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- metonímia: figura a partir da qual o poema se desenvolve, pois toma uma parte do
corpo, os braços, para falar de um todo maior, do corpo e de seus movimentos. É
possível ver na escolha metonímica uma preocupação com a ideia de correspondência
no entrelaçamento da parte com o todo e vice-versa.
-o poeta não olha para o alto, mas para seu plano, haja vista que se volta para algo
bastante concreto, os braços, a partir dos quais outras questões, como o amor e a
morte, também plenamente assentados na vida, são colocadas em cena.
sons abertos: a, ó
Musicalidade assonância
sons fechados: ê, u
- movimento: revela-se não através dos verbos, mas de termos que a inquietude,
como NERVOSOS, FLEXURAS, SERPES, TRÊMULA
GUIMARAENS, Alphonsus de. Melhores poemas. 4 ed. São Paulo:Global, 2001, p.101.
- versos de sete sílabas (redondilhas maiores)
- rimas: ABAB (intercaladas)
- vocabulário simples e repetitivo, mas que vai alcançando um tom mais dramático verso a verso
-não faz distinção entre a aparência e a essência, entre o real e a ilusão (para ela, a lua é real nos dois
lugares, tanto no céu quanto no mar).
-posição espacial intermediária: TORRE (pode ser entendida também como a loucura).
-no estado de fantasia em que se encontra, transforma a ilusão (reflexo) em verdade e seu desejo em
condição única e última de sua existência (No sonho em que se perdeu/Banhou-se toda em luar).
- ISMÁLIA
- ser tomado pela vontade, pelo desejo, que leva às últimas consequências ao lançar para fora da torre,
do espaço fechado e limitador, para a abertura do mundo, de suas promessas e ilusões (lua do céu e lua
do mar).
- no poema, o lançar-se para fora de Ismália é tratado eufemisticamente, com a transformação da
mulher em um anjo de asas, também nada real, concreto, como a lua espelhada no mar.
Concretamente, sua busca é suicida, ainda que possa não ter consciência disso em razão de sua
condição de enlouquecimento, de desvario.
- morte : expressa a impossibilidade humana de alcançar os desejos de forma completa. Assim como
a lua, que aparece em dois pólos díspares para Ismália, céu e mar, também ela própria se divide em
corpo e alma.
Em uma analogia com a lua, que concretamente está no alto, no espaço, sendo sua imagem no
mar uma ilusão, um reflexo, a morte pode levar ao entendimento de que o verdadeiro, assim
como a lua, é a alma, que sobe ao céu, ao encontro da divindade, sendo o corpo, assim como o
reflexo da lua no mar, uma ilusão.
-A antítese entre corpo e alma, entre céu e terra, entre o verdadeiro e o ilusório é uma
constante nos poemas de Alphonsus de Guimarães e, de acordo com Eduardo Portella em “O
universo poético de Alphonsus de Guimaraens” (In: GUIMARAENS, Alphonsus. Obra completa.
Rio de Janeiro:Aguilar, 1960, p. 25), deve ser observada à luz da circunstância de “seu mundo
circundante: por Mariana, sua vida e sua paisagem místicas.”
- vida: pode ser entendida como uma grande ilusão, um estado de devaneio, de sonho, de
loucura.
Profundissimamente hipocondríaco, A
Este ambiente me causa repugnância... B
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia B
Que escapa da boca de um cardíaco. A
Já o verme – este operário das ruínas – C
Que o sangue podre das carnificinas C
Come, e à vida em geral declara guerra, D
Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E
E há de deixar-me apenas os cabelos, E
Na frialdade inorgânica da terra! D
ANJOS, Augusto de Carvalho Rodrigues dos. Eu e outras poesias. 43 ed. Eu e outras poesias. Rio de
Janeiro:Bertrand do Brasil, 2001, p. 98.
- soneto decassílabo
- esquema de rimas: ABBA – ABBA – CCD – EED
- gosto por vocabulário científico: carbono, amoníaco, epigênese (tentativa de conceituação do eu pelo viés da matéria e não
apenas do metafísico)
- preferência pelas palavras proparoxítonas: amoníaco, zodíaco, hipocondríaco, epigênese, análoga, cardíaco, inorgânica
(termos esdrúxulos, assim como o eu, fora do lugar, de uma definição precisa, é “monstro”)
- musicalidade impactante, não fluida, dada pela exploração de sons agudos, nasais e plosivos: í, p, t, k, b, d, g, n
- título: ideia de falência, de derrota
- matéria: carbono, amoníaco
-mistério indescritível: monstro de escuridão e rutilância ( o jogo antitético aponta para o
aspecto paradoxal do eu)
- ser impotente: vencido desde a sua origem (presença do pensamento de Schopenhauer, para que
Eu o sujeito está condenado ao sofrimento, à VONTADE (WILLE) cega, ao aniquilamento)
- determinado por um sofrimento original e incontrolável: desde a epigênese da infância (condição
natural da vida) e influenciado pelos signos do zodíaco (força cósmica maior da qual não se tem
controle)
- orgânico: frágil, sujeito ao fim, à morte (condenado à destruição do verme)
não está isolado do eu, mas a ele se apresenta igualmente doente e melancólico,
“profundissimamente hipocondríaco”. O adverbio de modo, usado na forma superlativa, intensifica ao
extremo o sofrimento existencial que atravessa o sujeito desde a “epigênese da infância”.
Ambiente A construção de um eco na segunda estrofe com o uso das palavras “repugnância”, “ânsia” ( esta
usada duas vezes no mesmo verso) e “boca”, no terceiro e quarto versos, colaboram para a construção
de um ambiente hostil, nauseante, tanto no aspecto mais literal da náusea, movimento de se colocar
para fora aquilo que está fazendo mal ao organismo, quanto no sentido conotativo e mesmo filosófico
da palavra, que diz respeito à compreensão da liberdade da existência, do estar aí lançado no mundo.
- operário das ruínas
- inimigo da vida
-traiçoeiro (fica na espreita)
Verme
-aliado da morte
- forte
O poema começa com o EU, o homem, e termina por entronar o VERME. A visão pessimista, marcadamente
melancólica, perpassa o poema do título ao último verso, definindo a condição última do EU: ser vencido,
derrotado por sua própria condição de existente e, mas que tudo, por ser consciente dessa condição.