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Revista Pratica Docente (RPD) ISSN: 2526-2149 .GIRPD, 03 id A FORMACAO DO PROFESSOR PARA A PRODUCAO DO DISCURSO IDENTITARIO DO JOVEM NEGRO NAS AULAS DE REDACAO THE FORMATION OF THE TEACHER FOR THE PRODUCTION OF THE IDENTITY DISCOURSE OF THE YOUNG BLACK IN WRITING CLASSES LA FORMACION DEL PROFESOR PARA LA PRODUCCION DEL DISCURSO IDENTITARIO DEL JOVEN NEGRO EN LAS CLASES DE ESCRITURA Ivone Dina Ribeiro Lemes de Almeida ‘Mestrado em Ensino (PPGEN/UNIC) Professora na rede estadual de ‘Mato Grosso (SEDUC-MT) ivonealmeidaS3@amail.com Jhonatan Thiago Ber Perotto ‘Mestrado ei Ensino (PPGEN'UNIC) Doutorando em Estudos de Linguagem (PPGEL/UFMT) Professor na rede estadual de Mato Grosso (SEDUC-MT) honatanperotto@ gmail.com Josenil Aratijo dos Santos ‘Mestrado em Easino (PPGENUNIC) Professor na rede estadual de Mato Grosso (SEDUC-MT) teacherjosenil@amail.com Lucy Ferreira Azevedo ‘Doutorado em Lingua Portuguesa (PUCISP) Docente do Programa de Mestrado ‘em Ensino (PPGEN/UNIC) Incyfazevedo@gmail.com Resumo E fato que com a evolucéo das priticas pedagogicas, outras, formas de ensinar e aprender vdo surgindo, como a utilizacdo das ferramentas tecnolégicas como 0 video-minuto. A tematica do video-minuto relaciona-se & questio da identidade dos afrodescendentes que nfo expdem o que pensam sobre a situagao do negro no Brasil. Assim, o objetivo foi verificar e descrever 0 ‘uso do género digital video-minuto como possibilidade de um posicionamento dos alunos afrodescendentes contra 0 racismo enfrentado na escola e no cotidiano. A metodologia adotada foi a pesquisa-ado, com narureza qualitativa, mediante a leitura referencial e ficcional em sala de aula. Os te6ricos norteadores da abordagem que sustentaram este estudo foram Bakhtin (2000), Bronckart (2007), Marcuschi (2008), Almeida (2019), Quijano (2003) © Schwarez (1993), além da BNCC (2018). Com 0 desenvolvimento desta pesquisa, espera-se fomentar mais, discusses sobre o negro no Brasil, estimular a opinito dos alunos sobre seu préprio contexto, Palavras-chave: Ensino. Leitura. Produgao de texto audiovisual Recebido em: 1 de agosto de 2022 Aprovado em: 1 de dezembro de 2022. Como citar esse artigo (ABNT) ALMEIDA, Ivone Diné Ribeiro Lemes de et al. A formacao do professor para a produgao do discurso identitério do joven negro nas aulas de redacdo. Revista Pritica Docente, v. 7, 2 Especial Humanas, 22103, Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa Revista Prética Docente. v. 7, n. Especial Humanas, €22103, 2022 Pagina | 2 Revista Pratica Docente (RPD) ISSN: 2526-2149 Abstract Itis_ fact that with the evolution of pedagogical practices, other ways of teaching and leaming are emerging. as the use of technological tools such as minute-video. The theme of the video-minute remained focused on the issue of the identity of Affo-descendants who do not expose what they think about the situation of black people in Brazil. Thus, the research aimed 10 verily and describe the use of the digital video-minute genre as a means to enable Afro-descendant students against the racism they face at school and in their daily lives. The methodology adopted was action research, with a qualitative nature, resorting, ‘o referential and fictional reading in the classroom. The theorists who guided the approach that supported this dissertation were Bakhtin (2000), Bronckart (2007), Marcuschi (2008), Almeida (2019), Quijano (2005) and Schwarez (1993); in addition to the BNCC (2018). With the development of this dissertation, it is expected to foster more discussions about black people in Brazil, :926RPD. stimulate students opinion about their own context Keywords: Teaching, Reading, Production of audiovisual text. Resumen Es un hecho que con la evolucién de las pricticas pedag6: estin surgiendo otras formas de ensefiar y aprender, como uso de herramientas tecnologicas como el video-minuto, El tema del video-minuto qued6 centrado en el tema de Ia identidad de los afrodescendientes que no exponen lo que piensan sobre la situacién de los negros en Brasil. Por lo tanto, la investigacién tuvo como objetivo verificar y describir el uso del género video- minuto digital como un medio para que los estudiantes afrodescendientes se posicionen frente al racismo que enfrentan en la escuela y en su cotidiano, La metodologia adoptada fue la investigacién’accién, recurriendo a un cardcter cualitativo, recurtiendo a la lectura referencial y ficcional en el aula. Los teéricos que guiaron el enfoque que sustenté esta disertacién fueron Bakhtin (2000), Bronckart (2007), Marcuschi (2008), Almeida (2019), Quijano (2005) y Schwarez (1993), ademas del BNCC (2018). Con el desarrollo de la disertacién, se espeta incentivar més discusiones sobre los negros en Brasil, estimular Ja opinion de los estudiantes sobre su propio contexto. Palabras clave: Enseflanza. Lectura, Produccién de texto audiovisual, Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa Revista Prética Docente. v. 7, n. Especial Humanas, €22103, 2022 Pagina |2 Revista Pratica Docente (RPD) ISSN: 2526-2149 1 INTRODUGAO Aescola enquanto espago criativo foi a proposta do presente estudo no que conceme & aplicagio da utilizagao do género textual video-minuto em um contexto pedagégico, bem como a discussio e andlise da condigdo das pessoas negras no Brasil e em sua realidade distia, A hipétese inicial foi que 0 video-minuto como proposta de produgio de texto potencializaria o trabalho do professor de lingua portuguesa para 0 ensino de redacao por meio de textos visuais e sonoros como ferramenta para a produgao de texto assim como incentivaria a exposigZo livre do aluno sobre a sua condicZo de enfrentamento na comunidade em razio de ser aftodescendente. A partir dai, objetivou-se verificar e descrever 0 uso do género digital video-minuto como um meio para possibilitar um posicionamento por parte dos alunos afrodescendentes contra o racismo que enfrentam na escola ¢ em seu cotidiano,o que se configura em um grande desafio: autoconhecer-se como negro e posicionar-se contra 0 racismo em seu cotidiano, A metodologia adotada foi a pesquisa-acio, recorrendo-se a natureza qualitativa, com pesquisas de textos para leitura referencial (conteudistica) e ficeional em sala de aula. Os tedricos que nortearam a abordagem que sustenta esta pesquisa foram os interacionistas da linguagem, filésofos, socidlogos ¢ a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), 0 principal documento que norteia o ensino fundamental e médio no Brasil, pensado pelo Ministério da Educagio. Com o desenvolvimento deste estudo e de outros com temas andlogos, espera-se fomentar mais discussdes sobre o negro no Brasil ¢ estimular a opinidio dos alunos sobre seu proprio contexto em material divulgado em um grupo de Wharsapp, pois a maioria deles nao tem internet, sio estudantes da periferia da capital. Durante a evolucio dos trabalhos, foram feitas anotagdes sobre a redacao de futuros trabalhos de divulgagio que se pretende organizar, com a finalidade de ampliar a discussio de ‘um tema to necessério nas escolas de Mato Grosso com sua diversidade étnico-cultural. 2 A ESCOLA E © ENSINO DE PRODUCAO DE TEXTO: BASES DAS DISCUSSOES ENTRE PROFESSORES E ALUNOS Alguns autores focalizam claramente a distingao entre fexto e discurso sua inter- relago e, por isso, valem ser destacadas. ) que, ao percorrer trabalhos do Cireulo de Bakhtin, ressalta uma inter-relagdo entre texto € O primeiro, em uma perspectiva dialégica, ¢ o entendimento de Beth Brait (2012, p. Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa Revista Prética Docente. v. 7, n. Especial Humanas, €22103, 2022 Pagina |@ Revista Pratica Docente (RPD) ISSN: 2526-2149 discurso: na perspectiva dialogica, o texto ndo é considerado auténomo, porque esta ligado a 0.23926/RPD 2 Jl.e22103.id1744 um “enunciado concreto que 0 abriga a discursos que 0 constituem” (2012, p. 10), bem como a esferas de atividade, produgio, circulagao, interagao Ji Fiorin (2006) salienta os coneeitos de interdiscurso e de intertextualidade para no cousiderar texto e discurso como sindnimos. Para o autor, 0 texto & mais conereto, é realizagao, enquanto o discurso, ¢ imangncia. Um discurso pode completar-se em um conjunto de textos. Exemplificando, pode-se colecionar varios textos e dizer que eles pertencem ao diseurso sobre o racismo, De acordo com Mareushi (2008, p. 54), 0 estudo do género discursivo atualmente envolve algo complexo, abrangente multidisciplinar e a proposta da pesquisa-acio propos © video-minuto como consolidagao de uma agio dialética entre professores alunos ¢ um momento prazeroso que exigiu pesquisa e interago entre os participantes. © texto audiovisual, segundo o Dicionario Houaiss (2000, p. 35), € “qualquer comunicagao, mensagem, material, ete. que se destina a ou visa estimular os sentidos da audigiio e da visio sinmultaneamente”, habilidades que exigem novas competéneias do professor e do aluno, acostumados 4 produgdo de texto verbal (escrito ou oral). Para o trabalho em sala de aula, desenvolvido pelo professor de lingua portuguesa, as necessidades se expandem, porque o docente tera que fornecer material de informaco para a formagio de opinides; esclarecer sobre 0 desenvolvimento do video do celular para a divulgacdo no grupo — construgiio composicional, oralidade, volume de voz, luz e ritmo, sincronia e mensagem do video; refletir sobre ética para que os alunos se protejam quanto aos contetidos e desenvolvam a sua aula de redagao que normalmente cairia no lugar comum de temas jd “batidos” (guifo nosso), A abertura da obra oral — predominancia do video-minuto e, ainda conforme o autor Cirino (2012, p. 36), teoria em ato, - € muito maior que a abertura proporcionada pela interatividade em meios digitais, o que se di pelo fato de que a primeira ja se utiliza de uma interatividade responsiva datada de conversacionalidade, algo que a interatividade em filmes no alcanga devido & sua base computacional, que precisa pautar-se no eédigo fechado e no planejamento prévio das escolhas possiveis, ou seja, em um tipo de “programagio”. Reforgamos, portanto, a interatividade como ferramenta para alcangar maior abertura da obra narrativa, Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa Revista Prética Docente. v. 7, n. Especial Humanas, €22103, 2022 Pagina |@ Revista Pratica Docente (RPD) ISSN: 2526-2149 Jl.e22103.id1744 ‘Nem toda narrativa oral, no entanto, sera feita em um ato — com a gravagio de um éudio, por exemplo, Sendo assim, podemos ter também narrativas orais que nfo apresentam nenhum. grau de interatividade, constituindo-se em obras sem uma abertura de segundo grau. Nestes casos, a participagio nfo se di na forma interativa, mas na interpretativa, © video-minuto, considerado aqui uma narrativa oral em ato, busca das natrativas digitais e acaba por consistir na elaboracdo de uma interatividade qualitativa, voltada para a abertura maior da obra como ja aleangada por aquele tipo de narrativa. Os grupos, portanto, foram instruidos para observarem, na narrativa interativa, que ndo basta ter apenas a interatividade reativa, consistindéo em varios momentos de escolha (predominancia quantitativa), mas importa que esta interatividade tenha impacto na narrativa e esteja ligada a ela por meio de funcionalidade ¢ objetivos dramédticos (predominancia qualitativa). Assim, este modelo de narrativa com distintos graus de abordagens foi sustentada, teoricamente, pelos eixos do Interacionismo sécio discursivo, O interacionismo tem como representante de maior renome Jean-Paul Bronekart (2007, p.33) ea equipe da Universidade de Genebra (UNIGE), conhecidos também como pesquisadores genebrinos. O foco do interacionismo sécio discursivo ¢ a ago do sujeito em sociedade como ‘uma ago de linguagem. ‘Na extensio das contribuigdes tedricas do Interacionismo Sécio Discursivo (ISD), as possibilidades de aplicag2o da teoria mostram-se tio diversas quanto se mostra o agir humano em sociedade, Entre tantos objetivos, como 0 mundo do trabalho, os textos mididticos, a exemplo do video-minuto, destacam-se pela preocupagio com situagdes de ensino aprendizagem, 0 tedrico avanca para a delimitagao do contexto de produgio para os textos, chamando a atengio para o fato de que toda produgao de texto resulta de um eontexto fisico, do qual destacam-se, como integrantes, o lugar de produgio, o momento de produgio, o emissor ou produtor ¢ o receptor ou a pessoa que pode receber o texto. Essa ago de linguagem engloba todo ato material ou verbal num dado espago-tempo. Para além do contexto fisico, ele aponta o contexto socio-subjetivo e © decompde em quatro parimetros principais: o lugar social, a posigdo social do emissor, a posigao social do receptor ¢ 0 objetivo. 0 autor entende o lugar social como o lugar institucional em que o texto é produzido, por exemplo, a escola, a interagdo comercial, entre outros. J a posigao social do emissor denota Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa Revista Prética Docente. v. 7, n. Especial Humanas, €22103, 2022 Pagina |8 Revista Pratica Docente (RPD) ISSN: 2526-2149 © papel que ¢ dado ao enunciador no momento da interagao, a exemplo do papel de professor, de aluno, de pai, ete., assim como o papel de receptor tem a mesma denotagio, assim, 0 objetivo indica o efeito, sob o ponto de vista do enunciador que o texto pode produzir no emissor. De acordo com Bronckart (2008, p. 75), 0 objetivo do Interacionismo ~ ISD ~ é 0 de analisar as condigdes de funcionamento efetivo dos textos, partindo do principio de que os géneros textuais so os produtos de uma atividade linguageira e coletiva, organizada pelas formagies sociais, a qual visa adaptar os formatos textuais as exigéncias das atividades gerais. No nivel das mediagdes, postula que as mediagdes formativas se realizam em varios locais, com aprendizes de estatutos diversos. Ainda, conforme Bronckart (2006, p. 54), a linha rejeita quaisquer determinismos proprios do ser humano e de sua agao e, paralelamente, sustenta a atividade de linguagem como lugar e meio das interagdes sociais que fazem parte do conhecimento humano. Essas interagdes constituem uma acao de significancia, ou seja, tratam de uma forma de acao de finguagem. No painel aqui exposto sobre como as discusses com os professores e alunos foram desenvolvidas, o tema principal do trabalho comegou a se delinear, com a observancia de todos os discentes sobre a falta de conhecimento sélido sobre a Lei 10,639/2003 e sobre os suportes te6ricos necessatios para desenvolvé-la, 2.1. ORIENTACAO/EDUCAGAO PARA A DIVERSIDADE: O LUGAR DO PROFESSOR Conforme Almeida (2019), o racismo contra individuos nfo brancos é, alm de social, estrutural, institucional e individual, reforgando a necessidade de que haja uma abordagem do género discursivo citada pelo referido autor ‘Uma construgao identitéria nao &, nto, um problema individual, mas sim um problema global, ou seja, a sociedade faz parte dessa construgio diretamente, mesmo que nio haja reconhecimento disso. Ha também o envolvimento de questdes mais amplas profundas de cariter sociopolitico ¢ econdmico para a ocorréneia da construgio identitaria. 0 indicativo dessa situagdo de exclusdo social é demonstrado no censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica — IBGE (BRASIL, 2017), que aponta uma diferenca significativa de rendimentos entre pretos, pardos, amarelos e brancos. De acordo com o IBGE houve uma redugio nas taxas de analfabetismo no pais nos tiltimos anos, porém subsiste uma distancia entre negros (pretos e pardos) e brancos, A exclusio racial € perceptivel na sociedade. O preconceito e a discriminagio se ‘mostram negativamente nesse grupo étnico-racial mesmo com os avangos legais, a exemplo do Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa Revista Prética Docente. v. 7, n. Especial Humanas, €22103, 2022 Pagina |6 Revista Pratica Docente (RPD) ISSN: 2526-2149 Jl.e22103.id1744 “Dia da Consciéneia Negra” em 20 de novembro, com a ressalva de que esta data s6 é ‘comemorada em alguns estados brasileiros. A lei 10,639/2003 implica na obrigatoriedade da insergio da questio afrodescendente no curriculo escolar. Até entiio, as comemoragdes de datas, especialmente, o vinte de novembro, eram o principal recurso de mobilizagio para a construgio de projetos interdisciplinares nas escolas. No que se refere ao enraizamento das priticas, notou-se que a inclusio do tema no projeto politico pedagdgico da escola, bem como o envolvimento de grupos culturais da comunidade, fortalecem de forma significativa a implementagdo de uma consciéneia capaz de confiontar 0 racismo, que ¢ estrutural no Brasil. © ambiente escolar e suas respectivas agdes influenciam na formagio dos sujeitos que a compdem. Estas, por sua vez, afirmam e/ou negam o cidadio em sua individualidade, bem como na coletividade, e, como consequéncia, ovorre a padronizacao de papéis sociais. A escola, enquanto local de disseminacao de conhecimento, intermedia processos de formagio socioeconémicos, culturais e religiosos com contetidos que reproduzem situagées pelas relagdes sociais estabelecidas entre os sujeitos. A dificuldade em se tratar da tematica do racismo na escola pode ser percebida nos depoimentos daqueles que carregam, em seu historico escolar, as marcas do fracasso em relacdo ao seu rendimento em sala de aula e sio identificados socialmente como negros (pretos € pardos). Esse resultado revela o fato de que o processo histérico de negagao da cultura preta, da historicidade da Attica e da identidade étnico-racial negra ainda é um desafio para a escola ‘como um todo, como também para a importante formagio identitiria do estudante Para Foucault (1987), 0 Estado usa a escola como instrumento de controle social. Ja Althusser (1999) afirma que o Estado tem a escola como um de seus aparelhos ideoldgicos. Nessa concepeio, cabe ao Estado, finica e exclusivamente, a responsabilidad de uma boa construgao identitaria dos alunos em geral, inclusive dos discentes negros. Por exemplo, a partir do Decreto n° 13.331, de 17 de fevereiro de 1854, nfo se admitiam escravizados nas escolas pitblicas do Rio de Janeiro. Segundo Ribeiro (2015), a previsio para a instrugdo de adultos negros dependia da disponibilidade (grifo nosso) de professores. No espago escolar, ocorrem relagdes sociais diferentes e elas refletem a diversidade cultural da sociedade. Desse modo, este espago tem, por obrigago, sua preparagio para poder trabalhar a diversidade cultural e social desde os anos iniciais, de forma constante, pois nenhum conhecimento é periédico, ou seja, nao possui comeco nem fim, mas é ininterrupto. Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa Revista Prética Docente. v. 7, n. Especial Humanas, €22103, 2022 Pagina |? Revista Pratica Docente (RPD) @LoS ISSN: 2526-2149 " © Por meio de uma conscientizagao escolar, talvez, seja possivel minimizar o preconceito Jl.e22103.id1744 0.23926/RPD 2 racial contra os negros e permitir-lhes ser eles mesmos (grifo nosso), com sua cultura e religides. E através da educacdo na escola, onde os alunos passam boa parte do seu dia, que a mudanca pode ser incentivada contra o surgimento de uma meatalidade racista que, de forma lastimavel, promove a desigualdade racial na sociedade em geral. Complementando essa abordagem sobre a socializaco, que ocore no proceso identitério, Pereira (1987) ressalta que a constituigao da identidade doser humano, como expressio de grupos e categorias sociais, esti, indissoluvelmente, ligada ao proceso de socializagio tout-court. Dai, pode-se afirmar que uma das fungdes da socializagio & a construgio da pessoa humana dentro dos parimetros de seu focus espacial, temporal ¢ sociocultural, ou, numa linguagem mais filoséfica, dentro de ideais ou modelo de pessoa definido pela sociedade, Nesse sentido, entende-se que no € 0 ser humano que define o que ele é, mas essa definigio provém do que a sociedade faz com ele. Para que 0 aluno negro se identifique com 0 que 6, aceitando sua cor, seu eabelo, sem achar que é inferior, ele precisa ser orientado. professor precisa trabalhar adequadamente o assunto, mesmo que o livro didatico nio aborde o tema étnico-racial positivamente, o que prejudica a autoestima da pessoa negra, porque 0 pouco contetido abordado vem carregado de preconceito, discriminagdo e atos racistas, o que segundo Silva (1995), [] em relagao ao segmento negro, sua quase totalauséneia nos livros e sua rara presenca de forma estereotipada concorrem em grande partepara a fragmentacto da sua dentidade © autoestima. [..] Nao € apenas o livro o tansmissor de esteredtipos. Conttudo € ele que, pelo seu caréter de “verdadeico”, pela importaneia que the ¢ atribuida, pela exigéncia social do seu uso, de forma constante e sistematica logra introjetar na mente das criancas, jovens e adultos, visdes distorcidas e cristalizadas da sealidade humana e social. A identificacdo da crianca com as mensagensdos textos concorre para a dissociacao da sua identidade individual e social (SILVA, 1995, p. 47-48), Diante desse contexto, sabe-se que 0s contetidos abordados no Livro diditico sio tidos como verdade absoluta. No tocante a histéria africana e afro-brasileira, o pouco que é abordado sobre os negros refere-se a eles apenas como individuos inferiorizados. No contexto escolar piiblico, pode-se perceber, claramente, uma cegueira ou falta de respeito em relagio a questio étnico-racial. E rotina entre os estudantes o tratamento quase sempre em tom de brineadeira, de expresses com os colegas pretos, como “esse preto ai”, “sai, preto fedorento”, entre outros termos chulos. Na fala de uma discente participante da pesquisa, ao responder o questionario sobre o racismo, afirma que “a linguagem verbal utilizada no Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa Revista Prética Docente. v. 7, n. Especial Humanas, €22103, 2022 Pagina |® Revista Pratica Docente (RPD) ISSN: 2526-2149 contexto escolar nao tem influéncia direta nas questdes sociais do racismo, pois ninguém se Jl.e22103.id1744 0.23926/RPD 2 posiciona”, como também afirma que “hé resisténcia de alguns colegas para tratar de temas atuais como o racism: Quando a escola festeja uma data relativa & historia dos negros, normalmente sto lidas poesias ou a escola faz cartazes, mas no hé o pronunciamento identitario de nenhum aluno sobre a comemoracdo. O discurso de alunos pretos e pardos sobre si mesmos ou sobre como se sentem na comunidade é silenciado ou nao oportunizado. Na escola piiblica da rede estadual de Mato Grosso, Jocus da pesquisa, o negro é lembrado, especificamente, na data de vinte de novembro, Dia da Consciéneia Negra. Neste dia, so desenvolvidos projetos na escola para se discutir e refletir sobre a questiio afrodescendente. Sao apresentados projetos em sala de aula para visitagdio da comunidade escolar, os quais, geralmente, estio relacionados 4 gastronomia e ao vestuirio, em sua maiotia, descritivamente, sem provocar polémicas. Nao aparece texto de tipologia dissertativa nem mesmo oral, Analisando, minuciosamente, nfo se vé nenhum projeto a ser desenvolvido em longo prazo direcionado 4 questio étnico-racial e, muito menos, a exposigio por meio de oratéria, por exemplo, de um discente aftodescendente de sua experigncia pessoal, seja em um evento especifico ou em uma aula interdisciplinar. Kabenguelé Munanga (2005, p. 32) considera que esta situaco pode ter contribuido para enfraquecer o sentimento de solidariedade entre os pardos e os pretos. ‘Na hora do intervalo, no patio escolar, na fila para receber a merenda escolar, pereebe- se uma diferenciacio em relagio ao tratamento entre os discentes ¢ até um posicionamento de recolhimento por parte dos discentes em ambiente coletivo. E 0 que Stuart Hall (2005. p. 27) chama de identidade contradités [..1 quando diz que o sujeito pés-modemo se caracteriza pelo mudanca,diferenga ¢ inconstancia, mantendo sua identidade aberta, ¢ que se, de um lado, essa visto é perturbadora pelo seu caréter de imprevisiblidade, de outro, € positiva por desestabilizaridentidades do passado e abrir. se & possibilidade de desenvolvimento de novos sujeitos (HALL, 2005, p. 27 O livro didatico, por outro lado, sempre trouxe uma proposta branca para o projeto pedagégico. Por exemplo, na obra Lingua Portuguesa: Linguagem e Interagao/volume |,Editora Atica, FARACO (2016), néo ha nenhuma discussio acerca da questio racial. Foi possivel trabalhar este tema, por exemplo, em sala de aula, de forma adaptada, em ‘uma aula de literatura, localizada na pagina 150 do referido livro, onde se pediu para que os Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa Revista Prética Docente. v. 7, n. Especial Humanas, €22103, 2022 Pagina |9 Revista Pratica Docente (RPD) ISSN: 2526-2149 alunos lessem 0 poema e, a partir da leitura feita, interpretassem, minuciosamente, 0 que 0 0.23926/RPD 2 Jl.e22103.id1744 autor pretendia transmitir com aqueles versos Com essa discussio, conseguiu-se chegar ao tema do racismo social, ou seja, de forma indireta, dificilmente como foco central de um capitulo, por exemplo. Pode-se perceber que @ temética é abordada timidamente ainda, de maneira indireta diante de sua complexidade. Surge aia fragilidade do proprio professor. No grupo de estudo sobre didspora, raga e racismo, houve um grande impacto entre os professores sobre a historicidade que envolve os acontecimentos: raga e racismo. O entendimento sobre teorias que explicam raga é necessario, para que se entenda racismo com mais profundidade. Existem diferengas sobre o conceito “antes e depois” do advento da escravidio nas Américas, ‘Munanga (2004) registra teorias sobre o que era entendido como humanidade. Antes do conceito de raca, na modernidade, o pensamento acompanhava a teoria monogenista, isto descendéncia de Adio (brancos) era tida como parte da humanidade. A teoria poligenista passou a fazer sentido, no corpo social, aps as aboligdes. Nesse contexto, Silvio Almeida (2019), em seu livro “Racismo Estrutural”, apresenta um pereurso a partir do século XV, encontros de civilizagdes: os europeus, indios americanos ¢ asiiticos. Surge, entfio, a necessidade de questionar sobre como ficariam os negros afticanos na humanidade. Anibal Quijano (2005), em seu texto, Colonialidade do poder expde que a ideia de raga surge antes da modemidade, a partir do conhecimento sobre a América. A Europa ~ 0 eurocentrismo — era o centro da compreensio da chamada civilizacao, No tempo, as novas identidades que surgiam, ou seja, indios, negros e mestigos permitiram outras definigdes. Junto 4 sitnagio geografica, esses povos traziam suas conotagdes culturais/raciais. Com isso, as relagdes coloniais pregaram a superioridade dos europeus pelo poder, pela dominagio (QUISANO, 2005, p.107).. ‘No contexto escolar, sem interiorizar 0 conhecimento sobre os temas relativos ao racismo, © docente nio pode auxiliar o estudante a aprender a memoria de seu povo, a constituigio de sua propria identidade a partir da diaspora negra. E relevante que seu povo tenha uma meméria porque é a partir dela que o comportamento social se estrutura. Um povo sem meméria é aquele ‘que age & deriva, sem nenhuma referéncia histérico-social. Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa Revista Prética Docente. v. 7, n. Especial Humanas, €22103, 2022 Pagina | 10 Revista Pratica Docente (RPD) ISSN: 2526-2149 A diversidade que caracteriza 0 continente sul-americano © as experiéncias de 0.23926/RPD 2 Jl.e22103.id1744 escravidio e colonizagio ainda nfo sio discutidas, e 0 que temos é a destruigdo da meméria coletiva dos eseravizados ¢ dos colonizados. No entanto, sendo 0 elemento identitério um mecanismo importante para fortalecer a luta por direitos, muitos movimentos negros buscam constiui-la a partir da didspora, da experiéncia do preconceito vivenciada por todos os povos negros, das caracteristicas do corpo negro e da ideia de uma ancestralidade comum. Na unidade escolar pesquisada, as narrativas de discriminagao feitas pelos alunos e, muitas vezes, até pelo proprio docente, refletem uma cultura racista. Mas é essa cultura que a escola precisa desconstruir, pois naturalizar as desigualdades seria 0 mesmo que negar a Historia. As marcas negativas historia e socialmente construidas sobre o significado da identidade negra no Brasil que sio absorvidas pela escola, constituem elementos da formagao e ainda se revelam no atual cotidiano escolar. E perceptivel uma diferenca de comportamento entre negros (pretos e pardos) e brancos na escola, especialmente na sala de aula. De acordo com Fernandes (2008, p. 278), comportamentos como isolamento, passividade ou nao aceitagao de regras so mecanismos adaptativos ou de ajustamento social, desenvolvidos pelos pretos. Alguns comportamentos de autodefesa utilizados pelos jovens buscam aceitagao. Estes mecanismos sio utilizados pelos discentes para que sejam aceitos no grupo e na sociedade de maneira geral. Os alunos buscam ‘uma convivéncia harménica e sem diseriminagao, © racismo sobre a ética do interacionismo discursivo reflete a possibilidade de se trabalhar esta tematica em um contexto global, onde nao se apresenta de maneita individual e sim, a partir de um cenério geral para que se atinja/ensine o individuo, em particular, no caso 0 aluno, seja ele branco ou negro, O recurso miditico do video dialoga diretamente com 0 objetivo da presente pesquisa. As questies raciais no Brasil nao foram discutidas tendo como base a compreensao sobre 0s grupos afticanos sequestrados para o Brasil, formadores da nossa histéria social. Ao invés disso, debrugou-se em tomo de uma eriagao nacional: 0 “negro” negro, enquanto categoria, é uma espécie de filtro das diferencas étnicas, unificando- as em tomo de um “novo sujeito”. Utiliza-se aqui o termo “novo sujeito” entre aspas para destacar seu significado limitado, pois ele nasce 20 mesmo tempo em que um lugar social especifico ¢ para ele estabelecido: o lugar da nio existéncia ou, nas palavras de Frantz Fanon, “zona de nao ser” (FANON, 2008, p. 26). Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa Revista Prética Docente. v. 7, n. Especial Humanas, €22103, 2022 Pagina | 11 Revista Pratica Docente (RPD) ISSN: 2526-2149 Jl.e22103.id1744 Para que se compreenda a complexidade de nossa sociedade e dos significados compartilhados, ¢ necessirio que se observem os processos de racismo. Mais do que isso, precisamos de leituras transnacionais — ou “supranacionais”, nas palavras de Joel Rufino dos Santos (1985, p. 301), A modernidade e © progresso, como projetos para o pais, bem como os dilemas e os que ulttapassem as fronteiras do nacional. desafios para sua consolidagio, so temas que atravessam toda a literatura, E as diferentes compreensdes sobre a “modemidade” (perifériea, seletiva, revolugio passiva, modemnidade negra, entre outras leituras) trazem resultados muito dispares quanto a interpretag3o das relagdes raciais e do processo da diaspora. A didspora, mais do que um marco histérico iniciado pela dispersio forgada de africanos pelo mundo, significa a formagao de rotas culturais criadas pela presenga de africanos e de seus descendentes por todos os continentes, que originaram um citeuito de expressdes.culturais, estruturas de sentimento, formas de sociabilidade ¢ lugares de meméria, hibridizadas constantemente transformadas (GILROY, 2001; HALL, 2005). Nesta perspectiva, o homem evoluiu de seu estado natural (igado & natureza) para o aperfeigoamento civil (mais civilizado/teoria evolucionista) desde meados do século XVII. E, logicamente, o termo eivilizado era ligado a0 branco, 0 colonizador. As ciéncias, em sua evolugio, fazem a humanidade refletir sobre a visio poligenista. ‘Na segunda metade do século XIX, essa visdo, influenciada pelas ciéncias biolégicas € pela resisténcia de muitos frente aos dogmas do cristianismo, divulgou a ideia de diferentes origens, “observadas cultural e fenotipicamente “(SCHWARCZ, 1993, p. 49). Por consequéncia, o poligenismo — ragas biologicamente distintas © racismo modemo é diferente, pois envolve uma concepe3o mais viciosamente sistemdtica de inferioridade intrinseca e natural, que surgiu no final do século XVII ou inicio do séculoXVIIL, e culminou no século XIX, quando adquiriu 0 reforgo pseudocientitico de teorias biologicas de raga e continuou a servir como apoio ideolégico para opressio colonial, mesmo depois da aboligio da eseravidio. © racismo, portanto, origina-se da elaboragio e da expansio de uma doutrine que justificava a desigualdade entre os seres humanos (seja em situagao de cativeiro ou de conquista) nio pela forga ou pelo poder dos conquistadores (uma justificativa politica que acompanhara todas as conquistas anteriores), mas pela desigualdade imanente entre as ragas humanas (a inferioridade intelectual, moral, cultural e psiquica dos conquistados ou Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa Revista Prética Docente. v. 7, n. Especial Humanas, €22103, 2022 Pagina | 12 Revista Pratica Docente (RPD) ISSN: 2526-2149 Jl.e22103.id1744 escravizados). Esta doutrina justificava-se pelas diferencas raciais, a desigualdade de posigao social e de tratamento, a separaco espacial e a desigualdade de direitos entre colonizadores ¢ colonizados, entre conquistadores e conguistados, entre senhores ¢ escravos e, mais tarde, entre os descendentes destes grupos incorporados num mesmo Estado nacional. Trata-se da doutrina S, 1999, p.L04). Diante do exposto, vale ressaltar que, segundo Hall (2005, p. 11), uma sociedade justa racista que se expressou na biologia e no direito (GUIMARAE: deve ser multicultural para que permanega em um espago heterogéneo e pluralistico. A escola urge de ser assim também. 3. PROCEDIMENTOS DO METODO A fim de se compreender bem 0 proceso metodolégico desta pesquisa, o tipo de abordagem metodolégica do estudo foi qualitative e, com a intengio de alcangar os objetivos, a coleta de dados foi feita a partir dos instrumentos de pesquisa: papers sobre teorias, encontros entre os professores voluntarios e pesquisa bibliogrifica. Com essa organizagio, professores voluntarios ¢ alunos do segundo ano — escola média ~ iniciaram leituras e participaram de discusses com o professor ministrante da aula de redagdo, momento em que comegaram a aparecer resultados titeis nao s6 para 0 grupo da investigacao local, como também para viabilizar a outros profissionais o interesse em rever suas priticas pedagégicas, além de estimular estudos e transformagdesde atitudes do grupo, de outros grupos e de pessoas, nos habitos de consumo, formas de autoridade e de comportamentos, além de, principalmente, estimular o discurso identitario de cada aluno negro ou afrodescendente Enquanto instrumentos de coleta, foram utilizados dois corpora: um mais denso, sobre as teorias relacionadas a raga, racismo, preconceito ¢ outros assuntos conexos, todos discutidos entre os professores de forma livre e aberta; outro para andlises dos alunos. Para ambos, houve uma dinamica de afirmagao ¢ argumentagao sobre pontos de grupos interessedos para réplica dos demais. Foram utilizados, como procedimentos, anélise documental para analisar 0 livro didatico de Lingua Portuguesa adotado pela instituigéio (consideragio jé apresentada) questionitios especificos sobre o material Lido com os grupos de professores — 5 professores — € com os trés grupos de estudantes (um de cada periodo do ensino médio) com idades entre 17 € 21 anos, cujo miimero total foi de 64 participantes. Entre os papers com material teérieo, também foram selecionados textos literérios (contos e poemas), que compreendiam os periods de produgio literaria entre o Romantismo Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa Revista Prética Docente. v. 7, n. Especial Humanas, €22103, 2022 Pagina | 18 Revista Pratica Docente (RPD) ISSN: 2526-2149 © 02202002 Jl.e22103.id1744 a Literatura Contemporanea. A instituigdo onde se desenvolveu a pesquisa foi uma escola estadual de Ensino Médio, localizada em Cuiabé — MT. 4 RESULTADOS E DISCUSSORS Acreditamos que o objetivo geral foi alcangado tanto na proposta do video-minuto, para a dinamizagio do ensino na escola, quanto no aprofundamento sobre o tema racismo, Assim, compreendemos a hipétese de que o video-minuto, como proposta de produgao de texto, potencializaria o trabalho do professor de lingua portuguesa para o ensino de redagdo — por meio de textos visuais e sonoros — sobre a sua condigao de enfrentamento na comunidade em razio de ser afrodescendente, Assim, pensamos que a suposigdo sobre o professor nfo estar pronto para um trabalho profundo com a fundamentacdo na Lei10.639/2003 estava correta, uma ‘vez que isso foi constatado nas reunides do grupo de professores. A abordagem do video fez muitas expanses: a expresso oral, ou seja, um exercicio que normalmente nao ¢ praticado na escola — a fala. Pensamos no grupo que a fala é condieao minima de convivéncia respeitosa numa sociedade e depende, antes de tudo, do reconhecimento do corpo enquanto legitimo; o assumir “eu sou negro” —o que antes no era reconhecido como caracteristica e valores, agora comega a ser assumido sem dor. Os videos mostraram bem 0 que também preconiza Oliveira (2000) em relagio aos livros didétieos que costumam mostrar imagens canénicas dos negros em seus afazeres subalternos. Em relagio aos grupos formados, a liberdade de expressio foi uma pritica de todos os momentos. Traduziu uma aproximagio entre os professores que antes nao acontecia. Quanto aos videos, o grupo de ahunos elegeram para a divulgagao 3 videos (no momento, novamente, postados no Youtube): “Voeé 16 poetas negros?”, “Negro no Brasil — trabalho de portugués” e “Negro sim!”. Em resumo, sobre as expansdes culturais nos videos: Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa Revista Prética Docente. v. 7, n. Especial Humanas, €22103, 2022 Pagina | 14 Revista Pratica Docente (RPD) ISSN: 2526-2149 © 10 2:06 mrp 2022.7. nF specialc22103.i Figura | - Video 1: Vocé lé poctas negros? Vocélé poetas Le Fonte: Disponivel para acesso em: hitps/Avw. youtube.com watch?v=EOAKUplY. grupo trata sobre os papéis sociais do negro na sociedade na maioria dos textos poéticos e mais: a dor, o sofrimento, a solidio e a falta de possibilidade para conseguir superar tudo isso. Chegaram 4 conelusio de que, indiscutivelmente, niio lem poetas negros Figura 2 - Video 2: Negro no Brasil Fonte: Disponivel para acesso em: http rout be'miz6U7Byplo. Este video tratou do sentido da expresso da “zona de no sex” (FANON .2008, p. 26) sobre o proprio negro nao reagir as situacdes ¢ acomodar-se na situacdo. Com a conscientizagao dos alunos, esperamos que talvez ajude a maioria a chegar a0 “niger sum”, explicado por Guerreiro Ramos, no texto O problema do negrona sociologia brasileira (1957) Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa Revista Prética Docente. v. 7, n. Especial Humanas, €22103, 2022 Pagina | 18 Revista Pratica Docente (RPD) @©_O ISSN: 2526-2149 = ; © 10 2:06 mrp 2022.7. nF specialc22103.i Figura 3 - Video 3: Negro sim! Fonte: Disponivel para acesso em: https://yor

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