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CULTURA

Marilena Chauí. Convite à


Filosofia. S.Paulo: Editora Ática,
1ª ed. 1994
 Do latim, colere: cultivar, criar, tomar conta e
cuidar. Cultura significava o cuidado do homem
com a Natureza: agricultura.
 Significava, também, cuidado dos homens com os
deuses: culto.
 Significava ainda, o cuidado com a alma e o corpo
das crianças, com sua educação e formação:
puericultura (em latim, puer significa menino;
puera, menina).
 A Cultura era o cultivo ou a educação do espírito
das crianças para tornarem-se membros excelentes
ou virtuosos da sociedade pelo aperfeiçoamento e
refinamento das qualidades naturais (caráter,
índole, temperamento)
 Nesse sentido, a Cultura é o aprimoramento
da natureza humana pela educação em
sentido amplo, isto é, como formação das
crianças não só pela alfabetização, mas
também pela iniciação à vida da coletividade
por meio do aprendizado da música, dança,
ginástica, gramática, poesia, retórica, história,
filosofia, etc.
 A pessoa culta era a pessoa moralmente
virtuosa, politicamente consciente e
participante, intelectualmente desenvolvida
pelo conhecimento das ciências, das artes e
da Filosofia. É este sentido que leva muitos,
ainda hoje, a falar em “cultos” e “incultos”.
 Podemos observar que Cultura e Natureza
não se opõem. Os humanos são considerados
seres naturais, embora diferentes dos animais
e das plantas. Sua natureza, porém, não
pode ser deixada por conta própria, porque
tenderá a ser agressiva, destrutiva, ignorante,
precisando por isso ser educada, formada,
cultivada de acordo com os ideais de sua
sociedade.
 A Cultura é uma segunda natureza, que a
educação e os costumes acrescentam à
primeira natureza, isto é, uma natureza
adquirida, que melhora, aperfeiçoa e
desenvolve o que é inato de cada um.
 A partir do século XVIII, Cultura passa a
significar os resultados daquela formação
ou educação dos seres humanos, resultados
expressos em obras, feitos, ações e
instituições: as artes, as ciências, a
Filosofia, os ofícios, a religião e o Estado.
 Torna-se sinônimo de civilização, pois os
pensadores julgavam que os resultados da
formação-educação aparecem com maior
clareza e nitidez na vida social e política ou
na vida civil (a palavra civil vem do latim:
cives, cidadão; civitas, a cidade-Estado).
 Nesse sentido tem inicio a separação e a oposição
entre Natureza e Cultura. Os pensadores consideram,
sobretudo a partir de Kant, que há entre o homem e
a Natureza uma diferença essencial: a natureza
opera mecanicamente de acordo com leis necessárias
de causa e efeito, mas o homem é dotado de
liberdade e razão, agindo por escolha, de acordo com
valores e fins.
 A Natureza é o reino da necessidade causal, do
determinismo cego.
 A humanidade ou cultura é o reino da finalidade livre,
das escolhas racionais, dos valores, da distinção
entre bem e mal, verdadeiro e falso, justo e injusto,
sagrado e profano, belo e feio.
 À medida que este segundo sentido foi prevalecendo,
Cultura passou a significar:
 em primeiro lugar, as obras humanas que se
exprimem numa civilização.
 em segundo lugar, a relação que os humanos,
socialmente organizados, estabelecem com o tempo
e com o espaço, com os outros humanos e com a
Natureza, relações que se transformam e variam.
 Agora, Cultura torna-se sinônimo de História. A
Natureza é o reino da repetição; a Cultura, o da
transformação racional; portanto, é a relação dos
humanos com o tempo e no tempo
CULTURA ERUDITA
 erudito significa que tem instrução vasta e
variada adquirida sobretudo pela leitura.
 Cultura erudita é a produção acadêmica
centrada no sistema educacional, sobretudo
na universidade. Trata-se de uma cultura
produzida por uma minoria de intelectuais
das mais diversas especialidades, e
geralmente saídos dos segmentos superiores
da classe média e da classe alta.
 Os produtores da chamada cultura erudita
fazem parte de uma elite social, econômica,
política e cultural e seu conhecimento É
proveniente do pensamento científico, dos
livros, das pesquisas universitárias ou do
estudo em geral. A arte erudita e de
vanguarda é produzida visando museus,
críticos de arte, propostas revolucionárias ou
grandes exposições, público e divulgação.
 A cultura erudita exige estudo, pesquisa
para se obter conhecimento, portanto
não é viável a uma maioria, e sim a
uma classe social que por sua vez
possui condições gerais para investir
nesses aspectos e obter conhecimento.
 É a principal responsável pela evolução
intelectual da sociedade, já que está
diretamente ligada a produção de
conhecimento.
 A ela se deve os avanços tecnológicos,
da medicina, da antropologia, da
informática entre outros. Influencia
diretamente na qualidade de vida das
pessoas, pois sua evolução sempre gera
algum ganho para a sociedade.
 Por ser uma cultura adquirida através
de esforços educacionais não é
democrática como a popular, o que
torna pequeno o número de eruditos.
CULTURA POPULAR
 Pode ser definida como qualquer
manifestação cultural (dança, música, festas,
literatura, folclore, arte, etc) em que o povo
produz e participa de forma ativa.
 Ao contrário da cultura de elite, a cultura
popular surge das tradições e costumes e é
transmitida de geração para geração,
principalmente, de forma oral.
 Exemplos de manifestações da cultura
popular: carnaval, danças e festas
folclóricas, literatura de cordel,
provérbios, samba, frevo, capoeira,
artesanato, cantigas de roda, contos e
fábulas, lendas urbanas, superstições,
etc.
CULTURA DE MASSA
 A cultura de massa não existe sem os meios
de comunicação de massa (MCM) Mas os
MCM não levam necessariamente à cultura de
massa.
 surgimento dos MCM (com a invenção dos
tipos móveis para impressão por Gutenberg)
+ Revolução Industrial + economia de
mercado (aparecimento da sociedade de
consumo) + era da eletricidade + era da
eletrônica + capitalismo monopolista =
cultura de massa
 uma característica da cultura de massa: não
ser produzida pelos que a consomem (ao
contrário das manifestações culturais dos
setores eruditos e populares).
 com a possibilidade de uma cultura para as
massas, surge a indústria cultural, com os
mesmos princípios da produção econômica
em geral.
Indústria cultural
 uso crescente da máquina
 submissão do ritmo humano de
trabalho ao da máquina
 exploração do trabalhador
 divisão do trabalho
e com produtos comparáveis à produção econômica
capitalista em geral:

 produtos feitos em série para grande


número de pessoas.
 produto trocável por dinheiro.
 produto padronizado (para atender
gostos médios).
 produto perecível (menor valor de uso e
maior valor de troca).
A Escola de Frankfurt e a
Indústria Cultural
 Escola de Frankfurt foi o nome dado ao
grupo de pensadores, filósofos e
cientistas sociais alemães como:
 Theodor Adorno, Max Horkheimer,
Hebert Marcuse, Erich Fromm e Walter
Benjamin.
 Adorno e Horkheimer no livro Dialética
do Iluminismo apontaram um novo
conceito com relação à cultura e a
massificação da cultura. Na visão deles
a “cultura para a massa” não passava
de uma simples industrialização da
cultura, ou seja, haveria o uso da
racionalidade técnica (a tecnologia) a
serviço da dominação ideológica.
 A Indústria Cultural, seria, portanto, um
mecanismo de massificação da opinião, dos
gostos e da necessidade de consumo. Na
Indústria Cultural tudo passa a ser um
produto de mercado (inclusive o ser humano)
provocando a reificação, isto é, a coisificação
do homem. A verdadeira preocupação não é
transmitir informações ou conhecimento, mas
sim vender, cada vez mais, produtos e idéias
homogeneizadas, a fim de se obter o lucro
acima de (quase) tudo.
 A cultura sob as regras da Indústria Cultural passa a
ser apenas mercadoria, um produto a ser vendido e
explorado comercialmente. A arte, a música, a
literatura se transformam em meros produtos com o
objetivo de serem difundidos comercialmente e
vendidos como se fossem um pacote de feijão em
uma prateleira de supermercado.
 Perde-se o valor e a essência da criação cultural, isto
não é o mais importante. O que realmente importa é
enlatar, rotular e vender o "produto" em um grande
centro de compras.
 Dentro da Indústria Cultural, para que o mercado
atinja o seu principal objetivo (o lucro), existe uma
peça fundamental a ser explorada: a alienação do
povo. É da alienação que se aproveita a Industria
Cultural para massificar os seus produtos.
 Ao massificar e homogeneizar gostos e necessidades
de consumo, o mercado aprofunda a alienação, ao
alimentar-se e alimentá-la em uma troca bilateral e
mútua. A passividade e o conformismo são frutos
desta alienação.
 Os pensadores frankfurtianos criticavam
a cultura de massa não porque ela é
popular, mas sim porque esta cultura
mantém as marcas da exploração e da
dominação das massas, não criticavam
a tecnologia nem os avanços
tecnológicos, mas sim o seu emprego,
ou seja, os objetivos por trás da
utilização das novas tecnologias.
A Obra de Arte na Era de sua
Reprotubilidade Técnica.
 Walter Benjamin, nesse ensaio de 1936,
apontou para a perda da aura da obra de
arte. Para Benjamin as tecnologias que
permitiram a fácil reprodutibilidade das obras
de arte fizeram com que estas perdessem sua
aura de serem exclusivas e únicas.
 "Na medida em que multiplicam a
reprodução, substituem a existência única da
obra por uma existência serial”.
 Benjamin acreditava no poder de democratização
da cultura e do conhecimento, ele via como
positivo o controle da cultura por parte das
massas. Adorno, por sua vez, não negava o
potencial democrático da tecnologia empregada a
serviço da cultura, porém sua análise crítica
sempre apontou para o indevido uso das
técnicas, que rumavam no sentido inverso àquele
que Benjamin acreditava ser possível.
 Para Adorno não haveria a democratização da cultura
porque simplesmente essa democratização não servia
aos interesses dos capitalistas (aí inseridas as
corporações do entretenimento, nas quais as
gravadoras). A Indústria Cultural como meio de
controle das massas não permitiria que as massas
assumissem o controle da cultura, idéia na qual
acreditava Benjamin.
 As gravadoras são as empresas que controlam o
sistema do mercado da música. São as gravadoras,
entidades privadas e com o objetivo de lucro, que se
utilizam e se beneficiam do poder da reprodução em
série e da difusão massiva da música.
 Como uma empresa, a gravadora faz parte das
corporações do entretenimento, que têm como
objetivo tirar proveito comercial do "seu produto".
 O músico/artista se torna dependente da gravadora
para poder mostrar a sua obra, o seu trabalho; a
população (que é o público alvo, o indivíduo massa)
se torna refém e alvo das campanhas publicitárias e
da difusão em massa daquilo que interessa às
gravadoras, o que, em uma perspectiva de mercado
de larga escala, quase sempre não é sinônimo de
qualidade musical.
 A publicidade é uma das formas através das quais as
gravadoras exercem a manipulação da opinião e dos
gostos, a massificação dos produtos.
 A publicidade nada mais é que o instrumento através
do qual se atinge o público alvo, o consumidor; é
através do seu poder de persuasão que se estabelece
a massificação. A persuasão é a principal arma para
se atingir o conformismo e se diluir a consciência.
 O Rádio, a TV e a imprensa escrita com a divulgação
e a veiculação de um determinado "produto" também
são preponderantes no processo de manipulação da
opinião e na indução ao consumo.
SANTOS, José Luiz dos. O que É Cultura. Coleção Primeiros Passos, São Paulo: Brasiliense,
1983
O que é Arte?
 A arte é um objeto estético feito para ser visto e
apreciado pelo seu valor intrínseco.
 A Estética é um ramo da filosofia que investiga o
“belo”.
 A capacidade de criar arte é um dos traços distintivos
do homem.
 A arte permite-nos transmitir a nossa percepção de
coisas que não podem ser expressas de outra forma.
Um quadro vale milhares de palavras, não só pelo
seu valor descritivo, mas ainda pela sua importância
simbólica.
O que é arte?
 Na arte, como na linguagem, o homem é um criador
de símbolos, através dos quais nos transmite, de um
modo novo, pensamentos complexos.
 Um quadro sugere muito mais do que diz. E, como
um poema, o seu valor reside tanto naquilo que diz
como na maneira como diz. Recorre à alegoria, a
pose, à expressão facial, para sugerir significados, ou
então evoca-os através de elementos visuais, como o
traço, a forma, a cor e a composição.
 Mas qual o significado da arte? Os artistas raramente
nos esclarecem, já que para eles a obra diz tudo.
O que é arte?
 Certos símbolos e relações ocorrem com tanta
regularidade no espaço e no tempo que podem ser
considerados universais. No entanto, seu significado
é específico de uma dada cultura, dando origem à
espantosa diversidade da arte.
 Assim, arte como linguagem, exige que conheçamos
o estilo e as concepções de um país, de um período e
de um artista.
 A arte é resultado da imaginação e da percepção do
artista, portanto, temos sempre que perguntar, por
que ele escolheu um determinado tema e o tratou
deste forma e não de outra.
O que é arte?
 Michelângelo descreveu melhor do que
ninguém a angústia e a glória da
experiência artística quando falou em
“libertar a figura prisioneira no
mármore”.
Onde começa a Arte?
O homem produz muitos objetos que
possuem uma utilidade imediata.

Ou não.
Onde começa a Arte?
Expressam seus sentimentos diante da vida.

Elas contam a história humana ao longo dos


séculos.

Não é um fato isolado dentro da Cultura Humana

Sempre integrada aos sentimentos e a cultura de


um povo.
Onde começa a Arte?
 Também retratam elementos
do meio natural, como é o caso
das pinturas pré-históricas.
Serra da Capivara - Piauí
Onde começa a Arte?

Ou então representam divindades de


uma antiga civilização.
Onde começa a Arte?
 Ou expressam sentimentos
religiosos.
Cristo Pantocrático – Santa Sofia – Istanbul.
Siddhartha Guatama - 563 a.c. - norte de la India.
Pomba-Gira - Umbanda
Onde começa a Arte?
A Arte pode ser também um
testemunho histórico, ou
retratar situações sociais
Consagração do Imperador Napoleão I e Coroação da
Imperatriz Josephine - Jacques-Louis David – 1806/1807 –
ost - 621x979 – MLP
Onde começa a Arte?
Ou apenas trabalhar com elementos
formais ou pictóricos (cores
formas) sugerindo diferentes
impressões e sensações a quem
contempla.
Wassily Kandinsky – Composição VII - 1913
Conceito de arte

Conceito original:
Conjunto de regras capaz de orientar uma
atividade humana qualquer. = FAZER
Ofício, ciência
TECHNÉ (grego)
ARS (latim)
ARTE = TÉCNICA
Conceito de Arte
Para os gregos, pela techné
transforma-se uma realidade
natural em realidade artificial.
A techné não é uma habilidade
qualquer, porque segue certas
regras.
 Platão: conceito do Belo
Platão - Séc. V a.C.
Estética, moral e espiritual:
Em conjunto, levam à perfeição que
deve ser buscada pelo homem.

Constitui o ideal de conduta, fonte


de prazer e de felicidade.
Platão

 Para Platão, o Belo está pautado na noção de


perfeição, de verdade. Para ele, a Beleza existe em si
mesma, no mundo das ideias, separada do mundo
sensível (que é o mundo concreto, no qual vivemos).
Assim, as coisas seriam mais ou menos belas a partir
de sua participação nessa ideia suprema de Beleza,
independentemente da interferência ou do julgamento
humano.
 O filósofo critica as obras de arte que se limitam
“copiar” a natureza, já que elas acabam afastando o
homem da real Beleza, que é aquela existente no
mundo das ideias.
ARISTÓTELES - séc. IV a.C.

 Não é pura imitação


Mímese:
(produção da semelhança).
 Deriva de uma necessária

relação de adequação entre


arte e vida, arte e natureza.
ARISTÓTELES

Deslocamento do conceito de cópia para


o de representação e transformação.
Aquilo que é, deveria ser, poderia ser.
A obra de arte não é nem o real nem a
pura ilusão.
Entre a existência e a inexistência
(verossimilhança).
Estética 
Do grego aisthetiké, que significa “aquele que
nota, que percebe”.

Estética é conhecida como a filosofia da arte,


ou estudo do que é belo nas manifestações
artísticas e naturais.
Estética
A estética é uma ciência que remete para
a beleza e também aborda o sentimento
que alguma coisa bela desperta dentro
de cada indivíduo.
 
Estudo da percepção e do julgamento
sobre o que é considerado belo.
Estética

Para os filósofos gregos Platão e


Aristóteles, a estética está ligada aos
valores essenciais aos seres humanos,
que são o belo, o bom e o verdadeiro.
Os valores estéticos criados pelos gregos,
por volta de 2500 anos atrás, fazem
parte da cultura ocidental
contemporânea.
 FIM

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