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Aula 5

Sociedade brasileira entre


1930 e 1967
ECONOMIA BRASILEIRA
C O N T E M P O R Â N EA I
2 º Q UA D R I M ES T R E D E 2 0 1 9
P R O F E S S O R R O D R I G O P. S . C O E L H O
Estrutura da aula
1. Conceito de cidadania
2. Cidadania no Brasil entre 1930 e 1964
3. Identidade Nacional em questão (interpretações e cultura)

BIBLIOGRAFIA:
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho.
(Cap. II) Rio e Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
Cidadania
Thomas Humprey (T. H.) Marshall define, em
1949, o conceito de cidadania no seminal
ensaio Cidadania, Classe Social e Status.

“A cidadania é um status concedido àqueles


que são membros integrais de uma
comunidade. Todos aqueles que possuem o
status são iguais com respeito aos direitos e
obrigações pertinentes ao status” (p.76).
Cidadania
A grande questão é a do pertencimento a uma sociedade e da
titularidade de direitos.
◦ Charles Tilly: “um elo que gera obrigações mútuas entre o Estado e
pessoas”
◦ Bryan Turner: “[a] cidadania pode ser definida como um conjunto de
práticas (jurídicas, políticas, econômicas e culturais) que define uma
pessoa como um membro competente da sociedade,e que
conseqüentemente molda o fluxo de recursos para pessoas e grupos
sociais”
Trata-se, afinal, de um fenômeno histórico ligado à emergência do
Estado-Nação (final do século XVIII)
3 Dimensões da Cidadania
- Direitos civis: proteção contra o Poder (Estado e Igreja);

- Direitos políticos: participação no poder do Estado;

- Direitos sociais: apoio do Estado para garantia de qualidade


mínima de vida.
Especificidade do caso brasileiro
Maior ênfase dos direitos sociais frente aos
demais;

Sequência própria: os direitos sociais precederam


os demais (e se desenvolveram apenas em
cenários de restrição de direitos políticos e civis)

◦ 1930-1945: direitos sociais em contexto de


progressiva restrição de direitos civis e políticos;

◦ 1946-1964: fortalecimento de direitos políticos e


civis sem alteração na forma dos direitos sociais.
Marcos pré-1930
Profundos questionamentos no mundo sobre o liberalismo
(não apenas econômico):
◦ Grande Depressão de 1876-1896 e a impossibilidade de
responsabilização individual / OIT (1919)
◦ Revolução russa
◦ Quebra da bolsa

E no Brasil?:
◦ República com fortalecimento dos estados
Antes de 1930 havia pouca participação
política
Em 1881, a lei estabeleceu que só votariam:
◦ Homens;
◦ Com renda superior a 200 mil reis (valor baixo, não faria uma regra de corte
radical);
◦ Alfabetizados (apenas 15% da população era alfabetizada, 20% dos homens –
aqui estava a restrição);
◦ Que tivessem vontade (voto opcional).
Em 1886, 0,8% da população votou;
◦ Como comparação: em 2018, 115.933.451 votaram; com a população de
202.768.562 de 2019, significa 57,2%
Ainda sobre Manifestações políticas
Movimentos de camadas populares reprimidos com força, seja os que pediam a
volta da monarquia (Canudos e Contestado), seja o que apresentavam outras
demandas (Revolta da vacina e Revolta da chibata).
Movimentos de classe média urbana tendo êxito (maior ou menor) em suas
manifestações (Tenentismo)

◦ “Pode-se concluir, então, que até 1930 não havia povo organizado politicamente
nem sentimento nacional consolidado. A participação na política nacional,
inclusive nos grandes acontecimentos, era limitada a pequenos grupos. A grande
maioria do povo tinha com o governo uma relação de distância, de suspeita,
quando não de aberto antagonismo. Era uma cidadania em negativo, se se pode
dizer assim” (página 83).
Antes de 1930, imperava um vazio de
direitos sociais
Sem política social, logo havia caridade (ao invés de assistência social) e
sindicalismo autônomo.
A legislação do trabalho era voltada para atender ao capital (e não para proteger
o trabalhador):
◦ Código de menores (que regulamentou o trabalho: pode ser aprendiz a partir dos 11 anos, se
completou o primário ser trabalhador a partir dos 12 anos, se não completou, a partir dos 14
anos. Em situação de trabalho com família, não existe limite)
◦ Lei de expulsão de estrangeiros sindicalistas anarquistas (reação à força do movimento
sindical em 1917)

1923 foi criada a Caixa de Aposentadoria e Pensão dos ferroviários; em 1930,


havia 47 caixas.
Cidadania no Brasil entre 1930 e 1945
Movimentando-se:

◦ do Governo Provisório (1930-1934) ao Governo Constitucional (1934-1937);

◦ e deste chegando ao Estado Novo (1937-1945).

Ao mesmo tempo que há a perda de direito civis e políticos, há o


início da construção de um sistema de proteção social.
Direitos Políticos
Dado inicial: Houve uma participação popular maior na Revolução
de 30 do que na proclamação da República (página 96).
1933: criado o voto secreto, permitido o voto feminino, criada a
justiça eleitoral;
Movimentos Populares Nacionais:
◦ Aliança Nacional Libertadora (ANL - comunista);
◦ Ação Integralista Brasileira (AIB – fascista)

1937 – Golpe, via denúncia do Plano Cohen


Direitos Civis
“De 1937 a 1945 o país viveu sob um regime ditatorial civil, garantido pelas
forças armadas, em que manifestações políticas eram proibidas, o governo
legislava por decreto, a censura controlava a imprensa, os cárceres se enchiam
de inimigos do regime” (página 109)
◦ Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos
◦ Trilogia Subterrâneos da Liberdade, de Jorge Amado

“A defesa mais notória no currículo de Sobral Pinto foi a de Harry Berger, comunista preso no Brasil
durante a ditadura do Estado Novo e torturado até ficar louco. Para ele, Sobral Pinto invocou a Lei de
Proteção aos Animais: “Esta lei diz que nenhum animal pode ser posto numa situação que não esteja
de acordo com sua natureza. Um cavalo não pode ficar dentro de uma baia a vida inteira, tem que
sair, galopar, isto é da sua natureza. O Homem também não pode ficar numa situação dessas,
contrária a tudo que há na sua natureza e na sua psicologia”.” (https://www.conjur.com.br/2014-abr-
01/herois-advocacia-resistencia-regime-generais2)
Direitos Sociais
Criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, em 1930
1932 – jornada de 8 horas/regulamentação do trabalho feminino (proibição de
trabalho noturno e igualdade salarial) / criação da carteira de trabalho / criação de
Comissões e Juntas de Conciliação e Julgamento
1933 – Transformação de Caixas de Aposentadoria e Pensão (por empresa) em
Institutos de Aposentadoria e Pensão (por ramo de trabalho). Até 1938, quase todos
os trabalhadores urbanos formais estavam protegidos pela previdência
1934 – regulamentação de férias
1940 – implementação do salário mínimo
1941 – criação da justiça do trabalho
1943 – CLT
Corporativismo
O modelo corporativista foi buscado pelo Governo, e alcançou maior
sucesso nas relações entre Capital e Trabalho.
◦ “As relações entre capital e trabalho deveriam ser harmônicas, e caberia ao
Estado garantir a harmonia, exercendo papel de regulação e a arbitramento. A
organização sindical deveria ser o instrumento da harmonia. O sindicato não
deveria ser um órgão de representação dos interesses de operários e patrões,
mas de cooperação entre as duas classes e o Estado” (página 115).

1931 – decreto regulamentando o sindicalismo


1940 – criação do imposto sindical
Cidadania no Brasil entre 1945-1964
Engloba:
- Governo Dutra

- Segundo Governo Vargas

- Governo JK

- Governo Jânio / Jango

Período marcado pela retomada de direitos políticos e civis.


Direitos Civis e Políticos
“A Constituição de 1946 manteve as conquistas sociais do
período anterior e garantiu os tradicionais direitos civis e
políticos” (página 127).

Organizaram-se mais de uma dezena de partidos políticos


nacionais, principalmente:
◦ PTB – Partido Trabalhista Brasileiro
◦ PSD – Partido Social Democrático
◦ UDN – União Democrática Nacional
◦ PCB – Partido Comunista Brasileiro
Força de entidades nacionais:
◦ UNE – União Nacional os ◦ ESG – Escola Superior de
Estudantes Guerra
◦ CGT – Central Geral dos ◦ IBAD – Instituto Brasileiro de
Trabalhadores Ação Democrática
◦ Ligas Camponesas ◦ IPES – Instituto de Pesquisa e
Estudos Sociais
Principais embates políticos do período
Vargas
- Guerra Fria

- Política Trabalhista e Sindical

- Petróleo

- Crítica ao populismo
Golpismo na metade do século XX
- Contra Vargas:

- Contra a posse de JK:

- Contra a posse de Jango:

- Contra o esquerdismo
de Jango.
Neste contexto:
- Juscelinoconseguiu
governar com relativa
tranquilidade;

- Jânio Quadros tentou


seu próprio golpe;

- Jango não resistiu.


Direitos sociais
Não se avançou radicalmente na ampliação da base de segurados
pela Previdência (apenas se incorporou profissionais liberais, via Lei
Orgânica da Previdência Social e 1960);
◦ Modelo de Institutos de Aposentadorias e Pensões;
◦ Seguro de trabalho nas mãos de empresas privadas;
◦ Sem abarcar trabalhadores rurais, trabalhadores autônomos e os
trabalhadores domésticos.
Estatuto do Trabalhador Rural (1963): estendeu a legislação
trabalhista formalmente ao campo (por exemplo, a Previdência
Social ficou como “letra morta” da lei)
A questão da Identidade
Nacional
Interpretações do Brasil,
segundo Antônio Cândido
Em meados do século XX, três livros levaram uma geração a refletir e se interessar pelo Brasil, obras que
pareciam exprimir a mentalidade ligada ao “sopro” de radicalismo intelectual e análise social impulsionado
após a Revolução de 1930.
A anticonvencional composição extremamente livre e franca de Casa Grande e Senzala, como no tratamento
dado à vida sexual do patriarcalismo, e a importância decisiva atribuída ao escravo na formação do modo de ser
do brasileiro causou forte impacto na época. Informações e dados que ensejavam noções e pontos de vistas
inovadores no Brasil de então. Entretanto, a preocupação do autor com problemas de fundo biológico (raça,
aspectos sexuais da vida familiar, equilíbrio ecológico alimentação) dialogava com o naturalismo dos velhos
intérpretes da nossa sociedade, como Sílvio Romero,Euclides da Cunha e Oliveira Vianna.
Três anos depois aparecia Raízes do Brasil. Livro curto, de poucas citações, mas que, entre outras influências,
fornecia indicações importantes para compreenderem o sentido de certas posições políticas daquele momento,
em que se se buscava soluções novas, fosse à direita, no integralismo, fosse à esquerda, no socialismo e no
comunismo.
Seis anos depois do livro de Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr. lançava Formação do Brasil
Contemporâneo. Interpretação do passado em função das realidades básicas da produção, da distribuição e do
consumo. Nele, o autor afasta-se do ensaísmo (marcante nos outros dois livros), prioriza dados e argumentos
em detrimento de categorias qualitativas como “feudalismo” ou “família patriarcal”. O materialismo histórico
aparecia como forma de captação e ordenação do real, desligado do compromisso partidário ou desígnio
prático imediatista.
E assim se passaram apenas 30 anos

A Redenção de Cam, Modesto Brocos, 1895 Samba, Di Cavalcanti, 1925

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