isso estava resolvido. Este almoço surpresa tinha piorado.
Eu só esperava que Sienna não estivesse levando muito a sério.
Sienna

Cada vez que eu sentia que estava progredindo, como se fosse mais eu
mesma, como se o mundo estivesse se tornando um pouco mais
suportável, algo assim acontecia.
Um dedo do meio direto do universo.
Lembrando-me que nada era melhor e todas as surpresas, abraços e
beijos não podiam apagar o que tinha acontecido comigo.
Com Aiden.
Com o que deveria ser nossa família.
Eu encontrei lágrimas escorrendo de meus olhos enquanto corria
para fora da Casa da Matilha, mal percebendo que estava sendo seguida.
— Sienna! Espere!
Finalmente me virei para ver Michelle correndo atrás de mim. Eu
continuei andando. Eu não iria parar para ninguém. Nem mesmo para
minha melhor amiga. Seria apenas mais fingimento.
Mais uma vez teria que agir como se tudo estivesse bem quando
claramente não estava.
— Sienna, por favor! — Ela gritou atrás de mim. — Eu não posso
correr de salto. Isto é ridículo.
Finalmente, eu me virei.
— Não estou pedindo que você me siga, Michelle. Estou
perfeitamente bem sozinha.
— Garota, — disse ela, balançando a cabeça, ofegante, — Depois do
que aconteceu lá, eu sei que não pode ser verdade.
Michelle estava aqui para me motivar. Para me fazer voltar para
dentro. Para enxugar minhas lágrimas e me deixar bonita e apresentável.
De jeito nenhum.
No momento, eu não estava interessada em uma palavra que ela ou
alguém tivesse a dizer. Continuei andando, me aproximando da rua
agora, avistando um ponto de ônibus.
— Tá falando sério, Si?! — Ela gritou atrás de mim. — Aonde você vai
agora?
— Qualquer lugar longe daqui.
Finalmente, parei e sentei perto do ponto de ônibus, cruzando os
braços. Eu estava decidida. Michelle se jogou no assento ao meu lado,
suada.
Ela pegou um lenço de papel da bolsa e enxugou o suor da testa.
Então ela me ofereceu um novo.
— Estou bem, — eu disse.
— Eu acho que você está longe de estar bem. E por um bom motivo.
Isso foi tão estranho. Tipo muito estranho. A propósito, como você corre
tão rápido? Estou tão fora de forma assim?
— Isso limpa minha mente. Me mover. Correr. Fazer qualquer coisa
para não falar ou pensar.
Michelle encolheu os ombros.
— Justo. Não sou muito especialista nessa área. Costumo falar sobre
tudo. Mas... se atividade sem sentido é o que você prefere agora, tenho
algumas ideias.
Ela pegou seu celular e eu balancei minha cabeça. Às vezes, minha
amiga era muito sem noção e contraditória.
— Michelle, — eu disse, frustrada, — Não dá pra ter ideias e pensar
em algo sem sentido ao mesmo tempo.
— Au contraire, amiga! — Ela exclamou teatralmente.
— Verifique seu celular.
Eu tirei para fora. Já estava vibrando tão rápido que eu mal conseguia
acompanhar as mensagens que chegavam.
Michelle: Meninas

Michelle: Isso é uma emergência.

Michelle: O que vocês estão fazendo?

Erica: Maratonando Companheiras Reais de novo.

Mia: Sério, Erica???

Erica: O que é que tem? Tem umas partes bem legais!

Erica: E também...

Erica: tô tentando achar uma foto boa pro meu perfil no Shifter.
(emoji de mulher com uma mão no cabelo) Mia: (emoji com cara
de nojo)

Michelle: Garotas!

Michelle: Foco!

Mia: Acabei de dar de comer pro bebê. O que foi, Mich?

Michelle: Precisamos nos reunir no Lupine.

Michelle: A maior festa do ano é AGORA MESMO.

Michelle: vamos CURTIR!

Michelle: (emoji de mulher dançando, festa e duas taças) Erica:


Balada??? No meio do dia???
Erica: A fila deve estar imensa!

Mia: Não sei se posso deixar Harry com o bebê...

Mia: Ele é meio... incapaz de trocar uma fralda.

Erica: Sim e eu acabei de arranjar meu primeiro encontro no


Shifter, então...

Michelle: ERICA, DESMARCA

Michelle: MIA, DANE-SE O BEBÊ!

Michelle: ESTAMOS FAZENDO ISSO POR SIENNA!

Sienna: Vlw Mich, mas não precisa disso Michelle: Ergueu os


olhos do telefone para mim, indignada.

— Você está falando sério?!


— Michelle, — eu disse com um suspiro, — Não quero ir a uma boate
agora. Parece a última coisa de que preciso no mundo.
— Você disse que queria algo sem sentido. Você disse que queria se
mexer. Sienna. Esta é a solução perfeita.
Um ônibus dobrou uma esquina, parando em nossa parada, e eu me
levantei.
— Não! — Michelle disse, bloqueando meu caminho. — Você não vai
entrar naquele ônibus.
Antes que eu pudesse impedi-la, ela agarrou meu celular da minha
mão.
— Vamos pedir um táxi agora e sair. Como costumávamos fazer.
— Michelle, — eu disse, tentando pegar meu celular. — Devolve.
— Você não pode fugir sem o seu celular, pode? — Ela perguntou com
um sorriso.
A porta do ônibus se abriu e o motorista nos lançou um olhar curioso.
— Vamos? — Ele perguntou. — Vai subir ou não?
Rosnei para Michelle, mas ela claramente não ia ceder.
— Desculpa, — eu disse finalmente ao motorista. Ele balançou a
cabeça, exasperado, e continuou seu caminho.
— Agora, posso chamar um táxi ou não? — Michelle perguntou.
Eu revirei meus olhos.
— Me dá meu celular.
Erica: Vamos fazer isso ou não?

Erica: Meu encontro não pode esperar para sempre!

Mia: Harry não curtiu muito a ideia, pessoal.

Mia: Estão todas a bordo?

Sienna: Ok.

Sienna: Vejo vocês todas lá em 30.

Michelle: uhullllllllllllllll

Michelle: vamos dançar, vadias!!!

Mia: Ok, ok.

Erica: Tô me trocando.

Michelle: Vejo vocês lá!

Mesmo que eu não estivesse com vontade de dançar, tinha que


admitir que Michelle estava fazendo de tudo para ser uma boa amiga.
Se alguma coisa conseguia tirar minha mente da esquisitice do dia,
era uma tarde bebendo e sacudindo o corpo.
— Você pode me agradecer mais tarde, — disse Michelle com uma
piscadela.
O táxi parou alguns minutos depois, e quando estávamos prestes a
entrar, olhei para trás, para a Casa da Matilha, onde todos ainda estavam
esperando.
— E quanto ao Aiden? — Perguntei. — E todo mundo?
— Esquece, — disse Michelle. — Tudo aquilo foi pra você. E esta
noite também vai ser!
Com um aceno de cabeça, entrei no táxi.
Não era como se o dia pudesse piorar, certo?
Capítulo 25
ESSA FESTA VIROU UM ENTERRO
Sienna
Aiden: Sienna???

Aiden: Onde você está?

Aiden: Você fugiu com a Michelle e não voltou!

Aiden: Sienna?

Aiden: Você está bem?

Aiden: SIENNA!

No momento em que entramos no táxi, Michelle pegou meu celular


novamente e o colocou no modo avião. Ela fez o mesmo com dela em
seguida.
— Pronto, — disse ela. — Agora, ninguém pode nos incomodar.
— Mas e se algo importante acontecer e...
— Pela primeira vez. Si, você pode deixar de lado suas
responsabilidades com a Matilha e apenas se divertir?
Ela puxou um frasco de sua bolsa e ofereceu.
— Vamos lá. Bebe.
— Você carrega isso mesmo estando grávida?
— Eu não bebo, idiota, — disse ela, rindo. — É para emergências.
Como agora mesmo.
— Mas, — eu disse, olhando para o frasco, — Não é muito divertido
beber sozinha.
— Você não está sozinha. Estou nessa com você em espírito. Não
percebe? Minhas palavras já estão enroladas. E, olhe, eu até pareço mais
vadia de repente.
Ela puxou uma das alças do vestido para baixo do ombro e fingiu estar
tonta, me forçando a rir.
— Tudo bem, — eu disse, abrindo o frasco. — Mas só um gole.
Quando percebi, eu já tinha bebido tudo e chegando ao Lupine, o
mesmo clube que eu tinha ido anos atrás com minhas amigas.
Por um segundo, um flash daquela noite me abalou profundamente.
O ataque. Aiden vindo em meu resgate.
Mas então Michelle estava agarrando minha mão e me puxando para
a frente da fila, e eu não tive escolha a não ser ignorar aquilo.
Portanto, este lugar tinha uma energia estranha. Que lugares não tem
hoje em dia?
Enfim, foi uma festa durante o dia. Havia menos a temer quando
ainda nem estava escuro.
— E a Erica e a Mia? — Eu perguntei com a voz um pouco arrastada
enquanto nos aproximávamos do segurança. — Se entrarmos agora, elas
terão que esperar na fila.
— Tudo bem, — disse Michelle, dando de ombros. — Prioridades, Si.
Deixar você bêbada e dançar. Aquelas duas vêm em segundo lugar.
Ela sorriu para o segurança.
— Esta é Sienna Norwood.
— Mercer-Norwood, — eu corrigi.
— E eu sou...
— Nós sabemos quem vocês são, senhoras, — disse o segurança,
abrindo o portão para nós. — Por favor, depois de você.
— Uau, eles certamente melhoraram o serviço por aqui desde a
última vez!
Com isso, Michelle me levou para dentro, e tudo que eu podia ver
eram luzes piscando e tudo que eu podia ouvir era um baixo pesado e
nada mais no mundo importava.
As rainhas chegaram para mandar na pista de dança.
Aiden
— Josh, para onde Michelle iria?
Eu estava andando de um lado para o outro, meu Beta me seguindo
de perto, enquanto vasculhavamos cada cômodo da Casa da Matilha.
Não havia sinal de Sienna ou Michelle em lugar nenhum.
— É difícil dizer, Aiden, — Josh admitiu. — Quando Michelle está
curtindo, ela fica com esses... humores realmente impulsivos. É como se
ela fosse impossível de prever.
Observei enquanto os últimos convidados saíam do salão de
banquetes. Quando vinte minutos se passaram e Sienna ainda não tinha
voltado para sua própria festa, percebemos que era melhor deixar as
pessoas irem.
Rowan e Robert pareciam particularmente culpados quando saíram.
Eu precisaria ter uma conversa mais longa com aqueles dois quando tudo
isso fosse resolvido.
Por enquanto, tudo o que importava para mim era encontrar minha
companheira.
Eu vi Jocelyn voltando para a sala dos curandeiros e rapidamente me
aproximei dela.
— Ei, — eu disse. — Você tem alguma ideia de onde as garotas podem
ter ido? Eu sei que você e Michelle não são próximas, mas...
— Honestamente? — Jocelyn começou. — Se eu fosse você, esperaria
até que elas entrassem em contato com você.
— O que você quer dizer?
Eu fiz uma careta. Eu não estava acostumado a ouvir alguém me dizer
para sentar e esperar como um cachorrinho.
E Jocelyn não estava calorosa como sempre.
Parecia que ela havia se tornado um pouco mais honesta, mais dura
desde seu tempo no Retiro dos Curandeiros.
Depois do que ela passou, como eu poderia culpá-la?
— Tudo o que estou dizendo, Aiden, — Jocelyn continuou, — É que
sua companheira está passando por muita coisa agora. E embora seja
bom que você queira estar ao lado dela, às vezes ela precisa de suas
próprias maneiras de desabafar.
— Mas e se ela...
— Ela está bem. Confie nela. Quando ela precisar de você, ela virá até
você.
Com isso, Jocelyn entrou na sala e fechou a porta, deixando Josh e eu
sozinhos no corredor.
— O que você acha? — Eu perguntei a Josh.
Ele suspirou.
— Acho que precisamos de uma bebida, cara. Se eu conheço Michelle,
é provavelmente o que ela e Sienna estão fazendo agora.
— Exceto que Michelle está grávida.
— Sim. Mas quando ela está com vontade de festa, não dá pra notar a
diferença.
Com um sorriso irônico, Josh me levou ao bar em seu escritório.
Talvez uma bebida fosse exatamente o que eu precisava agora.
O que Sienna e eu precisávamos.
Michelle

Depois de dois, três, quatro shots, Sienna realmente começou a se soltar.


Estávamos no centro da pista de dança, sacudindo nossas bundas como
se ninguém estivesse olhando.
Mas percebi que muitos lobos na Bruma estavam definitivamente nos
assistindo. Não que eles ousassem se aproximar de nós. Depois do que
aconteceu aqui da última vez com Sienna, ninguém se atreveu a se mover
perto da companheira do Alfa.
Ainda assim, embora eu estivesse sóbria e acasalado com Josh e me
divertindo, eu queria que apenas um desses lobos pelo menos desse em
cima de mim ou algo assim.
Qual é, uma cantadinha não faz mal!
Talvez fosse a ansiedade de estar grávida, sabendo que logo eu
perderia esse corpo maravilhoso, mas uma das principais razões pelas
quais eu queria levar Sienna para dançar, eu tinha que admitir, era para
mim mesma.
Era bom não pensar sobre o vampyro que Josh e eu estávamos
caçando.
Era bom não pensar no bebê crescendo dentro de mim.
E foi bom esquecer toda a tragédia pela qual minha melhor amiga
havia passado.
Enquanto ela girava e brilhava sob a luz de LED, levei um segundo
para admirá-la.
— Sienna, — gritei por cima do baixo. — Você é tão linda!
Ela sorriu e jogou os braços em volta de mim, cambaleando. Ela
estava muito mais bêbada do que parecia.
— Michelle... — ela disse. — Você é a melhor. Mas onde estão Mia e
Erica? Devemos ir buscá-las?
— Não, está tudo bem! Tenho certeza que chegarão a qualquer
minuto.
— E onde está Josh? E Aiden? Eles não deveriam estar vindo também?
Eu fiz uma careta. Certamente, Sienna percebeu que os meninos não
foram convidados, certo? De onde isso estava vindo?
— Ou eles não querem estar aqui... — ela perguntou, franzindo a
testa como se estivesse bêbada.
— Todos estão me evitando agora?
Uh-oh. A paranoica Sienna estava prestes a emergir. Eu já tinha visto
essa versão bêbada da minha amiga antes, e não era nada legal.
— Claro que não! — Eu disse, em pânico, tentando apaziguar a
situação o mais rápido possível.
— Vamos, vamos para a outra pista de dança. Acho que estão tocando
mais pop lá...
Mas Sienna havia parado de dançar e estava parada como uma estátua
agora, imóvel. Um beicinho nervoso congelado em seu rosto.
— Eu não pertenço aqui... — Ela disse. — Onde estou? O que eu estou
fazendo?
De repente, ela se inclinou e, antes que eu pudesse estender a mão
para ajudá-la, caiu no chão.
— Sienna! — Eu gritei.
Um grupo de dançarinos se reuniu para ajudá-la a se levantar.
— Estou bem! — Ela gritou. — ESTOU BEM! SAIAM DE PERTO DE
MIM. PAREM DE ME TOCAR!
Sienna se afastou do grupo que estava apenas tentando ajudar e eu
corri atrás dela. Felizmente, ela não era tão rápida quando estava bêbada.
Peguei seu braço e a levei direto para o banheiro.
— Solte! — ela gritou.
— Não, — eu disse com firmeza. — Nós duas vamos relaxar por um
segundo, certo?
Ela estava tremendo, eu percebi. As lágrimas estavam transbordando.
Minha amiga estava entrando em colapso, e se eu não fizesse algo
rápido, sua forma de lobo poderia assumir, e conhecendo a de Sienna,
estaríamos em apuros ainda maiores.
— Aqui, — eu disse, abrindo a porta e levando-a para dentro do
banheiro. — Está tudo bem.
Sienna

Não estava tudo bem.


Tudo estava girando ao meu redor.
A única âncora que me restava era Michelle, e ela não conseguia
entender. Ninguém poderia.
Entrei em uma cabine e tentei trancar-me lá dentro, mas Michelle
entrou antes que eu pudesse trancá-la. Então me sentei no vaso sanitário
e coloquei a cabeça entre as mãos.
— Sienna, — eu a ouvi dizer, mas soou tão abafado. — Eu sinto muito
por ter trazido você aqui. Eu só pensei... Se tivéssemos apenas uma noite
das garotas, poderíamos esquecer tudo e...
— Não consigo esquecer, Michelle! — Eu soltei. — Como é que eu
vou esquecer? Tudo o que vejo é assim... essa vida sombria se
desenrolando diante dos meus olhos. Onde sou mãe. E eu sou uma
mulher. E não esta bagunça.
Michelle pegou uma das minhas mãos, segurando-a com força. Eu me
senti tão encurralada. Claustrofóbica.
— Eu preciso sair daqui, — eu disse. — Michelle
— Ainda não, — disse ela. — Não até que você coloque tudo para fora.
Por favor.
Eu balancei minha cabeça. Eu não sabia por onde começar. Mas a
bebida tornava a conversa mais fácil, eu tinha que admitir.
— Isso não deveria ser minha vida, — eu disse. — Indo para clubes.
Ter almoços servidos para mim por piedade. Assistir dois pais brigando
para ver quem é o melhor.
— Claro que não, — disse Michelle, compreendendo. — Nada disso. E
... Sienna. Eu odeio estar...
Ela balançou a cabeça, as lágrimas enchendo seus olhos. Eu percebi o
que ela quis dizer e balancei minha cabeça.
— Não, Michelle, — eu disse. — Seu bebê é uma bênção. Eu não me
sinto mal por você estar grávida nem por um segundo!
— Mas deveria ser você! Eu não. E nós duas sabemos disso.
— Não, — eu disse, pegando seu rosto em minhas mãos. — Você não
pode se sentir culpada por isso. Só alegria, ok? Me promete. Promete!
Finalmente, Michelle me deu um aceno lacrimoso. Nós ficamos
muito mais próximas ultimamente, mas nunca estivemos tão
vulneráveis. Eu pensei que nós duas poderíamos começar a chorar a
qualquer segundo.
Vomitando. Na baia ao nosso lado. Uma garota estava vomitando, e
muito, ainda por cima.
Nós duas fizemos contato visual e, antes que pudéssemos nos parar,
explodimos em gargalhadas estrondosas.
Às vezes, tudo o que era necessário para reprimir o desgosto era uma
gargalhada sincera.
Nesse caso, o milagre tinha um cheiro horrível.
— Tudo bem, — disse Michelle, levantando-se. — Agora, podemos
sair daqui.
Sienna: Oi.
Sienna: Você pode vir nos buscar?

Aiden: Onde você está?

Sienna: Lupine.

Sienna: O clube.

Aiden: Aquele lugar de novo???

Aiden: Você está bem?

Sienna: Sim, amor.

Sienna: Acho que vou ficar bem.

Aiden: Tô indo.
Capítulo 26
O TOQUE AFETUOSO
Sienna

Eu cambaleei para fora do clube, segurando Michelle para me apoiar.


Quando passamos a fila, vi Mia e Erica perto da frente, acenando para
nós.
— Espere, — disse Mia, confusa. — Onde vocês duas estão indo?
— É sério que já estão saindo?! — Erica estava fervendo. — Cancelei
um encontro para isso. E eu tô quase explodindo de tanta Bruma!
— Foi mal, meninas! — Michelle gritou, movendo-nos em direção ao
estacionamento. — Mudança de planos, divirtam-se!
Eu me senti mal arrastando-as para fora naquela noite, apenas para
escapar depois. Mas com base no quanto eu tinha bebido, e quão agitado
o dia já tinha sido, não havia como voltar atrás agora.
Eu me virei para o segurança e apontei para minhas duas amigas. Ele
me deu um aceno conciso e as levou para dentro. Era o mínimo que eu
podia fazer.
Quando vi o carro de Aiden esperando no estacionamento, suspirei
de alívio.
— Ele está aqui, — eu disse.
Michelle me cutucou.
— Claro que tá. Ele é seu companheiro.
Ele saiu para abrir a porta do passageiro para mim e Michelle me
entregou como se eu fosse uma boneca de pano.
— Eu não estou tão bêbada, gente, — eu protestei.
Eu estava preocupada que Aiden ficasse com raiva, considerando que
eu fugi no meio do almoço. Mas não havia nada além de calor em seus
olhos.
E o leve cheiro de uísque em seu hálito.
— Você tem bebido também? — Perguntei. — Você está bem para
dirigir?
— Um copo não vai doer, — respondeu Aiden. — Venha aqui.
Ele gentilmente me abaixou no carro e fechou a porta. Eu ouvi
Michelle entrar no banco de trás atrás de mim e esperei enquanto Aiden
voltava para o banco do motorista.
Eu pensei que ele poderia simplesmente ligar o carro e nos levar
embora, mas em vez disso, Aiden pegou minha mão, me olhou nos olhos
e se inclinou.
Então ele me beijou.
Foi o beijo mais amoroso e terno que eu poderia me lembrar que meu
companheiro já me deu. O gosto do uísque em seus lábios era inebriante.
— Você está bem? — Ele perguntou quando se afastou.
— Melhor agora.
— Eu não queria te espantar. Se você ainda quiser dançar
— Não, Aiden, — eu disse. — Tudo que eu quero é uma casa vazia e
silenciosa, sem ninguém nela. Só você. E eu.
— Acho que consigo fazer isso, — disse ele, olhando pelo retrovisor.
— Michelle, vou deixar você em casa, certo?
— É bom ter um motorista Alfa! — Disse ela, rindo.
— Obrigada, sério.
— O prazer é meu.
E com isso, Aiden ligou o motor e deixamos o clube para trás, a
caminho do santuário.
Depois que deixamos Michelle e Aiden me levou para casa, tudo em
que me peguei pensando foi na noite, três anos atrás.
Quando Aiden me salvou do clube. E me trouxe aqui. E me beijou
pela primeira vez.
O meu primeiro beijo.
Apesar de todo o terror que o precedeu, aquele momento foi tão
romântico. Tão perfeito .
Eu me perguntei se esta noite poderíamos recapturá-lo. Se, como
naquela noite, anos atrás, pudéssemos deixar o horror para trás e
ficarmos perdidos um no outro por um momento.
Aiden deve ter lido minha mente porque, ao abrir a porta da frente,
ele me pegou e me carregou para dentro e subindo as escadas.
— Aiden! — Exclamei, surpresa e sem fôlego. — Eu sou perfeitamente
capaz de andar, você sabe.
— É bom segurar você.
Enquanto ele subia cada degrau, balancei contra ele e senti seus dedos
ásperos esfregar contra a pele macia de minhas pernas nuas. Isso enviou
uma descarga de adrenalina correndo por mim.
E agora uma velha sensação adormecida começou a crescer dentro de
mim enquanto nos movíamos cada vez mais perto do quarto.
Era quente, pesada e eu conseguia senti-la profundamente.
Na verdade, parecia muito com... a Bruma.
— Aiden, — eu disse sem fôlego. — Você...
— Sim, — disse ele. — Ah, sim.
Seus olhos estavam em chamas agora, e seus passos eram apressados.
Ele me queria naquela cama o mais rápido possível. E eu também queria.
Pela primeira vez desde que perdemos nosso filho, meu corpo não
parecia frágil ou fraco. Sentia fome. Ele fervilhava de impulsos perdidos.
Por fim, Aiden me deitou na cama, em cima de mim e beijou meu
pescoço, causando arrepios na espinha.
— É muito cedo? — Ele perguntou. — Desde...
— Não, — eu disse, balançando minha cabeça. — Eu preciso de você
agora. Mas, Aiden...
— Sim, Sienna?
— Desta vez, podemos apenas ser...
— Serei delicado, amor, — disse ele, compreendendo. — Nem sempre
temos que ser tão rudes.
— Normalmente gosto assim, mas...
— Entendo.
Ele realmente entendeu. Porque o que meu companheiro fez a seguir
foi me presentear com a massagem mais suave e sensual que eu já tive.
Dos meus pés até minhas coxas, acariciando, mas com cuidado para
não penetrar no meu sexo, Aiden me tocou.
Eu tremi quando ele lentamente deslizou e circulou seus dedos,
tocando-me como um maldito piano.
Ele pressionou e empurrou contra minhas curvas mais delicadas,
terminações nervosas e pontos fracos. Minha barriga até meus seios e
pescoço. Na minha cara.
Meu rosto. Eu segurei suas mãos enquanto elas me apertavam lá.
Então trouxe meus lábios aos dele.
Eu nunca tinha percebido o quão provocador, como mal se tocar,
como a contenção poderia ser tão sexy.
Quando Aiden lentamente, suavemente deslizou dentro de mim, toda
a tensão do meu corpo se dissipou, e logo estávamos balançando para
frente e para trás como as ondas na costa.
Cada movimento sutil parecia maior e mais intensificado do que todo
o sexo violento que já tínhamos feito.
Um dedo no meu lábio.
Uma lambida circular em volta da minha aréola.
Uma pulsação de seu membro quando ele parou dentro de mim.
Eu podia sentir tudo isso. Eu pude realmente sentir de novo.
— Aiden... — eu implorei. — Mais rápido por favor...
— Não, — disse ele, sorrindo maliciosamente.
— Não, você queria tortura, e é isso que você vai conseguir.
De alguma forma, Aiden recusando o que eu pedi foi ainda mais
quente.
Cada impulso lento era uma agonia.
Cada gemido silencioso me fez estremecer com a necessidade crua.
Era tudo muito e tão pouco ao mesmo tempo.
— Sienna, — Aiden sussurrou. — Eu acho que não vou...
— Eu também...
O balanço era constante e lento, mas ainda assim, a sensação
aumentava por dentro, até o momento que precisávamos por semanas.
Quando finalmente gozamos, com apenas alguns momentos de
diferença, não gritamos. Suspiramos como se fosse o maior orgasmo do
mundo.
E, de muitas maneiras, foi.
— Sienna, — disse Aiden quando rolou para o lado, — Tudo que
preciso para ser feliz é você. Você sabe disso, né?
— Eu sei, Aiden. Eu digo o mesmo.
Eu me aninhei nele, segurando meu forte companheiro nu contra
meu peito nu, e me senti muito grata por tudo que eu tinha. E não triste
pelo que perdi.
Estávamos no caminho de volta ao contentamento agora. Demoraria
muito para chegar lá, mas tínhamos um ao outro. Eu tinha Aiden.
E Aiden sempre me teria.
Josh: Aiden!

Josh: Boas notícias, cara!

Josh: Grandes notícias.

Josh: Sério.

Josh: Me manda uma mensagem quando ler isso!

Michelle

Quando cheguei em casa, encontrei Josh pensativo no escuro da sala,


sozinho. Ele estava cercado por todas as suas pesquisas sobre Konstantin,
parecendo oprimido. Uma bebida vazia na mão.
— O que está acontecendo, amor? — Eu perguntei, surpresa. — Eu
estou contente que você esteja bem. Aiden estava preocupado.
— Ah, sim, foi definitivamente uma noite estranha. Mas está tudo
bem, eu acho... Agora.
— Sienna está bem? — ele perguntou.
— Sim, Josh... mas o que há com você ?
Ele não parecia querer falar sobre si mesmo, e eu não conseguia
descobrir por quê. Ele se levantou e se aproximou do bar, fazendo outra
bebida.
— Foi ideia de Jocelyn, sabe. Não ir atrás de vocês. Para deixar vocês
espairecerem.
— Essa foi... uma boa decisão. Eu devo uma a ela.
Sempre foi estranho conversar sobre Jocelyn com Josh, considerando
que os dois costumavam dormir juntos durante as Brumas do passado.
Mas, novamente, acho que ela também dormiu com Aiden. E Sienna
certamente não tinha nenhum problema com ela.
Talvez eu apenas tenha nascido com um instinto mais territorial. A
menção do nome de Jocelyn da boca do meu companheiro foi o
suficiente para levantar minha raiva.
Eu sabia que ela era legal. Eu sabia que ela tinha até alguém. Aquela
garota Nina ou o que seja. Mesmo assim, posso ser capaz de mudar, mas
apenas até certo ponto.
— Existe uma razão para estarmos falando sobre sua ex? — Eu
perguntei com raiva.
— Não, Michelle, não é por isso que eu...
— Então o que é que está acontecendo? — Perguntei.
— Você está sendo estranho. Eu fiz alguma coisa?
— Não, querida.
Josh balançou a cabeça e se aproximou de mim, me puxando para um
abraço apertado. Eu não estava na Gruma naquele segundo, mas
caramba, como era bom ter meu homem me segurando.
— Nada disso, — disse ele. — Eu juro.
— É o trabalho?
— Sim, mas dessa vez envolve todos nós.
Ele olhou para o meu pulso, para a marca que o alcatrão de
Konstantin havia deixado lá.
Não brilhava há algum tempo. Ele lentamente trouxe um dedo até
ela, delineando-o repetidamente, perdido em pensamentos.
— Você se importa em explicar? — Eu cutuquei. — Ou vou apenas ter
que adivinhar?
— Bem, — disse Josh, tomando outro gole de seu uísque, — Você sabe
como Aiden e Sienna potencialmente iriam a Lumen para o Banquete de
Verão? Para tentar prender Konstantin?
— Sim, o que tem isso? Eles não estavam esperando a permissão do
Alfa do Milênio?
— Está bem ali, — disse Josh, apontando para um envelope sobre a
mesa. — Eu trouxe da Casa da Matilha.
Eu soltei meu companheiro e o peguei, lendo rapidamente, os olhos
se arregalando.
— Josh, diz aqui que Raphael Fernandez convidou pessoalmente a
liderança da Matilha inteira para comparecer. Por quê? O que isso poderia
significar?
— É uma mensagem, — disse Josh. — Interpretada corretamente,
significa... ele sabe que o vampyro está perto. E ele precisa de reforços.
— Puta merda. E...
Eu percebi o que isso significava. Por que Josh estava bebendo.
Por que ele parecia tão estranho.
Porque, finalmente, ele poderia ter uma chance de se vingar pelo que
aquele bastardo do Konstantin fez comigo.
— Sim, querida, — disse Josh, terminando sua bebida. — Arrume suas
malas. Todos nós vamos para a capital dos lobisomens.
Capítulo 27
PARA LUMEN!
Jocelyn

Ninguém estava me ouvindo.


Toda a liderança da Matilha da Costa Leste havia se reunido para
discutir nosso convite do próprio Alfa do Milênio. Para Lumen. A capital
do lobisomem.
Mas Aiden e Josh estavam tão ocupados fazendo planos sobre planos
que não ouviam as objeções de ninguém.
— O fato é, — disse Aiden, — Não podemos deixar que todos
venham. Precisamos de líderes aqui para proteger nossa casa. E chamaria
muita atenção se todos estivessem juntos.
— Meu Alfa, — comecei, — Posso sugerir...
Mas Josh me interrompeu, levantando-se.
— Respeitosamente, Aiden, a carta de Raphael deixa muito claro que
ele deseja que todos nós compareçamos. Se o maior de todos os Alfas tem
medo desse vampyro, nós também devemos ter. Ele precisa de toda a
ajuda que puder conseguir.
— Existe uma alternativa — eu tentei dizer novamente.
Mas, novamente, Aiden interrompeu.
— Não, Josh. Esse convite pode ser interpretado de várias maneiras.
Estou escolhendo interpretar isso como um convite, não uma exigência.
Está entendido?
— Mas, Aiden...
— Meu Alfa, você quer dizer, — disse Aiden severamente.
Às vezes, ele teria que nos lembrar, se nos tornássemos muito
pessoais, que estávamos falando de negócios. Josh acenou com a cabeça,
subserviente.
— Meu Alfa, nós dois enfrentamos Konstantin por nós mesmos. Nós
sabemos do que ele é capaz. Especialmente se ele está tentando acumular
poder mirando em Raphael. A ameaça nunca foi tão extrema.
Aiden estava prestes a responder, mas eu não aguentei mais ficar
sentada à margem.
Por tantos anos eu fui a doce e quieta em nosso conselho.
Sempre fiquei feliz em dar, ajudar e curar a todos.
Mas depois do que eu passei, uma parte de mim se sentiu mais livre
para ser apenas eu mesma. Nenhuma boa impressão necessária.
— Aiden, Josh, me escutem, — eu exigi, levantando-me. E desta vez,
eles escutaram. Todos ficaram quietos.
— Se esse vampyro for tão brilhante quanto dizem, ele saberá que
vocês estão indo de um jeito ou de outro, — eu disse. — Leve todos os
seus guerreiros. Você vai precisar deles. Deixe os diplomatas aqui para
manter o controle.
Era um bom plano e Aiden sabia disso.
Porque ele não estava lutando contra isso.
Ele apenas me olhou fixamente.
— É difícil acreditar que estou falando com a mesma curandeira, —
disse ele. — Desde quando você tem tantas ideias táticas?
— Eu sempre tive, Aiden, — eu disse. — Eu só era muito educada para
dizê-las.
— Bem, — disse ele, erguendo as sobrancelhas, — Estou feliz por você
estar corrigindo isso agora. Porque esse é o melhor plano que ouvi. Só
posso esperar que nossos guerreiros mais fortes sejam o suficiente.
Nina

Eu estava espionando do lado de fora da sala da diretoria quando ouvi


Jocelyn finalmente se levantar e mostrar aos dois meninos como era feita.
Eu sorri. Eu adorava quando Jocelyn mostrava um pouco mais de seu
lado durona. Era tão sexy.
Mas eu sabia que havia um obstáculo em seu plano, um que Aiden
tinha acabado de mencionar, com apenas uma solução potencial: eu.
— Só posso esperar que nossos guerreiros mais fortes sejam o
suficiente, — ouvi Aiden dizer.
Eu respirei fundo. Eu sabia que Aiden e Josh ainda me odiavam pelo
que eu fiz, por minha traição à Matilha, mas se houvesse um momento
para reconquistar sua lealdade, era aquele.
Eu abri a porta e entrei, observando enquanto os olhos de Jocelyn se
arregalaram.
Eu disparei para ela uma piscadela que dizia: Não se preocupe, eu
cuido disso.
— O que é que você... — Josh começou. Mas eu levantei a mão. —
Senta aí, Beta. Estou aqui para falar com o Alfa.
— Você não pertence a esta sala, Nina, — Aiden rosnou. — Você tem
sorte de estar viva, de ter permissão de estar entre nossa Matilha depois
do que você fez.
— Você está certo, — eu disse com um encolher de ombros. — É por
isso que eu gostaria de fazer as pazes com você. Sem ofensas aos seus
grandes guerreiros, mas eu os vi treinar e eles são uma Matilha de
Covardes. Parecem mais ovelhas do que lobos.
— Com licença? — Josh disse enquanto seus cabelos arrepiavam.
— Eu disse — sem ofensas, amigo. Fica de boa aí.
— O que você está sugerindo? — Aiden perguntou. — Estou ficando
sem paciência.
— É o seguinte, — eu disse. — Eu sou a única ladra que você tem.
Meu nível de habilidade? De combate? São difíceis de alcançar. Me leve
com vocês e eu juro proteger você, o Alfa do Milênio, e Sienna com
minha vida. Pessoalmente.
— Você já ameaçou matar Sienna. Agora você quer protegê-la? —
Aiden perguntou, incrédulo.
— Tecnicamente, eu estava sendo chantageada, mas entendo, — eu
disse. — Você precisa de um soldado de verdade? Então me deixe lutar.
Vai ser, sabe, como uma bela história de redenção ou algo assim.
Todos na sala olharam para Aiden, considerando minha oferta em
silêncio. Todos, exceto Jocelyn, que só tinha olhos para mim.
Eu dei a ela um olhar que dizia: está tudo bem. Eu ficarei bem. Volto em
breve.
Então me virei para Aiden.
— Então o que você diz?
Sienna
Michelle: Si!

Michelle: Preciso desesperadamente da sua ajuda.

Sienna: O que está acontecendo???

Sienna: Você está bem???

Michelle: Eu não consigo colocar todas as minhas roupas em duas


bolsas.

Sienna: Precisamos seriamente falar sobre suas mensagens de


texto.

Michelle: O que vou fazer Si???

Sienna: Ugh

Sienna: Vem pra cá.

Sienna: A gente faz as malas juntas.

Michelle: Ok.

Michelle: nos vemos em breve.

Michelle e eu arrumamos e desfizemos as malas cinco vezes seguidas


antes de finalmente decidirmos o arranjo perfeito para nossa viagem a
Lumen.
— Estou tão animada para finalmente ver isso, — disse Michelle,
fechando o zíper de sua segunda bolsa. — A capital dos lobisomens deve
ser linda. Cercada por árvores! E cachoeiras! E perto do oceano!
— Você se lembra por que estamos indo, certo? — Eu perguntei,
sorrindo. — Não me entenda mal, também estou animada. Apenas
dizendo... há uma espécie de grande vampyro mau que devemos
enfrentar.
— Ah, sim. Ele. É.
Michelle deu de ombros e fiquei chocada com a facilidade com que
ela conseguia se livrar do passado. Aquele vampyro tinha feito coisas
horríveis para nós duas.
— A verdade é, — ela disse, — Eu principalmente só quero que isso
acabe para que Josh seja ele mesmo novamente. Quer dizer, estou na
Gruma, mulher. E não vai durar para sempre.
Nós duas rimos disso. Eu estava muito feliz por Michelle vir conosco.
Isso fez com que a viagem realmente parecesse de férias, não apenas uma
operação secreta.
Além disso, fazer um Banquete de Verão em Lumen, entre todos os
lugares? A ideia sozinha fez meu coração disparar.
— Tudo bem, — disse Michelle, olhando para as duas malas feitas, tão
cheias que pareciam prestes a estourar. — Agora, onde coloco meus
produtos de higiene pessoal?

— Adeus, querida! Cuide-se, está bem?


Abracei minha mãe e meu pai. Estávamos no limite da propriedade da
Matilha. Os carros estavam lotados e em breve estaríamos indo para o
aeroporto.
— Eu não vou demorar muito, — eu disse a eles.
— Vocês não precisavam vir até aqui.
— Mas queríamos, — disse meu pai, sorrindo. — E, uh, isso me dá a
chance de me desculpar com você. — Eu fiz uma careta. Fazia algum
tempo que não pensava no almoço, então fiquei surpresa quando meu
pai tocou no assunto.
— Pai, está tudo bem, — comecei, mas ele balançou a cabeça.
É
— Não está. É por isso que pedi a Rowan para estar aqui também.
Ele acenou com a cabeça por cima do meu ombro, e lá, para minha
surpresa, estava meu pai biológico. Sua barba tão gloriosa como sempre.
Seus olhos, misteriosos e desconhecidos.
Mas seu sorriso, reconhecível. Quase semelhante ao meu.
— Olá, — ele disse. — Obrigado, Robert.
— Imagina.
— Você quer dizer que vocês dois estão... de boa?
— Tivemos uma longa conversa, — disse Rowan. — E acho que
chegamos a um acordo.
— Qual é?
— Estamos todos aqui para ajudá-la. Você é o que importa.
Fiquei tão emocionada que joguei meus braços em volta de Rowan e o
abracei.
Ele parecia além de chocado com o abraço físico, como se não
conhecesse o amor há décadas.
E se sua história fosse verdadeira e ele estivesse preso por uma
divindade por todos esses anos, esse seria o caso.
— Obrigada por vir, — eu disse. — Vejo todos vocês quando voltar.
Eu me virei para o carro onde Aiden e Josh estavam conversando
baixinho.
— ... quando Konstantin se mostrar, você deixa comigo desta vez, —
Josh insistiu. — Eu quero ser o único a acabar com ele.
— Eu farei o meu melhor, Josh, mas sem promessas. Não sabemos do
que ele é capaz.
Virei-me para ver Rowan ao meu lado, também ouvindo.
— Você sabe que nenhum deles será capaz de parar Konstantin, certo?
— O que você quer dizer?
— Sienna, em algum momento, você terá que revelar sua verdadeira
natureza. Quando chegar a hora, não hesite. Você sozinha pode acabar
com o monstro.
— Como? — Eu perguntei, mais confusa do que nunca.
Mas, sem responder, Rowan me deu um sorriso estranho e se virou
para sair.
Eu não sei o que ele quis dizer.
A ideia de que eu, entre todas as pessoas, poderia ser a resposta para
parar o vampyro parecia loucura. Eu estava apenas acompanhando
porque Raphael tinha me convidado também.
Certo?
— Vamos, temos que ir! — Aiden gritou para mim.
Acenei mais uma vez para meus pais, em seguida, corri para o carro,
animada por finalmente seguir nosso caminho. Mas quando deixamos a
propriedade da matilha, tudo que eu conseguia pensar eram nas palavras
de Rowan.
Quando chegar a hora, não hesite.
Eu não sabia o que meu pai biológico queria dizer, mas faria o meu
melhor.
Rowan

Esperei até que todos os veículos de carga tivessem deixado a


propriedade antes de ligar meu carro e segui-los.
Não havia como lidar com Konstantin sozinhos.
Eles precisavam de mim. Sienna precisava de mim.
Se ela se mostrasse incapaz de controlar o poder dentro dela, jurei
que estaria lá.
Konstantin matou minha companheira. Ele matou a mãe de Sienna.
Enquanto eu respirasse, teria certeza de que ele nunca faria mal a
ninguém da minha família novamente.
— Eu estarei lá, Sienna, — eu prometi. — Eu estarei lá.
Capítulo 28
O BANQUETE DE VERÃO
Sienna

Lumen era diferente de qualquer cidade que eu já vi na minha vida. A


majestade de suas antigas ruas de paralelepípedos combinadas com
toques modernos e peculiares do Oregon tomam cada momento vivido
ali fascinante.
Quando Aiden e eu e todos da Matilha chegamos pela primeira vez,
fizemos um pequeno tour.
Aiden disse que era uma missão de reconhecimento, mas para
Michelle e eu, era realmente apenas uma chance de ver do que a capital
dos lobisomens era feita.
E, meu Deus, não decepcionou. Todo tipo de lobisomem estava ali.
Todos estavam se preparando para o Banquete de Verão. E todo mundo,
é claro, estava muito animado.
Michelle deu uma risadinha e apontou vários casais entrando no
meio de parques públicos e em estações de metrô e até mesmo ao longo
da margem do rio.
Acho que os lobos ali eram mais liberais a esse respeito.
Até eu fiquei impressionada com algumas das combinações. Dois
garotos e uma garota e vice-versa, abraços viraram orgias e...
De qualquer forma. Era bem explícito.
Então, quando a noite do banquete finalmente chegou, eu estava
muito animada para ver um lado mais elegante da cidade. Coloquei o
vestido de verão com design midi de Selene e girei para Aiden.
— Você está deslumbrante, — disse ele com um sorriso. — É uma
pena termos que sair.
Eu gostaria muito que pudéssemos ficar e aproveitar ao máximo a
Bruma. Ver todos aqueles jovens casais selvagens me deu algumas ideias.
Mas eu sabia, agora, que o negócio da matilha tinha que vir primeiro.
Muitas vidas estavam em jogo.
Incluindo o meu.
— Mais tarde, — eu disse para ele, dando-lhe um beijo rápido nos
lábios. — Vou fazer valer a pena. — Quando finalmente nos juntamos aos
outros, todos se vestiram com esmero e entraram na Casa da Matilha do
Alfa do Milênio no centro de Lumen, meu queixo caiu em descrença.
Nunca tinha visto um evento tão bem decorado em minha vida. Não
havia luz ou eletricidade em lugar nenhum, pelo que eu poderia dizer.
Apenas candelabros e lustres adornados com velas bruxuleantes.
Isso deu a todo o majestoso salão de reuniões um ar vintage.
No centro do salão havia um enorme altar de verão, uma estátua
imponente em forma de duas mãos estendendo-se para o céu.
Eu tinha ouvido que exibições cerimoniosas eram comuns em
eventos em Lumen, mas nunca tinha visto pessoalmente.
Aiden agarrou meu braço quando viu um lobo se aproximando que
nós dois reconhecemos imediatamente. Nós inclinamos nossas cabeças.
— Alfa do Milênio, — disse Aiden. — É uma honra ser seu convidado.
— Por favor, Aiden, — Raphael disse, exibindo um sorriso
deslumbrante. — Somos todos amigos aqui. Esta noite é uma celebração.
Você pode usar meu nome.
— Raphael, — disse Aiden, apertando sua mão. — É bom te ver.
— E você. Eu acredito que você conheceu minha companheira, Eve?
Eve, a vampira de olhos roxos que eu conheci algumas vezes antes,
acenou para Aiden e depois em minha direção. Mas fiquei surpresa ao ver
uma criança de aparência tímida ao seu lado.
— ... e esta é nossa filha, Snow, — Raphael continuou. — Importa-se
de dizer olá, Snow? — Mas Snow não disse nada, parecendo um pouco
intimidada por nossa grande comitiva.
— Ela é um pouco tímida, — Raphael disse com um encolher de
ombros, e então ele olhou para Aiden. — Venha, temos muito que
discutir antes que a noite comece.
Aiden acenou com a cabeça e se virou para Josh.
— Estabeleça um perímetro e mantenha os olhos abertos para
qualquer sinal dele, ok?
— E a criança que ele roubou? — Josh perguntou.
— Cruzaremos a ponte quando chegar a hora. Eu confio em você para
lidar com isso, Josh.
Josh acenou com a cabeça e saiu com Nina e alguns outros guerreiros
de nossa matilha enquanto Aiden decolava com Raphael.
Então fiquei junto com Michelle e Eve. E sua filha, é claro.
Eve sorriu.
— Então. Devemos pedir um aperitivo?
Aiden

— Então qual é o plano?


Juntei-me a Raphael em seu escritório próximo enquanto ele servia
duas bebidas fortes.
— Estou surpreso com a quantidade de lobos que você trouxe, Aiden,
— disse ele. — Minha carta não foi clara?
Merda. Então Josh estava certo depois de tudo sobre a mensagem
escondida.
— Peço desculpas, Raphael, — eu disse. — Eu pensei que se nosso
número fosse mais enxuto, poderíamos ter uma chance melhor contra o
vampyro.
— Pelo que eu entendi, ele tem um artefato agora que lhe permite
fazer muitas cópias. Esperemos que sejamos suficientes.
Ele entregou um copo para mim, e nós dois tomamos um longo gole
silencioso.
— Eu ouvi sobre o que ele fez com sua companheira, — Raphael disse.
— E com a de Josh. Espero que esta noite possamos vingá-los.
— Um brinde, — eu disse, segurando meu copo.
Enquanto nossos copos tilintavam, olhei ao redor do escritório.
Estava coberto de materiais promocionais para o Banquete de Verão,
lembrando-me do meu trabalho incansável nos Bailes de Natal
anteriores.
— Como sabemos que Konstantin está chegando, Aiden? — Raphael
perguntou.
— Para ser honesto, — eu disse, balançando a cabeça, — Tenho
tentado descobrir isso desde que cheguei.
Raphael apontou para os pôsteres.
— É realmente simples. Convidamos todo tipo de criatura para este
baile pela primeira vez em nossa história. Não apenas lobos. Vampyros.
Quem quiser vir. Por um dia, todos são bem-vindos à Lumen.
— Então você criou uma armadilha?
— Sim, mas Konstantin saberá que é uma armadilha, claro. É por isso
que preciso de tantos soldados. Caso ele tente jogar contra nós.
Tomei um gole, balançando a cabeça.
— Você sabe do que ele está atrás? Por que ele está atrás de você
agora?
— Pelo que entendi e pelo que seu Beta me disse, ele está tentando
ganhar o máximo de poder possível. Como o Alfa do Milênio, meus
poderes seriam uma excelente adição, eu suponho.
— Como você tem tanta certeza de que ele vai aparecer? — Perguntei.
— Você deveria saber, Aiden, — Raphael disse.
— Pelo que ouvi sobre suas experiências com ele, junto com a de
Sienna, Konstantin é um grande exibicionista. Se tiver a chance de
provocar, ele o fará. Esta é a chance dele.
— E se não formos suficientes para enfrentá-lo? — Perguntei.
Raphael deu um longo gole em sua bebida, quase terminando, então
olhou para mim solenemente.
— Então o mundo como o conhecemos, o mundo governado por
lobisomens, acabará.
Sienna

Cada vez que eu via Eve, eu me lembrava de como aqueles olhos roxos,
uma vez, me fizeram sentir. Como se eu estivesse perdendo minha
cabeça. Como se eu fosse a única que pudesse vê-la.
Mas agora, enquanto ela entregava canapés para sua filha tranquila,
uma linda filha com um brilho estranho nos olhos, eu achei estranho que
eu alguma vez a tivesse considerado intimidante.
Ela parecia uma mãe agora.
Algo que eu nunca poderia ser.
Michelle já estava enchendo a cara com todos os aperitivos que
conseguia pegar dos garçons que passavam. Um efeito colateral de estar
grávida, sem dúvida.
Eve notou, dando a Michelle um sorriso.
— Você está grávida?
— Como você... — Michelle disse, parecendo mortificada. — Eu nem
estou com barriga ainda!
— Ah, é apenas um sentido que eu tenho, — Eve disse. — Nada para
se preocupar. Você vai adorar ser mãe. Eu adoro.
Ela beliscou a bochecha de Snow, e fiquei surpresa com o quão
calorosa aquela vampira poderia ser. Sempre pensei em sua espécie como
de sangue frio, especialmente depois de minhas experiências com
Konstantin.
— Ele é um vampyro, — ela disse. — Há uma certa diferença.
Uau. Ela acabou de ler minha mente?
Ela acenou com a cabeça mais uma vez.
— Desculpe, mau hábito.
Olhei para Snow e me perguntei por que nunca a tinha visto antes.
Afinal, eu tinha conhecido o Alfa do Milênio e sua companheira algumas
vezes antes.
Onde estava Snow?
— Posso te perguntar uma coisa, Eve? Sua filha, por que nunca...
— Snow, — Eve disse a sua filha. — Você gostaria de contar a eles?
Snow deu uma mordida em um biscoito e então seus olhos grandes
encontraram os meus.
— Me salvou. De má divindade. Mamãe e papai.
— Essa é a versão resumida, mas sim, exatamente, — Eve disse com
um sorriso. — Não sei o que faria sem você, Snow.
Snow sorriu e pressionou a cabeça contra o braço da mãe. Embora
tenha sido um movimento estranho, o afeto era puro e real e fez meu
coração gritar.
Eve pegou minha mão um segundo depois, percebendo, lendo minha
mente novamente.
— Eu sinto muito, Sienna. Eu não...
— Está tudo bem, — eu disse. — Ver o que poderia ser é o suficiente.
— Não tem que ser assim, sabia? — Eve disse. — Existem outras
maneiras.
Eu pensei sobre isso. Afinal, eu mesma fui adotada. Mas a ideia de
criar um filho que não compartilhasse nenhuma parte de mim... um
estranho?
Sim, eu fui criada assim, eu acho. Mas, ainda assim, algo sobre isso
parecia estranho.
— Um dia, você será mãe, — Eve disse. — Disso, não tenho dúvidas.
Ela pegou minha mão e eu fiquei tão emocionada que não notei
Michelle deixando cair o prato. Mesmo quando ele caiu no chão, eu não
me virei.
Achei que minha amiga só devia ter sido desajeitada. Mas então ela
me mostrou.
— Sienna, olhe...
A estranha marca no braço de Michelle, de onde o piche de
Konstantin a queimara, parecia estar... brilhando. E percebi, em pânico,
que não estávamos sozinhas na sala de reuniões.
— Ele está aqui, — eu disse.
Eve instintivamente agarrou a mão de Snow e a levou até uma porta
secreta.
— Venha, temos que tirar você daqui, meu amor.
Antes de fugir, Eve me deu uma última olhada e ouvi sua voz em
minha cabeça.
Não tenha medo dele. O vampyro não é tão poderoso quanto pensa que é.
Em seguida, as portas se abriram para o salão de assembleia, e toda a
sala ficou em silêncio. Parado ali, no terno mais elegante, seu cabelo
preto penteado para trás, estava o homem que entrou em minha mente e
violou minhas memórias.
O vampyro que matou minha mãe.
A criatura maligna que torturou Aiden e eu desde então.
— Ora, ora, ora, — Konstantin berrou. — É isso o que eu chamo de
festa!
Você sabia que temos OUTRA história que se passa no mundo dos Lobos
do Milênio?!
Vá para a página de buscas e cave suas presas em...
Devil vs. Alfa
Eve é muito poderosa e não vai parar por nada para completar sua mais nova
missão: proteger a vida de duas adolescentes. Mas existem distrações...
Nos vemos lá!
Capítulo 29
A VINGANÇA É MINHA Sienna
Ele estava em todo lugar e em lugar nenhum ao mesmo tempo.
Enquanto Michelle e eu agarrámos as mãos uma da outra, circulando,
girando, diferentes versões de Konstantin começaram a surgir na
multidão. Cópias.
Todos eles pareciam idênticos. Todos eles sorriram, seus dentes
afiados brilhando. E todos eles estavam encurralando Michelle e eu no
meio do salão da Matilha de Lumen.
— Qual deles é realmente ele? — Michelle perguntou em pânico. —
Cadê Josh e Aiden?
— Não se preocupe, — eu disse, embora estivesse morrendo de medo.
— Tenho certeza de que há um plano.
— Um plano? — Um dos Konstantins riu. — Por favor. Seus homens
não sabem nada sobre planos. Eu, no entanto, sou um mestre dos planos.
— Esta é a parte em que você nos conta o que tem planejado o tempo
todo? — Eu perguntei com os dentes cerrados. — Porque ninguém está
interessado.
— Pelo contrário, — outro Konstantin interrompeu enquanto eu me
virava para encará-lo. — Eu acho que se você soubesse o que está em
jogo, você ficaria muito interessada. De qualquer forma, você certamente
ficou intrigada quando entrei em sua mente, Sienna... não ficou?
Ele estava brincando comigo. Tentando me fazer sentir pequena.
Lembrando-me de sua violação como se estivéssemos jogando um
joguinho. Senti minhas mãos se transformando em garras enquanto
minha raiva aumentava.
— JOSH! — Michelle gritou ao vê-lo no meio da multidão.
Mas Josh ainda estava como uma estátua, acenando para alguns de
seus guerreiros, dispersos pela sala, cada um escolhendo uma versão do
vampyro para seguir.
Ele estava jogando em silêncio, tentando descobrir o verdadeiro
Konstantin.
— Ele não pôde salvá-la da última vez, Michelle, — outro Konstantin
ronronou cruelmente. — O que te faz pensar que ele está à altura do
desafio agora?
— O QUE VOCÊ QUER?! — Michelle berrou.
Tentei agarrar a mão da minha amiga, para mantê-la calma, mas ver
aquele vampyro em carne e osso e tantos imitadores dele, aliás, estava
claramente bagunçando sua cabeça.
Depois do que ele fez com ela, como não poderia?
— O que eu quero é simples, Michelle, — outra voz soou. Não
podíamos nem ver essa versão de Konstantin. Havia tantos nos cercando
agora. — Eu quero os poderes mais raros do universo. O tipo que
pertence apenas a indivíduos muito especiais. Como você... Sienna.
Um dos Konstantins ergueu um dedo e apontou para mim.
Então outro.
Até que todos eles estivessem apontando.
Foi a visão mais enervante que eu já vi.
Agora, até eu estava me perguntando onde diabos Aiden e Raphael
estavam.
— Anos atrás, seu sangue teria sido perfeito, — disse um dos
Konstantin. — Era puro, o de uma criança imaculada. Agora?
Todos eles baixaram as mãos.
— Não é nada.
Diferente da dele ...
E então eles apontaram para o altar enorme no centro da sala. No
topo dela, de repente, um pequeno pacote apareceu e uma voz chorando
ecoou.
O choro de uma criança!
— Essa é a criança, — sussurrou Michelle. — Aquele de que Gregory
Grantwell estava falando.
— Essa criança é como você, Sienna. Ele é diferente, — disse
Konstantin. — Seus poderes, desconhecidos e inexplorados. Até agora. —
De repente, as portas se abriram e Aiden e Raphael invadiram o salão de
assembleia.
— KONSTANTIN! — Aiden berrou. — AFASTE-SE DELAS!
— Ah, aí está o pequeno Alfa. — Um dos Konstantins riu. — Nós não
passamos por isso antes na casa dos seus pais? Você pode me despedaçar
e, ainda assim, eu permanecerei vivo.
Raphael colocou a mão no peito de Aiden, impedindo-o de se lançar
contra um deles.
Em cima do altar de verão, o bebê chorou. Ouvir aquele grito agudo
fez meu estômago embrulhar. Isso me lembrou do que poderia ter sido.
De meu próprio filho perdido.
Eu tinha que protegê-lo.
Não importa o custo.
— Todos os poderes dos quais tenho me alimentado estão levando a
este momento, — rugiu Konstantin. E agora sua voz estava em toda
parte.
Cada cópia estava falando em uníssono, um coro de horror abafando
qualquer outro som na sala de reunião.
— Em breve, não serei páreo para nenhum mortal. Eu terei o poder de
matar uma divindade. Um assassino de deuses, você pode imaginar isso?
Aiden e eu nos olhamos através da sala, finalmente compreendendo
as profundezas do plano perverso de Konstantin. Se ele pudesse matar
seres tão poderosos como divindades, o que aconteceria com o resto de
nós?
— Restam apenas duas almas para serem tomadas, — disse o
Konstantins. — A criança, a mais pura de todas, ficará para depois. Mas
primeiro...
Então, de repente, o inferno começou.
Nina

Ninguém me notou desde que entrei pela primeira vez no salão de festas,
e eu achei isso ótimo.
Como uma ladra, estava acostumada a trabalhar nas sombras.
Então, quando vi as diferentes versões do vampyro começando a se
dispersar pela sala, fiquei perto da parede e esperei por qualquer sinal de
ameaça física.
Eles poderiam latir durante todo o dia. Eu não dou a mínima. Tudo o
que importava era que eu iria partir para cima.
Então eu o vi. Uma das cópias estava se esgueirando atrás de Raphael,
o Alfa do Milênio, com uma adaga reluzente em sua mão.
Toda a conversa, aquela showzinho, as cópias — era tudo uma
distração.
O Alfa estava prestes a ser assassinado. Konstantin drenaria seu
poder. Tornaria-se ainda mais forte.
Eu tinha que agir primeiro.
Quando Konstantin ergueu sua faca, eu me mexi em um único
instante e avancei, afundando meus caninos no braço do vampyro.
Ele gritou de dor quando o joguei para trás no chão, prendendo-o e,
em seguida, rasgando sua garganta com uma garra.
O sangue estava por toda parte. Mas quando olhei para cima,
Raphael, o Alfa do Milênio, estava olhando para mim em estado de
choque. Agradecido.
Eu tinha acabado de salvar sua vida.
Eu finalmente me redimi.
Mas agora que eu tinha atacado um Konstantin, cada versão do
vampyro estava enfurecida e se mobilizando para lutar.
Eu rapidamente me transformei de volta à minha forma humana e
agarrei a faca caída no chão, pronta para proteger o Alpha a todo custo.
Então me voltei para o Beta.
— JOSH! AGORA! — Eu gritei para fora.
E, de repente, a sala de reunião tornou-se um turbilhão de violência.
Aiden

Saltei na direção de Sienna, mas havia muitos Konstantins no meu


caminho.
— Afaste-se dela! — Eu gritei, batendo o punho na cara de alguém,
jogando outro para o outro lado da sala.
Eu precisava chegar ao minha companheira. Eu precisava protegê-la.
Agora, eu podia ver Josh e seus guerreiros, cada um emboscando uma
versão diferente de Konstantin.
Mas não fez diferença.
Para cada um morto, outros dois emergiam na sala.
O vampyro estava em toda parte.
Até que pudéssemos identificar o verdadeiro Konstantin, o original,
estaríamos desperdiçando nossa energia. Não que isso estivesse me
impedindo.
— SIENNA! — Eu gritei.
Mas ela estava fazendo algo estranho agora. Ela estava subindo no
altar o mais rápido que podia, tentando chegar ao bebê por cima.
Claro!
Se pudéssemos salvar a criança, poderíamos impedir Konstantin de
adquirir qualquer parte de seu poder. Eu vi alguns Konstantins correndo
atrás dela e sabia o que tinha que fazer.
Me transformei, permitindo que meu lobo expusesse sua sede de
sangue.
Com um rugido ensurdecedor, fui atrás de cada imitador de
Konstantin que estava ameaçando Sienna. Se ela fosse salvar a criança, eu
abriria um caminho para ela fazer isso.
Michelle

— JOSH!
Eu estava girando, cercada por vampyros, se aproximando. Todos eles
estavam sorrindo assustadoramente.
Da mesma forma que ele sorriu na noite em que invadiu minha
mente... e meu corpo.
Senti meu braço queimando e olhei para baixo para ver a marca
brilhante apontando para um deles.
Aquele era o verdadeiro Konstantin, eu percebi.
Assim que eles estavam prestes a descer sobre mim, o lobo de Josh
saltou em minha defesa, voando por cima e parando na minha frente,
circulando, mostrando os dentes.
Me protegendo.
— Josh, é aquele! — Eu gritei, apontando para o Konstantin que eu
sabia que era real. — Aquele é o verdadeiro.
Não precisei dizer a ele duas vezes. Josh saltou, derrubou Konstantin
no chão, e de repente... cada versão dele desapareceu.
Havia apenas um Konstantin agora.
Josh o encurralou.
Ele finalmente iria se vingar.
Nós finalmente íamos nos vingar.
Josh

Depois de todo esse tempo, todo esse planejamento, finalmente, eu tinha


o vampyro onde eu o queria. Eu rosnei e me lancei contra ele, mordendo,
mas ele manteve meu lobo sob controle.
Seus braços mais fortes do que qualquer versão que eu lutei até agora.
Porque este era o Konstantin real e verdadeiramente poderoso. E ele
não iria cair sem lutar.
— Você acha que é páreo para mim, Beta? — ele perguntou com uma
risada. — Apenas pergunte à sua companheira. Você nunca será metade
do homem que eu sou.
Exceto que ele estava errado. Porque eu não era um homem. Apenas o
lobo reinava agora.
E se eu não pudesse matar o vampyro, pode acreditar que eu faria ele
sangrar. Depois do que ele fez com minha Michelle, nada iria me
impedir.
Todos os poderes do universo não eram páreo para o quanto eu
amava minha companheira.
— Isso é por Michelle, — eu rosnei.
Então, rasguei a cavidade de sua garganta, o mesmo lugar onde ele
marcou Michelle com suas presas repulsivas, e observei uma fonte de
sangue jorrar.
Ele colocou a mão no pescoço, os olhos arregalados, chocado.
Até mais, assassino de deuses.
KONSTANTIN
Isso não poderia estar acontecendo.
Não era assim que deveria terminar.
Claro, o pequeno arranhão do Beta se curaria facilmente. Seu instinto
animal não era páreo para meu poder bruto. Mas o fato de ele ter sido
capaz de me ferir me deixou furioso.
Eu pulei do chão, jogando-o para trás, e senti a cicatriz curando meu
pescoço, selando meu sangue sagrado dentro.
Eu já tinha perdido muito. Eu precisava do sangue do Alfa do Milênio
agora. Mas ele foi guardado por aquela ladra assustadora. Eu não teria
tempo.
Não, o bebê teria que bastar.
Mas quando me virei para o altar, não pude acreditar no que vi. Em pé
no topo, pegando a criança, estava Sienna.
Ela estava tentando tirar a fonte do meu poder de matar deuses. Eu
não iria permitir.
Eu levitei do chão e olhei nos olhos dela, observando enquanto seu
Alfa abaixo saltava inutilmente, tentando me alcançar.
— Sienna, — eu disse. — Indo para algum lugar?
Então, eu estalei meus dedos e...
Sienna
Eu pisquei. Eu estava segurando a criança chorando, sozinha, no meio de
uma clareira na floresta.
Todo mundo havia sumido.
O salão da Matilha de Lumen havia desaparecido.
Fomos teletransportados.
E não estávamos sozinhos. Pois saindo das sombras estava
Konstantin, com um novo ferimento em seu pescoço, mas parecia tão
poderoso como sempre.
— Eu não estava planejando terminar o que comecei anos atrás, —
disse ele, com um olhar homicida. — Mas eu sou adaptável.
Ele estendeu a mão magra.
— Entregue a criança, Sienna. Ou eu vou matar vocês dois aí mesmo.
Capítulo 30
UMA CRIANÇA ESTRANHA Aiden
Minha companheira havia desaparecido.
Sienna estava lá por um segundo e então ela se foi.
O salão de festas ficou assustadoramente silencioso, o lamento do
bebê não nos assombrava mais. Nenhum sinal de Konstantin em
qualquer lugar além dos cadáveres de suas cópias espalhados pelo chão.
— Cadê... — eu disse, girando, olhando para a esquerda, olhando para
a direita. — Aonde ela foi?
Josh e Raphael correram para o altar onde eu estava.
— Você viu... — eu comecei, e ambos concordaram.
— Konstantin os levou para algum lugar, — disse Josh. — Eu ia pegar
aquele cara. Eu estava tão perto, porra!
— Aiden, — disse Raphael, colocando a mão no meu ombro. — Nós a
encontraremos. Eles não podem ter ido longe.
Observei Michelle correr para os braços de Josh, segurando-o com
força, e senti uma pontada de pânico crescer dentro de mim. E se eu
nunca mais fizesse o mesmo com Sienna?
E se, desta vez, Konstantin ganhasse?
— GAHH! — Eu gritei, em pânico, sentindo como se estivesse
enlouquecendo. — Eu tenho que encontrá-la. Eu não posso... eu não
posso perdê-la também.
— Eu sei onde eles estão.
Todos nós giramos para ver quem havia falado. Entrando no salão de
reuniões, sua barba tão longa e desgrenhada como sempre, estava
Rowan. Pai biológico de Sienna.
— O que você está fazendo aqui? — Eu perguntei, confuso. Mas ele
balançou a cabeça.
— Não há tempo. Devemos nos apressar.
— Como você sabe onde encontrá-los?
— Anos atrás, Konstantin levou Vanessa e eu para seu esconderijo
perto de Lumen. Eu sei para onde ele levou minha filha.
— Diga-me, estou indo agora.
— Não, Aiden, — disse Rowan. — Eu vou com você. Isso termina hoje
à noite.
Eu queria discutir com o homem, mas não havia tempo. Eu balancei a
cabeça, e uma fração de segundo depois, nós dois nos transformamos. Eu
nunca tinha visto um lobo como o de Rowan antes.
Seu pelo branco parecia flutuar como se ele estivesse no ar; seus olhos
pareciam sobrenaturais. Mas não houve tempo para se maravilhar ao ver
a verdadeira essência de meu sogro.
Nós tivemos que correr. Precisávamos chegar a Sienna antes que
Konstantin a matasse ou matasse a criança. Tínhamos que salvá-los.
Um segundo depois, estávamos ambos correndo como nossos lobos,
para fora do salão de reuniões, para as ruas da cidade e, finalmente,
irrompendo dos portões da cidade de Lumen para a floresta.
Estou indo, Sienna, jurei. Espere por mim!
Sienna

Eu segurei a criança perto, dando um passo para trás, quase tropeçando


em um galho, enquanto Konstantin se movia em minha direção.
Ele não estava andando. Ele estava flutuando.
Lentamente, firmemente, o vampyro se aproximou cada vez mais.
— Dê-me a criança! — Ele disse novamente, estendendo a mão.
Senti um estranho puxão telecinético e o bebê se afastou de mim,
flutuando em direção às mãos estendidas de Konstantin.
A criança gemeu de terror enquanto eu estava paralisada, impotente,
contraída pelas cordas mentais do vampyro.
— NÃO! LARGA ELE! — Eu gritei.
Mas Konstantin o segurava agora. Ele olhou para o bebê, sorrindo
cruelmente.
— Eu nunca vi olhos como os dele antes...
Então ele se abaixou e tirou uma longa adaga de seu cinto.
— Quando eu o abrir e me banquetear com seu sangue, você pode
ficar com o que sobrou dele.
Ele me deu um pequeno sorriso torto.
— Fiquei sabendo que você não tem muito jeito com as crianças, não
é?
Parecia que alguém tinha enfiado a mão no meu peito e arrancado
meu coração. O monstro estava zombando de mim, da minha
infertilidade, da minha perda.
Mas, de repente, não foi tristeza o que senti.
Quando Konstantin ergueu a adaga com uma das mãos, senti uma
nova emoção tomar conta de mim. Quase parecia uma Bruma, um desejo
incontrolável de dentro, exceto que não era de natureza sexual.
Parecia calmo. Como paz. Como uma serenidade onisciente e
onipotente.
Fechei os olhos e senti as cordas mentais de Konstantin se
distanciarem. Senti meu corpo e minha mente se expandindo conforme
o tempo parava, e eu me transformei... mas não em um lobo.
Para o que sempre fui destinada a me tornar.
Uma força, um poder até então inimaginável, passou por mim, e
quando abri meus olhos, rajadas de energia explodiram deles, perfurando
o peito de Konstantin e o fazendo voar.
Ele bateu contra uma árvore e caiu no chão em uma pilha.
Ele não conseguia respirar. Ele estava ofegante, olhando para cima,
com os olhos marejados.
— O que... o que você é?! — Ele engasgou.
O bebê flutuou de volta para os meus braços, e quando olhei para
baixo em seus olhos estranhos, senti a afinidade mais profunda que já
conheci. Um ser poderoso sendo carregado firmemente em meus braços.
Um ser que pode não saber do que realmente era capaz por décadas.
Assim como eu não sabia até aquele momento.
— Você deseja matar uma divindade, — eu disse a Konstantin. — Mas
o sangue das divindades não corre em suas veias. Não é como acontece
comigo. Ou com ele. A criança.
— Eu vou pegá-lo, — disse Konstantin, tentando se levantar. — Eu
vou beber, e eu vou...
— Você alimentaria seu apetite e nada mais. Você é fraco.
Então, com apenas um aceno de cabeça, fiz o chão sair debaixo de
Konstantin. As raízes da árvore começaram a prendê-lo, enterrando-o no
subsolo.
— Você acha que isso vai ser o meu fim?! — Ele riu. — Você não tem
ideia do que eu sou capaz!
— SIENNA!
Eu me virei, o feitiço se quebrou e vi Aiden e Rowan correndo. Não!
— Antes de eu ir, — Konstantin gargalhou, — Aqui está um último
presente!
Então, com outro estalar de dedos, Konstantin estava flutuando no ar
novamente e, com todo o seu poder restante, liberou uma rajada de
alcatrão preto fervente de sua boca...
Aquilo estava prestes a atingir Aiden.
Com seu último suspiro, Konstantin iria matar meu companheiro.
Rowan

Quando subimos correndo e vi Sienna brilhando, soube que ela


finalmente conseguiu. Ela havia explorado o poder da divindade interior.
Os genes que eu havia passado para ela finalmente foram desbloqueados.
Embora ela não fosse uma deusa de forma alguma, ela era mais do
que páreo para um vampyro tão poderoso e cruel quanto Konstantin.
Aiden, no entanto, não estava no mesmo nível.
— SIENNA! — ele gritou.
Ele podia ter sido o Alfa, o mais forte de sua matilha e um dos lobos
mais fortes vivos no mundo. Mas ele ainda podia ser morto.
E quando Konstantin lançou uma onda de sua essência negra doentia
sobre ele, eu sabia que Aiden não seria capaz de aguentar.
Ele caiu no chão quando o atingiu, sufocando enquanto deslizava em
suas veias, tentando parar seu coração.
— NÃO! — Sienna gritou.
Mas entre proteger a criança e matar Konstantin, não havia espaço
para salvar seu companheiro.
Ela não tinha mais energia.
Eu sabia o que tinha que fazer. Era o que eu deveria ter feito anos
atrás para proteger a mãe de Sienna. Foi o único presente que me restou
para dar.
Eu me lancei diante de Aiden e absorvi a escuridão de Konstantin.
Cada gota venenosa daquilo.
Eu sabia que seu corpo Alfa seria capaz de suportar um pouco disso.
Mas não tanto. Eu nunca tinha sentido tanta dor antes em minha vida.
Parecia que meu corpo estava sendo dilacerado por dentro.
Minhas veias pesadas com um líquido tão espesso quanto cimento.
Mas, ao cair no chão, vi minha filha com lágrimas nos olhos,
segurando a criança. E eu sorri.
Ela daria uma ótima mãe, pensei.
Um segundo depois, tudo ficou escuro.
Sienna

Aiden estava tendo convulsões no chão.


Rowan estava morto.
Konstantin tossiu, rindo, ainda flutuando no ar.
— Você acha que sabe o que é poder... mas você não tem ideia — Ele
cuspiu. — Você não é nada além de uma garotinha.
Abaixei meus braços, permitindo que o bebê flutuasse no ar enquanto
eu sentia um campo de força protetor envolvê-lo e envolvê-lo. Então,
quando ele estava de lado e eu me virei para Konstantin, eu sabia o que
tinha que fazer.
— Por minha mãe, — eu disse. — Por meu pai. Por meu companheiro.
Por mim.
Então eu permiti que a pessoa que eu sempre pensei que fosse eu
mesma desaparecesse.
Eu desmontei minha identidade.
Eu deixei Sienna Mercer-Norwood quebrar em um milhão de
pedaços... enquanto a energia mais pura do meu núcleo assumia.
Eu era uma estrela radiante com um propósito.
Apagar a escuridão deste mundo.
Com um uivo estrondoso, libertei toda minha energia sobre
Konstantin.
O brilho o engoliu, tornando-o pequeno, patético e fraco. Uma
mancha negra contra o universo expansivo.
Eu o ouvi gritar mais uma vez:
— Eu sempre estarei no fundo de sua mente, Sienna!
Então, com um som de dois mundos colidindo, a energia o partiu ao
meio e ele desabou em uma pilha de cinzas no chão.
Uma rajada de vento levou a pilha para longe e Konstantin não existia
mais.
Eu engasguei por ar, piscando. Eu estava viva.
Eu era eu mesma novamente. Meu corpo parecia drenado, mas minha
mente sabia que meu companheiro estava em apuros.
Eu rapidamente agarrei a criança e corri para Aiden e Rowan, ambos
deitados quietos agora.
— AIDEN! — Eu gritei, agarrando seu rosto entre minhas mãos. —
Por favor, diga alguma coisa. — Ele estava imóvel e, por um segundo,
fiquei com medo de que ele pudesse estar morto. Mas então ele se mexeu
lentamente e piscou os olhos abertos. — Sienna? — Ele perguntou. —
Você está bem?
Eu o beijei com lágrimas em meus olhos, mais grata do que nunca.
— Acabou, — eu disse.
Ele esticou o pescoço para trás, olhando para Rowan.
— Mas e...
Eu corri até Rowan em seguida. Seu peito ainda estava se movendo
para cima e para baixo, mas fracamente. Seus olhos estavam fechados.
— Rowan, — eu disse. — Você está bem?
— ... não... — Ele sussurrou. — ... mas você ficará...
Rowan abriu os olhos uma vez para olhar nos meus e sorriu.
— Sua mãe e eu te amamos... sempre... eu desejo...
Mas então as palavras escaparam de sua língua quando seu corpo
ficou imóvel.
— Rowan? — Perguntei. — Rowan?! Por favor!
Mas eu sabia que ele havia partido. Logo, Aiden estava encolhido
sobre mim enquanto eu chorava por Rowan, por seu sacrifício,
segurando a criança.
Por fim, o choro da criança diminuiu. Mas eu sabia que demoraria
muito até que minhas lágrimas secassem.
Para cada vida salva, sempre havia um custo. Esse custo nunca
pareceu mais claro do que agora.
— Obrigada, — falei para Rowan mais uma vez, finalmente
chamando-o do que sempre deveria ter feito.
— Eu te amo, pai...

— Sienna!
— Estou aqui em cima!
Aiden explodiu dentro da sala e jogou seus braços em volta de mim,
girando em torno de mim e me fazendo rir.
— O que está acontecendo?
— Nada, — disse ele, sorrindo. — Não posso ficar animado para ver
minha própria divindade pessoal?
— Eu não sou uma divindade, — eu disse, revirando os olhos. —
Longe disso.
— Talvez... — Aiden deu de ombros. — Mas depois das coisas que vi
você fazer... me pergunto do que mais você é capaz.
Ele me beijou, colocando a mão nas minhas costas, aproximando-se
da minha bunda enquanto ficava mais excitado.
— Aiden, — eu disse, me afastando. — Aqui não!
Estávamos no meio do berçário. Nós o reconstruímos inteiramente,
tornando-o o espaço perfeito para o novo membro da família.
— Konstantin estava certo sobre uma coisa, — disse Aiden enquanto
olhava para o berço, sorrindo. — Ele tem os olhos mais incríveis que eu já
vi.
A criança, descobrimos, era ór ã e não tinha para onde ir. Quanto
mais eu o segurava, sentindo sua pequena respiração contra meu peito,
mais e mais conectada eu me sentia com ele.
Principalmente porque, como eu, essa criança não era uma criança
comum.
E vinte e um anos atrás, eu também fui adotada.
Quem sabe o que mais teríamos em comum.
Abaixei-me para apertar a bochecha rosada do bebê.
— Pequeno Rowan... estamos tão felizes que você é nosso.
Dizer esse nome sempre fazia meu coração doer um pouco. O que
meu pai biológico fez para salvar a vida do meu companheiro foi um
presente que eu nunca poderia retribuir. Mas dar o nome dele a essa
criança foi, pelo menos, um começo.
— O que devemos fazer hoje, amor? — Aiden perguntou. — Já que
minha ideia está fora de cogitação.
Eu ri.
— Não se preocupe. Quando Rowan estiver dormindo, podemos
pensar em algo.
Eu dei a Aiden uma piscadela lasciva. Só porque a Bruma acabou, não
significa que não poderíamos nos divertir um pouco. Então me inclinei e
peguei Rowan, segurando-o, olhando em seus olhos.
Eles mudaram de uma forma para outra, mudando de cor, girando
como uma das minhas pinturas. Os olhos mais mágicos que eu já vi.
Eu não sabia quem meu filho realmente era. O que ele era.
Mas eu sabia a quem ele pertencia.
Eu beijei Aiden mais uma vez.
— Eu amo nossa família.
— Eu também, Sienna, — disse ele. — Eu amo a gente.
Nós três ficamos ali em silêncio por um longo tempo, abraçados,
balançando para frente e para trás. Uma família plantando raízes.
Começando de novo.
Continua no Livro 5…
Para ler mais livros como esse acesse:
Galatea Livros
Star Books Digital
Os Lobos do Milênio
Leia Também…

Sequestrada por um Alfa – Annie Whipple


Belle nem sequer sabe que lobisomens existem. Em um avião para Paris,
ela encontra o Alfa Grayson, que afirma que ela lhe pertence. O
possessivo Alfa marca Belle e a leva para sua suíte, onde ela tenta
desesperadamente lutar contra a paixão que cresce dentro dela. Será que
Belle irá sucumbir aos seus desejos, ou será que ela é capaz de se segurar?
Abocanhada por um Alfa – Chloe Taylor
Quando a jovem fugitiva Quinn é mordida por um lobo na floresta, ela
descobre um mundo que nunca havia conhecido — um mundo de
lobisomens. Agora Quinn deve adaptar-se à sua nova vida no Bando
Sombra da Lua, sob a orientação de um alfa sedutor.
Meu Alfa me Odeia – Natchan93
Quando a jovem fugitiva Quinn é mordida por um lobo na floresta, ela
descobre um mundo que nunca havia conhecido — um mundo de
lobisomens. Agora Quinn deve adaptar-se à sua nova vida no Bando
Sombra da Lua, sob a orientação de um alfa sedutor.
O Chamado do Alfa – Sapir Englard
Lyla vai até o coração do Mississippi com uma fraca esperança de
encontrar seu companheiro. Achar um par é uma coisa rara, e
sinceramente Lyla ficaria contente com o seu namoradinho de infância.
Quando a temporada começa sob a lua cheia, Lyla segue um uivo
arrepiante para encontrar o seu verdadeiro companheiro — Sebastian, o
Alfa Real. Será que Lyla aceitará o seu destino como parte da Matilha
Real ou escolherá o seu primeiro amor?

Você também pode gostar