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• DE VENTO EM POPA, OS MOTORES DE POPA


• O número de pessoas que hoje se dedica aos esportes náuticos é maior do que
nunca. Os americanos, por exemplo, gastam mais dinheiro nisso do que em qualquer outro
divertimento.
• A Finlândia tem maior número de motores de popa per capita do que qualquer
outro país europeu. Em Helsinque todas as tardes de verão, por volta das dezesseis horas,
vêem-se multidões de homens de negócios e das profissões liberais saindo da cidade em
barcos a motor, em demanda de ilhas onde possuem casas de campo. As docas da
cidade, vazias à noite, ficam coalhadas, todas as manhãs de centenas de barcos.
• A alma desse extraordinário surto de interesse pela navegação como esporte é o
motor de popa – o velho motorzinho que durante ano foi o barulhento e desprezado
refugo do mundo marítimo. Apurados e aperfeiçoados, os motores de popa impulsionam
hoje 90% dos barcos a motor.
• A fabricação de motores de popa é a única indústria que se conhece fundada por
marido e mulher. O homem era Ole Evinrude, nascido na Noruega, levado para os Estados
Unidos aos cinco anos de idade, criado num sítio de Wiscosin. Ole abandonou o sítio aos
dezesseis anos, trabalhou em fábricas em várias cidades e acabou finalmente em
Milwaukee, fazendo moldes de madeira para servirem como formas aos fabricantes de
artigos de ferro fundido.
• As máquinas o fascinavam, principalmente os motores. Por volta de 1900, Ole
construiu um carro, usando quatro motores Harley Davidson montados numa estrutura de
carvalho. A máquina não atraiu financiadores. Mais tarde, ele idealizou um motor a
gasolina, imaginando que a nascente indústria de automóveis deveria precisar de um
motor padronizado que se pudesse instalar em qualquer carruagem sem cavalos.
Associou-se a um negociante de móveis aposentado e formou a Companhia de
Equipamentos de Força Motriz para Automóveis.
• Essa companhia não foi bem sucedida e Ole voltou a fabricação de moldes. Esse era ainda
o seu ofício quando se casou com Bess Cary, uma moça de Milwaukee, em 1906.
• Nas horas vagas, no porão de uma casa de cômodos, Ole trabalhava numa
engenhoca destinada a tornar o nome de Evinrude conhecido no mundo inteiro – um motor
a ser colocado na popa dos barcos de remo. A idéia não era nova; um francês já tirara uma
patente em 1864, e em 1907 uma firma de Detroit pôs no mercado um motor chamado
Waterman Porto. Mas Evinrude queria construir um para si. Em abril de 1909, fez
experiências com o primeiro, num bote de aluguel. O motor deu para fazer o bote correr a
oito quilômetros por hora. Ole produziu um modelo aperfeiçoado, emprestou-o um domingo
a um amigo e dentro de pouco tempo recebeu encomendas, que foi produzindo como e
quando podia.
• Teria ficado tudo por isso mesmo, uma atividade de horas vagas, se não fosse
Bess Evinrude. Convencida de que os motores de popa poderiam vir a ser um grande
negócio, ela discutiu durante meses com o despreocupado Ole. Finalmente, escreveu um
anúncio e publicou-o num jornal de Milwaukee: “Não reme! Jogue fora os remos!” Foi
acumulando as respostas até fazer uma grande pilha, e uma noite mostrou o volume todo
a Ole.
• Na companhia que formaram, Ole tratava da produção, enquanto Bess cuidava da
distribuição, vendas e publicidade, escondendo que era mulher assinando as cartas com
“B.Evinrude”. Bell tinha um espírito comercial atilado e muita imaginação. Quando notou
que as encomendas decresciam durante o inverno, organizou uma firma exportadora, que
introduziu os motores de pop americanos na Escandinávia. Daí a pouco tempo tinha
encomendas para manter a fábrica em atividade o ano inteiro.
• Em 1913 tinham 300 empregados, Evinrude era uma palavra internacionalmente conhecida, e
Theodore Roosevelt levava motores de popa para o Brasil para explorar o Rio da Dúvida (Rio
Amazonas). Os Evinrudes venderam o negócio por 140.000 dólares, mas dentro de poucos anos
reapareceram com um novo motor de popa de dois cilindros, chamado Elto. Em meados da década de
20 o Elto estava vendendo mais que o Evinrude, e em 1929 as duas companhias se fundiram numa
firma que ganhou o nome de Outboard Marine, tendo Ole como presidente. Bess morreu em 1933 e Ole
14 meses depois.
• Em segundo lugar como impulsionadores da indústria dos motores de popa nos Estados
Unidos da América, vêm os três irmãos Johnson – Lou, Harry e Clarence – que em 1921 verificaram
que o seu negócio – fabricação de motores de bicicleta – estava em decadência. Trocaram para
motores de popa, ajudaram a estimular a atingiu gravemente a Companhia Johnson, e em 1936 foi
absorvida pela Outboard Marine, que tem atualmente 7500 empregados, fabrica motores Johnson e
Evinrude e também produz motores de popa para firmas especializadas em vendas por reembolso
postal e outras empresas.
• Durante a Segunda Guerra Mundial, Johnson e Evinrude construíram 18.000 motores de popa
especiais para as Forças Armadas Americanas. Os combatentes de engenharia os usavam para
colocar rapidamente nos devidos lugares pontões para pontes; a Marinha dos Estados Unidos lançava-
os de bordo de aviões, juntamente com barcos salva-vidas de borracha, para as tripulações de
bombardeiros caídos no mar. A aplicação mais espetacular que tiveram foi quando Montgomery fez a
travessia do Reno, em massa, e as primeiras ondas atacantes foram transportadas em centenas de
barcos de assalto movidos por esses motores de popa.
• Hoje em dia, muitas famílias, em vez de alugarem uma casa para os finais de semana e nas
férias, investem o dinheiro num barco e passam o tempo de folga em cruzeiros náuticos, acampando
aqui e ali. Frequentemente descobrem um mundo inteiramente novo: solidão, ilhas cujas existências
eram ignoradas, pequenas enseadas para nadar e fazer piqueniques em paisagens sensacionais nunca
vistas das estradas.
• A maioria dos motores de popa são hoje usados para divertimento, contudo, eles têm muitas
aplicações úteis pelo mundo. Os pescadores foram os primeiros a usá-lo comercialmente, e nos últimos
anos o motor de popa revolucionou a indústria da pesca em certas regiões do mundo. Nas Filipinas e
nas Índias Orientais os pescadores que antigamente não podiam se aventurar muito longe da terra
afastam-se agora até 30 quilômetros. Alguns fazem duas ou três pescarias por dia, em vez de uma.
• Em alguns lagos de Ontário, no Canadá, juntam-se imensas jangadas de toros, prega-se um pedaço de madeira num
dos toros de trás e aí se encaixa um motor de popa para impulsionar a jangada até alguma fábrica de papel. Na costa
desprotegida de Honduras, os motores de popa vêm sendo usados como força motriz das barcaças que descarregam os
navios cargueiros. Paris emprega barcaças de madeira movidas por motores de popa para a limpeza de seus imensos
esgotos subterrâneos. Em 1956, o Jornal France-Soir começou a usar barcos com motor de popa para transportar
rapidamente as suas últimas edições a Saint-Cloud, Charenton e outros bairros. Quatro barcos transportavam 80.000
jornais por dia, diminuindo as despesas e reduzindo à metade o tempo de entrega.
• Ole Evinrude, o menino imigrante, que partiu da Escandinávia para os Estados Unidos, ainda no século XIX,
ficaria muito satisfeito de ver como o seu pequeno motor de popa havia crescido.

• Passados 51 anos da publicação dos fatos supracitados, redigidos por Don Wharton e publicado no
exemplar de setembro de 1957 da Revista Seleções do Reader`s Digest, deparamo-nos novamente com o enfoque do
assunto “embarcações de recreio” na edição nº140 da Revista Náutica, trazendo-nos dados do ano 2000. Na citada
reportagem desperta nossa atenção o levantamento pertinente ao número de embarcações de recreio existentes no
Brasil, vinculando a relação barco por habitante:
• PAISRELAÇÃO BARCO/HABITANTEEstados Unidos1 a cada 20 americanosArgentina1 a cada 300 argentinosBrasil1 a
cada 1600 brasileiros
• A produção de embarcações de esporte e recreio girava, nessa época, em torno de 3000 unidades por ano
no Brasil, fabricando embarcações dos mais diversos tipos de tração, porém, em sua maioria, movidas por motores de
popa.
• A cada mil barcos fabricados no país, eram gerados 7.400 empregos diretos e indiretos, nas mais
diferentes áreas da indústria, comércio e serviços (clubes náuticos, marinas, cursos, manutenção, eventos e turismo).O
setor era responsável pela geração de 117 mil postos de trabalho, apesar do fechamento de 50 estaleiros que foram
afetados pelas sucessivas crises econômicas das últimas décadas, resultando no fechamento de 6 mil postos de
trabalho.
• Associado a tais fatos, com satisfação vislumbramos nos esportes náuticos
• um futuro promissor para nossas cores. Ao longo das últimas décadas o Brasil vem revelando ao mundo sua forte
presença, obtendo conquistas que o colocam em posição destacada no cenário internacional, graças, em parte, à
generosa natureza que nos privilegiou ótimos locais para a prática dessas modalidades esportivas. Como exemplo mais
recente, ressaltamos a vela brasileira, que começou os Jogos Olímpicos de Pequim como o esporte que mais tinha
conquistado medalhas para o Brasil. Durante a competição, chegou a perder o posto para o judô, mas ao fim recuperou
seu status. Foram duas medalhas, uma de prata e uma de bronze. Ao todo, são 16 pódios na história.
• Em Pequim tivemos uma conquista inédita. Pela primeira vez, o país conquistou uma medalha feminina na
modalidade. Tal honra coube à Fernanda Oliveira e Isabel Swam, medalhistas de bronze na classe 470 Feminina. As
duas completaram sua participação com uma vitória na Medal Race.

• Na classe Star, Robert Scheidt e Bruno Prada ficaram com a medalha
de prata. A conquista fez de Scheidt o primeiro atleta brasileiro a subir
no pódio em quatro edições consecutivas de Jogos Olímpicos. Em
Atlanta-1996 e Atenas-2004, o velejador foi ouro, enquanto que em
Sydney-2000, ficou com a prata. Todas as três primeiras conquistas
foram na classe Laser. Nas demais classes, destaque para a conquista
do britânico Ben Ainslie, na Finn. O ouro foi o terceiro consecutivo de
sua carreira. O velejador também foi campeão em Atenas-2004. Em
Sydney-2000, foi responsável por tirar a vitória de Robert Scheidt na
classe Laser.
• Pedro Luiz Lemos
• O autor do trabalho é Oficial da Marinha do Brasil e Licenciado em
Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
• Referência Bibliográfica
• Reader`s Digest, Revista Seleções. Edição de setembro de 1957,
Editora Ypiranga, S.A. Rio de Janeiro. Brasil.
• Náutica, Revista. Edição de abril de 1999. Editora

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