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O Rei Sem Profissão

autor desconhecido

NARRADORA 1: Era uma vez um rei que havia esquecido o velho conselho dos sábios.

NARRADORA 2: O conselho dizia: “Aquele que nasce no conforto não sabe dar valor
ao que é conquistado com esforço”.

NARRADORA 1: Um dia, o rei viajava com sua filha e toda sua escolta de barco, para
visitar uma de suas terras mais distantes. Algumas horas se passaram calmamente
até que uma tempestade desabou dos céus...

MARUJO 1: Tempestade! Cuidado!

MARUJO 2: O nosso navio está se separando dos outros... Soltar as amarras!

MARUJO 1: Descer as velas!

MARUJO 2 : Esvaziar o convés!

MARUJO 1: Vamos naufragar!

MARUJO 2: Salve-se quem puder!

NARRADORA 2: Foram sete dias de fúria da natureza, até que a tempestade passou.
O rei e sua filha conseguiram se salvar, e acabaram chegando a uma praia
desconhecida...

NARRADORA 1: De repente, dois pescadores apareceram, sem entender muita coisa.


Olharam para o Rei e a Princesa, curiosos.

REI: Simples pescador, graças que apareceu. Sou o Rei das terras de Jiddah, muito
distantes daqui. Íamos visitar uma propriedade minha perto de Jizan, mas sofremos
um naufrágio. Precisamos retornar. Ordeno que me ajudem.

PESCADOR 2: Nós temos um pouco de peixe, se quiserem.

PRINCESA: Meu pai pediu para que nos ajudem a voltar para casa.

PESCADOR 2: Nós temos um pouco de peixe, se quiserem.

PRINCESA: Ahn... Onde nós estamos?

PESCADORA 1: Na praia de nossa família.

PRINCESA: Onde é isso?

PESCADORA 1: Ora, aqui.


REI: Aqui onde? Qual a cidade mais próxima?

PESCADORA 1: Ahhh... É Taif.

PESCADOR 2: Temos um pouco de peixe, se quiserem.

REI: Eles só sabem falar isso?!

PRINCESA (disfarçando, para Pescador): Queremos sim, obrigada.

NARRADORA 2: O rei e sua filha, a princesa, ficaram alguns dias naquela praia com os
pescadores, comendo peixe...

PESCADORA 1: Ahn... Não sei bem como dizer... Nós não temos...

PESCADOR 2: O senhor deve entender. Somos muito pobres. Não temos mais
condições de ajudar...

PESCADORA 1: Talvez, se caminharem para o interior, quem sabe não poderão


encontrar como ganhar a vida?

REI: Claro, claro. Agradeço a vocês pela hospedagem e ajuda. Muito obrigado.
Vamos, filha.

NARRADORA 1: Depois de muito caminhar, o rei e a princesa finalmente chegaram à


cidade. E logo tentaram pedir ajuda.

REI (para um Comerciante): Boa tarde. Eu sou o Rei das terras de Jiddah e gostaria...

COMERCIANTE: Ah, sim... (rindo) E eu sou Maomé! Sai daqui, mendigo!

PRINCESA: Estamos precisando de lugar para dormir e...

COMERCIANTE: Mas já não estão bastante acostumados a dormir no chão, não? (ri)
Saiam da minha loja!

REI: Queremos ao menos alguma coisa para matar a fome... Por favor!

COMERCIANTE: Não alimento vagabundos. Arrume um emprego e consiga sua


própria comida, oras!

NARRADORA 2: Mas às vezes eles conseguiam alguma ajuda.

REI: Por favor... Sou um Rei de terras distantes...

PADEIRO: Mais um maluco pelas ruas... Leve esse pão e suma, vamos!

REI: Senhor, não lhe peço só comida, mas também um trabalho!

PADEIRO: O que sabe fazer?

2
REI: Eu sei... Sei... Governar.

PADEIRO: Eu tenho cara de que preciso de alguém que saiba governar? Preciso de
alguém que saiba fazer doces. Você sabe?

REI: Não...

PADEIRO: Então não tem nada para você aqui. Obrigado!

REI (triste, falando para a Princesa): Filha... Estamos há três anos vivendo com
dificuldades, como o povo. Antes, éramos nobres e nunca percebemos isso. Hoje
tenho consciência, minha filha, mas quero que você também tenha!

PRINCESA: Sim, pai. E ser rei sem país é uma condição inútil.

NARRADORA 2: O rei e a princesa foram caminhando em direção às montanhas. Na


estrada, encontraram uma pastora e pediram ajuda mais uma vez.

PASTORA: O que desejam?

REI: Gostaria de saber se está precisando de ajudante. Preciso de um emprego.

PASTORA: Precisam de dinheiro, então?

REI: Sim, estamos vivendo de favor há três anos. Procuro por emprego esse tempo
todo. Mas não sei fazer nada. Não aprendi uma profissão.

PASTORA: Hum... Preciso de alguém que cuide de minhas ovelhas. Sabe cuidar de
ovelhas?

REI: Não...

PASTORA: Pelo menos você é honesto, não é mesmo? Por isso darei a você uma
oportunidade de ganhar a vida.

REI: Aaah... Muito obrigado! Muitíssimo obrigado! Eu prometo me esforçar e


aprender a cuidar de suas ovelhas!

NARRADORA 1: E foi assim que o rei conseguiu, aos poucos, recuperar sua dignidade
trabalhando. Ainda sonhava com seu antigo reino, mas ganhava o suficiente para
viver de forma honesta e decente. Sua filha cresceu e se transformou numa moça
bela como uma fada...

PRINCESA: Pai... Eu estive pensando sobre esses anos todos... Nossa vida no palácio
era muito chata. Não acontecia nada. Aquela nossa viagem foi importante.
Perdemos muito, mas aprendemos muito também.

REI: Sim, filha, é verdade.

PRINCESA: E ainda assim, dependemos da boa ação dos outros. Se não fosse a
pastora, não teríamos esse trabalho e essa cabana.

3
REI: É, sou muito grato a ela. Ensinou-me o que é realmente merecer algo por
esforço próprio.

PRINCESA: Pai... Hoje eu estava passando pelo bosque quando voltava para casa. Vi
um homem muito rico caçando ali por perto.

REI: Mas quem era esse homem?

PRINCESA: Não sei. Usava roupas caras. Um turbante na cabeça. Bonito. Mas era tão
triste. Não sei dizer por quê. Ele me olhou por um longo tempo. Fiquei com medo.

NARRADORA 2: Nesse momento, aproximou-se do Rei uma pessoa de uniforme: era


um mensageiro.

MENSAGEIRO: Boa tarde. Sou o mensageiro do Sultão, dono dessas terras. Meu amo
e senhor pede a mão de sua filha em casamento.

PRINCESA: Minha mão? Casamento?

MENSAGEIRO: Sim, senhorita. Meu amo enamorou-se da senhorita quando a viu no


bosque. Ordenou-me que viesse pedir autorização para levá-la para seu palácio.

REI: Bem, diga ao seu Sultão que ela não sairá daqui antes que ele me responda
algumas perguntas.

MENSAGEIRO: Como? Pastor atrevido! Como ousa?

REI: Esta é minha condição.

PRINCESA: Pai...

MENSAGEIRO: É um desaforo! Que quer saber?

REI: O que ele sabe fazer, qual é sua profissão e como ele pode ganhar a vida.

MENSAGEIRO: Como?! Vocês do povo são todos ignorantes. Não entendem que um
rei, um sultão, não precisa ter profissão ou ocupação? Ele sabe governar reinos! Não
percebe, seu miserável, a honra que conquistou?

REI: Tudo que sei é que, a menos que o seu amo, sendo Sultão ou não, possa ganhar
a própria vida, não será marido para minha filha.

MENSAGEIRO: Mas é um absurdo...

NARRADORA 1: O mensageiro voltou ao palácio e contou para o Sultão tudo o que


tinha se passado.

MENSAGEIRO: ... e o pai da moça me fez essas perguntas descabidas, exigindo uma
resposta... Mas não devemos nos preocupar com pessoas como essa gente, senhor.
Não sabem nada sobre as ocupações dos nobres.

4
SULTÃO: Mas, ora... Que afronta!

MENSAGEIRO: Exatamente! Prendo esse pastor insolente?

SULTÃO: Mande que venha alguém aqui me aconselhar sobre qual profissão devo
aprender.

MENSAGEIRO: Sim, senhor! (pausa) Desculpe, Alteza, mas o que disse?

SULTÃO: Isso mesmo que você ouviu. E não faça nada com o pastor.

MENSAGEIRO: Mas Alteza...

SULTÃO: Você ouviu! Quero aprender alguma profissão. Estou perdidamente


apaixonado por essa moça e por isso devo estar preparado para fazer qualquer coisa
que o pai dela exigir.

NARRADORA 2: E durante quase um ano, o reino foi governado por um regente. O


sultão se tornou um aprendiz. Estava mesmo determinado a aprender alguma
profissão... Até que um dia, nas montanhas, o Rei e a Princesa viram se aproximar o
Sultão e seu Mensageiro, que carregava alguns tapetes.

SULTÃO: Boa tarde. Sou o Sultão deste país e queria me casar com sua filha, se ela
me aceitar. Recebi a mensagem de que o senhor exige que seu futuro genro tenha
uma profissão. Por isso, aprendi tecelagem. Estes são alguns exemplos do meu
trabalho.

NARRADORA 1: O Sultão fez sinal para Mensageiro, que mostrou os tapetes. O Rei
analisou um deles.

REI: Quanto tempo levou para fazer este tapete?

SULTÃO: Três semanas.

REI: Quando o vender, quanto tempo poderá viver com o que conseguir ganhar?

SULTÃO: Três meses.

REI: Você pode se casar com minha filha, se ela quiser aceitá-lo.

NARRADORA 1: A princesa aceitou o pedido. Casaram-se em uma grande festa. Mais


tarde, o Rei conseguiu voltar para suas terras, em Jiddah, com a ajuda de seu genro,
o Sultão.

NARRADORA 2: Lá, ficou conhecido como um soberano bom e inteligente, que nunca
cansou de aconselhar a todos para que aprendessem e tivessem uma profissão.

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