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“(4 de maio) Como estou feliz por haver partido! Querido amigo, o que
não é o coração humano! Deixar-te, a ti, a quem tanto estimo, de quem
era inseparável, e estar feliz! Mas sei que me hás de perdoar. Minhas
demais relações, todas elas não pareciam escolhidas pelo destino, para
angustiar um coração como o meu? A pobre Leonora! No entanto, não
sou culpado! Cabe-me alguma culpa se em seu pobre coração cresceu
uma paixão, enquanto eu encontrava uma distração agradável nas
encantadoras extravagâncias da irmã? Contudo… estarei mesmo
totalmente isento de culpa? Não terei alimentado seus sentimentos? Não
senti prazer perante as expressões sinceras de sua natureza, que tantas
vezes nos fizeram rir, embora não fossem motivo para riso? Não…”.
“(16 de junho) Quem é esse Alberto”, disse eu a Carlota, “se não é muita
indiscrição perguntar?” Ela estava a ponto de me responder quando
tivemos de nos separar para formar o grande oito. Ao tornar a passar
diante dela, pareceu-me notar uma ruga de preocupação em sua testa.
“Para que deveria negá-lo?”, disse-me ela, oferecendo-me o braço para
passearmos. “Alberto é um bom homem, com o qual estou, poder-se-ia
dizer, comprometida.” Com efeito, aquilo não era novidade para mim,
pois as moças já mo haviam dito no caminho, e contudo me pareceu tão
absolutamente novo de repente... É que até aquele momento eu ainda
não havia estabelecido uma relação direta entre aquilo que me fora
contado e a bela jovem, que em tão breves instantes se me tornara tão
querida. Foi o que bastou, eu me desconcertei, me esqueci de tudo e me
meti entre o par errado, atrapalhando a todos aqui e acolá, de sorte que
Carlota precisou de toda sua presença de espírito para, puxando daqui e
dali, conseguir restabelecer a ordem. Não havia ainda terminado a
dança, quando os relâmpagos que já há muito víamos brilhar no
horizonte, e que eu seguia empenhado em não levar a sério, começaram
a tornar-se mais fortes, até que os trovões dominaram a música.”