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WBA0842_v1.

APRENDIZAGEM EM FOCO

BARRAGENS DE TERRA E
ENROCAMENTO
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Autoria: Marcio Fernandes Leão
Leitura crítica: Petrucio Santos Junior

Grandes barragens são estruturas muito seguras, projetadas,


construídas e operadas, reduzindo ao máximo sua probabilidade
de falha. No entanto, é inevitável que, apesar de todos os cuidados
estruturais adotados nas diferentes fases da vida de uma barragem,
haja sempre um risco residual, muito pequeno, mas real, de ruptura
ou avaria.

A impossibilidade de eliminar completamente, devido a medidas


estruturais e não estruturais ao risco de ruptura ou mal
funcionamento das grandes barragens, junto da possibilidade de
que tais falhas tenham como consequência danos de magnitudes
consideráveis, conduzem à necessidade de prever que ações devem
ser desenvolvidas para continuidade da redução do risco. Assim,
ações voltadas para a segurança da barragem devem conduzir às
análises de dados básicos de projeto, investigações e planos de
monitoramento, por exemplo. Dessa forma, é possível identificar
com antecedência situações de risco e definir as medidas para que
possam ser tratadas ou mitigadas.

Assim, na disciplina Barragens de terra e enrocamento, você estudará


os fundamentos de barragens de terra e de enrocamento, por
meio da topografia e dos estudos dos parâmetros geotécnicos e
hidrológicos; determinará a estabilidade dos taludes sob condição
de final de construção e sob condição de serviço, baseando-se em
análise de fluxo e em parâmetros de resistência e na implementação
de projeto de instrumentação e monitoramento para avaliação
de segurança em barragem; e também fará a análise de impactos
ambientais e aspectos relevantes à construção.

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Ao final desta disciplina, você terá competências para fazer análises
geológico-geotécnicas como subsídio aos projetos de barragens.
Poderá conseguir projetar, executar e acompanhar a construção de
barragens. Conhecerá aspectos importantes sobre monitoramento
e inspeção adequada para barragens. Por fim, conhecerá como se
deve interpretar aspectos gerais das normas relativas às barragens.

INTRODUÇÃO

Olá, aluno (a)! A Aprendizagem em Foco visa destacar, de maneira


direta e assertiva, os principais conceitos inerentes à temática
abordada na disciplina. Além disso, também pretende provocar
reflexões que estimulem a aplicação da teoria na prática
profissional. Vem conosco!

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INÍCIO TEMA 1 TEMA 2 TEMA 3 TEMA 4

TEMA 1

História das barragens e desafios de


projetos
______________________________________________________________
Autoria: Marcio Fernandes Leão
Leitura crítica: Petrucio Santos Junior
DIRETO AO PONTO

Barragens de aterro são estruturas utilizadas para o


armazenamento de água e irrigação, como atestam a história e
os restos de estruturas antigas. Elas têm sido usadas desde os
primeiros dias da civilização. Algumas das estruturas construídas
nos tempos antigos eram grandiosas estruturas. No Ceilão, por
exemplo, no ano 504 a.C., uma barragem de terra de 11m de
comprimento e cerca de 20m de altura foi concluída, contendo
aproximadamente 17 milhões de m³ de aterro. Nos dias atuais,
como no passado, as barragens de aterro continuam a ser o tipo
de barragem de pequena dimensão mais comum, principalmente
porque sua construção utiliza materiais em seu estado natural com
um mínimo de tratamento preferencialmente. Os Quadros 1 e 2
mostram a idade construtiva de algumas dessas estruturas e tempo
de operação, respectivamente.

Quadro 1 – Exemplos de barragens destacando-se a idade


construtiva e finalidade
Ano de
País Nome Tipo Finalidade
conclusão
3.600 AC. Jordânia. Jawa. Gravidade. Abastecimento d’água.
2.600 AC. Egito. El-Kafara. Aterro. Controle de enchente.
1.500 AC. Yemen. Manb. Aterro. Irrigação.
1.250 AC. Turquia. Karakuyu. Aterro. Abastecimento d’água.
950 AC. Israel. Shiloah. ? Abastecimento d’água.
703 AC. Iraque. Kisiri. Gravidade. Irrigação.
581 AC. China. Anfengtang. Aterro. Irrigação.
370 AC. Siri Lanka. Panda. Aterro. Irrigação.
275 AC. Sudão. Musawwarat. Aterro. Abastecimento d’água.

Fonte: elaborado pelo autor.

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Quadro 2 – Exemplos de barragens destacando-se a idade
construtiva e atividade operacional

Período de operação
Ano de
País Nome Final de
conclusão Idade (anos)
operação
3º Dinastia AC Egito Mala’s 3.600 ~1.900 DC
- Grécia Kofini 3.300 Em Operação
~700 AC Turquia Kesis Gölü 2.600 1.891 AC
581 AC China Anfengtang 2.600 Em Operação
Vida Útil de 50 Tianping 2.200 Em Operação
a 100 anos? Siri Lanka Basawak 2.600 Voltou a
Operar
Tissa (Anurad) 2.300 Voltou a
Operar
Nuwara 2.100 Voltou a
Operar
1.500 AC Yemen Marib 2.100 630 DC
- Israel Solomen Pools 2.000 Em Operação

Fonte: elaborado pelo autor.

Mesmo nos tempos modernos, todas as barragens de aterro são


projetadas por procedimentos empíricos e a literatura técnica está
repleta de relatos de falhas geotécnicas. Essas falhas tornaram
necessário perceber que os métodos empíricos tiveram que ser
substituídos por procedimentos de engenharia racionais, tanto no
projeto como na construção. No entanto, pouco progresso foi feito
no desenvolvimento de procedimentos de projetos racionais até
a década de 1930. A mecânica dos solos, desde então, resultou no
desenvolvimento de procedimentos de projeto muito aprimorados
para barragens de aterro.

Esses procedimentos consistem em investigações prévias das


fundações e no estudo de materiais de construção, aplicação de

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conhecimentos e técnicas de engenharia ao projeto e métodos de
construção cuidadosamente planejados e controlados.

Como resultado, barragens de terra foram construídas (1968), com


alturas superiores a 152,40 m, acima de suas fundações e centenas
de grandes barragens de terra compactada foram construídas nos
últimos vinte anos, sem qualquer falha registrada. No entanto,
pequenas falhas em barragens permanecem comuns. Embora
algumas dessas falhas, provavelmente, sejam o resultado de um
projeto ruim, muitas delas foram causadas por uma construção
descuidada. Os métodos de construção corretos incluem a
preparação adequada da fundação e a colocação dos materiais da
barragem com o grau de compactação necessário, seguindo ensaios
estabelecidos e procedimentos de controle tecnológico construtivo.

As barragens podem ser construídas para criar um lago artificial ou


desviar o rio para um nível pré-determinado, a fim de armazenar,
represar o escoamento, irrigar terras ou gerar energia, ou mesmo
fornecer água potável para cidades ou centros industriais. Também
servem para regular a vazão de um córrego que causa alagamento
em propriedades ou municípios. Nem sempre essas estruturas
respondem a apenas um dos propósitos mencionados, mas são
projetadas para múltiplas funções de coordenação dos serviços de
irrigação, eletrificação e regularização de avenidas, com vistas ao
desenvolvimento integral de uma região.

Do exposto, pode-se inferir que a barragem é o resultado de um


estudo geral, no qual as características do rio, a geologia da região,
a existência de sítios adequados para criar o reservatório e apoiar
a obra, de terras aráveis ou necessidades de energia na região,
ou populações para proteger ou fornecer água, exigem estudos
específicos. No que diz respeito à barragem em si, os estudos gerais
incluem a seleção do tipo de estrutura, o arranjo preliminar das

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partes componentes (cortina, captação, vertedouro, desvio, casa de
força etc.).

Assim, na construção de barragens de aterro (terra e enrocamento),


devem ser cumpridos os objetivos, de forma concisa e clara,
apresentando a metodologia que abrange, desde o estudo dos
materiais de construção até à fase de construção, de acordo com
os novos avanços da mecânica dos solos, considerando a técnica
desenvolvida no país, onde será desenvolvido o projeto.

PARA SABER MAIS

Além das barragens de aterro compactado, podemos mencionar


barragens concebidas por meio da disposição hidráulica do material.
As características de ambos os aterros são totalmente distintas. A
seguir, poderemos compreender sobre esse tipo de barragem.

A característica fundamental desse tipo de barragem é que os


materiais que constituem a seção, incluindo os finos do núcleo e
os grânulos relativamente grosseiros dos espaldares permeáveis,
são provenientes de lavra rochosa, conduzidos e dispostos
hidraulicamente. Com a criação de uma lagoa no centro do aterro e
canais de distribuição que partem do talude externo, consegue-se
uma destinação adequada do material extraído da lavra. Para que o
transporte dos materiais possa ser feito economicamente por meio
de um curso d’água, é necessário haver um desnível entre a lavra
e a barragem, adequado para manter a alta velocidade. Isso limita
o tamanho máximo dos fragmentos incorporados ao barramento.
Mantendo o controle restrito das faces nos canais de distribuição,
os fragmentos mais grosseiros se depositam nas proximidades
das faces externas, a fração argilosa ou siltosa sedimenta-se nas
partes centrais e, entre esta e a massa granular, permanece uma
zona de transição. Teoricamente, a solução é atraente. Na prática,

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vários são os fatores que influenciam a construção da estrutura,
alguns deles de difícil acompanhamento. Em termos do próprio
material de construção, deve possuir características específicas
,como ser submetido a um ataque hidráulico, ter uma composição
granulométrica homogênea e aceitável. Esses dois últimos requisitos
são essenciais.

Para que os materiais sejam acondicionados economicamente


por meio da disposição hidráulica e sob pressão, é necessário que
haja um desnível entre a lavra e o local de disposição para manter
a alta velocidade. Isso limita o tamanho máximo dos fragmentos
incorporados à barragem.

Como nem sempre há condição de transportar esse material


por bombeamento hidráulico, o material pode ser transportado
por caminhões até o local e formar pilhas. Esse procedimento,
conhecido como semi-hidráulico, é mais caro, mas apresenta
vantagens importantes em relação ao anterior, pois permite que os
materiais sejam separados no caminhão e mais bem distribuídos no
local.

Uma vez que os materiais são dispostos por sedimentação, a


velocidade da água deve ser controlada nas diferentes partes do
local e disposição. Caso contrário, pode acontecer que, no centro,
seja depositada uma camada de areia ou lentes de determinado
material. Os limites a serem considerados são o núcleo impermeável
e as porções permeáveis que são, em geral, variáveis.

As variações são causadas por mudanças na composição da lavra


e pelo monitoramento de falhas dos canais de distribuição, e no
terreno por onde escorre a suspensão do material. Cabe ressaltar
que é difícil definir os limites entre os materiais depositados, mas
há uma tendência dos materiais mais densos ocuparem as porções
mais basais do aterro hidráulico. A Figura 1 apresenta problemas

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quanto a uniformidade das zonas que compõem o corpo da
barragem.

Figura 1 – Defeitos construtivos na construção de uma barragem


por deposição hidráulica (notar a irregularidade do núcleo)

Fonte: elaborada pelo autor.

Para fazer verificações de estabilidade, é essencial determinar


o limite entre materiais granulares e coesos, normalmente
desenvolvendo contatos irregulares. A localização desses limites é
obtida a partir da composição granulométrica média do material
a ser utilizado na construção, estabelecendo a proposição em que
se encontram os dois tipos de solos. Se a granulometria for a que
corresponde às derivações indicadas pelas curvas adjacentes,
conclui-se que o núcleo teria inclinações de 0,5: 1, em média, com
valores extremos prováveis ​​de 0,60:1 e 0,35:1. A separação dos
materiais não coesivos e coesivos corresponde ao tamanho de 0,06
mm, ou seja, à divisão entre silte e areia fina.

A disponibilidade de materiais, equipamentos e pessoal experiente


podem tornar este procedimento construtivo atraente por razões de
custo. No entanto, existem várias desvantagens e merecem atenção.

Em geral, o volume de uma barragem construída por esse método


é maior do que outra de mesma altura feita pela compactação
dos materiais. As falhas das barragens de aterro hidráulico, como
ocorridas em Fort Peck, nos Estados Unidos (1938), e Necaxa, no
México (1969), levaram esse método construtivo ao desuso.

10
A redução dos custos de lançamento de camadas e o
desenvolvimento de equipamentos de compactação cada vez
mais eficientes têm contribuído para que a prática construtiva das
barragens de aterro hidráulico tenha sido esquecida nas últimas
duas décadas. No entanto, há uma tendência de reviver o método
aplicando novas técnicas de disposição e compactação dos materiais
sob a água para formar áreas impermeáveis, como a barragem de
Aswan, no Egito.

TEORIA EM PRÁTICA

A maioria das barragens possui enrocamentos de distintas


dimensões dispostos nos espaldares, em camadas de espessura
variável (entre 2,5 e 5,0 m), espalhadas com tratores. As
especificações das barragens em construção desde 1970, preveem
que as áreas com cascalho e areia ou rocha, com partículas menores
que 30cm, sejam colocadas em camadas de 50cm de espessura e
compactadas com rolo liso vibratório de 10ton.

Essa prática fornece uma ideia da evolução observada nas


barragens de material compactado. Paralelamente, estão sendo
construídos equipamentos mais adequados. Isso, aliado à fabricação
de equipamentos de transporte mais eficientes, bem como o
desenvolvimento de métodos mais racionais de exploração de
materiais rochosos, têm permitido reduzir custos na construção das
barragens de enrocamento.

Diante dos pontos acima mencionados, reflita sobre a viabilidade


da construção de barragens de enrocamento considerando a não
disponibilidade de materiais pétreos in situ. Avalie a viabilidade
técnico-econômica, elencando as premissas que devem ser

11
consideradas para a adoção dessa alternativa ao invés de barragens
de aterro.

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da


nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

Indicação 1

O trabalho indicado, páginas 8 a 29, faz uma abordagem sobre


os projetos de barragens de aterro, discutindo a questão
da metodologia construtiva, objetivo, critérios de projeto,

12
condicionantes geotécnicos e possibilidade de falhas e
consequentemente danos potenciais gerados.

SILVA, B. C.; OLIVEIRA, R. L. Uso e aplicação dos sistemas construtivos


visando a segurança de barragens. Trabalho de Conclusão de Curso.
Jaraguá: Faculdade Evangélica de Jaraguá, 2019.

Indicação 2

A dissertação indicada, páginas 26 a 46, apresenta o histórico da


Barragem de Terzaghi sob um contexto da evolução tecnológica
da construção de barragens de aterro, destacando sua construção
e desempenho ao longo de 65 anos de operação, bem como a
verificação atual de suas condições físicas.

NEVES, B. de S. Barragem de Terzaghi, Um Marco da Geotecnia:


avaliação após 65 anos de operação. Dissertação de Mestrado. Rio
de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2018.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

13
1. Construído quase exclusivamente com terra compactada,
as barragens de terra homogênea possuem pelo menos
uma proteção contra erosões no espaldar de montante.
Pelas condições das fundações e dos materiais disponíveis,
apresentam características típicas e que diferem da metodologia
construtiva de barragens executadas pela disposição hidráulica.
Comparando os projetos de barragens de terra homogênea e
das construídas por disposição hidráulica, pode-se afirmar que:

a. Barragens construídas por disposição hidráulica são mais


seguras quanto a liquefação.
b. Barragens construídas por disposição hidráulica são mais
seguras quanto a rupturas por cisalhamento.
c. Barragens construídas por disposição hidráulica sofrem
menos efeitos de compressibilidade do aterro.
d. Barragens construídas usando técnicas de compactação
apresentam menor resistência ao cisalhamento.
e. Barragens construídas usando compactação apresentam
maior fator de segurança para o aterro.

2. Os projetos de barragens de aterro envolvem muitas


considerações que devem ser examinadas antes de iniciar
qualquer análise de estabilidade mais detalhadas. Após
as explorações geológicas e subterrâneas, os materiais de
construção devem ser cuidadosamente estudados. O estudo
deve incluir a determinação das quantidades de vários tipos
de materiais que estarão disponíveis e a sequência em que
se tornarão disponíveis, sendo necessário um entendimento
completo de suas propriedades físicas. Com base no contexto
apresentado, pode-se afirmar que:

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a. Os projetos de barragens de aterro podem ser desenvolvidos
com base em projetos de sucesso estáveis.
b. Os projetos de barragens de aterro devem ser adaptados às
condições locais prevendo mudanças no projeto.
c. Os projetos das barragens de aterro exigem avaliações menos
complexas do ponto de vista de estabilidade.
d. Os projetos das barragens de aterro devem ser
dimensionados por critérios empíricos e experiência.
e. Os projetos das barragens de aterro podem ser concebidos
sem compactação quando os materiais são coesos.

GABARITO

Questão 1 - Resposta E
Resolução: Nos projetos das barragens construídos por
disposição hidráulica, podemos afirmar que a resistência ao
cisalhamento é menor e tanto a compressibilidade quanto a
suscetibilidade à liquefação, maiores do que se os projetos
forem comparados com aterros construídos por compactação.
A compactação garante maior imbricamento entre as partículas,
reduz o índice de vazios e a possibilidade de infiltração nos
materiais compactados.
Questão 2 - Resposta B
Resolução: O projeto de uma barragem de terra deve seguir
a realidade. Deve mostrar as condições reais do canteiro de
obras e os materiais de construção disponíveis, e não deve
simplesmente copiar um projeto bem-sucedido usado em
um local em condições diferentes. Devem ser obedecidos
os controles de compactação e umidade ótima de forma a
garantir a resistência dos materiais utilizados. Sem esses
controles, não é possível garantir a estabilidade. Apesar do
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grande conhecimento existentes acerca de barragens de terra,
cada projeto é único e deve levar em consideração todos
os pormenores. Cabe destacar, que mesmo materiais que
apresentam coesão, devem ser compactados para melhoria das
características de resistência..

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INÍCIO TEMA 1 TEMA 2 TEMA 3 TEMA 4

TEMA 2

Projeto de barragens de aterro


______________________________________________________________
Autoria: Marcio Fernandes Leão
Leitura crítica: Petrucio Santos Junior
DIRETO AO PONTO

Os drenos em barragens de terra (Figura 1) são usados para


​​ auxiliar
no processo de estabilização das barragens, como, por exemplo:

• Facilitar o escoamento a jusante para aumentar a estabilidade


do espaldar.

• Evitar deformações devido à poropressão da infiltração


presentes no corpo da barragem.

• Facilitar a percolação na fundação a jusante.

Figura 1 – Seção típica de barragem de terra com dreno

Fonte: elaborada pelo autor.

No caso das barragens de enrocamento, não é necessário o uso de


drenos (Figura 2).

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Figura 2 – Barragens de enrocamento, onde não há necessidade
de drenos instalados

Fonte: elaborada pelo autor.

Na concepção dos projetos de barragens de terra, os drenos são


divididos nos seguintes tipos:

• Externo.

• Interno.

• Misto.

Com base nessas características, podemos definir os drenos em


porções distintas das barragens, conforme descrição apresentada
na Figura 3 a seguir:

• Tipo 1: representa um dreno específico para barragens de dois


ou mais materiais, sendo interno, podendo ainda ser visível
no espaldar de jusante. É muito útil em barragens de grande e
médio porte.

• Tipo 2: também é considerado um dreno interno não visível e,


geralmente, usado para barragens compostas por um único
material.

• Tipo 3: é um dreno externo utilizado para barragens compostas


por um único material, cuja carga não ultrapasse 15m.

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• Tipo 4: representa um dreno misto, sendo, geralmente, usado
para grandes barragens de dois ou mais materiais.

Figura 3 – Tipos de drenos e filtros em função do projeto da


barragem de terra

Tipo 1 Tipo 2

Tipo 3 Tipo 4
Fonte: elaborada pelo autor.

PARA SABER MAIS

O uso de filtros nas barragens de terra busca auxiliar,


principalmente, a redução da energia de infiltração, evitando
deformações devido ao empuxo gerado pelo fluxo.

Basicamente, são feitos de material argiloso, cuja resistência


adquirida pela compactação é alta, embora outros materiais
impermeáveis, ​​como concreto e asfalto, também possam ser
usados. Segundo as características, esses filtros podem ser
classificados em quatro tipos:

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• Filtros de drenagem (classe I): filtro cuja finalidade é
interceptar e conduzir a zona de infiltração principal dentro
da barragem e fundação. A construção desses filtros pode
garantir a redução de grandes quantidades de infiltração para
barragens em fundações permeáveis ou ​​ que apresentam
problemas construtivos. Os filtros consistem em materiais
uniformemente classificados, normalmente em dois estágios.
O filtro deve atender aos requisitos de movimento de
partículas e drenagem. Drenos de fundo no espaldar de
jusante, normalmente, se enquadram nesta classe.

• Filtros de proteção (classe II): filtro cuja finalidade é proteger


o material de base (contato aterro/fundação) e processos
erosivos em regiões do aterro, garantindo a função de
drenagem, buscando controlar a poropressão na barragem.
Esses filtros são, normalmente, uniformemente graduados
e em vários estágios, mas também podem ser amplamente
graduados com o objetivo de reduzir o número de zonas,
garantindo a transição para o material de base. Essa classe
inclui: chaminés, tapetes e zonas de transição no espaldar de
jusante da barragem (Figura 4).

Figura 4 – Exemplo de filtros de proteção (em (a) dreno de pé,


em (b) tapete drenante e em (c) filtro tipo chaminé)

Fonte: ABGE (1998, p. 404).

21
• Filtros invertidos (classe III): filtro cuja finalidade é evitar que
o preenchimento sobreposto (o material de base) se mova
em fundações permeáveis ou ​​ porosas. Esses filtros são
tipicamente classificados de forma ampla e têm um requisito
característico, que é apenas interromper o movimento das
partículas. Não há permeabilidade exigida.

• Filtros contra efeitos sísmicos (classe IV): filtro cuja finalidade é


proteger contra a ocorrência de trincas que podem ocorrer no
núcleo do aterro, principalmente, causadas por carregamento
dinâmico (sísmico, por exemplo) e/ou grandes deformações.
As dimensões desta classe de filtro são controladas pelo
deslocamento esperado (horizontal ou vertical). Embora não
haja requisito de permeabilidade para esse tipo de filtro,
deve ser relativamente livre de finos. Um filtro de cascalho
pode ser necessário, se houver preocupação de que possam
ocorrer trincas. Esses filtros mais grosseiros também podem
ser necessários quando há necessidade de transição para um
material mais grosseiro.

TEORIA EM PRÁTICA

Os filtros de drenagem devem ser projetados de tal forma que


nem a fundação nem o material de aterro entrem no dreno para
formar uma obstrução. A permeabilidade ou tamanho do material
do filtro deve ser suficiente para transportar a água livremente e
sem qualquer bloqueio. De acordo com a equação de Terzaghi, os
materiais do filtro devem satisfazer as seguintes equações:

D15 filtro
<4a5
D85 material de base

D15 filtro
>4a5
D15 material de base

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O solo de aterro ou solo de fundação, que está em contato com
os materiais de filtro, é chamado de material de base. Quando a
proporção de D15 do filtro para D85 dos materiais de base é inferior
a 4 para 5, o material de base é impedido de passar pelos filtros. Da
mesma forma, quando a proporção de D15 de materiais de filtro
para D85 do material de base é maior que 5, as forças de infiltração
nos filtros são controladas até a magnitude permissível.

Com base no contexto apresentado, você, como engenheiro (a) de


registro responsável, necessita definir o uso de materiais para filtros
em uma barragem de terra. Avalie as curvas granulométricas dos
materiais A, B, C e D apresentados na Figura 5, informando se esses
seriam indicados para filtros, justificando sua resposta.

Figura 5 – Curvas granulométricas para os materiais A, B, C e D

Fonte: adaptado de Souza Pinto (2006, p. 117).

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor, acesse


a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de aprendizagem.

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.
23
Referências bibliográficas
ABGE. Geologia de engenharia. Oliveira, A. M.; brito, S. N. A. (editores), p. 404.
São Paulo: ABGE, 1998.
SOUZA PINTO, C. Curso Básico de Mecânica dos Solos. p. 117. São Paulo:
Oficina de Textos, 2006.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da


nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

Indicação 1

O trabalho indicado, páginas 27 a 46, faz uma abordagem sobre a


necessidade da prática da inspeção e monitoramento das barragens,
considerando as metodologias construtivas e avaliação geotécnica a
longo prazo.

24
TANUS, H. M. Importância da Inspeção na prevenção de falhas
em barragens: estudo de caso. Trabalho de Conclusão de Curso,
Escola Politécnica, curso de Engenharia Civil. Rido de Janeiro: UFRJ,
2018.

Indicação 2

A dissertação indicada, páginas 6 a 20, apresenta o contexto sobre a


importância dos filtros e avaliação da auscultação para segurança de
barragens de aterro.

SILVA, D. S. Estudo de filtro aplicado ao controle de erosão interna


em barragens. Dissertação de Mestrado. Ouro Preto: UFOP, 2016.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. As barragens de aterro são classificadas em duas categorias


principais por tipos de solo usados, principalmente, como
materiais de construção, como barragens de aterro e
barragens de enrocamento. Esses últimos ainda podem

25
ser classificados em alguns grupos por configurações de
seções de barragem, como uma com um núcleo localizado
centralmente, uma com um núcleo inclinado e outra com
uma face. Com base na metodologia construtiva de ambos os
projetos, pode-se afirmar que:

a. Em uma barragem de enrocamento, a zona filtrante deve


ser construída para evitar a perda de partículas de solo por
erosão devido ao fluxo de infiltração através do aterro. Em
barragens de aterro, por outro lado, o corpo da barragem é o
único, devendo ter resistência estrutural e de infiltração contra
ruptura, por meio das drenagens existentes.
b. Em uma barragem de aterro, a zona filtrante deve ser
construída para evitar a perda de partículas de solo por erosão
devido ao fluxo de infiltração através do aterro. Em barragens
de enrocamento, por outro lado, o corpo da barragem é o
único, devendo ter resistência estrutural e de infiltração contra
ruptura, por meio das drenagens existentes.
c. Em uma barragem de terra homogênea, a zona filtrante
deve ser construída para evitar a perda de partículas de solo
por erosão devido ao fluxo de infiltração através do aterro.
Em barragens de terra zonada, por outro lado, o corpo da
barragem é o único, devendo ter resistência estrutural e de
infiltração contra ruptura, por meio das drenagens existentes.
d. Em uma barragem de terra zonada, a zona filtrante deve ser
construída para evitar a perda de partículas de solo por erosão
devido ao fluxo de infiltração através do aterro. Em barragens
de terra homogênea, por outro lado, o corpo da barragem é o
único, devendo ter resistência estrutural e de infiltração contra
ruptura, por meio das drenagens existentes.
e. Em uma barragem de terra zonada, a zona filtrante deve ser
construída para evitar a perda de partículas de solo por erosão
devido ao fluxo de infiltração através do aterro. Em barragens
de enrocamento, por outro lado, o corpo da barragem é o
único, devendo ter resistência estrutural e de infiltração contra
ruptura, por meio das drenagens existente.

26
2. A maioria das falhas catastróficas de barragens de aterro são
causadas por galgamento da água do reservatório devido a
inundações ou perda de bordo livre. Embora as barragens de
aterro não devam ser projetadas para resistir à ação erosiva
do fluxo de água sobre a crista, casos históricos na engenharia
revelam que a capacidade inadequada do vertedouro, ou seja,
estimativa insuficiente da quantidade de inundação muitas
vezes levou à falha do aterro devido ao galgamento. Além
disso, outros problemas geotécnicos podem surgir no período
construtivo e operacional da barragem. Com base no contexto
apresentado, pode-se afirmar que:

a. Durante a construção, há tendência de redução da


poropressão.
b. Durante a construção, há aumento da resistência ao
cisalhamento dos solos envolvidos.
c. Processos relacionados à erosão interna são comuns após o
período construtivo.
d. Devido ao carregamento do aterro na fundação, há maior
chance de fissuração do aterro na construção.
e. Aumento do volume devido a saturação tendem a ocorrer no
período construtivo.

GABARITO

Questão 1 - Resposta A
Resolução: Muitos projetos de aterro para controle de
infiltração incluem zonas de filtro/ drenagem de fundação e de
aterro, que funcionam em conjunto para fornecer um sistema
completo. Além das zonas de filtro e drenagem, a maioria dos
projetos emprega vários métodos para interceptar a infiltração
e controlar a quantidade de fluxo e gradiente hidráulico. Ao
27
incluir medidas de redução de infiltração e zonas de filtro/
drenagem, uma linha dupla de defesa é fornecida que aumenta
a segurança de uma estrutura.
Questão 2 - Resposta C
Resolução: Após o período construtivo, a barragem de aterro
tende a enfrentar problemas relacionados a: fraturamento
hidráulico/ erosão interna, desenvolvimento de excesso
de pressão hidrostática devido ao rápido, rebaixamento,
redução da resistência ao cisalhamento/ inchaço do solo
compactado, fissuração e influência de forças sísmicas. No
período construtivo, os problemas enfrentados nos projetos
são basicamente resumidos em: aumento da pressão da água
dos poros durante a construção, bem como a redução da
resistência ao cisalhamento devido à propriedade tixotropical.
Falhas desse tipo, entretanto, não podem ser um problema
crítico nos projetos de barragens de aterro, porque o acúmulo
de dados precisos de hidrologia disponíveis e o aprimoramento
do método de projeto podem resolver o problema
prontamente.

28
INÍCIO TEMA 1 TEMA 2 TEMA 3 TEMA 4

TEMA 3

Investigações e Monitoramento
Geotécnico em barragens
______________________________________________________________
Autoria: Marcio Fernandes Leão
Leitura crítica: Petrucio Santos Junior
DIRETO AO PONTO

A primeira etapa do projeto de uma barragem é a realização


de visitas de reconhecimento aos potenciais locais onde se
pretende construir o eixo da mesma. É importante realizar
explorações geológicas superficiais e profundas para conhecer as
características dos solos e formações rochosas onde será apoiada
a fundação da barragem. Entretanto, os estudos geológicos
devem ser continuados nas etapas preliminares e de projeto, e
até mesmo na construção da obra, atualizando todas as análises
de estabilidade.

Uma das atividades mais importantes de investigações geológicas


é o mapeamento geotécnico geológico das diferentes partes
que compõem uma barragem, pois é a base para estabelecer
a caracterização da matriz rochosa, das descontinuidades e
do maciço rochoso, e, com base nessas informações, definir a
permeabilidade e as estabilidades do aterro, bem como a busca
de materiais para empréstimo.

Com base nas informações geológicas e estruturais, é realizado


um zoneamento do maciço rochoso, a fim de fazer uma
classificação geomecânica ou geotécnica. Paralelamente à
execução da investigação geotécnica de campo, são realizados
ensaios de laboratório com o objetivo de definir as características
e parâmetros dos solos e rochas que serão utilizados durante
a fase de projeto da barragem. A Figura 1 apresenta algumas
premissas básicas que ajudam a traçar estratégias para a
avaliação geotécnica de projetos de barragens.

30
Figura 1 – Avaliação diagnóstica para projetos de barragens

Fonte: elaborada pelo autor.

É muito importante, durante a fase de projeto, levar em


consideração que quando a fundação é definida e o reservatório
enchido, o estado de tensões e deformações, tanto nas fundações
quanto nos espaldares do aterro, mudam substancialmente.

Com base na compressibilidade e resistência ao cisalhamento dos


materiais da fundação, serão calculados os recalques esperados
do aterro. A permeabilidade desses mesmos materiais definirá a
quantidade de vazão que pode passar pela fundação, bem como os
tipos de tratamento, medidas e alternativas que devem ser estudadas
para controlar ou reduzir essa vazão. A susceptibilidade ao fenômeno
de liquefação de solos granulares nas fundações é outro fator
muito importante que também deve ser levado em consideração,
principalmente quando a barragem está localizada em zona sísmica ou
suscetível a vibrações (como aquelas próximas a bancos de materiais
onde explosivos são usados para
​​ a sua exploração).

As espessuras, inclinações, tipos de materiais e procedimentos


construtivos dos aterros são função da análise de estabilidade
efetuada tanto a montante como a jusante do aterro. A referida
31
análise deve levar em consideração as diferentes condições de
carregamento, como: barragem com reservatório cheio, barragem
com reservatório vazio, enchimento rápido, esvaziamento rápido,
efeito sísmico etc. Além disso, a suscetibilidade ao piping deve
ser analisada cuidadosamente, para o que é importante levar em
consideração o projeto e a instalação de filtros graduados, bem
como nas zonas de transição.

Ao analisar a segurança de uma barragem, é importante considerar


o efeito do envelhecimento dos materiais que constituem,
principalmente, o aterro e sua fundação. Devido a este efeito,
os materiais terrosos podem sofrer alterações substanciais em
sua estrutura, composição e propriedades, em consequência da
atividade microbiológica e de processos químicos ou mecânicos
que ocorrem durante os anos de vida da barragem. Os resultados
dessas alterações podem causar amolecimento, rigidez, perda ou
ganho de resistência desses materiais, ou então, alteração de sua
condutividade hidráulica, entupimento de drenos e filtros etc. Por
outro lado, existem várias barragens que foram instrumentadas
para monitorar o comportamento de seu aterro e de sua fundação.
No entanto, na maioria dos casos a referida instrumentação é
abandonada, pelo que se desconhece o comportamento daqueles
elementos da barragem onde a instrumentação foi instalada.
Consequentemente, informações valiosas sobre o comportamento
geral da barragem são perdidas, eliminando a oportunidade de
melhorar a compreensão do comportamento dessas barragens a
tensões estáticas e sísmicas.

Diante do exposto, é imprescindível estabelecer um sistema de


segurança de barragens que permita avaliar e priorizar aquelas
que requerem atenção imediata. Nesse sentido, a geotecnia pode
contribuir significativamente para a concepção de mecanismos que
permitam avaliar o estado de uma barragem e definir o grau de
urgência para a sua reparação ou reabilitação.
32
PARA SABER MAIS

Métodos numéricos são implementados para resolver vários


problemas de engenharia, inclusive em barragens, considerando
que muitas análises de estabilidade, como o conhecido Método do
Equilíbrio-Limite, podem ser simplistas demais. Ao estabelecer um
método numérico existem muitas alternativas, e, aqui, referiremos aos
quatro métodos mais relevantes em Geotecnia, que são: o Método
das Diferenças Finitas, o Método das Características, o Método das
Equações Integrais e o Método dos Elementos Finitos (MEF).

O Método das Diferenças Finitas parte do conhecimento da formulação


das equações diferenciais que regem o problema de engenharia e,
nele, a substituição da expressão diferencial é feita por uma expressão
equivalente em termos de incrementos finitos das variáveis, que são
discretizadas. Portanto, a subdivisão do domínio por meio de uma rede
ortogonal é necessária e o problema é resolvido de forma incremental.
Seu campo de aplicação inclui a solução de problemas de filtração,
consolidação unidimensional, interação solo-estrutura e estacas.

O Método das Características origina-se do conhecimento da


formulação das equações diferenciais do problema e pode ser
aplicado quando o sistema de equações diferenciais é do tipo
hiperbólico, consistindo em uma mudança de coordenadas que
sempre existe, de forma que dito sistema em derivadas parciais
torna-se equações diferenciais ordinárias. Seu campo de aplicação é
enquadrado na solução de problemas de plasticidade bidimensional
e problemas de propagação de ondas unidimensionais em solos.

O Método das Equações Integrais começa com a solução elementar de


um tipo de problema e integrando-o para resolver um problema mais
complexo do mesmo tipo e o problema deve ser linear. É aplicado em
problemas de distribuição de carga para qualquer forma e tipo nos

33
casos de quaisquer cargas, bem como na distribuição de cargas no
fuste de estacas com carga vertical ou carga horizontal.

O Método dos Elementos Finitos (MEF) é o mais aplicado em


Geotecnia, sendo simples e prático. As aplicações são encontradas
em praticamente todos os problemas da Geotecnia atual, tais como:
simulação de obras de terraplenagem, interação solo-estrutura,
estacas, escavações subterrâneas, escoamento em meios porosos,
consolidação e outros.

A nível conceitual, o MEF consiste na decomposição de um meio físico


contínuo em um número discreto de partes ou elementos que estão
conectados entre si por um número discreto de pontos chamados
nós. Seus movimentos constituem as incógnitas fundamentais
de cada problema. Dentro de cada elemento caracterizado pela
região gaussiana (nó gaussiano), os movimentos de qualquer ponto
são obtidos a partir dos movimentos dos nós do elemento. Uma
vez conhecido o movimento de um ponto dentro do elemento, as
condições de equilíbrio e compatibilidade são estabelecidas e, dadas as
relações constitutivas dos materiais, as variáveis de resposta podem ser
obtidas em qualquer ponto do elemento.

Ao usar o MEF para resolver os problemas de determinação dos


deslocamentos, tensões e deformações de um solo, vários modelos
constitutivos podem ser usados, sejam elásticos, plásticos, elasto-
plásticos, anisotrópicos, hiperbólicos, estado crítico etc., bem como
modelos de consolação homogêneos e heterogêneos podem
ser usados. Além disso, o MEF é muito viável para o estudo de
determinados fenômenos como sucção, expansão, colapso ou
inchaço de solos em diferentes estágios, bem como sua utilização na
determinação do fator de segurança na estabilidade de taludes.

Conforme estudos apresentados por Leão (2015), podemos notar nas


Figuras 2 e 3 a aplicação do MEF, considerando a ausência e existência

34
de cut-offs (substituição da fundação por concreto), respectivamente,
para as análises de tensão, deformação dos materiais de fundação. Em
ambas as figuras são considerados como materiais de fundação: solo
residual maduro (amarelo), solo residual jovem (verde) e rocha alterada
(azul claro), sendo consideradas estruturas geológicas na fundação
oriundas da unidade geológica. Em cinza, é apresentado o material de
aterro (corpo da barragem e cut-offs).

Figura 2 – Exemplo de input de seção para análise tensão-


deformação das condições de fundação sem cut-offs, pelo MEF

Fonte: http://www.soilsandrocks.com.br/soils-androcks/SR41-2_171-178.pdf.
Acesso em: 23 nov. 2021.

Figura 3 – Exemplo de input de seção para análise tensão –


deformação das condições de fundação com cut-offs de 4 m, pelo
MEF

Fonte: http://www.soilsandrocks.com.br/soils-androcks/SR41-2_171-178.pdf. Acesso


em: 23 nov. 2021.
35
Posteriormente à definição das seções, podemos notar na Figura 4,
os vetores de fluxo considerando a seção apresentada na Figura 2 e
3, respectivamente.

Além disso, na Figura 5, são apresentados os pontos de plastificação


das considerando as seções apresentadas nas Figuras 2 e 3,
respectivamente. Para ambas as condições, com ou sem dentes
de fundação, foi admitido que os deslocamentos horizontais
fossem impedidos nas fronteiras vertical e horizontal e que os
deslocamentos verticais são impedidos apenas na base do modelo,
ou seja, na fronteira horizontal.

Figura 4 – Vetores de fluxo para as condições sem (a) e com (b)


cut-offs

(a) (b)
Fonte: http://www.soilsandrocks.com.br/soils-androcks/SR41-2_171-178.pdf. Acesso
em: 23 nov. 2021.

Figura 5 – Pontos de plastificação para as condições sem (a) e


com (b) cut-offs

(a) (b)
Fonte: http://www.soilsandrocks.com.br/soils-androcks/SR41-2_171-178.pdf. Acesso
em: 23 nov. 2021.
36
Conforme apresentado na Figura 5, a posição da linha de saturação
desce ligeiramente pelo paramento de jusante, assumindo uma
descida mais acentuada junto a este paramento, onde a partir do
mesmo o nível freático encontra-se ao nível do terreno. Os pontos
de ruptura plástica (Figura 6), que representam pontos no solo que
atingiram a plasticidade, estão concentrados essencialmente nos
solos residuais maduro e jovem, principalmente, junto à fundação
da barragem ou próximo aos cut-offs.

Em termos de tensões totais, não houve grande diferença entre as


seções, tendo em vista que a modelagem determina a magnitude
das tensões horizontais com base no coeficiente de Poisson. Para a
condição com cut-off, este valor praticamente dobrou. Essa anomalia
pode ser explicada devido às condições geológico-geotécnicas
relacionadas ao fluxo, no local desta seção, porém, a diferença entre
a condição com dente e sem dente de fundação é a redução da
metade do valor das tensões totais, para a última condição descrita.
Em termos de tensões efetivas principais médias praticamente
apresentaram os mesmos valores para as condições sem os dentes
de fundação.

Para a seção sem cut-off, as tensões principais efetivas variaram em


torno de 457 kN/m² a 4911 kN/m² e as tensões totais principais em
torno de 325 kN/m² a 399 kN/m². Os valores de tensões tenderam
a se concentrar no corpo da barragem nas paredes de jusante,
montante, ou em ambas, tudo dependendo da existência ou não da
presença de solos residuais jovens junto à base da fundação.

Os valores de poropressão não variaram muito para todas as


supracitadas análises, ficando em entre de 648 a 660 kN/m². Da
mesma forma, as velocidades de escoamento, que apresentaram
valores entre 0,005 e 0,007 m/dia, devido ao solo ser essencialmente
argiloso.

37
Com base nas figuras anteriormente apresentadas, podemos chegar
a algumas conclusões. Para a seção da barragem apresentada as
maiores tendências de deslocamento estão no pé de montante,
progredindo para todo o corpo da barragem. Essa tendência tem a
direção para jusante e contrária à direção da xistosidade e principais
estruturas geológicas, estando a favor da segurança, com valores
em torno de 0,14 e 0,18 m para a condição sem dentes e 0,11 e 0,13
m para a condição com dentes. As deformações totais variaram de
1 a 2,5% e pontualmente de 5,93%. Essa condição retrata a maior
e menor existência de camadas deformáveis de solos de baixa
resistência ao cisalhamento, no caso as camadas de solo residual
maduro. De forma geral, as seções que apresentaram a existência
de apenas camadas de solo residual jovem ficaram em torno da
faixa anteriormente apresentada.

Para a condição com cut-offs, em termos de deformações totais, houve


uma grande redução deste parâmetro, devido à remoção dos solos
de baixa resistência ao cisalhamento e a substituição por materiais
do cut-off. As deformações variaram em torno de 0,6 a 1,90%, com
um valor mais alto para a camada de solo residual maduro não sendo
totalmente eliminada no paramento de montante.

Ao considerar o estudo de um aterro, é realizada uma análise


bidimensional da deformação plana, uma vez que, como os
deslocamentos longitudinais são constantes, a variação das
deformações em relação ao seu comprimento é nula, e a análise
é simplificada, do ponto de vista matemático e computacional. A
vantagem fundamental da utilização de métodos numéricos é a
rapidez com que as soluções são obtidas, uma vez que o modelo
foi corretamente representado. Para a solução de problemas de
engenharia, onde a modelagem numérica é utilizada como ferramenta
de solução, o uso de elementos finitos é recomendado de acordo com
sua forma, tipo e tamanho que melhor fornecem a solução.

38
Referências bibliográficas
LEÃO, M. F.; PACHECO, M. P.; DANZIGER, B. R. Stress-Strain Analysis of a
Concrete Dam in Predominantly Anisotropic Residual Soil. Soils and Rocks, São
Paulo, 41(2): 171-178.

TEORIA EM PRÁTICA

Certa localidade foi escolhida para construção de uma barragem


de terra com núcleo de argila. A premissa da projetista era
que houvesse a total remoção de uma camada de fundação
composta por argila muito mole, inundada, com cerca de 10 m de
espessura. Dadas as características deste material, foi sugerida sua
utilização como material do núcleo. A partir da implantação de um
inclinômetro e um piezômetro, até uma dada cota (z) na fundação,
onde as tensões cisalhantes poderiam condicionar a estabilidade
da barragem, notou-se a presença dessa argila nos materiais
atravessados em fundação. Como engenheiro (a) de registro para a
barragem, opine sobre as condições abaixo:

1. Considerando que a camada não tenha sido totalmente


removida, quais seriam as implicações a curto e longo prazo
em termos: da evolução da tensão cisalhante, poropressão,
resistência e fator de segurança considerando esta hipótese?
2. Se a jazida de material argiloso estivesse próxima a
implantação do barramento, quais seriam os efeitos
esperados (devido a remoção) a curto e longo prazo em
termos: da evolução da tensão cisalhante, poropressão,
resistência e fator de segurança?
3. Em termos de ensaios triaxiais (CD, CU e UU), que condições
seriam as mais indicadas para avaliação das etapas de vida do
projeto? Considere comportamentos no maciço da barragem e
no maciço de fundação.

39
Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,
acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da


nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

Indicação 1

A dissertação indicada, páginas 18 a 38, faz uma abordagem sobre


a segurança de barragens, destacando aspectos relacionados à
legislação nacional e internacional.

LEITE, S. R. Modelo para avaliação de riscos em segurança de


barragens com associação de métodos de análise de decisão

40
multicritério e conjuntos Fuzzy. Dissertação de Mestrado. Brasília:
UNB, 2019.

Indicação 2

O trabalho indicado, páginas 41 a 50, apresenta aplicações de


análises tensão versus deformação para barragens de aterro.

FONSECA, M. E. Análise de deformação vertical de uma barragem


de terra para diferentes fases do enchimento do reservatório:
estudo de caso da barragem Piaus. Trabalho de conclusão de curso.
São Carlos: UFSC, 2021.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. O funcionamento de um reservatório implica períodos


de enchimento e escoamento. Há momentos em que o
rebaixamento rápido pode ser necessário, por exemplo, para
controlar enchentes. Essa é a situação mais desfavorável
para a estabilidade de taludes. Condições de instabilidade

41
são geradas quando altas poropressões dentro do aterro não
se dissipam na mesma velocidade que a redução do nível de
água no reservatório.
Com base no contexto apresentado, assinale a alternativa
correta:

a. À medida que o reservatório esvazia, as condições hidráulicas


dos taludes mudam; o lençol freático é, geralmente,
determinado pela altura da água no reservatório e pela
geometria do aterro.
b. A resistência do solo é afetada pela geração de pressões dos
poros. No entanto, a água armazenada no reservatório exerce
uma força instabilizadora na superfície do talude oposta às
forças desestabilizadoras da pressão da água dos poros.
c. A resistência do solo é afetada pela geração de pressões dos
poros. No entanto, a água armazenada no reservatório exerce
uma força estabilizadora na superfície do talude no mesmo
sentido às forças desestabilizadoras da pressão da água dos
poros.
d. À medida que o reservatório enche, as condições hidráulicas
dos taludes mudam; o lençol freático é, geralmente,
determinado pela altura da água no reservatório e pelas
características hidrogeológicas dos materiais.
e. Uma rápida redução do nível do reservatório resulta no
desaparecimento repentino da força estabilizadora, enquanto
as poropressões nos espaldares permanecem baixas, dando
origem a condições instáveis.

2. As investigações no local, em que se deseja implementar


uma barragem, devem ser cuidadosamente planejadas
e coordenadas, selecionando aqueles métodos que
podem ser usados para diferentes propósitos ou podem

42
ser complementares uns aos outros. Os custos e o
tempo podem ser reduzidos se houver planejamento
e coordenação adequados. Com base no contexto
apresentado, pode-se afirmar que:

a. As investigações do local devem ser realizadas em estágios,


usando métodos mais gerais nos estágios iniciais, cobrindo
áreas extensas e outros mais detalhados e sofisticados,
conforme o desenvolvimento do projeto.
b. As investigações do local devem ser realizadas em estágios
usando métodos mais específicos nos estágios iniciais,
cobrindo áreas extensas e outros mais abrangentes e
sofisticados, conforme o desenvolvimento do projeto.
c. As investigações do local devem ser realizadas em estágios,
usando métodos mais gerais no estágio de monitoramento,
cobrindo áreas extensas e outros mais abrangentes, conforme
o desenvolvimento inicial do projeto.
d. As investigações do local devem ser realizadas em campanha
única, usando métodos mais gerais nos estágios iniciais,
cobrindo áreas extensas e outros mais detalhados e
sofisticados, conforme o desenvolvimento do projeto.
e. As investigações do local devem ser realizadas em estágios
usando métodos mais gerais nos estágios iniciais, cobrindo
áreas extensas e outros mais detalhados e sofisticados,
conforme a pré-viabilidade do projeto.

GABARITO

Questão 1 - Resposta D
Resolução: A resistência do solo é afetada pela geração de
poropressões. No entanto, a água armazenada no reservatório
exerce uma força estabilizadora na superfície do espaldar
43
oposta às forças desestabilizadoras da pressão da água dos
poros. Uma rápida redução do nível do reservatório resulta no
desaparecimento repentino da força estabilizadora, enquanto
as poropressões nas encostas permanecem altas, dando
origem a condições instáveis.
Questão 2 - Resposta A
Resolução: A interpretação geral dos parâmetros geológicos,
hidrogeológicos e geomecânicos deve levar ao zoneamento
geomecânico da fundação do maciço rochoso que será usado
para definir as condições de fundação. Zonas específicas do
maciço rochoso, tais como falhas, zonas de cisalhamento,
diques, zonas intemperizadas etc., devem ser consideradas
como pontos particulares e estudados individualmente. Os
ensaios in situ em grande escala são, normalmente, realizados
em barragens de concreto. Estes são limitados em número e
estão localizados nas zonas críticas do maciço rochoso para
fornecer os parâmetros de resistência e deformabilidade das
fundações.

44
INÍCIO TEMA 1 TEMA 2 TEMA 3 TEMA 4

TEMA 4

Manual de Operação e Gestão de


Risco
______________________________________________________________
Autoria: Marcio Fernandes Leão
Leitura crítica: Petrucio Santos Junior
DIRETO AO PONTO

A revisão abrangente de segurança de barragens é um


procedimento que busca avaliar a segurança de barragens como
um todo, compreendendo um estudo detalhado da engenharia de
barragens, com suporte especializado e avaliação dos registros e
relatórios de investigação, projeto, construção, comissionamento,
operação, manutenção, monitoramento de instrumentação e
atividades de vigilância. Essa revisão, busca subsidiar estudos de
estabilidade, bem como subsidiar programas de investigação e
instrumentação geotécnica.

Uma revisão abrangente de segurança de barragens deve avaliar


a integridade de uma barragem em relação aos modos de falha
conhecidos, revisão do programa de monitoramento, programa de
inspeções no local e mecanismos de revisão para os vários tipos de
barragens com base nos atuais critérios de segurança aceitáveis (por
​​
exemplo, padrões de engenharia, segurança de barragens diretrizes)
ou critérios de gestão de risco, que podem diferir do tempo de
construção original da barragem.

Os documentos que subsidiam a revisão periódica de barragens são


produzidos para documentar os resultados da revisão de segurança
e para recomendar trabalhos de reparação ou manutenção. Os
proprietários de barragens podem usar técnicas de avaliação
de risco com revisões de segurança para determinar a urgência
e extensão das obras e priorizar as obras corretivas para suas
barragens. Em vista da importância econômica em constante
mudança das barragens, bem como as percepções de perigo em
mudança para a jusante, as revisões de segurança abrangentes das
barragens são geralmente conduzidas globalmente em intervalos
regulares de normalmente cinco a trinta anos.

46
Em todo o mundo, a prática usual de supervisão de barragens é
baseada no princípio dos quatro olhos (do inglês, four-eyes principle),
ou seja, onde dois profissionais avaliam juntos para a tomada de
decisão. É um princípio aplicado em diversas áreas, entre elas, na
avaliação de barragens, sejam de propriedade estatal, pública ou
privada. O princípio fundamental é que a primeira análise pertence
ao dono da barragem ou operador da barragem, que é responsável
pela autosupervisão ou supervisão interna. A segunda análise
precisa pertencer a um órgão independente, geralmente, uma
autoridade supervisora, conselhos de especialistas, consultores ou
uma combinação dos órgãos acima mencionados.

A Lei n. 14.066, de 30 de setembro de 2020 (BRASIL, 2020), altera


a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), além de
outras determinações, exige que os proprietários de barragens
especificadas providenciem uma avaliação abrangente da segurança
de suas barragens por meio de um painel independente de
especialistas.

O Boletim 154 do ICOLD (USSD, 2017), cujo título é Gestão de


Segurança de Barragens: Fase Operacional do Ciclo de Vida da
Barragem, é uma publicação da Comissão Internacional de
Grandes Barragens. O boletim aponta que o objetivo principal
da revisão abrangente de segurança é obter uma visão geral do
estado real de segurança da barragem e determinar se quaisquer
medidas de reabilitação (tanto estruturais como não estruturais),
modificações ou alterações, são necessárias para garantir que o
nível de segurança é adequado e para garantir que o princípio da
melhoria contínua é observado. O Painel de Revisão de Segurança
de Barragens deve ser constituído para realizar uma avaliação
abrangente do sistema de barragens e fornecer respostas às
seguintes perguntas:

47
• A barragem está em conformidade com os requisitos
regulatórios atuais?

• Os arranjos gerenciais e organizacionais, atualmente em


vigor, são suficientes para manter os níveis de segurança
em conformidade com os requisitos até a próxima revisão
abrangente de segurança?

Revisões de segurança abrangentes são, normalmente, conduzidas


periodicamente com a frequência, dependendo do nível de risco
para as pessoas, propriedade e meio ambiente. O intervalo para
análises abrangentes de segurança é geralmente de cinco a dez
anos; às vezes, até trinta anos, dependendo das consequências
potenciais do rompimento da barragem. A revisão de segurança
deve ser realizada por especialistas com formação adequada,
experiência e especialização. Na prática, para todas as grandes
barragens, a revisão é, muitas vezes, feita por um grupo ou
Painel Independente de Especialistas (composto por engenheiros
qualificados e especialistas em outras áreas, por exemplo, geólogos,
especialista em segurança de barragens, especialista em sísmica
etc.), denominado Revisão de Segurança de Barragens Painel (DSRP).

Durante esta avaliação, o desempenho da barragem, quaisquer


incidências de segurança, resultados de inspeções de segurança,
dados de instrumentação, grandes reparos e atividades de
manutenção são analisados de​​ forma abrangente.

Referências bibliográficas
BRASIL. Presidência da República. Secretaria-Geral. Subchefia para Assuntos
Jurídicos. Lei n. 14.066, de 30 de setembro de 2020. Brasília, 2020.
USSD. U. S. National Commitee of ICOLD. Bulletin 154 — Dam Safety
Management: Operational Phase of the Dam Life Cycle. CIGB ICOLD, 2017.

48
PARA SABER MAIS

Os benefícios proporcionados por grandes barragens são de


grande magnitude e desempenham um papel importante nas
atividades relacionadas ao recurso natural, a água.

Essas atividades são, entre outras, o abastecimento de recursos


hídricos às grandes cidades, permitir o desenvolvimento da
agricultura, proteger territórios dos efeitos das grandes avenidas,
fornecer energia elétrica, contribuir para o desenvolvimento
da atividade turística. Entretanto, ao preço dessas atividades
benéficas, essas infraestruturas carregam um risco associado,
em que um grande número de pessoas e propriedades estão
vinculadas.

Para analisar o risco, primeiro você precisa entendê-lo. O risco


compreende em si a combinação de três conceitos: o que pode
acontecer, qual a probabilidade de acontecer e quais são as
suas consequências. Na análise de risco aplicada à segurança
de barragens, quando nos perguntamos o que pode acontecer,
nos referimos aos modos de ruptura que a barragem pode ter.
O quão provável é a combinação da probabilidade de ocorrência
de certas cargas e a probabilidade condicional de rompimento
da barragem quando essas cargas ocorrerem. Finalmente, as
consequências são derivadas do rompimento da barragem,
incluindo, entre outras, as consequências econômicas e a perda
de vidas.

É por isso que a questão da segurança de barragens deve ser


tratada de forma meticulosa, por meio de uma análise de risco
que tende a abranger tudo relacionado a barragens. Os principais
motivos que motivaram o desenvolvimento de técnicas de análise
de risco foram:

49
• Envelhecimento de todas as barragens.

• A impossibilidade prática de construção de novas estruturas


devido a aspectos sociais e ambientais.

• A demanda por maiores níveis de segurança para a


população e bens localizados a jusante das barragens.

• A necessidade de otimizar a gestão dos sistemas de recursos


hídricos e aumentar sua capacidade regulatória para
responder a uma demanda crescente de abastecimento.

A identificação e compreensão de todos os componentes de


risco inerentes ao funcionamento da barragem e à gestão da
segurança do reservatório, constituem uma base conceptual para
a implementação dos sistemas lógicos ou também denominados
modelos de risco de forma a facilitar a tomada de decisões.

A partir das atividades básicas, muitas tarefas de fiscalização,


como inspeção visual, monitoramento do comportamento da
barragem, reservatório, fornecem os dados necessários para
a definição de um modelo de risco. Caso o modo de falha já
tenha iniciado e esteja se desenvolvendo, a capacidade de
detecção e intervenção bem-sucedida dependerá da eficácia
dessas atividades. Uma vez detectado qualquer comportamento
anormal, capaz de afetar o sistema de segurança, a intervenção
centra-se tanto na resolução da deficiência (em termos de gestão
de emergências) na proteção da população a jusante. A primeira
ação teria o efeito de redução da probabilidade de falha da
estrutura e a segunda de mitigação de potenciais consequências
adversas.

50
Outro ponto-chave nas atividades do programa de segurança de
barragens é uma revisão periódica de segurança, onde em termos
de fatores de segurança são analisados os cenários atuais e as
respostas do sistema; tudo isso junto com outros fatores como
a confiabilidade dos vertedouros, acessibilidade, eficiência de
comunicação etc.

Se todos os processos relacionados à gestão da segurança das


barragens formarem um sistema lógico (denominado modelo de
risco), capaz de reunir todas as informações sobre o sistema, o
resultado seria de grande valia para o órgão gestor da barragem
e operadores na tomada de decisões.

A informação é analisada no processo de identificação do modo


de falha potencial e se torna um input para o modelo de risco
que serve para identificar, caracterizar e quantificar o risco,
conforme Figura 1. O processo que se inicia com a compilação
das informações e leva à quantificação do risco implica na
consolidação do conhecimento existente sobre o sistema
barragem-reservatório. Posteriormente, o processo deve garantir
a robustez e transparência dos procedimentos para salvá-los
e poder atualizá-los de forma adequada, para que possam ser
integrados em uma ferramenta de gestão dinâmica.

A comunicação com a população (especialmente aqueles que


residem a jusante), juntamente com uma legislação clara que
contempla os padrões de projeto, requisitos de segurança,
gestão de riscos e responsabilidade legal, formam dois pilares
principais necessários para implementar um procedimento novo,
transparente, eficiente e socialmente aceito para a tomada de
decisões na gestão da segurança de barragens.

51
Figura 1 – Esquema do processo de avaliação de risco em
barragens

Fonte: elaborada pelo autor.

52
TEORIA EM PRÁTICA

O reservatório de uma barragem destina-se à disposição dos rejeitos


gerados nos processos de beneficiamento de minério fosfático,
retenção de sedimentos erosivos, recirculação de água industrial e
clarificação do efluente final. A barragem possui 40m de altura, com
comprimento de 700m de barramento, sendo alteada por jusante.

A vazão de projeto foi dimensionada considerando a cheia máxima


provável. Toda a instrumentação está de acordo com o projeto
técnico, sem evidências de problemas quanto ao estado de
conservação da barragem e apresentando elementos de acordo
com o Plano de Segurança da Barragem. A barragem possui um
reservatório de 30 milhões de m³, contendo rejeitos, onde existem
dois municípios, com áreas agrícolas a jusante da barragem. Dessa
forma, a partir das informações apresentadas acima, avalie o risco
dessa estrutura diante das características e classifique a mesma
segundo a Portaria DNPM nº 70.389/2017.

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições

53
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da


nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

Indicação 1

O artigo indicado objetiva apresentar uma metodologia para a


elaboração de uma carta de risco para barragens de terra e/ou terra-
enrocamento, baseada na mecânica dos solos tradicional.

VELTEN, R. Z.; SANTOS, R. D. N.; ELIAN, L. H. R. et al. Proposição de


metodologia para a elaboração de carta de risco de barragens
de terra e terra-enrocamento. Campinas: XVIII COBRAMSEG, 2016.

Indicação 2

O artigo indicado destaca a importância da realização de estudos


que abordem os aspectos e instrumentos legais tocantes à
segurança de barragens de rejeitos.

COTA, G. E. M.; ROSA, N. M. G.; ROMEIRO, C. E. et al. Aspectos legais


da segurança de barragens de rejeito de minério: implicações para a
qualidade ambiental e usos múltiplos da água no Alto Rio das Velhas
(MG). GEOgraphia, v21:n.45, 32-46. Minas Gerais, 2019.

54
QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. Nos últimos vinte anos, aconteceram esforços significativos,


principalmente liderados por organizações federais de
segurança de barragens, para avançar o estado da prática na
automação da instrumentação de segurança de barragens.
Esses projetos foram, inicialmente, direcionados para
barragens de alto risco que representavam um risco potencial
significativo para as comunidades a jusante.
Com base no contexto apresentado, assinale a alternativa
correta:

a. Em uma barragem de enrocamento, a zona filtrante deve


ser construída para evitar a perda de partículas de solo por
erosão devido ao fluxo de infiltração através do aterro. Em
barragens de aterro, por outro lado, o corpo da barragem
é o único, devendo ter resistência estrutural e de infiltração
contrarruptura, por meio das drenagens existentes.
b. Em uma barragem de aterro, a zona filtrante deve ser
construída para evitar a perda de partículas de solo por erosão
devido ao fluxo de infiltração através do aterro. Em barragens
de enrocamento, por outro lado, o corpo da barragem é

55
o único, devendo ter resistência estrutural e de infiltração
contrarruptura, por meio das drenagens existentes.
c. Em uma barragem de terra homogênea, a zona filtrante
deve ser construída para evitar a perda de partículas de solo
por erosão devido ao fluxo de infiltração através do aterro.
Em barragens de terra zonada, por outro lado, o corpo da
barragem é o único, devendo ter resistência estrutural e de
infiltração contrarruptura, por meio das drenagens existentes.
d. Em uma barragem de terra zonada, a zona filtrante deve ser
construída para evitar a perda de partículas de solo por erosão
devido ao fluxo de infiltração através do aterro. Em barragens
de terra homogênea, por outro lado, o corpo da barragem
é o único, devendo ter resistência estrutural e de infiltração
contrarruptura, por meio das drenagens existentes.
e. Em uma barragem de terra zonada, a zona filtrante deve ser
construída para evitar a perda de partículas de solo por erosão
devido ao fluxo de infiltração através do aterro. Em barragens
de enrocamento, por outro lado, o corpo da barragem é
o único, devendo ter resistência estrutural e de infiltração
contrarruptura, por meio das drenagens existentes.

2. A maioria das falhas catastróficas de barragens de aterro são


causadas por galgamento da água do reservatório devido a
inundações ou perda de bordo livre. Embora as barragens de
aterro não devam ser projetadas para resistir à ação erosiva
do fluxo de água sobre a crista, casos históricos na engenharia
revelam que a capacidade inadequada do vertedouro, ou seja,
estimativa insuficiente da quantidade de inundação muitas
vezes levou à falha do aterro devido ao galgamento. Além
disso, outros problemas geotécnicos podem surgir no período
construtivo e operacional da barragem. Com base no contexto
apresentado, pode-se afirmar que:

56
a. Durante a construção, há tendência de redução da
poropressão.
b. Durante a construção, há aumento da resistência ao
cisalhamento dos solos envolvidos.
c. Processo relacionados à erosão interna são comuns após o
período construtivo.
d. Devido ao carregamento do aterro na fundação, há maior
chance de fissuração do aterro na construção.
e. Aumento do volume devido a saturação tendem a ocorrer no
período construtivo.

GABARITO

Questão 1 - Resposta C
Resolução: Essas duas décadas viram muitos avanços na
tecnologia de sensores, equipamentos de aquisição de
dados e gerenciamento de dados que tornaram a aquisição
automatizada de dados mais confiável, econômica e
prontamente disponível para aplicações mais amplas em
monitoramento de segurança de barragens.
Questão 2 - Resposta C
Resolução: Após o período construtivo, a barragem de aterro
tende a enfrentar problemas relacionados a: fraturamento
hidráulico/ erosão interna, desenvolvimento de excesso
de pressão hidrostática devido ao rápido, rebaixamento,
redução da resistência ao cisalhamento/ inchaço do solo
compactado, fissuração e influência de forças sísmicas. No
período construtivo, os problemas enfrentados nos projetos
são basicamente resumidos em: aumento da pressão da água
dos poros durante a construção, bem como a redução da
resistência ao cisalhamento devido à propriedade tixotropical.
57
Falhas desse tipo, entretanto, não podem ser um problema
crítico nos projetos de barragens de aterro, porque o acúmulo
de dados precisos de hidrologia disponíveis e o aprimoramento
do método de projeto podem resolver o problema
prontamente.

58
BONS ESTUDOS!

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