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A cena de enunciação

As três cenas

Uma tripla interpelação

Um texto não é um conjunto de signos inertes, mas o


rastro deixado por um discurso em que a fala é
encenada.
Por que cada mulher
é diferente, WEEK-END criou
uma fórmula emagrecedora sob medida
em 1, 3 ou 5 dias.
Que reunião! Esses cafés da manhã
de negócios, todos aqueles croissants, aqueles
pãezinhos, era tanta tentação que não
pude resistir...Mas eu vou dar um
jeito nisso. Ao meio-dia, vou reagir.
Um encontro com a boa forma: somente WEEK-END e eu.
Práticos, esses saquinhos que a gente carrega aonde vai. Sabor de baunilha
ou de legumes, meus quilinhos a mais vão logo desaparecer. Os
intervalos para a boa forma WEEK-END
e seus cardápios equilibrados, isso
conta muito na agenda
de uma gulosa.
Qual é a cena de enunciação desse texto?

Três respostas são possíveis, dependendo do ponto


de vista:

– a cena de enunciação é a do discurso publicitário


(tipo de discurso);
– a cena de enunciação é a de uma publicidade em
revista feminina (gênero de discurso);
– a cena de enunciação é a de uma conversa ao
telefone em que, do escritório, uma executiva, fala
com uma amiga (cenografia).
WEEK-END é uma nova refeição emagrecedora que lhe
permite dosar seus esforços.
Conforme os quilos que você precisa perder e a
rapidez com que deseja perdê-los, você escolhe um
regime de um, três ou cinco dias.
WEEK-END existe em duas versões : salgada (sabor
legumes) e doce (sabor baunilha).
WEEK-END contém fibras e todos os elementos
nutritivos necessários à sua saúde, por isso seu
médico ou seu farmacêutico não hesitarão em
recomendá-lo.
Cenografia 1 - Conversa ao telefone Cenografia 2 - Exposição didático-
científica
Que reunião! Esses cafés da
manhã de negócios com todos WEEK-END é uma nova refeição
os seus croissants e pãezinhos,
emagrecedora que lhe permite
era tanta tentação que não
pude resistir... Mas vou dar um dosar seus esforços.
jeito nisso. Ao meio-dia, vou Conforme os quilos que você
reagir. Um encontro com a boa precisa perder e a rapidez com que
forma: somente WEEK-END deseja perdê-los, você escolhe um
e eu. Práticos, esses saquinhos regime de um, três ou cinco dias.
que a gente carrega aonde vai.
Sabor baunilha ou legumes, WEEK-END existe em duas
meus quilinhos a mais vão versões : salgada (sabor legumes) e
logo desaparecer. As pausas doce (sabor baunilha).
para manter a boa forma WEEK-END contém fibras e todos
WEEK-END e seus cardápios os elementos nutritivos necessários
equilibrados, isso é coisa que à sua saúde, por isso seu médico
conta bastante na agenda de
uma pessoa gulosa. ou seu farmacêutico não hesitarão
em recomendá-lo.
"Vocês têm pressa..."

1º Vôo sem escala Paris Hong Kong.


Não diremos mais nada, vocês têm pressa.
Em poucas palavras, todas as segundas-feiras, a partir de 18 de
setembro, Cathay Pacific é a única companhia aérea a oferecer
um vôo para Hong Kong em tempo recorde. Esse primeiro vôo
sem escala será seguido por um segundo no dia 2 de novembro.
Um total de 5 vôos semanais, dos quais 3 com uma escala
esperam por vocês partindo de Roissy. A respeito dos nossos
serviços para o extremo-oriente, falaríamos durante horas. Mas
vocês são homens de negócios e seus negócios não esperam.
Logo, seremos breves: Cathay Pacific faz tudo para vocês
chegarem com boa disposição. Contactem sua agência de
viagens ou Cathay Pacific pelo telefone 42 27 70 05.
Arrive in better shape
Cathay Pacific.
Richard McGee levanta-se muito antes do amanhecer. No frescor
e no silêncio das manhãs do Tennessee, ele roda os pesados
barris de Jack Daniel’s através dos armazéns de
envelhecimento. Lentamente; no seu ritmo; sempre o mesmo.
Na destilaria Jack Daniel’s, nunca fazemos nada com pressa.
Tate Gallery : Milbank, SW1. M. Pimlico (mapa II, C3).
Aberta das 10h às 17h50 durante a semana e das
14h às 17h50 aos domingos. Entrada gratuita.
Seguramente, um de nossos museus preferidos em
Londres. Realmente delirante. Grosso modo, o
museu pode-se dividir em duas grandes seções :
1/3 mostra a pintura inglesa dos séculos XVI, XVII e
XVIII e 2/3 apresentam um grande leque da pintura
e da escultura mundial do século XX. Um montão de
obras-primas [...]

Le Guide du routard, Grã-Bretanha,


1994-1995, Hachette, p. 107.
Cenografia e discurso de propaganda política
“Carta” escrita por F. Mitterand – campanha presidencial de 1988

Meus caros compatriotas,

Vocês o compreenderão. Desejo, nesta carta, falar-lhes da França. Graças à


confiança que depositaram em mim, exerço há sete anos o mais alto encargo da
República. No final desse mandato, não teria concebido o projeto de apresentar-
me novamente ao sufrágio de vocês se não tivesse tido a convicção de que nos
restava ainda muito a fazer juntos ...
Mas quero também falar de vocês, de suas preocupações, de suas esperanças e
de seus justos interesses.
Optei por escrever-lhes uma carta para me expressar sobre todos os grandes
temas que merecem ser tratados e discutidos entre Franceses, uma espécie de
reflexão em comum, como acontece quando a família se reúne à noite, em volta
da mesa. (...)
François Mitterrand
• A cenografia refere-se ao texto concreto no qual um
gênero de discurso se atualiza.
• Relação gêneros e cenografias - distribuição em uma
linha contínua, com dois pólos extremos:
- de um lado, gêneros que exigem a escolha de uma
cenografia: publicitários, políticos, literários etc.
- de outro, gêneros que se limitam ao cumprimento de
sua cena genérica e não são suscetíveis de adotar
cenografias variadas: lista telefônica, receitas médicas.
- entre os dois pólos, gêneros suscetíveis de cenografias
variadas mas, na maioria das vezes, limitam-se ao
cumprimento de sua cena rotineira: guia turístico.
gênero cenografia
publicidade
em revista feminina Conversa íntima

Explicação didático-científica

propaganda eleitoral Carta pessoal

Folheto

Spots
iv. Modo de enunciação

- Ethos

Alguns princípios

• O ethos é uma noção discursiva, isto é, é construído por


meio do discurso, não é uma “imagem” do enunciador
exterior a sua fala;
• O ethos é fundamentalmente um processo interativo de
influência sobre o outro;
• É um comportamento socialmente avaliado, apreendido
em uma situação de comunicação precisa, integrada em
uma determinada conjuntura sócio-histórica.
• Tal noção permite refletir sobre o processo mais geral de
adesão dos sujeitos a um certo discurso.
Caráter e corporalidade

• O co-enunciador deve construir, a partir de indícios


textuais, a figura do enunciador ao qual é atribuído
um caráter e uma corporalidade, cujo grau de
precisão varia segundo os textos:

- o caráter corresponde a uma gama de traços


psicológicos;

- a corporalidade corresponde a uma compleição


corporal e a uma maneira de se vestir e de se
movimentar no espaço social.
- o caráter e a corporalidade do enunciador provêm
de um conjunto difuso de representações sociais,
valorizadas ou desvalorizadas, sobre as quais se
apóia a enunciação que pode confirmá-las ou
modificá-las.

- tais representações constituem estereótipos


culturais que circulam nos domínios mais diversos:
literatura, fotografia, cinema, publicidade etc.
Incorporação

• Utiliza-se essa designação para indicar a maneira como o


coenunciador se apropria do ethos do enunciador.
• A incorporação opera por meio de um procedimento
enunciativo em três registros indissociáveis:
- a enunciação confere uma “corporalidade” ao
enunciador, ela lhe dá corpo;
- o coenunciador incorpora, isto é, assimila um conjunto
de esquemas que correspondem a uma forma
específica de se inscrever no mundo;
- essas duas primeiras incorporações permitem a
constituição de um corpo, o da comunidade imaginária
dos que aderem a um mesmo discurso.
Eficácia da noção de ethos

• O coenunciador interpelado não é apenas um


indivíduo para quem se propõem "idéias"

• É também alguém que tem acesso ao dito por meio


de uma maneira de dizer que está enraizada em uma
maneira de ser, o imaginário de um vivido.

• Para exercer um poder de captação, o ethos deve


estar afinado com estereótipos, valores sociais
partilhados por um grupo.
Princípio da interincompreensão

- A interação entre os discursos é um processo de


tradução: cada discurso traduz os enunciados do Outro
de acordo com seu sistema de coerções, transformando-o,
isto é, fazendo dele um simulacro.

- Interincompreensão - “... não é o discurso do adversário


apreendido em seu funcionamento efetivo que é citado e
anulado, mas um simulacro, construído como seu próprio
negativo.
Simulacro

• O interdiscurso precede o discurso no seguinte sentido: o


Outro é desenhado a partir do Um.

• Cada discurso introduz o Outro em seu fechamento,


“traduzindo” seus enunciados sob a forma de simulacro.
Se isso ocorre ou não, depende de haver confronto entre
discursos.

• A “capacidade” de produzir um discurso e o simulacro do


antagonista a partir das coerções do discurso de origem
explica-se pelo princípio da competência interdiscursiva.
Código linguageiro

Falência da língua como instrumento de


comunicação

Enunciar é se confrontar não com uma língua, mas com


uma interação de línguas passadas e contemporâneas
(interlíngua).
Enunciar é negociar um código linguageiro.
Interlíngua

Relações, numa determinada conjuntura, entre as


variedades da mesma língua e também entre
essa língua e as outras, passadas ou
contemporâneas.
A noção de interlíngua visa à heteroglassia
extrema. (M. Bakhtin).
Plurilinguismo externo
Relação que uma obra mantém com “outras” línguas.
Ex: Em A montanha mágica, Thomas Mann faz Hans Castorp
e a senhora Chauchat, a russa enigmática (cap. 5,
Walpurgisnacht), dialogarem longamente num francês
recheado de alemão: o francês aparece como a língua do
eros numa noite entre parênteses, noite de carnaval.

Plurilinguismo interno (pluriglossia)


Relação que uma obra mantém com a diversidade de uma
mesma língua.
Essa relação pode ser de naturezas diferentes:
- Ordem geográfica – dialetos, regionalismos.
- Ordem social – popular, aristocrática
- Situação de comunicação/ línguas de especialidades –
médica, jurídica
- Níveis de linguagem – familiar, formal.

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