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X Encontro da Federação Nacional

dos Médicos

Estado, Sociedade e Financiamento do SUS


São Paulo, 19 de junho de 2010

Paulo Rubem Santiago


Dep.Federal PDT-PE
A luta histórica pela cidadania

“O século XX (...) deixou o saldo positivo da conquista dos direitos


sociais. Essa conquista determinou que o reconhecimento do
indivíduo como cidadão não mais dependia exclusivamente de sua
posição no circuito mercantil.
O Estado social, construído a ferro e fogo pelos subalternos, impôs o
reconhecimento dos direitos do cidadão (...) ”

Belluzzo – “O mercado e os direitos sociais”, Folha de SP, 27/4|/2003,


em “Ensaios sobre o Capitalismo no Século XX”,
SP, Editora UNESP, 2005.
SUS : Uma das maiores políticas de inclusão social

+ de 5,8 mil hospitais, 60 mil unidades ambulatoriais


500 mil leitos (entre públicos e privados contratados)
11 milhões de internações,
1.4 bilhão de procedimentos ambulatoriais,
44 milhões de consultas especializadas
250 milhões de consultas básicas
11 mil transplantes custeados anualmente, com recursos da
rede pública de saúde

Fonte : Conselho Nacional de Saúde


Financiamento da Saúde- Novos Desafios –p.5- 2007
Evolução da População Coberta por
Equipes de Saúde da Família
1998 –2006

1998 1999 2000 2001

2002 2003 2004 2005 2006

0% 0 a 25% 25 a 50% 50 a 75% 75 a 100%


FONTE: SIAB - Sistema de Informação da Atenção Básica
Desigualdade no Acesso nas Regiões Brasileiras
Municípios com registro de internações hospitalares no SUS,
por procedimentos de alta complexidade selecionados - Brasil, 2005
Cardiologia Cirurgia Oncológica Transplantes

Fonte: Ministério da Saúde– 2005.


Principais causas de mortes 1979 e 2004

Transmissíveis – 13,83 % - 5,93% ( - 57,12 % )


Neoplasmas – 10,82 % - 18,03 % ( + 66,67% )
Endoc / Met / Nutri – 2,67% - 3,74% ( + 40,27% )
Angio e Cardio – 33,81 % - 36,77% ( + 8,77% )
Sistema Digestivo – 2,22% - 3,13 % ( + 41,42% )
Causas Externas – 7,00% - 11,99 % ( + 71,38% )

Fonte : OMS / Ipea - CP 33 - 14/10/2009


Saúde e Seguridade Social no Brasil

1. Seguridade Social : Conjunto de ações destinadas a assegurar os


direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social ( artigo
194, CF 1988 );

2. Financiamento direto e indireto mediante recursos dos orçamentos da


União, Estados, Distrito Federal e Municípios e
das seguintes contribuições... ( Art. 195, I, da CF 1988 )

3. Art. 165, p. 5º. : A lei orçamentária anual compreenderá :


I – O orçamento fiscal ; II – O orçamento de Investimento das
empresas estatais; III – O Orçamento da Seguridade Social
O Orçamento da Seguridade Social

4. Artigo 195, III, p. 2º. :


A proposta de orçamento da seguridade social será elaborada
de forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde,
previdência social e assistência social, tendo em vista as
metas e prioridades estabelecidas na Lei das Diretrizes
Orçamentárias, assegurada a cada área a gestão de seus
recursos
As manobras orçamentário-fiscais e a
supremacia do mercado

1. O governo não elabora três orçamentos,segundo art.165 da


CF 1988 , elabora dois, o de investimento das estatais e o
fiscal / da seguridade social ;

2. As receitas da seguridade vão para a conta fiscal, do tesouro


nacional, gerida pelo Ministério da Fazenda;

3. Assim, o superávit da seguridade social é incorporado ao


orçamento geral da união na geração dos superávits
Tabela 1 - Efeitos da Desvinculação de Recursos da União sobre as receitas do Orçamento da Seguridade Social - 2005
a 2008
R$ milhões
Receita realizada (a) Desvinculação da DRU (b)
Fontes Selecionadas
2005 2006 2007 2008 2005 2006 2007 2008
Cofins 89.597,5 90.340,7 101.835,1 119.344,7 17.919,5 18.068,1 20.367,0 23.868,9
CPMF 29.120,3 31.996,3 36.382,2 971,3 4.597,9 5.052,0 5.744,6 153,4
CSLL 26.232,0 27.265,7 33.638,6 42.365,7 5.246,4 5.453,1 6.727,7 8.473,1
PIS / PASEP 22.083,3 23.815,0 26.121,0 30.830,1 4.416,7 4.763,0 5.224,2 6.166,0
Correção do FGTS 2.907,7 2.858,1 2.005,7 581,5 571,6 401,1 0,0
Conc. Prognósticos e Outras Contribuições 1.588,1 1.536,1 1.904,3 2.047,1 317,6 307,2 380,9 409,4
Soma 171.528,8 177.811,7 201.887,0 195.558,8 33.079,6 34.215,1 38.845,5 39.070,9
Efeito da DRU sobre as receitas da Seguridade, exceto previdência (%) (b/a) 19,3% 19,2% 19,2% 20,0%
Fonte: Para receitas e despesas previdenciárias, SPS/MPS; para os demais, SIAFI. Elaboração ANFIP e Fundação ANFIP
Sociedade e Estado

1. Por que a sociedade financia o Estado ?


2. Como a sociedade financia o Estado ?
3. Como se caracterizam os impostos e
contribuições existentes ?
4. Como o Estado faz retornar à sociedade os
impostos e contribuições recolhidos ?
Por que a saúde não
tem financiamento
adequado ?
A Síndrome de Carolina

“ (...) O tempo
passou na janela e
só Carolina não
viu. “
Qual “ tempo ” passou na janela ?
( para não cairmos em análises ingênuas )

No pós guerra, de 1945 até 1973


Predomínio da economia da produção com o estado
atuando junto aos movimentos e interesses privados

Após 1973 , sobretudo após 1980, cresce a busca da


multiplicação das riquezas divorciada da produção.

Investimentos em “ativos” e empréstimos rendendo


juros com isenções tributárias tomam proporções
enormes nas relações centro-periferia
Valor global dos ativos financeiros e o PIB
mundial

1980- US$ 10 trilhões- US$ 12 trilhões ( * )


2000 – US$ 31,7 trilhões – US$ 94 trilhões
2004 – US$ 41,6 trilhões – US$ 134 trilhões
2005 – US$ 44,8 trilhões – US$ 142 trilhões
2007 – US$ 51,6 trilhões - US$ 200 trilhões

( * ) Depósitos bancários, títulos e ações

LACERDA, Antônio C. - “Financiamento e Vulnerabilidade Externa da


Economia Brasileira”, in Brasil sob a nova ordem , p. 104.-Saraiva,2010.
Empréstimos e Dívida Pública
A evolução da dívida (..) deixa clara sua subordinação à
política das taxas de juros.
A dívida saiu de 29,2 % para 42,6% do PIB entre 1994 e
1998
No total, no período, subiu de 11,54% para 35,4% do PIB o
montante da dívida em títulos públicos

Sicsu, J. e Vidotto,C. – “A administração fiscal no Brasil e a Taxa de


Juros” in “Arrecadação, de onde vem ? Gastos Públicos , para onde
vão ? ”, Unesp, SP, 2007
ACUMULACAO DE CAPITAL E PLANO DE
ESTABILIZACAO

“ Segundo dados da ANDIMA, entre julho de 1994 e julho de


2002, os juros medidos pela taxa SELIC acumularam variacão
de 653,8%, enquanto a inflação medida pelo IGP-M ficou em
143%. Quem aplicou em papeis do governo obteve um
patrimônio quatro vezes superior ao existente em 30 de
junho de 1994, já descontada a inflação
(O Estado de São Paulo, 01/07/02). Os titulos públicos se
transformaram no melhor investimento nos oito anos do
Plano Real (...)”
Tese de Doutorado de José Menezes Gomes - UFMA
História Econômica USP-2006, p.142
A Explosão da Dívida em Títulos

Fonte: Banco Central


Como fomos atingidos ?
1994-1999 – Plano Real = Paridade Cambial
1999 – Crise no balanço de pagamentos
1999- Acordo com o FMI
1999 –Regime de Metas de Inflação :
A)Diagnóstico da inflação – Inflação de demanda
B) Índice oficial de inflação - IPCA
C) Remédio : Manuseio da taxa básica de juros
D) Dosagem : Elevação para conter a demanda/
Manter a inflação no centro da meta / Atração de
“investidores” e capitais para fazer reservas
Desigualdade de Renda e Riqueza
Comunicado da Presidência No. 14 do IPEA
Gastos do tesouro (2000-2007)

Juros – R$ 1,267 trilhão de reais


Saúde– R$ 315 bilhões
Educação – R$ 149 bilhões
Investimentos- R$ 93 bilhões
Márcio Pochmann
(Unicamp / Ipea )
É a luta de interesses que vai definir como
serão divididos os recursos(PLOA 2010)

Transferências a
Demais Despesas
Estados e Municípios
Financeiras
8,15%
Amortização da Dívida 3,95%
Pessoal e Encargos
43,55%
Sociais
9,74%

Benef. Previd.
e Assist.
17,13%

Juros e Encargos da
Dívida Demais Despesas
Desp Discricionárias -
6,35% Reserva de Obrigatórias
Todos Poderes 1,08%
Contingência Primária
9,97%
0,27%
Projeto de Lei para o Orçamento de
2010

Demais Saúde
35,9% 29,4%

Educação
PAC 12,7%
14,1% Bolsa Família
7,9%
Ações e Serviços de Saúde x Gastos com
Juros da Dívida ( % do PIB- 1995-2006)

1995- Saúde – 1,73% Juros- 7,5%


1999 - Saúde – 1,72% Juros- 9,1%
2003- Saúde – 1,60% Juros- 9,3%
2004- Saúde – 1,68% Juros- 7,3%
2006- Saúde – 1,76% Juros- 6,9%

Fonte:COFINS/CNS- Banco Central do Brasil


MARQUES, Rosa e MENDES,Áquila - A Saúde Pública sob a batuta
da nova ordem (O Brasil sob a nova ordem-2010-Saraiva-SP)
Despesas da União por função
1990 - 2007 em %

Saúde e Saneamento – 0,78 e 3,39


Educação e Cultura – 2,35 e 1,66
Direitos da Cidadania – 0,07 /2000 e 0,05
Urbanização e Habitação – 0,04 e 0,07

Encargos Especiais – 21,68 / 2000 e 31,94


Refinanciamento – 35,99 / 2000 e 32,16

Fonte: STN/Elaboração do Autor


Evilásio Salvador -INESC
Resultado do Tesouro - Abril de 2010
Projetos e perspectivas de regulamentação

1.Base de cálculo: passa do valor apurado no ano anterior


corrigido pela V.N. do PIB para 10%, no mínimo, da receita
corrente bruta. ( 2007: Corresponderia a + R$ 20 bilhões
na despesa executada pelo MS)
2. PLP 1/2003 – Despesas que devem ser consideradas
ações e serviços de saúde
3. 2008- PL 121, do Senado- Aprovado.
Receita corrente Bruta : De 8,5% em 2008 a 10% em
2011.Desceu para apreciação na Câmara como PLP
306/2008, de regulamentação da EC 29.
Ações articuladas ( Parlamento + Mov.Sociais +
Entidades Sindicais )
Libertar o estado, o tesouro nacional e o orçamento fiscal
da condição de agentes avançados na reprodução
financeira do capital
a) Reformulação da gestão e fundamentos da política
macroeconômica ( Regime de Metas de Inflação, COPOM e Política
Monetária, Juros e Câmbio )
b) Regulamentação da EC 29, Fortalecimento da Carreira de
Auditoria do SUS, Aprovação das PECs da Carreira Única
c) Radicalização da Gestão e do Controle Social
d) Formação em Orçamento e Finanças
Sugestão de sites
www.paulorubem.com.br
www.ipea.gov.br
www.cartamaior.gov.br
www.inesc.gov.br
www.rumos do brasil.org.br
www.pdt.org.br
www.divida-auditoriacidada.org.br

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