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Diagramação: Fox Assessoria

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Dados internacionais de catalogação (CIP)

GRÁVIDA DO VIZINHO

VIZINHOS — LIVRO 2
1ª Edição – Independente - Manaus Amazonas
1. Literatura Brasileira. 2. Literatura Erótica. 3. Romance. Título
II.

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É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por
qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos
xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão de seu editor
(Lei 9.610 de 19/02/1998). Esta é uma obra de ficção, nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor,
qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos desta edição são reservados pela autora.


Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa (1990), em vigor desde 1º de janeiro de 2009.
Anne Beltrão é técnica de enfermagem e tem muito amor pela

profissão; depois que os pais se mudam para outra cidade, ela decide ficar

em Limoeiro, e aluga uma das casas dos vizinhos Malfacini. Anne é

romântica e sempre foi apaixonada pelo enfermeiro chefe, Vinicius

Malfacini, mas nunca se declarou para ele, porque o rapaz não quer nada

sério com ninguém. Vinicius não pensa em se apaixonar e, muito menos

entregar seu coração, que já foi quebrado no passado por um antigo amor de

adolescência.
Vinícius é um homem cobiçado pelas mulheres, mas no trabalho é

um excelente profissional; respeitado e trata bem todos os pacientes. Mas

sua vizinha está disposta a quebrar seu coração de pedra. Os dois decidem

ser amigos com benefícios até que uma gravidez inesperada surge em suas

vidas... Anne engravida do seu vizinho e fica em dúvida se conta para ele,

ou não. E agora? Grávida do vizinho, o que ela fará?


Sumário
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Epílogo
Sinopse
Prólogo
Capítulo 01
Agradecimentos
Redes sociais da autora
Aos dezessete anos, descobri o desejo da paixão, era a primeira vez

que sentia isso por uma menina. Isis tinha se mudado para a cidade de

Limoeiro e iria estudar na minha classe. Eu era um garoto extrovertido e

fazia amizades com facilidade. Romântico, diferente do meu irmão Nicolas,

que sempre foi tímido. Assim que a garota entrou na sala, ela se sentou

perto de mim e sorriu abaixando a cabeça. Notei o quanto era linda, e

suspirei no meu assento.

Ir para a escola havia se tornado o momento que eu mais gostava;

acordava cedo para me arrumar, passava mais tempo em frente ao espelho


tentando deixar meus cabelos bem arrumados, afinal, eu iria vê-la; a garota

de cabelos enrolados e de lábios grossos era a menina mais linda de toda a

escola. Eu tinha colocado na minha cabeça que ela seria minha, antes que as

aulas terminassem no final do ano. E de fato, ela foi. Eu nunca quis tanto

alguém como queria Isis. Seu rosto era de um anjo e a voz mais suave que

eu já tinha escutado. Ela me fez acreditar que estava apaixonada por mim

tanto quanto eu estava por ela. Sempre nos intervalos das aulas, ela vinha

conversar comigo, dizia o quanto estava gostando da cidade e da minha

companhia. Meu coração transbordava com sua confissão. Suas palavras

soavam tão verdadeiras.

Os dias foram passando e nós dois fomos nos aproximando ainda

mais; nosso primeiro beijo aconteceu debaixo de uma árvore na praça onde

os mais velhos faziam exercícios físicos, era um dia frio e estava

chuviscando; os lábios de Isis estavam frios e suas mãos geladas, mas sua

língua era bastante quente, ela tinha um jeito diferente de beijar, era

delicioso quando sua língua sugava a minha despertando em mim desejos

desconhecidos. Depois do nosso primeiro beijo, eu criei coragem e a pedi


em namoro, claro que ela aceitou, éramos novos, mas tínhamos a certeza

dos nossos sentimentos um pelo outro.

Certo dia, após a escola combinamos de nos encontrar atrás do

campinho de futebol, onde tinha uma trilha e um pequeno lago; nesse lago

os rapazes mais velhos iam para beber e levavam suas namoradas para

tomarem banho. Esse era, praticamente, o lugar do pessoal do time de

futebol, porém, naquele dia o lugar era só nosso.

Chegando lá, encontrei Isis sentada em uma das pedras, quase sem

roupas, usava apenas uma lingerie. Meu corpo logo se acendeu com um

desejo que eu sabia muito bem o que era, estava ficando excitado. Caminhei

em sua direção sentindo meu peito subir e descer com o nervosismo. Ela era

linda. Completamente envolvido e cheio de desejo deixei que ela tirasse

minha roupa, em seguida, fomos para dentro do lago. Os lábios de Isis

passeavam pelo meu corpo me deixando a ponto de explodir; sentia as

minhas pernas tremerem e meus pelos se arrepiaram com seu toque.

Gemidos baixos escapavam da minha garganta, eu iria ter a minha primeira


vez com a menina que eu amava. Os olhos de Isis eram de puro desejo, sua

língua lambia a minha pele febril. Eu perdi a virgindade com ela. Apesar de

ser mais experiente que eu, nossa conexão era tanta que nada faltou. Foi do

jeito que imaginei.

De repente, ouvimos risadas e gritos perto de nós dois, tentei

esconder Isis atrás de mim, pois ela estava com os seios de fora. Eu estava

completamente duro ainda, então peguei nossas roupas, nos vestimos

depressa e saímos do local. Um dos garotos olhou para Isis e sorriu

parecendo conhecê-la; a questionei após vê-la retribuir o sorriso, e ela disse

que só quis ser simpática, pois eles estavam em bandos e temia que

fizessem algo conosco. Concordei com ela e saímos dali. Mas aquela cena

dela sorrindo para o rapaz de forma cúmplice não saía da minha cabeça.

Uma semana depois, Isis começou a faltar na escola, preocupado. fui

até sua casa. Seus pais trabalhavam na cidade e só chegavam à noite. Como

eu já era conhecido da casa, a moça que trabalhava para eles me deixou

entrar, fui direto para seu quarto. Escutei o som de risos que não era
somente de Isis. Abri a porta apressadamente, preocupado com ela; a cena

que vi me deixou sem voz e sem movimento nas pernas, não conseguia sair

do lugar.

Isis ficou imóvel no mesmo lugar com a expressão divertida no

rosto. O que estava acontecendo com ela? Um dos caras se aproximou e

começou a beijá-la, ela olhava para mim sorrindo e se divertindo muito.

Meus olhos ficaram cheios de água e meu coração doía. Ela estava

completamente nua com dois caras em sua cama, era a cena mais doída que

eu já tinha presenciado, e imoral também. A desculpa dela foi que eu era

romântico demais e ela gostava muito de sexo e eu não sabia transar direito.

Mas disse que se eu quisesse aprender era só me juntar a eles. Saí correndo

tentando fugir daquele lugar onde os dois caras riam de mim, um deles era o

rapaz que tinha sorrido para ela quando estávamos saindo do lago. Ao

atravessar a rua, escorreguei e me machuquei fazendo um corte em minha

perna. Com lágrimas embaçando minha visão consegui chegar em casa. Fui

humilhado e tive meu coração quebrado. Entrei no meu quarto e me cobri

com o lençol tentando me esconder, sentindo meu peito rasgar de tanta dor;
eu queria minha mãe para ela me ensinar a como lidar com um coração

partido, e a como compreender o porquê de certas pessoas passarem em

nossas vidas somente para nos ensinar onde era nosso lugar. E naquele

momento entendi onde era o meu. O meu lugar não era me apaixonando por

mulher alguma; meu lugar era apenas transar com algumas e as deixar, sem

promessas de nos vermos outro dia. O meu lugar era sozinho na minha

cama. Não queria me apaixonar nunca mais.


Quando eu e minha família nos mudamos para Limoeiro foi uma

época muito difícil em nossas vidas, já que eu vinha de uma família muito

humilde. Depois de doze anos trabalhando em uma empresa como

motorista, meu pai foi dispensado e, com o dinheiro da rescisão conseguiu

comprar uma casa para nós; não era muito grande, mas coube nossa família.

Era o que importava. Foi uma época muito difícil, mas superamos tudo.

Depois de cinco anos morando ali, naquela cidade pequena e ter feito

grandes amigos, meu pai conseguiu um novo emprego em outro município

e resolveu se mudar para lá. Decidida, resolvi ficar na cidade. Mesmo eles
vendendo a casa, eu disse que alugaria um quarto para ficar. Como eu era a

filha mais velha deles resolvi ficar; meus irmãos mais novos, que eram

gêmeos, iriam com eles. Foi muito difícil que concordassem com minha

decisão. Não era mais uma adolescente, era uma mulher feita e dona das

minhas escolhas. Tinha sonhos de conquistar meus objetivos e dar o melhor

para eles.

Quando iniciei como secretária no hospital vi a oportunidade de

conseguir um trabalho como técnica de enfermagem assim que concluísse

meu curso. O doutor Maurício era um diretor que gostava de dar

oportunidades para quem se esforçava. Fiquei muito feliz em saber que teria

uma oportunidade de trabalho no hospital.

Eu era uma pessoa extrovertida, que fazia amizades muito fácil; era

tagarela e não deixava ninguém pisar em mim. Tratava todo mundo bem,

mas sabia brigar também.

Na época em que trabalhei como secretária, conheci o Vinícius, um

enfermeiro muito dedicado e um homem muito sério. No trabalho, ele era


uma pessoa muito centrada e tratava os seus pacientes com muito amor e

carinho. A maioria das mulheres que trabalham no hospital tentava

conseguir uma vaga em sua cama. Sabia disso porque era o assunto no

refeitório e nos corredores. Mas ali, ele não olhava para nenhuma de nós, ao

menos era isso que ele deixava transparecer. Vinicius não era metido, ao

contrário, conversava com todos e era bastante educado; era um moreno de

aproximadamente um metro e oitenta e cinco, tinha o corpo totalmente

musculoso, uma barba rala e cabelos bem cuidados, onde exibia sempre um

penteado perfeito. Usava duas argolas nas orelhas que o deixavam sexy com

cara de badboy, mas ele não usava no trabalho por questão de higiene, pois

esse tipo de adorno facilitava acúmulo de bactérias.

Na verdade, Vinicius era lindo e gostoso. A primeira vez em que ele

falou comigo na recepção, eu fiquei muda, prestando atenção somente no

que ele falava. Ele me pediu para fazer a ficha ambulatorial de uma

paciente que havia acabado de dar entrada na emergência, a senhora estava

passando mal e ele a ajudou a entrar no hospital. Achei ele bastante

prestativo. Após fazer a ficha, levei para ele, que estava no corredor
bebendo um copo de água; a única coisa que reparei foi que seu pomo de

adão subia e descia, o seu pescoço era longo e com certeza devia ser

cheiroso... Assim que notou minha presença, jogou o copo descartável na

cesta de lixo, me olhando com seus olhos tão negros que pareciam duas

jaboticabas. Parei em sua frente estendendo-lhe a ficha. Sua mão grande

pegou o papel; seu uniforme era de um azul bem clarinho e ficava perfeito

em seu corpo. Vinícius não sorriu, mas seus lábios se repuxaram para o lado

e ele agradeceu, olhando para meu crachá.

— Obrigado, Anne. — Disse, analisando a ficha.

— Não há de quê, senhor. — Respondi e saí andando. Percebi que

ele ainda ficou no corredor, não entendi se estava me olhando ou bebendo

outro copo de água. Eu chutaria a segunda opção.

Ao chegar na recepção fui logo atendendo o telefone, que começou a

tocar; minha outra colega de trabalho estava em outra ligação. Atendi e

transferi a ligação para a sala do doutor Maurício. Após meu turno acabar,

peguei minha bolsa e fui ao banheiro trocar o uniforme por uma blusa mais
confortável. Em seguida, saí do hospital. Ao passar pela porta notei que o

tempo estava nublado e chuviscando um pouco; tirei a pequena sombrinha

de dentro da bolsa e a abri para me proteger dos pequenos pingos que

estavam caindo do céu, eu não queria molhar meus cabelos, pois tinha feito

chapinha pela manhã. Odiava quando isso acontecia.

Quando chovia em Limoeiro, as estradas se enchiam de lama e as

pequenas poças de água; olhei para meu tênis e percebi que eles já estavam

sujos, praguejei baixo e segui andando. Já era quase sete horas da noite

quando olhei no meu relógio; caminhei, me desviando dos carros e motos

que passavam. Mas foi em vão, pois um motoqueiro passou apressadamente

ao meu lado e a lama da poça respingou em minhas roupas e em meus

cabelos, e por fim, em meus lábios, já que a sombrinha era pequena e não

cobria quase nada. Fiz uma expressão de choro e gritei:

— Filho de uma puta! — Berrei, sentindo o gosto da lama em minha

boca e cuspindo logo em seguida. O motoqueiro parou e deu a ré voltando

até onde eu estava, meu sangue gelou e senti minhas pernas tremerem. Eu
iria ser morta, com certeza ele não gostou que o chamei de filho da puta.

Mas falei sem pensar... para no fim morrer tão jovem. Comecei a rezar

baixo com os olhos fechados pedindo misericórdia a Deus, além de perdão

pelos meus pecados, que não eram poucos. Quando era pequena comi o

pedaço de bolo que a minha mãe tinha deixado na geladeira e coloquei

culpa no meu irmão mais velho.

— Pelo amor de Deus, me perdoe. De verdade, eu não vi você,

porque a viseira do capacete embaçou um pouco a minha visão. — O rapaz

disse, tirando o capacete e os fones de ouvido. O reconheci na hora, era o

Vinícius com a expressão de arrependimento naquele rosto lindo. Ele não

me ouviu, graças a Deus.

— Você disse alguma coisa? Eu ouvi gritos — perguntou, confuso.

— Não, eu apenas gritei, pois a água estava gelada. — Menti, mas

quem em sã consciência diria a verdade?

Ele ficou me olhando e desceu da moto. Estávamos apenas nós dois

na estrada, a chuva aumentou e comecei a tremer de frio. Vinícius pegou


uma toalha de rosto em sua mochila e me deu para me limpar; passei nos

meus lábios e no rosto todo sentindo o cheiro do seu perfume. Sem que ele

visse inalei mais um pouco do aroma fazendo com que minha mente não

esquecesse nunca mais esse cheiro. Como eu tinha tirado o uniforme tive

certeza de que ele não me reconheceu. Mas talvez ele não me reconhecesse

nem com uniforme, já que não era de conversar com quase ninguém da

recepção. Fiquei com sua toalha torcendo para que ele esquecesse a peça

comigo.

Outro carro passou e espirrou mais lama em nós dois, o rosto e

cabelos do Vinícius ficaram com muita lama; me aproximei e passei a

toalha em seu rosto e o vi ofegar se esquivando do meu toque. Como ele era

muito alto — eu era praticamente uma anã, com um metro e sessenta de

altura — me desiquilibrei me agarrando a ele e fazendo com que caísse por

cima de mim, na encosta da estrada cheia de mato. Ainda bem que os matos

serviram para amortecer nossa queda. Mas bem que ele ficou perfeito em

cima de mim...
Abri meus olhos sentindo alguns pingos de água caírem dentro deles,

pisquei tentando mantê-los abertos para olhar a expressão de Vinícius; a

água escorria de seus cabelos fazendo a curva em seu pescoço e entrando

dentro da sua jaqueta. Eu desejei ser uma gota daquelas para descobrir o

gosto que sua pele tinha. Eu também estava molhada, mas era de outra

forma... estava excitada quando senti sua ereção no meio das minhas

pernas. Nossos olhos ainda estavam fixos um no outro. Eu era tão boca

aberta, mas nesse momento nada vinha a minha mente.

De repente, ele se levantou pedindo desculpas e me levantou em

seguida me puxando pelo braço. Fingi que me desiquilibrei só para esbarrar

em seu peitoral duro... claro que me aproveitei um pouco pegando em suas

costas. Ele se afastou um pouco acabando com meu sonho de ser beijada

em meio a chuva — sempre achei isso romântico —, mas caí do cavalo.

— Vem... vou te deixar em casa. Se você quiser, é claro. Essa chuva

não vai passar agora e é perigoso um raio cair. — Disse, ajeitando a

mochila em suas costas.


Nossa! Ele está preocupado comigo.

— Onde você mora? — perguntou, ligando a moto.

Depois que falei o nome da rua, Vinícius acelerou a moto e eu me

agarrei nele. Obviamente que aproveitei muito mais, já que tinha certeza de

que aquela cena jamais se repetiria. Assim que a moto parou em frente à

minha casa, eu desci agradecendo ao belo rapaz de cabelos bagunçados. Ele

balançou a cabeça e saiu. Ainda fiquei parada observando-o dar a volta e

sumir no final da rua, me deixando com frio e com vontade de tê-lo entre as

minhas pernas.
Dias atuais...

Doutor Maurício me pediu para ir até à sala dele, pois ele tinha um

comunicado para fazer. Sem saber o que ele queria comigo, caminhei pelo

corredor pensando o que seria. Ao chegar em sua sala, dei duas batidas na

porta e entrei depois de pedir licença. Era quase hora de ir para casa, já era

quase meia-noite. Havia trabalhado muito nessa semana; a metade da

população do município estava doente, com virose; idosos e crianças eram

os mais afetados. Minhas duas sobrinhas pegaram, mas agradeci a Deus que
não precisaram se internar. Meu irmão e minha cunhada as trataram em

casa, já que minha cunhada Camila era médica pediatra.

— Então Vinícius... durante esses quase quatro anos em que você

trabalha conosco, percebi o seu esforço e responsabilidade com seu

trabalho; nunca faltou e é muito dedicado aos seus pacientes, eles sempre

falam muito bem de você, principalmente, as crianças que dizem que você

canta para elas e veste roupas engraçadas. Falam até que coloca nariz de

palhaço tentando animá-las. Confesso que admiro muito o seu trabalho.

Pensando nisso, resolvi promovê-lo a enfermeiro chefe, pois nossa

enfermeira chefe, dona Marisa, vai se mudar para outra cidade. Quero que

você coordene uma equipe e os oriente com os atendimentos de emergência.

Tenho certeza de que você se sairá muito bem. O que me diz? — Abri um

sorriso de felicidade e respondi:

— É claro que eu aceito, doutor. Desde já, agradeço, e prometo que

vou honrar o voto de confiança que o senhor depositou em mim. — Me

levantei, estendendo a mão para ele, que apertou me cumprimentando.


Após sair da sala do doutor Maurício fui até o banheiro masculino

para trocar de roupa. Como combinei de sair para tomar um chope com

mais dois amigos, já aproveitaria para comemorar minha promoção. Tomei

um banho e vesti uma calça jeans rasgada com uma camisa polo branca. Em

seguida, coloquei meu par de tênis, um pouco de perfume e andei até ficar

em frente ao espelho onde aproveitei para arrumar meus cabelos. Ao sair,

escutei burburinhos vindo do banheiro das mulheres, reconheci a voz de

Anne toda animada, elas riam. Mulheres quando estão juntas só falam mal

de nós homens — pensei.

Do lado de fora do hospital coloquei as argolas nas orelhas e ajeitei

minha mochila nas costas; depois liguei a moto e segui na direção do bar.

Em poucos minutos, estacionei a moto em frente ao bar, que estava quase

cheio. A música, sendo tocada ao vivo, estava bastante animada.

Eu era apaixonado pela minha profissão, mas minha segunda paixão

era a música; tinha um violão no meu quarto que sempre tocava quando

ficava sozinho, meus irmãos sabiam que eu tocava, mas nunca me ouviram
cantar. Quando mais novo, eu sonhava em formar uma banda, mas as coisas

tomaram rumos diferentes. Depois do que aconteceu comigo na

adolescência, resolvi mudar os planos, e foi a melhor coisa que fiz. Cuidar

dos outros era o melhor remédio; recarregava as energias e ganhava uma

amostra grátis de que minha dor não era a única.

De longe, avistei Gustavo e Bernardo acenando para mim, me

aproximei deles e me sentei. Deixei minha mochila no chão, ao meu lado.

No dia seguinte, meu plantão seria depois do meio-dia, caso fosse pela

manhã, eu estaria em casa dormindo. Ao me sentar pedi um chope e uma

porção de carne com batatas fritas.

— Não quero ser indiscreto nem nada, mas disseram que hoje você

foi conversar com o chefe. Qual o motivo? Vai ser demitido por fazer a

metade das enfermeiras suspirarem por você? Ou, por que algumas

mulheres que saem com você aparecem no hospital alegando alguma dor só

para sentirem a picada da injeção do enfermeiro mais cobiçado de

Limoeiro? — Bernardo disse, me fazendo gargalhar junto com Gustavo.


Tomei um gole da minha cerveja e comecei a falar sobre minha

promoção:

— Vocês estão falando com o mais novo enfermeiro chefe do

hospital São José. Acho bom me respeitarem agora. — Os dois se

entreolharam, incrédulos. Em seguida, partiram pra cima de mim me

parabenizando.

— Parabéns, cara! — Bernardo disse, fechando a mão em punho e

tocando na minha.

— Você merece muito, Vinícius, todos veem o seu esforço. Quando

comecei a trabalhar, você foi o primeiro que estendeu a mão para mim

naquele hospital. — Gustavo também me parabenizou.

Pedimos mais uma rodada de chope para comemorar; ao todo, eu já

tinha bebido uns cinco copos de cerveja, estava com fome, então resolvi

pedir um sanduíche. O bar do senhor Manoel funcionava como lanchonete

também. Assim que meu sanduíche chegou, ouvi o som de risadas altas e

meus olhos foram parar na loira que entrou no bar com mais três amigas. A
reconheci na hora, era Anne. Depois que saímos algumas vezes, ela veio

com uma conversa de que estava gostando de mim e que poderíamos tentar

nos aproximar mais um do outro para quem sabe um dia tentarmos um

relacionamento mais sério.

Eu fui bem sincero e disse que não estava atrás de relacionamento,

muito menos querendo me aproximar de alguém, só queria sexo. E se era

isso que ela queria poderíamos continuar. Mas ela se sentiu magoada e foi

embora da cidade para morar com os pais. Acabou voltando dois meses

depois e conseguiu um trabalho no hospital como técnica de enfermagem.

Estava morando ao lado da minha casa. A safada alugou ao meu lado e não

estava falando comigo desde então. Passava por mim, revirando os olhos,

ainda empinava mais aquele bumbum enorme. Quando a conheci, ela ainda

era recepcionista no hospital, mas foi na beira da estrada, em um dia

chuvoso, que fiquei interessado nela, não interessado para namorar, sim

para levá-la pra cama. Ela era uma baixinha peituda e tinha uma bunda

deliciosa. Na ocasião, eu a sujei de lama, e quando fui ajudá-la percebi seus

olhos gulosos sobre mim. Depois disso, fui deixá-la em sua casa somente
para saber onde morava. No outro dia, ela foi me procurar para devolver a

tolha de rosto que ela tinha ficado; como não era homem de medir minhas

palavras e não deixava nada para depois, a convidei para sair, claro que ela

aceitou. Transamos no mesmo dia; a baixinha de seios fartos tinha uma

boca deliciosa e chupava um pau como ninguém. Mas ela estragou tudo

entre nós dois com esse papo de relacionamento.

Terminei de comer o sanduíche e vi que Anne estava me olhando,

assim que a olhei, ela virou a cara. Eu nunca fiz nada para ela agir dessa

forma comigo, apenas a convidei para transar comigo e outra mulher que

estava no sítio de um amigo nosso, nos reunimos para passar o final de

semana. Ela quis dar na minha cara, só não acertou o tapa, porque segurei

seu braço. Azar dela que perdeu uma bela foda.

— A mesa das meninas está muito animada. Essa nova técnica é

bem gostosinha. — Bernardo disse. Ele era novo no hospital e não

conheceu Anne quando era secretária. Sorri e mudei de assunto.


— Que tal mais uma rodada? — perguntei, em seguida, chamei o

garçom.

— Vou deixar pra outro dia, cara, amanhã às nove preciso estar no

hospital da cidade. Vou cobrir um colega. — Bernardo disse, tirando trinta

reais da carteira e colocando em cima da mesa.

— E você Gustavo? Vai ficar mais um pouco, ou também vai

embora? — Ele sorriu, olhando para uma das amigas da Anne, que estava

dando mole para ele.

— Vou ficar. Quem sabe saio acompanhado?! Aquela morena ali está

dando em cima de mim, ou é impressão minha? — Disse, levantando o

copo em direção a moça, que sorriu para ele.

— Gatinho, traz uma rodada de tequila, sal e limão também. —

Anne disse para o rapaz que estava servindo as mesas. Ela falou um tanto

alto para eu escutar, tinha certeza.

Depois de mais uma rodada, resolvi ir embora. Gustavo e a morena

tinham saído, e eu que não iria ficar sozinho. Percebi que Anne também já
tinha sumido. Paguei a conta, peguei minha mochila e saí. Já lá fora, escutei

risadas altas. Assim que me virei vi Anne, a amiga e dois rapazes. Um deles

estava tentando convencer Anne a ire para a chácara do amigo. Notei que

ela estava bêbada pelo modo de falar. Fingi que estava procurando algo e

ouvi a conversa.

— Vamos gatinha, lá tem piscina, então poderemos passar a madruga

toda tomando banho e bebendo. Eu não vou fazer nada que você não queira.

O meu amigo aqui também, não é, Luís? — O outro cara piscou para o

amigo de forma cúmplice.

Reconheci o tal Luís, era um filhinho de papai que já tinha sido

acusado de estupro, mas como o pai tinha dinheiro pagou para o filho não ir

preso. Me aproximei pronto para acabar com a festinha deles... nem

fodendo que iriam convencer as duas a irem para esse tal lugar. Ao me

aproximar mais, vi que a amiga de Anne tocou no braço dela, que se virou

me olhando. Então deu um abraço em Anne e quando passou perto de mim,


pediu para eu levá-la para casa, pois ela tentou convencer a amiga de ir

embora, mas Anne não quis.

— Algum problema? — Perguntei ficando ao lado de Anne, que

reclamou baixinho.

— Problema nenhum, cara. Só estamos indo embora e vamos levar

nossa amiga conosco. Vem princesa... — o tal Luís disse e pegou no braço

de Anne.

— Sinto muito. Na verdade, não sinto não, ela não vai com vocês.

Vai comigo. — Anne olhou para mim, incrédula.

— Quem é você, cara? Nós vimos a loira primeiro, mas se você

quiser, nós podemos dividir. Eu não vejo problema nenhum. — Eu estava a

ponto de socar a cara do tal Luís, mas me controlei.

— Eu sou muito egoísta, cara, não gosto de dividir nada. Então a

garota vai comigo.

Quando dei a volta para ir até minha moto com Anne, um dos caras

veio depressa ficando na minha frente, sorrindo em deboche. Notei que ele
fechou as mãos em punho. Anne se encolheu chegando mais perto de mim.

— Vinícius? É você? — Olhei para trás e vi o policial Rodolfo se

aproximando de nós. Me senti aliviado. Os dois caras saíram rápido e, logo

entraram no carro e deram partida arrancando com o carro dali.

— Aqueles dois babacas estavam atrás de confusão, mas foram

embora. Eu também estou indo pra casa. Boa noite.

Rodolfo voltou para o carro e saiu devagar, patrulhando a área.

— Obrigada por não deixar aqueles caras me levarem com eles.

Agora vou para casa. — Disse, saindo de perto de mim e quase caindo, mas

fui mais rápido e a segurei. Suas mãos foram parar na minha barriga, ela

descansou a cabeça ali, já que era baixinha e eu muito alto.

— Você não aguenta nem ficar em pé, capaz de cair, bater a cabeça e

ficar sangrando até a morte. Então é melhor vir comigo. — Ela suspendeu a

cabeça fazendo uma careta e disse:

— Eu não vou com você. Tenho pernas e sei andar sozinha. — Falou

com a voz arrastada. — Bufei, irritado, e olhando para ela.


— Olha, Anne, não estou com paciência para aguentar gente bêbada,

então você vem comigo. Por favor, segure em mim com força e não durma,

porque você pode cair da moto.

Coloquei minha mochila na parte da frente e ajudei Anne a subir na

moto colocando o capacete nela; quase que ela caiu e me levou junto, mas,

finalmente, conseguimos. Liguei a moto e acelerei devagar. Assim que

Anne rodeou minha cintura, com uma das mãos segurei as suas com força

para que ela não me soltasse e caísse; não poderia ir andando, pois iríamos

demorar mais ainda. Único jeito era aquele.

Segui na direção de casa e, de vez em quando, Anne tombava para

trás, mas eu a segurava. Cheguei em frente de casa e ajudei ela a descer. Fui

abrir o portão; um instante que tirei os olhos dela, Anne caiu sentada e, em

seguida, reclamou me xingando. Sorri, balançando a cabeça. A cena era

engraçada e, ao mesmo tempo, senti dó dela, pois começou a chorar.

Coloquei a moto para dentro, e voltei para ajuntar a loira que mais parecia

uma criança chorona. A coloquei sobre meu ombro e entrei trancando o


portão em seguida. Em frente à sua casa mexi em sua bolsa atrás de sua

chave.

— Vinícius, me coloca no chão, porra. Eu quero fazer xixi. — Falou

alto demais, consegui abrir a porta e a levei para dentro.

— Para de gritar, porra. Quer acordar todo mundo? — Disse,

batendo em sua bunda antes de descê-la dos meus ombros.

— Não fale assim comigo, seu cretino, e pode sair da minha casa. —

Disse e saiu cambaleando até o banheiro. Logo escutei um som de queda,

corri até lá e a vi caída no chão. Tirei minha camisa, meu tênis e suspendi a

barra da minha calça até a altura do joelho. Abri o chuveiro e a coloquei

debaixo, seus olhos azuis me fitaram e ela passou a língua nos lábios

quando me viu sem camisa. Quis avançar em mim, mas a segurei deixando

a água cair em sua cabeça. Ela gritou dizendo que a água estava fria.

— Assim que é bom para te deixar sóbria.

— Eu não estou bêbada, só estou um pouco alegre. Mas consigo

muito bem tomar banho sozinha. — Anne tentou se levantar, mas caiu de
bunda, sua blusa branca ficou transparente e o bico dos seus seios

começaram a endurecer. Evitei olhar, meu pau já estava ficando duro. Não

transava há dois dias, e me negava a bater punheta.

Peguei uma toalha no aparador, desliguei o chuveiro e peguei Anne

pelo braço. Ela tremia de frio, dava para ouvir o barulho dos seus dentes

batendo um no outro.

— Vou te ajudar a tirar sua roupa. Em seguida, você vai deitar na

cama e dormir, já que é tarde.

— Você vai me ver nua? — Perguntou, soluçando em seguida. Tive

vontade de gargalhar, mas aí ela iria ficar puta comigo.

— Eu já te vi nua de todas as formas, Anne, então não seria a

primeira vez. — Tirei sua blusa me negando a olhar para seus seios. Depois

tirei sua calça apertada e sua calcinha, fiz tudo isso olhando para o lado.

Quando tirei toda sua roupa, Anne me surpreendeu ao pular no meu colo

abrindo as pernas e rodeando minha cintura, sua boceta roçou na minha

barriga fazendo meu pau acordar de vez.


— Porra! — Praguejei, tentando descer ela do meu colo. Seus lábios

foram parar na pele do meu pescoço, ela lambia e sugava me fazendo

gemer. Desgraçada.

— Me fode, Vinícius, eu estou com saudades do seu pau — pediu,

com a voz melosa.

Reuni todas as minhas forças para dizer não; eu jamais transaria com

uma mulher completamente bêbada, mesmo que essa mulher fosse minha

vizinha, a qual já transei várias vezes.

— Sossega, caralho, estou falando sério. Agora deite e vá dormir,

estou indo para minha casa. Vou trancar a porta e levar a chave extra

comigo. Amanhã devolvo. — Falei a puxando do meu corpo e a levando até

seu quarto. Consegui colocá-la em sua cama, puxei a coberta cobrindo o

corpo de Anne; ela tinha se deitado me fazendo sentir alívio. Antes de ir

para minha casa, tirei dois analgésicos da minha mochila e deixei na sua

mesinha de cabeceira. Sabia que quando acordasse, ela precisaria. Tranquei

a porta por fora, dei mais um passo e entrei em casa. O jeito seria bater
punheta ou dormiria com as bolas doendo. Que mulher maldita! Tinha

certeza de que no dia seguinte, ela nem olharia na minha cara.


Meu despertador começou a tocar fazendo minha cabeça doer ainda

mais; tentei fazer com que ele parasse de fazer barulho procurando pelo

botão que o faria desligar, mas ele acabou caindo no chão. Eu estava de

olhos fechados, ainda bem que o colocava para despertar uma hora antes de

ir trabalhar. Abri meus olhos, os sentindo doer devido à claridade; não

fechei as cortinas na noite anterior. Me levantei notando que estava nua.

Mas não me lembrava de ter tirado minha roupa nem como cheguei em casa

depois da noitada. Precisava parar com a bebida. Abri a porta do banheiro e

vi minhas roupas jogadas no chão, e junto delas uma camisa masculina.


Peguei a peça e a reconheci, era do Vinícius. O que será que ela estava

fazendo ali? Ai meu Deus! Então foi ele quem me trouxe em casa. Será que

transamos no banheiro? Mas não me lembrava de nada. Levei a camisa até

o nariz e senti o cheiro do seu perfume; fechei meus olhos lembrando do

seu corpo grande e forte me abraçando, ou quando ele me colocava em seu

colo de pernas abertas para cavalgar deixando-o louco. Balancei a cabeça

espantando esses pensamentos, eu era apaixonada pelo Vinícius, mas não

queria admitir.

Coloquei a camisa no aparador, liguei o chuveiro e tomei meu banho

sentindo a água fria aliviando minha dor de cabeça. A partir daquele dia, eu

não iria mais beber, não dessa forma. Meu expediente começaria às treze e

ficaria até as vinte e três horas. Precisava comer alguma coisa, pois estava

faminta. Após sair do banho enrolada na tolha fui para a cozinha, preparei

um sanduíche, peguei uma caixa de suco e comecei a comer. De vez em

quando pensava no Vinícius, mas não conseguia lembrar nada a respeito

dele. Se ele dormiu comigo, deveria ter saído bem cedo, antes que alguém o

visse. Lembrava-me que depois do trabalho, eu e minha amiga fomos ao bar


do Manoel e começamos a beber; depois disso, dois caras nos convidaram

para ir em uma chácara, mas não queríamos ir. Clara tentou me convencer

de ir embora para casa, mas eu não quis. Depois Vinícius apareceu. Claro...

foi ele que me trouxe para casa e colocou os dois caras pra correr. Será que

ele estava com ciúmes de mim? Menos Anne, bem menos!

Saí da cozinha e fui até meu quarto para me arrumar; assim que abri

a porta vi dois comprimidos de analgésicos em cima da mesinha de

cabeceira. Peguei um comprido, fui até a cozinha e tomei com o restante do

suco. Voltei para o quarto e me arrumei; passei uma maquiagem leve para

esconder a cara de ressaca, prendi meus cabelos, peguei minha bolsa, meu

celular e saí. Lembrei da camisa do Vinícius no banheiro, corri até lá e a

peguei colocando-a dentro da bolsa para entregar pra ele. Não queria nada

dele em minha casa. Saí e vi Maria Flor no quintal regando suas plantinhas,

ela ainda estava com o uniforme da escola, então deduzi que tinha acabado

de chegar em casa. Assim que me viu, sorriu e acenou.


— Oi, tia Anne. Nossa! Como você está bonita. Você vai trabalhar?

— Perguntou, deixando o regador no chão.

— Vou sim, e já estou quase atrasada. Cadê sua mãe?

— Está lá dentro de casa. Foi trocar a fralda da Júlia, porque ela fez

cocô dentro do carro. Hoje minha mãe foi me buscar na escola e levou

minha irmãzinha. Mas ela só foi para fazer cocô e chorar. — Reclamou e

seguiu na direção de sua casa. Olhei pra trás para ver se a casa do Vinícius

estava aberta, mas não estava.

Passei pelo corredor e vi Camila colocando a bebê no cercadinho.

Júlia já estava com quatro meses e era a bebê mais linda que eu já tinha

visto. Assim que me viu, minha amiga sorriu vindo até a porta. Parei e

começamos a conversar.

— Amiga, ela está tão linda, a cara do Átila. — Camila sorriu.

— Carreguei nove meses para nascer a cara do pai. Mas por falar em

Átila, ele me disse que viu você e Vinícius chegando juntos de madrugada,
aliás, ele não viu, apenas ouviu o barulho do portão sendo aberto, porém

ouviu a sua voz e a dele. O que rolou entre vocês? Voltaram?

— Que nada. Na verdade, eu nem sei o que aconteceu, bebi além da

conta. Mas vou descobrir assim que encontrar com ele no hospital. Me

deixa ir, porque estou atrasada. Beijos.

Após me despedir de Camila, saí pelo portão.

Cheguei ao hospital e fui logo bater o ponto. Fui comunicada que

todos tinham que ir até a ala dos enfermeiros, pois o doutor Maurício tinha

um comunicado a fazer. Coloquei meu jaleco e segui, nervosa. Será que

alguém seria demitido? Será que seria eu? Assim que cheguei, vi que o

doutor Maurício já estava falando; os olhos de Vinícius me avaliaram por

uns instantes assim que me viu chegar, mas logo desviaram. Engoli em seco

e sorri para Clara, que me cutucou no braço.

— É com muito orgulho que os comunico de que Vinícius Malfacini

é o novo enfermeiro chefe e vai coordenar a partir de hoje a equipe dos

enfermeiros. Espero que assim como respeitaram a dona Marisa, o


respeitem também. Tenham um ótimo dia de trabalho. — Todos aplaudiram

o doutor Maurício, que logo após saiu.

Fui até o quadro de tarefas para ver qual seria a ala que eu ficaria

naquele dia. Descobri que seria supervisionada pelo enfermeiro Gustavo na

ala infantil, observando, registrando sinais e sintomas apresentados pelas

crianças; faria curativos e administrar medicações. Peguei minha prancheta

e fui até a enfermaria infantil, encontrando Gustavo. Ele estava

conversando com a mãe da criança que estava internada com vômito e

diarreia. Me aproximei mais dos dois e coloquei a jarra que tinha acabado

de trazer sobre a mesinha. Olhei para a senhora e lhe expliquei:

— Boa tarde. Trouxe outra jarra com soro oral para o seu filho

tomar. Então se ele pedir água, por favor, não dê, apenas dê o soro e logo

ele estará melhor para ir pra casa. Também vou trocar os lençóis da cama,

vi que estão molhados. Vou até a rouparia para pegar lençóis limpos. — A

senhora assentiu e eu saí.


Abri a porta da sala em que ficavam os lençóis e entrei, observando

que os únicos lençóis que restaram estavam no último lugar da prateleira do

armário; como eu não alcançava subi em uma cadeira para pegar. Prestes a

descer, a porta se abriu e encostou na cadeira em que eu estava, me fazendo

desiquilibrar. Antes que eu caísse, mãos grandes e fortes me seguraram.

Abri os olhos e lá estava Vinícius, meu salvador, me segurando com força.

— Já notou que eu sempre estou te salvando? — Questionou, ainda

com a mão no meu braço. Não entendi o que ele quis dizer com isso.

— Obrigada. Mas não entendi a parte de sempre estar me salvando.

— Me afastei fazendo sua mão soltar meu braço. Peguei o lençol do chão.

— Claro, bem que eu imaginei que você não se lembraria. Mas tome

cuidado... quando não conseguir alcançar as peças, é melhor chamar alguém

mais alto que você. Para não se machucar. — Disse, pegando dois pacotes

com lençóis.

— Nós transamos ontem? — Perguntei e senti minhas bochechas

esquentarem. Vinícius se virou rápido me olhando com as sobrancelhas


arqueadas.

— Por que você está achando que nós transamos? — Perguntou, me

encarando.

— Quando acordei hoje pela manhã, notei que estava sem roupas. E

quando entrei no banheiro vi sua camisa jogada no chão. Então deduzi que

houvéssemos transado, mas não lembro de quase nada. Me lembro que você

me levou pra casa, lembro dos caras querendo levar eu e Clara para a

chácara deles. Só isso. — Ele balançou a cabeça.

— Você acha que eu transaria com você, estando bêbada? E olha que

você implorou muito..., mas eu tenho caráter e jamais faria algo com você

naquele estado, aliás, não faria com mulher alguma. Diferente daqueles dois

caras. Sabe Anne, eu me sentiria muito culpado se te deixasse ser levada

para ser estuprada por eles, ainda bem que eu estava ali. Caso contrário,

hoje, você seria mais uma estatística, estaria na primeira página do jornal

policial e seus pais estariam chorando. — Meu sangue gelou quando ele
disse isso. Lágrimas caíram dos meus olhos, e me virei de costas,

envergonhada. Eu tinha passado dos limites.

— Muito obrigada por não me deixar ir com eles, não vou esquecer

esse seu gesto comigo. — Agradeci, ainda de costas. — Mas estou

completamente envergonhada, não consigo nem olhar na sua cara. — Senti

as mãos do Vinícius no meu ombro e me virei.

— Juízo nessa sua cabecinha de vento, meio metro. — Disse,

puxando um sorriso de lado.

— Não me chama assim, eu odeio. Eu tenho um metro e sessenta. —

Exclamei em minha defesa.

— Nem fodendo que tem. No máximo, um metro e cinquenta e

cinco. Agora vai trabalhar. — Disse, abrindo a porta.

— Vinícius. — Chamei e ele virou a cabeça olhando para mim,

esperando-me falar.

— É sério que eu implorei para transar com você? Ou você quer que

eu acredite nisso e me sinta ainda mais envergonhada?


— Eu não minto, garota. Você implorou muito e até pulou no meu

colo, pelada. Agora é sério, vamos trabalhar. — Disse, saindo pela porta e

me deixando que nem uma boba sorrindo.

Ah, Vinícius... eu ainda vou te ter todinho somente para mim. Ou

não me chamo Anne Beltrão.


Depois da minha conversa com Anne no hospital sobre a noite em

que a trouxe para casa e a livrei daqueles dois idiotas, alguma coisa dentro

dela mudou; ela não saía mais todos os finais de semana como fazia antes, e

nem estava mais bebendo. Percebi que ela tinha mudado até comigo, me

dando bom dia quando nos encontrávamos no trabalho. Nos almoços de

domingo na casa do meu irmão, ela contava piada e fazia todo mundo rir.

Tinha que admitir que fiquei admirado com sua mudança. Anne era uma

mulher fascinante que se comunicava muito bem, e tinha os olhos mais

lindos que eu já tinha visto. Ela falava muito alto e tinha uma risada
escandalosa, mas que contagiava quem estava perto dela. Não tinha como

negar que algo dentro de mim gostou dessa mudança. Às vezes, quando ela

chegava primeiro do que eu, eu a pegava brincando de pega-pega com

minha sobrinha no quintal. Por falar na minha sobrinha... no dia seguinte

seria o aniversário de oito anos dela.

Como Nicolas tinha saído cedo e não tinha voltado até o momento,

nove horas, fiquei cuidando da Ana Júlia para que Átila e Camila fossem

até a cidade com Maria a fim de comprar o vestido que ela queria usar com

a mãe, era de princesa. As duas estariam combinando. Maria Flor estava tão

feliz que não se aguentava, ela disse que esse era seu sonho, se vestir de

princesa com a mãe no dia do seu aniversário. Sua mãe biológica morreu no

dia em que ela nasceu, então Camila apareceu na vida dela mudando-a

completamente.

A festa seria ali mesmo no salão de festas da Mariana. Como

mencionado sobre o tema da festa, seria de princesa; então as mulheres se

vestiriam de princesas e os homens de príncipe. Ainda bem que o dia


seguinte seria minha folga, porque não me perdoaria se perdesse a festa de

aniversário dela. Ela falava disso todos os dias, que seria o dia mais feliz da

vida dela. Minha sobrinha era exagerada. Ela já teve outros temas de

aniversário, mas dessa vez era diferente.

Ouvi um barulhinho de choro e fui até o quarto da Júlia; ela se

remexeu um pouco, mas voltou a dormir, ergui as mãos aos céus,

agradecendo. Tinha experiência em cuidar de crianças, pois ajudei Átila a

criar a filha. Mas tinha que admitir que estava com um pouco de medo, pois

Julia era birrenta e chorava por tudo, era muito acostumada com a mãe.

Maria Flor não teve esse vínculo e por isso foi mais fácil.

Quando eu estava prestes a fechar a porta do quarto da Júlia, ela

começou a chorar, aquele choro alto. Voltei e a tirei do berço, seu rostinho

já estava ficando vermelho.

— O que foi, meu amor? Está com fome? Titio vai esquentar o seu

leitinho. Vem, me deixa tirar você daí. — Ela me olhou com seus grandes

olhos castanhos.
Assim que terminei de falar, ela gritou mais ainda. Então fui na

direção da cozinha colocando a mamadeira no micro-ondas deixando o leite

aquecer um pouco. Após alguns segundos, tirei a mamadeira colocando um

pouco no meu pulso, estava do jeito que ela gostava; Camila disse que ela

não gostava de leite frio. Desse tamanho e já era exigente. Me sentei no

sofá ajeitando a garotinha birrenta no meu colo e, em seguida, levei a

mamadeira até sua boquinha. Logo, ela começou a sugar o leite fazendo

aquele barulhinho que todos os bebês faziam. Após ela acabar tudo, eu a

coloquei para arrotar dando duas batidinhas de leve em suas costas.

— Nossa! Que pum mais fedorento, hein criança?! É só isso, ou vem

mais coisas por aí? — perguntei depois de sentir um cheiro que não era de

leite vindo dela.

Foi dito e feito, Anna Júlia fez uma careta e começou a fazer cocô;

virei meu rosto, pois o fedor estava horrível. Olhei para ela fingindo que

estava bravo, e ela colocou a mãozinha gorda na minha boca. Júlia tinha

somente quatro meses, mas era muito esperta. Fui até o quartinho dela e a
coloquei no trocador puxando o velcro da fralda. Ela fez uma grande

sujeira.

— Um bebê do seu tamanho faz tudo isso de cocô? Agora vamos

tomar banho e depois ir brincar, pois o titio não comeu nada ainda, estou

cansado e com fome. E você vai ficar quietinha, porque é uma garotinha

obediente. Nada de choro. — Ela sorriu, colocando os dedinhos na boca.

Abri a ducha morna e enchi sua banheira, ainda bem que era tudo

adaptado para um bebê, então facilitava muito. Lavei o corpinho dela, que

reclamou um pouco, mas depois acostumou e, em seguida, peguei sua

toalha e a sequei colocando-a em cima do trocador novamente. Passei a

pomada seguida do talco, coloquei a fralda e um vestidinho, pois podia

esfriar. Não penteei seus cabelos, porque a criança nasceu sem cabelo e olha

que ela ganhou vários laços das amigas da Camila do hospital e dos clientes

do Átila da farmácia. Estavam todos guardados.

— Nossa! Como você está linda e cheirosa. Agora vamos para o

cercadinho, porque preciso fazer alguma coisa para comer. Ainda tenho que
ir à barbearia fazer a barba e aparar um pouco o cabelo, meu cabelo está

muito grande. — Estava conversando com um bebê e esperando que ela

respondesse. Mas ela só fazia barulho com a boca e se babava toda.

Coloquei Anna Júlia em seu cercadinho e dei o mordedor para ela;

que ainda não sentava, mas mordia tudo, os dentinhos estavam nascendo.

Liguei a televisão e coloquei o desenho da galinha pintadinha, Maria disse

que ela gostava. Júlia ficou concentrada no desenho e aproveitei para

preparar um sanduíche para comer. Meia hora depois, ela começou a chorar,

então a peguei no colo e comecei a sacudi-la, mas a criança vomitou em

cima de mim melando toda minha camisa. A deixei no cercadinho

novamente e tirei a camisa; quando me virei, eu vi que Anne estava

chegando em casa com várias sacolas nas mãos, e ficou me olhando pela

janela. Peguei Julia em meu colo e, em seguida, abri a porta para Anne.

Assim que a bebê olhou para ela, começou a sorrir.

— Está sendo babá hoje? — Perguntou, jogando beijo para o bebê.


— Sim. E de brinde, já ganhei uma vomitada, ela não sossega.

Segura ela um pouquinho enquanto limpo o chão? — Fiz cara de cachorro

abandonado.

Anne entrou colocando as sacolas no canto, depois pegou a bebê do

meu colo. Enquanto isso, fui atrás de um pano para limpar o chão. Quando

voltei, Anne já tinha conseguido fazer Júlia dormir, a bebê descansava a

cabeça em seu peito. Fiquei olhando a cena e sorrindo, ela tinha jeito com

crianças. Devagar, me aproximei e peguei a pequena do colo de Anne e, em

seguida, a levei para seu berço. Voltei para sala e notei que Anne estava em

pé com as sacolas nãos mãos.

— Já vai? — Perguntei e notei que ela olhou para minha barriga.

— Sim, acabei de chegar do centro da cidade. Fui comprar o

presente da Maria e meu vestido de princesa — respondeu.

— Tomara que Átila e Camila voltem logo, preciso ir fazer a barba e

cortar o cabelo. — Ela me olhou e seus olhos aumentaram de tamanho,

parecia que estava tramando algo.


— Sabia que eu trabalhei quase um ano em um salão de beleza

cortando e escovando cabelos? Já fiz barbas, era eu quem fazia a barba do

meu pai e cortava os cabelos dos meus irmãos. Se você quiser, posso cortar

seu cabelo e aparar sua barba. — Arqueei a sobrancelha, desconfiado.

— Confie em mim, vai, você ainda vai economizar uma grana. —

Disse, parada na porta. Fiquei pensando se deixava ou não.

— Se você me deixar careca, eu te mato e jogo seu corpo fora,

ninguém nunca vai descobrir. — Falei, e ela começou a gargalhar.

— Quer acordar a criança, caramba?! Não tem como rir baixo não?

— Vou em casa trocar de roupa e já volto. Procure uma tesoura e a

máquina de barbear. — Disse, saindo pela porta e me fazendo ficar

arrependido.

Encontrei o kit de barbear do Átila, peguei e fui para a área de fora

aonde ficavam as máquinas de lavar, não usaria o banheiro do meu irmão,

pois ele poderia não gostar. Antes, passei no quarto da Júlia e a encontrei

dormindo feito um anjo. Logo, vi a vizinha saindo de sua casa segurando


um secador, uma toalha e shampoo. Tinha certeza de que ela colocou um

short curto com aquele top deixando sua barriga de fora ostentando o

pequeno piercing em seu umbigo, de propósito. Que maldita!

— Voltei! — disse, animada.

— Vem, senta nessa cadeira e jogue a cabeça para trás. Vou lavar seu

cabelo e, em seguida, fazer uma massagem neles. Só depois vou cortá-los.

— Disse, ligando a torneira. Depois pegou a mangueira e molhou meus

cabelos.

Logo senti um alívio e relaxei, ela tinha mãos leves e trabalhava

muito bem; nem quando eu ia na barbearia do Rubens me sentia tão à

vontade como estava naquele momento. Fechei os olhos sentindo os

movimentos de subir e descer dos seus dedos. Ao abrir meus olhos, me

deparei com aquele par de seios quase na minha boca, Anne estava na ponta

do pé fazendo massagem. Puxei uma respiração longa tentando não olhar

para seus seios grandes. Mas não teve como ignorar, pois me lembrei dos
nossos encontros sexuais. Coloquei a mão na ereção que estava se

formando entre minhas pernas.

— Pronto. Agora se ajeite que vou começar a cortá-los. Você prefere

que eu baixe um pouco mais na frente?

— Sim, e atrás deixe mais baixo do que na frente.

— Certo. — Ela disse pegando uma mexa de cabelo, colocando

entre os dedos e cortando com a tesoura. Fiquei prestando atenção na sua

expressão séria.

— Por que você está me olhando? — Perguntou, parando de cortar o

cabelo.

— Nada de mais, garota. Só estou me certificando de que você não

vai fazer nem uma besteira. Continue. — Ela revirou os olhos e continuou.

Assim que terminou o corte, pegou o pequeno espelho que ficava na

parede, tirou e colocou na minha frente. O corte ficou muito bom, ela tinha

razão quando alegou que cortava cabelo muito bem.


— Uau! Ficou muito bom. Você realmente é muito boa nisso, devia

praticar mais. — Elogiei, gostando muito do corte.

— Posso ser sua cabeleireira particular. O que acha? — Sugeriu,

fazendo charme.

— Pode ser. Mas para você ser aprovada, eu preciso que faça minha

barba, e só depois direi se está apta ou não para o cargo.

— E o que vou ganhar com isso? — Perguntou, passando o creme de

barbear no meu rosto.

— O que você quer ganhar? — Perguntei, somente para saber sua

resposta.

— Se eu for te falar o que eu quero de verdade, é capaz de você não

me dar. — Disse perto do meu ouvido me deixando todo arrepiado. Ela

notou que eu estava ficando excitado.

Num impulso rápido, coloquei Anne em meu colo tomando sua boca

em um beijo desesperado. A safada conseguiu o que queria, um sorriso se

formou no canto de sua boca. Coloquei minha língua em sua boca e ela
chupou com vontade; Anne colocou suas pernas em volta da minha cintura

e rebolou em cima do meu pau; tirei minha boca da sua e desci lambendo

sua pele branca até chegar em seus seios; puxei o top e comecei a chupar a

fazendo gemer alto. Foi aí que percebi que estávamos quase transando na

área de fora da casa, e se alguém chegasse? Cessei nosso momento olhando

diretamente nos olhos de Anne, seus lábios carnudos estavam inchados e

nossas respirações ofegantes.

— Vamos para minha casa. Não podemos negar esse fogo que tem

entre nós, eu estou excitada e quero muito transar com você. — Disse,

ainda em meu colo.

— Esqueceu que eu estou de babá? Logo, minha sobrinha vai

acordar e vai chorar querendo comer. Acho melhor eu ir ver se ela já

acordou, aliás, se você puder ir vê-la enquanto eu tiro esses cabelos do meu

corpo, te agradeço.

— E depois? — Perguntou, saindo do meu colo.


— Depois veremos como fica. Agora temos um bebê em nosso

caminho. — Assim que falei isso, escutei o choro da Júlia — Por falar nela,

olha o chorinho de fome. Por favor, vá lá enquanto eu me limpo.

Assim que Anne foi ver a Júlia, eu peguei a mangueira e molhei meu

corpo tirando todos os cabelos. Em seguida, fui até em casa para trocar de

roupa; meu pau ainda estava duro dentro da cueca, mas me negaria a bater

punheta de novo por causa dessa “demonia”. No dia seguinte, depois da

festa de aniversário da Maria, eu iria tê-la em meus braços, e de todas as

formas possíveis.
Desci do carro, paguei o motorista e fui na direção do salão de festa;

o local estava muito lindo, um verdadeiro aniversário de princesa. Maria

Flor merecia isso e muito mais, a garotinha estava tão ansiosa que não cabia

em si de tanta felicidade. Quando chegou da cidade foi até minha casa para

me contar tudo sobre o vestido dela e da mãe, ela era uma criança

maravilhosa e apaixonada pela mãe. Me perguntou se eu já tinha comprado

meu vestido de princesa, respondi que sim e mostrei a ela, que ficou de

boca aberta. Eu iria vestida de bela adormecida. Quem sabe não acharia um
homem lindo, de mais ou menos um metro e noventa de altura que me

acordasse com um beijo?

Assim que entrei no salão, encontrei Camila completamente linda,

vestida de cinderela; estava combinando com Maria Flor, as duas estavam

no topo da escada prontas para descerem. Fiquei parada, contemplando

aquele momento de mãe e filha; meus olhos se encheram de lágrimas na

mesma hora, pois pensei na minha mãe, a qual não via há quase seis meses.

Nós apenas nos falávamos por telefone. Ainda estava segurando meu

presente nas mãos quando vi a caixa para colocar o presente dentro. As

crianças corriam de um lado ao outro para brincar nos brinquedos; tinha

pula-pula, escorregador, castelo da princesa para as crianças entrarem e

ficarem pulando... deu até vontade de voltar a ser criança. Os palhaços

ziguezagueavam fazendo palhaçadas e correndo atrás das crianças. Maria

Flor correu para brincar com seus amiguinhos que estavam no pula-pula,

após descer a escada com a mãe. Eram tantas crianças brincando. Fiquei

parada observando as menores correndo atrás dos palhaços. A fila para


pegar algodão doce estava enorme, mas cogitei em me infiltrar nela, já que

era mais baixa do que algumas crianças que estavam lá na fila.

Assim que me virei, vi Vinícius com a mão no bolso da calça social

me olhando, ele estava incrivelmente sexy usando terno, minha calcinha

inundou quando ele sorriu para mim de forma muito safada, tive certeza de

que ele se lembrou do nosso momento no dia anterior na área de fora da

casa. Depois que entrei em casa tive que usar meu vibrador, pois fiquei

muito excitada, e sabia que ele não deixaria de cumprir sua promessa de

mais tarde ir até minha casa. Ele se aproximou de mim.

— Pensei que você fosse uma criança, mas assim que se virou, eu

percebi que estava completamente enganado. Seus seios vão saltar para fora

do vestido a qualquer momento. — Comentou olhando fixamente para meu

decote.

— Está preocupado com meu decote, Vini? Ou com ciúmes? Não se

preocupe, pois eles não vão saltar para fora. E se porventura saltarem, foi

porque alguém quis soltá-los. E eu deixei. — Disse tocando em seu ombro e


o deixando sozinho. Fui dar parabéns a pequena que estava brincando com

outras crianças.

Após parabenizar Maria Flor, ajudei Camila com a pequena Júlia que

estava chorando querendo mamar. Em uma salinha, eu a ajudei a abrir o

vestido para colocar os seios pra fora para que a comilona se alimentasse.

Logo, ela dormiu e Camila a colocou em seu carrinho. Depois seguimos

para a festa. O som não estava muito alto, então Júlia continuou dormindo.

Vinicius, Átila e Nicolas estavam dançando de mãos dadas com a Maria

Flor, as músicas infantis que tocavam no alto-falante; ela se divertia muito.

Os dois tios babões faziam tudo o que ela queria. Logo que nos avistou, ela

veio correndo em nossa direção arrastando os três.

— Agora é a sua vez, tia Anne. Vem! Você vai dançar com o tio

Vini. O papai com a mamãe, e eu com o tio Nico. A tia Laura pode olhar a

Júlia, né, tia Laura? — Maria perguntou para a Laura, a moça que

trabalhava com o Átila na farmácia.


Outra música infantil começou a tocar, então Vinícius colocou a mão

na minha cintura e começamos a dançar. Meu coração batia acelerado no

peito, pois estar perto de Vinícius, sabendo que era completamente

apaixonada por ele, não estava sendo nada fácil. Estou tentando não deixar

isso transparecer.

— Ai, você pisou no meu pé. Está pensando em quê, garota? —

Vinícius disse perto do meu ouvido, ele teve que abaixar um pouco para

falar. Fiquei toda arrepiada.

— Tem certeza de que quer saber o que estou pensando? — Falei

olhando para cima arqueando uma das sobrancelhas. Seu sorriso de lado

apareceu e ele ficou me olhando, e esperando a resposta.

— Olha o que você vai falar, sua maluca, estamos em uma festa de

aniversário de criança. — Disse, me girando.

— Eu só ia dizer que estava com vontade de comer salgadinhos e

tomar refrigerante. Não tenho culpa se você tem a mente poluída. — Falei,
parando de dançar e seguindo até a mesa para me servir. Vinícius me

acompanhou.

Após encher meu prato com muitos salgadinhos, bolo e doces me

sentei colocando o prato ao meu lado. Vinicius fez a mesma coisa, e

começamos a comer. Logo, Maria, Camila, Átila e Nicolas sentaram

conosco. Percebi que eu estava muito envolvida com todos, e eles me

tratavam como se eu fosse parte da família deles, até nos almoços de

domingos, eu participava e ai de mim se faltasse. Camila e eu nos tornamos

melhores amigas, eu fui convidada para ser madrinha da Júlia e da Maria,

junto com Vinícius, eu me sentia responsável por elas.

A festinha tinha acabado e todos estavam voltando para casa. Atila e

Camila já tinham saído e eu fiquei esperando um táxi passar quando

Vinícius parou perto de mim.

— Vem, eu te levo para casa. — Disse, estendendo o capacete em

minha direção. Após pegar e colocar sobre minha cabeça, subi na moto e

me agarrei nele.
Ao chegar em frente de casa, desci e Vinícius colocou a moto para

dentro. Assim que estava prestes a abrir a porta, senti alguém atrás de mim;

me virei e me deparei com meu vizinho segurando o terno nas mãos e com

os olhos mais escuros do que o normal; eu conhecia muito bem aquele

olhar, ele estava faminto e não era por comida. Assim que abri a porta, ele

entrou e a fechou logo em seguida, nem esperou eu ir tomar um banho e já

foi logo me agarrando e me suspendendo em seu colo. Sua língua quente

encontrou com a minha e começaram a duelar entre si em um beijo

delicioso.

— Vou te foder duro e forte agora. Depois vai ser bem lento e

demorado. Entendeu, Anne? — Perguntou, me colocando no chão tirando a

camisa seguido da calça e a cueca revelando seu pau grande e,

completamente duro. Passei a língua nos lábios querendo colocá-lo todo

dentro da minha boca.

Vinícius arrancou meu vestido me deixando apenas de calcinha; me

olhou por uns instantes e logo desceu a peça, jogando no chão onde as
outras roupas estavam.

— Vou te comer aqui no sofá mesmo. Você vai ficar de quatro e eu

vou investir em você, forte. Você vai gritar meu nome quando estiver

gozando. Ouviu? — Disse, e senti um tapa não muito forte na minha bunda.

Senti a carne esquentar, mas gostei, pois, senti minha boceta encharcar.

— Ouvi. Agora me come, Vinícius. — Falei, ficando de quatro

apoiando minha mão no sofá. Senti sua língua lamber minhas costas e

descer até a minha bunda, onde mordeu antes de beijar. Vinícius se sentou

no chão e colocou a cabeça entre minhas pernas; sua língua impiedosa

começou a lamber minha vagina me fazendo gritar de prazer. Comecei a

rebolar sentindo minhas pernas tremerem, gozei gritando o nome do safado,

que sorriu olhando minha expressão de prazer. Assim que se levantou, seu

pau escorregou para dentro da minha boceta, eu ainda estava sensível.

Vinícius entrava e saía de dentro de mim; o som do impacto entre nossos

corpos podia ser ouvido junto aos nossos gemidos. Senti quando uma de

suas mãos puxou meu cabelo fazendo minha cabeça pender para trás, seus
lábios encostaram-se nos meus e nos beijamos. Um gemido como se fosse

um urro saiu da sua boca e ele gozou me levando também a mais um

orgasmo. Devagar, se retirou de dentro de mim. Ofegantes, nós nos

sentamos no sofá. Um sorriso saiu dos meus lábios, olhei para ele, que

sorriu também. Fui até a geladeira para pegar duas latas de cervejas, em

seguida, começamos a beber recuperando as nossas forças para gastar a

noite toda.
Ainda olhando a loira dormindo sob meu peito, fiquei sentindo uma

sensação estranha. Desde os meus dezessete anos, construí um muro em

torno do meu coração e prometi a mim mesmo que nenhuma mulher o

derrubaria, e cumpriria essa promessa. Devagar, tirei Anne do meu peito e

me levantei saindo do quarto. Já na sala comecei a juntar minhas roupas

pelo chão, olhei no relógio e vi que já era seis da manhã. Vesti minha cueca

e minha calça social. Coloquei a camisa no ombro, peguei o terno do chão e

saí da casa dela. Eu e Anne nos dávamos muito bem na cama, ela sabia

todas as minhas posições preferidas, nossos corpos se encaixavam


perfeitamente um no outro, mas eu não podia fechar meus olhos para os

sentimentos dela, ela gostava de mim. Eu também gostava dela, mas ela

queria que eu assumisse um compromisso, via isso em seus olhos, só que

não estava preparado. E nem sabia se um dia estaria.

Entrei em casa e me deparei com Nicolas na cozinha preparando seu

suplemento pré-treino. Senti o cheiro de ovos e bacon, e me aproximei mais

do fogão sentindo minha barriga roncar de fome.

— Bom dia. Não querendo me intrometer na sua vida, mas eu vi de

onde você saiu. — Disse, colocando queijo nos ovos e bacon. Peguei um

prato e estendi na sua direção.

— Já que está se metendo na minha vida, então é melhor me

alimentar primeiro, estou morrendo de fome. Aquela baixinha sabe como

acabar com um homem, estou desidratado. Acho que perdi um quilo. —

Falei, indo na direção do meu quarto para tomar um banho e trocar de

roupa.

Quando voltei comecei a comer junto com Nicolas.


— Cara, nem no domingo você deixa de ir à academia? — Falei,

comendo um pouco dos ovos e bacon.

— Fico doente quando não vou. Já virou um hábito. Você que parou

de ir, está ficando barrigudo. Você e Anne, voltaram? — Peguei o prato da

sua mão, enxugando, e respondi sua pergunta.

— Como voltar, cara? Eu e ela nunca tivemos nada sério um com o

outro para voltar, estamos apenas transando. Nada de compromisso, eu

gosto de aproveitar a vida sem amarras.

— Não é o que seus olhos dizem quando olha para ela. Anne é a

garota perfeita para você, Vini, só você que é um bobão e não percebe isso.

O que aconteceu no passado fica no passado, agora você é um adulto. —

Ele disse, sério. Revirei meus olhos.

— Olha quem fala, o cara que tem medo de se apaixonar novamente,

porque a noiva foi embora com outro. — Falei, mas me arrependi. Só

queria devolver suas provocações na mesma moeda. — Nicolas balançou a

cabeça como se não estivesse acreditando no que eu tinha acabado de falar.


— Agora vou para academia treinar, mulheres dão muito trabalho e

você ainda age como um adolescente imaturo. Só para deixar claro, eu não

tenho medo de me apaixonar de novo, só não quero brincar com os

sentimentos de ninguém, ao contrário de você, que brinca com os da nossa

vizinha. — Disse, saindo pela porta.

Bem feito pra mim!

Após Nicolas sair, fui me deitar. Mal dormi durante noite, então

estava com muito sono. Me deitei em minha cama e me lembrei de Anne,

balancei a cabeça evitando pensar nela.

Senti alguém cutucando as minhas unhas, abri meus olhos e vi minha

sobrinha Maria Flor passando algo nas unhas dos meus pés. Me levantei e
vi que minhas unhas estavam pintadas de rosa, tanto das mãos quanto as

dos pés.

— Oi, tio Vini. O papai disse que o almoço logo vai estar pronto. Tio

Nico disse que o senhor estava dormindo, então resolvi vir lhe chamar e vi

que suas unhas estavam precisando de cuidados, aí fui até em casa pegar

meus esmaltes. Tio Nico disse que o senhor ia preferir a cor rosa, então eu

pintei, ficou tão bonito. — Olhei para Nicolas, que estava sorrindo parado

na porta do meu quarto. Balancei a cabeça dizendo que ia ter volta, não

conseguia brigar com minha sobrinha. Nós que sempre fazíamos suas

vontades.

— Ficou linda, mas na próxima pode passar só a base, gosto mais

dessa cor. — Beijei sua bochecha e fui para o banheiro tomar um banho.

Olhei para minhas unhas e estavam todas borradas. Ainda bem que não foi

a sobrancelha. Teve uma vez, quando ela tinha cinco anos, encontrou o

barbeador no banheiro do pai e quase raspou minhas sobrancelhas.


Cheguei na área de fora e vi que todos estavam reunidos. De longe,

dava para ouvir a gargalhada da Anne; quando me viu, ela me olhou

fixamente, seus olhos azuis ficaram tão vivos que mudaram até de cor,

pareciam mais escuros. Meu corpo reagiu ao seu olhar, não entendi o que

aconteceu, mas senti meu coração bater apressadamente. Todos ficaram

prestando atenção em nós dois.

— Aconteceu alguma coisa? Por que todos estão me olhando? —

Cheguei mais perto.

— Queríamos saber o nome da sua manicure, pois suas unhas estão

impecáveis. — Anne disse pegando na minha mão e suspendendo para que

todos vissem.

— Foi eu que fiz, tia Anne. — Maria falou com a voz toda cheia de

orgulho.

— Ficaram lindas. — Anne comentou, me encarando. Balancei a

cabeça em negação, ela era uma mentirosa.


— Filha, o que o papai já te falou sobre pintar as unhas dos seus tios

enquanto eles dormem? Primeiro, você tem que perguntar se eles querem.

— Átila disse em tom manso olhando com carinho para a pequena travessa,

que me olhou sorrindo.

Depois de jogar conversa fora, nós começamos a comer. Camila

disse que o risoto foi feito pela Anne, e que ela já estava pronta para casar.

A safada bateu os cílios fazendo todos sorrirem. Depois do almoço, eu e ela

ficamos responsáveis por lavar as louças; Camila foi colocar a Ana Júlia

para dormir e Átila ficou limpando a mesa.

— Você vai trabalhar amanhã com as unhas dessa cor? — Olhei para

Anne, que estendia um prato em minha direção para eu enxugar.

— Claro que não, garota, eu tenho removedor de esmalte lá em casa.

Já de tanto acordar com as unhas azuis, vermelhas e pretas resolvi comprar

um. Uma vez, cheguei bêbado em casa e dormi no sofá; quando acordei

estava de cílios postiços, batom vermelho e bochechas rosas, quase não


consegui ir trabalhar no dia seguinte. Maria Flor é fogo. Mas eu não tenho

coragem de brigar com ela.

— Vocês são uns tios babões mesmos. Se você quiser, posso te

ajudar a remover o esmalte da sua unha. — Disse, encostando-se a mim.

— Posso até tirar as cutículas. Também já trabalhei como manicure.

— Comentou, tirando o avental e colocando-o sobre o aparador.

— Você é mil e uma utilidades, hein, Anne? Me diz o que você não

sabe fazer? — Perguntei, secando a pia.

— Eu não sei fazer bolo, todas às vezes que tentei fazer, saiu solado.

Então desisti.

— Vou aceitar que você limpe as minhas unhas, só porque estou com

preguiça. Ainda estou com sono. E com uma leve dor nas costas. —

Reclamei, fazendo um movimento jogando meu corpo para trás.

— Eu também sei fazer massagens. — Avisou, apertando o meio das

minhas costas.
— Você é uma pilantra, isso sim. Fica falando que sabe fazer isso e

aquilo só para me levar pra sua casa. Pensa que não notei. — Disse,

encarando-a.

— Claro que não. Estou apenas dizendo que sei fazer. Você aceita,

ou não. Estou indo para minha casa. Vem comigo, ou não, Vinícius? —

Perguntou, indo em direção a sua casa rebolando aquela bunda enorme.

Meu pau até vibrou dentro da cueca. Olhei para todos os lados e vi que não

tinha mais ninguém ali fora.

Seguindo a baixinha faz tudo, entramos em sua casa. Ela me pediu

para esperar no sofá, porque ia pegar seus produtos de manicure e os óleos

para massagem. Fiquei pensando se era certo o que eu estava fazendo, ela

não era mais nenhuma criança e nem eu. Então relaxei e fiquei esperando

pela minha vizinha faz tudo.


A rotina no hospital estava consumindo todo meu tempo,

ultimamente estava me sentindo exausto como nunca tinha me sentido

antes, precisava me exercitar e decidi voltar a malhar. Todos os dias, às

cinco e meia da manhã, eu ia para à academia e depois para o trabalho.

Nicolas era meu personal trainer e estava me ajudando muito; ele estava

trabalhando nesse horário, dando consultoria na academia e, às oito horas

ele ia para a escola, pois era professor de educação física das crianças;

adorava trabalhar com elas. Tinha acabado de terminar minha série e já

estava indo ao vestiário para tomar um banho, pois ia direto para o hospital,
quando uma morena entrou com uma toalha em seu ombro e sua garrafinha

de água. Não deixei de reparar no seu belo corpo, era muito definido e ela

era muito bonita. Passei por ela e sorri, ela ficou me olhando. Ainda pensei

em voltar para talvez engatar numa conversa e chamar a bela jovem para

sair, mas estava sem tempo para flerte nesse momento, eu era uma cara

muito responsável e jamais chegaria atrasado no trabalho por conta de um

rabo de saia.

Cheguei no hospital e fui direto para a ala dos enfermeiros. Todos

com suas tarefas distribuídas, começamos a trabalhar. Fui até a ala das

crianças que estavam internadas com câncer, elas faziam tratamentos ali

mesmo; nosso hospital era equipado com os melhores aparelhos para

quimioterapia, e tinha os melhores médicos. Nós, enfermeiros dali fazíamos

um trabalho voluntário com elas também, todas as segundas-feiras;

Gustavo, Bernardo e eu nos vestíamos com roupas engraçadas,

colocávamos nariz de palhaço e tocávamos, cantávamos músicas e

contávamos histórias. Tinha uma paciente que iria fazer quinze anos, e já

estávamos trabalhando para realizar a festa de aniversário dela. Assim que


coloquei minhas roupas coloridas, entrei na sala encontrando Gustavo e

Bernardo fazendo palhaçadas para elas, que gargalhavam. Quando me

viram entrar, segurando o violão, ficaram felizes e pediram para eu cantar.

Fiquei no meio do corredor para que todas pudessem me ver, então comecei

a tocar o violão cantando em seguida.

O sapo não lava o pé. Não lava, porque não quer. Ele mora lá na

lagoa e não lava o pé, porque não quer. Mas que chulé!

O engraçado era que todos gritavam a última parte alegremente, elas

amavam essa musiquinha do sapo. Depois de acabar de cantar a música,

avisei que ia sair e deixar os enfermeiros começarem seus trabalhos

verificando se as medicações já tinham acabado. Assim que ia saindo me

deparei com Anne parada na porta e me observando, o jeito que ela me

olhava me deixou encabulado. Seus olhos azuis enormes me fitavam de um

jeito diferente, não podia negar que não fiquei nervoso, ela conseguia ver

minha alma machucada, tinha certeza disso. Passei por ela e parei, pois ela

queria falar comigo.


— Eu não sabia que você cantava tão bem, Vinícius. — Disse ela e

senti sinceridade em suas palavras.

— Eu gosto de tocar violão e amo cantar, sempre venho aqui para

cantar para eles. Dizem que quem canta os males espanta, fico muito feliz

em trazer um pouco de alegria para eles, que já sofrem tanto. Olha como

ficam felizes. — Apontei. — Eles amam ouvir histórias também. —

Comentei, olhando para todos, que estavam quietinhos e prestando atenção

na história.

— Também posso ser voluntária? Eu não sei cantar, mas posso

contar histórias e sei contar piadas. Já ouviu a piada do pintinho que só

tinha a perna direita?

— É sério que acha que eu não sei essa piada? Desde meus cinco

anos que ouço. — Falei, tocando a ponta do seu nariz.

— Mas as crianças podem não saber, né? Na próxima vez, eu quero

participar. Vou até pesquisar algumas piadas para crianças. Também sei

umas piadas quentes, quer que eu te conte uma? Não precisa me responder
agora. Mas se quiser ouvir, você sabe onde eu moro. — Disse, piscando e

entrando na sala, em seguida, se aproximando das crianças. Fiquei

observando de longe... ela tinha jeito para alegrar a criançada. Mas também

fiquei interessado em saber das piadas quentes que ela disse que sabia.

Toma jeito, Vinícius!

Na hora do almoço, Anne se sentou ao meu lado e começamos a

conversar, ela estava me contando que sua mãe estava pretendendo vir nos

próximos dias para fazer exames de rotinas, pois passou mal em casa e

desmaiou batendo a cabeça. Onde eles viviam não tinha muitos recursos,

por isso ela viria para Limoeiro, pois ali o hospital realizava todos os tipos

de tratamento; era referência nos interiores próximos. Seu semblante estava

triste, mas fiz de tudo para animá-la, tirei um chocolate de dentro do meu
bolso e dei para ela. Eu sempre comia um depois do almoço, mas naquele

momento resolvi dar o bombom para ela, que sorriu me encarando. Todas às

vezes que ela me olhava dessa forma meu coração disparava dentro do

peito.

— Obrigada. Prometi a mim mesmo que hoje iniciaria uma dieta

rigorosa, fui vestir uma calça jeans hoje de manhã e não serviu, parece que

minha bunda aumentou de tamanho, a calça ficou engatada nela. Quase que

liguei para o bombeiro, mas por fim consegui tirar. — Disse, me fazendo

achar graça.

— Poderia ter me chamado, eu tiraria com todo o prazer. — Ela

parou de comer o chocolate e me olhou.

— Vou tentar vesti-la hoje de novo, e se não conseguir tirar vou te

mandar uma mensagem de socorro. — Por um instante, ficamos nos

encarando, até que deu a hora de voltar ao trabalho.

Por volta das vinte horas, eu ainda estava no trabalho, tive que ficar

mais um pouco, pois tinha ocorrido um acidente com um casal que estava
de carro chegando em Limoeiro, o homem teve escoriações pelo corpo e a

mulher fraturou a costela. Enquanto ela estava sendo encaminhada para a

sala do raio-x tive que conversar com seu esposo e lhe dar notícias. Ele já

estava na enfermaria com curativos pelo corpo e usava uma tipoia, pois

tinha machucado o braço direito. Entrei, tentando não transparecer que

estava levando uma notícia triste para ele.

— Boa noite, sou o enfermeiro Vinícius. Como está se sentindo? —

Ele tentou se mexer, mas reclamou de dor.

— Não tente se mexer, porque vai piorar a dor. Só vim lhe trazer

informações sobre sua esposa. Ela está fazendo alguns exames agora, pois

está com suspeita de fraturas na costela. Tem algum familiar que deseja

comunicar? Talvez eles possam vir ao hospital — Ele balançou a cabeça em

afirmação. Peguei meu celular e pedi que ele me falasse o número da

pessoa. Quando ele começou a ditar o número, eu digitei e logo apareceu a

opção do número da Anne, mas eu não quis acreditar. Então comecei a

digitar o número todo novamente e, realmente era o dela. Eu já tinha dado


tantas notícias tristes para os familiares dos pacientes, mas naquele

momento era diferente, Anne era quase parte da família e eu temia por sua

reação. Naquela mesma tarde ainda estávamos falando sobre sua mãe...

quando ela soubesse que seus pais sofreram um acidente e, que sua mãe

estava passando por vários exames naquele instante iria se desesperar. Eu

precisava estar com ela nesse momento.

Disquei seu número e logo ouvi sua voz ofegante. Fiquei pensando

no que ela estaria fazendo para estar daquele jeito. Mas logo voltei ao

assunto de seus pais.

— Oi, Vinícius, você não vai acreditar, estou na academia. Resolvi

me matricular e fiquei logo para treinar. O que aconteceu para você me

ligar? Quer ouvir minhas piadas quentes? — perguntou, brincando.

— Bem que eu queria que fosse isso. Mas minha ligação é para você

comparecer aqui no hospital. Agora. Entendeu, Anne? — Ela ficou calada

por um instante.

— O que houve? Estou ficando preocupada. Vou ser demitida?


— Não é isso, só peço que, por favor, venha para cá o quanto antes.

Estou lhe aguardando. Até breve.

Desliguei o celular e fiquei andando de um lado ao outro. Quando

estava mais calmo expliquei para o senhor João que conhecia sua filha, pois

ela morava perto da minha casa e que éramos colegas de trabalho. Ele ficou

mais tranquilo e me pediu para ir atrás de notícias da esposa dele. O Doutor

Álvaro disse que a situação era como ele havia imaginado, dona Solange

teria que ficar internada até se recuperar, pois fraturou duas costelas e

estava com muita dor. Mas não precisaria passar por cirurgia; poderia tratar

com medicações anti-inflamatórios e para dor.

Agradeci a Deus pela notícia boa. Fui avisar ao senhor João, que

sentiu o mesmo alívio que eu senti quando ouviu a notícia. Podia parecer

clichê, mas nós que trabalhávamos na área da saúde sentíamos que

fazíamos parte da família de cada paciente; quando recebíamos uma notícia

boa vibrávamos também. E quando perdíamos alguém sentíamos muito e


sofríamos. Contudo, éramos profissionais e não deixávamos isso

transparecer. Deixei o
Tinha acabado de sair do hospital, pois meu plantão tinha acabado.

Clara saiu no mesmo horário que eu e combinamos de passar na academia

para nos matricular; estávamos querendo treinar depois do trabalho.

Entramos na academia e fomos direto na recepção para fazer nossa ficha,

conversamos com uma moça simpática, que nos atendeu muito bem. Após

nossa matrícula ganhamos uma aula inteiramente grátis para experimentar;

como eu não tinha nada para fazer em casa e nem a Clara, resolvemos

experimentar. Sempre levava uma roupa extra dentro da bolsa; estávamos

de tênis, então fomos até o vestiário para trocar de roupas. A Denise seria
nossa instrutora. Começamos com um alongamento básico, depois fomos

para a esteira; iniciamos uma corrida devagar, depois pegamos o ritmo e

aceleramos. Meu celular começou a tocar e peguei para atender, pois podia

ser minha mãe querendo avisar que ela e meu pai haviam chegado à cidade.

Peguei o celular e vi o nome do Vinícius no visor, sorri achando que ele

queria saber das minhas piadas quentes.

— Oi, Vinícius. Você não vai acreditar, estou na academia. Resolvi

me matricular e fiquei logo para treinar. O que aconteceu para você me

ligar? Quer ouvir minhas piadas quentes? — Falei, mas ele não riu. Por

instantes, a ligação ficou muda.

Quando ele me pediu para ir ao hospital imediatamente, minhas

pernas começaram a tremer e eu desliguei a esteira saindo dela para dar

atenção a sua conversa. Não sabia o que ele tinha para me contar, mas algo

começou a doer dentro do meu peito. Olhei para Clara, que estava em pé

me olhando.
— Aconteceu alguma coisa? De repente, suas feições mudaram. —

Quis saber, passando a toalha em seu rosto.

— Vinícius acabou de me ligar e pediu para eu ir ao hospital agora.

Ainda perguntei se eu tinha sido demitida, mas ele disse que não. Ele não

mentiria para mim. Agora estou pensando o que foi que eu fiz para ter que

voltar pra lá.

Peguei minha bolsa e fui até o vestiário para colocar a roupa de

trabalho. Após trocar de roupa, Clara também foi comigo; como eu estava

um pouco nervosa resolvemos pegar um táxi. A corrida não ia passar de dez

reais, pois o hospital ficava perto. Quando o motorista estacionou, desci

logo andando depressa para saber de uma vez o que tinha acontecido.

— Espera, Anne. Calma, amiga. Desse jeito você vai ter um treco.

— Disse Clara, correndo atrás de mim.

— Ai, amiga, eu estou preocupada. Nem sei o que é, mas meu peito

já está doendo. Sou muito de sentir as coisas, e a voz do Vinícius não estava

nada bem, tenho certeza de que alguma coisa séria aconteceu.


Entrei no hospital e a primeira pessoa que vi foi o Vinícius, em pé

perto da recepção; ele estava mexendo no celular. Quando seus olhos me

enxergaram, ele veio caminhando em minha direção.

— Vinícius. O que foi que aconteceu? Pelo amor de Deus, não me

esconda nada. Sei que, às vezes, eu converso demais com os outros, que os

idosos ficam falando que sou o melhor remédio que eles veem logo pela

manhã e eu já até disse que casaria com um deles, caso melhorasse logo,

mas faço isso para que eles se sintam bem, e é apenas brincadeira. Você

sabe como eu gosto de brincar.

— Não é nada sobre isso, se acalme. Você falou com seus pais hoje?

Eles ligaram? — Ele perguntou, pegando um copo com água no bebedouro

mais próximo e me deu para tomar. Eu tomei tudo de uma vez.

— Hoje não. Mas o que meus pais têm a ver com isso? Pelo amor de

Deus, me conta logo. Já estou nervosa a ponto de sair correndo por esse

corredor. — Ele pegou na minha mão e abriu a porta da enfermaria.

Entramos e logo vi um senhor deitado, não pude ver seu rosto, mas ao me
aproximar um pouco mais, eu o reconheci, era meu pai. Haviam faixas em

seus braços e pernas, ele estava abatido. Assim que seus olhos chorosos me

olharam, corri até ele e me ajoelhei a sua cama.

— Papai, o que aconteceu? Oh, meu Deus, cadê a mamãe? O senhor

está sentindo dor? O que houve? Vocês não falaram nada sobre o horário

que viriam até a cidade. Eu disse que queria ser avisada. — Nem notei

como e nem quando, mas Vinícius tinha me tirado do chão e passou a me

abraçar, me pedindo para ficar calma, ou iria assustar o meu pai; disse que

eu era uma profissional da saúde. Cessei meu choro e me aproximei mais

do meu pai, que enxugava as lágrimas.

Sentei na cama e abracei o meu pai, mas sem apertar muito; ele

chorava feito criança dizendo que a culpa era dele, pois minha mãe não

queria vir, mas ele achou melhor trazê-la, porque ela reclamava de muita

dor de cabeça. E naquele momento estava internada correndo risco de vida.

Eu o tranquilizei afirmando que iria vê-la e logo traria notícias a ele.


— Muito obrigada por me avisar sobre meus pais. Agora, por favor,

me leve para ver minha mãe. Eu não vou me perdoar se algo acontecer com

ela. Eu tinha que estar com eles. — Eu chorava de soluçar. Minha vontade

era sair por aquele hospital gritando por minha mãe, mas eu sabia que não

era assim que devia agir.

— Vamos falar com o doutor Álvaro primeiro. Mas você precisa se

acalmar.

Bati duas vezes na sala do doutor Álvaro e entramos depois de lhe

saldar com um boa noite. Vinícius explicou que minha mãe era a dona

Solange, a mulher que tinha acabado de dar entrada na emergência.

— Então eles são seus pais? Bem que sua mãe falava muito o seu

nome, ela estava bem agitada. Demos um sedativo para ela dormir. Na hora

do acidente, sua mãe bateu a parede torácica ocasionando em duas fraturas

nas costelas, mas nada muito grave. Realizamos os exames apropriados e

ela está em observação. Fizemos exames de sangue e notei algumas

alterações. Sua mãe está com hipertensão e precisa tratar. Já a encaminhei


para o clínico para ela fazer vários exames, agora ela está dormindo, porém,

você pode ir vê-la. O caso do seu pai foi apenas escoriações, ele já pode ir

para casa. Vou assinar a alta dele agora.

Agradeci ao doutor Álvaro e Vinícius me acompanhou até o quarto

onde minha mãe estava. Ao entrar, fiquei parada olhando-a, ela estava

dormindo. Vi o seu braço arranhado e me aproximei um pouco mais. Chorei

baixinho. Beijei sua testa e pedi perdão por não ter estado com ela nessa

hora. Vinicius a todo tempo me confortava dizendo que ia ficar tudo bem.

Em seguida, fui a sala onde meu pai estava para informá-lo que ele iria para

casa comigo, e que a mamãe iria ficar internada.

— Vou deixar você ir falar com seu pai. Qualquer coisa pode me

ligar. Se precisar de algo não hesite em me chamar, estou sempre aqui para

você. — Disse Vinicius, olhando nos meus olhos. Em seguida, saiu.

Após meu pai receber alta Clara me ajudou chamando um táxi. Eles

perderam as malas com as roupas, ainda bem que a bolsa que estava com os

documentos e dinheiro estava na pochete do meu pai.


Em frente à casa em que eu morava ajudei meu pai a descer, Átila já

estava sabendo, pois Vinícius ligou informando, e pediu para o irmão me

ajudar. E foi isso que ele fez, me ajudou com meu pai, pois meu velho

estava com a perna machucada. Assim que entrei em casa deixei meu pai

deitado na minha cama; perguntei se ele queria tomar um banho e ele

respondeu que só mais tarde, já que ainda estava sonolento. Resolvi fazer

uma sopa e ligar para meus irmãos avisando do ocorrido. Eles deveriam

estar preocupados. Rodrigo e Guilherme eram gêmeos e trabalhavam com

meu pai, de caminheiros. Deixei a panela no fogo e disquei o número do

Guilherme, ele era mais tranquilo, diferente de Rodrigo, que já era muito

nervoso. Me certifiquei de que ele não estivesse dirigindo, assim que ele

disse que não, eu dei a notícia a ele. Obviamente que se preocupou muito e

perguntou como eles estavam. Após informar que nossos pais ficariam ali

comigo, ele disse que assim que estivessem de folga viriam até Limoeiro.

Eu o tranquilizei dizendo que não era para se preocuparem. Mas eu sabia

que não tinha como não se preocuparem, pois eram nossos pais. Me despedi

do meu irmão e fui terminar de preparar a sopa.


Assim que a sopa ficou pronta, coloquei um pouco no prato para ir

esfriando. Fui ver como meu pai estava, vi que ele ainda estava dormindo.

Então resolvi tomar um banho e trocar de roupas. Antes, pedi a Deus que

nos ajudasse a passar por mais esse problema. Éramos uma família unida e

daria tudo certo.


Após quase quinze dias do acidente ocorrido com os pais da Anne,

eles já estavam muito bem, principalmente, seu pai. O senhor João era um

homem muito conversador e gostava de ficar conversando até tarde da

noite; passei a entender a quem Anne puxou. Já a dona Solange era mais

calada, porém, uma senhora bastante alegre. Durante os dias que eles

passaram ali com a filha, eu pude conhecê-los melhor. Convidei-os para

jantar no restaurante da dona Conceição; outro dia levei o senhor João para

pescar, ele gostou muito. Nosso último passeio foi na praia. À noite, eu

sempre ajudava Anne a trocar o curativo dos dois, me apeguei muito a eles.
Como os meus pais já eram falecidos há muito tempo, eu não imaginava o

quanto eles me faziam falta até conviver naqueles poucos dias com os pais

da Anne.

Dona Solange ainda estava se recuperando; ela descobriu que era

hipertensa e seguiria o tratamento em sua cidade. Eles estavam de partida,

os irmãos da Anne vieram para buscá-los. Os gêmeos tinham um caminhão,

onde trabalhavam com o pai transportando mercadorias. Anne ainda pediu

que a mãe ficasse, mas ela disse que gostava da casinha dela, mas prometeu

que seguiria o tratamento direito. Após uma despedida chorosa, eles

partiram. Anne estava arrumada para ir trabalhar, então decidi lhe dar uma

carona. Era sexta-feira e eu tinha decidido que depois do trabalho passaria

no bar do Manoel para tomar um chope com os amigos. Conheci a morena

da academia e seu nome era Michele, decidi que a convidaria para tomar

uma cerveja. Desde que aconteceu o acidente com os pais de Anne, eu não

saí para nenhum canto a não ser para o trabalho e academia. Estava sem

sexo e estressado.
— Está pensando em que, Vinícius? Já estou sentada em cima da

moto e nada de você sair com ela. — Anne disse me tirando dos

pensamentos.

— Pensei que ainda estava procurando algo para se apoiar e subir em

cima da moto. — Ela me beliscou, e eu reclamei de dor.

No meio do caminho, parei a moto, tirei o capacete e desci. Não

sabia o que estava acontecendo comigo, mas eu precisava fazer isso. Anne

tirou o capacete quando me viu sair da moto, não a esperei dizer nada e

avancei colocando minhas mãos em seu rosto e lhe beijando com tanta

vontade que meu peito subia e descia; minha língua entrou em sua boca,

desesperada a procura da sua, e quando se encontraram começaram a

brincar uma com a outra. Eu gostava dos beijos da Anne, gostava de transar

com ela, gostava de ouvir suas piadas sem graça, que me faziam sorrir só

pelo modo como ela contava. Mas eu não queria nada além disso.

— Que tal amanhã, na nossa folga, nós irmos até o riacho? Podemos

levar algo para comer. Amanhã não dá ninguém na hora que pretendo levá-
la. — Anne ficou me olhando com os olhos brilhando.

— Está me convidando para um encontro no riacho? — perguntou.

— Sim, faz tempo que não vou lá, nem me lembro da última vez que

fui. Geralmente, passo minhas folgas dormindo.

— Tudo bem. Que horas?

— Podemos sair as oito, aí ficamos até as dez, pois é quando o

pessoal da fazenda ao lado começa a aparecer.

Depois de tudo certo, montei em cima da moto e acelerei em direção

ao hospital.

Quando Anne desceu da moto, me olhou e sorriu, suas bochechas

estavam vermelhas. A deixei entrar primeiro e só depois entrei, indo

diretamente bater o ponto.

Encontrei com o doutor Maurício fazendo visitas aos seus pacientes,

ele me chamou para acompanhá-lo. Depois segui para o consultório do

doutor Álvaro, pois uma das crianças tinha piorado e teria que ser entubado,
uma pena, já que ele tinha mostrado melhoras na semana passada. Após o

doutor Álvaro avaliar sua situação afirmou que era para eu cuidar da sua

transferência para UTI. A criança não poderia ser operada, pois não tinha

mais nada a ser feito, o seu estado era crítico. Conversei com os pais e eles

ficaram aguardando o técnico e o maqueiro para virem buscar a criança.

Encontrei com Bernardo na hora do almoço e ele me perguntou se

mais tarde eu iria ao bar do Manoel. Confirmei e ele disse que estava saindo

com uma colega de trabalho e que os dois iriam se encontrar lá, fiquei

curioso para saber quem era, mas ele disse que na hora eu saberia. Ele

estava todo misterioso. Vi na minha prancheta que um paciente idoso teria

que realizar exame de sangue e urina, então segui para o quarto para eu

mesmo colher o sangue. O senhor Galdino era um homem de oitenta e dois

anos, que deu entrada com infecção urinária grave, ele estava tomando

antibiótico e tínhamos que ver se ele melhorou.

— Boa tarde. Hoje vamos colher sangue e depois o senhor vai fazer

novamente o exame de urina. Vamos orar para que o senhor esteja bem para
voltar pra casa. Tudo certo, senhor Galdino? — Ele balançou a cabeça,

concordando.

Após a coleta do sangue e da urina, levei as amostras para o

laboratório, pedi urgência, pois notei que a urina dele ainda estava muito

amarelada. Além disso, ele se queixou de dor na hora de urinar. Verifiquei o

soro e o remédio, estava tudo certo. Já era noite e tinha mais um plantão

pago. Após inspecionar todas as alas e verificar o trabalho de todos, segui

rumo ao banheiro para tomar um banho e trocar de roupa. Estava animado

que chegasse o dia seguinte para ter Anne em meus braços.

No dia seguinte, acordei bem cedo e mandei uma mensagem para

Anne avisando que estava a sua espera. Iríamos andando, pois de moto não

daria para ir até o local, já que era uma trilha. Anne saiu de sua casa
segurando uma bolsa com algumas coisas dentro. Peguei a pequena caixa

térmica e saímos.

— Você está bem animado, hein? — Comentou, saindo pelo portão.

— Estou mesmo. Você não está? Nossa rotina é sempre a mesma,

hospital, casa... às vezes, isso cansa.

Atravessamos a rua e entramos na trilha onde o riacho ficava. Ajudei

Anne a descer uma pequena ladeira e logo avistamos o lugar que estava,

praticamente, vazio. Quando eu e meus irmãos éramos crianças sempre

frequentávamos ali com nossos pais. Na adolescência, depois da escola,

aquele era nosso lugar favorito. Deixei a caixa térmica em um canto, junto

com a bolsa da Anne, tirei minha camisa e bermuda, ficando apenas de

sunga; Anne tirou o vestido que estava usando e por baixo dele vi que usava

um minúsculo biquíni azul de estilo fio dental. Fiquei a admirando, depois

pulei na água e a chamei.

— Nossa! A água está completamente gelada. — Reclamou ao

entrar na água. Me aproximei e a puxei de vez, que gritou.


— Vem cá que eu te esquento. — Falei, beijando seu pescoço.

Minhas mãos pararam em sua cintura e virei Anne para ficar de frente para

mim. Ataquei sua boca. Meu pau pulsava para ser liberto de dentro da

sunga. Desamarrei a parte de cima do biquíni de Anne, revelando seus seios

grandes, coloquei um deles na boca, brincando com o bico, depois o outro.

Comecei a me esfregar nela, que gemia jogando a cabeça para trás.

Tirei minha sunga e meu pau pulou para fora; desci a peça de baixo

do seu biquíni, joguei as peças íntimas na beira do riacho, em seguida,

suspendi Anne em meu colo fazendo meu pau entrar por completo em sua

boceta. Enquanto nos beijávamos, eu arremetia dentro dela, mas devagar.

Eu já estava próximo de gozar, mas queria que ela gozasse primeiro, porque

adorava vê-la fechar os olhos e observar a feição do seu rosto mudando para

o modo satisfação. Amava quando ela sorria mordendo o lábio inferior em

seguida. Isso me deixava maluco.

Anne fechou os olhos e começou a gemer alto; senti quando sua

boceta começou a apertar meu pau, então gozei também. Gozei gostoso
dentro dela. Eu queria mais, porém teríamos mais tempo. Anne saiu de

dentro da água; tirou uma toalha de dentro da sua bolsa e estendeu o tecido

no chão de areia. Abri a caixa e tirei duas latas de cervejas de dentro,

entreguei uma para Anne, que logo abriu e tomou um gole. O Sol começou

a aparecer e entramos dentro da água novamente; ficamos nos beijando.

Transamos de novo, dessa vez em cima da tolha; e quando deu nove horas

da manhã, nós recolhemos as latas de cervejas vazias e os restos das frutas,

e voltamos para casa. Anne acenou para mim e entrou, fiz o mesmo e entrei

em casa. Depois fui dormir.


Após mais um dia de trabalho exaustivo, combinei com Bernardo e

Gustavo de nos encontrarmos no barzinho perto do hospital; era lá que

sempre íamos quando queríamos tomar uma. Eu e a morena da academia

estávamos trocando mensagens, e decidi convidá-la para ir ao bar.

Assim que cheguei ao estacionamento do hospital, já em cima da

moto, ajeitei o meu cabelo e coloquei minhas argolas. Mandei uma

mensagem para Michele dizendo que eu já estava a caminho do bar, e ela

me respondeu confirmando que já estava no bar a minha espera. Ela era

pontual. Liguei a moto, saindo do estacionamento. Em poucos minutos,


parei em frente ao bar deixando minha moto no local de sempre. Logo que

entrei vi a morena sentada em uma das mesas. Caminhei em sua direção. A

cumprimentei com dois beijos e me sentei chamando o garçom. Pedi dois

chopes; o rapaz deixou em nossa mesa e saiu.

— Então, Michele... vem sempre aqui? Ou é a primeira vez? Pois

das vezes em que vim aqui, eu não te vi. Ou pode ser que ainda não era hora

de nos conhecermos. — Questionei, bebendo um pouco do chope

completamente gelado.

— Bem, Vinícius, estou na cidade há menos de um mês e não tinha

vindo aqui ainda. Sou estudante de jornalismo e vim até Limoeiro para

fazer um pequeno trabalho, sou estagiária no jornal da cidade. Estou

escrevendo sobre a vida dos moradores de Limoeiro. Inclusive, conto com

sua ajuda para me informar sobre tudo. — Disse, levando o copo de chope a

boca e bebendo um pouco.

— Limoeiro é uma cidade pacata e aqui todo mundo sabe da vida de

todo mundo. Eu não tenho nada a reclamar, nasci aqui e moro na mesma
casa desde sempre. O que você quer saber, especificamente? — Ela se

ajeitou em seu assento e me olhou. Seus olhos eram claros, nem verdes e

nem azuis, mas eram bonitos. Seus lábios eram grossos, e ela tinha um

sorriso lindo. Entretanto, eu não estava animado em levar a morena para o

motel, o que realmente era estranho, ainda mais para mim, um pegador

nato.

— Todos os rapazes são bonitos iguais a você? Pois só hoje

encontrei dois muito bonitos. Fui a farmácia e me deparei com o

farmacêutico gato, na academia, o professor é mais bonito que o cara da

farmácia. Mas você... é o mais bonito deles. — Disse me fazendo sorrir.

— O cara da farmácia é meu irmão Átila. E o professor da academia

também é meu irmão, se chama Nicolas. Mas devo ressaltar que o Átila é

casado e pai de duas lindas princesas. — Expliquei, tomando o restante do

meu chope.

— Percebi, pois tinha uma moça muito bonita com ele, além de duas

crianças. Eu não sou cega e a aliança dele não passa despercebida. Mas e
você? É casado, ou tem namorada?

— Nem uma coisa nem outra. Sou livre e não estou à procura. —

Levantei a mão para o rapaz. Nessa hora, entraram no bar, Anne, Clara e

Bernardo. Os olhos de Anne foram logo para a mulher ao meu lado, vi o

exato momento em que a feição do seu rosto mudou, me remexi,

incomodado. Não tínhamos nada um com o outro, mas não me senti à

vontade com ela chegando e me pegando com outra mulher no bar. Eles

vieram em direção a nossa mesa.

— Fala, Vinícius?! Podemos sentar com vocês, ou estão querendo

curtir a noite, sozinhos? — Bernardo perguntou, abraçado a Clara.

— Desculpa, mas vou me sentar aqui mesmo. Aposto como o Vini

não se importa, não é, vizinho? — Anne disse, sentando e esbarrando em

Michele. — Desculpa, amiga. Sou Anne. — Disse, sentando.

Depois de todo mundo se conhecer, começamos a conversar sobre

nossos trabalhos; expliquei a todos que Michele era jornalista e estava

fazendo uma pesquisa para o jornal da cidade. A todo momento, Anne me


encarava enquanto bebia a tequila que havia pedido; eu tinha que tirar a

garrafa de tequila de perto dela.

— Se você quiser, posso te contar sobre os putos de Limoeiro, sabe?

Aqueles caras que... — ela se aproximou do ouvido da Michele e contou

algo como se fosse um segredo. Ela já estava muito animada. Notei que

Michele sorriu, me olhando. Com certeza ela mencionou algo sobre mim,

torci para que fosse do tamanho do meu pau.

— Vou ao banheiro e já volto. — Michele se levantou da mesa. Clara

e Bernardo também foram ao banheiro. Ficamos só eu e Anne.

— Está pensando em comer a jornalista, Vinícius? Vai levar ela no

motel bacana? Ou no riacho, onde transamos semana passada? — Disse, me

encarando com os olhos marejados.

— Qual é, Anne? Achei que estivesse tudo esclarecido entre nós. —

Falei, olhando em seus olhos.

— Tudo esclarecido para você, seu idiota! Eu que sou burra mesmo.

Mas tudo bem, pode comer quem você quiser, vou fazer o mesmo. Sou
livre, não é, mesmo? Sou jovem e bonita. Chega de ficar esperando um cara

sentir amor por mim, ainda mais um que morre de medo de

relacionamentos. Vou para casa, pois já cansei dessa noite. E de você

também. — Disse, se levantando.

— Vai com quem a uma hora dessas? Espera que vou pedir um táxi,

pois está tarde. — Ela se virou, vermelha de raiva e disse:

— Enfia o táxi e a preocupação onde você quiser, desgraçado. Vadio,

puto, sem coração.

Antes de se virar, mostrou o dedo do meio parecendo uma criança

birrenta. Voltamos à estaca zero novamente. Sabia como no dia seguinte ela

não olharia na minha cara. Foda-se! Eu não estava nem aí.


Ouvi batidas na minha porta, mas não tive coragem de me levantar

para abrir. Era domingo e com certeza todos deveriam estar reunidos para

almoçar na casa da Camila. Eu tinha que pôr na minha cabeça que essas

pessoas não eram a minha família, que eles gostavam de mim, mas ficava

só nisso mesmo. Eu amava todos eles, principalmente, aquele desgraçado

do Vinícius. Mas tinha prometido a mim mesma que nunca mais voltaria a

transar com ele. Eu precisava ter amor próprio, deixá-lo se envolver com

quem quisesse. Ouvi mais uma batida na porta e decidi me levantar de

camisola mesmo, com os cabelos bagunçados. Abri a porta e vi Camila com


uma vasilha cheia de comida, ela estava sozinha. Entrou em casa e eu me

joguei no sofá.

— O que aconteceu, amiga? Te esperamos para almoçar, mas você

não apareceu. Aconteceu alguma coisa? Está doente? — Ela se sentou e, eu

coloquei minha cabeça em seu colo. Já estava chorando.

— Eu sou uma idiota mesmo. Mereço apanhar na cara. Por favor,

amiga, me bate? — Escutei sua risada e funguei.

— Por que está assim toda descabelada? Cadê aquela Anne vaidosa?

Aquela que já acorda toda perfeita? Não vai me dizer que todo esse

sofrimento é por conta de macho? Pior, que esse macho é meu cunhado

Vinícius? — Me levantei e sentei, olhando para ela.

— É por causa dele mesmo. Mas fique sabendo que não é porque eu

quero. Me apaixonei por ele, amiga, eu o amo tanto... nós voltamos a

transar há um tempo, mas sexta-feira eu o vi no bar com uma jornalista e

não aguentei, falei um monte pra ele. Agora estou aqui, sofrendo. Será que

ele não tem coração? — Peguei a vasilha de sua mão, abri e fui pegar uma
colher. Voltei para o sofá e comecei a comer, era a lasanha especial da

Maria Flor.

— Vocês estão nessa há quase um ano, então não acredito que

Vinícius não sinta nada por você. Ele só não quer admitir, boba. — Camila

disse, remexendo em uma mecha de cabelo meu. Eu não sabia se comia, ou

se chorava.

— Eu não quero mais saber dele. Vou focar em mim e no meu

trabalho. Estou até pensando em sair dessa casa e alugar outro canto, não

quero mais olhar na cara dele, já basta no trabalho, porque sou obrigada.

— Deixa de besteira, você não vai se mudar daqui. Esqueceu que

você é a madrinha das minhas filhas e minha melhor amiga? Vem aqui,

amiga, eu sei o quanto dói sofrer por amor, mas você vai superar as

dificuldades. Você é linda, engraçada, sabe contar piadas... Ainda vai

encontrar um homem lindo, que vai te fazer a mulher mais feliz desse

mundo. E se você não encontrar vai ser feliz sozinha, porque homem não é

sinônimo de felicidade para ninguém. Vou até a pracinha levar as meninas


para um passeio e vim aqui te convidar. Nem ouse me dizer não, o dia está

lindo e já são quase cinco horas da tarde. Vá tomar um banho, vou te

esperar lá em casa. — Ela disse, se levantando, sem querer ouvir que eu não

queria sair de casa.

Bufei, seguindo para a direção do banheiro. Coloquei um short jeans,

uma blusinha de algodão, sequei meu cabelo e o prendi; fiz uma

maquiagem leve. Depois peguei meu celular, calcei minha rasteirinha e saí,

trancando a porta. Nem ousei olhar para a casa do puto do Vinícius.

Encontrei Anne puxando o carrinho de bebê da Júlia; Maria Flor estava em

sua bicicleta saindo pelo portão.

— Cadê o seu marido? Ele não vem conosco? — Perguntei,

empurrando o carrinho.

— Está dormindo. Ele não dormiu muito bem a noite passada, Júlia

chorou, praticamente, a noite toda. Os dentinhos dela estão nascendo.

— Bebê dá muito trabalho, né? Eu quero ter filhos, mas só quando

tiver a minha casa e minha vida financeira estabilizada. Ah, e casada, claro.
— Sou mãe de primeira viagem, mas o Átila já é mais experiente.

Têm coisas que eu não sei como fazer, então ele sempre está me ensinando.

Meu marido é maravilhoso e um ótimo pai. — Comentou, trancando o

portão.

— Você é uma mulher de sorte. Terminou o noivado com aquele

embuste e encontrou um homem que é completamente apaixonado por

você, que te respeita, e que te deu duas filhas perfeitas. Sua história daria

um ótimo livro. Já a minha... é um verdadeiro desastre.

Chegamos na pracinha e notei que tinham várias pessoas com seus

filhos; Maria Flor começou a andar de bicicleta enquanto Camila estendia

uma manta sobre a grama. Colocou o bebê conforto, com a Júlia, em cima

do tecido; a pequena começou a olhar para todos os lados, admirando tudo.

Era apenas um bebê, mas já era curiosa. Me sentei perto da Camila, que

pegou uma bolsa da parte de baixo do carrinho e começou a tirar umas

frutas de dentro, colocando dentro de uma cestinha. Deixou duas garrafas


de águas e duas de sucos. Era praticamente um piquenique. Maria Flor

deixou a bicicleta no chão e se sentou perto de nós duas.

— Estamos fazendo piquenique, mamãe? Podíamos ter chamado o

tio Vini, ele estava tão tristinho, acho que ele está ficando doente. —

Comentou, pegando duas uvas e comendo. Olhei para Camila, balançando a

cabeça. Essa criança reparava em tudo.

— Por que você acha que o tio Vini está doente, amor? Ele te disse

algo? — Camila perguntou, estendendo uma garrafinha de água em sua

direção, que pegou e tomou um gole.

— Porque eu o escutei, junto com o tio Nico, eles estavam

conversando. Tio Vini disse assim: Eu só posso estar doente, irmão, estou

me sentindo estranho, não consegui fazer nada com ela. Ele ia contar mais,

só que na hora, eu apareci e perguntei o porquê ele estava estranho. Eles se

olharam e tio Vini disse que era assunto de adulto. — Maria comentou e se

levantou. Depois pegou sua bicicleta do chão, montou e voltou a brincar.


— Aposto como estavam falando da tal jornalista que ele estava na

sexta-feira no bar. Tomara que tenha brochado mesmo, e que nunca mais

levante. Deus me livre desejar o mal para os outros, mas Vinícius precisa de

uma lição. Só porque é bonito acha que pode tudo.

— Maria Flor é muito curiosa, ela ouve tudo. Ainda bem que eles a

viram a tempo, porque depois, ela ia encher a cabeça do pai de perguntas.

Acredita que um dia desses ela perguntou se o coração dói quando estamos

apaixonados por alguém? Átila só faltou infartar. Mas ela disse que ouviu

isso na escola, das meninas mais velhas.

— Pior que o coração dói mesmo, a alma dói, tudo dói. —

Comentei, pegando uma maçã e mordendo. Camila passou a mão nas

minhas costas e comecei a chorar, eu era uma trouxa mesmo.

Depois de uma hora na pracinha, resolvemos voltar para casa. Eu

ainda tinha que passar meu jaleco e arrumar a casa. Como passei o dia todo

dormindo, não fiz nada, nem mesmo lavei minhas roupas. Ajudei Camila a

colocar o carrinho da Júlia para dentro de casa e saí indo em direção a


minha casa. Balançava as chaves na mão quando comecei a subir os dois

degraus. De repente, o ordinário do Vinícius saiu de dentro da casa dele,

nossos olhares se encontraram. Ele parou e ficou me olhando. Acenou para

mim e abriu um sorriso falso, tão falso quanto ele. Fechei minha cara, em

seguida, entrei, batendo a porta. Poderia até estar agindo como uma

adolescente boba, mas estava no meu direito. Eu estava sofrendo por ele.
Já fazia, praticamente, quinze dias que Anne não falava comigo; no

trabalho, ela falava o básico e sempre me chamava de senhor. Eu estava

odiando esse modo de ela me tratar. Estava sentindo falta das suas piadas e

das suas gargalhadas. Antes, almoçávamos juntos todos os dias, agora ela se

sentava o mais longe possível de mim. Não estava conseguindo assimilar

tudo isso. Eu fui um completo escroto, tinha consciência disso.

Certo dia, estava chovendo muito e me ofereci para dar uma carona a

ela, mas ela negou, disse que iria com um amigo. Fiquei pensando que

amigo seria esse... ela só podia estar inventando. Entretanto, descobri que
não era mentira, pois a vi entrando no carro do Ítalo, o anestesista.

Sinceramente, não gostei nada daquilo. Eu não sabia mais o que fazer para

ela voltar a falar comigo, Anne era muito teimosa e eu um cabeça dura.

Porém, ela tinha razão, eu tinha machucado seu coração, sentia esse peso na

minha consciência. Por mais que houvéssemos conversado sobre transar

sem compromisso, a partir do momento que ela começou a ter sentimentos

por mim, eu deveria ter me afastado. Acabei a magoando e não sabia o que

fazer para consertar isso.

Conversando com Camila esses dias, descobri que Anne estava

muito magoada comigo; minha cunhada disse que se eu não gostasse da

Anne da mesma forma que era pra ser sincero com ela e me afastar, pois

Anne era uma garota legal, que merecia encontrar alguém que a amasse de

verdade. Aquele comentário me deixou sem palavras, não me senti bem

quando ela disse que Anne merecia alguém que a amasse. Quando

começamos a nos encontrar estava tudo esclarecido... eu estava agindo da

mesma forma que Isis agiu comigo quando eu era adolescente.


Eu ainda tentei explicar a Camila que havia um combinado entre

nós, porém Camila disse que não mandamos nos nossos sentimentos e não

podemos evitar de se apaixonar por alguém. Fiquei com suas palavras em

meus pensamentos durante dias. A culpa estava me consumindo.

Não estava sendo sincero comigo, pois há tempos vinha negando

muita coisa em minha vida. Eu tinha trinta e um anos, e precisava parar de

viver no passado. Não era mais um adolescente.

Parei a minha moto em frente à farmácia do meu irmão e desci,

deixando o capacete em cima. Entrei na farmácia e, assim que Átila me viu

ficou me olhando em confusão, já que fazia tempo que eu não aparecia ali.

— Aconteceu alguma coisa? Está doente e veio comprar remédio, ou

camisinhas? — disse, brincando.

— Não vim comprar nada. Só parei aqui na frente e resolvi entrar. —

Falei, reparando que a farmácia estava indo muito bem. Não faltava

produtos nas prateleiras. — Ultimamente estou me sentindo estranho. Será

que estou doente? O papai morreu de infarto, será que estou infartando? Às
vezes, sinto uma dor enorme no meu coração e fico bem inquieto —

comentei com Átila.

— Dor? Como assim? Por que ainda não foi ao cardiologista?

Vinícius, isso é sério, cara, se você está sentindo algo, o melhor a se fazer é

procurar um especialista — disse, preocupado.

— Mas é que quando eu tinha dezessete anos, senti a mesma dor. Na

verdade, eu acho que estou gostando da Anne, mas a magoei muito. —

Átila sorriu.

— E por que está sentindo dor? Gostar de alguém não dói —

comentou.

— O que me dói é saber que fui imaturo. Cara, pensa comigo... Eu

transei com ela, a levei para um passeio, a iludi de tantas maneiras... —

sacudi a cabeça — Depois conheci uma mulher na academia e sai com ela

várias vezes. Anne me viu com ela no bar, e enxerguei a decepção no seu

rosto. Agora, ela não quer olhar na minha cara. Se fosse ao contrário, será

que eu teria gostado? — Falei, olhando para ele e esperando uma resposta.
— Lembra da nossa conversa após o almoço quando estávamos em

casa? Eu e Camila ainda nem estávamos namorando na época. Você disse

que não se amarraria em ninguém. Pois esse dia chegou! Se você está

gostando da Anne, vá atrás, procure consertar essa bagunça que você se

meteu.

— O problema é que acho que ela já está em outra, porque a vi

saindo do hospital com o anestesista, aquilo me doeu, sabe? Se eu não

estivesse no hospital, teria partido pra cima dele.

— Violência não leva a nada. Conversar, sim — disse.

— Quando você quis conquistar a Camila, o que você fez? —

Perguntei, me sentando em um dos bancos altos que ele tinha na farmácia.

— Levei ela para jantar na cidade, depois fomos ao motel. Mas não

significa que você tem que fazer a mesma coisa. Faça o que você achar

melhor, mulher gosta de ser paparicada, gosta de se sentir especial e única.

Mas faça, porque você quer fazer, não porque acha que ela está saindo com
outro. Isso que você está sentindo é amor, paixão. — Disse, tocando meu

ombro.

— Obrigado, meu irmão. Foi bom vir aqui falar com você. Como

irmão mais novo, eu me senti perdido. Ainda bem que tenho vocês comigo,

ontem mesmo conversei com Nicolas. Vou pensar bem no que você me

disse. Quero ter certeza dos meus sentimentos, pode ser que seja apenas

desejo. — Disse, saindo da farmácia.

Era isso mesmo... eu estava sentindo apenas desejo por Anne. E

como não estávamos mais ficando, eu estava sentindo sua falta, era isso.

Mas por que algo me dizia que não era apenas isso? Liguei a moto e fui

direto para a academia. Era quase sete da noite e meu turno no hospital

tinha terminado há algum tempo. Estava cansado, mas queria malhar, suar e

colocar todo esse estresse para fora. Ao chegar na academia fui direto trocar

de roupa; coloquei uma camiseta e uma bermuda, calcei meu tênis e deixei

minha mochila no armário. Comecei na musculação, queria levantar

bastante peso. Notei que tinha poucos alunos naquele horário. Fiz uma série
de exercício, que me deixou todo suado. Peguei minha garrafa de água e

bebi um pouco. Meus olhos foram parar na morena que estava me

observando, sorrindo, era Michele. Ela tinha acabado de sair da esteira e se

aproximou de mim.

— Quem é vivo sempre aparece. Tudo bem, Vinícius? — Ela usava

um short minúsculo deixando suas coxas grossas à mostra.

— Tudo bem, sim. E com você? — Ela sorriu e passou a mão no

meu braço.

— Estou bem, quase concluindo meu trabalho. Só falta uma coisa

para acabar, mas com certeza irei conseguir. Até mais, Vini. — Disse e saiu

andando.

Eu segui para o vestiário. Iria pegar minha mochila e tomar uma

ducha, ainda pretendia passar no restaurante da Conceição para jantar. O

Nicolas, com as manias dele de dieta, não comprou carne, pois só comia

comida saudável. Eu gostava de comer carne, sanduíches, gostava de tomar

refrigerantes... era para isso que eu malhava.


Entrei no banheiro, tirei minhas roupas e segui para o chuveiro.

Após o banho, saí. Do lado de fora, subi em cima da minha moto e já ia

saindo quando ouvi Michele me chamar:

— Vinícius, já vai? Que tal um chope? — perguntou.

Ainda em cima da moto, respondi:

— Hoje não. Estou tão cansado que só quero a minha cama. Acabei

de sair de um plantão e só vim malhar, porque estava precisando. Mas

podemos marcar outro dia. — Ela fez um biquinho, que eu achei forçado.

— Poxa, Vini, naquele dia que você me levou ao motel, nós não

fizemos nada, além de uns bons amassos. Eu compreendi perfeitamente,

pois notei que você não estava bem, estava cansado. Aí agora vem com essa

desculpa? Estou quase acreditando que sou feia. — Quase revirei meus

olhos com seu comentário.

Michele passou a mão no meu rosto e, em seguida, desceu e ficou

alisando meu braço. Nesse exato momento, Anne e Clara apareceram, os


olhos de Anne foram para a direção onde Michele alisava... senti sua frieza

quando passou por nós dois e nem sequer cumprimentou.

— Então o nosso encontro fica para outro dia, Vini. Me liga. —

Michele disse, beijando o canto da minha boca. Depois correu para

encontrar as duas, que estavam acabando de entrar na academia.

Por alguns minutos fiquei tentando criar coragem para ligar a moto e

ir para casa. Será que se eu entrasse na academia e tentasse falar com Anne

alegando que não era nada daquilo que ela estava pensando, ela acreditaria?

Resolvi ir para casa, pois nada do que eu dissesse, ou fizesse, a faria

acreditar em mim. Eu merecia isso mesmo. Que ela me desprezasse!


Três semanas se passaram desde que Vinícius e eu ficamos pela

última vez; eu estava mais focada em mim e no meu trabalho, pensando em

pedir para o doutor Maurício me transferir para o município onde meus pais

estavam morando, assim ficaria mais perto deles. Eu e Ítalo, o anestesista,

nos tornamos amigos; um dia desses, ele me chamou para sair depois que

eu disse que estava muito triste; me levou para dançar e eu me diverti

muito. Até pensei que ele estava interessado em mim, mas ele me confessou

que era gay, e que só queria uma companhia para sair. Fomos a boate na

cidade e ele me apresentou aos seus amigos; na ocasião, acabei dormindo


na casa dele, pois morava sozinho. Vinícius me olhava quando estava com

ele; Ítalo fingia que era hétero e quando Vinícius ficava nos olhando, ele

passava a mão no meu rosto. Precisava admitir que estava adorando brincar

com a cara daquele idiota. Ele tentou falar comigo várias vezes, mas eu não

quis ouvir, tinha certeza de que se eu lhe desse ousadia, pararia em sua

cama mais uma vez.

Minha mãe chegaria no dia seguinte para realizar exames com o

cardiologista no hospital, e eu pretendia esperar por ela na rodoviária, bem

cedo. Eram quase cinco da tarde e eu estava voltando do supermercado,

tinha ido fazer compras, pois como fazia a maioria das minhas refeições no

hospital não costumava comprar muitas coisas. Estava andando com duas

sacolas nas mãos quando um carro parou próximo a mim, reconheci a

pessoa, era aquele cara que tinha convidado eu e a Clara para irmos à sua

chácara naquela vez em que fiquei muito bêbada. Senti um frio na espinha,

mas continuei andando; estava usando legue com um top e o cara me olhava

como se eu fosse um pedaço de carne.


— A gatinha precisa de ajuda? Posso te levar em casa. Podemos

terminar o que estávamos planejando naquela noite. — Disse, e notei que

tinha mais um cara com ele dentro do carro.

— Na verdade, eu nem sei o que planejávamos fazer, não te

conheço. Muito obrigada, mas já estou chegando em casa. — Falei,

andando mais rápido.

— Posso te lembrar o que iríamos fazer naquela noite. — Ele abriu a

porta e ia saindo, mas notou que alguém estava me chamando. Depois

disso, entrou no carro dando partida e saiu.

— Anne, espera... — Cinthia, uma das seguranças do supermercado,

disse enquanto corria atrás de mim. Senti um alívio enorme quando vi que

era ela. As ruas de Limoeiro eram praticamente vazias de pedestres, a

maioria andava de motos. Parei e fiquei esperando por ela.

— Você esqueceu o seu celular no caixa, sua maluca. — Disse,

ofegante parando em minha frente.


— Nossa! Onde estou com a cabeça?! Ando muito esquecida.

Obrigada por me entregar — falei, agradecendo.

— Aquele carro parou perto de você... eles estavam te

incomodando? Muito cuidado com esses dois caras, faz horas que eles estão

atrás de confusão por aqui. Agora vou voltar para o trabalho. — Declarou,

se virando. Acenei para ela e segui andando em direção a minha casa.

Abri o portão e entrei, trancando-o logo em seguida. Encontrei Maria

Flor regando suas plantinhas. Quando me viu, sorriu.

— Oi, tia Anne. Olha a plantinha que meu tio Nico me deu —

apontou — Está florescendo, vem ver. — Disse, pegando na minha mão e

me levando até o vaso da rosa vermelha.

— Vai nascer uma linda flor, igual a você. Agora vou entrar, porque

preciso arrumar essas compras na geladeira. — Me despedi da pequena e

entrei em casa. Meu celular tocou, era o Ítalo. Atendi, sorrindo.

— Que tal um cineminha hoje? Depois podemos comer comida

japonesa — convidou, animado.


— Nossa! Já deu até água na boca. Fico prontas às oito — avisei.

— Passo aí para te pegar então. Beijos. — Disse e desligou o celular.

Comecei uma faxina e coloquei uma música para me dar ânimo; tirei

os lençóis da cama para trocar. Já era quase sete da noite quando acabei.

Peguei meu celular e liguei para minha mãe, ela me confirmou que chegaria

cedo no dia seguinte. Tomei um banho e fui me arrumar; coloquei uma

calça jeans, cintura alta, uma blusinha curta, que mostrava minha barriga,

calcei o tênis. Fiz uma maquiagem forte, coloquei batom vermelho, prendi

meu cabelo, peguei a minha bolsa e saí. Na hora, recebi uma mensagem do

Ítalo avisando que já estava em frente de casa. Coloquei minha bolsa de

lado, tranquei a porta e saí. Assim que estava saindo pelo portão, Vinícius

estava chegando. Depressa, Ítalo saiu do carro, me deu um selinho e abriu a

porta para mim; eu entrei e o esperei dar a volta no veículo para entrar

também. Vinícius continuou nos olhando; o vidro do carro era escuro, mas

quem estava dentro dava para ver quem estava fora.


— Sua maluca! Qualquer hora dessas, eu vou apanhar desse

enfermeiro com cara de mau. Estou tremendo, olha. — Ele disse,

estendendo a mão trêmula em minha direção, comecei a gargalhar. Pedi

para o Ítalo não ligar o carro ainda, porque era para o Vini acreditar que

estávamos dando uns amassos. Vinícius desceu da moto e seguiu em nossa

direção. Depressa, Ítalo ligou o carro e saiu dali. Fiquei olhando o Vinícius

pelo retrovisor conforme o carro foi se distanciando.

— Esse homem está com sangue nos olhos, ele vai me matar. A

expressão no rosto dele era de ciúmes. — Comentou, parando no sinal.

— Problema dele, eu já cansei. Ele que vá atrás das amiguinhas de

foda dele — falei com mágoa na voz.

— Homem quando sente que perdeu uma mulher, vira o próprio

demônio para conseguir ela de volta. Se prepara, porque ele virá com tudo.

Espero que meu belo rostinho sobreviva a tudo isso.

— Ele não é violento, jamais vai brigar com você nos tapas. O

máximo que vai fazer é ficar te encarando.


— Assim espero, porque meu plano não cobre cirurgia plástica. —

Disse, me fazendo sorrir.

Chegamos ao shopping. Ítalo estacionou o carro, descemos e fomos

logo para a fila do cinema. Compramos os ingressos, pipocas e

refrigerantes, depois entramos. Iríamos assistir: Como eu era antes de você.

Eu já havia lido a história, mas seria a primeira vez que assistiria ao filme.

Chorei feito uma condenada; nunca iria perdoar o protagonista por

ter feito o que fez com a mocinha. Eles mereciam ser felizes. Soluçava

enquanto olhava os créditos passando na tela, comia pipoca e bebia um

pouco do refrigerante. Olhei para o Ítalo, que estava flertando com um

rapaz ao lado dele. Ele era inacreditável, era tão puto quanto meu vizinho.

Fomos para a praça de alimentação, mas antes, os dois trocaram

números de telefones. Ele era rápido na paquera. Comi tanto sushi que

fiquei até pesada. Voltamos para Limoeiro; quando o Ítalo me deixou em

casa já era quase meia noite. No dia seguinte, cedo, eu teria que pegar

minha mãe na rodoviária. Entrei em casa e fui direto tomar um banho; na


hora, senti um enjoo e vomitei tudo que tinha comido, minha carne tremia e

eu suava muito. Passei a mão na testa e notei que estava gelada. Me arrastei

até a cama e me deitei. Exagerei no sushi.

Marquei com o senhor Antônio para que ele me levasse até a

rodoviária para pegar minha mãe, e logo em seguida iríamos direto ao

cardiologista. A consulta dela estava marcada para as dez horas da manhã,

no hospital. Consegui agendar com o doutor Marcos, ele era um excelente

profissional. Peguei meu celular e disquei seu número, mas apenas chamou.

Ele não atendeu. Droga! Saí de dentro de casa para ver se via algum táxi na

rua, mas era difícil quando um passava por ali, eles passavam mais na rua

do hospital. Já em frente de casa, tentei mais uma vez ligar para o senhor

Antônio, mas nada de ele atender. Meu Deus! A essa hora o ônibus que ia
até a rodoviária já havia passado. Me deu vontade de chorar. Ainda estava

enjoada e com muita dor de cabeça.

Peguei meu celular e liguei para minha mãe, ela me disse que faltava

menos de meia hora para chegar. Falei que podia atrasar um pouco, pois não

estava conseguindo falar com o senhor do táxi que contratei para ir buscá-

la. Assim que me virei para entrar novamente, Vinícius saiu pelo portão em

sua moto, pronto para ir à academia. Quando me viu, totalmente

desesperada, se aproximou parando perto de mim. Não tive reação alguma

quando ele falou comigo. Já fazia quase um mês que não falávamos um

com o outro.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou, com a metade do

capacete na cabeça. Ele estava com fones no ouvido e mastigava um

chiclete; imaginei que seu hálito estava com gosto de menta. Notei que

estava um pouco abatido, seus cabelos estavam um pouco compridos.

Vinícius era tão bonito. Balancei minha cabeça, me negando a achá-lo lindo

pela manhã.
— Estou tentando ligar para o taxista que ia me levar até a

rodoviária para buscar minha mãe, mas ele não atende. Estou aqui na frente

na esperança de ver um táxi passando, mas não vi nenhum até agora. —

Falei, verificando a hora no celular. — Droga! Vou me atrasar. — Exclamei,

olhando de um lado ao outro da rua.

— Sobe, eu te deixo lá. — Disse, pegando o capacete reserva do

assento e me entregando. Não era hora para agir com orgulho, pois minha

mãe já devia estar quase chegando. Mas eu não conseguiria subir em sua

moto sem lembrar das coisas que aconteceram e que nos distanciaram.

— Vinícius, eu prefiro esperar mais um pouco para ver se o senhor

Antônio aparece, não quero te atrapalhar. Com certeza você tem hora

marcada na academia, e tem o seu trabalho. Obrigada, mas vou aguardar um

pouco mais. — Disse, olhando em seus olhos.

— Deixa de ser boba, Anne. Uma vez na vida aja como uma adulta,

perder um dia de treino não é o fim do mundo e você está precisando de

ajuda. Não iria me sentir bem se passasse por você sem te oferecer uma
carona, poxa, e a rodoviária nem é tão longe assim. Posso te levar e ir

trabalhar sem problema algum. Sua mãe já deve ter chegado e não é bom

que ela fique te esperando, sozinha. Ela pode ser assaltada, pensa nela,

caramba! — Terminou de falar me encarando. Ele tinha razão, embora

tenha me chamado de infantil.

Peguei o capacete da sua mão e coloquei na minha cabeça. Ele me

entregou sua mochila e coloquei em minhas costas. Subi na moto,

abraçando sua cintura, com certeza eu não iria dar uma de orgulhosa e

segurar no apoio da moto. Abracei sua cintura mesmo, sentindo seu cheiro.

Nem café tinha tomado, mas me senti enjoada de repente. Vinícius ligou a

moto e saímos em direção a rodoviária. Paramos no sinal. Após o sinal

abrir, nós enfim chegamos a rodoviária. Vinícius parou a moto no

estacionamento, desci e, ele logo desceu também. Achei que ele fosse

apenas me deixar e ir embora. Devolvi sua mochila.

— Obrigada por me trazer. — Parei, olhando para ele, que estava

colocando os óculos escuros. Por que ele tinha que fazer isso? Algumas
mulheres passaram por nós, sorrindo para ele, que nem percebeu.

— Não precisa agradecer, você sabe que eu faria muito mais por

você. Acho que já está na hora de você parar de birra e voltar a falar

comigo. Sinto a sua falta. Você está namorando com aquele anestesista? —

Perguntou, limpando a garganta em seguida.

— Acho que isso não é da sua conta. — Falei, me virando e

começando a andar novamente.

— Tem razão, não é da minha conta. Você é livre e dona de si, não é

mesmo? — disse com desdém. Parei de andar e me virei olhando para ele.

— Você está debochando de mim? Não gostei. E não gostei que me

chamou de infantil. Sobre sentir a minha falta, não minta, por favor. —

Comecei a andar novamente em direção ao desembarque.

— Nesse exato momento você está sendo infantil. — Julgou,

parando de andar e ficando na minha frente.

— Você não conversou comigo a respeito dos seus sentimentos por

mim, a única coisa que sabe fazer é se afastar. Eu tenho culpa, sim, mas
você não olha na minha cara, não quer estar perto de mim. Eu já estou

cansado disso, sabia? Todas às vezes eu tentei conversar com você, porém

você não quis. — As pessoas que passavam perto de nós dois ficavam nos

olhando, achando que era briga de casal.

— É sério que está me culpando? É inacreditável! Você realmente é

um babaca. Quer saber a verdade? Eu me apaixonei por você sim. Por mais

que você me dissesse que nada, além de sexo, iria rolar entre a gente, eu me

apaixonei e fiquei esperando por quase um ano você dizer que também

estava apaixonado por mim, mas isso não aconteceu, e chega. Eu realmente

não mereço isso. Mereço alguém que me respeite, e eu já encontrei. Agora

me deixa em paz! — falei, furiosa.

Não sabia dizer o exato momento em que tudo aconteceu, mas

quando percebi Vinícius tinha avançado contra mim e estava me beijando;

sua mão segurava na minha cintura tão forte que senti um pouco de dor. Eu

o empurrei sentindo raiva de mim por me permitir ser fraca. Vinícius se

afastou e ficou me olhando com seus olhos negros, perdidos; sua respiração
quente saía de suas narinas, seus lábios se abriram, mas ele não conseguiu

dizer nada. Eu esperei para ver se ele confessaria algo, mas de sua boca só

saiu um rosnado. Vinícius saiu resmungando algo que eu não consegui

discernir. Fiquei olhando para aquele homem alto e forte, que me deixou

para trás apenas com o gosto da sua boca na minha.


Andei depressa e subi na minha moto sentindo meu coração bater tão

forte dentro do peito que pensei que ele fosse parar a qualquer momento.

Minha respiração estava saindo como se eu tivesse corrido uma maratona.

Após beijar Anne, eu desejei confessar que também estava sentindo algo

por ela, mas o medo estava me deixando perturbado, pois eu já havia

confiado em uma mulher no passado, já tinha entregado meu coração e ela

pisou em cima, sem dó nenhuma. Anne estava apaixonada por mim, ela

confessou. Minha única reação foi beijá-la. Eu não tinha como dizer em

palavras que estava sentindo a mesma coisa, por isso a beijei. Ela estava
namorando com aquele cara. Olhei no relógio e vi que estava quase na hora

de entrar no trabalho. Liguei a moto e saí dali.

Ao chegar no hospital, fui informado sobre um paciente da ala

infantil com câncer; não era dia de cantar músicas nem de contar histórias,

Pedrinho, um dos pacientes mais novos não estava nada bem; ele tinha

câncer no fígado, e estava internado desde os três anos. Durante o tempo

que estava conosco, eu me apeguei a ele, que era como se fosse um

sobrinho para mim. Ele estava com quatro anos, e era uma criança muito

esperta; me chamava de tio Vini e dizia que quando crescesse queria ser

igual a mim.

Entrei no quarto e o encontrei dormindo; a reação da quimioterapia

sempre o deixava dessa forma, enjoado e ele passava o dia todo dormindo.

Mas naquele dia era diferente, porque ele estava sedado, já que estava

sentindo dor. Ao examiná-lo notei que sua barriga estava maior do que o

normal. Deixei-o com sua mãe e fui chamar o doutor Álvaro. Assim que

retornamos para a sala, o doutor começou a examinar o menino, sua mãe


disse que ele estava se queixando de dor. Após o médico prescrever os

exames, o levamos para a sala de ultrassom. Aguardamos os exames

ficarem prontos.

Eu estava preocupado com ele. Assim que os exames ficaram

prontos, levei até a sala do doutor Álvaro; ele me disse que já imaginava o

diagnóstico, mas que precisava de uma confirmação. O câncer estava

voltando de forma mais agressiva e era inoperável. Praticamente, não tinha

mais nada a se fazer, o que poderia ser feito, nós fizemos. Aquela notícia

havia acabado com o meu dia, eu não tive reação algum. Após o doutor

Álvaro conversar com a mãe do Pedrinho, ela agradeceu a todos da nossa

equipe. Me despedi do menino dizendo que viria visitá-lo mesmo na folga;

fechei minha mão em punho e toquei na sua. Não conseguindo segurar a

emoção, saí do quarto e fui em direção ao banheiro, e lá não pude mais

continuar segurando o choro; por muitos anos segurei o choro e me fiz de

forte, mas quando o assunto era criança, eu não conseguia. Elas mereciam

tudo de bom dessa vida, mereciam viver, correr na rua, brincar e não

ficarem trancadas dentro de uma sala de hospital, nos seus melhores anos.
Lavei meu rosto e saí do banheiro. Todos os enfermeiros sentiram

quando souberam do Pedrinho, pois sabíamos que só um milagre o salvaria.

Do lado de fora do hospital vi o momento em que o Ítalo estava

andando em direção ao seu carro. Desci da minha moto e corri para tentar

alcançá-lo. Quando me viu, sua expressão mudou e ele ficou pálido. Eu não

iria arrumar briga, mas ia deixar bem claro que iria tentar reconquistar a

Anne.

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou, abrindo a porta do carro.

Parei e fiquei olhando para ele, parecia que estava com medo de mim.

— Ainda não. Mas como eu sou um cara legal, estou te

comunicando que vou reconquistar a Anne. Então é melhor você sair do

meu caminho. — Ele me olhou e, em seguida, disse:

— Tudo bem, boa sorte. — Falou e entrou no carro.

Fiquei o olhando sair do estacionamento e sumir no meio da rua. Eu

estava falando sério em reconquistar a Anne. Subi na moto e fui para casa,

nem pra academia fui. Meu celular começou a tocar quando ainda estava no
estacionamento e vi que era Michele. Não atendi. Liguei a moto e fui para

minha casa. Quando cheguei, cruzei com Átila, que estava chegando do

trabalho também; ele notou minha expressão de tristeza e me perguntou se

estava tudo bem. Depois de explicar tudo, fui para minha casa. Anne estava

sentada com a mãe, e conversando com Camila do lado de fora da casa

onde almoçávamos aos domingos. Fui até a senhora, que sorriu feliz ao me

ver.

—Boa noite, dona Solange. Anne, Camila. Fez uma boa viagem? —

Perguntei, lhe dando um beijo no rosto.

— Fiz sim, meu filho. Soube que foi você quem foi levar minha filha

na rodoviária. Deus te abençoe sempre. Você é um rapaz muito bondoso. —

Disse, passando a mão no meu rosto.

— O que a senhora precisar pode contar comigo. Vou para casa,

tomar um banho e dormir. Estou exausto. Beijos, meninas. — Falei,

olhando para Anne.


Segui para casa entrando e passando direto para meu quarto. Tomei

um banho e, ao terminar, coloquei uma calça de moletom e fui ver o que

tinha para comer. Escutei uma batida na porta e abri; me surpreendi ao me

deparar com Anne do lado de fora, segurando um prato com três fatias de

pizza. Seus olhos foram para minha barriga, mas não se demoraram muito,

pois ela logo ergueu o olhar e sorriu sem jeito.

— Trouxe pizza. Mamãe que mandou, eu não queria, mas ela

insistiu. Disse que é para agradecer por você ter me levado na rodoviária.

— Declarou, estendendo o prato em minha direção.

— Pode deixar ali em cima da mesa, por favor? Estou com as mãos

ocupadas. — Disse, mostrando a toalha. Ela revirou os olhos e entrou

colocando o prato em cima da mesa. Quando ia saindo, - eu a segurei.

— Anne, espera. Precisamos conversar. — Falei, ficando em sua

frente.

— Vinícius, a minha mãe está na casa da Camila, conversando com

ela, eu só vim deixar os pedaços de pizza, porque ela pediu, mas ela logo
vai sentir a minha falta.

— Me ouve pelo menos, poxa! — Pedi, segurando seu braço.

— Não faça isso, você quer apenas me levar para sua cama. — Senti

mágoa em sua voz.

— Não é isso. Quero que você saiba que eu quero tentar. Podemos

começar tudo de novo. O que acha de, no sábado, nós saímos para jantar?

Conversamos sobre tudo isso. O que me diz?

— Acho melhor não, é difícil acreditar em você novamente. Eu já fui

bastante magoada com essa história. Melhor esquecer tudo.

— Por favor, me dê a chance de provar que realmente quero tentar

de novo. Dessa vez será diferente. Nada desse negócio de ser somente sexo

— falei, quase implorando.

— Vini, o seu irmão pode chegar a qualquer momento, e não quero

que ele pense que estamos fazendo algo na casa de vocês. Você está,

praticamente sem roupas. Qualquer um que chegar aqui, vai pensar besteira.
— Então diz que aceita sair comigo. Um jantar e conversamos.

Simples assim.

— Não é tão simples assim. Preciso ir. Nos falamos outra hora.

Anne saiu pela porta sem olhar para trás. Fiquei parado, me

culpando, pois percebi que já era tarde para reconquistar essa garota. Eu

estava gostando dela de verdade, e faria tudo diferente se ela me desse uma

chance.
Tinha acabado de deixar minha mãe na rodoviária, só estava

esperando a hora de ela embarcar. Ela passou uma semana comigo; eu

precisava desse tempo com ela. A levei para o cinema na cidade, nas

consultas... compramos roupas e sapatos. E naquele momento, ela estava

indo de volta para sua casa e eu já estava morrendo de saudades. A hora do

embarque chegou; a abracei mãe me despedindo dela, que fez algumas

recomendações.

— Minha filha, se cuide. Percebi que você não anda se alimentando

direito e, duas vezes na madrugada se levantou para ir ao banheiro e


demorou bastante. Você está muito pálida. E aquele rapaz, o Vinícius, ele

gosta de você de verdade. Dê uma chance a ele. Se você não ouvir o que ele

tem para dizer, como vai saber se ele está dizendo a verdade ou não? Te

amo, agora preciso ir. Seu pai e seus irmãos devem estar passando fome. —

Disse e me abraçou.

Eu a abracei apertado e disse que a amava muito; avisei que nas

férias iria passar o mês todo com eles. Pensei que ela não tinha notado o

meu mal-estar pela madrugada, na verdade, eu estava escondendo isso de

todos. Até confirmar as minhas suspeitas, estava evitando até falar com

Vinícius, porque não suportava sentir o cheiro do seu perfume. Ítalo me

disse que ele o procurou no hospital dizendo que iria me reconquistar e que

era para ele sair do seu caminho. Foi uma ameaça. Meu amigo me disse que

era para eu conversar e ouvir o que ele tinha a me dizer. Foi a segunda

pessoa que me disse isso.

Eu vinha enjoando desde que minha mãe chegou, e tentei ao máximo

não surtar. A última vez em que eu e o Vinícius transamos foi no riacho,


não nos protegemos. E com o acidente dos meus pais, eu havia me

esquecido de tomar o anticoncepcional. Tinha consulta marcada com a

ginecologista, e me esqueci completamente. Mas não estava querendo

surtar. Esses dias tentei falar com a Camila, mas ela estava à procura de

uma babá para ficar com as crianças, porque voltaria a trabalhar, já que sua

licença maternidade estava acabando. Eu também não fui a farmácia para

comprar um teste, porque a Malfarma era a única farmácia do bairro.

Acenei para a minha mãe quando ela se sentou perto da janela do

ônibus; assim que ela partiu, eu fui para o trabalho. Peguei o ônibus e me

sentei tirando o celular de dentro da bolsa para tentar falar com a Camila.

Ela me atendeu.

— Oi, Anne. Ainda está na rodoviária? — Perguntou e, ao fundo

ouvi o choro da Júlia.

— Estou indo trabalhar, amiga. Será que quando eu chegar do

trabalho, nós podemos conversar? Estou precisando de uma amiga pra


desabafar, e só tenho você. — Falei e me levantei puxando a corda do

ônibus. Já estava perto do hospital.

— Aconteceu alguma coisa com a sua mãe? — perguntou,

preocupada.

— Não, está tudo bem com ela. O assunto é sobre mim mesmo. Mais

tarde te conto. Agora vou descer do ônibus e ir trabalhar. Beijos. —

Desliguei o celular e desci do ônibus.

Aquele era o dia de contar histórias para as crianças. Depois que

verifiquei as alas as quais eu estava responsável fui até a sala das crianças.

Eu não tinha ensaiado nada, mas era boa em inventar. Antes mesmo de me

formar, eu já tinha um caderno onde escrevia as histórias que eu inventava,

ainda sonhava que algum dia seria uma escritora famosa. Mas conforme o

tempo foi passando o meu amor pela enfermagem falou mais alto; eu amava

ajudar as pessoas. Entrei na sala e os três enfermeiros estavam vestidos com

roupas coloridas e nariz de palhaço. Olhei para o Vinícius, que sorriu me

chamando para mais perto das crianças.


— Temos mais uma integrante na turma. Vocês já a conhecem, mas a

partir de agora, ela virá participar conosco todas as vezes. Hoje, ela vai

contar uma piada para vocês, e ela é uma muito boa nisso. — Vinícius disse

e as crianças vibraram. Eu não me lembrava de nenhuma piada.

— Aposto como vocês não tinham ouvido essa ainda. Estão prontas?

— Sim — responderam. Olhei para elas e comecei a contar.

— Uma criança entra numa loja e pergunta ao vendedor: “Boa

tarde, senhor, eu preciso de óculos.” O vendedor olha para a criança e

pergunta: “Para o Sol?” “Não, para mim!” a criança responde fazendo

todos da loja gargalharem.

As crianças começaram a achar graça da minha piada, Vinícius

também estava sorrindo. Doutor Álvaro entrou e pediu para falar com

ele, então ficaram apenas eu e os outros dois enfermeiros. Depois que

acabamos com as brincadeiras, nós saímos da sala. Não vi mais o

Vinícius e fui almoçar. Me sentei e fiquei mexendo no prato sem

vontade de comer nada. Bebi apenas o suco. Saí do refeitório e fui até o
banheiro, vomitei um pouco e me senti fraca. Passei uma água no rosto

e saí. No corredor, encontrei Vinícius com uma expressão de derrota no

rosto, me aproximei mais e perguntei o que tinha acontecido.

— O Pedrinho, a criança que estava internada aqui, ele faleceu. —

Disse, passando a mão pelo rosto.

— Oh, meu Deus! Vinícius, eu sinto muito. — Não consegui segurar

o choro, era apenas uma criança, ele era tão bom e esperto.

— O mundo é cruel. Uma criança nunca deveria morrer antes de

viver os melhores momentos da vida, essa criança tinha tantos sonhos...

Tem horas que eu me revolto e fico me perguntando: O que essas crianças

fizeram de ruim para merecer isso? — Disse e, vi que seus olhos estavam

marejados. O abracei rapidamente, tentando de alguma forma trazer consolo

a ele.

— Estou indo dar conforto a mãe dele, ela deve estar inconsolável.

Era somente eles dois. Já falei com o doutor Maurício. — Avisou, saindo

com a expressão de tristeza, me deu muita pena.


Depois que ele saiu, eu fiquei pensando... ele gostava de crianças,

dava para ver o amor que tinha por elas. Se eu estivesse mesmo grávida,

torcia para que ele entendesse que eu não fiquei grávida por querer. Sempre

que pensava nesse assunto, eu sentia medo.

Peguei uma carona com Clara e o namorado dela, eles me deixaram

em casa. Antes de conversar com Camila, resolvi ir tomar um banho e

comer alguma coisa, pois estava morrendo de fome. Enviei uma mensagem

para ela, que me disse que Júlia estava dormindo. Átila ainda não tinha

chegado da farmácia e Maria Flor estava assistindo desenhos. Assim que

bati em sua porta, ela abriu. Fomos para seu quarto, porque Maria estava na

sala; ela estava de olho na televisão, mas com certeza estaria ouvindo a

nossa conversa. Chegamos no quarto, me sentei na poltrona que tinha no

canto e baixei minha cabeça sem saber como iniciar a conversa.

— Ai, amiga, eu estou aflita e preocupada, não estou nem

conseguindo dormir direito esses dias — falei. Ela se sentou na beira da

cama e segurou a minha mão.


— O que aconteceu? Desde a hora que você me ligou, eu não parei

de pensar em você. É alguma coisa com Vinícius? — Perguntou, olhei para

ela e comecei a contar tudo.

— Eu acho que estou grávida. — contei logo de uma vez, não

aguentava mais.

— Tem certeza? Fez exames? Porque se não fez vai fazer agora e

parar de ficar desse jeito, sua expressão está igual a de uma pessoa que fez

alguma coisa de errado, e você não fez. Vou pegar alguns testes, espera. —

Se levantou da cama e foi até o banheiro. Depois voltou com mais de quatro

testes nas mãos e colocou todos em cima da cama.

— Pedi para o Átila trazer, pois mês passado pensei que estivesse

grávida, mas não era gravidez. Eu estava muito enjoada e meus seios

doloridos. — Explicou ao ver minha expressão confusa. — Agora vai lá

naquele banheiro e faça esses quatros testes. Não aguento mais essa sua

cara de aflição.
Abracei Camila e entrei no banheiro. Fiz xixi e fiquei esperando o

resultado. Chamei Camila e pedi para que ela olhasse o resultado. Sua

expressão mudou, ela olhou para mim e disse:

— Os quatro deram positivos. Você está grávida. Eu só posso te dar

os parabéns. O pai é o Vinícius? Você e Vinícius estão nessa há quase um

ano, mas ele disse ao Átila que você está namorando o anestesista. — Que

fofoqueiro esse Vinícius é.

— Ítalo é apenas um amigo, não transei com ele. Além do mais, da

fruta que eu gosto, ele lambe o caroço. — Falei, olhando para ela. — Mas,

se eu quiser, ele assume o meu filho. O Vinícius vai me odiar, amiga, tenho

certeza de que ele vai pensar que foi de propósito, mas não foi. Eu juro. —

Camila me olhou e enxugou minhas lágrimas.

— Pare de pensar dessa forma, pensa positivo. Claro que no começo,

ele vai te questionar e achar que você engravidou, porque quis, mas se ele

não quisesse correr o risco, ele que usasse camisinha. Também é dever do
homem se prevenir. Vocês vão conversar e tudo vai se resolver. Agora se

acalme — pediu. Em seguida, Júlia começou a chorar.

Agradeci a Camila por tudo e fui para minha casa pensar na minha

vida e no bebê que eu estava carregando dentro de mim, Vinícius não iria

nem querer me ouvir, tinha certeza. Entrei em casa e me joguei em cima da

cama, chorando. Precisava tentar resolver essa história... e tinha mais um

episódio dela para contar.


Já era quase meia noite quando cheguei em casa. As minhas costas

estavam doendo e sentia como se carregasse mil quilos em minhas pernas.

Eu estava triste... ninguém que trabalhasse na área da saúde se conformava

em perder um paciente, ainda mais sendo uma criança. Assim que desliguei

a moto, olhei para a casa da Anne. Pensei em bater em sua porta para

conversar, eu estava precisando. Mas não quis forçar nada, entrei em casa e

fui para o banho. Não estava com fome, então me deitei logo na cama.

Demorei para pegar no sono, pois minha cabeça estava cheia. Após alguns

minutos pensando, eu dormi.


Acordei cedo, me sentindo um caco. Peguei meu celular para ver que

horas eram, ainda faltava uma hora para ir trabalhar. Fui para a cozinha

preparar algo para comer; peguei dois ovos, bacon e fritei. Depois fiz um

café e me sentei na mesa para comer. Nicolas saiu do quarto, me deu bom

dia e se sentou com cara de sono.

— Você em casa há uma hora dessas? Está doente? — Nicolas pegou

uma xícara e colocou café.

— Hoje não tem aula. É reunião com os pais, mas vou estar na

escola. Depois vou para a academia trabalhar. E você, não vai trabalhar? —

Perguntou, pegando um pouco dos ovos com bacon.

— Estou saindo. Ontem perdemos um paciente e fiquei bem mexido,

era uma criança apenas. Às vezes, nós não damos valor ao que temos, à

nossa saúde, às pessoas importantes em nossas vidas. Eu mesmo estava me


comportando muito mal durante esses últimos anos, magoei a Anne... ela

não quer nem olhar na minha cara. E a nossa mãe sempre nos ensinou a

respeitar as mulheres. Tenho vergonha do homem que fui antes, estou

fazendo de tudo para reverter a situação com Anne. Descobri que estou

gostando muito dela, é pra valer. Mas é tarde, ela já está namorando com

outro.

— Tem certeza de que é tarde? Vocês só precisam sentar e conversar,

Vini. Não desista no primeiro obstáculo. Fale com ela sério, mostre que

você realmente quer conversar. E se depois da conversa não tiver mais jeito,

então siga em frente, a vida continua. — Disse, se levantando e tocando

meu ombro.

No caminho para o trabalho, fiquei pensativo numa forma de fazer

com que Anne me ouvisse. Cheguei ao hospital e comecei a minha rotina.

Quando deu a hora do almoço, fui almoçar; Anne estava sozinha em um

canto e mexia no celular. Não vi o anestesista, então me aproximei dela. Ao

me sentar perto, ela se assustou e quase que seu celular caiu.


— Desculpe, eu não quis te assustar. Anne, eu estou aqui, porque

mais uma vez peço que me escute. Se você não quiser conversar comigo em

outro lugar, nós podemos conversar aqui mesmo. Temos uma hora de

almoço. Se depois da conversa, você não quiser mais falar comigo nem

olhar na minha cara, eu vou te entender perfeitamente, pois mereço o seu

desprezo — falei de uma vez.

— Tudo bem, Vinícius, nós podemos conversar. Pode passar na

minha casa hoje. Não quero ter essa conversa em público, prefiro que seja

na minha casa. — Disse e, saiu apressadamente, parecia que estava

passando mal. Me levantei para ir até ela, mas o anestesista a encontrou e

foi junto com ela.

Nem almocei. Remexi a comida no prato e, por fim, saí descartando

a comida na lixeira. Tinha plena consciência de que estava estragando

comida, mas nada descia. Tomei o copo de suco e fui para a sala de

descanso. Eu estava com ar de derrota, meu coração dizia que eu tinha


perdido a Anne, mas queria ouvir isso da boca dela. Só assim iria seguir

meu caminho.

Quando deu por volta das sete da noite, saí do hospital. Passei na

floricultura e comprei um pequeno buquê de rosas brancas. Imaginei que

ela fosse gostar, Maria Flor sempre dizia que flores alegravam o dia.

Desliguei a moto, e entrei em casa. Coloquei as flores em cima da mesa,

escolhi uma bermuda com uma camiseta, penteei meus cabelos, que

estavam grandes, e esperei dar a hora exata de Anne tomar banho e comer

alguma coisa. Enviei uma mensagem avisando que estava indo. Peguei o

buquê e bati em sua porta. Quando abriu, ficou confusa, mas entreguei para

ela. Entrei, me sentando no sofá. Notei que sua expressão estava carregada

de preocupação. Será que tinha acontecido alguma coisa? Anne se sentou

no sofá cruzando as pernas, uma em cima da outra.

— Você precisa cortar esse cabelo, está enorme. Parece até outra

pessoa.
— A minha cabeleireira passou mais de quinze dias sem falar

comigo. E prometi a mim mesmo que só cortaria quando ela voltasse a falar

comigo. — Por que está me olhando dessa forma? Aconteceu alguma

coisa? — Seu rosto ficou vermelho, mas ela disfarçou ao se levantar.

— Quer beber alguma coisa? Ou quer ir direto ao ponto? — ela

estava estranha.

— Confesso que estava sendo um babaca com você. No começo,

pensei que nosso acordo sobre ser apenas sexo daria certo, e eu devia ter me

afastado de você quando percebi que estava gostando de mim. A deixei

acreditar que poderíamos ter um relacionamento sério, quando, no fundo, eu

ainda não estava pronto. Eu fui egoísta, um escroto. Mereço tudo isso que

estou passando; mereço que você não olhe na minha cara, que me odeie

pelo resto da minha vida. Mereço ver outro cara te fazendo feliz. Mas, por

favor, só me diga que eu posso ter uma nova chance de fazer você feliz. Ou

será que descobri tarde demais que estou apaixonado por você? Me diga,
Anne. É tarde demais para nós dois? — Olhei dentro dos seus olhos e os vi

mudar de azul claro para um bem escuro.

— Você tem certeza do que está me dizendo? Tem certeza mesmo?

Não está fazendo isso apenas por egoísmo? Por que me viu com outra

pessoa? — Olhei para ela e me levantei.

— Eu não sou criança, e muito menos agiria dessa forma com você.

Sempre fui claro com meus sentimentos, e não seria agora que sairia

enganando as pessoas. Não sou um monstro, Anne. Se estou afirmando que

estou apaixonado, é porque estou. Eu já errei muito com você, e não erraria

novamente. Basta você me dar uma chance e juro que faço tudo diferente.

Se não quiser me dar uma resposta agora, pode pensar direito. Me dê a

resposta depois do nosso jantar. Aceita sair para jantar comigo?

— Eu prefiro pensar mesmo, pois não é fácil acreditar no que acabei

de ouvir. Não estou afirmando que você está mentindo, mas é difícil para

mim. É difícil confiar de novo. Preciso me aconselhar com minha amiga.

Mas podemos jantar sim.


Sorri, sentindo meu coração bater acelerado no peito. Eu teria uma

nova chance de consertar as coisas com a garota por quem eu estava

apaixonado.
Era sábado e eu estava me arrumando para ir jantar com Vinícius.

Naquela noite, não tive coragem de contar a ele que estava grávida. Fiquei

com medo. Sentia que a reação dele seria de duvidar de mim. Nunca pensei

em engravidar tão cedo, pois tinha apenas vinte e seis anos e queria estar,

financeiramente, estabilizada. Eu sabia que foi um descuido meu, nunca

deixei de tomar o meu anticoncepcional nos dias certos, mas tudo o que

aconteceu me fez esquecer. Camila disse que eu não tinha culpa nenhuma, e

que se ele não me quisesse depois que descobrisse seria um problema dele.

Ítalo me disse a mesma coisa.


Depois de arrumada, me olhei no espelho; estava usando um vestido

azul, em que o cumprimento ia até a altura do meu joelho, um salto alto,

preto. Fiz um penteado e uma maquiagem para cobrir as olheiras e o rosto

pálido. Assim que peguei minha bolsa para sair, Vinícius me mandou uma

mensagem. Saí e o vi parado do lado de fora. Ele estava completamente

lindo; usava uma camisa social branca com as mangas dobradas até o

cotovelo, uma calça jeans, azul, mas um pouco desbotada e uma sapatilha

masculina de cor marrom. Seus cabelos estavam perfeitamente penteados.

Ele estava tão charmoso... as duas argolas em suas orelhas ficaram perfeitas

com seu visual. O pai do meu filho era o homem mais lindo que eu já vi na

vida. Ele ficou parado na porta, me avaliando da cabeça aos pés, com um

sorriso de lado. Meu estômago se revirou, mas consegui ficar firme e não

correr para o banheiro pra vomitar.

— Você está linda. Não sei se vou conseguir me concentrar durante o

jantar. — Falou, se aproximando de mim.

— Obrigada. Mas por que está me olhando dessa maneia?


— Porque você está diferente. Não sei o que é, mas você mudou. —

Disse, tentando descobrir o que era. Meu estômago gelou.

Andamos até a garagem, e Vinícius abriu a porta do carro do Átila

para eu entrar. Olhei para ele perguntando o porquê não íamos de moto.

— Porque o céu está ficando escuro, acho que vai chover mais tarde

— respondeu. Vinícius entrou logo depois de mim, em seguida, ligou o

carro

Durante a viagem, tentei ao máximo não deixar transparecer que

estava preocupada, mas ele percebeu. Disse que eu estava estranha, mais

calada e, às vezes, muito pensativa. Mas eu disse que poderia ser a TPM.

Assim que chegamos ao restaurante fomos recepcionados pelo

maître, que nos indicou a nossa mesa; perguntou se queríamos sugestões de

cardápio para o jantar. Vinícius agradeceu.

— O que acha de tomarmos uma taça de vinho antes de pedir a

refeição? — Olhei para ele e disse que se ele quisesse poderia pedir para
ele, pois eu queria um suco de laranja com bastante gelo. Ele franziu a testa

e chamou o garçom.

Após pedir o suco e o vinho, nós começamos a conversar; o clima

estava frio e eu tinha certeza de que já estava chovendo. Não sabia se iria

ter coragem de contar que estava esperando um filho dele. O garçom

depositou a taça de vinho ao lado de Vinícius e o copo de suco ao meu lado.

— Vamos fazer um brinde. — Propôs, pegando a taça e estendendo

em minha direção. Fiz o mesmo com o copo de suco.

— A nós! — Brindou. Seus olhos negros estavam brilhando. Um nó

se formou em minha garganta, eu queria chorar, mas me contive, piscando

várias vezes. Senti minhas mãos trêmulas. Vinícius me encarou percebendo

meu nervosismo.

— O que está acontecendo com você? Estou tentando a todo custo

não invadir sua privacidade, mas você anda pensativa e nervosa. Sei que

alguma coisa está te deixando assim. Pode me dizer o que está acontecendo,

Anne, viemos aqui para conversar.


— Eu estou grávida. — Ele me olhou assustado e, ao mesmo tempo,

triste.

— Você está grávida? O filho é do anestesista? Vocês vão se casar?

Veio aqui hoje para me dizer que vai se casar e que é para eu seguir minha

vida? — Fiquei olhando para ele.

— Não vou me casar. E o filho é seu. Eu realmente estava tomando

anticoncepcional. Engravidei quando você me levou para aquele riacho,

onde transamos pela última vez. Nunca tive nada com o Ítalo, ele é só um

amigo. — Confessei, olhando para ele.

— Por que me fez acreditar que vocês estavam namorando? Quis

que eu pagasse na mesma moeda, não é?

— Eu nunca disse que estava namorando com ele. Você que tirou

conclusões precipitadas. Ele me ajudou quando eu estava muito frágil, me

deu conselhos e me sempre me fazia sorrir. E acredite, ele foi a pessoa que

mais me incentivou a te dar uma chance, de te ouvir. Estou aqui, porque ele

me deu conselhos. Estou aqui para te ouvir, mas também quero te dizer que
você não é obrigado a nada só porque estou grávida. Podemos muito bem

criar nosso filho sem estar juntos.

— Você não tem noção do quanto está sendo difícil para mim te

dizer essas palavras, mas já estou cansado de negar o obvio. Quando eu

tinha dezessete anos, me apaixonei por uma garota que tinha acabado de

chegar na cidade; por sorte, ela foi para a mesma turma que eu. Eu nunca

imaginei que amar alguém pudesse doer tanto e que também pudesse ser a

melhor sensação do mundo. Isis foi o meu céu e inferno ao mesmo tempo,

ela conseguiu tudo de mim. E quando pensei que ela era só minha, me

enganei totalmente; ela poderia até ter sido minha, mas foi de outros garotos

também. Quando eu a peguei com dois caras em sua cama, prometi a mim

mesmo que jamais confiaria em outra mulher novamente. Mas então você

apareceu na minha vida, e me xingou quando atirei lama em você sem

querer, naquela beira da estrada. — Arregalei meus olhos quando ele me

confessou aquilo.
— Você ouviu meu xingamento? Mas você disse que não tinha

escutado. — Ele sorriu bebendo mais um pouco de vinho.

— Garota, você fala tão, mais tão alto que se eu estivesse na minha

casa, teria te escutado. Você xingou a minha mãe, que já está no céu. Mas

eu te perdoo. Estou realmente apaixonado por você. Nem sei como é me

relacionar com alguém e já descubro que vou ser pai. — Tocou na minha

mão e esperou que eu falasse algo.

— E você acha que eu estou preparada? Nunca nem cuidei de uma

criança na vida. Ao menos você tem as suas sobrinhas e ajudou a criar a

Maria Flor. Eu não estou preparada para ser mãe. Não sei cuidar nem de

mim, imagina de um bebê? E você ainda ama essa tal de Isis? — Eu sabia

que não deveria perguntar isso, mas fiquei com ciúmes.

— Claro que não. Eu tinha dezessete anos, era um bobão. Mas

prometi a mim mesmo que nunca mais deixaria uma mulher brincar

comigo, por isso não quis relacionamento sério com ninguém. Isso é
passado, agora temos que falar no nosso futuro. Estou disposto a ter um

relacionamento com você.

— Que tipo de relacionamento? Eu não quero me casar. Sou muito

nova ainda nem viajei para conhecer o mundo. Agora vou ser mãe.

— Relacionamento sério. Mudar status na rede social, sair de mãos

dadas por aí, se assumir mesmo. Você não quer?

— Temos mesmo que mudar o status nas redes sociais? — perguntei,

brincando.

— Claro. Eu quero fazer tudo certo. — Afirmou, com os olhos

brilhando.

— E não vamos morar juntos, você é muito bagunceiro e espaçoso.

Se vamos namorar, é cada um em sua casa — ditei, séria.

Nosso jantar chegou e começamos a comer. Não sabia se estava

fazendo a coisa certa, mas estava ouvindo meu coração.


Com Anne completamente deitada na cama, e de pernas abertas, eu

lambia e chupava sua boceta doce. Ela já tinha gozado três vezes na minha

boca, mas eu não me cansava de observar a cena. Em seguida, subi sobre

seu corpo, enterrando todo meu pau dentro dela, que gemia o meu nome.

Seus olhos úmidos me olhavam com intensidade, nossos gemidos em

sintonia pareciam uma canção. Assim que gozei saí de dentro dela devagar

e fui distribuindo beijos por toda sua barriga lisa até chegar em seu ventre

onde nosso filho estava sendo formado. Parei um minuto e fiquei olhando

com os olhos emocionados, sinceramente, eu nunca pensei que seria pai um


dia; quando era mais novo cogitei a possibilidade, mas conforme o tempo

foi passando essa vontade foi esquecida. Eu já tinha minhas sobrinhas e as

considerava como minhas filhas. Mas agora sabendo que seria pai a

sensação era completamente diferente. Com certeza faria de tudo para que

meu filho fosse feliz, ele seria a criança mais amada desse mundo. Olhei

para Anne e percebi que dormia; peguei a coberta da cama e coloquei sobre

seu corpo relaxado. Olhei no relógio e constatei que já passava da meia

noite. Pensando melhor decidi que esperaria a chuva passar e só pegaria a

estrada pela manhã. Estávamos no motel da cidade. Me deitei ao seu lado,

abracei seu corpo e dormi junto com ela.

— Ei, dorminhoca? Acorda. — Falei no ouvido de Anne, que abriu

seus grandes olhos azuis e sorriu, se espreguiçando.


— Ainda estamos no motel? — Perguntou, se levantando e deixando

a coberta cair revelando seu corpo nu. Olhei para ela, admirando sua beleza;

Anne era tão linda... para falar a verdade, eu não poderia ter escolhido

pessoa melhor para ser a mãe dos meus filhos. Olha... eu já mencionando

filhos!? Até o dia anterior, eu nem pensava em namoro... como as coisas

mudam!

— Estamos sim. Ontem você dormiu e eu não quis te acordar, pois vi

que estava muito cansada depois de ter gozado várias vezes. Mas

precisamos ir. Na hora do almoço quero dar a notícia para meus irmãos

sobre o fato de eu ser pai. Com certeza a Camila já deve saber, né? — Anne

seguiu para o banheiro e eu fui atrás.

— Claro que sabe, ela é minha melhor amiga. Ítalo também sabe.

Foi Camila quem me deu os testes para fazer, e todos deram positivos. Mas

ela não contou pra ninguém. Vou tomar um banho, estou toda dolorida. —

Reclamou, ligando o chuveiro.


— Eu não gosto desse Ítalo. — Desabafei, parado na porta do

banheiro.

— Problema seu, ele é meu amigo e vai ser padrinho do nosso filho.

Ou seria madrinha? — Comentou, pensativa.

— Por que madrinha? Ele é mulher por acaso? — perguntei, sério.

— Quase, ele é gay. E não precisa ter ciúmes dele. E nem o ameaçar.

— Nossa! Sério que ele é gay? Não parece. — Disse, pegando a

toalha e dando para Anne se enxugar. Relaxei quando soube que o

anestesista era gay.

Após o banho, Anne vestiu as roupas e saímos do motel. Na estrada,

ela me fez comprar pastel com caldo de cana que um senhor estava

vendendo no sinal. Fiquei observando-a enquanto ela comia com bastante

apetite... ainda disse que faltou maionese e catchup. Quem que come pastel

com maionese e catchup? Em seguida, tirou o sapato, afastou o assento para

trás e dormiu. Que legal! Não teria ninguém para conversar. Liguei o rádio

numa estação em que estava tocando uma música que conhecia, fiquei
cantarolando baixo para não acordar Anne. Como o trânsito não estava

muito congestionado chegamos em uma hora, certinho. Estacionei o carro

na garagem e fui acordar a princesa dorminhoca. Comecei distribuindo

beijos pelo seu pescoço... ela ficou toda manhosa. Em seguida, beijei seus

lábios, que se abriram para receber minha língua, senti o gosto do pastel de

queijo que ela comeu.

— Fiquei excitada agora. Vamos transar dentro do carro. — Disse,

puxando minha cabeça para beijar minha boca novamente. Enquanto ela

gemia sua mão apertava meu pau deixando-o duro.

— Tio Vini? É o senhor que está dentro do carro com a tia Anne?

Por que o carro está balançando? — Maria Flor estava se aproximando do

carro, então rapidamente paramos de nos beijar e começamos a nos ajeitar.

Anne desceu primeiro e eu fiquei ajeitando minha ereção dentro da

calça.

— Oi, Maria. Estávamos procurando meu brinco que tinha caído

dentro do carro. — Anne disse para a pequena curiosa, que ficou parada me
esperando descer.

— A senhora achou, tia Anne? Pois está faltando o outro, olha... na

sua orelha só tem um brinco. Quer que eu te ajude a procurar? — Olhei

para o chão do carro e vi o brinco da Anne. O peguei e saí do carro.

— Achei, amor. — Falei, e Anne me olhou sorrindo.

— Amor? A tia Anne é o seu amor? — A curiosa perguntou.

— Sim, a Anne agora é o meu amor. Eu e ela estamos namorando e

você é a primeira pessoa a ficar sabendo. Não conte para ninguém, porque

na hora do almoço vamos contar para todos. — Seus olhinhos curiosos

chegaram a brilhar.

— Eu não vou contar. Vocês sabiam que agora eu e minha irmã Júlia

vamos ter uma babá? O nome dela é Sarah. Mamãe disse que ela vem nos

conhecer amanhã, já que a mamãe vai voltar a trabalhar. As crianças no

hospital estão precisando dela. Eu acho que a Júlia vai chorar muito

sentindo a falta. Eu já sou grande, então entendo as coisas. — Disse,

parando em frente a porta da casa dela; Átila estava com a Júlia no colo
dando mamadeira. Entrei para entregar a chave do seu carro e agradecer.

Assim que a pequena me viu parou de mamar e sorriu para mim, beijei seu

rostinho e ela passou a mão na minha barba.

Anne entrou em sua casa e eu fui para minha tomar um banho e

trocar de roupas. Porém assim que terminasse, eu iria para sua casa. Aos

poucos levaria minhas roupas sem que ela percebesse. Após tomar banho,

peguei minha roupa de trabalho, umas cuecas, meus produtos de higiene,

coloquei dentro da mochila e fui para a casa da minha namorada. Bati na

porta e Anne abriu me olhando sem entender nada. Sorri e entrei.

— Não consigo mais ficar longe de você. Vou dormir aqui, e não

adianta dizer que não. — Me sentei no sofá e a puxei para meu colo, que

sentou abraçando meu pescoço.

— Vamos ajudar a Camila e o Átila a fazer o almoço, ela me

mandou mensagem. Estou indo agora antes que eu durma, estou morrendo

de sono. Culpa sua que não me deixou dormir direito. — Reclamou,

passando os dedos entre os fios dos meus cabelos.


— Você bem que gostou, safada. Como está o nosso bebê? — Passei

a mão em sua barriga.

— Por enquanto está quietinho, não enjoei ainda- e nem vomitei.

Estou pensando em marcar com a obstetra do hospital para saber se está

tudo bem. — Comentou, bocejando.

— Quero ir junto também. Vamos logo para a casa do Átila antes

que você comece a dormir em meu colo. — Anne se levantou e saímos.

Cortei muitas cebolas e tomates, já estava até chorando; Anne tinha

feito um escondidinho de carne e arroz, e eu estava fazendo a salada. O

feijão já estava pronto, então eu e Nicolas arrumamos a mesa. Júlia estava

em seu carrinho. Depois da comida pronta, fomos almoçar. Percebi que

todos estavam felizes, até Júlia começou a gritar, feliz. Maria flor nos

olhava de forma cúmplice, ela estava doida para falar que eu estava

namorando com a Anne. Quando todos tinham acabado de comer, me

levantei e pedi a atenção deles. Assim que todos me deram atenção,


comecei a falar. Mas antes, peguei na mão da Anne, que ela se levantou.

Com nossas mãos entrelaçadas, comecei a falar:

— Eu e essa garota baixinha aqui estamos namorando. — Todos

bateram palmas. Maria Flor disse que já sabia, pois contei a ela primeiro,

porém pedi segredo, por isso ela não podia contar para ninguém. Rimos e

eu continuei: — Todos sabem que eu não tinha pretensão alguma em manter

relacionamento com ninguém, mas comecei a me apaixonar por Anne. E ela

está grávida, soube ontem. Confesso que estou morrendo de medo, mas me

sinto feliz em saber que vou ser pai. — Meus irmãos se entreolharam,

abismados com minha revelação, eles não estavam acreditando. — Conto

com a ajuda de todos. Somos uma família e um novo membro está

chegando em breve. É isso, família, engravidei a vizinha.

Todos sorriram. Precisava admitir que estava explodindo de

felicidade. Não via a hora de ver meu filho nascer. Olhei para Anne e a

abracei, enxuguei suas lágrimas e massageei sua barriga. Ali havia um

pedaço de nós dois sendo formado.


Limpei a mão no meu vestido novamente; eu estava nervosa e com

medo, estávamos aguardando nossa vez para sermos atendidos; consegui

consulta com a obstetra do hospital para aquele dia, fazia quase uma

semana que agendei e a secretária me ligou mais cedo. Vinícius estava

trabalhando e nos encontramos ali. Poucos sabiam do nosso

relacionamento, apenas nossos amigos, e estavam felizes por nós. Ele

segurou minha mão e me olhou com aqueles olhos negros apaixonantes.

— Sua mão está gelada. Está sentindo alguma coisa? — perguntou,

preocupado.
— Estou nervosa. Minha mãe teve gêmeos, então tenho uma grande

chance de estar grávida de gêmeos. Se um só, já está me deixando

preocupada, imagina se forem dois? Eu vou morrer do coração. — Vinícius

balançou a cabeça e sorriu.

— Se forem gêmeos quero que seja um casal — falou, com a maior

naturalidade. Claro, não seria ele a parir dois bebês.

— Vire essa boca pra lá, Vinícius! Minha vagina não vai passar dois

bebês, e eu morro de medo de ser operada. Sério, eu estou nervosa. Quero

água. — Falei e ele se levantou para ir buscar. Vinicius estava vestido de

enfermeiro e ficava deliciosamente sexy, até subiu uma quentura.

Me entregou o copo com água e, eu bebi num só gole. Joguei o copo

descartável no lixo, em seguida, a secretária avisou que poderíamos entrar

no consultório. Entramos e a doutora Marinete pediu para nos sentarmos,

ela ia fazer algumas perguntas. Perguntou se era nosso primeiro filho, e se

eu sabia de quantas semanas eu estava. Após responder todas as perguntas,

ela me disse que meu peso estava normal, mas que, provavelmente deveria
engordar ao menos dez quilos. Disse também que minha alimentação podia

continuar normalmente, já que não tinha nenhum problema. Porém, como

tinha caso de pessoas com hipertensão na família teria que tomar cuidado.

Percebi que Vinicius anotava tudo o que ela falava, certamente ele iria

pegar no meu pé. A doutora perguntou se tínhamos algumas dúvidas, então

fui logo perguntando tudo. Perguntei se poderíamos continuar fazendo sexo,

se meu parto seria normal e, claro o que mais estava tirando meu sono: se

eu estava esperando dois bebês. A médica prescreveu o exame de ultrassom

e fomos fazer. Eu estava tão ansiosa que me deu vontade de fazer xixi,

então fui ao banheiro. Depois fomos até a sala do exame; a doutora

Marinete me pediu para deitar e suspender o vestido. Passou um gel gelado

na minha barriga, mas ainda não apareceu nada. Entretanto, eu já sentia

uma bola se formando, meu coração batia descompassado olhando para o

pequeno monitor. Sons altos começaram a ecoar, olhei para o Vinícius, que

estava olhando para o aparelho com os olhos cheios de água.

— Vocês vão ser pais de um bebê apenas, acalme esse coração,

Anne. Está tudo bem com o bebê, ele está se formando perfeitamente bem e
vai ser grande — disse.

A minha vagina vai sofrer para expulsar esse bebê enorme de dentro

de mim.

Doutora Marinete imprimiu o resultado do ultrassom, entregou para

o Vinicius e retornamos para a sala dela, pois a médica tinha que me

prescrever algumas vitaminas. Eu não estava enjoando tanto como antes,

mas ainda sentia bastante sono. Após a consulta, saí do consultório e fui

almoçar com Vinícius. Era minha folga.

Cheguei em casa e fui arrumar a bagunça. Vinicius, praticamente, se

mudou para minha casa. Admitia que estava sendo bom passar todo o

tempo com ele. Quando estava estressada, ele comprava todos os doces que

eu gostava, por isso eu estava engordando. Assistíamos nossas séries


juntinhos e sempre fazíamos amor antes de dormir. Eu tinha muita vontade

de dizer que o amava, mas não disse por medo de não ouvir de volta. Não

sabia dizer se ele já me amava, mas sentia que ele gostava muito de mim.

Depois de tudo arrumado, liguei para minha mãe, Vinicius decidiu

levar meus pais para jantar pra comunicar que iríamos ter um filho. No

começo, com certeza meu pai iria estranhar, mas sabia que ele ficaria muito

feliz por ser avô. Minha mãe, como era dramática, ficou toda preocupada

achando que tinha acontecido alguma coisa, mas a tranquilizei dizendo que

o motivo do jantar seria para comunicar a respeito do nosso namoro, só

disse isso, porque ela não podia ficar preocupada, ou sua pressão subia e ela

passava mal. Ficou acertado de eles virem no final de semana. Eles iriam

ficar na casa do Nicolas. Por falar nele, eu desconfiava que ele estava

interessado na babá das filhas da Camila, às vezes, fingia que estava

estendendo roupas e via quando ele sorria para ela; já os peguei

conversando enquanto ela ia passear com as meninas na pracinha. Contei

para Vinicius, que me disse que ele era muito reservado, e que se ele

estivesse interessado teria que travar uma luta árdua para convidá-la para
sair. Soube que ele já foi noivo, mas não deu certo, por isso se tornou tão

reservado... esses irmãos são cheios de traumas. Estava deitada quando ouvi

a porta se abrir; me levantei e vi meu namorado chegando com uma

caixinha de presente, ele me entregou e me deu um beijo na boca. Depois

deixou sua mochila em cima do sofá.

— Abre — pediu.

Puxei o laço para abrir a caixinha e vi que dentro dela tinha um par

de sapatinhos brancos; eu não sabia o que tinha acontecido com esse

homem, mas ele estava se saindo um ótimo pai. Olhei para ele, emocionada.

Ainda não tínhamos comprado nada, só íamos comprar quando

descobríssemos o sexo do bebê. Aí ele vinha e me surpreendia com isso?!

— É tão lindo! Onde você comprou? — Coloquei de volta dentro da

caixinha.

— Eu encomendei com a dona Carmem, a senhora da limpeza. Ela

trabalha fazendo crochê. Sempre a via vendendo para os funcionários, mas

não comprava, porque não tinha filhos. Agora vou ser pai, e quando a vi
vendendo achei tão lindo, que resolvi encomendar. — Disse, tirando os

sapatos e as roupas. Em seguida, foi em direção ao banheiro. Fui atrás dele.

— Sabe o que eu estava pensando?

— O quê? — Perguntou, ligando o chuveiro.

— Em ir jantar no restaurante da Conceição. Estou desejando comer

churrasco. — Falei, parando na porta do banheiro. Comecei a olhar aquele

homem tomando banho, era alto e viril. Ele sorriu quando percebeu meu

olhar guloso em direção ao seu pau.

— Por que você não vem tomar banho comigo? Depois podemos

pensar no assunto. Hein?— Falou, massageando seu pau, que já estava

ficando completamente duro.

— Eu já tomei banho, mas estou com calor novamente. — Disse,

tirando as minhas roupas e entrando no box. Chegando perto de Vinícius

coloquei minhas duas mãos em seu peitoral definido, as desci e, em

seguida, subi. Tudo isso sem tocar em seu pau.


Olhando nos olhos dele, me abaixei beijando a cabeça do seu pau,

Vinícius arfou. Em seguida, comecei a chupar, não conseguia colocar todo

dentro da minha boca. Ergui meu olhar e percebi que Vinícius estava de

olhos fechados, gemendo. Senti o exato momento em que ele iria gozar,

então comecei a chupar mais rápido, seu gozo forte e quente foi fundo na

minha garganta; senti suas mãos pegando em meu braço e seus lábios

tomando posse da minha boca. Ele me suspendeu em seu colo e deslizou

seu pau dentro de mim. Seus olhos me olhavam avaliando minhas

expressões. Fazíamos sexo todos os dias, mas era sempre diferente; cada dia

que passava, eu sentia que ele estava mais ligado a mim, a forma como me

amava, como cuidava de mim. Vinícius entrou mais duro e forte, e

gozamos. Sua testa encostou-se a minha, seus olhos brilhavam na minha

direção. Eu só queria que ele dissesse que me amava. Mas ele deu um beijo

em meus lábios e me desceu do seu colo. Tomamos banho e, em seguida,

saímos do banheiro indo para o quarto a fim de vestirmos nossas roupas.


Vinícius estacionou a moto em frente ao pequeno restaurante e

entramos de mãos dadas. Logo avistamos a jornalista “boca de pato” na

mesa com mais duas pessoas; quando olhou para meu namorado, sorriu, se

levantou e veio em nossa direção. Eu já estava pronta para o embate se ela

viesse com aquela voz melosa pedindo para conhecer mais a cidade. Porque

já teve tempo suficiente para saber onde ficava tudo, inclusive, a vergonha

na cara. Não me esquecia do dia em que ela estava na frente da academia,

quase pulando em cima do Vinícius, e quando me viu fingiu que estavam

tendo alguma coisa, em seguida, foi atrás de mim falando que Vinícius era

um cara maravilhoso e que os dois iriam se conhecer melhor. Vaca!

— Vini, quanto tempo?! Não te vi mais na academia. — Falou com

ele como se não estivesse me vendo.

— Tudo bem, Michele? Acho que você já conhece a Anne, minha

namorada. Estou indo para a academia em outro horário, essa semana não

fui, porque tive que ficar cuidando dela, pois está enjoando muito. Os
primeiros meses de gravidez são sempre difíceis. — Ele disse e a perua

quase deixou os beiços caírem no chão quando abriu a boca, abismada.

Sorri e puxei a mão do Vinícius para irmos pra nossa mesa.

Nos sentamos à mesa e fiquei olhando para ele, que deu de ombros.

Como se fosse inocente.

— Se eu encontrar outra ficante sua do passado e ela fingir que não

está me vendo, vou partir para a ignorância — falei, bem séria. Ele riu,

brincando com o perigo. Afinal, ele não sabia, mas fiz um ano de defesa

pessoal.

— Caramba! Você fica tão linda brava. Não precisa se estressar com

isso, você sabe que quando afirmei um compromisso com você é pra valer.

Agora vamos comer. — Disse, chamando o rapaz que servia as mesas.

Fiquei olhando para ele e sorri, contente. Vinícius fazia de tudo para

me ver bem. Ele podia não ter dito que me amava com suas palavras, mas

demonstrava seu amor por mim em cada gesto.


Às dezessete horas fui avisado de que uma mulher havia dado

entrada no hospital com suspeita de aborto, então fui para a sala onde a

moça estava internada. Assim que entrei, a doutora Marinete — antes de

sair da sala — me informou que a paciente precisaria passar por uma

curetagem. Peguei a ficha da mulher e fui ler o nome dela, vi que se

chamava Isis Lacerda. Poderia ser apena uma coincidência, ou não. Por um

breve momento, fiquei parado tentando fazer com que minhas pernas

saíssem do lugar. Puxei uma respiração e soltei o ar pela boca; segui

olhando para a mulher, que chorava e segurava sua barriga.


— Boa tarde, dona, Isis. Sou o enfermeiro Vinícius e vim saber

como você está. Sente dor? — Olhei para o soro, que já estava quase

acabando.

A mulher me olhava com os olhos arregalados, ela me reconheceu na

hora. Era ela, a garota por qual fui apaixonado na adolescência, a que

quebrou meu coração. Fingi que não a reconheci e fiquei olhando para sua

ficha, ela estava grávida de três meses e perdeu o bebê.

— Você é o Vinícius que estudava comigo na escola Municipal Santa

Bárbara? Nossa! Você está tão mudado, está mais bonito de quando era

adolescente. A minha mãe disse que você tinha se tornado enfermeiro e até

me mostrou fotos suas quando vim visitá-la pela última vez. Como você

está? Ainda lembra de mim? — disse, sem nenhum remorso na voz.

— Vendo você hoje, e dessa forma... sequer percebe que seu ato

mudou toda minha vida. Mudou minha forma de ver as mulheres. Por anos,

me blindei para não me apaixonar por ninguém. O que você fez mexeu
muito comigo e me machucou bastante. — Falei, verificando o acesso do

soro.

— Sério que fiz isso tudo com você? Meu Deus! Eu não imaginava,

até porque éramos tão novos, tínhamos tanta vida pela frente... Me perdoe.

De coração mesmo. Sinto muito se o magoei.

— Isso é passado. Como você mesmo disse, éramos adolescentes, e

eu que tinha outra visão do amor, achava que eu e você éramos para

sempre. Na verdade, eu era um bobão. — Disse, colocando outro soro no

lugar do que tinha acabado.

— Você vai para a curetagem. Tem alguém te acompanhando para

que possamos avisar? Você precisará ficar internada — perguntei, trocando

de assunto.

— Tem sim, o meu marido já deve ter chegado. — Disse baixo, acho

que ficou envergonhada depois de ter ouvido tudo o que eu disse.

— Tudo bem. Vou levar você para o procedimento.


Anne chegou bem na hora, trazendo a cadeira de rodas. Colocou

perto da cama, depois ajudei Isis a se sentar. Deixei a paciente na sala e saí

me encontrando com Anne no corredor. Já estava na hora de irmos para

casa. Já no estacionamento, Anne me questionou sobre a paciente.

— Parecia que você conhecia aquela mulher, notei que ela te olhava

de maneira diferente. Não estou com ciúmes não, só achei estranho mesmo.

— Disse, subindo na moto e segurando em minha cintura.

— Era ela, a primeira namorada que eu tive na adolescência, a que

brincou comigo. Acredita que ela não sabia que tinha me machucado? Eu

era muito ingênuo mesmo por achar que já sabia sobre o amor aos dezessete

anos de idade. Passei metade dos anos fugindo do amor. Até você aparecer.

— Falei, ligando a moto e saindo dali.

Chegamos em casa. Ainda não morávamos juntos, mas eu sempre

dormia na casa dela, já tinha até algumas peças de roupas em seu roupeiro.

Ajudei ela a descer da moto e entramos. Anne já estava grávida de dois

meses, mas sua barriga ainda não aparecia, eu estava ansioso para vê-la
com a barriga enorme. Precisava admitir que estava bastante feliz; em

menos de um mês, minha vida tinha mudado completamente e parecia que

já estávamos juntos há bastante tempo. Conversar com Isis no hospital fez

com que eu fechasse um ciclo na minha vida e estava pronto para

recomeçar um novo, ao lado de Anne e do meu filho.

Estávamos todos sentados à mesa esperando nosso jantar chegar.

Tínhamos contado aos pais de Anne que ela estava grávida; o senhor João

perguntou se íamos nos casar. Eu disse que se fosse por mim já estávamos

casados. Mas Anne não queria; afirmava que ainda estávamos na fase do

namoro, e que casar não mudaria nada. Disse que o que valia era o fato de

estarmos juntos e que iríamos criar nosso filho com todo amor. Casar era

apenas um status. Fiquei olhando aquela mulher, ela era bem jovem, mas
tinha muita maturidade. A cada dia eu aprendia muito com ela. Suspirei,

completamente fascinado.

Depois do jantar, nós voltamos para casa. Eu fui dormir na minha

casa, já que seus pais estavam em Limoeiro e ficaram na casa dela. Entrei

em casa e encontrei Nicolas assistindo televisão, ele estava concentrado no

filme.

— Ainda está acordado? — Perguntei, sentando-me ao seu lado.

— Estou sem sono. Cheguei quase agora também, estava tomando

um chope com os amigos. Vai dormir aqui? Tua namorada te expulsou de

casa? — Falou, sorrindo.

— Os pais dela estão lá. Além disso, Anne não se sente bem

dormindo comigo no mesmo quarto. E como a casa é pequena achei melhor

dormir aqui.

— Está feliz por que vai ser pai? — perguntou.

— Cara, se fosse em outra época, eu com certeza não estaria.

Confesso que quando soube da gravidez da Anne, fiquei um pouco


assustado, porém, depois fiquei muito feliz. Não vejo a hora de a barriga

dela crescer e do meu filho nascer, estou completamente apaixonado por

ela. Nunca me imaginei nessa situação. Durante anos me blindei desse

sentimento e só agora percebi que fui imaturo. Ninguém tem a obrigação de

te amar de volta, se não deu certo com uma, acho válido sofrer, mas se

fechar para novos amores ou paixões, como eu fiz só nos faz perder a

oportunidade de conhecer pessoas bacanas. Mas acho que não era hora de

me apaixonar, a garota certa iria aparecer no tempo certo. E foi o que

aconteceu. Só demorei para perceber, e quase a perdi. — Falei, sentindo

meu coração transbordar de amor ao falar da Anne.

— Você está completamente apaixonado mesmo. Eu fico muito feliz

por você, meu irmão, espero que seja para sempre, você e ela. Anne faz

muito bem a você, e ela é uma garota especial, não a perca nunca — falou.

— Estou aqui na torcida para você encontrar uma mulher a altura do

seu coração, você sim, é um cara que merece muito. Quando ela aparecer,
por favor, não faça que nem eu, não deixe ela escapar. — Falei tocando o

seu ombro, Nicolas sorriu.

— Agora vou me deitar, porque amanhã acordo cedo. — Nicolas

disse ao se levantar do sofá. Me levantei e também fui para meu quarto.

Me deitei na minha cama, mas não consegui pegar no sono. Mandei

mensagem para Anne:

Não consigo dormir, estou com saudades. Preciso de você aqui!

Ela estava digitando....

É só até amanhã, amor. Vou dormir. Beijos!

Ela mandou um emoji de coração. Eu desejei dizer que a amava, mas

entendi que deveria dizer pessoalmente. Guardei meu celular e fechei os

olhos, mas o sono não veio. Minha mente imaginava, eu, Anne e nosso

filho. Quando eu pensava na criança só imaginava sendo um menino, uma

mini versão minha. Já tínhamos duas meninas na família, então já estava na

hora de um menino aparecer. Mas o que viesse, eu iria amar muito e


proteger. Demorei tanto para me apaixonar por alguém, e quando me

apaixonei fiz logo um filho. Minha vizinha se tornou o amor da minha vida
Sete meses depois....

De pé em frente ao espelho, me olhei mais uma vez e chorei pela

décima vez, eu estava enorme, tudo em mim estava enorme. Meus seios,

meus quadris, o meu bumbum, minha barriga... parecia que eu estava

carregando duas crianças, ao invés de uma. Era só um garotinho enorme.

Certamente puxaria ao pai. Ele mexia tanto dentro de mim, fazendo-me

entender que o espaço já estava ficando apertado.

Não estava sentindo os sinais para ter meu bebê de parto normal, e já

fazia uma semana que esperava para dar à luz; fiz um exame de ultrassom
no dia anterior e precisava me internar para fazer uma cesariana. Eu não

queria, queria ter meu filho de parto normal, mas ele não queria vir desse

modo. Enxuguei minhas lágrimas no exato momento em que Vinicius

entrou no quarto segurando as bolsas que levaríamos para a maternidade.

Ele parou e ficou me olhando, assustado.

— Por que está chorando, amor? Está sentindo dor? Temos que nos

apressar — disse, preocupado.

— Não estou com dor, estou me sentindo feia. — Falei, parecendo

uma boba.

— Olha o meu tamanho. Meus pés estão inchados, os meus seios

doem. Meu quadril triplicou de tamanho e - minha coluna parece que vai

quebrar a qualquer momento. Ainda vou ter que fazer uma cesariana. Por

que nosso filho não quer nascer de parto normal? Fiz todos os exercícios

para que isso acontecesse, fiz até caminhada. — Terminei, fungando.

Vinícius deixou as malas em cima da cama, sentou e me chamou para sentar


em seu colo. Seus olhos negros me olharam, ele beijou meu rosto molhado

pelas lágrimas quando me sentei e disse:

— Você está linda. E está carregando o nosso filho. Lembra a

primeira vez que eu disse que te amava? — Balancei a cabeça, afirmando.

— Eu estava com muito medo, não medo do que estava sentindo,

mas medo que você achasse que era muito cedo para falar. E hoje, eu te

amo muito mais do que antes; amo você com essa barriga enorme, com

essas estrias nos seios que você tanto tenta esconder de mim sempre que

fazemos amor no claro. Amo o seu corpo como está. Sei que não quer fazer

uma cesariana, porque vai ficar com a cicatriz da cirurgia. Acha que eu vou

ligar para as marcas do seu corpo? Mas eu te digo, eu não ligo. Amo você

do jeito que é. — Vinícius olhou dentro dos meus olhos e continuou: —

Anne Beltrão, eu me casaria com você agora se me dissesse sim. Eu amo

você com tudo; com as gordurinhas a mais, com seu mau humor, quando

você arruma a minha mochila e diz que precisa de espaço, e me manda

dormir na casa do Nicolas. Amo você para sempre. Você quer casar
comigo? — Ele tirou uma caixinha do bolso do seu moletom, abriu e tirou

as alianças de dentro. Ficou esperando pela minha resposta.

— Sim, eu aceito me casar com você, Vinícius Malfacini. Te amo, e

amo quando você me faz enxergar que sou a mulher mais linda desse

mundo. Mesmo, às vezes, eu surtando e te colocando para dormir na casa

do Nicolas, você sempre diz que me ama nos piores momentos da minha

vida. Obrigada por permanecer ao meu lado.

Quando Vinícius me beijou, eu ainda estava em seu colo, o clima

estava esquentando. Mas precisávamos ir para a maternidade, e sexo só

depois de quarenta dias. Colocamos as alianças em nossos dedos e saímos

para a maternidade.

Vinícius comprou um carro, pois não dava mais para sair de moto.

Eu sabia o quanto tinha sido difícil para ele vender sua moto a fim de dar de

entrada em um veículo, mas éramos uma família de três. Vinícius

estacionou o carro e me ajudou a descer; minha obstetra, a doutora


Marinete, já estava a minha espera. Camila viria mais tarde com Átila e

Nicolas, assim que a babá das meninas chegasse.

Já estava no quarto, esperando a hora de ir para a cirurgia; meus pais

já tinham sido avisados e chegariam no outro dia. Minha mãe disse que

ficaria comigo por uma semana para cuidar de mim, pois Vinícius teria que

trabalhar. Eu estava um pouco nervosa. Vinícius segurou na minha mão me

tranquilizando, dizendo que iria dar tudo certo, que nosso filho iria nascer

saudável e que eu era muito forte. Afirmou que estaria ao meu lado me

dando apoio.

— Vamos tirar essa criança teimosa de dentro dessa barriga enorme?

— A enfermeira Laura falou entrando no quarto. Sentei-me na cadeira de

rodas e Vinícius me ajudou. Já dentro da sala, fiquei esperando o momento

para pegar meu filho nos braços.

Quando escutei seu chorinho escandaloso, olhei para Vinícius, que

estava filmando tudo, ele estava tão emocionado quanto eu. Nosso filho era

o mais escandaloso da maternidade... não entendi a quem ele puxou.


— Ele é tão lindo. Olha esses olhos azuis enormes, é loirinho, mas é

a minha cara. — Vinícius disse, colocando o pequeno bebê chorão no meu

colo. Pegou a câmera e tirou uma foto de nós três.

Éramos uma família a partir daquele momento, e eu cuidaria muito

bem deles dois. Eram meus meninos, e eu os amava mais que tudo.
Alguns meses depois...

Em pé, eu estava à espera da minha noiva, não via a hora de ela

entrar na igreja. Nosso filho estava com quatro meses e entraria com ela.

Nosso pequeno Davi era tão esperto, pelos poucos meses que tinha, já fazia

uma bagunça. Quando eu saía para trabalhar, ele ficava chorando, quando

eu chegava, ele fazia a maior festa. Olhei para Átila, Nicolas e Ítalo, sim, o

Ítalo, ele era um dos padrinhos, Anne disse que só casava se ele fosse

convidado. Claro que eu não tinha nenhuma raiva dele, mas não éramos tão
amigos como ele era da minha mulher. Mas eu gostava dele. Átila se

aproximou de mim e me entregou seu lenço, limpei o suor da minha testa.

— Não fique nervoso, elas já estão chegando. Camila já mandou

mensagem. — Ele disse voltando para o seu lugar.

Olhei para os convidados e vi Sarah, a babá das meninas, com Júlia

nos braços, ela era uma garota de vinte anos e tinha o olhar muito triste;

outro dia chegou com uma marca roxa nos braços, mas disse que caiu.

Camila descobriu que a mãe da garota já era morta; ela morava com o

irmão de cinco anos e o padrasto.

Olhei para a entrada da igreja quando a marcha nupcial começou a

tocar; sem segurar a emoção deixei as lágrimas caírem. Anne entrou de

braços dados com o pai e segurando nosso filho nos braços, ele usava um

terninho de bebê, nem cabelo tinha; suas mãozinhas quando me viram

começaram a se balançar em minha direção. Eu era o homem mais sortudo,

tinha um filho lindo e a mulher mais gostosa desse mundo. Minha sobrinha

Maria Flor era a dama de honra, e sorria para todos enquanto jogava pétalas
de rosas pelo chão. O pai de Anne me entregou sua filha e nos desejou toda

a felicidade do mundo; beijei meu filho, que foi com o avô. De frente para o

padre, nós ficamos esperando para começar a celebração do nosso

casamento.

— Vinícius Malfacini e Anne Beltrão. Vocês já foram amigos,

namorados e noivos. Agora estão aqui para celebrar o matrimônio. Para se

tornarem uma só carne. É de livre e espontânea vontade que vocês dois

estão aqui para se unirem em matrimônio?

— Sim. — Respondemos, olhando um para o outro.

— Anne Beltrão, aceita Vinícius Malfacini como seu legítimo

esposo?

— Sim. — Anne respondeu, emocionada.

— Vinícius Malfacini, aceita Anne Beltrão como sua legítima

esposa? — Olhei para o amor da minha vida e respondi com todas as letras.

— Aceito.
— As alianças? — O padre perguntou e Maria entregou para ele. Em

seguida, ele que nos entregou. Coloquei no dedo de Anne, e depois ela

colocou no meu.

— Eu vos declaro: marido e mulher. O noivo pode beijar a noiva.

Assim que o padre nos deu permissão, eu beijei minha esposa com

todo o amor que tinha dentro do meu peito. Eu estava transbordando de

felicidade, estava me casando.

Quando vi essa garota pela primeira vez, meu coração me avisou

que eu teria muitos problemas pela frente. Ela fala alto, tem a risada mais

escandalosa que já ouvi, chora assistindo séries e chora na frente do

espelho dizendo que está feia. Mas ela mal sabe que é a mulher mais linda

desse mundo. Ela me deu o meu maior presente, o nosso filho, o nosso

pequeno Davi. Anne, eu te amo e quero envelhecer ao seu lado. Ainda

vamos ter a nossa menina.

Anne enxugava as lágrimas e sorria ao mesmo tempo; pegou na

minha mão e beijou a aliança. Fiz o mesmo com ela.


Vinícius Malfacini, o homem mais improvável por quem fui me

apaixonar, o enfermeiro chefe mais cobiçado de Limoeiro. E é meu agora,

meu esposo. Ele tem essa cara de bravo, mas é a pessoa mais sensível que

conheço. Tem medo de borboletas, mas isso é segredo. Eu me apaixonei no

dia em que você jogou lama em mim, quis te matar, mas quando você me

ofereceu sua tolha para eu enxugar meu rosto, desisti no mesmo instante.

Esse homem, gente, faz os meus dias serem os melhores, e é um pai

maravilhoso para nosso filho. E será meu amor para sempre. Eu te amo,

Vinícius Malfacini, e quero envelhecer ao seu lado.

Anne terminou de falar e nos beijamos. Eu tinha me casado com a

vizinha e faria ela feliz para sempre.

fim
Camila Milani tinha um passado triste e conturbado. Depois que

terminou seu noivado — uma semana antes do casamento — ao descobrir a

traição do noivo com sua melhor amiga, decidiu se mudar para outra

cidade, a fim de um recomeço para sua vida.

Como pediatra, conseguiu um emprego no hospital local, e foi onde

conheceu uma linda garotinha chamada Maria Flor, que mexeu com seu

coração de uma maneira inexplicável. Lidar com os sentimentos pela


criança não era o problema, mas sim ter que controlar as emoções que

sentia sempre que via o pai da menina... Átila, que também era seu vizinho.

Átila Malfacine era o farmacêutico e dono da Malfarma, única

farmácia do bairro em que morava. Viúvo, e pai da pequena Maria Flor, não

pensava em se envolver com ninguém, porque temia que a filha não

aceitasse seu relacionamento.

Porém, quando sua mais nova vizinha se tornou a pediatra de sua

menina, sentiu a necessidade de conhecer, mais a fundo, a médica que

ajudou o seu maior tesouro.


“Sua esposa não resistiu a parada cardíaca. Sabíamos que a

gravidez era de risco e que isso poderia acontecer por conta da eclampsia
devido à pressão alta. Nós fizemos de tudo, pois nossa vontade era de

salvar as duas. Porém, não foi possível. Sentimos muito”

A voz do médico ecoava na minha mente, mas eu não conseguia

dizer nada, meu coração batia tão forte dentro do peito que, por um instante,

pensei que infartaria a qualquer momento; a dor que eu estava sentindo era

uma das mais dolorosas. Perdi as forças das pernas e caí de joelhos no chão,

lamentando por ter perdido a mulher que mais amava no mundo. Meus

irmãos estiveram ao meu lado a todo momento, e com certeza a cena se

repetia em nossas mentes. Nossos pais tinham morrido quando eu tinha

vinte anos, Nicolas dezenove e Vinícius dezoito. Desde sempre fomos

somente nós três.

Quando me casei, trouxe Aurora para morar conosco, pois nossos

pais tinham mais três casas no mesmo quintal, em Limoeiro, que eles

alugavam. Na frente ficava a casa principal, onde morávamos todos. Com o

dinheiro dos aluguéis, eles pagavam as nossas faculdades; eu fazia

farmácia, Nicolas educação física e Vinícius enfermagem.


Depois que eles se foram, fiquei com a casa da frente, onde morava

com a Aurora; Nicolas passou a morar em uma das casas com Vinícius,

ficando apenas duas para serem alugadas.

Aurora queria engravidar e quando descobrimos que estava grávida,

nós logo soubemos que sua gestação seria de risco devido à pressão alta.

Minha esposa era apaixonada por crianças. Mesmo passando a gestação

toda deitada, idas e vindas ao hospital, ela nunca deixou de sorrir, sempre

quis se envolver com a arrumação do quarto do bebê e o enxoval; os meus

irmãos tiveram a ideia de fazer um chá de bebê e alguns dos nossos amigos

trouxeram presentes para nossa filha. Quando ela soube que estava

esperando uma menina a chamou logo de Maria Flor. Acaso do destino, ou

sei lá o quê, ela nem viu nossa afilha nascer, mas a amava com todas as suas

forças. Os médicos tiveram que fazer o parto às pressas com apenas oito

meses de gestação, uma cesariana de risco. Aurora sempre repetia que era

para eu escolher nossa filha, caso tivesse que optar por uma das duas.

Minha esposa não resistiu e se foi para sempre, deixando um pedaço seu

para eu cuidar e amar, nossa pequena Maria Flor.


Com o coração destroçado tive que ser forte para criar minha filha,

sozinho. Os pais de Aurora moravam fora do País e apenas vieram para o

velório da filha, não quiseram saber da neta, pois achavam que eu e minha

filha tivemos culpa pela morte da filha deles. Eu era um jovem de vinte e

seis anos, e tive que deixar minha dor de lado para ser o melhor pai do

mundo. Meus irmãos foram minha base na criação da nossa princesinha.

Maria Flor ainda ficou internada na Maternidade por mais dois meses, e eu

não deixei de ir visitá-la um dia sequer. Fui pai canguru, pois minha bebê

precisava ser aquecida. Aquele ser indefeso não sabia, mas era tudo o que

eu tinha naquele momento


Descobrir, uma semana antes do seu casamento, que seu noivo era

um tremendo filho da puta com certeza era um sinal divino, alguém lá em

cima devia me amar muito.

Com seis anos de namoro Pedro Henrique me pediu em casamento

no dia em que me formei em pediatria. Desde pequena esse foi meu sonho;

passei a vida inteira vendo a dedicação dos meus pais, ele era clínico geral e

minha mãe sua secretária. Desde sempre, eles foram meus exemplos, não só

na vida, mas também no amor. Meu pai era uma pessoa muito amorosa, e
foram raras as vezes em que o vi brigando com alguém ou chamando a

atenção.

Conheci Pedro Henrique na faculdade, ele cursava engenharia.

Primeiro, nós nos tornamos amigos. Eu, ele e minha melhor amiga éramos

inseparáveis, às vezes, ele ligava pra Carla para pedir conselhos e os dois

estudavam sempre juntos, porque faziam o mesmo curso. Depois do pedido

de noivado, senti que Carla ficou um pouco distante de mim, ela alegava

que estava estudando muito. E como eu também estava nem liguei para seu

distanciamento.

Era um final de semana e Pedro não apareceu em casa. Durante a

semana, eu havia ligado para ele, mas senti que ele estava um tanto

estressado. Supus que seria por causa das provas finais que estava fazendo,

além disso, ele também trabalhava na empresa do pai. Saí da clínica às

cinco horas da tarde e fui direto para sua casa. Dona Andrea, sua mãe,

quando me viu ficou nervosa e isso me deixou mais preocupada. Dei um

abraço nela, e entrei. Como eu já sabia onde era o quarto do meu noivo,
caminhei pelo corredor. Assim que coloquei a mão na maçaneta da porta

para abri-la, ouvi vozes descontroladas, era Carla. Será que eles estavam

estudando? Como uma boa curiosa, fiquei parada tentando ouvir a

conversa. Mas me arrependi na hora... eles estavam discutindo como se

fossem um casal. Algo dentro de mim apitou em alerta. Será que estavam

tendo um caso? Pensei.

— Eu não vou abortar nosso filho, Pedro. Não fiz essa criança

sozinha! Você se casando ou não com a Camila, tem a obrigação de me

ajudar a criar. Eu te amo, poxa. Me apaixonei por você primeiro, e você

disse que ia terminar tudo com ela. Camila não entende você e, eu sei tudo

o que você gosta. Sei, praticamente, tudo sobre você. Sua mãe me adora,

ela mesmo disse que prefere a mim do que a Camila.

Nem entendia como consegui abrir a porta, quando percebi, já tinha

acertado uma bofetada na cara de pau da minha ex-melhor amiga, e um

chute no saco do meu ex-noivo traidor. Não fiz escândalos, porque nunca

gostei de ser o centro das atenções, mas nunca deixaria ninguém me


humilhar. Saí batendo a porta com Pedro correndo atrás de mim. Só não

passei com o carro por cima dele, porque ele não valia o meu réu primário.

Estacionei o carro de qualquer jeito na garagem e entrei em casa

dando ordem para a empregada não deixar Pedro entrar. Não queria nem

olhar para a cara dele. Tinha certeza de que ele viria atrás de mim querendo

me explicar o óbvio. Comecei a chorar me sentindo traída duplamente,

Carla era minha melhor amiga e, eu sempre contei pra ela tudo sobre o

Pedro, desde nossas brigas até quando fazíamos as pazes. Quando ele me

pediu em casamento, ela me disse que era muito cedo para nos casarmos,

não entendi nada na época, mas agora estava tudo muito claro, ela estava

com ciúmes do Pedro.

Escutei uma batida na porta, enxuguei minhas lágrimas e perguntei

quem era.

— Amor? Sou eu, Pedro. Me perdoa, eu amo você. Todo mundo

erra. — Me sentei na cama e fiquei ouvindo suas desculpas enquanto

lágrimas escorriam dos meus olhos e molhavam minhas bochechas. Eu


estava sofrendo muito, porque amava muito o meu noivo e ele foi um

canalha comigo. Me sentia duplamente traída e nenhuma mulher merecia

passar pelo que eu estava passando.

— Lembra quando eu disse que estava passando por alguns

problemas? E você me disse que nós dois enfrentaríamos isso juntos,

porque é o que os casais fazem, eles enfrentam seus problemas unidos? Eu

ia te contar tudo, mas só depois que estivéssemos casados. Não vou mais

mentir para você. Fui fraco sim, admito. Mas o importante é que estou

assumindo. Carla também tem sua parcela de culpa, porque sempre deu em

cima de mim. Quando fui estudar na casa dela, ela me ofereceu uma taça de

vinho e rolou, mas foi só uma vez, vida, duas ou três vezes apenas. — De

repente, Pedro ficou em silêncio como se estivesse pensando. Fiquei

esperando-o começar a falar novamente.

— Não amor, não vou mais mentir para você. Eu e ela estávamos

saindo juntos há mais de três meses. Mas eu ia te contar. — Me levantei da

cama andando de um lado para outro, furiosa por ouvir da boca do homem,
que eu tinha depositado toda a minha confiança e todo meu amor, que ele

me traía há mais de três meses. Eu ia matar esse desgraçado.

Abri a porta com os olhos inchados de tanto chorar por um noivo

safado. Olhei dentro dos olhos dele e vi o medo estampado em cada um

deles. Seus cabelos estavam bagunçados e ele estava muito triste, mas nada

do que ele dissesse me faria voltar atrás da minha palavra. Eu não gostava

de mentiras.

— Vai embora. Nada do que me disser vai me fazer te perdoar. Você

me traiu. Como que vou me casar com um homem que vai ter um filho com

minha ex-melhor amiga? Você é um imbecil. Sai da minha casa e da minha

vida. Acabou Pedro. — Tirei a aliança do dedo e joguei em seu peito. Na

hora que ia fechando a porta, meus pais apareceram. Minha mãe com a cara

espantada e meu pai observando toda a cena.

— O que está acontecendo? Doralice nos telefonou, preocupada,

dizendo que vocês dois estavam brigando. Logo vocês, que nunca brigam.
Alguém pode me explicar? — Todos entraram no meu quarto, esperei o

safado começar a falar. Mas, além de safado, era um frouxo.

— Advinha quem vai ser pai? Mas eu não serei a mãe. — Meus pais

me olharam atônitos. — Esse desgraçado estava me traindo com a Carla,

ela está grávida dele! — Contei, soluçando. Meu pai olhou para o Pedro

esperando uma explicação.

— Ande rapaz, comece a falar. — A voz do meu pai era calma, na

verdade, meu pai era a calmaria em pessoa. Mas quando se tratava de mim,

ele era capaz de tudo.

— Foi um deslize, senhor Ricardo...

O interrompi:

— Deslize? Faz-me rir seu canalha. — Gritei furiosa.

— Eu já me arrependi. Não sei onde estava com a cabeça.

— Nas partes íntimas da Carla, com toda certeza — Papai me

encarou triste, ele sabia que eu estava muito magoada.


— Mas vou corrigir meu erro amor, eu prometo a você.

— E vai corrigir como? Vai se casar com a Camila e continuar

visitando sua amante e seu filho? Acha que filhos são erros para corrigir de

uma hora para outra? — Decepcionado, meu pai o questiona, teoricamente.

— Realmente rapaz, eu me enganei com você. Se Camila decidir se casar

com você mesmo assim, não poderei fazer nada. Mas tenho certeza de que

isso não irá acontecer, pelo que conheço da minha filha, você a magoou

muito.

— Mas o casamento é em uma semana, Camila. Meu Deus! Está

tudo pronto. E agora? Minha filha... pensa bem. — Olhei para minha mãe

sem acreditar em suas palavras.

— Você está me dizendo para pensar bem e me casar com um

homem que me traiu? É isso, mãe?

— Camila, só estou te dizendo para pensar bem. Como vamos avisar

aos convidados que não vai mais haver casamento? As coisas não são tão

simples assim.
— Avisando! Vou começar agora mesmo. Desmarcar buffet, salão de

festa, os convidados, devolver presentes. Tenho certeza de que ninguém vai

achar ruim.

— Camila, amor... — me virei para o safado e o esperei me dizer

suas últimas palavras.

— Me perdoa. Eu te amo.

— Quem ama não trai. Agora vá resolver a venda do nosso

apartamento, quero a metade do dinheiro na minha conta. Vai embora.

Agora.

Pedro saiu e minha mãe foi atrás dele. Meu pai ficou me olhando e,

eu corri para seus braços e comecei a chorar. Eu queria ir para bem longe,

onde ninguém soubesse da minha história. Com certeza meu pai me

ajudaria, já que tinha amigos que trabalhavam no município de São Carlos,

e era para onde eu pretendia ir trabalhar, queria me dedicar a profissão de

pediatra.
— Pai me ajuda a conseguir um trabalho no hospital daquele seu

amigo diretor que mora em Limoeiro? Preciso de um tempo longe. Ficando

aqui só vou me machucar mais.

Meu pai sorriu e tirou o telefone do bolso ligando para seu amigo,

trocaram poucas palavras e papai sorriu, agradecendo seu amigo. Depois

falou comigo.

— Meu amigo aceitou te receber como residente — falou, feliz por

conseguir me ajudar. —, mas você sabe que nesse hospital, o trabalho será

dobrado..., porém, acredito que vai ser muito bom para você adquirir

experiência. Eu queria você na clínica junto comigo, mas te entendo, filha,

conte comigo sempre. Maurício disse que vai alugar uma casa para você na

cidadezinha, já que ele conhece o dono. Você vai estar em boas mãos.

Agora esfrie essa cabecinha.

Depois que meu pai saiu do quarto, eu me deitei na cama e

adormeci.
Depois de uma semana, consegui desmarcar tudo relacionado ao

casamento; a venda do apartamento ficou a cargo de Pedro e depositar

minha parte. Não queria mais nenhum vínculo com ele. Ele ainda tentou me

fazer mudar de ideia, mas fui firme. Tive um embate com minha mãe, ela

queria enfiar na minha cabeça que eu deveria pensar mais e que poderia

viajar para esfriar a cabeça. Pois um relacionamento não deveria acabar

assim. Eu, de verdade, preferi não brigar mais com ela, sabia que ela

planejou esse casamento, praticamente, sozinha, mas era minha felicidade

que estava em jogo.

A safada da Carla ainda me procurou fazendo cena, dizendo que

sempre foi apaixonada por Pedro Henrique e que tentou de todas as formas

não se envolver com ele, porque sabia que ele me amava, mas que errou e
só queria meu perdão. Ela iria embora para a casa dos pais e ia criar o filho

sozinha. Ainda aconselhei a cobra, disse que se a criança tinha pai era a

obrigação dele sustentar o filho. Não conseguia perdoar nenhum dos dois,

esperava que o tempo se encarregasse disso. A única coisa que eu queria na

minha vida era paz e sossego, bem longe de São Carlos. Eu já tinha

comprado minha passagem para Limoeiro, já tinha feito as malas e

embarcaria mais a noite. Meu pai me deu todo o apoio, e minha mãe achava

que eu estava fugindo. Não vi mais o Pedro, ele entendeu que nada do que

fizesse me fará mudar de ideia. Eu estava decidida sobre todas as minhas

escolhas. Dali para frente seria vida nova.

Gostou? Clique aqui!


A você leitor que chegou até aqui. Muito obrigada, que a história de

Vinícius e Anne faça você se apaixonar. Se ainda não leu o primeiro livro

da Série Vizinhos, vou deixar uma pequena degustação dos primeiros

capítulos!!!

O livro três tem previsão para ser lançado final de junho. Beijos!!!!!
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