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Direito das

Obrigações
Aula II
Dois grandes ramos do Direito
 O Direito Civil pode ser dividido em dois
grandes ramos:
 O dos direitos não patrimoniais (que
tratam dos direitos da personalidade,
direito à vida, à liberdade, à honra etc.)
 E o dos direitos patrimoniais (que
tratam dos direitos que envolvem valores
econômicos).
Direitos patrimoniais
 O Direito das
Obrigações e o
Direito das
Coisas
integram os
direitos
patrimoniais.
Mas sem confusão
 Entretanto, apesar de
integrarem o mesmo
ramo, não podem
ser confundidos,
porque o primeiro
trata de direitos
pessoais e o
segundo trata dos
direitos reais
Direito Pessoal Direito Real
 é o direito do credor  é o poder – direto e
contra o devedor, imediato – do titular
sobre a coisa, com
tendo por objeto
exclusividade e contra
uma determinada todos.
prestação.   Cria um vínculo entre a
  Forma-se uma pessoa e a coisa (direito
relação de crédito e de propriedade), e esse
débito entre as vínculo dá ao titular uma
exclusividade em relação
pessoas ao bem (erga omnes).
Diferenças entre direitos
pessoais e direitos reais
Quanto à formação
 Os direitos reais têm  Os direitos pessoais não
origem na lei, não resultam da lei, nascem de
podem ser criados em contratos entre pessoas.
um contrato entre   Há 16 contratos nominados
no CCB, entretanto, é
duas pessoas, sendo, possível a criação de
por esse motivo, contratos inominados,
limitados. pois, para exsurgir um direito
  Seguem o princípio pessoal, basta que as partes
sejam capazes e o objeto
do numerus clausus seja lícito.
(número limitado).
  Seguem o princípio do
numerus apertus (número
aberto.)
CCB

 Art. 425. É lícito às partes estipular


contratos atípicos, observadas as normas
gerais fixadas neste Código.
Quanto ao objeto
 No direito das  No direito pessoal, o
coisas, o objeto é objeto é a prestação.
sempre um bem   Sempre que duas
corpóreo. pessoas celebram um
contrato uma delas
torna-se devedora de
uma obrigação em
relação à credora.
Quanto aos sujeitos
 No direito pessoal,  Nos direitos reais,
os sujeitos são o costuma-se dizer que
credor e o devedor o direito real
(sujeito ativo e sujeito somente possui o
passivo). sujeito ativo
porque este é ligado à
coisa (de um lado o
titular e do outro lado
a coisa).
Entretanto
 Essa explicação é meramente didática.
 Nos direitos reais, em princípio, o sujeito
passivo é indeterminado porque todas
as pessoas do universo devem-se abster
de molestar o titular do direito real (os
direitos reais são direitos oponíveis erga
omnes).
 No instante em que alguém viola o direito
do titular, o sujeito passivo se define.
Quanto à duração
 Os direitos pessoais  Os direitos reais são
são transitórios, perpétuos, não se
pois nascem, duram extinguindo pelo não
certo tempo e se uso, exceção feita às
extinguem (pelo causas expressas em
cumprimento, pela lei (Ex:
compensação, pela desapropriação,
prescrição, pela usucapião em favor
novação etc.). de terceiros,
perecimento da coisa,
renúncia etc.).
Relação jurídica e relação
obrigacional
 Relação jurídica é o liame que nos une a
nosso semelhante (pessoa física ou natural), a
uma pessoa jurídica ou ao Estado.
Obrigações humanas e obrigação
jurídica

 Os membros da sociedade
possuem obrigações de natureza
jurídica, moral, religiosa ou
puramente social.
Obrigação jurídica
 Para ser jurídica, a
obrigação deve contar
com o suporte da lei,
ainda quando se trate
de vínculo contratual,
uma vez que é a lei
que assegura o
cumprimento dos
pactos (pacta sunt
servanda)
Obrigação é relação jurídica
 A obrigação é uma
relação jurídica,
excluindo-se dela
“deveres alheios ao
direito, como o de
gratidão ou cortesia,
visto que o devedor
pode ser compelido a
realizar a prestação”
(Maria Helena Diniz)
Conceitos de
Obrigação
O que diziam os romanos?
 Obligatio est juris
vinculum, quo necessitate
adstringimur alicujus
solvendae rei secundum
nostrae civitatis jura
 Obrigação é o vínculo jurídico que
nos adstringe necessariamente a
alguém, para solver alguma coisa,
em consonância com o direito civil
(da nossa cidade)
O que diz o Venosa
 A obrigação jurídica “é
aquela protegida pelo
Estado, que lhe dá garantia
da coerção no
cumprimento, que depende
de uma norma, uma lei, ou
um contrato ou negócio
jurídico”.
 “Em toda obrigação
existe submissão a
uma regra de conduta.
A relação obrigacional
recebe desse modo a
proteção do Direito”.
O que diz o Paulo Nader?
 Sob o aspecto
subjetivo, é a
relação de
natureza
econômica
existente entre
Paulo Nader credor e devedor
O que diz o Carlos Roberto
Gonçalves?
 Obrigação é o
vínculo jurídico que
confere ao credor
(sujeito ativo)
direito de exigir do
devedor (sujeito
passivo) o
cumprimento de
determinada
 Carlos Roberto Gonçalves
prestação
O que diz o Antunes Varela?
 Obrigação consiste na
relação jurídica por
virtude da qual uma
pessoa pode exigir,
no seu interesse,
determinada
prestação de uma
outra, ficando esta
vinculada ao
correspondente dever
de prestar
A melhor definição de Obrigação
 “Obrigação é a relação
jurídica, de caráter transitório,
estabelecida entre devedor e
credor, cujo objeto constitui
uma prestação pessoal
econômica, positiva ou
negativa, devida pelo primeiro
ao segundo, garantindo-lhe
adimplemento (cumprimento)
 Washington por meio de seu patrimônio”.
 de Barros Monteiro
Maria Helena Diniz explica e
comenta
 “A obrigação possui
caráter transitório porque
não há obrigações
perpétuas; satisfeita a
prestação prometida,
amigável ou
judicialmente, exaure-se
a obrigação.
 “O objeto da
obrigação consiste
numa obrigação
pessoal; só a
pessoa vinculada
está adstrita ao
cumprimento da
prestação.
 “Trata-se de relação jurídica
de natureza pessoal, pois se
estabelece entre duas
pessoas (credor e devedor) ,
e econômica, por ser
necessário que a prestação
positiva ou negativa (dar,
fazer ou não fazer) tenha
um valor pecuniário, isto é,
seja suscetível de aferição
monetária.
 “Tem o credor à sua
disposição, como garantia
do adimplemento, o
patrimônio do
devedor (CC, Art.
391); assim embora a
obrigação objetive uma
prestação pessoal do
devedor, na execução por
inadimplemento desce-se
a seus bens”.
CCB

 Art. 391. Pelo inadimplemento das


obrigações respondem todos os bens do
devedor.
Obrigação jurídica sem conteúdo
patrimonial

 O dever de fidelidade entre os cônjuges e outros


do direito de família são obrigações sem
conteúdo patrimonial e não se incluem no
âmbito de nosso estudo
Fontes das Obrigações
Constituição Federal:
 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
 .......................
 II - ninguém será obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei;
A obrigação resulta
 1) da vontade do Estado, por
intermédio da lei
Exemplos

 obrigação de
prestar
alimentos
 obrigação do
patrão
responder
pelo ato do
empregado
 obrigação do
pai responder
pelo ato do
filho
A obrigação também resulta
 2) da vontade
humana, por meio dos
contratos (obrigação
de dar, fazer ou não
fazer), das
declarações
unilaterais da vontade
(promessa de
recompensa e título
ao portador)
E ainda resulta
 3) dos atos ilícitos (obrigação de reparar o
prejuízo causado a terceiro – ato ilícito
civil, previsto na Parte Geral do Código
Civil).
Alguns autores entendem que a única fonte de
obrigação é a lei, porque é ela quem obriga as
pessoas a cumprirem os contratos que celebram
ou as declarações de vontade que expressam ou,
ainda, a repararem os danos que causam.
 Vamos dizer, então,
que algumas vezes a
lei é a fonte
imediata (direta) da
obrigação (exemplo: a
obrigação alimentar),
outras vezes, porém,
ela é a fonte
mediata (indireta) da
obrigação.
Elementos constitutivos
da obrigação
1. Elemento subjetivo
 Diz respeito aos
sujeitos da
obrigação.
 Os sujeitos da
obrigação são
chamados de
credor (sujeito
ativo) e devedor
(sujeito
passivo).
Sujeito ativo

 É o credor, aquele
a quem é devida a
prestação.
 Tem o direito de
exigir seu
cumprimento
Sujeito passivo
 É o devedor,
aquele que tem o
dever jurídico de
cumprir a
prestação, sob
pena de responder
com seu
patrimônio
Multiplicidade de agentes nos polos

 Os polos – passivo
e ativo - da relação
obrigacional podem
ser ocupados por
uma ou mais
pessoas físicas ou
jurídicas
Exemplo
 Proprietária dá imóvel em locação a várias
pessoas
Determinação subjetiva
 Os sujeitos
podem ser
pessoas naturais
ou jurídicas,
devendo ser
determinados
ou, ao menos,
determináveis.
Indeterminação total é impossível
 Não se considera,
como capaz de
gerar uma
obrigação, um
contrato em que
os sujeitos sejam
indeterminados.
 Pode haver
contrato em que,
a princípio, um
dos sujeitos seja
indeterminado,
mas no qual
existam
elementos que
permitam
determinar o
sujeito
Exemplo
Em nosso exemplo português
 Alguém coloca um anúncio prometendo
recompensa para quem encontrar o
cachorro (“rafeiro” = vira-lata)
 De imediato não se sabe quem é o credor
da obrigação, mas a declaração traz
elementos que podem determinar o
sujeito ativo: quem encontrar o
cachorro (= sujeito determinável).
2. Elemento objetivo
 Toda obrigação tem o
seu objeto.
 O objeto da
obrigação é sempre
uma conduta humana
que se chama
prestação (dar, fazer
ou não fazer).
Objeto da prestação
 A prestação também
tem o seu objeto,
que se descobre com a
pergunta: o quê?
 Alguém se obriga a
fazer – fazer O QUÊ?
Ius creditoris
 Essa prestação
debitória, que é o
objeto da relação
obrigacional, é ação ou
omissão a que ficará
adstrito o devedor e
que o credor terá
direito de exigir.
Objeto mediato e imediato
 O objeto imediato da
obrigação é a
prestação, e o objeto
mediato da obrigação é
aquele que se descobre
com a pergunta o quê?
Exemplo
 Obrigação de dar 200
sacas de café
 (É obrigação de dar coisa
certa)
 Objeto imediato da
obrigação:
 a obrigação de dar
 Objeto mediato da
obrigação:
 as 200 casa de café
Requisitos de validade da prestação
 O objeto imediato da obrigação - a
prestação – deve ser
lícito, possível , determinado ou
determinável,
e não difere daquilo que se exige do objeto
da relação jurídica em geral, como estatui
o Art. 104 do CCB.
CCB
 Art. 104. A validade do negócio jurídico
requer:
 I - agente capaz;
 II - objeto lícito, possível, determinado ou
determinável;
 III - forma prescrita ou não defesa em lei.
O objeto lícito
 Objeto ilícito
seria aquele que
atenta contra a
lei, a moral ou
os bons
costumes
A voz dos Tribunais
 Sendo imoral o objeto
jurídico da obrigação, os
Tribunais aplicam o
princípio nemo auditur
propriam
turpitudinem allegans
(a ninguém é dado
beneficiar-se da própria
torpeza)
Ou ...
 ... a parêmia in pari causa turpitudinis
cessat repetitio (se ambas as partes no
contrato agiram com torpeza, não pode
uma delas pedir devolução da importância
que pagou).
Quem é que se lembra?
 CCB

 Art. 150. Se ambas as partes procederem


com dolo, nenhuma pode alegá-lo para
anular o negócio, ou reclamar indenização.
E tem ainda ...
 CCB
 Art. 883. Não terá direito à repetição
aquele que deu alguma coisa para obter
fim ilícito, imoral, ou proibido por lei.
 Parágrafo único. No caso deste artigo, o
que se deu reverterá em favor de
estabelecimento local de beneficência, a
critério do juiz.
O objeto possível
 A impossibilidade do
objeto poderá ser
física ou jurídica.
 Impossibilidade
física é a da
prestação que
ultrapassa as forças
humanas, real e
absoluta, alcançando
a todos
indistintamente.
A impossibilidade relativa

 É aquela que atinge o devedor da prestação


mas não outras pessoas.
 Essa não constitui obstáculo ao negócio
jurídico
CCB
 Art. 106. A impossibilidade inicial do
objeto não invalida o negócio jurídico se
for relativa, ou se cessar antes de
realizada a condição a que ele estiver
subordinado.
Impossibilidade jurídica
 O ordenamento jurídico proíbe
expressamente negócios a respeito de
determinado bem, como, por exemplo:

 a herança de pessoa viva (Art. 426 CCB)


 o bem público (Art. 100 CCB)

 os bens gravados com cláusula de


inalienabilidade
 Qualquer
que seja a obrigação
assumida pelo devedor, ela se
subsumirá sempre a uma
prestação
A prestação será:
 de dar – coisa certa (Arts 233 e s CCB),
ou incerta (indeterminada quanto à
qualidade: Art. 243 CCB), ou restituir
 de fazer – que pode ser fungível ou
infungível (Arts. 247 e 249) e de emitir
declaração de vontade (CPC, Art. 466-B)
 de não fazer – Arts. 250 e s CCB
Exemplo de dar coisa certa
 Na compra e venda, o vendedor se obriga a
entregar a coisa alienada (objeto da
prestação) ao adquirente e este o preço
Exemplo de restituição
 Ao final do comodato, o comodatário tem
a obrigação de restituir a coisa infungível
ao comodante
3. Vínculo jurídico
 É imaterial, abstrato
 É o liame legal que
sujeita o devedor a
determinada prestação
em favor do credor
 Abrange o dever da
pessoa obrigada
(debitum) e sua
responsabilidade em
caso de não-
cumprimento(obligatio).
Obrigação e
Responsabilidade

 A obrigação
difere da
responsabilidade.
 A obrigação,
quando
cumprida,
extingue-se.
Nascimento da responsabilidade
 A obligatio não cumprida gera a
responsabilidade por perdas e danos (Art.
389 CCB).
 A responsabilidade somente nasce quando não
for cumprida a obrigação.
 Há, entretanto, dois casos de obrigação não
cumprida e que não geram
responsabilidade: dívidas prescritas e
dívidas de jogo (não podem ser cobradas)

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