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Exmº Senhor Presidente da Comissão Executiva Instaladora

e Presidente do Grupo de Trabalho de Acompanhamento Pedagógico


do Agrupamento de Escolas de Alvide

Os professores do Agrupamento de Escolas de Alvide, abaixo assinados, declaram o seu


mais veemente protesto e desacordo perante o novo Modelo de Avaliação de
Desempenho decorrente da aplicação do Decreto Regulamentar 2/2008 de 10 de Janeiro
de 2008.

Não questionam a avaliação de desempenho como instrumento conducente à


valorização das suas práticas docentes, com resultados positivos nas aprendizagens dos
alunos e promotor do desenvolvimento profissional.

Consideram que a Avaliação de Desempenho constitui assunto demasiado sério, que


deve resultar de uma ampla e séria discussão, não devendo, por isso, estar sustentada em
arbitrariedades, desconfiança e vazio de conteúdo.

Advogam um modelo de avaliação resultante de um amplo debate nacional entre


professores, seus legítimos representantes e a tutela, consistente, que motive os
professores e fomente a qualidade e o prestígio da escola pública.

O Modelo de Avaliação regulamentado pelo Decreto Regulamentar nº. 2/2008 não


assegura a justiça, a imparcialidade e o rigor, nem valoriza, de facto, o desempenho dos
docentes.

É um modelo que impõe uma avaliação entre pares, parcial e perigosa, criadora de um
péssimo ambiente nas escolas.

Os critérios que nortearam o primeiro Concurso de Acesso a Professor Titular geraram


uma divisão artificial e gratuita entre “professores titulares” e “professores”,
valorizando apenas a ocupação de cargos nos últimos 7 anos, independentemente de
qualquer avaliação da sua competência pedagógica, científica ou técnica e certificação
da mesma. Ficaram de fora muitos professores com currículos altamente qualificados,
com anos de trabalho dedicados ao ensino e com investimento na sua formação pessoal,
gerando nas escolas injustiças aviltantes.

Como consequência, surgem situações paradoxais de avaliadores com formação


científico-pedagógica inferior à dos docentes por eles avaliados e, professores
avaliadores de áreas disciplinares ou grupos de recrutamento, muito díspares das áreas
ou grupos disciplinares dos docentes que vão avaliar.

Por outro lado, a contínua produção de documentos legislativos de que este modelo é
apenas uma parte, tem introduzido constantes alterações ao funcionamento e
organização das escolas, criando um clima de instabilidade insuportável que, em nada
beneficia o processo de ensino-aprendizagem. Pelo contrário, os professores estão
afogados em tarefas burocráticas de elaboração, reformulação e análise dos documentos
que os afastam, cada vez mais, das funções pedagógicas.
O horário de trabalho dos professores nas escolas, imposto pelo Ministério da
Educação, é escasso para responder às inúmeras tarefas e funções que lhes são
atribuídas ou solicitadas.

Como pode haver ensino de qualidade e sucesso escolar se os professores investem a


maior parte do seu tempo (que no momento ultrapassa largamente as 35 horas semanais)
na elaboração e preenchimento de um emaranhado de documentos burocráticos que
integram este processo de avaliação?
Dez ou onze tempos de trabalho individual não são suficientes para a planificação de
aulas, a análise e reflexão sobre as estratégias mais adequadas, a criação de recursos
diversificados e inovadores, a elaboração de material para apoio a alunos com
necessidades educativas especiais, a preparação de instrumentos de avaliação
diagnóstica, formativa e sumativa, a correcção dos mesmos, a reflexão sobre os
resultados, a reformulação de práticas… Tudo isto, multiplicado por uma média de cem
alunos, cinco, seis ou sete turmas, três, quatro ou cinco níveis…
Para além destas funções, acrescente-se a participação nas reuniões dos órgãos de
gestão intermédia, as horas de ocupação dos alunos, as horas de dinamização e/ou
participação em actividades complementares ou extra-curriculares, a intervenção junto
dos encarregados de educação, etc.

Com que legitimidade impõe o Ministério da Educação aos professores um processo de


avaliação que lhes consome o tempo e a alma com reuniões, papéis e relatórios, em
prejuízo claro da sua vida pessoal, familiar e, sobretudo, profissional?
Porque, quer queiramos quer não, os principais lesados são os alunos.

O próprio Conselho Científico para a Avaliação de Professores (CCAP), nomeado pelo


Ministério da Educação através do Decreto Regulamentar n.º 4/2008, de 5 de Fevereiro,
alerta, num relatório datado de Julho de 2008, para « o risco de a avaliação se constituir
num acto irrelevante para o desenvolvimento profissional dos docentes, sem impacto na
melhoria das aprendizagens dos alunos, que conviria evitar desde o início». Refere
ainda que: «Esse risco poderá advir da burocratização excessiva, da emergência ou
reforço de conflitualidades desnecessárias e do desvio das finalidades formativas e
reguladoras que um processo de avaliação do desempenho profissional deve conter.
Poderá, ainda, resultar da adopção ou imposição de instrumentos de registo ou de
procedimentos pré-concebidos, sem que os interessados tenham recebido a informação
necessária ou sido devidamente envolvidos num processo de participação.»

Também não é legítimo que a avaliação de desempenho dos professores e a sua


progressão na carreira se subordine a parâmetros como o sucesso dos alunos, o
abandono escolar e a avaliação atribuída aos mesmos. Desprezam-se variáveis inerentes
à realidade social, económica, cultural e familiar dos alunos, que escapam ao controlo e
responsabilidade do professor e que são fortemente condicionadoras do sucesso
educativo. Além do mais, a imputação de responsabilidade individual ao docente pela
avaliação dos seus alunos, configura uma violação grosseira do previsto na legislação
em vigor, quanto à decisão da avaliação final do aluno, a qual é da competência do
Conselho de Turma sob proposta do(s) professor(es) de cada disciplina, ou área
curricular.
Não é legítimo implementar um regime de quotas assente na manipulação dos
resultados da avaliação, gerando nas escolas situações de profunda injustiça e
parcialidade.

Não é legítimo exigir que os professores ponham de pé uma estrutura avaliativa


megalómana que o Ministério da Educação criou e que, ele próprio, não é capaz de
sustentar, como se pode constatar pelas constantes alterações e omissões nos prazos e
nos procedimentos, pela confusão/indefinição de questões e/ou conceitos fundamentais,
pela contradição explícita e implícita das orientações da CCAP com as directivas da
tutela e do próprio Decreto Regulamentar 2/2008, pela incapacidade de preparar e
colocar no terreno inspectores para avaliação dos Coordenadores.

Não é legítimo implementar um modelo de avaliação construído sobre o desrespeito, a


anulação e a exploração dos professores.

A acrescentar a tudo isto, refira-se que este Agrupamento, que se encontra em regime de
instalação, ainda não aprovou o seu Projecto Educativo, nem o seu Plano Anual de
Actividades nem os Planos Curriculares das Turmas. Neste contexto, ainda mais
absurdo e despropositado nos parece o investimento do trabalho docente num processo
de avaliação que, independentemente do modelo, deveria alicerçar-se nos documentos
referidos e não em metas individuais descontextualizadas dos projectos colectivos de
Escola.

Assim e enquanto todas as limitações, arbitrariedades, incoerências e injustiças que


enformam este modelo de avaliação não forem corrigidas e, ainda que, no presente ano
lectivo, o modelo se encontre, apenas, em regime de experimentação, os professores
abaixo assinados, por não lhe reconhecerem qualquer efeito positivo sobre a qualidade
da educação e do seu desempenho profissional, solicitam a suspensão de toda e
qualquer iniciativa relacionada com a avaliação por ele preconizada.

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