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Trechos de “Os sofrimentos do jovem Werther” (Goethe)

“(4 de maio) Como estou feliz por haver partido! Querido amigo, o que
não é o coração humano! Deixar-te, a ti, a quem tanto estimo, de quem
era inseparável, e estar feliz! Mas sei que me hás de perdoar. Minhas
demais relações, todas elas não pareciam escolhidas pelo destino, para
angustiar um coração como o meu? A pobre Leonora! No entanto, não
sou culpado! Cabe-me alguma culpa se em seu pobre coração cresceu
uma paixão, enquanto eu encontrava uma distração agradável nas
encantadoras extravagâncias da irmã? Contudo… estarei mesmo
totalmente isento de culpa? Não terei alimentado seus sentimentos? Não
senti prazer perante as expressões sinceras de sua natureza, que tantas
vezes nos fizeram rir, embora não fossem motivo para riso? Não…”.

“(12 de agosto) [Alberto diz:] ‘É mais fácil morrer do que suportar


corajosamente uma vida sofrida’ [...] [Werther responde:] ‘Vejamos então
se há outra maneira de imaginarmos como se sente o homem decidido a
livrar-se do fardo da vida, que, segundo dizem, é agradável. Porque
somente temos o direito de falar sobre determinada situação quando
somos capazes de senti-la e compreendê-la. A natureza humana’,
prossegui ‘têm seus limites: pode suportar até certo ponto alegrias,
tristezas e dores; se ultrapassar esse limite, sucumbirá. Não se trata,
portanto, de discutir se um homem é fraco ou forte, e sim saber se ele
pode suportar a medida de seus sofrimentos, sejam eles morais ou
físicos".

“(30 de agosto) Adeus! Somente o túmulo poderá libertar-me desses


tormentos.”

“(10 de maio) Uma serenidade maravilhosa inundou toda a minha alma,


semelhante às doces manhãs primaveris com as quais me delicio de
todo o coração. Estou só e entrego-me à alegria de estar vivendo nesta
região, ideal para almas iguais à minha. Estou tão feliz, meu bom amigo,
de tal modo imerso no sentimento de uma essência tranquila, que minha
arte está sendo prejudicada. [...] Quando, ao meu redor, os vapores
emanam do belo vale, o sol a pino pousa sobre a escuridão
indevassável da minha floresta, e apenas alguns raios solitários se
insinuam no centro desse santuário; quando, à beira do riacho veloz,
deitado na grama alta, descubro rente ao chão a existência de mil
plantinhas diferentes;”.

“(18 de agosto) [...] Por que aquilo que representa a felicidade do


homem acaba se transformando, um dia, na fonte de sua desdita? Por
que tem de ser assim?
O sentimento intenso, cálido pela natureza palpitante, que me inundava
de felicidade, transformando em paraíso o mundo ao meu redor,
tornou-se agora para mim um suplício insuportável, um tormento que me
persegue por toda parte. [...] Agora é como se um véu tivesse se
rasgado diante de minha alma, e o palco da vida infinita transforma-se,
para mim, no abismo de um túmulo eternamente aberto. [...] Um simples
passeio custa a vida de milhares de vermezinhos, uma passada
desmantela a as construções penosamente erguidas pelas formigas e
condena a um túmulo ignominioso todo um pequeno universo.

“(16 de junho) Quem é esse Alberto”, disse eu a Carlota, “se não é muita
indiscrição perguntar?” Ela estava a ponto de me responder quando
tivemos de nos separar para formar o grande oito. Ao tornar a passar
diante dela, pareceu-me notar uma ruga de preocupação em sua testa.
“Para que deveria negá-lo?”, disse-me ela, oferecendo-me o braço para
passearmos. “Alberto é um bom homem, com o qual estou, poder-se-ia
dizer, comprometida.” Com efeito, aquilo não era novidade para mim,
pois as moças já mo haviam dito no caminho, e contudo me pareceu tão
absolutamente novo de repente... É que até aquele momento eu ainda
não havia estabelecido uma relação direta entre aquilo que me fora
contado e a bela jovem, que em tão breves instantes se me tornara tão
querida. Foi o que bastou, eu me desconcertei, me esqueci de tudo e me
meti entre o par errado, atrapalhando a todos aqui e acolá, de sorte que
Carlota precisou de toda sua presença de espírito para, puxando daqui e
dali, conseguir restabelecer a ordem. Não havia ainda terminado a
dança, quando os relâmpagos que já há muito víamos brilhar no
horizonte, e que eu seguia empenhado em não levar a sério, começaram
a tornar-se mais fortes, até que os trovões dominaram a música.”

“(15 de agosto) Não há dúvida de que apenas o amor torna o homem


necessário neste mundo”.

(17 de junho)“Uma das mais encantadoras criaturas que possas


imaginar”. [...] “Um anjo! Arre! Todos dizem isso de sua amada, não é
mesmo? Não obstante, sou incapaz de dizer-te o quanto ela é perfeita,
nem por que é perfeita; basta isto: ela tomou conta de todo o meu ser.
Tanta simplicidade aliada a tamanho bom senso, tanta bondade aliada a
tanta firmeza”.

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