Você está na página 1de 12

By Verinh@

Conta a lenda que certa vez um


cientista se dispôs a analisar
uma pessoa saudosa, num super
laboratório, com todos os
requintes da tecnologia moderna, a fim
de descobrir o que
realmente existe de científico por dentro
deste profundo
sentimento chamado Saudade. Após
exaustivas pesquisas,
análises sofisticadas do sangue, testes
sensíveis de detecção
das reações cerebrais, medição
acurada dos reflexos e de
todos os componentes que quantificam
e qualificam as
reações humanas, chegou a resultados
científicos bastante
interessantes:
os elementos do sangue das
pessoas com saudade estavam
ligeiramente alterados; os
traçados do
eletroencefalograma
demonstravam algumas pequenas
modificações; os reflexos se
alternavam passando por altos e
baixos, enfim, encontraram-se
alterações físicas, químicas,
metabólicas, estruturais e uma
série de outros elementos que lhe
fizeram preencher uma enorme
ficha de dados e observações
bastante detalhadas.
O nosso competente cientista,
de posse de todos os dados e
informações, terminou a sua
pesquisa com certa frustração:
encontrou uma série de
modificações no organismo do
saudoso, não conseguindo,
entretanto, dosar os
componentes da saudade. Isto
porque o peso, o tamanho e
a dor da saudade só podem ser
avaliados pelo coração de
quem a está sentindo.
Todos nós sentimos o que é a
saudade. É um sentimento
profundo, uma lembrança, um
aroma, uma brisa que passa,
uma pétala murcha, o zumbido
de uma abelha, o latido de um
cão, o ronco de vovô, uma
rodinha do caminhãozinho
quebrado
ganho em um natal qualquer.
A vida é um sonho que se grava
em nossa mente. Os anos
colocam esta gravação no mais
recôndito lugar das células de
nosso corpo.
Com o passar do tempo,
somos um amontoado de
imagens,
medos e ideais. Tudo isto
junto, girando na “roda do
tempo”,
passa de repente em nossa
mente, em qualquer
momento
de nossa vida e inunda todo
nosso ser com uma
sensação indefinida,
um “sentir” presente de uma
emoção vivida, grande ou
pequena, mas uma emoção
marcante.
As lembranças vão tomando
forma e sentidos, como que
um replay quase palpável de
um desfile de coisas, imagens,
formas
diversas, pessoas, paisagens...
Um simples aroma, um som
peculiar, uma neblina, um
friozinho de inverno ou coisa
assim,
às vezes desencadeia toda uma
lembrança. Tudo isto sempre
intimamente ligado a algum fato
ou passagem de nossa
vida que nos marcou de uma ou
outra forma.
Vejo meu pai jogando
bolinha de búrico comigo,
minha
mãe se arrumando
vaidosamente para o
carnaval de interior;
vejo meus parentes, avós
e velhas tias tricotando e
meus tios
tomando chimarrão e
ouvindo rádio com um
pequeno “Dial”
aceso e muitas
“descargas”;
vejo meus irmãos de pés
no chão,
com a forquilha do
estilingue balançando no
bolso de traz da
calça curta; vejo a
empregada com os
cabelos ruivos, limpando
disfarçadamente no
vestido, a chupetinha do
neném que
havia caído no chão; vejo
meu cãozinho Fox
pulando no quintal
atrás de borboletas e
abelhas;
vejo muitas coisas, mas
porém
sinto, entretanto, um grande
aperto no peito. Não sei por
que, mas sinto.
De repente, isso tudo se
dissipa. Sinto-me de volta à
minha
mesa de trabalho. Olho
meus colegas ao meu redor.
Vejo o momento,
vejo a vida. Percebo o
andamento normal do
“agora”.
“Desligo o botão da
lembrança e tiro a saudade
de
sintonia.
Cada canal mostrará as
sensações das lembranças no
amanhã.”
Fazemos parte de um contexto
em que os sons, as coisas e os
fatos de hoje farão as
sensações das lembranças no
amanhã. Apesar de sabermos
que “relembrar é viver” e
sempre procuramos no
presente alguma coisa do
passado, notamos quão
verdadeira é a sabedoria
popular, quando na “estrada
da vida”, resume tudo em uma
daquelas frases escritas em
traseira de caminhão — Vocês
não sabem quanto dói uma
saudade.
Texto: Sady Ricardo dos Santos

Formatação: Vera Lúcia de Siqueira

verinhaescorpios@gmail.com

Receba belos slides clicando:

Você também pode gostar