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Determinantes sociais na saúde, na

doença e na intervenção
Prof. : Luciana Melo
Introdução
 A busca da saúde é tema do pensar e do fazer
humano desde tempos imemoriais.
 O conceito da saúde como uma complexa
produção social, em que os resultados para o
bem-estar da humanidade são cada vez mais
o fruto de decisões políticas incidentes sobre
os seus determinantes sociais.
 Antecedentes históricos;
Saúde Pública e vida social
 as políticas públicas para a saúde desenvolveram-
se, de maneira organizada e sistemática, a partir
do século XVII, durante a consolidação dos
Estados Nacionais, quando a população passou a
ser considerada um bem do Estado, que tinha
interesse na sua ampliação e na sua saúde, já que
isso significava um aumento do poderio militar.

 o cuidado público com a saúde nasce e se


desenvolve como política de proteção contra
riscos sociais e ambientais, muito mais do que
como política de assistência;
Saúde Pública e vida social
 A compreensão da determinação social da
saúde e da doença é anterior à medicina
científica ou medicina experimental.
 criou-se uma importante tradição de estudos,
relacionando saúde, condições de vida
(pobreza) e ambientes sociais e físicos.
 George Rosen – História da saúde pública;
 Relação entre o desenvolvimento do
capitalismo (industrialização e urbanização) e o
desenvolvimento da saúde pública, tentando
minorar os malefícios à saúde provocados pelo
desenvolvimento capitalista.
Saúde pública e vida social
 As relações de influência recíproca entre saúde e
economia, estruturas sociais e política são
historicamente associadas ao desenvolvimento da
saúde pública.
 Inquéritos populacionais – associação da
mortalidade ao gradiente social;
 As políticas sociais eram feitas não propriamente
numa perspectiva de solidariedade social, e sim a
serviço da estabilidade e do crescimento econômico.
 A redução da mortalidade na Inglaterra, ocorrida no
século XIX e no início do XX, deve ser creditada mais
a melhorias nas condições de vida (saneamento,
nutrição, educação) do que a intervenções médicas
específicas (vacinas e antibióticos).
 Microbiologia, revolução pasteuriana – negligência
do pensamento social em saúde;
Modelos de causalidade e intervenção
 Modelo de história natural da doença:
 Leavell e Clark (1976), que sistematizaram os conceitos
de promoção, prevenção, cura e reabilitação no interior
de um modelo denominado ‘história natural da doença’.
 Pré-patogênese e patogênese;
 pré-patogênese, as manifestações clínicas da doença
ainda não surgiram no indivíduo, mas as condições
para o seu aparecimento existem no ambiente ou no
patrimônio biológico da pessoa.
 Patogênese: A interação entre os estímulos patogênicos
– conhecidos ou não, infecciosos ou de outra natureza –
e o indivíduo leva às transformações fisiopatológicas
que se manifestam por sinais e sintomas da doença,
atingindo o que os autores denominam de ‘horizonte
clínico’.
Modelos de causalidade e intervenção
 Modelo de história natural da doença:
 três momentos no período de patogênese:
patogênese precoce, doença precoce discernível,
doença avançada e a decorrência final desse
processo, que pode ser a cura, a invalidez, o óbito;
 Prevenção primária, secundária e terciária;
 Críticas: visão essencialmente biológica da
doença, derivada do conhecimento da patogênese
das doenças infecciosas;
Modelos de causalidade e intervenção
 Modelo Social estruturalista:
 Breihl e Granda (1986) situaram o processo
saúde-doença como resultante de um conjunto
de determinações que operam numa sociedade
concreta, produzindo nos diferentes grupos
sociais o aparecimento de riscos ou
potencialidades característicos, que se
manifestam na forma de perfis ou padrões de
doença ou saúde.
 há relação entre mortalidade e classe social:
estar doente ou sadio é determinado pela classe
social do indivíduo e a respectiva condição de
vida, em razão dos fatores de risco a que esse
determinado grupo da população está exposto.
Modelos de causalidade e intervenção
 Modelo social estruturalista:
 Nas décadas de 1950 e 1960, por exemplo, as
principais doenças registradas entre trabalhadores
brasileiros eram as intoxicações e as dermatoses
profissionais. Nos dias de hoje, com as mudanças
decorrentes dos processos de trabalho e da própria
organização econômica do país, as lesões por
esforços repetitivos (LER) e as perdas auditivas
ocupacionais prevalecem (Wünsch Filho, 2006).
 Há uma dimensão estrutural que se caracteriza pelo
modelo econômico de desenvolvimento da
sociedade, isto é, o modo de produção – capitalista,
socialista.
 Dimensão particular, na qual operam os processos
de reprodução social, ditados pelo trabalho e pelo
consumo, que são particulares de cada classe social
 Terceira dimensão individual.
Modelo de causalidade e intervenção
 Modelo social estruturalista:
 Complexificação dos conceitos de saúde e doença:
existe fronteiras entre ambos?
 Diferentes disciplinas do conhecimento:
 biomedicina – baseada no conhecimento científico
sobre estruturas biológicas e de funcionamento do
corpo humano;
 epidemiologia – ancorada nas análises sobre as causas
e a distribuição das doenças na população;
 ciências sociais – agregando conceitos derivados de
estudos sobre as doenças e relações sociais;
 psicologia – enfocando a dinâmica dos processos
mentais, pensamentos, sentimentos e atos (Davey,
Gray & Seale, 2001).
Modelos de causalidade e intervenção
 Modelo do campo de saúde:
 Modelo explicativo mais abrangente;
 Condições de saúde dependem de 4 conjunto de
fatores:
 o patrimônio biológico;
 as condições sociais, econômicas e ambientais nas
quais o homem é criado e vive;
 o estilo de vida adotado;
 os resultados das intervenções médico-sanitárias,
que têm importância relativa variável de acordo
com o problema de saúde em questão.
 Estilo de vida responsável por 51% dos fatores de
risco.
Modelos de causalidade e intervenção
 Modelo do campo de saúde:
 Em termos práticos, pode-se admitir que a definição
de uma política de saúde deve repousar sobre três
conceitos básicos:
 a compreensão de que a saúde resulta de um
processo de interação contínua entre o indivíduo e o
ambiente físico e social em que vive;
 o entendimento de que boas condições de saúde
consistem em uma responsabilidade compartilhada
por todos, indivíduos e poder público; e de que
 a saúde é um investimento para a sociedade como
um todo, e que a diminuição das desigualdades em
saúde no país resulta não apenas na efetivação de
um compromisso ético, mas também em elemento
de desenvolvimento e progresso para toda a nação
(Canadá, 1994).
Promoção de saúde: um novo paradigma
 Ultrapasar o foco na doença e na enfermidade;
 O que caracteriza a promoção da saúde
modernamente é considerar como foco da ação
sanitária os determinantes gerais sobre a saúde.
 Saúde é assim entendida como produto de um
amplo espectro de fatores relacionados à
qualidade de vida, como padrões adequados de
alimentação e nutrição, habitação e
saneamento, trabalho, educação, ambiente
físico limpo, ambiente social de apoio a famílias
e indivíduos, estilo de vida responsável e um
espectro adequado de cuidados de saúde.
Promoção de saúde: um novo paradigma
 Definição: “o processo de capacitação da
comunidade para atuar na melhoria de sua
qualidade de vida e saúde, incluindo uma
maior participação no controle desse
processo” (Brasil, 2002).
 Cinco princípios de ação:
 elaboração e implementação de políticas públicas
saudáveis;
 criação de ambientes favoráveis à saúde;
 reforço da ação comunitária;
 desenvolvimento de habilidades pessoais;
 reorientação do sistema de saúde.
Promoção de saúde: um novo paradigma
 Difusão rápida das ideias sobre promoção no
mundo ocidental;
 Pouca influência sobre questões estruturais
relacionadas à saúde;
 Discurso excessivamente geral leva a
diferentes práticas de promoção à saúde;
 Países de primeiro mundo: ênfase no
comportamento dos indivíduos;
 Países de terceiro mundo: ênfase em
questões estruturais;
Promoção de saúde: um novo paradigma
 Brasil:
 plano da atenção à saúde, envolvendo esforço de
mudança da lógica assistencial e dos modelos de
gestão, no rumo de favorecer a autonomia dos
sujeitos;
 plano da gestão das políticas públicas, envolvendo
esforço de intersetorialidade,
 o combate à fragmentação de ações e programas, a
mobilização de organizações governamentais e não
governamentais;
 plano da política (modelo) de desenvolvimento,
envolvendo a defesa de políticas voltadas para a
distribuição mais equânime dos recursos
socialmente produzidos, para a solidariedade social
e para a subordinação virtuosa da economia ao
bem-estar e à vida com qualidade.
Iniquidades em saúde
 Há evidências de que as estratégias da promoção
da saúde lograram avanços no controle de
algumas doenças crônicas e agudas, relacionadas
à vida moderna;
 Na verdade, os avanços sanitários, que são reais,
ainda ocultam enormes desigualdades;
 Um dos principais desafios desses modelos
explicativos é o estabelecimento de uma
hierarquia de determinações entre os fatores mais
globais de natureza social, econômica, política e
as mediações pelas quais esses fatores incidem
sobre a situação de saúde de grupos e pessoas.
Iniquidades em saúde
 Não há correlação entre os indicadores de
riqueza de uma sociedade e os indicadores de
saúde;
 Exemplo: PIB e os indicadores de saúde;

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