Você está na página 1de 32

 


O CONCEITO “TRABALHO” 
 Dos primórdios da Humanidade até aos nossos dias o
conceito “trabalho” foi sofrendo alterações,
preenchendo páginas da história com novos domínios e
novos valores. Do Egipto à Grécia e ao Império
Romano, atravessando os séculos da Idade Média e do
Renascimento, o trabalho foi considerado como um
sinal de opróbrio, de desprezo, de inferioridade. Esta
concepção atingia o estatuto jurídico e político dos
trabalhadores, escravos e servos. Com a evolução das
sociedades, os conceitos alteraram-se. O trabalho
tortura , maldição, deu lugar ao trabalho como fonte
de realização pessoal e social, o trabalho como meio
de dignificação da pessoa.
O CONCEITO
“TRABALHO” 
  Começo por apresentar alguns
significados das palavras «trabalho» e
«trabalhar» de acordo com o que é
definido por um dicionário da língua
portuguesa. «Trabalho» significa:
“exercício de actividade humana, manual
ou intelectual, produtiva”; “serviço”;
“lida”; “produção”; “labor”; “maneira
como alguém trabalha”. «Trabalhar» é
“exercer alguma profissão”; “dar
determinada forma a”; “fazer com arte”;
“labutar”; “empenhar-se”; “executar
alguma tarefa”; “desempenhar as suas
funções”.
BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO» 

 Segundo R. Cabral (1983), a palavra «trabalho», na sua


origem etimológica, significa “tripalium, instrumento de
tortura composto de três paus ou varas cruzadas, ao qual se
prendia o réu” (p. 1774).
 Na opinião de João Lobo (2004),
 fronteira que delimita o conceito de trabalho enquanto
factor de realização humana daquele outro em que o trabalho
contem em si a carga negativa opressora do tripalium
(instrumento composto por três paus ou varas cruzadas, usado
para prender animais e também como instrumento de tortura –
que exprime, na sua origem semântica, a noção de trabalho e
o sacrifício que a realização do mesmo implica) nem sempre é
clara e necessita de diferenciação legal em homenagem à
protecção dos valores fundamentais da pessoa humana (p. 4).


BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO

«TRABALHO»  
 Segundo Lobo (2004), a necessidade da delimitação de tal
fronteira no que se refere à protecção de trabalho de menores
vai de encontro àquelas situações especiais em que “o velho
prolóquio de Larcordaire merece acolhimento, funda detença
e larga consideração: entre o rico e o pobre e o forte e o fraco
é a Lei que liberta e a liberdade que mata” (p.4).
 A palavra «trabalho», esclarece o historiador Jacques Le Goff,

não existia antes do século XI. De acordo com Godelier,


citado por Correia (1999), o significado da palavra
«trabalho», conhecido como “obra a fazer, ou execução de
uma obra”, surge somente nos finais do século XV e o
significado da palavra «trabalhador» aparece nos finais do
século XVII.

BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO» 

 No século XVIII, o trabalho aparece como


uma actividade que implica um esforço penoso.
Aliás, José Alberto Correia (1999) refere esta noção
sublinhando que ela está “relacionada com
significados que nos referenciam o exercício de
actividades penosas”.
 No dizer de Avelãs Nunes, citado por Barros
Moura (1980), o trabalho é a “actividade
inteligente do Homem em sociedade, preordenada
ao objectivo de transformar e adaptar as forças da
natureza com vista à satisfação de necessidades”
(p.15).

BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO» 

 Para Brito Correia (1981), “a palavra trabalho é usada


correntemente com vários sentidos:
• Esforço ou aplicação para fazer uma coisa, ou como ‘acção que altera
a natureza ou a forma de uma coisa’ (Larousse); neste sentido,
também um animal pode prestar trabalho;
• Actividade manual ou intelectual própria do homem, frequentemente
(mas não necessariamente) penosa e dirigida a um fim útil: não de
mero prazer ou como jogo, mas para ganhar a vida (por
necessidade); neste sentido, o trabalho contrapõe-se a actividades
realizadas por amor do próximo (caridade), para alcançar prestígio
(um lugar na vida social), por amor à Pátria (caso do soldado
voluntário) ou para glória de Deus (caso dos religiosos);
• Produto ou resultado dessa actividade (é o sentido usado quando se
diz que se vai ‘entregar um trabalho’);
• Emprego, colocação, lugar ou posto de trabalho;
• Colectividade dos trabalhadores, isto é, daqueles que se encontram
numa particular ‘relação de produção’ ou pertencem a certa classe
social; é usado por exemplo, na expressão ‘o capital e o trabalho’
”(p. 3).

BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO» 

 De acordo com Giddens (1997), “podemos definir o


trabalho como a realização de tarefas que envolvem o
dispêndio de esforço mental e físico, com o objectivo de
produzir bens e serviços para satisfazer necessidades
humanas” p. 578).
 Ariès e Duby (1989) referem que, “o trabalhador era
considerado socialmente inferior, mas também um ser
ignóbil” (p. 124). Estes autores referem também que são
necessárias algumas chaves de leitura para a
compreensão das atitudes antigas perante o trabalho: o
desdém pelo seu valor significava desdém social pelos
trabalhadores.

BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO

«TRABALHO»  
 verdadeiro valor e um valor de todos; foi a paz social dos
corações hipócritas. O mistério do desprezo antigo pelo
trabalho reside muito simplesmente no facto de os
acasos da guerra social não terem ainda conseguido
este provisório armistício de hipocrisia. Uma classe
social, orgulhosa da sua superioridade, canta a sua
própria glória (é isto a ideologia) (p.124).

 De acordo com os mesmos autores, a partir de Marx e


Proudhon, a noção de trabalho tornou-se um valor
social universal, um conceito filosófico.
 Poder-se-ia dizer que o «trabalho», tal como hoje o
descrevemos, é historicamente recente.

BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO


 
«TRABALHO»
O trabalho é fonte de riqueza dos países. As sociedades
desenvolveram-se, desde sempre, através do trabalho produzido
por agricultores, pescadores, comerciantes, artesãos e operários.
 Há uma característica comum, relativamente ao trabalho,
que atravessa todos os tipos de sociedades, desde a esclavagista até
à industrial passando pela feudal: a subordinação de quem vive do
trabalho prestado a outrem, quer seja rei, imperador, senhor
feudal, industrial ou entidade patronal. A História mostra-nos que
só os países que se organizaram e apostaram nas forças de
trabalho atingiram patamares de bem-estar elevados, mas sempre
por força daqueles que produziram a riqueza - os trabalhadores. Foi
com a Revolução Industrial que a ideia de subordinação de quem
vive do seu trabalho se acentuou e que a dependência daqueles
que têm como único meio de subsistência os rendimentos do
trabalho se efectivou. Consequentemente, ganham expressão as
novas necessidades de protecção, uma vez que com a produção
industrial em grande escala, os operários deixaram de ter outra
fonte de rendimento que não fosse a sua força de trabalho.

BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO» 

 Face a esta realidade de dependência económica,


emergiu a necessidade de assegurar normas de protecção
àqueles que, por razões de sobrevivência, ficavam
coarctados na sua liberdade de escolha, de decisão.
 As primeiras leis protectoras dos trabalhadores por
conta de outrém aparecem em tempos diferentes, de
acordo com o grau de desenvolvimento e de capacidade
de organização desses trabalhadores.
 Os trabalhadores constituem a parte mais débil na
relação de trabalho. As leis, enquanto normas de
protecção dos trabalhadores, são factor de combate à
exploração a que os mesmos estão sujeitos.

BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO» 

No seu conjunto, e sobretudo nos países do Norte da Europa, há uma


evolução histórica positiva desde uma situação de proletarização,


característica de todo o século XIX, até àquilo que vem a configurar
um novo mundo do trabalho em que se vão conquistando melhores
condições de vida, de trabalho e de protecção social. Para Francisco
Porcar Rebollar (1998), isto deve-se, fundamentalmente, a dois
factores:

Por una parte, la lucha de los trabajadores, canalizada sobre todo por las

organizaciones sindicales, pero también por partidos obreros que


fueron abriendo camino a la profundización de la democracia
(derechos políticos para todos) y a un nuevo carácter del Estado
(derechos sociales para todos). Por otro, y como resultado de lo
anterior y de otros factores, el paulatino reconocimiento de derechos
sociales para los trabajadores, que háido cambiando el carácter
ultraliberal del Estado y dando paso a una Estado social (p.248).


BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO» 

À época da Segunda Guerra Mundial, muitos destes avanços


sociais cristalizaram, abrindo-se, no entanto, uma frente


importante de afirmação teórica e prática do direito ao
trabalho. Na opinião de Rebollar (1998), as condições de
vida e trabalho melhoram significativamente através da
confluência de quatro factores:

la capacidad negociadora del movimiento sindical, el acceso al


gobierno de partidos socialdemócratas, la construción del


Estado del Bienestar por una espécie de gran pacto social no
escrito y la aparición del consumo de masas como estratégia
de expansión del capitalismo que demandaba, desde el mismo
interés del mercado, un aumento importante de la capacidad
adquisitiva de los trabajadores (p.248).


BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

 Em Portugal, as primeiras leis protectoras foram publicadas


na última década do século XIX, dirigidas às mulheres e aos
menores. Tiveram como fundamento razões higieno-
sanitárias, dado que na época da sua publicação as
condições de trabalho, de higiene e de sanidade eram de tal
forma graves que constituíam um perigo para a saúde
pública, e em particular para o desenvolvimento das
crianças e das próprias mulheres, tendo em conta a sua
função genética na reprodução da espécie.
 Foi na linha da protecção dos trabalhadores que esteve a
origem da Organização Internacional do Trabalho (OIT),
criada em 1919, em consequência do Tratado de Versalhes,
desenvolvendo intensa actividade normativa daí para cá. A
Convenção n.º 1 sobre a Duração do Trabalho na Indústria
foi publicada nesse mesmo ano de 1919.

BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

A criação de todos estes instrumentos de protecção não significava que


estava tudo resolvido e que as condições de trabalho fossem as ideais.


Convém lembrar que se tratava do trabalho em cadeia, massificado,
com ritmos de produção acelerados e com controlo apertado, o que só
por si caracteriza bem a faceta desumanizadora da época.
Hierarquizando: não são as pessoas a prioridade, mas a racionalidade
económica a máxima expressão. Segundo Rebollar (1998), a
racionalidade económica triunfou de tal modo - convertendo a pessoa
que trabalha em produtor-consumidor, ainda que com perda da sua
autonomia - que superou a necessidade que teve no princípio de
recorrer à repressão. Esta técnica que tipifica a publicidade comercial,
passava por persuadir os indivíduos de que os consumos que lhes eram
propostos compensavam os sacrifícios a que teriam de se sujeitar para
a obtenção de tais bens, e que estes constituiriam um nicho de
felicidade privada que lhes permitia afastarem-se da “sorte” comum.
Por outro lado, o Estado protector, o Estado providência oferecia ao
trabalhador-consumidor umas compensações sociais pela perda da sua
autonomia. Estas compensações assumiam a forma de direito a
prestações e a serviços sociais.
BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

 Com a evolução das sociedades também os conceitos


evoluem. Assim o trabalho adquire um novo sentido
associado à criação de valores úteis. Segundo Manuel
Carvalho da Silva (2000), “assume-se a problemática do
trabalho tomando este como valor, ou seja,
considerando que a sociedade actual sobre a qual nos
debruçamos tem o trabalho como referência estrutural e
estruturante” (p.39). O mesmo autor considera, ainda,
que o conceito «trabalho» é, actualmente, alvo de
reflexão necessária e profunda, dado que se assiste a uma
grande mutação no que diz respeito às formas de
prestação de trabalho.
BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

 O Papa João Paulo II (1989) refere que:

 Com a palavra trabalho é indicada toda a actividade


realizada pelo mesmo homem, tanto manual como
intelectual, independentemente das suas características e
das circunstâncias, quer dizer, toda a actividade humana
que se pode e deve reconhecer como trabalho, no meio
de toda a riqueza de actividades para as quais o homem
tem capacidade e está predisposto pela própria natureza,
em virtude da sua humanidade (p. 7).

BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

De acordo com Sarmento, Bandeira e Dores (2000), a palavra


«trabalho» é usada com interpretações diferentes:

A palavra trabalho é usada em acepções diversas, pois tanto pode


referir-se a toda e qualquer actividade humana (inclusive a puramente


mental ou intelectual), ou a actividades de natureza exclusivamente
económica. Numa acepção mais restrita, trabalho respeita
essencialmente a todo o esforço realizado com o corpo, ou seja, ao
trabalho braçal ou manual. Porém, num sentido um pouco mais
abrangente, o trabalho é normalmente associado à produção ou à
troca, ou seja, a uma actividade económica, no qual a pessoa que
executa a tarefa ou que oferece a sua actividade em troca de uma
remuneração é designada de operário, empregado ou trabalhador, e a
pessoa que aceita, dirige e paga o trabalho daquele como patrão,
empresário ou empregador (p.32).


BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

Para a Liga Operária Católica - Movimento de


Trabalhadores Cristãos – LOC/MTC “o
trabalho humano é a chave essencial de toda
a questão social” e, por isso, ele constitui o
centro das suas prioridades na acção que
desenvolve.

• Trabalho justo
• Trabalho digno
• Trabalho reconhecido

BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

 Por “trabalho justo” entende-se, geralmente,” salário


justo”.
 O salário para ser justo implica ser calculado de forma
a permitir uma vida digna para o/a trabalhador/a e sua
família.
 O cálculo remuneratório deve integrar os esforços
inerentes a esse trabalho, os riscos que comporta para
a saúde e o tempo necessário para a sua execução.
 “O trabalho deve ser remunerado de tal modo que
permita ao homem e à família levar uma vida digna,
tanto material ou social, como cultural ou espiritual,
tendo em conta as funções e a produtividade de cada
um, e o bem comum”. (G.S.,67)

BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

   Quando se refere “trabalho digno”, significa que


se fala de “condições de trabalho”. Trabalhar sem
quaisquer constrangimentos, nem discriminações,
em razão do sexo, da etnia ou de qualquer minoria.
Significa também o exercício pleno da liberdade
cívica, como poder reunir-se em associações, sem
que daí decorram quaisquer prejuízos para quem
nelas participe. Implica ainda protecção da saúde,
acesso à segurança social, estabilidade de emprego
e um horário e um ritmo de trabalho que lhe
permita ao trabalhador e à trabalhadora sentir-se
bem e planificar a sua vida.
BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

 “É corrente, mesmo em nossos dias, tomarem-se os trabalhadores, em


certo sentido, escravos do próprio trabalho. O que, de nenhum
modo, é justificado pelas chamadas leis económicas. Importa,
portanto, adaptar todo o processo de trabalho produtivo às
necessidades da pessoa e às suas condições de vida; sobretudo da
vida doméstica, em particular no que se refere às mães de família,
tendo sempre em conta o sexo e a idade. Facilite-se aos
trabalhadores a possibilidade de desenvolverem as suas qualidades
e a sua personalidade no próprio exercício do trabalho. Depois de
haver aplicado a um trabalho o seu tempo e as suas forças, de uma
maneira conscienciosa, todos devem gozar de um tempo de repouso
e de descanso suficiente para se dedicarem à vida familiar, cultural,
social e religiosa. Devem ainda ter possibilidade de desenvolver
livremente faculdades e capacidades, que, no trabalho profissional,
não puderam desenvolver muito, por falta de oportunidade”. (G.S.
67).

BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

 O trabalho reconhecido significa que quem


trabalha deve poder fazer a experiência de
sentir que o seu trabalho é reconhecido e
valorizado. Isto é válido não só para o
trabalho remunerado, mas também para
as numerosas actividades não remuneradas
– tradicionalmente assumidas pelas
mulheres -  tais como tarefas domésticas,
prestação de cuidados a crianças, pessoas
portadoras de deficiência, pessoas idosas,
atendimento a situações de dependência
transitória ou prolongada e variadíssimas
actividades cívicas e de voluntariado. Daqui
surge a chamada “tríade do trabalho”:
BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

 - Trabalho remunerado, aquele que é geralmente reconhecido


e valorizado.
 - Trabalho em casa (lides domésticas, educação dos filhos,
prestação de cuidados a doentes e idosos)
 - Trabalho social (actividades cívicas e de voluntariado), na
saúde, na educação, na cultura, no desporto, na vida
associativa…
 Os dois últimos, porque não são remunerados, também não
são valorizados. Vejamos, por exemplo, as pessoas que
trabalham em casa (geralmente mulheres) não têm acesso à
segurança social, além de não terem uma remuneração. Do
mesmo modo, numerosas actividades cívicas e de
voluntariado poderiam e deveriam ser remuneradas. Muitas
das actividades que hoje são remuneradas começaram por
ser “voluntárias”, por exemplo nas Instituições Particulares
de Solidariedade Social - IPSS.

BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

 Assim, poder-se-ia conseguir, além da diminuição do


horário laboral, o acesso ao trabalho a muitos que
cada vez mais serão excluídos.
 A Conferência Episcopal Portuguesa –CEP, na sua
Nota Pastoral sobre “ O Trabalho na sociedade em
transformação” de Novembro de 2002, diz a propósito
do novo conceito de trabalho que “o trabalho
assalariado, tal como existe hoje, não poderá ser, no
futuro, o único meio de subsistência do trabalhador.
 Há que considerar outras áreas que actualmente não
são remuneradas, nem abrangidas pela Segurança
Social, como o trabalho em casa (lides domésticas,
educação dos filhos, cuidado de idosos e doentes) e
parte do trabalho que hoje é realizado por voluntários
(na cultura, na saúde, no desporto)” (nº 10).

BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»


 Robert Castel (1996) tecendo algumas considerações sobre a temática,
fala duma sociedade salarial em crise e suscita algumas questões.

 Hoy en dia se plantea sibre todo respecto del trabajo


asalariado, en la medida en que este há pasado a ser, no la forma
exclusiva, sino el modelo dominante del trabajo socialmente
reconocido. Seria necesario reactualizar el interrogante y
preguntarnos si, o en qué medida, el trabajo asalariado es el
fundamento essencial del reconocimiento social. Y, de modo más
concreto, toda vez que no estamos solo en una «sociedad salarial»,
sino en una sociedad salarial en crisis en la que se degradan las
condiciones de trabajo, ? hasta qué punto el trabajo asalariado
tropieza hoy com la competência de otros soportes de utilidad
social? Hay otras posibilidades, además del soporte salarial, en las
que basar la utilidad y el reconocimiento sociales? (p.672).


BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

  A abordagem que aqui apresentamos sobre o conceito de


trabalho, provém da reflexão de vários autores. Nela não se
limita o conceito de trabalho ao trabalho remunerado
como acontece na generalidade com os aparelhos
estatísticos, quadros legais e na literatura científica. Na
opinião de Heloísa Perista, se restringíssemos o conceito de
trabalho apenas à ideia de salário ou pagamento,
estávamos a excluir uma parte significativa do trabalho,
com particular peso para o trabalho exercido pelas
mulheres e que não tem visibilidade na sociedade. Trata-se
de “todo o trabalho não pago associado à reprodução,
ligado à execução de tarefas domésticas e de prestação de
cuidados; tarefas às quais não é atribuído valor social ou
económico e que não são sequer reconhecidas como
trabalho”(p.102).
BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

 Reflectir sobre o conceito de trabalho implica levantar


questões à sociedade sobre a sua organização, sobre o
funcionamento da economia, das relações laborais e do
mercado. Implica ainda questionar a divisão tradicional
entre as esferas privada e pública.
 Reflectir sobre o conceito de trabalho, é reflectir
sobre os modelos dominantes ao nível das relações
sociais de género e o questionamento sobre os
princípios e fundamentos da igualdade entre mulheres
e homens. A conciliação entre vida pessoal, familiar e
profissional é, então, outra das vertentes que não pode
deixar de integrar o questionamento sobre uma nova
atitude, um novo olhar sobre o trabalho humano.

BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

 Na opinião do grupo de trabalho “Economia e Sociedade”


coordenado por Manuela Silva “a conciliação entre o
trabalho familiar, o trabalho criativo e o trabalho
comunitário com o trabalho mercantil, assalariado ou não,
constitui um dos desafios que temos que enfrentar, neste
começo de novo século e milénio, quando a prática é
generalizada os adultos de uma mesma família procurarem
trabalho na actividade económica. Como lembra João Paulo
II: «Dado que temos condições históricas para o conseguir
(…) é tempo de introduzir uma nova cultura do trabalho com
uma melhor gestão e equilíbrio entre trabalho remunerado e
socialmente útil, trabalho e repouso, com uma nova
perspectiva sobre as relações humanas e a convivialidade e
uma conversão de estilos de vida e de comportamento de
consumos supérfluos e mesmo nocivos» (CA, nº 36).
BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

 Se tivermos uma nova atitude face ao consumismo


exacerbado a que assistimos, se outra valorização
for atribuída ao que fazemos do nosso tempo e se
outra valorização for dada à realização da pessoa
humana, temos condições para conseguir uma
significativa redução de horas de trabalho
mercantil, uma vez que já foram alcançados
elevados níveis de produção que permitiriam
alcançar uma considerável libertação de tempo
para outras modalidades de trabalho.
BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

 Crescemos com o lema: a casa é das mulheres, a rua é dos homens. As mulheres cuidam da casa e
dos filhos. Os homens trabalham fora e levam o ordenado à mulher, para governar a casa. 
 Tornámo-nos a antítese das nossas mães, e elas muito nos criticam por isso. 
 d          Não faltamos ao trabalho, por estarmos doentes, porque tanto nos dói a barriga no emprego
como em casa. Só faltamos se a doença for mesmo grave.
 d          Colocamos os filhos em escolas desde pequenitos. Sabemos que é o melhor para eles, mas
estamos sempre preocupadas e atentas ao que se passa. Morremos de susto quando o dia de
trabalho nos coloca mais longe de casa do que é habitual, seja qual for a causa da deslocação.
 d          Trabalhamos o mais que podemos no emprego para fazer boa figura, e fazemo-la. Depois
vamos para casa e espera-nos mais um período de 3 ou 4 horas de tarefas pela frente. E fazemo-
las. E estafamo-nos. Sempre firmes, que mulher não é franguinha de aviário. Como se não
bastasse, a família alargada ainda nos apresenta umas reclamaçõezitas de falta de atenção. Ainda
nos vão falando de obrigação de tomar conta dos mais velhos. Ainda nos acusam de não ligar a
nada.
 d          Governamos a casa com o nosso ordenado e deixamos o do marido para os pagamentos fixos
(especialmente o empréstimo bancário da compra da casa) e a esperança que sobre algum. Do
nosso nunca sobra, porque se sobrar há sempre aquele sapato, aquele creme, que mulher tem
muitas necessidades. Bem o merecemos!
 d          Olhamos para trás e vemos que as pessoas mantinham o mesmo emprego a vida toda e que
isso significava que cumpriam o seu papel, não criavam conflitos e eram cordatas. Hoje avaliam-
nos pelo currículo. O que vale é ter tido muitos cargos, em muitas empresas, e ter feito muitas
acções de formação. Estas têm que ser variadas porque hoje te avaliam para um lugar de arquivo,
amanhã pelo nível em informática, depois pela capacidade de liderança. E sobrevivemos a tudo.
 d          Os nossos pais começaram a descontar para a reforma tarde, mas em boa hora. Têm as suas
reformas, para quais a minha geração tem pago desde sempre. Agora, vêm os governantes alterar
as regras do jogo a meio da tirada, porque o dinheiro escasseia. Ou seja, nós os que sempre
pagámos, vamos ser quem menos recebe no fim. Fomos solidários, mas não há quem o seja a
nosso favor. Sobreviveremos a isto também?
 d          Nós, as tais que “optámos” por ter emprego, dividimo-nos em dois grupos: as que anseiam pela
reforma para ficar em casa a descansar, e as que morrem de medo de chegar essa altura em que
passarão o resto da vida à volta com o pó e os tachos. Estou entre as segundas. A minha mente e a
minha genica não cabem entre quatro paredes.
www.solidariedade.pt/UserFiles/File/
conceito-trabalho-dm.doc
dooutromundo.blogspot.com/2007/08/
o-conceito-trabalho.html - 138k –
lampeirota.blogs.sapo.pt/15983.html -
36k

Você também pode gostar