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JEAN PIAGET COHTRIBUIÇOES P A R A A EDUCAÇÃO

KSilHOS
DAESCOU
nniAi
POR LINO D E M A C E D O

Considerar fatores e processos de d e s e n v o l v i m e n t o


é m u i t o i m p o r t a n t e h o j e p a r a t u d o q u e se e n s i n a e
se a p r e n d e n u m a e s c o l a q u e se q u e r p a r a t o d o s

A
t u a l m e n t e se deseja u m a e d u c a - s e l e c i o n a r , v i a exclusão o u repetência, a p e n a s o s

ção básica p a r a t o d a s a s c r i a n - a l u n o s q u e t i v e s s e m condições d e p r o s s e g u i r e m


ças e j o v e n s . E l a é v i s t a c o m o seus estudos superiores. C o m o se trata, agora, d e
direito, necessidade social e p o - u m d i r e i t o d e t o d a s a s crianças e j o v e n s , o c o m -
lítica, r e c o n h e c i m e n t o d e q u e p r o m i s s o d a educação básica é p r i m o r d i a l m e n t e
a e s c o l a não p o d e m a i s c o n t i n u a r e x c l u s i v a d e f o r m a r a l u n o s p r e p a r a d o s p a r a a s exigências d a
alguns, n e m marca de desigualdade, u m lugar v i d a e não a p e n a s d a e s c o l a s e g u i n t e ,
o n d e só o s j u l g a d o s m a i s a p t o s p o d e m ficar e Segundo A n t o n i Zabala e Laia Arnau, u m a
a p r e n d e r e m até o fim. C o m i s t o , está s e r o m - d a s consequências d e s t a n o v a r e s p o n s a b i l i d a d e
K13 H I S T Ó R I A DA
p e n d o c o m u m a função " c o n s a g r a d a " n a s e s c o -
PEDAGOGIA
s o c i a l é a n e c e s s i d a d e d e integração o u fusão d a s
l a s q u e c o m p u n h a m a educação básica: f o r m a r e d u a s f o r m a s d e e s c o l a f u n d a m e n t a l constituídas
o desafio da escola do
século \ X I c pi-onun cr unia
a o l o n g o d o século p a s s a d o . U m a d e - A razão é q u e n a e s c o l a t r a d i c i o n a l educação Noltaila ao que é
las, eles i d e n t i f i c a r a m c o m o "escola a ênfase está n o e n s i n o d o q u e n e - desejável em toclas as classes,
tradicional", reconhecida p o r seu c e s s i t a s e r a p r e n d i d o , a o preço d a ou seja, para todas as pessoa;^.
foco n o s conhecimentos e valores exclusão d o s a l u n o s q u e não c o n -
a serem transmitidos, mesmo que seguirem desenvolver, "por si mes-
a o preço d a exclusão d o s a v a l i a d o s m o s " , métodos e r e c u r s o s p a r a t a i s
c o m o m e n o s "aptos" para isto. A aquisições. N a e s c o l a i n o v a d o r a , a s a m aprender, p o r seu v a l o r d e vida.
o u t r a , d e s i g n a r a m "escola i n o v a - ênfase está n o s p r o c e s s o s d e a p r e n - Para Zabala e A r n a u , o desafio
dora", reconhecida por s e ufoco n a s d i z a g e m , n o " e n s i n o " d e métodos e da escola c o m p r o m e t i d a c o m as ne-
dificuldades o u potencialidades das r e c u r s o s q u e p o s s i b i h t e m a s crianças c e s s i d a d e s d o século X X I é r e u n i r
crianças s e m l u g a r n a q u e l a e s c o l a . aprenderem aquilo que todos preci- os aspectos p o s i t i v o s d a escola t r a -

HISTÓRIA DA PEDAGOGIA E H
JEAN PIAGET coNTBiBuiçõispflBAniDucflgão

dicional (ensino "forte" d o s objetos a e l i t e , m a s u m a educação v o l t a d a a o


do c o n h e c i m e n t o ) e os d a escola q u e é desejável e m t o d a s a s c l a s s e s ,
i n o v a d o r a (valorização " a d e q u a d a " o u seja, p a r a t o d a s as pessoas.
dos processos de aprendizagem).
É também c u i d a r p a r a s u p e r a r o s Relações entre ensino,
aspectos negativos de ambas; p o r aprendizagem e
e x e m p l o , v e r b a l i s m o , memorização, desenvolvimento
e m u m caso; e " a t i v i s m o " e d e s i n t e - N a Educação Básica, o binómio
resse p o r resultados, n o o u t r o . Para ensino-aprendizagem pareceu sem-
e l e s , e s t a integração s e e x p r e s s a n o pre suficiente para s i n t e t i z a r seus
d e s e n v o l v i m e n t o d e competências e compromissos e m favor d o desen-
habilidades dos alunos n o contexto v o l v i m e n t o d a s crianças, i s t o é, d a s
d e s u a educação básica. E i s t o , p o r p e s s o a s . Não i m p o r t a s e , n a e s c o l a
d u a s razões. P r i m e i r o , competências t r a d i c i o n a l , e s t a b u s c a t e n h a recaído
e h a b i l i d a d e s , n a Educação Básica, sobre os processos de ensino o u de
são d e s e n v o l v i d a s n a s d i s c i p l i n a s transmissão d o s c o n h e c i m e n t o s a
e s c o l a r e s e, p o r t a n t o , estão c o m - aprender; n e m que, n a escola i n o v a -
p r o m e t i d a s c o m o e n s i n o d e noções d o r a , e s t a b u s c a t e n h a recaído s o b r e
e p r o c e d i m e n t o s próprios a c a d a os processos de a p r e n d i z a g e m o u de
matéria o u área d e c o n h e c i m e n t o . construção d o s m e i o s p a r a a p r e n d e r .
Segundo, os processos d e aprendi- Ensino e aprendizagem compunham
z a g e m não m a i s dão p r i o r i d a d e a o s u m a d u p l a indissociável, c o m o f a c e s
conteúdos q u e são e n s i n a d o s , m a s de u m a m e s m a m o e d a , m e s m o q u e
v a l o r i z a m i g u a l m e n t e a construção p a r a u n s valesse m a i s a "cara", e p a r a
dos recursos c o g n i t i v o s , sociais e o u t r o s , a " c o r o a " . O c o r r e q u e , implí-
a f e t i v o s necessários p a r a e s s a s a q u i - cita o u explicitamente, u m a terceira

O desafio da escola compromeflda c o m as


n e c e s s i d a d e s d o sécuio X X i é u n i r o s a s p e c t o s
positivos da escoia tradicionai, que vaioriza o m o d o , p o r se n e g a r o s p r o c e s s o s d e
c o n i i e c i m e n t o , àqueles d a e s c o l a i n o v a d o r a desenvolvimento, supunha-se q u eo
aprendiz nada sabia o u havia p e n -
sado a respeito d o q u e estavam l h e
sições. A s s i m , o e n s i n o f u n d a m e n - variável, f r e q u e n t e m e n t e n e g a d a o u ensinando. N a escola das c o m p e -
t a l não estará a p e n a s v o l t a d o p a r a a d e s f a v o r e c i d a , e s t e v e e estará s e m - tências e h a b i l i d a d e s , e s t a t e r c e i r a
preparação d o s e s t u d o s s u p e r i o r e s , pre presente nos processos de ensino variável é tão f u n d a m e n t a l q u a n t o
m a s também c o m p r o m e t i d o c o m a s e d e a p r e n d i z a g e m . T r a t a - s e d a ^'a- as d u a s p r i m e i r a s : e n s i n o , a p r e n d i -
exigências d a v i d a , q u a l q u e r v i d a . riável p r o c e s s o s d e d e s e n v o l v i m e n t o zagem e desenvolvimento formam,
E m outras palavras, a escola dos de q u e m ensina e de q u e m aprende. a g o r a , u m a tríade - irredutível,
" v e n c e d o r e s " ( q u e d o m i n a o s fins) e P e l a negação d e s t e p r o c e s s o , s u p u - c o m p l e m e n t a r e indissociável - d e
a d o s "vencidos" (que se c o n c e n t r a n h a - s e q u e o p r o f e s s o r já s o u b e s s e u m s i s t e m a d e educação e s c o l a r q u e
n o s m e i o s ) comporão, a g o r a , u m a o u devesse saber " t u d o " sobre o que se q u e r p a r a t o d a s a s p e s s o a s .
única e s c o l a : a d o s v i v e n t e s , c o m se c o m p r o m e t e u e m t r a n s m i t i r . H o j e U m d o s m o t i v o s d e s t a negligên-
direito a o m e l h o r d e suas possibili- se r e c o n h e c e a importância d e práti- c i a e m relação a o s p r o c e s s o s d e d e -
d a d e s e n e c e s s i d a d e s . Não será m a i s c a s contínuas d e formação d e p r o f e s - senvolvimento decorre, talvez, d o
u m a educação básica a o serviço d o s sores e gestores, apesar das dificul- fato d e q u e eles p o d e m se c o m p o r
interesses d e u m a classe "superior". d a d e s d e s u a efetivação. D o m e s m o c o m processos de ensino e aprendi-

KLI H I S T Ó R I A DA P E D A G O G I A
"Aprender é necessário
ao ensinar, pois é só
atra\és dele que o
ensino alcança o aluno"

característico d a e s c o l a t r a d i c i o n a l
(ênfase n o domínio d e conteúdos)
o u d a e s c o l a i n o v a d o r a (ênfase n o s
p r o c e s s o s ) . E m u i t o difícil c o n s i d e -
rarmos processos de aprendizagem,
e n s i n o e d e s e n v o l v i m e n t o n a dialé-
tica de sua impossibilidade, possibi-
l i d a d e e n e c e s s i d a d e recíprocas.

Dupla direção
B u s q u e m o s a g o r a , p e l a lógica d e
s u a s significações, t e m a t r a t a d o e m
Vers une Logique des Significations,
por Piaget e Rolando Garcia, outro
m o d o d e p e n s a r a s relações e n t r e
ensino, aprendizagem e desenvolvi-
m e n t o . D o c e n t e é q u e m diz, o que diz
são o s o b j e t o s d o c o n h e c i m e n t o ( a
matéria) e a q u e m e l e d i z são o s d i s -
centes (os alunos). A p r e n d e r c o m o
significação d e e n s i n a r u m a d i s c i -
plina implica, portanto, dizer para os
alunos algo q u e v a l h a a pena dizer.
N a perspectiva d o discente ("quem
a p r e n d e " ) a s ações c o r r e s p o n d e n t e s ,
z a g e m d e vários m o d o s . P o d e - s e , p o r e a p r e n d i z a g e m , e s t a última, m u i - e s p e r a d a s , são: o u v i r ( o q u e é d i t o ) ,
exemplo, pensar desenvolvimento e tas vezes, r e d u z i d a a fatores ( i n i - refletir (pensar, e x e r c i t a r ) e aplicar
a p r e n d i z a g e m c o m o u m a c o i s a só, bidores) do desen\'olvimento. E m o u i n t e g r a r o que ouve, e m sua vida.
negando a possibilidade e o inte- o u t r a s palavras, n o p r i m e i r o caso, E m r e s u m o , o q u e faz o docente? D i z
resse e m se considerar, n a escola, ensino implica aprendizagem, que ao a l u n o o que ele precisa aprender,
variáveis r e l a t i v a s a o s p r o c e s s o s d e i m p l i c a d e s e n v o l v i m e n t o , o u , então, i s t o é, e n s i n a a d i s c i p l i n a c o m o o b -
d e s e n v o l v i m e n t o q u e não s e r e d u - ensino implica aprendizagem ede- jeto d o conhecimento. O q u e faz o
z e m aos d a a p r e n d i z a g e m , c o m o de- s e n v o l v i m e n t o . N o s e g u n d o caso, discente? O u v e o q u eé dito, reflete
m o n s t r o u P i a g e t , e m Aprendizagem desen\'olvimento implica apren- e a p l i c a o u i n t e g r a t a i s lições e m s u a
e Conhecimento (1959). N e s t e c a s o , dizagem, q u e implica ensino, o u , vida. O elemento c o m u m aos dois
c o m o aconteceu n a escola t r a d i c i o - então, a p r e n d i z a g e m e d e s e n v o l v i - processos - o d o ensino, pelo p r o -
nal, a ideia é q u e desenvolvimento m e n t o implicam ensino. A proposta fessor, e o d o d e s e n v o l v i m e n t o , p e l o
e a p r e n d i z a g e m são i n d i f e r e n c i a d o s d e u m a educação básica, p a u t a d a n o aluno - caracteriza u m terceiro, que
e, além d i s t o , subordináveis a o s e s - d e s e n v o l v i m e n t o d e competências, identificamos como aprendizagem.
forços d e transmissão o u e n s i n o . D o é t r a t a r o s três p r o c e s s o s , c o m o s e E m outras palavras, aprender é u m
lado oposto, pode-se, c o m o fez aes- d i s s e , v a l o r i z a n d o a dialética d e s u a p r o c e s s o c o m u m a d u p l a direção, o u
cola inovadora, subordinar o ensino interdependência. E m u i t o difícil m e l h o r , d u a s f o n t e s . U m a exógena,
aos p r o c e s s o s d e d e s e n v o l v i m e n t o não p r a t i c a r m o s o r e d u c i o n i s m o v i n d a d o professor, q u e t r a n s f o r m a

HISTÓRIA DA P E D A G O G I A E H
JEAN PIAGET coMTBiBmgOis PABAA EDUCAÇÍO

"Construir o c o n h e c i m e n t o : p r e e n d e . A p r e n d e r é necessário a o b l e m a s para o a l u n o , d a d o q u e não


p e r s p e c t i x a d a criança
e n s i n a r , p o i s é só através d e l e q u e pode c o m p r e e n d e r o u realizar isso
ou akino; transmitir o
o e n s i n o alcança o a l u n o . É q u e é n o l u g a r deste. A s s i m , se é i m p o s -
c o n h e c i m e n t o : pers]X"Cti\'a
do a d u l t o o u p r o f e s s o r " impossível e n s i n a r d i r e t a m e n t e p r o - sível e n s i n a r d i r e t a m e n t e p r o c e s s o s
cessos d e d e s e n v o l v i m e n t o , p o r m a i s d e d e s e n v o l v i m e n t o , é possível r e a -
e s t e s e j a s e m p r e o o b j e t i v o último l i z a r o e n s i n o através d o s p r o c e s s o s
de q u a l q u e r processo d e ensino, pois de a p r e n d i z a g e m d o aluno, p o r q u e
o aprender e m apreender, adquirir, q u e m e n s i n a s e m p r e deseja q u e o é a p r e n d e n d o q u e ele se d e s e n v o l v e
i n f o r m a r - s e , i n s t r u i r - s e ; e, o u t r a , a l u n o se desenvolva, se t r a n s f o r m e e, s i m u l t a n e a m e n t e , é s e d e s e n v o l -
endógena, v i n d a d o s p r o c e s s o s c o g - através d a q u i l o q u e a p r e e n d e u d e v e n d o q u e e l e a p r e n d e . C o m i s t o não
nitivos d o aluno, que transforma o seu professor. M a s , para isto, o a l u n o se m i n i m i z a o p a p e l d o p r o f e s s o r , a o
aprender e m compreender, realizar, precisa compreender, assimilar o contrário. A s c o i s a s d a e s c o l a , a g o r a
t o m a r consciência, a b s t r a i r , i m p l i - que o p r o f e s s o r disse o u fez, t r a n s - u m d i r e i t o e n e c e s s i d a d e d e t o d a s as
c a r . Daí q u e graças à função m e d i a - f o r m a n d o suas estruturas o u esque- crianças e j o v e n s , r e q u e r e m a m e d i a -
dora d o processo de aprendizagem, mas. O limite do professor é explicar, ção " e x t e r n a " d o p r o f e s s o r , s e g u n d o
o professor explica e o aluno c o m - exemplificar, p r o p o r tarefas o u p r o - P h i l i p p e M e i r i e u . A s coisas d a es-

Em H I S T Ó R I A DA P E D A G O G I A
c o l a o s a l u n o s só p o d e m a p r e e n d e r pesquisados p o r P i a g e t e sua escola, p a r a a c o n t e c e r . E l a não p r o m e t e o
através d e u m p r o f e s s o r , m a s e s t e e m sua m a i o r parte, referem-se ao impossível, o q u e está além d a s e s -
não p o d e c o m p r e e n d e r p o r e l e s . m o d o c o m o crianças r e a l i z a m t a r e f a s t r u t u r a s e e s q u e m a s q u e a criança
"Apreender", "aprender" e "compre- e c o m p r e e n d e m questões r e l a t i v a s à c o n s t r u i u . E l a não é s u f i c i e n t e p a r a
e n d e r " têm o m e s m o r a d i c a l : /prend- construção d o r e a l e à lógica d e s u a s propor procedimentos, o u de criar
/ , q u e , não p o r a c a s o , c o i n c i d e c o m significações n o s t e r m o s f o r m u l a d o s d o g m a s educacionais capazes de su-
o significado d o radical de "ensinar" p e l a Física, Matemática, S o c i o l o g i a bordinar o u anular a complexidade
Isign-l q u e s i g n i f i c a " m a r c a r " , " g r u -
d a r " , " g r a v a r e m " , i s t o é, p r e n d e r ; d e
preferência, p a r a s e m p r e .
A escola de hole, quando mais poderia
b e n e f i c i a r - s e d a s contrihuiçães teóricas o
E m r e s u m o , s e a educação bá-
s i c a a g o r a é p a r a t o d a s a s crianças
e j o v e n s , então p r o c e s s o s d e a p r e n - e x p e r i m e n t a i s d e P i a g e t , supõe q u e e l a s não
dizagem, ensino e desenvolvimento têm m a i s v a l o r , q u e Já d e r a m o q u e t i n l i a m d e d a r
deverão c o m p o r u m a tríade v a l o r i -
z a d a e m s u a interdependência. E s e
e s t a educação, através d o e n s i n o , s e e Psicologia de seu tempo. É certo dos processos de aprendizagem e
compromete e m desenvolver com- q u e e l e o f e z e m n o m e d e d u a s ênfa- d e e n s i n o . E l a não r e d u z , n e m é r e -
petências, então é p r e c i s o q u e s e e n - ses f r e q u e n t e m e n t e n e g l i g e n c i a d a s dutível, e l a i n t e r a g e , c o m p a r t i l h a ,
s i n e , i g u a l m e n t e c o m o s conteúdos p e l o s c i e n t i s t a s . P r i m e i r o , P i a g e t só influencia e é influenciada, é parte
das d i s c i p l i n a s escolares, o s c o n - e n t r e v i s t a v a crianças, a v a l i a n d o s e u s tão i m p o r t a n t e q u e não p o d e s e r n e -
teúdos r e l a t i v o s a o s p r o c e d i m e n t o s recursos cognitivos e propondo u m g l i g e n c i a d a , m a s q u e não r e p r e s e n t a
e às a t i t u d e s q u e t o r n a m possível m o d o d e construção d o s e s q u e m a s n e m expressa o sistema educacional
e s t a assimilação. que necessitavam para adquirir c o - c o m o u m t o d o , s i n t e t i z a d o n a tríade:
nhecimentos. Segundo, considerava desenvolver, aprender e conhecer,
Contribuições de biologia e conhecimento como pro- v i a e n s i n o . Além d i s t o , f r e q u e n t e -
Piaget para a escola cessos interdependentes, dado q u e m e n t e o s a d e p t o s desta escola se
Q u a l a importância o u c o n t r i b u i - s u a s d u a s heranças - a genética e a esquecem d e que, e m Piaget, conhe-
ção d e P i a g e t p a r a e s t a n o \ ' a e s c o l a , sociocultural, fontes de nossa vida c i m e n t o e v i d a são p r o b l e m a s p a r a
a que valoriza o desenvolvimento de - se r e c o n s t i t u e m c o m o p r o b l e m a , serem resolvidos e compreendidos,
competências e h a b i l i d a d e s , c o m o c o m o n a s c e r d e c a d a criança, e s e e m relação a t o d o s e a c a d a u m ; não
p r i n c i p a l c o m p r o m i s s o d a educação r e c o n s t r o e m p o r suas atividades a o se t r a t a n d o d e m e r a o f e r t a d e b o a s
básica? S e o i d e n t i f i c a r m o s o u r e - l o n g o d o desenrolar de seus proces- f o r m a s d e intervenção.
d u z i r m o s aos interesses d a escola sos d e d e s e n v o l v i m e n t o e a p r e n d i z a - Consideremos, agora, a escola
i n o v a d o r a , f a z e n d o - l h e s a s críticas g e m . A o seu m o d o , portanto, Piaget de hoje. Parece ironia: q u a n d o m a i s
negativas q u e e l a v e i o a receber, contribuiu para o que é considerado poderíamos n o s b e n e f i c i a r d a s c o n -
então e s t e a u t o r não t e m q u a l q u e r o v a l o r m a i s a l t o d a escola t r a d i c i o - tribuições teóricas e e x p e r i m e n t a i s
importância, o u então m e r e c e o d e s - nal: t r a n s m i t i r objetos de conheci- de P i a g e t e seus colaboradores,
dém q u e l h e c o n c e d e m a d e p t o s d a m e n t o , n a escola, o r g a n i z a d o s e m s u p o m o s q u e e l a s não têm m a i s
e s c o l a t r a d i c i o n a l . M a s não é e s t e o d i s c i p l i n a s o u áreas. v a l o r , q u e já d e r a m o q u e t i n h a m
caso, c o m o v e r e m o s . A o s adeptos da escola i n o v a d o r a d e d a r . P o r q u e s u a s contribuições
A o s adeptos d aescola tradicional que se d e s i l u d i r a m c o m P i a g e t e teriam tanto valor para a Educa-
que se d e s i n t e r e s s a m pela t e o r i a d e s u a e s c o l a p o r q u e não e n c o n t r a r a m ção Básica, a g o r a ? Até o final d o
P i a g e t , não c u s t a l e m b r a r q u e e m s u a n e l e s u m a " m a i o r " a j u d a prática, é século X X a e s c o l a não e r a p a r a
experimentação prática e elaboração i m p o r t a n t e l e m b r a r que u m a teoria t o d a s a s crianças. D e f e n d i a - s e s e u
teórica e l e s e m p r e v a l o r i z o u p r o b l e - de d e s e n v o l v i m e n t o f r e q u e n t e m e n t e v a l o r , m a s não h a v i a exigências o u
m a s l i g a d o s a o m u n d o científico e a o m o s t r a a extensão, a c o m p l e x i d a d e r e c u r s o s públicos r e s e r v a d o s p a r a
d a construção d e p r o c e d i m e n t o s q u e e os limites (internos e externos) de isto. Hoje, c o m o sabemos, a educa-
o t o r n a m possível. E q u e o s t e m a s q u e p r e c i s a d e s e u t e m p o e espaço ção e s c o l a r básica é u m d e v e r d o

HISTÓRIA DA PEDAGOGIA Kll


lEAN PiAGET CONTRIBUIÇÕES PARA n EnucAção

A aprendizagem escolar
q u e d e s e j a n i o s p a r a t o d a s as
crianças e j o x e n s é c o m p o s t a p o r
duas m e t a d e s . U m a ret'ere-se
às a<|uisieões, \a transmissão;
a o u t i ' a à \a d a construção o u
reconstrução c o n \ e r g e n t e

E s t a d o , c o m p a r t i l h a d o p e l a família.
Piaget, ainda q u e t e n h a see n -
volvido e m toda sua vida c o m os
p r o b l e m a s d a educação, d e f a t o , não
fez pesquisas n a escola o u s o b r e a
e s c o l a , não p e s q u i s o u a l u n o s , p r o -
fessores, d e s e m p e n h o escolar e t a n -
t o s o u t r o s t e m a s tão c a r o s a e s t e
s i s t e m a . E l e p e s q u i s o u crianças. E l e
e seus colaboradores p e s q u i s a r a m
c o m o crianças r e s o l v e m e c o m p r e -
endem problemas relacionados ao
c o n h e c i m e n t o científico. S e u o b -
jetivo permanente era observar e
c a r a c t e r i z a r o s níveis p e l o s q u a i s
crianças e j o v e n s p a s s a v a m p a r a e s -
t r u t u r a r seus c o n h e c i m e n t o s .
O c o n h e c i m e n t o científico i m -
p l i c a , n o mínimo, q u a t r o a s p e c t o s i n - plicações. O c o n h e c i m e n t o científico Pensemos, p o r exemplo, nas ativi-
terligados: o que se conhece, o c o m o não é a s s u n t o d e crianças! A o r i g i - d a d e s p r i n c i p a i s d e u m a criança e
se c o n h e c e , o porquê e o p a r a quê s e nalidade de Piaget foi fazer pesqui- d e u m a l u n o . A s crianças s e i n t e -
conhece. E m outras palavras, pes- s a s c o m crianças b u s c a n d o o b s e r v a r ressam principalmente p o r brincar
quisa-se u m tema relevante, usando c o m o r e s o l v i a m p r o b l e m a s cientí- e jogar, bem como devem conside-
p r o c e d i m e n t o s metodológicos r e - ficos, c o m o d e s e n v o l v i a m p r o c e d i - r a r exigências d o c o t i d i a n o ( c o m e r ,
c o n h e c i d o s p e l a prática científica, m e n t o s para isto, c o m o j u s t i f i c a v a m d o r m i r , t o m a r banho, i r à escola).
interpretados o u compreendidos suas respostas o u c r i a v a m u m sis- D e alunos, espera-se q u e lhes i n -
à luz de u m a teoria o u sistema de tema explicativo que tinham signi- t e r e s s e m as coisas d a escola: e s -
explicação, e q u e t e n h a m v a l o r s o - ficação p a r a e l a s . A e s c o l a t r a n s m i t e tudar, fazer tarefas indicadas pelo
c i a l o u epistemológico. O p r o b l e m a c o n h e c i m e n t o s científicos, m a s não professor, ler, escrever; e m sala d e
é q u e a produção d o c o n h e c i m e n t o se i n t e r e s s a e m s a b e r c o m o a s c r i a n - a u l a , o m a i s provável é q u e b r i n c a -
científico é u m a prática s o f i s t i c a d a e ças c r i a m o s r e c u r s o s p a r a i s t o . deiras e j o g o s s e j a m p e r m i t i d o s se
complexa, e fundamental porque u m servem para aprender o uensinar, e
d o s s e u s benefícios é o f e r e c e r m o d o s Criança OU alunoP não n e c e s s a r i a m e n t e p a r a d i v e r t i r
d e e n f r e n t a m e n t o o u compreensão P i a g e t , p o r t e r se i n t e r e s s a d o o u p a s s a r o t e m p o . P i a g e t não e s t u -
de necessidades h u m a n a s f u n d a - p e l o e s t u d o , e s t r u t u r a l i s t a e gené- d o u e s c o l a s , e s t u d o u crianças. S u a s
mentais. N o m u n d o atual, mais d o tico, d o s processos de d e s e n v o l v i - crianças, supõe-se, e r a m a l u n o s ,
que nunca precisamos dos conheci- m e n t o necessários à construção d o f r e q u e n t a v a m escolas e v i v i a m n o
m e n t o s científicos n a prática. E l e s s e c o n h e c i m e n t o , e s t u d o u crianças, c o n t e x t o d e u m a família e s c o l a r i -
expressam como tecnologias o u ex- não a l u n o s . I s t o t r a z diferença. z a d a . M a s e l e não s e i n t e r e s s o u p o r

EM H I S T Ó R I A DA P E D A G O G I A
b i e n t e fez dele". Só s e p o d e t r a n s m i t i r a l g o c o n h e -
Até o século p a s s a d o , e m e s m o c i d o , só s e d e v e t r a n s m i t i r a l g o
hoje e m m u i t o s lugares, havia crian- v a l o r i z a d o . D e f a t o , transmissão
ças q u e não e r a m a l u n o s ; h a v i a c r i a n - supõe c o n h e c i m e n t o o u d i s p o n i -
ças q u e não t i n h a m p a i s . E d i f e r e n t e b i l i d a d e d a informação, domínio
e n t r e v i s t a r u m a criança, p r i n c i p a l - d o conteúdo q u e s e t r a n s m i t e . E l e
m e n t e a que estuda, para saber c o m o pode ser t r a n s m i t i d o d e m u i t o s m o -
resolve o u compreende problemas dos, m a s o p r e s s u p o s t o é q u e seja
científicos, v a l o r i z a n d o a p e n a s r e s - c o n h e c i d o o u disponível. A d u l t o s
p o s t a s q u e são d e l a s , e x c l u i n d o - s e que conhecem, t r a n s m i t e m conte-
explicações d e s e u s p r o f e s s o r e s , s e m údos, informações; e m u m a p a l a v r a ,
significação p a r a e l a s . N e s t e c a s o , a e d u c a m crianças o u p e s s o a s q u e
p e r g u n t a é p a r a a criança, não p a r a o não c o n h e c e m . O t e r m o a d e q u a d o é
aluno. L e m b r e - s e d e que este a l u n o "transmitir". N a escola o p r o b l e m a
v a i c o n c l u i r s u a educação básica n a d a transmissão g a n h a u m a d i m e n -
escola, seus professores a g o r a esta- são c o m p l e x a e f u n d a m e n t a l , s o -
rão s e o c u p a n d o d e o u t r a s crianças. bretudo hoje quando é exigida para
O q u e e l e l e v a p a r a a v i d a , além d a t o d a s a s crianças. C o m p l e x a , p o r -
escola, p o r q u e se t o r n o u seu, p o r - q u e supõe m u i t o s f a t o r e s e a s p e c -

A educação é e s e m p r e f o i p e n s a d a c o m o
transmissão. E a s s i m t e m d e s e r q u a n d o a
consideramos na perspectiua dos adultos,
d a s p e s s o a s q u e p o r e l a são responsáveis

aquilo que seus professores o u pais q u e f o i i n c o r p o r a d o às s u a s e s t r u - t o s i n t e r d e p e n d e n t e s (irredutíveis,


l h e s e n s i n a r a m , p o i s não e r a s e u t u r a s (cognitivas, afetivas, sociais), c o m p l e m e n t a r e s e indissociáveis).
o b j e t i v o d e pesquisa saber c o m o se é a q u i l o q u e a p r e n d e u c o m o criança Fundamental, porque nenhuma
d a v a m e s t a s transmissões, p o r m a i s o u j o v e m . E m u m aescola apenas criança p o d e s e r excluída d a e s c o l a ,
que reconhecesse seu v a l o r e neces- voltada para a escola seguinte, tal- p o r q u e há c e r t a s a p r e n d i z a g e n s ,
sidade. É que, c o m o pesquisador e v e z i s t o não t e n h a m u i t o v a l o r , m a s não p o r a c a s o a s m a i s i m p o r t a n -
teórico, só l h e i n t e r e s s a v a m a p r e n - p a r a u m a escola, c o m o é o caso d a - t e s , q u e só p o d e m s e r a p r e n d i d a s
dizagens transformadas e m formas q u e l a s q u e compõem o c i c l o d a E d u - n a escola, p o r q u e r e q u e r e m a i n t e r -
d e c o n h e c i m e n t o , e não expressão cação Básica, v o l t a d a p a r a t o d a a venção d e u m p r o f e s s o r e d e t o d o
do q u e foi induzido o u obrigado a v i d a , f a z m u i t a diferença s a b e r c o m o u m corpo educacional. Resumindo:
s e r r e p e t i d o , d e f o r a . U m a criança e p o r q u e u m a criança r e a l i z a e c o m - transmissão supõe a l g o c o n h e c i d o
não v i v e , n e m a p r e n d e s e m a q u e l e s preende certos tipos de problemas, ( c o m o informação, v a l o r , p r o c e s s o
que c u i d a m dela, q u e se i m p o r t a m e m seu n o m e . e t c ) , v a l i o s o e disponível p o r u m a
c o m ela, e d u c a m e p r o t e g e m . M a s d a s p a r t e s , a q u e f a z a transmissão.
e s t e s não p o d e m s e r p o r e l a s , não A educação como N e s t e s e n t i d o , a s crianças não s a -
p o d e m aprender n e m se d e s e n v o l - transmissão e construção bem e precisam aprender de quem
v e r p o r e l a s . Daí a razão q u e d a v a A educação é e s e m p r e f o i p e n - sabe, q u e l h e s t r a n s m i t e o q u e d e -
p a r a a máxima d e Béjin: " O s i s t e m a s a d a c o m o transmissão. T e m q u e v e m saber. E b o m q u e seja a s s i m ,
c o g n i t i v o não é o q u e m e i o a m - ser assim, q u a n d o a c o n s i d e r a m o s m a s o p r o b l e m a é q u e não p o d e m o s ,
b i e n t e faz dele. O s i s t e m a c o g n i t i v o n a perspectiva dos adultos, das pes- p o r s u a insuficiência e i n c o m p l e -
é o queelefazdo queo meio a m - s o a s q u e são p o r e l a responsáveis. tude, reduzir aprendizagem a e n -

H I S T Ó R I A DA P E D A G O G I A EEI
JEflN PIAGET CONTBIBUIÇeES PABAftEDBCAOlO

sino, sobretudo e m u m a escola q u e consequência " n a t u r a l " , a i n d a q u e u m e n s i n o só s e c o m p l e t a c o m u m a


se q u e r p a r a t o d o s . Há d e s e c o n s i - nunca verificada completamente, aprendizagem correspondente.
derar o o u t r o lado. do processo de ensino. E funda- A p r e n d i z a g e m esta, c o m o v i m o s ,
P a r a a s crianças q u e r e c e b e m a mental, igualmente, considerar a condicionada, do mesmo modo,
transmissão t u d o o u q u a s e t u d o é p e r s p e c t i v a d o s q u e não s a b e m , d a s p e l o nível d e d e s e n v o l v i m e n t o .
n o v o , d e s c o n h e c i d o p a r a elas, c o m o crianças, d o s r e c u r s o s q u e dispõem T e r c e i r o , são indissociáveis, p o i s
conteúdo e c o m o f o r m a . E l a i g n o r a , e c o n s t r o e m para isto. compõem u m t o d o , c u j a s relações
não s a b e , m u i t a s v e z e s , n e m q u e r Por exemplo, n a perspectiva da são r e g u l a d a s p e l o s m o d o s d e s u a s
s a b e r p o r q u e está i n t e r e s s a d a e m transmissão o s e r r o s são u m p r o - interações. P o r i s t o , é lamentável a
a s s u n t o s q u e l h e são m a i s p r ó x i - b l e m a a e v i t a r . U m a transmissão competição o u má v o n t a d e q u e às
m o s e caros (brincar, por exemplo, errada, incompleta, imprecisa pre- vezes ocorre entre "transmissivis-
é a atividade principal n a perspec- c i s a s e r a n u l a d a . Será p o r i s t o q u e t a s " e " c o n s t r u t i v i s t a s " , c o m o se u m
t i v a d a criança). C o n s t r u ç ã o é p e n - a e s c o l a só a v a l i a a c e r t o s ? N a p e r s - pudesse anular o u acontecer sem o
s a r a transmissão n a p e r s p e c t i v a p e c t i v a d a c o n s t r u ç ã o e r r o s são o u t r o , n a situação d e e s c o l a .
d a s crianças. C o n s t r u i r o c o n h e c i - comuns, f a z e m parte d o processo. E m suma, a aprendizagem es-
m e n t o : p e r s p e c t i v a d a criança o u Q u e m não s a b e o u não s a b e t u d o c o l a r q u e d e s e j a m o s p a r a t o d a s as
crianças e j o v e n s é c o m p o s t a p o r
duas metades. U m a depende de fonte
A a p r e n d i z a g e m q u e deseíamos p a r a crianças exógena. R e f e r e - s e às aquisições,

e íovens d e p e n d e d e d u a s f o n t e s : u m a , exógena,
v i a transmissão. A o u t r a d e p e n d e
d e f o n t e endógena, v i a construção
r e f e r e - s e às aquisições, v i a transmissão; o u reconstrução c o n v e r g e n t e . R e f e -
o u t r a , endógena, à reconstrução c o n v e r g e n t e re-se ao desenvolvimento, pelo qual
e s t r u t u r a s e funções c o g n i t i v a s p o s -
s i b i l i t a m , graças a u m p r o c e s s o d e
aluno; transmitir o conhecimento: dificilmente acerta da p r i m e i r a vez, equilibração, q u a l i f i c a r m e l h o r s u a s
perspectiva do adulto o u profes- s o b r e t u d o se e s t i v e r e n f r e n t a n d o p o s s i b i l i d a d e s d e interação c o m o
sor. E s t a construção se c a r a c - a l g o difícil, d e s a f i a d o r . A p r e n d e r m u n d o , e m c a d a u m d e nós, e m t o -
teriza, n a m a i o r parte das vezes, neste sentido é aceitar o erro, m a s d o s nós. P o r s u a c o m p l e x i d a d e e i m -
por descobrir, o u reconstruir, o u corrigi-lo c o m o parte do processo de possibilidade de controle direto, tal-
r e i n v e n t a r a q u i l o q u e seus profes- aprender. A p r e n d e r é pouco a pouco vez sejam a p a r t e esquecida, negada
s o r e s o u a d u l t o s já s a b e m . O p r o - pré-corrigir e r r o s , a n t e c i p a r , s i m u - da aprendizagem. A ironia é q u e
b l e m a é q u e p a r a elas trata-se de lar, planejar, evitar. N a p e r s p e c t i v a este é o objetivo m a i o r de qualquer
se r e l a c i o n a r c o m o d e s c o n h e c i d o , d e transmissão o p r e s e n t e s e b e n e - educação, d e t o d a s a s educações: q u e
d e investigá-lo, f a z e r p e r g u n t a s , ficia de u m c o n h e c i m e n t o o u i n f o r - as p e s s o a s s e d e s e n v o l v a m , g a n h e m
c o m p r e e n d e r explicações, c o n s - mação p a s s a d a , o u s e j a , já a p r e n d i d a autonomia, tornem-se adultos, n o
truir esquemas presentativos, pro- p o r aquele q u e transmite. N a pers- sentido pleno d o termo.
c e d i m e n t a i s e operatórios, c o m o o s p e c t i v a d a construção, o p r e s e n t e s e E m o u t r a s p a l a v r a s , não s e
classifica Piaget. b e n e f i c i a d o q u e será d e u m c o n h e c i - a p r e n d e m as coisas d a escola s e m
E m u m a escola c o m p r o m e t i d a e m e n t o o u informação, o u s e j a , d e s e u u m p r o f e s s o r . M a s o a l u n o não
i n t e r e s s a d a e m s e l e c i o n a r não a p e - valor de futuro. a p r e n d e o q u e e l e e n s i n a s e não t i v e r
nas os j u l g a d o s m a i s aptos ao l o n g o V i s t o s d e s t e m o d o , construção recursos cognitivos, afetivos, m o r a i s
d o p r o c e s s o d e escolarização, s a b e r e transmissão são t e r m o s i n t e r d e - e s o c i a i s e m nível c o n d i z e n t e p a r a
c o m o a s crianças p e n s a m , a g e m o u p e n d e n t e s , e m tríplice condição. i s t o . P o r e x e m p l o , s e o conteúdo
c o m p r e e n d e m é f u n d a m e n t a l . Não P r i m e i r o , são irredutíveis, t r a n s - q u e o p r o f e s s o r e x p l i c a f o r d e "nível
basta apenas a perspectiva dos m i t i r é, p r i n c i p a l m e n t e , t a r e f a d o 3" e o a l u n o e s t i v e r e m u m "nível
q u e são responsáveis p e l a t r a n s - professor, c o n s t r u i r conhecimentos 1" d e compreensão, t a l d e f a s a g e m
missão, não é s u f i c i e n t e p e n s a r a é, i g u a l m e n t e , t a r e f a d o a l u n o . S e - e n t r e o s i n t e r e s s e s d e transmissão
aprendizagem apenas como u m a g u n d o , são c o m p l e m e n t a r e s , p o i s e s u a s p o s s i b i l i d a d e s d e assimilação

EH H I S T Ó R I A DA P E D A G O G I A
perturbará ( o u impedirá) o p r o c e s s o d a s crianças. P i a g e t d e v o t o u s e u s e s - dizer q u e a atividade é o meio e o
de a p r e n d i z a g e m . I n f e l i z m e n t e , este forços p a r a m u d a r n o s s a c o m p r e e n - c u l t i v o d a s e s t r u t u r a s é o fim. E l a s
descompasso é muito c o m u m . são d a criança. N a m e d i d a e m q u e são i n e r e n t e m e n t e inseparáveis.
m u d a m o s n o s s a compreensão p o d e - P a r a G r u b e r e Vonèche, P i a g e t
Quatro modelos de m o s a l t e r a r n o s s a f o r m a d e relação. contribuiu "valorizando a atividade
interdependência entre A o aplicar as ideias d e P i a g e t d a criança p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o
desenvolvimento, é q u a s e impossível s e p a r a r m e i o s d e s u a inteligência; e x p l o r a n d o p r o -
aprendizagem e ensino e fins. O d e s e n v o l v i m e n t o d a s e s - fundamente seu pensamento e m
S e g u n d o H o w a r d G r u b e r e Jac- t r u t u r a s c o g n i t i v a s d e u m a criança relação a c e r t o s u n i v e r s a i s n o c o n -
q u e s Vonèche, não há d o g m a s p i a g e - d e p e n d e d e s u a s a t i v i d a d e s ; são e l a s teúdo d a experiência h u m a n a - n a -
t i a n o s p a r a a educação, n e m método que "fazem acontecer" o desenvolvi- t u r e z a d o s o b j e t o s , espaço, t e m p o ,
pedagógico c a p a z d e c o n t r o l a r o s p r o - m e n t o das estruturas cognitivas. A m o v i m e n t o , acaso, r e s p o n s a b i l i d a d e
cessos d e d e s e n v o l v i m e n t o , d o m o d o atividade é o f u n c i o n a m e n t o destas m o r a l e consciência s o c i a l ; e p r o -
c o m o e l e o s c o n s i d e r a . E q u e princí- e s t r u t u r a s . A a t i v i d a d e a l i m e n t a as p o n d o q u e c e r t a s e s t r u t u r a s lógico-
p i o s e métodos d e p e n d e m d e c o m o o estruturas q u e g u i a m a atividade. matemáticas s e e s t e n d e m p a r a t o d a s
professor compreende o pensamento P o r i s s o não p o d e m o s s i m p l e s m e n t e as áreas d o c o n h e c i m e n t o , são f o r -

H I S T Ó R I A DA P E D A G O G I A MEM
JEAN PIAGET caHiBiBurçõEs PARA A EDUCAÇÃO

mas encontradas repetidamente nos


conteúdos d e s t a s áreas".
J
I
Eles a f i r m a m ainda q u e duas
a b o r d a g e n s são possíveis p a r a a p l i -
c a r P i a g e t n a educação. A p r i m e i r a
é através d o u s o d e m a t e r i a i s e e x e r -
cícios; a s e g u n d a , p e l o t i p o d a s r e l a -
ções s o c i a i s q u e s e e s t a b e l e c e m n o
âmbito d a e s c o l a . P a r a i l u s t r a r e s t e s
a s p e c t o s , propõem q u a t r o m o d e l o s :
Taos, Paris, Atenas e Eldorado.
A p r i n c i p a l característica d o m o -
d e l o T a o s é o r e s p e i t o p e l o "artesão
i n d i v i d u a l " . P a r a i s t o , c a d a criança
deve dispor de materiais e propos-
t a s d e t a r e f a s e exercícios q u e c o n -
tribuirão p a r a s e u d e s e n v o l v i m e n t o
através d e s u a própria a t i v i d a d e . O s
materiais e tarefas o r g a n i z a m a ati-
vidade, desencadeiam e o r i e n t a m sua
realização, m a s a criança s e d e s e n -
v o l v e pelo que faz, pensa o u sente, e
não a p e n a s p e l o q u e l h e d i z e m . T r a -
t a - s e , então, d e t o r n a r u m artesão
habilidoso, que maneja ferramentas,
realiza e conclui tarefas, aprende
c o m o s e r r o s , o b s e r v a e constrói
correspondências, t r a n s f o r m a s e u s

Três m o d o s d e s e c o n c l u i r

P e r m i t a m - m e concluir estas • U m e n s i n o m a i s p r o f u n d o requer escola se c o m p r o m e t e u e m transmitir


reflexões, p r o p o n d o três f i n a i s . professores mais qualificados. para s e u s a l u n o s .
• U m professor mais qualificado ensina a • A função m e d i a d o r a d a a p r e n d i z a g e m
aprender melhor. refere-se às competências e h a b i l i d a d e s
1. RELAÇÕES ENTRE ENSINO,
• A m e l h o r a p r e n d i z a g e m favorece u m q u e a escola s e c o m p r o m e t e u e m
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO:
d e s e n v o l v i m e n t o ótimo. desenvolver e m s e u s a l u n o s .
UM CICLO VIRTUOSO
• O d e s e n v o l v i m e n t o ótimo c o n f i r m a o • E s t a s d u a s mediações têm funções
• Só u m professor p o d e e n s i n a r o q u e s e
valor d e vida d o q u e s e e n s i n o u n a e s c o l a , diferentes, m a s complementares.
aprende na escola.
graças a o professor. • Pelo e n s i n o , o a l u n o t e m a c e s s o a o
• São e s t a s a p r e n d i z a g e n s q u e
• C o m o o b s e r v a r (avaliar) e p r o m o v e r c o n h e c i m e n t o q u e precisa aprender, e m
possibilitam o desenvolvimento do aluno.
este começo, m e i o e f i m ? , n o m e de seu passado e de seu futuro.
• C o m este d e s e n v o l v i m e n t o
• Pela a p r e n d i z a g e m , ele exercita,
abrem-se novas possibilidades
aperfeiçoa, corrige e t r a n s f o r m a
de a p r e n d i z a g e m . 2. POR DUAS FUNÇÕES MEDIADORAS para m e l h o r s e u s p r o c e s s o s d e
• Novas aprendizagens necessitam d e • A função m e d i a d o r a d o e n s i n o refere-se d e s e n v o l v i m e n t o , necessários para isto,
u m e n s i n o m a i s a p r o f u n d a d o e exigente. aos objetos de conhecimento que a a q u i e agora.

Km H I S T Ó R I A DA P E D A G O G I A
o u n a s coisas q u e desencadeiam as
Da ideia de compoi-tainento
discussões. O q u e i m p o r t a são d i s -
e o i i K ) motoi' da exolução
cussões, d e b a t e s , e n f r e n t a r i d e i a s
iiitere-se o \- cia ati\e do
sujeito como ini))ortante para s e u contrárias, r e c o r r e r à experiência,
processo de desen\ol\iniento m e s m o q u einsuficiente para vencer
a discussão, a p r e s e n t a r e d e f e n d e r
argumentos, enfrentar o conflito
d e a c r e d i t a r e m u m a c o i s a q u e não
e s q u e m a s d e ação. O p r i n c i p a l p a p e l é c o m p a r t i l h a d a pelos outros, o fato
do professor, neste m o d e l o , é saber d e não t e r a p r o n t a adesão d o o u t r o .
c r i a r situações d e a p r e n d i z a g e m , O s a u t o r e s c h a m a m a atenção p a r a
p r o p o r tarefas e dispor o s materiais a importância d e e s t a s s e r e m e n t r e
e r e c u r s o s necessários. A s t a r e f a s p a r e s . L e m b r a m , c o m razão, q u e a s
propostas desencadeiam e o r i e n t a m discussões e n t r e a d u l t o e crianças são
a a t i v i d a d e d a criança, m a s não s u b s - desiguais, o a d u l t o d o m i n a . O papel
t i t u e m n e m descartam sua participa- d o p r o f e s s o r , n e s t e c a s o , será então
ção. O p r o f e s s o r p o d e , i g u a l m e n t e , o d e p r o m o v e r o debate, o r g a n i z a r as
p r o p o r tarefas diversificadas, m a s r e g r a s , z e l a r p e l a s u a consideração,
o r d e n a d a s s e g u n d o critérios d e s u a mediar conflitos, observar e p r o m o -
adequação e benefício e m relação às ver processos de desenvolvimento e
p o s s i b i l i d a d e s d a s crianças. O p l a n o aprendizagem. Comportar-se como
é respeitar q u e o desenvolvimento mediador n o sentido pleno d o termo.
i n t e l e c t u a l não p o d e s e r d i r e t a m e n t e O terceiro modelo proposto por
controlado pelo processo de ensino, G r u b e r e Vonèciie, " A t e n a s " , s e c a -
mas q u e pode serinfluenciado p o r r a c t e r i z a p e l o m é t o d o socrático.
e l e , através d e solicitações d e a t i v i - N o v a m e n t e , o diálogo é v a l o r i z a d o ,
dades, que r e q u e i r a m aprendizagens m a s s e m intenção d e c r i a r i g u a l d a d e
igualmente comprometidas com os n a relação a l u n o - p r o f e s s o r . O p r o -
processos de desenvolvimento. f e s s o r q u e s t i o n a , r e f l e t e , expõe, f o r -
E preciso l e m b r a r que, para P i a - n e c e m a t e r i a l , dá instruções, a v a l i a ,
g e t , o c o m p o r t a m e n t o , e não a s e - o r i e n t a . S u g e r e m q u e o método clí-
leção d o s m a i s a p t o s , e r a o m o t o r nico de Piaget, u m instrumento de
d a evolução. D e s t a i d e i a d e c o m p o r - pesquisa, seja a g o r a u t i l i z a d o c o m o
t a m e n t o c o m o m o t o r d a evolução método d e e n s i n o .
• Sendo assim, ensino, aprendizagem e infere-se o xalor da ati\idade d o O quarto modelo é o "Eldorado".
d e s e n v o l v i m e n t o são i n t e r d e p e n d e n t e s , sujeito como importante para seu N e l e , a d u l t o e crianças p a r t i c i p a m n o
p o r q u e irredutíveis, c o m p l e m e n t a r e s
processo de desenvolvimento. N a processo de descoberta e aprendiza-
e indissociáveis.
Educação Básica a t u a l não há s e l e - gem. " O professor compartilha seu
• E o s elos q u e o s u n e m são a s
ção d o s m a i s a p t o s e exclusão c o n - c o n h e c i m e n t o c o m as crianças, v i v e n -
mediações q u e p o s s i b i l i t a m s u a
s e q u e n t e d o s q u e não s e a j u s t a m . d o - o " , s e g u n d o G r u b e r e Vonèche.
transmissão o u construção.
M a s o que se busca a g o r a é oferecer
o máximo d e o p o r t u n i d a d e s d e d e -
3 . POR QUE PIAGET? s e n v o l v i m e n t o d a s competências e Lino de Macedo é p r o f e s s o r t i t u l a r n o
• Considerar fatores e processos d e habilidades de cada u m e de todos a o Instituto de Psicologia da USP, m e m b r o
desenvolvimento é muito importante, mesmo tempo.
da A c a d e m i a P a u l i s t a d e P s i c o l o g i a e
professor n o P r o g r a m a de Psicologia
hoje, para o q u e s e e n s i n a e s e a p r e n d e Escolar e doDesenvolvimento H u m a n o
n u m a e s c o l a q u e s e q u e r para t o d o s . O s e g u n d o método, " P a r i s " , c a - neste instituto. Escreveu, entre outras
racteriza-se pelo prazer o u gosto d a o b r a s , Ensaios Pedagógicos: Como Construir
• Teoria e p e s q u i s a d e P i a g e t uma Escola para T o r f o j ? ( A r t m e d , 2 0 0 5 ) e
referem-se a fatores e processos discussão e n t r e p a r e s . N e s t a p e r s p e c - " A Questão d a Inteligência: T o d o s P o d e m
de d e s e n v o l v i m e n t o . t i v a , a ênfase não está n o s m a t e r i a i s Aprender?" (Moderna, 2002).

H I S T Ó R I A DA P E D A G O G I A KIM
EDUCAÇÃO
apresenta
História d a
P E D A G O G I A '
Os caminhos
do conhecimento
intelectual r u m o à
construção d e u m a *
e p i s t e m o l o g i a genética

W
Contribuições
para a educação

p e s q u i s a psicológica e
às práticas e d u c a c i o n a i s
contemporâneas

- p ^ J E A N M
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Traços d a v i d a e o b r a d e u m d o s p e n s a d o r e s m a i s i m p o r t a n t e s d o século X X

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