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Dissertação Final Ian Lima Santana
Dissertação Final Ian Lima Santana
Vitória da Conquista - BA
2024
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Vitória da Conquista - BA
2024
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BANCA EXAMINADORA
Vitória da Conquista - BA
2024
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DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
Agradeço a minha mãe Sebastiana, meu pai Charles, aos meus irmão Charles Junior
e Kalebe, que sempre me apoiaram a estudar e seguir em frente em busca de mais
conhecimento e realizações acadêmicas. Agradeço a minha esposa Alice, que desde o início
do programa de mestrado, no qual entrou junto comigo, me ajudou nas discussões necessárias
à pesquisa e a passar pelas frustrações, que, após o nascimento do nosso filho Estevam,
desistiu do mestrado para acompanhar melhor o desenvolvimento do nosso filho que teve
complicações no nascimento. Essas pessoas são tudo de melhor que já me aconteceu e eu as
amo muito.
Agradeço ao meu grande amigo Ramon Alves dos Santos, por sempre me ajudar nas
discussões acadêmicas, pelas publicações, pelas brincadeiras e pela sinceridade da nossa
amizade. Agradeço aos colegas da Linha de Pesquisa Currículo, Práticas Educativas e
Diferença pelas brincadeiras e pelas confraternizações em sala, em especial as colegas de
orientação Claudionara e Deleide pelas conversas, pelos desabafos e pelas gargalhadas
acadêmicas. Agradeço aos professores entrevistados que me ajudaram na realização desta
pesquisa. Agradeço a CAPES como agência financiadora da minha bolsa de Mestrado, a
UESB e ao PPGEd, na pessoa da Professora Nilma Margarida de Castro Crusoé, por me
proporcionar a experiência dessa pesquisa e ter me proporcionado um aprendizado que
jamais vou esquecer.
7
RESUMO
SANTANA, Ian Lima. PRÁTICA DE ENSINO DE FÍSICA E O NOVO ENSINO
MÉDIO: EXPERIÊNCIAS DOCENTES EM VITÓRIA DA CONQUISTA - BA. 2024.
114f. Dissertação (Mestrado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação –
PPGEd. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Vitória da Conquista - BA,
2024.
Este trabalho consiste em um estudo sobre a prática de ensino de Física e o Novo Ensino
Médio (Lei 13.415/2017). A introdução fornece uma visão geral e precisa do tema. O
primeiro capítulo explora a prática e o campo de pesquisa em ensino de Física, a estrutura do
Novo Ensino Médio, a importância da Física nesse contexto e os documentos normativos
relacionados à Educação Brasileira. Além disso, discute os desafios enfrentados pelos
professores de Física nesse novo modelo de ensino e destaca a falta de diálogo entre os
documentos normativos e o campo de pesquisa da Física. No segundo capítulo, é apresentada
a abordagem metodológica utilizada no estudo, incluindo a classificação da pesquisa, como o
local da pesquisa sendo Vitória da Conquista-Ba, as considerações éticas, o instrumento e o
processo de produção de dados, bem como informações sobre os selecionados, que são
professores de Física concursados, e a Análise de Conteúdo dos dados coletados. O terceiro
capítulo é dedicado à análise dos dados coletados sobre as experiências docentes dos
professores de Física no Novo Ensino Médio na Bahia. São abordadas a organização dos
dados, a análise e discussão sobre esses dados. O capítulo também explora as experiências
formativas e docentes dos professores, discutindo o papel do Professor de Física e a
complexidade de ser um profissional dessa área. Neste, o estudo trata também sobre o
significado de ser um professor de Física no contexto do Novo Ensino Médio. São exploradas
questões relacionadas à identidade profissional, às experiências e desafios enfrentados, bem
como ao impacto profissional e pessoal envolvido na prática do Ensino de Física dos
professores no Novo Ensino Médio. O estudo destaca também a importância de reconhecer o
professor de Física como um agente transformador e mediador do conhecimento, capaz de
inspirar e motivar os alunos a se interessarem pela Física. Por fim, são projetadas as
considerações finais sobre as experiências docentes dos professores de Física no Novo Ensino
Médio, ressaltando a necessidade contínua de investimento na formação e valorização desses
profissionais, a fim de promover um ensino de Física de qualidade e despertar o interesse dos
alunos por essa disciplina. O estudo contribui para uma melhor compreensão dos desafios e
potencialidades da prática de ensino de Física no contexto do Novo Ensino Médio,
oferecendo títulos para a reflexão e o aprimoramento dessa área de atuação. Além disso,
reforça a necessidade de uma revogação ou uma forte reformulação do Novo Ensino Médio.
ABSTRACT
SANTANA, Ian Lima. PHYSICS TEACHING PRACTICE AND THE NEW HIGH
SCHOOL EDUCATION: TEACHING EXPERIENCES IN EM VITÓRIA DA
CONQUISTA - BA. 2024. 114p. Dissertation (Master’s degree in Education). Postgraduation
Program in Education – PPGEd. State University of Southwest Bahia – UESB, Vitória da
Conquista - BA, 2024.
This work consists of a study on the practice of teaching Physics and the New High School
(Law 13.415/2017). The introduction provides a general and precise overview of the topic.
The first chapter explores the practice and field of research in Physics teaching, the structure
of the New High School, the importance of Physics in this context and the normative
documents related to Brazilian Education. Furthermore, it discusses the challenges faced by
Physics teachers in this new teaching model and highlights the lack of dialogue between
normative documents and the field of Physics research. In the second chapter, the
methodological approach used in the study is presented, including the classification of the
research, such as the research location being Vitória da Conquista-Ba, the ethical
considerations, the instrument and the data production process, as well as information about
the selected, who are certified Physics teachers, and the Content Analysis of the data
collected. The third chapter is dedicated to the analysis of data collected about the teaching
experiences of Physics teachers in the New High School in Bahia. The organization of data,
analysis and discussion of these data are covered. The chapter also explores the teachers'
training and teaching experiences, discussing the role of the Physics Teacher and the
complexity of being a professional in this area. In this, the study also deals with the meaning
of being a Physics teacher in the context of New High School. Issues related to professional
identity, experiences and challenges faced are explored, as well as the professional and
personal impact involved in the practice of Physics Teaching for teachers in the New High
School. The study also highlights the importance of recognizing the Physics teacher as a
transformative agent and mediator of knowledge, capable of inspiring and motivating
students to become interested in Physics. Finally, final considerations are made about the
teaching experiences of Physics teachers in the New High School, highlighting the
continuous need for investment in the training and development of these professionals, in
order to promote quality Physics teaching and arouse the interest of students. for this
discipline. The study contributes to a better understanding of the challenges and potential of
teaching Physics in the context of New High School, offering titles for reflection and
improvement in this area of activity. Furthermore, it reinforces the need for a repeal or a
strong reformulation of the New Secondary Education.
Keywords: Teaching Practice; Physics Teaching; New High school; Teaching Experiences.
9
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 14
CAPÍTULO 1: PRÁTICA DE ENSINO DE FÍSICA E O NOVO ENSINO MÉDIO 17
1.1 A prática e o campo de pesquisa em ensino de Física 17
1.2 A estrutura do Novo Ensino Médio 22
1.3 A Física no Novo Ensino Médio 34
1.4 Documentos Normativos para a Educação Brasileira: o caso da Física 36
1.5 Os desafios do Professor de Física no Novo Ensino Médio 49
CAPÍTULO 2: ABORDAGEM METODOLÓGICA 54
2.1 Classificação da pesquisa 55
2.2 Local da pesquisa 56
2.3 O teor ético da pesquisa 60
2.4 O instrumento e o processo de coleta de dados 61
2.5 Os entrevistados 65
2.6 Análise de Conteúdo dos dados 67
CAPÍTULO 3: EXPERIÊNCIAS DOCENTES DOS PROFESSORES DE FÍSICA NO
NOVO ENSINO MÉDIO NA BAHIA: UMA ANÁLISE DE DADOS 69
3.1 A organização dos dados coletados 69
3.2 Sobre a análise e a discussão dos dados coletados 70
3.3 Experiência Formativa 71
3.4 Experiência Docente 80
3.4.1 O papel do Professor de Física 90
3.4.2 Para além das experiências docentes: o Ser Professor de Física 93
CONSIDERAÇÕES FINAIS 95
REFERÊNCIAS 97
APÊNDICE 103
ANEXOS 104
14
INTRODUÇÃO
1
Altera as Leis n º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional,
e 11.494, de 20 de junho 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada
pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e o Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de 1967; revoga a
Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 2005; e institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino
Médio em Tempo Integral.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13415.htm. Acesso em: 06 fev.
2023.
2
Carta do Movimento Nacional em Defesa do Ensino Médio ao GT Transição - Educação. Disponível em:
https://anped.org.br/news/carta-do-movimento-nacional-em-defesa-do-ensino-medio-ao-gt-transicao-educacao.
Acesso em: 14 marc. 2023.
Reforma ou Revogação: Que fazer com o “Novo Ensino Médio”? Disponível em:
https://anped.org.br/news/reforma-ou-revogacao-que-fazer-com-o-novo-ensino-medio-por-monica-ribeiro-da-sil
va-ufpr. Acesso em 14 marc. 2023.
Nota pública do SINTEP sobre a reforma do ensino médio. Disponível em:
https://sintepe.org.br/2023/03/13/nota-publica-sobre-a-reforma-do-ensino-medio/. Acesso em: 13 marc. 2023.
USP envia contribuições sobre o Novo Ensino Médio para consulta pública do MEC. Disponível em:
https://jornal.usp.br/institucional/usp-envia-contribuicoes-sobre-o-novo-ensino-medio-para-consulta-publica-do-
mec/. Acesso em: 11 jul. 2023.
3
Ministério da Educação (MEC), consulta pública para avaliação e reestruturação da Política Nacional de
Ensino Médio. Disponível em:
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-399-de-8-de-marco-de-2023-468762771. Acesso em: 09 marc.
2023.
4
MEC e Fórum Nacional de Educação debatem ensino médio em audiência pública. Disponível em:
https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/mec-e-fne-debatem-ensino-medio-em-audiencia-publica. Acesso
em: 29 mai. 2023.
5
Disponível em:
https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/mec-suspende-cronograma-de-implementacao-do-novo-ensino-
medio. Acesso em: 04 abr. 2023.
6
Institui o Cronograma Nacional de Implementação do Novo Ensino Médio. Disponível em:
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-521-de-13-de-julho-de-2021-331876769. Acesso em: 05 abr.
2023.
15
Médio por um período de 60 dias, contados a partir do término, dia 6 de julho de 2023, da
consulta pública promovida pelo MEC. De acordo com o documento, ficam suspensos os
prazos relacionados aos artigos 4º, 5º, 6º e 7º da Portaria n° 521, que tratam, respectivamente,
de parâmetros como a implementação nos estabelecimentos de ensino que ofertam o ensino
médio dos novos currículos escolares, alinhados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
e aos itinerários formativos do Novo Ensino Médio; cronograma referente aos materiais e
recursos didáticos para o Novo Ensino Médio, por meio do Programa Nacional do Livro
Didático (PNLD); alinhamento das matrizes do Sistema de Avaliação da Educação Básica
(Saeb) para a etapa; e atualização da matriz curricular de avaliação do Novo Exame Nacional
do Ensino Médio (ENEM).
Considerando o descrito acima, acerca do Novo Ensino Médio e os acontecimentos
até então ligados a ele, a Revista Coletiva, uma importante revista eletrônica de divulgação
científica, publicada pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) desde 2010, publicou um
dossiê sobre a Reforma do Ensino Médio7 com o objetivo de mostrar o descontentamento de
vários pesquisadores da Educação quanto ao desmanche educacional que vem sendo
promovido no Brasil com a reforma do Ensino Médio de 2017. Esse dossiê traz apontamentos
importantes sobre a atual estrutura e a falta de recursos do Novo Ensino Médio e a
necessidade de discussões para uma elaboração de uma nova estrutura para corrigir os erros
da atual e promover uma educação que seja de fato democrática e que seja, também,
condizente verdadeiramente com o contexto dos estudantes e das condições de cada
instituição. Alguns trabalhos desse Dossiê serão discutidos mais à frente nessa escrita.
O Novo Ensino Médio traz um caráter minimalista da Física, que compromete
gravemente o seu ensino para a formação do estudante no que se refere ao entendimento dos
fenômenos naturais e as aplicações da Física no cotidiano. Aliado à isso, ao realizar o Estágio
Docência no Curso de Licenciatura em Física da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
(UESB), foi possível discutir com a turma do quinto semestre, que segue ainda um desenho
curricular de 2012, na disciplina de Prática de Ensino de Física I, a estrutura do Novo Ensino
Médio e qual o lugar da Física e, foi possível perceber na expressão facial de cada estudante
um extremo descontentamento e uma surpresa imensa. De fato, considerando o desenho
curricular do Curso de Licenciatura em Física, contém as disciplinas obrigatórias da área da
Física, assim como no Bacharelado, no entanto, o desenvolvimento dessas disciplinas na
Licenciatura em Física em questão, segue o mesmo padrão do Bacharelado, isto é, não
7
Disponível em: https://www.coletiva.org/dossie-reforma-do-ensino-medio-n31. Acesso em: 28 marc. 2023.
16
fornecendo para os discentes um direcionamento para uma prática de ensino voltada para a
Educação Básica, fato que pode gerar problemas relacionados ao Ensino de Física nessa etapa
escolar, além dos problemas trazidos pelo Novo Ensino Médio.
Especificamente, tendo em vista o exposto até este momento, este trabalho está
buscando compreender a Prática de Ensino de Física com o Novo Ensino Médio, tecendo
sobre as experiências docentes a partir da aprovação da reforma do ensino médio, a Lei
13.415/2017, e ao fazer essa pesquisa, busca-se responder à seguinte questão de pesquisa:
Quais as experiências de docentes de Física no Novo Ensino Médio? A partir dessa pergunta,
surgiram outras questões como desdobramentos da pesquisa, a saber: Como o Novo Ensino
Médio tem afetado a Prática de Ensino de Física dos Professores? O que dizem os professores
de Física de Vitória da Conquista-Ba sobre as experiências obtidas com a implementação do
Novo Ensino Médio? Quais os desafios dos Professores de Física no Novo Ensino Médio?
Essas indagações têm contribuído muito para a realização da presente pesquisa,
principalmente aos conceitos e discussões que circundam a Prática de Ensino de Física.
O objetivo principal dessa pesquisa é: compreender as experiências dos docentes de
Física no Novo Ensino Médio. E os objetivos específicos são: I. Conhecer a Prática de Ensino
de Física em Vitória da Conquista após a implementação do Novo Ensino Médio; II. Analisar
a Prática de Ensino de Física no Ensino Médio; III. Caracterizar a Prática de Ensino de Física
dos Professores de Física no Novo Ensino Médio.
17
assume um papel central no bojo acadêmico devido às suas dimensões formativa e cultural.
Tal temática se consolida enquanto área de pesquisa em função da construção de uma
identidade que possui certas especificidades, calcada em uma ampla relação com as Ciências
Humanas e Sociais, no que se refere tanto aos seus processos investigativos quanto na
elaboração de propostas pedagógicas, intervenções e projetos, cuja finalidade é a difusão e
popularização da Ciência em espaços formais e não-formais (SALEM, 2012).
A Pesquisa em Ensino de Física surge como uma das ramificações do Ensino de
Ciências, com diferentes nuances e facetas, seja do ponto de vista da produção de material
didático, seja através das propostas pedagógicas e experimentais direcionadas à Educação
Básica (ALMEIDA, 2012). É notório que o ensino de Ciências da Natureza, ao longo do
tempo, tem sido alvo de inúmeras pesquisas e, ainda assim, muitos problemas educacionais
relacionados a essas áreas persistem, emergem e reemergem. Sendo assim, tais pesquisas
devem continuar de forma ainda mais consistente.
Nesse sentido, o desenvolvimento das investigações em tal campo é de fundamental
importância para a demarcação, do Ensino de Física, enquanto área de pesquisa e, sobretudo,
para a construção de um senso coletivo de comunidade. Em vista disso, as atuais tendências e
perspectivas trazem à tona elementos históricos que podem ampliar sua discussão, tendo em
vista as problemáticas e principais focos de interesse sobre a Educação. Essa demarcação da
Ciência se faz importante pois permite mais pesquisas em Ensino de Ciências para
proporcionar práticas de ensino que possam contribuir com a formação educacional dos
estudantes.
Ainda que seja uma tarefa árdua identificar suas origens, é fato que as motivações e
inquietações relativas ao Ensino de Física acompanham a própria estrutura curricular e sua
formação, enquanto área de produção e pesquisa, remonta à década de 1960, devido à
implementação de vários projetos que visavam instaurar modificações no currículo escolar
ainda nesse período (ALMEIDA, 2012; SALEM, 2012). Atualmente, mais de meio século
após suas origens, a Pesquisa em Ensino de Física cresceu notadamente, em termos de
consolidação e diversificação, e apresenta uma pluralidade de caminhos que podem ser
trilhados, uma vez que o conhecimento acumulado aponta elementos indicativos que levam à
análise e reflexão desse contexto (ZANETIC, 1989).
À guisa do seu desenvolvimento, surgiram vários espaços e eventos voltados ao
Ensino de Física onde os pesquisadores poderiam (e ainda podem) deliberar sobre as
diferentes temáticas de investigação e promover discussões sobre o contexto em que a Física
se encontra na Educação Básica. Um dos primeiros empreendimentos que surgiram com esse
19
enfoque foi o Simpósio Nacional de Ensino de Física (SNEF), cuja primeira edição foi
realizada em 1970 no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP) tendo o apoio
da Sociedade Brasileira de Física (SBF) (ALMEIDA JÚNIOR, 1979).
À vista disso, o SNEF passou a ser realizado de maneira bi-anual e se propõe a
debater sobre a aproximação dos elementos que caracterizam a pesquisa acadêmica com as
práticas de ensino, tendo como principal foco a superação dos desafios que permeiam a
Educação. Com vistas a traçar um maior enfoque e abrangência para os tópicos abordados
durante o evento, são propostos diversos eixos temáticos visando uma discussão rica e ampla.
Com o decorrer do tempo, alguns temas ganharam mais relevância que outros, mas pode-se
constatar a presença de algumas temáticas recorrentes (MARTINS, 2009): (I) Ensino,
Aprendizagem e Avaliação em Física; (II) História e Filosofia da Ciência; (III) Tecnologia
da Informação para o Ensino de Física; (IV) Ciência, Tecnologia e Sociedade; (V) Formação
Continuada e Prática Profissional.
Ao longo das diferentes edições do SNEF, à medida em que as questões sobre o
Ensino de Física foram sendo levantadas, percebeu-se a necessidade de ampliar alguns dos
eixos temáticos propostos. Dessa forma, o eixo (II) passou a ser denominado História,
Filosofia e Sociologia da Ciência, enquanto o eixo (IV) foi renomeado como Ciência,
Tecnologia, Sociedade e Ambiente. Cabe ressaltar que essas temáticas estiveram presentes em
grande parte das edições, mesmo que a comissão organizadora tenha adotado outras
nomenclaturas (MARTINS, 2009).
Ainda sobre os espaços abertos às discussões, é importante relatar o papel do
Encontro de Pesquisa em Ensino de Física (EPEF), que visa promover pesquisas relacionadas
ao Ensino de Física e debates sobre suas aplicações no Ensino Médio, vinculado também à
SBF. A primeira edição do EPEF ocorreu em 1976 , e também passou a ser realizada de modo
bi-anual. O evento visa construir diálogos realizados entre os pesquisadores de diferentes
regiões do Brasil, com enfoque científico e educacional. Há uma diversidade de eixos
temáticos (EPEF, 2020): (I) Ensino, Aprendizagem e Avaliação em Física; (II) Formação e
Prática Profissional do Professor de Física; (III) Filosofia, História e Sociologia da Ciência
e o Ensino de Física; (IV) Física e Comunicação em Práticas Educativas Formais, Informais
e Não Formais; (V) Tecnologia da Informação e Comunicação e o Ensino de Física; (VI)
Didática, Currículo e Inovação Educacional no Ensino de Física; (VII) Linguagem e
Cognição no Ensino de Física; (VIII) Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente e o Ensino
de Física; (IX) Políticas Públicas em Educação e o Ensino de Física; (X) Questões
Teórico-Metodológicas e Novas Demandas na Pesquisa em Ensino de Física.
20
dificuldades para pôr em prática as ideias apresentadas pelos próprios materiais (GASPAR,
1997), uma vez que se tem no Ensino Médio uma “organização” que não objetiva uma
verdadeira formação científica básica dos estudantes e em que a Física, e demais disciplinas
das Ciências da Natureza, são menosprezadas. É nesse sentido que o Ensino de Física passa a
tentar usar a sua autonomia na consolidação de projetos nacionais, elaborados justamente
para tentar atender às demandas do nosso país. Todavia, isso se torna difícil com a forma em
que a Física tem tomado nas matrizes curriculares nacionais.
Compreendido desse modo, as pesquisas em Ensino de Física têm mostrado à
sociedade como é um fecundo campo de investigação no que diz respeito às discussões e
reflexões sobre o processo de ensino-aprendizagem que permeia a prática de ensino dos
professores de Física. Dessa forma, são nítidos os desafios educacionais postos à
comunidade, e, ademais, nota-se uma crescente nas produções destinadas à suprir essas
carências, seja na confecção de materiais didáticos e paradidáticos visando a inclusão social,
seja na elaboração de metodologias ativas que destoam do ensino tradicional (NESI et al.,
2021) e além disso em criticar de fato a precarização que se tem feito com a Física na
Educação Básica e com a Educação como um todo.
Ao que se percebe é que o campo de pesquisa em Ensino de Física diz uma coisa e a
política de educação, os documentos normativos e as leis falam outra coisa, sendo que estes
últimos estão cada vez mais destruindo a presença da Física no Ensino Médio. Todavia, é
válido pontuar que, no que diz respeito aos documentos normativos, para a área de Física,
quem assina os textos acerca do Ensino de Física nesses documentos curriculares são também
teóricos do Ensino de Física, mas que, pelo visto, não há também uma harmonia entre estes e
o seu próprio campo de pesquisa. Sendo assim, é preciso ter diálogo contínuo e operante
dentro do campo de pesquisa em Ensino de Física, para que seja feita uma harmonia entre
esse campo e os documentos curriculares.
A atual forma do Ensino Médio8 no Brasil foi aprovada pela Lei 13.415/2017, alterou
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e dá outras providências, que
implantou mudanças na estrutura do ensino médio que até então estava sendo seguido pelas
escolas brasileiras, é uma reforma que apresentou o objetivo principal de ofertar uma
educação mais adaptada e mais flexível aos desejos e necessidades dos estudantes.
8
Uma apresentação completa do Novo Ensino Médio pode ser acessada em:
https://www.gov.br/mec/pt-br/novo-ensino-medio. Acesso em: 06 fev. 2023.
23
9
Há uma descrição e orientação dos itinerários formativos em:
https://www.gov.br/mec/pt-br/novo-ensino-medio/itinerarios-formativos-do-novo-ensino-medio. Acesso em: 06
fev. 2023.
25
ou mais, formação técnica (BRASIL, 2017). Os itinerários formativos podem ser ministrados
por profissionais de áreas afins às suas formações ou de acordo com suas experiências
profissionais de suas práticas de ensino em instituições educacionais.
Os itinerários formativos, se tratando do estado da Bahia, em particular, de acordo
com a portaria n° 1.987/202210, também podem ser organizados de forma integrada para o
Ensino Médio em Tempo Parcial e as ofertas do Ensino Médio da Educação do Campo e
Educação Escolar Quilombola, isto é: a) Linguagens e suas Tecnologias e Matemática e suas
Tecnologias; b) Linguagens e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; c)
Linguagens e suas Tecnologias e Ciências da Natureza e suas Tecnologias; d) Matemática e
suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; e) Matemática e suas Tecnologias
e Ciências da Natureza e suas Tecnologias; f) Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e
Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Também existem os itinerários formativos
Integrados Transdisciplinares, sendo eles: a) Itinerário Formativo Transdisciplinar I, para o
diurno e o noturno, b) Itinerário Formativo Transdisciplinar II, para o noturno.
Já no que diz respeito ao Ensino Médio em Tempo Integral e as ofertas do Ensino
Médio da Educação do Campo e Educação Escolar Quilombola em Tempo Integral poderá
ofertar os quatro itinerários formativos comuns das áreas do conhecimento e um Itinerário
Formativo Integrado Transdisciplinar e/ou da Formação Técnica e Profissional. O Ensino
Médio com Intermediação Tecnológica (EMITec) poderá ofertar o Itinerário Formativo
Integrado Transdisciplinar EMITec.
A Educação Escolar Indígena poderá ofertar seis itinerários formativos integrados em
tempo parcial, sendo eles: a) Gestão Territorial, Sustentabilidade, Manejo e Produção
Agrícola em Terras Indígena; b) Patrimônios, Territórios e Gestão do Turismo em Terras
Indígenas; c) Laboratório de Práticas em Educação e Saúde Indígena; d) Artes, Patrimônios e
Museologias Indígenas; e) Laboratório Prático de Linguagens Audiovisuais Indígenas; f)
Direitos, Identidades Indígenas e suas Retomadas; quatro itinerários formativos integrados
tempo integral de 7h, sendo: a) Gestão Territorial, Sustentabilidade, Manejo e Produção
Agrícola em Terras Indígenas; b) Patrimônios, Territórios e Gestão do Turismo em Terras
Indígenas; c) Artes, Patrimônios e Museologias Indígenas; d) Direitos, Identidades Indígenas
e suas Retomadas.
10
Dispõe sobre a organização curricular das Unidades Escolares da Rede Estadual de Ensino que ofertam o
Ensino Médio, em consonância com o Documento Curricular Referencial da Bahia (DCRB) – etapa Ensino
Médio, nos termos da Lei no 13.415, de 16 de fevereiro de 2017.
26
Figura 2: Matriz curricular do ensino médio em tempo parcial e os itinerários formativos do primeiro
aprofundamento de Ciências da Natureza e suas Tecnologias – diurno e noturno
Na figura, pode-se ver que há somente uma aula de Física na 1a e 2a séries e duas
aulas na 3a série, totalizando 160 horas. No que diz respeito ao itinerário formativo e a parte
diversificada têm Leitura e Escrita de Mundo, Para Além dos Números, Iniciação Científica I
e História e Cultura Indígena, Africana e Afro-Brasileira na 1a série; na 2a série têm Iniciação
Científica II, Caminho das Águas e Tecnologias Verdes e Sociais; na 3a série têm Ciência em
Ação, Energia e Sociedade e Planeta Sustentável. O Projeto de Vida e o Componente Eletivo
estão em todas as séries.
O segundo aprofundamento está organizado da seguinte forma:
29
Figura 3: Matriz curricular do ensino médio em tempo parcial e os itinerários formativos do segundo
aprofundamento de Ciências da Natureza e suas Tecnologias – diurno e noturno
Pode-se ver na Figura 3 que há somente uma aula de Física na 1a e 2a séries e duas
aulas na 3a série, totalizando 160 horas. No que diz respeito ao itinerário formativo e a parte
diversificada têm Leitura e Escrita de Mundo, Para Além dos Números, Iniciação Científica I
e História e Cultura Indígena, Africana e Afro-Brasileira na 1a série; na 2a série têm Iniciação
Científica II, Do Sol ao Sabor e o Invisível na Saúde; na 3a série têm Ciência em Ação, Saúde
em Movimento e Tecnologias em Saúde. O Projeto de Vida e o Componente Eletivo estão em
todas as séries.
Quando o período é integral, há algumas mudanças na matriz curricular, como se pode
ver na Figura 4 a seguir:
30
Figura 4: Matriz curricular do ensino médio em tempo integral de 9 h e os itinerários formativos de Ciências da
Natureza e suas Tecnologias
Na Figura 4 pode-se ver que têm duas aulas de Física na 1a série, uma na 2a série e
nenhuma na 3a série, totalizando 120 horas. Na parte diversificada têm: Iniciação Científica,
Intermediação Social e Pensamento Computacional em todas as séries; Ciências no
Cotidiano, Valorização na Ciência dos Saberes Populares, Engenharia e a Química dos Seres
Vivos, Meio Ambiente, Humanidade e Sustentabilidade na 1a série; Ecossistema e a
Dinâmica da Relação, A Terra, Ciclo e Movimento, Promoção da Saúde Individual e
Coletiva, Arranjos Produtivos na 2a série; O Ser, Evolução e Natureza, Ética e Meio
Ambiente, Arranjos Produtivos Locais, Empreendedorismo Sustentável na 3a série;
ESTAÇÕES DOS SABERES I - Vivências e Práticas Experimentais Transdisciplinares;
ESTAÇÕES DOS SABERES II - Vivências e Práticas Experimentais Transdisciplinares:
Ecossistema e a Dinâmica da Relação; ESTAÇÕES DOS SABERES III - Vivências e
Práticas Experimentais Transdisciplinares com Ênfase na Territorialidade, em todas as séries.
Como visto, o Novo Ensino Médio possui tal estrutura, em particular evidenciadas
algumas matrizes seguidas no Estado da Bahia, mas que, no geral, em todo o Estado seguem
31
democrático, que leve em conta a diversidade cultural e social do país, e que permita que
todos os estudantes tenham acesso a uma verdadeira educação de qualidade (MACEDO,
2022).
Colaborando com a discussão realizada por Macedo (2022), Mônica Ribeiro (2022),
aborda a temática do direito à educação básica no Brasil. A autora faz uma exploração do que
é a educação básica, que engloba a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino
Médio, e como esse direito é descrito e garantido pela Constituição Federal do Brasil. Ela
destaca a importância da educação para a formação dos indivíduos e para o desenvolvimento
do país. Diante disso, é válido ressaltar que a estrutura atual do ensino médio não colabora
com a formação dos jovens do país, pois a educação atual, a sua organização, está formando
pessoas com defasagem educacional com uma matriz curricular que renega a formação básica
geral dos estudantes (RIBEIRO, 2022; MACEDO, 2022).
Ribeiro (2022) faz uma análise crítica da situação da educação básica no país,
apontando as desigualdades sociais e regionais que afetam o acesso à educação de qualidade,
gerando, assim, uma exclusão sócio-educacional. Ela cita dados que mostram a defasagem
escolar e a evasão escolar em alguns estados brasileiros, e destaca a importância de se investir
na formação dos professores e na infraestrutura das escolas para melhorar a qualidade da
educação (RIBEIRO, 2022). É discutido também pela autora a Reforma do Ensino Médio e
suas implicações para o direito à educação básica. Ela argumenta, concordando com Macedo
(2022), que a flexibilização do currículo pode agravar as desigualdades educacionais, uma
vez que os estudantes mais pobres e com menos acesso à informação podem ter mais
dificuldade em “escolher” as disciplinas que serão mais importantes para sua formação
(RIBEIRO, 2022). Além disso, a autora destaca a importância de se garantir o acesso à
educação técnica e profissionalizante para os jovens que desejam seguir carreiras específicas
e, além disso, defende a importância de se discutir e garantir o direito à educação básica
como um direito humano fundamental, que deve ser assegurado pelo Estado e pela sociedade
como um todo (RIBEIRO, 2022).
Demais pesquisadores, como Cassia Domiciano e Theresa Adrião (2022), abordam a
questão do financiamento do Novo Ensino Médio no Brasil. As autoras explicam as
mudanças ocorridas na estrutura do ensino médio com a Reforma e as novas exigências de
oferta de ensino técnico e profissionalizante e discutem os impactos dessas mudanças na
política de financiamento da educação. As autoras destacam que a Reforma do Ensino Médio
não foi acompanhada de medidas concretas para garantir o financiamento adequado da
educação (DOMICIANO; ADRIÃO, 2022). Elas argumentam que, sem um investimento
33
adequado, as escolas públicas não terão condições de oferecer uma educação de qualidade,
especialmente no que diz respeito ao ensino técnico e profissionalizante (DOMICIANO;
ADRIÃO, 2022).
Além disso, as autoras discutem o papel do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
da Educação Básica (Fundeb) no financiamento do Novo Ensino Médio. Elas argumentam
que é necessário que o Fundeb seja mantido e ampliado para garantir o financiamento
adequado da educação básica no país. As autoras defendem também a importância de se
garantir um financiamento adequado para o Novo Ensino Médio e para a educação em geral
(DOMICIANO; ADRIÃO, 2022). Elas abordam que isso é muito fundamental para garantir o
direito à educação de qualidade para todos os jovens brasileiros, e para promover o
desenvolvimento do país como um todo (DOMICIANO; ADRIÃO, 2022).
A autora Mônica Monteiro (2022) aborda a questão das ofensivas sobre a educação
básica no Brasil, fazendo um breve histórico das políticas educacionais no país, destacando as
mudanças e retrocessos que ocorreram ao longo dos anos, e discutindo as recentes ofensivas
sobre a educação básica, que ela considera como uma tentativa de retirar a responsabilidade
do Estado em relação à garantia do direito à educação. Ela cita, por exemplo, a ofensiva da
proposta de municipalização da educação básica, que transferiria a responsabilidade da União
para os municípios, que muitas vezes não têm recursos suficientes para garantir a própria
educação municipal quem dirá uma educação de qualidade e de nível estadual (MONTEIRO,
2022).
Monteiro (2022) também aborda a questão do ensino religioso nas escolas públicas,
que, segundo ela, pode ferir a laicidade do Estado e a liberdade de crença dos estudantes.
Além disso, ela discute a proposta de Escola sem Partido, que, segundo ela, pode limitar a
liberdade de expressão dos professores e impedir o debate crítico nas escolas. A autora
defende também a importância de se garantir o direito à educação básica de qualidade para
todos os brasileiros, colaborando com as discussões trazidas por (MACEDO, 2022;
RIBEIRO, 2022), e de se valorizar o papel do Estado na promoção desse direito. Ela
argumenta que a educação é fundamental para a formação dos indivíduos e para o
desenvolvimento do país como um todo, e que é preciso lutar contra as ofensivas que visam
retirar a responsabilidade do Estado nessa área (MONTEIRO, 2022).
Outra autora que traz uma discussão importante quanto à temática da Reforma do
Ensino Médio é Marcia Moraes (2022), abordando a implementação da Reforma do Ensino
Médio no Brasil e explicando as mudanças introduzidas pela Reforma, como a flexibilização
curricular e a ampliação da carga horária. Discute, também, as dificuldades enfrentadas na
34
Como foi descrito no caso dos itinerários formativos, em que os estudantes podem
escolher uma área específica para se aprofundarem ao longo do ensino médio, pode-se dizer,
ainda, que a Física tem, em particular, uma má fama entre os alunos por ser difícil ou
complicada, por envolver muita Matemática e teoria para explicar os cálculos (REIS;
SANTANA; LEMOS, 2022), nesse sentido o itinerário formativo de Ciências da Natureza
acaba sendo afetado negativamente e não sendo uma das primeiras escolhas por parte dos
alunos o que, por sua vez, acaba comprometendo o papel do professor de Física, além da
carga horária extremamente reduzida.
De acordo com Ostermann e Rezende (2021, p. 1381): “O debate sobre o lugar da
disciplina de Física no currículo do ensino médio frente às políticas curriculares dos últimos
anos, [...], requer um olhar mais amplo e crítico que pense politicamente a educação no
Brasil [...]”.
No currículo do Novo Ensino Médio, a Física faz parte da área de Ciências da
Natureza e suas Tecnologias, área que, de acordo com Menezes (2020, p. 18 - 19) diz que:
35
Essa Área está disposta pela BNCC no Ensino Médio com grande concisão,
propondo organização temática que não explicita nem divide os campos
disciplinares tradicionais desta etapa escolar, como Biologia, Física e Química,
porque se orienta por novos sentidos conceituais e práticos, que de fato incorporam
aquelas disciplinas e também outras, como Geologia e Astronomia, em termos de
algumas Competências Específicas.
Entre as concentrações temáticas, Matéria e Energia reúne os campos disciplinares
com intenção conceitual e prática no que se refere a propriedades dos materiais em
diferentes circunstâncias, a processos e equipamentos de geração e utilização de
energias, assim como a aspectos sociais e econômicos, como o das matrizes
energéticas. Uma temática tratando Terra e Universo está mais associada à
sistematização de visões de mundo, da constituição e evolução biológica e cósmica,
mas também cobre assuntos de interesse social, como processos climáticos e
sustentabilidade ambiental. Finalmente, há uma temática de caráter
Científico-Tecnológico que tem sentido estritamente prático, de emprego de
conhecimentos científico-tecnológicos no enfrentamento de problemas, assim como
nas comunicações com emprego de linguagens científicas. Essas temáticas
apresentam-se em três Competências Específicas que podem ser sintetizadas do
modo a seguir.
* A Competência 1 trata de processos naturais tecnológicos, envolvendo relações
entre matéria e energia, para propor o aperfeiçoamento de processos produtivos e
minimizar impactos socioambientais.
* A Competência 2 envolve interpretações sobre as dinâmicas biológicas,
geológicas e cosmológicas para pensar e argumentar sobre a evolução da vida e do
universo, assim como tomar decisões éticas na relação entre vida social e meio
ambiente.
* A Competência 3 propõe o emprego de conhecimentos, linguagens e recursos
científico-tecnológicos para resolver problemas locais ou globais, assim como para
comunicar a públicos variados resultados dos desenvolvimentos científicos.
Essas Competências Específicas serão desenvolvidas em atividades relacionadas às
Habilidades, algumas de caráter geral, outras mais centradas em componentes
curriculares específicos, ou seja, mais biológicas, físicas, químicas, geológicas ou
astronômicas, como se poderá verificar nos exemplos sintetizados de Habilidades
associadas a cada Competência a seguir.
* Associadas à Competência 1 estão, por exemplo, a EM13CNT103, que trata das
utilidades e dos riscos no emprego das radiações, e a EM13CNT105, que analisa
ciclos biogeoquímicos em fenômenos naturais e a interferência humana sobre eles.
* Associadas à Competência 2 estão, por exemplo, a EMI3CNT204, que envolve de
movimentos terrestres e espaciais com base em conhecimentos sobre a gravitação, e
a EMI3CNT208, que aplica princípios da teoria da evolução para analisar a origem
e a diversificação dos humanos em sua interação com meios naturais.
* Associadas à Competência 3 estão, por exemplo, a EMI3CNT302, que propõe a
comunicação de resultados, análise e experimentos científicos para promover
debates sobre seu sentido e sua relevância sociocultural e ambiental, e a
EMI3CNT309, que problematiza a dependência e o risco do emprego de recursos
energéticos não renováveis e a necessidade da busca de alternativas.
própria BNCC em vigor. Pior ainda fica o cenário quando os itinerários formativos da área
não fazem parte da “escolha” dos estudantes e até mesmo pela oferta das instituições de
ensino. Assim, o Professor de Física tem a sua prática de ensino intensamente afetada de
forma negativa.
Uma comparação entre a disciplina de Física no ensino médio antes dos anos 2017 e
após esse mesmo ano no Brasil é necessária para uma análise mais detalhada da situação.
Nesse sentido, antes de 2017 a disciplina de Física era dividida em três tópicos específicos,
que eram: Mecânica, Termodinâmica e Eletromagnetismo (BRASIL, 2015). Para essa
abordagem, o objetivo era ensinar os princípios básicos da Física para os alunos entenderem a
relação presente em seus cotidianos. E a quantidade de aulas variava entre duas a três
horas/aulas semanais em cada uma das séries.
Após a reforma e com a publicação de uma nova versão da BNCC, a Física passou a
ter novos objetivos baseados em habilidades e competências a serem desenvolvidas em sala
de aula. Atualmente, a Física está dividida em três áreas, quais sejam: Física Clássica, Física
Moderna e Astronomia (BRASIL, 2017). E a quantidade de aulas varia entre uma e duas
horas/aulas semanais a depender da organização de cada escola, mas que, no geral, é somente
oferecida uma aula e não em todas as séries, conforme evidenciado nas matrizes curriculares
anteriormente.
Algo que havia antes e depois na disciplina de Física no Ensino Médio era a proposta
de realização de experimentos e projetos práticos (MOREIRA, 2017; 2018; 2021a; 2021b),
mas tanto antes quanto agora essa proposta fica de lado pois a estrutura das escolas públicas
no Brasil nem sempre conta com laboratórios para essa realização.
professores, seja para elaborar uma base curricular com certo status de equidade que leve em
consideração as especificidades de cada instituição. Dentre os documentos normativos,
constam os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), as Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCNs), a BNCC e, além disso, um documento normativo estadual da Educação, em
específico, um documento de caráter regional que apresenta diretrizes para o contexto
educacional, nesse caso, o da Bahia, o Documento Curricular Referencial da Bahia (DCRB).
Nesse sentido, é válido abordar como que o Ensino de Física é abordado em tais documentos,
mas antes, é importante descrever o percurso que levou até a construção da BNCC da qual
partem outros documentos como o DCRB.
Foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), ou
apenas LDB, como abreviado anteriormente, Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que em
seu Artigo 26, regulamenta uma Base Nacional Comum para a Educação Básica do Brasil, o
que a nomeou de Base Nacional Comum Curricular. Já em 1997 foram consolidados, em
cerca de dez volumes, os PCN para o Ensino Fundamental, do 1º ao 5º ano, apontados como
sendo referenciais de qualidade para a educação brasileira. Tais volumes foram feitos com o
objetivo de auxiliar as escolas na execução do trabalho pedagógico, sobretudo no
desenvolvimento do currículo escolar. Em 1998 foram elaborados mais dez volumes dos PCN
para o Ensino Fundamental, do 6º ao 9º ano, com o objetivo de ampliar e aprofundar o debate
educacional que envolva escolas, pais, governos e sociedade.
Ainda em 1988 foi promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil
que descreveu, em seu Artigo 210, a BNCC, assim:
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a
assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos,
nacionais e regionais. § 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá
disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. § 2º O
ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às
comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos
próprios de aprendizagem (BRASIL, 1998).
pedagógico que culminou em seminários estaduais que concluíram ser necessário uma
reformulação da BNCC que foi publicada em sua terceira versão em 2018.
Diante do percurso apresentado, vale dizer que os PCN correspondem a um conjunto
de documentos orgânicos, elaborados pelo Governo Federal, com a finalidade de orientar a
prática pedagógica do corpo docente (BRASIL, 1998). Tendo em vista a autonomia das
escolas públicas sobre a elaboração do seu Projeto Político Pedagógico (PPP), é necessário
que haja uma adaptação dos conteúdos que constam em tal documento. Portanto, os PCN têm
como função nortear o planejamento escolar, adequar objetivos, conteúdos e formas de
encaminhamento das atividades, levando em consideração os aspectos relativos à
aprendizagem.
Os PCN, para o ensino de Física, elencam alguns pontos importantes que devem ser
considerados no ensino médio. Dessa forma, o documento destaca pontos fundamentais, em
que os alunos sejam capazes de:
mercado, uma exclusão social-escolar, que pode levar, e é o que está acontecendo, a educação
brasileira ao fracasso.
Agora, sobre os critérios de seleção de conteúdos para o currículo escolar, cabe
ressaltar que os PCN aborda que:
No que diz respeito a BNCC, atualmente, esse documento tem sido discutido de
maneira ampla, em função das mudanças apresentadas em seu escopo e que contemplam
todos os níveis da Educação, desde o Ensino Fundamental até o Ensino Médio, em que há
uma preocupação, no meio educacional, em preparar o aluno ao meio científico com a
finalidade de poder interpretar este. Isto é, despertar nos alunos um ser investigativo do
mundo que os cercam, que por sua vez possibilita que os alunos pensem de uma forma mais
reflexiva por meio de seus conhecimentos (BRASIL, 2018). No entanto, como já pincelado
anteriormente, há várias lacunas no documento que colocam em xeque seus objetivos. Mas o
que é, de fato, a BNCC? Quais as mudanças propostas? Quais os impactos sobre a Educação?
O que diferencia a BNCC dos outros documentos? Nesse sentido, busca-se discutir essas
questões e os desafios que permeiam o tema, ao mesmo tempo que sua efetivação e
reformulações, enquanto política educacional, vem sendo instaurada e discutidas nestes
últimos anos.
De acordo com a BNCC, na área de Ciências da Natureza:
contemplado de forma firmemente significativa. Essa perspectiva pode ser considerada como
uma ferramenta potencial para ser inserida na prática de ensino do professor de Física, que
pode favorecer o desenvolvimento de habilidades de ensino-aprendizagem, tais como:
de Ciências Naturais. Portanto, essa visão acaba por reforçar um equívoco epistemológico e
cultural, posta de maneira diluída e incipiente, à qual descaracteriza a abordagem
histórico-filosófico e, em termos do currículo e do ensino, ofusca a presença da História e
Filosofia da Ciência, tal qual aponta Martins (2019).
Outro elemento a ser pontuado diz respeito à “ampliação” da carga horária para o
Novo Ensino Médio, tendo em vista que metade da etapa escolar será destinada ao
cumprimento dos requisitos da BNCC, enquanto a outra metade será voltada aos itinerários
formativos, estruturados a partir das grandes áreas do conhecimento citadas anteriormente.
Portanto, a carga horária será de 3.000 horas, sendo 1.800 horas destinadas à formação básica
nas grandes áreas do conhecimento, enquanto as 1.200 horas restantes serão voltadas à
formação técnica e profissional (BRASIL, 2018).
Em contrapartida, vários pesquisadores apontam que a BNCC apresenta certas
fragilidades, tendo em vista que a estruturação do ensino em termos de competências e
habilidades acaba por torná-lo tecnicista e padronizado (MARTINS, 2019). Soma-se a esse
fator a ênfase tecnológica dada pela BNCC na formação dos estudantes, tendo em vista que a
maioria das escolas não possui uma infraestrutura adequada para contemplar esse critério,
uma vez que ainda existe grande escassez de laboratórios para tal inovação tecnológica.
A BNCC teve três versões, sendo que a terceira e última está em vigor para a
orientação da elaboração dos currículos nas escolas públicas. Para uma melhor compreensão
dos pormenores do referido documento, é necessário ater-se à conjuntura política na qual ele
foi formulado, tendo em vista que, à época, diferentes governos com diferentes diretrizes
assumiram as rédeas da Educação no Brasil e alguns “pintaram e bordaram” com a educação
do nosso país, sendo essa última uma pintura desfocada e muito amassada. Em vista disso, a
construção da BNCC não se deu de maneira contínua e linear, mas foi demarcada por um
processo de ruptura que culminou em impactos negativos para toda a Educação (MARTINS,
2019).
Retomando a argumentação sobre a HFC no Ensino de Física, percebe-se que esta
esteve presente na primeira versão da BNCC juntamente com a Física Moderna e
Contemporânea, mas foram omitidas na elaboração da segunda e terceira versões do
documento (MARTINS, 2019). Portanto, a BNCC não apresenta pouco diálogo com os PCN
e, mesmo em sua terceira versão, possui grandes lacunas. A interferência do contexto político
sobre a Educação brasileira não é algo novo, pois o próprio Zanetic (1989) critica tal ação
mesmo à época da ditadura militar.
47
Dessa forma, não se trata afirmar, em momento algum, que a primeira e a segunda
versão da BNCC são superiores à terceira. Trata-se, portanto, de uma diminuição da
relevância da HFC, um importante tópico da Física na formação do estudante, no referido
documento e, consequentemente, nos currículos das instituições públicas e privadas,
principalmente no que se refere à apresentação do conhecimento da área, sobretudo para o
Ensino de Ciências da Natureza (MARTINS, 2019). Se esse posicionamento já devia ser
evidente em outros documentos oficiais, tais como os PCN e o DCRB, na terceira e atual
versão da BNCC agrava ainda mais esse quadro.
Já o DCRB, no caso particular da Bahia, corresponde ao conjunto de diretrizes
orgânicas com vistas a orientar a elaboração e organização curriculares nas redes estaduais de
ensino em consonância com seu PPP. No que se refere ao Ensino de Ciências da Natureza, o
DCRB também está estruturado em termos de competências e habilidades, além de conter as
unidades temáticas apresentadas pela própria BNCC, e sua elaboração deriva diretamente
deste documento.
Compreendido desse modo, o DCRB também enfoca, para o Ensino Fundamental II,
o quesito da interdisciplinaridade, sobretudo para as Ciências, em particular, também com o
propósito de tentar fazer uma ponte entre as áreas. De acordo com o referido documento, os
temas considerados transversais não devem ser trabalhados de maneira isolada somente com
base em uma componente curricular, mas devem perpassar por várias áreas do conhecimento
com igual relevância. Tal questão é posta como um grande desafio à Educação na Bahia, pois
a interdisciplinaridade deve levar em consideração as especificidades de cada área do
conhecimento.
Por outro lado, apesar de o DCRB estar calcado em termos de competências e
habilidades, existe a possibilidade da inserção de elementos relativos à problematização. A
interdisciplinaridade, alinhada à abordagem de temas transversais, têm impactos positivos
para a Educação, tendo em vista que sua execução correta evita a fragmentação curricular.
Apesar de o DCRB e a BNCC serem documentos correlatos, aquele dá maior ênfase à
diversidade que caracteriza o estado da Bahia e este ao Brasil como um todo.
No que se refere ao Ensino de Física, o DCRB traz à tona uma dimensão formativa
baseada na conscientização, seja na compreensão de fenômenos naturais, seja nas
consequências históricas e sociais do conhecimento científico. Ainda sobre a componente
curricular de Física, o documento também preza pela interdisciplinaridade, a fim de
compreender as dinâmicas dos processos relativos às Ciências Naturais com ênfase na
contextualização sócio-histórica-cultural e ambiental.
48
Quais os desafios impostos pelo Novo Ensino Médio na prática docente do professor
de Física? O livro didático ainda continua um desafio na prática do professor de Física? A
quantidade de horas/aulas é um fator a ser considerado? Por quê? Essas e outras perguntas
circundam a prática de ensino de Física do professor no que diz respeito ao Novo Ensino
Médio, tanto os professores mais velhos das redes de ensino quanto os que ainda estão em
fase de formação e os que são recém formados.
Dentre os desafios que se pode citar no caso do professor de Física, e de Ciências da
Natureza e suas Tecnologias em geral, é válido o pensamento de Ostermann e Rezende (2021,
p. 1383):
Pode-se reparar que não há um desafio maior ou menor, ou um problema único como
sendo o principal da disciplina de Física no Novo Ensino Médio, pois a maneira de olhar para
essa atual organização pode variar de pesquisador para pesquisador, ou até mesmo de
professor para professor e de estudante para estudante. Há aqueles que concordam e os que
não concordam. Mas para cumprir com os objetivos dessa pesquisa, há alguns problemas que
merecem ser descritos de forma clara (MACEDO, 2022; RIBEIRO, 2022; DOMICIANO,
ADRIÃO, 2022; MONTEIRO, 2022; MORAES, 2022), como:
I. Carga horária reduzida: como a reforma do Ensino Médio prevê a flexibilização do
currículo escolar, isso acaba levando a uma redução na carga horária de algumas
disciplinas, como no caso da Física. Esse fato torna muito difícil o professor de Física
fazer uma abordagem de todo o conteúdo programático, além de prejudicar a
compreensão dos conceitos, descritos na própria BNCC, pelos estudantes.
II. Falta de infraestrutura adequada: o Novo Ensino Médio objetiva a utilização de
recursos e tecnologias digitais, a realização de experimentos e o uso de simulações de
fenômenos naturais, no entanto, inúmeras escolas públicas, como dito brevemente
anteriormente, ainda têm limitações em sua infraestrutura, como falta de salas de
informática, a falta de laboratórios e de equipamentos básicos para o ensino de Física.
50
III. Formação de professores: é importante dizer também desse problema, pois para que
seja de fato implementado os objetivos mais basilares da proposta da reforma do
Ensino Médio os professores de Física precisariam ser capacitados em prática de
laboratórios direcionados à educação básica, ao uso de novas metodologias de
ensino-aprendizagem, de tecnologias e quanto ao uso de equipamentos para o ensino
de Física. Caso contrário, a formação básica de professores, a depender da grade
curricular de sua formação, pode ser incompleta ou até mesmo inadequada em
algumas regiões do país para corresponder de fato com os propósitos do Novo Ensino
Médio. E junto a isso, as formações continuadas no geral não correspondem com
essas capacitações necessárias e podem ser insuficientes.
IV. Desigualdade social e exclusão escolar: a flexibilização proposta pela reforma do
currículo tem levado a uma maior desigualdade no acesso e na permanência ao
conhecimento escolar, isso porque nem todos os alunos têm as mesmas oportunidades
de aprender sobre a Física. Além disso, com a implementação das escolas de tempo
integral em várias regiões tem gerado uma exclusão escolar, fazendo com que muitos
estudantes que precisam trabalhar para ajudar no sustento de casa saem das escolas.
Isso tem agravado intensamente as desigualdades socioeconômicas existentes entre as
escolas públicas e privadas, por exemplo.
Esses são apenas alguns exemplos dos problemas trazidos pelo Novo Ensino Médio
em relação à disciplina de Física a partir de uma análise do esboço documental que o
regulamenta. No entanto, é importante deixar claro que assim como têm pessoas contra a
reforma do Ensino Médio existem pessoas a favor e as diversas análises podem variar, mas é
válido pontuar que existem muitos desafios a serem enfrentados na educação básica em geral.
Nessa perspectiva, além desses problemas impostos pela reforma do Ensino Médio, há ainda
problemas emergentes (MOREIRA, 2017; 2018; 2021a; 2021b), que fazem com que a prática
do professor de Física fique sobrecarregada em uma forma de ensino médio que intensifica
ainda mais os problemas no ensino da Física, tais como:
I. Abstração de conceitos: a Física trabalha com conceitos complexos e básicos, dentre
estes os conceitos abstratos podem ser de difícil compreensão para muitos estudantes.
A exemplo disso, a natureza das ondas eletromagnéticas ou a dualidade onda-partícula
da luz em Física Moderna.
II. Domínio matemático: como a Física usa modelos matemáticos como principal
ferramenta para descrever os fenômenos físicos/naturais, muitos estudantes têm
51
Como se pode ver, além desses problemas emergentes, o Novo Ensino Médio trouxe
ainda mais, tornando a disciplina de Física como um baú cheio de desafios, dificultando a
prática de ensino do professor de Física.
Além do exposto, outros desafios que o professor de Física se depara no Novo Ensino
Médio são: currículo voltado à formação técnico-profissional; caráter minimalista da Física
no fazer docente; uma preparação disfarçada para o mercado sem levar em conta os interesses
dos alunos; pouca ou quase nenhuma oferta e escolha do itinerário formativo de Ciências da
Natureza e suas Tecnologias para e pelos alunos; restrição da oferta dos itinerários
formativos, representando um empobrecimento da formação básica de nível médio que tanto
a nova legislação do Ensino Médio “prega”. Tudo isso se configura como um grande desafio
para os professores de Física mostrarem a importância de ensinar e aprender Física no Ensino
Médio e o Novo Ensino Médio, como pôde ser visto até o presente momento, potencializa
fortemente esse desafio.
Moreira (2017; 2018; 2021a; 2021b) elaborou uma série de artigos que evidenciam os
grandes desafios no ensino de Física na educação contemporânea. Nas palavras do autor:
52
Além da falta e/ou despreparo dos professores, de suas más condições de trabalho,
do reduzido número de aulas no Ensino Médio e da progressiva perda de identidade
da Física no currículo nesse nível,o ensino da Física estimula a aprendizagem
mecânica de conteúdos desatualizados. Estamos no século XXI,mas a Física
ensinada não passa do século XIX.
1. Continua se ocupando das alavancas, do plano inclinado, do MRU,.. e nada
de Quántica, de Partículas, de Plasma, de Supercondutividade,...
2. Treina para os testes, ensina respostas corretas sem questionamentos.
3. Está centrado no docente, não no aluno.
4. Segue o modelo da narrativa.
5. É comportamentalista.
6. É do tipo“bancário”(tenta depositar conhecimentos na cabeça do aluno).
7. Se ocupa de conceitos fora de foco.
8. Não incentiva a aprendizagem significativa.
9. Não incorpora as TICs.
10. Não utilize situações que façam sentido para os alunos.
11. Não busca uma aprendizagem significativa crítica.
12. Não aborda a Física como uma ciência baseada em perguntas, modelos,
metáforas, aproximações.
13. Em geral, é baseado em um único livro de texto ou em uma apostila.
Em resumo, o ensino da Física na educação contemporânea é desatualizado
em termos de conteúdos e tecnologias, centrado no docente,
comportamentalista, focado no treinamento para as provas e aborda a Física
como uma ciência acabada, tal como apresentada em um livro de texto
(MOREIRA, 2017, p. 2 - 3).
Pelos apontamentos do autor, há ainda mais desafios além dos que foram elencados
anteriormente que reemergem e que emergiram com o Novo Ensino Médio. E, além disso, o
autor ainda tece mais desafios, que são:
Dessa forma, com o Novo Ensino Médio, os desafios se tornaram um imenso oceano
que compromete a prática de ensino do professor de Física e não contribui com a formação
dos estudantes. Além disso, o autor, com renome na área de Ensino de Física, aponta que o
ensino de Física no Brasil está em grave crise, desatualizado, minimizado, desvalorizado e
que há uma forte desvalorização da carreira docente na educação básica no Brasil, mas
também deixa claro a falta de comprometimento de muitos professores da educação básica
para com a pesquisa, em ler artigos, em se atualizar e ainda mais no Novo Ensino Médio que
o professor de Física é renegado em sua prática (MOREIRA, 2018).
53
Moreira (2021a) deixa claro também em suas pesquisas que é necessário, por parte
dos professores de Física, promover uma dialogicidade e terem um certa criticidade em
relação ao seu trabalho e que “É claro que há desafios nesse sentido, mas o ensino da Física
tem que dar conta de vários desafios “antigos”, “clássicos”, se o objetivo for aprendizagem da
Física com significado, compreensão e interesse” (MOREIRA, 2021a, p. 7). É importante
dizer ainda que os desafios maiores não são direcionados somente aos professores, como se
tudo dependesse deles, mas muitos dos problemas são advindos da própria legislação
educacional (MOREIRA, 2021b).
54
descrição da prática de ensino de Física dos professores frente ao Novo Ensino Médio e suas
experiências didático-pedagógicas na prática docente (SEVERINO, 2007; APOLLINÁRIO,
2011). Nessa perspectiva, a produção dos dados dessa pesquisa é feita de forma exploratória
que, consequentemente, implica na análise e investigação profunda dos mesmos, em que é
necessário uma metodologia eficiente, como é o caso da Análise de Conteúdo, que é
empregada para analisar os dados obtidos nessa pesquisa.
Para a produção dos dados de uma pesquisa qualitativa, pode-se usar métodos como:
entrevista individual, em que o pesquisador entra em contato direto com o entrevistado e é
uma abordagem pessoal, podendo ser conversacional, estruturada ou semiestruturada; grupos
focais, voltado a obtenção de informações via reuniões em grupo, essas três últimas formas
podem ser gravadas ou não, por meio de vídeo, áudio ou fotografias para registro multimídia;
pesquisa documental, um processo de análise de documentos para obter informações
relevantes sobre um tema; pesquisa etnográfica; aplicação de questionário, que visa aplicar
um formulário de perguntas sobre um tema específico em que pode-se ou não ser de forma
presencial. A partir dessa exposição, a presente pesquisa utiliza-se de uma entrevista
semiestruturada para a obtenção dos dados para a análise via Análise de Conteúdo.
Autores como Flick (2009), apontam que a pesquisa qualitativa é crucial e
necessária para uma abordagem na pesquisa social. Para o autor, a pesquisa qualitativa possui
aspectos essenciais em sua prática, a saber: apropriação de métodos, metodologia e teorias
(exploração, análise de conteúdo, prática de ensino de Física); perspectiva dos participantes e
suas diversidades (Como se configura a prática de ensino? O que pensam os professores
sobre o atual contexto da Física no Novo Ensino Médio?); reflexões do pesquisador e as
implicações da pesquisa (O atual modelo de Ensino Médio vem contribuindo para uma
“qualidade” da educação e em particular com o Ensino de Física? O que essa pesquisa pode
retornar a sociedade?); variedades de abordagens e de métodos na pesquisa (Entender o
contexto profissional e acadêmico dos professores). Essas são ideias metodológicas centrais
que orientam essa pesquisa qualitativa.
Tabela 1: Catalogação dos colégios estaduais de Ensino Médio Regular em atividade de Vitória da Conquista11
11
É importante deixar claro que essa tabela é fruto do resultado retornado pelo site de Pesquisa Escolas do
Sistema Escolar/Unidade Responsável: Coordenação de Legislação Escolar, se há alguma unidade inativa ou
que não corresponde ao projeto e modalidade de ensino supracitados trata-se de uma desatualização da base de
dados do sistema. Além disso, trata-se, de acordo com o sistema, de unidades de ensino médio, parcial, algo que,
ao analisar diretamente com algumas unidades, elas já se encontram em tempo integral, sendo de tempo parcial
apenas no período noturno.
12
Essa unidade trabalha também na perspectiva das Comissões Permanentes de Avaliação (CPA), sendo uma
unidade certificadora que objetiva promover o aumento do nível de escolaridade da população baiana através de
provas de certificação. Uma apresentação mais detalhada pode ser encontrada em:
https://cpadigital.educacao.ba.gov.br/. Acesso em: 15 marc. 2023.
58
13
Sobre o Ensino Médio com educação profissional, a SECBA tem uma apresentação da modalidade em:
http://escolas.educacao.ba.gov.br/educacaoprofissional1. Acesso em: 15 marc. 2023.
59
14
Tendo conhecido essa unidade na época do Estágio Supervisionado da Graduação, Licenciatura em Física, em
meados de 2021, essa unidade já se encontra em tempo integral no período diurno e em tempo parcial somente
no período noturno. De modo que já passou a ter outra denominação, a saber: COLÉGIO ESTADUAL DO
CAMPO DE EDUCAÇÃO INTEGRAL JOSÉ GONÇALVES (CECEIJG).
15
Trata-se de uma uma iniciativa da SECBA para promover uma ampliação da jornada escolar e a diversificação
do currículo dos alunos, buscando cumprir com o papel da extensão escolar. As atividades desenvolvidas pelo
projeto são realizadas de forma lúdica em ambientes interativos, a exemplo de atividades culturais e de acesso
ao conhecimento científico, como cursos, eventos e oficinas e são destinados a alunos do 9º ano do ensino
fundamental ao 3º ano do ensino médio. Atualmente existem nove unidades no Estado, a saber: Salvador,
Senhor do Bonfim, Vitória da Conquista, Barreiras, Feira de Santana, Irecê, Itabuna, Jequié e Serrinha. Para
saber mais do projeto: http://escolas.educacao.ba.gov.br/centros%20juvenis. Acesso em: 15 marc. 2023.
Há uma página que contém informações sobre esse modelo de educação em Vitória da Conquista - Bahia.
Disponível em: http://escolas.educacao.ba.gov.br/centrojuvenilconquista. Acesso em: 15 marc. 2023.
16
Sobre a formação com intermediação tecnológica é uma oferta da SECBA por meio de ferramentas e serviços
multimídia e de comunicação como uma alternativa didático-pedagógica, onde não tem oferta do Ensino Médio
e muito menos de professores com formação específica, para jovens e adultos que residem em localidades de
difícil acesso. Disponível em: http://pat.educacao.ba.gov.br/emitec. Acesso em: 15 marc. 2023.
17
Sistema disponível em: http://www.sec.ba.gov.br/siig/sistemaescolar/asp/pesquisaEscola/pesquisaescola.asp.
Acesso em: 14 marc. 2023.
60
fazem parte do município. Dessas unidades escolares, são escolhidos cerca de 4 colégios,
principalmente os de bairros periféricos da cidade, com o intuito de encontrar professores
concursados na disciplina de Física no estado, pois esses bairros precisam de valorização,
principalmente no que diz respeito à educação, infraestrutura e segurança. Além disso, nesses
bairros, longe de toda agitação e florestas de pedras da região central, é que há uma fonte
inesgotável de cultura, de sensibilidade e aprendizado e que nesses bairros, juntamente com
as escolas, há muitos saberes e geração de valor aos mais diversos significados do mundo.
Do exposto acima, se tratando de colégios de bairros periféricos, são escolhidos os
seguintes: o Colégio Estadual Dom Climério Almeida de Andrade (CEDOCAA) e o Colégio
Estadual Padre Luiz Soares Palmeira (CEPLSP). Também são escolhidos dois colégios da
região rural de Vitória da Conquista, a saber: Colégio Estadual do Campo de Educação
Integral José Gonçalves (CECEIJG); e o Anexo - Colégio Polivalente de Vitória da Conquista
- distrito de Pradoso (CPVC). A escolha de dois colégios da região urbana e dois colégios da
região rural é com o intuito de fazer uma comparação entre eles.
Diante o exposto, para a coleta dos dados da pesquisa, será utilizado um instrumento
muito comum nas pesquisas em Educação: entrevista semiestruturada (OLIVEIRA et al.,
2016). Nesse sentido, esse instrumento será aplicado a professores da cidade de Vitória da
18
Site disponível em: http://www2.uesb.br/geppce/. Acesso em: 17 marc. 2023.
19
A Prática Educativa como Prática Social e Cultural.
62
Conquista para análise das experiências docentes diante do contexto da Física no Novo
Ensino Médio, seus impactos pedagógicos e suas implicações no ensino.
Tendo em vista a entrevista semiestruturada como instrumento para a coleta de
dados desta pesquisa, as questões são elaboradas considerando um roteiro e o atual contexto
do Ensino Médio, isto é, o Novo Ensino Médio, e suas implicações no ensino de Física e as
experiências docentes, seguindo o modelo de Lima (2019), com perguntas que dão margem a
respostas amplas, possuindo, assim, características peculiares de uma entrevista
semiestruturada, com vistas a obter respostas completas, conforme roteiro apresentado a
seguir.
IDENTIFICAÇÃO DO ROTEIRO
Entrevistador ________________________________________________________
Entrevistado ________________________________________________________
Data ____/____/____ (___________) Local _______________________________
Recursos ___________________
BLOCO 1: Apresentar a
A ética na entrevista proposta de pesquisa
ao colégio na
direção e
coordenação, após
isso, apresenta ao
professor e verificar
com o mesmo a
possibilidade de
participar da _____________ _____________
pesquisa. Apresentar
do que se trata a
pesquisa e dos
preceitos éticos e
morais que fazem
parte da proposta.
Esclarecer possíveis
dúvidas e seguir
com a entrevista.
A estrutura escolar é
um fator importante
a ser considerado
quando se trata de
disciplinas de
64
Ciências da
Natureza? Por que?
BLOCO 4: Saber das Fale das O colégio em que
Experiência com a experiências obtidas experiências obtidas atua tem uma
estrutura escolar ao exercer sua ao exercer sua estrutura adequada
prática de ensino nos prática de ensino nos para as aulas de
colégios estaduais e colégios estaduais e Física? Tem
como a estrutura como a estrutura laboratórios ou sala
escolar pode estar escolar pode estar de informática? Se
relacionada com relacionada com não têm, quais os
essa ação. essa ação. prejuízos que essa
falta traz à sua
prática e à formação
dos estudantes?
Quais foram os
desafios encontrados
em sua prática de
ensino em relação à
estrutura do colégio
em que atua?
Em relação ao Novo
Ensino Médio,
considerando o
currículo de Física e
a matriz curricular
da Bahia, o que você
pode dizer a
respeito? O que você
pode dizer sobre a
quantidade de
horas/aulas para a
Física? É o
BLOCO 5: Saber da experiência Diga sobre a suficiente para
Experiência da de execução da experiência de promover um
Prática de Ensino de prática de ensino de execução da sua ensino-aprendizage
Física no Novo Física do prática de ensino de m significativo?
Ensino Médio participante e a Física e a relação Como tem sido sua
relação com o que teve com o experiência após a
currículo escolar, a currículo escolar, a aprovação do Novo
relação com o aluno relação com o aluno Ensino Médio?
e os desafios com o e os desafios com o Quais os desafios
Novo Ensino Médio. Novo Ensino Médio. encontrados? E a sua
relação com os
alunos antes e após
o Novo Ensino
Médio, diga como
era e o que mudou?
A sua escola
65
fornece
itinerários que
compreendem
a área de
Ciências da
Natureza?
Quais
itinerários? Por
que?
Quem tomou a
decisão de
quais itinerários
seriam
fornecidos aos
alunos foram os
professores da área
de Ciências da
Natureza ou a
direção e
coordenação?
Qual o papel do
Professor de Física
nos itinerários
formativos
oferecidos pelo
colégio? No geral,
qual o verdadeiro
papel do professor
de Física?
Para a coleta de dados a partir do roteiro, a entrevista foi gravada via uso de celular
para posteriormente proceder com a escuta atenciosa e a transcrição da mesma.
2.5 Os entrevistados
muito mais do que os professores concursados que geralmente tem sua prática em um único
colégio. Já o professor formado em Física, concursado, com experiência no estado, tem mais
possibilidade de contribuir sobre as mudanças que têm sofrido com o Novo Ensino Médio na
sua prática em sua instituição.
Com o intuito ético de manter a identidade dos participantes da pesquisa, foram
atribuídos nomes aleatórios aos mesmos.
pesquisa e que a mesma segue os padrões da ética em pesquisa, em seguida deu início às
questões da entrevista.
Na terceira entrevista, o entrevistado se mostrou muito motivado em participar e
contribuir com a pesquisa. Lhe foi descrito sobre os objetivos da pesquisa e o mesmo se
sentiu confiante em participar. A última entrevista, com outro professor, ocorreu tal como foi
com os demais.
Podemos, pois, dizer que o aspeto mais importante da análise de conteúdo é o facto
de ela permitir, além de uma rigorosa e objetiva representação dos conteúdos ou
elementos das mensagens (discurso, entrevista, texto, artigo, etc.) através da sua
codificação e classificação por categorias e subcategorias, o avanço (fecundo,
sistemático, verificável e até certo ponto replicável) no sentido da captação do seu
sentido pleno (à custa de inferências interpretativas derivadas ou inspiradas nos
quadros de referência teóricos do investigador), por zonas menos evidentes
constituídas pelo referido contexto ou condições de produção.
68
A AC, defendida por Bardin (2011), é pautada em três etapas, que são elas: a pré
análise, a exploração do material e o tratamento/interpretação dos dados. A pré-análise é a
organização do material a ser aplicado e a construção das questões de interesse da pesquisa,
as quais guiarão o pesquisador na busca por respostas, trata-se de ouvir as gravações das
entrevistas e realizar a transcrição das mesmas de forma integralmente fiel e cuidadosa,
respeitando cada pausa e cada suspiro dos participantes. A pré-análise possui quatro partes
divididas da seguinte forma: leitura flutuante, que é a leitura das respostas da entrevista;
escolha de materiais; criação de hipóteses; análise de indicadores repetitivos nas respostas
obtidas com a entrevista. A exploração do material consiste na codificação (BARDIN, 2011)
que ajudará a identificar da melhor forma os dados e a criar um contexto de análise ainda
mais consistente. O tratamento/interpretação dos dados ajudará a refinar os dados obtidos.
Após a aplicação das três etapas, a descrição detalhada dos dados selecionados é
fundamental para que se tenha um entendimento do contexto na qual está pautado o objeto de
pesquisa. A isso, a discussão e interpretação dos dados para emitir, além das entrelinhas,
como se comporta o caso analisado, as experiências docentes dos entrevistados.
Como descreve Santos e Crusoé (2019), na AC a codificação referida acima se pauta
na interpretação do pesquisador pelas informações prestadas pelo pesquisado, e que a todo
instante esse processo pode estar sujeito a adaptações e modificações que forem necessárias
para dar continuidade a pesquisa.
Ademais, a AC, além de codificar, ela decodifica os dados e leva a uma
compreensão significativa dos dados investigados. Conforme Bardin (2011, p. 9) a AC
“absolve e cauciona o investigador por esta atração pelo escondido, o latente, o não-aparente,
o potencial de inédito (do não-dito) retido por qualquer mensagem”. Conforme descrito até
aqui, a AC é uma análise e interpretação significativa do objeto de pesquisa a ser investigado,
permitindo um entendimento profundo dos dados. Nesse sentido, no próximo capítulo, o
capítulo de análise da pesquisa, será descrita a organização dos dados, a análise e discussão
dos dados coletados.
69
Falaram sobre a
experiência formativa
Currículo com o currículo da
Disciplinas formação inicial em
Experiência Formativa Formação Inicial Licenciatura em
Licenciatura em Física Física; sobre
Pós-Graduação disciplinas e sobre
Formação Continuada formação continuada.
Frase
Relataram sobre a
experiência docente
Estrutura Escolar com a estrutura
Formação dos Estudantes escolar e com a
Experiência Docente Novo Ensino Médio formação dos
Itinerários Formativos estudantes; sobre a
Prática de Ensino de Física experiência com os
Papel do Professor de Física itinerários formativos
e a experiência da
prática de ensino de
Física e o papel do
Professor de Física na
formação escolar e
cidadã dos estudantes.
Fonte: Autoria própria.
Abaixo é descrito como foi feito o processo de análise e discussão dos dados
coletados.
70
Após realizar as entrevistas e para dar início à análise das falas, iniciou-se a primeira
etapa do processo de Análise de Conteúdo e interpretação dos dados, que foi ouvir
cuidadosamente o que foi dito pelos professores e transcrevendo as falas. O objetivo da
transcrição, atenta e minuciosa, de cada frase, pausa, suspiros e pontuações, se refere à
importância de compreender as práticas (LIMA, 2019), levando em consideração os
conceitos de experiência na formação inicial, experiência na formação continuada,
experiência com a estrutura escolar e a experiência da Prática de Ensino de Física no Novo
Ensino Médio.
De acordo com Lima (2019, p. 55 - 56):
Seguindo os passos tomados por Lima (2019), a partir da fase inicial de interpretação,
é viável incluir os autores que provavelmente serão utilizados na análise. Em seguida, com o
auxílio do Google Docs, tornou-se possível selecionar o texto e atribuir um código único
(cor) a cada entrevistado, a fim de diferenciá-los durante a construção da matriz conceitual
(LIMA, 2019).
Posteriormente, foi o momento de listar os temas extraídos da leitura vertical e
organizá-los de forma lógica, que levou a estruturar, assim, a matriz preliminar. Optou-se por
abordar inicialmente um aspecto de matriz conceitual e escolhemos a frase como unidade de
sentido (LIMA, 2019). Dessa forma, os critérios adotados pela análise de conteúdo nesse
processo cognitivo para a estruturação da matriz conceitual, revelando a compreensão de
cada categoria, conforme apresentado a seguir:
I. Experiência Formativa: apresentar a experiência formativa dos docentes com
o currículo da formação inicial e discutir junto a Prática de Ensino de Física na
Educação Básica.
II. Experiência Docente: descrever e discutir as experiências da Prática de
Ensino de Física dos docentes face ao Novo Ensino Médio. Além disso,
apresentar e discutir à luz de referenciais da área de ensino de Física e ensino
de Ciências a subcategoria que pode ser explorada a partir dos relatos dos
71
Formar professores de Física vai muito além de ensinar a Física dita como “dura”,
com um currículo teórico e calculista do bacharelado, é, com certeza, apresentá-lo às teorias
educacionais, as teorias e práticas de ensino que irá lhe dar suporte para um prática
pedagógica significativa na educação básica.
Diante disso, nas palavras do entrevistado Sócrates, ao falar sobre o currículo de sua
formação inicial, afirma que: “O currículo da época [...] foi um currículo mais voltado para o
72
[...], para mim foi uma dificuldade porque a gente não estava sendo preparado para encarar
uma sala de aula e o grande problema é para você trazer as metodologias mais atuais [...] para
o ensino de Física” (ENTREVISTADO PLATÃO, 2023) o entrevistado ainda relata da
necessidade de maior aplicação nas disciplinas de ensino que a sua formação não fez, a saber:
“Então, talvez por falta de conhecimento nosso, falta de aplicação nas matérias da área de
ensino, que a gente teve pouco também, mas, [...] a gente teve muita dificuldade nessa área
porque a gente pensa que só basta saber Física para poder ensinar Física e não é assim que
funciona” (ENTREVISTADO PLATÃO, 2023).
Percebe-se uma preocupação do entrevistado Platão em relação a falta de aplicação e
aprofundamento de sua formação nas disciplinas da área de ensino e educação e preocupação
em relação ao conhecimento das metodologias modernas para a sua prática de ensino de
Física que a sua formação inicial não o proporcionou. Relacionando o exposto ao Novo
Ensino Médio, a necessidade de conhecimento de metodologias mais atuais, de conhecimento
pedagógico e o conhecimento tecnológico se faz inteiramente necessário, algo que, as
formações dos dois entrevistados não os proporcionou, ficando assim, despreparados ainda
mais para atuação na educação básica em especial no Novo Ensino Médio.
Quando se trata de uma formação de professores, a formação dos docentes do curso é
também algo que deve ser levado em conta pois estão formando para a licenciatura, assim, a
maioria dos docentes, aparentemente, devem ser licenciados, no entanto, pela experiência dos
entrevistados, consta que para o entrevistado Sócrates ao dizer que: “Eu acredito que alguns
eram bacharéis, [...]” (ENTREVISTADO SÓCRATES, 2023) e que para o outro entrevistado:
“[...] alguns eram bacharéis, [...] mas a maioria tinha licenciatura, já tinha um mestrado,
doutorado e alguns ainda estavam na fase de qualificação [...]” (ENTREVISTADO PLATÃO,
2023). Mesmo que, de acordo com os entrevistados, havia um bom número de licenciados, na
época de suas formações, isso não refletia no que deveria ser o real objetivo da licenciatura: a
formação de professores. Pois, pelos relatos dos entrevistados, a formação que eles estavam
recebendo estava sendo como um subproduto do Bacharelado, algo que de acordo com
Barone (2008) é um diálogo e uma prática muito comum no meio acadêmico da área de
Física.
Como uma formação de professores, a licenciatura deve proporcionar aos seus
licenciandos uma imersão nos conteúdos pedagógicos, nas diversas metodologias de
ensino-aprendizagem e nos conhecimentos das práticas de ensino que os futuros profissionais
irão desenvolver. Nesse sentido, ao serem questionados sobre a oferta de disciplinas
direcionadas ao ensino de Física, o entrevistado Sócrates relatou que: “Sim. Teve uma
74
disciplina, eu não me recordo, mas era a história da física, [...] teve as disciplinas de Física I,
II, III e IV, que direciona bem para esse conteúdo que a gente trabalha [...]”
(ENTREVISTADO SÓCRATES, 2023), percebe-se que não houve relação direta com
disciplinas da educação como Didática, Estrutura e Funcionamento da Educação Básica,
Prática de Ensino de Física, que são eletivas potencialmente relevantes numa formação de
professores de Física. O entrevistado Platão, por outro lado, afirmou que: “[...] a gente teve
na área de metodologia de ensino de Física, instrumentalização com o ensino de física, fora o
estágio também né, que contribuiu nesse sentido” (ENTREVISTADO PLATÃO, 2023), que
vai mais na direção das disciplinas da parte pedagógica do curso, mas que, pelo relato dado
pelo entrevistado anteriormente, ainda assim não o preparou para a Educação Básica.
Ainda na perspectiva da experiência formativa, ao questionar sobre a suficiência das
disciplinas da área de ensino para a formação, o entrevistado Sócrates relatou que: “Para
aquele momento sim, [...] contribuiu bastante. E eu acho que para o momento atual não seria
não. Não seria de jeito nenhum. Não ia contemplar essa galera hoje mais moderna [...]”
(ENTREVISTADO SÓCRATES, 2023). Já o entrevistado Platão afirmou que foi: “[...] muito
pouco, porque eu acho que também era uma carência da universidade [...]”
(ENTREVISTADO PLATÃO, 2023). O entrevistado ainda chamou atenção ao fato de que, na
época: “[...] não tinha muito professor especializado [...] na área, por exemplo a disciplina
didática mesmo foi muito aquém [...]. Eu penso que deveria ter um foco maior na área de
ensino de Física” (ENTREVISTADO PLATÃO, 2023).
O entrevistado Demócrito, sobre sua formação inicial, a relação com o currículo e os
direcionamentos deste para sua prática de ensino de Física, relatou que:
Todavia, o entrevistado deixa claro que apesar disso, faltou muita abordagem
pedagógica na sua formação, ao dizer que “a grade antiga não tinha disciplinas o suficiente
para embasar a parte pedagógica do de ensino da física” (ENTREVISTADO DEMÓCRITO,
2023), ou seja, a base pedagógica que recebeu em sua formação inicial não foi
necessariamente dada pelo seu curso, mas sim, pelo PIBID. Isso fica ainda mais evidente, de
modo que o entrevistado afirma que: “Faltava uma transição entre a física estudada na
universidade e a física ensinada no ensino médio, ou maneiras de ser abordada para os alunos
do ensino médio. Isso foi aprendido na prática, com tentativas, erros e acertos”
(ENTREVISTADO DEMÓCRITO, 2023), isto é, foi a prática em sala de aula que lhe
permitiu entender melhor a prática docente e desenvolver uma prática de ensino de Física que
não conseguiu ao longo de sua formação inicial.
Ao ser questionado sobre disciplinas direcionadas a prática de ensino de Física, o
entrevistado relatou que:
Pode-se perceber que o docente teve tal disciplina que lhe permitiu conhecer
experimentos para direcionar, parcialmente, a sua atuação na Educação Básica. Algo que,
atualmente, não tem mais esta disciplina na grade, sendo trocada pelas Práticas de Ensino de
Física, que elaboram experimentos da Física básica universitária, mas sem relação direta para
atuação na Educação Básica. O entrevistado ainda relatou que teve outras disciplinas voltadas
à educação, mas de foco geral, sem direcionamento ao ensino de Física, afirmou que: “As
demais eram na área de educação, mas de abordagem geral. Contribuíram bastante, mas
poderiam ser mais. Como era na grade antiga não tinha tantas disciplinas nesta área”
(ENTREVISTADO DEMÓCRITO, 2023). Sobre a relação com os professores, o entrevistado
afirmou ter passado por boas convivências com os professores ao longo da sua formação
inicial.
Ao questionar o entrevistado Arquimedes sobre sua formação inicial, o mesmo
respondeu que:
[...] foi realmente difícil, né?! O curso de Física da UESB, quando eu estudei,
sempre foi um curso, por mais que seja licenciatura, é um curso mais focado em
76
Fica, então, evidente, assim como relatado pelos outros entrevistados, que o curso, em
que ambos fizeram, não os prepararam para a sala de aula da Educação Básica.
Sobre relação com o currículo, o entrevistado respondeu que: “o currículo da
universidade era mais voltado ao bacharelado do que para a licenciatura” (ENTREVISTADO
ARQUIMEDES, 2023). Reforça o que os demais entrevistados relataram. E a relação com os
professores, afirmou que foi extremamente bom.
Nesse ínterim de experiência formativa, a licenciatura deve proporcionar uma
experiência de resiliência aos seus formandos, uma capacidade de conseguir se ajustar às
demandas da sua profissão, que ele possa se transformar à medida que os desafios forem
surgindo. A isso, Silva e Bastos (2012, p. 152), afirmam que:
[...] no processo formativo dos professores, a formação inicial é uma das fases do
desenvolvimento profissional e que, por isso, possui algumas limitações cujos
impactos têm imposto a necessidade da criação de oportunidades de formação
continuada. Tais oportunidades podem auxiliar na minimização de algumas
“dívidas” oriundas da fase inicial e, além disso, elas possuem um importante papel
na qualificação profissional dos docentes que estão relacionadas com os avanços do
conhecimento científico [...].
77
O entrevistado Sócrates afirmou também que, quanto aos subsídios junto a sua prática
de ensino de Física, essas formações não lhe deram nenhum e que não trouxeram implicações
dessas formações em sua prática de ensino. Já o entrevistado Platão afirmou que:
[...] essas qualificações foram muito importantes porque muitos recursos a gente
não tinha sequer conhecimento que existiam. Então, eles propiciaram que a gente
tivesse acesso a esses recursos e além do acesso houve também a questão de como
utilizá-los, [...] houve discussões sobre como utilizá-los e isso ajudou muito a nossa
prática pedagógica (ENTREVISTADO PLATÃO, 2023).
Isso se deve, evidentemente, ao fato de que em seu colégio são feitas formações
continuadas além das formações fornecidas pela SECBA, que, por sua vez, consegue sanar o
que as da SECBA não conseguem.
Sobre a formação continuada, o entrevistado Demócrito afirmou com veemência que:
As propostas apresentadas pela SEC são muito boas, o problema está na aplicação.
A forma como as formações acontecem não são favoráveis ao trabalho, e a própria
aplicação muitas vezes foge à ideia da proposta, que seria a formação continuada
como suporte para o trabalho em sala (ENTREVISTADO DEMÓCRITO, 2023).
Fica claro, na fala do entrevistado, que as formações oferecidas pela SECBA além de
não contribuir para sua prática, evidencia uma contradição ao generalizar os estudantes e não
considerar fatores regionais e culturais como parte da formação escolar.
Sobre as implicações dessas formações em sua prática, o entrevistado respondeu que:
Nas que ocorreram em 2019, meu primeiro ano de concursado, questões acerca do
novo ensino médio foram de maior proveito, visto que era novidade, e em minha
formação acadêmica nem existia isso ainda. Além disso, era só reafirmação do que
79
Nessa primeira instância, cabe às instituições de ensino superior, que oferecem cursos
de formação de professores, acabar com a ideia de que a Licenciatura é um mero subproduto
do Bacharelado, acabar com essa bacharelização das licenciaturas, destiná-las à verdadeira
formação de professores, formando professores qualificados e com competências
didático-pedagógicas para atuação na educação básica. Esse movimento é urgente e não
atinge somente as Ciências Exatas e Naturais, atinge também as Ciências Humanas. Mas não
somente isso, cabe ao Estado oferecer formações continuadas de qualidades e que sejam
condizentes com as necessidades pedagógicas dos professores e da Educação Básica no geral.
E só isso não é o suficiente, ou seja, que isso não seja entendido como um direcionamento
excepcional ao Novo Ensino Médio, pois numa segunda instância, deve-se haver uma
formação dos professores que os capacitem para trabalhar no ensino médio, pois muitas vezes
não estão preparados para lidar com as mudanças que lhes são impostas (MORAES, 2022),
e/ou, ainda, uma revogação, ou uma potente e substancial reformulação desse ensino que não
condiz com a realidade dos estudantes, com as formações dos professores e com a realidade
da escola brasileira em si.
Diante do exposto dessa seção, no próximo item, quanto às experiências docentes,
ficará ainda mais evidente a necessidade de formação, de estrutura e de como é necessário ter
uma educação de acordo com a realidade da escola brasileira.
que simplesmente palavras. E, por isso, as lutas pelas palavras, pelo significado e
pelo controle das palavras, pela imposição de certas palavras e pelo silenciamento
ou desativação de outras palavras são lutas em que se joga algo mais do que
simplesmente palavras, algo mais que somente palavras. [...] Poderíamos dizer, de
início, que a experiência é, em espanhol, “o que nos passa”. Em português se diria
que a experiência é “o que nos acontece”; em francês a experiência seria “ce que
nous arrive”; em italiano, “quello che nos succede” ou “quello che nos accade”; em
inglês, “that what is happening to us”; em alemão, “was mir passiert”. A
experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se
passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas,
porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece. Dir-se-ia que tudo o que se
passa está organizado para que nada nos aconteça (BONDÍA, 2002, p. 21).
A experiência é tudo aquilo que nos acontece, que nos promove vivências e
transformações das nossas ações, das nossas práticas, que nos faz viver diferentes situações e
com elas diferentes expressões e sentidos.
Quando se trata da experiência docente em relação a estrutura escolar, é importante
frisar que o Novo Ensino Médio impõe uma necessidade de alta estrutura e recursos para
cumprir alguns dos seus objetivos, no entanto, como é de conhecimento da sociedade que
nem toda escola pública no Brasil tenha plenas condições estruturais e de recursos, esse é
também, um outro problema enfrentado pelos professores no Novo Ensino Médio. Nisso,
quando se trata de disciplinas de Ciências da Natureza, como é o caso de Física, a estrutura
escolar é um fator extremamente importante para a prática experimental do professor de
Física juntamente com seus alunos.
Ao questionar os entrevistados sobre o fato de a estrutura escolar ser um fator
importante a ser considerado quando se trata de disciplinas de Ciências da Natureza, um dos
entrevistados disse que: “Sim. A estrutura da escola influencia bastante no ensino, na busca
pelo conhecimento dos alunos. Porque uma falta de laboratório, uma falta de experimentos,
vai contribuir de forma, assim, negativa para a aprendizagem do aluno” (ENTREVISTADO
SÓCRATES, 2023), percebe-se que o docente tem consciência dos prejuízos que essa falta
traz a sua prática e ao aprendizado do aluno. Isso é condizente com o relato do outro
entrevistado que corrobora dizendo que: “[...] a gente sabe a importância da parte
experimental da Física e o que mais a gente vê é falta de laboratórios nas escolas e a minha se
encaixa nesse sentido também, que não há um laboratório específico para que a gente utilize
esse tipo de recurso, essa prática pedagógica” (ENTREVISTADO PLATÃO, 2023). Já o
entrevistado Demócrito (2023) afirmou que é:
“Importantíssimo. Não é preciso nem citar artigos de estudo sobre isso. A simples
prática escolar já revela o quanto uma aula seca "quadro e giz" faz os alunos
82
As atividades práticas são ferramentas que devem ser abordadas na Educação Básica
de forma contínua pois buscam ajudar e a aprimorar os conhecimentos dos alunos em relação
ao conteúdo teórico e a desenvolver o espírito científico dos mesmos. Nesse sentido:
Ao questionar ainda sobre se os colégios em que atuam têm uma estrutura adequada
para as suas aulas, o entrevistado Sócrates afirmou que: “Não, zero. Era tanto que nem
quiseram reformar [...]. O governo nem quis reformar, o governo colocou uma parte no chão
e está construindo outra” (ENTREVISTADO SÓCRATES, 2023), o mesmo ainda afirmou
que o prédio do seu colégio de atuação estava em condições precárias que não tinha nem
como realizar uma reforma e que foi necessário construir outra instalação. Como já
apresentado em Macedo (2022), no Novo Ensino Médio, alguns colégios com poucos
recursos podem não possibilitar as mesmas condições que outros colégios mais privilegiados
no âmbito educacional, o que gera, por sua vez, uma desigualdade educacional e reforça as
desigualdades sociais que permeia o país e que contribui para uma uma exclusão
sócio-educacional na escola brasileira (MACEDO, 2022; RIBEIRO, 2022). Isso acaba por
quebrar o objetivo de uma formação integral e comum no seio da educação brasileira que
tanto é revelada na face documental do Novo Ensino Médio.
Já o outro entrevistado afirmou que a sua escola tem: “Recurso midiático sim,
porque nós temos agora televisões, data shows, computadores, conexão com internet que até
pouco tempo era muito deficitária, mas carece por exemplo de um laboratório [...]”
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(ENTREVISTADO PLATÃO, 2023), e junto a isso o mesmo ainda relatou que: “[...] eu
tenho alguns equipamentos e fica inviável utilizá-los em salas de aula em si, [...], por conta
dessa necessidade de ter um espaço adequado para isso” (ENTREVISTADO PLATÃO,
2023). Então, ambos afirmaram que os seus colégios carecem de uma estrutura adequada para
suas aulas práticas.
O entrevistado Demócrito afirmou, em relação à estrutura escolar ser boa, que:
“Não. Após a remoção eu fui lotado em uma extensão na zona rural. Além do quadro e giz,
temos dois projetores e dois ou três notebooks. Minha experiência no PIBID com o uso de
experimentos de baixo custo auxilia bastante. É o que dá pra fazer” (ENTREVISTADO
DEMÓCRITO, 2023).
Ao questionar o entrevistado Arquimedes, o mesmo relatou que: “A escola que eu
entrei no estado, não tinha um laboratório, então assim, quando você trabalha com um aluno,
toda a parte teórica que você mostra que realmente acontece, que você vai para um
laboratório, ou que você tenta trazer [...]. E eu não tive essa oportunidade de usar um
laboratório [...]” (ENTREVISTADO ARQUIMEDES, 2023).
Isso é um tanto preocupante, ainda mais se tratando do Novo Ensino Médio que
requer do professor e da escola uma formação aprimorada e uma estrutura adequada que o
próprio estado, o próprio governo, não tem condições de afetar em larga escala, pois todas as
escolas necessitam de boas condições pedagógicas e estruturais para promover uma prática de
ensino adequada e consequentemente um ensino-aprendizagem significativo. Diante disso, a
ausência de recursos, de infraestrutura adequada e de uma formação continuada eficaz nas
escolas públicas, em que muitas vezes é a realidade das condições das escolas públicas do
país, acaba por não oferecer uma educação de qualidade (MORAES, 2022).
A prática de ensino dos professores fica completamente afetada quando se trata de
uma falta de estrutura adequada para sua prática experimental, isso fica ainda mais evidente
no relato do entrevistado que falou:
A prática nossa impacta diretamente por não poder sair do quadro, [...] e aí para o
aluno talvez se você tivesse a parte experimental mais focada, por exemplo, seria
como se visse as coisas na prática, [..] melhorando em si o processo de
aprendizagem. Então, fica um pouco aquém da realidade do nosso estudante [...],
que a gente tem que pensar como ele pode aprender melhor [...] (ENTREVISTADO
PLATÃO, 2023).
Junto a isso vem os desafios enfrentados pelos docentes, relatado por um dos
entrevistados que na sua escola não tem laboratórios e que: “Na realidade os prejuízos são
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imensos, [...], por falta de laboratório, por falta de um lugar apropriado para a prática. [...] não
há prática didática, aquela prática experimental. Então deixa muito a desejar[...]”
(ENTREVISTADO SÓCRATES, 2023), o mesmo deixa claro que não consegue fazer uma
prática didática experimental por falta de uma estrutura que lhe possibilite isso, um lugar que
o mesmo possa planejar e executar atividades com seus alunos. E se tratando de
planejamento, o outro entrevistado afirmou também que o: “Desafio maior é planejamento.
Planejamento e execução também [...]” (ENTREVISTADO PLATÃO, 2023), dessa forma, se
não há como planejar e executar seu planejamento pedagógico para as atividades de sala e
laboratoriais, a formação do estudante fica comprometida, fica incompleta.
O entrevistado Demócrito, afirmou que em sua escola de atuação, em relação a ter
ou não aos laboratórios ou sala de informática:
Não. O espaço onde a escola funciona é pequeno. Tem quatro salas de aula, e outros
4 cômodos: uma secretaria, uma sala dos professores, uma cozinha e uma sala em
formato de corredor muito pequena, não caberia uma sala de informática. Fora que
não tem computador o suficiente para ter uma sala de informática.
Também não temos laboratório. Como informei, a falta de recursos desse tipo afeta
diretamente no que pode ser aplicado em sala (ENTREVISTADO DEMÓCRITO,
2023).
Acaba caindo no ensino que era chamado de tradicional. Não sei se hoje ainda pode
ser chamado de tradicional, já tem muito tempo que a aula "seca" quadro e giz, no
caso quadro e marcador, já não é utilizado como regra, e isso desfavorece o
processo de ensino-aprendizagem. Fica complicado contar com a abstração dos
alunos, e contar com que estejam abstraindo corretamente (ENTREVISTADO
DEMÓCRITO, 2023).
repetitiva e podendo gerar, assim, uma falta de interesse nos alunos. Isso fica evidente ainda
na fala de um dos entrevistados que relatou que um outro maior desafio encontrado em sua
experiência docente:
É o que todo mundo fala, mas parece até clichê, essa frase minha, mas é a falta de
interesse dos alunos [...]. Então, assim, o aluno ele vem pra escola e não tem um
sonho que contemple o pós-escola. Então, você tem que acabar plantando sonho na
cabeça dos alunos [...] (ENTREVISTADO SÓCRATES, 2023).
Percebe-se, pela fala do entrevistado que, de fato, há falta de interesse no aluno, uma
motivação para estudar e que possa contemplar o seu pós-escola. Dessa forma, a falta de
estrutura escolar adequada, a falta de laboratórios pode gerar nos alunos uma desmotivação,
um desinteresse e um aprendizado incompleto, ou seja, são inúmeras dificuldades e desafios
que esses docentes têm encontrado em suas experiências docentes.
De acordo com Séré, Coelho e Nunes (2003, 0. 39):
que o entrevistado chama atenção ao fato de que a disciplina de Física sofreu uma forte
redução de carga horária no currículo e ainda o mesmo complementa dizendo: “[...] a gente
tem que acabar mudando um pouco o currículo de ensino para contemplar os conteúdos mais
importantes, porque se com duas aulas a gente não dava conta, imagina com uma só. Então,
foi bem complicado e está sendo muito complicado, o novo ensino médio. [...]”
(ENTREVISTADO SÓCRATES, 2023), pela fala do entrevistado, sua experiência docente
com o Novo Ensino Médio tem sido um tanto complicada principalmente pela questão da
redução da carga horária da disciplina.
Outra entrevistado relatou que:
O novo ensino médio tem novamente uma proposta muito boa no papel, mas que
fica impraticável pela falta de estrutura e de apoio.
Além do próprio tempo escasso, as disciplinas muitas vezes não dão base para o
aprendizado, não têm relação umas com as outras para favorecer o processo
(ENTREVISTADO DEMÓCRITO, 2023).
O problema para mim do novo ensino médio é porque diminuiu a carga horária.
Então o que já era impossível fazer em duas aulas, ficou para uma aula [...]. [...] é
impossível você dar o conteúdo de física em uma aula só. Com duas já era difícil
porque os alunos não tem essa base e com uma aula então se tornou impossível. [...]
as escolas não têm uma estrutura para ter esse novo ensino médio. [...] A ideia é boa
no papel, mas na prática as escolas não têm essa estrutura (ENTREVISTADO
ARQUIMEDES, 2023).
De fato, uma redução de carga horária tão brusca impacta diretamente na prática de
ensino do professor, pois o direciona a trabalhar com metade do pouco que já trabalhava
antes da reforma do ensino médio ou fazer uma seleção do que seria mais importante ou fazer
uma reformulação do currículo, que, por sua vez, esbarra nessa questão da carga horária, que
influencia diretamente. Mas surgem questões como: o que seria mais importante para
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Dessa forma, da citação acima e pelos relatos dos entrevistados, com o Novo Ensino
Médio veio junto uma série de problemas que levam a uma precarização da educação, do
aprendizado do aluno e da prática de ensino dos docentes.
Ainda sobre os desafios dos docentes no Novo Ensino Médio, outros desafios foram
trazidos pelos mesmos que chamam atenção, como, por exemplo, na fala do entrevistado ao
relatar que um desafio que ele sente em sua prática é a: “falta de formação para o novo ensino
médio, que eu não tenho [...]. Não só eu, mas eu acredito que todos os professores mais
antigos aí, de formação antiga, e olha que eu sou um dos mais novos [...]”
(ENTREVISTADO SÓCRATES, 2023), percebe-se que o entrevistado reconhece que de fato
ele não tem preparação para o Novo Ensino Médio, algo que é condizente quando o mesmo
afirmou anteriormente que as formações continuadas da SECBA não lhe proporciona
subsídios junto a sua prática de ensino. Já o segundo entrevistado observou que: “[...] a priori,
porque na minha escola começou-se esse ano, [...] como a gente está em fase de adequação
ainda, o que mais vai chamar mais atenção é justamente a questão da carga horária”
(ENTREVISTADO PLATÃO, 2023), o que mais impacta na sua prática é a redução de carga
horária.
Outra questão que foi bem respondida pelos entrevistados foi sobre a relação com os
alunos antes e após o Novo Ensino Médio sobre o que mudou, um dos entrevistados afirmou
que: “O que mudou é que eles acabam percebendo que o número de aulas é muito reduzido. E
eu percebi que eles preferiam o velho ensino médio, em que tinha aquelas duas aulas de
Física, [...], do que essa nova forma com itinerário em que eles não vislumbram”
(ENTREVISTADO SÓCRATES, 2023), o docente, a partir de sua experiência com o Novo
Ensino Médio conseguiu perceber que os alunos não sentem muita motivação com esse novo
formato, e o docente ainda afirmou que: “O que era pra ele (o novo ensino médio) melhorar a
vida deles pra frente, [...], acaba que, pelo menos em minha prática aqui nessa escola, acho
que acabou piorando [...]” (ENTREVISTADO SÓCRATES, 2023). De fato, para esse
docente, sua experiência tem sido um tanto intensa tanto para a sua prática de ensino quanto
para sua relação com os alunos no Novo Ensino Médio.
Já o segundo entrevistado afirmou que sobre a mudança na sua relação com os
alunos que: “Rigorosamente nada, até porque os alunos ainda não entenderam o que é esse
novo ensino médio [...]” (ENTREVISTADO PLATÃO, 2023), então, para esse docente, até
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para seus alunos entenderem a dinâmica da nova modalidade tem sido complicada. O terceiro
entrevistado afirmou que: “Os próprios alunos reclamam da diminuição das aulas de Física.
Além disso, a diminuição faz com que a relação direta com cada aluno, o entendimento caso
a caso, seja dificultado” (ENTREVISTADO DEMÓCRITO, 2023).
Os docentes também foram questionados sobre o oferecimento de itinerários
formativos em suas escolas, e se ofertam algum da área de Ciências da Natureza, um deles
disse que oferece: “Bem poucos itinerários, quase nada, [...] mas compreende mais a área de
humanas. De humanas e de linguagens, [...] porque a escola não criou nenhum e o que a SEC
deu foi mais um itinerário voltado para essas disciplinas. Para a formação humana”
(ENTREVISTADO SÓCRATES, 2023). Os entrevistados Platão e Demócrito afirmaram não
ter oferecimento de itinerários na área de Ciências da Natureza. Já o entrevistado Arquimedes
afirmou que: “tem itinerário formativo na área de Ciências da Natureza sobre ecologia, mas
não especificamente sobre Física, mas esse é na área, em Biologia, traz a importância para a
conscientização de não jogar um lixo em qualquer lugar, de reciclar [...]” (ENTREVISTADO
ARQUIMEDES, 2023).
Surge, então, mais esse problema: a falta de oferta de itinerários que permita escolha
e formação completa dos estudantes e que não contempla a área de Ciências da Natureza. Isso
fica reforçado na fala do outro entrevistado que disse que a sua escola só oferta itinerários da
área de linguagens e transdisciplinar e ainda observa que:
[...] um outro agravante no nosso caso que nós não temos a oferta de todas as áreas.
Porque seria ideal você ofertar área de linguagem, área de ciências da natureza, a
área de ciências sociais, todas as áreas para que o aluno seja estimulado a escolher,
mas têm esses dois “gargalos” que é a questão do oferecimento dos itinerários
formativos que são muito restritos e a falta de maturidade também do nosso alunado
(ENTREVISTADO PLATÃO, 2023).
É com toda certeza que deveriam ser ofertados itinerários que compreendessem
todas as áreas, para contemplar a formação dos alunos, mas não é o que ocorre na realidade.
Ainda mais nesse caso, que se trata de um colégio do campo, também não tem nenhum
itinerário voltado para essa realidade rural dos estudantes. Essa fala do entrevistado vai na
mesma direção do pensamento do Ribeiro (2022, p. 3) que diz que em relação aos itinerários
formativos que:
Trata-se de uma política curricular que desintegra, que visa fragmentar ainda mais o
projeto formativo, quando insere a divisão em itinerários formativos, sob o pretexto
de “flexibilizar” e permitir a escolha. Ao fim e ao cabo, não faz nem uma coisa nem
outra, pois a distribuição dos itinerários pelas escolas ficou sob responsabilidade
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O professor de Física deveria ter um papel ainda mais importante no Novo Ensino
Médio se fossem fornecidos itinerários da sua área, no entanto, a não oferta acaba por renegar
o papel do professor de Física apenas ao quadro e ao livro, de forma monótona, com falta de
laboratórios e uma carga horária reduzida. Nesse sentido, ao questionar os docentes
entrevistados sobre qual o papel do professor de Física nos itinerários formativos oferecidos
pelo colégio, um dos entrevistados respondeu que: “[...] pra mim ficou bem ruim [...]. Então
não contribuiu com nada. Pra mim não. No meu caso não. Nem pra mim nem pra nenhuma
parte de exatas” (ENTREVISTADO SÓCRATES, 2023). Mostra-se, então, nesse relato, que
o docente não tem nenhum papel nos itinerários formativos, por falta de conexão com os
itinerários fornecidos com a sua área e ainda completa dizendo que: “ No próximo ano se
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tiver um itinerário eu posso montar algo mais com a cara de Física” (ENTREVISTADO
SÓCRATES, 2023), o docente se mostra confiante de que poderá ser ofertado um itinerário
em que possa ter um papel relevante e que poderá elaborar algo mais relacionado com a
Física.
Para o segundo entrevistado: “[...] o nosso papel seria formular disciplinas para
abranger a área da Física para focalizar, digamos, a área da Física e suprir a deficiência de
carga horária que nós temos na matéria Física mesmo” (ENTREVISTADO PLATÃO, 2023),
o docente evidencia qual deveria ser o papel do professor, com a intenção de compensar a
redução de carga horária trazida pelo Novo Ensino Médio, algo que, se os itinerários da área
não são fornecidos, acaba não sendo possível e os problemas permanecem.
O terceiro entrevistado, sobre o seu papel nos itinerários fornecidos em sua escola de
atuação, relatou que: “O professor de Física deve integrar as disciplinas da bncc com as
outras disciplinas dos itinerários, auxiliando os alunos a compreender a importância delas
para sua formação” (ENTREVISTADO DEMÓCRITO, 2023). O mesmo deixa claro sua
participação na oferta e execução dos itinerários mesmo que não haja sequer um da sua área,
mostrando um verdadeiro espírito científico e dedicação com a profissão. O entrevistado
Arquimedes deixou claro sua insatisfação em não poder exercer um papel nos itinerários
formativos, uma vez que: “eu não peguei nenhum voltado especificamente para a área de
Física, mas a SEC deveria trazer essa aplicação do nosso lado, da nossa área, para alguma
alguma coisa do dia a dia dos alunos” (ENTREVISTADO ARQUIMEDES, 2023).
Soma-se a isso o papel do professor de Física para a formação dos estudantes, de um
modo geral que, para um dos entrevistados: “[...] o professor de Física hoje ele tem um papel
relevante no uso das tecnologias [...], em relação a tudo praticamente, em relação à própria
vivência do aluno nesse mundo mergulhado com tecnologia [...]” (ENTREVISTADO
SÓCRATES, 2023), logo, o professor de Física tem um papel que vai além da sala de aula,
um papel que visa preparar os alunos a entenderem o seu cotidiano de maneira científica, e
isso fica ainda reforçado na fala do entrevistado ao dizer que: “Dá pra o professor de Física
contribuir de forma que os alunos entendam a presença da física no cotidiano”
(ENTREVISTADO SÓCRATES, 2023).
Ao questionar igualmente o segundo entrevistado sobre qual o papel do professor de
Física para a formação dos estudantes, de um modo geral, o mesmo afirmou que reside na:
“Construção de conhecimento [...]” (ENTREVISTADO PLATÃO, 2023), e para isso é
necessário que tanto o professor quanto os seus alunos tenham condições favoráveis ao
92
[...] temos que levar os nossos alunos a construir conhecimento da área de Física e
não ficar apenas no conhecimento disciplinar, digamos assim, ou muito restrito aos
conteúdos que são trabalhados, mas tentar trazer a realidade do nosso educando para
sala de aula e que eles se sintam estimulados a abranger para ampliar os seus
conhecimentos [...], que eles se sintam estimulados a ter uma autonomia de
aprendizagem, que eles façam essa busca, [...] uma busca ativa pelo conhecimento
[...] (ENTREVISTADO PLATÃO, 2023).
[...] o nosso papel seria estimulá-los a que eles busquem mais conhecimento, na
área, não só na área de Física, mas em todas as áreas de conhecimento em geral.
Mas, a priori, na área da Física eu penso que a gente tem esse papel mediador,
digamos assim, entre o educando e o conhecimento e nosso foco é que eles tomem
gosto, [...], pela matéria, pela disciplina, que eles consigam caminhar com as
próprias pernas. Então, estimular um pouquinho mais a autonomia, que eles
entendam que conhecimento é uma coisa extremamente necessária não só na escola
mas no geral para sua vida em si [...] (ENTREVISTADO PLATÃO, 2023).
Nesse sentido, o papel do professor de Física visa compreender dimensões como, por
exemplo: a formação científica de cidadãos críticos e conscientes, o desenvolvimento da
alfabetização científica, a promoção e a qualificação de habilidades e competências
relacionadas à investigação científica, entre outras, de modo que o aluno, como cidadão ativo
na sociedade, entenda o meio que o cerca e saiba diferenciar o senso comum do que
realmente é científico.
O professor de Física tem um papel crucial na formação dos estudantes, vai muito
além de simplesmente transmitir conhecimentos sobre a disciplina e, de fato, deve
desempenhar um papel fundamental na formação de cidadãos críticos e conscientes. Tai
como deve ser: mediador do aprendizado - o professor de Física deve ser responsável por
tornar o conteúdo complexo da disciplina acessível e compreensível para os alunos;
inspirador e motivador - deve ser capaz de despertar o interesse e a curiosidade dos alunos
pela Ciência e pelos fenômenos naturais; formador de pensamento crítico - deve ensinar seus
alunos a pensar criticamente e abordar problemas de forma analítica; agente de mudança
social - deve usar o ensino da Física para abordar questões sociais e ambientais que permeiam
o cotidiano dos estudantes.
Neste sentido, o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a
intimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não
uma “cantiga de ninar”. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque
acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas
dúvidas, suas incertezas.
É para além das experiências docentes que o professor deve perceber que ensinar não
é uma tarefa fácil, mas que faz parte da sua construção, da construção do seu aluno, e é isso
que completa o seu ser como professor, aquele que professa, que traz libertação da alienação
do senso comum aos seus alunos, que tenta os aprisionar no saber.
95
CONSIDERAÇÕES FINAIS
formação cidadã que possa dar aos estudantes uma formação completa e condizente com suas
realidades.
A Física, assim como outras disciplinas, acabou como um mísero fragmento dentro de
toda a caricatura curricular trazida pelo Novo Ensino Médio, consideravelmente renegada e
posta com pouca importância na formação escolar. Somando a isso, os relatos dos docentes
entrevistados revelam o quanto tem sido difícil essa situação em suas práticas de ensino, em
que, para eles, já vinham com um ensino médio com problemas, e o novo modelo tornou
ainda pior as condições pedagógicas de duas práticas e o que mais afetou negativamente foi a
questão de reducionismo da carga horária de Física no currículo escolar. Para os
entrevistados, que revelaram terem defasagem na formação inicial quanto ao ensino de Física,
a falta de formações continuadas, que sejam, de fato, capacitantes, colabora ainda mais com
os desafios do Novo Ensino Médio.
Ademais, o Novo Ensino Médio, fruto de falta de diálogo e imposição de poder
político, trouxe inúmeros desafios/problemas para a prática de ensino dos professores de
Física, como foi possível conhecer das experiências docentes registradas neste trabalho.
Diante disso, o Novo Ensino Médio tem direcionado os estudantes a uma formação defasada
e a uma educação brasileira fracassada. Dessa forma, cabe, urgentemente, ao Governo, seguir
em frente com os debates em torno de uma possível revogação e/ou potente reformulação da
política educacional do Novo Ensino Médio que de fato venha promover uma formação
cidadã e plena dos estudantes, que os permitam partilhar de cultura e experiências
significativas e que possam dar-lhes a oportunidade de acesso a uma verdadeira educação de
qualidade e oportunidade de acesso a uma educação superior e ao mercado de trabalho de
acordo com suas realidades sociais.
Com os avanços dos discursos reacionários, anti-vacina, anti-ciência, se torna muito
importante, ainda mais após a pandemia, valorizar e reconhecer as Ciências Físicas, Químicas
e Biológicas, como elementos importantes da formação cidadã. E não apenas formar pessoas
que são habilidosas nessas disciplinas escolares. Assim, formar em Ciências significa formar
um cidadão capaz de tomar decisões com critérios científicos e da racionalidade das Ciências
Físicas, Químicas e Biológicas, que é um investimento em compreender o modo de
funcionamento do mundo de uma maneira particular.
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REIS, J. C. dos.; SANTANA, I. L.; LEMOS, L. S. A relação entre Física e Matemática: uma
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Acesso em: 07 jul. 2023.
APÊNDICE
TERMO DE ADESÃO
Eu,________________________________________________________________________
RG:__________________, professor da rede estadual da Bahia, lotado na cidade de de
Vitória da Conquista, após as devidas orientações e esclarecimentos, aceito participar da
pesquisa: Prática de Ensino de Física e o Novo Ensino Médio: experiências docentes.
Permito ser entrevistado pelo responsável pelo trabalho e concordo com a posterior
publicação dos resultados. Estou ciente de que, mesmo aceitando participar da pesquisa,
posso, a qualquer momento, desistir não sendo submetida a nenhuma sanção.
____________________________________________________________
Assinatura
Testemunhas:
Nome:____________________________________________________________
Assinatura:________________________________________________________
Nome:____________________________________________________________
Assinatura:________________________________________________________
104
ANEXOS
trabalhado com uma carga horária maior no que passou a ser chamado "de disciplinas
diversificadas" do que nas relacionadas à sua formação.
Algumas disciplinas como Sociologia, Filosofia, Educação Física, Artes, tiveram
substancial redução de carga horária e/ou foram retiradas da grade curricular de algumas
séries/ano. Em alguns turnos, especialmente no noturno, elas desapareceram de praticamente
todas as séries/anos, o que significa evidente prejuízo na formação dos estudantes. Os/as
docentes apontam, ainda, que com a diminuição da carga horária da maioria das disciplinas,
estão conseguindo passar apenas “informações” e que não se verifica ensino-aprendizagem
de qualidade em desenvolvimento nas salas de aula do Novo Ensino Médio.
As avaliações dos/das professores/as e estudantes quanto à organização dos livros
didáticos por área do conhecimento se evidenciaram negativas (relatam que estão utilizando
livros de anos anteriores, organizados por disciplinas).
Esses profissionais afirmam, também, que passaram a dar aulas de assuntos que não
fazem sentido a alunos e alunas, haja vista que não tiveram acesso a disciplinas que serviriam
de base, inclusive, para os itinerários formativos.
Outro aspecto identificado diz respeito à necessidade de contratação de um número
maior de profissionais pelas redes de ensino, seja pelo aumento da carga horária anual, seja
pela diversificação curricular. Até o momento, não há indícios de resolução do problema
causado pela reforma e que ocorre em todo o país: a falta de professores/as.
Vale lembrar que a possibilidade aberta pela Lei para contratação de pessoas com
“notório saber” para o itinerário de formação técnica e profissional foi amplamente repudiada
por entidades do campo educacional como mecanismo indutor da desprofissionalização
docente. Essas condições degradantes equiparam o trabalho docente aos inúmeros
trabalhadores que se encontram na denominada economia da uberização ou economia da
plataforma.
atribuição dessas aulas acaba recaindo em docentes que não conseguiram completar sua carga
horária com a disciplina que estava antes sob sua responsabilidade e para a qual foram
formados. Mas, como os/as alunos/as estão obrigados/as a cursar disciplina eletiva, acabam
escolhendo ‘o que tem’. Em dois estados, em várias escolas, as disciplinas eletivas têm sido
oferecidas em atividades à distância, de forma assíncrona, e nelas tem se observado uma
queda na frequência, o que acaba por incentivar o abandono escolar.
Em quase todos os estados analisados o Itinerário Formativo de Formação Técnica e
Profissional tem sido terceirizado para instituições privadas ou já manifestaram essa intenção.
Do que já foi implementado, houve relatos de casos em que a totalidade ou parte da carga
horária desse Itinerário é cumprida a distância, com vídeos gravados ou aulas pela televisão,
gerando movimentos de resistência por parte de estudantes e suas famílias. Foi identificada,
ainda, tendência de oferecer, para este itinerário, cursos de Formação Inicial e Continuada, de
curta duração, que serão integralizados para compor a carga horária total do Ensino Médio.
Ainda que com amparo nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação
Profissional e Tecnológica (Resolução CNE/CEB 01/2021) exaradas pelo Conselho Nacional
de Educação, esse formato foi caracterizado como formação precarizada haja vista não
assegurar, sequer, uma habilitação profissional.
A oferta do quinto itinerário formativo, de Formação Técnica e Profissional, tem
apresentado, em síntese, controvérsias e indícios de precarização. São apontadas pelos grupos
de pesquisa de todo o território nacional formas diferenciadas em sua implantação, entretanto,
é consensual o relato da existência de dificuldades nas parcerias estabelecidas pelos governos
e entidades privadas. Além disso, os docentes das disciplinas técnicas são, geralmente,
horistas com formação específica na área de profissionalização e a dificuldade para
contratação de professores contribui para a redução da qualidade didática, pois muitas vezes
um único docente leciona todas as disciplinas técnicas de uma mesma turma. Ademais, os
cursos desse Itinerário Formativo, em alguns estados, funcionam com permissão para 20% de
atividade não presencial, ficando o estudante sem a assistência de docente capacitado durante
parte do curso.
O componente curricular Projeto de Vida ocupa parte significativa da carga horária
do Ensino Médio, em especial daquela designada aos Itinerários Formativos. Ainda que tome
uma parte importante da carga horária, nem os professores nem os alunos sabem explicar o
que se espera dessa “disciplina”, que acaba sendo oferecida por docentes que precisam
completar sua carga horária e que, geralmente, são os que possuem contratos temporários. Foi
constatado, também, que tem sido comum entre os estados o oferecimento desse componente
109
Nas pesquisas realizadas foi constatado que a ampliação da carga horária produziu
diversos impactos considerados preocupantes no que diz respeito ao cumprimento das
finalidades do Ensino Médio e aos cuidados com a saúde dos/das jovens. Quanto à ampliação
da jornada, esta produziu organizações curriculares distintas entre os estados, havendo
variações significativas entre eles e dentro de um mesmo estado, oscilando entre cinco e nove
horas diárias de aula. Esta ampliação impacta no número de turnos de aula, existindo
períodos estendidos de cinco horas e turnos integrais de sete ou nove horas, produzindo
desigualdades educacionais entre os diferentes estados, mas também dentro da mesma rede e
da mesma escola, que funcionam com matrizes curriculares diferentes. Há, inclusive,
informações de que a frequência no turno integral é facultativa em algumas escolas, sendo
ofertadas atividades remotas assíncronas a estudantes faltosos, o que precariza a formação.
Devido à falta de espaço físico necessários para expandir as escolas de tempo
integral de nove horas, alguns estados optaram por oferecer dois turnos ‘integrais’ de sete
horas na mesma escola. Foi relatado, por exemplo, situação de escolas em que um período vai
das sete às 14 hs e outro que se inicia às 14 hs e se encerra às 21hs. Outro aspecto importante
a ser mencionado, revelado pelas pesquisas, é o de que os/as alunos/as demonstram cansaço e
desmotivação com os estudos, especialmente nas escolas de turnos integrais de sete a nove
horas diárias, turnos compostos pela repetição de conteúdos e de atividades, mostrando-se
ausente a aludida diversificação.
Nas pesquisas foram relatados casos de estudantes que migraram de escolas com
cargas horárias ampliadas, para outras com carga horária mínima de 1.000 horas. Além disso,
observa-se em algumas escolas o aumento da evasão e do abandono dos estudantes, assim
como a redução de matrículas, o aumento da infrequência escolar no segundo turno de aulas
do dia e a ampliação da demanda por ensino noturno, especialmente em função da
necessidade de trabalhar ou auxiliar nas tarefas domésticas.
Quanto ao Ensino Médio noturno, foi relatado, também, que estudantes das escolas
que ampliaram para quatro anos o tempo de formação demonstram-se desmotivados tanto por
postergar o acesso ao ensino superior daqueles que pretendem prosseguir nos estudos, quanto
por dificultar ainda mais a conclusão da educação básica por parte dos que estudam e
trabalham.
As dificuldades também ocorrem no que diz respeito ao transporte escolar,
principalmente das escolas que optaram por um único turno com carga horária estendida e à
falta de estrutura física, tais como salas de aula, biblioteca, laboratórios, refeitórios, ginásios e
quadras de esportes e espaços de convivência/sociabilidade e descanso.
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significativa a experiência escolar para os/as estudantes, por estar baseada na oferta de algo
que podemos chamar de 'mais do mesmo', evidencia um processo de acomodação entre o que
é proposto e o que é, de fato realizado, atravessado, porém, pelo aumento da precarização.
Foi detectada a necessidade de expansão do financiamento em consequência direta
da elevação do custo do Ensino Médio. A ausência de ampliação do investimento teve como
decorrência, por exemplo, a limitação do número de itinerários formativos ofertados, ou
ainda, o cumprimento de parte da carga horária fora da escola e sem qualquer apoio
pedagógico.
As narrativas divulgadas na mídia e nos sites oficiais propagam uma trajetória de
êxito do “Novo Ensino Médio”, entretanto, na prática, segundo os dados colhidos nas
pesquisas, isso não se evidencia nas escolas públicas do país.
As pesquisas indicaram, ainda, que problemas que as redes estaduais já possuíam,
em vez de estarem em vias de resolução com a atual reforma, estão se aprofundando. Por
exemplo, a falta de professores e de corpo docente qualificado; novos problemas que afetam
o ensino noturno; o elevado índice de abandono e evasão escolar, dentre outros.
Recomendações
Reiteramos, por fim, alguns dos aspectos que já eram indicados pelo MNDEM
quando de sua criação e atuação no contexto das discussões no Congresso Nacional nos
momentos de apreciação do PL no 6.840/13 e MP no 746/16 e Lei 13.415/17:
Entendemos que, para alterar de fato a qualidade do que é oferecido e ampliar as
possibilidades de acesso, permanência e conclusão no Ensino Médio é necessário um
conjunto articulado de ações envolvendo, da concepção à execução, as redes de ensino e os
sujeitos que delas fazem parte. Tais ações precisam ter como eixo central o enfrentamento e
superação das imensas desigualdades educacionais e escolares que, infelizmente, têm sido
agravadas no contexto da atual reforma.
Dito de outra forma, é insuficiente conferir centralidade a apenas um elemento para
compor uma política pública efetiva. Exemplo disso é a ênfase dada ao currículo e à Base
Nacional Comum Curricular (BNCC), como se apenas a alteração nas proposições
curriculares oficiais fosse capaz de resolver todos os problemas, inclusive os de ordens
estruturais. Acerca da BNCC do Ensino Médio, vale lembrar, que esta tem sido alvo de
inúmeras críticas, seja pelo seu caráter altamente prescritivo e impositivo, seja pelas
proposições aí presentes.
Dentre as ações necessárias com vistas a compor uma política pública articulada o
MNDEM indica: uma abordagem curricular que respeite as diferenças e os interesses dos
jovens e que assegure, ao mesmo tempo, a formação básica comum e de qualidade;
consolidação de uma forma de avaliação qualitativa no Ensino Médio que possibilite o
acompanhamento permanente dos estudantes pelas escolas com vistas à contenção do
abandono e do insucesso escolar; ampliação dos recursos financeiros com vistas à
reestruturação dos espaços físicos, das condições materiais, da melhoria salarial e das
condições de trabalho dos profissionais da educação; condições físicas e materiais
apropriadas nas escolas que oferecem Ensino Médio em tempo integral, bem como proposta
pedagógica e curricular adequada à jornada ampliada; fomento a ações de assistência
estudantil com vistas a ampliar a permanência no sistema escolar de estudantes em situação
de vulnerabilidade social; atendimento diferenciado e qualificado para o Ensino Médio
noturno e na modalidade da Educação de Jovens e Adultos; formação inicial e continuada dos
profissionais da educação que considere a diversidade de juventudes que frequentam a última
etapa da educação básica.