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Vários textos reunidos

O futuro incerto da água


Ecoturismo põe primatas em risco
Risco mensurado
O evolucionista voador
Novidades dentro da sua cabeça
Conquistas do amor
Uma descoberta que mudou o mundo
Vida é informação
O centro de comando
Uma questão de escala

10 textos selecionados do Instituto Ciência Hoje

ESPECIAIS :: FÓRUM INTERNACIONAL DE ECOSSAÚDE

O futuro incerto da água


Especialista brasileiro discute desafios que país enfrentará para garantir acesso ao recurso no
futuro

Quando se pensa em promover a saúde humana e o equilíbrio ambiental, um elemento é essencial: a


água. Estima-se que o simples acesso a esse recurso nos países em desenvolvimento poderia diminuir
em pelo menos 25% os casos de diarréia e outras doenças transmitidas por esse meio. Os desafios na
busca de um modelo sustentável para a gestão da água foram o tema de uma mesa-redonda no segundo
dia do Fórum Internacional de Ecossaúde, realizado em Mérida, no México.

Um dos participantes do debate foi o brasileiro Ulisses Confalonieri, pesquisador da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz) e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF). Médico de formação, ele
coordenou recentemente na equipe do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) o
grupo de trabalho que discutiu os impactos da mudança climática na saúde humana.

Ao final do debate, Confalonieri – que faz parte da comissão organizadora do fórum – conversou com a
CH On-line sobre os desafios que o Brasil tem pela frente para garantir acesso à água à sua população
nas próximas décadas.

Se considerarmos a perspectiva multidisciplinar proposta neste fórum, que enxerga saúde e meio
ambiente de forma integrada, qual é o papel da qualidade da água para garantir a saúde humana e
do meio ambiente?
A água é absolutamente essencial para tudo, sem ela ninguém consegue viver. A questão com a qual
mais lidei no IPCC foram as projeções de mudança na disponibilidade de água devido ao aquecimento
global. Veja o caso do Nordeste brasileiro. Há ali aquela chuva sazonal, durante dois meses por ano, e
toda a comunidade da agricultura de subsistência depende dela. O ano em que a chuva não vem é
problemático – é o ano da seca. Mas o agricultor sabe que, no ano seguinte, a chuva deve aparecer. Mas
os modelos feitos pelo CPTEC [Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos] projetam que a
região vai se tornar progressivamente mais árida: este ano não tem, no ano que vem também não vai ter,
e aí como é que se faz? Há 23 milhões de pessoas vivendo no semi-árido nordestino, uma das regiões
semi-áridas mais populosas do mundo. Se se confirmarem as previsões dos modelos teóricos, haverá um
problema de falta de água – a região semi-árida vai virar árida, e não será mais possível viver ali.

De pouco adianta então a grande disponibilidade de água doce no Brasil?


Esta é uma garantia regional apenas. Tem água na Amazônia, mas no Nordeste tem pouco. E o que
vamos fazer? Transpor o Amazonas para o Nordeste? E a projeção de redução da floresta pode afetar
muito o ciclo da água na Amazônia, bem como o degelo dos Andes, de onde vem muito do que corre no
rio Amazonas. E se não tiver mais gelo para derreter, como é que fica? A situação é preocupante para o
mundo inteiro. A nossa água existe agora: a Amazônia tem a maior bacia hidrográfica do mundo, o rio
mais longo, mas daqui a 50 anos, não sei como vai estar.

O senhor citou em sua fala uma projeção do IPCC que aponta que, em 2080, 3 bilhões de pessoas
não terão acesso satisfatório à água. Essa perspectiva é reversível?
A projeção do IPCC é uma algo que informa ou deveria informar políticas públicas nacionais e
internacionais. Nos próximos anos os modelos vão se aperfeiçoar. Eles têm sempre um grau de incerteza.
Mas, à medida que melhores técnicas forem desenvolvidas e mais dados forem acumulados, teremos
projeções mais seguras. De qualquer maneira, funciona como um alerta.

Quais devem ser as prioridades das políticas públicas para garantir o acesso à água para toda a
população brasileira?
Se considerarmos a questão do clima, fica complicado, porque se trata de um processo global, e não
temos controle sobre isso. Isso teria que ser tratado em âmbito internacional. Quanto ao setor de saúde,
acho que ele tem que acompanhar a evolução dessas discussões multissetoriais e participar mais dessas
projeções. Isso é o que estamos tentando fazer – desenvolver modelos integrados e multissetoriais, que
apontem o que vai acontecer daqui a dez anos com o clima e como aquilo afeta o ambiente natural, o
ciclo da água, a agricultura, o transporte, a energia e a saúde. Isso só faz sentido se for trabalhado de
maneira integrada. A saúde, dentro desse espectro de questões sócio-ambientais e sanitárias, é o último
elo da cadeia: uma coisa causa outra, que provoca uma outra, que afeta a saúde. Por isso dependemos
dos produtos de outras disciplinas. Um modelo climático era essencial, e até o ano passado não tínhamos
isso. E eles ainda precisam melhorar. O cenário climático está projetado para 2070. Dificilmente quem
está envolvido com política pública vai pensar em 2070, que está muito distante no tempo – ele quer
saber de 2010, 2015, 2020. É importante fazer esses modelos, mas é preciso fazer projeções para
décadas mais próximas, para termos uma idéia de como a política ficou urgente em relação a essa
questão.

Bernardo Esteves (*)


Ciência Hoje On-line
03/12/2008

(*) O repórter viajou a Mérida financiado pela


Federação Mundial dos Jornalistas de Ciência.

Confira a cobertura completa do Fórum


Internacional de Ecossaúde.

O médico Ulisses Confalonieri, pesquisador da Fiocruz e


colaborador do IPCC, fala sobre os desafios do acesso à água no
Fórum Internacional de Saúde e Meio Ambiente.
http://cienciahoje.uol.com.br/133866

ESPECIAIS :: FÓRUM INTERNACIONAL DE ECOSSAÚDE

Ecoturismo põe primatas em risco


Gorilas contraem bactérias ao entrar em contato com humanos em áreas de conservação na África

As atividades de ecoturismo e mesmo de pesquisa podem favorecer a emergência de novos agentes


causadores de doenças em grandes primatas na África, indica um estudo feito em Uganda. A pesquisa
mostra que os gorilas que entram em contato com humanos, sejam eles guias de turismo ou cientistas,
contraem bactérias patogênicas e manifestam resistência a antibióticos.

A situação é preocupante porque os primatas têm tido seu hábitat


progressivamente invadido pelos humanos. “As populações
nativas de gorilas não tiveram contato com humanos antes e têm a
mesma fisiologia que nós, o que as torna vulneráveis a contrair
doenças”, disse à CH On-line o veterinário Innocent Rwego, autor
do estudo.

Rwego, pesquisador da Universidade Makerere, em Kampala,


capital da Uganda, apresentou ontem os resultados da pesquisa
no Fórum Internacional de Ecossaúde, realizado em Mérida, no
México. O estudo foi feito na região do Parque Nacional
Impenetrável de Bwindi, no sudoeste desse país da África Central.

Para avaliar se o contato crescente entre humanos e grandes


primatas estava pondo em risco a saúde desses animais, Rwego
trabalhou com três grupos de gorilas-da-montanha (Gorilla beringei
Filhote de gorila-da-montanha (Gorilla
beringei), com diferentes graus de interação com humanos:
beringei beringei). O contato com
animais que tinham contato regularmente com turistas, aqueles
humanos torna esses animais vulneráveis
que só lidavam com pesquisadores e os que não tinham qualquer
a patógenos transmitidos pelo homem
contato com humanos.
(foto: Kurt Ackermann).

As bactérias Escherichia coli presentes em amostras de fezes


desses animais foram comparadas com as encontradas nas populações que vivem no entorno do parque,
nos guias turísticos e nos cientistas que lidavam com os primatas. Os resultados acusaram uma grande
similaridade genética entre as bactérias presentes em humanos e nos gorilas que tinham contato mais
freqüente com eles. O parentesco era progressivamente menor nos animais que só lidavam com
cientistas e nos gorilas selvagens.

Resistência a antibióticos
Rwego avaliou também se as bactérias encontradas nas fezes dos animais manifestavam resistência aos
antibióticos comumente usados na região. Cerca de 22% das bactérias E. coli identificadas nos animais
expostos ao ecoturismo tinham resistência a pelo menos um dos antibióticos testados – índice próximo
aos 26% identificados em humanos. Nos animais em contato com pesquisadores, a taxa foi de 10%, e
nos gorilas selvagens, de apenas 2%.
Gorilas-da-montanha fotografados no Parque Nacional Impenetrável de Bwindi, em Uganda. Esses animais
ameaçados de extinção estão contraindo bactérias patogênicas humanas devido à prática do ecoturismo
nessa reserva, considerada patrimônio mundial pela Unesco (foto: Duncan Wright).

Os resultados deixam claro que os gorilas que entram em contato com humanos estão em risco. Isso
significa que deveriam ser adotadas políticas de restrição ao ecoturismo? Rwego acredita que haja outras
soluções. “Limitar o ecoturismo, que é uma fonte de renda para as populações locais, teria um grande
impacto sobre elas”, pondera. “Se respeitarmos as regras de saúde e vacinação, é provável que
consigamos reduzir o problema da transmissão.”

Segundo o autor, uma solução para minimizar a transmissão de patógenos entre humanos e primatas
seria controlar a população no entorno das áreas protegidas. “Com o ecoturismo, vem a modernização,
surgem lojas e mais pessoas são atraídas”, explica. “Deveria haver políticas públicas para reduzir a
migração para a região das áreas de conservação, onde o ecoturismo tem florescido.”

Bernardo Esteves (*)


Ciência Hoje On-line
04/12/2008

(*) O repórter viajou a Mérida financiado pela Federação Mundial dos Jornalistas de Ciência.

Confira a cobertura completa do Fórum Internacional de Ecossaúde.

http://cienciahoje.uol.com.br/133940

ESPECIAIS :: FÓRUM INTERNACIONAL DE ECOSSAÚDE

Risco mensurado
Grupo propõe indicador para avaliar ameaça de doenças respiratórias ligadas à queima da floresta
A relação entre a queima da floresta amazônica e o aumento de doenças respiratórias da população local
já era conhecida pelos pesquisadores. Agora, uma equipe de cientistas da Escola Nacional de Saúde
Pública, vinculada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), acaba de propor um novo indicador que permite
avaliar o risco à saúde associado às queimadas.

O indicador em questão é o índice de material particulado – o conjunto de partículas sólidas em


suspensão no ar em decorrência das queimadas – presente na atmosfera. O grupo mostrou que existe
uma relação entre o grau de exposição a esse material e a taxa de hospitalização das populações
expostas a ele.

A equipe trabalhou com o material particulado


com 2,5 micrômetros de diâmetro (PM 2,5) que,
em função do seu tamanho diminuto, tem
grande penetração nos pulmões e é nocivo à
saúde. "Este é o primeiro estudo que mostra a
associação de doenças respiratórias à
exposição do PM 2,5 na Amazônia", explica a
bióloga Sandra Hacon, que apresentou os
resultados do trabalho no Fórum Internacional
de Ecossaúde, realizado em Mérida, no México.

O grupo de Hacon comparou os índices de Na estação seca, quando se concentram as queimadas na


material particulado na atmosfera e o número Amazônia, a qualidade do ar de pequenas cidades da região
de hospitalizações por doenças respiratórias de chega a ser pior do que a verificada em grandes capitais
crianças e idosos, mais vulneráveis à poluição poluídas do Brasil (foto: United States Forest Service).
do ar. O trabalho foi feito na região de Alta
Floresta, no Mato Grosso, que tinha os piores
indicadores de saúde para doenças respiratórias no estado entre 2000 e 2004.

Os resultados mostram que, quando a exposição ao material particulado considerado passou de um


determinado patamar, a taxa de hospitalização de idosos aumentou 7%, e a de crianças, 10%. Para as
outras faixas etárias, o aumento foi de 5%.

Na avaliação de Sandra Hacon, esses resultados devem ser levados em conta na formulação de políticas
públicas para combater as queimadas. "O estudo traz informações relevantes para que os tomadores de
decisão na Amazônia reforcem as estratégias de prevenção e controle da queima de biomassa", afirma.

Bernardo Esteves (*)


Ciência Hoje On-line
08/12/2008

(*) O repórter viajou a Mérida financiado pela Federação Mundial dos Jornalistas de Ciência.

Confira a cobertura completa do Fórum Internacional de Ecossaúde.

http://cienciahoje.uol.com.br/134127

NOTÍCIAS :: BIOLOGIA

O evolucionista voador
Artigo revê vida e obra de John Maynard Smith, um gigante da biologia do século 20
John Maynard Smith (1920-2004) -- Maynard Smith ou simplesmente JMS --, um dos gigantes da biologia
evolutiva do século 20, morreu no último dia 19 de abril, em sua casa, na Inglaterra, vítima de
complicações decorrentes de um câncer no pulmão. Umas duas décadas antes, ele já havia enfrentado
um outro câncer, no cólon. (Talvez por causa disso, ouvi de um colega, às vésperas da Eco-92, a 'notícia'
de que Maynard Smith havia morrido por aqueles dias de câncer no estômago. Foi um choque e custei a
descobrir que era uma notícia destrambelhada.) JMS deixou viúva, filhos e netos.

JMS escreveu obras que se tornaram referência para pesquisadores das


mais diversas áreas (foto: Universidade de Sussex)

Maynard Smith publicou seu primeiro


artigo científico em 1952, quando já tinha mais de 30 anos (o estudo, publicado na revista Evolution,
avaliava a importância do sistema nervoso na evolução do vôo animal). Pode parecer uma idade tardia,
principalmente para quem logo se revelaria tão talentoso e produtivo, mas é preciso mencionar aqui um
detalhe biográfico curioso: ele começou sua vida profissional como engenheiro, chegando a trabalhar no
desenho de aeronaves para a Força Aérea britânica, durante a Segunda Guerra Mundial (isso talvez
explique os temas aeronáuticos dos seus primeiros artigos). Em 1947, voltou para a universidade,
trabalhando então sob a orientação de J. B. S. Haldane (1892-1964); curiosamente, porém, nunca
concluiu formalmente um doutorado.

O legado deixado agora por Maynard Smith inclui dezenas de livros e capítulos de livros, além de
inúmeros artigos técnico-científicos e de divulgação. Muitas de suas obras tornaram-se referências-chave
para estudantes e outros pesquisadores. Além do legado estritamente científico, porém, Maynard Smith
deixa saudades e lições de vida, tanto entre aqueles que aprenderam a admirá-lo à distância como
principalmente entre os que o conheceram mais de perto.

Um exemplo dessa admiração pode ser visto no texto em memória de JMS publicado na revista Science
de 14 de maio por Richard Lewontin, um outro craque da biologia evolutiva. Segundo Lewontin, "John
Maynard Smith era um indivíduo humano, jocoso e sensível que não levava as pessoas (inclusive ele
próprio) mais a sério do que elas mereciam. Ele tinha uma visão sensivelmente cética da ciência e de
suas reivindicações, que é melhor sintetizada no famoso dito de seu professor, J. B. S. Haldane, que
disse que uma idéia científica deve ser interessante mesmo se não for verdadeira."

Agraciado com diversos prêmios e medalhas ao longo da vida, o reconhecimento ao seu trabalho já
estava, no entanto, em outro patamar: ele próprio emprestava o nome a um prêmio, o John Maynard
Smith Prize, oferecido a cada dois anos, desde 1997, pela Sociedade Européia para a Biologia Evolutiva.

Em meados da década de 1980, coincidindo com a época de sua aposentadoria (entre 1965 e 1985, ele
lecionou na Escola de Ciências Biológicas, da Universidade de Sussex, da qual foi um dos fundadores,
em 1962), um grupo de quase 30 colegas, muitos dos quais já eram autores consagrados em suas
respectivas disciplinas, colaboraram na elaboração de um livro em sua homenagem, Evolution: essays in
honour of John Maynard Smith (1985, Cambridge University Press).

O objetivo da obra era fazer um apanhado geral de algumas áreas de pesquisa que tivessem sido
influenciadas pelas idéias e pelo trabalho de Maynard Smith. Os 20 capítulos do livro formam um
verdadeiro mosaico temático, abordando questões que vão da genética de populações teórica aos rituais
de corte entre animais, passando pelo estudo da especiação simpátrica, a dispersão e a germinação de
sementes e o cuidado parental. Em um meio tão competitivo como a arena científica, não são muitos os
cientistas ativos (depois de aposentado, JMS continuou trabalhando) que recebem de seus pares um tipo
de tributo como esse.

Felipe A. P. L. Costa
Especial para a CH On-line
28/06/04

O autor é biólogo e autor do livro Ecologia, evolução & o valor das


pequenas coisas (2003) -- clique para ler uma resenha do livro

http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/1810

COLUNAS :: POR DENTRO DAS CÉLULAS

Novidades dentro de sua cabeça


Colunista discute estudos recentes que apontam o surgimento de novos neurônios no cérebro
adulto

Desde os trabalhos pioneiros sobre a neurologia humana realizados em 1913 por um dos pais da
histologia, o cientista espanhol Santiago Ramón y Cajal (1852-1934), acreditava-se que os neurônios
presentes no cérebro humano adulto eram incapazes de se multiplicar. No entanto, estudos recentes têm
mostrado que não é bem assim, e que algumas regiões do cérebro humano ganham novos neurônios ao
longo de toda a vida. Vejamos como isso ocorre.

Durante a evolução, a formação de novos neurônios, conhecida como neurogênese, diminuiu à medida
que aumentava a complexidade do cérebro. A ocorrência de neurogênese em adultos é comum
em crustáceos e vertebrados como peixes e anfíbios. Répteis, por exemplo, são capazes de regenerar
partes inteiras de seu cérebro. Porém, esse processo era desconhecido em aves e mamíferos até poucas
décadas atrás.

Essa visão começou a mudar a partir da década de 1960, devido às pesquisas conduzidas pelo
neurocientista norte-americano Joseph Altman, do Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT), nos
Estados Unidos.

Altman utilizou um precursor radioativo do DNA, conhecido como timidina-H 3 , para mostrar que novas
células com morfologia neuronal podiam ser encontradas no bulbo olfatório, no hipocampo e no neocórtex
de ratos e gatos adultos. As moléculas de timidina radioativa, após injetadas nesses animais, foram
utilizadas por células nas quais estava acontecendo a síntese de DNA, um evento que ocorre durante o
processo de divisão celular. Essas células foram posteriormente rastreadas por microscopia, por meio da
radioatividade das células multiplicadas.

Contudo, o trabalho desenvolvido pela equipe de Altman teve pouco impacto no meio científico e seus
resultados acabaram questionados por outros estudos que não indicaram que esse processo pudesse
ocorrer em mamíferos mais evoluídos como macacos, por exemplo.

Na década de 1980, o neurocientista Fernando Nottebohm, da Universidade Rockefeller, em Nova Iorque


(EUA), e sua equipe publicaram vários estudos mostrando que novos neurônios são produzidos no
sistema sonoro de aves adultas. Essas células surgem nos ventrículos e migram através do parênquima
até alcançar seu destino final, onde adquirem características morfológicas e estruturais de neurônios.
Nesses locais, elas estendem corretamente seus axônios e são capazes de receber informações
sinápticas e de serem ativadas por estímulos auditivos.

Essas descobertas deram novo fôlego para pesquisas na área. Os estudos passaram a utilizar a
bromodeoxiuridina (BrdU), substância que, após injetada em animais adultos, é utilizada como substituto
do nucleotídeo timidina pelas células que estejam sintetizando DNA e, portanto, se preparando para a
divisão celular. Novos neurônios marcados com BrdU podem ser visualizados com a ajuda de técnicas
imunoquímicas.

Neurogênese no cérebro humano

A primeira evidência de que ocorria multiplicação neuronal no cérebro de humanos adultos foi obtida há
exatamente dez anos, em um trabalho realizado pela equipe de Peter Eriksson, do Instituto de Neurologia
do Hospital da Universidade de Sahlgrenska, em Gotemburgo, na Suécia.

Esses pesquisadores examinaram autópsias de cérebros de pacientes com câncer que haviam recebido
BrdU para marcar células que estavam proliferando em suas regiões
tumorais. As amostras indicaram a presença de novos neurônios na
região do hipocampo e a existência dessas células foi confirmada
com o recurso a marcadores específicos para neurônios.

Atualmente, acredita-se que poucas regiões do cérebro humano


adulto são neurogênicas, isto é, capazes de produzir ou recrutar
novos neurônios sob condições normais. A neurogênese foi
comprovada em duas regiões do cérebro humano: a zona
subgranular do giro dentado do hipocampo e a zona subventricular
do bulbo olfatório, região formada por células associadas com a
integração de sensações olfativas.

Diversos estudiosos do assunto consideram o restante do cérebro


uma área não neurogênica. Existem evidências que sugerem a
ocorrência desse processo em outras regiões do cérebro adulto,
mas elas ainda não estão estabelecidas de forma clara pela ciência. O neurocientista espanhol Santiago
Ramón y Cajal (1852-1934) trabalha
As pesquisas indicam que o bulbo olfatório e o giro dentado do em seu laboratório. Ele foi um dos
hipocampo recebem neurônios recém-produzidos durante toda a pioneiros a desvendar a estrutura
vida adulta. Nessas regiões a adição de novos neurônios é mais microscópica do cérebro humano. Por
uma forma pela qual o cérebro pode modificar seu próprio circuito esses estudos, ganhou o Nobel de
funcional e alterar sua plasticidade, ao lado de alterações Medicina de 1906, dividido com o
moleculares, sinápticas e morfológicas. italiano Camilo Golgi (1843-1926).
Foto: Instituto de Neurobiología S.
Portanto, esse processo de renovação celular não tem apenas a Ramón y Cajal (CSIC).
função de substituir neurônios envelhecidos ou mortos, mas
representa também uma resposta adaptativa a modificações promovidas pelo ambiente em que o animal
vive ou pelo seu meio interno. Essa plasticidade está associada com a capacidade do cérebro de se
modificar morfologicamente ou funcionalmente durante sua maturação, diante do aprendizado, de alguma
patologia ou quando confrontado com modificações ambientais.

Origem da neurogênese

As pesquisas têm mostrado que, em áreas restritas do cérebro de mamíferos, novos neurônios
funcionalmente ativos são gerados de forma contínua a partir de grupos de células-tronco neuronais.

Nos últimos dez anos, vários estudos têm indicado que a neurogênese no adulto pode ser estimulada por
danos cerebrais. Lesões no hipocampo causadas por traumas e isquemia, por exemplo, podem estimular
o surgimento de neurônios no giro dentado e no bulbo olfatório. O grau de desenvolvimento da
neurogênese em adultos pode depender da relação entre os benefícios gerados pelos neurônios recém
criados e os problemas que eles podem ocasionar ao circuito nervoso ao qual se integram.

Acredita-se que células associadas com neurônios chamadas astrócitos e localizadas entre o ventrículo
lateral e o estriado ativam células-tronco neuronais que se diferenciam e migram para regiões como o
bulbo olfatório. Em roedores, estima-se que essa migração envolva cerca de 30 mil células a cada dia.

Outras regiões cerebrais consideradas não neurogênicas podem também se tornar neurogênicas após
danos cerebrais. Estudos indicam o surgimento desse processo no neocórtex, no estriado, na amígdala e
na substância negra de roedores após a ocorrência de lesões neuronais ou isquemia. Contudo, as
técnicas de pesquisa usadas atualmente não são precisas o suficiente para visualizar um número
relativamente pequeno de novos neurônios e estimar com clareza a ocorrência desse processo em
regiões normalmente não neurogênicas.

Mas em que extensão a neurogênese do adulto se assemelha ao processo que ocorre em nossa vida
embrionária? Aparentemente, ambos são similares quanto aos marcadores moleculares expressos
durante a maturação das células e em relação às mudanças morfológicas verificadas. A única diferença
observada até o momento é que as células adultas apresentam ciclo celular mais lento que o das formas
embrionárias e que as primeiras se localizam mais externamente nos tecidos colonizados. Novas
pesquisas futuras são necessárias para confirmar essa similaridade.

Estudos indicam que o estado físico e alterações patológicas e psicológicas podem influenciar a
neurogênese adulta. A utilização crônica de drogas como morfina e heroína, por exemplo, diminui a
neurogênese no hipocampo de ratos adultos. Experiências traumáticas no início da vida, como uma
separação maternal, diminuem a proliferação celular e a produção de neurônios no giro dentado em ratos
adultos. Por outro lado, a atividade física promove a
proliferação celular no giro dentado.

Função dos novos neurônios


Apesar das descobertas recentes, uma questão
permanece: qual o papel desempenhado pelos
neurônios recém produzidos? Essas células podem
apresentar, ao menos inicialmente, uma maior
plasticidade sináptica que os outros neurônios
habitantes das regiões por elas colonizadas. Assim,
a neurogênese pode promover uma adaptação a
estímulos ambientais.

Esse processo adaptativo pode estar associado


com a aprendizagem e com a memória. Pesquisas
indicam que, em aves canoras, uma multiplicação
Neurônios piramidais no córtex cerebral humano. A primeira
neuronal está associada com o aprendizado do
evidência de multiplicação neuronal no cérebro de humanos
canto. Há também indícios de que essa proliferação
adultos foi obtida há dez anos (foto: BrainMaps.org).
celular esteja ligada ao desenvolvimento da noção espacial e à discriminação olfativa em roedores.

Novas pesquisas são necessárias para que possamos compreender realmente os mistérios do fascinante
e intricado cérebro dos mamíferos. Temos muito a aprender para compreender claramente que células
estão se multiplicando para que, no futuro, possamos saber lidar melhor com patologias e potencialidades
no nosso cérebro.

Jerry Carvalho Borges


Universidade do Estado de Minas Gerais
Antonio Carlos Borges
Doutorando / Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
Universidade de São Paulo
07/11/2008

SUGESTÕES PARA LEITURA


Abrous, D.N., Koehl, M. e Le Moal, M. (2005). Adult neurogenesis: from precursors to network and
physiology. Physiol Rev. 85, 523-569.
Aimone, J.B., Wiles,J. e Gage, F.H. (2006). Potential role for adult neurogenesis in the encoding of time
in new memories. Nat. Neurosci. 9, 723-727.
Brainard, M.S. e Doupe, A.J. (2002). What songbirds teach us about learning. Nature 417, 351-358.
Bruel-Jungerman, E., Rampon, C. e Laroche, S. (2007). Adult hippocampal neurogenesis, synaptic
plasticity and memory: facts and hypotheses. Rev. Neurosci. 18, 93-114.
Chapouton, P., Jagasia, R. e Bally-Cuif, L. (2007). Adult neurogenesis in non-mammalian vertebrates.
Bioessays 29, 745-757.
Goldman, S.A. (1998). Adult neurogenesis: from canaries to the clinic. J. Neurobiol. 36, 267-286.

Bulbo olfatório e nervo olfatório ilustrados


pelo médico belga Andreas Vesalius (1514-
1564) em seu atlas de anatomia De Humani
Corporis Fabrica. O bulbo olfatório é uma das
regiões em que se confirmou a formação de
novos neurônios no cérebro humano adulto.
http://cienciahoje.uol.com.br/132225

COLUNAS :: POR DENTRO DAS CÉLULAS

Conquistas do amor
Luta de uma família contra doença genética rara gerou avanços no seu tratamento, mostra
colunista

Imagine uma criança feliz, inteligente, cheia de vida que, de repente, vítima de uma doença terrível, vai
pouco a pouco se tornando agressiva e perde a capacidade de andar e de se comunicar. Imagine o
desespero dos seus pais, pessoas comuns e pouco ligadas ao mundo científico, e a luta deles para
compreender os mecanismos dessa doença e suas opções terapêuticas.

Essa história, que provavelmente ocorre com várias famílias, é o enredo do filme O óleo de Lorenzo,
dirigido em 1992 por George Miller e estrelado por Nick Nolte e Susan Sarandon. O filme conta a história
verídica da família americana Odone e mostra a luta dos pais Augusto e Michaela em busca da cura do
mal que afligia seu filho Lorenzo.

Lorenzo era vítima da adrenoleucodistrofia (ALD), uma rara doença genética recessiva associada ao
cromossomo X e que acomete indivíduos do sexo masculino (um caso em cada 10.000-100.000 garotos).
A ocorrência de duas cópias do gene da ALD, única forma de a doença se manifestar nas mulheres, é
muito mais rara (um caso em 900 milhões!). Contudo, algumas mulheres portadoras do gene mutado
podem manifestar a doença, devido à inativação do cromossomo X com o alelo normal. Essas mulheres
podem desenvolver na idade adulta uma forma mais branda da doença conhecida como
adrenomielopatia.

Devido à sua raridade, a ALD era, até 1984, época em que foi diagnosticada em Lorenzo, muito pouco
conhecida pela ciência, apesar de haver sido descrita por Haberfeld e Spieler em 1910. Somente em
1970, sessenta anos após a descoberta da doença, o americano Michael Blaw denominou essa patologia
como a conhecemos atualmente: adrenoleucodistrofia (adreno: glândulas adrenais; leuco: branco,
referindo-se à substância branca do sistema nervoso; e distrofia: desenvolvimento imperfeito).

Graças ao esforço de pessoas como os Odone e vários cientistas, o conhecimento sobre a etiologia da
ALD avançou bastante. Sabemos, por exemplo, que essa patologia apresenta manifestações clínicas
diversas, que têm níveis de comprometimento diferenciados para os seus portadores.

Evolução dos sintomas


A forma clássica da doença, que acomete 35% dos pacientes, apresenta sintomas que normalmente
iniciam-se entre os 4 e 10 anos. Esses sintomas incluem perda das funções neurológicas existentes,
crises convulsivas, ataxia (perda ou irregularidade da coordenação muscular), degeneração da visão e da
audição, disfunção das glândulas adrenais (doença de Addison), problemas de aprendizagem e de
percepção, falta de concentração, perda da memória a curto e longo prazos, deficiência dos movimentos
de marcha e mudanças de personalidade e comportamento.

A doença de Addison, por sua vez, pode causar aumento da pigmentação da pele, hipoglicemia, fraqueza
e maior susceptibilidade ao estresse. A sobrevida dos pacientes com a forma clássica da ALD é de cerca
de 10 anos.

A ALD é uma doença genética fatal que não faz distinção de raças ou distribuição geográfica. Essa
patologia é caracterizada pela ocorrência em vários tecidos, principalmente no cérebro e glândulas
adrenais, de níveis anormalmente elevados de certos lipídios, compostos por ácidos graxos que
apresentam cadeias muito longas e saturadas, com 24 a 30 átomos de carbono de extensão
(particularmente uma forma conhecida como hexacosanoato, com 26 átomos de carbono – C26).

Parte desses ácidos graxos é obtida por meio da dieta. Contudo, a maior parte provém de processos
metabólicos do organismo. O acúmulo desses ácidos graxos em pacientes com ALD está relacionado à
incapacidade do organismo de degradar de forma eficiente essas substâncias, prejudicando o equilíbrio
entre a síntese e a destruição desses compostos.

A síntese de ácidos graxos de cadeias com mais de 16 átomos de carbono ocorre por meio da ação de
um sistema enzimático localizado nas mitocôndrias e microssomos. Essas enzimas se encarregam de
acrescentar pares de moléculas até que a cadeia de ácidos graxos alcance cerca de 30 átomos de
carbono. Esse processo altera as propriedades fisiológicas desses ácidos graxos e os torna insolúveis,
afetando a estrutura e a função das membranas celulares.

O acúmulo desses ácidos graxos também leva à destruição da bainha de mielina, um envoltório lipídico
que circunda os axônios (prolongamentos dos neurônios) e que permite uma maior agilidade na
transmissão dos impulsos nervosos – algo essencial para alguns de nossos neurônios. O dano cerebral
causado pela destruição da bainha de mielina talvez decorra da incapacidade dos portadores da mutação
no gene ALD de reparar lesões nessa bainha, como fazem os indivíduos sadios.

Os níveis elevados desses ácidos graxos também


afetam as glândulas adrenais, provavelmente devido a
uma insuficiência adrenocortical causada por atrofia de
células dessa região das glândulas. Esse processo
causa, secundariamente, uma elevação dos níveis do
hormônio adrenocorticotrófico no plasma sangüíneo e
um acúmulo anormal de ésteres de colesterol nas
glândulas adrenais.

Mutações diversas
O principal defeito bioquímico da ALD parece ser a
ocorrência de diferentes mutações no gene para a
enzima ligase acil-CoA, localizado no braço longo do
cromossomo X (Xq28). A proteína sintetizada pelo gene
mutado pertence a um grupo de proteínas associadas
ao transporte através de membranas. Alterações nessas
moléculas também estão relacionadas com outras
doenças, como a fibrose cística e a esclerose múltipla. Micrografia de um axônio envolto por mielina (fonte:
Trinity College).
Mas a função dessa enzima não está totalmente
compreendida. Acredita-se que ela esteja relacionada
com o transporte de ácidos graxos de cadeias longas para o interior dos
peroxissomos, organelas abundantes nos prolongamentos neuronais
envoltos por bainhas de mielina. Essas organelas estão associadas com a
decomposição de peróxido de hidrogênio (H 2 O 2 ), tóxico para os
organismos. Além disso, os peroxissomos contêm diversas enzimas
associadas à oxidação dos ácidos graxos de cadeias muito longas.
Pôster do filme O óleo de
Mutações na ligase acil-CoA podem impedir que os ácidos graxos Lorenzo (1992), baseado na
penetrem nessas organelas e se acumulem no interior das células e no história real de um casal que
meio extracelular. O acúmulo de concentrações elevadas dessas busca a cura de seu filho,
moléculas leva ao surgimento de uma reação imune que causa, por meio Lorenzo, vítima de
da ação de leucócitos, uma reação inflamatória que leva à destruição da adrenoleucodistrofia.
bainha de mielina neuronal.
Recentemente, o desenvolvimento de uma terapia baseada na
supressão do consumo dos ácidos presentes na dieta, aliada ao
combate da síntese endógena desses compostos e à reposição
hormonal, tem aumentado a sobrevida dos portadores da ALD.

Pacientes com ALD devem receber a administração de


mineralocorticóides e de glicocorticóides para compensar a
ausência desses hormônios adrenais. Contudo, o
comprometimento do sistema nervoso central, o principal
problema enfrentado pelos pacientes, é ainda um desafio para
os pesquisadores da ALD.

A administração de uma dieta baseada no "azeite ou óleo de


Lorenzo", uma terapia desenvolvida inicialmente por Augusto e
Michaela Odone, parece ser eficiente para reduzir a velocidade
da síntese endógena dos ácidos graxos, diminuindo os efeitos
nocivos da ALD. Essa terapia utiliza uma combinação de ácido
oléico e de ácido erúcico, dois ácidos graxos monoinsaturados
que são metabolizados pelos pacientes com ALD.
Cérebro de paciente com
O uso combinado dos ácidos erúcico e oléico visa inibir a
adrenoleucodistrofia visto por meio da
síntese dos ácidos graxos saturados de cadeia muito longa, por
técnica de ressonância magnética nuclear.
meio de um processo de competição pelo sítio ativo das ligase
Observe a perda da bainha de mielina na
acil-CoA. Mas também é importante seguir uma dieta com
região parieto-occipital, indicada pela área
restrição de ácidos graxos saturados.
clara na parte inferior da figura (imagem:
Hugo W. Moser).
Apesar da batalha de Augusto e Michaela Odone pela saúde de
seu filho ter se encerrado no início de 2008, após o falecimento
de Lorenzo devido a uma pneumonia aspirativa um dia após seu trigésimo aniversário, o esforço e o
carinho dessa família foram recompensados: Lorenzo permaneceu entre seus familiares por 20 anos a
mais do que havia sido previsto pela medicina. Além disso, a sua luta tem dado uma vida mais longa e
digna a milhares de portadores da ALD no mundo inteiro.

Jerry Carvalho Borges


Universidade do Estado de Minas Gerais
09/12/2008

SUGESTÕES PARA LEITURA


DiGregorio,V.Y. e Schroeder,D.J. (1995). Lorenzo's oil therapy of adrenoleukodystrophy. Ann.
Pharmacother. 29, 312-313.
Gould,S.J. e Valle,D. (2000). Peroxisome biogenesis disorders: genetics and cell biology. Trends Genet.
16, 340-345.
Kemp,S. e Wanders,R.J. (2007). X-linked adrenoleukodystrophy: very long-chain fatty acid metabolism,
ABC half-transporters and the complicated route to treatment. Mol. Genet. Metab 90, 268-276.
Moser,H., Dubey,P. e Fatemi,A. (2004). Progress in X-linked adrenoleukodystrophy. Curr. Opin. Neurol.
17, 263-269.
Moser,H.W., Moser,A.B., Hollandsworth,K., Brereton,N.H. e Raymond,G.V. (2007). "Lorenzo's oil"
therapy for X-linked adrenoleukodystrophy: rationale and current assessment of efficacy. J. Mol.
Neurosci. 33 , 105-113.
Moser,H.W., Mahmood,A. e Raymond,G.V. (2007). X-linked adrenoleukodystrophy. Nat. Clin. Pract.
Neurol. 3, 140-151.
Simon,E. (1994). Efficacy of Lorenzo oil in adrenomyeloneuropathy. Ann. Neurol. 36, 116-117.
http://cienciahoje.uol.com.br/134019

COLUNAS :: POR DENTRO DAS CÉLULAS

Uma descoberta que mudou o mundo


Colunista avalia impacto social e ambiental da reação de síntese de amônia, desenvolvida há cem
anos

Se alguém lhe pedir para citar as dez ou mesmo as cem descobertas científicas mais importantes do
século 20, você provavelmente não se lembrará do processo de
síntese da amônia. Essa descoberta, contudo, é de enorme
importância e foi determinante para configurar a situação
econômica e ambiental existente atualmente em nosso planeta.

Embora o nitrogênio seja um componente majoritário da


atmosfera terrestre – responde por cerca de 78% de sua
composição –, ele está presente apenas na forma gasosa (N 2 ),
incapaz de ser aproveitada diretamente pela imensa maioria dos
seres vivos. Por isso, estes se tornam dependentes da atividade
de organismos como algumas espécies de bactérias capazes de
captar o N 2 atmosférico e fixá-lo em compostos químicos Representação esquemática da molécula
utilizáveis pelos seres vivos. de amônia, formada por três átomos de
hidrogênio (branco) e um de nitrogênio
Dentre esses compostos, destaca-se a amônia, formada por um (azul). Arte: Ben Mills.
átomo de nitrogênio e três de hidrogênio. Essa molécula pode ser
transformada em nitritos e nitratos, essenciais para a produção
tanto dos fertilizantes nitrogenados quanto de explosivos e armamentos.

Há cem anos, em 13 de outubro de 1908, o químico alemão Fritz Haber (1868-1934) deu um grande
passo para solucionar o problema da fixação do N 2 atmosférico em amônia sem precisar da ação de
outros organismos. Em grandes linhas, Haber criou uma forma de reagir o N 2 com hidrogênio na
presença de ferro em temperaturas e pressões elevadas.

O alemão acreditava que o processo por ele desenvolvido poderia trazer uma importante contribuição
para o desenvolvimento agrícola do planeta, substituindo a necessidade de utilização de nitrogênio reativo
retirado a partir de reservas naturais, como o guano peruano, o salitre chileno e o sal amoníaco extraído
do carvão. Ele esperava ainda que esse método pudesse ser empregado com fins militares, de forma a
garantir a segurança de seu país.

Posteriormente, outro químico alemão, chamado Carl Bosch (1874-1940), continuou o trabalho de Haber
e conseguiu implementar o uso da síntese de amônia em escala industrial. Por esses feitos, Haber
recebeu o Nobel de Química em 1918, e Bosch, em 1931. A forma como essa reação marcou a história
do século 20 foi tema de um artigo publicado esta semana na revista Nature Geoscience pelo grupo de
Jan Willem Erisman, do Centro de Pesquisa Energética da Holanda.

Explosivos e alimentos
O processo desenvolvido por Haber-Bosch forneceu à Alemanha um grande suprimento de amônia
suficiente para que o país se tornasse independente de seus fornecedores habituais. Com isso, esse
composto e seus derivados, como o ácido nítrico, poderiam ser empregados para produzir explosivos
como a nitroglicerina e o trinitrotolueno (TNT).
Acredita-se que isso tenha impedido uma vitória mais rápida das Forças Aliadas na Primeira Guerra
Mundial, ampliando os efeitos devastadores desse conflito. Estimativas indicam que entre 100-150
milhões de mortes em conflitos armados durante o século passado possam estar diretamente
relacionadas com uso do processo desenvolvido por Haber-Bosch.

Por outro lado, a síntese de amônia desenvolvida por Haber-Bosch proporcionou a produção em escala
mundial de fertilizantes nitrogenados, aumentando a produtividade da agricultura em grande parte do
planeta. Atribui-se à síntese da amônia um aumento de 30 a 50% da produção agrícola. Com isso, os
fertilizantes nitrogenados garantiram a sobrevivência de mais de um quarto da população mundial durante
o século 20.

A importância desses fertilizantes nitrogenados tem se ampliado nos últimos anos. Estima-se que,
atualmente, cerca de metade da humanidade tenha a sua subsistência alimentar associada com o
processo de fixação de nitrogênio desenvolvido por Haber- Bosch.

Impacto ambiental
Os benefícios dessa reação, no entanto, têm
como contrapartida uma série de efeitos
nocivos ao meio ambiente. Em 2005 cerca de
100 milhões de toneladas de nitrogênio foram
utilizadas globalmente na agricultura, mas
apenas 17% desse volume foram consumidos
pela humanidade na forma de alimentos,
incluindo carne e laticínios. Essa eficiência
extremamente baixa do uso de nitrogênio na
agricultura representa um importante fator de
risco para o meio ambiente.

Cerca de 40% do nitrogênio usado em Ataque francês à infantaria alemã na região de Champagne em
fertilizantes e desperdiçado por práticas 1917, durante a Primeira Guerra Mundial. Estima-se que a
agrícolas incorretas retorna à sua forma descoberta da síntese da amônia tenha retardado a derrota das
atmosférica não reativa. Apesar disso, a maior forças alemãs nesse conflito (foto: arquivo NARA/EUA).
parte desse elemento químico acaba por
contaminar os ambientes terrestres e aquáticos
e a atmosfera, o que contribui para diminuir a
biodiversidade. O nitrogênio perdido altera
ainda o balanço dos gases do efeito-estufa,
influencia o ozônio atmosférico, acidifica o solo
e estimula a formação de material particulado
A reação de síntese da amônia foi desenvolvida pelos alemães
na atmosfera.
Fritz Haber (esq.) e Carl Bosch (dir.), Nobel de Química de 1918
e 1931 (fotos: Fundação Nobel).
Esses impactos ambientais podem e devem
ser minimizados com intervenções para
aumentar a eficiência do uso de fertilizantes e para aumentar sua conversão ao N 2 atmosférico. Além
disso, devem ser desenvolvidos métodos que permitam um tratamento mais eficiente dos resíduos
nitrogenados produzidos pelos seres humanos e animais por eles criados.

O futuro dos fertilizantes

Projeções realizadas pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO)
indicam que o uso de fertilizantes nitrogenados aumentará de duas a três vezes até a segunda metade
deste século. Esse acréscimo do consumo está associado com o aumento da população global que,
estima-se, chegará a 15 bilhões de pessoas em 2100.

Por outro lado, avaliações otimistas apontam um aumento da produtividade agrícola por hectare, o que
minimizaria a necessidade de aumento proporcional da área agrícola. Além disso, o desenvolvimento da
eficiência do uso de fertilizantes pode contribuir para diminuir os riscos ambientais associados com uso
desmedido desses compostos.

Deve ser ressaltado, contudo, que as projeções da FAO em relação a uma distribuição mais equitativa
dos alimentos em nosso planeta são bem mais pessimistas e acredita-se que o total de 850 milhões de
indivíduos subnutridos será ampliado nas próximas décadas.

Apesar de criado há um século, o processo de fixação de nitrogênio por Haber-Bosch ainda não foi capaz
de estender seus benefícios a uma parte significativa da humanidade, que permanece faminta e distante
das condições mínimas para seu desenvolvimento. Contudo, os impactos ambientais negativos desse
procedimento há algum tempo se distribuem de forma igualitária para todos os habitantes do planeta.

Jerry Carvalho Borges


Universidade do Estado de Minas Gerais
Denise Aparecida Hipólito
Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental
Universidade do Estado de Minas Gerais - campus de Passos
03/10/2008

Graças à síntese da amônia, o advento dos fertilizantes


nitrogenados levou a um aumento de 30 a 50% da produção
agrícola, o que garantiu a sobrevivência de 27% da população
mundial durante o século 20 (foto:Victor Szalvay).

SUGESTÕES PARA LEITURA


Anderson, N., Strader,R., Davidson, C. (2003). Airborne reduced nitrogen: ammonia emissions from
agriculture and other sources. Environ. Int. 29, 277-286.
Erisman, J.W. et al. (2007). Reduced nitrogen in ecology and the environment. Environ. Pollut. 150, 140-
149.
Erisman, J.W. et al. (2008). How a century of ammonia synthesis changed the world. Nature
Geoscience. 1, 636-639.
Goulding, K., Jarvis, S., Whitmore, A. (2008). Optimizing nutrient management for farm systems. Philos.
Trans. R. Soc. Lond B Biol. Sci. 363, 667-680.
Rotz, C.A. (2004). Management to reduce nitrogen losses in animal production. J. Anim Sci. 82 E-Suppl,
E119-E137.
Shah, S.B., Westerman, P.W., e Arogo, J. (2006). Measuring ammonia concentrations and emissions
from agricultural land and liquid surfaces: a review. J. Air Waste Manag. Assoc. 56, 945-960.
Smil, V. (2002). Nitrogen and food production: proteins for human diets. Ambio. 31, 126-131.

http://cienciahoje.uol.com.br/129622
COLUNAS :: POR DENTRO DAS CÉLULAS

Vida é informação
Colunista explica o código que rege a transferência da informação genética do DNA para as
proteínas

O processo de transferência da informação presente nas moléculas de DNA para as proteínas é essencial
para nossas células. As proteínas – moléculas envolvidas em todos os processos importantes da biologia
da célula – são sintetizadas a partir de tijolos fundamentais conhecidos como aminoácidos. E a ordem em
que eles são 'montados' depende da seqüência em que estão dispostas na molécula de DNA as
diferentes bases nitrogenadas ou nucleotídeos – representados pelas letras A, C, T e G.

Essa transferência de informação é regida pelo código genético, um conjunto de instruções que define a
relação entre os aminoácidos adicionados e as seqüências de nucleotídeos. A cada grupo de três
nucleotídeos – que chamamos de códon ou triplete – corresponde um aminoácido. Por isso, entender as
regras que definem o código genético foi um dos marcos da ciência moderna.

A saga da decifração do código genético começou em 1954, quando o físico russo George Gamow (1904-
1968) postulou que ele deveria empregar combinações de três nucleotídeos, pois esses agrupamentos
seriam suficientes para codificar todos os vinte tipos de aminoácidos utilizados na síntese protéica. A
proposta de Gamow foi demonstrada por um experimento conduzido por dois biólogos – o inglês Francis
Crick (1916-2004) e o sul-africano Sydney Benner (1927-).

O trabalho da dupla consistiu em realizar mutações pontuais no gene rIIB do vírus bacteriófago T4. Nesse
experimento, Crick e Brenner mostraram que a retirada ou inserção de um ou dois nucleotídeos causava
mutações não funcionais, mas que a retirada ou introdução de três deles restabelecia a funcionalidade do
gene.

Posteriormente, em 1961, o geneticista norte-americano Marshall Nirenberg (1927-) e o bioquímico


alemão Heinrich Matthaei (1929-) realizaram um experimento em que demonstraram, com o uso de
marcação radioativa, a correspondência da maioria dos códons existentes com os aminoácidos
conhecidos. Em seguida, o biólogo molecular americano de origem indiana Har Gobind Khorana (1928-)
identificou o resto do código.

Ainda no inicio da década de 1960, o bioquímico norte-americano Robert Holley (1922-1993) determinou
a estrutura do RNA de transferência – as moléculas que transportam os aminoácidos utilizados na síntese
protéica. Em 1968, Khorana, Holley e Nirenberg levaram o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina por
suas descobertas.

Evolução do código
O código genético ainda é envolto em mistérios, embora tenha sido decifrado há mais de trinta anos, logo
após a descrição da estrutura em dupla hélice da molécula de DNA por Crick, pelo norte-americano
James Watson (1928-) e pelos britânicos Maurice Wilkins (1916-2004) e Rosalind Franklin (1920-1958).
Apesar de conhecermos a relação entre os diferentes códons e os aminoácidos por eles codificados e
mesmo como essas instruções variam entre grupos taxonômicos, ainda não sabemos por que um triplete
específico assumiu sua forma atual.

A resposta mais simples para esse mistério é que a definição desses códons deveu-se a processos
acidentais surgidos antes da evolução do RNA e do DNA como moléculas responsáveis pelo
armazenamento da informação genética. Essa padronização, uma vez estabelecida, perdurou
praticamente sem sofrer alterações até os dias atuais, como se fosse, segundo palavras de Francis Crick,
“um acidente congelado”. Contudo, essa teoria não indica que motivos levaram ao estabelecimento do
padrão atual do código genético.

A solução para esse dilema talvez esteja nas mutações. Uma vez que elas causam, em sua imensa
maioria, efeitos deletérios sobre as proteínas, o código genético deve ter sido selecionado evolutivamente
de forma a minimizar o impacto desses erros.

Acredita-se que o processo de acumulação de códons para os diversos aminoácidos deu-se


gradualmente ao longo do tempo. Nesse caso, o padrão atual do código genético apenas refletiria esse
incremento surgido por meio de um processo coevolutivo entre os códons e os aminoácidos por eles
transportados. Outra possibilidade sugerida é que o padrão atual do código genético foi influenciado por
interações químicas favoráveis entre aminoácidos e seqüências curtas de ácidos nucléicos.

Além disso, como as pesquisas de Khorana, Holley e Nirenberg indicaram, o código genético apresenta
redundância, mas não ambigüidade. Existem mais de um códon para alguns aminoácidos, mas um
mesmo códon não codifica dois aminoácidos diferentes. Dessa forma, substituições em uma das três
posições nos códons podem gerar um mesmo aminoácido. Por isso, o código genético é dito degenerado.

Alguns códons permitem que sejam realizadas quatro mudanças em suas terceiras bases (por exemplo,
os códons GGA, GGG, GGC e GGU para o aminoácido glicina). Outros permitem três ou apenas duas
trocas de nucleotídeos.

O padrão dos códons, portanto, poderia ser uma adaptação que reduziria os erros causados por
mutações pontuais ou por erros de tradução. Portanto, uma conseqüência dessa redundância é que
alguns erros no código genético podem causar apenas mutações silenciosas, sem afetar a estrutura e a
função da proteína sintetizada.

Como a vasta maioria das proteínas segue o mesmo padrão estabelecido pelo código genético, acreditou-
se que ele seria universal. Contudo, a partir de 1979, passaram a ser descobertas variantes de alguns
códons em diversos genomas mitocondriais (inclusive no homem) e nos núcleos de algumas bactérias
(Mycoplasma), fungos (Candida), algas verdes (Acetabularia) e de diversos protozoários ciliados. Essas
variações conhecidas parecem ter derivado do código genético padrão, mas os motivos que levaram
esses seres a adotar versões alternativas ainda é um mistério.

O melhor dos códigos


O código genético não representa uma correlação casual entre códons e aminoácidos. Por exemplo,
aminoácidos que estão associados com a mesma via biossintética tendem a apresentar a primeira base
similar em seus códons e aminoácidos com as mesmas propriedades físicas têm códons similares.

Análises de todas as alternativas possíveis para a configuração


do código genético indicam que a sua conformação atual está
muito próxima de um nível ótimo para a minimização de erros.
Portanto, o código genético é talvez o melhor entre todos os
possíveis. Isso sugere que o código atual reflete um arranjo
adaptativo complexo e intrincado.

As observações realizadas até hoje indicam que o


estabelecimento do código genético atual não foi um artefato, mas
um processo definido pela seleção natural. Há evidências
consistentes de que sua estrutura padrão foi fortemente
influenciada pela seleção para evitar possíveis erros e que seu
surgimento foi altamente significativo durante a definição da
aptidão das primeiras formas vivas.

O código genético é, portanto, uma das maravilhas da evolução,


Com um copo de champanhe na mão, o
geneticista norte-americano Marshall
Nirenberg comemora a notícia de que
recebera o Nobel de Medicina ou
Fisiologia de 1968. O prêmio, dividido com
Robert Holley e Har Gobind Khorana,
do código genético e sua função na
síntese protéica (foto: NIH).

uma prova viva do incessante trabalho da seleção natural sobre os seres vivos desde antes do
surgimento da primeira célula em nosso planeta.

Jerry Carvalho Borges


Universidade do Estado de Minas Gerais
12/09/2008

SUGESTÕES PARA LEITURA


Caporaso, J.G., Yarus, M., e Knight,R. (2005). Error minimization and coding triplet/binding site
associations are independent features of the canonical genetic code. J. Mol. Evol. 61, 597-607.
Yarus,M., Caporaso,J.G., e Knight,R. (2005). Origins of the genetic code: the escaped triplet theory.
Annu. Rev. Biochem. 74, 179-198.
Knight, R.D., Freeland, S.J., e Landweber, L.F. (2001). Rewiring the keyboard: evolvability of the genetic
code. Nat. Rev. Genet. 2, 49-58.
Knight,R.D. e Landweber, L.F. (2000). The early evolution of the genetic code. Cell 101, 569-572.
Freeland, S.J., Knight, R.D., e Landweber, L.F. (2000). Measuring adaptation within the genetic code.
Trends Biochem. Sci. 25, 44-45.
Knight, R.D. e Landweber,L.F. (1999). Is the genetic code really a frozen accident? New evidence from in
vitro selection. Ann. N. Y. Acad. Sci. 870, 408-410.
Knight, R.D., Freeland, S.J., e Landweber, L.F. (1999). Selection, history and chemistry: the three faces
of the genetic code. Trends Biochem. Sci. 24, 241-247.

A transferência da informação do DNA para a proteína se dá em duas


etapas. Na primeira delas, o DNA, que é uma molécula de dupla fita, é
transcrito em RNA mensageiro (RNAm), que é uma molécula de fita simples.
Em seguida, cada códon – ou grupo de três nucleotídeos – do RNAm é
traduzido em um aminoácido. A seqüência de aminoácidos é que forma a
proteína. A ilustração acima representa o início da síntese da hemoglobina
(arte: Madeleine Price Ball).
http://cienciahoje.uol.com.br/128269

COLUNAS :: POR DENTRO DAS CÉLULAS

O centro de comando
Colunista apresenta estruturas do núcleo das células das quais você provavelmente nunca ouviu
falar

Nossos professores comumente afirmam que a composição do núcleo da célula é simples e que ele
possui apenas uma matriz aquosa, denominada nucleoplasma, na
qual estão imersos os cromossomos e alguns nucléolos,
responsáveis pelo armazenamento de moléculas de RNA
ribossômico. Contudo, essa definição simplista está longe de
descrever toda a dinâmica e complexidade da região nuclear,
responsável pelo comando das células. Por que há, então, essa
enorme diferença entre o que a ciência sabe sobre o núcleo celular e
o que é ensinado em nossas escolas?

O núcleo foi a primeira organela a ser descrita. Observações dessa


região celular foram feitas em 1682 pelo “pai da microbiologia”, o
holandês Antonie van Leeuwenhoek (1632-1723), e posteriormente,
em 1802, pelo botânico austríaco Franz Andreas Bauer (1758-1840).
Contudo, a descoberta do núcleo celular é freqüentemente atribuída
a outro botânico: o escocês Robert Brown (1773-1858), que
descreveu essa região celular 29 anos depois (1839), a partir do
exame de células de orquídeas.
Robert Brown (1773-1858), botânico
Contudo, nenhum dos três arriscou-se a indicar uma função para escocês que descreveu o núcleo
essa estrutura recém-descrita. O primeiro a sugerir um papel para o celular em 1839, retratado pelo pintor
núcleo celular foi o alemão Matthias Schleiden (1804-1881), botânico inglês Henry William Pickersgill (1782-
considerado um dos fundadores da teoria celular, que apresenta as 1875).
células como a unidade funcional básica dos seres vivos. Um ano
antes da descrição de Brown, Schleiden propôs que o núcleo seria o
local responsável pela geração de novas células.

As afirmações de Schleiden foram duramente criticadas e somente em 1876 as pesquisas do zoólogo


alemão Oscar Hertwig (1849-1922) com embriologia de ouriços marinhos, anfíbios e moluscos indicaram
que o núcleo celular tinha participação no processo de formação de novas células e, posteriormente, de
novos seres vivos. A participação dessa organela nos processos hereditários tornou-se clara apenas
algumas décadas depois, no início do século 20.

Origem do núcleo

Ao longo do último século, diversas teorias têm sido propostas para descrever a origem evolutiva do
núcleo celular. Essas especulações incluem a possibilidade de que essa organela tenha se estabelecido
nas células como resultado de uma relação endossimbiótica análoga à que estaria por trás da origem dos
cloroplastos e mitocôndrias, segundo a teoria proposta por Lynn Margulis (1938), professora da
Universidade de Massachusetts Amherst (EUA).
Essa teoria, conhecida como “modelo sintrófico”, afirma que um antigo representante de um grupo de
microrganismos conhecidos como Archaea metanogênicas invadiu ou foi fagocitado por bactérias
primitivas aparentadas com as atuais mixobactérias. Por algum motivo desconhecido, esse organismo
não foi digerido pelas bactérias e, após algum tempo, a convivência passou a apresentar benefícios para
ambas as células que, assim, passaram a viver juntas.

A similaridade entre algumas proteínas nucleares presentes nas células eucarióticas e nas Archaea, como
as histonas, e a semelhança entre algumas proteínas citoplasmáticas dos eucariótas e das mixobactérias
(como as quinases e proteínas G, por exemplo) são citadas pelos defensores dessa teoria como provas
dessa relação endossimbiótica.

Uma segunda teoria propõe que as células eucarióticas evoluíram a partir de formas primitivas
aparentadas com as atuais bactérias planctomicetes, um grupo que possui um citoplasma subdividido por
membranas e inclusive uma estrutura nuclear. Outra hipótese, mais controversa, afirma que a região
nuclear surgiu após a invasão de células primitivas por vírus (provavelmente poxvírus). Esse modelo se
baseia na similaridade entre células eucarióticas e vírus em relação as suas moléculas de DNA, as
enzimas conhecidas como DNA polimerases e algumas proteínas.

Outro modelo alternativo, mais recente, denominado hipótese da exomembrana, sugere que o núcleo
surgiu após a produção de uma nova membrana externa em torno do envoltório celular original. Essa
nova cobertura seria a atual membrana plasmática e a membrana celular original se tornou a atual
membrana nuclear ou carioteca.

O núcleo tradicional
O núcleo celular é a maior organela das células
eucarióticas, ocupando nos mamíferos, em média, cerca
de 10% do volume celular. Apesar de seu tamanho
avantajado, ele ainda é envolto em mistério.

Os livros didáticos afirmam que o núcleo celular é


delimitado pela carioteca, um envoltório formado por
uma membrana interna e outra externa contínua com o
retículo endoplasmático rugoso. A carioteca também
possui uma série de poros nucleares aquosos
associados com a permeabilidade seletiva entre o
núcleo e citoplasma, que impede, por exemplo, que o
material genético “escape” para fora do núcleo.
O núcleo celular representado em desenho do
botânico alemão Walther Flemming (1843-1905)
Internamente, o núcleo é composto por uma matriz
publicado em 1882, poucos anos depois que se
aquosa, denominada nucleoplasma. Ali estão imersas
confirmou que essa estrutura estava envolvida na
uma rede de proteínas filamentosas do citoesqueleto
reprodução celular.
celular responsáveis por dar sustentação a carioteca
e por manter cromossomos e outros componentes
nucleares em regiões específicas.

O material genético celular está reunido em um grupo de longas moléculas de DNA denominadas
cromossomos que, na maior parte do ciclo celular, estão associadas com proteínas (principalmente
histonas), formando um arranjo denominado cromatina. Os nucléolos são outro componente evidente do
núcleo e estão relacionados com a síntese e edição de moléculas de RNA ribossômico (RNAr).

Componentes menos conhecidos


Além das estruturas acima citadas, existe uma série de outros componentes nucleares que você
provavelmente não conhece e que não estão na maioria dos livros didáticos. Entre eles, estão as
estruturas conhecidas como corpos de Cajal, que são possivelmente locais associados com a maquinaria
de transcrição celular através do processamento de diversos tipos de RNA.
O núcleo contém ainda os chamados domínios PIKA (sigla em inglês para associações cariossomais
polimórficas da interfase). Essas estruturas foram descobertas apenas em 1991 e, apesar de suas
funções ainda não serem claras, acredita-se que elas estejam associadas com a produção de fatores
relacionados com a transcrição de alguns tipos de RNAs. Outros componentes pouco conhecidos são os
corpos PML (“leucemia promielóctica”, na sigla em inglês), dispersos pelo nucleoplasma e relacionados
provavelmente com a regulação da transcrição de outras regiões nucleares.

Surpreso? Pois a lista ainda não acabou! Os domínios SC35 ou speckles (assim chamados devido ao seu
aspecto disperso e amorfo observado nas células de mamiferos) são regiões móveis envolvidas no
prcessamento de RNA, na regulação transcricional e na apoptose. Por fim, temos os paraspeckles,
descobertos em 2002. Presentes no espaço intercromatínico, essas estruturas dinâmicas se alteram em
resposta a mudanças na atividade metabólica celular.

Apesar de ainda conhecermos pouco sobre a biologia desses compartimentos nucleares, descobertas
recentes indicam que o núcleo celular é muito mais complexo do que se pode pensar após um exame
superficial. Embora essa organela não apresente uma distinção morfológica entre as suas regiões, sua
especialização territorial fisiológica e sua plasticidade funcional tornam o ambiente nuclear muito dinâmico
e capacitam-no para desempenhar um sem-número de tarefas metabólicas necessárias para a
preservação da biologia celular. Resta agora esperar para ver isso em nossos livros e em nossas aulas.

Jerry Carvalho Borges


Universidade do Estado de Minas Gerais
04/07/2008

SUGESTÕES PARA LEITURA


Handwerger, K.E. e Gall,J.G. (2006). Subnuclear organelles: new insights into form and function. Trends
Cell Biol. 16, 19-26.
Lopez-Garcia, P. e Moreira, D. (2006). Selective forces for the origin of the eukaryotic nucleus.
Bioessays 28, 525-533.
Martin, W. (2005). Archaebacteria (Archaea) and the origin of the eukaryotic nucleus. Curr. Opin.
Microbiol. 8, 630-637.
Pederson, T. (2004). The spatial organization of the genome in mammalian cells. Curr. Opin. Genet. Dev.
14, 203-209.
Rippe, K. (2007). Dynamic organization of the cell nucleus. Curr. Opin. Genet. Dev. 17, 373-380.
Rowat, A.C. et al. (2008). Towards an integrated understanding of the structure and mechanics of the cell
nucleus. Bioessays 30, 226-236.

Células humanas cultivadas em laboratório com o núcleo


destacado por um corante azul (foto: Wikimedia Commons).
http://cienciahoje.uol.com.br/122998

COLUNAS :: POR DENTRO DAS CÉLULAS

Uma questão de escala


Se a história do universo tivesse durado três dias, humanos teriam surgido há apenas dois
segundos

Atualmente é impossível se discutir qualquer tema biológico sem que pensemos em seus aspectos
evolutivos. Contudo, muitos de nós, acostumados a viver e a pensar em uma escala temporal reduzida,
temos dificuldades para compreender processos graduais que se estendem por milhões ou bilhões de
anos. Uma das melhores formas para se facilitar o entendimento de acontecimentos como os que levaram
ao surgimento da vida em nosso planeta é fazer uma analogia com uma escala temporal mais familiar a
todos.

Podemos, por exemplo, estipular que nossa história se estenderá por três dias, iniciando-se em uma
segunda-feira, com a formação do universo, até alcançar os dias atuais, ao final da quarta-feira. Nessa
comparação, cada segundo representa cerca de 53 mil anos, e cada bilhão de anos passará em pouco
mais de cinco horas. Vejamos quando acontecem os principais eventos para o surgimento da vida
conforme essa escala.

Segunda-feira, 00:00 (cerca de 13,7 bilhões de anos atrás)


Nosso relógio é acionado após o Big Bang – a grande explosão que deu origem ao universo.

Terça-feira, entre 23:30 e 23:45 (4,567 bilhões de anos atrás)


Nasce o Sistema Solar após a explosão de uma supernova. Com isso, formaram-se o Sol e, na sua
periferia, os planetas.

Quarta-feira, 00:45h (4,533 bilhões de anos atrás)


A colisão entre a Terra e um planeta primitivo com tamanho e massa similares aos de Marte leva à
formação da Lua e provoca modificações no eixo de nosso planeta, causando o início da sua rotação e do
processo de tectônica de placas.

Quarta-feira, 00:45 (4,4 bilhões de anos atrás)


Solidificação da crosta terrestre, que se estende por cerca de 150 mil anos (ou 3 minutos).

Quarta-feira, entre 03:00 e 04:00 (4,3 bilhões de anos atrás)


Bombardeio constante da superfície terrestre com asteróides e presença de grande número de vulcões
ativos. Esses eventos liberam dióxido de carbono e metano, gases formadores da atmosfera secundária
do planeta, que também tem vapor d’água, algum nitrogênio e até 40% de hidrogênio. Não há oxigênio. O
efeito estufa decorrente aquece o planeta para cerca de 70ºC até 2,7 bilhões de anos atrás. A superfície
terrestre é bombardeada com grande quantidade de raios ultravioleta, pois não há camada de ozônio.

Quarta-feira, entre 01:50 e 04:00 (4,2-3,8 bilhões de anos atrás)


Surgimento dos oceanos, após 750 milhões de anos de chuvas torrenciais. Contudo, alguns estudos
indicam que os mares podem ter se formado antes do que se pensava, há cerca de 4,2 bilhões de anos.

Quarta-feira, 03:00 (4 bilhões de anos atrás)


Surgimento da vida, após uma molécula de natureza desconhecida conseguir fazer cópias de si mesma.
Como blocos de construção, ela pode ter usado moléculas mais simples presentes no meio (como
metano ou amônia) e, como fonte de energia, vulcões, raios ultravioleta ou reações químicas inorgânicas.

Quarta-feira, 05:30 (3,5 bilhões de anos atrás)


Surge Luca, acrônimo em inglês para "último ancestral universal comum" – a "célula" que deu origem a
todos os outros tipos celulares conhecidos atualmente. Luca já é envolta por uma membrana lipídica e
provavelmente se assemelha a um procariota heterótrofo atual. Acredita-se que ela também possuía a
capacidade de estocar as informações para seu funcionamento em uma molécula precursora do DNA
atual. Moléculas similares ao RNA e enzimas estavam presentes provavelmente.

Quarta-feira, 08:00 (3 bilhões de anos atrás)


A fotossíntese torna possível a utilização da energia solar para a produção de compostos orgânicos. O
oxigênio, subproduto desse processo, se associa inicialmente a minerais e passa posteriormente a ser
liberado na atmosfera. Parte desse gás transforma-se em ozônio na estratosfera, formando um envoltório
protetor contra raios ultravioleta, mutagênicos para as formas vivas. O forte poder oxidante do oxigênio
liberado elimina grande parte das formas vivas presentes nesse período, selecionando apenas os seres
que podiam lidar com essa ameaça.

Quarta-feira, 10:17 (2,6 bilhões de anos atrás)


Os procariotas colonizam a superfície terrestre e permanecem como as únicas formas vivas nesse
ambiente por um longo período de tempo.

Quarta-feira, entre 14:00 e 18:00 (2-1 bilhões de anos atrás)


Surgem as células eucarióticas a partir de ancestrais de procariotas conhecidos como Neomura. Esses
seres também originam um grupo primitivo de bactérias conhecidas como Archaea. Acredita-se que,
durante esse período, surge também o processo de endossimbiose entre um ancestral das atuais
Rickettsias e um procariota maior que, mais tarde, originou as atuais mitocôndrias. Posteriormente, se
estabelece outro processo endossimbiótico envolvendo os ancestrais das cianobactérias e células
hospedeiras heterótrofas que acaba gerando os atuais cloroplastos.

Quarta-feira, 18:15 (935 milhões de anos atrás)


Surgem os primeiros representantes do reino Fungi. As formas de vida ainda eram unicelulares. Em 15
milhões de anos (ou 25 minutos) os fungos colonizam a Terra.

Quarta-feira, entre 19:00 e 19:15 (750 milhões de anos atrás)


Surgem os primeiros representantes do reino Protista (provavelmente, algas verdes) e, posteriormente, os
primeiros animais multicelulares, similares às esponjas atuais. Inicialmente, as células eram totipotentes e
não existia divisão de trabalho nesses organismos.

Quarta-feira, 21:10 (530 milhões de anos


atrás)
Aparecem os primeiros vertebrados – os
peixes.

Quarta-feira, 21:25 (488 milhões de anos


atrás)
Evento de extinção em massa (entre os
períodos Cambriano e Ordoviciano) em que
desaparece um grande número de espécies de
braquiópodos, trilobitas e conodontes, "Mapa do universo" há 13,7 bilhões de anos elaborado a
provavelmente por diminuição dos níveis de partir de dados colhidos pela sonda WMAP, que ajudaram a
oxigênio nos oceanos ou por glaciação. determinar quando as primeiras estrelas se formaram e
forneceram novas evidências sobre eventos que teriam
Quarta-feira, entre 21:28 e 21:34 (480-460 ocorrido no primeiro trilionésimo de segundo de vida do
milhões de anos atrás) universo (imagem: Nasa / WMAP Science Team).
Surgem as primeiras plantas terrestres,
aparentadas com as atuais briófitas (selaginelas e musgos). Porém, evidências moleculares indicam que
esse evento pode ter ocorrido antes disso (700 milhões de anos atrás, ou às 20:20).

Quarta-feira, 21:40 (450 milhões de anos atrás)


Indícios da presença de artrópodes. As plantas terrestres proporcionam um vasto número de nichos para
serem ocupados por esses seres. Algumas evidências, contudo, indicam que os artrópodes apareceram
anteriormente (530 milhões de anos atrás, ou às 21:12).

Quarta-feira, 22:00 (380-375 milhões de anos atrás)


Indícios do aparecimento dos primeiros tetrápodes, evoluídos a partir de peixes. O desenvolvimento dos
membros permitirá que esses seres ocupem os mais diversos ambientes no planeta. Surgem os anfíbios,
os primeiros tetrápodes que podem passar grande parte de sua existência fora da água, dependendo
desta apenas para a reprodução.

Quarta-feira, 22:06 (360 milhões de anos atrás)


Aparecem as primeiras plantas com sementes (fanerógamas), adaptação que permite aos vegetais se
libertarem do meio líquido para se reproduzir.

Quarta-feira, 22:12 (340 milhões de anos atrás)


Evolução do ovo amniótico, que permite que seus portadores não dependam mais da água para a
reprodução. Surgem, com isso, os amniotas (répteis, aves e mamíferos).

Quarta-feira, 22:25 (300 milhões de anos atrás)


Formação do supercontinente Pangea.

Quarta-feira, 22:40 (250 milhões de anos atrás)


Principal evento de extinção em massa entre os períodos Permiano e Triássico dizima cerca de 95% das
espécies vivas. Hipóteses defendem que esse processo se deveu à erupções de vulcões siberianos ou
pela queda de um meteoro na Antártica.

Quarta-feira, 22:47 (230 milhões de anos


atrás)
Começa domínio dos dinossauros na Terra. A
extinção de grande parte desses animais (65
milhões de anos atrás, às 23:30) deveu-se,
provavelmente, às conseqüências do impacto
de um meteoro de 10 km de extensão na
península de Yucatán, no México.

Quarta-feira, 23:03 (180 milhões de anos


atrás)
O supercontinente Pangea se divide em dois –
Laurásia e Gondwana.

Quarta-feira, 23:18 (132 milhões de anos


atrás)
Surgem as angiospermas, as primeiras plantas
com flores.

Quarta-feira, 23:40 (63 milhões de anos


atrás) Seqüência dos vertebrados envolvidos na conquista da

Vive o último ancestral comum a todos os terra, da esquerda para a direita: Eusthenopteron,

primatas atuais. Panderichthys, Tiktaalik, Acanthostega e Ichthyostega.


Clique na imagem para ler mais sobre esse capítulo da

Quarta-feira, 23:58 (6 milhões de anos atrás) evolução da vida no planeta (arte: Maurílio Oliveira).
O ancestral comum de homens e grande símios vive nas planícies africanas.

Quarta-feira, 23:59:22 (2 milhões de anos atrás)


Surgem os primeiros hominídeos (gênero Homo) nas planícies africanas. A capacidade de controlar o
fogo emerge em um antepassado do homem moderno conhecido como Homo erectus ou Homo ergaster
entre 1,5 milhões e 790 mil anos atrás (23:59:40-45).

Os primeiros homens modernos (Homo sapiens) surgem na África 160 mil anos atrás, ou há cerca de dois
segundos (23:59:58). A agricultura se inicia provavelmente na Mesopotâmia, entre 0,2 e 0,17 segundo
atrás (entre os anos 8.500 e 7.000 a.C.). O primeiro núcleo civilizatório humano descoberto na Suméria se
forma entre os anos 4.000 e 3.000 a.C. (cerca de 0,1 segundo atrás).

A Renascença tem início na Itália há 0,012


segundo e, 0,00096 segundo atrás, começa a
Revolução Industrial na Inglaterra. As duas
grandes Guerras Mundiais ocorrem,
respectivamente, entre 0,0017 e 0,0012
segundo atrás apenas.

Portanto, pense em todas as coisas que hoje


fazem parte de nossa vida – automóveis, Milho arqueológico cultivado no Brasil entre 560 e 960 anos
televisão, celulares e computadores, assim atrás. A agricultura surgiu há cerca de 10 mil anos.
como a pobreza, a destruição de florestas, as
extinções e a poluição que colocam em risco a
vida do planeta – e você verá que tudo isso ocorreu em uma escala temporal difícil de ser compreendida,
de tão pequena.

Contudo, talvez essa comparação seja útil para que compreendamos a grandiosidade e a fragilidade do
único lugar no universo onde comprovadamente existe vida.

Jerry Carvalho Borges


Universidade do Estado de Minas Gerais
01/08/2008

O impacto de um meteoro no México foi a provável causa da


extinção da maior parte dos dinossauros que reinaram sobre
o planeta durante milhões de anos (arte: Nasa).
SUGESTÕES PARA LEITURA
Corsaro, D. et al. (1999). Intracellular life. Crit Rev. Microbiol. 25, 39-79.
Eriksson,K.E. and Robert,K.H. (1991). From the Big Bang to sustainable societies. Acta Oncol. 30, 5-14.
Gould, S.B., Waller, R.F., e McFadden, G.I. (2008). Plastid evolution. Annu. Rev. Plant Biol. 59, 491-517.
Poole, A.M. e Penny, D. (2007). Evaluating hypotheses for the origin of eukaryotes. Bioessays 29, 74-84.

Reyes-Prieto, A., Weber, A.P., e Bhattacharya, D. (2007). The origin and establishment of the plastid in
algae and plants. Annu. Rev. Genet. 41, 147-168.
Samuilov, V.D. (2005). Energy problems in life evolution. Biochemistry (Mosc.) 70, 246-250.

http://cienciahoje.uol.com.br/124907

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