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José Carlos A.

Cintra
Nelson Aoki

São Carlos, 2009


Autores
José Carlos A. Cintra
Nelson Aoki

Capa e Diagramação
Paulo Calabrese
pcalabrese@ig.com.br
SUMÁRIO

Apresentação ......................................................................... 5
1. Introdução ......................................................................... 9
2. Terminologia ................................................................... 15
3. Primeira escada: colapso ................................................ 22
1º degrau: Constatação da existência do problema .... 22
2º degrau: Medidas reparadoras .................................. 24
3º degrau: Prova de carga em placa com inundação .. 26
4º degrau: Prova de carga em estacas e tubulões com
inundação ...................................................................... 27
5º degrau: Melhoria do solo como solução de projeto 32
6º degrau: As contribuições de Jennings e Knight .... 38
7º degrau: Ensaios de penetração dinâmica e estática 40
Patamar da primeira escada ......................................... 42
4. Segunda escada: sucção .................................................. 54
1º degrau: Teor de umidade e sucção .......................... 54
2º degrau: Ensaios de campo ....................................... 55
3º degrau: Curva edométrica ....................................... 56
4º degrau: Capacidade de carga de fundações
por sapatas ..................................................................... 58
5º degrau: Sucção matricial e tensiômetro ................. 59
6º degrau: Capacidade de carga de fundações
profundas ...................................................................... 64
7º degrau: Tensão admissível em fundações diretas ... 66
Patamar da segunda escada .......................................... 68
5. Conclusão ........................................................................ 79
6. Capítulo especial ............................................................ 81
Referências .......................................................................... 89
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

APRESENTAÇÃO

O Campo Experimental de Fundações, do Departamento


de Geotecnia da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC),
da Universidade de São Paulo, faz o papel de um verdadeiro
“laboratório a céu aberto” para realização de pesquisas sobre
comportamento de fundações in situ e em verdadeira
grandeza, especialmente no tema das fundações em solos
colapsíveis. Contando com o apoio sistemático da FAPESP,
com sucessivos auxílios a pesquisa, desde 1988, em duas
décadas de profícua existência esse campo experimental tem
sido palco para a execução de inúmeros ensaios, geralmente
programados em projetos de pesquisa de dezenas de
dissertações e teses.

Muitos objetos de ensaio (placas em várias dimensões e


profundidades, estacas de diferentes tipos, seções transversais
e comprimentos, isoladas e em grupo, e tubulões a céu aberto
em algumas profundidades e dimensões), às vezes
instrumentados, mesclados com diferentes modalidades de
prova de carga estática (lenta, rápida, mista e método do
equilíbrio), à compressão, tração e horizontal, e provas de
carga dinâmica de energia crescente, e com duas condições
de ensaio (solo inundado e solo não inundado com
monitoramento da sucção matricial), produziram um rol
impressionante de resultados, gerando conclusões úteis para
a prática da engenharia de fundações.

No parecer do eminente Prof. Dirceu A. Velloso, “as pesquisas


sobre solos colapsíveis desenvolvidas na EESC não encontram
semelhança em nenhuma outra universidade do mundo. E são

5
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

importantes para o nosso país”1. Além da publicação de muitos


artigos de revista e em congressos, nacionais e internacionais,
essa intensa atividade de pesquisa, conduzida sobretudo por
abnegados pós-graduandos, propiciou o lançamento, em
1998, do livro Fundações em Solos Colapsíveis2, que mereceu
a seguinte crítica do Prof. Velloso: “o livro de Cintra será de
consulta obrigatória para o profissional que tiver que estudar uma
fundação em local que tenha solo colapsível” 3.

De lá para cá, decorrida uma década, houve um considerável


avanço nessas pesquisas com a introdução da monitoração
da sucção matricial nos ensaios e a demonstração do seu papel
relevante no comportamento de fundações em solos
colapsíveis, o que passou a exigir um novo texto. Uma
primeira tentativa de redação foi feita através de uma resenha4
preparada para o N SAT de 2004, o 5º Simpósio Brasileiro
de Solos Não Saturados, realizado em São Carlos, SP. Agora,
com base nessa resenha, lançamos esta publicação que
substitui aquele livro de 1998 e atualiza o repositório das
atividades do Campo Experimental de Fundações de São
Carlos. E, como capítulo especial, incluímos o interessante
caso de obra em solo colapsível, apresentado pelo ilustre Prof.
Nelson Aoki 5, no workshop “Mecânica dos Solos Não
1
VELLOSO, D.A. (2001) Parte do parecer emitido como membro da comissão
julgadora de concurso para professor titular do Departamento de Geotecnia da
EESC-USP, São Carlos - SP, em 22/6/2001.
2
CINTRA, J.C.A. (1988) Fundações em Solos Colapsíveis. Ed. Rima, São Carlos
- SP, 106 p.
3
VELLOSO, D.A. (2000) Fundações: Projetos, Execuções, Patologia e Reforço.
4º SEFE - Seminário de Engenharia de Fundações Especiais e Geotecnia, ABEF/
ABMS, São Paulo - SP, v. 2, p. 7.
4
CINTRA, J.CA. (2004) Aplicações da Mecânica dos Solos não Saturados -
Fundações em Solos Colapsíveis. 5º Simpósio Brasileiro de Solos não Saturados,
São Carlos - SP, Editor: Vilar, O.M., v. 2, p. 575-593.
5
AOKI, N. (2004) Relevância da época de execução da investigação geotécnica no
projeto de uma fundação em solo não saturado. 5º Simpósio Brasileiro de Solos
não Saturados, São Carlos - SP, Editor: Vilar, O.M., v. 2, p. 629- 633.

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JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

Saturados: da teoria à prática da engenharia”, daquele mesmo


N SAT.

À semelhança daquela resenha, na estruturação deste texto


utilizamos a figura simbólica de uma “escada”, o que exigiu
a escolha de publicações que pudessem caracterizar “degraus”
da seqüência dos trabalhos sobre fundações em solos
colapsíveis. Por isso, também fazemos citações a pesquisas
realizadas fora do campo experimental de São Carlos,
brasileiras e estrangeiras, mas sem o objetivo de elaborar uma
revisão bibliográfica ou um estado da arte. Esses degraus
estabelecem marcos cronológicos sem, entretanto, representar
períodos estanques, pois cada degrau tem data de início, mas
não de término.

Como estratégia didática, dividimos o texto em duas escadas,


denominadas colapso e sucção, com sete degraus cada. Na
primeira escada, mais antiga, ainda ignorávamos o papel da
sucção matricial, retratando um enfoque mais simplista da
colapsibilidade. Na segunda, ao contrário, consideramos a
sucção matricial e a sua notável influência no comportamento
dos solos colapsíveis, constituindo uma abordagem mais
recente e aprimorada do problema. A segunda escada não é
uma continuidade cronológica da primeira, pois há uma
sobreposição temporal entre elas: mesmo depois de iniciada
a segunda escada, ainda surgiam trabalhos pertinentes à
primeira. Ao final do texto de cada uma das escadas,
construímos um patamar para representar a síntese do
“momento histórico”.

Em vez dos aspectos mais teóricos, o objetivo é trazer uma


contribuição para a prática da engenharia de fundações,
estabelecendo uma metodologia para projetos de fundações
em solos colapsíveis com segurança ao colapso. Que esta obra,

7
portanto, seja útil não só aos que queiram estudar o tema,
mas também a aqueles que forem incumbidos de realizar
projeto de fundações em solos colapsíveis.

São Carlos, julho de 2009.


José Carlos A. Cintra
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

1. INTRODUÇÃO

As fundações sofrem recalques, inevitavelmente, pois os so-


los são deformáveis. O chamado apoio indeslocável, premissa
usual de projetos estruturais, é mera utopia. A magnitude
dos recalques depende do nível de tensões e das características
de deformabilidade do solo, caso a caso. Esses recalques, que
podem ser qualificados como normais, tendem a cessar ou
estabilizar após um certo período de tempo, mais ou menos
prolongado.

Há ainda um tipo especial de recalque, que se soma aos


recalques normais, que é repentino, podendo surgir em
qualquer fase da vida útil da obra, e de grandes proporções,
ultrapassando os recalques admissíveis das fundações e
provocando danos às edificações. Trata-se do recalque de
colapso, peculiar aos solos colapsíveis.

São os solos não saturados, com baixo teor de umidade, e


porosos, com alto índice de vazios, que podem sofrer uma
espécie de colapso da sua estrutura em conseqüência à
infiltração de água em quantidade suficiente. É o aumento
do seu teor de umidade ou grau de saturação, mantida a
tensão aplicada, que produz esse fenômeno nos solos
colapsíveis.

Por isso, as fundações implantadas nesses solos podem se


comportar satisfatoriamente por algum tempo, mas
bruscamente sofrer um recalque adicional, em geral de
considerável magnitude, devido ao aparecimento acidental
de uma fonte de água que passa a inundar o solo. Além da
clássica ruptura de condutos de água ou esgoto, outras

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PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

possíveis causas para essa inundação podem ser: infiltração


de água de chuva, fissuras e trincas em reservatório enterrado,
ascensão do lençol freático, etc.

Antigamente, julgávamos que para entrar em colapso o solo


precisaria ser completamente saturado, mas hoje, sabemos
que a elevação do teor de umidade para um determinado
valor, aquém da saturação completa, já faz disparar o gatilho
desse fenômeno. Esse teor de umidade ou grau de saturação
suficiente para acionar o mecanismo do colapso caracteriza
a condição de solo inundado, de acordo com a terminologia
apresentada no próximo capítulo. Para facilidade de leitura,
essa terminologia substitui, quando necessário, a original dos
autores citados.

O fenômeno do colapso pode ser reproduzido, em laboratório,


por ensaios edométricos, com inundação artificial do solo
em determinado estágio de carregamento. A Figura 1 ilustra
a significativa redução do índice de vazios que ocorre na
tensão de inundação, evidenciando o colapso no ensaio
edométrico.

Figura 1. Reprodução do colapso em ensaio edométrico

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JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

Nos estudos iniciais sobre solos colapsíveis, afirmávamos que,


à estrutura porosa, caracterizada por um alto índice de vazios,
poderia estar associada a presença de um agente cimentante.
Posteriormente, descobrimos o importante papel da sucção
matricial, que decorre das forças de capilaridade (gerando
pressão neutra negativa) e de adsorção, forças essas originadas
da interação entre a matriz de solo e água. A valores baixos
do teor de umidade correspondem altos valores da sucção
matricial, que é uma parcela da sucção total, gerando uma
coesão adicional (coesão “aparente”) e, portanto, aumentando
significativamente a resistência ao cisalhamento do solo. É a
mesma coesão aparente que, nas praias, dá sustentação às
esculturas em areia, como os castelos de areia.

A Figura 2, obtida por Machado (1998) em ensaios triaxiais


com sucção controlada, em amostras indeformadas do
Campo Experimental de Fundações de São Carlos, SP,
exemplifica a variação da coesão com a sucção matricial.
Podemos observar, nessa figura, que para a sucção matricial
de até 50 kPa, que é o máximo valor observado nesse local, a
coesão pode dobrar de valor, em relação à condição de sucção
matricial nula ou de solo inundado. Quanto ao ângulo de
atrito interno, podemos acrescentar que o seu valor
praticamente não varia com a sucção matricial.

Figura 2. Variação da coesão com a sucção matricial (Machado, 1998)

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PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

O solo colapsível apresenta uma estrutura instável, porém


com uma rigidez temporária mantida pela sucção matricial.
Constatação prática disso ocorre nos solos arenosos não
saturados do interior de São Paulo, em que cortes verticais
de apreciáveis profundidades são estáveis, desde que não
sejam inundados. A inundação provoca a dissipação da sucção
matricial, anulando a parcela de coesão “aparente” e, portanto,
reduzindo significativamente a resistência ao cisalhamento,
o que provoca o colapso da sua estrutura.

Há solos colapsíveis que, ao serem inundados, entram em


colapso sob atuação apenas do estado de tensões geostáticas
(peso próprio da camada), sem carregamento externo. É o
caso, por exemplo, do loess russo, de gênese eólica. Não parece
ser, entretanto, o caso dos solos colapsíveis do Brasil, nos
quais o colapso só ocorre se a carga externa atingir um valor
mínimo, caso a caso, definido por Cintra (1995) como “carga
de colapso”.

Portanto, o requisito duplo para que as estruturas edificadas


nos nossos solos colapsíveis sofram recalque de colapso são
o aumento do teor de umidade até a inundação do solo e a
atuação, nas fundações, de uma carga, no mínimo, igual à
carga de colapso. Logo, o solo colapsível pode não entrar em
colapso por insuficiência de umidade e/ou de carga. Mas,
ocorrendo o colapso, os danos podem ser mais ou menos
graves, dependendo dos recalques diferenciais resultantes.

No caso, por exemplo, das intensas chuvas que ocorreram


no interior do estado de São Paulo, em 1995, a Defesa Civil
catalogou algum tipo de dano em cerca de 4.000 edificações
na cidade de Araraquara, onde se registrou a precipitação de
135 mm no dia 31 de janeiro e de 660 mm em 10 dias de
chuvas ininterruptas. Em tubulões escavados, mas ainda não

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JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

concretados, constatou-se a elevação de 4 m no nível d´água,


que perdurou por mais de um mês. Inacreditável, nesse caso,
foi a explicação de um engenheiro, entrevistado num
programa de rádio de grande audiência local, que invocou
reflexos de um abalo sísmico havido na Colômbia.

Interpretação fantasiosa como essa já havia sido feita em Terra


Roxa, PR, quando uma forte tempestade precipitou 155 mm
em 4 h, causando danos graves em construções: rachaduras
de alvenaria com aberturas de até 100 mm, inclinação de
paredes, ruptura de muros, rompimento de canos de água e
de esgoto, ruptura de vigas de concreto, desaprumo de janelas,
quebra de vidros e azulejos, emperramento de portas e
rachaduras extensas no solo. Segundo o relato de Lopes
(1987), a população e a imprensa imaginaram a ocorrência
de um terremoto, associado ao enchimento do reservatório
de Itaipu.

Interessante também é o caso da cidade de Pereira Barreto,


SP, situada a cerca de 20 km a montante da barragem de Três
Irmãos, no Rio Tietê. O enchimento do reservatório dessa
UHE e a operação do Canal de Pereira Barreto propiciaram
a elevação do lençol freático em até 20 m, de acordo com o
monitoramento efetuado pela CESP de 1987 a 1994. O
colapso em decorrência dessa inundação provocou inúmeros
danos. Na área urbana, que teve uma parte submersa, cerca
de 300 edificações precisaram ser reformadas ou
reconstruídas (Albuquerque Filho, 2002).

A NBR 6122/96 faz uma prescrição sucinta para os solos


colapsíveis, no seu item 6.2.2.4, seguida de uma nota, que
transcrevemos a seguir:

“Para o caso de fundações apoiadas em solos de elevada porosidade,

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PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

não saturados, deve ser analisada a possibilidade de colapso por


encharcamento, pois estes solos são potencialmente colapsíveis. Em
princípio devem ser evitadas fundações superficiais apoiadas neste
tipo de solo, a não ser que sejam feitos estudos considerando-se as
tensões a serem aplicadas pelas fundações e a possibilidade de
encharcamento do solo.

Nota: A condição de colapsibilidade deve ser verificada através


de critérios adequados, não se dispensando a realização de
ensaios oedométricos com encharcamento do solo.”

No Brasil, é comprovada a presença de solos colapsíveis em


várias localidades e regiões. Um levantamento inicial, feito
por Ferreira et al. (1989), atualizado por Rodrigues (2009), é
apresentado na Figura 3.

Figura 3. Solos colapsíveis no Brasil (Rodrigues, 2009, adaptado de


Ferreira et al., 1989)

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JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

2. TERMINOLOGIA

Os leigos em determinada área do conhecimento não têm


domínio de seus conceitos com exatidão e, em consequência,
não fazem distinção semântica entre dois vocábulos de
significado “próximo”, tais como roubo e furto, por exemplo,
do meio jurídico. O significado leigo (ou não especializado)
de certos vocábulos tem uso tão comum que acaba registrado
nos dicionários. Daí o alerta oportuno do Prof. Pasquale
Cipro Neto6: “os dicionários nem sempre são confiáveis quando
se trata de diferenciar o vulgo do técnico ou específico”.

Em trabalhos técnicos e científicos, porém, é imprescindível


adotarmos uma terminologia precisa. Por isso, apresentamos
a seguir o significado de alguns termos específicos utilizados
neste livro, como uma contribuição para a formação de uma
terminologia do tema fundações em solos colapsíveis.
Sempre que possível, incluímos o crédito ao pioneirismo no
uso do termo.

Como base para essa terminologia, consideremos uma prova


de carga estática, com ocorrência de colapso devido à
inundação do terreno num dos estágios de carregamento, e a
correspondente curva carga x recalque da Figura 4. O trecho
pontilhado representa a continuidade da curva caso não
tivesse havido a inundação.

6
CIPRO NETO, P. (2008) Termos (im)precisos. Folha de S.Paulo, caderno
Cotidiano, 28/2/2008.

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PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

Figura 4. Ocorrência de colapso no estágio de inundação da prova de


carga

Carga de colapso

Valor mínimo de carga aplicada a um elemento isolado de


fundação em solo colapsível tal que, sobrevindo a inundação
do solo, seja suficiente para deflagrar o fenômeno do colapso.
O conceito de carga de colapso é uma proposição de Cintra
(1995). No caso da Figura 4, constatado o colapso naquele
estágio de carga, precisaria verificar a inundação em estágios
anteriores, em outras provas de carga, até determinar a carga
mínima que provoca o colapso, ou, preferivelmente,
descarregar o ensaio e, mantida a inundação, reiniciar a prova
de carga para determinar a carga de ruptura, a qual, na
condição inundada, equivale à carga de colapso. Em outro
caso, em que não houvesse colapso no estágio de inundação,
seria necessário manter a inundação e avançar o ensaio nos
estágios superiores. Portanto, trata-se de um processo
indireto, que pressupõe tentativas. Uma alternativa
interessante, comentada ao final deste capítulo, é a
determinação direta da carga de colapso com a inundação
prévia do terreno para a realização da prova de carga.

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JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

Colapsibilidade

Propriedade dos solos colapsíveis de entrar em colapso


quando inundados sob atuação de carga constante e pelo
menos igual à carga de colapso. É equivocado o uso da
expressão “colapsividade do solo”, pois sempre que
couberem os dois sufixos, “-bilidade” e “-vidade”, o primeiro
se aplica ao elemento passivo e o segundo, ao ativo, como,
por exemplo, no caso de erodibilidade do solo (o solo é que
sofre a erosão) e erosividade da água (a água é que provoca a
erosão)7.

Colapsível

Característica dos solos que sofrem colapso ao serem


inundados sob atuação de carga constante, maior ou igual à
carga de colapso. Jennings e Knight (1957) usaram pela
primeira vez a expressão “solo colapsível” em inglês: collaps-
ing soil (depois tornou-se mais freqüente o uso de collapsible
soil). Em português, os termos “colapsível” e
“colapsibilidade” foram introduzidos por Vargas (1970). Não
é adequado o uso da expressão “solo colapsivo”.

Colapso

Fenômeno que ocorre com a estrutura de certos solos porosos


e não saturados ao serem inundados sob atuação de carga
constante e, no mínimo, igual à carga de colapso. A
inundação praticamente anula a sucção matricial, reduzindo
em muito a resistência ao cisalhamento do solo e causando

7
TESTA, L.A. (1993) Comunicação pessoal. Lígia Abramides Testa é professora
de Língua Portuguesa, revisora de vernáculo e, à época, responsável pela Coluna
da Lígia, no Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo,
Instituto Agronômico, Campinas, SP.

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PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

uma espécie de desmoronamento ou desabamento da sua


estrutura. Peck e Peck (1948) foram os pioneiros no emprego
do termo “colapso” com esse significado, inicialmente na
forma verbal to collapse, em inglês. Às vezes, encontramos o
uso do termo “colapso” englobando também o significado
de esgotamento da capacidade de carga de um elemento
isolado de fundação submetido a uma carga suficientemente
elevada, mas sem inundação do solo. Nesse caso, mantém-se
a umidade e aumenta-se a carga, enquanto no colapso, ao
contrário, mantém-se a carga e aumenta-se a umidade.
Portanto, por não se tratar do mesmo fenômeno, é preferível,
em nome da precisão, reservar o vocábulo “colapso”, no
âmbito geotécnico, apenas para o fenômeno provocado pela
inundação do solo colapsível sem acréscimo de carga.

Inundação

Ato ou efeito, acidental, natural ou artificial, de elevar o teor


de umidade de um solo colapsível até, pelo menos, o
necessário para que ocorra o colapso. Essa elevação do teor
de umidade, até a inundação, para deflagrar o colapso,
corresponde a uma diminuição da sucção matricial até um
valor próximo de zero. Assim, solo inundado equivale à
condição de sucção matricial praticamente nula.
Antigamente, usávamos o termo “saturação” por julgarmos
que o solo colapsível precisaria ser completamente saturado
para entrar em colapso. Depois descobrimos que não há
necessidade da saturação completa para ocorrência do
colapso, despertando o interesse por um termo substituto.
Alguns autores brasileiros tentaram o uso de
“encharcamento”, “umedecimento” e “irrigação”, mas acabou
predominando o emprego de “inundação”, provavelmente
porque, na falta de um termo mais apropriado, lembramo-

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JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

nos da expressão “tensão de inundação”, que já era utilizada


no ensaio edométrico realizado com introdução de água no
corpo de prova, num certo estágio de tensão. Na nossa
terminologia, portanto, o termo inundação tem um
significado específico, que pode abranger ou não a saturação
completa. A falta de um termo mais adequado parece ocorrer
também na língua inglesa, pois os autores têm usado várias
opções: wetting, soaking, inundation, flooding, application of
water, moistening, etc.

Recalque de colapso

Recalque produzido pela inundação de um solo colapsível,


sob atuação de carga constante e, no mínimo, igual à carga
de colapso, e, portanto, suplementar ao recalque ocorrido
antes da inundação. O recalque de colapso caracteriza uma
espécie de “quebra” na curva carga x recalque, conforme visto
na Figura 4. Como se trata de um recalque do elemento
isolado de fundação, esse fenômeno em nada corresponde ao
do atrito negativo, confusão essa que foi feita nos primórdios
do tema.

Solo inundado
Condição atípica de um solo colapsível que, em decorrência
da infiltração de água, passa a exibir uma umidade elevada,
entre o teor suficiente para provocar o colapso e a saturação
completa. O solo inundado pode não estar saturado, mas todo
solo saturado está inundado. Nos solos inundados, a sucção
matricial é praticamente nula.

Solo não inundado


Solo colapsível que apresenta teor de umidade insuficiente

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PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

para deflagrar o colapso. Nessa condição, a sucção matricial


não é nula, contribuindo para o aumento da resistência ao
cisalhamento e diminuição da deformabilidade. Muito se
emprega, até hoje, no Brasil e no exterior, a expressão
“umidade natural” de um solo colapsível. Porém o teor de
umidade dos solos não saturados não é constante ao longo
do tempo, por influência das variações climáticas e
pluviométricas. Essas oscilações naturais do teor de umidade
podem implicar variações importantes da sucção matricial
e, conseqüentemente, da capacidade de carga de fundações
em solos colapsíveis. Por isso, devemos evitar o uso da
expressão “solo na umidade natural”, substituindo-a por “solo
não inundado”.

Tensão de colapso

Valor mínimo de tensão aplicada a uma fundação direta em


solo colapsível tal que, sobrevindo a inundação do solo, seja
suficiente para deflagrar o fenômeno do colapso. Análogo ao
conceito de carga de colapso, mas em unidades de tensão,
em vez de força.

Observação: Prova de carga com pré-


inundação

No caso de prova de carga realizada com pré-inundação do


terreno, podemos considerar, por extensão de conceito, que
a colapsibilidade manifesta-se não por um recalque abrupto,
já que não há uma “quebra” na curva carga x recalque, mas
pelo maior abatimento da curva, gerando aumento da
deformabilidade e diminuição da resistência, conforme
representado na Figura 5. Nesse caso, podemos determinar
a carga de colapso (RC) de forma direta, com a aplicação do
mesmo critério de ruptura utilizado na outra curva carga x

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JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

recalque, obtida sem inundação, para encontrar o valor da


capacidade de carga (R) correspondente. A carga de colapso
quantifica uma redução de capacidade de carga.

Figura 5. Carga de colapso (RC) determinada em prova de carga com


pré-inundação do solo, comparada à capacidade de carga (R) obtida sem
inundação

De modo semelhante, no caso de prova de carga em placa, as


curvas tensão x recalque obtidas nas condições de pré-
inundação e sem inundação permitem obter,
respectivamente, a tensão de colapso (σC) e a capacidade de
carga (σr). A comparação de σC com σr quantifica uma redução
de capacidade de carga, caso a caso.

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PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

3. PRIMEIRA ESCADA: COLAPSO

Nesta escada, vamos estabelecer os degraus do tema da


colapsibilidade através de trabalhos que não incluem o papel
importante da sucção matricial no comportamento de
fundações em solos colapsíveis. Trata-se de uma abordagem
mais antiga e simplista, pela qual o problema é unicamente
o colapso oriundo da inundação do solo. Neste enfoque, só
há duas situações possíveis: o solo não está suficientemente
inundado, sem chance de entrar em colapso, ou inundado e
podendo sofrer colapso dependendo da carga atuante na
fundação.

1º Degrau: Constatação da existência do


problema

A mais antiga notícia sobre a existência do problema de


recalque provocado por inundação do solo, sob carga
constante, é, provavelmente, a de autoria de Zamarin e
Reshetkin (1932), apud Abelev e Askalonov (1957): “solos
loéssicos, com sua estrutura macroporosa, apresentam
problemas de recalque, sob fundações de estruturas e
edifícios, por causa da sua tendência para deformação quando
inundados”.

Outro registro histórico interessante, feito por Abelev (1938),


apud Cambefort (1972), está ilustrado na Figura 6. Trata-se
do caso de uma escola ucraniana, com fundações em solo do
tipo loess, que após ter sofrido um incêndio, apresentou uma
inclinação acentuada, exigindo escoramento. Constatou-se
que foi a água lançada pelos bombeiros para apagar o fogo

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JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

que, infiltrando-se no solo, provocou o recalque de uma parte


da construção e, conseqüentemente, o desaprumo.

Figura 6. Escola ucraniana desaprumada e escorada: água utilizada para


apagar incêndio provocou o colapso do solo (Abeleff, 1938, apud
Cambefort, 1972)

No Brasil, Vargas (1951) faz a primeira menção à existência


do problema em construções residenciais ao citar que “a
argila porosa vermelha da cidade de São Paulo tem sido
tradicionalmente um problema de fundação”, pois “a
construção de edifícios sobre essa argila, mesmo com tensões
admissíveis reduzidas nas sapatas, tem resultado em recalques
que, na maioria das vezes, são suficientemente grandes para
trincar a alvenaria de tijolos”. Porém, não é feita associação
desses recalques com a infiltração de água, embora, àquela
época, já se ouvissem “crônicas de casas residenciais que
tinham trincado e recalcado depois que ocorrera ruptura de
23
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

encanamento de água” (Vargas, 1993).

Silveira e Souto Silveira (1963) relatam que um grande


número de casas em São Carlos, SP, apresenta danos e trincas,
também sem deduzir que a causa era a infiltração de água. É
Vargas (1970) quem faz essa correlação pela primeira vez, ao
mencionar que “no solo poroso do interior de São Paulo um
simples vazamento de esgoto pode provocar o recalque de
colapso nas fundações de uma casa pequena”.

Fora do contexto de fundações de edifícios, há a referência


anterior de Scherrer (1965), sobre a barragem de terra de
Jurumirim, na qual a “saturação das fundações devida ao
enchimento do reservatório produziu um recalque adicional
além daquele devido ao adensamento”.

2º Degrau: Medidas reparadoras

Peck e Peck (1948) fazem, provavelmente, o primeiro registro


de trabalhos de reparação em fundações que sofreram
recalque de colapso devido à inundação do solo.

Trata-se de um edifício térreo construído em 1930, nos EUA,


com área de 100 x 61 m2, para execução de serviços em
locomotivas a vapor, inclusive sua lavagem. A maior parte
do piso era ocupada por 16 cavas, com 1,2 m de largura, 1,2
a 1,8 m de profundidade, e 36 m de extensão, para possibilitar
os serviços sob as locomotivas. As sapatas de fundação dos
pilares foram projetadas para uma tensão admissível de 150
kPa, resultando a maioria delas com área de 1,5 m2. “O solo
era descrito como silte, com material cimentante suficiente
para fazê-lo coesivo e muito estável; várias estruturas pesadas
já haviam sido construídas na vizinhança e nenhuma delas
tinha experimentado recalque suficiente para levantar alguma

24
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

suspeita sobre a qualidade do material de fundação.”

Mas “menos de um ano após a construção, recalques


comprometedores foram observados na área nordeste do
edifício”, onde vários pilares recalcaram de 25 a 380 mm”,
causando danos estruturais. Descobriu-se que justamente a
área nordeste, e somente ela, havia sido extensivamente usada
para lavar as locomotivas. “Assim que o subsolo se tornou
mais ou menos saturado, rapidamente os recalques
ocorreram”. “Onde a estrutura do material foi completamente
destruída, foi necessário reconstruir algumas sapatas e reduzir
a tensão admissível para 50 kPa”. Também foi
impermeabilizado o piso da área de lavagem das locomotivas,
além de providenciadas instalações adicionais de drenagem.
“Durante 15 anos após a execução dessas reparações, não
ocorreram recalques adicionais”.

É interessante observar que a solução adotada de reduzir a


tensão admissível significa que, àquela época, já havia a
percepção de que o colapso depende do nível de tensão
aplicada e que, portanto, para tensões menores o colapso pode
deixar de ocorrer.

Em São Carlos, SP, há algumas décadas estacas do tipo mega


eram empregadas no reforço de fundações rasas
comprometidas por colapso do solo. Mas, as trincas
ressurgiam em novas temporadas de chuvas mais intensas,
sobretudo quando o estaqueamento tinha sido executado em
época de grande estiagem. Ao final do Capítulo 4, no item a
do Patamar da segunda escada, serão apresentadas a
justificativa para a recorrência do problema e a possível
solução.

25
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

3º Degrau: Prova de carga em placa com


inundação

Holtz e Gibbs (1951) apresentam os resultados pioneiros de


provas de carga realizadas em placas quadradas de 0,3 a 1,5
m de lado, em loess com pré-inundação e em loess não
inundado, em cavas com 1,5 m de profundidade. Os
resultados dos ensaios nas placas maiores, por exemplo,
mostram que, embora o loess seco tenha suportado
carregamentos de até 400 kPa, sem nenhum indício de
ruptura e com recalques de apenas 10 mm, no solo inundado
houve um aumento significativo da deformabilidade (para
uma tensão de 200 kPa, o recalque aumentou de 3 mm para
40 mm).

No Brasil, o pioneirismo na realização de provas de carga


em placa, em solo inundado, aparece na publicação de
Nápoles Neto e Lorena (1956), que descreve os estudos
efetuados pelo IPT para as fundações da Usina Siderúrgica
de Volta Redonda, no início da década de 40.

Trata-se da maior obra civil do Brasil até aquela época. Numa


área de 7 km2, localizaram-se a usina (35 construções
industriais totalizando 0,25 km2 de área construída) e a parte
residencial (cidade de Santa Cecília: 3.700 construções,
incluindo residências, igrejas, centros de saúde, posto
metereológico, escolas, hotéis, um bloco de edifícios
comerciais, etc.). Para o projeto desse complexo, foram feitas
1.481 sondagens com 12.156 m perfurados, abertos 20 poços
com mais de 100 m perfurados e realizadas 64 provas de carga
(em placa, estacas e tubulões).

Numa das provas de carga realizadas em placa de 0,8 x 0,8

26
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

m2, investigou-se o efeito da água sobre a argila siltosa de


Volta Redonda. Nesse ensaio, o terreno resistiu bem à tensão
máxima aplicada de 0,38 MPa, com recalque estabilizado
de 14 mm, mas com a inundação da cava, mantida a tensão
máxima, deu-se o colapso em poucas horas, com o recalque
passando para 42 mm. Em seguida, experimentou-se
descarregar a placa e recarregá-la mantendo-se a inundação,
quando, então, houve ruptura nítida a partir de 0,25 MPa de
tensão, escoando-se o terreno lateralmente.

4º Degrau: Prova de carga em estacas e


tubulões com inundação

a) Estacas à compressão

Um trabalho pioneiro sobre provas de carga em estacas em


solo colapsível é o de Holtz e Gibbs (1953), que relata a
realização de 28 ensaios, em Nebraska, EUA, para a construção
de estruturas hidráulicas em loess. O recalque era tido como
o problema mais importante neste tipo de construção, em
loess, por causa do colapso da estrutura do solo quando
inundado sob carga e, por isso, o emprego de estacas era
considerado a solução do problema.

Então, planejou-se um programa experimental para ensaiar


estacas cravadas ou instaladas com pré-furo, se necessário, e
estacas moldadas in loco com camisas metálicas. Foram
escolhidos dois sítios para a pesquisa. Em cada sítio, havia
uma área para instalação de estacas com pré-inundação do
terreno e outra para implantação de estacas sem inundação.
Na área em que não houve pré-inundação do terreno para
instalação das estacas, realizaram-se provas de carga em duas
condições: com e sem pré-inundação.

27
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

No primeiro sítio, para estacas de ponta, com cerca de 14 m


de comprimento, apoiadas em areia compacta subjacente ao
loess superficial com 10 a 12 m de espessura, praticamente
não houve influência da inundação nos resultados das provas
de carga. Já no segundo, para estacas de atrito, com 17 m de
comprimento, embutidas em loess com mais de 18 m de
espessura, houve diminuição significativa da capacidade de
carga por causa da inundação do terreno. Para uma estaca
cravada com pré-furo a seco, a capacidade de carga de
aproximadamente 1.000 kN caiu, com a inundação, para 500
kN e, para uma estaca cravada com pré-furo obtido por
injeção d´água, a redução foi de 1.500 kN para 1.200 kN.
Em outra estaca, cravada sem pré-furo, a capacidade de carga,
que era bem superior a 1.500 kN, reduziu-se a 600 kN no
terreno pré-inundado.

É interessante observar que a decisão de realizar esses ensaios


indica que, já naquela época, havia a percepção de que as
fundações profundas também podem ser afetadas pelo
colapso.

No Brasil, embora tenha realizado apenas provas de carga


sem inundação (19 ensaios em estacas escavadas do tipo broca
com diâmetro 0,15 a 0,30 m e comprimento de 2 a 8 m, em
São Carlos, SP), Albiero (1972) já destacava o fato de que
“esse tipo de solo apresenta, quando inundado, uma sensível
redução de sua resistência ao cisalhamento e, por isso, na
estação chuvosa esse tipo de estaca sofre uma redução de sua
capacidade de carga”.

As primeiras provas de carga em estaca, com inundação do


terreno, no Brasil, provavelmente foram as relatadas por
Mellios (1985) e Monteiro (1985). Trata-se de ensaios em
estacas do tipo broca, nos solos porosos das proximidades da

28
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

Hidrelétrica de Jupiá, realizados com e sem inundação do


terreno. As estacas foram executadas com trado mecânico,
com diâmetro de 0,3 m e comprimento de 5 m. Constatou-
se uma capacidade de carga da ordem de 150 kN, sem
inundação do terreno, valor esse que se reduziu para cerca
da metade com a inundação prévia.

Nesse mesmo ano, há o registro interessante feito por Moraes


et al. (1985) do colapso ocorrido “por acaso” numa prova de
carga, uma vez que não se fez a inundação proposital do
terreno. No ensaio de carregamento em tanque de
armazenamento de GLP, apoiado em berços sobre estacas
Strauss, após a aplicação da carga máxima de ensaio e
estabilização do recalque, mas antes do início do
descarregamento, houve uma chuva intensa que inundou o
local e provocou o recalque de colapso.

Em São Carlos, Carneiro (1994) ensaia estacas apiloadas de


6 m e 9 m de comprimento, com diâmetro de 0,20 m, com
inundação na carga admissível. Não tendo ocorrido o colapso
em 48 h, a inundação é mantida e a prova de carga é
prosseguida até encontrar a carga de colapso. Esses resultados,
comparados com os de provas de carga sem inundação,
mostram uma redução média de capacidade de carga de 22%
para as estacas mais curtas e de 18% para as mais longas
(Macacari et al., 1994).

b) Estacas à tração

Nadeo e Videla (1975) relatam a realização de prova de carga


à tração, com pré-inundação, numa estaca escavada de 0,3 m
de diâmetro e 14,9 m de comprimento, na cidade de Córdoba,
Argentina, na fase de projeto de um viaduto. Um

29
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

carregamento inicial, sem inundação, foi levado até apenas


120 kN, com recalque estabilizado de 0,2 mm. No
descarregamento, inundou-se no estágio de 60 kN, atingindo-
se um recalque de 0,8 mm. Finalmente, procedeu-se a um
ensaio com pré-inundação, até 840 kN, que originou um
recalque de 29,0 mm.

No Brasil, Carvalho e Souza (1990) realizam provas de carga


à tração, em Ilha Solteira, SP, em estacas do tipo broca,
escavadas mecanicamente com 6 m de comprimento e 0,25
m de diâmetro. Num ensaio inicial, sem inundação, atingiu-
se a carga de ruptura de 150 kN. Em seguida, realizou-se
novo ensaio, com inundação no estágio de 50 kN, ocorrendo
o colapso decorridos 92 min do início da inundação. O
deslocamento, que estava estabilizado em cerca de 2 mm,
antes da inundação, ultrapassou 45 mm.

Essa expressiva influência da colapsibilidade em estacas


curtas, submetidas a esforços de tração, é confirmada por
Campelo (1994), com a realização de provas de carga em
estacas apiloadas em São Carlos, SP, cujos resultados também
podem ser consultados em Campelo et al. (1995).

c) Grupos de estacas

Fernandes (1995) apresenta os resultados de provas de carga


realizadas em grupos de duas a quatro estacas, em São Carlos,
SP. As estacas eram do tipo broca, escavadas mecanicamente,
com 0,25 m de diâmetro e 6 m de comprimento, com
espaçamento entre estacas igual a três diâmetros, de centro-
a-centro.

Realizados os ensaios nos grupos de estacas, primeiramente

30
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

sem inundação do solo, foram obtidos os seguintes valores


de capacidade de carga: 330 kN (duas estacas), 500 kN (três
estacas em linha), 470 kN (triângulo) e 600 kN (quadrado).
Depois, com a pré-inundação, as correspondentes cargas de
colapso foram de 190, 350, 350 e 450 kN, implicando valores
de redução de capacidade de carga de 42%, 30%, 26% e 25%,
respectivamente. Quanto maior o grupo, menor parece ser a
influência da colapsibilidade (Fernandes e Cintra, 1997).

d) Carga horizontal em estacas

Miguel (1996) executa provas de carga horizontal em estacas,


em São Carlos, SP. Foram ensaiados pares de estacas Strauss
(0,28 m de diâmetro e 10 m de comprimento) e de estacas
raiz (0,25 m de diâmetro e 16 m de comprimento).

Com a inundação do terreno, encontrou-se uma redução, em


média, de 24 para 20 kN (17%) e de 27 para 22 kN (19%) na
capacidade de carga horizontal para as estacas Strauss e raiz,
respectivamente. Quanto ao coeficiente de reação horizontal
do solo (nh), o parâmetro que rege o comportamento de
estacas carregadas horizontalmente em areia, obteve-se o
valor de 8.000 kN/m3, na condição não-inundada, e uma
enorme redução de 78% desse valor devido à inundação, em
estacas raiz (Miguel e Cintra, 1996a e 1996b).

e) Tubulões a céu aberto

Carneiro (1999) realiza provas de carga, em São Carlos, SP,


em quatro tubulões a céu aberto com fuste de diâmetro 0,6
m e base alargada apoiada à cota -8,0 m, com diâmetro de
1,5 m. Dois tubulões foram ensaiados com pré-inundação
do terreno, determinando uma carga de colapso média de
820 kN e, outros dois, sem inundação, com valor médio de

31
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

capacidade de carga de 1.230 kN. Esses valores indicaram


uma redução de capacidade de carga de 33% devido à
inundação do terreno.

5º Degrau: Melhoria do solo como solução de


projeto

Abelev e Askalonov (1957) descrevem um procedimento de


melhoria do solo, para evitar o recalque de colapso. Trata-se
do método de estabilização dos solos loéssicos por injeção
de uma solução de silicato de sódio, empregado em 1949, na
cidade de Zaporozhye, ex-URSS, na estabilização do loess de
fundação sob chaminés de 80 e 120 m de altura.

Esse método da silificação de solos loéssicos foi usado logo


depois, de 1954 a 1956, como medida reparadora no Teatro
Ópera de Odessa, afetado por recalques de colapso que se
repetiam. Após o término dos trabalhos (15.400 m3 de solo
estabilizado por meio de 2.250 furos de injeção), realizados
sem interdição do teatro, os recalques cessaram. Nesse caso
de Odessa, para verificar a eficácia do método, foram
realizadas duas provas de carga em placa com área de 0,5 m2.
O recalque do solo estabilizado, após inundação, foi igual a
3 mm, enquanto o solo não estabilizado recalcou 67 mm,
para a tensão aplicada de 250 kPa.

No Brasil, o procedimento de melhoria do solo colapsível


mais usual, para reduzir substancialmente o recalque de
colapso e viabilizar o emprego de fundações por sapatas, tem
sido a compactação do solo até a metade do bulbo de tensões.
O próprio solo escavado, até uma profundidade z, contada a
partir da cota de apoio da sapata e igual à largura B da sapata,
é reposto em camadas compactadas, conforme o esquema da
Figura 7. Mesmo uma compactação manual, com soquete

32
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

de madeira, e sem controle do grau de compactação, pode


ser eficaz.

Figura 7. Utilização de sapatas em solo colapsível compactado


(Cintra et al., 2003b, adaptado de Silveira e Souto e Silveira, 1963)

O aumento da dimensão da cava em B/2, para cada lado, faz


com que, até a profundidade z = B, a propagação de tensões
ocorra somente no maciço compactado, admitida a hipótese
de propagação 1:2.

Inicialmente, a compactação foi concebida como solução para


redução da compressibilidade de solos porosos para emprego
de fundações por sapatas como, por exemplo, nos casos das
fundações dos hangares da Escola de Aeronáutica de
Pirassununga (IPT, 1944), da fundação de um grande
reservatório de água, o Reservatório da Consolação, na cidade
de São Paulo, com cerca de 50.000 m3 de capacidade (Vargas,
1951), e das fundações dos edifícios da Escola de Engenharia
de São Carlos, de um ou dois andares, para laboratórios, salas
de aula e anfiteatros (Silveira e Souto Silveira, 1963).

Abelev & Askalonov (1957) já citavam que o método mais

33
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

simples de eliminar recalque de colapso é compactar o solo


mecanicamente, cuja eficácia era corroborada pela
experiência na construção de barragens de terra em solos
loéssicos na antiga URSS. No Brasil, a compactação como
medida preventiva ao colapso foi mencionada por Aragão e
Melo (1982), no caso do Conjunto Habitacional Massangano,
constituído por 1.200 casas, em Petrolina, PE. Constatou-se
a ocorrência de colapso no solo de fundação, o qual foi
responsável pelo aparecimento de fissuras, trincas e
rachaduras em mais de 600 casas e, para a execução das
fundações de novas casas, os autores recomendaram o
procedimento da compactação para evitar o problema do
colapso.

Mas a comprovação da eficácia da compactação somente se


iniciou com os ensaios em modelos realizados por Cintra et
al. (1986). Em placas de 3 x 6 cm2, instaladas no topo de
blocos indeformados (30 x 30 x 24 cm3), em laboratório,
realizaram-se provas de carga com inundação na tensão de
80 kPa, em solo compactado até a metade do bulbo de tensões
e em solo não compactado. Com grau de compactação de
90%, o recalque de colapso foi reduzido em 86%.

Depois, foram realizadas provas de carga em placa circular


de diâmetro 0,80 m, em Ilha Solteira, SP (Souza, 1993). Para
a tensão de 60 kPa, a redução do recalque de colapso foi de
87% por causa da compactação, ao diminuir de 38,2 para 4,9
mm. Finalmente, foram construídas duas sapatas de 0,60 x
3,00 m2, com aplicação de uma sobrecarga de 120 kPa e pos-
terior inundação. O recalque de colapso diminuiu de 19,4
para 1,8 mm, resultando uma redução de 93%, em virtude
da compactação do solo sob a sapata, até a metade do bulbo
de tensões (Souza e Cintra, 1994; Souza et al., 1995).

34
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

Essas reduções são impressionantes, inclusive porque temos


a presença do solo colapsível não compactado a partir da
metade do bulbo de tensões. Ocorre que no topo da camada
não melhorada (distância B a partir da base da sapata) chega
uma tensão propagada de apenas 25% da tensão aplicada pela
sapata, segundo a estimativa feita com a propagação 1:2.
Assim, a utilização da tensão admissível σa, determinada sem
o benefício da compactação, corresponde a aplicar somente
¼ σa no topo da camada não compactada, o que ameniza
significativamente o colapso (por diminuição da tensão).

Obviamente, quanto mais espessa a camada compactada,


maior a eficácia da solução. Para uma espessura igual a 2B,
por exemplo, atingindo todo o bulbo de tensões, a tensão
propagada ao topo da camada não compactada é de cerca de
apenas 10% da tensão aplicada pela sapata. Porém,
economicamente a solução deixa de ser interessante.

Essa melhoria do solo colapsível não se aplica aos casos em


que as sapatas têm dimensões muito grandes, pois
economicamente e até tecnicamente pode ser inviável re-
mover uma camada muito espessa de solo para compactá-lo.
Um exemplo de aplicação incorreta dessa solução ocorreu
em Paulínia, SP, nas fundações de tanques de betume com
40 m de diâmetro e 15 m de altura (Cintra et al. 2003b). A
partir de outra experiência, bem sucedida, em tanques
menores, com remoção de uma camada de 7 m para
compactação, em Paulínia usou-se equivocadamente a
mesma espessura de 7 m. Já no teste do tanque, ao se fazer o
enchimento com água, um vazamento na mangueira,
próximo à parede do tanque, provocou um recalque de
colapso de 30 cm, comprometendo a utilização do tanque. O
benefício da compactação foi insuficiente, pois essa espessura
de solo compactado de 7 m (17% do diâmetro do tanque)

35
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

implicou a propagação, até o topo da camada não-compactada,


de cerca de 70% da tensão média aplicada pela base do tanque.
Portanto, a redução da tensão ficou bem aquém do necessário.

No interior de São Paulo, o procedimento da compactação é


bem indicado para as obras pequenas e até médias, mas o
seu uso tem sido muito restrito, por causa do advento das
estacas apiloadas, que têm baixo custo e boa produtividade
nos solos porosos.

Outro método de melhoria do solo colapsível pode ser a


“cravação” de tubulões a céu aberto para aumento da
capacidade de carga e da carga de colapso, segundo a
proposição de Benvenutti ( 2001). Dois tubulões com fuste
de diâmetro 0,5 m e com base alargada (diâmetro de 1,5 m e
altura de 0,9 m) assentada à cota -6,0 m, foram ensaiados em
São Carlos, SP. Essa cota jamais seria cogitada para apoiar a
base de tubulões, em projetos reais de fundações, porque o
solo é compressível e colapsível. Mas os tubulões foram
executados com base apoiada nessa cota, de propósito, para
pesquisar o benefício da cravação, a qual foi simulada por
meio de sucessivas provas de carga estática no mesmo
tubulão.

Realizadas as provas de carga, uma sem inundação do terreno


e outra com pré-inundação, encontraram-se inicialmente os
baixos valores de capacidade de carga, de 870 kN, e de carga
de colapso, de 410 kN, respectivamente, resultando uma
carga admissível de apenas 270 kN, com fatores de segurança
de 2,0 à capacidade de carga e 1,5 ao colapso. Com a
“cravação” dos tubulões esses valores cresceram
significativamente. Para 0,3 m de “cravação”, por exemplo,
a capacidade de carga passou para 1.610 kN e a carga de
colapso para 770 kN, levando a uma carga admissível de 520

36
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

kN. Em conclusão, a “cravação” de 0,65 m seria suficiente


para garantir a carga admissível (segura ao colapso e com
recalques ínfimos) de 800 kN, compatível com o diâmetro
de fuste de 0,50 m (Cintra et al., 2004a). Para se obter a mesma
carga admissível, sem a “cravação”, o tubulão precisaria ser
bem mais profundo.

Moraes et al. (2007a) também comprovam o benefício da


cravação na capacidade de carga, mas com prova de carga
dinâmica com energia crescente em placa circular metálica,
com diâmetro de 0,80 m, a 1,5 m de profundidade, em São
Carlos, SP. Após uma penetração de, por exemplo, 120 mm,
a capacidade de carga dobrou de valor. Outros resultados
dessa pesquisa podem ser consultados em Moraes (2005).

Entretanto, nesses ensaios dinâmicos, mas com pré-


inundação, foi caracterizada uma ruptura nítida, a partir da
qual o acréscimo de penetração da placa não implicava
alteração no valor da capacidade de carga, o que é típico do
comportamento não drenado de solos argilosos e não de solo
arenoso, que é o caso. Além disso, ao término desses ensaios,
ao se proceder a retirada da placa, observou-se que havia uma
significativa quantidade de solo aderido à placa, tal como
ocorre com os solos argilosos (Moraes et al., 2007b). Essa
“anomalia” já havia sido notada em provas de carga dinâmica,
realizadas por Campelo (2000), em tubulões a céu aberto, no
mesmo terreno, previamente inundado, nas quais as curvas
resistência mobilizada x deslocamento apresentaram ruptura
nítida.

Esses resultados permitem conjeturar que comportamento


semelhante pode ocorrer com o SPT em areia saturada. Como
o SPT é um ensaio dinâmico, a areia saturada talvez apresente
comportamento de solo coesivo não drenado e, em
conseqüência, o aumento de resistência com a profundidade,
37
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

em areia saturada, pode não ser detectado nos valores de NSPT.

6º Degrau: As contribuições de Jennings e


Knight

A proposição do ensaio de adensamento duplo por Jennings


e Knight (1957) representa um marco no estudo da
colapsibilidade. Em trabalho anterior, de 1956, esses autores
já citavam a realização do ensaio de adensamento simples,
para reproduzir o fenômeno do colapso em laboratório. Após
a aplicação do mesmo nível de tensão atuante na fundação e
a estabilização das deformações, inundava-se a amostra,
obtendo-se uma significativa redução adicional do índice de
vazios, que caracteriza o recalque de colapso. No Brasil,
Queiroz (1959) foi o primeiro a realizar ensaios edométricos
com inundação do solo por ocasião do projeto e construção
da Barragem de Três Marias.

Em outro trabalho, bem posterior, Jennings e Knight (1975)


introduzem o conceito básico de recalque de colapso em
fundações, ilustrado pela Figura 8. Sob a atuação da tensão
admissível (σa), uma sapata com base bem acima do NA sofre
um recalque “normal”, praticamente estabilizado no tempo
t1, quando ocorre a ruptura de um conduto de água próximo
da base da sapata. Então, surge o recalque de colapso, sem
alteração da tensão aplicada, mas com acréscimo importante
do teor de umidade devido à quebra do tubo.

38
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

Figura 8. Conceito básico de recalque adicional devido ao colapso


da estrutura do solo (Jennings e Knight, 1975)

Essa figura parece ter sugestionado, infelizmente, uma


mudança de procedimento nas provas de carga. A inundação,
que era introduzida sempre previamente ao ensaio, na
maioria dos casos passou a ser realizada durante o ensaio,
sob carga constante, no estágio correspondente à tensão
admissível (ensaio de placa) ou carga admissível (ensaio de
estaca).

Grigorian (1997) argumenta que a inundação do solo sob


uma dada tensão reproduz melhor o processo que ocorre com
a fundação, mas a curva carga x recalque no solo pré-inundado
proporciona uma informação mais completa do
comportamento do solo colapsível, em comparação ao caso
de inundação sob uma dada tensão. Cintra (1995) e Cintra et
al. (1997) demonstram a vantagem da pré-inundação e
propõem a sua retomada.

39
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

Jennings e Knight (1975) apresentam também a definição


de potencial de colapso (PC), com base na variação do índice
de vazios (Δe) que ocorre, no ensaio edométrico, com a
inundação da amostra na tensão de 200 kPa:

em que eo é o índice de vazios inicial, conforme ilustrado


anteriormente pela Figura 1 (Capítulo 1). Cinco intervalos
de valores do potencial de colapso representam os diferentes
graus de gravidade do problema.

No Brasil, o potencial de colapso foi popularizado por Vargas


(1978) como uma espécie de critério para diagnosticar solo
colapsível, mas com substituição, na equação (1), do índice
de vazios inicial da amostra (eo) pelo índice de vazios no início
da inundação (e1). Nesse critério, o solo é caracterizado como
colapsível quando o potencial de colapso for maior que 2%,
sem fixação de uma tensão de inundação, provavelmente
indicando que se proceda à inundação na tensão admissível
provável.

7º Degrau: Ensaios de penetração dinâmica e


estática

Reginatto (1971) analisa os valores do índice de resistência à


penetração NSPT obtidos em sete furos de sondagem, em
Córdoba, Argentina, com pré-inundação do terreno em três
deles, constatando que a inundação provoca uma redução
importante no NSPT.

No Brasil, Lobo (1991) verifica a influência que a variação


do NA provoca no valor do NSPT, com base nos resultados de

40
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

sondagens de duas campanhas executadas em diferentes


épocas, em 1987 e 1988, quando da implantação de um
conjunto residencial em Bauru, SP. Ressalvando-se o fato de
que as campanhas foram realizadas por empresas diferentes,
os resultados indicam uma redução de cerca de 50% nos
valores de NSPT por causa da ascensão do NA. Também se
observa uma diminuição de aproximadamente 30% no NSPT
quando se utiliza o sistema de circulação de água antes de
atingir o NA.

Ferreira (1994) apresenta os resultados de duas sondagens


realizadas em Petrolândia, PE, uma delas com pré-inundação
do terreno. Com os valores de NSPT obtidos até 5,3 m de
profundidade, constata-se que a inundação provoca uma
redução no índice de resistência à penetração, crescente com
a profundidade, de 30% para 70%.

Quanto ao ensaio de penetração estática, Ferreira et al. (1989)


fazem a comparação inédita entre dois ensaios CPT,
realizados numa camada de solo coluvionar colapsível de
Ilha Solteira, SP, sendo um ensaio sem inundação e outro
com pré-inundação. Os resultados obtidos em ambas as
situações, apresentados na Figura 9, demonstram uma
redução acentuada da resistência de ponta do cone devido à
inundação.

41
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

Não inundado

Figura 9. Resistência de ponta de cone em solo pré-inundado e não


inundado (Ferreira et al., 1989)

Patamar da primeira escada

Neste patamar do conhecimento, não considerávamos o


importante papel da sucção matricial no comportamento das
fundações em solos colapsíveis. O problema era o colapso
advindo da inundação do solo, proporcionada por chuvas
intensas, ruptura de condutos ou qualquer outra causa de
infiltração significativa de água no solo.

Para lidar com o colapso em termos de projeto, introduzimos


o conceito de carga de colapso e propomos a aplicação de
um fator de segurança específico. Nessa metodologia, o
objetivo é projetar fundações seguras ao colapso mesmo com
a ocorrência da inundação em solos colapsíveis.

a) Sondagens e ensaios in situ

A inundação do solo colapsível afeta os resultados de ensaios

42
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

de penetração, reduzindo os valores do índice de resistência


à penetração (NSPT) e da resistência de ponta (qc) de ensaios
CPT. Assim, os valores de NSPT e de qc obtidos em períodos
chuvosos são inferiores aos encontrados em períodos de
estiagem, no mesmo local e à mesma profundidade.

Por isso, a data da realização de uma sondagem passa a ser


uma informação preciosa, exigindo cautela ao projetar
fundações a partir de sondagens efetuadas em períodos de
seca. A ignorância desse fato pode trazer complicações,
conforme exemplificado pelo caso relatado no capítulo es-
pecial deste livro.

Também não devemos negligenciar o fato de que provas de


carga realizadas em época de seca podem indicar valores de
capacidade de carga superiores aos que seriam obtidos em
ensaios conduzidos na estação chuvosa do ano, mantidas as
demais condições.

Para um tratamento mais adequado do problema,


recomendamos que já na programação de uma campanha
de ensaios de campo em solo colapsível seja incluída a
realização de ensaios com pré-inundação do terreno, tanto
para sondagens como para provas de carga.

No caso do SPT, em particular, consideramos que a prática


contrária à norma de, na perfuração, usar o sistema com
circulação de água antes de atingir o NA, reproduz, de certa
forma, a condição de inundação necessária para o colapso.
Em conseqüência, recomendamos esse procedimento de
“burla à norma” em furos adicionais de uma campanha de
sondagem em solos colapsíveis.

Pela maior praticidade de execução, o uso de circulação de

43
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

água antes do NA pode substituir a sugestão de ensaios SPT


com pré-inundação do terreno.

b) Carga de colapso

Nos solos colapsíveis a inundação representa a condição crítica


e, consequentemente, a carga de colapso de uma fundação
indica o limite inferior da sua resistência. Por isso é de vital
importância, na fase de projeto, a determinação da carga de
colapso.

Essa quantificação pode ser feita direta e experimentalmente


através da realização de uma prova de carga com pré-
inundação do terreno e aplicação de um critério de ruptura à
curva carga x recalque obtida nesse ensaio. A pré-inundação,
no caso de uma estaca, por exemplo, é conseguida através de
uma cava, preparada ao redor da cabeça da estaca, e introdução
de água com vazão suficiente para manter a lâmina d’água
no interior da cava, por um período de 48 h que antecede ao
ensaio e durante a realização da prova de carga.

Não havendo prova de carga na etapa de projeto, que é a


situação corriqueira, propomos fazer a estimativa da carga
de colapso através de métodos semi-empíricos para cálculo
de capacidade de carga, como o de Aoki-Velloso, por exemplo,
mas utilizando valores de NSPT ou qc obtidos em ensaios
inundados.

c) Redução da capacidade de carga

Em relação à capacidade de carga determinada na condição


não inundada, a carga de colapso representa uma redução da
capacidade de carga devido à inundação do solo.

44
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

Essa redução da capacidade de carga define o grau de


susceptibilidade da fundação ao colapso. No caso de
fundações por estacas, por exemplo, as estacas de
deslocamento são menos afetadas pela colapsibilidade do que
as estacas escavadas, ou sem deslocamento. Assim, para
estacas de deslocamento obtemos valores menores de redução
de capacidade de carga. Por outro lado, as estacas flutuantes
na camada colapsível são muito mais sensíveis à
colapsibilidade, em relação a estacas do mesmo tipo, mas
mais longas, que penetram no estrato não colapsível. Logo,
nas estacas flutuantes a redução de capacidade de carga por
inundação é bem mais significativa.

Portanto, além das características geotécnicas do maciço de


solo, a carga de colapso e, conseqüentemente, o grau de
redução de capacidade de carga são dependentes do processo
executivo e da profundidade da base ou ponta do elemento
estrutural de fundação. Uma coisa é o comportamento
exclusivo do “material” solo, como no caso dos ensaios de
laboratório, outra bem diferente é o do “sistema” fundação,
que abrange o tipo de fundação e a sua profundidade.

d) Metodologia de projeto de fundações profundas

No projeto de fundações profundas em solos colapsíveis,


podemos ter a opção técnica de escolher um tipo de fundação
que possa atingir uma profundidade maior, de modo a
restringir o efeito da colapsibilidade do solo, isto é,
minimizar a redução de capacidade de carga por inundação
do solo.

Outras vezes, pode prevalecer a opção econômica por um


tipo de fundação, com menor profundidade, sem alcançar o

45
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

NA, por exemplo, mas com carga admissível diminuída para


garantir a segurança ao colapso.

Qualquer que seja a solução, além da capacidade de carga


(R) na condição não inundada, propomos também a
determinação da carga de colapso (RC), para aplicação de um
fator de segurança específico, estabelecendo assim uma
metodologia de projeto para fundações em solos colapsíveis
(Cintra, 1985). Portanto, na determinação da carga admissível
(Pa), além das verificações usuais de segurança à ruptura e ao
recalque, incluímos a verificação da segurança ao colapso do
solo.

Essa verificação complementar consiste na aplicação de um


fator de segurança (FS) mínimo de 1,5 à carga de colapso.
Então, abstraindo a verificação do recalque, a carga
admissível deve ser tal que:

Essa metodologia caracteriza uma evolução do conhecimento.


Em vez de determinarmos a carga admissível, sem a
consideração da colapsibilidade, e apenas fazermos a
verificação do colapso através de provas de carga com
inundação nessa provável carga admissível, passamos a levar
em conta a colapsibilidade na própria determinação da carga
admissível.

Mudamos a concepção filosófica de projeto. Antes,


realizávamos a prova de carga com inundação diretamente
no estágio correspondente à carga admissível, para simular
o que podia ocorrer na fundação implantada em solo
colapsível, projetada sem considerar a colapsibilidade.

46
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

Depois, com a determinação da carga de colapso em prova


de carga com pré-inundação, instauramos o projeto de
fundação com segurança ao colapso, evitando a ocorrência
do colapso na vida útil da obra.

Assim, por exemplo, no caso de uma fundação por estacas


com capacidade de carga R = 1.000 kN (condição não
inundada) e carga de colapso RC = 600 kN (ensaio pré-
inundado), a carga admissível seria Pa = 400 kN (FS = 1,5
ao colapso), em vez de 500 kN (FS = 2,0 à ruptura), desde
que verificado o recalque admissível. Nesse caso, em que a
carga de colapso representa uma redução de 40% na
capacidade de carga (de 1.000 kN para 600 kN), a
condicionante de projeto é a carga de colapso. Isso vai ocorrer
sempre que a redução de capacidade de carga for superior a
25%.

Uma vez que a premissa dessa metodologia de projeto é


impedir o colapso, determinando uma carga admissível
segura ao colapso, deixa de haver interesse em qualquer
cálculo para estimativa do recalque de colapso. Entretanto,
a verificação do recalque correspondente à carga admissível,
que não é o recalque de colapso, deve ser feita na situação de
solo inundado, em vez da condição de solo não inundado.
Na Figura 10, podemos observar que o recalque na condição
inundada (ρ2) será maior que na condição não inundada (ρ1).

47
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

Figura 10. Redução de capacidade de carga superior a 25%

Podemos aproveitar esse exemplo numérico para mostrar a


inconveniência da prova de carga com inundação na carga
admissível com a mera finalidade de verificar se há colapso
ou não nessa carga. Nesse caso, não teria havido colapso nessa
carga e o projeto teria mantido a carga admissível de 500
kN, o que implicaria um fator de segurança de apenas 1,2 ao
colapso.

A Figura 11 ilustra o caso particular de redução de capacidade


de carga de 25% (capacidade de carga R = 1.000 kN e carga
de colapso RC = 750 kN), para o qual a carga admissível Pa
= 500 kN atende simultaneamente aos fatores de segurança
2,0 à ruptura na condição não inundada e 1,5 ao colapso.
Também nesse caso a verificação do recalque, correspondente
à carga admissível, deve ser feita na condição inundada (ρ2
> ρ1).

48
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

Figura 11. Redução de capacidade de carga igual a 25%

Finalmente, analisemos um caso de redução de capacidade de


carga inferior a 25%, por exemplo: capacidade de carga R =
1.000 kN e carga de colapso RC = 850 kN. Nesse caso, a carga
admissível, de Pa = 500 kN, não é afetada pela colapsibilidade,
pois a condicionante de projeto é a capacidade de carga na
condição não inundada, submetida ao fator de segurança 2,0.
Ainda assim, conforme ilustrado pela Figura 12, em termos de
recalque a condicionante é a curva carga x recalque da condição
inundada (ρ2 > ρ1).

49
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

Figura 12. Redução de capacidade de carga inferior a 25%

A variação dos fatores de segurança envolvidos na


metodologia de projeto pode ser observada na Figura 13.
Para reduções de capacidade de carga superiores a 25%
prevalece o fator de segurança 1,5 ao colapso e o fator de
segurança à ruptura não inundada será tão maior que 2,0
quanto maior for a redução. Já para reduções inferiores a 25%,
prevalece o fator de segurança 2,0 à ruptura não inundada,
enquanto o fator de segurança ao colapso mais se aproxima
de 2,0 quanto menor for a redução de capacidade de carga.

50
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

Figura 13. Variação dos fatores de segurança com a redução de capacidade


de carga

e) Fundações diretas

Metodologia de projeto semelhante à do item anterior pode


ser proposta para fundações diretas, com a introdução do
conceito de tensão de colapso (σC), análogo ao de carga de
colapso, representando em fundações diretas a tensão mínima
que provoca o colapso num solo colapsível inundado.

Assim, se tivermos provas de carga em placa nas condições


não inundada e pré-inundada, podemos obter,
respectivamente, os valores de capacidade de carga (σr) e de
tensão de colapso (σC). Então, abstraindo a verificação ao
recalque admissível, a tensão admissível (σa) deverá ser tal
que:

51
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

No caso de cálculo da capacidade de carga por fórmula


teórica, como a de Terzaghi, por exemplo, também a tensão
de colapso pode ser obtida pela mesma fórmula, mas com a
utilização de parâmetros do solo advindos da condição
inundada. Com o uso de métodos teóricos, os fatores de
segurança são alterados e a tensão admissível passa a ser:

A verificação ao recalque admissível deverá ser feita para a


condição de solo inundado, a mais crítica. Ao empregar
fórmula para estimativa de recalque, como o método de
Schmertmann, por exemplo, se o módulo de
deformabilidade do solo (ES) for obtido por correlações com
NSPT ou qc, estes valores devem resultar de ensaios com pré-
inundação do terreno.

Essa metodologia permite a obtenção de uma tensão


admissível com segurança ao colapso. Mas como os efeitos
da colapsibilidade são mais acentuados nas camadas mais
superficiais, para fundações rasas essa tensão admissível pode
resultar muito baixa, às vezes incompatível até para obras de
pequeno porte.

Por isso, a NBR 6122/96 prescreve que, “em princípio, devem


ser evitadas fundações superficiais apoiadas em solos
colapsíveis, a não ser que sejam feitos estudos considerando-
se as tensões a serem aplicadas pelas fundações e a
possibilidade de encharcamento do solo”.

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JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

No interior do estado de São Paulo, as fundações por tubulões


a céu aberto são fartamente empregadas nos edifícios
residenciais, mesmo nas regiões colapsíveis. Como a tensão
admissível dessas fundações geralmente é determinada
através de regras empíricas com NSPT, recomendamos a
utilização de valores de NSPT obtidos em sondagens com pré-
inundação do terreno ou com perfuração por circulação de
água desde o início. Dessa forma, podemos obter fundações
por tubulões seguras ao colapso.

53
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

4. SEGUNDA ESCADA: SUCÇÃO


Nesta outra escada, vamos caracterizar os degraus do tema
da colapsibilidade através dos trabalhos que consideram o
papel relevante da sucção matricial no comportamento de
fundações em solos colapsíveis. Trata-se de uma abordagem
mais recente e aprimorada, pela qual todo aumento no teor
de umidade, com a consequente redução da sucção matricial,
implica a diminuição da resistência e o aumento da
deformabilidade dos solos colapsíveis. Neste enfoque, na
condição não inundada o comportamento carga x recalque
da fundação não é único, variando com a umidade e a sucção
matricial.

1º Degrau: Teor de umidade e sucção

Croney e Coleman (1953) abordam o papel desempenhado


pelo teor de umidade nas propriedades mecânicas do solo,
sugerindo que essas propriedades estejam associadas à sucção
do solo, e também tratam do efeito que as mudanças na
condição de umidade do solo podem ter na estabilidade de
fundações rasas. Essa publicação talvez tenha sido a primeira
a relacionar a sucção do solo com o comportamento de
fundações.

No Brasil, Wolle e Carvalho (1988) e Gusmão Filho (1994)


destacam a influência e os efeitos, respectivamente, das
variações de umidade na estabilidade de fundações. A
infiltração de água, por chuva, por exemplo, pode não ser
suficiente para inundar o solo principalmente em maiores
profundidades, o que é incapaz de provocar o colapso, mas
diminui a sucção matricial, podendo majorar os recalques.

54
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

2º Degrau: Ensaios de campo

Em trabalho que não teve a repercussão que merecia,


Reginatto (1971) demonstra que os valores do índice de
resistência à penetração NSPT diminuem com o aumento do
teor de umidade do solo (Figura 14). Apesar de englobar
valores de NSPT obtidos a diferentes profundidades em quatro
locais, em Córdoba, Argentina, essa figura é bem ilustrativa
da dependência entre NSPT e teor de umidade.

Figura 14. Variação de NSPT com o teor de umidade (Reginatto, 1971)

Em função disso, Reginatto (1971) conclui que, “em solos


colapsíveis, os valores de NSPT só podem ser correlacionados
com valores de resistência ao cisalhamento correspondentes
ao mesmo teor de umidade do momento da realização da
sondagem”.

Ademais, Reginatto (1971) considera que “o uso do SPT é

55
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

de um valor muito limitado para determinar valores de


capacidade de carga em solos colapsíveis, pois, na maioria
dos casos, pode resultar valores muito maiores do que os
valores seguros para condições inundadas”. Clevenger (1956)
já alertava para o fato de que, nos solos loéssicos, “estimativas
da capacidade de carga podem ser feitas por meio de ensaios
SPT, somente se houver garantia de que o solo nunca se
tornará mais úmido do que na época das sondagens”. Depois,
Nuñez (1975) ratifica que “os ensaios estáticos e dinâmicos
de penetração não podem ser empregados em solos com
características colapsíveis, pois os seus resultados são
aplicáveis somente ao material com seu teor de umidade
inicial e nada podem informar sobre o comportamento do
mesmo se as condições de umidade variam”.

Entretanto, tais advertências devem ser recebidas com


reservas. Não se trata de deixar de realizar o SPT em solos
colapsíveis, mas sim de não podermos ignorar que os
resultados são inerentes ao teor de umidade (ou à sucção
matricial) da época da campanha e que uma parte dos ensaios
deve ser conduzida com inundação prévia do terreno. Se o
SPT fosse desaconselhado para solos colapsíveis, por motivos
idênticos as provas de carga também deveriam ser descartadas
nesses solos.

No Brasil, Camapum de Carvalho et al. (2001) analisam a


influência da sucção nos resultados de SPT e SPT-T em so-
los porosos colapsíveis, concluindo que o índice de resistência
à penetração depende da sucção, mas o torque é menos
afetado por ela.

3º Degrau: Curva edométrica

Jennings & Knight (1975) apresentam as curvas edométricas

56
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

de um solo ensaiado com cinco valores crescentes do teor de


umidade (w5 > w4 > w3 > w2 > w1), em que w5 representa a
curva da condição inundada (Figura 15).

Figura 15. Curvas edométricas do mesmo solo com diferentes teores de


umidade (Jennings & Knight, 1975)

Para as quatro primeiras curvas (w1 a w4), a inundação na


tensão σ0 + Δσ (σ0 é a tensão geostática na profundidade
considerada e Δσ é um acréscimo de tensão) provoca um
deslocamento para a curva w 5, gerando um recalque
adicional, sem alteração na tensão aplicada. Portanto, quanto
menor a umidade (curva mais distante de w5), maior será o
recalque de colapso.

Essa evidência de que a magnitude do recalque de colapso


depende do teor de umidade inicial foi comprovada
experimentalmente por Vilar (1979), com a realização de
ensaios edométricos em amostras do sedimento cenozóico
de São Carlos, SP.

Em conseqüência, o chamado potencial de colapso é função


57
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

do teor de umidade inicial do corpo de prova no ensaio


edométrico. O mesmo solo terá potencial de colapso mais
baixo, quanto mais úmido, e potencial de colapso mais alto
quanto mais seco estiver o solo antes do início da inundação.
Portanto, o potencial de colapso tem significado relativo e
sua utilização deve ser cautelosa.

4º Degrau: Capacidade de carga de fundações


por sapatas

Fredlund e Rahardjo (1993) trazem uma contribuição notável


ao quantificar o efeito da variação da sucção matricial na
capacidade de carga de fundações por sapatas, utilizando a
equação de Terzaghi para um caso hipotético. Com a adoção
de parâmetros para o solo e considerando sapatas corridas de
0,5 e 1,0 m de lado, apoiadas a 0,5 m de profundidade, são
obtidos os resultados apresentados na Figura 16.

Figura 16. Capacidade de carga em função da sucção matricial


(Fredlund e Rahardjo, 1993)

58
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

Esses cálculos mostram, por exemplo, que para a sapata com


0,5 m de lado e sucção matricial nula, a capacidade de carga
é de 182 kPa mas, quando a sucção matricial é aumentada
para 100 kPa, a capacidade de carga sobe para 655 kPa. Para
a sapata mais larga, tem-se uma tendência semelhante. Os
autores concluem que “a sucção matricial aumenta
fantasticamente a capacidade de carga”.

“In situ, a sucção matricial pode aumentar ou diminuir em


resposta a mudanças nas condições climáticas tais como
evaporação e precipitação” (Fredlund e Rahardjo, 1993). Mas
mesmo que não se atinjam valores tão elevados de sucção
matricial, como os considerados nessa figura, constatamos
que, nesse caso, basta uma sucção matricial de 38 kPa para
dobrar o valor da capacidade de carga, em relação à condição
inundada, ou de sucção matricial nula.

5º Degrau: Sucção matricial e tensiômetro

Conciani (1997) faz o uso pioneiro de tensiômetros na


medição da sucção matricial do solo durante a realização de
provas de carga em placa, em Rondonópolis e em Campo
Novo do Parecis, MT.

Mas é Costa (1999) que comprova experimentalmente as


conclusões de Fredlund e Rahardjo (1993), ao estabelecer
uma correlação para o aumento significativo da capacidade
de carga com a sucção matricial. Essa comprovação foi obtida
em provas de carga em placa, realizadas sob diferentes
condições de sucção ao longo do ano, em São Carlos, SP,
usando uma placa circular de 0,80 m de diâmetro, assentada
a 1,5 m de profundidade. A sucção matricial foi monitorada
por meio de tensiômetros instalados na cava de ensaio, ao
redor da placa. A Figura 17 apresenta os resultados de três

59
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

provas de carga, sendo uma delas com pré-inundação do


terreno (ψm representa a sucção matricial média nos vários
tensiômetros, no início do ensaio).

Figura 17. Curvas tensão x recalque de provas de carga sobre placa em


solo colapsível com diferentes condições de sucção matricial
(Costa, 1999)

Na interpretação dessas curvas tensão x recalque, utiliza-se


o critério de ruptura convencional que associa a capacidade
de carga ao valor de tensão correspondente ao recalque de 25
mm, obtendo uma correlação linear entre a capacidade de
carga (σr) e a sucção matricial (ψm):

Em relação a uma prova de carga realizada com sucção


matricial de 24 kPa (σr = 134 kPa), por exemplo, a inundação
do solo representaria uma redução de 50% na capacidade de
carga (σc ≅ 67 kPa). Outras análises dessa pesquisa são
apresentadas por Costa et al. (2003). Adicionalmente, uma
comparação entre provas de carga lenta, rápida e mista pode

60
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

ser consultada em Costa et al. (2000).

Macacari (2001) também realiza de provas de carga em placa


circular de diâmetro 0,80 m, em São Carlos, SP, mas com
variação da profundidade de assentamento da placa (1,5, 4,0
e 6,0 m). Por meio de ensaios não inundados, com a sucção
matricial monitorada por tensiômetros, e de ensaios
inundados, quantificou-se a dupla influência da sucção
matricial e da profundidade z, na capacidade de carga,
representada pela regressão linear múltipla:

com z em metros e R2 = 0,9403. Outras análises desse


trabalho podem ser consultadas em Cintra et al. (2005).

Tsuha (2003) avalia a utilização de um penetrômetro manual


em solo colapsível, em cavas com 1,5 m de profundidade,
em São Carlos, SP. Ensaios penetrométricos realizados com
monitoração da sucção matricial por meio de tensiômetros,
além de ensaios penetrométricos realizados em cava
inundada, permitem comprovar, também nesse caso, o
importante papel da sucção matricial na resistência do solo.
A tensão de ruptura (qp) obtida no ensaio penetrométrico é
correlacionada com a sucção matricial (ψm), nesse caso, pela
regressão linear:

com R2 = 0,944. Outros detalhes podem ser consultados em


Tsuha et al. (2004a e 2004b).

Correlações regionais desse tipo podem ter importância


prática, por permitirem a avaliação da sucção matricial por
procedimento simples, inclusive para o caso de tubulões a

61
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

céu aberto, se as correlações forem obtidas para profundidades


adequadas. Além disso, a combinação das equações do tipo
(2) e (4) pode fornecer, a partir unicamente do penetrômetro
manual, tanto a sucção matricial como a estimativa de
capacidade de carga do ensaio de placa.

Vianna (2005) volta a realizar ensaios de placa, no mesmo


local, à profundidade de 1,5 m mas variando a dimensão da
placa (0,2 m, 0,4 m e 0,8 m) e ensaiando também sapatas de
concreto com 1,5 m de diâmetro. Para todos os diâmetros
ensaiados, reafirma-se a correlação linear da capacidade de
carga com a sucção matricial. Para as sapatas, por exemplo,
encontrou-se a regressão:

com R2 = 0,967. Outros resultados desse trabalho podem ser


consultados em Vianna et al. (2007).

O ajuste linear nessas várias correlações entre capacidade de


carga e sucção matricial é justificado pelos baixos valores de
sucção matricial atuantes in situ, até um máximo de 50 kPa,
na nossa experiência. Obviamente, para valores dezenas de
vezes maiores, impostos para a sucção matricial em ensaios
de laboratório, os ajustes deixam de ser lineares.

Moraes (2005) efetua monitoração diária da sucção matricial,


por meio de tensiômetros instalados em uma cava a 1,5 m de
profundidade, em São Carlos, SP, por um período de 110
dias. Na Figura 18, apresenta-se a curva de variação da sucção
matricial, nesse período, comparada com os dados diários
de precipitações médias registradas pela Embrapa Pecuária
Sudeste.

62
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

Figura 18. Variação da sucção matricial e precipitação média diária


(Moraes, 2005)

Podemos constatar o aumento da sucção matricial durante o


período de estiagem e a correspondência entre a sua queda
brusca com dias de precipitações mais significativas, superiores
a 15 mm.

Em laboratório, Almeida (2009) realiza provas de carga em


placa circular, em modelos com diâmetro de 40 mm, em
blocos indeformados cúbicos, com lado de 30 cm, de solo
arenoso e colapsível de São Carlos, SP. Com a monitoração
da sucção matricial por tensiômetros, ratificou-se, uma vez
mais, a correlação linear entre a sucção matricial e a
capacidade de carga, para valores de sucção matricial de até
50 kPa. Além de ensaios lentos e rápidos, também se utilizou
o método do equilíbrio, cuja comparação pode ser consultada
em Almeida et al. (2008).

63
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

6º Degrau: Capacidade de carga de fundações


profundas

De forma inédita, Santos (2001) obtém a variação, com a


sucção matricial, das parcelas de resistência por atrito lateral
e de resistência de base em ensaios de tubulões a céu aberto
com 0,60 m de diâmetro de fuste e 1,50 m de diâmetro de
base alargada, na cota -8 m, executados em São Carlos, SP
(NA entre 9,90 e 10,80 m de profundidade na época dos
ensaios).

Nas provas de carga não inundadas, a sucção matricial foi


obtida indiretamente por meio da umidade de amostras
indeformadas, retiradas de metro em metro por tradagem, e
utilização das curvas características de retenção de água
previamente estabelecidas em laboratório, em função da
profundidade, por Machado (1998). Nesse solo, parece ser
razoável a utilização de um valor constante da massa
específica seca (ρ d) para transformação da umidade
gravimétrica (amostra) em umidade volumétrica (curva
característica).

Para obter experimentalmente os valores separados da


resistência lateral e da resistência de ponta, foram colocadas
placas de isopor entre a base e o fuste dos tubulões. Maiores
detalhes dos ensaios são descritos por Cintra et al. (2003a) e
Cintra et al. (2004b). Como síntese dos resultados, são
apresentadas, em função da sucção matricial, as curvas de
resistência lateral (Figura 19) e de resistência de base (Figura
20).

64
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

Figura 19. Resistência por atrito lateral em função da sucção matricial


(Cintra et al., 2004b)

Figura 20. Resistência de base em função da sucção matricial


(Cintra et al., 2004b)

Guimarães et al. (2004) apresentam os resultados de cinco


provas de carga realizadas em diferentes épocas do ano, em
Brasília, DF, em estacas escavadas mecanicamente (0,3 m de
diâmetro e 7,5 a 8,0 m de comprimento), com simultânea
obtenção dos perfis de umidade e de sucção ao longo do ano
(sucção determinada pela técnica do papel filtro). Constata-
se uma variação na capacidade de carga de até 33% (270 a
360 kN), embora as variações expressivas de umidade e de
sucção ao longo do ano tenham ocorrido apenas até 3 m de
profundidade.

65
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

7º Degrau: Tensão Admissível em Fundações


Diretas

Vianna (2005) interpreta as curvas tensão x recalque da Figura


21 para determinação da tensão admissível. São resultados
de ensaios de placa metálica, com diâmetro de 0,80 m, a 1,5
m de profundidade, obtidos em três diferentes condições de
sucção matricial (ψ m = 15, 22 e 33 kPa) e na condição
inundada (ψm . 0), em São Carlos, SP.

Figura 21. Curvas tensão x recalque de ensaios de placa com solo


inundado e não inundado com três níveis de sucção matricial (Vianna,
2005, adaptado de Costa, 1999 e de Macacari, 2001)

Para os ensaios não inundados, utiliza-se o critério de Bos-


ton, pelo qual a tensão admissível (σa) é dada pelo menor de
dois valores: a tensão que provoca um recalque de 10 mm
(σ10) e a metade da tensão correspondente ao recalque de 25
mm (σ10). De acordo com Teixeira e Godoy (1996), esse
critério estabelece, para a placa, um recalque admissível de

66
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

10 mm e um critério de ruptura convencional no qual a


capacidade de carga (σr) é associada ao recalque de 25 mm.
A redução pela metade corresponde a um fator de segurança
igual a 2. Para a condição inundada, aplica-se o mesmo
critério, mas com fator de segurança 1,5, em vez de 2,0,
segundo a metodologia proposta por Cintra (1995).

Os resultados encontrados são de 50, 60 e 70 kPa, para a


condição não inundada e de 40 kPa para o solo inundado.
Considerando-se o menor dos valores, tem-se uma tensão
admissível final de 40 kPa. Para essa tensão, o recalque será
de 2 a 5 mm, dependendo do nível de sucção, podendo chegar
a 7 mm se ocorrer a inundação, de acordo com a curva carga
x recalque da condição inundada. Trata-se de uma tensão
admissível segura ao colapso, mas o seu baixo valor pode ser
insuficiente, dependendo do porte da obra.

Nesse mesmo caso, cogitemos a hipótese da tensão admissível


ser determinada sem a consideração da colapsibilidade, isto
é, sem o ensaio inundado, e apenas com a curva carga x
recalque correspondente à sucção matricial de 33 kPa; o valor
encontrado seria σa = 70 kPa. Mantida essa sucção, o recalque
seria de 4 mm, mas ocorrendo a inundação o recalque chegaria
a 30 mm, de acordo com a curva carga x recalque do solo
inundado (para σa = 70 kPa). Outros detalhes dessa análise
podem ser consultados em Vianna e Cintra (2003), Vianna et
al. (2004) e Vianna et al. (2007).

Aproveitamos esses cálculos para deduzir que haveria, na


placa, um recalque de colapso de 26 mm (o complemento
de 4 para 30 mm). Na fundação, o recalque de colapso seria
maior ainda, devido ao efeito de escala, justificando assim o
que pode ocorrer com uma fundação em solo colapsível,
projetada com tensão admissível inadequada.

67
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

Cintra et al. (2003b) utilizam os mesmos resultados da Figura


21 para demonstrar a eficácia da compactação da camada de
apoio da sapata até a metade do bulbo de tensões. Sem contar
com o benefício da compactação no aumento da capacidade
de carga e, para o nível de sucção de 33 kPa, a tensão
admissível seria de 70 kPa. Aplicada essa tensão pela placa,
a parcela propagada até o meio do bulbo de tensões, ou o
topo da camada não compactada, seria de cerca de 20 kPa
(25% pelo critério de propagação 1:2). Essa tensão, no solo
colapsível inundado, provoca um recalque de colapso de tão
somente 3 mm, de acordo com a curva carga x recalque da
condição inundada.

Através de ensaios de placa, em São Carlos, SP, e ensaios de


laboratório, Menegotto et al. (2002) mostram que o módulo
de deformabilidade do solo (ES) aumenta sensivelmente com
a elevação da sucção matricial. Desse modo, a condição
inundada ou de sucção matricial praticamente nula implica
o mínimo valor de ES. Outros detalhes podem ser consultados
em Menegotto (2004).

Portanto, no caso de se fazer a estimativa de recalque de


fundação direta através de fórmula, como a de Schmertmann,
por exemplo, devemos utilizar o módulo de deformabilidade
relativo ao solo inundado, que representa a situação mais
crítica. Na falta de valores experimentais, sugerimos o
emprego de correlações com parâmetros do solo obtidos na
condição inundada.

Patamar da segunda escada

Neste patamar, passamos a tratar das fundações em solos


colapsíveis à luz do importante papel da sucção matricial. O
problema não é mais unicamente o colapso advindo da

68
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

inundação do solo. No decorrer do tempo, temos uma


oscilação natural da umidade do solo e, biunivocamente, da
sucção matricial. Assim, um aumento do teor de umidade,
mesmo sem atingir a inundação do solo, leva a uma redução
da sucção matricial, sem anulá-la, provocando diminuição
da capacidade de carga e aumento nos recalques.

As variações naturais da sucção matricial também têm


reflexos na interpretação de resultados de sondagens e de
provas de carga.

a) Curva carga x recalque

A forma da curva carga x recalque depende da sucção


matricial atuante no solo no início do ensaio. Valores mais
altos da sucção matricial resultam em aumento da capacidade
de carga e diminuição da deformabilidade. Ao contrário,
valores mais baixos da sucção matricial produzem redução
na capacidade de carga e aumento na deformabilidade.

E como a sucção matricial sofre variações naturais no decorrer


do tempo, em função das condições climáticas e
meteorológicas, podemos obter uma família de curvas carga
x recalque, conforme o valor da sucção matricial no início
do ensaio (Figura 22). À condição de sucção matricial nula,
obtida com a pré-inundação do solo, corresponde uma
espécie de curva carga x recalque “crítica”, que estabelece a
máxima deformabilidade e a mínima capacidade de carga
para a fundação. E na chamada condição não inundada, com
sucção matricial diferente de zero, não temos uma curva carga
x recalque única, como pensávamos anteriormente.

69
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

Figura 22. Família de curvas carga x recalque em função da sucção


matricial

Essa figura ajuda a explicar o caso de insucesso de reforço


com estacas mega, citado no Capítulo 3 (2º degrau), de
fundações rasas que sofreram colapso em época de chuvas
prolongadas. Basta considerar que no período de estiagem
posterior, em que foi executado o estaqueamento, a seca tenha
sido intensa, gerando valores mais significativos da sucção
matricial. Desse modo, às estacas mega corresponderiam
curvas carga x recalque mais distantes da curva relativa à
inundação, de tal modo que o fator de segurança de 1,5 típico
das fundações por estacas mega teria sido insuficiente para
garantir a segurança ao colapso, no caso de nova inundação.
A capacidade de carga no momento da instalação das estacas
mega era tão elevada, graças a altos valores da sucção
matricial, que tornou ineficaz o fator de segurança 1,5 de
execução desse tipo de estaca.

A solução adequada teria sido a inundação do solo para a


implantação da estacas mega, obtendo estacas mais longas e

70
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

garantindo, assim, um fator de segurança 1,5 à carga de


colapso.

O importante papel da sucção matricial na variação da


capacidade de carga pode esclarecer, pelo menos em parte,
divergências de resultados de provas de carga que ocorrem
nas seguintes situações: a) ensaios estáticos realizados em
datas distintas, às vezes intercaladas por chuva; b) prova de
carga dinâmica, realizada no momento da cravação de uma
estaca, e prova de carga estática realizada algum tempo depois.

De modo semelhante, na situação corriqueira de ensaio SPT


e prova de carga realizados em épocas diferentes,
discrepâncias entre valores previstos por métodos semi-
empíricos e valores experimentais de capacidade de carga
podem ser devidas à influência da sucção matricial.

Esse papel da sucção matricial adiciona uma dificuldade na


interpretação de reensaios, em que duas ou mais provas de
carga são realizadas no mesmo elemento isolado de fundação,
em datas distintas e, às vezes, distantes entre si.

Como vimos na Figura 22, para qualquer prova de carga


realizada em solos colapsíveis a curva carga x recalque é
intrínseca à sucção matricial do início do ensaio. Por isso, é
necessário que passemos a adotar algum tipo de procedimento
de avaliação da sucção matricial na data de realização de uma
prova de carga.

No caso de provas de carga em placa, consideramos que os


tensiômetros possam vir a ser incorporados às provas de carga
comerciais.

Para ensaios de fundações profundas, mesmo uma técnica

71
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

mais sofisticada como o TDR não fornece medida direta de


sucção matricial, necessitando de curvas características de
retenção de água, previamente estabelecidas em laboratório,
para diferentes profundidades, para correlacionar a sucção
matricial com a umidade, o que torna inviável para finalidade
prática de engenharia.

Por isso, incentivamos a realização de tradagem,


simultaneamente à realização de provas de carga em estacas
e tubulões, para obtenção do teor de umidade com a
profundidade. O acúmulo de experiência com perfil de
umidade poderá ser benéfico para a prática de fundações, a
qual dificilmente incorporará a obtenção de perfis de sucção
matricial. Eventualmente, podemos considerar a utilização
da técnica do papel filtro para determinação direta da sucção
das amostras obtidas por tradagem, simultaneamente à
realização de provas de carga.

b) Ensaios de penetração

De modo semelhante ao que ocorre com as provas de carga,


os ensaios de penetração estática e dinâmica também têm os
seus resultados afetados pelo nível de sucção matricial da
data do ensaio. As variações de temperatura, umidade relativa
do ar e pluviometria provocam variações na sucção matricial
e, consequentemente, alterações nos valores de NSPT e de qc.

Por isso, incentivamos a determinação de perfil de umidade


nas sondagens SPT com a utilização direta dos valores de
teor de umidade obtido nas amostras, pois consideramos
interessante acumular experiência na relação entre os valores
de NSPT de um furo de sondagem e o respectivo perfil de
umidade.

72
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

Continuamos a indicar a realização de parte dos furos de


sondagem com pré-inundação do terreno ou com circulação
de água desde o início da perfuração, para obtermos
parâmetros para a estimativa da carga de colapso e de
recalques para a condição de solo inundado.

c) Carga de colapso

A capacidade de carga de uma fundação é função direta da


variável sucção matricial e a condição mais crítica é a
correspondente à sucção matricial nula (solo inundado), em
que a capacidade de carga atinge o valor mínimo, o qual
denominamos carga de colapso.

Por isso, continuamos a recomendar a realização de prova de


carga com pré-inundação do terreno, para a determinação
experimental da carga de colapso. Também continua válida
a sugestão de estimar a carga de colapso através de métodos
semi-empíricos de capacidade de carga, com a utilização de
valores N SPT obtidos em furo de sondagem com pré-
inundação do terreno ou com circulação de água desde o
início da perfuração.

d) Redução de capacidade de carga

Em relação à capacidade de carga obtida na condição não


inundada, a carga de colapso indica redução de capacidade
de carga. Mas, como a capacidade de carga é dependente do
nível de sucção matricial atuante no solo, a redução de
capacidade de carga também é um parâmetro variável com a
sucção matricial. Assim, para um mesmo elemento isolado
de fundação em solo colapsível, valores maiores de sucção
matricial implicam maiores reduções na capacidade de carga,
enquanto sucções mais baixas geram reduções menores de

73
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

capacidade de carga.

Em conseqüência, uma pequena redução de capacidade de


carga não implica necessariamente baixa susceptibilidade ao
colapso. O mesmo elemento de fundação, no mesmo local,
pode ser mais susceptível ao colapso, se a inundação ocorrer
em outro momento, em que a sucção matricial for mais
elevada.

Portanto, a chamada redução de capacidade de carga tem


significado relativo e sua utilização deve ser restrita, uma
vez que a percentagem de redução está sempre associada a
um determinado nível de sucção matricial.

e) Metodologia de projeto

Continuamos apregoando a utilização conjunta de fatores de


segurança mínimos de 2,0 (capacidade de carga na condição
não inundada) e 1,5 (carga de colapso na condição inundada).
Mas isso tem novas implicações pelo fato da condição não
inundada não ser única, gerando variações na capacidade de
carga e nos recalques.

Na prática de fundações, não é factível realizar provas de


carga ao longo do ano para obter as várias curvas carga x
recalque das condições não inundadas correspondentes a
diferentes valores de teor de umidade ou de sucção matricial,
conforme se alternam os períodos mais ou menos secos.

Por isso, as provas de carga sem inundação do terreno podem


ser feitas numa mesma época. Mesmo sem a avaliação da
sucção matricial correspondente, o importante é não ignorar
que a capacidade de carga obtida poderá variar para mais ou
para menos, em função da oscilação da sucção matricial.

74
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

Isso pode ser explicado em detalhes com um caso de obra,


em Ribeirão Preto, SP, em que estacas de solo-cimento
plástico foram adotadas no projeto das fundações de um
condomínio de residências assobradadas. Como as estacas,
com diâmetro de 0,25 m e comprimento de 7,0 m,
atravessavam uma camada de silte muito poroso, com NSPT
médio de 3 golpes/30 cm, programou-se a realização de prova
de carga com inundação do terreno, além do ensaio não
inundado. Os resultados obtidos foram, respectivamente, a
carga de colapso RC = 120 kN e a capacidade de carga R =
140 kN. Aplicados os respectivos fatores de segurança de 1,5
e 2,0, chegou-se à carga admissível Pa = 70 kN, a qual foi
confirmada na verificação do recalque (inferior a 2 mm no
ensaio inundado).

Aparentemente, tratava-se de um caso de pequena influência


da colapsibilidade, pois a redução da capacidade de carga
com a inundação fora de apenas 14%. Mas o detalhe
importante é que esses ensaios foram realizados em período
de chuva, em fevereiro de 20018. Podemos inferir que, em
função da umidade mais alta e conseqüente sucção matricial
mais baixa, a capacidade de carga resultou não muito maior
que a carga de colapso. Se realizados os ensaios em outra
época do ano, em estação de seca, a curva carga x recalque da
condição inundada seria praticamente a mesma, mas a do
ensaio não inundado não seria tão “próxima” daquela,
resultando uma capacidade de carga superior a 140 kN. Por
outro lado, em períodos mais chuvosos do que aquele da
data das provas de carga, a capacidade de carga seria menor
do que 140 kN, mas nunca inferior a 120 kN, correspondente
à carga de colapso.

8
Os valores mencionados de NSPT também foram obtidos em época de chuva, em
sondagens realizadas em janeiro/2000.

75
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

Portanto, nesse projeto a condicionante foi a capacidade de


carga na condição não inundada (fator de segurança 2,0),
resultando uma fator de segurança ao colapso superior a 1,5
(120 / 70 = 1,7). Em conseqüência, com as variações naturais
da capacidade de carga, o fator de segurança ao longo do
tempo não permanecerá fixo em 2,0, podendo aumentar ou
até diminuir, mas respeitando sempre o mínimo de 1,7. E,
consequentemente, aquele valor de redução de capacidade
de 14% constituirá apenas uma referência inicial, podendo
aumentar ou diminuir.

Para a mesma obra, se as provas de carga tivessem sido


realizadas em outra época, mais seca, obtendo-se, por
exemplo, uma capacidade de carga de 170 kN, a
condicionante de projeto passaria a ser a carga de colapso
(imutável em 120 kN) e a carga admissível resultaria em 80
kN. (fator de segurança 1,5 ao colapso e 2,1 à ruptura não
inundada). Mas com a variação da condição não inundada,
ao longo da vida útil da obra, o fator de segurança de 2,1 não
permaneceria fixo, aumentando ou diminuindo até o
mínimo de 1,5. E, em conseqüência, a redução de capacidade
de carga, que teria como referência inicial o valor de 30%
(170 kN para 120 kN), também poderia aumentar ou
diminuir.

Modificando a Figura 13, apresentada anteriormente (item


d do Patamar da 1ª escada, ao final do Capítulo 3), temos
agora a Figura 23, para visualizarmos que, durante a vida
útil da obra, o fator de segurança à ruptura não inundada
oscila em relação ao valor imposto no projeto, para mais ou
para menos, respeitando o mínimo dado pelo fator de
segurança ao colapso. Além disso, no eixo das abscissas, em
vez de valores de redução de capacidade de carga, temos agora
valores de referência inicial dessa redução correspondentes

76
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

às condições de projeto. Assim, para cada abscissa, a variação


da fator de segurança à ruptura inundada (flechas para cima
ou para baixo) implica variação (para mais ou para menos)
no percentual de redução de capacidade de carga, em relação
ao valor de referência inicial.

Figura 23. Variação dos fatores de segurança

Outra implicação é que, mesmo sem ocorrer colapso, a


diminuição da sucção matricial aumenta os recalques, sob
carga constante, pois o solo se torna mais deformável. Daí a
necessidade da estimativa do recalque, sob atuação da carga
admissível, ser feita sempre para a sucção matricial nula (solo
inundado), que é a condição de solo menos rígido. Então,
mesmo na fundação totalmente segura ao colapso, devemos
verificar o recalque correspondente à sucção matricial nula.

77
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

Para a verificação dos recalques, sugerimos a realização de


prova de carga com pré-inundação do terreno ou que sejam
empregados os métodos usuais de estimativa de recalque,
mas com utilização de parâmetros do solo obtidos na condição
inundada.

78
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

5. CONCLUSÃO

No patamar da primeira escada, considerávamos que a


chamada condição não inundada era única, restringindo o
problema das fundações em solo colapsível à ocorrência de
inundação (condição crítica). Assim, desconsiderando a
variabilidade do maciço de solo, a prova de carga num
elemento isolado de fundação poderia fornecer apenas duas
curvas carga x recalque, representativas de duas condições
extremas: inundada e não inundada.

Havia uma metodologia de projeto que preconizava um fator


de segurança de 1,5 à carga de colapso (condição inundada),
além da aplicação do fator de segurança 2,0 à capacidade de
carga (condição não inundada). A determinação da carga de
colapso e da capacidade de carga podia ser feita
experimentalmente, por provas de carga pré-inundadas e sem
inundação, respectivamente. A carga de colapso também
podia prevista através de métodos semi-empíricos de
capacidade de carga, com a utilização de parâmetros do solo
obtidos em ensaios de campo pré-inundados. No caso do SPT,
a alternativa à pré-inundação era o uso da circulação de água
na perfuração, antes de atingir o NA.

A verificação do recalque era feita sempre para a condição


de solo inundado, por ser a mais crítica. Para isso ou eram
realizadas provas de carga com pré-inundação, ou eram
utilizados métodos de estimativa de recalque com parâmetros
de solo inundado.

No patamar da segunda escada, a condição não inundada


deixou de ser única, tornando-se variável em função da sucção
matricial. Em conseqüência, a prova de carga pode apresentar
não apenas duas, mas uma família de curvas carga x recalque,
79
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

uma para cada nível de sucção matricial, permanecendo como


crítica a condição inundada (sucção praticamente nula).

Podemos manter a mesma metodologia de projeto,


utilizando uma única condição não inundada, mas sem o
direito de ignorar que o fator de segurança 2,0 só é compatível
com o mesmo nível de sucção matricial correspondente à
condição não inundada considerada. Oscilações na sucção
matricial implicarão variações desse fator de segurança para
maior ou menor, mas nunca inferior a 1,5.

Finalmente, precisamos considerar que, mesmo sem ocorrer


o colapso, o recalque pode aumentar com a diminuição da
sucção matricial que torna o solo menos rígido, ou mais
deformável. Portanto, não basta garantir a segurança ao
colapso. É necessário fazer a verificação do recalque para a
condição crítica de sucção matricial praticamente nula (solo
inundado).

Essa metodologia de projeto tem como característica levar


em conta a colapsibilidade na determinação da carga
admissível. Em conseqüência, obtemos um projeto de
fundações seguras ao colapso. Mesmo que o solo venha a ser
inundado, durante a vida útil da obra, não teremos a
ocorrência de colapso.

80
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

6. CAPÍTULO ESPECIAL:

Relevância da época de execução da investigação


geotécnica no projeto de uma fundação em solo
não saturado

Resumo: Trata-se de um viaduto em solo não saturado onde


o projeto de fundação em tubulões a céu aberto foi baseado
em sondagens de simples reconhecimento, com medidas de
resistência à penetração NSPT, realizadas no final de primavera
em um mês excepcionalmente seco. Durante a execução da
fundação na primavera do ano seguinte tudo corria bem até
que, no verão, constatou-se acentuada elevação do nível do
lençol freático e queda da resistência do solo. Como
conseqüência houve necessidade de reforço das fundações já
executadas e utilização de ar comprimido nos demais
tubulões, resultando em atraso no cronograma e custo
adicional não previsto. Portanto, a época de execução da
investigação geotécnica é um fator relevante que deve ser
também considerado no projeto de uma fundação em solo
não saturado.

6.1. Introdução

Os maciços de solos formam o estrato superior da crosta


terrestre e devem ser modelados como meios contínuos no
espaço-tempo. O estado da água em um ponto no interior do
maciço, ou seja, o potencial de realizar trabalho e de se mover
para outro ponto, pode ser fisicamente descrito em termos
de energia potencial, que depende da altura em relação ao
nível do mar, da pressão ou sucção a que está submetido, da
superfície da partícula e da presença de sais dissolvidos
(Fitzpatrick, 1978). Portanto, para fins de projeto, as

81
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

propriedades do solo dependem não só da posição geográfica


dentro do maciço, mas, também, da estação do ano e do estado
da água devido à ação da gravidade, da pressão freática e da
sucção matricial e osmótica. No caso de solos não saturados
o papel da sucção tem sido objeto de intensa pesquisa no
exterior (Alonso et al., 1990; Fredlund e Rahardjo, 1993) e
também no Brasil (Vilar et al., 1981; Vilar, 1995; Cintra, 1998;
Machado, 1998; Costa et al, 2003).

Em muitas regiões tropicais no hemisfério sul a estação


chuvosa ocorre no verão e a estação seca no inverno.
Acompanhando o ritmo natural do tempo, o nível do lençol
freático dos solos não saturados destas regiões tende a subir
no verão e a descer no inverno. Assim, a resistência e a
compressibilidade destes solos tendem a variar
sazonalmente. Entretanto, a conseqüência do
condicionamento imposto pelo estado da água e pela
variabilidade das propriedades do solo no espaço-tempo, ou
seja, ao longo das estações do ano, é muitas vezes olvidada
pelos engenheiros.

Neste capítulo apresenta-se um caso de obra em que os fatos


observados durante a execução demonstram a relevância da
consideração da época de execução da investigação geotécnica
no projeto da fundação de uma obra em solo não saturado.

6.2. Cronologia dos fatos observados na obra

6.2.1. Projeto das fundações

Trata-se de um viaduto de 65,0 m de comprimento, com duas


pistas de 4,0 m, passeio lateral de 1,5 m e largura total de
10,4 m, apoiado em dois encontros (E1 e E2) e num pilar
central (PC). A Figura 24 apresenta os dados das sondagens

82
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

de simples reconhecimento, com medidas do índice de


resistência NSPT, executadas no fim do mês de novembro de
1998, nos locais dos encontros E1, E2 e PC (sondagens S-
E1, S-E2 e S-PC). Nesta ocasião constatou-se que o nível do
lençol freático encontrava-se, em média, na cota +598,49 m.

Figura 24. Sondagens executadas no final do mês de novembro de 1998

Com base nesses dados, elaborou-se, em agosto de 1999, o


projeto das fundações. Tendo em vista a grande profundidade
do lençol de água e a resistência do solo indicada pelas
sondagens, projetou-se a fundação dos encontros em tubulões
de concreto armado e a fundação do pilar central em sapata
retangular. Esse projeto, de baixo custo e fácil execução a
céu aberto, não exigia equipamento ou procedimento espe-
cial para instalação dos elementos estruturais de fundação
no solo.

A fundação do encontro E1, formada por dois tubulões de


concreto armado com diâmetro de 1,2 m, base alargada de

83
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

2,5 m e tensão admissível de 0,6 MPa, foi apoiada na cota


+605,4 m, com NSPT ≥ 31 golpes/30 cm. A fundação do
encontro E2, formada por dois tubulões de concreto armado
com diâmetro de 1,2 m, base alargada de 2,3 m e tensão
admissível de 0,7 MPa, foi apoiada na cota +598,0 m, com
NSPT ≥ 50 golpes/30 cm. A fundação do pilar central,
constituída por uma sapata de concreto armada retangular
com área de 3,9 x 7,4 m2 e tensão admissível de 0,4 MPa, foi
apoiada na cota +604,0 m, com NSPT ≥ 33 golpes/30 cm.

6.2.2. Execução das fundações

Os serviços de abertura dos poços, alargamento das bases e


concretagem a céu aberto dos dois tubulões do encontro E1
foram executados sem problemas no período de setembro a
novembro de 1999. No mesmo período executou-se a
escavação, forma, concretagem e reaterro da sapata do pilar
central. Todos estes serviços se desenvolveram a céu aberto
conforme previsto no projeto.

Entretanto, na continuação dos serviços de execução dos


tubulões do encontro E2, notou-se a presença de água em
cota muito acima da cota de assentamento das bases prevista
no projeto. Foram então executadas novas sondagens no lo-
cal deste encontro (sondagem S-E2A) e também nas
proximidades dos tubulões já executados do encontro E1
(sondagens S-E1A, S-E1B e S-E1C). O resultado dessas
sondagens executadas em janeiro de 2000 é apresentado na
Figura 25.

Verifica-se nesta figura que o nível do lençol freático no lo-


cal do encontro E2 foi encontrado na cota +604,0 m, a 6,0 m
acima da cota de projeto e 5,4 m acima do nível de água
encontrado na sondagem S-E2 executada em 1998, que serviu
de base para o projeto.

84
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

Figura 25. Sondagens executadas em janeiro de 2000

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PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

6.2.3. Conseqüências da elevação do nível do


lençol freático

Comparando-se as sondagens das figuras 24 e 25 pode-se


concluir que a elevação geral do nível do lençol freático
provocou uma significativa diminuição da resistência do
solo. De fato, os índices de resistência à penetração, nos locais
dos encontros E1 e E2, iguais a 31 e 50, passaram para 19 e
32, respectivamente (redução de cerca de 40%). Esta queda
de resistência do solo originou a necessidade de:
- reforço da fundação dos dois tubulões já executados no
encontro E1;
- uso de ar comprimido no prosseguimento da execução
dos dois tubulões do encontro E2.

A possível redução de 40% na resistência do solo no local da


sapata do pilar central foi considerada ainda satisfatória para
a tensão admissível de 0,4 MPa.

Finalmente, cada tubulão do encontro E1 foi reforçado com


seis estacas raiz (duas estacas verticais e quatro estacas
inclinadas a 12,50) de diâmetro igual a 310 mm, armadas
com cinco barras de 20 mm, aço CA50A, comprimento 16,5
m de perfuração em solo e 6,0 m de injeção de argamassa
sob pressão de 0,2 MPa. A execução dos tubulões do encontro
E2 sob ar comprimido foi completada sem problemas.

6.3. Análise da causa da elevação do nível do


lençol freático

O Quadro 1 apresenta os valores da precipitação


pluviométrica mensal no local da obra em Sumaré, no inte-
rior do estado de São Paulo, nos anos de 1997 a 2000. A cota

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JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

média do nível de água de +598,5 m, verificada no final de


novembro de 1998, justifica-se pelo fato de ter sido medida
em um mês excepcionalmente seco (28 mm).

A elevação de 5,4 m do nível do lençol freático no local do


encontro E2 pode ser explicada pelos altos valores de
precipitação verificados nos meses de dezembro de 1999 e
janeiro de 2000. Por outro lado, tratando-se de um aqüífero
em uma camada de solo arenoso, é também possível atribuir
esta acentuada variação do nível d’água a outras condições
hidrogeológicas da região.

A Figura 26 apresenta os dados pluviométricos em forma


gráfica. As médias das precipitações no período observado
comprovam que os valores mínimos aconteceram durante
os meses do inverno e valores máximos no verão. Neste caso
o nível de água medido correlaciona-se bem com a média de
precipitação mensal observada.
Quadro 1. Índices de precipitação pluviométrica mensal (mm/mês)

• época de realização das sondagens

87
PROJETO DE FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS

mm/mês

ano

mês

Figura 26. Precipitação pluviométrica mensal

6.4. Conclusões

Dos fatos observados nesta obra pode-se concluir que custos


adicionais e atraso no cronograma de execução de fundações
em solos não saturados podem ser evitados tomando-se os
seguintes cuidados no projeto:
- desconfiar de nível d’água muito profundo e, neste caso,
verificar se o solo é colapsível;
- sempre proceder à investigação geotécnica em época de
chuvas intensas;
- considerar as propriedades do solo na condição saturada
que é a mais desfavorável.

De forma mais abrangente deve-se também pesquisar a


dependência entre o fator de segurança e a probabilidade de
ruína, a serem considerados no projeto, relacionando-os com
a probabilidade de ocorrência de chuva da época em que a
investigação geotécnica foi executada.

88
JOSÉ CARLOS A. CINTRA & NELSON AOKI

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