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Quando criança, ela transformou meus sonhos em pó.

Ela separou nossas famílias com uma confissão, acabando


com qualquer chance de felicidade para qualquer um de nós e
desencadeando um efeito cascata de caos.

Agora ela está de volta como a nova garota na escola, e ela


não suspeita da guerra que está chegando. Ela não percebe a
raiva que tenho guardado.

Estou esperando o momento perfeito para arruinar a vida dela,


e ele finalmente chegou.

Porque até os traidores dormem – e vou garantir que ela só


sonhe comigo.

Então vou destruí-la.


Kylie,

Por encorajar meu lado sombrio.


AVISO: este livro tem consentimentos e situações
duvidosas. Nosso anti-herói se comporta de maneira
questionável às vezes. Quase o tempo todo, se formos
completamente honestos. Ele não é um cavaleiro branco e
definitivamente não é o cara bom.

Se esse tipo de coisa o incomoda, sugiro que você repasse


esta história. Se te intrigou...

Continue.
Verdade impossível nº 1: Meus pais adotivos decidiram
que não queriam mais filhos.

Talvez eu devesse ter suspeitado disso. Seus empregos os


mantinham muito ocupados: ficavam até tarde no trabalho,
saíam de casa cedo. Eles ficavam irritados quando estavam em
casa. Achei que nós três éramos fáceis de manter, por assim
dizer. Fazíamos nossas tarefas e ficávamos quietos.

Verdade impossível nº 2: A assistente social encontrou


um novo lar para mim.

Essa não é a parte impossível. O impossível é que ele está


na minha cidade natal, a apenas três ruas de onde eu morava.

Antes que mamãe se viciasse em drogas.

E antes que papai fosse preso.

Verdade impossível nº 3: Estou voltando para a escola


particular.

Parte de mim está exultante por estar voltando para um


território familiar. Mas a maior parte de mim está apavorada.
Tenho certeza de que as coisas mudaram, que as pessoas com
quem frequentei a escola primária mudaram, mas vai ser...
seguro.
— Depressa, agora. — Diz minha assistente social. Ângela
está parada na beira do gramado da nova casa, esperando que
eu saia do carro.

Eu respiro fundo e abro a porta, carregando minha bolsa


comigo. Tive a sorte de conseguir uma mochila de verdade. Em
cada mudança eu levava minhas coisas em sacos de lixo.

— Vamos, Margo. — Ângela bate no relógio. — Faremos


com que você se sinta bem e depois tenho que ir a um encontro
no outro lado da cidade.

A casa é gigante. Maior do que minha antiga casa


costumava ser, isso é certo. Acho que meus olhos se arregalam
quando caminhamos até a porta, e é tudo vidro fosco e madeira
escura.

— Quais são os nomes deles? — Minha voz sai áspera.


Passei a noite anterior chorando e minha garganta está
pegando fogo. Aproximei-me de meus irmãos adotivos
enquanto estava com a outra família. Achamos que seria uma
coisa permanente, porque é o que sempre nos disseram.
Nenhuma menção à adoção, é claro, mas nos garantiram mais
onze meses juntos – até eu completar dezoito anos.

Garantido. Ha Ha. A piada é por minha conta.

— Robert e Lenora Jenkins. — Diz minha assistente


social. — Você seria a primeira... não, segunda adotiva.

Eu respiro fundo.
— Acho que não devo perguntar o que aconteceu com a
primeira.

Ela franze os lábios e toca a campainha.

— Ela envelheceu.

Depois de atingir dezoito anos, você está fora.

A porta se abre e uma pequena mulher está na nossa


frente. Ela tem cabelo castanho escuro e olhos azuis
brilhantes. Seus lábios se curvam em um sorriso e ela se
afasta.

— Bem-vinda, Margo! É tão bom conhecer você.

Eu sorrio de volta.

— Obrigada.

— Angie. — Lenora cumprimenta. — Por favor, entre.

Entramos em seu grande foyer. A necessidade de fugir me


bate, e olho para a porta.

— Robert está lá em cima. Margo, você quer vir comigo


para eu te mostrar seu quarto? Podemos ir buscá-lo juntas.

Ângela nos segue escada acima, limpando a garganta


toda vez que faço uma pausa para estudar as fotos. A outra
filha adotiva deles se parece com Lenora. Cabelo escuro com
franja macia e grandes olhos azuis. Ela também é pequena,
enquadrada entre Lenora e um homem mais alto.
— Margo. — Sussurra Ângela.

— Desculpe, desculpe.

Lenora olha para trás e seu rosto cai.

Eu enrijeci.

— Essa é nossa filha. — Ela diz. — Ela faleceu há alguns


anos.

A morte é uma coisa feia.

Ela me mostra meu quarto, e eu largo minha mochila na


cama grande. É um quarto bom, bastante simples. Só preciso
continuar me lembrando: onze meses até a liberdade.

Robert sai de uma sala no final do corredor e sorri para


nós.

— Ah, você deve ser Margo! Encantadora. Lenora mostrou


seu quarto para você?

— Sim, senhor. — Murmuro.

Eles parecem pessoas ricas normais, com suéteres e


calças confortáveis que parecem mais caras do que todo o meu
guarda-roupa. Seus sorrisos parecem genuínos e rezo para que
não haja nenhuma malícia escondida sob a superfície.

Todos nós nos sentamos em sua sala de estar.

Ângela limpa a garganta novamente.


— Margo completou dezessete anos a duas semanas.
Temos cerca de onze meses antes que ela tenha idade para sair
do sistema. Você gentilmente concordou em matriculá-la na
Emery-Rose Elite School...

— Robert trabalha lá. — Lenora diz, estendendo a mão e


dando um tapinha na minha mão. — É uma boa educação e a
mensalidade será gratuita.

— Obrigada.

Ângela olha para mim.

— Bem, Margo originalmente estudou lá com uma bolsa


de estudos quando era mais jovem. Correto, Margo?

— A parte da escola primária. — Eu mudo de volta no


meu assento. — Eles me aceitaram de volta, embora eu tenha
estudado em escolas públicas? — Nove delas, para ser exata.

Embora a última família tenha sido boa para mim, e eu


fiquei lá por dois anos, houve um período de cerca de cinco
anos em que esbarrei em diferentes famílias e casas de grupo,
e a mudança de local significou mudar de escola também. Eu
tentei o meu melhor para torná-los perfeito, mas pular para
novos currículos todos os anos me deixou um pouco para trás,
tenho certeza disso.

— Sim. — Diz Ângela. — Parabéns, querida. Você vai


voltar para Emery-Rose.
Eu engulo. Meu estômago está uma bagunça de
borboletas.

— Quando eu começo?

— Amanhã. — Robert diz. — Eles voltaram na semana


passada, então é o momento perfeito. Você vai começar como
uma sênior, embora eles tenham mencionado que você pode
precisar fazer um trabalho extra para se formar com os alunos
atuais.

Eu solto um suspiro. É a mesma classe que eu estava. Eu


desenhei os rostos das crianças que eu conhecia, me
perguntando se eles ainda estão lá.

Depois de mais algumas perguntas da minha assistente


social, ela se levanta e escova as calças.

— Margo, me ligue se precisar de alguma coisa. O mesmo


com vocês, Lenora e Robert. — Ela lhes entrega seu cartão e
sai pela porta.

Ficamos em silêncio.

— Está com fome? — Lenora pergunta. — Cansada?

Eu concordo.

— Acho que vou deitar, está tudo bem?

— Claro, querida. Vou bater na hora do jantar.

No que diz respeito a novas casas, o primeiro dia é sempre


o pior. É como aprender uma nova dança, e ninguém
realmente dedica tempo para lhe ensinar os passos. As novas
escolas são iguais, exceto... todo mundo parece saber que sou
a filha adotiva.

Vai ser pior amanhã. Eles provavelmente reconhecerão


meu nome. Tenho certeza de que havia uma história quando
eu desapareci. Minha melhor amiga na época, Savannah, me
escreveu exatamente uma carta por semana depois que mudei
de escola. Ela me perguntou se os rumores eram verdadeiros,
se minha mãe era uma prostituta viciada em cocaína e meu
pai era seu traficante.

Eu nunca respondi.

Eu fecho minha porta e caio na cama, destravando meu


telefone. Existem nomes que eu poderia seguir para me
preparar para amanhã, mas a preparação nunca me fez bem.
Em vez disso, fecho meus olhos e tento não pensar sobre onde
Claire e Hanna, minhas irmãs adotivas, foram parar.

Em algum momento no meio da noite, acordo assustada.


Estou cheia de um desejo inquieto e uma fome roendo na boca
do estômago. Eu olho pela janela, contemplando o caminho até
o chão.

Não me acordaram para o jantar, o que não é


surpreendente. Dormi muito, o primeiro sono bom em muito
tempo. Não houve sonhos, nem pesadelos. Apenas dormi.

Abro a janela e deslizo a tela para cima, inclinando-me


até a metade. A casa é de tijolos, mas não há nada em que se
agarrar. Nada que eu possa ver de qualquer maneira. Eu me
puxo de volta e fecho a janela, me agachando no chão. O brilho
do meu telefone ilumina a sala, o zumbido de uma mensagem
desagradável no silêncio.

Desconhecido: Soube que você estava de volta.

Eu inclino minha cabeça e dou alguns segundos. Então


eu digito de volta.

Eu: Sim.

Desconhecido: Cuidado.

Eu tremo e bato meu telefone de volta na mesa de


cabeceira. Ele vibra de novo, mas eu o ignoro e rastejo para a
cama. Bloqueio os textos e a fome, fechando os olhos.

O sono demora um pouco para voltar. Antes que eu


perceba, meu alarme está tocando.

Robert me intercepta no caminho para o banheiro.

— Café e desjejum da manhã lá embaixo. — Ele já está


vestido. — Lenora mostrou o uniforme para você? Está
pendurado no armário. A camisa branca e saia ou calça
escura.

Eu aceno, não muito acordada o suficiente para falar, e


tateio meu caminho para o banheiro. Eu escovo meu cabelo
para trás, trançando-o com dedos rápidos e ágeis. E então meu
rosto... rímel e corretivo para esconder as olheiras sob meus
olhos, um tom de rosa manchando meus lábios carnudos. Eu
pratico sorrir no espelho.

É insuficiente. Não consigo evitar o tremor de minhas


mãos.

Eu adiciono delineador.

Eu me visto rapidamente, calçando minhas botas, e


encontro Robert no andar de baixo. Ele desliza uma caneca de
café para mim e eu sorrio para ele.

— Acho que acordar tão cedo é difícil o suficiente sem


cafeína. — Diz ele.

— Obrigada.

— Nós vamos organizar suas aulas primeiro. Esperamos


que você perca apenas a aula inaugural e nós pediremos a um
dos garotos para lhe dar um tour.

Eu concordo.

— Ok.

Comemos cereais em silêncio. Nós vamos para a escola


em silêncio. É um prédio maior na mesma rua das escolas de
ensino fundamental e médio, e parece um castelo no final da
estrada. Meu estômago é uma bola de nervos.

— Acho que vou lhe dar carona todas as manhãs. — Diz


Robert. — E podemos nos encontrar no carro depois. Se você
quiser praticar qualquer tipo de esporte ou atividade
extracurricular, tudo bem. Lenora e eu podemos organizar
como queremos lidar com a carona. Mas não se sinta restrita,
ok?

— Certo.

Eu cometo o erro de olhar para o meu telefone enquanto


subimos os degraus até a porta da frente. Há a mensagem de
ontem à noite ainda na minha tela de bloqueio, e eu nem
preciso abri-la para ler sua mensagem.

Desconhecido: Você vai se arrepender.

Eu tremo.

— Tudo certo?

— Sim. — Mensagens alarmantes de uma pessoa


anônima, horas depois da minha chegada? Essa é uma
maneira rápida de ser expulsa de um bom lar. Quando as
coisas parecem muito estranhas, alguns pais fogem.

Eu não os culpo. Eu desistiria também. Na verdade, eu


adoraria nada mais do que correr para casa e me enfiar na
cama e jogar meu telefone no lixo. Se eu tivesse uma casa.

Robert me mostra o escritório e me apresenta a uma das


orientadoras.

Ela me olha estranhamente, semicerrando os olhos,


depois acena para que eu entre no escritório.

— Margo Wolfe? Venha comigo.


Eu me empoleiro na cadeira ao lado de sua mesa,
observando seu tipo.

— Você tem muitas escolas diferentes em seu currículo.


— Diz ela em voz suave. — Por que?

— Eu sou adotada. Algumas casas não funcionaram.

— Robert e Lenora são bons amigos. — Ela ainda está


digitando, as unhas batendo nas teclas. — Estávamos um
pouco preocupados com eles aceitando uma adolescente,
mas...

Meu olho estremece.

— Você vai se comportar, certo?

Sento-me perfeitamente imóvel.

— Sim, senhora.

Ela me dá um sorriso.

— Encantador. Ok, aqui está sua programação. Tive que


colocá-la em uma aula de matemática, mas talvez você possa
encontrar um tutor.

Eu concordo.

— Obrigada.

A campainha toca e eu pulo.

— Fim da aula. Você vai se atrasar.


Minha agenda é uma confusão de números e palavras.
Meu coração bate mais rápido.

— Não sei para onde ir.

Ela suspira.

— Certo. Siga-me.

Saímos de seu escritório e todo o seu corpo se anima


quando seus olhos pousam em um menino que está
preenchendo um formulário. E então eu dou uma boa olhada
nele, e algo em meu peito afrouxa.

Um rosto familiar.

Seu olhar se fixa no meu e seu nome vem de minhas


memórias.

— Caleb Asher. — Diz a orientadora. — Esta é Margo...

— Wolfe. — Ele fornece, sorrindo. — Nós já nos


conhecemos.

Nós nos conhecemos. Essa é uma maneira ruim de cobrir


nossa história.

Seu olhar viaja para cima e para baixo no meu corpo, e


seus lábios se curvam em um sorriso. Há algo estranho nisso.

— Vou levá-la para a aula para você, Sra. Ames.

— Obrigada, Caleb.
E então somos apenas Caleb e eu no escritório, o relógio
batendo alto na parede.

— Bem? — Eu pergunto.

Ele se vira e sai pela porta, levando o passe rosa com ele.
Eu me apresso para segui-lo, praticamente correndo após seus
passos rápidos. Quando estamos fora de vista do escritório, ele
se vira em minha direção. Sua repentina proximidade me faz
dar um passo para trás e eu olho em seus olhos. Minhas
omoplatas atingem os armários.

— Por que você voltou, Margo?

Eu estreito meus olhos.

— Eu não tive muita escolha.

Ele ri, se abaixando. Ele não me toca, mas de repente


estou gelada. Sua expressão poderia parar meu coração se ele
quisesse.

— Você não tem chance.

Eu balancei minha cabeça, movendo-me para contornar


ele. Suas mãos batem nos armários de cada lado meu, me
prendendo.

— Margo Wolfe. — Ele sussurra. — Você não ouviu? Eu


sou o rei agora.

Ele se afasta e eu fico congelada contra os armários por


um minuto. Esse não é o garoto que eu conhecia. Não, ele foi
substituído por um monstro. E tenho quase certeza de que ele
acabou de sentir o cheiro de sangue na água.
Eu abro a porta. A professora faz uma pausa, olhando
para mim.

— Desculpe. — Passo a ela o bilhete da orientadora. Eu o


encontrei no chão depois que Caleb desapareceu.

A professora, Sra. Stonewater, examina a nota e expira.

— Temos uma nova aluna. Margo Wolfe.

Há alguns suspiros, e a professora levanta os olhos da


nota para fitar a sala. Eles voltam ao silêncio.

— Sente-se. — ela me diz.

Meu olhar se fixa em Caleb – o bastardo me deixou, e levei


cinco minutos para descobrir para onde diabos eu estava indo
– e os meninos ao redor dele. Há um assento vago diretamente
na frente de Caleb ou totalmente contra as janelas. Começo a
me mover para o outro, mas alguém joga a bolsa nele.

Eu faço uma pausa. Não há mais assentos.

Lentamente, ando em direção a Caleb. Ele levanta uma


sobrancelha. Eu afundo no meu assento, minhas bochechas
aquecendo assim que registro seus olhos queimando na parte
de trás da minha cabeça.
Quando ele ficou tão bonito? Cabelo escuro e olhos cinza-
claros, músculos concentrados em seu corpo magro. Ele
cresceu também. Na escola primária, éramos da mesma altura.
Ele está pelo menos quinze centímetros acima de mim agora.

E com ódio.

De onde veio o ódio?

— Senhorita Wolfe?

A classe inteira ri.

Eu empurro.

— Sim?

— Eu estava perguntando se você teve a chance de ler o


programa.

Eu me esgueiro mais para baixo.

— Não senhora.

Ela franze a testa, parando em sua mesa.

— Me veja depois da aula.

— Sim, senhora.

— Não senhora. Sim, senhora, — papagaia o menino ao


meu lado. — Que puta santa para a filha de uma prostituta de
coca.

Mais risadas.
Eu afundo mais.

Voltar foi um erro. Eu deveria ter insistido na escola


pública. Pelo menos assim, os valentões não conheceriam
minha história. Eles teriam zombado das minhas roupas de
segunda mão e corte de cabelo, mas não teriam mexido no meu
passado. Meus pais.

— Você está pensando em gemer sob as arquibancadas


na hora do almoço? — O menino sussurra. — Tal mãe tal filha?

Eu me tornei uma pária instantânea.

Tento ignorá-lo, mas ele chuta a lateral da minha cadeira.


Eu me viro em direção a ele, pronta para dizer algo – qualquer
coisa – mas as palavras se alojam na minha garganta. Ele é
quase tão odioso quanto Caleb era.

Eu o reconheço. Ian Fletcher. Um dos velhos amigos de


Caleb da escola primária.

Eu me pergunto se eles ainda são amigos.

— Tire uma foto. — Ele sugere. — Vai durar mais do que


sua memória.

Lentamente, eu me viro. Concentro-me na professora,


que começa a falar sobre a Guerra Civil. Abro meu livro e tento
descobrir onde estamos, mantendo minha cabeça baixa.

Misture-se. É tudo que preciso fazer.


E é assim que consigo me manter viva até a hora do
almoço.

Pego o lanche que Robert colocou em minhas mãos antes


de sairmos de casa, jogando meus livros no meu armário – o
que, de novo, demorei muito para encontrar. Eu pensei que
poderia ficar bem uma vez que eu tinha estado ali no primário,
mas este prédio é uma besta totalmente diferente.

Eu rolo meus ombros, feliz por tirar o peso das minhas


costas, e caminho em direção ao refeitório. À minha frente,
Caleb e seus amigos estão seguindo na mesma direção. Eu
desacelero automaticamente, mantendo meu olhar sobre eles.
Eu me encosto nos armários e espero que eles não me vejam.

É ridículo. Já vi algumas merdas difíceis na escola


pública e com irmãos adotivos, mas nada se compara à pura
arrogância que vaza desses meninos.

Alguém passa o braço pelo meu, me puxando por um


corredor lateral. Acontece quase rápido demais para eu
protestar.

— Espere...

— Shhh. — A garota diz. Ela nos coloca entre os


retardatários. — Nunca entre no refeitório com um almoço
embalado. Você está louca?

— Bem...

— Pergunta retórica.
Paramos em frente às portas da biblioteca. Elas estão
trancadas, mas ela saca uma chave e a abre, me conduzindo
para dentro, em seguida, a trava atrás de nós.

Está silencioso aqui. Estou com um pouco de saudades


de casa ao ver todos os livros. Uma das minhas famílias
adotivas tinha muitos livros, e a mãe sabia exatamente como
alimentar um senso de escapismo por meio das histórias. Eles
eram apenas uma parada passageira, mas ela me deu um livro
antes de eu sair. Eu li algumas vezes, então entreguei para
Claire.

Ela precisava disso mais do que eu naquele momento.

— Você é nova. — A garota diz, parando na minha frente.


— Existem rumores sobre você.

Eu estendo minha mão.

— Margo Wolfe. Inteiramente indigna de pelo menos um


quarto dos rumores.

Ela sorri e coloca sua mão na minha.

— Riley Appleton. Amigos me chamam de Riley.

— Prazer em conhecê-la, Riley.

— Aha! Já somos amigas, eu vejo. Vem, vem. — Ela me


leva mais longe na biblioteca, acenando para a bibliotecária
escondida em seu escritório. Há cadeiras almofadadas nas
costas, e ela se joga em uma delas. — Então, você já chamou
a atenção de Caleb Asher?
Eu franzo a testa.

— Como você ficou sabendo disso?

Ela bate na têmpora.

— Eu te disse. Rumores.

— Eu conhecia metade das crianças daqui. Eu fui para a


escola com eles até os dez anos. — Eu mudo, abrindo a bolsa
e puxando meu sanduíche. — Ian Fletcher parece
particularmente zangado com a minha volta.

Ela bufa.

— Sim, ele é um saco cheio de mijo em um dia bom.

— Qual a sua história?

— Eu?

— Você já é intrigante. Um aparente almoço embalado e


uma chave para a biblioteca? Não me lembro de você de
quando éramos crianças.

Ela reprime um sorriso.

— Você não lembraria. Eu sou uma júnior, e de qualquer


maneira, me transferi quando minha família se mudou para cá
há alguns anos.

— Você pode explicar Caleb?

Riley balança a cabeça, abrindo seu próprio almoço.


— Ele é o capitão da equipe de lacrosse1. Todo mundo o
quer, as garotas por aqui tossem um pulmão para ter uma
chance de falar com ele. Você deve se lembrar que o pai dele
tinha sua própria empresa?

— Sim. — Nunca soube os detalhes. E aos dez anos, eu


realmente não me importava.

— Bem, aquela empresa cresceu muito rápido, e seu pai


a vendeu. Aparentemente, a família ainda recebe royalties. Por
causa disso, eles são extremamente ricos. Caleb pode fazer
qualquer coisa, e a escola se curvaria para beijar sua bunda.

— Divertido.

— Ele e seus amigos são intocáveis. Realeza. — ela


sussurra. — Seus amigos são Liam, Theo e Eli. Eles adoram
aterrorizar... mas todos caem a seus pés. Até mesmo os
professores.

— Eles adoram aterrorizar quem?

— Eu. — Ela meio que ri. — Só Eli, no entanto. O resto


tende a me deixar em paz. Os meninos de ouro têm um lado
negro.

Eu resmungo.

1Lacrosse é um esporte de equipe, jogado com um taco de lacrosse, que possui uma rede na ponta.
Os jogadores usam a cabeça do taco de lacrosse para carregar, passar, pegar e atirar a bola para o gol.
É praticado principalmente na costa leste dos Estados Unidos e Canadá e com origem nos povos
Nativos americanos.
— E agora Caleb está de olho em mim. — Eu pego meu
telefone, mostrando a Riley as mensagens. — Você sabe quem
pode ser?

Ela pega meu telefone, seus olhos se arregalando.

— Não, mas isso... isso é perigoso. Você contou a alguém?

— Não. — Eu olho em volta e coloco meu sanduíche na


mesa. Meu apetite sumiu. — Se eu criar caso, minha nova
família pode decidir que sou muito problemática. Você sabe?

— Eles não podem mandar você embora. — Ela


argumenta. — Você acabou de chegar!

— Eu sei, mas esse é o sistema. Eu tenho onze meses


restantes até os dezoito anos, então eu posso ir. — Ir para onde
é a pergunta, mas Riley não a expressa. Eu também não.

A campainha toca e nós duas recuamos.

— Mostre-me sua programação. — Ela diz, colocando


suas coisas de volta na bolsa. — Vou te levar para a aula para
que você não se atrase.

— Obrigada.

Saímos para o corredor e eu esbarro em costas fortes e


musculosas.

Caleb Asher se vira e meu coração pula na minha


garganta.

Seus olhos vão para Riley, depois de volta para mim.


— Vá embora, Appleton.

Ela engole, olhando para mim. Ela empurra os ombros


para trás.

— Eu preciso mostrar...

— Ficaria feliz em ajudar nossa amiga a chegar à aula. —


Ele franze a testa para ela. — Vá embora.

Ela enrijece e lentamente se afasta, lançando um olhar de


desculpas em minha direção. Eu encolho os ombros para ela.
Não é culpa dela que ele seja um idiota.

Um asno que entra em meu espaço pessoal, me


conduzindo para longe de seus amigos.

— Wolfe.

— Asher.

— Como está a aula?

Todo mundo está fingindo que eu não existo ou tossindo


nomes maldosos por trás de seus punhos.

— Senti sua falta na hora do almoço. — Ele diz.

Eu bufo.

— Sim, ok.

Ele coloca a mão na minha nuca, seus dedos suaves por


um segundo antes de cravarem na minha pele. Eu suprimo um
arrepio. Ele usa a pressão para me guiar pelo corredor, para a
multidão de alunos que se dirigem para suas aulas.

No meio de todos, ele me dá um leve empurrão.

É o suficiente para me deixar de joelhos. Todos ficam em


silêncio com o movimento.

A mortificação ressoa em mim.

— Esta não é sua escola. — Caleb diz, se inclinando.

Tenho certeza que ele está ampliando suas palavras de


propósito, porque agora todos estão voltados em nossa direção.
Seus amigos se juntam a nós, circulando ao redor.

— Por que você não volta para a família de lixo que te


criou? Deixe o resto de nós em paz. Oh, eu esqueci. Sua mãe
provavelmente está louca na sarjeta, e seu velho e querido pai
está sendo estuprado regularmente na prisão.

— Por que você está fazendo isso? — Eu sussurro.

Ele se inclina, agarrando meu braço e me puxando de


volta.

— Por quê? Você realmente não sabe de nada, não é? —


Ele zomba. — Você é uma ovelha em pele de lobo. Nenhuma
ameaça.

Não chore, porra.

— Corra agora, ovelhinha.


Ele me solta e eu me movo, assustada demais para andar
em linha reta. Meu ombro atinge um de seus amigos, e é como
bater em um caminhão. Isso me deixa tonta. Depois de me
orientar, atravesso a multidão.

Só quando encontro um banheiro, entrando nele, as


lágrimas começam a cair. Eu não fiz nada para merecer isso.
Inferno, tudo que fiz hoje foi entrar em uma tempestade de fogo
– uma que minha aparente partida sete anos atrás criou.

— Margo?

Eu fungo, limpando meu nariz no braço.

— Aqui.

Riley abre a cabine, olhando para mim.

— Aquilo foi…

— Demais?

— Uma gota no balde.

Eu estremeço.

— Sério?

— Os meninos de ouro de Emery-Rose não são nada além


de desagradáveis com seus lacaios. — Ela se encosta na
parede. — Desculpe falhar com você. Há anos que sou alvo da
fúria de Eli.

— Bem, eles não podem escapar impunes.


— Eles podem e irão. — Riley suspira. — Suas famílias
são as mais ricas dos ricos. Meus pais estão bem de vida e eu...
— Ela balança a cabeça. — Eu sou a vilã por aqui.

— Você não é. — Eu me levanto, limpando a poeira


invisível da minha saia.

Ela me entrega um pedaço de papel higiênico e eu levo


um segundo para limpar meu rosto. Meus olhos estão
injetados, as pálpebras um pouco inchadas, mas fora isso,
pareço normal. A campainha toca, ecoando no banheiro.

— Talvez devêssemos faltar.

— O resto do dia? — Riley olha ao redor. — É o seu


primeiro dia...

Ugh.

— Certo, tudo bem. Acho que vou pegar detenção por


estar atrasada.

Voltamos para o corredor; é uma cidade fantasma.

Ela abre um sorriso.

— Se você quiser, podemos nos encontrar amanhã antes


da escola. Todos ficam no pátio e não nos deixam entrar até o
primeiro sinal.

Eu retribuo seu sorriso, grata por ela não ter saído


correndo.

— Segurança em números?
— Algo parecido. — Ela olha para minha programação e
me orienta na direção certa. Ela me deixa no corredor e sai
correndo.

Por um segundo, invejo a maneira como ela consegue se


livrar de tudo. Ele gruda na minha pele como cola: a
negatividade, a fúria de Caleb. Entrego minha agenda à
professora e ela limpa a garganta, fazendo sinal para que eu
me sente sem dizer uma palavra. Agradeço que ninguém que
eu conheça esteja nesta classe... até que Liam entre.

A professora nem para de falar, ou olha para ele.

Ele para bem perto de mim, olhando para baixo, e diz:

— Belo show, ovelha.

Eu mantenho meu olhar na mesa.

Se eu estava pensando em apelidos, acho que


encontramos o meu. Uma ovelha em pele de lobo. Ha, ha.

Onze meses até a liberdade – mas apenas nove até eu me


formar. Eu passei por coisas piores. Eu posso sobreviver a isso.
No sábado, Riley chega cedo à casa dos Jenkins. Cedo o
suficiente para interromper o desjejum, o que aparentemente
é uma tradição. Ela encanta Lenora e Robert, sentando-se e
servindo-se de uma panqueca.

— Eu esperava levar Margo ao shopping. — Diz ela,


sorrindo para os dois. — Tudo bem?

— Oh, isso seria excelente. — Lenora dá um tapinha na


minha mão.

Ela gosta disso.

— Vou pegar algum dinheiro para você. Você pode


escolher algumas roupas novas, se quiser.

Eu consigo sorrir.

Na sexta-feira, depois de uma semana me olhando de


longe, Caleb se aproximou. Eu estava sentada no banco,
amarrando meus tênis de corrida para a aula de ginástica.
Minhas botas e bolsa estavam ao meu lado.

Não era justo que ele ficasse perfeito em uma camiseta


justa e shorts. Eu me senti como um saco de marshmallows
ao lado dele.

Ele levantou minha bota, fazendo uma careta.


— Eles lhe deram isso como compensação? — Ele
perguntou.

Eu levantei minha sobrancelha, escolhendo não


responder. Optar por não começar nada. Quem sabe do que
ele está falando, afinal.

Mas, aparentemente, foi a coisa errada a fazer, porque ele


enfiou os dedos na minha bota e quase arrancou a metade
inferior da sola. Eu usei meus tênis pelo resto do dia,
ensopados pela chuva em que estávamos correndo.

Então sim. Novas botas estão na lista. Mas não digo isso
a Lenora. Eu joguei minhas botas na lixeira no estacionamento
da escola, e Robert não percebeu meus tênis nojentos quando
eu o encontrei perto do carro. Ele não parece notar muito.

Eu me pergunto se ele ouve rumores sobre mim. Ele


trabalha no departamento de arte. Mais especificamente,
pintura e filme. Ele dá quatro aulas diferentes de dificuldade
variada e gosta de discutir o que seus alunos estão fazendo
durante o jantar.

Várias vezes nesta semana tive que dar um passo para


trás e avaliar o quão longe eu cheguei. Estou de volta à minha
cidade natal depois de sete anos. Estou indo para uma escola
chique que tem aulas como Arte e Mídia e Cinema na Era
Digital. Meus pais adotivos me deram duzentos dólares para ir
às compras.
Rose Hill é diferente de qualquer outro lugar em que
morei. Apenas três ruas depois, eu morava na casa de
hóspedes de uma mansão com meus pais. Papai começou a
trabalhar como uma pessoa normal, e mamãe era a chef
pessoal da família. As coisas estavam normais. Corria com as
outras crianças, entrei na escola preparatória com bolsa de
estudos, amava a vida. Tinha amigos.

E então as coisas se desintegraram.

O que começou como uma infância de sonho se tornou


um pesadelo. Um do qual eu não conseguia acordar.

Robert pega Riley e eu antes de sairmos.

— Margo. Você se importaria de pegar algumas tintas? E


um rolo de filme. — Ele me entrega um pedaço de papel com
os detalhes.

Eu coloco no bolso. É o mínimo que posso fazer por ele.

Nós nos enfiamos em seu carro e eu olho em volta.

— Droga, Riley. — Murmuro. — Você tem escondido sua


riqueza de mim.

Ela bufa.

— Não mais do que você tem escondido a riqueza dos


Jenkins.

— O que é deles não é meu. — Eu digo.

Ela sai da garagem e eu ligo o rádio.


— Sempre foi assim.

— Eh, eles parecem muito ansiosos para compartilhar.


Mas de qualquer maneira, o shopping é o lugar para estar.
Perdoe-me se você já sabe disso. Eu sei que você costumava
morar aqui, mas...

— Foi há muito tempo. — Eu termino. Algumas ruas


parecem familiares, como se eu as percorresse em um sonho.
Outras… bem, as coisas mudam, eu acho. Estou tendo uma
estranha sensação de déjà vu.

— Então, quem vai ao shopping no sábado?

— A elite da Elite Emery-Rose, — ela diz, levantando o


queixo. — E nós.

— Estamos em uma missão. — Eu a lembro. Depois de


uma semana de ameaças sutis – o apelido de Ovelha está
grudando como velcro, infelizmente – e com o aumento no
número de vezes que meus joelhos atingem o chão, estou
pronta para um pouco de normalidade.

Ela entra na garagem do shopping, sobe uma rampa


íngreme, e para em uma vaga perto de uma entrada lateral.

— Eu preciso de um presente de aniversário para minha


mãe. Algo elegante. Papai me deu seu cartão de crédito.

Eu balancei minha cabeça. Imagine um mundo onde


alguém me entregasse um cartão de crédito e dissesse: Escolha
algo legal para sua mãe. Damos os braços e entramos no
shopping, e somos recebidos com música pop alta e muito mais
gente do que eu esperava.

— Uau. — Murmuro. Algumas pessoas que reconheço


automaticamente da escola. Eu abaixo minha cabeça,
puxando Riley para o lado. — Não estou pronta para isso.

— Você entendeu totalmente. — Ela diz. — Cabeça


erguida, certo?

— Tenho vontade de ficar invisível.

Ela balança a cabeça.

— Esta é a sua estreia pública. Não há meninos de ouro


aqui olhando para você – apenas garotas malvadas e seus
namorados.

Eu bufo.

— Acho que é pior.

Ela encolhe os ombros.

— Discutivelmente. Vamos dar uma olhada na


maquiagem. Eu amei aquele batom líquido que você usou no
primeiro dia.

Eu sigo Riley de loja em loja, e as horas passam


lentamente. Hesito em gastar o dinheiro que os Jenkins me
deram, mas no final desisto. Saio da sapataria com tênis e
botas novos, jogando meus tênis velhos no lixo e amarrando
as botas.
Eles parecem meu velho par, imediatamente macios e
confortáveis.

— Pronta para comer?

— Só se conseguirmos pegar o Froyo2 depois. — Digo.

Pela primeira vez, me sinto leve. Faço uma nota mental


para ligar para Claire e Hanna, para ter certeza de que estão
bem. Já se passou uma semana e nem sei onde podem ter sido
colocadas.

— Você já pensou em ver seu pai? — Riley pergunta.

Pegamos comida e encontramos uma mesa vazia.

— Não.

Ela levanta uma sobrancelha.

— Ok, essa foi uma resposta rápida. Então, você


obviamente pensou sobre isso.

Eu levanto um ombro. Mamãe está desaparecida há anos


e eu sei exatamente onde papai está... até que ele seja solto. E
então estou supondo que ele irá desaparecer também.

— Eu não quero falar sobre isso. Desculpe.

— Uh-oh, Margo. — Riley diz. — Entrada.

A temperatura na sala cai dez graus.

2 Iogurte gelado
Eu me viro no assento, olhando para a escada rolante.
Quatro garotos lindos apoiam-se nas grades, em várias poses,
durante a descida. Liam, Eli e Theo estão brincando... mas
Caleb já me encontrou.

De alguma forma.

Seus olhos perfuram os meus, e estou surpresa com o


quanto isso dói.

Eu me viro, focando na minha comida e prendo a


respiração.

É desnecessário, porque eles rapidamente se juntam a


um grupo de meninas. Eu me concentro em Caleb novamente,
que levanta uma linda loira de sua cadeira e a coloca em seu
colo. Meu coração dá espasmos.

— Aquela é...

— Savannah Dunley? Sim. — Riley parece angustiada.


Talvez porque Eli está olhando para ela, e Caleb agora está
ignorando completamente minha existência.

— Ela e eu...

— Costumavam ser amigas? Acho que esse foi um dos


rumores que era verdade. — Ela me dá um meio sorriso,
enfiando um pedaço de comida na boca.

— Ela e Caleb?
— Eles costumavam namorar. — Diz ela, cobrindo a boca
com a mão enquanto mastiga. — Foi uma coisa rápida. Meio
não oficialmente, se você quer saber.

Eu mudo.

— Eu não a vi. Desde que voltei.

— Ouvi dizer que ela viajou na semana passada. — Riley


encolhe os ombros. — A família dela faz viagens aleatórias,
luxuosas e espontâneas. Ela estará de volta na segunda-feira
contando histórias sobre nadar com golfinhos ou fazer um tour
privado no Taj Mahal.

— Isso é... — Eu torço meu nariz. — Extravagante.

— Ela é uma das sortudas. — Riley suspira. — Acredite


em mim, se meus pais pudessem doar um prédio para a escola,
tenho certeza que eles me deixariam ir por semanas a fio
também. Ela faz metade do curso online. Observe, ela estará
aqui talvez quatro dias dos cinco, a cada duas semanas.

— Por que Caleb não faz isso? — Eu pergunto. —


Certamente tornaria nossas vidas mais fáceis.

Não posso deixar de me virar e observá-lo. Ele se inclina,


falando no ouvido de Savannah, e suas bochechas são um tom
pálido de rosa. O que quer que ele esteja dizendo, ela parece
quase envergonhada.

Seus olhos piscam para mim, ódio tão cegante que eu


deixo cair meu garfo.
Ele bate no chão e eu atraio os olhares. Todos eles.

— Foda-se. — murmuro, mergulhando para pegá-lo.

Quando me endireito, Caleb está na minha frente.

Tenho que esticar minha cabeça para trás para ver seu
rosto.

Ele não me toca, apenas me encara. Não consigo decidir


se é melhor ou pior.

— Você é desajeitada, Ovelha.

Eu faço uma carranca para ele.

— Eu...

— Você o que? Ninguém pediu suas desculpas.

— Jesus.

Ele agarra meu pulso, apertando com tanta força que


meus ossos doem.

— É assim que você se apega a algo. Continue. Tente se


libertar.

Eu fico olhando para ele, puxando meu braço.

Seus dedos seguram com força. Eu me levanto e puxo,


mas ele não me solta. E então ele está me levando para trás,
torcendo meu braço nas minhas costas. Uma pontada de dor
sobe pelo meu braço e me curvo para aliviá-la.
— Caleb...

— Implore.

Eu fico olhando para ele.

— Você está falando sério?

— Você quer que isso pare? — Ele puxa meu pulso, me


aproximando dele. — Você quer que eu deixe você ir?

Eu balancei minha cabeça. O desamparo rasteja pela


minha pele.

Ele puxa meu braço para cima atrás das minhas costas,
até que estou dobrada na frente dele. Meu rosto está no nível
de sua virilha.

Uma súbita onda de medo sangra por mim.

— Por favor. — Eu sussurro. — Por favor, deixe-me ir.

Ele solta meu pulso, dando um passo para trás e


grunhindo de desgosto. Algo pisca em seus olhos – como se ele
estivesse com mais raiva por eu ter cedido a ele. E sim, talvez
eu devesse ter ficado forte. Talvez eu devesse lutar contra o
valentão da próxima vez e fazer uma cena ainda maior.

Toda a praça de alimentação está olhando para nós.

Mas eles vão repreendê-lo? Não. Ele é Caleb Asher,


herdeiro de uma fortuna em Rose Hill. Se seu negócio
crescesse e saísse do condado, quantos empregos seriam
perdidos? Quantas pessoas isso devastaria?
Só mais uma coisa que aprendi na minha primeira
semana na Emery-Rose Elite.

Ele percorre as mesas de volta para seus amigos como se


nada tivesse acontecido. Eu olho para suas costas, esperando
que ele possa sentir como eu sinto seu olhar. Ele não se
incomoda. E quando ele se senta novamente, ele se inclina
para Savannah e a beija.

Seus lábios se abrem e sua língua invade sua boca. Eles


não estão se beijando, mas... ele a está invadindo.

Conquistando ela.

Ele deve cair nessa merda. Ou ele está fazendo isso para
cravar outro prego no meu coração, porque todo o meu corpo
parece como se eu estivesse me afogando.

Eu olho para Riley.

— Precisamos sair.

Ela sorri tristemente.

— Sim, imaginei que você diria isso.

— Eu só preciso pegar a tinta, e então devemos ir.

Nós fazemos isso, e eu praticamente arrasto Riley para o


carro dela. Ele provavelmente ainda comanda a praça de
alimentação, mas não consigo parar de olhar por cima do
ombro. Meu pulso está vermelho brilhante, mas meu orgulho
dói mais.
— Ei, Applebottom3.

Riley se vira instintivamente, seu rosto fechando quando


ela vê Eli. Seu aperto em mim é forte, sua pele úmida.

— Para onde você está fugindo?

— Apenas nos deixe em paz. — Eu digo a ele.

Ele é pecaminosamente bonito, o ying para o yang de


Caleb. Olhos escuros, cabelos claros, pele pálida. Ele é mais
baixo que Caleb, mais corpulento. Eu me pergunto em que
posição ele deve jogar, se ele é tão rápido quanto...

Pare de pensar nele.

— Venha comigo. — Eli ordena.

Riley lança um olhar assustado com os olhos arregalados


na minha direção.

— Só você, Applebottom. Eu realmente não me importo


com a sua amiga.

Eu faço uma carranca para ele, mas a surpresa irradia


através de mim quando Riley libera meu braço.

— Eu ficarei bem. — Riley segue Eli até a esquina do


prédio. Ela nem me deixa suas chaves.

Eu deixo minhas sacolas ao lado de seu carro, encostadas


no para-choque.

3 Parte inferior da maçã


Quando ela retorna, seus olhos estão vermelhos e
vidrados. Seu cabelo está um pouco bagunçado.

Eu me endireito, indo direto para ela.

— O que aconteceu?

— N-nada. Ele só queria conversar.

— Uh-huh, — eu digo. — Sobre o que ele queria falar?

— Nada. — Ela endireita os ombros. — Vamos para casa.

Eu suspiro. Entendi. Não quero falar sobre meus


encontros com Caleb depois que eles acontecem, porque às
vezes dói muito revivê-los. Talvez em alguns dias ela fale. Mas
até então, não vou mexer com ela. Ou nossa amizade.
Robert sugere que eu mude para uma de suas aulas.
Como ainda estou em um modo de resolver todos os conflitos,
concordo prontamente. Não necessariamente acho que seria
boa nisso, mas pintar é melhor do que fazer o dever de casa
em uma sala de estudos.

Segunda-feira de manhã, bem cedo, ele desliza uma caixa


embrulhada pela ilha da cozinha.

— Para você.

Eu desembrulho lentamente, saboreando o puxão e a


liberação da fita. Posso contar em uma mão quantos presentes
ganhei de outras pessoas além do presente de Natal obrigatório
da minha assistente social. Quando é revelado, não consigo
evitar que um sorriso largo se espalhe. É o conjunto de tintas
que comprei para ele outro dia, mais os pincéis.

— Tudo o que você vai precisar. — Explica ele.

— Você estava planejando que eu dissesse sim. — Acuso.

Ele levanta as mãos em sinal de rendição.

— Culpado pela acusação. Um pouco de arte será


terapêutica para você.

— Mesmo se eu for péssima nisso? — Eu pergunto.


Ele sorri, segurando a porta da frente aberta para mim.

— Sim, mesmo se você for péssima nisso. Mas,


honestamente, eu não acho que você será.

Eu o sigo para o escritório, aliviada por não ter que ficar


parada no pátio. Se Savannah estiver de volta, não quero falar
com ela. Ou ser confrontada por ela. Ou olhar para ela.

Robert fala com minha orientadora, fazendo com que ela


me mude de uma sala de estudos que estava lentamente me
entediando até a morte para sua classe. Ele nos leva para fora
e bate palmas.

— Perfeito! Vejo você no final do dia.

— Até logo. — Murmuro, voltando para o pátio. Demorou


muito menos do que eu esperava. Duvido que Riley esteja aqui.

Eu entro no pátio e fico nas bordas. Caleb e sua equipe


estão jogando uma bola de futebol, ocupando um espaço
enorme. Vejo Savannah e suas novas amigas no canto.
Algumas das líderes de torcida estão fumando, os cigarros
pendurados em seus dedos. Meus olhos quase saltam ao vê-la.

Ela é a garota legal. Aquela que se rebela em nome da


moda. Saia curta, pernas compridas, camisa do uniforme
desabotoada muito baixa. Um sutiã de renda rosa choque
espreita para fora de sua camisa. Eu imagino que ela tem caras
babando por ela, mas tudo em que ela pode se concentrar é em
Caleb.
Tenho uma suspeita mesquinha de que são dela as
misteriosas mensagens de texto. As mensagens de texto que
felizmente permaneceram em silêncio na semana passada. Ela
pode ser a única cruel o suficiente para me alertar na minha
cara. Bem, exceto por Caleb.

Sento-me em um banco e retiro o dever de casa para o


final da semana. A campainha toca sem nenhum sinal de Riley,
e respiro fundo. Eu recolho minhas coisas. Meu livro desliza
do meu colo e atinge o cascalho. Eu vou pegá-lo e um sapato
polido pisa em sua lombada.

— Ei... — Eu paro quando vejo a quem o sapato pertence.

Caleb. Há escuridão em seus olhos e eu quero rastejar


para longe dele. Quantas vezes eu tenho que me lembrar que
ele não é o garoto que eu conheci? Que algo o mudou para pior,
deixando esse monstro em seu lugar?

— Pensei ter dito para você ir embora.

Eu faço uma careta.

— Você disse?

Eu puxo meu livro, mas é inútil. Ele apoia seu peso sobre
ele, esmagando a lombada.

Talvez ele faça isso com você, Margo. Se você não o ouvir.

Eu pulo de pé, encontrando-me a centímetros dele.


— Qual é o seu problema? — Eu exijo. — Por que você é
tão idiota?

Ele ri. Vai direto no meu peito, me dizimando. Sua mão


envolve minha nuca, me mantendo no lugar. Não é como se eu
tivesse outro lugar para ir, com o banco bem atrás de mim e
ele na minha frente.

Eu estremeço em sua palma contra minha nuca. Eu o


odeio – decido que eu odeio ele, e já é hora do meu corpo se
apoderar da raiva que ele está tentando expulsar.

— Vá correr para Savannah. — Eu murmuro, olhando


para ele. — Leve qualquer que seja o seu problema para ela.

Ele ri.

— Sim, ovelha. Eu a quebrei, e ela ainda me segue como


uma boneca de corda. — Ele inclina a cabeça. — Tenho a
sensação de que se eu quebrasse você, você não faria isso.

— O que?

— Vamos jogar um jogo. — Ele se inclina para baixo, até


que estejamos cara a cara. — O primeiro a desistir perde.

— O que...

Ele me puxa pelo pescoço, batendo seus lábios nos meus.


Eu luto com ele por um segundo. Eu luto contra a pressão
implacável de seus lábios nos meus, mas ele captura meus
pulsos nas minhas costas com a mão livre.
O ódio irradia através de mim. Ele está me beijando, mas
é tudo raiva e fogo. É quente e estúpido, e tenho vontade de
chorar. Quero recuar, arrancar seus olhos. Sua mão aperta
minha nuca.

Ele era o garoto que eu amava. Eu tinha dez anos. Eu


estava apaixonada. Pensar nele foi tudo o que me manteve à
tona durante o primeiro ano e meio de adoção. Mas agora ele
é outra pessoa, e quero meu velho amigo de volta.

Posso trazer meu velho amigo de volta. Por um instante,


eu cedi ao beijo. Como posso não ceder?

Sou forte o suficiente para admitir que costumava pensar


em como seria o Caleb adulto. Como ele soaria, como se
sentiria. Não é nada como essa agonia amarga.

Meu corpo amolece, deixando-o me moldar. É um alívio


para ele assumir, seus lábios separaram os meus. Eu espero
que sua língua varra minha boca, para o resto da sinfonia
começar em minha mente. Ele ganhar é felicidade e doçura, e
estou bêbada disso em menos de um segundo.

E então ele se foi.

Ele me solta, dando um rápido passo para trás. Ele


estremece e limpa o lábio inferior.

— Você perdeu Margo. — O brilho de um sorriso voa em


seu rosto, mas então desaparece. — Você sabe o que isso
significa?
Meu corpo está tremendo.

Perdi um jogo que não tinha chance de ganhar – grande


surpresa. Caleb me deu um punhado de punições no espaço
de uma semana. Eu reconheço isso. Até mesmo beijar
Savannah no sábado foi uma espécie de vingança.

— Vai custar caro para você.

Meus joelhos cedem. Minha bunda bate no banco


dolorosamente forte.

Ele me observa por um momento e depois sai.

Eu não consigo parar de tremer. Levo minha mão aos


lábios.

Esse foi meu primeiro beijo.

Um primeiro beijo, roubado por um valentão. De um


menino que pensei que gostava. Por um menino com quem eu
costumava sonhar. Isso me abala mais do que gostaria de
admitir, e fico olhando para o chão por um longo minuto. Ele
me beijou. Reivindicou-me como se eu não fosse melhor do que
um objeto no qual ele está escrevendo seu nome.

Não.

Não pode acontecer assim. Não sou uma marionete


dançando quando ele puxa minhas cordas. Não sou mole –
minha infância cuidou disso. Eu não vou me curvar a ele.

E certamente não vou quebrar.


Eventualmente, eu levanto meu livro e sacudo a sujeira
de seu sapato. Enfio ele e meu caderno na bolsa, pulando a
aula de introdução e indo para a minha primeira aula. Eu me
inclino contra um armário, esperando a campainha tocar.

Meu telefone vibra no bolso.

Desconhecido: Fique longe de Caleb.

Eu gemo. De todas as coisas – de todas as pessoas pelas


quais meu perseguidor pode ficar obcecado, tem que ser Caleb.
Eu não me preocupo em responder. Em vez disso, eu o desligo
e coloco na minha bolsa. O sino toca.

Em questão de momentos, os corredores ficam lotados de


alunos. Eu espero até que a sala de aula esteja vazia, então
deslizo em uma cadeira. Os meninos de ouro vêm atrás de
todos os outros, mas ninguém ocupa seus lugares. Eles se
esparramam em suas cadeiras, rindo um com o outro.

Caleb está em silêncio, queimando um buraco na minha


espinha como de costume.

A professora entra fechando a porta com um propósito e


todos fecham a boca.

— Vamos iniciar um projeto de história que nos levará ao


longo do semestre.

Alguém levanta a mão.

— Teremos parceiros?
— Podemos escolher? — Outro pergunta.

— O projeto? Sim. Parceiros? Talvez. Vou permitir que


vocês enviem três nomes para mim no final da aula e tomarei
a decisão final sobre os parceiros no final da semana. Seguindo
em frente…

— É melhor ver meu nome em seu papel, Ovelha. — Caleb


diz atrás de mim. — Somos inevitáveis.

Não consigo esconder meu estremecimento. É estúpido


que eu ainda possa sentir o gosto dele em meus lábios. Eu
arrasto as costas da minha mão em meus lábios, e ele chuta
as costas da minha cadeira. Eu faço isso de novo, e ele chuta
com mais força.

— Pare. — Eu assobio.

— Me faça parar.

— Sr. Asher. — Grita a professora. — Você está prestando


atenção?

— Tentando, senhora. Wolfe aqui é bastante


perturbadora.

Os alunos riem.

— Margo?

— Desculpe. — O que mais eu posso dizer? Nada que me


tiraria disso.
A atenção dos alunos vagarosamente volta para a
professora, e o resto da manhã passa rápido. Eu só vejo Caleb
ou seus amigos mais duas vezes, e finalmente encontro Riley
no corredor antes do almoço. Ela agarra meus braços, pulando
para cima e para baixo.

— Eu sinto muito por ter perdido esta manhã. — Ela


resmunga. — Eu dormi demais, e então meu irmão quis uma
carona, e eu tive que pedir para minha mãe ligar e pedir
permissão para eu entrar no segundo período. Você está
brava?

Eu pisco para ela.

— Brava? Por quê?

Ela se inclina.

— Por deixar você para se defender sozinha. — Ela faz


uma careta, seus lábios torcendo. — Deixa pra lá. Seu pai… é
... Robert, trouxe você?

— Como de costume. — Eu digo. — Mudamos um pouco


a minha programação. Vou ter uma aula de pintura com ele
agora.

Ela cantarola.

— Eu não conheço ninguém nessa classe. Talvez você


encontre um menino bonito e artístico que a levará para tomar
um café com tinta nos dedos. Sua ideia de romance será
perguntar se ele pode pintar você...
— Sem chance disso. — Eu bufo. — Você notou que
ninguém fala comigo? Ninguém sequer olha para mim, a
menos que Caleb esteja me apontando.

O fato é que minha invisibilidade recém-descoberta não


me incomoda. Eu acho que ele está tentando me congelar, me
fazendo sentir como se ele fosse o único no mundo que
prestaria atenção em mim, mas... eu não me importo. Eu odeio
quando ele me vê.

— Eu notei. — Ela olha ao redor. — Ah, bem, poderia ser


pior.

— Como poderia?

— Poderíamos ter que almoçar no refeitório.

Eu rio.

— O que eu vou fazer se você ficar doente?

— Oh meu Deus, você está certa. Devo apresentá-la a


Amy, a bibliotecária.

— Você chama a bibliotecária pelo primeiro nome? — Eu


pergunto.

Ela me empurra em direção à biblioteca.

— Amy é a melhor. Ela às vezes rouba sobremesas extras


e divide. Ou se houver bolo na sala dos professores...

Eu fico perto da porta, inquieta. Ela a destranca e


gesticula para que eu entre.
— Oh, devo mencionar. — Diz Riley, levantando um
ombro. — Amy é minha prima.

— É assim que você conseguiu uma chave.

— Sim. Ei, Amy! Você viu minha amiga Margo, certo?


Margo, Amy. Amy, Margo. Se eu não estiver aqui, ela ainda
pode relaxar aqui para almoçar, certo?

Sua prima se levanta de sua mesa e se aproxima,


apertando minha mão.

— Prazer em conhecê-la. Sim, Riley, é claro que ela pode.


Basta bater, ok, Margo?

— Sim. — Murmuro. — Obrigada.

Levamos nosso almoço para nossas cadeiras, espalhando


nossas opções. Nós nos acostumamos a trocar itens, porque a
mãe de Riley gosta que ela seja saudável, e Robert ainda não
descobriu meus favoritos.

Lenora e eu fomos fazer compras no domingo, o que foi


uma aventura por si só. Acho que nunca estive em uma
mercearia chique até aquele momento. Orgânico era o nome do
jogo, mesmo que eu não conseguisse descobrir por quê. Lenora
também não deu a melhor explicação. Ela me deixou escolher
o que eu gostaria de ter em casa: café da manhã e lanches para
a escola, opções de almoço e jantar.

Foi apenas mais uma coisa que me fez sentir melhor em


relação a me instalar.
— Batatas fritas de sal e vinagre? — Eu pergunto.

— Yum.

— Nojenta.

Eu ri.

— Eu troco pelas... cenouras?

— Combinado.

Comemos em silêncio, ela mastigando o saco de batatas


fritas e eu quebrando as cenouras. Depois de comermos, deve
haver tempo suficiente para eu escolher um novo livro.

— Eli, uh, estava flertando comigo. — Ela deixa escapar.


— Não sei por quê.

— Flertando como...

— Ele beijou meu pescoço. Foi bom, mas eu estava com


medo, e ele ainda é mau...

— Ele é...

— Um menino de ouro. — Ela termina. — A realeza do


ensino médio. Eu sei. Mas tipo, eu não pensei que iria querer
que ele me beijasse, e quando ele parou, eu estava... — Ela fica
vermelha como um tomate.

— Sim. — Eu murmuro. — Ele não disse nada?

— Ele me disse para correr de volta para você. — Ela


sussurra. — E não esquecê-lo.
— Hã. — Eu balancei minha cabeça. — Eu não os
entendo. Qualquer um deles.

Ela suspira.

— Só mais três meses deles sendo insuportáveis de baixo


nível. Quando a temporada de lacrosse começar na primavera
seremos lembradas de quanto eles realmente governam a
escola. Está tudo bem no outono, porque as pessoas meio que
esquecem. E de repente eles estão jogando e ganhando e
suando e...

Eu aceno minha mão na frente de seu olhar sonhador.


Ela se volta para mim com um sobressalto.

— Perdi você aí por um segundo. — Eu ri.

— Espere. — Ela murmura. — Você vai sentir também.

— Sentir... o quê?

— A energia carnal. Nenhuma garota sai ilesa.

Eu rio, mas meu estômago se revira.

— É tão ruim assim?

— Toda garota perde a cabeça. O futebol é grande no sul.


Mas aqui, o lacrosse reina. Bem, na verdade, Liam e Theo
jogam futebol também.

Eu murmuro.
— Podemos ir a um jogo de futebol. — Ela oferece. — É
uma boa introdução à loucura, e acho que seus jogos começam
nesta sexta-feira.

— Você quer ir a um jogo?

Ela salta em seu assento.

— Isto deve ser divertido. Além disso, Caleb não estará lá.

— Você quer dizer que ele não vai jogar.

— Bem... — Ela cora. — Sim. Ele provavelmente vai estar


com Eli e sua corte. Mas ei, tenho certeza que podemos entrar
na festa depois.

Eu fico olhando para ela.

— Riley Appleton, quem é você? Jogos de futebol e festas?

Seu rubor se aprofunda.

— Nunca tive uma amiga para levar… e sempre quis ir.


Mas há toda a coisa dá coragem, então... por favor, diga que
você irá comigo? Por favor, Margo? Você pode dormir na minha
casa...

Eu balanço minha cabeça.

— Eu não posso dormir fora. As regras de adoção.

Ela solta um suspiro, seu rosto caindo.


— Mas talvez... — Eu lanço um osso para ela, mesmo que
a ansiedade esteja lentamente envolvendo meus pulmões. —
Talvez Lenora e Robert deixem você ficar comigo?

Ela bate palmas.

— Yay! Você fala com eles, e eu... eu vou descobrir na


casa de quem é a festa. Aposto que será no Theo. Dizem que
ele tem uma piscina gigante com escorregador, e às vezes eles
pulam da varanda do segundo andar. Legal, certo?

— O que poderia dar errado? — Eu murmuro.

Pegamos nossas embalagens e jogamos no lixo,


caminhando para frente da biblioteca. Amy está com a cabeça
enfiada em um livro e levanta a mão quando passamos.

— Por que ela tranca a porta durante o almoço? — Eu


pergunto em voz baixa.

Riley ri.

— Eu não gostaria de ser interrompida durante meu


único intervalo do dia. Você gostaria?

— Provavelmente não... — Minha voz some e eu olho para


o corredor.

Os alunos estão esperando para entrar na ala acadêmica.


Caleb chama minha atenção, imediatamente franzindo a testa.
Seus lindos lábios descem, descem, descem, até que temo que
possam deslizar de seu rosto. Liam e Theo estão brincando,
jogando uma bola de futebol, e Eli está no meio deles tentando
interceptá-la.

— Por que ele está olhando para você? — Riley sussurra.

— Ótima pergunta.

— Caleb! — Savannah passa por mim, indo direto para


ele. Ela caminha até ele, sem medo, e toca seu peito.

Ele olha para ela, mas seu olhar muda de volta para mim.
Seus olhos azuis marcam um buraco em minha alma.

Ele toca o ombro de Savannah e passa por ela, olhando


para mim.

— Oh céus. — Riley engole em seco. — Por que...

Ele para bem na minha frente, impossivelmente alto.

— Aonde você vai? — Ele exige.

— O que?

— Para o almoço, ovelha. Você desaparece.

— Oh, sinto muito, devo relatar a você agora? — Eu cruzo


meus braços sobre meu peito.

Seus olhos baixam, demorando-se na abertura da minha


camisa por um segundo antes de seus olhos subirem. Seus
movimentos são lentos e constantes, tudo sob controle total.

Em oposição, meu coração está disparado.


— Você deveria. — Ele diz. — Você não ouviu?

— Ouvi o quê? — Eu levanto minhas sobrancelhas.

— Que eu sou a porra do rei deste castelo, Ovelha. E você


é apenas... uma ovelha.

— Você é ridículo. — Eu estalo.

Ele sorri.

— Ridículo.

— Sim.

— Você me acha ridículo. — Sua voz está ficando mais


alta.

Riley se afasta de mim.

— Como?

Eu fico olhando para ele.

Ele dá um passo mais perto, invadindo meu espaço.


Tento não demonstrar medo. Ele se agarra a mim como o vento
agarra as folhas em um furacão. Sem remorso.

Seu rosto está cuidadosamente em branco, mas seus


olhos mostram a tempestade dentro dele. Ele está com raiva,
inimaginavelmente chateado, e é direcionado a mim. Sua fúria,
seu fogo... Eu estou recebendo tudo isso.

É fácil ver isso agora, quando estamos a centímetros de


distância.
Ele agarra meu queixo, virando minha cabeça para o
lado.

— Olhe para a sua amiga. — Ele sussurra em meu ouvido.


Sua voz é perigosa.

Ela está no limite da multidão e não encontra meus olhos.


Ela olha para os dedos dele segurando meu rosto.

Quando as pessoas começaram a prestar atenção?

— Ela é a esperta, Margo.

Eu recuo. Eu sou a única que pode ouvi-lo tão perto, e


tenho certeza que ele gosta assim. Tenho certeza de que ele
gosta de me manter fora de equilíbrio.

— Solte-me.

— Você não está se divertindo? — Ele abaixa a mão. Ele


agarra meu pulso antes que eu recue, me puxando novamente.
— Venha agora, ovelha. O primeiro a recuar perde.

— Eu não vou jogar com você. — Eu meio que espero que


ele me beije novamente. Estou com raiva de mim mesma por
sequer contemplar uma coisa dessas.

— O que te faz pensar que paramos?

Ele me solta, caminhando de volta para seus amigos. Eles


pararam o jogo para nos assistir. Caleb gesticula para
Savannah. Ela dá um passo à frente, jogando os ombros para
trás e os seios para frente.
Eu não deveria ficar surpresa quando ele a beija
novamente.

Desta vez é selvagem, de boca aberta. Ela pressiona todo


o seu corpo contra ele, suas mãos agarrando sua camisa em
sua cintura. Suas línguas lutam, mas é uma batalha
unilateral. Caleb está no comando.

Algo muda dentro de mim. O calor me inunda.

Deveria ser você, sussurra uma voz.

Eu olho fixamente sua conexão, e levo um minuto para


perceber que seus olhos estão fixos em mim. Mesmo enquanto
ele morde e chupa os lábios de Savannah.

Eu me encolho com a constatação.

Ele estremece, inclinando-se para o beijo como se ela


fosse um bálsamo contra o fogo. Este show...

Seus amigos bufam e gritam, minha única indicação de


que ele se afastou. Eu os perdi de vista, meu olhar desfocado,
mas volto ao presente quando o sino toca. O rio de alunos flui
ao redor de Caleb e Savannah. O primeiro está me observando.
O último olha para ele como se ele a tivesse engravidado.

Isso dói. Não sei bem porque dói, porque tudo o mais que
ele fez comigo tem sido muito pior.

Savannah segue seu olhar. Ela pisca para mim, surpresa


e então... triunfante.
Eu estou de mal humor durante as aulas, incapaz de
prestar atenção. Duas garotas tentam me passar bilhetes, que
Theo intercepta e lê. Ele me ajuda respondendo à sua maneira
grosseira, pequenos desenhos de pessoas trepando no estilo
cachorrinho ou de cabeça para baixo. Ele os mostra para mim
antes de jogá-los de volta.

O penúltimo sinal toca e eu me levanto da mesa. Theo me


segue para fora da porta e pelo corredor, dando um tapa na
minha mão em despedida. Fiz o meu melhor para manter essa
parte da minha vida discreta, e meus amigos sabem que não
devem fazer perguntas sobre minha última aula do dia.

Eu entro na sala e o Sr. Jenkins sorri para mim. Eu


deslizo em um banquinho no fundo da sala de aula. Desenho
desde os 12 anos, mas só recentemente ele me encorajou a
experimentar outros meios.

— Você pode se surpreender. — ele disse, piscando os


olhos.

Eh, como eu poderia resistir? Brincar com tinta por uma


hora acalma a raiva selvagem dentro de mim. É isso ou bater
nas pessoas até virar polpa normalmente. Como minha raiva
geralmente pode ser controlada no campo de lacrosse,
respiramos um pouco mais facilmente na primavera. O resto
do tempo? Bem, é melhor todo mundo tomar cuidado.

A sala de aula se enche lentamente. Estudantes de arte,


eu aprendi, não dão a mínima para os garotos populares. É um
alívio não ser considerado um maldito rei aqui, na sala de aula
bem iluminada, cercado por outros alunos desinteressados. É
como se o departamento de arte tivesse vontade própria.

E então Margo Wolfe entra.

Meu sangue ferve antes mesmo de compreender por quê.

Ela morde o lábio.

Meu batimento cardíaco troveja em meus ouvidos. Estou


com vontade de jogá-la contra a parede.

O Sr. Jenkins leva uma eternidade para falar com ela, e


ela fica lá. Ela nem sabe que estou na sala, e isso me enfurece.

Olhe para mim, tenho vontade de gritar. E se ela não o


fizesse, eu subiria e envolveria minhas mãos em torno de seu
lindo pescoço até que ela não tivesse escolha.

Meu pau endurece nas minhas calças. Eu me mexo, mas


não consigo tirar meus olhos dela.

Além disso, se alguém olhar para trás, não estará olhando


para minhas calças. É o rosto que faz dinheiro, pelo menos
com uniforme escolar. Nu... a história é totalmente diferente.
Olhe para mim.

Ela se sacode como se eu tivesse falado em voz alta, seus


olhos ficando grandes como discos.

Eu odeio que ela tenha ficado bonita.

Ela era uma criança bonita, uma cabeça de cachos


escuros e grandes olhos verdes, mas ela é mais bonita sem a
gordura de bebê. E o olhar assustado em seus olhos?

Seria melhor se eu soubesse que fui eu quem o colocou


lá.

— Vá se sentar, Margo. — Diz o Sr. Jenkins, dando-lhe


um pequeno empurrão.

Ela pega o cavalete mais distante de mim, e eu estreito


meus olhos. De repente, me levanto e recolho minhas coisas,
circulando a sala e caindo no assento ao lado dela.

— O que eu sou? — Eu rosno. — Fígado picado4?

Ela pisca para mim. Eu deveria ter chamado ela de


Coruja, porque ela está sempre piscando aqueles grandes
olhos de orbe.

— Bem-vindos de volta. — Diz o Sr. Jenkins para a classe.


— Vamos começar com uma nova tela hoje, uma das menores.

Faz referência a um meme conhecido nos EUA, é uma pergunta retórica usada por uma pessoa que
sente que está recebendo menos atenção ou consideração do que outra pessoa.
Ele acena para um dos alunos, um menino menor que
passava despercebido na maior parte do tempo. Tim? Tom? O
garoto pega uma pilha de telas de 15 x 15 cm e passa ao redor.

— Aquecimento rápido. — Diz o Sr. Jenkins. — Vamos


usar tinta de uma cor e quero que você descreva o humor que
está sentindo. Dez minutos, então seguiremos em frente.

Abro meu conjunto de tintas e esguicho preto na paleta.


Ignoro Margo e mergulho um pincel fino na tinta, começando
a trabalhar. É fácil varrer o preto pela pequena tela, para
projetar todos os meus sentimentos presos nela.

E quando eu termino?

Bem, é um autorretrato.

Um monstro negro escapando do armário, sua metade


inferior um vórtice de fumaça negra. Os dentes são os
melhores: brancos contra a cara negra. Olhos brancos.

O Sr. Jenkins nunca olha para isso. Esta é a nossa forma


de terapia antes que o verdadeiro trabalho comece. Tudo bem,
no entanto. Eu assino minhas iniciais embaixo e coloco de lado
para secar.

Ele bate palmas, chamando nossa atenção de volta para


ele.

— Excelente. Vamos começar nosso projeto de um


semestre. Eu sei que muitos de vocês se sentem intimidados
por tintas a óleo. — Há algumas risadinhas e suspiros pela
sala. — Bem, não sintam. Tintas a óleo são coisas complicadas,
mas uma vez que você as domina... beleza. E possibilidades
infinitas. — Sua voz é sonhadora demais para falar sobre tintas
a óleo.

Embora uma imagem pisque em minha mente. Margo,


coberta de tinta. Nua.

Hmm. Não é uma má ideia.

— Muito parecido com a vida. — Diz Margo.

— Porra, não. — Eu estalo. Eu me mexo na cadeira e a


imagem estoura como um balão.

O Sr. Jenkins nos ignora e continua:

— Vamos formar pares e fazer retratos. Espero que vocês


olhem além do exterior da pessoa e revele suas melhores
qualidades.

— Retratos? — Tim ou Tom geme. — Como...

Acho que ele se juntou a essa classe para trabalhar em


seus desenhos em quadrinhos, mas o merdinha nunca iria
admitir tal coisa.

— Como da Vinci… — responde o Sr. Jenkins — ou


Picasso.

— Exemplos totalmente diferentes. — Diz outro aluno.

— E espero que vocês explorem suas opções antes de se


decidir por uma técnica. — Responde o Sr. Jenkins. — Vocês
vão entregar uma pintura no último dia de aula. Vai ser toda
a nota.

Margo geme.

— Isso se baseia em alguma habilidade?

— Sim e não. — Responde o Sr. Jenkins. — Se vocês vão


começar a trabalhar na peça final hoje ou uma semana antes
do prazo, depende de vocês. Tirem um tempo para melhorar
suas habilidades ou aprenderem sobre seu parceiro... — Ele
dá de ombros. — Virem-se para a pessoa ao seu lado e
apresentem-se. Vocês vão se familiarizar bastante com o rosto
deles.

Vejo Margo olhar na direção oposta, mas sua vizinha já


fez par com alguém.

Limpo minha garganta, puxando meus lábios na melhor


imitação de um sorriso verdadeiro.

— Aperte o cinto, amor. — Eu digo. — Vamos ficar


bastante... familiarizados.

Ela engole e minhas calças apertam novamente. Dane-se


ela.

Isso é pura vingança, faria bem em me lembrar disso.


Brincando com ela, atraindo-a...

Ela me encara, o medo passando por seus olhos. É isso


que eu quero: o medo.
Mas primeiro…

— Assustada?

Ela balança a cabeça.

— Não.

— Você deveria estar.

— Por favor, não torne minha vida um inferno nesta aula.


— Ela sussurra.

Eu me inclino para mais perto dela, sem ter certeza de


ouvi-la corretamente. Ela deveria saber melhor do que pedir
favores. Isso me faz querer dar a ela o oposto, uma e outra vez.
Poderíamos fazer isso o ano todo. Ela vai pedir e eu negarei.

Assim como ela negou meus sonhos há sete anos.

A velha fúria que eu costumava manter trancada se agita


em meu peito. Exige justiça. Arrependimento. Vingança.

Eu me inclino para trás no meu banquinho, chutando


uma perna. Ao redor da sala, as pessoas arrastam seus
cavaletes para obter uma visão clara de seu parceiro. Eu
apenas fico olhando para ela, tentando resistir à vontade de
arrastá-la para fora da sala e mostrar a ela como é o inferno.

Em vez disso, pergunto:

— Por quê?

Ela pisca para mim. Coruja.


— P-porque... — Ela desvia o olhar. Em direção ao
professor.

— O que o Sr. Jenkins tem a ver com alguma coisa?

Ela fica vermelha. É realmente fascinante assistir. A cor


sobe pelo pescoço, passa pelo queixo e devora seu rosto.

— Eu te fiz uma pergunta, Ovelha. — Eu digo, inclinando


minha cabeça.

— Isso é parte do jogo?

— Sim.

Ela balança a cabeça, me avaliando.

— Você está muito curioso, Caleb. Acho que isso significa


que você perdeu.

Eu ri. Já faz um tempo que alguém não me surpreende.


Mas isso é o que acontece com Margo: ela é cheia de surpresas
do caralho.

Ela não diz nada e seus lábios se comprimem.

— Sr. Jenkins. — Eu o puxo para mais perto. — Margo


não está se sentindo bem. Acho que devo acompanhá-la até a
enfermeira.

Ele se aproxima e põe a mão no ombro dela.

Ela não vacila.

Ela nem mesmo estremece.


Minhas sobrancelhas erguem-se e eu olho de sua mão
para seu rosto e de volta para ela.

Ele se abaixa.

— Você está bem, querida?

— Só um pouco tonta. — Diz ela. — Acho que a semana


passada está me alcançando.

Ele acena com a cabeça, simpático.

Eu quero estrangulá-lo. Incomum para mim, já que


geralmente gosto do cara. Ele é realista e charmoso, um
professor sem ser um pé no saco. As pessoas o respeitam.

Mas isso vai além do respeito.

— Caleb vai levar você para a enfermeira. Avise-me se


decidir ir para casa, vou escrever um bilhete.

Ela acena com a cabeça e se levanta.

Eu pego seu braço, beliscando um pouco acima do


cotovelo, e a levo para fora da sala. Em vez de ir para a
enfermeira, mudamos para o pátio. Há uma porta aberta no
canto que dá para a estufa, apoiada em uma pedra.

Os alunos vêm aqui para passar o tempo. O cheiro de


maconha se espalha, mas está silencioso enquanto entramos.
Eu a guio para dentro e a deixo ir, deixando meu olhar varrê-
la para cima e para baixo. Estamos sozinhos aqui. É nosso
próprio mundo privado.
— Eu... — eu falo lentamente. Eu cerro meus punhos em
um esforço para não fazer algo estúpido. — Não achei que você
teria coragem de comer um professor, Ovelha.

Ela empalidece.

— O que?

— Você e o Sr. Jenkins. Muito próximos. Eu posso ver por


que você não quer que eu torne a sua vida um inferno.

Ela bufa, se afastando de mim.

Eu agarro sua nuca, balançando-a de volta para mim e


prendendo-a no meu peito. Eu pego seus dois pulsos atrás das
costas.

Seu pequeno corpo fica bem no meu. Como uma


tentação.

— Diga-me, quão bom ele é? Ele tem um pau gigante? Ele


abraça você depois...

— Ele é meu pai adotivo. — Ela rosna. Ela está lutando


contra o meu aperto. — Me deixa ir.

— Não. — Eu estalo, apenas para ter um segundo para


processar. Eu a reavalio. — Pai adotivo.

— Caleb. — Ela ofega. Ela está suando muito tentando se


livrar de mim. Me excita que ela esteja tão destroçada por estar
tão perto de mim. Eu a encosto em uma árvore, sua espinha
batendo forte. Seus olhos se arregalam.
Eu solto seus pulsos e passo minha mão para cima, ao
longo do lado de seu seio, para suas bochechas vermelhas.
Elas ficarão mais vermelhas quando eu terminar com ela.

— Você está com medo, amor?

— Pare de me chamar assim. — Ela inclina a cabeça para


longe de mim.

— Acho que você secretamente gosta.

— É porque eu disse que você perdeu? — Ela se contorce


em meus braços.

Eu empurro meus quadris para frente, mostrando a ela


exatamente o que penso sobre isso. Seus olhos se arregalam e
ela fica perfeitamente imóvel.

— Lembre-se de uma coisa sobre mim. — Eu me inclino


em seu rosto. Ela é minúscula. Frágil. Mais fácil de quebrar.
— Eu não perco, porra.
Minha cabeça está girando quando saio da estufa. Caleb
segue logo atrás de mim, como uma sombra ameaçadora. Ele
disse que não perde, mas meu batimento cardíaco está
gaguejando e o medo está subindo e descendo pela minha
garganta.

Eu não poderia falar se quisesse.

Ele roubou meu primeiro beijo. E então me fez sentir sua


ereção contra minha barriga...

Você não deve mostrar medo ao inimigo. No entanto, por


baixo de tudo, Caleb nem sempre foi o inimigo. Ele era um
menino de quem eu gostava. Um amigo. Éramos mais
próximos do que Savannah e eu, correndo soltos juntos
quando crianças.

De alguma forma, nós dois mudamos.

Para o pior?

— Venha comigo. — Ele é rude, mas não me toca.

Eu o sigo sem dizer uma palavra, pelo corredor até o posto


de enfermagem.

— Senhora Peters. — Ele sorri para a enfermeira. —


Margo não está se sentindo bem. O Sr. Jenkins disse que
estaria tudo bem se eu a levasse para casa, mas eu só queria
falar com você. — Sua voz baixa. — Acho que ela vomitou há
alguns minutos.

A enfermeira bufa para mim. Ela não faz mais do que


olhar, porque aparentemente a palavra de Caleb é lei por aqui
– até mesmo para a equipe. — Eu vou deixar ele saber,
obrigada.

Não tenho escolha a não ser ir aonde ele me levar.

— Você não está falando sério.

— Um cara não pode levar uma garota para casa?

Eu reviro meus olhos.

— Não quando a garota sou eu e o cara é você.

Ele bufa, destrancando seu carro conforme nos


aproximamos. Não estou surpresa que seja um Audi rápido e
caro. Preto fosco. O interior em couro é preto com detalhes em
verde-limão.

Ele espera que eu entre e feche a porta, deslizando para


o banco do motorista.

— Bem?

Eu olho para ele.

— O que?

— Aonde você quer ir?


— De volta à escola. — Eu olho para trás em direção às
portas que acabamos de sair.

Ele bufa.

— Você é uma mentirosa de merda, Ovelha. Estamos


pulando nos últimos vinte minutos do dia. Não estrague tudo.
— Seu olhar fica contemplativo. — Ou faça. Afinal, isso apenas
tornará as coisas mais interessantes.

Eu não tenho medo dele. Mesmo com a postura e os jogos.


Minha cabeça está girando com tudo o que aconteceu na
última semana – pelo menos isso é verdade – mas de repente,
eu não sinto que ele vai me matar.

E ele sabe disso, a julgar pela expressão em seu rosto.

— Diga-me. — Ele diz. Escuro e mortal. Ele voltou à forma


como age na frente de uma multidão.

— Leve-me até sua casa.

Seu rosto se fecha. É a última coisa que ele esperava.

Sinto que sou eu que está desapontada. Soa em mim


como um sino em uma tonalidade menor, dissonância demais
para lidar. Como ele consegue me fazer sentir tanto com
apenas uma mudança em seu humor?

— Agora você está jogando o jogo. — Ele murmura.


Ele dispara para fora do estacionamento, voando pelas
ruas que costumávamos passar. É surreal. É um sonho que
virou pesadelo.

— E se eu não quiser jogar? — Eu pergunto.

Ele vira em uma estrada familiar, entrando em sua


garagem. Ele estaciona em frente à casa vazia e sorri para mim.
É o sorriso de um louco, vazando escuridão como um
derramamento de óleo.

— Desculpa amor. Você não tem escolha.

Caleb desce do carro. Eu respiro fundo e imito seus


movimentos, seguindo-o até a calçada da frente. Ele destranca
a porta e a abre, gesticulando para que eu vá na frente dele.

Esse lugar…

As memórias me dão um soco. Perseguindo-o, jantando,


minha mãe tirando meu cabelo da testa e beijando minha
testa.

— Eu mudei de ideia. — Eu recuo direto para ele.

Ele agarra meus braços e me impele para frente, mais


fundo na casa.

— Caleb pare.

— Quem disse que podíamos parar?

Eu cavo meus calcanhares no chão, mas minha parte


superior do corpo continua avançando. Dou um passo, depois
outro, mais para dentro da casa que parece mais uma cidade
fantasma do que um lar.

Sala após sala, a mobília está coberta de lençóis brancos


e poeira.

— O que aconteceu?

Ele ri, apertando meus braços.

— Caleb.

— Não tenho certeza se uma ovelha deve ser tão direta.


— Ele fala acima da minha cabeça para a casa vazia.

Paramos na cozinha e ele me empurra para frente.

A cozinha.

— Não quero mais ficar aqui. — Digo, voltando-me.

Tento passar por ele, mas ele me agarra. Me puxa para


dentro. Ele me levanta e me coloca no balcão, segurando meus
quadris.

Eu fico olhando para ele. Seus olhos estão no nível da


minha garganta neste ângulo.

— Caleb, por favor.

— Por favor? — Ele me observa. — Desde quando, por


favor, funciona?

Por favor, não diga a eles, Margo.


Sua voz ecoa dos recônditos da minha mente, tão alta que
estremeço.

— Um dia vou te foder neste balcão. — Sua voz é baixa.

Meu corpo é um fio elétrico. Uma faísca e vou colocar fogo


em toda a casa. Um toque e nós iremos pegar fogo.

— Você vai gostar. — Ele continua. — Mesmo sabendo o


que aconteceu aqui. Porque tudo o que você será capaz de
pensar é no meu pau na sua boceta, espalhando-a
amplamente. Atingindo todos. Porra. Nervos.

Uma de suas mãos sobe e apalpa meu peito.

Estou molhada, é uma nova sensação, mas Caleb está


bem entre minhas pernas e não posso me mover se não quiser
que ele saiba.

Ele belisca meu mamilo e eu automaticamente tento me


inclinar para longe dele.

— Pare. — Eu odeio como isso vai direto para o meu


centro. Como tudo dentro de mim está vivo de uma forma que
não existia há muito tempo.

— Você desiste? — Seus olhos se iluminam. — Você gosta


disso, Ovelha. Admita e eu vou parar.

Ele abre minha camisa, centímetro por centímetro.

Eu mordo meu lábio, me recusando a jogar seu jogo. É


idiota, realmente. Uma pequena parte aterrorizada de mim
está gritando para dizer o que for preciso para escapar. Para
reivindicar minha sanidade de volta, porque ele está nos
levando lentamente até a beira do penhasco.

Uma vez que cairmos, não há como voltar atrás.

— Admita que gosta e eu vou parar. — Ele repete. Ele olha


para o meu sutiã, puxando minha camisa mais aberta. Ele
puxa para baixo a borda superior do bojo do sutiã. Isso expõe
meu seio, o mamilo duro sob sua atenção.

A vergonha me inunda, mas pressiono meus lábios.

Eu posso fazer isso parar.

Ele se inclina e toca seus lábios na carne logo acima do


meu mamilo. E então ele morde, chupando forte, e todo o meu
corpo enrijece. É prazer e dor juntos, confundindo minha
mente. Construindo até eu não aguentar mais.

— P-pare. — Eu empurro sua cabeça e minha pele puxa


antes que ele solte seus dentes.

Ele se afasta, sorrindo para mim.

— Você está com medo?

— De você?

Seus olhos brilham e ele olha para baixo.

— Eu sei que você tem medo de mim. Eu não preciso


perguntar. Você está molhada?
Eu respiro fundo.

— Sim ou não, amor? — Diz ele. — Se você não responder,


posso descobrir facilmente.

— Você não iria...

Sua sobrancelha sobe. Eu levanto minhas mãos para


empurrá-lo, mas ele agarra meus pulsos e os pressiona contra
meu peito. Seu aperto está machucando. Uma de suas mãos
desliza por dentro da minha coxa, sob a borda da minha
calcinha. Seu dedo me acaricia, repentino e cruel.

Eu arqueio para longe dele, abrindo buracos em sua


cabeça. É estranho e doloroso, mas também... não. Ele enfia o
dedo em mim novamente, o polegar no meu clitóris.

— Encharcada.

Ele se afasta e eu engasgo com um suspiro. Lágrimas


picam meus olhos com a violência disso. Com a audácia.

— Você não vai...

— Sair dessa? — Ele revira os olhos, levando o dedo aos


lábios. Ele brilha na luz que entra pela janela. — Eu quase
queria que você estivesse certa. Mas aqui está um fato, amor:
todos me adoram. Ninguém vai acreditar em você.
Especialmente com os rumores que circulam sobre seus pais.

Eu limpo meus olhos, desesperada para não chorar na


frente dele.
— Chupe. — Ele ordena, empurrando o dedo para mim.
— E eu vou te levar para casa. Prometo.

As lágrimas caem e tento afastá-las.

— Foda-se.

Ele encolhe os ombros, colocando o dedo na boca. Ele faz


um trabalho completo me limpando dele, retirando o dedo com
um estalo. Quando ele termina, ele sai da cozinha.

Eu o sigo com as pernas trêmulas para fora da porta da


frente. Não chegamos à melhor parte, quase digo, mas,
honestamente, estou feita por hoje. A exaustão se instala sobre
mim, fria e densa.

Ele sobe em seu carro. Novamente, eu sigo.

Exceto que, a porta do passageiro está trancada.

Ele abaixa a janela, piscando para mim.

— Não deveria ter me testado, Ovelha. Te vejo amanhã.

E então ele me deixa. Fecha a janela e vai embora, nem


mesmo me lançando outro olhar.

Eu caio de joelhos, minhas pequenas lágrimas evoluindo


para soluços enormes.

De um primeiro beijo a... isso.

Lamento ter ficado ansiosa por voltar para Rose Hill. Não
com um monstro como líder da escola.
Ninguém está em casa quando eu chego lá. Eles
mencionaram onde esconderam a chave reserva, mas ainda
levo um minuto para encontrá-la e entrar.

Eu pego um lanche e vou para o meu quarto, não


querendo ficar na sala de estar e esperar seu retorno. O sono
vem rápido, perseguido por sonhos com minha mãe e eu em
um campo de flores.

Uma tempestade se aproxima e corremos para nos


abrigar.

De repente, estamos na cozinha de Caleb, observando-o


me devorar. Sua cabeça está escondida pela saia do meu
uniforme e meu corpo está rígido. Posso senti-lo enquanto
assisto a cena.

O eu na mesa desaparece e Caleb lambe os lábios. Ele se


eleva. Olhando para trás, vejo que minha mãe também
desapareceu.

— Ligada, Margo?

Ele nunca me chama de Margo.

Ele avança e me empurra para trás.

— Acorde.
Eu acordo assustada, deitada de costas com a mão dentro
da bermuda do pijama.

Ai meu Deus.

Eu lentamente retraio minha mão e rolo para o meu lado.


Não quero sonhar com Caleb. Não quero pensar nele ou deixá-
lo ter qualquer influência sobre meu corpo.

Isso é inaceitável.

Desconfortável.

Eu saio da cama e coloco uma legging, então desço.


Robert e Lenora estão assistindo televisão e os dois ficam
animados quando me veem.

— Se sentindo melhor? — Robert pergunta. — Você


parecia pálida na aula.

Eu concordo.

— Sim, eu só estava um pouco tonta. O cochilo ajudou.

Lenora se levanta do sofá, vindo até onde estou pairando


na ilha da cozinha. Eles têm uma casa grande de conceito
aberto. A cozinha é separada da sala de jantar e da sala de
estar por uma grande ilha, e os demais espaços são separados
por móveis artisticamente dispostos. Seu estilo é
impressionante. Ela sabe como preencher uma casa sem
sobrecarregá-la.

— Com fome?
— Morrendo. — Eu digo, mudando meu peso. Ela tem
sido legal – ambos têm sido. No entanto, o sonho, além das
experiências anteriores com famílias adotivas, me faz sentir
particularmente inconstante. No passado, se eu perdesse o
jantar? Que pena. Ficaria com fome.

Lenora gesticula para que eu a siga e ela começa a retirar


os recipientes.

— Vou deixar você fazer um prato. Você se importa em


simplesmente guardar as coisas quando terminar?

— Eu guardo.

Ela coloca um prato no balcão para mim.

— Sinta-se livre para se juntar a nós. — Ela volta para o


sofá.

Depois que meu prato está carregado e aquecido, e tudo


está de volta na geladeira, eu afundo na cadeira ao lado do
sofá. Eu divido minha atenção entre o reality show que eles
estão assistindo e a comida. No meio do caminho, eu levanto
minha cabeça.

— Esta comida é incrível. — Digo a ela.

Lenora sorri.

— Obrigada. Você cozinha?

Eu congelo.

— Eu?
Cozinhamos para sobreviver. Sei fazer arroz e frango,
carne moída e macarrão. Como diluir uma lata de sopa para
durar mais de três dias... mas cozinhar, assim? Nunca.

— Eu poderia te ensinar. — Ela oferece. — Se você tivesse


algum interesse.

Eu engulo.

— Sim, — eu digo com uma voz rouca — isso seria... seria


ótimo.

Ela sorri.

— Gostaria disso.

— Eu também. — Limpo meu rosto e minha garganta,


fingindo que não tenho lágrimas nos olhos pela quinta vez hoje.
Pelo menos são lágrimas de felicidade.

— Aw, querida. — Ela se levanta e pega o prato de mim.


Ela passa para Robert e me envolve em um abraço.

Demoro um minuto para desbloquear meus músculos e


abraçá-la de volta. Tocar é uma coisa estranha em um
orfanato. Chega a um ponto em que você não pode realmente
confiar em ninguém, especialmente quando você é uma
adolescente.

Eu sobrevivi a tudo isso.

Ela esfrega minhas costas em pequenos círculos, e eu


encosto minha bochecha em seu ombro. Eu fecho meus olhos,
absorvendo seu calor. Mas então acabou. Também há lágrimas
em seus olhos.

— Sinto muito. — Ela diz. — Eu deveria ter perguntado...

— Era exatamente o que eu precisava. — Digo.

— Nossa filha morreu em um acidente de carro há alguns


anos. Já que tínhamos tudo isso... — Ela faz um gesto para
tudo. — Nos sentimos culpados por guardá-lo para nós dois.

— Você teve um acolhimento antes de mim?

— Sim. — Diz Robert. — Ela era legal, mas não combinava


perfeitamente. Não era alguém que poderíamos considerar
adotar.

Meus pulmões paralisam. Adoção. A palavra de ouro. Não


é apenas amar alguém até a idade avançada: é um
compromisso para sempre. É tudo.

— Oh. — Eu consigo.

Lenora lança um olhar para ele.

— Queremos que alguém faça parte da nossa família por


muito tempo. — Diz ela. — Nós só conhecemos você há uma
semana, e queremos ir com calma. Mas gostamos muito da sua
companhia, Margo.

Eu fungo.

— Obrigada. Eu gosto de vocês também.


Eles riem e nós voltamos ao silêncio sociável enquanto
assistimos ao resto do programa de televisão. Finalmente,
meus bocejos estão ficando muito próximos para fingir que não
estou exausta.

— Vá para a cama. — Lenora sugere. — Também estamos


subindo.

Pego um copo d'água e desejo boa noite a eles no corredor,


esperando que fechem a porta antes de eu abrir a minha.

Solto um suspiro pesado.

Eu fecho a porta atrás de mim, descansando minha testa


nela na escuridão. Eu coloquei a água na minha cômoda,
pronta para colocar meu pijama de volta. Eu não estou pronta
para ir dormir e sonhar com Caleb, no entanto. Não estou
pronta para...

Ele está no meu quarto.

Eu inclino minha cabeça, piscando algumas vezes


seguidas, mas ele não desaparece.

Ele apenas sorri.

— O que você está fazendo aqui? — Eu sussurro-grito.

— Você sonhou comigo? — Ele levanta meu short do


pijama de onde eu o deixei cair. — Você gostou?

— Saia. — Eu estalo.
Volto para a porta, pronta para abri-la e exigir que ele
saia, mas de repente ele está me empurrando contra a porta.
Ele se inclina para mim, seus braços de cada lado da minha
cabeça, me prendendo.

— Acho que você gosta da ideia de eu ficar no seu quarto.


— Ele diz. — Não é verdade?

— Você e seus malditos jogos mentais. — Eu balanço


minha cabeça. — Não me atormenta o suficiente na escola?

Ele fica solene quando responde:

— Não.

— Não?

— Não é o suficiente. Acho que nunca será.

Eu deixo minha cabeça cair para trás. Seus olhos estão


escuros, seu rosto na sombra da lâmpada atrás de nós.

— Por quê?

Seus lábios se espalham pela minha orelha.

— Porque você merece, porra.

Ele dá um passo para trás, depois outro. Ele abre minha


janela e sai, desaparecendo pela lateral da casa. Eu me arrasto
em direção à janela e o vejo correr pelo gramado da frente, para
seu carro estacionado na rua. Depois que ele sai, fecho e tranco
minha janela.
Vou para minha cômoda e bebo a água,
inexplicavelmente de boca seca. Minha cabeça está girando.
Ele sabe onde eu moro. É por isso que ele me deixou ir para
casa? Porque ele sabia que demoraria dez minutos no máximo?

Ou talvez ele tenha me seguido.

São apenas nove horas. Tenho certeza que Riley


provavelmente não está dormindo...

Pego meu telefone e ligo para ela, me escondendo sob as


cobertas.

— Ei, você fez um gesto de desaparecimento hoje. — Ela


diz.

— Caleb me levou pra... — Eu limpo minha garganta. —


Casa.

— Ele levou?

Mais ou menos.

— Ele simplesmente apareceu no meu quarto. —


Confesso. — E ele é assustador, atraente e mau, e não sei o
que fazer.

Ela tosse.

— Desculpe? Quer dizer, eu sabia que ele está sempre te


observando na escola, mas...
— Eu perguntei por que ele não podia simplesmente me
atormentar na escola. — Eu digo. — E ele disse que não era
suficiente.

— Menina. Acho que ele gosta de você.

— Duvido.

— Caras no jardim de infância puxam o cabelo de uma


menina se eles gostam dela. Claramente Caleb nunca cresceu.

Eu bufo.

— Riley. Você está se ouvindo?

— Só estou dizendo que ele é muito tranquilo com todo


mundo, exceto com você. Como um tipo de deus do sexo
taciturno, sabe?

Eu rolo em minhas costas. Se eu fechar meus olhos,


posso imaginar como seu corpo fica contra o meu.

Eu mantenho meus olhos bem abertos, olhando para o


escuro.

— Eu o odeio. Eu odeio como ele olha para mim e como


ele me faz sentir. Deus, eu nunca senti tal... — Fúria. A mesma
que vi refletida em seus olhos, espelhada de volta para mim.
E, além disso, uma desesperança dolorosa.

Eu não posso pará-lo.

Eu não consigo controlá-lo.


— O que eu deveria fazer?

Ela suspira.

— Ele é o valentão. Você é a vítima.

— Há um ‘mas’ aí? Você deveria ser minha conselheira de


confiança.

Ela bufa.

— Sim, bem, você não está me ajudando muito com Eli.

— Você não disse o que exatamente aconteceu...

A linha fica em silêncio por um momento. Eu me pergunto


se levei minha nova amiga longe demais. Não a vejo desde o
almoço, e antes disso, o fim de semana.

— Eu mencionei que ele flertou. — Ela murmura. — Ele


disse que eu o deixo louco.

Meus olhos se arregalam.

— Uau.

— Sim.

— Como você…

— O deixo louco? — Ela ri. — Provavelmente vem do


primeiro ano. Estávamos em uma equipe de debate e eu era a
única que o corrigia.
— Não era isso que eu esperava. — Admito. — Eu pensei
que seria algo mais... hediondo.

Gostou do que fez, Margo?

— Hum, você não verificou o Instagram por acaso...?

Eu me sento

— O que? Por quê?

Riley geme.

— Não, Margo, não...

Eu a coloco no viva-voz e abro o aplicativo.

— O que eu deveria estar olhando?

Ela fica em silêncio, então eu digito o nome de Caleb.


Assim que seu perfil carrega, minha respiração fica presa. Ele
postou, dez minutos atrás, uma foto dele e Savannah. Ela está
beijando sua bochecha e ele tem um sorriso largo. Não há
legenda.

— Tão mal-humorado. — Consigo dizer. — Quando ele


estava apenas no meu quarto?

Riley suspira.

— Você parece chateada.

— Não. — Eu digo. — Não, isso é apenas uma guerra


psicológica.
— Certo.

— Então... eu preciso lutar de volta.

Ela faz uma pausa enquanto eu percorro o resto do perfil


dele. É de outra vida: fotos de ação dele jogando lacrosse, fotos
com seus amigos, uma dele no meio de um salto da proa de
um barco. Esse não é o Caleb Asher que eu conheço.

O que passei a conhecer é sombrio e insuportável. Ele


encara mais do que sorri. Seu toque é brutal, suas palavras
são duras...

— Como você vai lutar? — Riley pergunta.

— Eu preciso de... — Eu procuro em minhas memórias,


escolhendo pedaços como a luz das estrelas na escuridão. —
Algo que vai deixá-lo desequilibrado.

— Ok. — Diz ela. — Mas... eu não acho que posso me


envolver nesse tipo de guerra, Margo. Porque é nisso que vai
se transformar, você sabe.

Eu rio, as engrenagens em minha mente girando. O que


abalaria o Sr. Perfeito?

— Eu vou deixar você ir. Mas estou apenas avisando: não


terminamos de falar sobre você e Eli Black.

— Sim Sim. Boa sorte com seus planos.

— Boa noite, Riley.


A próxima semana de escola, Caleb Asher me ignora. Nem
um olhar. Nem um sussurro. Sem insultos, sem xingamentos.
Nada.

Isso me abala mais do que admito. Eu tenho que me


perguntar se ele de alguma forma leu minha mente: talvez seja
ele que começou uma guerra, antes que eu tivesse a chance de
colocar em prática um plano.

Depois de alguns dias, Riley e eu começamos a desfrutar


de nossa paz recém-descoberta. Nós até nos esgueiramos para
o refeitório e reivindicamos uma mesa no canto, espionando o
resto da escola. É como se estivéssemos camufladas.

— Você costumava ser amiga dela? — Riley pergunta,


apontando com a colher em direção a Savannah.

Ela está sentada com suas amigas líderes de torcida em


uma mesa no centro da sala, ocupando o máximo de espaço e
barulho possível. Hoje é um dia de jogo, o que significa que os
jogadores de futebol estão vestindo suas camisetas e as líderes
de torcida estão com seus uniformes. Eles se destacam contra
o mar monótono de camisas brancas.

— Hum, sim, quando eu tinha nove anos.

Ela bufa.
— Você tinha mau gosto aos nove anos.

— Sim, eu era amiga de Caleb também.

— Tipo, amigos-amigos? Ou vocês foram para a mesma


escola e meio que se conheceram...

— Definitivamente amigos-amigos. — Eu digo. — Não


vamos falar sobre isso.

Ela se anima.

— Você bolou um plano?

— Oh, minha diabólica merda mental de Caleb Asher?


Sim, sim, eu bolei. — Eu a faço esperar um minuto antes de
dizer: — Preciso encontrar um namorado.

Silêncio.

Choque.

— O que? Quem?

Eu encolho os ombros.

— Eu não sou muito exigente. Eu só preciso de alguém


para segurar minha mão e talvez me beijar... por que você está
me olhando assim?

— Quem está beijando você, Ovelha?

Acho que isso explica a expressão estranha no rosto de


Riley.
Eu cerro os dentes enquanto Caleb se abaixa ao meu
lado. Ele passa o braço sobre meus ombros e pisca para Riley.

— Terra para Margo. — Ele bate na minha têmpora. —


Alguém em casa?

Eu faço uma careta e tento deslizar para longe dele. Eu


deveria saber agora que é inútil.

— Quase a semana inteira me ignorando. — Eu olho para


Riley. — Quase conseguimos.

— Uau, você notou. Fico lisonjeado. Você conhece a


Savannah?

— Você não está falando sério.

— Não, eu estou falando muito sério. Vamos. Com licença,


Appleton.

Ele me levanta da minha cadeira e me guia até a mesa


onde Savannah reina sobre as outras líderes de torcida.

— Savannah, querida. — Caleb diz, atraindo... todos os


olhos. Todos eles. — Você saiu na semana passada, deve ter
perdido a notícia: nossa velha amiga Margo voltou.

Eu olho para os meus sapatos. Essa é realmente a única


opção disponível quando seu olhar gelado pousa na mão dele,
que está colada no meu ombro.

— Savannah. — Caleb pede. Ele sorri.


— Bem-vinda de volta. — Savannah responde em uma
voz que – bem, está completamente congelada. E insincera.

Se eu quisesse esfaquear alguém com um lápis mais do


que Caleb, seria ela.

Eu encontro seus olhos, e seu sorriso fica mais frágil.

— Tenho certeza de que você adoraria conversar com


Margo, certo?

— Claro. — Ela finge uma carranca. — Oh, mas não há


lugar na nossa mesa. Talvez da próxima vez, Margo, ok?

Caleb suspira, e eu tenho que me lembrar que isso é uma


atuação. Por mais sincero que pareça – ele está mentindo.
Mentir é o que ele faz de melhor. Isso, e ele aperfeiçoou a arte
da guerra. Ele suspira novamente e diz:

— Ah, você está certa. Está bem. Margo pode vir sentar-
se comigo. — Ele empurra o queixo para a mesa ao lado, onde
seus três amigos e outros caras estão esparramados.

Savannah empalidece.

— Não. — Ela responde, olhando ao redor da mesa. —


Stephanie, chega pra lá.

— Não há...

— Mova-se.

A garota, que poderia ser uma caloura, encara Savannah


e tenta impedir que seu queixo trema. Ela se levanta e sai
correndo do refeitório, as risadas das líderes de torcida
perseguindo-a.

Caleb está me dando de comida para os tubarões.

— Sente. — Savannah aponta para o assento vazio. —


Deus sabe que você não merece.

Eu olho para Caleb, que me libera um dedo de cada vez.

— Estou tão feliz que vocês duas estejam se


reencontrando. — Diz ele. — Até logo.

— Até logo. — Savannah responde, embora os olhos de


Caleb não deixem os meus.

Eu não respondo, apenas deslizo para o assento entre


duas garotas. Um silêncio cai sobre a mesa quando Caleb sai,
e eu quase fico de pé e saio correndo.

— Não se atreva. — Savannah se encaixa, alcançando o


outro lado da mesa e agarrando meu pulso. — Você se levanta
e então o que?

Arranco meu pulso e me inclino para trás.

— Quem exatamente você pensa que é?

Ela sacode o cabelo louro-trigo.

— Eu? Não fui eu que entrei aqui pensando que poderia


voltar ao seu antigo papel...
— E que papel é esse, exatamente? — Eu coloco meus
cotovelos na mesa. — Eu nunca fui má com você. Eu não tentei
pisar no pé de ninguém...

— Oh, besteira, Margo.

Eu pressiono meus lábios.

— Você quer roubar Caleb de mim! — Suas bochechas


ficam rosadas.

Eu me levanto da mesa.

— Confie em mim, Sav. Você pode ficar com ele.

Eu me afasto, e uma vozinha em minha cabeça canta,


mentirosa, mentirosa, mentirosa.

Riley me pega no corredor, com os olhos arregalados.

— Uau. É por isso que evitamos a refeitório. De acordo?

Eu bato meu punho contra o dela.

— De acordo. Caramba.

Ela solta uma risada.

— Sim. Caramba.

O sino toca logo depois, inundando o corredor com


alunos. Uma líder de torcida bate com o ombro no meu, me
jogando contra os armários. Ela nem mesmo olha para mim ao
passar.
Um segundo depois, outra acerta minha mochila caída
com o pé, chutando-a no ladrilho. Papéis e livros voam.

Riley engasga, agarrando meus ombros.

— Você está bem?

Eu me forço a rir, mesmo com um nó se formando na


minha garganta. Nós corremos entre os alunos para pegar
todas as minhas coisas, mas tudo está muito espalhado. No
momento em que Riley e eu reunimos tudo, o corredor está
deserto.

— Merda. — Ela murmura. — Vamos nos atrasar.

— Vá. — Digo a ela. — Eu... — Eu suspiro. —


Honestamente, eu preferia apenas – eu deveria ter esperado
que ela retaliaria. Eu nem fiz nada.

Ela aperta os olhos para mim.

— Não?

Eu encolho os ombros.

— Você tem estado comigo todos os dias. Eu teria


mencionado se eu tivesse uma vingança contra Savannah ou...
Ah, foda-se.

Caleb e sua equipe passeiam pelo corredor em nossa


direção. Theo e Liam estão na frente, discutindo sobre algo.
Suas cabeças estão voltadas uma para a outra e eles passam
por nós sem parar.
Eu solto um leve suspiro.

Eli pega o braço de Riley, puxando-a junto com ele.

E Caleb para na minha frente.

— Você gostou disso, não é? — Ele levanta uma


sobrancelha. — O confronto?

— Não.

Ele se inclina como um co-conspirador.

— Você não vai me agradecer?

— Nós dois sabemos que tudo que você fez foi abrir uma
lata de minhocas para mim — digo, colocando o último dos
meus papéis na minha bolsa. — Antes, era principalmente só
você. Agora é você e elas, e depois serão todos os outros
também.

Ele se endireita, seus olhos arregalados.

— Desculpe-me?

— Você não queria que as líderes de torcida me odiassem?

— Eu queria que você enfrentasse Sav.

Depois que começo a rir, é difícil parar. Oh, que coragem


tem esse garoto.

— Não é assim que funciona. — Digo a ele. — Isso não é...


— Eu aperto meus olhos fechados. — Você a beijou na minha
frente.
Ele toca minha bochecha, uma vez, fugaz.

Eu abro meus olhos.

— Eu realmente não dou a mínima, Ovelha. Nem sobre


você, nem sobre ela. Você é interessante. Ela era... mas agora
ela não é. — Ele levanta um ombro. — Isso não é pessoal.

Oh, como eu o odeio.

Eu dou a ele meu melhor olhar, mas isso ricocheteia em


sua armadura.

— Você está mentindo. — Declaro. Estou blefando, mas a


surpresa em seu rosto me faz pensar que posso estar no
caminho certo. — Você se importa. Você adora o jogo da mente
e adora ver como as pessoas reagem. É isso? Minha reação?

Ele começa a andar preguiçosamente.

— Sua reação? Talvez você esteja no caminho certo. Tudo


o que faço é por sua causa. Oh, por favor, Margo, me perdoe.
Tudo que eu queria era obter uma reação da grande e poderosa
Margo Wolfe.

Ele zomba, e eu sinto que acabei de entrar em uma teia


de aranha.

— É isso que você queria que eu dissesse?

Eu fico olhando para frente e o sigo. Ele está na minha


próxima aula, de qualquer maneira. Que escolha eu tenho?
— Ooh, o tratamento silencioso. — Ele para e se vira,
usando seu corpo para me apoiar contra os armários.

Acontece rápido demais para que eu evite. Num minuto


estamos caminhando, no próximo ele está pairando sobre
mim. Excitação corre através de mim. Estamos no meio da
escola – entre duas salas de aula, pelo amor de Deus. Qual é a
pior coisa que ele pode fazer?

— Responda minha pergunta. — Ele exige.

Ele está me dando uma chicotada.

Tudo nele é quente e frio.

Eu olho para sua garganta e digo:

— Eu não sei.

— Isso não é uma resposta. — Ele rosna. Sua mão sobe


pelo meu braço, a coluna da minha garganta, e aperta meu
queixo entre os dedos. Ele sacode minha cabeça para cima e
para baixo, depois para os lados. — Sim ou não, ovelha. Você
deveria ter aprendido isso no jardim de infância.

— Se eu não aprendi, foi porque você estava muito


ocupado me distraindo...

Seus dedos se apertam e eu suprimo um grito de dor.

Ele se inclina para perto.

— O que você disse?


— Éramos amigos. — Digo em seu ouvido. É tudo que
posso suportar olhar. E assim que esse vômito de palavras
começar, acho que não vou conseguir parar. — Você
costumava ser legal. Eu fui levada da minha família, e você se
transformou em...

— Levada? — Ele pergunta sua voz incrédula. — É assim


que você chama?

Eu encontro seu olhar.

— Como você chamaria isso?

— Eu diria que você jogou uma maldita granada em


nossas vidas, Margo. E você nunca pensou sobre as baixas.

Ele me solta, dando um passo para trás como se eu


estivesse pegando fogo. Não consigo nem me mover enquanto
ele se afasta de mim, pelo corredor e virando a esquina.

Eu afundo no chão, envolvendo meus braços em volta das


minhas pernas. Quero gritar com ele: eu tinha dez anos! Se eu
soubesse o efeito cascata que iria desencadear, eu não teria...

Por favor, não faça isso, sussurra sua voz.

Eu penduro minha cabeça, a resposta para sua raiva


finalmente na minha frente.

É minha culpa. Sempre foi minha culpa.


Uma cadela arrogante.

Ela chega tarde na aula, enxugando as lágrimas dos


olhos. Liam me lança um olhar questionador, e eu olho para
ele. É o suficiente para que ele me deixe em paz por um minuto,
e posso voltar a observá-la.

A professora dá sua advertência – e dever de casa extra –


e a manda para seu lugar.

Quando ela se senta, ela se abaixa. Há uma líder de


torcida atrás dela e outra à sua esquerda, e ambas se afastam
dela como se ela fosse veneno.

Bom.

Eu estava realmente começando a gostar dela por um


segundo. Uma centelha da velha Margo apareceu, e o Caleb de
dez anos, atendeu seu chamado. Éramos amigos. Mais que
amigos. Eu tinha toda a nossa vida mapeada.

Por um tempo, fomos crianças felizes e despreocupadas.

Inseparáveis.
Eu passo o resto da aula olhando para a parte de trás de
sua cabeça, imaginando o que está acontecendo naquele
pequeno cérebro dela. Querendo saber sobre a próxima bomba
que ela vai lançar.

Um jogo. Jogar com ela é quase tão divertido quanto


lacrosse. Beije-a e veja quando ela cederá a mim. Beije sua
inimiga e espere que ela vacile. Foda-se onde...

— Cara, — Liam sussurra, me acotovelando. — A aula


acabou.

Eu balanço minha cabeça, banindo pensamentos. Margo


se foi, assim como metade da classe. Meu melhor amigo está
me olhando como se eu tivesse feito alguma coisa errada, então
pego minha bolsa e fico de pé, abrindo caminho para fora.

— Por que você está olhando assim para mim?

— Porque….

Eu levanto minha sobrancelha.

— Diga logo, por que não fala?

Ele geme.

— Não me dê um soco por essa merda, ok? Mas qual é o


seu problema?

— Com Margo?

— Viu? Você está falando pelo primeiro nome com ela.


Isso é foda, cara. Você nem vai nos dizer por que a odeia tanto.
Eu jogo meus ombros para trás.

— Eu não preciso dizer por quê.

Ele suspira. Às vezes brigamos, como dois idiotas


brincando de galinha. Na maioria das vezes, nenhum de nós
se move. Batida.

— O que? — Eu me posiciono contra ele. Somos uma


combinação bastante equilibrada. O treinador frequentemente
nos coloca para praticar em times opostos para equilibrar as
coisas. Por que tanto quanto lutamos, estamos na mesma
página? Magia.

Ele tem a mesma altura que eu. Em torno da mesma


construção. Se não fosse pelas características totalmente
diferentes, as pessoas poderiam pensar que somos parentes.

— Oh, seu idiota. — Ele me empurra de volta. — Saia da


porra da minha frente.

Eu estalo meu pescoço, sorrindo.

— Já faz um tempo que não fazemos isso.

Suas sobrancelhas sobem, mas ele sorri de volta.

— Foda-se, cara.

Eu dou-lhe o primeiro soco. Sua cabeça cai para trás, os


olhos arregalados enquanto o sangue flui de seu nariz. É como
se um interruptor ligasse nele. O jogo começou.
Os alunos abrem espaço para nós, alguns zombando
enquanto as meninas gritam no final do corredor. Isso deixa
meu sangue mais quente. Ele dá um golpe, os nós dos dedos
raspando na minha bochecha. Eu mergulho para ele, uma
abordagem melhor feita para um jogador de futebol do que eu,
e nós caímos. Estou no meio do ataque quando um professor
me puxa de volta, me jogando de cara no armário.

Porra.

Apenas uma pessoa na escola é forte o suficiente para


fazer isso.

— Desculpe treinador. — Eu digo contra o metal.

O aperto do treinador no meu pescoço não amolece.

— Você acha que uma desculpa vai cobrir essa bagunça?


No meu escritório depois da aula. Vocês dois.

E então ele se foi. Ele é uma lenda tanto quanto o resto


de nós, honestamente. Ele era da Emery-Rose quando estava
no colégio e era o capitão de times de futebol e lacrosse. Ele
era basicamente o menino de ouro original.

O nojo em sua voz me atravessa. Eu me empurro para


fora do armário e ofereço minha mão para Liam. Ele pega, me
deixando puxá-lo para cima, e nós dois olhamos na direção
que o treinador saiu.

— Droga. — Liam murmura. — Ele vai descontar em nós


com treinos, não é?
Eu suspiro.

— Eu nem quero pensar sobre isso.

Ele passa a mão no nariz, espalhando sangue, e então


olha para mim.

— Eu peguei você. Lábio partido.

Eu ri.

— Melhor do que meus olhos inchados e fechados.

Ele faz uma careta.

— Foda-se.

Voltamos para a aula. E me sinto exponencialmente


melhor – e pior.
Eu odeio que as primeiras palavras que saem da minha
boca sejam:

— Você brigou?

Caleb dá de ombros. A prova está bem na minha frente:


seu lábio está inchado, aberto pelo – estou supondo, aqui –
punho do amigo.

Os meninos são idiotas.

— Devo adicionar isso à minha pintura? — Eu pergunto


secamente.

Ele encolhe os ombros novamente.

Eu volto para minha tela. Está... em branco. Ele está


brincando com seu pincel nos últimos dez minutos. Suas
tintas ainda estão guardadas. Suponho que sua tela também
seja apenas um longo trecho de branco. É um pouco
assustador. O primeiro golpe.

Robert... er, o Sr. Jenkins – está circulando pela sala e


para trás de mim.

— Interessante. — Ele diz. — É assim que você vê Caleb?

Eu olho para ele.


— Posso pintar tudo de preto?

Caleb ri.

— Bem, isso é novo.

— Você queria uma janela para a alma dele. — Digo a


Robert. — E a alma dele é...

— Ok. — Diz ele, levantando a mão. — Tenho certeza de


que há mais no Sr. Asher do que parece. Vocês são o nosso
único par que ainda nem começou. Por quê?

— Eu já a descobri. — Caleb diz. — É apenas uma


questão de encontrar a maneira certa de retratá-la.

Eu murmuro.

— Tenho certeza que ele está soprando fumaça para fora


de seu...

— Tudo bem. — Interrompe Robert. — Novo plano. — Ele


bate palmas, atraindo todos os olhares para ele. — Esta tarefa
agora é lição de casa.

Dica: muitos gemidos. Incluindo o meu.

— Vamos trabalhar na técnica e em projetos menores


aqui, e espero que todos tenham uma obra-prima usando o
que aprenderam ao longo do semestre.

Eu encontro os olhos de Caleb, mas ele não parece bravo


com isso. Na verdade, ele está sorrindo.
Ugh.

Ele levanta a mão quando Robert termina.

— Tenho um horário pós-escola muito rígido. — Diz ele.


— Especialmente com os jogos...

— Bem, para nossa sorte... — Robert responde. — Este


projeto é para antes das férias de inverno. Como vocês sabem,
nossas aulas de arte não são o ano inteiro. Vocês preencherão
a lacuna em sua agenda na primavera com uma aula de arte
diferente... ou sala de estudos.

— Isso é novo? — Uma aluna exige. Ela empurra os óculos


no rosto e franze a testa.

— Sim, a nova política entrou em vigor durante o verão.


— Ele encolhe os ombros. — Eu sigo o que o conselho escolar
me diz. Agora, não adianta discutir isso comigo, Srta. Addams.
Vamos voltar para a aula propriamente dita, sim? Ponham
essas telas de lado, vamos trabalhar em algo novo...

Todos nós movemos nossos cavaletes para não ficarmos


de frente para nosso parceiro. Uma vez que os olhos de Caleb
estão fora de mim – embora momentaneamente – eu solto um
suspiro de alívio. Encará-lo por quarenta e cinco minutos é
exaustivo.

Ele se inclina para mim.

— Você vai ao jogo.

Eu empurro.
— Não. — Eu minto. — Por quê?

— Riley vai. — Ele sorri. — Eli confirmou isso enquanto


você e eu estávamos... — Seus olhos aquecem e seu olhar cai
para meus seios.

Eu limpo minha garganta.

— Eu vou te levar.

Eu balancei minha cabeça.

— Eu vou com a Riley, como você acabou de deduzir...

— Riley vai com Eli.

— Você é mandão. — Minhas palmas estão suando.

— Você é um pé no saco. — Ele encolhe os ombros. —


Funciona.

— E quanto a Savannah?

— O que tem ela?

Eu suspiro.

— Você vai beijá-la de novo, não é? Vai me envergonhar


de alguma forma... — Eu paro quando seu sorriso apenas fica
maior.

— Certamente, continue me dando ideias.


Eu gemo e me volto para frente da sala. Robert tem sua
própria tela, de frente para nós. Ele está demonstrando uma
nova maneira de segurar o pincel e a paleta.

— Eu pego você às cinco. — Caleb sussurra.

— Não, você não vai.

Ele murmura.

— Discutir não vai adiantar nada, amor.

Ugh.

— Bem.

Posso sentir seu sorriso, mesmo quando não estou


olhando para ele. Não falamos pelo resto da aula – claramente,
não sou boa para ele depois que ele consegue o que quer – e
ele sai assim que o último sinal toca.

Eu paro na mesa de Robert, limpando minha garganta.

— Não tenho certeza se estou pegando o jeito dessa coisa


de pintura. E fazer par com Caleb...

— Margo. — Diz ele em uma voz gentil. — Nós


conhecemos a família de Caleb há anos. Ele pode parecer forte,
mas é um cara bom.

Eu suspiro. Claro que ele já os conquistou antes que eu


tenha a chance de apresentar um caso. Isso tem acontecido há
anos e antes da minha colocação em adoção.
— Ele quer que eu vá ao jogo.

— Oh? Fazendo amigos além de Riley? Isso é ótimo,


querida.

Eu reviro meus olhos.

— Sim, não sei se ele é um amigo, mas... acho que está


bem.

Ele arruma a pasta e caminhamos juntos para o carro.

— Que horas ele vai pegar você? — Robert pergunta.

— Você está de acordo com ele me levar, mesmo que ele


tenha brigado?

— Garotos fazem isso. Principalmente por causa das


garotas.

Eu pondero enquanto entramos no carro. Os meninos


brigam – especialmente por causa das meninas. Talvez seja
esse o ângulo que preciso seguir. Deixá-lo nervoso por ir atrás
de um de seus amigos.

Não Eli, é claro. Ele está apaixonado por Riley, mesmo


que nunca admitisse. Ela mal me diz como é. E Theo é muito...
escuro. Dos quatro, eu chegaria a dizer que ele é o mais sinistro
deles. Ele mal fala, nem mesmo olha para mim. É como se
houvesse uma tempestade em seu peito e ele estivesse apenas
esperando a pessoa perfeita para soltá-la.

Eu tremo.
Isso deixa Liam, aquele com quem Caleb brigou, na
verdade.

Perfeito.

Em casa, tomo um banho rápido e aplico maquiagem


fresca. Eu deixo um pouco mais pesado em meus olhos, porque
afinal, eu tenho que seduzir o melhor amigo de Caleb.

Riley me manda uma mensagem dizendo que ela não


pode me pegar, com muitos emojis carrancudos.

Riley: Mas Caleb se ofereceu para te pegar!

Eu quero rir, sabendo que ela não está realmente


arrependida. Ela provavelmente está muito animada e nervosa
com a perspectiva de Eli levá-la.

Lenora subindo as escadas avisa que meu amigo está


aqui. Meu amigo. Eu zombo do espelho, endireitando meu
suéter. É uma das minhas compras mais recentes e é macio
como manteiga. Minhas outras roupas estão gastas de uma
forma ou de outra. Um buraco na bainha, um fio solto, uma
mancha de alvejante. Felizmente, o uniforme da escola esconde
minha falta de roupa.

Eu desço lentamente as escadas, no fundo esperando que


Caleb não esteja lá. Ele está vestindo uma camisa preta de
manga comprida com o logotipo dourado de Emery-Rose no
peito, jeans escuro e um gorro preto. Seu cabelo fica enrolado
por baixo, como a versão moderna de Channing Tatum.
Ele sorri para mim, todo charme, e Lenora suspira do
outro lado da sala.

— Você não deveria entrar. — Eu digo entre os dentes.

— O que eu deveria fazer? Buzinar do meio-fio? — Ele


franze a testa. — Isso não é muito legal da minha parte.

— Exatamente. Você não é legal.

Ele pega minha mão e a coloca em seu braço. Eu enrolo


meus dedos em torno de seus bíceps, meio que odiando a
formalidade disso, e ele me leva até onde Lenora e Robert estão
parados na cozinha.

— Ah, querida, esse suéter fica lindo em você. — Diz


Lenora.

— Obrigada.

Caleb me olha de cima a baixo.

— É bom ver você fora do nosso uniforme. — E então ele


estende a mão e aperta a mão de Robert. — É bom ver vocês
dois. — Ele diz. — Nós estamos indo. Margo tem toque de
recolher?

Lá vai ele usando meu nome novamente. Faz coisas


estranhas com as borboletas no meu estômago.

Lenora e Robert se entreolham.

— Oh... — ela diz — esta é a primeira vez que temos que


discutir isso. O que você acha, Rob?
— Meia-noite? Tarde demais? Muito cedo? — Ele ri.

Eu mudo de pé, ansiosa para ir embora.

— Só muito tarde se ela for secretamente a Cinderela. —


Caleb diz. — Eu a trarei de volta então.

— Divirtam-se! — Lenora envolve o braço em volta da


cintura de Robert.

Mal tenho tempo para acenar antes de Caleb me conduzir


para fora.

Eu deslizo para o banco do passageiro de seu Audi,


tentando segurar minha...

Antecipação?

Medo?

Seja o que for, enrola-se no meu estômago como uma


coisa viva.

Caleb se senta no banco do motorista.

— Quer dirigir?

— Não.

— Por que não? — Ele liga o carro, o motor girando com


um ronronar suave. — Com medo de que você não fosse capaz
de lidar com ele?

— Não é isso. — Olho pela janela.


— Conte-me.

Sua mão toca minha coxa. Ele levanta a mão com o dedo,
um sorriso diabólico no rosto. Ainda estamos na garagem.
Meus pais adotivos estão bem ali, provavelmente espiando pela
janela.

— Pare. — O calor em meu estômago se move mais para


baixo.

— Você quer dizer isso?

Eu tremo.

— Margo.

Seus olhos estão escuros. Eles sempre parecem estar


sombrios quando ele faz coisas perversas comigo. Seu dedo me
toca através do meu jeans, e eu aperto meus músculos com
uma dor desconhecida.

— Eu não posso dirigir. — Eu deixo escapar. Qualquer


coisa para parar o movimento. É torturante, apenas no limite
de não ser suficiente.

Ele faz uma pausa.

— Sério?

— O que? Você acha que um pai adotivo teria me


ensinado?
Ele retira a mão e eu relaxo no assento de couro. Ele sai
da garagem. Ele tem uma expressão contemplativa. Talvez ele
vá perguntar – mais cedo ou mais tarde, todos perguntam.

Como é?

As pessoas não querem você?

Por que ninguém te adotou?

Ele chega ao fim da nossa rua e vira na direção oposta da


escola. Eu olho para ele, minhas sobrancelhas levantando.

— Onde estamos indo?

Ele encolhe os ombros.

— O treinador me proibiu de ir ao jogo.

Eu franzo a testa.

— Você me enganou.

— Não, eu só... — Ele arranca o gorro, jogando-o no banco


de trás. — Eu não podia deixar de aparecer. Especialmente
porque Riley não vinha buscar você. — Ele ri enquanto, sem
que ele saiba, meus sonhos de seduzir seu amigo vão por água
abaixo. — Imagine que terrível terceira roda você teria sido. Eu
te salvei disso, amor.

— O que eu tenho que fazer para impedir você de me


chamar assim? — A derrota ressoa em mim. Eu provavelmente
faria o que ele quisesse esta noite, apenas para fazer o mundo
parar.
É muito. Lenora e Robert são ótimos, mas sinto falta dos
meus próprios pais. Houve um tempo em que éramos felizes –
mamãe, papai e eu. Íamos ao parque e fazíamos piqueniques
com cobertores emprestados, eles me ajudavam com o dever
de casa e me colocavam na cama à noite. Mamãe lia histórias
mágicas para mim e papai verificava meu armário em busca
de fantasmas.

Ou demônios.

Se ao menos ele estivesse aqui para me proteger de Caleb.

— Por que isso te incomoda? — Ele pergunta. — É apenas


um nome. Melhor do que ovelha, eu imagino. Embora, querida
Margo, devo dizer que você ainda está agindo como uma
ovelhinha assustada.

Eu balanço minha cabeça.

— Eu não estou. Estou enfrentando você.

Ele ri.

— Eu avisarei quando você realmente me enfrentar. Até


então… entramos na entrada de um parque. É o mesmo que
meus pais costumavam me levar para fazer piqueniques. É
também…

Eu fecho meus olhos.

É onde papai foi preso.

— Por que você me trouxe aqui?


Ele desliga o carro.

— Para reviver o passado.

— Mas não todo. — Eu sussurro. — Apenas as partes


difíceis.

— Sim. — Ele sai e dá a volta, abrindo minha porta.

Ele é inteligente: eu simplesmente teria ficado aqui.

Ele agarra minhas mãos e me tira com força.

— Mostre-me. Afinal, eu não estava aqui.

Eu estremeço.

— Você não estava. — Eu concordo. — Esse foi…

O pior dia da minha vida.

Mamãe já havia partido, e papai deve ter desejado paz e


sossego antes do próximo passo. Antes que o outro sapato
caísse em nossa família.

Ele me solta quando eu começo a andar. É como se uma


menina de dez anos, Margo, me guiasse até o local exato.
Estávamos sentados em um banco com vista para o lago. A
pista de corrida estava atrás de nós. O som de passos batendo
no chão não estava fora de lugar na minha memória.

Está escurecendo, mas acho com facilidade.

Eu sento no banco. O lago encolheu desde a última vez


que o vi. Caleb se senta ao meu lado, com as mãos nos bolsos.
Não estive aqui desde aquele dia e, se baixar a guarda, ecos do
passado nos cercam. Quase posso ouvir meu pai de novo.

Não ouço sua voz há seis anos.

— Fale.

Eu respiro fundo.

— Não notamos a detetive.

Ele concorda.

— Ela veio do lado dele, onde você está sentado. Subindo


o caminho. Sentou-se ao nosso lado. Nos disse... — Eu não sei
o que ela nos disse. — Eu tinha dez anos e ele me deu um
punhado de sementes para os patos.

— Que gentileza. — Diz ele.

— Eu olhei para trás, e ele estava algemado. Um policial


o estava levando pelo caminho, mas ele continuou tentando
voltar para mim. Foram necessários dois... talvez três policiais
para forçá-lo a ir.

Uma assistente social se agachou ao meu lado e se


apresentou. Quando ela ofereceu sua mão, eu peguei. E isso,
realmente, foi o começo do fim.

— Por que ele trouxe você aqui, de todos os lugares?

— Era o nosso lugar. — Existem alguns patos na lagoa


agora. Eu me levanto e pego uma pedra, jogando-a contra eles.
Eles decolam, voando baixo sobre a água. Longe de nós e em
direção à segurança. Pássaros espertos.

— Então? Sua casa era...

— Não. — Eu argumento. — Nossa casa nunca foi nossa


casa. Era sua. Sempre.

Ele levanta uma sobrancelha.

— Cada centímetro daquela propriedade era sua. — Eu


sussurro. — Nós desaparecemos como fumaça. Você
provavelmente nunca percebeu...

— Nunca percebeu? — Ele repete, olhando para frente.


Sua mandíbula aperta. — Nunca percebeu o quê, exatamente?
Que você se foi? Que você destruiu toda a minha vida?

Eu me encolho para trás.

— Sim, Margo. Corra e se esconda como você sempre faz.


— Ele se levanta e vem em minha direção.

Eu me afasto, tropeçando nas folhas e galhos caídos.

Ele me pega, como sempre.

— Você não pode fugir de mim. — Ele rosna. — Você não


pode se esconder. E você vai pagar pelo que fez.

Meu lábio treme. Como faço para me concentrar no ódio


quando tudo o que sinto é medo?
— Eu não sei o que eu fiz. Como vou consertar isso? Se
eu não sei...

Ele cobre minha boca com a mão.

— Cale-se. Cale a boca, cale a boca, cale a boca, sua puta


mentirosa.

Cale a boca, sua puta mentirosa.

Eu fecho meus olhos. Essas palavras – eu as ouvi, mas


não para mim. Não saiu da boca de Caleb.

— Tal pai, tal filho? — Eu digo contra sua palma.

Ele se inclina.

— Não ouse falar sobre meu pai.

Eu enrijeci.

— Caleb...

Ele torce meu pulso, me curvando.

— Eu estava quase começando a gostar de você de novo.


— Ele murmura. — E então... — Ele me dá um tapinha, sua
mão quase tão violenta quanto no carro.

Eu solto meu braço, empurrando seu peito.

— Que porra é essa?

Ele me agarra novamente, finalmente encontrando o que


está procurando: meu telefone no bolso de trás.
Eu o agarro antes que ele possa fazer o que quer que vá
fazer e se vá.

Onde, eu não sei. Não é como se eu pudesse correr todo


o caminho para casa. Mas assim que pego meu telefone de
volta, minha mente registra o brilho terrível em seus olhos. Ele
é assassino. Perigoso.

Ele é pior do que um demônio.

Ele é a porra do demônio.

Eu corro pela pista de corrida, empurrando meu telefone


no meu sutiã. Eu chego na curva do caminho, pouco antes das
árvores se abrirem.

Ele me aborda por trás, seus braços envolvendo minha


cintura.

Ele também não amortece nossa aterrissagem. Não tenho


tempo para me proteger, exceto para trazer meus braços como
asas dobradas. Batemos no chão com força, deslizando e
rolando por um aterro, e eu imediatamente nos impulsiono
para o lado. Somos um emaranhado de membros.

Caleb nos para, seu peso esmagando sobre mim. Uma de


suas pernas está presa à minha, e ele agarra meus pulsos e os
arrasta acima da minha cabeça.

Estou esticada e furiosa, tentando chutá-lo, quando ele


se inclina e me beija.

Outro jogo mental.


Eu mordo seu lábio com força suficiente para tirar
sangue. O sabor metálico afiado atinge meus lábios, mas ele
não para. Enche minha boca e, em seguida, sua língua
empurra para dentro, reivindicando todo o meu espaço. Todo
o meu oxigênio.

Eu te odeio, digo repetidamente em minha mente, apenas


para tentar me lembrar que não sou essa pessoa. Não sou a
pessoa que se apaixona pelo valentão. Não sou a garota que
cai de joelhos quando o garoto bonito presta atenção nela.

Se quero ganhar seus jogos, terei que me lembrar disso.

Se eu perder... perderei mais do que o jogo. Eu poderia


me perder também.

— Beije-me. — Ele rosna contra meus lábios, meu único


alívio.

E então ele está de volta em mim, e dane-se, o beijo traz


à tona sentimentos que meu corpo não sabe como lidar. Sua
mão desliza pelo meu lado, em meu jeans. Ele me toca como
ninguém antes, e eu posso entrar em combustão.

Eu arco minhas costas, me odiando.

— Eu costumava sonhar com isso. — Diz ele, deixando


meus lábios e descendo pela minha garganta.

Não penso em como Lenora e Robert reagirão se eu voltar


para casa com um chupão. Ok, eu quero. Eu penso isso, e
então o pensamento explode da minha mente com a primeira
mordida dos dentes de Caleb na minha pele.

Eu gemo. É um pouco surreal: quem é aquela no chão,


fazendo sons que ela só ouve em filmes? Sentindo coisas que
ela achava que não tinha o direito de sentir?

— Quanto tempo devo negar a você, amor? — Ele


pergunta.

Uma dor ardente se espalha por mim, perseguida por


uma centelha de algo extraordinário. Eu mudo. Eu enrolo
meus dedos em punhos.

— Devo deixar você assim? Espalhada, implorando por


mim?

Ele se levanta sobre o cotovelo, olhando para mim


enquanto seus dedos se movem na parte mais sensível de mim.

— V-você quer que eu implore?

Ele sorri.

— Talvez. Ou talvez eu só queira...

Sua mão desliza para fora da minha calça jeans, sob


minha camisa. Meus olhos se arregalam.

E então ele tira meu telefone do meu sutiã, pondo-se de


pé.

Minhas bochechas queimam. Porque, mais uma vez, sou


uma idiota.
E você o deixou tocar em você.

— Me leve para casa. — Eu fico de pé.

— Eu quero que você perceba uma coisa. — Ele começa


a descer o caminho, de volta ao carro. — Você virá quando eu
disser. Você vai implorar quando eu disser. Você vai me dar a
porra do seu telefone quando eu disser. Você esqueceu? Este
é o seu castigo, e eu possuo você.

— Você não precisa. — Eu paro de andar, cruzando os


braços sobre o peito. Eu me sinto totalmente exposta – mas
não são minhas roupas balançando ao vento. É minha alma.

Ele inclina a cabeça.

— Por que diabos você acha isso? Você me quer. Seu


coração bate por mim. — Ele continua caminhando. — Inferno,
eu te ignoro por uma semana, e você parece torturada.

— Eu fico mais torturada quando você presta atenção a


mim. — Murmuro.

— Eu beijo Savannah e você recua. Eu te beijo e você fica


molhada. — Ele olha para mim com o canto do olho.

Ele está verificando se estou corando? Porque eu estou.


Meu rosto está pegando fogo.

— Você é minha desde que éramos crianças.

Eu sei.
— A única diferença entre agora e então? — Ele destranca
seu carro. No silêncio, ele sorri para mim. — Vá em frente,
pergunte.

Estou muito cansada para lutar.

— Qual é a diferença?

— Agora, eu realmente não dou a mínima para... nada


disso.
Você tem sido minha desde que éramos crianças.

Ele me arrasta para uma festa. Bem, ele dirige até lá e


depois desaparece dentro, deixando-me sentada no carro e
pensando em suicídio em público. Eventualmente, eu crio
coragem para entrar pela porta da frente. Estou surpresa com
o volume da música. Os vizinhos devem se revoltar.

Eu não posso ter medo. Pequeno. Eu empurro meus


ombros para trás e inalo, jurando não aceitar merda de
ninguém. Inferno, se foi Caleb que me trouxe aqui, eu farei com
que as pessoas saibam disso. Com isso em mente, procuro por
ele.

Ele está na cozinha com um copo vermelho na mão. Ele


o levanta em minha direção, o olhar escuro persistente em
minha garganta, mas eu balanço minha cabeça. Ficar bêbada
é o oposto de causar uma boa impressão na nova família.
Adoraria entrar lá pouco antes da meia-noite, sóbria como uma
freira.

Eh, isso provavelmente não vai acontecer.

Riley e Eli chegam com uma enxurrada de outras


pessoas, e ela vem direto para mim. Ela passa o braço em volta
do meu pescoço, me puxando para perto.
— Desculpe. Eli disse que vocês não puderam ir. Eu não
sabia. Ooh, isso é um barril?

Ela me solta e pega um copo.

— Margo, você está bebendo?

— Não. — Eu digo. — Eu...

— A pequena senhorita perfeita não bebe? — Savannah


entra na sala, vestindo muito menos roupas do que eu teria
imaginado para meados de setembro. — Surpresa, surpresa.

Eu balanço minha cabeça e me afasto. Tenho certeza de


que não fiz nada para merecer o título de Pequena Senhorita
Perfeita, especialmente porque só estou no Emery-Rose há três
semanas.

Ela não vale o aborrecimento. Sem mencionar que Caleb


ainda tem meu telefone como refém e Riley desapareceu.

Savannah agarra meu braço.

— Margo.

Eu me viro de volta para ela, inclinando minha cabeça.

— Eu posso te ajudar com alguma coisa?

— Fique fora do meu caminho, ok? — Ela solta meu


braço, tomando um gole de cerveja. Ela me observa por cima
da borda.

Tudo o que posso fazer é encolher os ombros.


— Não tenho certeza do que você quer dizer, Sav.

— Quero dizer...

Liam entra na sala.

— Sav. — Ele a cumprimenta. Ele me olha.

Eu não desisto. Não tive uma interação verdadeira com


ele e estou desesperada para causar uma forte impressão em
alguém.

— Bom jogo, Liam. — Savannah diz. — Aquela passagem


no final? Brilhante.

Eu reviro meus olhos. Estou surpresa que seu treinador


o tenha deixado jogar depois que ele e Caleb brigaram. Ele tem
uma contusão na maçã do rosto que parece sujeira manchada.

— Você perdeu o jogo, Margo? — Ele pergunta.

Savannah funga.

— Ela não iria a um jogo.

Eu mudo meu peso.

— Bem, eu deveria encontrar Riley lá, mas... — Meu olhar


vai de Liam para Caleb. Eu quero admitir que Caleb e eu
tivemos um momento estranho no parque em vez de ir ao jogo?
Não na frente de Savannah, com certeza.

— Viu? Chata. — Ela diz para Liam. — Estou surpresa


que Applebottom mostrou seu rosto com Eli.
Liam encolhe os ombros.

— Eu não tenho parte nisso, Sav. E não sou muito de


fofoca. Com licença. — Ele pega meu braço e me leva embora,
mais para dentro da casa.

— O que você está fazendo?

— Falando com você.

Eu aponto para o hematoma.

— Isso é de Caleb?

Ele grunhe, encontrando uma sala vazia e gesticulando


para que eu entre. Ele nos fecha e se inclina contra a porta.

— Então. Margo.

— Liam.

Ele revira os olhos.

— O que há entre você e Caleb? O cara tem agido


cautelosamente desde que você apareceu. Sem ofensa, mas
temos que nos preocupar com ele estar fora do jogo?

— O jogo dele, como em...

— Lacrosse. — Ele se encaixa. — A prática especial


começa em um mês. Ele é o capitão. Se você está transando
com ele...

— Ele começou. — Eu interrompo, desejando que meu


rosto não ficasse vermelho. — Eu não tenho certeza porque
você está falando comigo. Tento ficar longe dele. — Sem
sucesso, não acrescento. Às vezes, sinto que Caleb está preso
a mim por um cordão invisível.

Eu cruzo meus braços.

— Digamos, por exemplo, que Caleb viu você me trazer


aqui. Devemos testar essa teoria? — Eu faço um gesto para ele
se afastar da porta e olho para o meu relógio. — Ele vai...

A porta se abre. O olhar de Caleb oscila entre Liam e eu,


e todo o espaço entre nós. Sua carranca se aprofunda.

— Que porra é essa?

Liam encolhe os ombros.

— Eu só estava tentando falar...

— Você não entra em uma porra de uma sala fechada


para conversar — Caleb se encaixa. — Vamos, Margo.

Eu enrijeci.

Seus lábios se curvam.

— Seja uma boa ovelhinha e venha comigo.

Quando não me movo rápido o suficiente, ele avança e se


inclina. Fico maravilhada com a maciez de seu cabelo
enquanto sua cabeça roça meu braço. E então seu ombro cava
em meu estômago e suas mãos agarram minhas coxas. Ele se
endireita e me levanta no ar. Meu quadril encosta em seu
ombro.
Eu chio.

— Ponha-me no chão!

Ele bate na minha bunda. A dor aguda disso passa por


mim e minha boca se abre.

— Você realmente não pode falar comigo agora, amor.

Eu gemo, levantando minha cabeça para olhar para Liam.


Caleb me carrega para fora da sala.

— Para onde você está levando...

Ele bate na minha bunda de novo e eu pressiono meus


lábios. Liam ri atrás de nós, seguindo Caleb pelo corredor e
para a festa.

Oh Deus. A festa.

Ele caminha pela multidão como se não fosse nada. Eles


se separam para ele – sempre o fazem – mas agora há um
silêncio que nos segue. É assustador. Ele me carregou como
um bombeiro, pendurada nos ombros como uma donzela em
perigo. Seu braço está enganchado na parte de trás do meu
joelho, segurando meu pulso.

Minhas bochechas em chamas.

Passamos pela sala de estar e vejo o olhar de Riley com


os olhos arregalados. Eli segura o braço dela, mas ela nem
percebe. E então estamos do lado de fora, o ar frio atingindo
minha pele nua.
Parece que só tenho coragem de enfrentá-lo em
particular, porque meus músculos se destravam. Eu rosno:

— Ponha-me no chão.

Ele ri, e o som passa direto por mim. Ele se inclina para
frente, me soltando, e eu caio de costas na grama. O golpe é
chocante. O orvalho frio penetra em meu jeans e nas costas do
meu suéter, a grama pinicando meus antebraços.

Ele fica parado perto de mim, parecendo contemplar algo,


e então oferece sua mão.

Eu pisco para ele.

— Apenas pegue isso. — Ele parece ter mil anos.


Impossivelmente cansado.

Eu faço. Minha mão desliza na sua como se fossem feitas


uma para a outra. Ele me levanta e aponta para o carro.

— Entre.

— Tão malditamente mandão. — Murmuro, indo para o


carro. Estou pronta para que esta noite acabe. Ele
provavelmente está cansado de suas mudanças de humor, eu
sei que estou.

— Você não toca nele. — Ele está bem atrás de mim. Seus
braços deslizam em volta da minha cintura, seus dedos se
entrelaçando no meu abdômen. Ele me segura de costas e sua
respiração atinge meu pescoço.
— Eu não ia. — Mentirosa. Não era esse o meu plano?
Usar um menino contra ele? Teria sido Liam. Inferno, teria sido
qualquer um que pudesse enfrentar Caleb por uma fração de
segundo.

Seus lábios tocam minha orelha, provocando um arrepio.

— Não minta para mim.

— Eu não faria isso.

Ele morde minha orelha, forte o suficiente para eu pular,


mas suas mãos me mantém no lugar. Estamos fora do alcance
das luzes da casa. Eu me deixo cair sobre ele enquanto suas
mãos exploram, e eu odeio isso. Odeio que meu coração se
lembre do que minha mente tentou esquecer: que, no fundo,
Caleb e eu éramos amigos.

Ele belisca meu mamilo e eu sinto isso no meu núcleo.

— Por que você está fazendo isso? — Eu pergunto.

Eu não deveria.

Eu sei que não deveria.

Isso pode acabar.

Isso pode continuar.

Seus dedos se aproximam da minha calça jeans.

— Você quer que eu pare?


Não consigo nem dizer sim, porque minha respiração está
alta e irregular.

— Você está excitada?

Ele faz uma pausa, uma mão passando por baixo da


minha calcinha. Ele nem mesmo me tocou de verdade e estou
molhada. Não preciso ser virgem para saber que ele está me
afetando de maneiras estranhas.

— Vou descobrir de uma forma ou de outra, amor. — Ele


sussurra. Seus lábios provocam a pele logo atrás da minha
orelha, sua língua sacudindo e me provando. — Última chance.

— Caleb.

Sua mão mergulha. Eu me empurro contra ele, mas ele


nos muda para que meu peito fique pressionado contra seu
carro. Ele chuta minhas pernas mais amplamente, atacando
meu clitóris com um ritmo perigoso. Meu coração dispara.
Estamos na rua.

Como todas as outras vezes que ele fez isso com você.

— Oh meu Deus, Caleb. — Eu gemo. Eu rolo para o lado


quando seus lábios encontram meu pescoço, mordendo e
sugando. Eu tenho que apoiar minha mão em seu carro
enquanto algo se acumula dentro de mim.

— Você não fala com ele, porra. — Ele rosna, mordendo


meu ombro. — Você não olha para outro cara, porra, porque
você é minha.
Suas palavras, seus dentes, seu dedo no meu clitóris. É
uma sobrecarga sensorial. Estou construindo e construindo,
correndo em direção a um penhasco desconhecido, e estou
como massa em suas mãos. Eu não conseguia me mover – faria
qualquer coisa para fazê-lo ficar.

— Ok.

Seus dentes relaxam, seus lábios e língua acalmam o


local, e seu dedo desliza dentro de mim. Eu gemo.

— Um dia você vai se espalhar na minha cozinha e eu vou


te devorar. — promete. — Vou foder sua boceta e você gritará
meu nome. Mas por hoje...

Sua mão livre desliza pelo meu estômago e ele belisca


meu mamilo, torcendo-o em seus dedos. É dor e prazer, e de
repente uma onda cai sobre mim, me jogando do penhasco. Eu
voo.

Estrelas explodiram atrás dos meus olhos.

Ele me segura enquanto meu corpo treme. Quando volto


a mim, seu nariz está no meu cabelo. Seus lábios tocam o topo
da minha cabeça.

— Não se esqueça do que conversamos. — Ele diz, me


liberando.

Eu me viro e olho para ele. Seus olhos estão escuros, me


avaliando. Ele sorri para algo no meu rosto, mas é muito fugaz.
Entramos em seu carro e ele põe a mão na minha coxa.
Eu nem me importo, porque... acho que estou um pouco fora
de mim.

Ele me atormentou por semanas, e agora ele reivindicou


meu corpo. Ele é um valentão...

Ele é meu valentão.

Eu te odeio, eu digo em minha cabeça, apenas testando.


Parece fraco, até para mim. É um apelo indiferente. Odeie ele,
droga!

Ele para na frente da casa dos Jenkins e olha para mim.

Eu abaixo o visor e verifico meu rosto no espelho,


verificando se tudo está no lugar. É como se nada tivesse
acontecido.

Eu deslizo para fora do carro, pronta para fechá-lo,


quando ele se inclina em minha direção.

— Você esqueceu algo.

Eu levanto minha sobrancelha e ele tira meu telefone do


bolso. Ele joga para mim.

— Bons sonhos. — Ele pisca.

Eu balanço minha cabeça, sabendo que provavelmente


vou sonhar com ele. Depois disso, como não posso?
Ele me observa subir a calçada e entrar na casa. São
apenas onze e meia e estou sóbria como uma freira.
Exatamente como eu queria.

Na sala de estar, Robert está lendo um livro com um


cobertor no colo. Ele sorri e gesticula para que eu me aproxime.

Eu me enrolo na poltrona.

— Você chegou cedo. — Ele diz. — Nossa filha...

Eu mordo meu lábio. Eles não falaram sobre ela, apenas


a mencionaram duas vezes.

Ele suspira e continua:

— Ela era uma violadora das regras. Se o toque de


recolher fosse meia-noite, ela entrava pela porta meia-noite e
dez sem falta. Isso deixava Len louca. E então nossa adotiva
era diferente, mas da mesma maneira. Ela não iria aparecer à
meia-noite. Teríamos sorte se ela voltasse para casa às duas.

Eu estremeço.

— Esse não é o meu estilo.

— Eu sei Margo. E nós apreciamos isso.

Eu concordo.

— Estávamos preocupados com essa transição, mas você


parece estar com a cabeça no lugar. Como foi esta noite?
— Foi divertida. — Vou afastar meus pensamentos das
mãos de Caleb no meu corpo e me concentrar em meus breves
momentos com Riley. — É bom entrar no espírito da escola
novamente.

Ele olha para seu livro e tira os óculos de leitura.

— Nós conhecemos a família dele. Ele teve um duro... —


Ele balança a cabeça. — Você o conheceu quando foi para a
escola aqui?

— Não. — Eu minto. Não tenho certeza de porque


escorrega da minha boca, porque a verdade provavelmente vai
sair eventualmente. — Não muito bem.

Ele concorda.

— Tudo certo. Eu terminei com a inquisição. Len e eu


tiramos a sorte para ver quem ficaria acordado esperando por
você. Admito que estou aliviado por vê-la de volta inteira antes
da meia-noite, então posso ir para a cama.

Nós dois rimos e eu o sigo escada acima. Aceno tchau no


meu quarto e fecho a porta silenciosamente. Hesito em me
virar, me perguntando se esta noite Caleb estará sentado na
minha cama novamente. Se ele vai vir mais vezes agora que
ele...

Eu finalmente me viro, mas meu quarto está vazio. A


janela está fechada. O que foi que Robert disse?

Ele teve um duro...


Duro o quê?

Meu telefone vibra na minha mão. Eu tinha esquecido


que ainda o tinha.

Caleb: Sonhe comigo.

O filho da puta colocou seu número no meu telefone.

Eu deixo cair na minha mesa de cabeceira e me preparo


para dormir rapidamente, mais do que exausta. Quando
sonho, não é com ele. É um pesadelo.

Minha mãe agarra meus ombros, me segurando perto.

Não é delicado. Ela me sacode com força, minha cabeça


estalando para trás com a força disso.

— O que você fez?

Lágrimas enchem meus olhos. O mundo fica embaçado.


Ela continua tremendo até que alguém arranca suas mãos de
mim. Eu caio para trás, minha cabeça batendo na beirada da
mesa da cozinha.

— Margo me diga!

Eu não consigo parar de chorar. Todo o meu corpo treme


com a força dos meus soluços.

Minha cabeça dói.

Meu coração dói.

Por que?
— Por que? — Mamãe grita.

Eu me endireito, segurando meu peito. O suor escorre


pelas minhas costas.

Isso parecia muito real.

Eu me levanto e me tranco no banheiro, ligando o


chuveiro. O vapor cobre o espelho em segundos, e estou grata
por não ter que ver minha própria expressão. O que meu rosto
transmitiria? Choque? Horror?

Tinha que ser apenas uma invenção da minha


imaginação.

A água quente queima a sensação rastejante do pesadelo.


Enquanto esfrego meu couro cabeludo, percebo que estou
procurando por algo. Meu dedo encontra uma cicatriz na parte
de trás da minha cabeça, ligeiramente levantada e irregular.

Eu tremo.

Depois que estou limpa, me envolvo em toalhas. Uma


para meu corpo e outra para meu cabelo. Eu volto para a cama
e fico olhando para a parede, esperando o sono chegar. Não é
verdade. Minhas pálpebras ficam pesadas, mas minha mente
está girando como um pião. Eu saio da cama e olho pela janela.
Lentamente, como se ainda estivesse presa em um sonho, eu
a destranco e deslizo para abri-la alguns centímetros.

E então eu espero. Mas o diabo não vem.


O fim de semana traz novos desafios. A saber: Caleb.

E pintar.

— Precisamos trabalhar em nosso projeto. — Diz ele,


encostado na porta do meu banheiro.

Ele me pegou de surpresa, subindo as escadas antes que


Robert tivesse a chance de me avisar.

Eu tenho um olho de maquiagem feito. Um.

Ele entra e empurra minha mão segurando o rímel, em


seguida, levanta a outra mão. Ele bloqueia primeiro um lado
do meu rosto de sua visão, depois o outro.

Eu levanto minhas sobrancelhas.

— Você fica bem sem maquiagem. — diz ele. — Você


mancha os olhos de merda preta. E realmente, não é
necessário. É uma coisa de insegurança?

Eu empurro sua mão.

— Eu gosto disso.

Seu olhar percorre meu rosto.

Espero que ele sorria, mas, em vez disso, ele balança a


cabeça.
— O que quer que faça seu barco flutuar, Ovelha.

Eu faço uma careta, deixando-o assistir da porta do


banheiro. Eu me inclino para perto do espelho e aplico o rímel
no outro olho, depois o delineador. Satisfeita, fecho o zíper da
bolsa e passo por ele.

Ele agarra meu pulso.

— Desacelere.

— Eu realmente não gosto quando você me chama de


ovelha. — Eu digo. — Especialmente não na minha...

— Casa? — Ele se inclina. — Você pode chamar assim,


você sabe.

Eu balancei minha cabeça. Eu posso? Ainda não. É uma


casa em que eu durmo. Como. Tenho pesadelos.

— Vamos pintar, então.

Robert paira por cerca de cinco minutos até que eu lhe


atire um olhar mortal. Ele levanta as mãos em sinal de
rendição, rindo e murmurando algo sobre estar em seu
escritório. Ele nos emprestou pequenos cavaletes que ficam
sobre uma mesa. Espalhados pela ilha da cozinha estão os
meus pincéis e tinta de Caleb, dispostos em fileiras
organizadas no jornal.

Eu fico olhando para a tela em branco por alguns


segundos, em seguida, coloco meu lápis de carvão na mesa.
Eu inclino meu cotovelo na mesa e encontro Caleb me
observando. Ele está em uma pose semelhante.

— Por que você está em uma aula de arte? — Eu


pergunto. — Você é esperto. Aparentemente, um deus do
esporte. E...

— E essas coisas não se correlacionam com arte? — Ele


sorri. — É um hobby. Assim como lacrosse.

Suponho que ele já sabe onde está seu futuro: com a


empresa de seu pai. Mesmo que aparentemente tenham
vendido, ele ainda tem uma herança. Um papel no qual ele
poderia crescer. Está tudo bem para ele ter hobbies.

— Eu não posso fazer isso. Eu não posso pintar você.

— Você poderia se pintar? — Ele pergunta.

Eu penso sobre isso. Eu seria capaz de mostrar tudo o


que sou? Bom e mau?

Meu silêncio responde por mim, e ele franze a testa.

— Por que não?

— Você quer saber por que eu não seria capaz de me


pintar? Eu não faria isso com muita precisão.

Ele encolhe os ombros.

— Eu poderia. Vou pintar você e mostrar cada centímetro


de você.
Seu olhar desliza para cima e para baixo no meu corpo e,
foda-me, fico molhada. Um orgasmo, e ele possui meu corpo.

— O bom, o mau e o Feio.

Eu balanço minha cabeça, tentando não deixar óbvio que


estou pressionando minhas coxas juntas.

— Mas você tem que ir primeiro.

Eu me contorço.

— Então, eu tenho que mostrar como te vejo antes...

Ele sorri.

— Não estou com vontade de pintar hoje.

Meu suspiro sai lentamente.

— O que você está no humor para fazer?

— Acho que você descobrirá assim que me desenhar.

Eu volto para a tela, alternando meu olhar entre ele e a


extensão de branco. Só preciso deixar uma marca, e então o
resto virá mais fácil. É o que Robert diz na aula: o primeiro
golpe é o pior.

Ele está me queimando. Cada vez que olho para ele, algo
em meu peito cede. Eu fico olhando para o rosto dele. A
sobrancelha forte, o cabelo escuro que se ergue para cima e é
curto nas laterais. Seus olhos azuis frios. Lábios carnudos –
bem, eu sei tudo sobre esses lábios.
— Você está olhando. — Ele murmura.

Eu me sacudo.

— Você está me deixando maluca.

— O que devo fazer, fechar os olhos?

Eu me ilumino.

— Sim. Isso tornaria as coisas mais fáceis.

Ele se levanta e move seu banquinho para mais perto,


então seus joelhos roçam minha coxa.

— O que você me daria por isso?

Como posso saber o que dar se não sei o que ele quer?

Mais jogos mentais.

Levanto um ombro, mordendo meu lábio. Não vou


perguntar a ele o que quer – tenho a sensação de que sua
resposta seria pior do que qualquer coisa que eu pudesse dar.

— Você deixou sua janela aberta. — Diz ele de repente. —


Por quê?

Agora, há algo que eu nunca admitiria: que ainda coloco


minhas esperanças nele.

— Diga-me por quê e fecharei os olhos. — Diz ele. — Vou


mantê-los fechados e não vou pedir para ver sua pintura.

— Nunca?
— Nunca. — Ele diz. — Três…

Eu inclino minha cabeça.

— Dois…

Ah, uma contagem regressiva. Eu faço uma carranca para


ele.

— U...

— Eu queria que você entrasse. — Eu deixo escapar. —


Achei que se deixasse a janela aberta...

— Por que? — Não está bravo. Não está aborrecido. Talvez


um pouco irritado com minhas palavras reprimidas, mas ele
está mais curioso do que qualquer coisa.

— Porque... — Um caroço se forma na minha garganta.

Ele se aproxima, e odeio querer que ele me console.


Inferno, o fato de que eu preciso de algum consolo me deixa no
limite. Ele é mau e bom. Eu posso lidar com um ou outro.
Parece que anseio um em vez do outro.

Escuro sobre a luz. Mal sobre bom. Deus, estou fodida.

Ele corre um dedo pela minha bochecha, pelo meu queixo


e pelo lado do meu pescoço. Ele puxa o lenço da minha
garganta, os olhos indo para os hematomas escuros salpicando
minha pele. Eles seguem do meu pescoço para o meu ombro.
Há mais marcas em meu seio que venho ignorando.
Ele pressiona o polegar em um deles, observando meu
rosto mudar. Eu mantenho minha cara de pau até que ele
empurra um pouco forte demais, e eu me estremeço de dor.

— Você gosta disso.

Não é uma pergunta.

Adicione isso à lista de coisas irritantes sobre Caleb Asher.


Às vezes acho que ele me vê mais do que eu.

Seu polegar traça pequenos círculos suaves no meu


pescoço. Meu rosto esquenta porque a qualquer momento,
Robert pode voltar para a cozinha. Lenora poderia voltar para
casa de suas tarefas e pegar... isso.

Ele está literalmente apenas me tocando com um dedo. É


o suficiente e não o suficiente ao mesmo tempo. Eu me inclino
para ele quando ele me para, a palma da mão espalmada na
minha clavícula.

— Desenhe. — Ele ordena, sentando-se ereto.

E, droga, seus olhos se fecham.

Eu não teria imaginado que faria com que ele fizesse isso.
Que dizer a verdade iria desbloquear um favor. Um grande
favor.

Eu respiro fundo e começo. É desleixado e não é o que


pretendo desenhar, mas essa é a beleza do carvão: ele mancha
e acabará sendo coberto por tinta. Um pensamento me ocorre
enquanto esboço de memória o contorno de seus olhos.
— Por que você não gostaria de ver o que eu pinto? — Eu
limpo minha garganta. — Você não está curioso?

— Claro que estou curioso. — Ele responde. — Mas eu


concordei em não perguntar.

Eu cantarolo.

— Ok.

Eu vou o mais longe que posso – tanto quanto eu quero –


e digo a Caleb que eu terminei o dia. Consegui colocar um
fundo na tela, cinzas esfumadas e pretas, mas o espaço onde
seu rosto e parte superior do torso irão ficar apenas
ligeiramente delineado em carvão.

Ele abre os olhos.

— Ótimo. Cubra isso e vamos embora.

— Ir? Mas…

Ele bufa.

— Você acha que eu preciso olhar para você para pintá-


la, amor? Você está enraizada em meu cérebro desde o início.

Eu o sigo pela casa, até uma porta que ainda não vi


aberta. Ele bate na porta, me dando uma piscadela rápida,
antes que Robert o chame para entrar.

Eu entro atrás de Caleb, surpresa com o espaço. Claro, a


casa é grande, mas eu realmente não considerei o que ficava
diretamente abaixo do meu quarto. Uma parede contém livros
com lombadas elegantes. O tipo de merda que li não seria
encontrado aqui, isso é certo.

— Ei, Sr. Jenkins. — Caleb o cumprimenta.

— Você pode me chamar de Robert quando não


estivermos na escola. — Robert repreende. Ele já mencionou
isso uma ou duas vezes.

— Sim senhor.

Ele está atrás de uma mesa gigante. Tipo, eu poderia


deitar nela e abrir meus braços e pernas, e ainda haveria
espaço para mais duas pessoas.

Eu me aproximo dos livros, lendo os títulos.

Filosofia do Direito, Volume III. As Leis da Natureza


Humana. Para Matar Um Mockingbird.

O último é uma surpresa, mas parece antigo e valioso.

— Pronta? — Caleb pergunta, tocando meu ombro.

Eu pulo.

— Hã?

— Você viajou? — Robert pergunta. — Caleb acabou de


perguntar se ele poderia levá-la para um almoço tardio e
cinema.

Eu concordo.

— Ah, desculpe. Você disse sim?


Meu estômago se revira. Caleb conseguiu entrar na
minha vida de várias maneiras: ele está no meu espaço na
escola, está na minha cabeça fora disso, está nos meus
sonhos. Não que eu fosse admitir.

E agora ele está demorando também. Tempo que eu teria


deitado na minha cama e olhado para o teto, fantasiando sobre
ele. A coisa real é melhor.

Sim, ok.

A coisa real dói mais.

Robert ri.

— Eu deixei. O toque de recolher é meia-noite.

Caleb pega minha mão e me leva para fora da sala. No


corredor, ele se inclina e sussurra:

— Eu quero te foder naquela mesa.

Meu suspiro fica preso na minha garganta.

— Nenhuma refutação inteligente?

— Eu já tive uma réplica inteligente?

Ele encolhe os ombros.

— Às vezes.

Sua mão aperta a minha.


Limpamos a mesa rapidamente, guardando a tinta e os
cavaletes. Ele me segue até meu quarto.

— Eu realmente acho que preciso beijar você. — Diz ele.


Esse é o único aviso que recebo antes que ele esteja em mim,
suas mãos deslizando em volta do meu pescoço. Ele me segura
contra ele enquanto bate seus lábios contra os meus. Ele é
chocantemente selvagem. Eu me inclino para ele, enrolando
meus braços em volta de sua cintura, e ele me leva para trás.

Ele usa a mão no meu pescoço para me abaixar até a


cama, correndo atrás de mim. Seu peso mal é registrado. Ele
me assola. Ele mordisca meus lábios e não deixa nenhum
centímetro da minha boca intocado.

Eu respiro pelo nariz, enganchando minha perna ao redor


de seus quadris e o pressionando mais perto.

Ele se afasta, sorrindo com a expressão atordoada.

Ele bate na ponta do meu nariz.

— Foi divertido. Vamos tentar outra coisa.

Ele agarra meus pulsos e me põe de pé, depois sai pela


porta. Mal temos tempo de gritar tchau e então entramos no
carro dele.

Eu olho para ele.

— O que você está planejando?

— Do que você tem medo? — Ele pergunta.


Eu me pergunto se ceder foi uma coisa ruim. Se ele gosta
de mim apenas pela perseguição.

— Margo.

— Estou com medo... — Eu pressiono meus lábios. — Dos


meus sonhos.

Ele bufa.

— Do bicho-papão saindo do seu armário?

— Há coisas que eu não entendo. — Eu digo. — Minha


mãe...

Ele me olha com severidade.

— Ela era uma vadia viciada em drogas. — Ele cospe. Um


músculo em sua mandíbula se contrai e sua mão aperta o
volante.

Eu olho para frente e de repente estamos indo muito mais


rápido. Eu agarro a maçaneta da porta.

— Caleb...

— Você não deveria falar sobre ela. — Ele diz. — Não


deveria pensar nela.

Eu balanço minha cabeça.

— Eu não posso evitar com quem eu sonho... — Nós


aceleramos dobrando uma esquina e eu fecho meus olhos. —
Por favor, pare.
— Pare? Parar o que?

Estamos ganhando velocidade. É um dia ensolarado em


uma estrada secundária. Não estamos perto de outros carros,
outra vida. Inferno, poderíamos capotar em uma vala, e pode
demorar uma hora antes que alguém nos encontre.

Por que somos assim?

— Eu tenho medo de você. — Eu deixo escapar. —


Quando você tem aquele olhar. Quando você quer dizer coisas.
Quando você me machuca.

Ele balança a cabeça, pisando fundo no freio. Os pneus


guincham, soltando fumaça quando o carro para em um
instante. Ele encontra meu olhar.

— Não faço nada que você não mereça. — Diz ele.

— Eu não merecia você beijando Savannah. Eu não


mereço esses jogos.

Ele balança a cabeça, respirando fundo. Sob sua


armadura, ele também é humano.

Continue dizendo isso a si mesma, querida.

Ele volta para a estrada em uma velocidade normal.


Damos algumas voltas, de repente voltamos para a minha
casa. Ou... dele.

Na entrada, ele desliga o motor e sai sem dizer uma


palavra.
Como de costume, tenho que segui-lo. Há mais carros em
sua garagem do que eu esperava, e entro hesitantemente. Liam
e Theo estão na sala da frente, inclinados sobre um tabuleiro
de xadrez. A mobília ainda está forrada de lençóis. Tudo tem
uma qualidade de fantasma, como se ninguém realmente
vivesse aqui. Pelo menos não no andar de baixo.

Eu me apresso para longe deles, em direção ao som de


vozes.

Encontro Eli e Caleb na cozinha.

É difícil entrar, sabendo o que aconteceu da última vez


que estive aqui. E antes disso...

— Ah, ela chegou. — Eli sorri para mim.

Eu franzo a testa, não cem por cento certa de que confio


nele. Afinal, ele tem sido quente e frio com Riley. Mais ou menos
como Caleb é com você.

— E aí?

Eli abre a tampa de uma cerveja e a oferece para mim.

Quando eu balanço minha cabeça, ele dá um longo gole.

— Estamos planejando uma festa.

Festas. Acho que odeio isso. As escolas públicas que


frequentei tinham festas, mas eram barulhentas e
desagradáveis. Os policiais quase sempre eram chamados, o
que é um desastre se você está no sistema de adoção e eles o
pegam. E então aquela em que Caleb me carregou...

Posso admitir que estou curiosa para saber como os


garotos ricos realmente festejam. O sabor da outra noite não
foi suficiente para sentir.

— Que tipo?

— Boas-vindas. — Caleb responde. Suas sobrancelhas


franzem.

Eu pisco para ele, minha boca se abre.

— O que?

Eli balança a cabeça, rindo.

— Eu acho que isso é um não, cara. Talvez ela prefira ir


com Liam...

Caleb empurra Eli com tanta força e rapidez que quase


não percebo. Eli bate no balcão, rosnando. Eu saio da cozinha
– um alívio culpado – e caio em um par de mãos fortes.

Theo franze a testa para mim. Chocante.

Liam empurra Eli e Caleb antes que a situação piore.

— Isso é sobre o quê?

Caleb encara Eli, enquanto este último me encara.


— Você é um idiota. — Eli declara, olhando para Caleb.
— Você deveria apenas deixar sua história com ela no passado.
Ela e sua família...

Crach. O punho de Caleb bate no nariz de Eli, desviando


de Liam por pouco.

Theo me move para o lado, ajudando Liam a lutar contra


os dois.

— Maldição. — Theo rosna. Ele se vira e aponta para mim.


— Saia.

Dou dois passos rápidos para trás, viro e corro.

Em vez de sair pela porta da frente, pego uma saída


lateral e me pego olhando para a casa de hóspedes ao lado da
piscina. Com passos rápidos e seguros, corro em sua direção.
Está desbloqueada.

Eu levo um segundo para orar para que ninguém more


aqui, e então estou entrando. É exatamente como eu me
lembrava, mais sete centímetros de poeira. Tinta amarelada
feia na cozinha, uma daquelas geladeiras verdes retrô no final
do balcão. Ainda há móveis. Um copo…

Eu ando em direção a ele, hipnotizada, e o levanto de seu


lugar ao lado da pia. Ele gruda um pouco, deixando um anel
no vinil.
— Abaixe isso. — Caleb sibila da porta. Parece doer para
ele pisar aqui, mas ele o faz. Ele marcha pela sala, levantando
poeira e arranca o copo de plástico da minha mão.

Meus dedos são de madeira. Eu não poderia ter segurado


se tentasse.

Ele bate o copo de volta no lugar e agarra meu braço logo


acima do meu cotovelo. Quando ele me arrasta para fora da
sala, algo selvagem fratura em meu peito. Eu o empurro e
consigo me soltar.

Eu corro pelo corredor e abro uma porta, parando na


porta.

Minhas coisas.

Minha cama e brinquedos e roupas e desenhos na parede.

Ai, meu Deus.

Caleb me agarra por trás, me arrastando para fora de


casa.

Eu grito quando passamos pela porta do quarto dos meus


pais. Minhas pernas cedem e meus calcanhares criam marcas
na poeira do chão. Assim que estamos do lado de fora, ele me
empurra contra a casa e coloca a mão na minha boca.

Sua respiração está fora de controle. Seus olhos me


sugam.

— Pare. — Ele diz. — Simplesmente pare.


Eu me encontro inclinada em direção a ele. Meu
batimento cardíaco vai pular da minha garganta. Ele me
mantém contra a parede com uma das mãos no peito. Ele me
observa com os olhos estreitos.

Fiz algo de errado?

— Você não – ninguém...

— Nós deixamos assim. — Diz ele. — Ninguém entrou lá


desde que levaram você.

— Caleb.

Minha mãe me sacudindo com força suficiente para jogar


minha cabeça para trás.

Eu vacilo com o pensamento chocante.

— Minhas coisas. Minha infância.

Todas as minhas memórias de meus pais estão naquela


casa de hóspedes. Em sua casa.

Ele se aproxima de mim.

— Você não entra aí. — Avisa. — Não é para você pegar.

É meu. É a minha vida que se desfez e tudo que quero é


enrolar de novo. Agora Caleb é o guardião do meu passado.

Meu presente.

Inferno, meu futuro.


— Por favor. — Eu sussurro. Sou menos que o ar,
flutuando para longe. Sua mão no meu peito, mais quente do
que fogo, é a única coisa que me mantém com os pés no chão.

Mas por favor é a palavra errada a dizer.

Seu olhar endurece. Seus dedos cavam em minha pele,


como se ele não quisesse nada menos do que arrancar meu
coração.

Ele se inclina para perto, perto o suficiente para que eu


possa me mover um pouco para frente e beijá-lo se eu quiser.
Ou mordê-lo.

Seus olhos vão dos meus lábios aos meus olhos e voltam,
em fúria ardente.

Uma palavra decreta minha sentença de morte:

— Não.
Eu não tive muita interação com Caleb até os cinco anos
de idade. Nós íamos para a mesma pré-escola e eu o tinha visto
na minha classe do jardim de infância, mas meninos eram...
meninos. Minha mãe me puxou para fora do meu quarto um
dia e me levou através da grama até a casa dos Asher, e eu
finalmente falei com Caleb.

Sua mãe também estava lá, esperando com ele na


cozinha. Nossas mães sorriram uma para a outra, enquanto
Caleb e eu apenas olhamos.

Para mim, ele era tão estranho quanto um alienígena. Ele


corria com meninos com o dobro do seu tamanho e não
vacilava. Fiquei perto de Savannah e Amelie. Brincávamos com
bonecas e nos vestíamos em seus quartos – e nunca íamos à
minha casa.

— Diga olá. — disse minha mãe, pressionando o dedo em


minha coluna. Ela fez isso quando eu relaxei.

Eu endireitei minhas costas, apenas para aliviar a


pressão, e contorci meus lábios em um sorriso.

— Olá, Caleb.

Ele balançou a cabeça, olhando para sua mãe.

— Ela é uma garota burra.


Eu me aproximei e bati em seu ombro.

— Eu não sou burra.

Por mais estranho que tenha sido, Caleb e eu nos


tornamos amigos rapidamente depois disso. O caminho para o
coração de um menino é através da violência física,
aparentemente. Ele ainda andava com seus amigos na escola,
e eu ficava com Amelie e Savannah. No playground, se a bola
deles às vezes rolasse em nossa direção, eu era a única a ficar
de pé e atirá-la de volta para ele.

Ele me dava um olhar estranho de avaliação e


murmurava um obrigado.

Ele também se sentava comigo no ônibus. Eu não tinha


percebido o quão horrível o ônibus era até que ele estava ao
meu lado, e tudo melhorou.

Continuamos assim até os oito anos. E então nossa


amizade ficou um pouco mais próxima. Jantei com sua família.
Ele me ajudou com meu dever de casa de história e eu o ajudei
com matemática.

— Só serei sua amiga se brincarmos de fantasia. —


Declarei um dia, segurando uma caixa de roupas nos braços.
Eu as peguei da gaveta de fantasias que estava colecionando
com Savannah. Eram roupas de segunda mão, geralmente com
rasgos na bainha ou buracos nos bolsos que minha mãe
remendava, mas eu não me importava.

Caleb suspirou, apoiando a testa na mesa.


— Acho que não tenho escolha, hein?

Ele me seguiu até seu quarto.

Eu apontei para ele.

— Você precisa de um terno.

— Por que?

— Porque eu disse! — Eu joguei um sapato nele para


garantir, mas ele disparou. Se ele jogasse de volta,
provavelmente me acertaria no peito. Sua pontaria era muito
melhor que a minha.

Ele resmungou e saiu da sala, e eu coloquei o vestido


especial que tinha roubado de casa.

Quando ele voltou, ele parou.

— O que é isso?

Eu bufei. Alisei o velho tecido branco com as mãos. Eu


fui uma menina das flores há apenas alguns meses. O primo
do meu pai se casou, e aparentemente eu era a única elegível
para andar pelo corredor e jogar flores.

— Com o que se parece? — Eu perguntei a ele.

Ele semicerrou os olhos para mim, a ponta da língua


deslizando para fora de sua boca com sua concentração. E
então ele piscou.

— Nós vamos nos casar?


Eu sorri e esperei. Ele estaria dentro ou fora – com Caleb,
você nunca sabe. Achei que essa era uma boa maneira de
resolver meu dilema de o quanto ele realmente gostava de mim.

Você sabe: como amigo ou como casamento.

Ele ajeitou a gravata e se aproximou.

— Não comprei um anel para você.

Eu balancei minha cabeça e coloquei a mão no bolso.

— Certo. — Eu disse, mostrando a ele os dois pedaços de


corda trançada em minha mão. Eu fiz um que era em partes
iguais de dourado e azul, e o outro era azul com um único fio
de ouro. Era irritante ter que tentar fazer algo tão pequeno que
caberia no meu dedo, então desisti e fiz pulseiras. — Estamos
casados até que isso caia.

Era assim que funcionavam esses tipos de pulseiras:


mantenha-as até que caiam ou dá azar.

— Ok. — Ele concordou. — Mas…

— O que?

— Nós temos que beijar? Para fechar o negócio?

Minhas sobrancelhas enrugaram. Eu não tinha pensado


tão longe.

Ele sorriu e se aproximou, segurando as calças – de seu


pai, eu aposto – então ele não tropeçou na bainha.
— Nós poderíamos, você sabe.

— Beijo?

— Adultos fazem isso.

Meu coração disparou.

— Eles fazem?

Mamãe e papai realmente não se beijavam na minha


frente. Eles mal se tocavam. Os pais de Caleb se beijavam na
frente dele? Eu já tinha visto no cinema, mas pensei que era
só isso: ficção.

Eu conhecia a definição de ficção aos oito anos. Eu não


era burra.

Algumas coisas simplesmente não eram reais: Papai Noel,


pais que realmente se amavam, meu futuro com Caleb.

Ele pegou as duas peças trançadas, que eu tinha deixado


desamarradas, e agarrou a que tinha mais ouro.

— Eu quero este. Isso me lembra você.

E então ele levantou meu braço esquerdo e amarrou o


quase azul em volta do meu pulso. Ele o deixou solto o
suficiente para que eu pudesse passar sobre minha mão, mas
não o fiz. Eu deslizei mais para cima, até que ficou preso no
meu antebraço. Eu não queria perdê-lo tão rapidamente.

— Agora eu. — Disse ele, empurrando sua pulseira para


mim.
Amarrei com dedos desajeitados, tão frouxos quanto ele
tinha feito os meus. Quem sabia quando essas coisas iriam
cair? De repente, desejei tê-los feito de aço.

— Beije-me, Wolfe. — Disse ele. — Torne isso oficial.

Inclinei-me, minha mão em seu pulso e meu olhar em sua


boca.

Nossos lábios se tocaram, apenas o mais básico das


pinceladas. Nós dois nos afastamos e olhamos um para o outro
por um momento.

Então Caleb ergueu minha mão.

— Uau. Então é assim que se sentem os casados.

Eu balancei minha cabeça.

— Eu não sinto...

E então isso me atingiu.

O vínculo. Estaríamos ligados, ele e eu, por nossos pulsos


e nossos lábios, para sempre. Eu não estava brava com isso.
Eu estava egoisticamente feliz por ele ser meu.

Meu e de mais ninguém. Eu lutaria contra eles e ele


voltaria para mim. Porque: casamos. Mesmo que o casamento
de mamãe e papai fosse uma droga, e o casamento dos pais de
Caleb fosse difícil, às vezes a ficção e a vida real poderiam ser
a mesma.
Seríamos um casal feliz quando entrássemos na velhice.
Vinte, trinta, quarenta. Inferno, ele provavelmente me amaria
com cabelos grisalhos e rugas. Eu sabia disso e, a julgar pela
expressão em seus olhos, ele também sabia.

E então, dois anos depois, nossas vidas implodiram.


Eu encontro os caras na casa de Liam. Eles evacuaram
minha casa logo depois que arrastei Margo para fora. Eu me
esgueiro para a cozinha e pego uma cerveja, e vou procurá-los
na sala de jogos de Liam.

— Isso foi divertido. — Theo grunhe de sua cadeira.

É dirigido a mim, eu sei. Ele mantém os olhos no jogo de


corrida que estão jogando.

Eu caio na cadeira ao lado dele. É melhor que, por


enquanto, eu fique bem longe de Liam. Ele está no lado oposto
do sofá, ao lado de Eli. Eles olham para mim e erguem as
sobrancelhas, mas tudo que posso fazer é carranca para eles.

— Eu não quero falar sobre isso.

Liam encolhe os ombros.

— Bem.

— Eu acabei de dizer...
— Ele não te fez a porra de uma pergunta, cara. — Eli se
encaixa. — Se você quer mijar e ficar de mau humor no canto,
tudo bem. Vamos deixar você em paz.

— Tudo bem. — Eu rosno. Eu pego o controle extra e


entro no próximo jogo de Theo. Os videogames não aliviam a
tensão que sinto. A raiva gira como a porra de um furacão em
meu peito.

Depois de cerca de dez minutos, eu digo:

— Você nunca a conheceu.

Eles trocam olhares.

— Ela saiu logo antes de você ser transferido, Eli.

A família dele mudou-se para cá quando tínhamos onze


anos. Eu era um filho da puta furioso na época, mas não pior
do que sou agora. Eh, não, provavelmente com menos raiva
então.

Ela cresceu sob minha pele nos anos que se seguiram.

— Ok. — Eli diz. — Nós conhecemos esta parte da


história. A escola inteira está falando sobre isso.

Eu mantive isso em segredo por um motivo. É uma merda


pessoal. Mas preciso dizer algo para impedir que eles gritem.

— Sim, mas vocês não conhecem o meu lado. Não éramos


apenas conhecidos. Ela não morava apenas com a família em
nossa casa de hóspedes. Ela era família. Ela era minha melhor
amiga.

— E então todo o drama com a família dela? — Isso vem


de Liam.

— Algo parecido. — Eu puxo o controle, tirando o


personagem de Theo do caminho.

Não sinto nada quando ganho – exceto o cotovelo de Theo


cutucando minhas costelas.

— Então, por que você a odeia?

Largo o controle no balcão e me inclino para trás,


tomando um longo gole de cerveja. Vou precisar de mais seis
dessas antes de compartilhar mais segredos sobre ela. E como
ela ainda está me irritando depois de todos esses anos.

— Vocês viram quem vai jogar na próxima semana? — Eli


pergunta, felizmente mudando de assunto. — Lion’s Head.

— Ah Merda. — Eu ri. — Liam, você está pronto para ter


sua bunda chicoteada?

Liam cruza os braços.

— Eles não são assim tão bons.

— Eles são os primeiros na porra da liga. — Eu digo. —


Fico feliz por não jogar futebol. Não temos que lidar com o
constrangimento de chegar em segundo lugar no lacrosse.
— Sim, você fala de um grande jogo, Asher. — Responde
Theo.

— É porque ele não gosta de usar meia-calça. —


Interrompe Eli. — E eu, pelo menos, concordo totalmente.
Saúde. — Ele se inclina sobre Theo e bate sua garrafa de
cerveja contra a minha.

Theo franze a testa para nós.

— Vocês são imaturos.

— Você é quem está usando meia-calça. — Eli murmura.

— Podemos cuidar disso lá fora.

Eu agarro o braço de Theo, e ele cai para trás em sua


cadeira.

— Algo o deixou confuso, Theo?

— Não.

— Uh-huh. — Liam revira os olhos. — Você é o pior


mentiroso.

— Aquela garota foi para Lion's Head. — Os olhos de


Theo são praticamente pretos. — E ela vai aparecer no jogo,
e...

— E nada. — Eu digo, dando um tapinha em seu ombro.


— Você está se preocupando demais.

A raiva rola dele.


— Se eu a vir, vou matá-la, porra.

Eu resmungo.

— Ok, bem, isso não é bom. Alguém quer encontrar algo


melhor para fazer do que ficar por aqui?

Liam salta para cima.

— Há aquela festa hoje à noite na casa de Ian.

— Ótimo. Vamos. — Eu puxo Theo para cima,


empurrando-o à minha frente. Ele é o tipo silencioso, mas
mortal. Honestamente? Eu teria pena da garota que ele quer
matar – se ela pisar em seu caminho é claro.

A raiva pode ser boa à distância. Isso o tornará um


jogador de futebol melhor, e qualquer habilidade que ele
aprender naquele campo podemos usar para o lacrosse.

A campainha toca enquanto estamos empilhados na


cozinha, invadindo a despensa de lanches de Liam.

Com a boca cheia de comida, Eli diz:

— Vou atender.

Todos nós nos reunimos quando tínhamos quatorze anos.


Eli e eu nos conhecíamos desde o ensino médio, e Theo e Liam
se juntaram a nós de uma escola particular vizinha. Na
verdade, eles foram transferidos do Lion's Head. Eu imagino
que foi aí que o ódio de Theo começou.
De qualquer forma, todos nós estávamos com raiva de
uma forma ou de outra, e era natural que gravitássemos um
em direção ao outro. Todos nós formávamos a equipe de
lacrosse e, mesmo como calouros, éramos bons. Bons o
suficiente para começar. No segundo ano, éramos reis.

Caminhávamos pelos corredores adorados pelos outros


alunos. Ajudou o fato de nossas famílias serem feitas de
dinheiro. O pai de Theo fez uma doação para o departamento
de atletismo. Os pais de Liam compraram a porra de um
prédio. E eu? Bem, o conselho escolar sabe temer meu
sobrenome.

Eles sabem o que faríamos com eles.

O esporte não nos tornou apenas intocáveis - mas


também nos tornou amados. Eu não sou surdo. Já ouvi boatos
sobre os garotos de ouro da Elite Emery-Rose. Se as pessoas
soubessem a verdade por trás de nossas máscaras, elas
fugiriam de nós.

Eli volta para a cozinha, seguido por... Savannah.

Eu a observo, deixando minha máscara deslizar de volta


ao lugar. Uma coisa é usá-la – outra coisa é ela vir me chamar.

Seu rosto é uma confusão de pálpebras inchadas e rímel


manchado. Seu queixo está balançando.

Eu não dou a mínima.

— O que você está fazendo aqui? — Eu pergunto.


Ela enrijece, então joga os braços em volta da minha
cintura. Eu levanto minhas mãos longe de seu corpo. Não
quero tocá-la mais do que o necessário – e por que haveria de
querer, se Margo não está aqui para testemunhar?

Isso não faz parte do plano.

Eu não gosto das mãos de ninguém em mim. Exceto


Margo.

— Amelie está voltando. — Ela funga. — Dois meses


antes!

— E isso é uma coisa ruim?

O melhor que posso lembrar é que ela e Amelie são boas


amigas desde o primeiro dia. Margo também fazia parte da
mistura delas. O fato de Savannah abertamente se voltar
contra Margo foi simplesmente delicioso de se ver. A pobre
garota carregou uma tocha por Margo por cerca de um ano, até
que os valentões a espancaram. Crianças de onze anos são
implacáveis.

É difícil ser amiga da filha de uma prostituta da coca.

— Não. — Savannah chora, usando minha camisa para


limpar o rosto. Ela aninha a cabeça no meu peito. — É ótimo,
é só que ela está voltando mais cedo e...

Meu lábio enrola.

E em seu grupo de amigos, Amelie está no comando. A


capitã da equipe de líderes de torcida. A abelha rainha. Ela foi
embora neste semestre, estudar no exterior. E em sua
ausência, Savannah entrou em seu papel quase com
demasiada perfeição.

Não acho que ela precise que eu a lembre de que há


consequências para cada ação.

— Então você está chateada porque ela vai derrubá-la do


topo da pirâmide?

Ela se afasta, olhando para o meu rosto. Ela acena com a


cabeça enfaticamente.

— Sim, sim, é isso. Mas pensei se... talvez você e eu...

Eu a empurro de cima de mim. Já é suficiente.

— Você veio aqui para me propor. Para me usar contra


sua melhor amiga?

Diabinho tortuoso.

Meus amigos saíram da sala.

— Bem…

Eu olho para ela, e ela se encolhe. Normalmente não deixo


ninguém além de Margo e meus amigos verem os demônios sob
minha pele, mas os deixo sair por ela. Ela precisa saber para
ter medo de mim.

— Má ideia, Sav.

— Nós...
Eu sigo em frente. A satisfação se espalha por mim
quando ela dá um passo rápido para trás, depois outro.

— Nós, o quê? Nós fodemos uma vez? Você espalhou


rumores sobre nós namorando, que eu esmaguei dentro de
uma semana? — Eu zombei. — Conte-me. Como foi essa
experiência para você?

Ela fica pálida.

— Eu sinto muito...

— Desça do seu salto alto. — Eu estalo. — Amelie está


voltando, e você vai voltar a ser a segunda... — Eu levanto
minha sobrancelha. — Bem, agora a terceira melhor.

Ela engasga.

— O que?

— Amelie e Margo eram amigas também. E embora ela


não tenha defendido Margo... ela não a odeia tanto quanto
você. — Provavelmente porque só intimidamos você por ser
amiga dela. Das duas, Amelie é a delatora traidora.

Mas eu não digo isso.

Savannah solta uma respiração irregular.

— Eu sou uma idiota. — Ela geme. Ela se vira e corre,


batendo a porta da frente atrás dela.

Eu me pergunto como Margo vai reagir à notícia de que


sua ex-amiga está de volta. Se vai haver fogos de artifício
quando as duas colidirem... especialmente porque Amelie
ainda pensa que estamos namorando.

Parte de mim espera que as ovelhinhas parem de fingir e


derramem o primeiro sangue. Meu pau enrijece com o
pensamento de Margo indo atrás de Amelie. Fantasia
selvagem. Duvido que qualquer uma das garotas jogaria limpo
nessa luta.

Amelie é um meio para um fim... Margo é o fim.

Theo vagueia de volta, com a sobrancelha levantada.

— Cara. Que porra é essa com você e garotas malucas?

Eu ri.

— Eu gostaria de saber.

Infelizmente, só há uma garota louca para mim. E eu só


preciso mantê-la o tempo suficiente para vê-la queimar.
Eu evitei todos, exceto Riley por uma semana. Caleb não
vem me procurar. Ele nem mesmo me olha de longe. Os
agressores voltaram, saindo da toca. Eles batem o meu ombro
com os deles no corredor, chutam minha mochila, murmuram
coisas maldosas.

É tudo muito atropelamento e fuga.

Riley me encurrala depois da escola, contando uma


mentira rápida para Robert sobre ter planos comigo.

— Você está sendo estranha. — Ela se encaixa. — O que


aconteceu?

Eu não posso contar a ela.

Em vez disso, pergunto:

— O que aconteceu com você e Eli? Ele parece ter voltado


a odiar você. — É uma boa distração, porque o rosto de Riley
cai. Ela engancha o braço no meu e me leva até o carro.

— Honestamente, eu nem sei. Ele é estranho. — Ela se


ilumina. — Pelo lado positivo, ouvi dizer que Caleb tem
permissão para voltar a assistir aos jogos de futebol.

Eu me contorço.

— Como isso é bom?


— Porque isso significa que podemos ir... não?

— Não.

— Ele não te carregou para fora de uma festa na frente


de metade da escola? Na minha frente?

— Sim, e agora ele está sendo um idiota. Então. Sem


festas e sem jogos e definitivamente sem meninos de ouro.

Ela bufa, destrancando seu carro.

— Eu vou concordar com você sobre os meninos de ouro.


Pfft. Quem precisa deles?

Vamos para a casa dela. Não é uma mansão como a de


Caleb, mas é legal. Ela tem um quarto enorme com closet e
cama de dossel. Eu me empoleiro na ponta dela enquanto ela
remexe em busca de uma muda de roupa.

— Você sabia que morávamos na casa de hóspedes de


Caleb. — Posso muito bem verbalizar isso no ar, porque é algo
que venho evitando. — Certo?

Ela se vira lentamente, limpando a garganta. Ela parece


nervosa.

— Sim.

— Bem... Ele me levou para a casa dele, e os caras


estavam lá. Eles brigaram – por minha causa, acho, não sei –
então corri. Foi instintivo voltar lá. — Eu estremeço. — Tudo
estava igual ao dia da nossa partida. Eles nem mesmo se
livraram de nossas coisas pessoais.

— Oh, Margo. — Riley sussurra, vindo e se sentando ao


meu lado. — Então você correu para lá e foi como voltar no
tempo?

— Além da poeira, sim. Meu quarto estava intocado. Tipo,


ainda havia um par de jeans no chão da noite antes de tudo
acontecer. — Eu engulo minha dor no coração. — E então
Caleb...

Ela estremece antes mesmo de eu dizer isso.

— Ele estava furioso. E ele não falou comigo desde então.

— Eu diria que ele vai mudar, mas ele foi mal com você,
certo? Talvez seja melhor que você tenha escapado da atenção
dele por enquanto.

Eu aceno sem entusiasmo.

— Sim, talvez.

Era apenas uma questão de tempo antes que a atenção


de Caleb mudasse para algo um pouco mais... Estável. Ele
mesmo disse, eu era apenas um jogo. Savannah era apenas
um meio para o fim desse jogo.

Só no dia seguinte na escola é que me dou conta de como


minhas palavras foram terríveis. Amelie Page, minha ex-
melhor amiga, está parada no centro do pátio. Ela joga seu
cabelo dourado atrás do ombro, sorrindo para o círculo de
pessoas ao seu redor.

E Caleb...

Ele está sorrindo para ela. Ela tem uma mão enrolada em
torno de seu braço, e seus dedos agarram seus bíceps.

— Amelie estava estudando na França como uma


estudante de intercâmbio. — Riley sussurra.

A vergonha se infiltra em minha pele. É uma sensação


fria e vil, e quase me afasto deles. Eu não preciso ver Caleb
com outra garota de quem eu gostava. No entanto, estou
paralisada em sua mão.

E então ela está se afastando da multidão, e murmúrios


a perseguem.

— Margo! — Ela tem sotaque.

Eu tinha esquecido disso ou talvez seja mais evidente


agora que ela está mais velha.

— Bem-vinda de volta.

Eu sorrio. Não pensei em perguntar sobre ela e agora não


estou preparada para o calor em seus olhos.

— Eu deveria dizer isso a você. — Eu respondo.

Ela me dispensa.
— Absurdo. Estou feliz por você estar de volta. Você foi
reintroduzida? Você viu Sav... — Sua sobrancelha
perfeitamente esculpida sobe. — Oh, isso não é uma cara feliz
em nossa querida amiga.

Eu sigo seu olhar para onde Savannah parece ter mordido


um limão. Amelie me leva até ela, jogando o braço em volta dos
ombros de Savannah.

— Nossa amiga está de volta. — Amelie diz a ela. —


Estamos dando as boas-vindas a ela de braços abertos.

É um decreto de uma rainha, se é que já ouvi um.

— E você se lembra de Caleb. — Ela me arrasta até ele.


— Meu namorado.

Todo o meu mundo para.

Eu fico olhando para ela, incapaz até mesmo de olhar


para ele. Seu olhar está em mim pela primeira vez em uma
semana e minha pele coça.

— O que?

— Querida, estamos namorando desde o primeiro ano. —


Ela diz, rindo. Ela joga o cabelo para trás e se aproxima. —
Claro, você pode ter o pegado primeiro... e Sav conseguiu seu
pedaço de carne. Mas ele não é mais seu.

Eu engulo.

— Interessante. Eu não esperava...


Ela sorri.

— O sino está prestes a tocar. Você conhece o caminho?

— Para...

Ela solta meu braço.

— Vamos, Caleb. Vamos nos atrasar.

A campainha toca e eu recuo. Tudo nos últimos cinco


minutos foi... falso.

Meu estômago se revira quando ele oferece o braço para


ela novamente, levando-a embora. O pátio se esvazia em
segundos, assim que as portas são abertas para recebê-los.

Há muito tempo, pensei que Caleb e eu teríamos um


felizes para sempre. Claramente... eu estava tão errada.

Riley me encontra no mesmo lugar que Amelie me deixou.


Segundos ou minutos depois, não sei dizer.

— Foi a coisa mais astuta e brutal que já testemunhei. —


Diz ela.

Eu engulo cacos de vidro. Tenho certeza de que minhas


entranhas estão vazias.

— Sim.

— Você quer faltar?

Eu balancei minha cabeça.


— Eu realmente gostaria que tivéssemos aulas juntas. —
Eu murmuro. — Eu não deveria faltar. Eu deveria ir lá com
minha cabeça erguida...

Ela ri.

— Ok, bem, vou verificar você depois da nossa primeira


aula. Vamos ver como você se sente.

Quando eu chego à sala de aula, não me surpreende que


Caleb e Amelie estejam tão próximos. Ela está praticamente
em cima dele, encostada na mesa enquanto ele está sentado.
A mão dela em seu braço, a mão dele em sua cintura.

Meu telefone vibra.

Desconhecido: Disse para você ficar longe. As ovelhas


mais fracas são comidas pelo lobo primeiro.

Eu franzo a testa, olhando ao redor da sala. Metade das


pessoas na classe está ao telefone.

Eu: Quem é você?

Desconhecido: Você gostaria que fosse assim tão fácil,


não é?

Sim, eu gostaria. Mas acho que seria pedir demais a um


valentão anônimo.

Pelo menos Caleb faz isso na minha cara.

Eu consigo ignorar com sucesso o jeito que Amelie tira o


cabelo de Caleb de seu rosto, e os pios de Eli, e suas amistosas
zombarias. Brincadeira, eu ouço tudo. Mas fica mais fácil
depois das minhas duas primeiras aulas. Eu não tenho nada
a ver com Amelie ou Caleb até o último período.

E porque Robert decidiu que fizéssemos nossos projetos


fora da sala de aula, não há razão para sequer olharmos um
para o outro.

— Você está bem? — Robert pergunta.

Eu percebo que toda a classe está vazia.

— A campainha tocou há alguns minutos. Você ao menos


ouviu?

Eu fico olhando para o meu papel. Estávamos


trabalhando em técnicas de mesclagem com tintas aquarela, e
é uma confusão de cores.

— Desculpe. Tive um dia ruim.

Ele arrasta um banquinho e se senta ao meu lado. Ele


aponta para um dos meus grupos, onde eu consegui fazer o
verde desvanecer em azul.

— Você fez este certo. Você pode ver o azul e o verde, mas
também há o espaço do meio onde se torna uma cor
inteiramente nova.

Eu concordo.

— Sim, é a única coisa que consegui fazer bem.

Ele balança a cabeça.


— Não, só requer prática. Assim? — Ele bate com o lápis
ao lado do laranja em rosa. — Não vemos as duas cores
separadas. Posso?

— Claro.

Ele limpa meu pincel e o mergulha no rosa. Ele puxa o


pincel para baixo, o rosa quase do mesmo tamanho do meu
pequeno quadrado sombreado. Ele repete o processo para a
laranja, tudo maior... e de repente eu posso ver.

— Eu estava perto.

— Às vezes é difícil ter uma visão geral quando você está


muito perto. — Ele olha para mim. — Muito pode ser dito sobre
quando se dá um passo para trás.

— Como o impressionismo.

Ele ri.

— Sim, como isso. Ou relacionamentos. Como você vê as


pessoas e como elas o veem.

Eu penso nisso.

— Você já pensou que você e Lenora são muito...


confusos?

— Nem sempre. — Ele responde.

Deus, esta é a minha primeira conversa sobre


relacionamento? Com uma figura paterna?
— Eu costumava tentar ver apenas o lado bom dela, mas
não funciona assim. Você tem que aceitar cada parte de
alguém. — Ele bate nas minhas cores novamente. — Bem
assim. As cores são boas por si só, mas se você se concentrar
apenas nas partes bonitas, elas ainda são bonitas?

— Não acho que alguém aceitará todas as minhas falhas.


— Eu mantenho minha atenção no papel, não pronta para ver
o que vai acontecer no rosto de Robert em seguida. Eles têm
sido legais – mais do que legais, na verdade. Parece que fui
recebida por uma família completa.

Mas talvez eu só esteja olhando as peças boas para me


convencer de que pertenço.

— Alguém vai. — Diz ele com firmeza. — E não apenas no


sentido romântico. Lenora e eu temos sorte de ter você
também. Tenho certeza que Riley diria o mesmo.

Eu coro.

— Talvez.

Ele dá um tapinha no meu ombro.

— Vamos para casa, garota. A patroa vai nos bater nesse


ritmo.

A escola é como uma cidade fantasma quando saímos da


sala de aula. Caminhamos em silêncio fácil de volta para o
carro dele, e eu lancei um olhar para o campo onde as equipes
começaram a treinar. Posso ver Liam e Theo em suas
camisetas de futebol, fáceis de identificar com seus
sobrenomes nas costas.

No topo da pirâmide das líderes de torcida está Amelie,


sorrindo como uma conquistadora. No segundo nível,
parecendo sentir dor com o joelho de Amelie nas costas, está
Savannah.

Interessante.

Na semana passada, ela estava por cima. Dou crédito a


ela onde é devido: ela é uma boa líder de torcida. Exceto,
claramente, Amelie é melhor. Mais brilhante. Inferno, ela
irradia alegria mesmo quando não está tentando.

Eu dou um passo mental para trás. Talvez ela esteja


tentando, e esse é o segredo dela.

E talvez…

— Margo?

Eu paro e minha cabeça vira para frente. Eu estava a


cerca de um centímetro de entrar no carro de Robert.

— Oops.

Ele franze a testa.

— Você pensou mais em tentar um esporte?

— Eu não sei o que eu faria. — Eu digo.

Ele encolhe os ombros.


— Se você gosta de esportes de inverno, há basquete ou
hóquei no gelo – temos excelentes equipes femininas em
ambos. Na primavera, tem remo, tênis, lacrosse...

Eu me animei.

— Remando como... no rio?

— Sim, eles acordam cedo, no entanto. Eu acho que eles


praticam antes da escola. — Ele destranca o carro e dá de
ombros. — Eu não vou pressioná-la. Há muitas coisas que você
pode fazer, e podemos organizar passeios para que você
pratique se decidir ir remar.

— Vou pensar sobre isso. — Eu puxo o esporte no meu


telefone, lendo sobre isso enquanto ele dirige de volta para sua
casa. Nossa casa.

O remo – também chamado de tripulação – pode ser feito


em um barco de uma pessoa ou em equipes de até oito. Não
sei o que Emery-Rose Elite oferece, mas os vídeos de pessoas
deslizando sobre a superfície da água são fascinantes.

— Acho que quero tentar. — Digo, assim que saímos do


carro. — Você sabe quando são os testes?

— Não, mas posso descobrir.

Ele abre a porta e somos recebidos com um cheiro


maravilhoso.

— Estamos em casa, Len. Sua culinária é maravilhosa!


Ela vira a esquina usando um avental vermelho brilhante.
Ela sorri para nós.

— Na hora certa.

— Para quê? — Eu pergunto. Mal são três e meia.

— Para você me ajudar. — Ela puxa algo de trás das


costas, estendendo-o para mim.

— Meu próprio avental? — Eu pergunto.

É azul claro.

Um nó se forma na minha garganta.

— Sim, tem o seu nome e tudo. — Ela bate no Margo


bordada no canto superior esquerdo. — Vamos, antes que eu
queime tudo.

Largo minha bolsa e a sigo até a cozinha, onde há um


milhão de tigelas. Ok, mais como seis, mas ainda assim.

— Isso é... — Eu engulo.

— Esmagador? — Ela dá um tapinha no meu ombro e


sacode meu avental, colocando-o na minha cabeça.

Eu pego os laços e prendo na minha cintura.

— Vamos começar com alguns vegetais. Vou te mostrar


como picar uma cebola sem chorar e depois passaremos para
coisas mais fáceis.
Ela me mostra, e admito que é uma professora tão boa
quanto Robert. Talvez seja por isso que eles são felizes juntos.
Ela começa a trabalhar temperando frango e preparando o
forno. Trabalhamos em silêncio por alguns minutos.

— O que estamos fazendo?

— Achei que deveríamos começar com frango à


parmegiana. — Ela diz. — Mas precisamos fazer o molho,
então, quando terminarmos com as cebolas, vamos colocá-las
no óleo com um pouco de alho, depois adicionar nossos
tomates assados no fogo e a lata de molho. — Ela levanta um
ombro. — Eu gosto de trapacear um pouco.

— Parece bom para mim.

A refeição é feita rapidamente, e a tarde voa para a noite.


Uma hora depois, ela me entrega luvas de cozinha e me deixa
pegar o prato do forno. Frango com queijo e molho nos
cumprimenta. A parte superior do queijo é perfeitamente
crocante e tem um cheiro incrível.

— Eu não pensei que seria capaz de fazer algo assim. —


Eu admito. Eu o carrego para a mesa e coloco em um descanso.

Lenora traz a salada que preparamos, junto com uma


tigela de macarrão e pão de alho. Um banquete completo.

— Eu não teria sido capaz de fazer isso sem a sua ajuda.


— Diz ela. — Minha mãe uma vez me disse para ter pelo menos
uma refeição na qual você seja boa. Que você pode fazer para
festas ou feriados. Se você tiver mais de uma, tudo bem.
Sempre adorei um bom frango com parmesão. Parece que isso
tem gosto de casa.

Eu sorrio.

— Isso é bom.

— Se você quiser escolher uma refeição para aperfeiçoar


do seu jeito, podemos pegar os ingredientes e fazer na próxima
semana. — Ela oferece.

— Isso seria divertido.

Robert entra, olhando para a mesa.

— Minha boca está salivando há meia hora. — Ele


adverte. — E agora que está pronto, você nem me chama?

Lenora ri, beijando sua bochecha.

— Estávamos prestes a chamar querido. Lave as mãos.

— Sim, senhora.

Todos nós sentamos, hesitando por uma fração de


segundo antes de mergulhar na comida. Eu coloco uma
mordida na minha boca e gemo. Tem um gosto dez vezes
melhor porque eu o fiz.

— Comida feita com amor. — Lenora suspira. — Sempre


tem gosto bom para o estômago e a alma.
Robert diz a ela que estou pensando em praticar um
esporte, e eu falo no remo. Para minha surpresa, seu sorriso
se alarga.

— Esse era meu esporte na faculdade. — Diz ela. — É


muito trabalho duro, mas muito divertido. Eu conheço a
treinadora da Emery-Rose. Na verdade, estávamos no mesmo
time na faculdade. Vou conversar com ela amanhã e descobrir
quando são os testes. — Ela mexe as sobrancelhas. — Talvez
você queira alugar um barco comigo. Eu ficaria feliz em
oferecer algumas dicas e ver se é algo que você gosta.

— Eu gostaria disso. — Murmuro.

Isso é muito vínculo familiar. Muito de…

É difícil conhecer o amor quando você não o recebeu de


seus pais.

Depois de comer, vou para o meu quarto. Há lição de casa


para terminar e mídia social de Caleb para perseguir. Eu
mentalmente adiciono Amelie à minha lista também.

Já é tarde quando pego meu telefone e olho para a tela.

Desconhecido: Não fique muito confortável, princesa das


drogas. Uma vez desgarrado, sempre desgarrado.

Eu me encolho, deixando meu telefone cair no chão. Há


uma gota de verdade nas palavras da pessoa misteriosa. Mas
isso veio dez minutos atrás.
Alguém me viu cozinhando com Lenora? Ou talvez saindo
com Robert?

Resolvo não olhar os textos. Fecho meus livros e coloco-


os de volta na bolsa, escovo os dentes e me troco, depois deslizo
para baixo das cobertas. Talvez um pouco de paz venha para
mim quando eu dormir.
Meus olhos se abrem enquanto minha cama afunda.

Há uma sombra pairando acima de mim.

Abro a boca para gritar, mas tudo o que sai é um chiado


rouco antes de uma mão apertar a metade inferior do meu
rosto. Dedos fortes cavam em minha pele.

— Calma, amor. — a voz sussurra.

Pisco algumas vezes, tentando não hiperventilar e,


finalmente, meus olhos se concentram em Caleb.

Ele afasta a mão dos meus lábios, levantando uma


sobrancelha.

— O que você está fazendo aqui?

— Eu sou indesejado?

— S-sim. — Eu gaguejo. Tento me sentar, mas ele está


deitado em cima do meu edredom. Isso me fixa no lugar. —
Saia.

Ele parece contemplar isso por um segundo, então revira


os olhos.

— Não.
Eu o observo com cautela. Ele se levanta, tirando os
sapatos. Ele puxa a ponta do meu edredom e desliza para
baixo.

— O que você está fazendo? — Eu sussurro.

Ele se move para baixo para que possamos ficar cara a


cara. Ele coloca o cotovelo no meu travesseiro, apoiando a
cabeça.

— Você nunca se desculpou.

Eu começo.

— O que? Por que eu iria me desculpar?

— Por entrar na minha casa de hóspedes sem permissão.

Eu empurro meu cotovelo também, estreitando meus


olhos.

— Desculpe-me, Sr. Alto e Poderoso...

Sua mão livre dispara, agarrando minha garganta e me


forçando de costas. Ele se inclina sobre mim, a imagem da
calma.

— Não me teste.

— Foi meu...

Seus dedos se apertam e eu automaticamente paro de


falar.
Demoro muito para perceber o perigo. Aquele bom Caleb
não está aqui esta noite – seus demônios estão.

— Caleb. — Eu grito. Eu mal consigo respirar. Meu rosto


está pegando fogo. — Eu sinto muito.

Ele afrouxa o aperto, mas seu rosto ainda é uma máscara


calma. Eu não confio nem um pouco.

Sua mão se move sobre minha clavícula e desce no centro


do meu peito.

— Você não está usando sutiã?

— É o meio da noite. — Eu respiro.

Seu dedo bate em um dos meus mamilos. Meus músculos


se contraem em resposta.

Ele vai para a bainha da minha camisa. Tento lutar com


ele, mas de repente ele está pairando sobre mim. Ele pega
meus braços e os mantém acima da minha cabeça.

— Não se mova. — Ele ordena.

Minha respiração sai ofegante.

— O que você vai...

— Não fale.

Eu pressiono meus lábios enquanto seus dedos voltam


para a bainha da minha camisa. Ele a levanta lentamente,
revelando meu estômago, minhas costelas, meus seios. Ele
massageia um seio em sua mão, os dedos rolando meu mamilo
duro e beliscando. Dor e prazer passam por mim. Minhas
costas arqueiam para fora da cama e eu fecho meus olhos.

Meu coração salta quando sua boca quente toca meu


outro seio, apertando meu mamilo. Cada nervo está em
chamas, implorando para ser tocado. Mas não consigo falar.

Sua língua gira na minha pele. É o único aviso que recebo


antes de ele me morder. Duro.

Eu grito, minhas mãos descendo e empurrando sua


cabeça.

Ele levanta a cabeça, sorrindo para mim.

— Eu te avisei para não se mover, amor.

Ele se levanta, varrendo meus lençóis da cama. Ele agarra


o cós do meu short e puxa para baixo, levando minha calcinha
com ele.

Estou queimando de vergonha e um pouco de desejo


demais por esta situação. Ele deixa cair meu short, segurando
minha calcinha de renda branca em uma mão. Com a outra,
ele prende meus pulsos. E então, usando minha calcinha, ele
amarra meus pulsos na cabeceira da cama.

Eu o observo com apreensão, mas deixo acontecer. Parte


de mim está animada para ver o que acontece. Eu tenho que
saber o que acontece a seguir.
Ele se deita ao meu lado, olhando para o meu corpo nu.
Ele traça um dedo da velha marca de mordida no meu peito,
do meu estômago até o meu núcleo. Ele passa pelas minhas
dobras e eu cambaleio de surpresa.

— Você está encharcada. — Ele murmura. — Porque eu


amarrei você? Mordi você?

Não posso responder enquanto ele responde de novo.

— Se olhares pudessem matar. — Ele murmura. Ele enfia


um dedo em mim sem aviso. — Tão fodidamente apertada.

— Eu...

Ele sela seus lábios sobre os meus, mordendo meu lábio


com força suficiente para tirar sangue. Eu só fico mais
molhada. Um dedo dentro de mim se transforma em dois,
assumindo um ritmo que tento combinar com meus quadris.
É um sentimento estranho – e um do qual preciso mais. Agora
mesmo.

Eu o mordo de volta, puxando contra a restrição. Se ele


não estivesse me beijando, roubando minha respiração, eu
estaria fazendo sons ímpios. Ele está me trabalhando cada vez
mais alto, seu polegar brincando com meu clitóris enquanto
seus dedos mergulham dentro de mim.

Estou totalmente aberta.

Ele beija meu queixo, minha garganta.

— Você vai gritar? Despertar seus pais adotivos?


Há algo de sujo sobre ele estar totalmente vestido
enquanto eu estou nua.

Há algo inexplicavelmente agravante em como me sinto


impotente.

— Não. — Eu sussurro. Eu fico olhando para ele. — Eu


não gritaria. Agora não. E certamente não...

Ele empurra um terceiro dedo em mim, analisando minha


reação. Meus lábios se abrem, palavras morrendo na minha
garganta. Eu amplio meus olhos com a nova sensação de
alongamento.

Sua outra mão vai para minha garganta, acariciando o


local onde tenho certeza que ele pode sentir meu pulso
saltando para fora da minha pele. Seus olhos brilham com
desafio.

— Você...

— Não me peça para te foder, amor. — Ele sussurra. —


Porque quando eu fizer isso, você estará gritando meu nome.
— Ele se agarra ao meu mamilo novamente, sugando com força
antes que seus dentes arranhem minha pele.

Eu recuo, lutando contra o sentimento.

— Goze para mim. — Ele rosna. Ele bate seus lábios nos
meus e dá um tapinha no meu clitóris, forte o suficiente para
parecer um tapa.
Eu pulo, gemendo em sua boca quando o orgasmo me
atinge. Meu núcleo pulsa em torno de seus dedos.

Ele leva tudo.

Tudo.

E, no entanto, há uma expressão em seus olhos que diz


que ainda nem começamos.

Ele levanta os dedos, eles estão brilhando ao luar fraco.


Ele os coloca nos meus lábios.

— Chupe.

Já fizemos isso antes.

Abro a boca para mandá-lo se foder, mas ele aproveita a


abertura. Ele enfia os dedos na minha boca, e o meu gosto
toma conta dos meus sentidos. Timidamente, eu toco minha
língua em seus dedos. Ele pressiona minha língua e a saliva
enche minha boca.

Seu olhar está preso em meus lábios.

Eu mordo seus dedos, carrancuda para ele, e ele se


afasta.

Ele sorri.

— Não te considerei um jogo de sangue. — Ele me vira


para que minhas costas fiquem contra sua frente. Ele coloca a
mão na minha barriga, me pressionando contra ele.
É possessivo e ainda estou irritada. A parte mais
surpreendente: ele tem uma ereção. Ele toca minha bunda, e
eu não posso deixar de mover meus quadris para trás
levemente, imaginando como ele está.

Sua mão sobe e belisca meu mamilo novamente.

Eu congelo.

— Cuidado amor, a menos que você não queira acordar


seus pais adotivos gritando meu nome.

Eu franzo a testa.

Sua risada lenta vibra em seu peito.

— Apenas durma.

E a parte mais surpreendente: eu durmo.

Caleb se enrolou ao meu redor para afastar os pesadelos,


e eu acordo uma vez, no meio da noite, para descobrir que eu
tinha revirado no meu sono. Minha bochecha está colada em
seu peito, a cabeça enfiada sob seu queixo, e estou envolta em
torno dele como um polvo.

Por mais que me perturbe, eu deixo que seu tranquilo


shiu me faça adormecer de novo.

De manhã, ele se foi.

Eu me estico, virando de costas e percebo que ele deve ter


saído pela janela não muito tempo atrás. O local onde ele
estava deitado ainda está quente.
Eu tremo. Não é que eu não goste do que aconteceu... é
que eu não pedi por isso. Não pedi sua atenção ou seu
tormento. E mesmo que eu goste de Caleb, ele é maluco. Ele
está entrando na minha cabeça. E eu preciso que ele saia.

Isso é exatamente o que eu pedi na outra noite. Deixei


minha janela aberta para o diabo e fiquei chateada quando ele
não apareceu.

Minha cabeça dói com a confusão de tudo isso.

Riley me pega para ir à escola, dizendo a Robert – minha


carona habitual e confiável – que precisamos de uma conversa
de garotas antes da escola. Uma vez que estamos trancadas
em seu carro, um café gelado na mão, ela olha para mim.

— Você vai falar ou o quê?

— Falar sobre...

— Tudo, Margo. Acho que é hora de conversarmos sobre


seus segredos.

Eu faço uma carranca.

— Seu suborno não vai funcionar.

Ela revira os olhos e alcança o banco de trás, revelando


uma sacola da cafeteria. Eu abro, olhando para o muffin.

— Ok, o suborno pode funcionar. — Eu digo. — Eu


conheci Amelie e Savannah na escola primária. E Caleb, é
claro.
— Certo. Você conhecia mais do que apenas eles, eu acho.

— Bem, sim. Mas eles são os mais importantes. Eu só...


Amelie disse que está namorando Caleb? Que ele é namorado
dela. — Eu mordo meu lábio inferior. — Ele entrou no meu
quarto ontem à noite.

Ela engasga.

— Com licença?

— Ele... — é mau.

— Isso é tortuoso. — Ela diz. — Ser um jeito na escola e


outro depois? O que ele está tentando fazer? Confundir o
inferno fora de você?

— Eu acho. O bullying está piorando. Mais cedo ou mais


tarde, Robert vai perceber.

Ela estremece quando estacionamos.

— Eh, os professores não ouvem tudo...

— Mas eles ouvem o suficiente.

Do outro lado do estacionamento, Caleb e seus amigos


caminham em direção ao pátio. Ele está absorvido em uma
conversa com Eli. Amelie trota e se joga nele, um movimento
que ele se esquiva por pouco. Vou dar um crédito a ele: ele faz
parecer um acidente feliz.

Ele diz alguma coisa e ela recua, distanciando seu rosto.


— Quer saber do que se trata? — Eu pergunto.

Comemos no carro, colocando o lixo no banco de trás


antes de descer. O medo sobe pela minha garganta.
Deslizamos ao longo da borda do pátio, encontrando um local
vazio para ficar. Riley deixa cair sua mochila no chão,
levantando os ombros.

— A quantidade de dever de casa que eles nos obrigam a


fazer. — Diz ela. — Eu preciso de uma sala de estudos no final
do dia. Isso resolveria muita coisa.

Eu encolho os ombros.

— Há sempre o próximo ano.

— Vamos para aquela festa na sexta-feira? — Riley


pergunta. — Eli mencionou...

Suas bochechas ficam vermelhas quando eu olho para


ela.

— O que? — Ela murmura.

— Quando Eli mencionou isso? — Eu não posso evitar o


sorriso malicioso que rasteja sobre meus lábios. — Ele está
sendo legal agora?

— Eu acho. Ele mencionou isso enquanto você estava se


escondendo do mundo. Você sabe, ignorando sua melhor
amiga e outras coisas. — Ela me dá uma cotovelada.

Eu balancei minha cabeça.


— Sim, desculpe por isso. É só... — Minha voz some.

Ian Fletcher caminha em nossa direção.

— O que ele quer?

Riley descobre para quem estou olhando.

— Ah não.

— Ei, ovelha. — Ian chama.

Eu juro, todos param o que estão fazendo e ficam


olhando.

— O que você vai fazer agora que seus quinze minutos de


fama acabaram?

Minhas palmas suam.

Ian continua vindo.

— Você vai passar para outra pessoa?

— Vá embora, Fletcher. — Riley se encaixa.

Ele zomba.

— Eu vou te dizer, ovelha. Mantenha sua boceta de puta


longe de mim e de meus amigos. Deus sabe que você já causou
danos suficientes.

— Esse é novo. — Eu digo.

Ele entra no meu espaço, inclinando-se para ficarmos


cara a cara.
— Eu estive me perguntando o que você fez para fazer sua
mãe prostituta fugir. Mas então eu percebi... — Ele faz uma
pausa e sorri para mim. — É apenas um defeito de
personalidade do caralho.

Imagens de minha mãe partindo passam em um flash na


frente do meu rosto. O aperto do meu pai em volta da minha
cintura enquanto eu gritava e implorava para ela ficar.

Lágrimas enchem meus olhos e ele ri. Eu corro para fora


do pátio.

Riley chama meu nome, mas é mais fácil simplesmente


deixar tudo para trás. Corro pelos campos de jogos, subo um
caminho para a floresta. Assim que estou fora de vista, paro e
me inclino contra uma árvore.

— Foi um show e tanto. — Diz Theo, vindo atrás de mim.


— Embora, para ser justo, eu só vi pelo meu telefone.

Eu me viro, pressionando minha mão no meu peito. Ele


não veio da direção da escola. Eu o vi entrando com Caleb, mas
ele deve ter se afastado. Para vir aqui...

Ele apaga um cigarro contra uma árvore e o joga na


floresta, piscando para mim.

— Nosso segredinho, certo?

Ele pisca a tela do telefone para mim. Ian ficando na


minha cara é tudo que posso ver, então ele desliga e enfia no
bolso.
— O que você quer? — Eu pergunto, usando minha
manga para enxugar meu rosto.

— Eh, acho que quero saber por que Ian conseguiu uma
reação tão visceral de você. Deus sabe que Caleb está tentando
fazer o mesmo há semanas.

Eu encolho os ombros e olho para longe.

— Ele tocou em um nervo.

— Sua mãe.

Há um brilho em seus olhos que não gosto.

Eu me endireito e o encaro.

— Se você correr de volta e contar a Caleb que essa é


minha fraqueza secreta vou destruí-lo.

Ele ri. Risos.

— Sempre quis ouvir como seria ser ameaçado por uma


criança.

Eu me afasto dele.

— Eu vim aqui para ficar sozinha. Não…

— Acompanhada?

Eu bufo.

— Eu estava voltando. Eu deveria ter oferecido a você um


trago antes de jogar o baseado. — Ele vem ao meu lado,
oferecendo o braço. — Além disso, isso não é exatamente o que
você precisa?

Eu olho para ele. Claro que não era um cigarro. O astro do


futebol deles não arruinaria seus pulmões assim. Em vez
disso, ele está se drogando na floresta atrás da escola.

— Liam ia fazer esta oferta, mas estou feliz por vencê-lo.


— Diz ele. — Você quer a atenção de Caleb.

Eu me endireito.

— Nós entramos lá juntos, fingimos namorar... isso vai


tirar as líderes de torcida das minhas costas e Caleb vai colocá-
la nas suas. — Ele sorri. — Vencer/Vencer.

— Fingir sermos namorados? Isso é meio cafona...

— É um truque útil. Parte da velha escola. — Ele encolhe


os ombros, seu braço ainda esticado em minha direção.

— Por que você está sendo legal? — Eu exijo.

Ele bufa.

— Quem disse alguma coisa sobre legal? Liam não é o


único que gosta de irritar Caleb.

Eu não o ouvi dizer mais de uma frase para mim, e agora


estamos tendo uma conversa completa. Sobre… Caleb. A única
pessoa sobre a qual prefiro não falar.
— Apenas admita que a ideia dele e Amelie está te
deixando maluca. — Ele diz suavemente. — E vamos fazer algo
sobre isso.

Eu levanto minhas sobrancelhas.

— Você gosta dela?

— Eu?

— Sim, você parece como eu me sinto. — Há algo em seus


olhos e quero conhecê-lo mais. Ele é tão monstruoso para
alguém quanto Caleb é para mim? Como Eli é para Riley?

— Amelie não é quem eu odeio. — Ele responde. — Mas…

Eu me inclino.

— Não estamos aqui para discutir sobre ela. — A parede


atrás da qual ele normalmente se esconde está de volta.

Posso sentir que ele vai renegar sua oferta, então


rapidamente envolvo seus bíceps com meus dedos.

— Se der errado, acabou.

Ele pisca.

— O que você disser, querida.

Isso não vai acabar bem.

Ele olha para o relógio enquanto atravessamos o campo


de futebol.
— Não necessariamente o melhor momento. — Diz ele. —
Mas é bom o suficiente para mim.

As portas do pátio já estão abertas e o corredor lotado. O


silêncio vem em ondas. Primeiro as pessoas mais próximas de
nós, e então a parada brusca do resto da escola rola como
dominó.

— Finja que gosta de mim. — Diz ele entre os dentes.

Eu engulo minha apreensão e me aproximo, sorrindo


para ele.

— Parece que você engoliu uma caixa de grampos. —


murmuro.

Ele ri. Ele ecoa pelo corredor.

E de alguma forma, ele consegue ignorar todos os outros


ao nosso redor. Ele nos leva para a sala de aula, onde Caleb e
Amelie estão sentados em um canto.

As sobrancelhas de Liam disparam.

Eli está impressionado.

Silêncio mortal.

— Você sabe... — sussurra Theo, inclinando a cabeça em


direção à minha — você está realmente colocando uma chave
no meio do meu grupo de amigos.
— Eu caí em uma armadilha? — Eu olho para ele. Ele é
um pouco mais alto que Caleb. — O seu plano é dizer, 'Ha, ha,
eu enganei a Margo?

Ele sorri.

— De modo nenhum.

E então Caleb está sobre nós, empurrando Theo para


longe de mim. A força disso deve surpreender Theo, porque ele
cambaleia para trás. Tenho a impressão de que Theo não é
alguém facilmente movido.

O rosto de Theo se transforma em uma máscara de raiva


e ele avança. Eu nem acho que ele está tão bravo com Caleb –
eles só querem uma desculpa para bater um no outro.

Alguém me puxa para fora do caminho.

Eu olho para trás, surpresa com o aperto firme que me


puxa para fora da porta. Amelie.

Seus lábios estão pressionados em uma linha fina, e ela


não cede até que estamos no final do corredor e viramos a
esquina.

— Para o que foi aquilo? — Eu estalo.

— O que você está fazendo? — Ela joga o cabelo para trás


do ombro, lançando punhais para mim.

— Eu? Eu entro em uma sala e seu namorado fica louco.


— Isso é o que você queria, eu me lembro. — Talvez você deveria
ter o arrastado aqui fora para perguntar-lhe por que ele está
tão aborrecido.

— Oh, pare de fingir, Margo. — Ela desvia o olhar. —


Todos nós sabemos que ele só vê você.

Sua bravata de garota má vai embora, pedaço por pedaço.

— Eu não quero que ele faça isso. — Eu minto. É por isso


que concordei em andar de braço dado com Theo em primeiro
lugar. Eu sabia que isso traria problemas. Theo também sabia
disso.

Se eu estou jogando uma chave em seu grupo de amigos,


não é sem ajuda.

Amelie apenas balança a cabeça.

— É triste, sabe?

Eu inclino minha cabeça.

— Que ele escolha você... Bem, acima de todos. Você não


vale a pena, Margo.

Eu recuo.

Ela continua:

— Ele não lutou por você. Lembre-se disso quando ele


estiver dentro de você.

Nós duas nos viramos para uma comoção no final do


corredor, e ela não nota o meu passo rápido para longe dela.
Não é seguro ficar ao lado de uma víbora, nunca foi, nunca
será. Raiva e auto aversão se misturam em meu estômago. Ou
eu acredito nela ou confio na minha intuição.

Mas o que acontece se eles estiverem me dizendo a


mesma coisa?

Caleb caminha em minha direção, ignorando o professor


que o está seguindo. Eu espero que ele vá atrás de Amelie.
Afinal, eles estão namorando. Talvez ele a empurre contra os
armários e a beije bem na minha frente, só para enfiar a faca
mais fundo.

Ele me tocou. Ele fez coisas más ao meu corpo. Para


minha mente.

E, no entanto, ele não é meu.

Ele não lutou por você. Lembre-se disso.

Eu observo Amelie enquanto ele se aproxima. Ela não


parece com medo... apenas resignada.

E então ele coloca o braço em volta da minha cintura e


me puxa junto com ele. Eu grito, movendo-me de repente, mas
ele apenas rosna baixinho.

Eu lancei um olhar para trás. Amelie se apoia nos


armários, sua cabeça inclinada para trás.

Então é tarde demais. Estamos fora da porta lateral, indo


rápido demais em direção aos carros. Ele destranca o dele e
abre a porta, me empurrando para dentro. Eu começo a sair –
isso é sequestro – mas ele bloqueia meu caminho e se inclina.

Ooh, ele está furioso.

— Fique.

Eu reviro meus olhos, mas me coloco de volta no carro.


Ele bate à porta e circula quando outra professora sai, a
diretora atrás dela.

— Ela não está se sentindo bem. — Ele diz. — Vou levá-


la para casa.

A diretora tem uma expressão em branco. Tenho vontade


de pular do carro, mas é tarde demais: ele sobe e nos tranca,
e em questão de segundos estamos voando para fora do
estacionamento.

Ficamos em silêncio. Sua raiva consome quase todo o


oxigênio, mas quanto mais tempo permanece, mais furiosa
fico.

Ele finalmente sai da estrada em um mirante e eu salto


para fora. Ele me segue, olhando como um leão esperando para
atacar, porra. Tenho eletricidade em minhas veias, energia que
precisa sair.

— Não é legal. — Eu esfrego meus braços.

— Não é legal? — Ele franze a testa para mim. — Que


porra é essa, Margo?
Eu fico olhando para ele.

— Que porra é essa? Como se eu devesse ficar sentada de


lado e assistir você namorar minha ex-amiga? Eu tenho uma
vida.

— Não com a porra do Theo, você não tem. — Ele para de


repente, andando na minha frente. — Eu não posso fazer isso.
Eu não posso...

— Oh, foda-se, Caleb. — Não posso fazer isso. Ele está me


dando nos nervos, sempre amoroso. Eu chuto o chão, o
cascalho se espalhando à minha frente. — Não pode fazer o
quê?

Ele vem em minha direção.

— Como você rastejou sob minha pele tão facilmente?

Eu recuo, mas ele continua vindo.

— Eu vou matar quem tocar em você. Eu não dou a


mínima se eles são meus amigos, porque tudo o que importa
sou eu. Meu toque. Minhas palavras.

Eu o empurro para longe de mim, meu temperamento


queima. O idiota mal se move.

— Isso é bom, Caleb. Seja o maníaco por controle grande


e mau enquanto beija sua namorada e a trai! — Eu grito. Estou
tão feliz por estarmos sozinhos, porque não posso abaixar
minha voz. — Eu não sou uma marionete cujas cordas você
pode mexer.
Seu rosto está escuro.

— Eu não quero mexer nos seus cordéis, amor. Eu quero


cortá-los.

Ele volta para o carro, a conversa aparentemente


encerrada. O leve medo de que ele me deixe aqui, como ele me
deixou em sua casa, me atormenta. Eu entro no carro antes
que ele possa latir para mim, e estamos mais uma vez
sepultados em silêncio.

Finalmente, eu olho para ele.

— Você não pode simplesmente... — Eu paro, frustrada


comigo mesma. Com ele. O que ele está tentando fazer, me
isolar?

Sim, provavelmente é exatamente o que ele quer.

— Eu não sou uma ilha que você pode fortificar. —


murmuro. — Eu sou uma pessoa.

Ele me encara.

— Você pode pensar assim, amor, mas você é minha. Pare


de me testar.

Não tenho nada a dizer sobre isso.

Pare de me testar. Claro – assim que ele perder a


namorada. Eh, mesmo assim... talvez não. Ainda assim, ele
pode me jogar para fora do carro se eu discutir, e o cansaço
puxa meus ossos. Ele me leva de volta para a escola,
estacionando e me escoltando para a minha aula como um
guarda-costas enorme.

Eu entro na sala de aula e me sento no meu lugar, e


ninguém diz uma palavra maldita.
Depois da escola na sexta-feira, meu telefone vibra.

Caleb: Venha para o jogo comigo.

Eu faço uma careta. De jeito nenhum. Eu seria


crucificada. Seria pior do que a vez em que ele me carregou
para fora da festa. Pelo menos então, as pessoas foram capazes
de descartá-lo como uma coisa única.

Eu o tenho ignorado. Ele está ignorando Amelie. Faz


apenas dois dias, mas...

Rumores circulam de que ela foi traída e abandonada. Ela


fica amuada atrás de uma parede de líderes de torcida, que
enviam olhares de ódio em minha direção. Eles ofereceram a
mesma cortesia a Riley, embora Riley ande como uma sombra
metade do tempo.

A garota tem um talento sério de permanecer sob o radar,


isso é certo.

E Caleb? Theo? Todos eles têm agido como se nada


estivesse errado. Theo envia uma piscadela ocasional na
minha direção, e Caleb rosna para ele baixinho.

Ele é pior do que um cachorro selvagem.

Caleb: Me responda.
Caleb: Eu sei que você está lendo isso. Você não vai gostar
da alternativa.

Eu: Você está com Amelie.

Eu acho. Honestamente, talvez ele a tenha largado.

Caleb: Isso não nos impediu na outra noite.

Ele não tem limites.

Eu o fiz assim?

Eu mordo meu lábio enquanto digito uma resposta.


Claro, isso poderia absolutamente sair pela culatra para mim.
Ele pode se tornar pior do que já é. Como? Não sei, mas tenho
certeza de que ele pensaria em algo.

Ele conseguiu me irritar e, por mais que eu tente limpá-


lo, ele não está saindo. Inferno, acho que ele nunca foi embora.

E ele me acusou da mesma coisa.

Eu: Vou com você se puder ver minha antiga casa.

Há uma longa pausa. Meu coração está batendo tão forte


que é a única coisa que posso ouvir. Estou surpresa com a
reação violenta do meu corpo. Meu estômago se revira, com
cãibras e eu pulo. Acho que vou vomitar. Corro para o banheiro
e me inclino sobre o vaso sanitário, fechando os olhos. Eu
vomito e todo o meu corpo balança. Eu engasgo, cuspo e limpo
minha boca.
Cheia de vergonha, escovo os dentes e volto para o quarto.
Eu respiro fundo antes de verificar meu telefone. Ele
respondeu há apenas um minuto.

Caleb: Combinado.

Caleb: Prepare-se. Estarei aí em dez minutos.

Eu estremeço e desço as escadas correndo. Eu deslizo


para a cozinha, onde Lenora está fazendo o jantar.

— Hum, tudo bem se eu for ao jogo de futebol?

Ela olha para mim.

— Você vai de uniforme?

Eu olho para minha saia e camisa branca. Opa.

— Não, ainda não tive tempo de me trocar...

— Você vai com Riley?

Estou de mau humor há quase uma semana e meia, e


Caleb não está em lugar nenhum. Eu provavelmente chegaria
à mesma conclusão.

A campainha toca, e eu xingo baixinho.

— Eu atendo. — Robert grita. Um minuto depois, ele diz:


— Ah, Caleb. Bom te ver.

Lenora levanta as sobrancelhas para mim.


Eu encolho os ombros, impotente. Caleb entra na cozinha
atrás de Robert.

— Encontrei seu amigo. — Robert me diz. — Você estava


esperando por ele?

— Não. — Eu digo, ao mesmo tempo em que Caleb


responde:

— Sim.

Eu olho para ele.

— Ele perguntou se eu iria ao jogo, e eu estava apenas


pedindo a Lenora...

— Desculpe, Sra. Jenkins. — Caleb se aproxima de mim.


Como da última vez que tentamos ir a um jogo juntos, ele usa
as cores ouro e preto de nossa escola, uma jaqueta preta sobre
sua camisa Emery-Rose. Para mim, ele diz: — Está um pouco
frio, talvez você queira mudar...

Eu coro.

— Certo. Se eu puder ir...

— Claro. — Lenora deixa escapar. — Não queremos


restringir sua experiência social, especialmente agora que você
está ganhando mais...

— Obrigada! — Eu me inclino para longe de Caleb,


lançando a Lenora um olhar que espero se traduzir em, Por
favor, não me envergonhe.
Ela sorri timidamente.

É uma coisa tão surpreendente de mãe e filha que quase


me deixa muda.

Eu corro de volta para o meu quarto e coloco uma calça


jeans preta. Encontro uma camisa dourada com o logotipo
Emery-Rose e uma jaqueta preta. Tardiamente, eu percebi que
Caleb e eu vamos combinar.

Você está vestida para torcer pelo time de futebol, eu me


lembro. Claro que vamos combinar. Nós e quinhentas outras
pessoas.

Retoco minha maquiagem e coloco minhas botas. Quando


eu desço, encontro Caleb e Robert discutindo a equipe de
lacrosse, pelo que parece. Ambos olham para mim.

— Pronta? — Caleb pergunta.

Eu aceno, mordendo meu lábio. Isso parece uma


armadilha, mas a antecipação gira em mim. Vou ver minha
casa novamente, mais do que apenas uma olhada.

Ele coloca a mão nas minhas costas, me impulsionando


para fora da casa em direção ao seu carro.

— Você está tramando alguma coisa. — Ele murmura.

Eu levanto um ombro.

— Não tenho certeza do que você quer dizer?


Eu sento no banco do passageiro, fechando a porta na
cara dele.

Assim que ele entra, ele me olha.

— O que você mais quer no mundo?

Eu respiro fundo.

— Eu não sei.

— Eu acho que você sabe. — Ele corre em direção a sua


casa.

Assim que chegamos, eu o sigo pela calçada lateral. Meu


estômago está doendo novamente.

É aqui que meus pais costumavam estacionar. Era aqui


que o ônibus costumava me deixar, e eu corria pela pequena
passarela para chegar em casa. Mais tarde, Caleb e eu
correríamos pela casa dele antes que nossos pais nos
separassem para o dever de casa ou jantar. Não era incomum
passar o dia inteiro juntos.

Eu me liberto quando ele abre o portão lateral. Quase


posso sentir o cheiro da comida da minha mãe.

Observo a sujeira nas janelas, as ervas daninhas e as


trepadeiras subindo pelo tapume.

Está abandonado.

Assim como eu.


Mesmo situada no quintal da família de Caleb,
literalmente a metros de distância da porta dos fundos, minha
antiga casa se transformou em um cemitério de memórias.

Ele destranca a porta da minha antiga casa de infância e


dá um passo para o lado.

— O passado não é um lugar feliz. — Ele murmura. —


Por que você não quer deixá-lo enterrado?

Ele está me atormentando por causa disso. Por causa de


um passado que só ele parece compreender.

— Por que você não?

Ele exala, empurrando a porta aberta.

— Depois de você.

Entrar agora dói mais do que antes.

Antes era o choque. Picos de dor. Alívio por me lembrar


das coisas como elas eram.

Agora é a aniquilação total.

Eu paro na soleira. Fantasmas estão aqui, trazendo um


calafrio gelado com eles. Eu não posso fazer isso.

Você tem que enfrentar seu medo.

Eu olho por cima do ombro para Caleb, mas ele está me


olhando com olhos ilegíveis. Eu dou um passo adiante,
ignorando a poeira acumulada em cada centímetro do espaço.
O tapete vermelho vinho sob a mesa da cozinha. As quatro
cadeiras agrupadas em torno dela, uma das quais tem uma
perna solta. Papai costumava enchê-la de jornal quando
tínhamos companhia.

A Companhia sendo Caleb é claro. Às vezes, Savannah.

Nunca Amelie.

A xícara está exatamente no mesmo lugar, então passo


pela cozinha. Caleb me segue como uma segunda sombra,
passando pela sala de estar à nossa direita e no corredor
estreito. Mamãe colocou um material aderente debaixo do
tapete quando eu tinha seis anos, porque eu escorreguei e bati
de cabeça na parede com o tapete amontoado em volta dos
meus pés.

Fui perseguida lá, mas nunca disse isso.

A primeira porta à esquerda é o banheiro, e meu quarto é


a próxima. Entre eles, à direita, está a porta do quarto dos
meus pais. Hesito, esfregando os dedos na madeira pintada.

— Não vai morder. — Caleb sussurra.

Sim, vai. As memórias vão cravar seus dentes em mim e


nunca me deixarão ir.

Eu respiro fundo e empurro a porta de qualquer maneira.


O que vejo rouba o ar dos meus pulmões.

É um desastre. Vandalizado.
Há uma lâmpada quebrada no chão ao lado da cama,
quebrada em três pedaços. A lâmpada está quebrada.
Roupas... em todos os lugares. Parece que um furacão passou
pela sala.

Eu dou um passo para trás, esbarrando em Caleb.

— O que aconteceu? — Minha voz está firme, mesmo que


o resto do meu corpo vacile.

Ele não responde.

Eu viro.

— Caleb, o que aconteceu?

— Isso não fazia parte do negócio. — Diz ele. — Você


queria entrar aqui. Você está fazendo perguntas para as quais
já deveria saber as respostas.

Eu olho para ele.

— O que?

Ele balança a cabeça e dá um passo para trás.

— Vá em frente.

Fechei a porta, deixando-o intacto. E então eu sigo pelo


corredor para meu antigo quarto, onde corri outro dia. A porta
se abre sob meus dedos como se lembrasse de mim.

Eu entro e inalo.
Quando eu tinha doze anos, tive pesadelos sobre estar
trancada neste quarto. No sonho, eu batia meus punhos
contra a porta até que eles estivessem ensanguentados e
machucados. Depois que Caleb me segue, movendo-se um
pouco mais devagar do que eu prefiro, fecho a porta.

Não espero encontrar nada.

Inferno, foi apenas um sonho que tive quando tinha doze


anos.

E treze.

E quatorze.

Ângela, minha assistente social, me fez ver um terapeuta.


As famílias adotivas com quem eu estava morriam de medo dos
gritos que aconteciam enquanto eu dormia. E com o terapeuta,
me convenci de que era apenas um sonho explodindo fora de
proporção.

Mas…

Há manchas de sangue na porta branca, na altura do


meu peito. Arranhões também.

Eu cambaleio para trás.

— O que diabos aconteceu?

Ele me olha como se eu fosse louca.

— Você sabe o que aconteceu. Você esteve aqui. Você


causou isso.
Eu balanço minha cabeça, afundando na cama.

— Isto está errado.

Ele se aproxima, passando um dedo sobre minha


cômoda.

— Caleb, vamos. Eu fiz isso? — Eu examino meus dedos.


Arranhões como aquele na madeira teriam rasgado minhas
unhas? O que quer que tenha acontecido quando eu tinha dez
anos... não há nenhum vestígio na minha pele agora.

Ele tira algo da minha cômoda, colocando no bolso.

Para minhas sobrancelhas levantadas, ele apenas faz


uma careta.

— Apenas algo meu que você roubou.

— Por que ninguém voltou aqui?

Ele abre a porta e aponta.

— O tempo acabou, amor. Se você quer que eu explique


exatamente o que aconteceu... isso é outra história
completamente diferente.

— Então você sabe.

Seu aceno é curto e espasmódico.

— Eu sei partes.

— Eu também sei de partes. — Eu bufo.


— Aparentemente não. — Ele me guia para fora de casa.

Um peso está em meu peito e é difícil respirar. Não sei o


que devo fazer com as peças que tenho. É um quebra-cabeça
que estou tentando resolver às cegas. Eu lentamente caio de
joelhos, pontos pretos piscando na minha visão.

— Não consigo respirar. — Murmuro.

Caleb para ao meu lado, agachado.

— Ei.

— Acho que estou tendo um ataque de pânico.

Ele toca minhas costas, esfregando pequenos círculos.


Isso não ajuda. Legal não está ajudando.

Estou com falta de ar neste momento. Meu coração está


batendo forte no meu peito.

— Margo. — A voz de Caleb rompe a névoa. Dura. — Olhe


para mim.

Não consigo ver nada, exceto o chão entre meus joelhos.

Ele puxa minha mão da minha cabeça – quando eu


agarrei minha cabeça? – e aperta meu queixo, me forçando a
encontrar seus olhos.

— Respire.

Toda uma maldita cachoeira de dor e confusão está


caindo sobre mim. É a constatação de que meus pesadelos
foram reais. Caleb nunca será legal ou vai me dizer a verdade,
a menos que eu dê a ele algo em troca. Meus pais se foram.

Ele me levanta de repente, me segurando em seu peito e


começa a andar. Eu sugo em curtos suspiros enquanto ele dá
a volta na casa, me colocando no capô de seu carro. E então
ele segura meu rosto com as duas mãos e pressiona seus lábios
nos meus.

Não posso responder – choque, pânico – até que ele morde


meu lábio inferior. A dor me acorda.

Eu suspiro contra sua boca.

Meu horror desaparece. O pânico diminui. Eu me envolvo


em torno dele, minhas pernas ao redor de seus quadris,
minhas mãos em seus bíceps.

Deus, que tipo de demônio é ele?

Ele se afasta, sorrindo para mim. Suas mãos ainda estão


no meu rosto, segurando suavemente minhas bochechas. É
uma bela atuação, exceto pelo sorriso – que parece crescer
mais enquanto meu rosto esquenta.

Ele tira as mãos do meu rosto e eu libero seus bíceps.


Olhamos um para o outro por um segundo. Ele está
perfeitamente composto, o bastardo. Meus pulmões doem
como se eu tivesse corrido uma maratona.

Ele dá um tapinha na parte inferior das minhas coxas,


piscando para mim.
— Você quer ficar aqui?

Lentamente, abaixo minhas pernas e deslizo para fora do


capô de seu carro.

— Vamos nos atrasar.

— E daí?

Eu bufo.

— Então, eu esperava entrar sem ser notada...

Ele sorri. É como se ele tivesse estabelecido que estou


bem – bem, não estou à beira de desmaiar, de qualquer
maneira – e estamos de volta ao ponto de partida.

— Não existe esta coisa de não ser notada quando você


está comigo.

— Oh vamos lá.

Ele levanta uma sobrancelha.

— Você acha que as pessoas não iam notar se eu entrasse


em um dos maiores jogos do ano?

— Espera aí. — Eu digo, levantando minhas mãos. —


Maior jogo do ano?

Ele destranca seu carro.

— Bem, sim. É contra Lion's Head. Nosso maior rival...


número um na categoria... você não presta atenção, não é?
Eu bufo.

— Tenho estado muito ocupada sendo ridicularizada e


atropelada na escola para que as pessoas falem comigo.

— Eh. Bem, todo mundo vai estar lá.

Eu engulo.

— Entre, amor.

Uma vez que estamos a caminho da escola, eu olho para


ele.

— Amelie vai me matar por entrar com você?

Ele aperta o volante com mais força.

— Você é ciumenta? Você jogou na minha cara que eu a


estava traindo com você.

— Você não pode estar falando sério.

Ele levanta um ombro.

— Ou você está com ciúme ou não.

Eu gemo.

— Só não quero me envolver na sua bagunça.

Ele entra no estacionamento da escola, desligando o


motor em uma vaga bem na frente. Parece que foi deixada
aberta apenas para ele, porque o resto do estacionamento está
completamente lotado. Ele se vira em minha direção,
encontrando meu olhar.

— Você quer que eu termine com ela.

— Você não quer?

— Ainda não. — Ele sorri. — Eu precisava saber sua


opinião sobre o assunto.

Eu balancei minha cabeça.

— Ela vai me matar por entrar com você. Até por falar
com você. Você tem evitado ela por dias! Por quê?

Ele bate na minha têmpora com um dedo.

— Eu amo uma boa foda mental.

Eu saio do carro, balançando minha cabeça. Amelie e eu


éramos amigas, mas agora estamos muito distantes disso.
Inferno, eu iria tão longe a ponto de afirmar que somos
inimigas – apenas por causa de Caleb Asher.

Ele para na minha frente. O campo de futebol está


virando a esquina, fora de vista. No entanto, o cheiro de um
caminhão de comida, o som de centenas de pessoas, vem em
nossa direção.

— Você quer que eu termine com ela.

Sem dúvida.
Eu provavelmente poderia dizer não – para ignorar a raiva
ciumenta – e deixar por isso mesmo.

Eu cruzo meus braços sobre meu peito.

— Você vai?

— Vamos descobrir.
— Caleb Asher, que porra é essa?

Eu viro minha cabeça para trás enquanto Amelie vem em


nossa direção. Ele está com o braço em volta do meu ombro
nos últimos vinte minutos – mais ou menos na hora em que
comecei a tremer dentro do meu casaco.

Não nos olhamos há vinte minutos também.

Seus dedos apertam meu ombro, como se ele pudesse


sentir que eu quero escapar.

Sobrevivemos até o intervalo. É verdade que aparecemos


na metade do primeiro quarto e o jogo tem sido emocionante o
suficiente para manter a multidão entretida. Quer dizer: eles
ainda não nos notaram de verdade. Meu plano de escorregar
sem ser notada, até agora, funcionou.

Isso está quase acabando.

Caleb nos leva em direção a Amelie. Tento dar um passo


para trás e ele me lança um olhar severo.

— Que diabos, Caleb? — Ela grita ainda a alguns metros


de distância.

As pessoas se voltam para nós e surgem murmúrios.

— Tem algum problema, Amelie? — Ele fala arrastado.


Ele é a imagem perfeita de calma. Seu rosto não revela
nada, mesmo que eu possa sentir sua excitação. Ele gosta de
causar caos.

Miséria.

Para onde foi o menino doce que conheci quando criança?

Continue se perguntando isso, Margo. Tenho a sensação


de que ele mal responderia a essa pergunta do que resolveria
o resto do meu quebra-cabeça. Por mais que deslize as peças,
elas simplesmente não se encaixam.

Este Caleb prospera na escuridão. Talvez eu não tenha


percebido antes, mas posso ver como uma maré subindo
dentro dele. Ele está pronto para destruir o mundo de Amelie.
Estou emocionada por isso.

— Se eu tenho um problema? — Ela repete. — Sim, eu


tenho uma porra de um problema.

— Você é uma vagabunda em busca de atenção. — Ele


encolhe os ombros quando o rosto dela fica vermelho. — Eu
deveria ter percebido que você só estava atrás da minha
reputação.

— Como você ousa? Estamos namorando e você aparece


com ela?

— Puxa, Amelie, talvez você devesse terminar comigo. —


Ele dá um passo à frente, me rebocando com ele.
Seu olhar corta para o meu, mas tudo que posso fazer é
olhar para ela. Indefesa é meu nome do meio.

— Eu não tenho certeza porque você se importa tanto.


Não é como se você não tivesse dormido com Ian Fletcher. —
Ele me solta.

Eu tropeço para longe dele. Ele está focado em Amelie.

Quando ele está com raiva de mim, ele fica físico. Suas
mãos na minha pele. Sua língua na minha boca. Cada
centímetro dele era construído para me punir. E por esse
motivo, não posso suportar a ideia de ele tocá-la – mesmo que
seja de raiva.

Leva um momento para que suas palavras sejam


absorvidas. Ela está dormindo com ele.

Eu cubro minha boca, segurando minha risada. Oh, que


porra de ironia.

Excluindo o fato de que Ian Fletcher é o pior ser humano


de Rose Hill, tenho quase certeza de que Caleb não dá a
mínima para quem Amelie está dormindo. Inferno, além do
aborrecimento brilhando em seu rosto, ela poderia cair morta
aos pés dele e ele nem mesmo se abaixaria para verificar seu
pulso.

Ela faz uma careta para ele, o medo vibrando em suas


feições.

— Quem te disse isso? — Ela se encaixa.


Ele ri. Há um círculo ao nosso redor, pessoas ansiosas
para ver o que acontecerá com o rei e a rainha de Emery-Rose.

Ex-rainha.

Eu recuo até bater em alguém.

Eli murmura em meu ouvido:

— Ele vai te caçar se você não estiver em sua linha de


visão quando ele terminar.

Eu faço uma careta.

Riley agarra meu outro braço.

— Você veio com Caleb? Achei que você disse que não
queria...

— Você é ridícula. — Caleb proclama. — E eu estou farto


de você, Amelie. Nós terminamos.

Ela olha para ele, sua boca escancara e fecha como um


peixe desesperado por oxigênio.

Ele se vira e me procura. Eli me libera rapidamente, me


dando um leve empurrão entre minhas omoplatas. Eu tropeço
para frente, parando antes de Caleb, e inclino minha cabeça
para o lado.

— Essa é uma maneira de fazer as coisas. — Eu digo.

Há um brilho em seus olhos que não existia antes. Meu


estômago se revira.
— Apenas o começo. — Ele põe o braço em volta do meu
ombro, me abraçando ao seu lado, e caminhamos em direção
ao campo. — Mais uma coisa.

Os jogadores de futebol voltaram a campo.

Caleb e eu paramos na borda – mais perto do que eles


deixam qualquer aluno, na verdade – e ele leva os dedos aos
lábios. Seu apito é repentino e agudo, chamando a atenção de
nossa equipe e de metade do Lion's Head. Dois jogadores fogem
e correm em nossa direção, arrancando seus capacetes.

— Ei. — Liam sorri para nós. — Vocês dois são uma coisa
agora?

— Sim. — Caleb corta.

Eu fico olhando para ele, afastando-me.

— O que?

— Eu realmente não me importo em ouvir seus protestos


agora. E isso significa uma coisa. — Ele aponta para Theo. —
Você. Não toque nela, porra.

Theo saúda Caleb.

— Sim senhor.

Caleb grunhe.

Há gritos atrás de nós, e um dos outros jogadores de


futebol se aproxima.
— Hora de ir. — Ele diz a Liam e Theo. — Ou então vocês
vão ficar no banco.

Liam revira os olhos.

— Okay, certo.

Ainda assim, ele coloca o capacete de volta, acenando


antes de seguir seu companheiro de equipe.

Theo olha de mim para Caleb, carrancudo.

— Você não a viu, não é?

Caleb dá de ombros.

— Eu realmente não olhei.

— Bem, fique de olho, ok?

Caleb apenas balança a cabeça.

— Sim cara. Vou ficar de olho.

E então Theo vai embora, correndo de volta para o


amontoado, e Caleb olha para mim.

— Eu não sei como me sentir namorando você. — Eu


admito. — E também não me lembro de ter concordado com
isso.

Ele sorri e voltamos para as arquibancadas. Estávamos


sentados de lado, mas agora o rei retoma seu trono.
Caminhamos até o corredor central e as pessoas abrem espaço
para nós.
Ele é uma maldita realeza nesta escola. Eu não tinha
entendido até agora. Ainda estou perplexa com isso, mesmo
quando um aluno pergunta se ele precisa de alguma coisa, e
Caleb na verdade diz que sim.

Minutos depois, o garoto volta com um saco de pipoca e


dois refrigerantes.

— Ei, Asher. — Um cara de roxo e preto vem em nossa


direção, levantando a mão.

Caleb sorri, estendendo a mão e batendo os nós dos dedos


contra os do novo cara.

— O que houve Bonner? Você não vai jogar este ano?

Ele ri.

— Não, tive que fazer uma cirurgia no joelho no início do


verão. O treinador não me deixou jogar.

Caleb balança a cabeça.

— Lamento ouvir isso.

Bonner dá de ombros.

— Eu tenho autorização do médico para lacrosse.

— Fico feliz em saber que terei outra chance de bater na


sua bunda no campo.

O olhar de Bonner percorre meu corpo de cima a baixo.

— Eu não acho que nós nos conhecemos. Matt Bonner.


— Margo Wolfe. — Caleb fala lentamente. — E não vamos
olhar para ela desse jeito.

Bonner ri de novo, coçando a nuca.

— Ei, Asher. Sem desrespeito. Você conseguiu um lindo...

— Estou bem aqui. — Eu estalo.

Um músculo na mandíbula de Caleb salta. Ele encara


Matt, as sutilezas terminando abruptamente, até que Matt
acena com a cabeça e enfia as mãos nos bolsos. Quando ele
recua para o lado da Lion's Head nas arquibancadas, Caleb
finalmente olha para mim.

Eu espero.

— Não estou me desculpando por isso. — Ele murmura.

— Eu não pedi para você se desculpar. — Eu me inclino


para mais perto dele. — Eu não gosto de pessoas olhando para
mim.

— Você não gosta de homens olhando para você. — Ele


esclarece.

— Não. — Eu digo, suspirando. — Eu passaria todos os


tipos de atenção.

Ele revira os olhos.

— É melhor você se acostumar com isso.


Depois disso, voltamos ao silêncio. Além do silêncio
desconfortável ao nosso redor e dos olhares em minha direção,
é fácil bloqueá-lo e aproveitar a segunda metade do jogo.

Isto é, até que Theo aviste alguém.

— Merda. — Caleb rosna. Ele olha de volta para Eli, que


está duas fileiras acima.

Ambos se endireitaram em seus assentos.

— Quem ele está...

Theo arranca seu capacete, espreitando pela grama.

A mão de Caleb se contrai no meu ombro.

— Você vai pará-lo? Ele vai matar alguém.

— Não desta vez. — Caleb responde.

Eli também não se moveu.

Eu estremeço quando Theo agarra uma garota do lado de


fora, sua câmera caindo no chão. Ele encara o rosto dela, seu
rosto é uma máscara suave de fúria. E então ele a empurra de
volta para seus amigos e se afasta.

— Bem, isso poderia ter sido pior. — Eli grita.

Caleb ri.

— Como isso poderia ter sido pior? — Eu sussurro. Eu


vejo a garota se levantar.
Ele inclina a cabeça em minha direção.

— Sim. Ele poderia ter feito muito pior. — Ele encolhe os


ombros. — Ele provavelmente queria.

Eu encontro seu olhar.

— O que acontece depois?

— Com o que?

— Nós.

Ele sorri.

— Você está admitindo um nós, então?

Eu mudo.

— Parece inevitável.

— Nós estamos. — Ele agarra minha mão, levando-a à


boca. Ele beija meus dedos, em seguida, a coloca de volta no
meu colo. Mas ele não desiste.

Borboletas explodem em minha barriga. É fácil deixar


Caleb segurar minha mão e fingir que somos duas pessoas
legais que por acaso estão namorando.

Nós somos o que está mais longe de ser bom.

— Relaxe. — Ele murmura.

— Isso é muito público. E você acabou de largar sua


namorada. Em voz alta.
Ele levanta um ombro, seus olhos no jogo.

— Você me disse para fazer isso.

— Eu disse para você terminar com Amelie? — Eu não.


Quer dizer, eu meio que fiz. Não de forma direta.

Assim não.

Jesus, ela fica esticando o pescoço de seu lugar na


multidão de líderes de torcida, olhando para nós. Uma coisa é
Caleb crucificá-la na frente de toda a escola – inferno, os
alunos do Lion's Head também – mas agora ela está me
encarando com raiva.

— Você fez. Agora relaxe, e então iremos para a festa


depois de ganharmos. — Ele me lança um sorriso rápido.

Não estou acostumada com o sorriso dele.

Eu lancei um olhar desamparado para Riley. Algo


acontece no campo, porque sou repentinamente levantada.
Todos ao nosso redor aplaudem.

Caleb me pega e me balança em um círculo, sorrindo.

— Você dá sorte. — Ele diz, beijando minha bochecha. —


Nós simplesmente ganhamos.

Uma alegre confusão de alunos Emery-Rose inundou o


campo, cercando a equipe, com Caleb e eu no centro. Esse tipo
de celebração – tão masculina – me deixa louca por um
momento. Eles batem nas costas um do outro, batendo os
punhos. Ninguém me toca, no entanto. É como se eu tivesse
sido envolta em fogo e ninguém quisesse chegar muito perto.

Caleb faz um gesto para que eu suba em suas costas,


agachando-se. De repente, estou uma cabeça acima de todo
mundo, meus braços em volta de seus ombros e minhas
pernas em volta de sua cintura. Sobre o mar de preto e
dourado, posso ver os alunos roxos e pretos do Lion's Head.
Eles são mais lentos para filtrar.

O calor do corpo de Caleb se infiltra em mim, aquecendo


meu corpo gelado. O sol se pôs a algum tempo, baixando a
temperatura, e estou tremendo desde então.

Um largo sorriso se espalha quando Theo tira o capacete


e estende a mão na minha direção. Eu solto Caleb por tempo
suficiente para dar cinco tapas nele. Liam faz o mesmo, e Caleb
rosna. Ele se afasta de seus amigos.

Eu deslizo minhas mãos dentro de sua jaqueta e ele ri.

— Pronto? — Eli pergunta, aparecendo ao nosso lado.

Riley está dobrada contra ele, olhando para mim com os


olhos arregalados.

— Sim. — Caleb se encaixa. Ele lidera o caminho para


fora da multidão, em direção ao estacionamento. Ele se vira e
anda para trás, olhando seus amigos. — Estamos fazendo um
desvio rápido.

Eli dá uma risadinha.


— Oh sim?

— Você tem algum problema com isso? — Ele pergunta.

— Acho que você vai fazer coisas sujas com sua nova
namorada. — Eli ri.

Riley dá uma cotovelada nele, e coloco meu rosto no


pescoço de Caleb. Não tenho nenhum desejo de discutir sexo –
ou a falta dele – com seus amigos.

Caleb gira de volta, ignorando Eli, e para no lado do


passageiro de seu carro. Ele afrouxa seu aperto na parte de
trás das minhas coxas, me deixando escorregar.

— Entre.

Fico grata quando ele liga o carro e aumenta o


aquecimento.

— Então, pra onde será o desvio?

Ele me olha.

— Minha casa.

Eu tremo. Há algo perigoso em seu olhar, quente e


fumegante.

Nós dirigimos em direção a sua casa e meu batimento


cardíaco acelera.

— Eu não posso. — Eu deixo escapar.


Não é que eu não tenha feito sexo antes, porque é isso
que eu imagino acontecendo, mas tudo o que vou ser capaz de
pensar naquela casa é nosso passado.

Meu passado.

Seu.

Eles colidiram em uma explosão épica quando tínhamos


dez anos, e estou tentando colocar tudo de volta no lugar.
Caleb parece ter se curado... mas por dentro, ainda existem
bordas dentadas.

Tenho medo dessas bordas dentadas? Sim. De me


aproximar muito e elas conseguirem cortar.

Ele diminui a velocidade do carro, parando em um


acostamento e estacionando.

— Do que você tem medo?

Eu olho pela janela, tanto quanto posso ver. Apenas


alguns metros à nossa frente, os faróis refletem nas árvores. O
resto é escuridão.

— Você tem medo de mim?

Ouso olhar para ele.

— Você acha que eu tenho?

Seus olhos se estreitam.


— Não sei Margo. Às vezes acho que sim. Às vezes eu
penso... hmm, talvez ela tenha desenvolvido uma espinha
dorsal, afinal.

— Eu tenho uma espinha dorsal. — Eu zombo. — Você


não passa pelo sistema sem desenvolver uma.

— Você quebra muito facilmente. — Ele estende a mão e


agarra meu rosto, me forçando a encontrar seus olhos. — Você
cede. Você perde.

Eu me afasto dele.

— Então por que me perseguir se sou tão chata?

Ele ri.

— Mesmo se você for frágil, você está longe de ser chata.


— Ele me observa por um segundo, depois exala. — Ok. Vamos
à festa.

Eu sorrio, e um peso inesperado sai dos meus ombros.


Abro a boca, mas ele me corta com a mão na minha coxa,
apertando.

— Não me agradeça.

— Ok. — Eu sussurro. Significa apenas que algo pior do


que sua casa está vindo em minha direção.

Eu olho para o meu telefone, sem surpresa ao ver


algumas chamadas perdidas e mensagens de texto. Mas um se
destaca.
Desconhecido: você terá uma surpresa.

De alguma forma, eu não acho que significa um sorvete.

Eu clico na minha conversa com Riley.

Riley: Onde você está? Amelie está atacando por aqui


como um touro furioso.

Eu: Estamos a caminho.

Riley: Isso foi rápido. * emoji de piscadela*

Eu: Não aconteceu nada. Acabamos de conversar.

Riley: Dica profissional: menos conversa, mais beijos. Faz


você se esquecer de seu bullying.

Eu franzi a testa.

Eu: Sem chance disso.

Eu coloquei minha mão sobre a de Caleb, que foi


lentamente subindo mais alto na minha coxa.

Ele sorri.

— Você gosta quando eu toco em você. E você gosta


quando eu sou duro. Então, por que parar uma coisa boa?

— Porque estamos prestes a ir a uma festa.

— E essas festas têm quartos escuros. — Diz ele. — Na


verdade, na última festa que fomos, eu encontrei você sozinha
com Liam. Isso não vai acontecer novamente.
— Já estou farta da sua veia superprotetora. — Digo.

Ele encolhe os ombros.

— Facilmente evitado, amor. Só não fale com ninguém.

— Em uma casa cheia de gente.

Ele sorri enquanto estaciona.

— Isso é muito difícil para você?

Eu solto sua mão enquanto ele desliga o motor. Para


minha surpresa, ele se inclina para o meu espaço. Seus lábios
tocam os meus, o beijo mais breve antes de ele se sentar.

Mais.

Um sorriso aparece em seu rosto. Talvez eu tenha dito


isso em voz alta, porque ele se esquiva e rouba outro. Sua
língua desliza ao longo da costura dos meus lábios. Eu
empurro nele, agarrando a parte de trás de sua cabeça.

Beijos como esses me deixam elétrica.

Como se eu pudesse estar perdida em uma tempestade


de neve, mas os lábios de Caleb me guiariam de volta.

Quando estou devidamente sem fôlego, ele se inclina para


trás. Seu sorriso fica maior.

— Eu gosto de você assim.

Uma confissão apenas para meus ouvidos.


— Confusa. Com tesão. Meu beijo deixou você molhada,
amor?

Eu coro.

— Isso pode ser um sim. — Seus olhos escurecem. — Esse


é um mistério que estou ansioso para resolver. — Ele sai e
circula, abrindo minha porta para mim.

Pego o braço que ele oferece e caminhamos em direção à


casa de Ian Fletcher.

Não importa que Ian e Amelie tenham dormido juntos, e


que Ian seja um valentão sujo, sua casa é gigante.

— Eu pensei que você fosse rico. — Murmuro.

Caleb ri.

— Sim, mas nossa riqueza não está na casa. Você sabe


que está na família desde que meus avós a compraram. A casa
de Fletcher é puramente dinheiro novo. — Ele franze a testa.
— Prefiro levá-la para casa e entrar no seu quarto, mas...

Alguns jogadores de futebol passam correndo por nós,


chamando o nome de Caleb.

— É por isso... — eu respondo — que temos que fazer


uma aparição?

Ele encolhe os ombros.

— É mais para Theo e Liam. Isso é apenas futebol, amor.


Espere até a primavera.
Eu tremo em minha jaqueta.

— Fica... maior?

Metade da escola deve estar aqui. Música e luzes saem da


casa, e nossos colegas estão por toda parte. No gramado da
frente, nos fundos, na casa. Pela janela, casais estão dançando
na sala da frente de Ian.

— Maior? — Caleb bufa. — Você não viu nada ainda.

Eu engulo. E então estamos dentro de casa, seus dedos


se enlaçando nos meus. Nós ziguezagueamos pela multidão,
encontrando Eli e Ian conversando na cozinha. Riley não está
em lugar nenhum.

— E aí, cara. — Ian diz, arrastando levemente. — Jogo


épico, certo? Ouça, sinto muito por brincar com Amelie. Ela é
realmente gostosa...

— Melhor calar a boca, Ian. — Eli avisa.

Caleb observa Ian com o rosto em branco.

— Oh merda. — Ian ri. Ele se afasta, apontando para


mim. — Você está se rebaixando, sabe? Para uma prostituta
de coca...

Caleb avança, seu punho estalando mais rápido do que


eu posso seguir. A cabeça de Ian gira para trás e o sangue
escorre por seu rosto.
— Que porra é essa? — Ian grita. Ele passa a mão sob o
nariz, em seguida, mergulha em direção a Caleb, balançando
descontroladamente.

Caleb usa uma mão para me empurrar contra a parede e


se esquiva da tentativa de Ian de acertá-lo. Ele revira os
ombros para trás.

— Vamos, Fletcher. — Ele rosna. — Eu estou com


vontade de bater em alguém durante todo o semestre.

Ele está cheio de energia e músculos.

— Você vai defendê-la? — Ian uiva. — Depois que ela... —


Ele salta para longe do ataque de Caleb.

A maneira como Caleb se move é brutal. Ele está


restringido pela jaqueta, mas o tecido se estende por suas
costas quando ele vai para Ian. Eventualmente, sua pequena
luta de boxe se dissolve em algo menos humano.

O olhar de Eli vai para mim e ele levanta as sobrancelhas.

— Você já está se divertindo, Margo?

Eu balanço minha cabeça. O sangue voa quando Caleb


dá outro golpe no rosto de Ian. De repente, ele o tem
imobilizado no chão, seus cotovelos subindo antes que seu
punho desça. Eu estremeço ao som de seus dedos encontrando
carne.

E Eli parece perfeitamente bem em deixar isso acontecer.


— Caleb. — Eu digo, me afastando da parede.

Temos uma audiência mais uma vez, mas eles são


espertos o suficiente para ficarem longe. Ele não me ouve.

— Caleb!

Eu coloco minha mão em seu braço, e de repente sou eu


quem está presa. Ele salta de Ian e se inclina para mim mais
rápido do que posso compreender. Seu hálito quente atinge
minha bochecha, e eu percebo que virei minha cabeça. Ele
cheira a sangue.

— Você está brincando com fogo. — Ele sussurra. Ele


morde minha orelha.

O calor me inunda.

— Não sei se estou com medo de você ou impressionada


por você ter me defendido. — Murmuro. Seus dentes ainda
estão na minha pele. Temos uma audiência. É um silêncio
mortal, além da nossa respiração e meu pulso em meus
ouvidos. Se a música ainda estiver tocando, eu não conseguiria
ouvir.

— Sejam os dois. — Ele rosna. Ele me pega, suas mãos


na minha bunda me levantando mais alto.

Eu envolvo minhas pernas em volta de sua cintura.

— Eu quero arrastar você para uma sala e foder você sem


sentido. — Ele me diz.
A maneira como ele está me segurando, sua ereção roça
meu núcleo. Estamos na posição perfeita – sem a multidão ao
nosso redor. Meu corpo está quente e as borboletas explodem
em mim.

Ele trilha beijos ao longo da minha mandíbula, e inclino


a cabeça para dar a ele melhor acesso.

— Aproveite a festa, amor. Porque esta noite, você é


fodidamente minha.
Alguém arrasta Ian para cuidar de suas feridas.

Theo, Eli e Liam ameaçam me sequestrar a menos que


Caleb vá com eles para limpar o sangue de seu rosto. Isso o faz
ceder.

E de repente, estou sozinha.

Mas não por muito tempo.

A música volta mais alto do que antes. Ela vibra em


minhas costelas.

Pego um copo e coloco uma boa dose de vodca nele,


completando com refrigerante. Eu não sou de beber, mas esta
noite pede um pouco de agitação, eu acho.

Eu tomo um gole e estremeço com a queimadura. O fogo


se espalha por mim, diferente do que sinto por causa de Caleb.
O entorpecimento o segue. Eu tomo outro gole, ansiosa para
lavar o cansaço emocional do dia.

Minha antiga casa. A desastrosa separação no jogo. E


agora, a luta.

Estou pronta para uma soneca.

— Aí está você. — Riley diz sobre a música, entrando por


uma porta lateral. — As pessoas têm medo de entrar aqui.
Eu levanto minha xícara.

— Mas é aqui que está o álcool.

Ela balança a cabeça, evitando algumas gotas de sangue


no linóleo.

— Eu perdi a ação.

— O rosto de Ian parecia carne crua. — Eu tomo outro


gole.

Riley ri.

— Você geralmente não bebe. A luta inspirou isso? — Ela


puxa meu copo em direção ao rosto e cheira. Seu nariz enruga.
— Vodca e refrigerante?

Eu espelho sua risada.

— A briga, ir na casa da minha infância, ele terminando


com Amelie...

Riley franze a testa.

— Sua casa de infância? O que?

Eu balancei minha cabeça.

— Tudo bem, tudo bem. Voltaremos a isso. Caleb parece


gostar da atenção.

Eu encolho os ombros.

— Não pense que ele pode evitar.


Nós nos movemos para a sala de estar, perto das portas
que dão para a varanda.

— Eu não sabia que você iria ao jogo. — Digo.

Riley estremece.

— Sim, eu sinto muito. Eli me perguntou, ele disse que


você já tinha planos... não tenho certeza porque acreditei nele,
francamente.

Vou tomar outro gole, mas meu copo está vazio. Quando
isso aconteceu?

Lá fora, os meninos estão em volta de uma fogueira. As


folhas estão começando a cair, mesmo que metade das árvores
do município ainda não tenha mudado de cor. As folhas
úmidas pegam fogo e parece que todo o gramado está se
movendo.

Uma garota chama minha atenção na beira do quintal.

Eu me aproximo do vidro, tão perto que minha respiração


o embaça. No momento em que o abro e olho de novo, ela se
foi.

— Margo?

Eu olho de volta em direção a Riley.

— O que você viu?

— Alguém que eu pensei que conhecia... — Eu balanço


minha cabeça e quase caio. — Opa.
Eu me pego no vidro.

— Oh, você é um peso leve. — Riley diz.

— Talvez? Eu não bebo.

— Você não bebe, não é? Você com certeza bebeu este


rápido.

A sala balança um pouco e de repente Riley e eu estamos


no chão. Minhas pernas simplesmente se dobraram debaixo de
mim, e devo tê-la trazido comigo.

— Você quer um pouco de água?

Eu rolo meus olhos, deixando minha cabeça cair para


trás no vidro.

— Não.

— Isso vai fazer você se sentir melhor.

— Eu não acho que nada pode me fazer sentir melhor.

— Chamamos isso de autodestruição. — Caleb diz acima


de mim. Ele se abaixa e me pega.

Eu agarro seu pescoço e olho em seus olhos. Eles são tão


azuis que eu poderia cair neles.

— Eu não estou... — eu prometo. — Apenas…

Ele exala.

— Apenas o quê?
— Lavar o dia de hoje.

Seu rosto fecha.

— Vou te levar para casa.

Riley se levanta rapidamente.

— Ela não pode...

— Eu sei. — Ele me carrega para fora de casa, pela


calçada.

Buzinas e gritos nos seguem.

— As pessoas são más. — Murmuro. Eu inclino minha


cabeça para baixo. A dele está enrolada nas minhas costas, os
dedos enrolados nas minhas costelas. — Seus dedos estão
machucados.

Ele franze a testa.

— Já me machuquei mais.

— Isso é auto-infligido. — Eu argumento. — Talvez você


seja o autodestrutivo.

Ele ri sombriamente, colocando meus pés no chão


enquanto ele pesca suas chaves.

— Você vai vomitar no meu carro?

— Não. — Cruzo os braços, indignada, mas preciso


descruzá-los um minuto depois para não tombar. Meu
equilíbrio acabou.
Disparo.

— Se você vomitar…

Eu levanto minhas sobrancelhas, encostada no carro. Ele


me enquadra e sorri para mim.

— Você o quê? — Eu pergunto. — Vai me bater? — Eu


tremo, imaginando como isso pode ser... e incapaz de esconder
os arrepios que estouram pelo meu corpo.

— Margo?

Eu pisco para ele.

Caleb sorri.

— Você gostaria disso, não é? — Seus dedos traçam meus


lados, empurrando a barra da minha camisa para cima
também. — Um pouco de dor com o seu prazer? Isso te deixa
ligada?

— Eu...

Sua mão desliza para dentro da minha calça, me


segurando.

— Encharcada. — Ele murmura. — Quão bêbada você


está?

Eu encolho os ombros.

— Há dois de você.

Ele exala e me move para o lado, abrindo minha porta.


— Entre. Antes que eu faça algo que não deveria.

Acontece que... fazer algo que ele não deveria significa me


beijar na garagem, nós dois nos esforçando para chegar mais
perto. Ele me levanta e desliza a mão em minha calça
novamente. Fazer algo que ele não deveria significa colocar
minha mão em sua ereção, deixando-me senti-lo através de
suas calças.

Eu preciso de mais. Sua língua, suas mãos, seu pau –


estou quente com o desejo de pular em seus ossos. Em público.
Contra seu maldito carro, onde qualquer um pode ver.

Ele se afasta.

— Você está bêbada, Margo. — Ele sussurra. — E eu não


sou um cara bom o suficiente para dizer não.

— Então não faça isso. — Murmuro. Fora de nossa bolha,


o mundo poderia estar explodindo para mim.

Ele belisca minha garganta.

— Caleb. — Eu envolvo meus braços em volta do pescoço,


tentando não choramingar.

Ele quase me joga no meu assento, olhando para mim.

— Esta é a última vez que vou dizer não.

Uma dose de realidade volta por um segundo e eu me


encolho.

— Talvez você devesse me levar para casa.


— Esse é o plano. — Ele diz, exalando.

Começamos a dirigir e eu meio que me perdi enquanto


sua mão traçava padrões na minha perna. Antes que eu
perceba, ele está me tirando do carro e me carregando por uma
passarela.

— Eles vão ver. — eu gemo. Lenora e Robert vão surtar se


Caleb me transporta para dentro da casa.

Mas ele não bate. Ele empurra a porta e abro os olhos o


suficiente para perceber que não estou prestes a ser
confrontada por meus pais adotivos. Não estamos nem na casa
dele. Mesmo assim, ele conhece o caminho e vai direto para o
porão. Eu forço meus olhos a abrirem. O porão foi convertido
em um quarto.

— Onde estamos? — Eu murmuro.

— Shh. — Ele sussurra. — Se eu levar você de volta aos


Jenkins assim, eles vão me crucificar.

— Então, isso é uma coisa de autopreservação. — Eu


fecho meus olhos novamente. Ele está quente.

Ele me coloca na cama e puxa minhas roupas.

— Caleb Asher, você está tentando me deixar nua? — Eu


não sou contra. Eu o deixo tirar minha jaqueta e depois meus
sapatos.

Ele me empurra de volta para o colchão.


— Você está tão bêbada. Com uma bebida?

Eu levanto meu ombro.

— Em minha defesa, era principalmente vodca.

— Um copo cheio de vodca. — Ele bufa.

— E um pouco de refrigerante.

— Deve ter um gosto ótimo. — Ele se senta ao meu lado,


a cama afundando. Ele afasta o cabelo do meu rosto
suavemente.

De repente, me lembro do meu pai fazendo a mesma


coisa.

Meus pulmões param de funcionar.

— Pare. — Eu afasto sua mão, cobrindo meu medo com


aborrecimento. Quando abro os olhos, ele está olhando para
mim confuso. — Deus, não fique mole comigo.

— Durma então. — Ele oferece.

— Eu tenho toque de recolher.

Ele acaricia meu cabelo novamente e agarra meu pulso


quando tento afastá-lo.

— Você tem duas horas antes do toque de recolher. E


deixe-me ser legal com você.
Eu fico parada enquanto ele pega algumas mechas do
meu cabelo. Ele parece determinado a me tocar e não consigo
relaxar.

— Qual é o problema? — Ele murmura. — Você está mais


tensa agora do que...

Eu recuo, desajeitadamente, e dou um tapinha no


colchão. Não consigo abrir os olhos e suportar ver as emoções
em seu rosto – qualquer tipo de emoção que possa ser. Raiva.
Aborrecimento. Curiosidade.

Hoje não, Satanás.

Ele se deita ao meu lado.

— Não pensei que algum dia teria uma garota totalmente


vestida na minha cama. — Ele murmura.

Eu estendo a mão cegamente e acaricio sua bochecha, me


enrolando nele.

— Só uma soneca.

Sua risada é a última coisa que lembro antes de cair no


sono.

Eu acordo enquanto ele está me puxando para fora de seu


carro. Eu me encolho, agarrando seus pulsos e olho ao redor
descontroladamente.

— O que...
— Você estava fora — ele murmura. — E não podemos
esperar mais, a menos que você queira ficar de castigo por uma
eternidade.

Eu suspiro. De repente, estou de pé, meu braço passa por


cima do ombro de Caleb, e ele se inclina para mim.
Caminhamos em direção a minha casa.

— Você pode fingir que está mais sóbria?

— Eu não estou?

— Você não está o quê? — Ele está irritado.

Estamos quase na porta da frente, eu acho.

— Sóbria. — Eu respondo. Provavelmente não, a julgar


por seu grunhido.

— Seus olhos estão fechados.

— Estou apenas descansando eles.

— Que tal você abri-los até que eu possa levá-la ao seu


quarto?

De alguma forma, conseguimos entrar na casa e sorrio


para Robert, que está esperando por mim sem falta.

— Você está uma hora atrasada. — Ele diz.

Eu me encolho.

— Uh-oh.
Ele se levanta e se aproxima, e eu aperto meu punho com
mais força na camisa de Caleb.

— Você está bêbada, Margo? — Robert pergunta.

— Não bêbada... — eu digo. — Quero dizer, era apenas...

— Eu vou levá-la para cima. — Caleb diz, beliscando meu


lado. — Desculpe Sr. Jenkins.

Robert balança a cabeça.

— Bem. Discutiremos isso pela manhã.

Caleb me pega e me carrega para o meu quarto, me


deitando na cama.

— Você vai ter uma ótima ressaca.

Eu bufo, tocando seu rosto novamente.

— Sim talvez. Resgate-me dos Jenkins amanhã. Eu vou


precisar.

— Você entendeu. — Ele se inclina e beija minha


bochecha, e então...

Está frio em sua ausência. Mas em questão de momentos,


isso realmente não importa. Estou dormindo novamente.
Amelie está sentada na minha cama quando chego em
casa.

— O que você está fazendo aqui? — Eu levanto uma


sobrancelha. Adoro um pouco de emoção, mas as coisas estão
finalmente indo mais tranquilas com Margo. Eu estaria
mentindo se dissesse que não estava feliz por finalmente fazê-
la confiar em mim. Se eu não tivesse certeza de que Margo
estava desmaiada em sua cama – a cama em que acabei de
colocá-la – estaria mais inclinado a arrastar Amelie pelo
cotovelo.

Ela empurra os ombros para trás e o peito para frente.

— Você não está feliz por eu estar aqui?

— Eu estava ansioso para encontrar uma cama vazia. —


Eu cruzo meus braços e me encosto no batente da porta.

Seus dedos brincam com os botões de sua blusa.

— Você fez uma cena e tanto esta noite.


— É por isso que estou particularmente surpreso com sua
visita.

Ela encolhe os ombros.

— Achei que você gostaria de saber que alguém do nosso


passado encontrou você.

Eu inclino minha cabeça.

— Vamos direto ao assunto, Amelie. O que você quer?

— Eu quero... — Ela se levanta e se aproxima, tocando


meu peito. — Você.

Eu ri. Eu não posso evitar. Mesmo que eu não estivesse


totalmente consumido em pensamentos sobre Margo, Amelie
deixou um gosto ruim na minha boca.

— Não vai acontecer.

Sua mão envolve meu cabelo e ela me puxa para perto


dela. Eu concordo com seu beijo por um segundo, observando
seus olhos fechados. Ela faz alguns ruídos no fundo da
garganta.

Eu não sinto nada. Eu a empurro para longe.

Ela tropeça para trás, caindo de bunda e começa a


chorar.

Eu suspiro e abro meu telefone, mandando uma


mensagem rápida antes de cruzar os braços novamente.
— Quem me encontrou?

Amelie fica de pé, olhando para mim.

— Quem você acha?

Eu balancei minha cabeça. Existe apenas uma pessoa


que Amelie saberia... uma pessoa com quem Amelie saberia
que eu não quero envolvimento.

— Saia — eu estalo.

— Mas...

— Sem mas, Amelie. — A raiva me inunda. — Se você não


sair agora, vai desejar nunca ter posto os pés aqui.

Ela joga os ombros para trás.

— Não se preocupe, Caleb. Eu já desejo isso.

Ela passa por mim, sobe as escadas e bate a porta da


frente atrás dela.

Eli desce uma fração de segundo depois, assobiando.

— Uau. Você está comendo Amelie pelas costas de Margo?

Eu resmungo.

— Porra, não.

— Então o que ela queria?


Eu agito meus membros. Eu preciso ir para a academia,
trabalhar um pouco dessa energia repentina e ansiosa. Ela
poderia estragar tudo.

— Caleb. — Eli acena com a mão na frente do meu rosto.


— O que Amelie queria?

— Me avisar. — Eu respondo secamente. — Tenho certeza


de que ela estava procurando uma desculpa qualquer para vir
aqui.

Eli ri.

— Sim cara. Certo. Avisar sobre o quê?

Eu suspiro. Posso muito bem contar a ele. Afinal, devo


muito a ele pelo resto da minha vida. Oh, mas ele vai pirar.

— Se você disser uma palavra sobre isso a alguém, eu


mato você.

Ele concorda. Ele está acostumado com minhas ameaças


– leva-as na esportiva e pensa que algo está errado quando eu
não o ameaço.

— A mãe de Margo está de volta à cidade.

Eli empalidece.

— Porra.

Eu aceno, mas é espasmódico.

— Ela vai ficar no caminho. Eu disse a ela...


— Não importa o que você disse a ela, cara. — Ele
responde. — Você vai descobrir o que ela quer e acompanhá-
la de volta para fora de Rose Hill.

Sim. Porque é assim tão fácil.

Se ela descobrir sobre Margo...

Fim de jogo.
Minha assistente social, Ângela, está na cozinha quando
desço as escadas.

Eu congelo por um segundo, olhos arregalados, antes de


me forçar a continuar me movendo. Minha cabeça dói, meu
estômago está revirando, mas no geral – provavelmente poderia
ser muito pior.

— Bom dia. — Ângela me diz.

Eu sorrio para ela.

— Está aqui há muito tempo? Você poderia ter me


acordado.

Ela ergue uma sobrancelha.

— Eu ouvi que você teve uma noite tardia. Tropeçando


depois do toque de recolher com um menino, bêbada...

O sangue corre para longe do meu rosto.

— Eles chamaram você para me levar embora? Foi um


erro...

— Ninguém está levando você embora. — Ângela se


levanta da cadeira e se aproxima. — Essa visita estava
marcada com eles desde a semana passada, ok? Acalme-se.
Eu expiro.

— Mas…

— Ângela...

— Estamos preocupados. — Diz ela. — O que há com esse


comportamento, Margo? Isso tem a ver com o seu p...

— Não! — Eu passo por ela e abro o armário, procurando


por uma caneca. Depois de servir e adoçar uma xícara de café,
sento-me à mesa.

Ela se junta a mim, me observando com olhos


preocupados.

— Onde estão os Jenkins? — Eu murmuro.

— Eles decidiram nos dar um pouco de privacidade. —


Diz ela. — É só você e eu. Como vai você?

Eu suspiro.

— Bem, eu acho. É estranho estar de volta à escola, com


pessoas que eu conhecia... — Eu balanço minha cabeça. Agora
não é hora de me desviar por pensamentos sobre Caleb. —
Ainda estou me acostumando com os Jenkins sendo tão legais.

Angela ri.

— Pelo que ouvi, eles pensam o mundo de você.

— Provavelmente não depois de ontem à noite. — Eu foco


meu olhar para fora da janela.
— Eles sabem que os adolescentes cometem erros. — Ela
toca meu pulso. — Peça desculpas e as coisas ficarão bem. Não
escorregue de novo.

— Eu não vou. — eu prometo. Eu mudo. — Eu tenho uma


pergunta para você.

— Pergunte.

— O telefone de Claire desligou. Eu não fui capaz de


contatá-la. Você poderia dar a ela meu número se eu anotasse?

Claire, Hanna e eu estávamos juntas em meu último lar


adotivo. Claire tem dezesseis anos e Hanna tem doze. Elas são
irmãs de verdade, o que significa... bem, havia uma chance
maior de que elas não se separassem. O sistema de adoção
quer que elas fiquem juntas.

Sabíamos, no final, que eu não iria para a mesma casa


nova que elas. Não tinha como. Duas adolescentes são uma
coisa – três são quase impossíveis de colocar juntas.

Os lábios de Ângela se estreitam.

— Não posso prometer nada, Margo. Mas sim, se você


escrever como entrar em contato com você, posso tentar passar
adiante.

Eu sorrio.

— Obrigada, Ângela. De verdade.


— Sem promessas. — Ela repete. — Mas farei o meu
melhor.

Ficamos de pé e ela me envolve em um abraço.


Normalmente somos um tipo de relacionamento de contato
limitado, e o momento me surpreende. Eu a abraço de volta,
inalando seu cheiro quente de baunilha.

Ela foi a única pessoa estável em minha vida por sete


anos.

— Tome cuidado. — ela diz. — E não beba mais. Este é


seu único aviso. Entende?

— Sim, senhora. — Eu seguro o desejo de saudá-la.

Eu tranco a porta depois que ela sai. Eu me inclino contra


ela, deixando minha cabeça cair para frente. Eu sou uma
idiota. Deixar Caleb me embebedar – ok, bem, isso não é
realmente justo. Ficar bêbada e deixá-lo me levar para casa –
esse é o erro.

Aquele que não vai acontecer novamente.

Estou sentada no sofá quando Lenora e Robert chegam


em casa. Eles estão armados com mantimentos e, assim que
as sacolas são colocadas na ilha da cozinha, eles entram e se
sentam comigo.

— Você viu a Ângela? — Lenora pergunta.


Eu aceno, mordendo meu lábio. Guerras de incerteza
dentro de mim. Eu apenas deixo escapar um pedido de
desculpas? Fácil assim?

— Você teve alguma preocupação? Conosco? — As


sobrancelhas de Robert enrugam.

— Não. — Eu digo. — Eu só... sinto muito. — Deixando


escapar um pedido de desculpas, é isso. — Eu nunca bebi. Eu
nunca fiquei bêbada...

— Margo. — Lenora franze a testa e estende a mão em


minha direção.

— Eu me sinto mal. Não quero colocá-la nessa posição.

— Está tudo bem. — Lenora diz.

Robert olha para ela.

— Bem, não está bem, você pode fazer de novo. Mas você
está admitindo um erro, e nós apreciamos isso.

Eu aceno rapidamente.

— Mas não podemos deixá-la impune. — Acrescenta. —


Até novo aviso: escola e casa. Sem exceções.

Eu engulo. É justo. Alguns outros lares adotivos teriam


trancado seus filhos em um quarto por uma semana.

— Compreendo. Obrigada.
Todos nós nos levantamos e eu me retiro para o meu
quarto. Eles poderiam ter me enchido com tarefas... cortado o
wi-fi... um monte de coisas. Eu coloco meu café na mesa e olho
ao redor, maravilhada – de novo – com o luxo desta casa.

Meu telefone vibra.

Eu pego, meio que esperando que seja Riley ou Caleb.

Meu coração afunda.

Desconhecido: Tornou-se uma grande tola?

Desconhecido: [anexo de vídeo]

Eu clico no vídeo e prendo a respiração. Sou eu…

Oh Deus.

Alguém estava observando Caleb e eu quando saímos da


festa na noite passada. Há uma visão clara de mim caindo para
trás contra seu carro. Sua mão indo para minha calça. E…

Eu deixo cair o telefone, cobrindo minha boca com as


duas mãos. Ele cai na cama virado para baixo, mas o vídeo
continua sendo reproduzido. Acima da música da casa e das
pessoas falando, há respiração.

Esse barulho vai me assombrar por um tempo.

Meu telefone toca, interrompendo o vídeo. Eu pulo um pé


e lentamente viro. Se for o Desconhecido, ligando de repente,
posso perdê-lo.
É um número com o qual não estou familiarizada, então
ignoro a ligação e volto para a conversa do Desconhecido. Eles
me enviaram outra mensagem.

Desconhecido: Agora... o que fazer com isso? Muitas


opções.

Eu: O que você quer?

Desconhecido: Isso seria muito fácil.

Desconhecido: Mantenha seu telefone com você. Entrarei


em contato.

Meu estômago embrulha. Corro para o banheiro, caindo


de joelhos na frente do vaso sanitário. Quando termino, fico
com as pernas trêmulas. Minha boca e garganta queimam com
o ácido.

Lenora está na porta, franzindo a testa para mim.

— Apenas mais uma razão para não exagerar no álcool.


— Ela murmura.

Eu coloco minhas mãos sob a torneira e enxáguo minha


boca, ignorando-a por um momento. Eu cuspo e limpo minha
garganta, então me endireito.

— Eu sinto muito.

Ela me entrega uma toalha.


— Nós só podemos discipliná-la até certo ponto. Existem
consequências que você aprenderá por conta própria. Você
está sentindo ressaca?

Eu balancei minha cabeça.

— Eu estava bem até agora.

Uma mentirinha branca nunca fez mal a ninguém.

Ela dá um tapinha no meu ombro.

— Bem, você só tem lição de casa para fazer hoje. Acho


que você vai ficar bem.

Eu encolho os ombros e nos movemos para o corredor.


Eu me forço a voltar para o quarto e ela se dirige para as
escadas. O medo aperta meus pulmões. Eu me fecho
novamente. Devo deletar o vídeo e qualquer evidência do
Desconhecido.

Eles podem estragar tudo.

Minha vida na escola. Ficar com os Jenkins.

E se eles viram? Seria a cereja do bolo. Um erro é apenas


isso: um erro.

Alguém tem um vídeo de Caleb colocando a mão nas


minhas calças.

O engraçado é que não iria nem voltar para ele. Ele seria
elogiado como o cara que conseguiu alguma ação da pária
bêbada. E eu... eu sou a pária bêbada nesse cenário.
Penso em implorar ao Desconhecido para excluí-lo. Mas
quanto mais penso nisso, mais sei que é uma má ideia. Eles
estavam em busca de sangue antes mesmo de eu começar a ir
para Emery-Rose. E agora eles finalmente têm uma lâmina
afiada o suficiente para cortar.

Meu telefone toca e eu pulo novamente.

É o mesmo número desconhecido de antes. Desta vez, eu


atendo.

— Margo? — A voz é familiar.

Eu suspiro de alívio.

— Oh meu Deus, Claire! Eu acabei de perguntar a


Ângela...

— Ela me deu. — Ela interrompe. — As coisas têm estado


loucas aqui. Eu queria entrar em contato, mas...

— Como está Hanna?

— Tão bem quanto se pode esperar. — Diz ela. — Foi uma


transição difícil. Nós amávamos – bem, você sabe.

Eu sei.

É difícil se apegar a uma família. Mas uma vez que você


o faz... geralmente surge algo para estragar tudo. É por isso
que quero manter os Jenkinsens à distância. Eu gosto deles.
Mas se eu fosse ser transferida, neste momento, não ficaria tão
arrasada.
Ok, talvez eu ficasse.

É a dor de perder famílias – repetidamente – que mata seu


espírito. Já vi isso acontecer muitas vezes para deixar
acontecer comigo. Tenho menos de um ano e preciso escapar
intacta.

— Você está perto de Rose Hill? — Eu pergunto.

— Estamos na próxima cidade. Eles me colocaram no


colégio extravagante. Foi uma viagem. — Ela ri.

— Isso é bom.

— Sim. Estou pronta para dar o fora daqui, no entanto.

Eu caio na cama.

— Talvez já que você está perto, possamos nos encontrar


um dia. Adoraria ver Hanna também.

— Nós adoraríamos isso. — Claire responde, sua voz


visivelmente mais leve. — Sentimos sua falta, Wolfe.

— Oh, droga. — Eu bato na minha testa. — Estou de


castigo, Claire.

— O que diabos você fez para ficar de castigo?

— Voltei para casa bêbada. — Eu digo em voz baixa.

Sua risada fica mais alta.

— Impagável. Tem algum vídeo disso? Adoraria ver você


bêbada...
— Não. — Sai um pouco mais duro do que eu pretendia.
— Desculpe Claire. Isso é um pouco melindroso.

— O que está acontecendo com você, Margo? Os novos


pais adotivos são tão ruins assim?

— Eles são ótimos. — Eu caio de lado, minha cabeça


batendo no travesseiro. — Eu só... estou preocupada, ok?

— Ouça. — Claire nunca foi racional. Suas ideias são


meio malucas na maior parte do tempo. De nós duas, ela era
a instigadora. A encrenqueira. — Fuja e me encontre na sexta-
feira. Na hora do almoço.

Sim. Ela é louca.

— Eu tenho que voltar para o último período. — Digo a


ela. — Meu pai adotivo é meu professor.

— Brutal. — Ela limpa a garganta. — De qualquer forma,


vamos nos encontrar no shopping! Sexta-feira. Você estará de
volta antes que alguém perceba.

Não adianta discutir com ela. Claire com uma ideia é uma
garota em pé de guerra.

— Não tenho carona. — Tento.

— Peça a um de seus amigos para levá-la. — Diz ela. —


Ou o cara que te embebedou.

Eu balancei minha cabeça. Talvez Riley faça isso se eu a


subornar...
— Eu aviso você. Ok?

— Amo você, mana. — Claire diz, fazendo um barulho de


beijo no telefone.

A linha fica muda antes que eu possa responder.


Eu entrei no pátio e localizei Riley quase imediatamente.
Ela tem uma bolha de espaço ao seu redor, o que é incomum.
Os meninos dourados são aqueles que conseguem respirar –
não nós.

À medida que me aproximo, o pátio diminui lentamente o


ruído.

É tão silencioso que você pode ouvir um alfinete cair.

As sobrancelhas de Riley enrugam e Savannah está de


repente no meu caminho.

— Seguindo os passos da querida mamãe, ovelha? — Ela


ri. — Demorou apenas algumas semanas para que suas
verdadeiras cores surgissem.

Eu balanço minha cabeça e passo por ela. Os olhares me


seguem.

Riley corre em minha direção, me puxando de volta na


direção que viemos. Saindo para o estacionamento.

— Meu Deus, Margo!

Eu recuo.

— O que? Por que todo mundo está agindo tão estranho?


Ela morde o lábio, me puxando para longe do pátio.
Mesmo quando os alunos entram, eles me lançam olhares
estranhos.

— Hum, todo mundo recebeu um e-mail esta manhã...

Eu balancei minha cabeça.

— Eu não recebi.

— Ele é…

Meu estômago cai com a expressão em seu rosto.

— Riley, — eu estalo — cuspa isso. Por favor.

Ela abre seu e-mail e me passa seu telefone.

É uma foto. Muito parecida com o vídeo que o


Desconhecido me enviou, esta tem Caleb e eu em alta definição.
Seus lábios estão no meu pescoço. A mão dele está claramente
na minha calça. Meus olhos estão fechados, lábios
entreabertos. Inferno, parece que estou tendo um orgasmo.
Estou... desonrada.

Não há mais ar em meus pulmões.

Ela agarra meu ombro e, de repente, estou sentada no


chão.

— Respire. — Ela diz, esfregando minhas costas. — Tudo


bem. Nem sequer está...
— Eu não posso. — Eu engasgo. — Eu não posso fazer
isso. Eu não posso entrar lá.

Como o Desconhecido pode fazer isso comigo?


Especialmente porque eu não fiz nada para ele. Nada. E com
um único e-mail, minha vida ficou dez vezes pior.

— Dadas as circunstâncias, acho que eles entenderiam


se faltássemos... ah, não.

Eu levanto minha cabeça.

Caleb vem em nossa direção. Seu rosto está incrivelmente


zangado.

Ele não para até que esteja bem na nossa frente. Ele me
puxa pelos pulsos, embora eu não tenha certeza se posso ficar
de pé. Meus joelhos vacilam.

— Ela está hiperventilando. — Diz Riley.

Ele toca minha bochecha.

Eu não consigo parar de ofegar. Algo pesado se plantou


em meu peito. Eu agarro sua camisa, meus olhos arregalados.

— Ataque de pânico. — Riley diz. — Honestamente, eu


nem mesmo a culpo. Mas vai ficar tudo bem, Margo. É apenas
uma foto.

— Nos dê um minuto. — Caleb rosna, sem tirar sua


atenção do meu rosto.

Eu me sinto como um peixe procurando por ar.


— Margo.

Eu balanço minha cabeça.

— Eu não posso...

Ele bate seus lábios nos meus, cortando minhas


palavras. Meu corpo automaticamente relaxa nele. Sua língua
força meus lábios a se separarem, tomando posse da minha
boca.

Eu estremeço contra ele, finalmente respirando fundo


pelo nariz. Então de novo. Ele não está me beijando – ele está
me ressuscitando.

Ele finalmente dá um passo para trás e seus olhos


procuram os meus.

Ele ainda está segurando meus pulsos.

— Uau. — Riley murmura, a alguns metros de distância.


— Isso foi quente.

— Vou descobrir quem o enviou. — Diz ele. Uma máscara


desliza sobre suas feições.

— Sr. Asher! — A diretora vem em nossa direção. — Sr.


Asher você está suspenso!

Ele solta meus pulsos e a encara.

— Eu sei.

— Então, o que diabos você está fazendo aqui?


Ele encolhe os ombros, mantendo-me quase sempre atrás
dele. Talvez ele pense que ela vai virar sua ira contra mim, a
seguir. Ou talvez…

Ai meu Deus. Ela também entendeu?

— Não se preocupe, estou saindo. — Diz ele. — Vejo você


na quarta-feira.

Ela funga, girando nos calcanhares e marchando para a


escola.

Caleb se vira para mim, batendo sob meu queixo até que
eu encontre seu olhar.

— Você vai ficar bem. Ignore-os.

Eu concordo.

— Certo.

— Vejo você mais tarde.

Ele vai para o carro e eu giro lentamente em direção a


Riley.

— Isso é um bom presságio. — Diz ela.

— Por que ele está suspenso?

Ela solta um suspiro, ligando seu braço ao meu. O sinal


toca, o que significa que evitamos com sucesso o pátio.

Entramos e ela disse em voz baixa:


— Os pais de Ian reclamaram. Ameaçaram processar se
eles não fizessem algo para conter a reação de Caleb.

— Ele tem se envolvido em muitas brigas. — Murmuro.


— Será que Ian...

— Ele está por aqui em algum lugar. — Riley me puxa


para mais perto.

Todos os olhos estão em mim.

Tento fazer o que Caleb disse – ignorá-los – mas é difícil


quando o corredor fica quieto novamente. Riley fica comigo até
chegarmos à minha sala de aula, e ela me lança um olhar
simpático.

— Vou ficar bem. — Digo a ela.

Ela acena com a cabeça uma vez.

Eu deslizo em meu assento e mantenho minha cabeça


baixa.

Alguém chuta minha mochila quando eles passam, o


conteúdo se espalhando pelo chão.

Uma líder de torcida para, um pé pairando sobre meu


telefone caído. Ela olha em volta e ri.

— Eu esperava mais preservativos, vagabunda. Abrindo


as pernas para quem te embebedar em uma festa.

Eu balancei minha cabeça.


— Isso não é...

— Por que mais Caleb iria atrás de você? Um alvo fácil.

Minhas bochechas queimam.

Ela zomba, usando o dedo do pé para fazer meu telefone


derrapar no azulejo. Longe de mim.

— Oops.

Continua assim ao longo do dia, só crescendo em


intensidade. Tento me concentrar no que é bom: Caleb estará
de volta na quarta-feira e vou ver a Claire na sexta. Embora,
eu precise descobrir como vou para o shopping... vou ter que
escapar das garras de Caleb e sair da escola por alguns
períodos.

Deve ser interessante.

Quando entro na minha última aula do dia, estou


derrotada. Alguém derramou leite com chocolate em mim
depois do almoço, e minha camisa tem um cheiro adocicado.
Ela gruda na minha pele.

Robert olha para mim e me deixa de lado.

Os professores não têm agido de forma diferente, o que


me faz crer que foi enviado apenas para os alunos. Nunca
saberei como esse milagre aconteceu.

— Você está bem? — Ele se inclina, tomando cuidado


para não me tocar.
Mantemos nosso relacionamento na escola, profissional.
Embora, eu sei que se estivéssemos em casa, ele ficaria tentado
a me abraçar. Ele estava rude esta manhã, mas agora apenas
a preocupação irradia de seu corpo.

— Estou bem. — Digo.

— Você parece…

Eu suspiro.

— Tem sido um longo dia.

Ele aperta os olhos para mim.

— Você está sendo intimidada?

— Nada que eu não possa controlar.

Eu me pergunto o que aconteceria com uma delatora. O


tormento aumentaria, eu imagino.

As líderes de torcida foram a força motriz hoje. Amelie e


Savannah assistiram enquanto suas asseclas me beliscavam,
arruinavam minhas coisas. Meu armário estava cheio de lama.
A parte de trás dos meus braços está machucada por dedos
que beliscaram minha carne.

Nunca estive tão tensa.

E é provavelmente porque Amelie e Savannah querem


Caleb – e aqui está a prova de que ele me quer.
Ele nem está aqui para impedir. Não estará até quarta-
feira.

— Ok, sente-se. — Ele estende a mão agora, colocando a


mão no meu ombro por um breve momento.

Eu consigo sorrir para ele. Eu me enfio em um canto pelo


resto da aula, deixando minha mente vagar. Achei ter visto
alguém conhecido na festa. Mas ainda não consigo definir
quem foi. Talvez eles sejam os culpados.

Ou pode ser... literalmente qualquer um que foi à festa.

Preciso descobrir quem é o Desconhecido e qual é o seu


objetivo. Se eu puder descobrir seus motivos, talvez possa
detê-lo ou contar a alguém que possa me ajudar.

A campainha toca, interrompendo meus pensamentos. As


cadeiras se arrastam para trás e meus colegas realizam um
êxodo em massa.

Eu fico onde estou me perguntando se posso apenas


esperar todo mundo sair.

Robert começa a guardar, lançando-me um ou dois


olhares antes de pousar as telas e se aproximar.

— Algo está errado.

— Foi apenas um dia difícil.

Ele se senta no banquinho ao meu lado. Aquele que Caleb


geralmente pega.
— Aconteceu alguma coisa na festa?

Eu recuo.

— Não. Está tudo bem. Por favor. Eu cuido disso.

Ele exala.

— Dói ver você assim, Margo. Eu só... se você precisar de


alguma coisa, por favor, não hesite em pedir.

— Obrigada, Robert.

Ele arruma a pasta e vamos em direção ao carro.

Sem surpresa, Caleb está esperando por nós.

A escola inteira se esvaziou rapidamente. Além dos carros


de estudantes que ficam até tarde para praticar esportes, o
estacionamento está deserto. Ele se levanta de onde estava
encostado no carro, estacionado ao lado do de Robert, e nos
lança um sorriso.

— Se importa se eu roubá-la? — Ele pergunta a Robert.

Meu pai adotivo dá de ombros.

— Eu acho que ela precisa de um pouco de ânimo. Mesmo


que ela esteja tecnicamente de castigo.

Eu estremeço.

Robert ri.

— Só volte antes que Len chegue em casa, ok?


— É isso aí, Sr. Jenkins. — Caleb diz. Ele abre a porta do
passageiro para mim, levantando minha mochila do meu
ombro.

Sentamos em seu carro e esperamos até que Robert vá


embora.

— Hoje foi um inferno. — Eu digo.

— Você é uma lutadora.

Essa pode ser a primeira vez que ele me faz um elogio.

— Tenho certeza de que não foi nada com que você não
pudesse lidar.

— Eu não quero lidar com isso. — Eu estalo. — Eu só


quero...

Ele se vira para mim, erguendo as sobrancelhas.

— Eu não sei. — Eu termino sem jeito. Minha mente está


uma confusão. —Eu tenho que fazer isso de novo amanhã?

— Talvez algo mais interessante apareça. — Ele pisca


para mim e finalmente põe o carro em movimento.

Seguimos em uma direção desconhecida. Quando ele


entra em uma garagem e estaciona, não tenho escolha a não
ser segui-lo até a calçada da frente.

— De quem é essa casa?


— Eli — ele diz. — Ele está ocupado. Mas já que você tem
uma hora, achei que poderia tornar o seu dia um pouco
melhor.

A casa parece estranhamente familiar. Como se tivesse


vindo em um sonho.

Entramos em sua sala de estar e Caleb se joga no sofá.


Ele dá um tapinha no espaço ao lado dele.

— Sente.

— Você acabou de entrar na casa dele?

Ele concorda.

— Sim. Seus pais são muito legais. Eles viajam muito, no


entanto.

— Tenho que amar pais ausentes. — Respondo.

Seu rosto fecha por um segundo.

— Por que você atacou Ian? — Eu preciso mudar de


assunto.

— Apenas protegendo o que é meu. — Sua mão envolve


minha nuca e me puxa para ele.

Nossos lábios se tocam suavemente no início, mal se


movendo.

Eu abro meus olhos.


Ele está me observando. Sua mão livre sobe furtivamente
minha camisa, dançando nas minhas costas. Ele desabotoa
meu sutiã ao mesmo tempo em que me abaixa no sofá.

— O q…

— Uma escolha. — Ele diz, seus lábios se movendo para


o meu queixo. Ele apalpa meu peito. Seus dedos encontram
meu mamilo, rolando-o e beliscando. — Se você quiser isso –
se você me quiser – é só dizer a palavra.

Uma escolha.

Não é apenas uma. É uma série de escolhas que podem


levar à catástrofe...

Ou a felicidade.

Deus, isso parece uma possibilidade agora, com a


respiração de Caleb em meu ouvido e suas mãos na minha
pele. Ele poderia me tocar como um instrumento, me fazer
cantar. Nunca me senti assim por ninguém. Ninguém nunca
se preocupou em tentar me tocar.

E então me ocorre que estamos na sala de estar de seu


melhor amigo.

Afasto seu rosto, olhando para ele.

— Sim, mas não aqui.

Ele ri, e as paredes que ele derrubou por uma fração de


segundo ressuscitam.
— Se não for aqui, onde?

Se não agora, quando?

Ele se levanta de cima de mim e sai da sala. Meu silêncio


deve ter falado por si.

Com dedos trêmulos, prendo novamente meu sutiã e


endireito minha camisa.

Ele volta com sua jaqueta. Há uma nova configuração em


sua mandíbula e um sorriso malicioso nos lábios.

— Minha casa. Se você não quiser aqui... e não vai me


dizer onde, então eu escolho.

Eu tremo.

Mas não posso dizer que sou contra.

O trajeto até sua casa é rápido. Está mais silencioso do


que um cemitério em sua casa.

Quando passamos pela sala da frente, aponto para os


móveis cobertos.

— Por que esse lugar é tão...

— Assombrado?

Eu encontro Caleb. Não tinha percebido que ele havia


parado de andar e quase caio para trás.

Ele agarra meus braços, me mantendo estável.


— Muitos fantasmas nesta casa, amor.

Eu encontro seu olhar.

— Vamos banir alguns. — Ele se inclina e me beija.

É mais cruel do que o beijo na casa de Eli. Algo mudou.


Ele liberou o monstro dentro dele.

Eu estremeço com a infiltração. Meu coração se abre


quando ele me apoia contra a parede, pegando meus pulsos e
segurando-os acima da minha cabeça com uma de suas mãos.
Sua outra mão continua a explorar o meu corpo como se nunca
tivéssemos parado.

Sua língua desliza em minha boca.

Eu empurro sua língua para fora com a minha. Ele tem


gosto de mel e canela. Ele rosna, o som ressoa no fundo de sua
garganta e arranca seus lábios dos meus. Ele se agarra ao meu
pescoço, mordendo e chupando.

Eletricidade flui através de mim. Eu levanto minha perna,


envolvendo-a em torno de seu quadril e puxando-o bem contra
mim.

— Caleb. — Eu gemo, minha cabeça caindo para o lado


para dar acesso a ele.

Ele solta meus pulsos e desabotoa minha camisa. Eu


encolho os ombros, deixando-a cair, e ele desabotoa meu sutiã
novamente. Seus lábios se movem para baixo, para fora do
meu pescoço. Ele puxa um dos meus mamilos em sua boca, os
dentes roçando nele.

Estrelas explodem na frente de minhas pálpebras. Eu


enrolo meus dedos em seu cabelo, segurando-o contra mim
enquanto meu corpo todo fica tenso. A dor é boa. Ele poderia
fazer isso comigo por uma eternidade, e eu não acho que ficaria
doente com seu toque.

Ele foi feito para mim.

Dor e prazer.

Ele me carrega pela porta e para dentro da casa. Eu fico


olhando em seus olhos, tentando memorizar tudo. Estou
bêbada com ele.

Ele me coloca no balcão da cozinha, arrastando meus


lábios de volta aos dele antes que eu possa registrar onde
estamos. Ele me beija como se estivesse morrendo de fome e
eu sou sua sobremesa favorita.

Completamente.

De forma selvagem.

Ele empurra minha saia para cima e puxa minha


calcinha. Eu vacilo com o rasgo repentino.

— Você acabou de...

Ele levanta minha calcinha rasgada, piscando para mim.

— Caleb...
— Não se preocupe, amor... — diz ele — tenho a sensação
de que você vai gostar do que está por vir.

Ele mergulha um dedo em mim sem aviso.

Meu abdômen se contrai e eu arqueio minhas costas. Ele


está entre meus joelhos, me forçando a abrir mais, e eu me
inclino para trás no balcão.

Ele bate no meu queixo com a mão livre.

— Me veja.

Eu estremeço quando ele se abaixa, sua cabeça indo


entre minhas coxas.

Igualzinho ao meu sonho.

Ele coloca minhas pernas em seus ombros. E então ele


faz uma pausa, olhando para mim com uma expressão
estranha.

— Caleb...

Ele morde a parte interna da minha coxa. Eu grito,


tentando fechar minhas pernas, mas seus ombros bloqueiam
o movimento.

Sua língua passa pela minha fenda, girando em meu


clitóris. Seu dedo ainda está dentro de mim, pegando um ritmo
brutal enquanto sua língua dá atenção ao meu broto de
nervos.
Eu gemo. É muito bom. Insuportável, mesmo. Tento
empurrá-lo para longe, mas ele não se move.

Seus dentes roçam meu clitóris.

Eu grito e tento me esquivar.

Ele agarra minha bunda, me arrastando para a borda do


balcão.

— Faça tanto barulho quanto quiser, amor.

Sua língua mergulha em mim e eu choramingo.

Algo animalesco sai de dentro de mim. Eu rolo meus


quadris nele. Seu dedo assume onde sua língua parou, e ele
chupa meu clitóris com força.

Eu quebro.

O orgasmo explode dentro de mim, manchas brancas


dançando na minha visão. Eu pego sua cabeça enquanto ele
suga e suga. Meu corpo inteiro treme com o espasmo.

Mas em vez de parar... ele continua. Seu dedo empurra


para dentro e para fora, em um ritmo rápido e constante.

— Pare. — Eu gemo. Meus braços estão gelados. Eu me


deixei cair de volta no balcão.

— Não. — Ele diz, me puxando para cima.


Ele abre o botão da calça e nós dois olhamos para sua
ereção. Há uma gota de líquido brilhando na cabeça de seu
pênis.

Ele rola uma camisinha e me beija ao mesmo tempo em


que enfia em mim.

A dor disso é... chocante. Olhos abertos.

Eu suspiro em sua boca, e ele só faz uma pausa por uma


fração de segundo.

Virgem, tenho certeza que ele pensa.

A vergonha borbulha na euforia.

— Você sempre foi minha. — Diz ele contra meus lábios.


— Isso só confirma isso.

Eu envolvo minhas pernas em torno de seus quadris.


Estamos no ângulo perfeito. A altura perfeita.

E o fato de que ele não surtou comigo tira um peso do


meu peito. Eu não percebi que estava preocupada até agora.

Após alguns segundos de desconforto – uma sensação


estranha – ele se move.

— Eu não quero gentil. — Eu digo, segurando seu bíceps.

— Boa coisa, porque meu autocontrole está prestes a sair


pela janela. — Ele bate em mim, me enchendo completamente.
No fundo da minha mente, eu sabia que não seríamos
capazes de fazer nada fácil. Assim como não seríamos capazes
de fazer devagar.

Somos rápidos, imprudentes e selvagens.

Eu cavo minhas unhas em sua pele. Ele martela


implacavelmente em mim. Uma sensação de formigamento
pega no meu abdômen inferior e meus dentes rasgam seu lábio
inferior. Meu coração está batendo tão rápido que pode
levantar voo.

— Grite. — Ele ordena. Ele bate no meu clitóris.

Este orgasmo é violento, uma força de tsunami. Melhor –


ou pior – do que o primeiro. Abro a boca, mas nenhum som
sai.

Ele pressiona meu clitóris novamente, ainda empurrando


em mim.

Eu deixo minha cabeça cair para trás e o faço. Eu grito.

Eu grito seu nome, minhas coxas tensas em torno dele,


até que minha voz desaparece.

Ele acelera e então fica imóvel, derramando-se dentro de


mim. Ficamos assim por um longo momento, abraçados.

Seu pulso martela em nossa conexão.

Ele puxa lentamente. Tem sangue na camisinha, nas


minhas coxas, no balcão.
Ele toca minha bochecha, sorrindo tristemente. Seu dedo
passa sob meu olho.

— Você é linda.

Eu deslizo para fora do balcão. Meus músculos tremem.

— Eu preciso de um minuto. — Eu digo em voz baixa.

Ele inclina a cabeça e eu me afasto para o banheiro. Leva


mais tempo do que eu esperava para juntar minhas peças
novamente. Minha decisão vai aqui, minha dignidade vai lá.
Centímetro por centímetro, eu reconstruo quem eu era.

Quem diria que o sexo iria me destruir?

Eu me limpo. Quando saio do banheiro, Caleb estende


meu sutiã e minha camisa.

Eu fico olhando para a ilha da cozinha.

— Vou te foder naquele balcão. — Ele prometeu. — Você


vai gostar, mesmo sabendo o que aconteceu aqui. Porque tudo
o que você será capaz de pensar é no meu pau na sua boceta,
espalhando-a amplamente. Atingindo todos. Porra. Nervos.

O horror toma conta de mim.

Ele falou a verdade. Eu esqueci. Eu me deixei cair em sua


loucura, e agora...

— Caleb. — Eu engasgo, agarrando minha camisa e a


abraçando no meu peito. — Como...
— Como eu poderia? — Seus olhos estão escuros.
Cintilante. Ele se inclina até que estejamos cara a cara. — Você
não aprendeu nada?

Eu fecho meus olhos. As lágrimas caem fortes e rápidas


pelo meu rosto.

Ele puxa minha camisa do meu controle e a coloca em


mim. Força meus braços nas mangas e abotoa a frente. Ele
pega meu sutiã, minha calcinha de onde ele as deixou cair, e
desliza ambos para o bolso.

— Vamos. — Ele coloca a mão entre minhas omoplatas e


me guia para fora.

— Você conseguiu o que queria. — Eu digo uma vez que


estamos no carro. Há um frio no ar e meus mamilos endurecem
sob minha camisa. Quero pular do carro e caminhar para casa,
em vez de deixá-lo ver.

— Sim, bem, nem tudo é luz do sol e rosas de merda aqui.


— Ele bate em sua têmpora.

Voltamos para a casa dos Jenkins em silêncio. Eu saio e


corro para a porta da frente sem olhar para trás, minha
mochila batendo no meu ombro. O carro de Lenora não está
na garagem e eu consigo escorregar para o meu quarto sem ser
notada.

Eu vou para a minha janela a tempo de ver o carro de


Caleb voltar para o tráfego, escapulindo como se ele nunca
tivesse estado lá.
A sensação assombrada que tive quando entrei em sua
casa ainda está me cercando, mais densa do que a poluição.
Ele queria banir alguns fantasmas.

Acho que isso me inclui.


Eu passo meu braço pelo de Riley enquanto caminhamos
em direção à biblioteca.

— Eu preciso de um favor.

Ela inclina a cabeça.

— Favor do tipo, enterrar um corpo, ou quer parar e


tomar um café antes da escola?

Eu bufo. Ela destranca a porta e nós entramos.

Foi uma semana exaustiva, mas a boa notícia é: é sexta-


feira.

Uma vez que Caleb voltou para a escola, ele fez um show
ao ser extremamente legal comigo. Ele olhou de relance para
qualquer pessoa que viu fazendo comentários rudes. Só isso
pareceu sufocar a maior parte do bullying. Foi uma reviravolta
estranha, considerando como deixamos as coisas na segunda
à tarde. Metade de mim esperava que ele fingisse que eu não
existia e me jogasse para os lobos, por mais clichê que pareça.

— Como um favor... leve-me ao shopping.

Ela se deixa cair em sua cadeira.

— Bastante fácil.
Eu não sento.

— Espere... você quer dizer agora?

— Só... perca o almoço e talvez a próxima aula.

Ela aperta os olhos para mim.

— Por que você precisa ir ao shopping?

Eu desisto e afundo na cadeira ao lado dela.

— Minha irmã adotiva, Claire, pediu para me encontrar.


Ela sabe que estou de castigo...

— Claro. — Riley geme. — E eu sou a amiga com o carro.

Estendo a mão e agarro seu braço.

— Por favor, Riley. — Eu imploro. — Eu sinto falta dela.


Eu não a vi ou Hanna – sua irmã – desde que nos tiraram de
casa...

Eu não tenho que disfarçar as lágrimas que brotam em


meus olhos.

— Eu deveria ter perguntado a você ontem, ou...

— Você nem mesmo a mencionou. — Riley olha para o


teto, piscando bastante. — Deus, pare de chorar. Você vai me
fazer estragar minha maquiagem.

Eu fungo.

Ela finalmente se levanta.


— Certo, tudo bem. Uma hora. Eu encontro sua irmã
adotiva. E então voltamos para que o Sr. Jenkins não frite
minha bunda.

Eu concordo.

— Sim. Perfeito. Obrigada.

Eu jogo meus braços em volta de seus ombros, e ela


enrijece. Ela dá um tapinha nas minhas costas sem jeito até
que eu a solto, então ela solta uma pequena risada.

— Ok, siga o líder.

Caminhamos até o escritório de sua prima. Riley bate na


porta e Amy pula.

— Amy. — Diz Riley. — Margo está se sentindo super


doente. Você pode nos dar um passe para a enfermeira?

Amy aperta os olhos para mim.

— Você está doente?

Eu coloquei minha mão sobre meu estômago.

— Sim.

— Você está grávida?

Eu empalideço.

Ela bufa.
— Brincadeira, claro. Humor. Posso dar um passe para
você...

— Pra nós duas? Amy, vamos, — Riley implora. — E...

— Oh meu Deus, o que você vai fazer? Você parece...


tortuosa.

Eu mordo meu lábio para segurar uma carranca. Isso não


vai funcionar.

— Você pode nos escrever um passe de volta da


enfermeira, também? Vou trazer os biscoitos da mamãe na
segunda-feira.

Os olhos de Amy se iluminam.

— O de chocolate caseiro dela?

— Sim. — Riley concorda, balançando a cabeça


enfaticamente. — Então…

Amy suspira.

— Certo, tudo bem. Um segundo.

— Deixe o tempo em branco. — Eu interrompi.

Amy me olha, revirando os olhos. Ela nos entrega os


papéis e Riley a abraça.

Nós escapamos por uma porta lateral e nos agachamos e


corremos até o carro dela. Provavelmente é mais suspeito
assim, mas esta é a primeira vez que faltamos uma aula real.
Assim que estamos na estrada, começamos a rir.

— Conte-me sobre Claire. — Riley ordena.

Eu sorrio.

— Ela tem dezesseis. Mais inteligente do que eu, com


certeza. Sua irmã, Hanna, tem doze anos. As duas vieram para
minha família adotiva alguns meses depois de eu chegar lá.
Nós nos tornamos unha e carne.

Ela olha para mim.

— Parece bom.

— Claire é uma criança selvagem. — Eu digo. — Sempre


tendo ideias estúpidas. Hanna e eu éramos mais parecidas.
Silenciosas... aterrorizadas.

Riley bufa.

— Tímidas.

— Sim, isso.

Chegamos ao shopping em tempo recorde. Na praça de


alimentação, eu procuro ao redor ansiosamente por Claire
enquanto Riley sai para almoçar. Finalmente a localizo na
escada rolante.

Eu aceno freneticamente, chamando sua atenção, e corro


em sua direção. Batemos uma na outra, nos abraçando e
rindo.
Eu me afasto primeiro.

— Faz, o que, um mês? Você está crescida.

Seu cabelo loiro, comprido quando a vi pela primeira vez,


está curto e cacheado. Ela usa óculos de sol estilo gatinho na
cabeça, maquiagem clara e batom vermelho-escuro.

Ela consegue parecer mais adulta do que eu.

— Senti sua falta, Wolfe. — Ela me abraça novamente.


Ela é pequena o suficiente para enfiar a cabeça embaixo do
meu queixo. — Temos tanto para pôr em dia!

— Como está Hanna? — Eu pergunto.

— Brilhante. — Claire diz. — A família adotiva a ama, é


claro. Há um irmão neste lar. Estou pensando que eles podem
ser guardiões.

Meus olhos se arregalam.

— Isso é incrível.

Ela encolhe os ombros.

— Se eles me querem, é outra questão. Eles estão


apaixonados por Hanna, não por sua irmã mais velha
aventureira.

— Vocês duas são um pacote.

— Eu prefiro que ela tenha um lar que a ame. Eu vou


ficar bem.
Riley se aproxima com uma bandeja de comida, e a
cabeça de Claire se levanta.

— Quem é?

— Claire, esta é minha amiga, Riley. Riley, Claire.

Elas apertam as mãos e caímos no silêncio. Riley me


passa uma caixa de comida.

— Então, como é que as coisas estão de volta a Emery-


Rose? — Claire pergunta. — Encontrou Caleb?

Eu coro. Eu consegui manter nosso sexo em segredo de


todos – até de Riley. Mas não é segredo que somos diferentes.
Eu nem sei nos classificar. Estamos namorando? Sua
possessividade aumentou dez graus. Ele literalmente rosna
para qualquer um que olhe na minha direção. No entanto, não
o vejo fora da escola desde segunda-feira à tarde.

Um beijo roubado ou dois antes da aula, sua mão na


minha coxa no almoço... além disso, nada.

— Ooh, Riley, ela está ficando vermelha. O que está


acontecendo? — Claire se inclina para frente.

— Eles estão namorando. — Riley diz a ela. — Depois de


um começo tumultuado.

Claire agarra meu pulso.

— Sério? Margo, isso é ótimo! — Ela aperta com força


suficiente para machucar. — Afinal, você nunca calou a boca
sobre ele. É como se você quisesse que isso acontecesse contra
todas as probabilidades.

Eu sorrio, puxando meu pulso. Eu coloquei minhas mãos


debaixo da mesa. Ela sabe sobre minha história com ele, mas
sua reação não é bem o que eu pensava.

— E você? — Eu pergunto. — Algum garoto novo na sua


nova escola?

— Aonde você estuda? — Riley pergunta.

— Lion’s Head. — Ela sorri. — Há alguns caras bonitos


lá, Wolfe. Eles são deliciosamente ricos.

— Isso é tudo com o que você se preocupa? — Eu ri.

— Não, o tamanho de seu...

— Claire! — Eu grito.

Riley bufa.

— Suponho que seja um fator importante.

— Nossa garota não saberia. — Claire confidencia,


inclinando-se sobre a mesa em direção a Riley. — Ela nunca
fez sexo.

Riley encolhe os ombros.

— Isso não é uma coisa ruim.


— É se o cara que você quer é o pedaço de bunda mais
gostoso da escola... — Claire levanta as sobrancelhas. — Não
é verdade, Margo?

Eu inclino minha cabeça.

— O que você quer dizer?

— Só que... você sabe, eu esperaria, sendo sua namorada


que ele seria muito exigente na cama e tudo mais. E eu sei que
você não está realmente confortável... — Claire coloca um
chiclete na boca.

— Nós devemos ir. — Riley me mostra a hora em seu


telefone.

— Ah, droga. — Nós duas levantamos, e Claire se levanta


uma batida depois. — Foi bom ver você, Claire. — Eu ignoro o
último pedaço de nossa conversa. — Eles mencionaram que eu
vou sair do castigo em breve. Esperançosamente, isso significa
que podemos nos encontrar em um fim de semana com Hanna.

Claire faz uma careta.

— Meus fins de semana estão bem lotados. Mas Hanna


adoraria te encontrar! Tenho certeza que vocês duas podem
arranjar alguma coisa. — Ela dá a volta na mesa e envolve os
braços em volta da minha cintura. — É bom ver você, mana.

Riley e eu voltamos para o carro e ela me dá uma


cotovelada.

Ela diz:
— Você não contou a ela sobre nenhuma das coisas
ruins.

Eu encolho os ombros.

— Por que preocupá-la?

— A garota não parecia preocupada com você.

— Porque eu não disse a ela que Caleb era um valentão


épico e fez todo mundo me chamar de Ovelha... — Reviro os
olhos. — É melhor não dizer algumas coisas.

— Certo.

Nós estacionamos e corremos de volta para a porta lateral


que tínhamos deixado aberta, deslizando de volta para o
vestiário feminino. Foi uma saída estranha, admito. Mas é uma
das únicas portas que não é monitorada, já que as turmas de
ginástica costumam entrar e sair pela entrada do ginásio.

Pego nossas mochilas no armário do ginásio e passo a de


Riley para ela. Nós saímos e eu paro quando registro quem está
esperando por nós.

Caleb.

— Matando aula, amor? — Ele faz beicinho. É perigoso.


— Sem mim?

Riley se aproxima de nós, me lançando um olhar de


desculpas.

— Falo com você mais tarde.


Me deixando sozinha com o diabo.

— Eu tinha que estar em algum lugar. — Eu tiro meu


passe do bolso. — Está tudo bem, de qualquer maneira.

— Ooh, um passe. Da prima bibliotecária de Riley, sem


dúvida.

Eu pisco para ele. Ele parece relaxado, mas sinto a tensão


entre nós.

Ele está chateado, mas está escondendo bem.

— Como você sabe que Amy é...

— Prima? — Ele levanta um ombro. — Não é segredo.

Caminhamos pelo corredor.

— Onde você foi?

Eu balanço minha cabeça.

— Você realmente quer saber?

— Bem, não estou perguntando apenas para ouvir minha


própria voz.

Na porta da ala acadêmica, ele me segura.

— Você ainda está sendo atormentada?

— Você está perguntando por que está preocupado?

Ele desliza a mão pelo meu cabelo.


— Decidi que a única pessoa que pode ser cruel com você
sou eu.

— Está melhor. — Eu administro.

Estou absolutamente furiosa por ele ser insensível e me


excitar ao mesmo tempo. Meu corpo reage a ele como um fio
firmemente enrolado. Um toque e eu ganho vida.

— Vejo você esta noite. — Diz ele, me liberando. — E


talvez você responda às minhas perguntas.

— O que tem esta noite? — Eu o sigo escada acima, em


direção à minha próxima aula. — Caleb.

Ele pisca.

— Você não quer me dizer onde você foi? Dois podem jogar
esse jogo, amor.

Eu sofro com a antecipação durante as duas últimas


aulas – incluindo a aula de arte, com Caleb sentado mais
imóvel do que uma estátua ao meu lado. Obter respostas dele
é como tentar espremer o sangue de uma pedra. Inútil e
impossível.

Ele vai até Robert perto do final da aula, sussurrando


algo.

Robert balança a cabeça lentamente.

— Eu suponho que vou precisar falar com minha esposa.

Caleb retorna ao seu lugar. Ele sorri para mim.


— O que foi aquilo? — Eu sussurro.

— Nada para se preocupar. — Ele diz. — Você vai


descobrir em breve.

A campainha interrompe qualquer interrogatório


posterior. Caleb desliza para fora de seu banquinho e sai pela
porta, me deixando para trás. Sem olhar para trás, sem pairar
como nos últimos dias. Ele apenas... puf. Se foi.

Robert pigarreou.

— Pronta?

— O que Caleb perguntou a você?

Ele balança a cabeça.

— Só fez uma pergunta pessoal.

Ele não vai me dizer. Tento não deixar isso doer muito.

Quando estamos em casa, vou para o meu quarto. Meu


telefone está excepcionalmente silencioso. Sem Caleb, sem
Riley... sem Desconhecido.

Eu tenho uma mensagem de Claire, no entanto.

Claire: Que bom ver você, Margo!! Senti muita falta de


você. Hanna manda um beijo no rosto. Quer se encontrar no
próximo fim de semana??

Eu sorrio para o meu telefone.


Eu: Vou verificar novamente, mas deve estar tudo bem!
Tchau!

Eu solto o meu telefone para trocar meu uniforme. Ele


toca novamente e eu o agarro, já sorrindo. O sorriso
desaparece do meu rosto quando vejo de quem é esse novo
texto.

Desconhecido: Você já se cansou de ser falsa?

Meu bom humor despenca como uma pedra no oceano.


Baixo. Baixo. Baixo.

Desconhecido: Como é perder a virgindade com um


monstro?

Eu engasgo com meu suspiro. Como eles sabem?

Certamente não contei a ninguém...

O que significa que Caleb contou.


Lenora bate na minha porta.

— Oi querida. Estamos saindo. Você ficará bem por conta


própria?

Eu me sento e olho para ela. Eu tenho lutado com o dever


de casa na última hora. Matemática costumava ser minha
matéria favorita, mas não consigo me concentrar neste
semestre.

Muitas outras coisas chamando minha atenção, eu acho.

— Aonde vocês vão?

Ela sorri.

— Robert fez uma reserva em um bom restaurante. Ele


me surpreendeu, e como é sexta-feira...

Eu espelho seu sorriso.

— Fantástico! Encontro a noite?

— Exatamente. E a partir de amanhã, estamos


terminando com o seu castigo.

— Sério?
— Sim. Você tem sido boa e não queríamos tornar isso
uma coisa prolongada. Além disso, é seu último ano. Você deve
se divertir com seus amigos.

— Obrigada.

Ela se aventura mais fundo em meu quarto e se senta ao


meu lado.

— Precisamos conversar amanhã. Robert e eu queríamos


falar com você depois da visita de Ângela, mas as coisas
ficaram um pouco malucas...

— Está bem. — Eu mexo com o cobertor no meu colo.

Entre Lenora trabalhando até tarde e minha


incapacidade de fazer qualquer coisa, exceto o dever de casa,
eu tive algumas noites de cinema com Robert e algumas noites
dormindo cedo. Na verdade, mal vi Lenora esta semana.

— Faremos um brunch amanhã. Encontrei uma nova


receita de torrada francesa que estava ansiosa para
experimentar. Você vai me ajudar?

Eu sorrio.

— Eu amo torradas francesas.

— É um encontro.

Robert chama o nome de Lenora lá de baixo e ela dá um


tapinha no meu pulso.
— Estou sendo convocada — diz ela. — Tenha uma noite
tranquila.

— Te vejo amanhã.

Ela hesitantemente se inclina para frente, envolvendo os


braços em volta de mim.

— Isso está bem? — Ela sussurra.

— Sim. — Eu a abraço de volta, descansando meu queixo


em seu ombro.

É uma sensação... boa.

Ela me solta quando eu deixo cair meus braços, e então


eles se vão. Escuto a porta da frente fechar e, em seguida,
empurro meu dever de casa da cama. Eu caio para trás e fecho
meus olhos.

Minha mãe pisca na frente de minhas pálpebras


fechadas.

— O que você fez Margo? — Ela pergunta. Ela se agiganta


em minha memória, agarrando meus ombros.

Eu não respondo, e ela me sacode para frente e para trás.

— Mãe. — Eu choro.

— Margo.

Eu me debato, tentando fugir do seu aperto doloroso.

— Margo!
— Pare. — Eu gemo.

— Acorde!

Meus olhos se abrem, focando em Caleb.

Suas sobrancelhas estão franzidas.

Tento me lembrar com o que estava sonhando. Parece


impossível que adormeci, mas o relógio indica que uma hora
se passou.

— Você estava chorando por sua mãe. — ele murmura.

A cena volta ao primeiro plano da minha mente.

Eu salto para cima e jogo meus braços ao redor dele,


explodindo em lágrimas.

— E-eu não consigo lembrar o que fiz para que ela me


odiasse. — Soluço. — Por que ela me deixou?

Eu sei a resposta. Ela amava mais as drogas do que sua


filha. Ela foi declarada inadequada para ser mãe – foi o que
Ângela me disse. Não me lembro muito da audiência com o
juiz, exceto que mamãe nunca apareceu.

Papai já tinha desaparecido naquele altura.

Não havia mais ninguém para cuidar de mim... então


entrei no sistema de adoção.

Caleb esfrega minhas costas.

— Está tudo bem.


Não está. Não estará até que eu encontre as respostas de
que preciso.

Não sei que perguntas fazer, no entanto. Não sei por onde
começar a procurar Amberly Wolfe.

— Você vai me ajudar? — Eu fungo. — Você... — Dizer


que ele estava ali seria uma mentira. Depois que papai foi
preso, não vi Caleb por sete anos. Ele não saberia onde minha
mãe está e com certeza não se importaria.

— Não.

Sua resposta doeu, mas eu entendi.

Eu pergunto:

— O que você está fazendo aqui?

— Eu disse que te veria esta noite.

Eu olho para ele através das minhas lágrimas não


derramadas.

— Você conseguiu a reserva para eles?

Ele sorri.

— Eu posso ter planejado isso para nós, mas você ainda


está de castigo. Então... sim, eu ofereci para tirá-los de casa.

— Desonesto. — Murmuro. — E arrogante.

— E implacável. — Acrescenta ele, beijando minha


bochecha.
— E perverso. — Eu viro minha cabeça ligeiramente,
pegando seus lábios nos meus.

— O que você vai fazer sobre isso? — Ele pergunta.

— Eu vou implorar para você me fazer esquecer isso. —


Eu o beijo novamente, com mais força.

Perder minha virgindade com Caleb é confuso. Meu corpo


gosta dele – quase demais, eu acho – e não sei o que fazer com
isso. Não sei o que fazer com ele. Dizem que você cria conexões
quando perde esse pedaço de si mesma.

Eu não acreditei. Eu ainda não sei, até certo ponto. Caleb


e eu estamos conectados por um fio invisível desde sempre. O
sexo apenas o tornou melhor. Ou pior. Qualquer chance de
escapar dele foi jogada pela janela, porque agora eu não quero
fugir.

Ele disse que só podia ser cruel comigo.

A parte doentia é que estou ansiosa por isso.

Seus dedos no cós do meu short me trazem de volta ao


presente. Eu levanto meus quadris para ele puxar o tecido para
baixo.

Eu desabotoo suas calças, liberando sua ereção. Ele faz


uma pausa, me despindo apenas o tempo suficiente para jogar
uma camisinha na minha barriga. Eu o abro e rolo sobre ele
com cuidado, meio lembrando das aulas de saúde anteriores.
Ele geme no meu pescoço.
Minha camisa sumiu, e ele me encara por um segundo
antes de colocar mais peso em mim. Eu o sinto na minha
entrada enquanto ele beija minha clavícula.

— Isso vai doer. — Ele me avisa. Ele balança os quadris


para frente, empurrando para dentro de mim.

Eu não percebi o quão dolorida eu estava de segunda-


feira até este momento.

Eu fico tensa e ele congela.

— Relaxa, Margo. — Sua língua bate na minha orelha.

Eu afrouxo meus músculos, um de cada vez, e ele desliza


mais fundo. Eu levanto meus quadris para encontrar suas
estocadas, maravilhada com a sensação dele atingindo um
ponto profundo dentro de mim. Estou mais sensível do que
poderia imaginar.

Ele morde minha orelha, seguindo-a com sua língua.


Quem diria que orelhas podem ser tão sexys?

Eu cravo minhas unhas em suas costas, abraçando-o


mais perto.

Isso é diferente.

E então a porta da frente se abre. É fácil de ouvir – as


dobradiças rangem.

Nós dois congelamos.

— Hum, Caleb? Você convidou...


— Margo, estamos em casa! — Lenora liga. — Quer
assistir a um filme?

Seus passos batem na escada.

— Caleb. — Eu sussurro. — Você precisa se mover.

Ele puxa para fora de mim, fazendo uma careta e pula


para cima. — Onde?

— Hum...

— Margo? — Lenora liga. — Você está acordada?

— Armário de roupa! — Eu pulo, pegando meu short e


puxando-o de volta no lugar. Eu consigo colocar minha camisa
e o empurro em direção ao meu closet ao mesmo tempo,
fechando a porta atrás dele assim que Lenora abre a minha
porta.

— Oh, você está acordada!

Eu giro em direção a ela.

— Desculpe Lenora! Chamei de volta, mas não acho que


estava alto o suficiente.

Ela sorri.

Eu me inclino contra a porta do meu armário, cruzando


os braços.

— Vocês vieram cedo pra casa.


— Bem, o restaurante era adorável. O serviço foi um
pouco rápido demais. — Ela encolhe os ombros. — Somos
naturalmente caseiros, Robert e eu. Decidimos que
poderíamos sair para ver um filme... ou voltar para casa e
aconchegar-nos no sofá.

Eu forço uma risada. O suor está escorrendo pela minha


espinha – e não acho que seja do sexo que ela acabou de
interromper.

— Bem, faz sentido.

Ela sorri.

— Eu vou me trocar. Venha e junte-se a nós, se desejar.


Robert está fazendo pipoca!

— Parece bom.

Ela fecha minha porta e eu caio contra ela. Um segundo


depois, meu corpo se move enquanto Caleb o força a abrir.

— Isso foi perto. — Ele diz. Ele está completamente


vestido de novo e segura meu sutiã. — Achei que você poderia
querer isso de volta.

Eu olho duas vezes.

— Esse é o que você tirou na segunda-feira.

Ele encolhe os ombros.

— Eu tenho um substituto.
— Você também manteve minha calcinha rasgada. — eu
digo. — Você gosta de manter pequenos troféus de suas
conquistas?

Ele ri.

— Não. Mas eu gosto de ajuda para lembrar do seu cheiro


quando estou me masturbando à noite. E sem ofensa, Wolfe,
mas os sutiãs realmente não funcionam nesse departamento.

Eu fico boquiaberta com ele, meu rosto ficando quente.

— Você não está...

— Falando sério? — Ele sorri. — Mortalmente.

Lenora bate na minha porta e ele volta para o armário.


Ela não abre, no entanto. Apenas pergunta:

— Você vem?

— Estarei aí em um minuto! — Minha voz está uma oitava


muito alta.

Caleb abre a porta, silenciosamente rindo de mim.

— Vou apenas sair... pela janela. — Ele pisca.

Ele abre e sai. E então ele se foi; o único vestígio dele é o


cheiro de sexo no ar.

Ai meu Deus. Vou ter que rezar para que Lenora não
tenha percebido.
Deixo a janela aberta, coloco um moletom e desço as
escadas. Eu poderia usar de uma distração e um filme parece
perfeito.
Eu paro do lado de fora do motel. O letreiro de néon Sem
Vagas pisca esporadicamente. Há luzes acesas em metade dos
quartos a esta hora da noite. Ela poderia estar em qualquer
um deles. Foram necessárias apenas algumas ligações para
descobrir qual motel ela reservou. Ligações que fiz antes de
aparecer na casa de Margo.

Margo quase apagou a necessidade urgente de vir aqui...


mas então seus pais adotivos chegaram em casa mais cedo.

E a compulsão voltou.

Eu me forço a relaxar, soprando o ar pela boca e sugando


pelo nariz. Tenho tempo, mas paciência é outro problema.

Meu telefone vibra com uma mensagem de texto. Um


segundo depois, minha porta do passageiro abre e Amelie
desliza para dentro do carro. Eu olho por tempo suficiente para
ver seu vestido: vermelho, couro, apertado. Seus seios estão
empurrados até a garganta. Seus lábios estão revestidos de um
gloss vermelho brilhante.
Tenho um vislumbre de Margo vestindo a mesma cor
quando criança, ameaçando me beijar.

— O que você está fazendo aqui? — Eu pergunto a Amelie,


desbloqueando meu telefone.

Eli: Você precisa de ajuda?

Eu: Não. Eu cuido disso.

— Achei que você precisava de ajuda. — Amelie encolhe


os ombros. — Especialmente porque a expressão em seu rosto
significa que você provavelmente não sabe em que quarto ela
está.

Amelie e eu tivemos um breve caso, mas ela ainda parece


colher as recompensas do nosso passado. Como saber que
provavelmente não a machucaria por ficar no meu caminho.
Eu poderia mudar isso.

Já era hora de Amelie sentir algo por mim além de


luxúria.

O medo ficaria muito melhor em seu rosto do que esse


desejo faminto e desesperado. Minha pele se arrepia com a
maneira como ela está me olhando.

Eu cerro meus dentes.

— E você sabe?

Ela sorri para mim.

— Eu não seria útil se não o fizesse.


— E o que você quer em troca? — Só pergunto porque...
bem, não quero fazer mais ligações, e subornar a recepção do
motel deixaria rastros.

Eu não vou gostar disso. Amelie é mais escorregadia do


que uma cobra no óleo.

Ela coloca o cotovelo no console central, entrando no meu


espaço.

— Apenas me diga um... segredo.

Eu suspiro.

— Que tipo de segredo?

— O que aconteceu com o pai da Margo? Onde está a sua


mãe? Por quê...

— Chega. — Eu estalo. Eu a agarro pelo pescoço,


empurrando-a contra a janela do passageiro.

Ela faz um barulho gorgolejante, os dedos mexendo na


minha mão.

— Você vai cortar a porra da merda, Amelie, e então você


vai embora. — Eu me inclino, tentando conter a vontade de
apertar até que ela fique roxa. — E se você não fizer isso, vou
contar a todos o seu segredinho sujo.

Seus olhos se arregalam.

O medo que eu ansiava passa por seu rosto.


Honestamente... não faz tanto quanto eu pensei que faria.
Margo me arruinou.

— Ok. — Amelie chia. — Quarto trinta e um.

— Essa foi fácil. — Eu a solto, então me inclino em torno


dela e abro a porta.

Ela cai do meu carro, aterrissando de costas com os pés


no ar.

Eu ri.

— Vá embora, Page.

Ela se levanta e franze os lábios. Sem uma palavra, ela


sai furiosa.

Lentamente, saio do carro e encontro o quarto trinta e


um. É no segundo andar. As luzes estão apagadas.

Eu bato na porta de qualquer maneira. Está tarde. Talvez


ela esteja dormindo.

— Caleb?

Eu viro. Amberly Wolfe está no topo da escada. Seu cabelo


está preso em um coque alto e há sujeira manchando sua
testa. Ela usa uma quantidade absurda de maquiagem, por
isso ela se parece com o Pillsbury DoughBoy5.

5
— Achei que fosse você. — Ela se aproxima, arrastando
os pés.

Eu recuo e a deixo destrancar a porta.

Seus dedos tremem na madeira pintada. Ela está mais


frágil do que eu pensava. Seus olhos estão fundos. Suas
bochechas estão contraídas.

Entramos no quarto e ela desenrola o lenço.

Eu mordo o interior da minha bochecha. Há um anel de


hematomas em volta do pescoço.

Impressões de mãos.

Ocorre-me que devo sentir preocupação – ou, pelo menos,


um grama de simpatia. Eu não sinto. O nojo sobe pela minha
garganta.

Mesmo com o vício, as semelhanças entre ela e Margo são


óbvias. Elas têm o mesmo cabelo, o mesmo sorriso. Mesmo
formato de rosto, embora o de Margo ainda tenha traços de sua
infância nas bochechas e o de sua mãe seja extremo na direção
oposta.

— O que te traz aqui? — Ela vai até a mini geladeira,


ajoelha-se e tira uma garrafa. Ela me oferece uma. — Veio para
me orientar bem, filho?

— Não me chame assim. — Eu estalo. Eu balanço minha


cabeça.
Ela ri. Ela tira a jaqueta, revelando um suéter que
provavelmente comprou em um brechó. É dois tamanhos
maiores e fica pendurado nos ombros. Ela começa a tirar o
suéter também, ainda rindo baixinho.

— Você está chapada. — Eu deveria saber. Deveria ter


previsto isso.

Ela se senta em uma das duas camas, agora apenas com


sua legging e camisa de mangas compridas. Ela torce a garrafa
na mão.

Lentamente, eu espelho seus movimentos. Depois de


sentar por alguns segundos, vou até a geladeira e me sirvo de
uma cerveja. Também tentando argumentar com a mãe de
Margo.

— Por que você voltou?

Ela sorri.

— Eu te perguntei isso.

Eu encolho os ombros.

— Eu vim perguntar por que você voltou. Você vai


responder?

Ela é irritante. Enfurecedora. A mulher que costumava


ser a chef da minha família se desintegrou nisso.

— Você se parece muito com seu pai. — ela diz. — Sinto


falta dele.
— E quanto ao seu próprio marido? Apodrecendo...

— Não, Caleb. — Ela balança a cabeça, dobrando-se para


frente. — Não fale sobre o passado.

Ela balança para frente e para trás por um momento,


enrolando a echarpe nas mãos. Finalmente, ela a coloca no
chão e se endireita. Suas bochechas estão molhadas. Ela troca
de cama, sentando-se bem ao meu lado.

Eu fico perfeitamente imóvel enquanto ela olha para o


meu rosto.

Há bondade enterrada em meus ossos.

Mas... não para ela.

Ela enxuga as lágrimas na bochecha com as costas da


mão, passando o braço sob o nariz. É difícil estar perto dela e
não sentir raiva.

Ódio.

— Eu só quero que as coisas voltem ao normal. — Ela se


agarra ao meu braço e solta um soluço. — Por que você veio
aqui?

— Para lhe dizer que você precisa sair de Rose Hill. Esta
noite.

— Meu dinheiro acabou. Não tenho para onde ir...

— Eu não me importo, porra, Amberly.


Ela estremece.

— Você prometeu que não voltaria. Que você não...

— Ia interferir. — ela murmura. — Mas...

Eu a empurro de cima de mim. Ela cai no chão, caindo


em uma posição curvada.

— Não há porra de mas! — Eu rujo. — Você está


colocando tudo em perigo por estar aqui.

Eu cavo meu dedo do pé em suas costelas, virando-a de


costas.

Ela me encara. Sua boca abre e fecha. Ela está em choque


– ou sucumbindo à coca que provavelmente injetou em suas
veias. As lágrimas escorrem novamente, descendo por suas
têmporas e pelos cabelos.

— Sinto muito. — Ela sussurra. — Eu só…

Eu empurro a manga do suéter dela, apenas para provar


a mim mesmo que ela ainda é a viciada em drogas de que me
lembro. As marcas de trilha são de um vermelho escuro e
raivoso. Infectado, provavelmente por agulhas sujas.

Minha pele se arrepia.

Os colegas na escola chamam Margo de filha de prostituta


de coca. E eles estão certos: Amberly Wolfe arranjou outro
amante. E não há nada mais atraente para ela do que sua
droga preferida.
— Aqui está o que vai acontecer. — Pego minha carteira
e coloco dinheiro em seu peito. — Você vai a qualquer lugar
menos aqui. Para o norte. Para o sul. Quem se importa? E se
eu ouvir que você deu um passo para trás em Rose Hill,
acabou. Eu mesmo vou te matar.

Ela estremece.

— Vá embora esta noite, Amberly.

Ela agarra minha bota enquanto eu passo por ela.

— Por favor. Eu recebi uma chamada...

Eu a sacudo, meu lábio curvando. Paro com a mão na


maçaneta e esvazio minha cerveja, deixando cair a garrafa
vazia no chão. Tem gosto de água mijada.

Valores.

Bato a porta atrás de mim, esperando que Amberly tenha


recebido minha mensagem.

Mas... parte de mim espera que ela seja teimosa como a


filha. Eu adoraria ensinar uma lição a ela. É algo que as duas
mulheres Wolfe precisam aprender.
Momento de intervenção.

Ou algo assim. Talvez não seja uma intervenção, mas do


jeito que Lenora e Robert estão olhando para mim, com certeza
parece que algo importante – e catastrófico – vai acontecer.

O único som é o tique-taque do relógio na parede atrás da


cabeça de Robert.

Escolhemos sentar à mesa da sala de jantar, Robert na


cabeceira e Lenora e eu em cada lado dele. E eles estão apenas
esperando por algo.

Finalmente, Robert pigarreia.

— Como você vai, querida?

— Como vou? Como…

— Em geral. — Lenora fornece. — Ou especificamente, se


você quiser.

— Eu estou bem. — Eu encolho os ombros, forçando um


sorriso para os dois. — Quer dizer, sinto muito pela outra
noite. Quando eu fiquei bêbada.

O sol do fim da manhã entra pela janela atrás de mim,


aquecendo minhas costas. Caleb escapou com sucesso pela
janela, e eu fiz uma aparição na noite de cinema. Foi agradável.
Sem falar. Apenas lutas de espadas e sotaques britânicos.

Quando acordei, senti um medo inexplicável. Eu mal


conseguia me mover.

Meu corpo doía. Descobri um rastro de chupões e


hematomas no pescoço e no peito. Pressionei meu polegar em
um e a dor atingiu profundamente. Mas não foi ruim. Foi o tipo
de dor que me fez querer continuar pressionando.

E então me lembrei da conversa que deveríamos ter.

Então, aqui estamos nós, comida na nossa frente que


estou muito nervosa para comer.

Minha boca saliva com o cheiro de bacon, mas meu


estômago embrulhado me impede de estender a mão e pegar
uma fatia.

— Entendemos que essas coisas acontecem. — Diz


Lenora. — Estamos apenas esperando que você tome boas
decisões conforme envelhece. Daqui para frente.

Eu concordo.

— Ângela mencionou que seu pai está na prisão. — Diz


Robert. — Na verdade, ele está bem perto...

— Não. — Eu quero rastejar para fora da minha pele ao


pensar no meu pai em um macacão laranja.
— Você está zangada com ele? — Robert pergunta. — Não
consigo imaginar como você deve se sentir, e só queremos
entender...

— Não posso fazer isso agora. — Sussurro. — Ângela


trouxe isso à tona?

— Nós sabemos que sua mãe é...

‘Minha cabeça estala para trás’

— Estou indo bem, não estou? Indo para a escola,


fazendo amigos. Minhas notas são boas. — Ish. — Vocês estão
me deixando ser uma adolescente normal com... sem muitas
preocupações, na verdade. — Eu consigo sorrir para eles. —
Obrigada por isso.

De alguma forma, isso se transformou em uma conversa


franca.

— Adoramos ter você aqui. — Diz Lenora.

Eu encontro seu olhar.

— Eu amo estar aqui.

Ela funga.

— Ok, chega disso. Contanto que você esteja satisfeita e


estejamos fazendo um bom trabalho... vamos comer.

— E você está oficialmente sem castigo. — Acrescenta


Robert.
Eu sorrio.

— Como vai sua pintura? — Ele pergunta.

Eu começo a encher meu prato. Minha ansiedade


diminuiu e de repente estou faminta. Eles prepararam um
banquete de alimentos para o café da manhã.

E então eu registro sua pergunta e lentamente coloco meu


garfo.

— Oh, hum...

A resposta? Nada bom.

Não só empurrei tanto para o fundo da minha lista de


tarefas que me esqueci, mas tenho certeza de que vai sair
horrível.

— Você precisa de ajuda?

Eu olho para ele.

— Você tem permissão para me ajudar? Sendo o professor


e tudo mais?

Lenora ri.

— Provavelmente não, mas isso não o impedirá.

— Posso dar feedback. — Ele permite. — E talvez apontar


você na direção certa. Assim como eu faria com todos os outros
alunos que pedissem ajuda
— Eu preciso trabalhar nisso. — Eu permito. — Eu estive
preocupada.

Ele concorda.

— Já reparei.

A culpa rasteja sobre mim.

— Eu sinto muito. Eu não quero dizer...

Ele acena.

— Pare. Você está autorizada. Mas se você quiser


trabalhar nisso, estou aqui hoje.

Assim que terminamos de comer, corro escada acima e


coloco roupas que não me importo de sujar de tinta. Eu preciso
descobrir exatamente como vou capturar Caleb. Ele é um
enigma para o qual ainda não encontrei a resposta, sempre
mudando peças e peças. Uma miragem.

Desço com minha tela, minha caixa de tintas e pincéis


debaixo do braço. Robert já colocou o jornal na mesa da sala
de jantar, junto com um pequeno cavalete.

Ele vem enquanto estou me preparando.

— Você sabe por que escolhi tintas a óleo para esta


tarefa? — Ele pergunta.

Eu encolho os ombros, olhando para o contorno vago de


Caleb.
— Porque é um meio difícil, e você queria nos desafiar?

Ele me cutuca, balançando a cabeça.

— Porque é indulgente.

Eu inclino minha cabeça. Temos trabalhado com um


monte de tintas diferentes – aquarela, acrílica, óleo. Eu não
escolhi uma favorita.

— Você comete um erro? Você revisa. Você apaga.


Inferno, você faz uma pintura e repinta no dia seguinte. Você
não pode fazer isso com aquarelas.

— Ah.

— Você mal tocou a superfície aqui, Margo. — Diz ele. —


Você pintou um fundo curiosamente mudo... e é isso.

Isso é tudo que eu tive coragem de fazer da última vez que


Caleb e eu nos sentamos juntos.

Robert apoia o quadril na mesa, encontrando meus olhos.

— Você não precisa dele na sua frente para pintá-lo. Na


verdade, eu acho que você pode capturar melhor sua essência
quando você não está olhando para ele.

Ele me deixa sozinha enquanto olho para a tela. Mais


cedo ou mais tarde, terei que começar.

Demoro colocando as tintas na paleta, preparando meus


pincéis, alinhando o carvão e a terebintina. Eu misturo
algumas cores diferentes, tentando encontrar o tom certo para
combinar com a pele de Caleb.

Mas nada é perfeito, então eu só...

Coloco um traço na página.

E daí se não for bonito? Ele não é bonito – não por dentro.
Ele está quebrado, assim como eu. Surge na forma como as
cores se chocam na página. Sigo o conselho de Robert e refaço
o cenário. Os azuis e roxos que eu tinha originalmente pintado,
tentando dar uma aparência bonita, não funcionam.

Sua mandíbula ganha vida com barras escuras.

Deixo seus olhos em branco por enquanto. Estou tentada


a pintá-los completamente de preto, honestamente. No
entanto, isso não bastaria.

— Uau. — Robert diz por cima do meu ombro.

Eu me viro.

— Como eu estou indo?

— Emoção fantástica. — Ele se inclina mais perto. —


Assim que secar, você pode voltar com um olhar de artista e
limpar algumas das linhas. Faça com que cada traço tenha um
propósito.

Eu aceno e olho para o relógio. Estou sentada aqui há


duas horas.

— O que você planejou para os olhos dele? E lábios?


Eu encolho os ombros. — Eu não decidi. — Ainda não
consigo ver.

Ele ri. — Esse menino está com problemas.

— Acho que sou eu quem está em apuros. — Eu fico


olhando para o rosto de Caleb. Não é exatamente a sua
semelhança – é um pouco abstrato para isso. Além disso,
existem as lacunas em branco: seus olhos, seus lábios, suas
sobrancelhas. Para capturar a carranca ou fazê-lo sorrir...

— Falando nisso, — Robert diz, indo para a janela. — ele


acabou de encostar.

— Distraia-o! — Eu pego a tela. — Eu preciso esconder


isso!

Ele ri enquanto eu corro ao redor, mas ele distrai Caleb


por tempo suficiente para eu colocá-lo de lado. Caleb entra na
sala de jantar. Estou limpando minhas tintas. Robert me
mostrou como preservá-las, cobrindo a paleta com filme
plástico para manter o ar longe das tintas.

— Trabalhando em nosso projeto? — Ele pergunta.

Eu sorrio.

— Sim.

Ele finge olhar ao redor da sala.

— Cadê?
— Escondendo-se de sua intromissão. — Retruco. Eu tiro
meu cabelo do rosto e suspiro. — E aí?

— Você não disse que estava fora do castigo hoje?

— Eu disse isso?

Ele levanta um ombro, sorrindo para mim.

— Não tenho certeza de onde mais eu poderia ter ouvido


isso, amor.

— Talvez seja verdade.

Tento passar por ele, mas ele se move rápido demais. Ele
me enquadra contra a parede, fora da vista de Robert. Eu sei
que ele está bisbilhotando do outro lado da parede.

— Você está fugindo de mim?

— Não. — Eu respiro.

Ele cantarola.

— Eu acho que você está. Vamos mudar isso.

— Como?

Seus dedos cavam em meu quadril.

— Venha para o baile de máscaras comigo.

Eu pisco.

— Hum, uma dança?


— Isso é o que é um baile, Margo.

— Eu não danço.

Seus olhos brilham e ele se aproxima. Seus lábios estão


logo acima dos meus.

Não é justo, eu quero reclamar. Ele sabe como fazer meu


corpo reagir. Sempre soube.

— Venha comigo.

— Ok. — Eu me inclino ligeiramente.

Seus lábios roçam os meus, mas então ele se vai.


Endireitando-se e recuando.

— Essa foi fácil. — Seu sorriso é tortuoso.

— Caleb...

Ele se afasta, indo para a cozinha. Ele menciona o baile


para Robert, confirmando que vou com ele.

— Isso é ótimo, Margo. — Diz Robert quando eu entro. —


É difícil ir ao baile sozinho, mas do meu tempo como
supervisor, os garotos sempre se divertem muito.

— Você será supervisor este ano? — Por favor, diga não,


por favor, diga não.

Ele balança a cabeça.


— Eu não fui voluntário este ano. Lenora fica um pouco
irritada se eu estou festejando com os alunos depois da nossa
hora de dormir. Além disso, ela não gosta de dar doces sozinha.

Caleb ri.

— Tenho certeza que você é um festeiro imprudente, Sr.


Jenkins.

— Isso eu sou, meu garoto.

Meu garoto. Jesus.

— Espere, quando é o baile?

Caleb me olha.

— Em duas semanas. Não se preocupe, você tem tempo


para encontrar um vestido.

Bastardo.

— Sim…

— Lenora adoraria ajudar. — Diz Robert. — Nunca fomos


comprar vestidos com...

Eu olho meus sapatos.

Robert pigarreou.

— Não quero trazer o passado à tona.

Caleb se aproxima e dá um tapinha em seu ombro.

— Está tudo bem, Sr. Jenkins. Compreendo.


Meu pai adotivo acena para Caleb lentamente.

— Eu sei que você compreende. Mas de qualquer


maneira, tenho certeza que vocês dois têm coisas melhores
para fazer hoje? Afinal, é o primeiro dia de liberdade de Margo.

— Faz apenas uma semana que estou de castigo. — Digo


incisivamente. — Não é realmente liberdade.

— Apenas vamos em frente. — Caleb murmura. — Na


verdade, eu tenho um assunto na cidade.

A cidade de Nova York fica a apenas cerca de uma hora e


meia de distância. Por um golpe de pura sorte, não fui parar
no sistema de adoção de Nova York. Isso teria sido impossível.

Como eu morava em Rose Hill, que faz parte do condado


de Hillshire, fiquei presa a esse sistema particular de adoção.
Há casas e alojamentos coletivos suficientes por aqui para me
manter dentro de um raio de uma hora.

E isso significava que evitei a cidade de Nova York.

— Que assunto? — Eu pergunto, me animando. — Eu


não estive...

— Desde que você era criança?

Robert murmura.

— Podemos planejar uma viagem de um dia, Margo. Eu


não sabia que era algo que você gostaria de fazer.

Eu encolho os ombros.
— Eu costumava assistir todos os eventos do feriado na
TV. A iluminação das árvores e os desfiles...

— Eu esperava que você viesse comigo. — Caleb diz. —


Ainda é muito cedo para a vibe do Natal, mas...

— Posso ir? — Eu pergunto a Robert.

— Depois daquele discurso? Como posso dizer não?

Eu corro escada acima, colocando roupas melhores.


Estamos indo para a cidade. É luxuoso e assustador ao mesmo
tempo. Já ouvi histórias de terror sobre pessoas sendo
assaltadas, batedores de carteira, táxis loucos. Mas, acima de
tudo, está o apelo brilhante da Times Square. Central Park.
Carruagens puxadas por cavalos e grandes fatias de pizza.

Caleb sobe antes que eu possa começar a colocar


maquiagem.

Ele me intercepta no caminho para o banheiro, tirando


minha bolsa de maquiagem da minha mão.

— Você não precisa disso. Hoje não.

Eu faço uma carranca.

— Eu quero me sentir bonita.

— Você pode se sentir bonita sem ela.

Tento pegá-la de volta, mas ele a levanta sobre a cabeça.

— Caleb. — eu estalo.
— Pare.

Eu salto para ele.

— Droga, Margo. — Ele rosna, me empurrando de volta


contra a parede. — Apenas, pare.

Sua mão permanece no meu peito. Seus dedos estão


perigosamente perto da minha garganta, espalhados sobre
minha clavícula, e seu polegar roça meu mamilo.

Eu respiro fundo. Eu sou uma idiota. Meu rosto fica


quente.

— No carro. — Ele ordena. Ele coloca meu pequeno estojo


de maquiagem no bolso da jaqueta e se afasta.

Aceno adeus a Robert e Lenora, que voltou para casa bem


a tempo de nos ver partir.

Robert me para, entregando-me algumas notas dobradas.

— Divirta-se.

— Obrigada! — Eu não estava planejando gastar mais do


que poderia pagar – o que não seria muito. Eu coloco o dinheiro
na minha carteira e corro atrás de Caleb.

Eu entro no carro e estamos na estrada em um piscar de


olhos. Há um olhar malicioso em seus olhos que não consigo
identificar. Mordo meu lábio em vez de perguntar sobre isso, e
logo estamos na estrada.

Para cima, para cima e para longe.


— Por que a maquiagem é tão importante para você? —
Ele pergunta. —Você não acha que é bonita?

— É difícil ter autoconfiança quando todos estão tentando


derrubá-la. — Eu esfrego minhas mãos. Halloween está se
aproximando.

Eu paro.

— O baile de máscaras é no Halloween?

— Claro.

— Claro. — Eu repito. — Ótimo.

Ele me lança um olhar.

— O que há de errado nisso?

Eu me recuso a encontrar seus olhos.

— Coisas ruins acontecem no Halloween. — Não posso


acreditar que estou de volta ao Emery-Rose há menos de dois
meses.

— Como o quê?

Existem arranha-céus à distância.

— Ser perseguida por um irmão adotivo com um facão.


Ele ameaçou cortar meu cabelo. — Eu faço uma careta. —
Ficar trancada em um armário por tentar tirar um doce
destinado às outras crianças.

Ele continua olhando para mim.


— Ter minha fantasia rasgada na manhã de Halloween
pela filha de uma família adotiva. Ela não gostou que eu fosse
um unicórnio.

— Quantos anos você tinha? — Sua voz está sombria.

— Algo acontecia quase todo ano.

— E os dois últimos? Com sua suposta boa família?

Eu encolho os ombros.

— Hanna comeu um Snickers e sua garganta fechou-se


de repente. Passamos a noite na emergência. E então, no ano
seguinte, nossa mãe adotiva nos deixou ir, mas ela pegou
nossos doces quando voltamos. Disse que não confiava em nós
para não comermos tudo em uma noite.

— Achei que você gostasse dela.

— Eles eram rígidos. — Eu encolho os ombros. — Todo


mundo é rígido no começo. Exceto...

— Os Jenkins. — Ele adivinha. — Você gosta deles.

Espero que eles me mantenham.

Quase digo isso em voz alta.

Mas desejos e esperanças são perigosos. Eles nos inflam,


nos deixam flutuantes. E, no final, acaba sendo uma queda
mais dura.

Eu sei bem.
— Podemos encontrar máscaras complementares. — Diz
ele. — Algo adequado para...

Eu levanto minhas sobrancelhas.

— Um rei e uma rainha.

Ele não pode estar falando sério.

— Nós não somos da realeza. — Eu gaguejo. — Isso não


é...

— Minha palavra é lei. Eli, Theo, Liam, eu... somos a


realeza. Nós nos insurgimos na escola. — Ele ri. — Pode não
parecer agora, mas na primavera, todos serão lembrados.

— Lacrosse. — Murmuro.

— As pessoas gostam de futebol, mas o lacrosse impera


por aqui.

— E você comanda o jogo.

Ele abre um sorriso.

— Sim.

— A escola... as pessoas te tratam de maneira diferente


na primavera?

— Lembramos aos alunos porque somos os melhores da


liga. — Ele tamborila os dedos no volante. — Há uma boa loja
de fantasias na Times Square.

— Qual é o assunto que você tem que tratar?


Ele encolhe os ombros.

— Só preciso assinar alguns papéis.

— E você decidiu me levar junto?

— Você não foi à cidade. Além disso, esse tipo de conversa


não pode ser apenas comigo.

Eu reviro meus olhos.

— Certo.

Ele dá uma olhada.

— Você não acredita em mim.

Na verdade não.

— Os professores nunca gritam comigo, me dão detenção,


me chamam por estar atrasado ou faltar. — Ele põe a mão na
minha coxa.

Odeio dizer que gosto, mas...

— Você foi suspenso.

— Por lutar com Ian, cujo pai é um idiota enorme. — Ele


pisca. — Eu não a culpo por me suspender. É mais fácil fazer
isso do que ficar do lado ruim.

Eu resmungo.

— Você verá. — Ele promete.


Suas palavras do meu primeiro dia de escola voltam para
mim.

Margo Wolfe. Você não ouviu? Eu sou rei agora.

O que isso me torna?


— Uma máscara de renda clara para a menina bonita?

Eu olho para o dono da loja. Ele está pairando, apontando


para vários trajes e acessórios. Nenhum estava totalmente
certo. Embora eu não tenha certeza do que estou procurando.
Não tenho vestido e Caleb, que parecia ter um plano,
desapareceu.

O dono da loja estende uma máscara delicada rosa claro.


O objetivo é cobrir metade do rosto, não os dois olhos.

— Não. — Caleb diz, vindo atrás dele. — Eu encontrei.

Eu levanto minhas sobrancelhas.

— Cadê?

— Você tem que esperar lá fora. — Ele sorri. — Acho que


será melhor se for uma surpresa.

— Sério?

O dono da loja nos avalia.

Caleb estreita os olhos para mim.

— Fora.

Eu levanto minhas mãos em sinal de rendição.


— Bem. Eu vou pegar um café.

Deixo a loja, pensando em dar uma volta e tentar dar uma


olhada no que quer que Caleb esteja comprando. Em vez disso,
resisto ao impulso e atravesso a rua. Há um pequeno e bonito
café em frente à loja de fantasias.

Comportada, peço um latte para mim e um café preto


para Caleb.

Éramos ambos obcecados por provar café quando éramos


jovens. Nunca deixávamos de franzir nossos narizes. Mas, na
época, café era sinônimo de cafeína. E o que é melhor para
ajudar duas crianças de dez anos a ficar acordadas além da
hora de dormir do que a cafeína?

Eu sacudo a memória da minha cabeça quando Caleb


entra na loja. Um saco de papel balança na ponta dos dedos.

— Eu tenho um para você. — Eu digo.

— Isso é suborno?

— Não. — Eu reviro meus olhos. — Nem tudo tem uma


corda amarrada.

Ele encolhe os ombros.

— Você ficaria surpresa.

Sentamos e bebemos nosso café, e tento ao máximo não


olhar na direção da sacola.

Ele olha para o relógio e se endireita.


— Temos de ir. Meu compromisso é em breve.

— Você disse que tinha que assinar papéis? Para quê?

Ele pisca.

— Apenas coisas chatas de negócios.

— Seu pai...

— Apenas deixe isso, Margo. — Ele esfrega o olho. —


Podemos passar dez minutos sem perguntas?

Ele não diz por favor, mas imagino o apelo perseguindo


seu pedido.

— Tudo bem. — Murmuro.

Vou ter que observar e ver se consigo descobrir o que


Caleb Asher está escondendo.

Pegamos um táxi. Ele nos deixa na frente de um prédio


alto, e Caleb enrola sua mão na minha. Ele me leva para o
saguão e aponta para um grupo de poltronas no canto.

— Sente.

Como eu prometi não fazer perguntas, mantenho minha


boca fechada e sento.

Caleb se aproxima da recepção e se inclina em direção à


recepcionista.

Ela acena com a cabeça, apontando para uma fileira de


elevadores à sua direita. Ele empurra uma catraca, desce um
corredor até os elevadores e espera. Quando ele olha para mim,
finjo que não estava olhando.

Ele entra no elevador um segundo depois, e eu fico de pé.

— Oi. — Eu digo para a recepcionista. — Você pode me


dizer para onde ele estava indo?

Ela levanta a sobrancelha.

— Como?

— Eu só...

— Não podemos dar essa informação. — diz ela, erguendo


o queixo. — Será que vamos ter um problema?

Eu dou um passo para trás.

— Não.

Enquanto me esgueiro de volta para o meu assento,


examino o cartaz de empresas e os níveis. Onde Caleb iria para
assinar a papelada?

Não há muitos nomes listados. Metade deles ocupa vários


andares. Há uma empresa de relações públicas e uma
imobiliária que pode ser promissora. Além disso, há um
escritório de advocacia, um cirurgião plástico e uma empresa
de investimentos. Ah, e seguro.

Eu balanço minha cabeça e sento.


Caleb reaparece vinte minutos depois. Ele se aproxima de
mim e oferece o braço.

— Isso demorou mais do que o esperado. — Diz ele.

Eu deslizo meu braço no dele e dou de ombros.

— Tudo bem.

— Você quer fazer mais alguma coisa? Ou devemos


encerrar o dia?

Já havíamos caminhado pela Times Square, tirado uma


selfie juntos sob as telas brilhantes e encontrado as máscaras.
O dia me alcança e eu bocejo.

— Comida, então pra casa?

Ele concorda. Viramos a esquina, quase batendo em um


homem caminhando em nossa direção. Ele congela, olhando
para Caleb. Seu rosto fica pálido.

— Sr. A-Asher. — Diz o homem.

— Tobias. — Caleb inclina o queixo, olhando para o


homem com olhos frios.

— Eu não sabia que você estava na cidade.

— Eu não sabia que precisava notificá-lo quando queria


me afastar de Rose Hill por uma tarde.
Tobias balança a cabeça. Depois de começar, ele não
para. Todo o seu corpo treme, como se um vento forte passasse
por ele.

Minha curiosidade está oficialmente aguçada.

Caleb olha para mim e Tobias segue seus olhos. Ele


estremece quando me registra.

Eu inclino minha cabeça.

— Eu...

— Não — Caleb se encaixa. Ele coloca a mão nas minhas


costas, me impulsionando ao redor do homem congelado.

— Eu te ligo mais tarde. — Tobias diz às nossas costas.

Uma vez que estamos a meio quarteirão de distância, eu


nos obrigo a desacelerar.

— Quem era aquele?

Caleb balança a cabeça.

— Achei que ainda não estávamos fazendo perguntas.

— Você não pode simplesmente...

Seus olhos brilham. Sua mão desliza em volta do meu


pescoço, passando pelo meu cabelo. Ele puxa minha cabeça
para trás, expondo minha garganta.

— Eu posso. — Ele murmura.


Ainda há marcas de mordidas sob meu lenço e duas
camadas de corretivo.

Ele puxa o tecido do meu pescoço, os olhos aquecendo.

— Você as cobriu.

Lentamente, ele coloca o polegar na boca e esfrega minha


pele.

— Pronto. — Ele me solta, sorrindo. — Agora o mundo


saberá que você é minha. Não esconda isso da próxima vez.

Tínhamos administrado o dia sem ele ficar todo escuro


comigo. E aqui estamos…

Eu pressiono minhas coxas juntas, ignorando o impacto


de suas palavras no meu corpo. Especialmente porque
estamos no meio da maldita calçada da Times Square.

As pessoas passam por nós como se fôssemos pedras no


meio de um rio.

Ele está com fome e não posso deixar de sentir o mesmo.


Como se estivéssemos inconscientemente nos matando de
fome.

Ele toca meu pescoço novamente e se endireita. Ele sorri


para mim.

Ele sabe o que faz comigo.

Meu telefone vibra.


Desconhecido: Como é ser tão pequeno em uma cidade
tão grande?

Eu engasgo com meu suspiro, empurrando meu telefone


de volta no bolso.

Caleb levanta uma sobrancelha.

— O que é que foi isso?

— Riley tentando ser engraçada. — Eu limpo minha


garganta. Por favor, não me pergunte sobre esta mentira.

Ele estreita os olhos, mas não questiona.

Comemos pizza em um restaurante no segundo andar de


um prédio. Com vista para a rua. As pessoas abaixo, do lado.
Eles são um mar de cinzas e pretos. Quando o céu se abre, de
repente todas as pessoas parecem ter um guarda-chuva preto.

Caleb franze a testa.

— Vou ligar para o carro.

Havíamos deixado o dele na periferia da cidade, então


pegamos um carro preto para Manhattan. O motorista não
disse uma palavra para nenhum de nós, embora eu peguei
Caleb passando notas dobradas para ele.

Sentamos em silêncio em nossa mesa, ignorando os


olhares dos garçons, até que um carro para no meio-fio e o
telefone de Caleb toca.

— Pronta?
A pizza estava deliciosa. A lanchonete era fofa. A cidade é
incrivelmente grande e assustadora e tudo o que eu poderia ter
imaginado.

Eu posso ver como as pessoas viriam aqui para perseguir


seus sonhos. E eu posso ver como a cidade mastigaria
qualquer um que não estivesse cem por cento comprometido.

— Sim. — Eu pego sua mão estendida. — Vamos para


casa.

Caleb abre a porta do carro para mim, deixando-me


deslizar para o banco de trás primeiro. Ele segue, fechando-
nos e se aproxima de mim. Deus, ele é um gigante neste
pequeno espaço. Eu não tinha percebido antes – não, eu estava
ignorando antes – mas sua presença suga todo o ar do carro.

O motorista olha para nós pelo espelho retrovisor.

— Divertiram-se?

Caleb sorri.

— Foi refrescante.

O motorista navega de volta para os arredores da cidade


e Caleb traça padrões na minha perna. Tento não olhar para
ele, mas logo meu corpo dói. Um toque me deixa queimando.

Estacionamos ao lado do Audi de Caleb, e o motorista sai,


abrindo a porta para mim. Ele até oferece sua mão. Eu pego,
deixando ele me ajudar a ficar de pé. Caleb faz uma carranca
para ele por cima do carro, e o motorista me solta.
— Sr. Asher. — Diz o motorista, inclinando a cabeça.

— Eu ligo para você. — Caleb responde. — Você pode


fazer aquela tarefa que discutimos?

O motorista sorri.

— Claro, senhor.

Eu olho para frente e para trás entre eles, mas Caleb se


vira antes que eu possa dissecar a conversa mais adiante.

Entramos no carro de Caleb. Sem aviso, ele se estica e


agarra minha nuca, puxando-me em sua direção. Nossos
lábios se fecham, separando os lábios. Sua língua desliza em
minha boca, invadindo meus sentidos. Eu gemo e pressiono
contra ele, forçando sua língua para fora da minha boca e na
sua. Nós entramos em combustão espontânea, acendendo
mais calor do que eu poderia ter imaginado.

Ele me puxa sobre o console central e me coloca em seu


colo.

Eu corro minhas mãos para cima e para baixo em seu


peito, então me aventuro mais abaixo. Eu coloco a mão em seu
pau através de suas calças, e ele rosna.

Ele está duro.

Eu abro o zíper de sua braguilha e alcanço, agarrando-o


totalmente e puxando-o para fora. Ele sacode na minha mão.
Eu me inclino um pouco para trás. Nossas bocas estão a
um fio de cabelo de distância quando eu sussurro:

— Quem é Tobias?

Ele me encara.

— Você quer fazer isso agora?

Eu o acaricio, encontrando seu brilho.

— Você não vai gostar da resposta. — Ele avisa, exalando


bruscamente. — Porra, Margo.

Ele gosta da minha mão nele. Nós fizemos sexo, ele caiu
em cima de mim, mas eu nunca... toquei nele assim. Eu sou
egoísta?

Egoísta o suficiente para recorrer a isso para obter


respostas.

— Conte-me. — Eu lambo meus lábios. Ainda estamos


perto o suficiente para que minha língua toque seus lábios
também.

Ele tenta fazer uma careta, mas estremece com minhas


unhas arranhando-o para cima e para baixo.

— Tobias estava... — Ele balança a cabeça. — Eu não


posso acreditar que estou te dizendo isso. Tobias era o
advogado de seu pai.

Eu congelo.
— O que?

Ele agarra meu rosto, me segurando no lugar. Se não o


fizesse, provavelmente eu teria fugido. Longe dele, fora do
carro.

Estou cheia de gelo.

Eu puxo minha mão de sua ereção, mas ele apenas me


observa.

Tobias era o advogado do meu pai.

Aquele que não conseguiu impedi-lo de ir para a cadeia.

Aquele que está bem familiarizado com Caleb Asher.

O advogado do meu pai, que vai ligar para Caleb Asher


mais tarde.

Por quê?

É assim que se parece a autodestruição. Eu me apaixonei


por um monstro.

Tento recuar, mas seus dedos apenas cavam em minha


pele. Ele me prendeu contra seu corpo e o volante, com as
mãos no meu rosto. Seu polegar acaricia minha bochecha, logo
abaixo do meu olho. Uma vez, depois duas.

Ele está embaçado.

Eu estou chorando?

— Por quê? — Eu gerencio. — Caleb...


— Não me pergunte. — ele avisa. Ele se inclina para frente
e rouba um beijo.

Rouba meu fôlego.

Eu não consigo respirar.

— Eu preciso saber por que...

— Você não precisa. — Sua voz é mortal. Ele é mortal. Ele


me beija novamente, mordendo meu lábio.

Eu odeio que ele esteja usando isso para me distrair. Para


me reviver.

Estou com tanto frio.

— Volte Margo. — Diz ele contra meus lábios. Ele


pressiona beijos ao longo da borda da minha boca, meu queixo,
minha garganta.

— Você colocou meu pai na prisão?

Eu fecho meus olhos, deixando minha cabeça cair para


trás.

Seus dentes beliscam minha garganta. Seus lábios


afugentam a dor, para cima, para cima, para cima. Minha
mandíbula. O ponto logo abaixo da minha orelha. Minha
orelha. Meu templo.

Como ele pode me destruir e me fazer sentir melhor ao


mesmo tempo?
Estamos fodidos.

Estou fodida por gostar disso. Por deixá-lo me derreter até


virar líquido de novo e de novo.

Seus lábios tocam minha pálpebra. Sua língua sai e prova


minhas lágrimas.

Isso é mais do que apenas... ele tentando aliviar a dor. Ele


tentando apagar o que aconteceu em nosso passado.

Meu coração está se partindo.

Seus lábios encontram os meus novamente, mas tudo é


macio. Seu toque. Sua língua, percorrendo a costura dos meus
lábios.

Eu exalo uma respiração longa e trêmula.

Quando abro meus olhos, ele está me observando. Talvez


ele esteja tentando me entender. Se eu estou estável, ou se,
uma vez que ele me soltar, vou correr.

Eu faria se minhas pernas não parecessem gelatina.

— Como você pôde? — Eu sussurro. — Foi ideia sua?

Ele balança a cabeça.

— Não estamos fazendo isso agora.

Eu volto para o meu assento, colocando meu cinto de


segurança no lugar. Meu desejo por respostas me incomoda,
mas ele está certo. Não podemos fazer isso agora. Não depois
disso.

Ele liga o carro. Eu fecho meus olhos. Se eu realmente


adormeço ou apenas cochilo, não sei dizer. Mas o que parece
ser minutos depois, ele está me tirando do carro.

Eu mantenho minha cabeça enfiada sob seu queixo. Tudo


machuca.

— Ela está bem? — Robert pergunta.

— Ela acabou de adormecer no carro. — Caleb responde.


Sua voz é suave. — Eu não queria acordá-la. Vou colocá-la na
cama...

Eu envolvo meus braços em volta do pescoço dele


enquanto ele me deita. Ele ri no meu ouvido, suas mãos
deslizando ao longo dos meus antebraços.

— Eu te odeio, — murmuro. — Mas ainda quero que você


fique.

Ele exala.

— Seus pais adotivos não ficariam felizes comigo.

Eu ajusto meu aperto, colando-o em mim. Não é


realmente justo para ele – eu tenho a vantagem.

Ele está deitado ao meu lado, acariciando meu cabelo.

— Ok, Margo.
Eu suspiro e me aproximo. Eu ainda me sinto quebrada.

É inesperado. É afiado. Se eu me mover para o lado


errado, meu coração pode começar a sangrar. Melhor ficar
completamente imóvel e esperar que eu me cure durante a
noite. Que posso desejar todas as partes ruins de Caleb – e de
mim.

Adormeço com sua mão em meu cabelo e meu nariz em


sua garganta.
Amelie e Savannah fizeram um ato de desaparecimento.

Não é surpreendente, Riley me informa. Elas gostam de


fazer viagens, e a escola está resignada em aceitar sua
participação indiferente. Afinal, seus pais fazem doações
consideráveis a cada ano.

É por causa do baile de máscaras que elas foram a Paris


em busca de vestidos e máscaras.

Sempre um passo acima de nós, gente pequena,


suponho.

— Com quem elas vão? — Eu pergunto a Riley.

Ela encolhe os ombros.

— A última vez que ouvi, Amelie e Ian iriam juntos. Não


tenho certeza sobre Savannah.

Ian Fletcher. Ele tem mantido distância, mas sinto seu


olhar como uma brasa contra minha pele. Porque ele se
interessa tanto, ninguém sabe.

— Precisamos escolher os vestidos. — Diz ela.

Entramos na biblioteca. Permanece sendo nosso porto


seguro. Até agora, Caleb e Eli não vieram nos procurar.
Algumas vezes Caleb me lançava olhares questionadores
enquanto eu entrava na classe logo após o almoço. Mas ele
nunca perguntou e eu nunca mencionei isso.

Já se passaram três dias desde que Caleb e eu fomos para


Nova York. Ele manteve distância no domingo – deixando-me
organizar minhas emoções, eu acho – e na segunda-feira
voltamos ao normal. Tão normais quanto podemos ser, de
qualquer maneira. E, sem surpresa, as pessoas pararam de
fazer tantos comentários. A imagem chamou a atenção no
início, mas eles quase a esqueceram agora.

— Lenora quer ir às compras neste fim de semana. —


Digo a ela. — Quer vir?

Riley sorri para mim.

— Absolutamente.

A porta da biblioteca se abre. Não podemos ver de onde


estamos sentadas, então nós duas automaticamente nos
esgueiramos. Os alunos não deveriam estar aqui – muito
menos com comida. É apenas por causa do relacionamento
familiar de Riley com Amy que isso é possível.

Algumas vezes, tivemos que nos esconder nas estantes


porque a diretora entrou para falar com Amy. Mas esses são
dias raros.

Caleb aparece com Eli logo atrás dele.

Eu gemo.

— Lá se vai nosso porto seguro. — murmuro para Riley.


Caleb olha para mim.

— Você está se escondendo?

— Não.

— Nós apenas gostamos do silêncio. — Diz Riley.

Eli resmunga.

— Você é um assunto totalmente diferente.

Caramba.

— Vamos. — Caleb diz.

Eu balanço minha cabeça.

— A última vez que fomos com você, coisas ruins


aconteceram.

Ele levanta a sobrancelha.

— E se você não vier comigo agora, coisas piores


acontecerão.

Eu me inclino para trás e cruzo os braços.

— Não.

Ele suspira, mas posso dizer que ele está gostando disso.
Meu estômago se revira.

Caleb troca um olhar com Eli, e então ele se inclina, me


puxando por cima do ombro. Eu grito quando ele se levanta.
Estou de cabeça para baixo, minha bunda no ar.
— Meu Deus. — Riley ri.

— Você vai vir em silêncio? — Eli pergunta a ela.

— Sim. — Ela murmura, levantando-se. Ela toca meu


braço. — Desculpe!

Caleb se move. Eu resmungo, segurando sua camisa.


Seus braços estão em volta das minhas coxas, me mantendo
no lugar. Nós quatro passamos pelo escritório de Amy. Ela olha
para cima, mas rapidamente enterra a cabeça no livro.

Traidora.

Caleb caminha direto para o refeitório comigo por cima do


ombro. Meu rosto fica quente, mas sei que implorar não vai
impedi-lo. As coisas têm que ser feitas do jeito dele. Sempre.

Sem Amelie e Savannah aqui, a mesa das líderes de


torcida está quieta. Ninguém quer se apresentar e assumir o
bullying ou seu ódio por mim. Ainda assim, todas elas
sussurram quando Caleb e eu passamos. Eli e Riley nos
seguem, e os sussurros dobram.

Caleb dá um tapinha na minha bunda, em seguida, me


coloca de pé.

Eu olho para cima em seu rosto sorridente.

— Não é legal. — Eu murmuro.

Ele encolhe os ombros.

— Eu te dei uma escolha.


— Na verdade não. — Eu balancei minha cabeça. — Não
é uma escolha se o resultado final for o mesmo.

Seu sorriso se torna malicioso.

— Você poderia ter caminhado até aqui com seus próprios


pés. Em vez disso... gostei da vista.

Theo e Liam já estão à mesa. Eli e Riley se sentam ao lado


de Liam, e eu deslizo para o banco ao lado de Theo. Caleb se
aproxima com duas bandejas de comida, colocando uma ao
meu lado. Ele lança um olhar furioso para Theo e se senta do
meu outro lado.

Theo sorri para mim.

— Obrigado por tirar minha namorada do esconderijo,


Asher.

Eu bufo e agarro o braço de Caleb antes que ele possa


fazer qualquer coisa maluca – como socar seu melhor amigo.
Mais uma vez.

— Cuidado, Alistair. — Caleb rosna.

— Acalme-se, — eu estalo. — Ele estava brincando. Certo,


Theo?

Theo me avalia com olhos escuros.

— Certo.

— Viu? — Eu me viro para Caleb, triunfante.


O rosto de Caleb ainda está fechado. Ele põe a mão na
minha nuca e a deixa lá pelo resto do almoço. Os outros
brincam. Eli e Riley trocam olhares e sorrisos. É estranho fazer
parte da mesa deles – no centro dela, na verdade – mas tão
separados. É obra de Caleb ou minha? Nunca me encaixei. E
eu suspeito que, embora Caleb pudesse encantar uma cobra,
ele não tenta com seus amigos.

Eles o aceitam como o monstro que é. E eu, acho que sou


apenas a posse que ele está tentando adquirir. Eles o ignoram
ou se sentem confortáveis com isso. Confortáveis com seus
próprios demônios, com os tronos em que se sentam. Os
meninos de ouro da Elite Emery-Rose são estimados de longe...
porque ninguém quer se aproximar deles.

A campainha toca e Caleb leva seu tempo para se


levantar. Sua mão ainda está no meu pescoço, me segurando
contra ele. Gosto da sensação de seus dedos na minha pele. A
maneira como suas unhas curtas mordem.

Meu coração bate mais rápido.

Eu tenho que deixar a ida ao meu armário para chegar à


aula a tempo – não que ele se importe. Ele me deixa com um
sorriso malicioso e um toque de seus lábios na minha têmpora.

A tarde está tranquila. Eu paro no meu armário antes da


aula de arte de Robert, que fica no lado oposto da escola. Estou
no meio do caminho quando o corredor se esvazia e a
campainha toca.
Fica em silêncio por um momento. Dois.

Meu coração bate forte e acelero meus passos. Eu me


pergunto se Robert vai me dar detenção por estar atrasada, ou
se ele vai deixar passar desta vez.

Afinal de contas, eu acabei de sair do castigo. Quem sabe


até onde ele pode ser empurrado? Sua paciência. Sua bondade.

Alguém bate em mim por trás.

Eu saio voando para frente, caindo de joelhos. Minha


mochila desliza para longe de mim.

Mãos me puxam para cima, empurrando-me de cara nos


armários. O metal frio beija minha bochecha.

— Lugar errado, hora errada, ovelha.

As mãos me viram, mantendo-me presa.

O rosto de Ian Fletcher está selvagem de excitação. Ele


está esperando por este momento – eu posso dizer. Um
momento em que estou sozinha, desprotegida.

Caleb já estaria na classe de Robert agora. Quanto tempo


ele esperaria antes de vir me encontrar?

— O que você está...

Minhas palavras são cortadas quando ele me puxa para


frente e me empurra de volta. Minha cabeça bate contra o
armário. Devo ter mordido minha língua, porque o sangue
enche minha boca.
— Sem falar. — Ele sussurra. — Você e eu vamos dar um
pequeno passeio.

Seus dedos cavam em meu braço. Ele me arrasta pelo


corredor, através de uma porta lateral que leva aos campos de
futebol.

Eu não faço nenhum som. O medo se agita em meu peito


enquanto contornamos o campo, indo em direção à floresta. O
caminho que os corredores de cross-country usam. Encontrei
Theo aqui uma vez, mas duvido que terei essa sorte uma
segunda vez.

Está mais escuro na floresta. Estamos dez passos dentro


e de repente o mundo é muito mais sinistro. A luz fraca do sol
pisca entre as árvores. Hoje está nublado, então mesmo as
folhas douradas do outono não tornam este lugar mais feliz –
ou mais quente. Poderíamos estar em um cemitério.

Ele me solta.

Não sei por que isso me surpreende mais do que qualquer


coisa. Talvez eu pensei que ele revelaria uma faca e me
cortaria. Ou me machucaria de alguma outra forma.

— Você. — Diz ele. — Você conseguiu enredar Caleb


Asher. Como?

Eu balancei minha cabeça.

— Eu não sei.

Ele me empurra para trás, seu rosto se contorcendo.


Eu tropeço e bato em uma árvore, e é a única coisa que
me mantém de pé.

— Você. Margo Wolfe. Ele te odiou por quantos anos?


Seis?

— Sete.

— Sete. — Ele ri.

Os pássaros voam a nossa esquerda, uma grande


agitação.

Eu recuo.

— Ele usa pessoas. — Avisa Ian. — Tudo o que você pensa


que sente... é uma mentira. Uma manipulação.

Eu cruzo meus braços sobre meu peito. Talvez proteja


meu coração de suas palavras.

— Por que você está me contando isso?

Sua mão passa pelo meu queixo, seus dedos agarrando


meu queixo e movendo meu rosto para o lado. É doloroso, mas
não dou um pio.

Seus olhos se fixam na marca de mordida em meu


pescoço. Está quase toda desbotada – o suficiente para que eu
apenas coloque uma leve camada de corretivo nela – mas a
maquiagem deve ter saído.
— Éramos amigos. — Diz ele. — E então o colégio começa,
e ele se torna um deus do lacrosse. Depois de preencher meu
uso, fui chutado para escanteio.

— Você mostrou a ele. — Eu respondo. — Você roubou a


namorada dele. Ela o traiu...

— Grande merda o bem que fez.

— Seu problema não é comigo. — Minha voz está baixa.


O medo está me estrangulando quanto mais perto ele chega.

O calor escorre de seu corpo. Ele está muito perto.

Ele ri. Ele solta meu queixo e eu viro meu rosto para o
lado. Não quero ver a loucura em seu rosto. Sua mão envolve
minha garganta.

— Meu problema é certamente com você, Ovelha. — Ele


aperta.

Eu mantenho minhas mãos ao meu lado, mas encontro


seus olhos. Se o objetivo dele é me fazer implorar, ele tem outra
coisa vindo.

— Você é a chave para me vingar de Caleb. Eu acho que


ele pode até te amar.

É difícil respirar. Eu engulo. O pânico se apodera de mim.

Eu não posso responder a ele. Eu não vou.

Caleb Asher não me ama.


— É um jogo para ele. — Eu suspiro.

Ian franze a testa.

Se ele não fosse um maníaco, ele poderia até ser bonito.


Ele com certeza chamou a atenção de Amelie.

— Por favor. — Eu murmuro, finalmente levando minhas


mãos até seu pulso.

Ele grunhe, me liberando, e eu deslizo para o chão.

Isso parece familiar.

Déjà vu.

Ian se agacha ao meu lado, agarrando meu braço. Ele


puxa em sua direção, empurrando minha manga para cima.

— Algo para me lembrar.

Ele puxa um marcador permanente, mordendo a tampa,


e escreve uma palavra no meu antebraço.

Eu assisto com horror quando ele coloca seus dentes na


minha pele. Ele morde com força. A dor sobe pelo meu braço
como um choque elétrico. Não é nada parecido com o que Caleb
fez comigo. Isso é medo e repulsa envolvidos em um. Eu estou
suja. A necessidade de sair da minha própria pele é quase
opressora.

Lágrimas inundam meus olhos. Há uma contusão


instantânea se formando logo acima do osso do meu pulso.
É mais violador do que eu pensava. Do que eu poderia
imaginar.

— Quem você odeia mais? — Pergunto-lhe. Não consigo


olhar para o meu braço, que tem pulso próprio. — Eu ou
Caleb?

Ian suspira.

— Não gosto de você. — Ele diz. — Mas eu odeio Caleb


Asher. E isso... você é o alvo mais fácil. O botão a ser apertado
para fazer Caleb sentir algo diferente de hipocrisia. — Ele
levanta um ombro. — Pena que ele não está aqui para protegê-
la desta vez.

Ele se levanta e algo frio desliza sobre suas feições.

Eu tenho um instante para me preparar antes de seu pé


estalar para frente, acertando meu estômago.

Dor e desamparo explodem em mim. Ele me chuta mais


duas vezes e eu caio para o lado.

Eu envolvo meus braços em volta da minha cintura,


gemendo no chão.

O pé de Ian me empurra de costas. Ele se inclina sobre


mim, uma carranca estragando seu rosto.

— Eu quis dizer o que disse antes. — Ele levanta a


sobrancelha, desafiando-me a lembrar.
Eu não lembro. Ele disse tantas coisas horríveis que
empurrei para fora da minha mente.

— Você não é nada, Ovelha. Uma garota de uma família


de lixo. Você está muito fora do lugar.

Ele vai embora. Eu o observo da minha posição no chão,


em posição fetal, até que ele desapareça de vista.

Eu cuspo em meu braço, esfregando furiosamente, mas é


um marcador permanente. Ele se mantém firme. Não consigo
nem ver a palavra através das minhas lágrimas.

Minha garganta queima. Meu braço lateja. Meu estômago


está pegando fogo. Eu me enrolo ainda mais em uma bola,
cedendo ao sofrimento que lateja em meu peito. Um soluço
explode de mim, as lágrimas caindo mais rápido. Não posso
enfrentar Caleb agora, nem mesmo Robert. Eu não posso
entrar na escola assim.

Meus dedos cavam na terra, nas folhas já caídas, e grito.


É uma maneira ruim de tentar expulsar minhas emoções. A
sujeira enche minha boca.

Eu ofego e fico lá pensando em gritar novamente.

Quanto tempo estou aqui, não sei. Meus olhos se fecham


e tento respirar normalmente. Pelo meu nariz. Pela minha
boca. Cuspir a sujeira. Inalar exalar.

Um galho se quebra e de repente Caleb está lá.

— O que aconteceu?
Eu não consigo me mover. Meus músculos estão
travados, rígidos. Meu estômago está em agonia, e minha
garganta também. Eu não conseguia nem puxar minha manga
para cobrir a evidência da crueldade mais perceptível de Ian.

Caleb puxa meus pulsos para longe do meu corpo.

Ele absorve as lágrimas em minhas bochechas, e Deus


sabe o que mais. Eu olho em seus olhos. Talvez ele leve a dor
embora para sempre. Me liberte.

Em um movimento, sou levantada no ar. Eu envolvo


meus braços em volta do seu pescoço, e ele faz uma pausa.
Seus olhos se concentram em meu antebraço.

— Quem? — Ele range para fora.

Eu balanço minha cabeça e tento subir mais alto. Ele


solta minhas pernas e fixa seu aperto. Uma de suas mãos toca
minha nuca.

Eu enrolo minhas pernas em volta de seus quadris como


um polvo.

Ou uma sanguessuga.

Um de seus braços desliza para baixo, me apoiando, e o


outro fica atrás da minha cabeça. Ele começa a andar.

— Ian. — Eu sussurro em seu ouvido.

Estamos peito a peito. Sua exalação é alta e aguda.

O rosnado reverbera entre nós.


— Eu vou matá-lo. — Ele vira a cabeça, dando um beijo
na minha têmpora. — Ele vai pagar por isso, amor.

Há algo a ser dito sobre ter meu próprio monstro pessoal.


Eu sei que ele vai me vingar.

Ele me coloca em seu carro. Me diz para ficar. Me tranca


e desaparece de volta na escola.

Talvez ele vá encontrar Ian.

Minha boca ainda tem gosto de sangue; o gosto acobreado


nunca desapareceu completamente.

Eu me concentro em meus joelhos. Eles estão um pouco


desgastados, mas não sei quando isso aconteceu. Há sujeira
nas minhas pernas. A meia-calça que vestimos com as saias,
parte do uniforme, rasgou-se na panturrilha. Quando me
movo, a sujeira cai da minha camisa. Meus olhos continuam
se enchendo de lágrimas. Eu fecho minhas mãos em punhos,
minhas unhas beliscando minhas palmas.

Eu pisco furiosamente.

Caleb retorna, jogando algo no banco de trás. Ele desliza


para o banco do motorista e olha para mim, em seguida, volta
para o volante.

— Apenas espere.

Vamos para a casa de Eli. Talvez seja porque Caleb não


quer que eu veja seus pais e os de Eli estão fora – eu não
pergunto. Eu realmente não quero ver os pais dele ou voltar
para aquela casa também.

Ele dá a volta e abre minha porta, pegando-me. Em


silêncio, ele me carrega para dentro de casa e desce para o
porão. É vagamente familiar aqui. Há um sofá e uma televisão
fixada na parede, uma cama no canto oposto.

Ele me coloca na beira da cama, ajoelhando-se ao meu


lado.

— Estou pensando que há mais nisso do que seu braço.


— Ele sussurra. —Estou certo?

Eu concordo.

Ele desabotoa minha camisa, lentamente tirando-a dos


meus ombros. Ela cai atrás de mim e ele se inclina ligeiramente
para trás. Ele aperta os lábios, a raiva cintilando em seu rosto
como a luz de uma vela.

Eu sigo seu olhar para baixo.

Meu estômago já é um mapa de hematomas. Estou


surpresa que eles tenham aparecido tão rápido.

Ele traça um.

— Ele chutou você?

Eu me forço a acenar novamente.

— Eu vou matá-lo. — Ele repete. Seus olhos encontram


os meus. — O que mais?
Eu toco minha garganta.

— Foda-se. — ele sussurra.

Ele levanta meu braço.

Os dentes de Ian deixaram uma marca vermelha de raiva.


E logo acima dela, a palavra que eu não consegui ler: prostituta.

— Sinto muito. — Eu digo sobre o nó na minha garganta.


— Estou tão...

Caleb se inclina para frente e me beija.

É infinitamente mais doce do que as emoções que sei que


ele está sentindo. Posso sentir sua culpa e quero chorar de
novo.

— Não se desculpe. — Sua voz é baixa. — Você vai ficar


aqui esta noite.

Meus olhos se arregalam. É contra as regras, quase digo.


O nó na minha garganta bloqueia todo o ruído, mas ele lê
minha mente.

— Foda-se as regras, Margo. Você vai ficar.

Ele sai furioso. A porta do porão se fecha, e então fico


sozinha com meu silêncio.

Minha respiração engata. Dói inalar, dói me mover... eu


examino meu braço.

Nós precisamos limpar a mordida. Tirar o marcador.


Prostituta.

Isso zomba de mim. Minha mãe. Meu passado.

Eu coço isso. Há sujeira sob minhas unhas.

Percebo com vago distanciamento. Na verdade, estou me


sentindo um tanto afastada de tudo. Eu coço meu braço sem
pensar, tentando tirar a tinta da minha pele.

Caleb volta. Ele enfia o telefone no bolso e corre,


agarrando meus pulsos.

— Margo.

Ele me puxa para cima, muito gentilmente, e me carrega


para o banheiro. Ele me coloca no balcão, acendendo a luz.

Eu estremeço quando ele pega meu pulso e puxa meu


braço reto. Consegui arrancar um pedaço do meu braço. O
sangue escorre pela minha mão, pingando do meu dedo.

— Nós vamos tirar isso. — Ele murmura. — Eu disse a


Robert que algo ruim aconteceu. Saí da aula dele quando você
não apareceu.

Há culpa em seus olhos.

Eu senti em seus lábios. Isso era uma coisa, mas vê-la?

Não estou pronta para isso.

Eu rapidamente olho para longe, focando em seu ombro.


— Ele disse que o caminho para chegar até você era
através de mim. — Minha voz está rouca. Não preciso dizer a
ele que não estou falando de Robert. — Que sou seu ponto
fraco.

Ele recua.

Eu mantenho minha atenção em seu rosto enquanto ele


pega uma toalha embebida em água morna com sabão e a
passa no meu braço. Eu o deixo cuidar de mim. Deus sabe que
não posso fazer isso sozinha.

Ele leva seu tempo limpando meu braço. E então ele


passa a toalha sobre meus ombros, até meu pescoço. No meu
peito. Ele abre meu sutiã, jogando-o por cima do ombro. Limpa
novamente a toalha.

A água escorre pelo meu corpo e eu estremeço.

Ele lava a dureza de Ian. Sua mão no meu braço, em volta


da minha garganta. Sua merda de mocassim de couro italiano
na minha barriga.

E quando Caleb termina, ele pisa entre minhas pernas e


me beija mais suavemente do que eu poderia ter imaginado.

Mas... não fomos feitos para ser moles.

Eu me inclino para ele, sufocando meu gemido de dor. Ele


me segura de volta, as mãos leves como uma pena em meus
ombros.

— Beije-me como se quisesse. — Exijo.


Ele hesita.

— Faça-me esquecer. — Eu não vou implorar a ele. No


entanto, eu disse a mim mesma isso com Ian, e cedi. Eu não
queria que um babaca rico me matasse na floresta.

Os lábios de Caleb se abrem. Eu pressiono para frente,


pegando seu lábio inferior com meus dentes.

E.

Eu.

Puxo.

Ele solta um gemido.

Mas... ele não cede como eu esperava. Em vez disso, ele


se afasta, me lançando um olhar.

— Você é um problema. — Ele balança a cabeça e faz um


gesto para que eu me levante. Seu olhar vai para o meu peito.

Eu esqueci que estava sem camisa.

Lentamente, eu levanto meu braço e cubro meus seios.

Ele franze a testa, mas pela primeira vez, ele não discute.
Ele vai até sua cômoda, procurando em uma gaveta por meio
segundo antes de voltar com uma camiseta e um short.

Pego as roupas, levando a camisa até o nariz. Não sei por


que faço isso com ele me observando. Talvez eu secretamente
goste de mantê-lo desprevenido.
Talvez não seja um segredo.

Seus lábios se contraem quando eu inalo.

Tem o cheiro dele. Eu coloco a camisa, o tecido


escondendo meu rosto enquanto eu levanto meus braços. Isso
esconde meu estremecimento. Ele se inclina contra o batente
da porta. Eu deixo cair minha saia e coloco seu short. Se eu
não estivesse machucada, estaria gostando mais disso.

Do jeito que está, Lenora e Robert provavelmente vão me


matar.

— O que você disse aos Jenkins? — Eu pergunto.

Nós dois nos sentamos no sofá. Há luz entrando pelas


janelas estreitas em direção ao topo das paredes do porão. As
janelas estão ao nível do solo. As cortinas estão abertas.
Esqueci, momentaneamente, que ainda é dia. A aula
provavelmente está acabando agora.

Ele sorri.

— Na verdade, liguei para Eli. Ele vai fazer Riley falar com
Lenora. Mas eu disse a Robert na escola que você e eu íamos
embora.

— Eu deveria pegar meu telefone. Me certificar de que


Riley está bem com isso. Mentindo.

— Eu acho que você precisa descansar. — Ele murmura.


Ele coloca o braço em volta de mim e eu inclino minha
cabeça em seu ombro. Ele liga a televisão, algum reality show
estúpido sobre uma corrida internacional, e nós dois meio que
nos desligamos. De vez em quando, ele se inclina e enxuga uma
lágrima da minha bochecha.

Não sei por que ainda estou chorando.

— Analgésicos. — Ele pula minutos ou horas depois. —


Eu deveria ter pensado nisso. Está com fome?

Parece que meus órgãos internos passaram por um


moedor de carne.

Eu balanço minha cabeça e ele franze a testa.

— Sopa? — Ele pergunta.

— Vou tentar. — A verdade é que posso vomitar. Poderia


vomitar de qualquer jeito.

Ele volta com ibuprofeno e uma tigela de canja de galinha


para mim e um sanduíche para ele. Eu bebo o caldo para que
ele pare de olhar para mim.

Os meninos comem muito. Eu sabia disso no fundo da


minha mente no passado. Irmãos adotivos temporários,
meninos de outras escolas que frequentei. Mas ver Caleb
engolir um sanduíche, enquanto eu mal consigo segurar o
caldo? Com seu físico, simplesmente não é justo.
Ele tem abdômen. O V que as garotas elogiam. Uma
cintura e músculos bem ajustados. Inferno, seu rosto é lindo
também, mas é o corpo que vende o pacote completo.

E ele está sentado ao meu lado. Como isso aconteceu?

— Quando o outro sapato vai cair? — Eu pergunto.

Ele pisca.

— O que?

— Isso é legal. Tipo, você está sendo legal. Alguma coisa


está fadada a dar errado.

Ele balança a cabeça.

— Não precisa dar errado.

Eu me endireito tanto quanto posso.

— E daí? Viveremos felizes para sempre e nos casaremos


e teremos filhos...

— Uau. — Ele diz, pegando a tigela das minhas mãos. Um


pouco respingou na borda, em meus dedos. — Acho que você
está com medo.

Eu me afasto.

— Com medo de quê?

— Felicidade? — Ele franze a testa.

— Você gosta de mim?


Acho que ele pode até amar você.

A voz de Ian na minha cabeça é a última coisa que quero


ouvir. Eu bato na minha têmpora com a palma da minha mão.
Uma vez. Duas vezes. É automático. O desejo de tirá-lo da
minha memória é surpreendentemente forte.

Ele pode até amar você.

Está na porra da repetição. Eu bato minha cabeça,


minhas orelhas. Qualquer coisa para esquecer a voz de Ian
Fletcher.

— Margo. — Caleb diz. — Pare.

Ele agarra meus pulsos, mas não é o suficiente.

Um colapso acabou se tornando dois.

Eu me afasto, quase caindo do sofá, e então...

Caleb se move rápido demais. Mais rápido do que minha


mente pode compreender.

Ele se estica em cima de mim, me prendendo no sofá. Ele


pega meus dois pulsos, puxando-os pela minha cabeça.

Isso puxa meu estômago, meu abdômen e eu grito.

Ele não cede, no entanto. Este é o Caleb que eu conheço


– o Caleb que eu mereço. Seu rosto está zangado. Inferno,
furioso. Ele se inclina para baixo, seus quadris cavando nos
meus.
— Você não pode se culpar. — Ele sussurra. — Você não
consegue ser cruel consigo mesma.

— Eu não posso...

— Eu não sei o que você pensa que não pode fazer. — Ele
rosna.

Seu rosto está bem sobre o meu. Nossas pernas estão


entrelaçadas. Suas mãos seguram meu pulso, mas eu mal
posso sentir.

Mesmo quando está com raiva, ele é gentil.

Eu encontro seu olhar.

— Encare isso, Margo. Você é muito mais forte do que


pensa.

Eu mudo meus quadris.

Ele sorri.

— Você está tentando me propor?

— Seria uma boa distração. — Eu suspiro.

— É isso que você quer? Apenas uma distração?

Eu pondero isso. Não, acho que não quero apenas uma


distração.

A resposta deve estar escrita em meu rosto, porque sua


expressão fica clara. Ele me solta e pula para cima.
— O que você precisa é dormir.

Eu olho pela janela. Em algum momento entre nós


sentados e agora, o sol se pôs.

— Já são oito horas?

Ele revira os olhos.

— Isso importa?

Não.

Eu me levanto e caminho em direção à cama. Há uma foto


na cômoda de Caleb e Eli. Isso me faz pensar duas vezes.

Eu sou realmente tão estúpida?

— Caleb... você mora aqui?

Ele para atrás de mim.

Isso explicaria os lençóis que cobrem os móveis de sua


casa. Mas então... e os pais dele?

Seu dedo desce pela minha espinha.

— O porão é meu, sim. Se e quando eu precisar.

— Você me trouxe aqui quando eu estava bêbada. — Eu


giro até ficar de frente para ele.

— Bem, eu odeio falar isso com você, amor. Você meio


que teve uma reação ruim à minha casa.

Eu estremeço. Eu tive.
— Cama. — Ele olha incisivamente para o colchão.

Eu subo e deito, puxando o cobertor até o queixo. Tem o


cheiro dele, o mesmo que a camisa. Quase toco no assunto de
novo – por que ele está morando aqui, por que está sendo legal
– mas não consigo.

Ele rasteja ao meu lado, deitado de costas. Seus olhos se


fecham.

— Durma. — Ele diz.

Se eu fechar meus olhos, posso vê-lo.

Caleb exala e me enfia ao seu lado. Eu me agarro a ele e


forço meus olhos a fecharem.

— Eu tenho você. — Ele sussurra em meu cabelo.

Relaxo. E, eventualmente, eu durmo.


Lenora sai correndo de casa, descendo as escadas. Ela
joga os braços em volta de mim, me segurando perto. O cheiro
que passei a associar a ela – flor de laranjeira de seu shampoo
– me envolve.

Lágrimas picam meus olhos.

Ela se afasta e olha para mim.

— Robert disse que algo ruim aconteceu e você não queria


voltar para casa?

Caleb não me deixou fora de sua vista até que eu estivesse


em segurança enfiada no carro de Riley. Agora, Riley está sem
jeito atrás de mim, inquieta.

— Sinto muito. — eu digo.

Hoje, há novos hematomas. Meu estômago está terrível –


pior do que ontem, até – e meu pescoço... não há como
esconder as marcas na minha pele. Caleb tirou o marcador do
meu braço, mas a mordida? Isso vai ficar por um tempo.

Tomei banho esta manhã, movendo-me lentamente.


Quase vomitei só de pensar em estender a mão para lavar o
cabelo. Mas então Caleb entrou, olhou para mim e assumiu.
A memória de suas mãos massageando meu couro
cabeludo vai me manter aquecida esta noite, isso é certo.

— Minha querida menina. — Lenora segura minha


bochecha. — Eu entendo que às vezes é melhor ter o conforto
de uma amiga. Especialmente porque vocês duas se tornaram
tão próximas. — Ela gesticula para Riley se aproximar e passa
o braço em volta dos ombros de Riley. — Obrigada por cuidar
dela.

Riley muda de um lado para o outro.

Eu amplio meus olhos para ela. Já falamos sobre isso.

Não tenho certeza de como Robert e Lenora reagiriam ao


saber que eu estava na casa de Caleb durante a noite. Bem, na
casa de Eli.

Riley sabe que Caleb fica na casa de Eli?

Quando tentei questionar Caleb sobre isso novamente


esta manhã, ele não me respondeu. Abandonei o assunto por
enquanto.

— Já liguei para Emery-Rose. — Diz Lenora. — E eu acho


que você deveria ver um médico. Pelo menos para ter certeza...
— Seu olhar cai para o meu estômago.

Eu engulo.

— Minha melhor amiga é uma médica de trauma. —


Lenora diz. — Eu pedi a ela para passar por aqui hoje.
— Então já está decidido. — Eu murmuro.

Lenora encolhe os ombros.

— Riley, você deve ir para a escola.

Minha melhor amiga chama a atenção.

— Sim, senhora. — Ela me dá um abraço rápido e depois


se retira.

Lenora e eu entramos na casa. Eu vou para o meu quarto


e tiro minha jaqueta, rapidamente trocando a camisa de Caleb
por uma das minhas. Eu coloco a dele embaixo do meu
travesseiro.

Troco minha saia – não poderia exatamente usar o short


dele em casa – por uma calça confortável.

Lenora fecha a porta da frente quando eu desço.

— Riley esqueceu que ela tinha isso. — Ela diz,


levantando minha mochila.

Eu consigo sorrir.

— Obrigada.

— Sofá? Sopa?

Eu aceno e desabo no sofá, pegando o controle remoto.


Um dia para não fazer nada além de me recuperar? Eu estou
bem com isso.

É de manhã cedo. Tenho o resto do dia pela frente.


Depois que Lenora para de pairar – ela me traz água e
sopa, que é adorável – eu procuro em minha mochila. Não
posso simplesmente sentar aqui e não fazer nada, por mais
pacífico que pareça.

Eu encontro meu telefone no fundo da minha bolsa.


Alcançando, eu percorro as chamadas perdidas e mensagens
de texto de Caleb e Riley. Minha atenção se concentra em um
texto do meu SMS misterioso. O carimbo de data/hora mostra
que foi enviado ontem à tarde. Minhas mãos tremem.

Eu clico no texto antes de cair fora.

Desconhecido: Esta é a única vez que ajudo você.

Desconhecido: [imagem em anexo]

É uma foto de Ian me rebocando pelo campo. O


Desconhecido enviou para alguém para me ajudar? Caleb,
talvez? Ele me encontrou muito rápido...

Eu estremeço.

Há muitas pessoas puxando cordas na minha vida. Isso


me deixa com mais raiva do que eu poderia esperar.

A amiga médica de Lenora vem, com uma máquina de


ultrassom portátil a reboque, para inspecionar meu estômago.
Ambas as mulheres ofegam quando eu levanto minha camisa.
Ela examina bastante ‘ai’ e ela finalmente balança para trás.
Ela liga a máquina de ultrassom e espirra gel na minha
barriga, como fazem com mulheres grávidas.
Eu me encolho com a ideia de estar grávida.

— O ultrassom está limpo. — Diz ela. — Parece um


hematoma profundo. Você está com náuseas? Vomitou alguma
coisa?

Eu balancei minha cabeça.

— Se você fizer isso, ou se a dor viajar para suas costas,


me ligue. Se houver sangue na sua urina, ligue para mim. —
Ela ergue as sobrancelhas. — Compreende?

Eu balanço minha cabeça para cima e para baixo.

— Entendi.

— Gelo em intervalos. Nada extenuante.

— Ok. — Eu forço um sorriso. — Obrigada por me


examinar.

Ambas se levantam e eu abaixo minha camisa. Deito-me,


me cobrindo com o cobertor, e fecho os olhos. Mesmo assim,
ouço a amiga de Lenora dizer:

— Eu manteria a atividade dela baixa por pelo menos


uma semana. Vou escrever uma nota para você enviar para a
escola.

Eu me empurro para cima.

— Espere. — Eu deixo escapar. — O baile...


— Ainda faltam dez dias para o Halloween. — Diz Lenora
gentilmente. —Tenho certeza que você estará recuperada o
suficiente até lá. — Ela levanta a sobrancelha para a amiga.

A médica sorri.

— Voltarei no domingo e verificarei você.

Pelo resto do dia, eu flutuo entre a consciência e o sono e


tento esquecer Ian Fletcher.

Quando acordo, está completamente escuro. A televisão


está passando pelos créditos finais de um filme que perdi
completamente e estou impossivelmente grogue. Eu tateio em
volta do meu telefone e minha mão pousa na... pele.

Eu estalo minha mão de volta. Caleb está reclinado na


cadeira ao lado do sofá, com os olhos fechados.

Meu coração faz uma coisa horrível: ele se suaviza.

Devo ter tocado sua mão, pendurada no braço da cadeira.

Lentamente, eu me sento e me reajusto. Eu aliso meu


cabelo, garantindo que minha camisa esteja no lugar. E
quando eu olho para cima, o olhar de Caleb está em mim.

— Se sentindo melhor? — Ele pergunta.

— Na verdade, não. — O saco de gelo derretido desliza


para fora do sofá. — Você fez…?

Caleb franze a testa.


— Encontrar Ian? Fiz qualquer coisa? Não. Fui avisado
para não causar muito mais ondas na escola.

Eu resmungo.

Ele se inclina em minha direção, colocando uma mecha


de cabelo atrás da minha orelha.

— Lenora disse que você deveria estar bem para ir ao


baile, no entanto.

Eu consigo sorrir.

— Acredito que sim.

— Eu sei isso.

Ele acende a lâmpada. Eu aperto os olhos, bloqueando a


luz com a minha mão enquanto ele troca de lugar e desliza
atrás de mim. Eu me inclino sobre ele enquanto ele inspeciona
minha garganta.

— Ele não vai tocar em você novamente. Mesmo se eu


precisar colocar toda a equipe de lacrosse para mantê-lo longe
de você...

— Ian não está na equipe?

Caleb revira os olhos.

— Sim. Mas ele é um idiota.

Claramente.

— Onde estão Robert e Lenora?


— Eles saíram. Eles ficaram pairando, certificando-se de
que você ainda estava respirando. Ou roncando, como você
estava quando eu entrei.

Dou uma cotovelada nele.

— Você estará de volta à escola na próxima semana. —


Ele promete. — E então o baile. E depois...

Ele mexe as sobrancelhas.

Eu começo a rir.

— O que você vai fazer, alugar um quarto de hotel?

Ele sorri.

Meu coração salta.

— Você vai?

— Onde está a surpresa nisso?

— Eu não mencionei que não gosto de surpresas?

Ele ri.

— Não.

Um novo filme começa, e Caleb e eu caímos em silêncio.


Na verdade, fico acordada dessa vez, conseguindo passar a
maior parte do tempo antes que a porta da frente se abra.
Lenora e Robert entram apressados, largando as bolsas e
tirando os casacos. Eles vêm até mim, apalpam minha testa,
dão um tapinha no topo da minha cabeça.
É bom ser cuidada. Sufocante e completamente
desconhecido... mas legal.

Caleb se levanta.

— Essa é a minha deixa. Vejo você mais tarde.

Robert e Caleb apertam as mãos.

Quando Caleb sai, o lugar fica um pouco mais frio. Tento


não deixar transparecer, porém, porque Lenora se senta quase
imediatamente.

Ela coloca as costas da mão na minha testa novamente.

— Como você está se sentindo?

Eu encolho os ombros.

— Igual.

Tudo dói.

Ela balança a cabeça.

— Se você quiser nos dizer quem fez isso, podemos ir para


a escola.

— O que? — Eu teria imaginado que Riley disse a ela.


Inferno, a escola inteira provavelmente já sabe. O grande
valentão, Ian Fletcher, desconta sua raiva em Margo.
Novamente.

— Nós sabemos que Caleb encontrou você, mas ninguém


vai nos dizer nada. — Ela envolve suas mãos nas minhas. —
Por favor, querida, diga-nos para que possamos acabar com
isso. Eu não quero que você fique com medo...

— Eu não estou. — eu digo. — Eu não estou assustada.

É uma mentira descarada. Eu estou aterrorizada.

Ela parece analisar meu rosto. Eventualmente, ela acena


com a cabeça.

— Ok.

Eu me levanto.

— Eu vou subir. Vejo você amanhã.

— Sinta-se à vontade para dormir até mais tarde. — Ela


me diz. — Estou saindo bem cedo para o trabalho.

— Ok. Boa noite.

Subo as escadas mancando – neste ponto, andar não dói


totalmente, mas estou cedendo ao meu lado melodramático –
e deslizo para o meu quarto.

— Já era hora. — Caleb sussurra.

Eu pulo.

— O que?

Eu encolho os ombros, olhando para a janela. Está


entreaberta, deixando entrar um frio cortante. Melhor para
abraçar, eu acho...
— Achei que tivesse trancado, só isso.

Ele sorri.

— Eu destranquei quando cheguei aqui.

Eu suspiro. A ideia de não dormir sozinha parece muito


boa agora. Posso sofrer com meus pesadelos em silêncio, mas
agora não preciso.

Ele já está sem os sapatos.

Dou um passo em direção à cama e congelo quando ele


enfia a mão embaixo do meu travesseiro.

— Planejando manter isso? — Ele pergunta, segurando


sua camiseta.

Eu pego de volta, embalando-a no meu peito.

Ele apenas ri.

— Durma Margo. — Ele diz. — Vou ficar de olho em você.

Eu tranco minha porta e deixo cair sua camisa na minha


cômoda. Eu me arrisco mais perto. Em algum lugar entre o
início do ano letivo e agora – apenas dois meses, se tanto –
parei de ter medo dele. Eu fico entre suas pernas, colocando
minhas mãos em seus ombros. Seus olhos estão no nível dos
meus seios, e ele olha para eles antes de inclinar a cabeça para
trás e encontrar meu olhar.

— Tire minha camisa. — eu sussurro.


Suas mãos estão frias contra minha pele, levantando a
barra da minha camisa. Ele a puxa de cima de mim com um
movimento fluido, bagunçando meu cabelo enquanto ela cai.

Meu sutiã cai também. Meus mamilos enrijecem sob seu


olhar quente. Sua mão entre minhas omoplatas me impede de
empurrar para trás enquanto seu polegar desliza sobre meu
mamilo. Ele se concentra no outro, inclinando-se para frente e
sacudindo-o com a língua.

Eu gemo.

— Isso dói? — Seu polegar ainda está fazendo círculos


preguiçosos na minha pele.

— Eu gosto quando dói. — As palavras escapam antes


que eu possa detê-las. Eu ficaria mortificada se não estivesse
encantada com a maneira como Caleb está me tocando.

Seus olhos se estreitam.

— Seja específica.

Um arrepio percorre meu corpo.

Sua palma se achata contra meu estômago.

É um toque leve, mas minha respiração falha.

— Isto?

Eu balanço minha cabeça.


Sua mão desce, deslizando para dentro da minha
calcinha. Ele pressiona meu clitóris e meus lábios se abrem.
Seus lábios se erguem em um sorriso malicioso com a minha
reação. Um dedo desliza dentro de mim.

— Isto?

Eu coloco minhas mãos de volta em seus ombros, apenas


para ter certeza de que continuaria de pé.

— Caleb...

— Eu te fiz uma pergunta, amor. — Seu dedo empurra


para dentro e para fora de mim.

Não posso fazer muito em pé na frente dele. Uma de suas


mãos está nas minhas costas; a outra causa o caos dentro de
mim. Suas unhas arranham meu clitóris.

Eu estremeço.

Se eu admitir, ele pode parar. Afinal, isso é apenas para


provar um ponto.

Três dedos.

Seus dedos se enrolam dentro de mim. Eu gemo com a


nova sensação, ampliando minha postura. Eu fecho meus
olhos.

Erro.

Seus dentes estão na minha pele, mordendo meu peito.


Ele não faz nada para me acalmar. É apenas uma trilha ao
longo do meu peito, pequenas pontadas de dor. É
enlouquecedor.

— Você está encharcada, porra. — Ele sussurra. Seus


olhos estão incrivelmente escuros. — Você fica mais úmida
cada vez que faço alguma coisa com seu corpo. Então, acho
que isso responde à minha pergunta.

Eu choramingo quando ele sai.

— O médico disse que não há atividades extenuantes. —


Ele sorri para mim.

Desgraçado.

Eu agarro seus ombros com mais força e me coloco em


seu colo. Sua ereção roça minha coxa.

— Você se importa com o que o médico disse? — A


necessidade e o desejo prevalecem sobre o bom senso.

— Eu me importo em você estar bem o suficiente para


foder você a noite toda depois do baile. — Ele responde.

Meu núcleo aperta.

— Gosta dessa ideia, não é?

— Eu...

— Deite.

Eu faço, deslizando para fora de seu colo e me esticando


no meu colchão atrás dele. Ele se contorce na cama e se
esparrama ao meu lado, então estamos de braços dados. Ele
puxa o cobertor sobre nós e rola para o lado.

Ele me observa.

— Durma. — Ele diz.

Eu suspiro, tentando ignorar o desejo latejante em meu


núcleo. Eu poderia ser petulante e ter um ataque. Abaixe as
mãos e termine o trabalho sozinha – uma proposta
assustadora com Caleb bem ao meu lado. Implore mais um
pouco.

No entanto, duvido que isso funcione.

Aponto para a camisa que deixei cair.

— Eu posso ter aquilo?

Ele a recupera para mim, ajudando-me a sentar o


suficiente para colocá-la sobre minha cabeça e nas minhas
costas.

Eu caio para trás.

Tem sido um dia.

— Obrigada. — Eu murmuro.

— Pelo quê?

— Afugentar meus pesadelos.

Ele se inclina para frente e beija minha testa.


— A qualquer momento. Durma agora, amor.
Ninguém fala comigo no pátio. Ir para a escola quando
Margo está deitada em casa, machucada, só me dá um aperto
no peito. Theo, Liam e Eli criam uma proteção. As portas se
abrem e nós caminhamos pelo corredor, e eles executam uma
defesa impecável.

Não tenho certeza do que há sobre nós que atrai as


meninas como as abelhas ao mel. A metáfora deveria ser o
contrário: somos nós que picamos, não elas.

Eli afasta Amelie, agarrando seus ombros e girando-a


para longe.

Se eu encontrar Ian, vou bater na porra da cabeça dele.


Já fiz isso uma vez neste semestre. Também já tive problemas
por isso. A diretora me deu uma conversa dura sobre como eu
não poderia tocar em um fio de cabelo de sua cabecinha... mas
não sou contra estratégias elaboradas.

Theo me olha com o canto do olho. Ele é o filho da puta


mais sombrio que conheço. Não é surpresa que ele perceba que
estou fervendo por dentro. É por isso que somos amigos – há
uma loucura nele também.
Entramos na sala de aula e eu aceno para ele. Ian está
encostado na mesa de Amelie. Ele nem mesmo olha para cima
quando entramos.

Esperar que a aula termine é uma tortura. Cada tique do


ponteiro dos segundos se enterra em meus tímpanos.

Finalmente acabou.

Liam sorri para Eli.

— Corrida com você.

Eles correm em direção à porta, e o pé de Liam pega a


bolsa de Ian. Ian franze a testa, então recolhe suas coisas. Theo
e eu ficamos e saímos da sala logo depois dele. Nós o seguimos
em direção à sua próxima aula, e eu olho para Theo.

— Está pronto? — Ele pergunta.

Eu rolo meus ombros.

Liam e Eli estão voltando para nós.

A campainha toca, tornando nós cinco oficialmente


atrasados.

Ian levanta a mão em direção aos meus amigos, e eles


param na frente dele.

— Obrigado por me atrasar, idiota. — Ian diz para Liam.

Liam encolhe os ombros.

— Tudo parte do plano.


Ian balança a cabeça.

— O que?

— Nosso plano. — Eu digo.

Ian se vira.

— Basta você me tocar...

— Você vem com a gente. — Diz Theo. Ele lotou o espaço


de Ian. Eles são amigáveis em um dia bom, mas hoje... hoje
não é um bom dia.

Para qualquer um de nós.

Por mais que me doa admitir, meus amigos se apegaram


a Margo. E isso significa que eles estão nisso comigo.

Ian levanta as mãos em derrota.

Eli nos conduz pelo pátio, para a casa verde. Liam e Theo
seguem logo atrás de Ian, e eu desacelero meu ritmo. Eu aperto
minha mandíbula. Não se trata de violência – trata-se de
assustá-lo profundamente, para que ele nunca pense em
Margo da maneira errada.

Eu entro. Eli e Liam agarram Ian, puxando-o contra a


parede.

Theo anda na frente dele.

— Apenas me bata, Alistair. — Ian provoca. — Todos nós


sabemos que você está apaixonado pela garota do calendário.
Theo bate com o punho no estômago de Ian. Ian grunhe,
cambaleando para frente. Eli e Liam o seguram de pé.

Eu suspiro.

— Porra...

Theo dá um soco na mandíbula dele.

— Cala. A. Boca.

Aparentemente, não sou o único que está chateado com


Ian.

— Sem rostos. — Digo a ele. Eu recuo e deixo Theo


expressar sua raiva. Afinal, a diretora só me disse para não
bater nele.

Theo se reajusta, mas assim que Ian tosse com sangue,


eu avanço e agarro o braço de Theo.

Liam e Eli soltam Ian, deixando-o cair no chão.

— Como se sente? — Eu pergunto, agachando-me ao lado


dele. — Mais ou menos como um chute no estômago?

Ele me encara.

Eu envolvo minha mão em torno de sua garganta,


prendendo-o no chão. Eu vejo vermelho com a ideia de Margo
nesta posição, ele pairando sobre ela.

Eu aperto até que Ian agarra meus pulsos. Ele não pode
me soltar.
Ele sorri. Seus dentes estão tingidos de vermelho.

— Caleb. — Eli avisa.

— Você não a toca. — Eu digo a Ian. — Você não olha


para ela. Você não...

— Isso não é realmente sobre ela. — Ele ofega. — Ela é


apenas seu ponto fraco, Asher.

Eu cavo meus dedos em seu pescoço.

Eu não sou eu mesmo.

Seu rosto fica vermelho e eu ainda não o solto.

Eu não posso, quando ele está olhando para mim com


uma porra de desafio em seus olhos.

Ele vai ter hematomas no pescoço... muito piores do que


os de Margo, eu acho.

Seus olhos se fecham. Theo e Eli agarram meus braços,


me puxando para longe dele.

Eu luto por um segundo.

— Mais um pouco e você vai matá-lo. — Liam adverte, me


empurrando para longe. Ele se ajoelha ao lado de Ian, que
desmaiou.

Theo me arrasta até a porta, me empurrando contra ela.

— Isso não fazia parte do plano.


Eu balanço minha cabeça.

— Eu sei.

— Você perdeu o controle.

— Eu sei.

Ele grunhe.

— Vá. Cuidaremos do resto.

Eu reviro meus olhos.

— Você o perdeu também.

— Nah, ele merecia.

Eu balanço minha cabeça. Sim, Ian tem muito vindo.


Tinha. Com o lacrosse se aproximando, precisamos controlar
nossa merda mais cedo ou mais tarde. Um time quebrado não
trará campeonatos.

Vou para o carro e entro. Faltar não é algo que faço com
frequência, mas ninguém diz nada. Alguns outros alunos se
entregam aos mesmos luxos. Theo poderia enviar sua prova
final e ainda assim obter A's.

Lenora está no trabalho e Robert está na escola, o que


significa que Margo está sozinha.

Meu telefone toca na metade do caminho para a casa


dela. Um olhar para o identificador de chamadas e eu franzo a
testa.
— Sim?

— Que saudação adorável, sobrinho. Você não está na


escola?

Eu balanço minha cabeça.

— Tive que tratar de um assunto.

Meu tio está em silêncio.

— Ouvimos sobre o infeliz incidente da sua velha amiga.

Agora estou quieto. Como diabos meu tio soube da


Margo? Tomei cuidado para não mencioná-la.

Ele ri.

— Relaxe. Não estamos fazendo nada... ainda.

— A tia ligou para a Amberly, não foi? — Tudo se encaixa.


Peças soltas que de repente fazem sentido. — O que significa
que ela não saiu da cidade.

— Eu realmente não aprecio você ameaçar as pessoas,


Caleb. Achei que você aprendeu a ser melhor do que isso.

A manobrar melhor.

Sim, também pensei que tivesse.

Margo me deixou completamente confuso.

— O que posso fazer por você, tio?


— Passe em casa depois da sua... missão. E mantenha
isso entre nós.

— Entendi. — Eu desligo na cara dele. Ele não é a pessoa


mais sociável. Estou surpreso que ele não desligou na minha
cara primeiro.

Sento-me na entrada da garagem por um segundo, então


saio e entro na casa de Margo.

É interessante como os Jenkins a fizeram se sentir tão em


casa, mas ela não quer chamar assim. Ela se acostumou a se
mover tanto que parece ter esquecido o que é estabilidade.

Talvez ela nunca tenha tido isso, para começar.

Ela está dormindo no sofá, enrolada de lado. Fecho a


porta silenciosamente e tiro os sapatos, depois vou e me
ajoelho ao lado dela.

Há uma ruga em sua testa. Seus lábios estão


comprimidos.

Mesmo que ela esteja dormindo, posso dizer que ela não
está tendo um sonho bom.

Eu aliso seu cabelo para trás e sorrio enquanto ela exala.

— Vou mantê-la segura. — Digo a ela.

Não sei se estou dizendo a verdade ou não.

Meus sentimentos estão todos confusos.


Quando eu olho para ela, eu vejo... ela. Mas também vejo
nosso passado. Cada fodido momento me lembra do dia em
que ela arruinou nossas vidas. Uma confissão.

Implorei a ela que não o fizesse, mas ela o fez mesmo


assim.

Ela choraminga em seu sono.

Eu afrouxo meu aperto em seu cabelo escuro, alisando-o


novamente. Eu deveria ir, mas não consigo parar de tocá-la.

Ela pisca e se concentra no meu rosto. O sorriso que se


espalha por seus lábios arranca meu coração. Mesmo assim,
as lágrimas escorrem pelo seu rosto.

— Porque você está chorando? — Eu enxugo as lágrimas,


mas elas continuam caindo.

Quase digo a ela que cuidaram de Ian, mas não quero que
ela se estresse com isso. Como ele disse: nunca foi sobre ela.
Era eu.

— Como você soube onde me encontrar? — Ela pergunta.

— Alguém me enviou uma mensagem.

— Uma foto. — Ela diz.

Eu encontro seu olhar novamente.

— Sim.

— Quem?
Eu balancei minha cabeça.

— Não, Margo.

— Quem te mandou uma mensagem, Caleb? — Ela


estende a mão e agarra meus pulsos.

— Um número bloqueado. — Eu finalmente digo. Não é a


verdade completa. Eu só tenho uma ideia de quem a enviou.
Por que eles bloquearam seu número para enviá-lo para mim...
faz sentido.

Existem traidores em Emery-Rose.

Seu rosto cai. Ela se recompõe em tempo recorde,


apoiando-se no cotovelo.

— Você não deveria estar na escola?

Eu resmungo.

— Talvez eu só quisesse ver você.

Ela dá um tapinha no espaço ao lado dela, mas eu


balanço minha cabeça. Eu me levanto e a pego – ela e os
cobertores colocados sobre ela. Eu sento, mantendo-a no meu
colo. Ela passa a mão no meu peito, colocando o rosto no meu
pescoço.

Eu beijo o topo de sua cabeça.

É sentimental. Eu me sinto incrivelmente culpado,


mesmo enquanto meu abdômen aperta e meu pau endurece
em minhas calças.
Margo e eu não estamos destinados a um final feliz,
mesmo que ambos queiramos fingir o contrário. Nosso destino
é quebrar e queimar.
Quarta-feira à tarde é meu primeiro passeio.

Foi uma semana sem nada além de ficar em casa,


tentando não me mexer. Riley e Caleb me visitaram, mas eles
têm outras obrigações. Escola, por exemplo. Tenho feito
minhas devidas diligências no dever de casa, mantendo o
contato com meus colegas de classe mesmo quando estou fora.
Isso afasta um pouco do tédio.

Agora estou livre.

Amanhã vou voltar para a escola – uma ideia assustadora


na qual me recuso a pensar.

Riley e Lenora me enquadram enquanto caminhamos em


direção à loja de vestidos no shopping. Esta loja em particular
oferece vestidos especiais e únicos. Alguns são incomuns, mas
existem diamantes brutos.

Pelo menos foi o que Lenora disse.

Entramos e imediatamente começo a duvidar dela. Os


seis primeiros vestidos que me chamam a atenção são
horríveis: cores brilhantes e babados, buracos nas laterais,
veludo e ombreiras.

— Não julgue. — Lenora adverte, tocando meu ombro. —


Encontraremos uma joia.
Eu disse a elas que Caleb tinha escolhido uma máscara
para mim, mas eu não sabia que tipo de vestido eu queria.
Lenora quase desmaiou com isso – literalmente, ela pensou
que era adorável e encantador da parte dele. Não tenho certeza
de como ele ficou do lado bom dela tão facilmente.

E Riley... ela tem um brilho malicioso nos olhos. Quando


eu a questionei no carro, ela apenas deu de ombros.

— Eu jurei segredo. Mas vou deixar você saber se você


estiver indo na direção errada.

Eu cerrei meus dentes e fui com ela.

Comprar vestido é estranho. Nos espalhamos pela loja.


Corro minhas mãos em tecidos que não tenho o direito de
tocar. Alguns são macios, outros cintilantes.

Quando eu era criança, na idade em que meus pais


poderiam ter me vestido com qualquer roupa fofa que
quisessem, era um macacão e tênis. Corri, esfolei os joelhos,
joguei beisebol com os meninos aos oito anos. Menos a única
vez que forcei Caleb a brincar de se fantasiar comigo...

Eu paro no canto da sala, minha mão no meu peito. É


opressor. Se ao menos meus pais pudessem me ver agora:
fazendo compras para ir a um baile com um menino. E não
qualquer garoto – Caleb Asher.

— Encontrou alguma coisa? — Lenora pergunta atrás de


mim.
Eu me viro, piscando rapidamente.

Ela deve ver a expressão em meu rosto, algo como pânico


e pavor, porque seu sorriso desaparece. Ela se aproxima.

— O que há de errado?

— Eu só... — eu engulo. — Eu nunca me vi fazendo isso.

Ela concorda.

— Você não teve muitas oportunidades antes disso?

— Nenhum menino prestou atenção em mim. — Eu digo.


— Era como se eles estivessem com medo de tocar na filha
adotiva. — Tentei não deixar isso me incomodar. Mas, às vezes,
seus únicos amigos são aqueles com quem você está nas
trincheiras.

Riley se aproxima, alheia à nossa conversa. Ela tem


alguns vestidos pendurados nos braços e um sorriso largo.

— Escute, peguei alguns para você e alguns para mim


porque metade da diversão é experimentá-los... você está bem?

Eu limpo meu rosto.

— Sim, estou bem.

Lenora sorri.

— Vamos ver os vestidos!

Riley segura o primeiro. É azul claro, justo além dos


quadris, e então se alarga. Seda com renda cobrindo, é...
— Você poderia experimentar. — Lenora diz, me
cutucando.

— O que mais?

Riley ri.

— Este é o meu favorito. — Ela não o levanta, no entanto.


Ela apenas o empurra em meus braços e me impele em direção
ao provador. — Confie em mim.

Eu expiro.

— Está bem.

Não há espelhos neste camarim. Consigo fechar e deixar


meu cabelo cair sobre meus ombros. Eu levo um momento
para olhar para o vestido, da cor de nuvens de tempestade.

Aqui vai nada.

Eu saio e elas imediatamente pulam. Riley salta, um largo


sorriso dividindo seu rosto.

— Este está bom? — Eu pergunto.

Lenora me leva até o espelho de três lados e admito: até


meu coração dá um salto.

Está perfeito.

O top é ajustado, com mini contas de vidro costuradas


em espirais ao redor da cintura. Ele se expande graciosamente
e para nos meus joelhos. O decote é alto o suficiente para que
eu me sinta segura, mas o fato de não ter costas é sexy. Eu
giro, rindo, porque o vestido flutua ao meu redor.

— Lindo. — Lenora me diz. — Você gosta disso?

Eu paro e me olho no espelho. Tento imaginar que tipo de


máscara Caleb escolheu para fazer Riley sugerir esse vestido.
Mas, honestamente, não sei. Eu não conseguia adivinhar.

Me sinto linda. Talvez com meu cabelo preso em uma


trança...

A etiqueta está pendurada sob minha axila. Eu olho para


o preço e meus olhos quase saltam. A raiva me inunda.

— Não.

— Você... não?

Eu olho para Riley.

— Por que você escolheria um vestido tão caro? Eu não


posso...

Lenora se aproxima e se abaixa, lendo o preço.

Lágrimas picam meus olhos. Eu gosto deste. Eu me sinto


bonita pela primeira vez na minha maldita vida. E sim, talvez
eu não devesse ter me apaixonado por alguns metros de tecido,
mas...

— Está tudo bem. — Lenora diz. — Eu entendi.

— O que? — Eu sussurro. Eu mal consigo ver.


— Estou comprando. — Ela enfia uma mecha de cabelo
atrás da minha orelha. — Enxugue essas lágrimas, menina
Margo. Você vai conseguir o vestido.

Eu me olho no espelho.

Isso é muito.

Minha própria mãe teria me afastado de toda esta loja.


Não é? Nós não teríamos ido ao shopping em primeiro lugar.
Ela era uma chef pessoal. O dinheiro sempre foi curto. Comprei
jeans e camisas novas para mim em brechós. Sapatos em
liquidação. Brinquedos que foram doados.

Morávamos em um dos bairros mais ricos, mas


lutávamos para encher nossa geladeira.

E Lenora me disse que comprará um vestido de


quinhentos dólares que usarei uma vez. Ela faz isso sem
pestanejar.

Riley me puxa de volta para o vestiário. Eu saio do


vestido, ainda em estado de choque. Eu pisco e pisco e não
consigo pensar em nada para dizer.

— É assim que eles funcionam. — Ela sussurra. — Ela


está tentando. O dinheiro não é nada para eles.

Eu me contorço.

— De onde vem o dinheiro deles? Quanto eles poderiam


ganhar com o salário dela e de Robert?
Riley sorri.

— Claramente, você não conhece seus pais adotivos.

Eu levanto minha sobrancelha, mas Riley apenas


empurra minhas roupas para mim e sai pela porta.

No momento em que estou com minhas roupas, ela está


em outro vestiário. Lenora está com meu vestido embalado e
pendurado no braço.

Lenora sorri para mim, batendo no meu nariz.

— Eu não aceitaria não como resposta.

— Obrigada. — Murmuro. — Eu realmente, realmente


aprecio isso.

A porta de Riley se abre e ela sai.

Nós duas falamos um ooh ao mesmo tempo.

O tecido é justo, abraçando seu corpo como uma luva.


Ela é tão magra quanto as garotas populares, mesmo que
esconda isso na maior parte do tempo. O vestido preto tem um
decote profundo e largo e se alarga abaixo dos quadris.

Ela faz um pouco de dança.

— O que você acha?

— É lindo. — Lenora pisca. — E sexy.

Riley joga o cabelo para trás.


— Eu acho que vou deixar Eli de queixo caído.

Ele oficialmente a pediu enquanto eu estava em casa me


recuperando, aparentemente. E ela disse que sim, em meio a
um mar de invejosos espectadores. Foi um espetáculo.
Cantando, uma banda marcial, a equipe de lacrosse cercando
Riley e erguendo-a.

Mesmo assim, ela experimenta mais dois vestidos antes


de se declarar satisfeita com o primeiro. Saímos da loja de
braços dados – nós três, eu no centro. Sinto uma sensação de
calor no peito e é fácil ignorar a dor no abdômen.

Compramos pretzels e procuramos algumas lojas. Hesito


em escolher joias. Há algumas coisas da minha mãe que eu
poderia usar. Tenho certeza que eles estão no quarto dela em
nossa antiga casa. Entrar para pegá-los provavelmente me
daria um ataque de pânico, mas...

Seria bom usar seus brincos ou colar. Sentir-me mais


perto dela.

Riley mostra um colar deslumbrante com cristais


pingando.

— Vou comprar este. — Ela anuncia. Ela experimenta,


segurando o cabelo para cima e virando para todos os lados.

— Eu amo isso. — Eu digo a ela.

Ela sorri para mim.

Ao sairmos da loja, alguém grita meu nome.


Um borrão passa por Riley e bate em mim.

Alguém se agarra a mim, seus braços em volta da minha


cintura. Todo o ar é expelido de meus pulmões. Levo alguns
segundos para compreender que a pequena não é um estranho
– é Hanna.

Eu rio e envolvo meus braços em torno dela, balançando


para frente e para trás. Dane-se a dor lancinante em meu
estômago. É a Hanna. Minha expectativa de vê-la novamente
era menor do que baixa.

Claire corre, ofegante.

— Jesus, Hanna. — Ela adverte. Para mim, ela diz: — Ela


viu você e saiu correndo.

Hanna dá um passo para trás e eu coloco seu cabelo para


trás. Ela é apenas alguns anos mais nova do que nós, mas eu
cuidei dela mais do que Claire já fez. Provavelmente porque eu
não tinha uma irmã mais nova há mais de alguns meses.

— Como você está? — Lembro-me de minhas maneiras de


repente e me viro para Lenora. — Esta é minha mãe adotiva.
Lenora, esta é Claire e Hanna.

As narinas de Lenora dilatam – ou talvez seja minha


imaginação. Ela sorri para Hanna e Claire, estendendo a mão
para apertar suas mãos.

Claire encara sua mão estendida e não se move.


O constrangimento sobe pelo meu pescoço na forma de
um rubor. Eu contei a Lenora e Robert sobre minhas irmãs
adotivas, o quanto sentia falta delas, e aqui está Claire,
jogando tudo pela janela.

Hanna dá um passo à frente e pega a mão de Lenora,


sacudindo-a para cima e para baixo com entusiasmo. Isso
compensa a frieza de sua irmã.

— Podemos roubar Margo? — Claire pergunta. Ela olha


para Riley, depois para longe. — Esperávamos vê-la neste fim
de semana de qualquer maneira.

Depois que Lenora me comprou um vestido, Riley e eu


vamos passar um tempo juntas? Eu automaticamente me
sinto culpada por pensar que poderia me separar e ir com
Claire e Hanna.

Eu começo a recusar.

— Claire...

— Está bem. — Lenora compartilha um olhar com Riley.

Riley encolhe os ombros.

— Você vai passar algum tempo com elas. Vou colocar


nossas coisas no carro e nos encontraremos na praça de
alimentação? Em uma hora?

Culpa.

É tudo o que sinto.


Começo a dizer não de novo, mas Hanna segura minha
mão.

— Venha ver essa camisa que Claire vai me comprar! —


Ela diz, pulando de um pé para o outro. Com o meu aceno, ela
me arrasta pelo corredor.

Acabamos em uma loja de roupas infantis, seguindo


Hanna. Ela puxa as roupas das prateleiras para experimentá-
las. Eu olho para Claire, que agora sorri abertamente.

— Recebemos uma mesada. — Ela me diz. — E estamos


economizando para uma maratona de compras.

E minha mãe adotiva comprou um vestido de quinhentos


dólares sem pestanejar.

Agora sou eu que estou tentando não recuar.

Claire segue Hanna em direção ao provador, fazendo-a


sair após cada camisa. Elas acabam escolhendo três, todas da
prateleira de liquidação, e um par de jeans.

Tento não deixar isso me incomodar.

Dinheiro, amigos, amor.

É tudo sorte do sorteio para nós.

— Sorvete? — Hanna pergunta.

Claire franze a testa.

— Podemos dividir um cone.


Lenora tinha me dado uma nota de vinte dólares antes.
Eu sinto isso no meu bolso e sorrio.

— Por minha conta.

Hanna grita. É agudo e intenso. Mesmo depois que ela


para, bate na minha cabeça.

Mas Claire apenas ri, esfregando a cabeça de Hanna.

— Ela começou a gritar animadamente na escola. Todos


os amigos dela fazem isso.

— Certo.

Meus próprios gritos ecoam em meus ouvidos.

Eu balancei minha cabeça.

Nós vamos em direção à praça de alimentação e Claire


agarra meu braço.

Ela morde o lábio.

— Lembra como você costumava falar sobre Caleb o


tempo todo?

Eu coro. Eu não falava sobre ele todo o tempo. Mas se


estivéssemos falando sobre nosso passado, o que
costumávamos fazer – trocando histórias de guerra, como era
– então... sim, eu o mencionava.

Ela me lança um olhar compreensivo e, em seguida, volta


a me observar com uma expressão estranha. Leva um minuto
para colocar a emoção em seu rosto, porque ela raramente
mostra preocupação ou aflição. Mas agora ambos estão
piscando em suas feições.

Observamos Hanna pular à nossa frente, depois circular


e voltar.

— Eu não percebi...

Eu olho para ela.

— O que?

— Eu o reconheci.

Suas palavras não estão computando.

— Hã? De onde?

— Eu... eu não sei. Vou continuar tentando lembrar, mas


é estranho. Eu vi uma foto sua com ele no Instagram, e ele me
parece tão familiar.

— Tem uma foto no Instagram? Nossa?

Ela revira os olhos.

— Sim. Algumas garotas da Lion's Head são obcecadas


pela equipe de lacrosse Emery-Rose. Elas têm uma página de
fãs para eles. Enfim, elas postaram novamente...

Minha boca se abre. Primeiro, que ele postaria uma foto


nossa. Segundo, que ele tem uma página de fãs. O que?

— Isso é estranho.
Ela encolhe os ombros.

— Ele tem alguns fãs muito fanáticos, se você me


perguntar. Basta pesquisar a hashtag dele.

Hanna bate em mim novamente. Não mencionei meu


estômago, então talvez seja minha culpa que de repente não
consigo respirar. Mas então Riley está na minha frente,
gentilmente afastando Hanna.

Eu inalo, mas estou trêmula.

Lenora demorou a subir, olhando entre nós com


preocupação.

— Você está bem?

— Sim. — Eu me endireito.

— Precisamos ir. — Claire pega a mão de Hanna,


puxando-a para trás alguns passos. Nenhum abraço de
despedida para nós, então. — Falo com você mais tarde.

Elas seguem direto para a saída mais próxima. Elas estão


empurrando a porta, e me ocorre que não consegui perguntar
mais nada a ela.

Qual hashtag? Fãs fanáticos? Onde você viu Caleb antes?

Nós entramos no carro de Lenora. Eu deixei Riley sentar


no banco da frente e olho pela janela todo o caminho para casa.
Começa a chover na metade do caminho, e me lembro de
verificar o Instagram. Eu puxo seu perfil, mordendo meu lábio
até que carregue.

Ele postou uma foto nossa que outra pessoa tirou


algumas semanas atrás. Seu braço está em volta do meu
ombro em um jogo de futebol, e nós dois... parecemos felizes.
Essa é provavelmente a parte mais chocante. Estou sorrindo,
inclinando-me para ele e seus olhos estão em mim.

Seus olhos estão sempre em mim.

Eu fico olhando para ele como se fosse me dar as


respostas de que preciso.

Onde Claire te viu antes, Caleb?


Sexta-feira.

Dia das Bruxas.

O baile de máscaras começa às sete horas, o que


significa...

Faltam seis horas.

Apenas quatro antes de as crianças começarem a fazer


doces ou travessuras, mas me recuso a pensar mais nisso.
Estarei lá em cima me arrumando com Riley, suprimindo
estremecimentos toda vez que a campainha tocar.

Lenora nos pega na escola depois do almoço. A maioria


das meninas nas classes júnior e sênior saem mais cedo, por
isso não é assim tão incomum. Ainda assim, é divertido seguir
Lenora até a ala do departamento de artes. Ela tem um sorriso
bobo e admite que gostaria de poder visitar mais Robert em
seu 'habitat natural'.

Todo o rosto dele se ilumina quando ela bate na porta.

Uma olhada rápida em sua sala, um beijo e então


partimos.
— Eu marquei uma hora no cabeleireiro para você. —
Lenora me disse no carro. — É ao mesmo tempo em que a de
Riley.

Meus lábios se abrem.

— O que? Você não precisava...

— Eu quero que esta noite seja ótima. — Ela dá um


tapinha na minha coxa. — Então, deixe-me mimá-la, droga.

Riley e eu rimos.

É um redemoinho a partir daí. Eu rapidamente vasculho


as fotos para o cabeleireiro e aponto para algo um pouco mais
extravagante do que eu mesma seria capaz de fazer. Quando
estiver em Roma, certo?

O estilista é um mestre, fazendo uma coroa trançada


entrelaçada com cordas de ouro e pérolas. Cachos enrolados
emolduram meu rosto.

Eu sou a mesma, mas diferente.

Uma vez que estamos de volta em casa, Riley e eu


colocamos nossa maquiagem no banheiro. Nossos vestidos
estão pendurados na porta. Eu limpo a maquiagem do dia e
penso em um plano. Está definido que isso é real. Está
acontecendo.

A campainha toca e, felizmente, ainda estou removendo a


maquiagem, porque quase salto para fora da minha pele.
Riley me lança um olhar curioso e atravessa o corredor
até o meu quarto. Ela retorna e diz:

— Os doces ou travessuras estão começando a aparecer.

Eu estremeço.

— Você não gosta? Dia das Bruxas?

— Apenas algumas experiências ruins. — Eu digo. — Eu


realmente não me lembro de todas elas.

Depois de um tempo, apenas a associação com o medo é


o suficiente para me dar vontade de me esconder.

Eu levanto minha mão enquanto ela abre a boca.

— Sem dó, por favor.

— Entendi. Então, música? — Ela pega o telefone e abre


o aplicativo de música. — Um pop divertido, chegando!

Justin Bieber começa a tocar e eu rio.

— Como você sabia que eu tinha uma queda por ele


quando tinha doze anos?

Ela pisca.

— Não tinha toda garota?

Nós fazemos nossa maquiagem em silêncio,


ocasionalmente cantando letras. Robert ou Lenora devem estar
sentados na varanda, pois a campainha parou de tocar. Na
verdade, a casa fica quase quieta demais por um tempo.
Riley e eu demoramos para nos maquiar. Decido levar as
palavras de Caleb a sério, e não coloco o delineador como estou
inclinada a fazer. Em vez disso, pego minha paleta de sombras
e crio um olho esfumado azul-acinzentado. Combina bem com
a cor dos meus olhos, que pode ser descrita como chocolate
quente em um dia bom e merda em um dia ruim.

Cubro minha pele com uma leve camada de base,


contorno o inferno fora de minhas bochechas e adiciono brilho
às minhas bochechas e pálpebras.

Riley termina quase ao mesmo tempo em que eu. Ela


chega perto do meu rosto e limpa levemente logo abaixo do
meu olho esquerdo.

— Perfeito. Quer ver minha máscara? — Ela dá os toques


finais no batom, que é tão vermelho escuro que é quase roxo.

— Claro! — Estou chocada que ela não me mostrou antes.

Entramos no meu quarto e ela vasculha sua bolsa,


finalmente tirando uma caixa. Ela havia comprado o vestido
preto para si mesma. Ela levanta a máscara até o rosto e eu
sorrio. É perfeita.

É uma delicada renda preta, estampada como flores. Um


lado é maior, varrendo para cima e para trás. O outro lado
inclina-se para baixo, terminando em delicados cachos de
renda.

Eu amo isso.
Eu digo isso a ela, e ela começa a rir.

— Obrigada. Acho que Eli ganhou a meia-máscara branca


do Fantasma da Ópera. — Ela faz beicinho por trás da
máscara. — Faremos um ótimo par.

Eu a abraço. É impulsivo. Desde quando sou do tipo que


abraça?

— Eu sei que vocês farão. — Eu digo.

Lenora bate na porta, abrindo-a.

— Ah, vocês estão tão bonitas! Riley, essa máscara é


linda. Temos cerca de quinze minutos antes que os meninos
apareçam.

Riley estremece.

— Quinze minutos? Atire. Len, nós nem conseguimos


comer nada! — Ela sai correndo pela porta, descendo as
escadas.

Eu rio, encolhendo os ombros. Odeio admitir, mas assim


que ela menciona comida, meu estômago ronca. A semana tem
sido uma saga contínua contra a comida. Ou a favor dela,
dependendo do dia.

A amiga médica de Lenora voltou com sua máquina de


ultrassom depois que eu vomitei uma manhã, mas ela não
conseguiu encontrar nenhuma hemorragia interna. Todo o
resto parecia bem.
Riley volta com um prato de biscoitos e queijo.

Lenora pisca.

— Eu comprei isso ontem. Apenas no caso de….

— Você é a melhor. — Eu sorrio.

Este prato desaparecerá em questão de minutos.

Ela ri e bate os nós dos dedos na porta.

— Você sabe o que? Deixe os caras esperando.


Antecipação é metade de qualquer romance.

Riley e eu trocamos um olhar. Ela é a primeira a ceder,


cobrindo a boca enquanto o riso escapa.

— Tenho a sensação de que eles viriam e nos arrastariam


para o baile... — Ela inclina a cabeça para trás, rindo ainda
mais. — Imagine aparecer meio vestida!

— Sem sapatos. — Eu bufo.

Ficamos em silêncio, sentadas na minha cama e enfiando


os biscoitos e o queijo na boca. Não comemos desde o almoço.
De quem foi essa ideia?

— Vamos nos vestir. — Riley fecha e tranca minha porta,


em seguida, desembrulha seu vestido do plástico. — Nós
vamos dançar até morrer.

— E onde Caleb disse que vamos depois?

Ela revira os olhos.


— A escola oferece uma festa pós-festa. Eles nos trancam
em um prédio com jogos e outras coisas. É muito... bem, chato.
Sem álcool nem nada.

— Quando sairemos?

— Hipoteticamente, sete da manhã.

Meus lábios se abrem.

— Eles nos manteriam lá até as sete? Um total, o quê,


oito horas?

Ela ri.

— Sim. É ridículo. Portanto, por que não vamos...

Ela se afasta de mim e se despe, deslizando rapidamente


o vestido.

— Fecha pra mim?

Eu chego mais perto. Ela tem uma tatuagem na


omoplata. É o contorno de um pássaro.

Eu bato nele, sem me preocupar em perguntar, porque


ela imediatamente suspira.

— Longa história.

— Ok. — Fecho o zíper do vestido e prendo o pequeno


fecho no topo.

Ela alisa o tecido e gira.


Eu adoro isso tanto quanto quando ela experimentou na
loja.

— Sua vez.

O que eu não pensei – que definitivamente deveria ter


pensado – é que este vestido não tem costas. Sem costas
significa sem sutiã. Meus seios são muito pequenos, então isso
não é uma preocupação. O que é uma preocupação é o fato de
que Riley trouxe pequenos círculos pegajosos para meus
mamilos.

É constrangedor, mas acho que prefiro mostrar a todos


como sou fria...

Eu balancei minha cabeça.

— Vou precisar colocar isso em particular.

Ela ri e me joga o pacote.

— Divirta-se.

Levo meu vestido e os adesivos para o banheiro, olhando


para mim mesma por um minuto. Eu não coloquei meu batom
ainda. Se eu soubesse como era minha máscara, isso poderia
me ajudar a decidir. Ainda assim, acho que Lenora pode estar
no caminho certo. A expectativa de descobrir é quase
insuportável.

Uma vez que tudo está posicionado, eu deslizo meu


vestido sobre meus quadris. Tem um decote mais alto, como
uma gola larga, e as alças sobre os ombros são largas. A coisa
toda afunda nas costas, cortando apenas alguns centímetros
acima do meu cóccix.

É perigoso, mas eu secretamente amo isso. E o bordado.


Eu corro meus dedos sobre os redemoinhos intrincados ao
longo da minha cintura. Eles se enrolam em direção aos meus
seios e descem mais abaixo, na saia. O vestido é realmente
perfeito.

Cruzo o corredor de volta ao meu quarto, revelando


alguns batons diferentes.

— Já que você aparentemente sabe como é a minha


máscara... de que cor?

— Você está linda. — Ela puxa o vermelho fosco e o ergue.


— Este.

Eu levanto minha sobrancelha.

— Sério. — Eu estava esperando um rosa claro ou um


nude.

— Faça.

— Meninas... — chama Lenora. — Caleb e Eli estão aqui!

Isso foi rápido.

O tempo está ganhando velocidade, lançando-nos em


direção a... Ansiedade social.

— Conseguimos. — Diz Riley, agarrando minhas mãos. —


Ponha esse batom e vamos deslumbrá-los.
Eu sorrio. Fiz a Riley jurar manter segredo sobre o meu
vestido, apenas no caso de Caleb decidir interrogá-la enquanto
eu não estivesse por perto. Não estou muito preocupada em
combiná-lo. Algo me diz que ele vai cuidar disso.

Depois que meu batom está no lugar, Riley e eu calçamos


os sapatos. Ela pega sua máscara. E... lá vamos nós.

— De repente estou nervosa. — Eu admito.

Ela concorda.

— Quer que eu vá primeiro?

— Por favor.

No topo da escada, encosto-me na parede e respiro fundo


algumas vezes. Riley desce, e a conversa abaixo chega ao fim.

— Uau. — Eli murmura. Sua voz tem um jeito de ser


carregada. — Você... isso é lindo.

Eu a imagino levantando a máscara, fazendo beicinho


como ela fez no meu quarto.

— Onde está Margo? — Caleb pergunta.

— Oh, ela está vindo. — Riley responde.

Ele grunhe.

— Ok, Margo. — Eu sussurro. Eu sacudo meus braços e


me lembro de continuar respirando.
Os sapatos – dourados – não são altos o suficiente para
que eu tenha problemas. Mas ainda me sinto sem equilíbrio
enquanto agarro o corrimão e desço as escadas.

Eu chego ao patamar, viro a esquina e meus olhos se


fixam em Caleb.

Eu chego mais perto e ele estende a mão para mim. Há


fogo em seus olhos e eu fico arrepiada. Não há mais ninguém
na sala – apenas ele e eu e a repentina tensão entre nós.

Eu deslizo minha mão na dele.

Ele sorri para mim e aperta uma vez. Seu terno é escuro,
azul escuro. E a gravata dele? Fiada em dourado neutro e azul
royal. É sutil o suficiente para escapar da atenção à primeira
vista. Mas tenho a sensação de que nós dois juntos vamos
trazer a cor para fora.

Isso enviará uma mensagem de que somos um par, ele e


eu.

Alguém suspira e seu feitiço é quebrado.

Pisco e percebo que ele e eu nos aproximamos cada vez


mais. Meu peito quase roça o dele. Dou um passo para trás,
mas sua mão aperta a minha, me impedindo de recuar muito.

Muito justo.

Lenora e Robert estão perto da cozinha, os braços em


volta um do outro. E Riley e Eli estão olhando para nós como
se fôssemos loucos.
— Você está deslumbrante. — Caleb diz em meu ouvido.

Eu coro.

— E mais tarde... — ele continua, sua voz baixando — Eu


vou te foder até perder o sentido em seu vestido.

Eu balanço minha cabeça. Ele é tão inapropriado. No


entanto, todo o meu corpo dói com a forma como meus
músculos se contraem.

— Gostaria de ver sua máscara agora? — Ele sorri.

Eu me endireito. A antecipação me inunda.

— Sim.

Ele apresenta uma caixa familiar.

Com cuidado, desfaço a fita de cada lado e levanto a


tampa.

Droga.

A máscara é dourada brilhante, com espaço negativo


cortado em um padrão semelhante às contas do meu vestido.
É incrustada com pérolas, destacando o espaço dos olhos.
Existem minúsculas correntes douradas ao longo da parte
inferior da máscara, feitas para escorrer pelo meu rosto.

É deslumbrante – a mesma palavra que Caleb usou para


me descrever. Uma palavra que é muito mais adequada para
este acessório do que eu.
— E a sua? — Eu pergunto.

Ele abre sua própria caixa e me mostra uma máscara


dourada combinando. Mas é masculina: os recortes são
menores, mais parecidos com um padrão de favo de mel, com
um único cristal entre as sobrancelhas. Cobre toda a metade
superior do rosto.

— Fotos. — Diz Lenora, dando um passo à frente. —


Faremos algumas com e sem as máscaras.

Não tenho tempo de reagir à sua máscara – a ele – a não


ser um sorriso. Lenora nos conduz até a lareira, e nós quatro
fazemos uma pose. E depois outra. Ela tira algumas apenas de
Riley e Eli, que combina com ela em seu traje todo preto.

— Coloquem as máscaras. — Robert sugere.

Caleb gesticula para que eu me vire e amarra as fitas da


máscara atrás da minha cabeça. Ele segura a sua e, em
seguida, seu dedo sobe pela minha espinha. É rápido,
provavelmente despercebido por mais ninguém.

Eu lanço um olhar para ele. É estranho apenas ver seus


olhos, a peculiaridade de seus lábios.

Posamos para fotos e estou ciente da presença dele nas


minhas costas.

— Nós devemos ir. — Caleb finalmente diz.

Lenora exala, abaixando sua câmera.


— Sinto muito, acho que me empolguei.

Robert envolve os braços em volta dos ombros dela.

— É só que nossa filha teria adorado isso. — Lágrimas


enchem os olhos de Lenora.

Meu coração salta. Sinto vontade de me aproximar e


abraçá-la, mas não ouso me mover.

Ela acena na frente de seu rosto.

— Eu sinto muito. — Ela sai correndo.

Robert esfrega as mãos.

— Me desculpe por isso. Ela está feliz por você, Margo. É


um pouco opressor.

Eu concordo.

Caleb franze a testa.

— Nós vamos para o baile.

Robert sorri.

— Tenham uma ótima noite. Envie-me uma mensagem


quando chegar à festa. E então nos veremos em casa pela
manhã.

— Nós iremos!

No nosso caminho para fora, Riley enlaça seu braço no


meu.
— Você acha que ele vai verificar o registro? Para quem
se inscreveu?

Eu faço uma pausa.

— Oh Deus.

— Já resolvi. — Diz Caleb. — Eu tenho alguém que


adicionará nossos nomes à lista.

Nós entramos na caminhonete de Eli. Riley começa a


entrar no banco de trás comigo, mas Caleb a impede. Ele
desliza ao meu lado, sua mão na minha coxa. Temos um banco
inteiro, mas estamos pressionados juntos. Nossas pernas se
tocam, quadril com joelho, e eu me inclino para ele.

— Eu tenho uma coisa para você. — Ele diz.

Eu levanto minha cabeça. Nossas máscaras estão fora, no


nosso colo. Meu telefone e minha identidade estão em uma
bolsinha que estou totalmente planejando deixar no carro,
porque não corresponde a nada. Estar sem máscara significa
que ele vê meus olhos se arregalarem.

— Nada de ruim. — Ele promete.

Eu reviro meus olhos.

— Espero que não.

— Apenas feche seus olhos.

Eu o observo por um momento, mas ele não se move.


Lentamente, fecho meus olhos. Ele se mexe, então pega minha
mão e a vira de forma que minha palma fique para cima. Ele
coloca algo duro e plano sobre ela, apoiando minha mão com
a dele por baixo.

— Abra.

Sim, olhando para o tipo de caixa em que você colocaria


um colar. Pelo menos não é um anel.

— Já está comprando jóias para mim? — Eu gracejo.

— Abra.

Entramos no estacionamento do hotel. O baile é em um


de seus salões, aparentemente – e aposto que nosso quarto fica
no mesmo prédio. Ele não disse muito, no entanto.

— Cara. — Eli diz. — Pare de olhar para sua garota. Nós


estamos aqui.

Caleb não tira seu olhar de mim.

— Nos deixe. Estaremos lá em um minuto.

Riley e Eli saem. Não sei por que estou nervosa, mas
minha frequência cardíaca disparou.

Eu o abro e parece que Ian está me chutando no estômago


de novo.

Não há oxigênio aqui.

Sobre uma cama de espuma há uma pulseira. O fio


trançado à mão foi reforçado com uma gaiola de prata
esterlina. Aproximo-me para ver melhor o trabalho, porque é
familiar. Como um sonho ou uma memória há muito perdida.

A trança é azul com um único fio de ouro. Na luz fraca, é


difícil distinguir, mas o ouro brilha.

— Eu... eu fiz isso. — Eu sussurro. — Uma versão disso,


de qualquer maneira.

— Você fez. — Ele levanta a pulseira. Foi alongada por


uma corrente. Alterado. — Você lembra quando?

— Eu fiz duas. — Eu balancei minha cabeça. Ela é uma


memória. Uma com a qual sonhei recentemente. Ainda assim,
parece estar vindo para mim de muito longe.

Estamos casados até que estas caiam.

Ele me mostra seu pulso. Tem a outra, também fortificada


com metal.

— Você...

— Eu lembro. — Seus olhos estão escuros.

Deus, eu costumava odiá-lo. E agora – tenho quase


certeza de que me apaixonei por ele.

Mais uma vez.

— Você as consertou?

Ele a aperta no meu pulso. Surpreendentemente – ou


talvez não, já que esse parecia ser seu esquema de cores o
tempo todo – combina com tudo. O vestido, as máscaras, meus
sapatos.

— Eu não quero que elas caiam.

Lá se vai meu coração.

— Vamos nos divertir, certo?

Eu balancei minha cabeça.

— E então fugir mais cedo?

Seus olhos dançam.

— Se você for persuasiva o suficiente.

— Eu posso fazer isso.

Ele abre a porta, tirando minha bolsa fina das minhas


mãos e enfiando-a no bolso de sua jaqueta. Então ele estende
as mãos para mim.

Depois de amarrarmos nossas máscaras, ele oferece o


braço novamente.

Eu respiro fundo. Só consigo me concentrar na pulseira.


Isso e o que pode significar.

Caleb me ama também?


Nós estamos dançando. Acho que não paramos de
dançar.

É uma desculpa para tocar em Caleb. E sentir suas mãos


nas minhas costas nuas. Cada pequena carícia de seu polegar
sob a borda do meu vestido, avançando mais perto da minha
bunda, envia faíscas através de mim. É perigoso e sujo, e eu
quero desesperadamente que ele me leve para cima, já.

Esta noite foi um exercício para ignorar Amelie e Ian, que


sempre parecem estar no canto do meu olho. Ela entrou com
uma máscara preta linda com penas e joias, e um vestido
vermelho muito, muito justo. Ian combina com ela: máscara
vermelha, terno preto e vermelho.

Eu me pergunto se alguém a comparou à Rainha de


Copas. Cortem suas cabeças!

Felizmente, Amelie não tem tanto poder.

Savannah trouxe um novo menino para o baile. Sua


máscara obscurece muito seu rosto, mas as pessoas estão
sussurrando.

A música lenta termina e eu me afasto de Caleb. Meus


pés doem.

— Com sede? — Ele pergunta.


Eu aceno, procurando por Riley. Depois de um momento,
eu a encontro e aponto.

— Eu estarei aí.

Ele sorri. Há uma mancha de batom vermelho em seu


lábio e eu começo a esfregar para ele.

Ele me impede.

— Deixe. Eu gosto da sua marca em mim.

Eu sorrio, balançando minha cabeça. Claro que sim.

No meio do caminho para a mesa de Riley, uma garota se


aproxima. Ela agarra meu braço e me puxa por uma porta
lateral, para um corredor.

— Com licença. — Eu estalo.

Ela levanta a máscara.

Claire.

— O que você está fazendo aqui? — Eu suspiro.

Ela revira os olhos.

— Prazer em ver você também, irmã.

— Desculpe. Só não esperava que você invadisse a festa.

— Sim, bem, eu não esperava que você ignorasse meus


telefonemas.

— Eu não ignorei. Não recebi nada de você.


Ela faz uma careta.

— Seriamente. E meu telefone está na jaqueta de Caleb...

— Tenho uma coisa importante para te contar, Margo.

Eu levanto minhas mãos.

— Está bem, está bem.

Deve ser ruim se Claire está disposta a viajar até Rose Hill
para me dizer algo. Ruim ou bom, eu acho. Minha aposta é no
primeiro. E quando penso isso, meu estômago se revira.

— Eu estava preocupada com você. — Disse ela. — E você


sabe quando conhecemos sua mãe adotiva outro dia?

Semana passada, no shopping. Como eu poderia


esquecer?

Meu rosto responde por mim.

Claire suspira.

— Ela era familiar, mas tipo, tipo 'Eu tenho um mau


pressentimento sobre isso'. Você sabe aqueles momentos em
que deseja apenas seguir seu instinto?

— Eu sei. — Eu não gosto de onde isso vai dar.

— Lembra-se de quando morávamos juntas e você


encontrou meu esconderijo?

De recortes de jornais. Sim.


Seus pais morreram em um acidente de carro e, por um
tempo, ela ficou obcecada por outras crianças que perderam
os pais em acidentes. Se houvesse um artigo de jornal sobre
isso, você poderia apostar que Claire o cortou e colou em um
caderno.

— Alguns deles tinham fotos, sabe? Como do luto da


família.

— Tudo bem, e?

— Sua mãe adotiva parecia familiar.

Eu reviro meus olhos.

— Você disse a mesma coisa maldita sobre Caleb!

— Ele ainda é familiar. — Ela murmura. — Mas não é


disso que estamos falando agora. A questão é: descobri sua
mãe adotiva!

Eu olho para ela, finalmente desamarrando minha


máscara. Eu puxo.

— De... seus recortes de jornal?

— Sim! A filha dela morreu em um acidente há cinco


anos. Havia uma foto dela e seu marido no túmulo.

— Isso é horrível, Claire. E, para que conste, eu sabia que


ela havia morrido.

— Não, mas olhe. — Ela puxa um papel do bolso,


colocando-o na minha mão. — Basta ler isso!
— Margo?

Eu me viro, amassando o papel em meu punho. Caleb


caminha em nossa direção, o olhar saltando para frente e para
trás entre Claire e eu.

— Eu não te reconheço. — Ele diz, seus olhos nela. —


Uma amiga de Margo?

Eu olho de volta para Claire, mas ela tem sua máscara


firmemente de volta no lugar. Ela dá alguns passos para trás,
encolhendo os ombros.

— Vejo você mais tarde, Wolfe.

— Você está bem? — Ele pergunta.

— Sim. — Meu vestido tem bolsos pequenos. Eles não são


grandes o suficiente para um telefone, mas definitivamente
para um pedaço de papel. Eu coloco e amarro minha máscara.

Caleb me entrega um copo de ponche e vamos nos juntar


a Riley e Eli.

O aviso de Claire é varrido pela emoção do resto da noite.


Eventualmente, a mão de Caleb nas minhas costas é demais
para eu suportar. A sala está se esvaziando lentamente, e me
encontro inclinada sobre ele cada vez mais.

Fizemos nossa parte. Aparecemos, dançamos, fomos


vistos e admirados. As duas últimas coisas foram exatamente
o que eu imaginei que Caleb queria. Conversamos com Theo e
Liam, que optaram por vir sozinhos.
Em um ponto, Theo roubou Amelie de Ian e a levou ao
redor. Ambos realmente sabiam fazer mais do que balançar, o
que era... impressionante. Eu não o imaginei como o tipo que
se apaixonaria pelo charme dela.

Caleb riu da minha expressão.

— Ele está usando Amelie.

— Para quê?

Ele apenas balança a cabeça.

Agora, eu me inclino contra Caleb e tento telepaticamente


dizer a ele que está tudo bem em ir embora.

— Cansada? — Ele pergunta.

Eu aceno, enfática.

Ele estala e se inclina.

— Pobre coisa. Achei que nossa noite estava apenas


começando...

Suas palavras me desfazem.

Eu pressiono minhas coxas juntas, virando para que


meus lábios rocem sua orelha.

— Cansada de estar rodeada de pessoas. — Esclareço.

Ele sorri.

— Se você insiste.
Ele pega minha mão, entrelaçando nossos dedos, e me
puxa para cima. Eu chego mais perto de sua altura em meus
saltos, mas ele ainda consegue se sentir maior. Infinitamente
mais imponente.

— Estamos fora. — Caleb diz, batendo na mão de Eli. —


Te vejo amanhã.

Dizemos adeus a Theo e Liam também. Este último


encontrou uma garota e a mantém no colo enquanto
passamos.

A música é muito mais fraca no saguão. Ele me entrega


minha bolsa e retira um cartão-chave.

Nossas malas já devem estar no quarto. Esta manhã,


Riley e eu jogamos nossas malas noturnas no porta-malas de
Caleb. Todos nós pensamos que era mais fácil explicar isso do
que Lenora e Robert me fazendo um milhão de perguntas.

O passeio de elevador é rápido, compartilhado com outro


casal, e Caleb e eu continuamos nos olhando. Uma vez que
estamos no corredor, ele pega minha mão. Paramos na frente
de uma porta, que ele destrancou, e ele rapidamente me pega.
Eu jogo meus braços em volta do pescoço, suprimindo um
grito, e ele me carrega até a soleira.

— Fofo. — Eu digo.

Ele apenas sorri.


Ele não me colocou no chão. Ele caminha pelo corredor e
entra no quarto. Mas não é apenas um quarto. É uma suíte
completa. Há uma sala de estar e de jantar completa com uma
mesa de carvalho gigante. Uma porta com fechaduras à direita,
o que suponho significar que pode se conectar a outra suíte, e
o quarto e o banheiro à esquerda.

Há um vaso gigante cheio de flores na mesa.

— Uau.

Ele muda, levantando-me mais alto.

— Vale a pena.

— Quarto?

— Como quiser. — Ele caminha em direção ao quarto e


me coloca de pé.

Tenho um segundo para recuperar o equilíbrio antes que


ele esteja em cima de mim, me empurrando contra a parede.
Eu arqueio para ele quando seus lábios encontram os meus.
Ele me provoca, roçando seus lábios nos meus.

— Lembra-se do que eu disse? — Ele pergunta.

— Sim. — Eu respiro. Ele vai me foder sem sentido.

Suas mãos deslizam pelas minhas pernas, levantando


meu vestido. Lentamente, ele puxa minha calcinha para baixo.
Ele se ajoelha, mantendo a mão no meu quadril enquanto eu
saio delas. Ele agarra um dos meus tornozelos e o coloca por
cima do ombro.

Deus, estou molhada só de pensar no que ele vai fazer


comigo.

— Segure firme. — Ele avisa, então ele se inclina para


frente e coloca seus lábios em mim. Ele chupa meu clitóris com
força.

Eu recuo, tentando fugir.

Isso – isso dói.

Minhas mãos agarram a saia do meu vestido. Eu me


contorço ao sentir seus dentes em mim, mas ele apenas morde
minha coxa.

Eu gemo. A parte de trás da minha cabeça bate na


parede.

Ele se afasta, gemendo, e de repente estou no ar. Eu


seguro seus ombros enquanto ele me carrega para a cama, me
jogando sobre ela e seguindo.

Eu engulo, me movendo para trás.

— Você gosta quando eu te machuco. — Ele levanta meu


vestido novamente. — Você vai gozar com a minha língua
dentro de você.

Minhas omoplatas atingiram a cabeceira da cama.


Ele volta para baixo em mim, sua língua deslizando pelas
minhas dobras. Minhas costas saem da cama, o prazer se
espalhando por mim. A mordida na minha coxa pulsa. Ele
enfia sua língua em mim.

— Você é mau. — Eu choramingo.

Ele troca sua língua por dedos, e sua boca volta ao meu
clitóris, mordendo e sugando.

Não demora muito para a sensação crescer e construir e


construir.

Ele empurra em mim com sua língua de novo, me fodendo


com sua boca assim como ele disse que faria.

Eu me estilhaço, gemendo seu nome. É insuportável.

Há um brilho em seus olhos.

Ele não terminou.

Eu desabo para trás quando dois dedos deslizam em


mim, atingindo meu ponto G com precisão mortal. Não consigo
controlar meus quadris, que começam a balançar dentro dele.
Meus olhos se fecham e eu perco a noção de onde ele está.

Esse é o meu erro.

Ele empurra outro dedo, espalhando-me ainda mais, e


lambe meu clitóris. É lento pra caralho, cada golpe me faz
tremer.
— Caleb. — Eu gemo, tentando afastar sua cabeça. É
muito. Minhas pernas formigam.

— Dê para mim. — Ele rosna.

Seu dedo, molhado por estar dentro de mim, desliza para


trás, provocando meu traseiro. Ele empurra para dentro ao
mesmo tempo em que desliza sua língua para dentro de mim.

A sensação é avassaladora. Outro orgasmo cai sobre mim


e minhas pernas tremem. Eu continuo gozando.

— Oh meu Deus. — Eu sussurro, virando minha cabeça


para o lado. Ele apenas enfiou o dedo na minha...

Ele sorri.

— Você pode me chamar assim, se quiser.

— Bunda. — Estou ofegante. Tenho quase certeza de que


não consigo me mover.

— Não valeu a pena esperar?

Quem diria que duas semanas era muito tempo para ficar
sem sexo? E não apenas sexo – qualquer orgasmo. Meu
estômago ainda está machucado, mas não dói muito mais. A
ordem limitada de atividades fez maravilhas.

— Sim. — Eu gerencio.

Ele se levanta e me puxa para cima também.

— Fique nua.
Eu engulo em seco.

Mais?

Eu descalço meus sapatos, mais do que feliz em me livrar


deles, e meu vestido segue. Ele se acumula no chão ao meu
redor. Jogo nas costas da cadeira.

Caleb sai do banheiro.

Eu entro e faço xixi, então penso em soltar meu cabelo.


Está um pouco confuso por causa da dança e do que
aconteceu. Ainda assim, não é uma aparência ruim. Eu analiso
o resto do meu corpo. Os hematomas do meu estômago são
amarelos e verdes, com algumas manchas ainda roxas ou
vermelhas. Há uma marca de mordida no meu peito.

A marca da mordida de Ian em meu pulso está coberta


com maquiagem. Os arranhões no meu braço cicatrizaram,
exceto por alguns sulcos mais profundos que cicatrizaram
parcialmente.

Em algumas semanas, estarei completa novamente.

Caleb abre a porta, encontrando meus olhos no espelho.


Ele está nu.

Ele vem e fica atrás de mim, tocando sua própria marca


em meu peito. Quando eu disse a ele, gostei da dor. Sua mão
desliza pelo meu braço, fechando sobre a pulseira no meu
pulso. Ele usa a sua no mesmo braço.
— Estou muito feliz por você ter decidido usar sua própria
versão de uma coroa. — Ele beija meu pescoço.

Eu inclino minha cabeça para o lado. Acho que não


pensei sobre essa implicação. Porém, quanto mais penso nisso,
mais... gosto.

Ele joga beijos no meu ombro, levantando meu braço.


Seus lábios pairam sobre a pulseira.

— Você quis dizer isso?

Eu balancei minha cabeça.

— Eu quis dizer o quê?

— Que você queria se casar comigo. Quando tínhamos


nove anos.

— Tínhamos oito anos. — Murmuro. — E sim, eu quis


dizer isso. Eu queria um futuro com você.

Nossos olhos colidem no espelho novamente, e desta


vez...

— Você tem adesivos nos seios. — Diz ele.

Eu empurro, então começo a rir. Eu tinha me esquecido


deles. Eu os tiro e passo por ele. Pego uma garrafa de água da
mini geladeira da sala e vou até a janela. Estamos altos o
suficiente para que não haja chance de alguém espiar a garota
nua.

Último andar.
O reflexo de Caleb aparece atrás de mim novamente. Ele
usa o pé para ampliar minha postura e me inclina para frente.
Eu automaticamente coloco minhas mãos na janela para
manter o equilíbrio.

Ele empurra em mim sem dizer uma palavra.

Eu mordo meu lábio, prendendo meu gemido atrás dos


dentes.

Dois podem jogar esse jogo.

Sempre há um jogo entre nós.

Ele empurra mais rápido, alimentando algo quente entre


nós. Sua mão se estende ao meu redor, e seus dedos
encontram meu clitóris novamente.

Está dolorido. Tudo está dolorido.

Eu mordo meu lábio com mais força. Ele não pode vencer
isso também.

Eu empurro de volta para encontrar seu ritmo. Seu dedo


no meu clitóris, esfregando pequenos círculos rápidos, é
insistente.

Sua outra mão desliza em meu cabelo, mantendo minha


cabeça erguida. Eu nos vejo no reflexo, todo o meu corpo se
movendo a cada batida. E além de nós, uma cidade que não dá
a mínima. Os alunos filtram abaixo de nós.
Ele muda os ângulos, revirando os quadris, e eu não
aguento mais. Solto um gemido.

Sua mão se move do meu cabelo para o meu pescoço. Ele


me puxa para que eu fique quase de pé, então rosna e acelera
o ritmo.

— Então. Porra. Perfeito.

— Eu não posso. — Eu ofego.

— Foda-se. — ele rosna, mordendo meu ombro. — Grite,


Margo.

Eu grito. Eu inclino minha cabeça para trás e grito seu


nome, abandonando todo o autocontrole. Minhas pernas
tremem enquanto o orgasmo rola por mim. Eu aperto meus
olhos fechados.

Ele bate em mim em um ângulo totalmente novo,


grunhindo no meu pescoço. Ele salta para frente, enterrando-
se completamente dentro de mim, e goza com um chiado de
respiração.

Ficamos assim por um longo momento. Olhos fechados.

Estou tão cansada que mal consigo me mover.

Ele puxa e tira o preservativo.

Lentamente, caio de joelhos.

Caleb retorna e vem até mim, me levantando facilmente.


— Uma soneca, então talvez possamos tentar de novo. —
Diz ele.

— Ótimo. — Eu murmuro. — Eu mal consigo manter


meus olhos abertos.

Ele nos coloca na cama e apaga a luz. Ainda estamos nus


– um fato do qual ele se aproveita com sua mão errante. Eu
pressiono mais perto dele, levantando minha cabeça.

— Beije-me. — Eu digo.

Ele coloca um beijo suave em meus lábios. É exatamente


o que preciso.

Eu expiro, envolvendo meus braços em torno dele e, em


segundos, estou fora.
O seu alarme dispara às seis e meia.

Caleb rola sobre mim, apertando o botão 'desligar' e pisca


para mim.

Ele é adorável quando está com sono.

Não me atrevo a dizer isso a ele, mas tiro um instantâneo


mental e o arquivo.

E então ele muda, e sua ereção roça minha perna. Eu fico


olhando para ele, espalhando minhas pernas. É muito cedo
para um bate-papo, mas não é muito cedo para isso.

Ele olha para a mesa de cabeceira. Eu não sei por que ele
faz isso – nós dois já sabemos que não há mais preservativos.

Acordamos depois de um cochilo e fizemos sexo. Então,


novamente, um pouco mais tarde. Dessa vez, ele ficou dentro
de mim até ficar duro e a coisa toda se repetir. Não dormimos
por muito tempo. Eu caí sobre ele, mas isso... isso se
transformou em ele fodendo minha boca.

Eu não pensei que quase engasgar com seu pau seria


sexy, mas era.

— Apenas saia. — Eu sussurro.


Ele hesita uma fração de segundo, seu olhar disparando
ao redor do meu rosto, então mergulha em mim.

Nós dois gememos.

É rápido e sujo. Ele sacode meu clitóris até que eu


desmorone, então bate em mim com fervor. Ele fica imóvel por
uma fração de segundo, então se afasta e goza no meu
estômago.

Eu me abaixo e o acaricio, arrancando um gemido dele.


Seu esperma é um líquido quente na minha pele e está
manchado entre nós quando ele cai em cima de mim.

— Você parece fodidamente incrível. — Ele sussurra. Ele


me beija pra caramba, sua língua invadindo minha boca.

Nós nos beijamos até que uma batida na porta nos


interrompe.

Ele faz uma carranca naquela direção. Para mim, ele diz:

— Se vista.

Ele puxa um short e fecha a porta atrás de si.

Eu paro por um segundo, então corro para minhas


roupas. Roupa íntima, leggings, sutiã desportivo, t-shirt. Tudo
começa em questão de segundos e me certifico de que meu
cabelo não esteja bagunçado antes de sair. Os fios de pérolas
foram arrancados em algum momento durante nossa segunda
foda. Eu torço meu cabelo em um coque alto, franzindo a testa
para o meu reflexo.
Depois de escovar os dentes, entro na sala de estar.

Riley está sentada no sofá, roendo a unha.

— Oh meu Deus, Margo! Primeiro, quarto incrível. Em


segundo lugar, esta é uma emergência...

— Vá mais devagar. — Murmuro.

— Onde está o seu telefone?

Estava na bolsinha. Onde a dita bolsinha foi parar, eu


não sei.

— Eu teria que olhar ao redor.

Ela bufa, então se vira para Caleb.

— Eu preciso levá-la.

Ele levanta as sobrancelhas.

— Você pode ficar com o quarto, Ri. Eu tenho uma tarefa


a fazer, de qualquer maneira. — Ele se aproxima e beija o topo
da minha cabeça. — Vou verificar, então não se preocupe com
isso. Eli pode te dar uma carona.

— Ok.

Ele pega sua bolsa e reaparece completamente vestido.


Homens. Preciso de pelo menos meia hora para me recompor.
Ele sai, e Riley me segue até o quarto.

Ela imediatamente começa a rir.


— Jesus.

— O que?

— Cheira como se vocês tivessem feito muito sexo.

Eu reviro meus olhos.

— Que nojo. Mas... é verdade.

Eu recolho minhas coisas, jogando-as na minha bolsa


enquanto Riley assiste. Deixo o vestido para o final, alisando-
o enquanto o dobro sobre o braço. Meus dedos tocam algo que
se enruga, e de repente me lembro do papel que Claire me deu.
Eu não pensei em mencionar isso para Riley.

Pego-o e coloco no bolso da calça, jurando ler mais tarde.

Finalmente, coloco o vestido na minha bolsa e fecho o


zíper.

— Ok, acho que isso é tudo.

— Exceto seu telefone. — Ela ainda está mordendo o


dedo.

— Você tentou me encontrar ontem à noite? Aconteceu


alguma coisa com você e Eli?

— O que? Não. Não, ele está esperando por nós no


saguão.

Eu encolho os ombros.
— Estava na bolsinha com a minha identidade. Talvez na
sala de estar?

Nós vasculhamos o local e finalmente o encontro sob a


mesa de jantar. Nunca saberei como foi parar lá. Estou prestes
a pegar meu telefone, mas Riley coloca a mão em cima da
minha.

— Pare. — Ela deixa escapar.

Eu fico olhando para ela.

— Você está agindo estranha.

Ela muda.

— Lembra-se daquela foto que foi enviada por e-mail?

Ah não.

— Hum... há um vídeo.

Oh não.

Não digo a ela que sei que há um vídeo. Isso abriria uma
lata de vermes totalmente diferente – principalmente porque,
embora ela soubesse que recebi uma mensagem estranha
quando comecei, não contei a ela sobre nenhuma das
mensagens a seguir.

— É ruim. — Riley sussurra. — Vai ficar tudo bem, no


entanto. Eu só... seu telefone pode estar explodindo, e eu não
quero que você surte. Na verdade, você provavelmente deveria
apenas desligá-lo.
Eu balanço minha cabeça.

— Eu não entendo. — É mais para mim, para o


desconhecido, do que Riley.

O que eu fiz para empurrá-los até o limite?

— Quem conseguiu o vídeo?

Ela hesita.

Tenho que me impedir fisicamente de ficar com raiva dela.


Ela está apenas sendo uma boa amiga.

— Todo mundo. — Ela deixa escapar. — Tipo, a escola. E


alguém postou nas redes sociais. E...

Eu vou ficar doente.

Os ruídos daquele vídeo – ruídos que eu fiz – repetem em


minha mente.

Corro para o banheiro, caindo de joelhos na frente do vaso


sanitário. Eu vomito. O ácido queima minha língua, mas meu
estômago não se acalma por alguns longos momentos.

Finalmente, consigo me endireitar. Riley me entrega um


copo d'água, me dando um olhar simpático.

Eu balanço minha cabeça.

— Não faça isso. — Eu digo. — Não tenha pena de mim.

Ela pega minha escova e pasta de dentes da minha bolsa,


colocando-a no balcão.
— Não estou tentando ter pena de você, Margo. Você sabe
que te amo. Eu simplesmente odeio que isso esteja
acontecendo. De novo.

Eu concordo.

— Sim. Eu só...

— Já relatei o vídeo. Eli também...

— Ele viu isso? — Eu largo a pasta de dente e cubro meus


olhos. Eu não quero saber quantas pessoas estão me
assistindo ser fodida por Caleb Asher. Mas se as pessoas de
quem sou próxima estão vendo isso? Eu não posso mostrar
meu rosto. Não posso voltar para Emery-Rose depois disso.

— Ele não fez isso. — Ela diz. — Assim que percebemos o


que era... não, não percebemos.

Soltei um suspiro trêmulo.

Ela envolve seus braços em volta de mim.

— Vamos te levar para casa, certo? Não precisa se


preocupar. Os Jenkins provavelmente vão deixar você tirar
alguns dias de folga, e o conselho escolar pode fazer com que
seja removido...

— Sim. — Eu me encontro concordando com seu plano.


— Boa ideia.

Ela sorri.

— Estou cheia de boas ideias.


Nós saímos e eu levanto meu capuz, apenas no caso de
haver mais alunos no saguão. Não estou pronta para lidar com
os comentários de ninguém.

A chicotada da foto foi ruim. Receio que o vídeo seja ainda


pior.

Eli está com sua caminhonete na frente e eu praticamente


mergulho em seu banco traseiro. Ele me lança um olhar, as
sobrancelhas levantadas.

— Você está bem? — Ele pergunta.

Eu me forço a sorrir, embora eu ache que é mais como


uma careta.

— Sim.

Eu me pergunto se Caleb já sabe. Duvido que ele tenha


tido a chance de verificar seu telefone antes de sair correndo
do quarto do hotel. Ele teria me contado.

Certo?

Vejo o carro de Caleb na garagem dos Jenkins enquanto


subimos a rua.

— Continue. — Digo a Eli. Choque e pavor passam por


mim.

Ele olha para mim.

— O que...
— Continue. Andando. — Eu não consigo respirar. Estou
esperando automaticamente o pior. Eu não deveria, porque é
Caleb. O homem que me lembrou que éramos falsos casados,
que me lembrou que eu o amava quando criança. Quem...

Riley se vira.

— Aquele é...

— Sim. Eli deixe-me na esquina.

Ele geme.

— O que você está planejando?

— Nada.

Ele para e eu pego minha bolsa, pulando antes que eles


possam aconselhar contra isso.

— Mantenha seu telefone perto, Riley. Ligo para você mais


tarde. — Acrescento.

Ela acena com a cabeça e eu bato a porta. Eli vai embora.


Atravesso o quintal do vizinho e entro no quintal dos Jenkins.
Eu deslizo para os fundos, agachada. Há uma porta que leva
para a cozinha, mas aposto que Caleb pode estar lá.

Com certeza, assim que pressiono meu ouvido contra a


porta, posso ouvir o que estão dizendo.

— Agradecemos por você tentar ser sincero, Caleb. — Diz


Robert. — Mas você ainda não nos contou por que está
tentando nos avisar sobre Margo.
— E nos perdoe por pensar assim, mas achamos que você
gostava da companhia de Margo. — Acrescenta Lenora.

Avisá-los sobre mim?

Meu coração bate forte.

— Desculpe-me por não ser direto. — Caleb diz. — É só


que... eu pensei que ela e eu éramos isso. E então, hoje cedo,
ela lançou um vídeo privado tentando destruir minha
credibilidade.

Cubro minha boca com as duas mãos. O desgraçado acha


que eu vazei aquele vídeo? Como a foto, tenho certeza que ele
vai ser elogiado por isso.

— Então, isso é vingança? — Robert pergunta.

— De modo nenhum. Honestamente, eu ia deixar tudo


como está. Isso só prova que ela não é a garota que pensei que
fosse.

Silêncio.

— Sua filha... — Caleb faz uma pausa. — Ela morreu em


um acidente de carro, certo?

— Isso mesmo. — Robert responde. Sua voz está fraca.

— Minha tia gostava de fofocar. — Caleb diz. — Ela disse


que o acidente de carro foi causado por uma overdose de
drogas.
— Nunca escondemos esse fato. — Diz Lenora. — Ela
estava preocupada. É por isso que criamos adolescentes,
porque às vezes eles têm problemas...

— Foi cocaína?

Eu gostaria de poder ver a expressão no rosto de Caleb.


Se ele se arrepende do que está dizendo. Mas aposto que seu
rosto é a imagem da inocência, porque ele é assim: um bom
mentiroso.

— O fato é que... a morte de sua filha é culpa de Margo.

Meu coração para.

— O que? Como? — Lenora exige. — Margo teria doze


anos quando Josie morreu...

— Margo foi a causa do uso de drogas de sua mãe. — Diz


Caleb.

Cada palavra é uma adaga em meu coração.

— E por causa da separação de seus pais, Amberly não


teve escolha a não ser recorrer à venda de drogas. Cocaína,
especificamente. Ela a vendia para qualquer pessoa que tivesse
dinheiro. Estudantes universitários, alunos do ensino médio.
Ela atormentou vidas inocentes porque Margo...

Lenora lamenta.
É um som assustador. Calafrios explodem em meu corpo
e eu realmente, realmente desejo não poder ouvir. Eu adoraria
nada mais do que limpar esse barulho do meu cérebro.

— A mãe de Margo foi responsável pela morte de sua filha.


— Caleb termina. — Achei que você gostaria de saber quem
está dormindo em sua casa todas as noites.

Já ouvi o suficiente.

Eu levanto minha bolsa e rastejo de volta para fora.


Escondida na lateral da varanda, retiro o recorte de jornal.

O título diz: Isabella Jenkins em acidente fatal de carro

No final da noite de sábado, Isabella Jenkins de Rose Hill,


Nova York, foi encontrada em seu veículo capotado. Os
bombeiros e paramédicos a tiraram e levaram para um hospital
local, mas ela estava morta na chegada. Isabella tinha
problemas com o abuso de substâncias, e os médicos confirmam
que essa foi a causa de seu acidente. Seus pais, Lenora e Robert
Jenkins, pedem privacidade durante esse período difícil.

É isso aí.

Um parágrafo e uma foto dos três. Na verdade, é a mesma


foto que está na parede deles, a que me chamou a atenção no
meu primeiro dia em sua casa.

E minha mãe foi quem os colocou lá.

Eles nunca vão me querer de volta agora, porque o que


Caleb disse tem que ser verdade: minha mãe vendia drogas
para uma adolescente, e aquela adolescente morreu. Quais são
as chances de eu estar com sua família?

É um soco direto no meu estômago.

Eu levanto minha bolsa mais alto e corro pelo quintal do


vizinho. Não tenho para onde ir, mas com certeza não quero
que eles me encontrem bisbilhotando seu quintal.

Não depois disso.

Eu chego na esquina e pego meu telefone. É a primeira


vez que o vejo desde antes do baile.

Riley estava certa: está explodindo. Há muitos números


me enviando mensagens de texto grosseiras.

Eu fungo, mas há muito choque para chorar.

Caleb apenas...

Meu coração não está funcionando direito.

Eu caio de joelhos no meio-fio enquanto suas palavras se


repetem.

Dói como uma faca cravada em meu peito. Eu não


consigo parar. Eu não posso lutar com ele.

Vamos jogar, ele me disse. O primeiro a ceder perde.

Eu perdi, Caleb. Meu coração dobrou primeiro. Achei que


poderia ser o beijo, mas isso... foi apenas o começo.

Encontro uma mensagem de Claire no meio da noite.


Claire: Ligue para mim.

E quando eu não respondi, ela mandou outra.

Claire: Eu percebi de onde reconheci Caleb. Ele estava


conversando com nossos pais adotivos antes de se livrarem de
nós.

Eu estremeço. A traição vai mais fundo. Isso não é uma


coisa nova para Caleb... ele já fez isso antes. Ele desenrolou
minha vida, pedaço por pedaço.

Caleb já me deixou sair de sua memória? Ou ele é


responsável por cada transição, cada valentão, cada família
que me passou adiante?

Seus jogos fodidos não começaram quando voltei para


Emery-Rose.

Não, eles começaram no minuto que eu saí.

Recebo uma nova mensagem – esta do Desconhecido.


Quase deixo cair meu telefone. Mesmo eles não poderiam ter
previsto os truques de Caleb. Sua traição. Ele arruinou sozinho
a melhor casa que já conheci.

Desconhecido: Fuja, ovelhinha.

Muito à sua frente, desconhecido.

Fim... Por agora.

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